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  • SUFIXOS INDO-EUROPEUS

    Alguns paralelismos podem ser encontrados nas lnguas indo-europeias do ponto de vista

    da estrutura da palavra. Alguns princpios bsicos parecem reger os processos de afixao.

    Tentemos estabelecer alguns padres:

    1. Quase inexistncia de infixos: ao contrrio das lnguas afrsicas, por exemplo, que

    apresentam uma srie de infixos flexionais (mais propriamente simulfixos). A nica

    exceo parece ser o infixo *-nh2-, marcador de presente em alguns verbos (cf. lat.

    fing, pend, tang, etc.).

    2. Componente de sufixao mais abundante do que o de prefixao. De maneira geral,

    existe um nmero bastante limitado de prefixos. Todos eles so basicamente

    preverbais, que tambm so utilizados como preposies. Processos em que prefixos

    so colocados diretamente antes dos nomes so um fenmeno das lnguas modernas:

    ex-marido, pr-Trump, no-fumante. Ao que parece, a lngua original admitia apenas

    um prefixo1. Formas prefixadas com mais de um prefixo existem nas lnguas histricas,

    mas parecem ser formas com derivao erudita, em todo caso, mais recentes. Na

    verdade, parece que a prefixao mais recente do que a sufixao. No existem

    evidncias de razes comuns que sejam decomponveis em razes mais antigas mais

    prefixos (como existe no caso dos sufixos). O nico candidato parece ser o *s- que s

    vezes aparece em algumas razes: *smer- > a.ind. smarti lat. memor lembrar-se;

    *smerd- feder rus. smerdet feder port. merda; lat. sparus e paries.

    3. O domnio do sufixo parece ser o domnio quente para processos morfolgicos

    diversos, a comear pelo fato de que a marcao de noes gramaticalizadas (e/ou

    gramaticalmente recorrentes), a assim chamada flexo2, se faz atravs de sufixos. Mas

    tambm pelo fato de que processos de sufixao no-flexionais ou derivacionais

    serem muito mais abundantes e de estrutura mais complexa do que os processo de

    prefixao, por exemplo. Na maior parte das lnguas indo-europeias (incluindo as lnguas

    indo-europeias modernas) existem muito mais sufixos do que prefixos. A sufixao

    mais comum e abundante do que a prefixao. Mesmo em lnguas, como o ingls e as

    romnicas, que reduziram bastante os processos de composio herdados, a sufixao

    ainda extremamente produtiva.

    SUFIXAO

    A melhor e mais completa fonte para o estudo dos sufixos e processos de formao de palavras

    por sufixao continua sendo o Gundriss de Brugmann [e Delbrck]. Para alm desse trabalho,

    as descries de sufixos continuam sendo raras e pouco se discutiu. Os trabalhos de Benveniste

    (1969), sobre a estrutura das razes indo-europeias e Lehman (1958), sobre a origem da flexo

    nominal so os maiores expoentes desses estudos. Desconheo, porm, discusses sobre a

    natureza dos processos de sufixao em cada uma das fases da proto-lngua (dentro da teoria

    das trs fases).

    1 Afirmao bastante temerria que precisa de melhor comprovao. 2 Num primeiro momento, talvez seja difcil distinguir entre flexo e derivao. A flexo mais gramaticalizada, mas isso nos deixa nas mos por descascar o cruento hbrido de pepino com abacaxi que

    definir o que gramaticalizao. Por ora, podemos vagamente entender que o campo do flexional

    mais gramatical que o campo do derivacional.

  • Brugmann divide os sufixos em primrios (os que so acrescentados a uma raiz pura) e os

    secundrios (os que so acrescentados a radicais j formados por uma raiz e um sufixo, ou

    sufixos)

    A seguir, veremos alguns dos principais sufixos indo-europeus e seus descendentes nas lnguas

    indo-europeias.

    O sufixo *-o/*- costuma ser associado aos gneros neutro e masculino. A ocorrncia de nomes

    em -o femininos em latim e no grego (lat. haec fagus gr. descrita como uma inovao

    recente por Brugmann (1889: 103). com o sufixo -o. Como ocorre com outros morfemas indo-

    europeus, esse sufixo apresentava uma alternncia e/o, dependendo do caso em questo: o no

    nominativo *-o-s e acusativo *-o-m; e o vocativo -e, genitivo -e-sio, instr. -, loc. -e-i; embora

    tambm apaream genitivo -o-sio, instr. - e locativo -o-i.

    O sufixo *- associado ao feminino e apresenta a alternncia /a: no nom.sg. - e ac.sg. --

    m; a aparece no voc. sg. -a, nom.ac.du. -a-i. De acordo com a Teoria das Glotais de Saussure, o

    sufixo *- descende de um sufixo com a segunda glotal, *-eh2, sendo o grau a representado pelo

    grau zero desse sufixo: *-eh2 > , *-h2 > -a. A primeira funo desse sufixo seria derivar

    substantivos abstratos de razes verbais, como ocorre, p.ex., com a raiz *bheug-, que deu o verbo

    latino fgi (< *bheug-i), do qual se derivou fg (< *bheug-eh2). Como significado secundrio

    (e talvez derivado do significado abstrato, cf. Luraghi, 2011) aparecia tambm o significado de

    aumentativo e coletivo (que se fixou no significado do neutro plural). Ao mesmo tempo, palavras

    femininas com outras derivaes acabaram recebendo um - adicional para marcar o gnero:

    lat. aurs, aurris > aurr-; fls, flris > Flr-. Essa tendncia continuou nas lnguas histricas

    que mantiveram de alguma forma a alternncia de gnero. Veja o port. arc. o pastor/a pastor

    que passou para o pastor/a pastor-a. Vrias formas femininas foram criadas, s vezes com efeito

    semntico especial (pejorativo, como em generala, sargenta) ou com o objetivo de enfatizar a

    alternncia de gnero (como em presidenta).

