Alfa etinilestradiol
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FUNDAO OSWALDO CRUZ
WAGNER SANTOS LUCENA
O FRMACO 17 -ETINILESTRADIOL: SEUS POSSVEIS EFEITOS SADE HUMANA E ANIMAL POR EXPOSIES AMBIENTAIS
RIO DE JANEIRO
2013
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WAGNER SANTOS LUCENA
O FRMACO 17 -ETINILESTRADIOL: SEUS POSSVEIS EFEITOS SADE HUMANA E ANIMAL POR EXPOSIES AMBIENTAIS
Monografia apresentado ao curso de Ps Graduao Lato Sensu como requisito para obteno do ttulo de Especialista em Tecnologias Industriais Farmacuticas
ORIENTADOR: Prof. Paulo Srgio Bergo de Lacerda, Dsc
Rio de Janeiro
2013
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i
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AGRADECIMENTOS
minha famlia, obrigado pela compreenso, respeito e pacincia.
Aos meus amigos, pelo apoio e companheirismo.
Aos professores que tive, obrigado por me transmitirem seus
conhecimentos e permitiram chegar at este momento.
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iii
RESUMO
Este trabalho contextualiza o frmaco 17 -etinilestradiol como um
interferente endcrino de grande potencial estrognico, ambientalmente
persistente, biodisponivel por via oral ao ser humano, e de contnua entrada
nos compartimentos ambientais (principalmente nos corpos hdricos).
Efeitos na sade humana e animal por exposies ambientais, tcnicas
de identificao e caracterizao laboratorial, e as concentraes encontradas
dessa substncia em diversas matrizes aquticas do mundo so explicitados,
utilizando como ferramenta metodolgica a reviso da literatura cientfica
nacional e internacional sobre o tema
Este trabalho mostra estudos cientficos que relatam a presena do 17 -
etinilestradiol em concentraes ambientais baixas (em torno de nanogramas
por litro), mas que poderiam promover, na biota exposta, efeitos como induo
de feminizao de espcies machos, alterao da proporo entre os sexos da
prole, infertilidade e reduo da fecundidade.
Estas concentraes relatadas no seriam capazes, isoladamente, de
gerar efeitos na espcie humana, segundo pesquisas de avaliao de risco a
sade. Porm, discute-se a contribuio desse frmaco em uma exposio
crnica e mltipla a diversos interferentes endcrinos estrognicos presentes
na gua e alimentos.
Os aspectos regulatrios acerca do estabelecimento de concentraes do
17 -etinilestradiol em que no se observariam efeitos ambientais e possveis
solues para reduzir a exposio ambiental a interferentes endcrinos
tambm so abordados no trabalho .
Palavras-chave: 17 -etinilestradiol , efeitos sade humana e dos animais, exposio ambiental a interferentes endcrino
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iv
ABSTRACT
This study contextualizes the drug 17 -ethinylestradiol as a great
potential estrogenic endocrine disruptor, environmentally persistent, orally
bioavailable to humans, which has continuous input in the environmental
compartments (mainly in aquatic matrices).
Effects on human and animal health by environmental exposures,
identification and characterization laboratory techniques, and found
concentrations of this substance in aquatic matrices of the world are showed,
using as a methodological tool a review of national and international scientific
literature on the subject.
This study shows that scientific researches reported the presence of 17 -
ethinylestradiol at low environmental concentrations (around nanograms per
liter), but that could promote, in exposed biota, effects such as induction of
feminization of male species, changing the proportion between sexes of
offspring, infertility and fecundity reduction.
These concentrations reported would not be able, alone, to generate
effects in humans, according to surveys of health risk assessment. However,
there is a discussion regarding the contribution of this drug in a chronic
exposure to multiple and diverse estrogenic endocrine disruptors present in
water and food.
The regulatory aspects regarding the establishment of concentrations of
17 -ethinylestradiol in which not observe environmental effects and possible
solutions to reduce environmental exposure to endocrine disruptors are also
discussed at this study
Keywords: 17 -ethinylestradiol, human and animals health effects, environmental exposure to endocrine disruptors
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v
LISTA DE ILUSTRAES OU FIGURAS
FIGURA 1 Estrutura Qumica do 17 -estradiol (a) e do 17 -etinilestradiol
(b).................................................................................................................... 16
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LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 - Mecanismos de ao de Interferentes endcrinos ................ 8 e 9
QUADRO 2 - Classificao Toxicolgica das Substncias segundo seu DL50
10
QUADRO 3 - Efeitos nos ecossistemas provocados por alguns interferentes
endcrinos ............................................................................................... 13 e 14
QUADRO 4 - Possveis Efeitos do 17 -etinilestradiol na sade humana no uso
em terapia de reposio hormonal ou como contraceptivo.............................. 20
Quadro 5 Resultados obtidos da busca bibliogrfica na base ISI Web of
Knowledge utilizando diferentes descritores .................................................... 26
Quadro 6 Ano em que foram publicados os artigos cientficos encontrados
.......................................................................................................................... 27
QUADRO 7 - Concentraes encontradas de 17 -etinilestradiol em diferentes
matrizes e locais no Brasil ............................................................................... 29
QUADRO 8 - Concentraes relatadas de 17 -Etinilestradiol em matrizes
aquticas no mundo ................................................................................. 29 e 30
QUADRO 9 - Principais Efeitos do 17 -etinilestradiol em diferentes espcies
animais...................................................................................................... 31 e 32
QUADRO 10 - Parmetros Ecotoxicolgicos exigidos para Lanamento de
Efluentes .......................................................................................................... 51
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vii
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
ANVISA Agencia Nacional de Vigilancia Sanitria
BPCs Bifenilas policloradas
CECR Concentrao do Efluente no corpo hdrico receptor
CENO Concentrao de Efeito no observado
CE50 - Concentrao da substncia que gera 50% de uma atividade mxima em organismos expostos ou que promove o aparecimento de um efeito
em metade da populao de organismos estudados.
CONAMA Conselho Nacional de Meio Ambiente
CSTEE - Committee on Toxicity, Ecotoxicity and the Environment
DDT Dicloro difenil tricloroetano
DES Dietilestilbestrol
DL50 - Dose necessria de uma substncia para produzir a morte de 50% dos organismos expostos
EDCs Endocrine Disruptors Compounds
ELISA Enzyme-Linked Immunosorbent Assay
ETE estao de tratamento de efluentes e/ou esgotos
ETA Estao de tratamento de gua para consumo humano
FSH Follicle Stimulating Hormone
FUNASA Fundao Nacional da Sade
GC-MS Gas cromatography with mass spectrometer detector
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HPAs Hidrocarbonetos policclicos aromticos
IARC International Agency for Research on Cancer
INEA-RJ Instituto do Meio Ambiente do Estado do Rio de Janeiro
LC-MS Liquid Cromatography with mass spectrometer detector
LH Luteinizing Hormone
LOAEL Lowest Observed Adverse Effect Level
MMA Ministrio do Meio Ambiente do Brasil
NOAEL No Observed Adverse Effect Level
PNEC - Predicted no effect concentration
TBT Tributilestanho
TPT - trifenilestanho
RDC Resoluo da Diretoria Colegiada
SVS-MS Sistema de Vigilancia Sanitria, Ministrio da Sade do Brasil
USEPA United States Environmental Protect Agency
VTG vitelogenina
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SUMRIO
APRESENTAO ............................................................................................. 1
INTRODUO.................................................................................................... 4
1.1 - O sistema endcrino e os seus interferentes ............................................ 4
1.2 - Mecanismo de ao de interferentes endcrinos ...................................... 8
1.3 - Toxicidade das substncias e a avaliao do risco sade...................... 9
1.4 - Efeitos relatados aos interferentes endcrinos .........................................13
1.5 - Dados sobre o interferente endcrino de escolha: 17 -etinilestradiol .....16
1.5.1 Estrutura Qumica, Caractersticas Fsico-Qumicas e classificao
Toxicolgica ..................................................................................................... 16
1.5.2 - Mecanismo de Ao do 17 -etinilestradiol .......................................... 17
1.5.3 - Dados de consumo mundial do 17 -etinilestradiol .............................. 18
1.5.4 - Efeitos Deletrios a sade relacionados ao uso humano em Terapia de
reposio Hormonal e como contraceptivo ...................................................... 19
1.5.5 - Principais metodologias laboratoriais para caracterizao, identificao e
quantificao do etinilestradiol ......................................................................... 21
2 OBJETIVOS .............................................................................................. 25
2.1 - Objetivos gerais ...................................................................................... 25
2.1 - Objetivos especficos................................................................................ 26
3 - METODOLOGIA ........................................................................................ 26
4 RESULTADOS E DISCUSSO................................................................. 26
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x
5 - CONCLUSO............................................................................................. 34
6 - REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS .......................................................... 36
7 ANEXO: ASPECTOS REGULATRIOS NO BRASIL ............................. 49
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xi
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1
APRESENTAO
O avano do conhecimento no campo da Sade e o uso intensivo de
tecnologias na busca contnua pelo combate s enfermidades e pelo bem
estar, tem impulsionado a espcie humana a transformar os recursos naturais e
o ambiente onde vive.
