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Exegese de Romanos 9: 19-21 Introdução Bíblica 2016
ηιμὴν ζκεῦος, ὃ δὲ εἰς ἀηιμίαν
Seminário Teológico Mizpá Curso de Introdução Bíblia Professor José Martins Júnior Primeiro Semestre 2016
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VASOS DE HONRA E VASOS DE DESONRA
ROMANOS 9: 19-21
Exegese de Romanos 9: 19-21 Introdução Bíblica 2016
ηιμὴν ζκεῦος, ὃ δὲ εἰς ἀηιμίαν
Seminário Teológico Mizpá Curso de Introdução Bíblia Professor José Martins Júnior Primeiro Semestre 2016
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ABREVIATURAS
Versões da Bíblia
ARC Almeida Revista e Corrigida
A21 Almeida 21
ACRF Almeida Corrigida e Revisada Fiel
ARA Almeida Revista e Atualizada
ARIB Almeida Revisada Imprensa Bíblica
AS American Standard
BJ Bíblia de Jerusalém
BS Bíblia Shedd
EC Edição Contemporânea
JFA Versão de João Ferreira de Almeida
KJV Versão King James
NTLH Nova Tradução na Linguagem de Hoje
NVI Nova Versão Internacional
SBB Sociedade Bíblica Britânica
TEB Tradução Ecumênica da Bíblia
TNMES Tradução Novo Mundo das Escrituras Sagradas
VC Versão Católica
ABREVIATURAS DOS LIVROS DA BÍBIA
Gn Gênesis
Ex Êxodo
Lv Levítico
Nm Números
Dt Deuteronômio
Js Josué
Jz Juízes
Rt Rute
1 Sm Primeiro livro de Samuel
Exegese de Romanos 9: 19-21 Introdução Bíblica 2016
ηιμὴν ζκεῦος, ὃ δὲ εἰς ἀηιμίαν
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2 Sm Segundo livro de Samuel
1 Rs Primeiro livro dos Reis
2 Rs Segundo Livro dos Reis
1 Cr Primeiro livro das Crônicas
2 Cr Segundo livro das Crônicas
Ed Esdras
Ne Neemias
Et Ester
Jó Jó
Sl Salmos
Pv Provérbios
Ec Eclesiastes
Ct Cantares ou Cânticos dos Cânticos
Is Isaías
Jr Jeremias
Lm Lamentações de Jeremias
Ez Ezequiel
Dn Daniel
Os Oséias
Jl Joel
Am Amós
Ob Obadias
Jn Jonas
Mq Miquéias
Na Naum
Hc Habacuque
Sf Sofonias
Ag Ageu
Zc Zacarias
Ml Malaquias
Mt Mateus
Mc Marcos
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ηιμὴν ζκεῦος, ὃ δὲ εἰς ἀηιμίαν
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Lc Lucas
Jo João
At Atos dos Apóstolos
Rm Romanos
1 Co Primeira Carta de Paulo aos Coríntios
2 Co Segunda Carta de Paulo aos Coríntios
Gl Gálatas
Ef Efésios
Fp Filipenses
Cl Colossenses
1Ts Primeira Carta de Paulo aos Tessalonicenses
2Ts Segunda Carta de Paulo aos Tessalonicenses
1Tm Primeira Carta de Paulo a Timóteo
2 Tm Segunda Carta de Paulo Timóteo
Tt Tito
Fm Filemom
Hb Hebreus
Tg Tiago
1 Pe Primeira Carta de Pedro
2 Pe Segunda Carta de Pedro
1 Jo Primeira Carta de João
2 Jo Segunda Carta de João
3 Jo Terceira Carta de João
Jd Judas
Ap Apocalipse
Outras abreviaturas
AT Antigo Testamento
CACP Centro Apologético Cristão de Pesquisas
d.C. depois de Cristo
NT Novo Testamento
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ηιμὴν ζκεῦος, ὃ δὲ εἰς ἀηιμίαν
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RESUMO
O trabalho que segue é um trabalho de exegese, ou seja, o levantamento de informações que
nos ajudem a compreender o texto de Romanos 9: 19-21. Seguiremos o que o manual de
Exegese de Douglas Stuart e Gordon Fee nos aconselham, mas com acréscimos e decréscimos
a nosso critério. Não faremos ainda o trabalho final, que será uma monografia ou o esboço de
um sermão para que juntos, em sala de aula, possamos traçar um caminho para isto. Para
escrever o trabalho final é necessário amadurecer o processo de compreensão do texto.
O processo é complexo e extenso, agravado pela dificuldade teológica que o texto em
questão nos apresenta.
Entre os muitos desafios que temos, está o de sermos obrigados a tomar uma série de
decisões ao longo do processo, que vão da escolha de palavras para a tradução, à definição da
perícope do texto em foco, aos parágrafos que, em virtude das divergências nas versões que
apresentamos e adotamos em nosso trabalho, ou mesmo da leitura que faremos do contexto
imediato anterior e posterior. Dependendo do esboço geral de Romanos que adotarmos
durante o processo, a nossa interpretação pode variar muito em alguns pontos fundamentais.
Obviamente, questões de preferencia teológica (arminianismo e calvinismo,
excetuando as variações dentro destas vertentes que não são poucas), adotar-se-á
intepretações e divisões diferentes do texto.
O texto de Romanos é tão vastamente comentado, que figura entre os textos mais
importantes da humanidade. Sem dúvida é o texto mais importante do cristianismo. Deste
modo, também, não é difícil encontrar discussões acirradas e quase violentas em torno do
texto. Hoje, com o recurso da Internet, facilmente encontramos comentários de Romanos 9
em tom belicoso. Todos os principais teólogos da história comentaram o livro em toda a sua
extensão e exaustão. Material tão vasto pode confundir e fazer do trabalho algo improdutivo.
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EXEGESE DE ROMANOS 9: 21
¨O oleiro não tem direito de fazer do mesmo barro um vaso para fins nobres e outro para
uso desonroso?¨ - NVI
Ἢ οὐκ ἔσει ἐξοςζίαν ὁ κεπαμεὺρ ηοῦ πηλοῦ, ἐκ ηοῦ αὐηοῦ θςπάμαηορ ποιῆζαι ὃ
μὲν εἰρ ηιμὴν ζκεῦορ, ὃ δὲ εἰρ ἀηιμίαν.
Versão do texto Bizantino
INTRODUÇÃO
Para termos em mãos um modelo de como fazer um trabalho de exegese, ainda que com
características para iniciantes, decidimos em sala de aula discutir o texto inquietante de
Romanos 9: 19-33, que nos sugere algo bem difícil de lidar: Deus escolhe arbitrariamente os
que irá salvar e usar para sua vontade e os que não salvará e, assim, não salvará também
conforme sua vontade? Existe algum papel para o ser humano na decisão de se salvar ou se
perder? Se considerarmos apenas a Soberania e vontade de Deus, não estaríamos fazendo
afirmações que nos tornariam seres robotizados e verdadeiros bibelôs nas mãos de um Deus
injusto que, por sua vez, pouco se importa com nossas capacidades e poder de decisão? Ou o
texto está tratando de algo totalmente diferente usando, apenas metaforicamente, os termos
vaso e oleiro que estão associados a expressões como vasos de honra e vasos de desonra?
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Quem está certo: o calvinista1 ou arminiano
2? Esbarramos, sem dúvida alguma, em questões
da natureza do debate do calvinismo e do arminianismo necessariamente.
Podemos ainda pensar em termos dos pontos de vista particulares que pretendemos
defender, se é que temos no próprio texto um debate paulino de ideias com os romanos3.
Queremos defender a Soberania de Deus ou a Liberdade Humana? A teologia tradicional,
conservadora e fundamentalista, falam de Soberania de Deus. O Calvinismo se coloca como
defensor desta ideia em sua inteireza, e chega a afirmar, em alguma de suas correntes, a dupla
predestinação, ou seja, que Deus por ser Soberano, escolhe quem se salvará e quem será
aquele que se perderá. Para estes, o peso da liberdade humana é nenhum, o que pode justificar
traduções do termo que até aqui tomamos como vaso, por palavras objeto, como faz Calvino,
por exemplo. Em que aspecto Deus é glorificado se toda a decisão lhe cabe e o Ser humano
não o pode amar por decisão própria? Como podem fazer sentido os mandamentos, as leis, as
1 O Calvinismo (também chamado de Tradição Reformada, Fé Reformada ou Teologia Reformada) é tanto um
movimento religioso protestante quanto um sistema teológico bíblico com raízes na Reforma iniciada por João
Calvino em Genebra no século XVI. A tradição Reformada foi desenvolvida, ainda, por diversos outros teólogos
como Martin Bucer, Heinrich Bullinger, Pietro Martire Vermigli e Ulrico Zuínglio. Apesar disso, a fé Reformada
costuma levar o nome de Calvino, por ter sido ele seu grande expoente. Atualmente, o termo também se refere às
doutrinas e práticas das Igrejas Reformadas[1]
. O sistema costuma ser sumarizado através dos cinco pontos do
calvinismo: depravação total, eleição incondicional, expiação limitada, graça irresistível e a perseverança dos
santos.
2 O arminianismo é uma escola de pensamento soteriológica (doutrina da salvação), baseada sobre ideias do
holandes Jacobus Arminius (1560 - 1609) e seus seguidores históricos, os remonstrantes. Seus cinco pontos são:
VONTADE LIVRE : O primeiro ponto do arminianismo sustenta que o homem é dotado de vontade livre. Os
reformadores reconhecem que o homem foi dotado de vontade livre, mas concordam com a tese de Lutero —
defendida em sua obra ―A Escravidão da Vontade‖ —, de que o homem não está livre da escravidão a Satanás.
Arminius acreditava que a queda do homem não foi total, e sustentou que, no homem, restou bem
suficientemente capaz de habilitá-lo a querer aceitar Cristo como Salvador. ELEIÇÃO CONDICIONAL:
Arminius ensinava também que a eleição estava baseada no pré-conhecimento de Deus em relação àquele que
deve crer. Em outras palavras, o ato de fé, por parte do homem, é a condição para ele ser eleito para a vida
eterna, uma vez que Deus previu que ele exerceria livremente sua vontade, num ato de volição positiva para com
Cristo. EXPIAÇÃO UNIVERSAL: Conquanto a convicção posterior de Arminius fosse a de que Deus ama a
todos, de que Cristo morreu por todos e de que o Pai não quer que ninguém se perca, ele e seus seguidores
sustentam que a redenção (usada casualmente como sinônimo de expiação) é geral. Em outras palavras: A morte
de Cristo oferece a Deus base para salvar a todos os homens. Contudo, cada homem deve exercer sua livre
vontade para aceitar a Cristo. A GRAÇA PODE SER IMPEDIDA: O arminiano, em seguida, crê que uma vez
que Deus quer que todos os homens sejam salvos, ele envia seu Santo Espírito para atrair todos os homens a
Cristo. Contudo, desde que o homem goza de vontade livre absoluta, ele pode resistir à vontade de Deus em
relação a sua própria vida. (A ordem arminiana sustenta que, primeiro, o homem exerce sua própria vontade e só
depois nasce de novo.) Ainda que o arminiano creia que Deus é onipotente, insiste em que a vontade de Deus,
em salvar a todos os homens, pode ser frustrada pela finita vontade do homem como indivíduo. O HOMEM
PODE CAIR DA GRAÇA: O quinto ponto do arminianismo é a consequência lógica das precedentes posições
de seu sistema. O homem não pode continuar na salvação, a menos que continue a querer ser salvo.