    As razes em -o e em - formavam as classes de declinao mais difundidas nas lnguas indo-

    europeias. Num primeiro momento, o sufixo -o formava nomes a partir de razes verbais. Lindsay

    (317) observa que os deverbais formados por esse sufixo so de dois tipos, distintos pela

    colocao do acento: (1) nomes abstratos de ao, como gr. a produo a.ind. jnam

    nascimento (< *gon-o-), com o acento caindo sobre a raiz; (2) nomes de agente como *tor-

    -s (per)furador, da raiz *ter- perfurar > gr. ; nesse caso, o acento recai sobre o sufixo.

    Em todas essas derivaes, a raiz apresenta-se no grau o. A forma neutra -om era utilizada para

    forma substantivos concretos: *ieug- jungir > *iug-m jugo a.ind. yugm lat. iugum gr. .

    Nessa fase, os substantivos primrio (i.e., no derivados de razes verbais) se apresentavam

    sem uma terminao em -o: *ped-s/*pod-s > lat. pes, pedis gr. ; OUTROS EXEMPLOS.

    Com o estabelecimento de uma cadeia de oposio masculino/feminino, alguns nomes de seres

    portadores de gnero (pessoas e animais) passaram a exibir uma alternncia o/a: *e-ew-

    cavalo > *ew-o-s: *ew-eh2 > lat. equos: equ; *wlkw- lobo > *wlkw-os: *wlkw-eh2 > lat.

    lupus: lup. Ao mesmo tempo, alguns neutros plurais em -a foram resignificados em femininos

    singulares: cf. p.ex. gr. (um neutro plural < -), que aparece em Calmaco como

    (e entrou em port. esp. cara, n.fem.). A entrada de um esquema tripartite masc. -os, fem.

    -, neut. -om criou um modelo de alternncia nos adjetivos: *new- > *nw-os, *nw-, *nw-

    on > a.ind. nvas nv nvam gr. - - - lat. nou-us nou- nou-um.

  • O ramo germnico e o armnio muito cedo perderam as classes de alternncia -os/-/-om. Em

    primeiro lugar, os temas em /o/ se simplificaram com a perda dessa vogal, deixando os temas

    femininos em /a/ transformado em /e/, p.ex. Blume, Reise. Ainda assim, existem muitas palavras

    masculinas com tema em /e/, de maneira que a distino acabou se perdendo. Esse atematismo

    contaminou os dialetos da chamada Galo-Romnia (francs, provenal, catalo, rtico, dialetos

    da Itlia ao N. da linha Rimini-La Spezia). O ingls moderno reduziu os ltimos vestgios dos

    temas femininos em /e/ (cf. ing. md. queene > queen).

    A seguir uma srie de sufixos que incorporam a alternncia -os/-/om, gerando palavras

    masculinas, femininas o neutras, conforme o caso.

    Os sufixos *iyo-/*-yo se alternam na mesma funo bsica. Em itlico, por exemplo, onde eles

    desenvolveram a funo de marcar patronmicos (= filho de, como o mac galico, o -son ingls

    e o sufixo eslavo -evitch), -yo aparece em patronmicos derivados de prenomes em -o, como lat.

    Octuius osc. Uhtuis (< filho de Octuus), enquanto -iyo aparece em patronmicos derivados

    de prenomes em -io, como Clodeius, Publeius, Vareius (cf. Lindsay, 1894: . A sua funo

    semntica foi dividida por Brugmann (1889: 135-) em trs categorias principais:

    1. Adjetivos verbais com o significado de particpio futuro, passado ou do assim chamado

    particpio de necessidade com significado participial ativo ou passivo simples: *ya-

    venerar a.ind. yj-y gr. - *sekw- seguir a.ind. sc-iyas lat. soc-ius.

    2. Adjetivos derivados de radicais que j possuem um sufixo (como sufixo secundrio):

    *ph2-tr > *ph2-tr-iyos > a.ind. ptriyas gr. lat. patrius. Desses adjetivos derivam

    substantivos femininos ou neutrode significado abstrato: lat. patria, uictoria, somnium.

    3. Em adjetivos que tm um sentido comparativo intrnseco (como *medh-yos lat. medius

    e *al-yos lat. alius outro), ou em formas comparativas de adjetivos: a.ind. nv-yas

    comp. de nv-as (= mais novo que). Aparece tambm na formao de possessivos: lat.

    me-us (< *me-yos) e adjetivos com sentido ordinal lat. tert-ius.

    O sufixo *-wo/*-w no apresenta, segundo Brugmann (188?:126), nenhum significado

    definidamente delimitado. Ocorre como sufixo primrio e secundrio: *e-wos *e-w cavalo

    a.ind. avas lat. equus equ; *gw-wos a.ind. jv lat. uiuus gal. byw got. qius lit. gyvas a.esl. iv.

    Por extenso do significado (ainda s