Neste cenrio, dentre o vasto arsenal de tecnologias disponveis,
possvel destacar o uso dos medicamentos alopticos, que so considerados o
principal produto final tecnolgico-cientfico comercializvel do campo da
Sade. A intensificao do seu processo de consumo tem sido cada vez maior
no mundo (WHO, 2004).
A velocidade e a magnitude com que este processo se realiza tem sido
objeto de preocupao de diferentes atores sociais, sobretudo a imprensa, os
movimentos sociais e pesquisadores do campo da Sade, em virtude da
possibilidade desse uso poder trazer consequncias indesejadas para:
- O indivduo ao qual se administra o medicamento: fruto de prescrio ou
posologia equivocada e de efeitos adversos intrnsecos formulao (frmacos
+ excipientes)
- Para a sade dos ecossistemas: afetados pela entrada contnua de frmacos
inalterados e seus subprodutos biologicamente ainda ativos em oceanos, rios e
lagoas, lixivia do solo pelo uso de frmacos na agricultura/pecuria ou na
disposio inadequada em aterros ilegais.
H tambm um possvel impacto sobre os ecossistemas por via de
emisses de gases e particulados na produo industrial
farmacutica/farmoqumica e em indstrias de incinerao de
frmacos/excipientes.
- Para sade coletiva: pela contaminao de guas subterrneas e guas
superficiais, que muitas vezes so usados como mananciais para obteno de
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2
gua de consumo humano. Quando essas guas so utilizadas na agricultura,
podem tambm contaminar os alimentos. H de se ressaltar que o consumo de
peixes e crustceos extrados de matrizes contaminadas tambm podem
representar um perigo para a sade humana.
Os frmacos, insumos biologicamente ativos sobre as clulas e presentes
na formulao dos medicamentos, so em sua maioria considerados
substncias ambientalmente persistentes e passveis de bioacumulao. Isso
se deve a sua forte atividade biolgica, baixa biodegradabilidade e grande
carter lipoflico dessas substncias (Christensen, 1998), alm de sua entrada
contnua no ambiente aqutico atravs, principalmente, de efluentes e guas
residuais. Alm disso, muitos deles no so completamente removidos pelos
sistemas convencionais de tratamento de esgotos e efluentes (Ternes et
al.,1999) .
Quando se observa esse panorama, restringindo a ateno aos frmacos
que apresentam caractersticas de interferente ou desregulador do sistema
endcrino, essa preocupao adquire uma grande relevncia, podendo gerar
riscos ambientais e sade humana.
Esse receio se justifica devido ao fato de, mesmo presente em
concentraes subteraputicas espcie humana nas guas superficiais ou
em guas tratadas por estaes de tratamento de esgotos e efluentes,
relatado que a contaminao ambiental provocada por interferentes endcrinos
estrognicos, como o 17 -etinilestradiol, em uma exposio crnica e mltipla
de diferentes espcies qumicas, produziriam aes deletrias sobre os
organismos.
Essas aes impactariam principalmente no sistema reprodutivo e no
sistema nervoso (Singleton et al., 2003), e no aparecimento de diferentes tipos
de cnceres, sobretudo os relacionados ao sistema reprodutivo (Fernandez et
al., 2010 ; Davis et al., 1993 ; Wetherill et al., 2005).
Dessa forma, o escopo deste trabalho se restringe ao frmaco
interferente endcrino 17 -etinilestradiol devido a sua considervel
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biodisponibilidade por via oral e por ser considerado um dos principais e mais
potentes estrognios sintticos de grande produo e consumo no mundo.
O principal objetivo deste trabalho elucidar os efeitos na sade
humana e dos animais pela exposio por fontes ambientais ao frmaco
interferente endcrino estrognico de estudo, ao passo que tambm ser
discutida as principais tcnicas laboratoriais utilizadas para identificao
qumica e caracterizao do potencial estrognico do 17 -etinilestradiol .
Outro aspecto a ressaltar no trabalho diz respeito s concentraes
encontradas para a referida substancia em diferentes matrizes aquticas
relatadas em estudos cientficos pelo mundo, relacionando essas
concentraes com os possveis efeitos in vivo que seriam gerados.
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1 - INTRODUO
1.1 O sistema endcrino e os seus interferentes
O sistema endcrino, presente sobretudo em animais, est (em conjunto
com o sistema nervoso) intimamente relacionado ao controle de funes vitais,
influenciando na funo dos demais sistemas corporais (Berne et al., 2010)
composto por rgos que possuem como funo a sntese de
hormnios. Os hormnios podem agir tanto localmente quanto serem lanadas
na circulao sistmica, indo atuar em outras reas do organismo e modulando
suas atividades (Berne et al., 2010).
Hormnios so considerados sinalizadores qumicos. Eles atuam na
comunicao entre distintos tipos celulares, que reconhecem os hormnios por
apresentarem receptores especficos, havendo um reconhecimento molecular.
A interao entre o hormnio e seu receptor provoca uma resposta biolgica
especifica (Hardman e Limbird, 2005).
Os hormnios estrognicos esteroidais naturais, como o estradiol , a
estrona e o estriol, esto presentes em todos os animais vertebrados e em
algumas espcies de insetos. Embora apresentem diferentes papis nesses
organismos, sua funo mais marcante e notria est relacionada maturao
sexual e ao desenvolvimento de caractersticas sexuais femininas (Ryan, 1982
e Mechoulam et al., 1984).
Na espcie humana, esses hormnios so sintetizados majoritariamente
pelos ovrios em mulheres que no atingiram a menopausa. Nos homens e em
mulheres ps-menopausa a sua produo essencialmente extragonadal e
est relacionada a transformao metablica de andrognios de 19 carbonos,
sobretudo testosterona e androstenediona, em 17 beta estradiol e estrona.
Essa reao mediada pela enzima aromatase e ocorre particularmente em
clulas mesenquimais do tecido adiposo, nos osteoblastos e condrcitos
sseos, no endotlio vascular e clulas do musculo liso da aorta e em
diferentes locais no crebro (Simpson, 2003)
-
5
Existem substncias exgenas de ocorrncia no ambiente que
apresentam atividade estrognica, isto , so capazes de interagir com os
receptores estrognicos endgenos, influenciando na interao dos hormnios
aos seus receptores e, com isso, alterando a resposta hormonal (Zacharewski,
1997).
Essas substncias podem ter ocorrncia natural, como os fitoestrgenos
sintetizados no metabolismo de plantas e micoestrgenos no de fungos, ou
serem sintticas, antropognicas.
Esses compostos exgenos, como o 17 -Etinilestradiol, esto inseridos
em um grande grupo de substncias chamadas interferentes ou
desreguladores endcrinos, que na lngua inglesa so chamados de Endocrine
Disruptors Compounds ou EDCs.
Interferente ou desregulador endcrino pode ser definido como:
todo agente exgeno que interfere na sntese, reserva, liberao, transporte,
metabolismo, ligao, ao ou eliminao de hormnios naturais dos
organismos e responsveis pela regulao da homeostase e de processos de
desenvolvimento (Kavlock et al.,1996). Esses compostos se caracterizam por
promover modificaes no sistema endcrino dos organismos, podendo gerar
consequncias negativas sade destes e/ou de seus descendentes.
Os interferentes endcrinos podem atuar sobre diversos alvos
biolgicos, tais como receptores estrognicos, receptores andrognicos, sobre
a tireide, entre outros. Uma mesma substncia pode ter atividade sobre mais
de um alvo biolgico, como por exemplo o agrotxico metoxicloro, que
apresenta ao estrognica e anti-andrognica (Ostby et al., 1999).