3 Defendemos que, na verdade, o tom do contexto é retórico, não cabendo debate. A verdade está simplesmente
posta.
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ordenanças se não são para serem compreendidos e obedecidos por seres livres e inteligentes?
Em que sentido se pode exigir fé do ser humano para que seja salvo sem que isto não seja um
atributo humano, colocando assim, o ser humano com alguém papel de participação em sua
própria salvação? O texto de Romanos 9 fala de salvação ou o assunto é outro?
Poderíamos falar em Liberdade de Deus? Ou seja, não apenas em Soberania Divina,
no sentido de que Ele pode, com seu poder infinito, decidir o que quer, mas tendo o homem
total impotência diante de Sua Poderosa Vontade? Quando lemos o texto quem queremos
defender: a soberania ou o amor de Deus, isto diante da fragilidade?
Como compreender a tensão entre a autoridade e o trabalho do apóstolo, que é judeu
segundo a seita mais severa, mas operando quase exclusivamente como pregador aos gentios?
Ou queremos defender a coerência textual, gramatical e lógica que, aparentemente parece
fugir ao texto?
Podemos falar a partir deste texto em eleição corporativa, ou seja, que Deus salva
grupos, no caso os gentios e judeus, ou apenas individualmente? Há algum peso das teses do
infralapsarianismo4 ou supralapsarianismo
5, ou seja, quando se dá o decreto da salvação, se
antes ou depois da queda? São muitas as questões que o texto levanta. A Teologia tem tentado
há muito tempo explicar todas estas questões, aparentes distorções e incoerências e
contradições. Não é a toa que Romanos é capaz de despertar toda sorte de sentimentos. O
próprio Apóstolo mostra seus sentimentos no texto. E se mostra exaltado frente à dureza dos
judeus e o seu desejo de que se salvem, dando a própria vida se fora possível.
A Epístola aos Romanos nos faz entender afirmações como a que é atribuída ao Pai da
Igreja Tertuliano, que nos levam a questionar a capacidade da razão por si só para explicar a
fé: Creio porque é absurdo!6 Tertuliano é questionado por alguns como teólogo por não ter
4 Infralapsarianismo, posição na qual se afirma que os decretos de Deus da eleição e da reprovação logicamente
sucederam o decreto da queda. De acordo com este esquema, Deus primeiro viu seu povo como caído e então
determinou salvá-lo, escolhendo somente alguns para serem salvos.
5 Supralapsarianismo, segundo o qual os decretos de Deus da eleição e da reprovação precederam logicamente o
decreto da queda.
6 Esta afirmação é atribuída a diferentes teólogos do passado como Agostinho, por exemplo. No século XIX
temos esta frase atribuída e trabalhada por Sören Kiekegaard. Søren Aabye Kierkegaard (Copenhague, 5 de
maio de 1813 — Copenhague, 11 de novembro de 1855) foi um filósofo e teólogo dinamarquês. Kierkegaard
criticava fortemente quer o hegelianismo do seu tempo quer o que ele via como as formalidades vazias da Igreja
da Dinamarca. Grande parte da sua obra versa sobre as questões de como cada pessoa deve viver, focando sobre
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sistematizado muitas de suas ideias, mas esta frase nos dá, em certa medida, a compreensão
de mente. Tertuliano se opunha à razão como ferramenta para explicar a fé. Em algum
momento de nossa leitura de Romanos, a razão também parece ser ignorada como categoria
capaz de explicar a fé, fugindo à lógica. Nossa linguagem parece inadequada para explicar
Romanos 9.
Como este trabalho tem caráter duplamente didático, ou seja, em primeira instância
apresentar um caminho para interpretação de textos à luz de um trabalho exegético, e em
segundo lugar apontar as próprias intepretações do texto, vamos nos valer dos caminhos
apontados por estudiosos como Douglas Stuart e Gordon D. Fee em livros como Entendes o
que lês? e Manual de Exegese Bíblica, ambos publicados por Edições Vida Nova.
Caminharemos pela longa tradição de intepretação dos principais teólogos que
selecionaremos e que nos ajudarão também, surgindo no trabalho em diversos momentos
diferentes. Por fim, conforme compreendemos, devemos produzir um estudo ou sermão que
possa ser usado na igreja. Nossa opção poderá ser um sermão ou uma monografia.
A perícope do texto compreende os versos que vão de 19 a 33, como segue, mas nos
ateremos, pelo menos para efeitos de tradução e analise morfológica e sintática aos versos
mais vitais que é o verso 21. Veremos adiante uma longa discussão sobre os limites do texto e
esta divisão pode mudar um pouco. A tradução da NVI está como segue:
Mas algum de vocês me dirá: "Então, por que Deus ainda nos culpa? Pois, quem
resiste à sua vontade? " Mas quem é você, ó homem, para questionar a Deus?
"Acaso aquilo que é formado pode dizer ao que o formou: ‗Por que me fizeste
assim? ’ O oleiro não tem direito de fazer do mesmo barro um vaso para fins
nobres e outro para uso desonroso? E se Deus, querendo mostrar a sua ira e tornar
conhecido o seu poder, suportou com grande paciência os vasos de sua ira,
preparados para destruição? Que dizer, se ele fez isto para tornar conhecidas as
riquezas de sua glória aos vasos de sua misericórdia, que preparou de antemão para
a prioridade da realidade humana concreta em relação ao pensamento abstrato, dando ênfase à importância da
escolha e compromisso pessoal. A sua obra teológica incide sobre a ética cristã e as instituições da Igreja. A sua
obra na vertente psicológica explora as emoções e sentimentos dos indivíduos quando confrontados com as
escolhas que a vida oferece. Como parte do seu método filosófico, inspirado por Sócrates e pelos diálogos
socráticos, a obra inicial de Kierkegaard foi escrita com vários pseudônimos que apresentam cada um deles os
seus pontos de vista distintivos e que interagem uns com os outros em complexos diálogos. Ele atribui
pseudónimos para explorar pontos de vista particulares em profundidade, que em alguns casos chegam a ocupar
vários livros, e Kierkegaard, ou outro pseudónimo, critica essas posições. A tarefa da descoberta do significado
das suas obras é, pois, deixada ao leitor, porque "a tarefa deve ser tornada difícil, visto que apenas a dificuldade
inspira os nobres de espírito" Subsequentemente, os académicos têm interpretado Kierkegaard de maneiras
variadas, entre outras como existencialista, neo-ortodoxo,pós-modernista, humanista e individualista. Cruzando
as fronteiras da filosofia, teologia, psicologia e literatura, tornou-se uma figura de grande influência para o
pensamento contemporâneo. Está sepultado no Cemitério Assistens.
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glória, ou seja, a nós, a quem também chamou, não apenas dentre os judeus, mas
também dentre os gentios? Como ele diz em Oséias: "Chamarei ‗meu povo‘ a quem
não é meu povo; e chamarei ‗minha amada‘ a quem não é minha amada", e
acontecerá que, no mesmo lugar em que se lhes declarou: ‗Vocês não são meu
povo‘, eles serão chamados ‗filhos do Deus vivo." Isaías exclama com relação a
Israel: "Embora o número dos israelitas seja como a areia do mar, apenas o
remanescente será salvo. Pois o Senhor executará na terra a sua sentença, rápida e
definitivamente". Como anteriormente disse Isaías: "Se o Senhor dos Exércitos não
nos tivesse deixado descendentes, já estaríamos como Sodoma, e semelhantes a
Gomorra". Que diremos, então? Os gentios, que não buscavam justiça, a obtiveram,
uma justiça que vem da fé; mas Israel, que buscava uma lei que trouxesse justiça,
não a alcançou. Por que não? Porque não a buscava pela fé, mas como se fosse por
obras. Eles tropeçaram na "pedra de tropeço". Como está escrito: "Eis que ponho em
Sião uma pedra de tropeço e uma rocha que faz cair; e aquele que nela confia jamais
será envergonhado". Romanos 9:19-33
O verso 21 é o verso central e crítico solicitado em sala de aula, mas discutiremos a
questão da definição da perícope logo à frente. Seguiremos, como já dito, o esquema de
exegese do Manual e exegese de Douglas Stuart e Gordon Fee, mas faremos acréscimos
conforme nossa necessidade e entendimento, seguindo assim:
1. O CONTEXTO HISTÓRICO DE ROMANOS;
2. OS LIMITES DA PASSAGEM: DELIMITANDO A PERÍCOPE;
3. O PARÁGRAFO E A PERÍCOPE EXPLICADAS;
4. A ESTRUTURA DAS FRASES E A AS RELAÇÕES DE SINTAXE
5. ESTABELECENDO O TEXTO COMPLETO;
6. QUESTÕES GRAMATICAIS;
7. PALAVRAS SIGNIFICATIVAS;
8. PANO DE FUNDO HISTÓRICO CULTURAL;
9. CARACTERÍSTICAS FORMAIS DA EPÍSTOLA;
10. O CONTEXTO HISTÓRICO PARTICULAR;
11. O CONTEXTO LITERÁRIO;
12. CONTEXTO BÍBLICO E TEOLÓGICO MAIS AMPLO;
13. LITERATURA SECUNDÁRIA;
14. TRADUÇÕES FINAIS E COMENTÁRIOS.
15. SERMÃO OU MONOGRAFIA.
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1. O CONTEXTO HISTÓRICO DE ROMANOS
Romanos é talvez o livro mais importante da Bíblia. Historicamente, todos os grandes
teólogos, desde os Pais da Igreja, comentaram a carta de Paulo aos Romanos, ou usaram esta
carta de referencia para sua Teologia e suas vidas. A Reforma Protestante deve a Romanos
sua estrutura e sua força, principalmente, no que diz respeito ao conceito da salvação pela
graça e da justificação do pecador por meio da fé. Reformadores como Lutero, rejeitaram
cartas como Tiago, porque, em sua concepção eram contrárias aos ensinos descritivos e
normativos de Romanos. Calvino, por exemplo, não escreveu comentários sobre livros como
Apocalipse por motivos parecidos, mas dedicou atenção especial a Romanos.
A Epístola aos Romanos é a epístola que possui a maior quantidade de evidências
externas de sua autoria, ou seja, desde os Pais da igreja mais remotos, a autoria paulina é
aceita7. É uma carta escrita a gentios e Paulo se apresenta na carta como o apóstolo aos
gentios (Rom 11: 13; 15: 16) e, neste sentido, falando do ponto de vista de um judeu fariseu, a
seita mais severa entre os judeus, suas palavras tem conotações e contornos muito especiais.