Essas substncias esto largamente difundidas na vida cotidiana,
estando presente em diversas matrizes, tais como:
a) gua para consumo humano e Alimentos: onde se destacam os
fitoestrgenos em plantas, agrotxicos nos vegetais e na gua, as substncias
liberadas pelas embalagens, como os ftalatos e bisfenol A (Wilkinson e Lamb,
1999) e os prprios hormnios estrognicos esteroidais provenientes de fonte
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animal, desde a carne at o leite (inclusive seus derivados) e ovos (Hartmann
et al., 1998).
Para a espcie humana, a maior parte dos interferentes endcrinos absorvidos
provm da via oral, de alimentos e gua contendo essas substncias (Reys,
2001).
b) Produtos cosmticos, como algumas preparaes para a pele, banho e
cabelo, contendo alquilfenis (Birkett e Lester, 2003).
d) Produtos da queima do papel e de plsticos, como as dioxinas e furanos, e
de combustveis fsseis, como os hidrocarbonetos policclicos aromticos ou
HPAs (Santodonato, 1997).
f) Produtos utilizados em instalaes eltricas, as bifenilas policloradas, e
diversos produtos e subprodutos provenientes da indstria qumica, como
saneantes industriais e domsticos, tintas, lubrificantes e emulsificantes,
tambm contendo alquilfenis e alquilfenis etoxilados ( Bila e Dezotti, 2007)
g) Substncias orgnicas polibromadas, que so usadas como retardadores de
chama em eletrnicos e tecidos (Birkett e Lester, 2003).
f) Conservantes parabenos, usados em formulaes farmacuticas e
cosmticas (Reys, 2001).
Em termos histricos, a preocupao com os efeitos relacionados
exposio aos EDCs provm do inicio do sculo XX, com a observao da
efeitos estrognicos em animais de laboratrio expostos a extratos de rgos e
tecidos reprodutivos femininos (Allen e Doisy, 1923).
Posteriormente, nas dcadas de 60 e 70, relatada a hiptese de
associao, entre o uso de dietilestilbestrol (DES) com o surgimento de
neoplasia vaginal em mulheres jovens que haviam sido expostas a esta
substncia antes de seu nascimento (Herbst et al., 1971). H tambm o relato
de aparecimento de efeitos reprodutivos em animais causados pelo agrotxico
organoclorado Dicloro Difenil Tricloroetano (DDT), principalmente atravs da
publicao do livro Silent Spring por Rachel Carson, em 1962 .
No incio da dcada de 90, h um recrudescimento do interesse no
estudo dessas substncias. Foi de suma importncia para isto a Conferncia
de Wingspread em 1991, por estimular a discusso sobre as evidncias de
-
7
efeitos sade em diferentes organismos pela exposio a substncias
qumicas ambientais.
Neste contexto, possvel ressaltar o estudo de Carlsen et al., 1992,
mostrando evidncias da diminuio da qualidade seminal de homens, em um
perodo de 50 anos. Tambm foi muito relevante a publicao do livro Our
Stolen Future: Are We Threatening Our Fertility, Intelligence, and Survival? por
Colborn et al., em 1997, que relata as evidncias, apontadas em diversos
estudos cientficos, de aes de desregulao no sistema endcrino e
principalmente de efeitos reprodutivos em diferentes espcies causadas pela
exposio a interferentes endcrinos.
Aes governamentais buscando incentivar a pesquisa, avaliar e buscar
solues para a questo foram e esto sendo elaboradas. Entre as diversas
iniciativas, possvel destacar o Programa de avaliao de desreguladores
endcrinos da Agncia de Proteo Ambiental dos EUA (EDSP USEPA).
Este programa atua no desenvolvimento e validao de testes laboratoriais, na
triagem e seleo de substncias que sero analisadas, e na implementao
de polticas e procedimentos que a referida agncia usar para essas
substancias, discutindo o risco ambiental e at humano que elas podem
representar. (USEPA, 2012).
Os principais questionamentos sobre a exposio a interferentes
endcrinos e seus efeitos ambientais e sobre humanos seriam (Bila e Dezotti,
2007):
- Quais substncias seriam capazes de produzir efeitos deletrios, quais seriam
estes efeitos, a partir de qual concentrao e se esta concentrao superada
nas matrizes ambientais.
- Dvidas para se estabelecer concentraes mximas em que no se observa
efeitos adversos aos organismos vivos.
- Possibilidade de Elaborar novas metodologias e avaliar as atuais no que
tange a identificar e caracterizar as concentraes dessas substncias nas
diferentes matrizes e/ou prever as consequncias causadas pelos interferentes
endcrinos em organismos expostos, e se estas metodologias seriam
acessveis para o uso em monitoramento.
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8
possvel dividir os interferentes endcrinos em grandes grupos. Para
Birkett e Lester, 2003, os principais grupos de substncias interferentes
endcrinas seriam :
- Substncias poliaromticas: substncias retardadoras de chama
(normalmente substancias orgnicas polibramadas), Bifenilas policloradas
(BPCs) e hidrocarbonetos policclicos aromticos (HPAs)
- Agrotxicos: pentaclorofenol linuron, atrazina e o hexaclorobenzeno, entre
outros.
- Esterides: 17 -estradiol, dietilestilbestrol, 17 -etinilestradiol, estrona, estriol
e mestranol.
- Compostos orgnicos oxigenados: os principais exemplos seriam o bisfenol A
e os diversos ftalatos.
- Alquilfenis: octilfenol, o nonilfenol, e o nonilfenol etoxilado .
1.2 Mecanismo de ao dos interferentes endcrinos
Os interferentes endcrinos podem atuar atravs de diferentes
mecanismos de ao, como expostos no quadro 1 abaixo. importante
salientar que muitas desses compostos ainda no apresentam um mecanismo
de ao totalmente elucidado e que a mesma substncia pode ter mais de um
mecanismo de ao, como por exemplo o praguicida metoxicloro, considerado
uma substncia estrognica e tambm antiandrognica (Ostby et al., 1999).
Quadro 1 : Mecanismos de ao de Interferentes endcrinos em animais
Mecanismo de ao
Definio
Mimetizar
(Agonismo)
O interferente Endcrino, em virtude de sua analogia estrutural
com o hormnio natural, poderia se acoplar ao receptor de
hormnio
Bloquear
(Antagonismo)
Certos interferentes endcrinos interagem com o receptor
hormonal, tendo capacidade de bloquear a ligao do
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9
hormnio natural com este receptor
Mecanismo de ao
Definio
Depleo de
hormnios
Estimulam processos de degradao e eliminao do
hormnio, gerando uma depleo da concentrao deste nos
organismos.
Estimular Promovem a sntese de novos receptores hormonais dentro da
clula, gerando mltiplos sinais
Inibir enzimas Atuam inibindo enzimas cuja funo est relacionada a lise de
hormnios
Destruir Atuam promovendo a destruio do hormnio ou na perda da
capacidade deste ultimo em cumprir sua funo. H
modificao na estrutura do hormnio direta ou indiretamente,
resultando em problemas na interao com o stio receptor.
Adicionalmente, podem ocasionar modificaes nos padres
de sntese dos hormnios
Fonte: Adaptado de Bila, 2005.
1.3 Conceitos de toxicidade e avaliao do risco sade
Para compreendermos os efeitos sade dos organismos provocados
pela exposio aos interferentes endcrinos, necessrio compreender alguns
conceitos bsicos de toxicologia.
A dose se relaciona com a quantidade total de uma substncia recebida
pelo organismo. Geralmente expressa em unidades de massa ou volume por
massa de peso corpreo (exemplo: mg por kg corpreo) . As vias digestiva
drmica/cutnea, e respiratria so algumas das principais portas de entrada
das substncias nos organismos em exposio ambiental (FUNASA,2002).
A DL50 a dose necessria de uma substncia para produzir a morte de
50% dos organismos expostos (Hodge e Sterner, 1949). normalmente
expressa em unidades de massa por massa de peso corpreo e elaborada a
-
10
partir de estudos de experimentao em animais e outras espcies. um
parmetro de toxicidade aguda. A partir da DL50 possvel estabelecer uma
classificao das substancias por sua toxicidade aguda (Hodge e Sterner,
1949), como mostrado no Quadro 2 abaixo.
Quadro 2: Classificao Toxicolgica das Substncias segundo seu DL50
Classificao DL50 (em rata, por via oral)
.Extremamente txico < 1 mg.Kg-1
Altamente txico 1-50 mg.Kg-1
Moderadamente txico 50-500 mg.kg-1
Ligeiramente txico 0,5-5 g.Kg-1
Praticamente no txico 5-15 g.Kg-1
Relativamente no txico 15 g.Kg-1
Fonte: Hodge e Sternes, 1949
J a CE50 ou DE50 a dose da substncia que promove o aparecimento
de um efeito em metade da populao de organismos estudados. Expressa
normalmente em unidade de massa por volume (CE50) ou unidades de massa
por massa de peso corpreo (DE50), se constituem como indicadores de
potncia, representando o quo capaz a substncia em gerar uma
determinada resposta (FUNASA, 2002)
Para o entendimento sobre o risco de exposio humana e ambiental,
necessrio tambm estabelecer os conceitos de risco, perigo e avaliao de
risco.
Os perigos esto relacionados a evento, agente ou condio que teria a
capacidade de gerar efeitos indesejados a partir de suas caractersticas
intrnsecas. J o risco seria uma probabilidade com que esse perigo se
manifestasse, tendo uma conotao quantitativa (Freitas, 2002)
No contexto toxicolgico, se considera risco como a chance de ocorrer
um efeito indesejado para a sade humana ou dos ecossistemas a partir de
-
11
uma exposio a um estressor ambiental (fsico, qumico ou biolgico), que
teria a capacidade de induzir resposta adversa.
J a avaliao de risco seria uma ferramenta para mensurar esses
riscos a sade, descrevendo-os de acordo com a sua natureza e magnitude,
auxiliando numa tomada de deciso quanto ao estabelecimento de um risco
aceitvel para um determinado agente estressor (Freitas, 2002).
A avaliao de risco envolve as etapas de identificao do perigo,
avaliao de toxicidade (utilizando de uma relao dose-resposta), avaliao
da exposio e caracterizao do risco (National Research Council, 1983).
A relao dose-resposta, mencionada acima, expressa atravs de uma
curva que est relacionada a incidncia de um desfecho, mostrando a
proporo de uma populao em estudo que apresenta um determinado
desfecho para cada dose estudada (Freitas, 2002).
Essa curva pode ser influenciada por fatores relacionados a
suscetibilidade individual, principalmente os relacionados a polimorfismos
genticos de enzimas de metabolizao da(s) substncia(s) em teste. Outro
dado toxicolgico importante a curva dose-efeito, que expressa uma relao
entre a dose e a intensidade de um efeito graduado, para uma populao ou
indivduo (Hardman e Limbird, 2005).
Todas as informaes supracitadas auxiliam no estabelecimento de
limites de segurana ou tolerncia na exposio a substncias txicas
(expressos em doses de referencia ou ingesto diria aceitvel).Para se
estabelecer os limites de exposio segura em substncias no
carcinognicas, so usados parmetros como LOAEL (Low Observable
Adverse Effect Level ou nvel/dose mais baixo no qual um efeito adverso
observado) e NOAEL, (No observable Adverse Effect Level ou nvel/dose
mais alto no qual no se observa efeito adverso (OPAS/USEPA, 1996).
Esses parmetros so obtidos atravs de uma curva dose-resposta
realizada com estudos de experimentao animal em diversas doses da
-
12
substncia em teste, e esses dados so extrapolados para a espcie humana
com auxilio de fatores de segurana que englobam fatores de incerteza e
ponderao, para que se assegure um menor risco e maior proteo na
exposio humana a essa substncia (OPAS/USEPA, 1996).
No caso de substncias carcinognicas, que podem causar danos com
qualquer dose de exposio, so utilizadas tcnicas de avaliao do risco
quantitativo, tentando extrapolar os efeitos para doses baixas com auxilio de
modelos matemticos (OPAS/USEPA, 1996).
A produo de efeito txico pode tambm estar relacionada a exposio
a mais de uma substncia, havendo efeitos antagnicos, sinrgicos, aditivos
e/ou potenciais entre as mesmas, conforme definido abaixo (FUNASA, 2002):
-Efeito antagnico: o efeito obtido pela mistura de substncias, em uma
determinada dose, ser menor que o esperado quando h a exposio
individual de cada substancia sobre o referido organismo, nesta mesma dose
- Efeito aditivo: o efeito obtido pela mistura de substncias, em uma
determinada dose, ser igual a soma dos efeitos individuais de cada substncia
envolvida sobre este organismo. Muitas vezes, difcil avaliar esses efeitos
aditivos para substancias estrognicas, uma vez que muitas delas no
apresentam uma curva dose-resposta linear
- Efeito sinrgico: o efeito final obtido pela mistura ser maior que o esperado,
sendo superior a soma aritmtica dos efeitos individuais de cada uma das
substancias envolvidas..
- Efeito potencial: uma substncia ter seu efeito aumentado ao interagir com
outra que, originalmente, no apresenta aquele efeito.
De forma geral, alguns dos principais fatores relacionados gerao do
efeito txico dos agentes qumicos em uma exposio ambiental so
(FUNASA, 2002 ; Freitas, 2002):
-
13
- Propriedades intrnsecas substncia: propriedades fsico-qumicas (lipofilia,
solubilidade em gua, estado fsico, tamanho molecular, etc), natureza dos
subprodutos formados, ligao protenas circulantes, persistncia ambiental,
carcinogenicidade e mutagenicidade.
- Caractersticas atreladas ao organismo: idade, espcie, fatores genticos
(polimorfismos de enzimas), estado nutricional e imunolgico, ausncia ou
presena de patologias pr-existentes, gnero sexual, peso corporal e estado
emocional
- Caracterizao da exposio: frequncia e durao da exposio, vias de
entrada no organismo, rota de exposio no ambiente
- Propriedades atreladas ao ambiente: influncias causadas pela temperatura,
radiao solar, umidade, entre outros.
1.4 Efeitos Relatados aos interferentes endcrinos
Os principais efeitos sade dos organismos provocados dos
interferentes endcrinos so, segundo Bila (2005), distrbios no sistema
reprodutivo animal, englobando estmulo de hermafroditizao ou feminizao
de espcies, prejuzo no desenvolvimento das gnadas e diminuio da
reproduo. O quadro 3 abaixo relata alguns dos efeitos dessas substancias
documentados em estudos cientficos.
Quadro 3: Efeitos nos ecossistemas provocados por interferentes endcrinos
Espcie Agente txico
Efeito Relatado Referncia
Mamfero
Bisfenol A
Danos ao sistema reprodutivo de ratos Markey et
al., 2003
PCB
Aumento na mortalidade de golfinhos Aguilar e
Borrel,
1994
-
14
DDT
Distrbios no sistema reprodutivo de
ratos
Bitman et
al., 1968
Espcie Agente txico
Efeito Relatado Referncia
Rptil
DDE e DDT
Diminuio das concentraes
plasmticas de hormnios sexuais e
alteraes estruturais nas gnadas
(havendo diminuio do tamanho
peniano) dos jacars.
Guillette et
al., 1996 e
1999,
Milnes et
al., 2002
Mexilho
Efluente de
ETE
Estimulo a liberao de vitelogenina na
circulao sistmica e distrbios de
crescimento da concha dos mexilhes.
Gagn et
al., 2001
Moluscos
TBT e TPT
Masculinizao de espcies fmeas Fernandez
et al., 2002
Tartaruga
17-beta
estradiol
Estmulo a liberao na circulao de
vitelogenina e distrbios na produo
de ovos
Irwin et al.,
2001
Pssaros
Pesticidas Diminuio da fertilidade Fry, 1995
DDT
Induo da Feminizao em gaivotas
macho
Fry e
Toone,
1981
DDT
Distrbios no sistema reprodutivo Bitman et
al., 1968
Anfbios
atrazina
Distrbios no sistema reprodutivo e
diminuio da populao
Dalton,
2002
Efluente de
ETE
Estimulao a liberao de
vitelogenina na circulao sistmica e
hermafroditizao da especie
Bogi et al.,
2003
Fonte: BILA, 2005
-
15
Em relao aos efeitos na espcie humana, devido a enorme gama de
substancias qumicas que esto submetidos no cotidiano e a ausncia de
estudos de experimentao em humanos (por bvios motivos ticos), difcil
elucidar claramente a associao da exposio a uma nica substncia com
um determinado desfecho.
Para estabelecer uma associao causal entre um determinado
desfecho e uma exposio so necessrios ( Rothman e Greenland, 2008):
- Associao matemtica exposio-desfecho, com significncia estatstica, em
estudos epidemiolgicos bem delineados, com o controle de variveis de
confundimento e evitando, o quanto for possvel, os vieses.
- Consistncia dos resultados, devendo haver similaridade entre os resultados
encontrados nos diferentes estudos cientficos.