A Epístola aos Romanos foi escrita por Paulo, provavelmente na cidade de Corinto,
Grécia, enquanto ele estava hospedado na casa de Gaio, sendo transcrita por um dos Setenta
Discípulos, chamado Tércio de Icônio. Há uma série de razões que convergem para a teoria
de que Paulo a escreveu em Corinto, uma vez que ele estava prestes a viajar para Jerusalém ao
escrevê-la, o que corresponde com Atos 20: 3, no qual é relatado que Paulo permaneceu
durante três meses na Grécia. Isso provavelmente implica Corinto, pois era o local de maior
sucesso missionário de Paulo, na Grécia. Adicionalmente Febe, uma diaconisa da igreja em
Cencréia, um porto a leste de Corinto, teria sido capaz de levar e transmitir a carta a Roma
depois de passar por Corinto. Erasto, mencionado em Romanos 16: 23, que viveu em Corinto,
foi comissário da cidade para obras públicas e tesoureiro da cidade, mais uma vez indicando
que a carta foi escrita em Corinto. O momento exato em que foi escrito não é mencionado na
carta, mas foi escrito quando a coleta de ofertas para Jerusalém tinha sido levantada e Paulo
7 Conforme Russel Shedd em https://www.youtube.com/watch?v=Cb9YVXTFM2g.
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estava prestes a ir a Jerusalém, ou seja, no final de sua segunda visita a Grécia, durante o
inverno que precedeu a sua última visita a essa cidade.
A maioria dos estudiosos propõe que a carta foi escrita no final de 55, 56 ou
57. Outros propõem o início de 58 ou 55, enquanto Luedemann defende uma data anterior,
como 51-52 (ou 54-55), na sequência de Knox, que propõe 53-54. O teólogo Fábbio Xavier,
em seu artigo Conhecendo os Romanos de Roma, deixa claro que a carta pode ter sido
redigida por volta de 55 e 56. Durante dez anos antes de escrever a carta (aproximadamente
entre os anos 47 a 57), Paulo tinha viajado ao redor do Mar Egeu evangelizando. Igrejas
foram implantadas nas províncias romanas da Galácia, Macedônia, Acaia e Ásia. Paulo,
considerando a sua tarefa concluída, queria pregar o evangelho na Espanha. Isso lhe permitiu
visitar Roma no caminho, uma ambição de longa data. A carta aos Romanos, em parte,
prepara a comunidade de Roma e dá motivos para sua visita. Além da localização geográfica
de Paulo, suas opiniões religiosas são importantes. Primeiramente, Paulo era um judeu
helenístico com um fundo farisaico. Na verdade podemos falar de Paulo como um homem de
três mundos: judaico, grego e cristão. Sua preocupação com o seu povo (judeu) é uma parte
importante do diálogo e é retratada ao longo da carta. De fato, Paulo parece mostrar aos
Romanos como eles chegaram à salvação, seja pela eleição de Deus pela fé, seja pelo
endurecimento de Israel, seja como o plano de Deus.
A Roma do primeiro século vivia uma situação política bastante triste. Tibério (14-37
d.C.) era um imperador de dupla personalidade. A maioria dos historiadores tecem elogios à
sua administração, esquecendo a sua violenta tirania e despotismo, em razão do Estado. Mas
os cristãos (confundidos com os judeus) não tinham do que se queixar. A Tibério sucedeu
Calígula (37-41 d.C), tão cínico que, para insultar o Senado, deu as honras de Cônsul ao seu
cavalo! Na "História dos Césares" é apelidado de ―animal ferox‖, tamanha era a sua
crueldade. Por fim, foi assassinado por Cláudio, o capitão de sua guarda pessoal. E foi uma
festa pelo império afora. Sucedeu-lhe Cláudio (41-54 d.C.), um homem irresoluto e tímido, e
tão covarde que consentia que Calígula o esbofeteasse e o chicoteasse em público. Uma vez
imperador, mandou matar todos seus amigos, a um ponto que Agripina mandou envenená-lo.
Então, Nero subiu ao trono (54-68 d.C.): a pior desgraça da Roma antiga segundo muitos,
senão no conceito de todos. Ele mandou matar a própria mãe, Agripina, assim como seu
mestre Sêneca e dezenas de outros amigos, isso já no começo de seu império. Então se casou
com um homem, praticando relações sexuais à luz do dia, na presença de sua corte. As demais
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loucuras, atrocidades e crimes de Nero, todos conhecem. Mas não podemos esquecer a noite
de 19 de julho do ano de 64, quando ele mandou incendiar Roma e, depois, colocou a culpa
nos cristãos. Logo cerca de 200 cristãos, vestidos com túnicas impregnadas de pez negro,
queimavam como tochas vivas para espetáculo público. Foi a primeira e mais terrível
perseguição contra os cristãos. Em Roma nesta ocasião já havia uma pequena comunidade,
embora não se tenha registros históricos de seus fundadores. Finalmente, o povo se revoltou:
invadiu o palácio e acabou com Nero. Sucedeu-lhe, primeiro, Galba, e, depois, Otão e Vitélio,
tolos ineptos e corruptos, particularmente este último, que era também sádico e sanguinário.
Então Vespasiano tornou-se imperador (69-79 d.C.). Era bondoso e condenava as crueldades
de seus antecessores. Sucedeu-lhe Tito (79-81 d.C.), que o povo apelidou de "delícias do
gênero humano". Quando morreu, o povo dizia: "Um imperador como este, ou nunca devia ter
nascido ou devia viver para sempre". Sucedeu-lhe Domiciano (81-96 d.C.), homem
orgulhoso, fútil, avarento e cruel. Desencadeou a segunda perseguição contra os cristãos. O
prazer de Domiciano era matar pessoas e dá-las aos cães para comer. Outra diversão desse
monstro era mandar queimar os órgãos sexuais de amigos. Foi assassinado. Sucedeu-lhe
Nerva (96-98). O historiador Apolônio, que viveu nessa época, diz que Nerva era benévolo,
generoso e modesto. Todos os historiadores romanos louvam e admiram Nerva, com o qual
começa a dinastia antonina. Nesses altos e baixos políticos a vida dos cristãos em Roma
certamente sofria, mas não tanto para ficarem dispersos. Muito pelo contrário, era uma
comunidade pequena, mas muito unida. Embora o período que foi do ano 70 ao ano 110 seja
completamente obscuro quanto à história, podemos ter alguma notícia por meio de Irineu e de
Inácio. São notícias misturadas à ideologia do poder eclesiástico do qual os dois estavam
imbuídos. Mas quem nos fornece as melhores notícias é a Arqueologia Paleo-cristã.
A importantíssima obra de Giovanni Battista De Rossi, arqueólogo e epigrafista
italiano (1822-1894) "Roma Sotterranea" (Roma Subterrânea), escrita entre os anos de 1864 e
1877, mostra o levantamento topográfico das catacumbas de Roma; foi o criador da Epigrafia
Cristã; organizou o Museu Cristão do Latrão e redigiu, a partir de 1863, o Boletim de
Arqueologia Cristã, com a assistência da Comissão Vaticana de Arqueologia Sagrada. Os
túmulos que ele descobriu e os sarcófagos que ele descreveu nos apresentam os mais antigos
símbolos, pinturas e objetos deste primeiro século de vida cristã. Encontramos lá o Alfa e o
Ômega (Deus, princípio e fim); muitas âncoras (a cruz da salvação); muitas palmas (a vitória
sobre o paganismo); o cordeiro (o fiel do Cristo); o peixe, cujo acróstico, em grego, significa:
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"Jesus-Cristo-Filho-de-Deus-Salvador"; o pastor (o bom pastor da parábola); o pescador
(Jesus em busca dos homens); o orante (a Igreja em oração); e muitas outras imagens. Às
vezes, a tampa do sarcófago tem cenas tiradas da mitologia e passíveis de uma interpretação
espiritual: Orfeu enfeitiçando os animais (Cristo fascinando os alunos); Eros abraçando
Psique (o amor celeste envolvendo o amor humano); Ulisses amarrado ao mastro para resistir
ao canto das sereias (o cristão desdenhando o mundo profano). Além dos sarcófagos,
encontramos as pinturas rudimentares, sobretudo nos muros e nas abóbadas dos cubículos e
das criptas. São pinturas de cores suaves, amarelo-rosado com toques de verde-claro e
sombras castanho-vermelhas, retratando cenas bíblicas ou evangélicas: Moisés batendo no
rochedo; Daniel no fosso dos leões; Noé na sua arca; Abraão sacrificando Isaac; Lázaro
ressuscitado; o paralítico sarado; Jesus disfarçado como pastor. Isso tudo mostra o profundo
respeito que os cristãos tinham pelos seus mortos: é a cristianização da antiga cultura do
mediterrâneo. A cultura romana reverenciava os túmulos, que, por lei, deviam ser preservados
de qualquer mutilação, a fim de que as almas não se tornassem "errantes", como escreveu
Plínio o Moço.
Os cristãos acrescentavam a essa cultura a ideia da ressurreição. É por essas pinturas,
que ainda hoje são visíveis nas catacumbas descobertas, que conhecemos o modo de orar dos
primeiros cristãos; as roupas que vestiam, de acordo com o sexo; como era o "repartir do
pão"; como era o batismo; o lugar daquele que presidia a comunidade e até alguns dos
trabalhos exercidos pelos cristãos, em vida. Da análise dessas esculturas e pinturas podemos
concluir que os cristãos romanos dos primeiros séculos viviam dentro da cultura material
romana. A única coisa que os distinguia dos romanos era a atitude perante o sexo e o
casamento. (Veja: C. Munier; "L‘Église dans 1'empire romain"; Paris; 1970; sobretudo o
resumo: pág. 7-16. Veja também em: "Ética sessuale e Matrimônio nel cristianesimo delle
origini"; Ed. Cantalamassa; Milano: 1976. O ensaio de P.F. Beatrice: "Continenza e
matrimônio nel cristianismo primitivo"; 3). Se, para os pagãos de Roma, o corpo era o
instrumento do prazer; se, para os judeus, o corpo era o instrumento da continuidade da raça e
a disposição para receber o Messias vindouro; para os cristãos o corpo era o instrumento para
servir a comunidade e para dar guarida ao Espírito de Jesus. Explica-se assim porque não são
benquistas as segundas núpcias e, porque a comunidade se orientava para o celibato, que,
além do mais, se tornava uma bandeira que os distinguia dos pagãos e dos judeus - talvez
tenha influído nisto a expectativa da iminente vinda de Jesus "nas nuvens". Mas o celibato era
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adotado somente em idade madura, justamente pelos presbíteros (palavra grega que significa
"anciãos"). Na chefia da vida cristã, encontramos aquele que ocupa o primeiro lugar: o bispo
– palavra grega que significa vigilante. Quem eram os bispos de Roma nos primeiros dois
séculos? Existem catálogos completos e pormenorizados, mas não esqueçamos que a série de
biografias dos papas é do "Liber Pontificalis" (o livro dos pontífices), cuja primeira parte, que
vai até Felix IV, em 530, tem quase nenhum valor histórico: é o que pensa monsenhor Luís
M.O. Duchesne, historiador eclesiástico católico (1843-1922) e professor do Instituto
Católico de Paris, que aplicou princípios históricos e críticos em suas pesquisas sobre os
primeiros papas, pesquisa que reuniu no livro "Le Liber Pontificalis" (1886-1892). De todos
esses bispos romanos, o mais importante é Clemente romano (97-101) que, na sua carta aos
Coríntios, lança a ideia da necessidade de organizar os cristãos, a exemplo do exército
romano, com um chefe supremo (o bispo de Roma) e chefes subalternos (os demais bispos) e,
finalmente, a tropa bem organizada e obediente. Essas ideias amadurecerão e, em 325, no
Concilio de Nicéia, encontramos, como coisa normal, os bispos ao lado do imperador
Constantino, colocando as bases da ideologia do poder eclesiástico. Obviamente as ideias aqui
presentes excedem o tempo da carta, mas revelam a cultura da época e os desdobramentos
desta cultura no cristianismo primitivo. Além do mais, quando entrarmos em detalhes de
exegese e análise do texto escolhido, entraremos em mais detalhes históricos partindo da
análise de palavras e do contexto teológico da carta8.