- Estabelecimento de uma sequencia temporal, que assegure que a exposio
vem antes do desfecho e que quanto maior a exposio, maior ser a
probabilidade de ocorrncia e magnitude desse desfecho
- Plausibilidade biolgica, ou seja, necessrio elucidar os mecanismos
bioqumicos e fisiopatolgicos relacionando o efeito do agente txico no
desenvolvimento do desfecho.
Para as substncias desreguladoras endcrinas, as maiores suspeitas
esto relacionadas alterao dos parmetros do smen (diminuio da
qualidade seminal), anomalias nos rgos reprodutivos, distrbios na tireoide
(que poderiam estar relacionado a problemas de crescimento) e aumento da
incidncia de neoplasias de testculo, mama, e prstata (CSTEE, 1999).
H evidencias mais contundentes na exposio ao DDT e seus
derivados e prejuzo nos parmetros de qualidade seminal (De Jager et al,
2006 e Aneck-Hahn et al., 2007) e na relao entre o cncer vaginal e cervical
e a exposio intrauterina ao dietilestilbestrol (Herbst et al., 1971).
-
16
Existem ainda suspeitas de impacto ao sistema imunolgico por
estrognios naturais e sintticos (Ahmed, 2000), e aumento da incidncia de
casos de impotncia, decrscimo da libido e das concentraes plasmticas de
andrognios no sangue (Waring E Harris, 2005).
1.5 Dados sobre o interferente endcrino de escolha: 17 -Etinilestradiol
1.5.1 Estrutura Qumica, Caractersticas Fsico-Qumicas e Classificao Toxicolgica
A frmula molecular do 17 -Etinilestradiol C20H24O2 e sua estrutura
qumica, mostrada na figura 1, bastante semelhante a do hormnio natural 17
-estradiol, ambos apresentando 3 anis de 6 carbonos (sendo um deles
aromtico e ligado a uma hidroxila, se caracterizando como um anel fenlico) e
um anel de 5 carbonos, ligado a uma hidroxila .
Figura 1: Estrutura Qumica do 17 -estradiol (a) e do 17 -etinilestradiol (b)
O anel fenlico aromtico presente o responsvel pela atividade
biolgica, isto , ele proporciona a atividade estrognica das substncias. A
presena do grupo etinil no carbono 17 proporciona uma potencia por via oral
aumentada, devido a inibir o metabolismo de primeira passagem heptica
(Hardman e Limbird, 2005)
Figura 1 (a) 17 -estradiol Figura 1 (b) - 17 -etinilestradiol
-
17
Em relao as propriedades fsico-qumicas, o 17 -etinilestradiol
frmaco sinttico de alta lipofilia, de relativamente baixa solubilidade em gua,
com boa absoro por via oral, capaz de se ligar fortemente a protenas
circulantes e apresentando excreo pelas urina e fezes no ser humano,
grande parte na forma conjugada e inativa com glicurondios e sulfatos (Ying et
al., 2002, Lai et al., 2000) .
Alguns autores (Coleman et al., 2004; DAscenzo et al., 2003; Baronti et
al., 2000) associam as concentraes encontradas de etinilestradiol e
estrognios naturais em afluentes e efluentes das estaes de tratamento de
guas residuais, com a hiptese de que bactrias no esgoto, sobretudo
Escherichia Coli, poderiam desfazer a reao de conjugao, regenerando-os
em sua forma ativa .
Tambm documentado que a conjugao glicurnica gera um produto
com menor persistncia ambiental, apresentando uma degradao biolgica
mais facilitada que o estrognio conjugado a sulfato (DAscenzo et al., 2003)
Em relao a sua toxicidade aguda, relatado um DL50 para essa
substancia, de 2952 mg.kg-1 em ratos e 1737 mg.kg-1 em camundongos
(Goldenthal,1971), sendo classificada como ligeiramente txica em exposio
aguda por via oral
Na espcie humana, apresenta biodisponibilidade por via oral de cerca
de 40%, interagindo vastamente com protenas plasmticas, tendo tempo de
meia vida biolgica de 7,7 horas e meia vida de eliminao (tempo necessrio
para que o organismo depure 50% da dose absorvida da substancia) de 13 a
27 horas (Kanarkowski et al., 1988, e Goebelsmann, 1986).
1.5.2 Mecanismo de Ao do 17 -etinilestradiol
Por se caracterizar como um hormnio esteroidal sinttico de forte
analogia estrutural ao 17 beta estradiol, seu mecanismo de ao ser bastante
-
18
similar a deste ultimo, atuando fortemente e de forma agonista com receptores
estrognicos ER e ER, presentes no citoplasma celular e no ncleo celular.
Aps a interao no citoplasma, que ocorre no domnio de ligao
hormonal de ER e ER, o complexo receptor-ligante entra no ncleo celular,
havendo uma modificao na conformao do receptor, ao qual capaz de
interagir com sequencias promotoras do DNA intituladas elementos de resposta
ao estrognio, promovendo um controle da transcrio gnica e regulando a
formao de mRNA . Estes ltimos interagem com ribossomos havendo a
traduo em protenas especificas, modificando o metabolismo celular
(Brzozowski et al., 1997, Gaido et al., 1997)
Alguns dos principais alvos dos estrognios incluem clulas do trato
reprodutivo feminino, as clulas mamarias, sseas, hepticas e clulas do
hipotlamo e pituitria (Hardman e Limbird, 2005).
Os estrognios, como o 17 -etinilestradiol, so capazes de atuar na
glndula pituitria suprimindo a liberao de hormnio folculo estimulante
(FSH) e do hormnio Luteinizante (LH). A combinao de estrognio e
progestognio tambm inibe o eixo hipotlamo-pituitria, diminuindo a secreo
de hormnio liberador de gonadotrofina (GnRH). A ao de contracepo
ocorrer devido a deficincia no desenvolvimento e maturao folicular,
inibindo a formao de vulos capazes de serem fecundados (Hardman e
Limbird, 2005).
1.5.3 Dados de consumo mundial do 17 -etinilestradiol
O 17 -Etinilestradiol normalmente utilizado em doses entre 10 a 50 g
em medicamentos anticoncepcionais orais (conjuntamente com
progestognios) e seus outros usos clnicos incluem tratamento de sintomas da
perimenopausa, da obstruo mamria ps-parto, no sangramento uterino, na
terapia hormonal para mulheres com hipogonadismo, e na terapia paliativa
-
19
para carcinoma maligno de prstata e mama (Associao Internacional de
Pesquisa sobre o Cncer - IARC, 2012).
Em relao ao seu consumo mundial, cerca de 881 milhes de unidades
farmacuticas contendo essa substncia foram vendidos no mundo em 2006,
129 milhes na Amrica Latina (Ims Health , 2005, apud IARC, 2007).
1.5.4 Efeitos Deletrios a sade relacionados ao uso humano em Terapia de reposio Hormonal e como contraceptivo
Segundo a IARC, os contraceptivos orais, caracterizados por uma
associao entre substncia estrognicas (incluindo o 17 -etinilestradiol) e
progestognios na mesma formulao, esto classificados no grupo 1, sendo
definidos como reconhecidamente carcinognicos na espcie humana, estando
relacionado ao surgimento de cncer de mama, colo uterino e de fgado (IARC,
2012).
De acordo com esta mesma entidade, a terapia de reposio hormonal
unicamente com estrognios (entre os quais o 17 -etinilestradiol) tambm
estaria enquadrada no grupo 1 (reconhecidamente carcinognico para espcie
humana), e estaria envolvido no desenvolvimento de cncer de endomtrio, e
ovrio, havendo tambm uma associao positiva para cncer de mama
(IARC, 2012).
Os mecanismo envolvidos na atividade carcinognica dos estrognios
no esto totalmente elucidados, sendo propostos 3 mecanismos que
poderiam explicar tal ao (Hardman e Limbird, 2005):
a) Os estrognios induziriam proliferao celular, e tal ao poderia estar
relacionada ao aumento de defeitos espontneos na replicao do DNA
b) Aps as mutaes terem se estabelecido em clulas alvo (pela ao de
substancias carcinognicas diversas), os estrognios induziriam a proliferao
de clones com defeitos genticos.
-
20
c) Gerao de espcies reativas de oxignio capazes de gerar danos nas
bases do DNA, oriundas de biotransformao de estrognios catecis em
quinonas ou semiquinonas.
O 17 -etinilestradiol tambm est relacionado a sndrome de
Disgenesia Testicular principalmente por exposio materna no perodo fetal, j
que o etinilestradiol interage com pouca eficincia a globulina de ligao dos
hormnios sexuais, e com isso conseguir atravessar a barreira placentria
atingindo o feto (Vidaef et al., 2005, e Sharpe et al., 2003).
Alguns dos efeitos sade humana conhecidos no uso do 17 -
etinilestradiol so encontrados no Quadro 4.
Quadro 4: Possveis Efeitos do 17 -etinilestradiol na sade humana no uso em terapia de reposio hormonal ou como contraceptivo.
Ao do 17 -etinilestradiol Tipo de Estudo Tamanho amostral
Fonte
Nuseas, hipersensibilidade
das mamas ( associao
etinilestradiol + desogestrel )
Ensaio Clnico
10.672
Fotherby (1992)
Aumento da incidncia de
clculos biliares
Reviso
sistemtica
- Uhler et al.
(2000)
Menor sensibilidade glicose
(associao etinilestradiol +
drospirenona)
Ensaio Clnico 80 Oelkers et al.
(1995)
Aumento da presso arterial
(associado a progestognio)
Estudo
Epidemiolgico
68 297 Chasan-Taber
(1996)
Ao protrombtica e
elevao dos riscos de
Tromboembolismo Venoso
Reviso
Sistemtica
- Ouyang et al.
(2006)
-
21
Em relao ao efeito do 17 -etinilestradiol na formao de clculos
biliares, relatado que essa substncia promoveria uma elevao da saturao
da bile com o colesterol e reduo da secreo de cidos biliares (Heuman et
al., 1980)
O efeito de elevao da presso arterial foi explicitado no estudo de
Chasan-Taber et al. (1996) em que, aps 4 anos de seguimento, o
desenvolvimento de hipertenso arterial em mulheres usurias de
anticoncepcionais orais (sendo o etinilestradiol o estrognio mais
frequentemente utilizado) apresentou um risco duas vezes superior, quando
comparadas a mulheres que no utilizaram este mtodo contraceptivo.
O mecanismo que explique a ao dos anticoncepcionais orais na
hipertenso ainda no est totalmente elucidado, mas a principal suspeita recai
sobre a ativao do sistema renina-angiotensina-aldosterona (Lewington et al,
2002).
1.5.5 Principais metodologias laboratoriais para caracterizao da atividade, identificao e quantificao qumica do 17 -etinilestradiol em matrizes ambientais
Diferentes metodologias so disponveis para a caracterizao,
identificao e quantificao do 17 -etinilestradiol em uma matriz ambiental
(sobretudo aqutica), existindo ensaios in vivo, in vitro e mtodos qumicos
analticos disponveis.
Entre os ensaios in vivo, possvel destacar os ensaios com uso de
roedores e os realizados com peixes.
Nos ensaios em peixes, mensurada a capacidade da substncia (ou
da mistura de substancias em determinada concentrao ou mesmo de um
efluente) de induzir a sntese de vitalogenina em peixes machos.
-
22
A vitelogenina uma protena presente na circulao sistmica em
espcies de animais ovparos, estando em concentraes baixas nas espcies
macho e alta nas fmeas, e sua funo est relacionada maturao dos
vulos (Irwin et al., 2001)
A expresso do gene de vitelogenina est relacionada s concentraes
de estrognios no organismo e por isso se consideram os nveis de
vitelogenina como um marcador de feminizao de peixes e de exposio a
substncias interferentes endcrinas estrognicas (Korach e Mclachlan, 1995).
A mensurao da vitelogenina realizada por radioimunoensaio ou por
imunoensaio enzimtico (ELISA).
J o ensaio in vivo com roedores capaz de mensurar as modificaes
da massa uterina de roedores (ensaio uterotrfico) ou ento detectar alteraes
na histologia de clulas do epitelio da mucosa vaginal (ensaio de cornificao
da mucosa vaginal). Seu uso menos difundido, em virtude dos problemas
ticos do uso de animais e do elevado custo em comparao com outros
ensaios.
Em relao aos ensaios in vitro, os principais so o teste YES, o teste de
ligao competitiva nos receptores de estrognio e o teste E-Screen
No teste YES (sigla para Yeast Estrogen Screen), elaborado por
Routledge e Sumpter (1996) utilizada uma levedura de Saccharomyces
cerevisiae geneticamente manipulada, ao qual em seu genoma foi adicionada
uma sequncia de DNA do receptor de estrognio humano. Com isso, esse
teste capaz de analisar a atividade estrognica da substncia, ou seja, a
capacidade que a substncia possui em interagir com o receptor de estrognio
humano e produzir uma resposta.
A mensurao no ensaio YES colorimtrica, por espectrofotometria, ao
qual a enzima -galactosidase, formada de acordo com a atividade estrognica
da substncia( ou mistura de substncias), metaboliza e gera uma mudana de
cor de amarelo para vermelho do agente cromognico clorofenol vermelho--D-
-
23
galactopiranosida, presente no meio de anlise. Os resultados obtidos no teste
YES so comparados aos do padro de 17 -estradiol, sendo expresso em
concentrao equivalente de 17-estradiol.
O ensaio E-Screen fundamentado no efeito de multiplicao de clulas
de carcinoma mamrio humano MCF-7 estimulado pela exposio a
substncias com atividade estrognica. Neste ensaio utilizado um soro,
inserido no meio de analise para inibir a replicao das clulas MCF-7. As
substancias com atividade estrognica seriam capazes de anular esse efeito
inibitrio e estimular a proliferao dessas clulas tumorais.
O perodo de incubao das clulas de 4 a 6 dias, sendo realizado na
presena e na ausncia da substancia padro (17 -estradiol) e da amostra em
teste. A mensurao da proliferao celular pode ser feita atravs de contagem
do numero de clulas ou ncleos (Soto et al., 1995) ou por mtodo
colorimtrico (Krner et al., 1998).
No teste de ligao competitiva aos receptores de estrognio
analisada a capacidade da substancia em teste de disputar com o padro de
estrognio (no caso, usado o 17 -estradiol radiomarcado) a ligao com os
receptores estrognicos, sendo os resultados mensurados com o auxilio de um
cintilador lquido
Alguns estudos que submetem as mesmas substancias-teste a ensaios
in vitro e in vivo, como o de Folmar et al., 2002, ao qual mostram que as
substncias apresentam maior potencia in vivo que in vitro, explicitando a
dificuldade dos ensaios in vitro de emular completamente as condies in vivo.
Nas anlises qumicas, normalmente no se mensura a atividade ou o
efeito biolgico da(s) substncias, porm permite identificar e quantificar as
concentraes das espcies qumicas em uma matriz ambiental complexa e de
componentes desconhecidos, algo que no possvel nos ensaios in vivo e in
vitro.
-
24
As principais metodologias qumicas utilizadas para analisar
interferentes endcrinos (como o 17 -etinilestradiol) devem ser capazes de
detectar essas substncias, presentes normalmente em concentraes baixas
em matrizes ambientais aquticas, numa faixa de g.l-1 ou mesmo g.lP-1P.
Essas metodologias englobam uma etapa preliminar de extrao
(permitindo uma purificao e pr concentrao da amostra, sendo a extrao
de fase slida a mais utilizada) e a determinao atravs de cromatografia
lquida ou a gs (usando ou no a derivatizao), normalmente acoplada a um
detector de espectrmetro de massas (Brossa et al., 2002).
H tambm ensaios imunoenzimaticos, fundamentados no principio da
interao especifica entre um antgeno e um anticorpo, sendo este ultimo a
substancia de interesse (ou a mistura delas) presente na matriz ambiental.
Esses ensaios so normalmente precedidos por uma etapa preliminar de
extrao, visando uma purificao e pr concentrao da amostra (Farre et al.,
2006), e um dos principais metodos imunoenzimaticos utilizados para analise
do 17 -etinilestradiol o ensaio de imunoadsoro enzimtica, tambm
chamado de teste ELISA.
O teste ELISA pode ser policlonal ou monoclonal. No policlonal,
detectada essa substancia em conjunto com outras (normalmente os
estrognios naturais), no sendo capaz de caracterizar individualmente a
concentrao de cada uma das substancias desse grupo presentes na amostra
J o teste ELISA monoclonal altamente especifico, detectando uma
nica substncia ou espcie qumica, podendo ser usado quantitativamente e
gerando resultados confiveis e muitas vezes em concordncia com analises
cromatogrficas (Farre et al., 2006).
-
25
2 OBJETIVOS
2.1 - Objetivo Geral
Ao longo deste trabalho, so abordados os efeitos na sade humana e
dos ecossistemas pela exposio por fontes ambientais ao frmaco interferente
endcrino estrognico 17 -etinilestradiol.