Um breve esboço preliminar da Epístola aos Romanos seria:
Romanos 1: 1-15 Compartilhando o Evangelho
Romanos 1: 16-32 A Necessidade Universal
Romanos 2: 1-16 O Justo Juízo de Deus
Romanos 2: 17-29 A Culpa dos Judeus
Romanos 3: 1-18 Os Judeus Têm Vantagem?
Romanos 3: 19-31 Justo e Justificador
Romanos 4: 1-25 A Justificação de Abraão
Romanos 5 :1-21 Jesus Vive para Salvar
Romanos 6: 1-23 Ressuscitados com Cristo
8 Será interessante analisar o que é um vaso para aquela cultura e seus diversos usos. Como veremos será
necessária esta analise porque o texto pode estar tratando do vaso do ponto de vista ontológico, ou seja, se
alguém é vaso para honra ou desonra, ou se é apenas uma questão de utilidade. Mais detalhes à frente.
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Romanos 7: 1-11 Libertados da Lei
Romanos 7: 12-25 O Homem Desventurado
Romanos 8: 1-17 O Espírito X A Carne
Romanos 8: 18-25 Sofrimento e Esperança
Romanos 8: 26–39 Mais Que Vencedores!
Romanos 9: 1-18 Deus: Fiel e Justo
Romanos 9: 19-33 Os Vasos de Misericórdia
Romanos 10: 1-21 Um Povo Rebelde
Romanos 11: 1-16 A Rejeição de Israel
Romanos 11: 17-36 Quebrados e Enxertados
Romanos 12: 1-21 Sacrifícios Agradáveis
Romanos 13: 1-14 A Dívida do Amor
Romanos 14: 1-23 Respeito entre Irmãos
Romanos 15: 1-21 A Prática do Amor
Romanos 15: 22 - 16: 27 Cooperando em Cristo
Este esboço preliminar sofrerá alterações dentro do nosso propósito9.
A Bíblia de Paulo era a tradução grega do Antigo Testamento, a Septuaginta. Não
obstante, nem todas as citações da Escrituras em Paulo podem ser derivadas da LXX
transmitida; especialmente nas citações de Jó e Isaías precisa-se contar com uma recensão do
texto da LXX que tinha certa proximidade ao texto hebraico27. Nas cartas paulinas
indiscutivelmente autenticas encontram-se 89 citações do Antigo Testamento28. A maioria
das citações que provêm de um número reduzido de escritos; no centro estão claramente
Isaías, os Salmos e textos do Pentateuco, enquanto Jeremias, Ezequiel e Daniel, por exemplo,
ficaram inteiramente desconsiderados. Também na aplicação concreta das citações mostra-se
outro processo de redução e falta10
.
9 Acompanhamos de perto o crescente interesse da leitura cada vez mais integral e integrada do texto bíblico.
Além da crescente afirmação do texto como uma Grande Narrativa.
10
Conforme Udo Schnelle pág 126.
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2. OS LIMITES DA PASSAGEM: DELIMITANDO A PERÍCOPE
A carta aos Romanos possui dezesseis capítulos. Existe uma ordenação de assuntos. É certo
que, cada vez mais, devemos ler e interpretar o texto integralmente, ou seja, uma exegese
deveria, de fato, levar em consideração a carta como um todo, senão toda a Bíblia. O que
faremos é analisar uma porção pequena da carta, ou seja, um versículo à luz de seu contexto
imediato, mas a análise, mesmo que superficial do texto, nos ajuda a entender o todo. Faremos
um caminho mais aberto e vamos afunilando pouco a pouco até chegarmos em nosso texto
áureo que é Romanos 9: 21.
A Epístola aos Romanos possui assim, as seguintes grandes divisões (agora um esboço
com mais detalhes11
):
1. INTRODUÇÃO E TEMA 1.1-17
1.1. Saudação 1.1-7
1.2. Ação de Graças 1.8-15
1.3. Tema: Justificação pela fé 1.16-17
2. NECESSIDADE DO EVANGELHO 1.18-3.20
2.1. A condenação dos gentios 1.18-32
2.2. A condenação dos judeus 2.1-3.8
2.3. A condenação de todos os homens 3.9-20
3. BREVE DECLARAÇÃO DO PLANO DE SALVAÇÃO
JUSTIFICAÇÃO PELA FÉ
3.21-31
4. ABRAÃO: UMA CONFIRMAÇÃO DA JUSTIFICAÇÃO 4.1-25
5. OS RESULTADOS DA JUSTIFICAÇÃO 5.1-21
6. RÉPLICA A PRIMEIRA OBJEÇÃO À JUSTIFICAÇÃO
PROMOVE O PECADO
6.1-8.39
11
Segundo a Bíblia Shedd.
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6.1. A justificação produz a santificação 6.1-23
6.2. Lei e Graça 7.1-25
6.3. Certeza de Salvação 8.1-39
7. RÉPLICA A SEGUNDA OBJEÇÃO
ANULA AS PROMESSAS DE DEUS
9.1-11.36
7.1. A Soberana escolha de Deus 9.1-33
7.2. Zelo e desobediência dos judeus 10.1-21
7.3. O futuro de Israel 11.1-36
8. EXORTAÇÕES PRÁTICAS 12.1-16.27
8.1. O serviço na igreja e outros deveres 12.1-21
8.2. Deveres políticos 13.1-14
8.3. A responsabilidade pessoal 14.1-23
8.4. Ambições missionárias de Paulo 15.1-33
8.5. Saudações pessoais 16.1-27
Outra opinião importante quanto a divisão de Romanos, focada no contexto do
capitulo 9, vemos que à partir do capítulo 3, quando Paulo apresenta o plano de Salvação,
logo após ele usa, no capítulo 4, o patriarca Abraão como exemplo de salvação por meio da
fé. De fato, Abraão é o único e definitivo paradigma bíblico paulino da salvação e da
justificação por meio da fé. No capítulo 5, Paulo fala de todas as bênçãos produzidas a partir
da justificação. O capítulo 6 mostra que o homem não pode ser salvo por meio da Lei. O
capítulo 7 mostra que o homem não pode ser salvo pelas próprias forças e entendimento. No
capítulo 8 mostra que a única maneira de ser salvo é pelo Espirito e que o Espirito é quem
capacita o homem a viver na Graça de Deus. O capítulo 9, então falaria da recusa de Deus aos
desobedientes e sua eleição soberana. O capítulo 9 é incluído em um bloco maior por muitos
que vai de 9: 1 a 11: 36. Após esta seção, Paulo se volta a questões de natureza mais práticas e
ministeriais. O Pr Caio Fábio D´araujo Filho, por exemplo, chega a afirmar que esta seção de
Romanos, ou seja, dos capítulos 9-11 poderiam ser excluídos da Bíblia porque tratam de um
devaneio de Paulo em virtude de seu afloramento emocional12
. Este argumento, no entanto, é
12
https://www.youtube.com/watch?v=0Y7rBLO9mDc
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o argumento próprio de posicionamentos mais liberais que simplesmente negam porções das
Escrituras que não fazem sentido em um primeiro momento, ou entram em provável tensão e
contradição com o restante do texto. Estamos longe desta acomodação.
O que é possível perceber claramente, é que Paulo se mostra dividido entre dois
sentimentos. O primeiro é de profunda tristeza pela situação de seu povo (9: 1-5) desejando
até ser condenado se com isto pudesse salvar seu povo. O segundo é o desejo de que todo o
seu povo fosse salvo (10: 1-2) o que lhe parece causar certo desespero ao mesmo tempo em
que julga que isto seja absolutamente justo da parte de Deus (10: 3). Logo, neste sentido, não
negamos o fator emocional humano no texto, mas sobressai, no nosso entendimento a
narrativa bíblica da tensão relação entre Israel e o próprio Deus.
O verso de nossa análise aparece no capítulo 9: 21, para o qual F.F. Bruce oferece a
seguinte divisão, que vai do capítulo 9 ao 11:
1. A INCREDULIDADE E A GRAÇA DIVINA 9.1 - 11:36
1.1. A dureza de Israel 9: 1-5
1.2. A escolha soberana de Deus 9: 6-29
1.3. A responsabilidade do homem 9: 30 – 10: 21
1.4. O propósito de Deus para Israel 11: 1-29
1.5. O propósito de Deus para a humanidade 11: 30-35
Deste modo, nosso verso se encontra entre a divisão que trata da ¨escolha soberana de
Deus¨ em 9: 6-29.
Nas versões bíblicas que apresentam o texto em parágrafos, temos esta seção de 9: 6-
29 com os seguintes parágrafos:
Não pensemos que a palavra de Deus falhou. Pois nem todos os descendentes de
Israel são Israel. Nem por serem descendentes de Abraão passaram todos a ser filhos
de Abraão. Pelo contrário: "Por meio de Isaque a sua descendência será
considerada". Noutras palavras, não são os filhos naturais que são filhos de Deus,
mas os filhos da promessa é que são considerados descendência de Abraão. Pois foi
assim que a promessa foi feita: "no tempo devido virei novamente, e Sara terá um
filho".
E esse não foi o único caso; também os filhos de Rebeca tiveram um mesmo
pai, nosso pai Isaque. Todavia, antes que os gêmeos nascessem ou fizessem
qualquer coisa boa ou má — a fim de que o propósito de Deus conforme a eleição
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permanecesse, não por obras, mas por aquele que chama — foi dito a ela: "O mais
velho servirá ao mais novo". Como está escrito: "Amei Jacó, mas rejeitei Esaú".