2.2 - Objetivos especficos:
- Explicitar as tcnicas laboratoriais utilizadas para identificao qumica
e caracterizao do potencial estrognico do 17 -etinilestradiol em matrizes
ambientais aquticas.
- Mostrar as concentraes encontradas para a referida substancia em
matrizes aquticas relatadas em estudos cientficos.
3 - METODOLOGIA
Foi utilizada a reviso da literatura cientifica como ferramenta
metodolgica para o desenvolvimento deste trabalho.
Foram pesquisadas publicaes em revistas cientificas, livros, teses e
monografias nas bases de dados ISI Web of knowledge e Google Acadmico,
com resultados at
As palavras chave usadas foram: etinilestradiol, sade humana,
interferente endcrino, sade animal, esgoto, rio, concentrao ambiental,
exposio ambiental e seus correspondentes em lngua inglesa
A escolha das publicaes utilizadas foi feita mediante disponibilidade da
publicao completa para consulta e tambm pela analise do material obtido.
-
26
4 RESULTADOS E DISCUSSO
Utilizando a base de dados ISI Web of Knowledge e os descritores
especificados no captulo 3 em lngua inglesa, foi possvel montar os quadros 5
e 6 abaixo, com os resultados da pesquisa bibliogrfica. Foi possvel notar que
no se obteve resultados com a interseco de descritores em lngua
portuguesa utilizando essa base de dados.
Quadro 5 Resultados obtidos da busca bibliogrfica na base ISI Web of Knowledge utilizando diferentes descritores
Descritores Usados Nmero de publicaes encontradas
Ethinylestradiol + river + environmetal
concentration
36
Ethinylestradiol + Endocrine Disruptor +
Environmental concentration
23
Ethinylestradiol + Environmental exposure +
Human Health
6
Ethinylestradiol + Environmental exposure +
environmetal concentration
10
Ethinylestradiol + river + human health 5
Ethinylestradiol + animal health + wastewater 2
Ethinylestradiol + environmetal concentration
+ animal health
1
environmetal exposure + Ethinylestradiol
+river
19
Ethinylestradiol + river + wastewater 52
Ethinylestradiol + wastewater + environmetal
concentration
41
Combinaes em lngua portuguesa anlogas
s que usaram descritores os em lngua
inglesa
0
-
27
Quadro 6 Ano em que foram publicados os artigos cientficos encontrados
Ano da Publicao Resultados
2005 14
2006 17
2007 23
2008 21
2009 25
2010 31
2011 34
2012 30
Observando os dados obtidos nos quadros 5 e 6, possvel notar que a
maior parte das 195 publicaes obtidas est relacionada a deteco desse
estrognio em rios ou em esgotos (sobretudo domsticos), e que foram
encontradas relativamente poucas publicaes relacionando as exposies
ambientais ao 17 -etinilestradiol efeitos na sade animal e humana. Alm
disto, foi observado uma tendncia de crescimento do nmero de publicaes
ao longo dos anos na srie 2005-2012, com exceo dos ano de 2008 e 2012.
No que tange ao contedo das publicaes e na presena dessa
substncia nos compartimentos ambientais, foi possvel observar que o 17 -
etinilestradiol um frmaco largamente difundido no ambiente, tendo entrada
contnua nas matrizes aquticas atravs de efluentes da indstria
farmacutica/farmoqumica e pelo esgoto humano, lanado sem tratamento ou
com tratamento convencional no totalmente eficaz para remover essa
substncia (Ternes et al, 1999), e com isso permitindo sua difuso nas guas
superficiais, subterrneas e at mesmo na gua de consumo humano (Stumpf
et al., 1999).
Essa substncia pode ser encontrada inclusive em chorumes de aterros
sanitrios (Behnisch et al., 2001), em sedimentos marinhos (Lai et al., 2000) e
-
28
no lodo de estaes de tratamento de efluente utilizado na agricultura, podendo
promover uma contaminao do solo (Ternes et al., 2002).
Existem trabalhos mostrando a presena do frmaco at mesmo em
mangues, como o estudo de Froehner et al.(2011), ao qual encontrou
concentraes de 129.75 +/- 3.89 ng.g-1 em amostras de sedimento do mangue
Itacorubi, em Santa Catarina-Brasil.
Embora o uso do 17 -etinilestradiol como fator de crescimento na
criao de animais (sobretudo gado) seja ilegal em muitos pases, estudos
mostram que essa forma de contaminao dos ambientes aquticos no pode
ser descartada (Matthiessen et al., 2006).
Restringindo a ateno aos estudos que pesquisaram essa substncia
em ambientes aquticos, foi observado, ao ser analisado o quadro 5
(concentraes encontradas de 17 -etinilestradiol em diferentes matrizes e
locais no Brasil) e o quadro 6 (Concentraes relatadas de 17 -Etinilestradiol
em matrizes aquticas no mundo, adaptado de Ferreira, 2008) que essa
substncia est presente em concentraes na faixa de ng.lP-1P .
Entre os diversos estudos, possvel destacar o de Gerolin, 2008, em
que foi encontrada uma alta concentrao do frmaco tanto na gua dos rios
que so utilizados para obter a gua de beber quanto tambm nesta ultima.
Naquele estudo, foi relatada uma deficiente remoo do 17 -
etinilestradiol na estao de tratamento de gua, ao qual a eficincia de
remoo na estao de Sumar foi de 41% e na de Campinas foi de 38%.
J no estudo de Ternes et al.,1999, a Estao de Tratamento de
Efluentes (ETE) da PENHA-RJ as taxas de remoo para o frmaco foram de
64% e 78% no filtro biolgico e no sistema de lodos ativados, respectivamente.
-
29
Quadro 7: Concentraes encontradas de 17 -etinilestradiol em diferentes matrizes e locais no Brasil
Matriz Local Concentrao Relatada
Referencia
gua Potavel
Campinas e Sumar
SP
275 e 472, ng.L-
1 respectivamente
Gerolin E.R.
(2008)
gua de Rio Campinas e Sumar
SP
444 e 758 ng.L-1
respectivamente
Gerolin E.R.
(2008)
Esgoto
Domstico
ETE Penha RJ 5 ng.L-1 Ternes et al.
(1999)
gua Potavel Seropdica RJ No detectado Kuster et al.
(2009)
gua Potvel So Luiz MA No detectado Verbinnen et
al. ( 2010 )
gua de Rio Rios Paraba do Sul,
Maca, Guandu,
Lagoa Rodrigo de
Freitas e Lagoa De
Jacarepagu RJ -
Brasil
No Detectado
ou abaixo do
limite de
quantificao
Kuster et al.
(2009)
Quadro 8 : Concentraes relatadas de 17 -Etinilestradiol em matrizes aquticas no mundo.
Local Concentrao Referncia
ETE(s) da Noruega, Sucia,
Finlndia, Pases Baixos,
Blgica, Alemanha, Frana e
Sua
1,1 ng.L-1 Johnson et al.(2005)
ETE Alemanha 1,5 ng.L-1 Pawlowski et al.
-
30
(2004)
Local Concentrao Referncia
ETE Frana 4,9 a 7,1 ng.L-1 para
afluente e 2,7-4,5
ng.L-1 para efluente
tratado
Cargout et al.(2004)
ETE Alemanha Efluente tratado: 0,1
a 8,9 ng.L-1
Kuch e Ballschmitter
(2001)
guas Superficiais - EUA 73 ng.L-1 Kolpin et al. (2002)
guas Superficiais e gua
Potvel Alemanha
gua superficial :
0,10 a 5,1 ng.L-1
gua potvel: 0,15 a
0,50 ng.L-1
Kuch e Ballschmitter
(2001)
guas superficiais - Frana 1,1 a 2,9 ng.L-1 Cargout et al.(2004)
Fonte: adaptado de FERREIRA, 2008
Em relao aos efeitos provocados pelo 17 -etinilestradiol, relatado a
este composto um alto potencial estrognico in vitro (Beck et al., 2006), com
potncia e estabilidade em gua superior aos estrognios naturais (Snyder et
al., 1999).
apontado que essa substncia, em conjunto com os hormnios
naturais, geraria a maior parte da atividade estrognica em efluentes de ETE
no Reino Unido (Desbrow et al., 1998) e que seria o mais potente interferente
endcrino para peixes (Jurgens et al., 2002)
Alguns estudos, como o de Purdom et al., 1994, mostram que, na
concentrao de 0,1 ng.L-1, o 17-etinilestradiol seria capaz de estimular a
expresso da vitelogenina em peixes, j na faixa de concentrao de 0,1 a 15
ng.L-1 poderia interferir na diferenciao sexual e que na faixa de concentrao
de 2 a 10 ng.L-1 haveria indcios de prejuzo a fecundidade.
-
31
O efeito de exposies crnicas ao 17-etinilestradiol, em concentrao
de 5 ng.L-1 tambm poderia trazer prejuzos na fecundidade da prole dos
peixes (Nash et al., 2004)
A descrio de efeitos em animais relatados na literatura causados pela
exposio ao 17-etinilestradiol est contida no quadro 7 (Principais efeitos do
17 -etinilestradiol em diferentes espcies animais, adaptado de Bila,2005).
Muitos estudos mostram efeitos aditivos e sinrgicos envolvendo essa
substncia, resultando em um aumento da atividade estrognica, o que poderia
tornar ainda mais preocupante a presena do 17-etinilestradiol no ambiente.
relatado efeito aditivo entre o 17-etinilestradiol e 17-estradiol em
ensaio in vitro YES (Chen et al., 2007) e em mistura de substncias contendo
17-estradiol, 17-etinilestradiol, nonilfenol, octilfenol e bisfenol A em ensaio in
vivo de induo de vitelogenina em peixes machos (Brian et al., 2005).
J os efeitos sinrgicos so relatados, em teste YES, na combinao
das substncias 17-estradiol, 17-etinilestradiol, nonilfenol e bisfenol A (Chen
et al., 2007)
Quadro 9 Principais Efeitos do 17 -etinilestradiol em diferentes espcies animais
Ao Espcie Fonte
Estimulao de
Vitelogenina
Peixes de gua salgada
e gua doce (Danio rerio,
Pimephales promelas,
Cyprinodon varlegatus)
Schmid et al.,
2002,Rose et al., 2002
Folmar et al., 2002
Aumento da Mortalidade
da espcie
Peixe de gua Doce
(Pimephales promelas)
Schmid et al., 2002
Diminuio da
reproduo
Peixe de gua Doce
(Pomatoschistus
Robinson et al., 2002
-
32
minutus)
Ao Espcie Fonte
Retardo do crescimento
e diminuio da
reproduo
Ratos Machos (Rattus
norvegicus)
Vosges et al., 2008
Alterao da proporo
entre sexos
Peixe de gua Doce
(Pimephales promelas)
Parrot e Blunt, 2005
Infertilidade e Reduo
da Fecundidade
Peixe de gua doce
(Danio rerio)
Nash et al., 2004
Fonte: Adaptado de Bila, 2005
Ao se observar as concentraes da substncia relatadas na literatura,
como as mostradas nos quadros 5 e 6 e nos achados de Purdom et al., 1994,
possivel levantar fortes suspeitas de que o 17 -etinilestradiol possa
desenvolver efeitos reprodutivos adversos na biota (sobretudo em espcies de
peixes) presentes nessas matrizes aquticas .
Em relao ao estabelecimento de concentraes de exposio segura
dessa substncia, ainda no h um consenso.
A Agncia Ambiental da Inglaterra e Gales, em uma reviso bibliogrfica
sobre os estrognios naturais e o 17 -etinilestradiol, concluiu que a
concentrao prevista em que no se observariam efeitos (PNEC) desse
estrognio na biota marinha e de gua doce seria 0,1 g.L-1 (Young et al.,
2004).
H estudos recentes nessa rea, sendo possvel destacar o de Caldwell
et al., 2008, ao qual, a partir de reviso de dados de concentrao em que no
se observa efeitos reprodutivos de 26 espcies em 39 publicaes, concluiu
que a PNEC para esse estrognio sinttico seria de 0,35 g.L-1.
-
33
Em relao aos desfechos associados a exposio humana 17 -
etinilestradiol por fontes ambientais, estes ainda no esto totalmente
elucidados. As principais suspeitas so: infertilidade masculina (Vosges et al.,
2008) e distrbios de crescimento em crianas (Andersson et al., 1999).
Os Grupos mais suscetveis a exposio seriam os pr-adolescentes
masculinos (cuja produo endgena de estrognios situada em 0,5 g.kg-
1.dia-1 , segundo Vosges et al., 2008) e as mulheres ps menopausa
(Andersson et al., 1999, Klein et al., 1996 e Vosges et al., 2008).
Estudos de avaliao de risco a sade humana para 17 -etinilestradiol
de fontes ambientais, concluem que as concentraes seriam insuficientes
para produzir danos sade humana (Cao et al., 2010 ; Webb et al., 2003 ;
Caldwell et al., 2009 ).
No entanto, questionvel o efeito aditivo dessa substncia com outras
substncias estrognicas no ambiente e a contribuio dessas em uma
exposio crnica e precoce (Vosges et al., 2008).
possvel questionar tambm o contexto das reas estudadas, uma vez
que esses estudos relatam condies de pases desenvolvidos, ao qual grande
parte dos domiclios possui esgotamento sanitrio adequado, diferindo da
inexistncia ou precariedade das condies de saneamento presentes e
possvel contaminao das guas superficiais usadas para abastacimento
pblico de agua em diversas cidades de pases subdesenvolvidos ou em
desenvolvimento
-
34
5 - CONCLUSO
Frente ao panorama abordado ao longo deste trabalho, foram
observados os riscos envolvidos na exposio ambiental ao interferente
endcrino estrognico 17 -Etinilestradiol.
Foi possvel notar que os efeitos das exposies ambientais ao 17 -
etinilestradiol esto relacionados hermafroditizao de espcies macho,
diminuio da fecundidade e fertilidade e ao aparecimento de tumores ou
doenas em tecidos reprodutivos (Bila, 2005).
Alm disto, tambm foi explicitado que a associao entre a exposio
ambiental ao 17 -Etinilestradiol e seus efeitos decorrentes apresentada com
mais dados e evidncias para os efeitos nos ecossistemas que nos efeitos a
sade humana, embora hajam questionamentos a respeito da contribuio
desse potente estrgeno artificial em conjunto com outras substncias
estrognicas presentes na vida moderna, em um cenrio de exposio crnica
e em doses dirias baixas (Vosges et al., 2008).
Diferentes metodologias analticas foram desenvolvidas para avaliar a
atividade estrognica (ensaios in vitro, como o ensaio YES e E-screen, e
ensaios in vivo, como os ensaios de mensurao da vitelogenina em peixes) e
para mensurar as concentraes especficas (principalmente por metodologias
cromatogrficas e por ELISA monoclonal) do 17 -Etinilestradiol em diferentes
matrizes ambientais, sobretudo aquticas, sendo detectadas em concentraes
na faixa de ng.lP-1P .
Desta forma, entre as solues possveis para este problema, possvel
destacar:
a) Elaborao de uma Campanha de comunicao dos riscos sobre a
exposio a substncias interferentes endcrinas populao, envolvendo a
imprensa, as diferentes esferas de governo e movimentos sociais/ambientais,
estimulando tambm o consumo racional dos medicamentos (incluindo
-
35
medicamentos anticoncepcionais orais) pela populao e a prescrio
adequada do profissional mdico.
b) Fiscalizao, por parte de organismos de vigilncia ambiental e sanitria, da
disposio segura dos medicamentos, seguindo as legislaes vigentes
c) Atuao governamental, com plano de metas e prazos definidos, exigindo
das empresas pblicas ou privadas de gua e saneamento, a expanso da
rede da cobertura do tratamento de esgoto e produo/distribuio de gua de
consumo humano nas cidades, e apoio tcnico a instalaes sanitrias
adequadas nas reas rurais.
e) Incentivo governamental e privado pesquisa de novos tratamentos e
otimizao dos sistemas atuais de tratamento de guas e efluentes sanitrios
f) Estmulo reutilizao da gua (gua de reuso).
g) Reviso Peridica da Portaria do Ministrio da Sade 2914/2011, norma que
dispe sobre os procedimentos de controle e de vigilncia da qualidade da
gua para consumo humano e seu padro de potabilidade, e da Resoluo
CONAMA 430/2011, que Dispe sobre as condies e padres de lanamento
de efluentes em corpos hdricos receptores, visando incluir concentraes
mximas permitidas na gua potvel e nos efluentes tratados para substncias
estrognicas que j tenham seus valores de referncia para exposio segura
documentados na literatura cientifica
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36
6 - REFERENCIAS BIBLIOGRFICAS
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