E então, que diremos? Acaso Deus é injusto? De maneira nenhuma! Pois ele diz
a Moisés:
Terei misericórdia de quem
eu quiser ter misericórdia
e terei compaixão de quem
eu quiser ter compaixão".
Portanto, isso não depende do desejo ou do esforço humano, mas da
misericórdia de Deus. Pois a Escritura diz ao faraó: "Eu o levantei exatamente com
este propósito: mostrar em você o meu poder, e para que o meu nome seja
proclamado em toda a terra". Portanto, Deus tem misericórdia de quem ele quer, e
endurece a quem ele quer.
Mas algum de vocês me dirá: "Então, por que Deus ainda nos culpa? Pois, quem
resiste à sua vontade?" Mas quem é você, ó homem, para questionar a Deus? Acaso
aquilo que é formado pode dizer ao que o formou: ‗Por que me fizeste assim? O
oleiro não tem direito de fazer do mesmo barro um vaso para fins nobres e outro
para uso desonroso?
E se Deus, querendo mostrar a sua ira e tornar conhecido o seu poder, suportou
com grande paciência os vasos de sua ira, preparados para destruição? Que dizer, se
ele fez isto para tornar conhecidas as riquezas de sua glória aos vasos de sua
misericórdia, que preparou de antemão para glória, ou seja, a nós, a quem também
chamou, não apenas dentre os judeus, mas também dentre os gentios? Como ele diz
em Oséias:
Chamarei ‘meu povo’
a quem não é meu povo;
e chamarei ‘minha amada’
a quem não é minha amada",
e:
Acontecerá que, no mesmo
lugar em que se lhes declarou:
‘Vocês não são meu povo’,
eles serão chamados
‘filhos do Deus vivo’.
Isaías exclama com relação a Israel:
"Embora o número
dos israelitas
seja como a areia do mar,
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apenas o remanescente
será salvo.
Pois o Senhor executará
na terra a sua sentença,
rápida e definitivamente".
Como anteriormente disse Isaías:
"Se o Senhor dos Exércitos
não nos tivesse deixado descendentes,
já estaríamos como Sodoma,
e semelhantes a Gomorra".
Ainda que tenhamos um verso em especial para analisar, sabemos que o mesmo se
encontra no escopo da Soberania de Deus, e logo após uma longa discussão sobre como Deus
recebe, apenas pela fé, os seres humanos e, qual é agora o papel de Israel. Lendo à luz de toda
a carta, podemos antecipar que Deus não rejeitou simplesmente e nem definitivamente Israel,
mas que a eleição em nada depende da vontade do homem, mas de Deus. Apenas Deus pode
salvar. No entanto, ainda temos muitos detalhes para ver na carta e no texto e não nos
adiantaremos aqui. O verso que estaremos analisando está no bloco do parágrafo de 9: 19-21.
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3. O PARÁGRAFO E A PERÍCOPE EXPLICADAS
Agora que definimos o parágrafo, vamos destacá-lo e chegarmos a algumas conclusões
preliminares:
Mas algum de vocês me dirá: "Então, por que Deus ainda nos culpa? Pois, quem
resiste à sua vontade?" Mas quem é você, ó homem, para questionar a Deus? Acaso
aquilo que é formado pode dizer ao que o formou: ‗Por que me fizeste assim? O
oleiro não tem direito de fazer do mesmo barro um vaso para fins nobres e outro
para uso desonroso?
Vejamos versões em grego com uma tradução provisória e versões em português.
3.1.Versões em grego de Romanos 9: 19-21
3.1.1. Majoritário Bizantino
(19) πεῖρ οὖν μοι, Tί ἔηι μέμθεηαι; Tῷ γὰπ βοςλήμαηι αὐηοῦ ηίρ ἀνθέζηηκεν (20) Μενοῦνγε,
ὦ ἄνθπυπε, ζὺ ηίρ εἴ ὁ ἀνηαποκπινόμενορ ηῷ θεῷ; Μὴ ἐπεῖ ηὸ πλάζμα ηῷ πλάζανηι, Tί με
ἐποίηζαρ οὕηυρ (21) Ἢ οὐκ ἔσει ἐξοςζίαν ὁ κεπαμεὺρ ηοῦ πηλοῦ, ἐκ ηοῦ αὐηοῦ θςπάμαηορ
ποιῆζαι ὃ μὲν εἰρ ηιμὴν ζκεῦορ, ὃ δὲ εἰρ ἀηιμίαν.
3.1.2. Textus Receptus
(19) πεῖρ οὖν μοι Τί ἔηι μέμθεηαι ηῷ γὰπ βοςλήμαηι αὐηοῦ ηίρ ἀνθέζηηκεν (20) μενοῦνγε ὦ
ἄνθπυπε ζὺ ηίρ εἶ ὁ ἀνηαποκπινόμενορ ηῷ θεῷ μὴ ἐπεῖ ηὸ πλάζμα ηῷ πλάζανηι Τί με
ἐποίηζαρ οὕηυρ (21) ἢ οὐκ ἔσει ἐξοςζίαν ὁ κεπαμεὺρ ηοῦ πηλοῦ ἐκ ηοῦ αὐηοῦ θςπάμαηορ
ποιῆζαι ὃ μὲν εἰρ ηιμὴν ζκεῦορ ὃ δὲ εἰρ ἀηιμίαν.
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As versões em grego escolhidas 13
não apresentam diferenças entre si, logo a tradução
poderá atender às duas versões escolhidas.
3.2.Tabela para comparação dos textos
Bizantino Receptus Traduzindo
πεῖρ οὖν μοι, Tί ἔηι
μέμθεηαι
πεῖρ οὖν μοι Τί ἔηι
μέμθεηαι
Você me dirá então por que
ele ainda encontra falta/culpa
no homem
Tῷ γὰπ βοςλήμαηι αὐηοῦ ηίρ
ἀνθέζηηκεν
ηῷ γὰπ βοςλήμαηι αὐηοῦ ηίρ
ἀνθέζηηκεν
O fato de quem pode resistir
a ele
Μενοῦνγε, ὦ ἄνθπυπε, ζὺ ηίρ
εἴ ὁ ἀνηαποκπινόμενορ ηῷ
θεῷ
μενοῦνγε ὦ ἄνθπυπε ζὺ ηίρ
εἶ ὁ ἀνηαποκπινόμενορ ηῷ
θεῷ
Oh homem quem é você para
ir contra Deus
Μὴ ἐπεῖ ηὸ πλάζμα ηῷ
πλάζανηι, Tί με ἐποίηζαρ
οὕηυρ
μὴ ἐπεῖ ηὸ πλάζμα ηῷ
πλάζανηι Τί με ἐποίηζαρ
οὕηυρ
O homem não dirá a Deus
que o fez por que me fez
assim
Ἢ οὐκ ἔσει ἐξοςζίαν ὁ
κεπαμεὺρ ηοῦ πηλοῦ, ἐκ ηοῦ
αὐηοῦ θςπάμαηορ
ἢ οὐκ ἔσει ἐξοςζίαν ὁ
κεπαμεὺρ ηοῦ πηλοῦ ἐκ ηοῦ
αὐηοῦ θςπάμαηορ
Ou não tem autoridade o
oleiro para do mesmo
material
ποιῆζαι ὃ μὲν εἰρ ηιμὴν
ζκεῦορ, ὃ δὲ εἰρ ἀηιμίαν
ποιῆζαι ὃ μὲν εἰρ ηιμὴν
ζκεῦορ ὃ δὲ εἰρ ἀηιμίαν
Um vaso de honra e até
mesmo um para desonrar (ou
desonra)
3.3.Uma tradução provisória de Romanos 9: 19-21 com rearranjos para que faça mais
sentido:
Você me dirá então: Por que Deus ainda encontra culpa no homem? Já
que o homem não pode resistir à Vontade Dele? Oh homem, que é
você para ir contra Deus? O homem não poderá perguntar a Deus: Por
que me fez assim? Ou o oleiro não tem autoridade/poder para fazer do
mesmo material um vaso para honra e outro para desonra?
13
O texto Majoritário é tido como um texto bastante relevante para a crítica textual. O Texto Receptus é o que
deu origem às versões em Português.
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3.4.Vejamos versões em português de Romanos 9: 19-21 para comparação e posterior
discussão14
:
1) ACRF – Dir-me-ás então: Por que se queixa ele ainda? Porquanto, quem tem
resistido à sua vontade? Mas, ó homem, quem és tu, que a Deus replicas?
Porventura a coisa formada dirá ao que a formou: Por que me fizeste assim?
Ou não tem o oleiro poder sobre o barro, para da mesma massa fazer um vaso
para honra e outro para desonra?
2) ARIB - Dir-me-ás então. Por que se queixa ele ainda? Pois, quem resiste à sua
vontade? Mas, ó homem, quem és tu, que a Deus replicas? Porventura a coisa
formada dirá ao que a formou: Por que me fizeste assim? Ou não tem o oleiro
poder sobre o barro, para da mesma massa fazer um vaso para uso honroso e
outro para uso desonroso?
3) VC - Dir-me-ás talvez: Por que ele ainda se queixa? Quem pode resistir à sua
vontade? Mas quem és tu, ó homem, para contestar a Deus? Porventura o vaso
de barro diz ao oleiro: Por que me fizeste assim? Ou não tem o oleiro poder
sobre o barro para fazer da mesma massa um vaso de uso nobre e outro de uso
vulgar?
4) SBB - Dir-me-ás, então: Por que se queixa ele ainda? Pois quem resiste à sua
vontade? Mas antes, ó homem, quem és tu que replicas a Deus? Porventura a
coisa formada dirá a quem a formou: Por que me fizeste assim? Porventura
não tem o oleiro poder sobre o barro para fazer da mesma massa um vaso para
honra, e outro para desonra?
5) ARC – Dir-me-ás, então: Por que se queixa ele ainda? Porquanto, quem resiste
à sua vontade? Mas, ó homem, quem és tu, que a Deus replicas? Porventura, a
coisa formada dirá ao que a formou: Por que me fizeste assim? Ou não tem o
oleiro poder sobre o barro, para da mesma massa fazer um vaso para honra e
outro para desonra?
14
No livro Manual de Exegese de Douglas Stuart e Gordon Fee, ele sugere que vejamos pelo menos sete (7)
traduções e propõem que sejam: ARC, ARA, NVI, ALMEIDA 21, BJ, NTLH, TEB.
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6) ARA – Dir-me-ás então. Por que se queixa ele ainda? Pois, quem resiste à sua
vontade? Mas, ó homem, quem és tu, que a Deus replicas? Porventura a coisa
formada dirá ao que a formou: Por que me fizeste assim? Ou não tem o oleiro
poder sobre o barro, para da mesma massa fazer um vaso para uso honroso e
outro para uso desonroso?
7) NVI – Mas algum de vocês me dirá: "Então, por que Deus ainda nos culpa?
Pois, quem resiste à sua vontade?" Mas quem é você, ó homem, para
questionar a Deus? Acaso aquilo que é formado pode dizer ao que o formou:
‗Por que me fizeste assim? O oleiro não tem direito de fazer do mesmo barro
um vaso para fins nobres e outro para uso desonroso?
8) A21 – Então me dirás: Por que Deus ainda se queixa? Pois, quem pode resistir
à sua vontade? Mas quem és tu, ó homem, para argumentares com Deus? Por
acaso a coisa formada dirá ao que a formou: Por que me fizeste assim? Ou o
oleiro não tem poder sobre o barro, para com a mesma massa fazer um vaso
para uso honroso e outro para uso desonroso?
9) BJ – Dir-me-ás então: por que ele ainda se queixa? Quem, com efeito, pode
resistir à sua vontade? Mais exatamente, quem é tu, ó homem para discutires
com Deus? Vai acaso a obra dizer ao artificie: Por que me fizeste assim? O
oleiro não pode formar da sua massa seja um utensilio para uso nobre, seja
outro para uso vil?
10) TEB – Então me dirás: ―Que tem ele ainda a censurar? Pois, quem pode
jamais resistir à sua vontade?‖ Pensa bem, homem! Quem és tu para
contestares a Deus? Porventura vai o vaso de barro dizer a quem o modelou:
―Por que me fizeste assim?‖ Acaso não pode o oleiro, da mesma massa, fazer
um vaso de luxo e outro vulgar?
11) NTLH – Algum de vocês vai me dizer: Se é assim, como é que Deus pode por
culpa nas pessoas? Quem pode ir contra a vontade de Deus? Mas quem é
você, meu amigo, para discutir com Deus? Por acaso pode um pote pergunta a
quem o fez: Por que você me fez assim? Pois o homem que faz o pote tem o
direito de usar o barro como quer. Ele pode fazer dois potes do mesmo pedaço
de barro: um pote especial e outro comum.
Exegese de Romanos 9: 19-21 Introdução Bíblica 2016
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12) ARIB – dir-me-ás então: por se queixa ele ainda? Pois, quem resiste à sua
vontade? Mas, ó homem, quem és tu, que a Deus replicas? Porventura a coisa
formada dirá ao que a formou: Por que fizeste assim? Ou não tem o oleiro
poder sobre o barro, para da mesma massa fazer um vaso para uso honroso e
outro para uso desonroso?
13) TNMES – Tu me dirás, portanto: ¨Por que acha ainda falta? Pois, quem é que
tem resistido à sua expressa vontade? Quem realmente és tu, então, ó homem,
para redarguires a Deus? Dirá a coisa moldada àquele que a moldou: por que
me fizeste deste modo? O que? Não tem o oleiro autoridade sobre o barro,
para fazer da mesma massa um vaso para uso honroso, outro para uso
desonroso?
14) EC – Dir-me-ás então: Por que se queixa ele ainda? Pois quem resiste à sua
vontade? Mas, ó homem, que és tu, que a Deus replicas? Dirá a coisa formada
ao que a formou: por que me fizeste assim? Ou não tem o oleiro poder sobre o
barro, para da mesma massa fazer um vaso para honra e outro para desonra?
3.5. Vamos tomar a NVI como base e discutir as variações do texto frase por frase e já
incluiremos algumas observações sintáticas do grego:
3.5.1. Mas algum de vocês me dirá – algumas versões apontam que a pergunta é para
uma pessoa só, mas no caso o homem enquanto humanidade como vemos na
sequencia do texto, ou ainda, uma aplicação mais corporativa do texto. Como
estamos em uma carta, ele prevê perguntas feitas pelos crentes e outros possíveis
interlocutores e, pode estar usando a linguagem para uma proximidade individual
de cada um dos ouvintes originais da carta em tom bem pessoal. É um diálogo.
Talvez tenhamos duas expressões com possíveis variáveis também, ou seja, esta
frase está em conexão com o contexto anterior em que a justiça de Deus é
questionada em termos bastante duros: Acaso Deus é injusto? Ou o que se tem a
dizer na sequencia é na verdade uma pergunta, ou seja, Paulo está conversando
Exegese de Romanos 9: 19-21 Introdução Bíblica 2016
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com seus interlocutores e prevendo o que eles poderão perguntar diante das
afirmações que fez anteriormente.
3.5.2. Então, por que Deus ainda nos culpa? – mesmo nas versões em que Deus não
aparece textualmente, mas aparece a expressão ele, não deixa dúvida que Paulo
está se referindo a Deus. Em grego não temos a expressão ¨Teou¨ ou equivalente,
mas μέμφεται (presente, indicativo, voz média ou passiva, terceira pessoa
singular – ele nos culpa). A expressão culpa tem algumas possíveis variáveis
também: queixa, censurar e falta, mas todas elas no sentido de colocar Deus na
condição de não poder, que em hipótese alguma acusar o homem de qualquer coisa
que seja por ser ele de alguma forma responsável até mesmo pelo que o homem
faz de mal (Is 45: 7?). Mas é necessário notar que Paulo está antecipando uma
provável questão falsa que surgiria diante da afirmação anterior de que Deus tem
misericórdia e compaixão de quem quer, e o contrario também.
3.5.3. Pois, quem resiste à sua vontade? – Resistir ou ir contra a sua vontade são as duas
possibilidade mais presentes. A nossa versão provisória aponta para o fato de que
ao homem é impossível ir contra a vontade de Deus. Mesmo uma paráfrase como a
NTLH não traz variação significativa neste trecho da tradução. Posto em seu
contexto, o que se percebe é que o homem, até este momento do argumento, está
justificado ao se excusar dos compromissos irrecusáveis de Deus, ou mesmo, de
suas punições injustas.
3.5.4. Mas quem é você, ó homem, para questionar a Deus? – o tom da argumentação
fica ainda mais alto, não só pela maneira com se dirige, ou seja, diretamente, e é
quase possível sentir o tom da voz subindo e uma mudança na forma de olhar para
o interlocutor, mas pela presença de um vocativo ¨ó homem¨ ( ὦ ἄνθρωπε –
substantivo, vocativo, masculino, singular). Ao homem não é possível questionar,
replicar, contestar, resistir, argumentar, discutir, redarguir – é o momento em que
talvez tenhamos o maior numero de variações nas versões para o verbo
ἀνταποκρινόμενος - particípio, presente, voz média ou passiva, nominativo,
masculino, singular de perguntar contra. Na verdade, como parece ser revelado
aqui, o questionamento existe, se é pelo fato de que tal conversa já existia não
podemos sabe, mas podemos até supor que não era possível a Paulo saber, logo,
parece mais razoável chegar a conclusão de que o questionamento viria à partir
Exegese de Romanos 9: 19-21 Introdução Bíblica 2016
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daquilo que o próprio Paulo estava dizendo. Calvino em seu comentário de
Romanos dia ¨que no grego há um particípio que também pode ser posto no tempo
presente, podemos ler: que discutes, ou constas, ou te empenhas a opor-te a Deus?
A expressão grega contém o seguinte significado: Quem és tu que demonstra tanto
interesse em discutires com Deus? O sentido, porém, não leva grande diferença¨15
.
3.5.5. Acaso aquilo que é formado pode dizer ao que o formou – aquilo, coisa, obra ou
vaso de barro aparece como o objeto que questionaria a Deus. Paulo realmente se
dirige ao homem como um objeto nas mãos de Deus para força do seu argumento.
Ele usa o verbo formar duas vezes: πλάζμα (substantivo, nominativo, neutro,
singular) para o homem formado e depois para Deus como agente ele usa
Πλάζανηι (ter formado – aoristo, particípio ativo / dativo, masculino, singular),
que é formar está na voz ativa, ou seja, Deus é que forma o homem, o homem é
apenas objeto desta ação. Ainda que o homem esteja como nominativo na sentença
(sujeito) o verbo da sentença que está na voz ativa é usado para o que Deus fez.
Formou, na voz ativa e referindo-se a Deus, em algumas versões aparece como
modelar. A VC perde a força dos verbos quando muda a coisa formada por o vaso
de barro e o formou por oleiro. No entanto, poeticamente ou textualmente aquele
que pratica a ação e o que sofre continuam ainda muito claramente definidos. Na
nossa tradução provisória, no entanto, nem coisa formada e nem formou, mas as
expressões homem e Deus é que aparece. Assim, tomaremos outra decisão na
tradução final, excluindo tais expressões e substituindo-as porque agora fica claro
que mesmo em grego esta tradução não é a mais viável.
3.5.6. Por que me fizeste assim? – esta é a tradução que prevalece em quase todas as
versões. A ARIB é a única que toma uma decisão de tradução completamente
diferente, tirando o foco daquilo que foi feito ao homem de forma direta (por que
me fizeste assim?) e colocando o peso do argumento na ação de próprio Deus (por
que fizeste assim?). Deve prevalecer: por que me fizeste assim?
3.5.7. O oleiro não tem direito de fazer do mesmo barro um vaso para fins nobres e
outro para uso desonroso? – o oleiro é uma tradução que prevalece, a única
versão que escapa a isto é a NTLH que chama de homem que faz o pote. A NTLH
transforma a interrogativa em afirmativa, o que não parece uma opção válida
15 Romanos de Calvino, pg 392.
Exegese de Romanos 9: 19-21 Introdução Bíblica 2016
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quanto comprada à maioria esmagadora das traduções. As palavras oleiro e vaso
de barro para honra e desonra, merecerão um comentário posterior a parte, por
isto, não comentaremos com mais detalhes aqui porque estamos apenas
comparando versões e adiantando, porque no momento já se faz necessário, quais
as opões de tradução de alguns detalhes já tendo de posse o grego e as funções
sintáticas de algumas palavras mais importantes. Do mesmo barro aparece como:
mesmo material, da mesma massa, pedaço de barro, devendo prevalecer da mesma
massa. As expressões honroso e desonroso também surgem com diversas
variações: nobre e vulgar, nobre e vil, luxo e vulgar, especial e comum. A
qualidade do vaso recai sobre a sua constituição, ou seja, o material e a forma com
que é feito, ou seja, o proposito para o qual foi feito, ou recai sobre o uso que o
mesmo terá depois? Cabe a pergunta: é possível que um vaso seja feito com
propósitos honrosos e sirva, ao final, a propósitos desonrosos? É uma questão de
debate entre proposito (para que?) e finalidade (como é usado de fato?). No
entanto, já tomamos nossa decisão aqui: todas as versões parecem apontar que a
finalidade e o proposito são os mesmos, sem desvio nenhum de finalidade: como
se é feito é ao final. A NTLH faz distinção entre vaso especial e vaso comum,
destacando sua utilidade. Fiel entre honra e desonra, ou seja, o que o vaso é em si
mesmo. A versão da Imprensa Bíblica distingue como a maioria entre honroso e
desonroso, quanto ao uso. A NVI fins nobres, uso desonroso e desonroso. O livro,
uma versão da Bíblia também, entre belo objeto de ornamentação e objeto de uso
corrente, destacando a aparência e utilidade. Sociedade Britânica entre honra e
desonra. Católica entre nobre e vulgar. A AS entre honor e dishonor. A KJV
também entre honour x dishounor e, finalmente a JFA entre honroso e desonroso.
Falando da tradução de Barth ele diz que vivendo bem ou mal o homem está em
relação com Deus, e Barth coloca a expressão imundície e não desonra.: "Se o
homem viver, vive na participação da vida divina e se morrer é porque a criatura
precisa morrer em Deus!" Lutero também usa as expressões honrosos e desonrosos
para esta tradução.
3.5.8. No cabe agora uma consideração muito importante quanto a delimitação do texto e
da questão das Bíblias divididas em parágrafos. Na NVI temos que o parágrafo
descrito vai do verso 19-21, mas vejamos o que diz os versos 22-24:
Exegese de Romanos 9: 19-21 Introdução Bíblica 2016
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E se Deus, querendo mostrar a sua ira e tornar conhecido o seu poder, suportou com
grande paciência os vasos de sua ira, preparados para destruição? Que dizer, se ele
fez isto para tornar conhecidas as riquezas de sua glória aos vasos de sua
misericórdia, que preparou de antemão para glória, ou seja, a nós, a quem também
chamou, não apenas dentre os judeus, mas também dentre os gentios?
Algumas versões apontam que este trecho possui apenas uma pergunta, quando
a NVI aponta duas perguntas. De qualquer forma, são perguntas que
complementam os questionamentos de Paulo dos versos 19-21. Para melhor
entendimento do texto, no fluxograma posterior iremos acrescentar estes versos.
3.6. Algumas observações após a nossa tradução provisória e após a leitura de diversas
versões em português:
3.6.1. Primeiramente devemos notar que o parágrafo descrito é praticamente composto
por perguntas em tom retórico, ou seja, Paulo faz uma revelação a respeito do
modo como Deus lida com o ser humano e espera que o que diz seja facilmente
compreendido e não deixe sombra de dúvida. É para isto que existem perguntas
retóricas, ou seja, para enfatizar verdades por meio de perguntas que não carecem
de respostas, ou cujas respostas estão inseridas na própria pergunta. A resposta é a
pergunta sem o tem interrogativo.
3.6.2. Ou seja, Paulo também prepara por meio de perguntas a argumentação que se
seguirá até o final da seção que na verdade não termina no capitulo 9, mas se
estende até o final do capítulo 11 como já argumentamos. Os capítulos 9-11 são
parte de um mesmo bloco16
.
3.6.3. Os leitores devem se lembrar que todos os pressupostos de Paulo estão não apenas
em seus escritos anteriores na própria Epistola aos Romanos, mas nas próprias
Escrituras, ou seja, não deve ser visto e nem recebido como novidade. Tudo já fora
16
Mais uma vez afirmamos, além do desafio em classe estar posto sobre os versos de 19-21 onde surgem as
expressões vaso de honra e desonra que chamam muito a atenção, a decisão de delimitar o texto é também em
função do alto grau de complexidade e o volumoso trabalho que poderia surgir e que não atenderia a contento as
expectativas de alunos iniciantes em teologia , além do tempo limitado em sala de aula.
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predito nas profecias. Basta ler a continuidade do próprio capítulo 9 para vermos a
citação de Paulo de algumas destas profecias em Oseias e Isaias.
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4. A ESTRUTURA DAS FRASES E A AS RELAÇÕES DE SINTAXE
4.1. Aqui veremos o texto mais de perto e estabeleceremos algumas relações entre as
frases do texto e, como dissemos, incluiremos os versos de 22-24. Vamos separar as
frases primeiramente e analisar uma a uma dentro do argumento de Paulo.
1. Mas algum de vocês me dirá: "Então,
por que Deus ainda nos culpa?
Esta é uma pergunta feita pelo homem.
2. Pois, quem resiste à sua vontade? Mais uma pergunta feita pelo homem.
3. Mas quem é você, ó homem, para
questionar a Deus?
Paulo agora se coloca no lugar de Deus e se
posiciona para confrontar o homem.
4. Acaso aquilo que é formado pode
dizer ao que o formou: ‘Por que me
fizeste assim?
O homem posto em seu lugar é confrontado
em sua arrogância.
5. O oleiro não tem o direito de fazer do
mesmo barro um vaso para fins nobre
e outro para uso desonroso?
Paulo diz que Deus está no comando e não
podemos dizer nada contra.
6. E se Deus, querendo mostrar a sua
ira e tornar conhecido o seu poder,
suportou com grande paciência os
vasos de sua ira, preparados para
destruição?
O homem é levado a encontrar proposito e
razões naquilo que não entende.
7. Que dizer, se ele fez isto para tornar
conhecidas as riquezas de sua glória
aos vasos de sua misericórdia, que
preparou de antemão para glória, ou
seja, a nós, a quem também chamou,
Todos seriam vasos para desonra não fosse a
vontade de Deus. Deus não toma partido nem
do lado de judeus nem de gentios porque tem
vasos de honra dos dois lados, que não são
dois lados diferentes de fato!
Exegese de Romanos 9: 19-21 Introdução Bíblica 2016
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não apenas dentre os judeus, mas
também dentre os gentios?
4.2. Vamos estabelecer um fluxo dos argumentos dos versos 19-24 com nossas próprias
palavras, no entanto, as conclusões mais definitivas serão apresentadas adiante. Um
fluxograma seria mais ou menos assim:
O homem perplexo diante da falta de alternativas pergunta
A pergunta é recheada de razão porque não tem opções diante do Todo-poderoso
o argumento vira contra o homem que é lembrado de que não é nada
Não tem o direito de questionar porque já sabe o porquê
O homem foi feito por Deus e logo é Deus quem sabe o porquê de tê-lo criado
Ele decidiu, quando fez o homem, como gostaria que seu produto final fosse
Alguns foram feitos para a honra e outras para desonra
Os vasos de desonra não lhe trazem prazer, mas exigem paciência da parte de Deus que por
meio deles mostra o seu poder
Os vasos de honra servirão ao proposito de mostrar sua misericórdia e sua glória
Exegese de Romanos 9: 19-21 Introdução Bíblica 2016
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4.2.1. Temos ainda outra opção de fluxograma.
O homem questiona a Deus
Não tem o direito de fazer isto
Deus quem criou sabe o porquê
Deus criou dois tipos: uma para honra e outro para desonra
Vasos de honra
Vasos de desonra
Mostra riquezas da gloria e misericórdia
Mostra ira, poder e paciência
Irão para um estado de glória Serão destruídos
4.3. O fluxograma nos permite mais algumas conclusões preliminares e parciais, não
conclusivas: Uma das grandes tensões deste texto é sem dúvida nenhuma a possível
impossibilidade do homem poder intervir neste processo e estar totalmente privado da
sua liberdade e poder de decisão. Talvez seja ainda mais inquietante imaginar que
pessoas se perdem pela vontade de Deus e não por seus pecados e decisões. Esta seja
Exegese de Romanos 9: 19-21 Introdução Bíblica 2016
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talvez a falácia mais direta deduzida a partir deste pequeno trecho de Romanos. No
entanto, Paulo parece querer muito mais enfatizar que Deus é misericordioso ao salvar
alguns usando-os de modo honroso, quando poderia por todos a perder por causa de
suas vidas, do que injusto ao punir alguns (que na verdade são muitos e o
remanescente pouco, ou seja, a sequencia do texto aponta que á poucos usados para
honra – ver 9. 27).
4.4. Ao falar da paciência de Deus, o argumento muda um pouco, colocando fora de Deus,
ou seja, no homem, a responsabilidade por aquilo que ele é, devolvendo, no sentido
mais textual, a liberdade do homem. Podemos preliminarmente afirmar que o homem
entregue a sua liberdade fará, necessariamente, a pior escolha. E não pode por si
mesmo decidir-se pela melhor escolha. Os vasos de desonra são um desprazer para
Deus, uma tristeza. É importante notar que os vasos de honra não o são por
nascimento ou nacionalidade, mas em virtude desta eleição. O argumento de Paulo
parece apontar para uma conclusão impossível de ser diferente.
4.5.Outra coisa que podemos apontar é que Paulo está se dirigindo a dois tipos de vasos,
mas a quantos interlocutores está de fato tentando atingir? Primeiramente ele está
falando ao judeu que quer se justificar por sua hereditariedade e pela pratica da lei sem
a fé que salva. Em segundo lugar está falando aos gentios romanos e gentios em geral
porque serão salvos pela fé em Cristo. Fala, também, em terceiro lugar à igreja, que é
um conjunto formado pelos judeus e gentios que podem se alegrar pela misericórdia e
graça de Deus. Mas, também, podemos supor que ele se refere ao homem no sentido
de humanidade total, independentemente de serem gentios ou judeus. Em breve
devemos tomar uma decisão em torno destas sugestões.
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5. ESTABELECENDO O TEXTO COMPLETO
O Fluxograma nos ajuda a tomar a decisão sobre quais palavras levar em consideração como
as mais importantes no texto em virtude do fluxo de ideias principais. Temos assim: O homem
inadvertidamente questiona a Deus, mas não tem este direito porque é um vaso nas mãos de
um oleiro. Os vasos são de dois tipos: de honra e desonra. Pelos vasos de desonra Deus
mostra sua paciência, ira e poder, pelos vasos de honra mostra sua misericórdia e glória.
Vamos procurar resgatar o sentido de: 1. Vasos de honra e de desonra. 2. Paciência, ira
e poder. 3. Misericórdia e glória. 4. Como temos um verbo importante que é ¨formar¨, vamos
nos ater a ele também. Entendemos que a compreensão destas expressões seja necessária para
a compreensão do texto como um todo. Tais expressões terão também cunho teológico como
poderemos ver mais a frente.
5.1. Vasos de honra e desonra – podemos ter aqui referencias a formação do homem em
Gen 2: 7 e outras passagens correlatas. Há muitas referencias de vasos de desonra na
Bíblia sobretudo no AT. Faraó, no Egito, é endurecido para que a vontade de Deus
seja feita. Para mostrar sua misericórdia, Deus salva Nínive apesar de toda sua
impiedade. Agora, o texto faz contraste entre judeus e gentios. A escolha soberana de
Deus e o critério da fé, quase que coloca os judeus fora do plano de salvação, uma vez
que estão fiados em outros fundamentos: hereditariedade e pratica da Lei.
5.2. Paciência, ira e poder – estes três termos aparecem como resultado justo como
consequência da vida dos vasos de desonra, mas mesmo assim, os atributos de Deus
são exaltados.
5.3. Misericórdia e glória – apesar dos seres humanos serem quem são, Deus mesmo
assim escolhe alguns para mostrar sua misericórdia e graça.
5.4. Formar – é o verbo usado para dizer que Deus faz com as próprias mãos seus vasos,
ou seja, os seres humanos. Como aqui temos o elemento da formação dos vasos
desonrosos pelas mãos de Deus, o conteúdo poético e belo da formação do homem
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pelas mãos de Deus, ganha nova conotação já que aqui temos a formação de vasos
para serem destruídos. No ponto 7 discutiremos os vocábulos mais detalhadamente.
Quanto a definição do texto completo e de seu contexto, temos um desafio muito
grande. Definimos que Romanos 9 pertence a uma seção especial que vai do 9 ao final do
capítulo 11, mas ao final do capitulo 8, quando temos a inserção do assunto sobre o
endurecimento de Faraó, temos os fundamentos do debate que se segue. Temos uma
questão a decidir quando a divisão do parágrafo que a NVI, por exemplo, limita entre os
versos 19-21, mas como vimos, os versos de 22-24 também constituem questionamentos
que se alinham com os questionamentos dos versos 19-21. Quando examinamos o
trabalho de exegese de Lutero, vemos que ele concorda com o parágrafo de 19-21, mas
não inclui o verso 24 com os versos 22 e 23 porque entende o mesmo como uma prévia
para os ditos proféticos de Oséias e Isaias que se seguem. Nossa sugestão é de que os
versos de 19-24 sejam lidos como um parágrafo apenas. Os versos se completam não
apenas afirmando o que são os vasos de honra e desonra, mas falando inclusive da
destinação de cada um, senão na eternidade, para uso corrente (como algumas versões,
como já vimos, parecem sugerir).
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6. QUESTÕES GRAMATICAIS
Gramaticalmente não há grandes questões a serem levantadas que já não tenhamos dito. O
trecho é altamente retórico e composto basicamente por perguntas cujas respostas se supõem
que poderiam ser respondidas pelos seus interlocutores. As questões de delimitação do texto e
interpretação do mesmo podem causar questionamentos da forma com as ideias se
concatenam, seja por meio de partículas inclusivas, seja por meio de respostas as questões.
Por exemplo.
6.1. Há uma virada interessante quando o homem é colocado em condições de questionar
a Deus, mas no ato seguinte não apenas esta loucura é refutada, como também o fato
de que as respostas já estão dadas a muito tempo. De fato, os últimos versos do
capitulo 8 contém as afirmações e as questões surgem depois.
6.2. O argumento da salvação pela graça exige que Deus seja o autor de tudo, ou seja, não
é possível que se possa contar com o homem em nada, ainda que os que se perdem
estejam cônscios de que a responsabilidade de sua perdição seja dos próprios;
6.3. Será que Deus recusaria a alguém arrependido, que tivesse sido relegado a desonra,
sob este argumento, ser perdoado e transformado? Como saber se alguém foi
destinado a desonra? No argumento de Paulo é impossível prever isto porque a recusa
de Israel é apenas em parte, ele mesmo diz que judeus estão inclusos no plano de
salvação. Não, ele rejeita quem o rejeita.
6.4. Deus não descartou Israel, mas aqueles que são desobedientes, e não está falando a
todo de Israel, mas a Israel e falando com eles, usando exemplos do povo.
6.5. Paulo esta em situação difícil porque é judeu, mas apóstolos aos gentios. Seus
argumentos giram em torno do fato de que os escolhidos estão sendo muito rejeitados
a medida que os preteridos possam a ocupar primeiro lugar ver 4: 16;
6.6.Todos são nada, de modo que tornar um vaso em honroso é misericórdia. Os que são
desonrosos não poderiam de forma alguma mudar sua própria condição.
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6.7.Em 9: 30 ele parece mudar de ideia e baixar a bola? Passou sua tensão? Quase que
raiva diante da sua incapacidade de inculcar em seus compatriotas a necessidade de se
converterem por meio da fé? Eles podem isto por meio da própria vontade?
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7. PALAVRAS SIGNIFICATIVAS
Agora apresentaremos as palavras mais importantes como destacadas no capítulo 5 conforme
estão no texto. Elas são: 1. ηιμὴν ζκεῦορ (timen skeuos - vaso de honra); 2. ἀηιμίαν (atimian -
de desonra); 3. ποιῆζαι (poiesai - formar, fazer), 4. ὀπγὴν, δςναηὸν e μακποθςμίᾳ (orgen,
dynaton, makrothymia - ira, poder e paciência); 5. δόξηρ e ἐλέοςρ (dixes, eleous - glória e
misericórdia).
7.1. ηιμὴν ζκεῦορ (vaso de honra) - ambas estão no acusativo singular, a primeira no
gênero feminino e a segunda no gênero neutro. O acusativo funciona como objeto
direto, ou seja, complemento do verbo ποιῆζαι (poiesai – formar, que veremos
adiante). A palavra vaso tem 23 ocorrências em grego no NT sendo como artigo (2), o
recipiente (1), mercadorias (1), instrumento (1), frasco (1), a mercadoria (1), objeto
(3), alojamento (2), âncora (1), alguém (1), do reservatório (3), recipientes (6). Destas
12 são no mesmo formato de Romanos 9, mas recebem traduções diferentes como
vaso, instrumento, mercadoria ou objeto. A palavra honroso aparece 41 vezes em
grego no NT sendo como honra (28), o uso honroso (1), marcas de respeito (1), o
valor precioso (1), preço (7), o produto ( 1), soma (1), valor (1). No NT a palavra vaso
tem sentido concreto e outras vezes metafórico. Literalmente, no plural, pode referir-
se a bens, propriedades, móveis. No singular, é um objeto: um receptáculo, um jarro,
um prato, uma ferramenta, um equipamento. Vaso é também um navio. Neste caso, há
uma referência ao navio em que Paulo viajou para Roma, navio esse que veio a
naufragar (Atos 27.17). Temos também o vaso que desceu do céu, na visão de Pedro
em Jope: "... um vaso, como se fosse um grande lençol atado pelas quatro pontas..." -
Atos 10.11. De tudo isto, lemos no NT de vasos de ouro, de prata, de pau, de barro, de
madeira preciosíssima, de bronze, de ferro, de mármore e de marfim. Lemos de vasos
jarrões, de vasos móveis, de vasos bens, de vasos navios, de vasos sacos. Mas há
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também vasos vivos. Este é o sentido figurado da palavra. Vejamos: "Ora, numa
grande casa não somente há vasos de ouro e de prata, mas também de pau e de barro,
uns para honra, outros, porém, para desonra. De sorte que se alguém se purificar
destas coisas, será vaso para honra, santificado e idóneo para uso do Senhor e
preparado para toda a boa obra" - 2 Timóteo 2. 20-21. Sublinhei alguém será barro,
pois aqui já não se trata de vasos como objetos, mas de pessoas que são vasos.
Tratando-se duma metáfora, se a quisermos interpretar deveremos perguntar: para que
serve? Para que serve um vaso? Um vaso pode servir só como ornamento, só para ser
visto. Mas em termos de utilidade prática, um vaso serve como recipiente, serve para
conter algo, seja uma planta, um líquido ou uma joia. Ora, o texto acabado de citar
fala-nos de vasos diferentes, uns honrosos e outros desonrosos. A diferença entre os
vasos reside naquilo que eles contêm. Não naquilo que aparentam. Ao pé da cruz, no
Calvário, havia um "vaso cheio de vinagre…" (João 19.29). Esse vaso bem pode
representar uma pessoa (vaso) ácida, cheia de amargura, ou seja, um "vaso de ir", em
contraste com um "vaso de misericórdia" que se refere àquelas pessoas que têm dentro
delas um tesouro. Esse tesouro é Jesus. Diz Paulo: "temos este tesouro em vasos de
barro..." (2ª Coríntios 4.6-7. Vasos de barro são pessoas frágeis, pobres, indignas. Mas
pessoas essas que foram purificadas pela aspersão do sangue de Cristo (Hebreus 9.21-
22), isto é, regeneradas, promovidas duma situação de vergonha e miséria a uma
posição de honra e dignidade. Estes vasos somos nós, a quem Jesus arrancou da lama,
limpou e quer usar. Vasos talvez quebrados em pedaços, por uma vivência destrutiva,
mas em que o Senhor reúne os fragmentos (cacos) e reconstitui o vaso, pela ação do
Espírito Santo. Ele faz isso por nos amar e para nos usar. O Senhor tem um propósito
a respeito destes vasos que somos nós. Quer que sejamos Seus instrumentos "para dar
a conhecer as riquezas da Sua glória". - Romanos 9.23-24. Jesus foi ao encontro de
Saulo e transformou a sua vida. Ao falar dele à Ananias, o mesmo Jesus disse: "Vai
porque este é para mim um vaso escolhido para levar o meu nome aos gentios, e aos
reis e aos filhos de Israel" - Atos 9.15,18. Para levar, não só para conter ou guardar.
Um vaso que leva o Nome de Jesus a outros. Quando Jesus expulsou os vendilhões do
templo, não consentiu que alguém levasse algum vaso dele. Também Ele não quererá
que os Seus vasos humanos, Seus servos, sejam roubados, sejam profanados, sejam
desviados do fim para que os destinou. Na parábola da candeia, Jesus disse: "E
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ninguém, acendendo uma candeia, a cobre com algum vaso..." - Lucas 8.16. E que
acontece aos vasos-pessoas que Ele chamou a Si, para a Sua obra? Servem para erguer
bem alto a luz de Cristo, ou para a tapar? Manifestam-se ousadamente ao lado de Jesus
e dos que Ele quer recuperar, quer erguer da miséria e da solidão? Ou envergonham-se
e demitem-se? Neste sentido, já podemos adotar um ponto de vista de que a expressão
vaso pode ser usada tanto para indivíduos quanto para nações e grupos. No caso do
nosso texto sugerimos que seja para grupos, no caso gentios e judeus, não
identificando um ou outro com honroso ou desonroso porque o argumento gira em
torno disto: se é vaso para honra pela fé e mesmo judeus estão chegando a este
entendimento, como é o caso do próprio apostolo Paulo.
7.2. ἀηιμίαν (de desonra) – também no acusativo, singular, feminino. Tem 7 ocorrências
no grego do NT, mas apenas 3 ocorrências nesta mesma forma (Rm 9: 21, 2 Co 11: 21
e 2 Tim 2: 20). A NVI em 2 Cor 11: 21 prefere traduzir como vergonha, mas conserva
como desonra em 2 Timóteo 2: 20. Uso comum, degradado, vergonhoso.
7.3. ποιῆζαι (formar, fazer) – há 572 ocorrências deste verbo no NT, mas apenas 47 no
formato de Romanos 9: 21. Sendo assim as ocorrências: realizada (1), ato (4), agiu (3),
na qualidade (1), atua (2), nomeado (3), afastado (1), urso (5), tendo (1), ursos (3),
tornam-se (1), furo (1), trazer (1), trazer a passagem (1), trazer (2), trazendo (1),
produz (1) , ligue para (1), realizado (1), carrega (1), realizar (1), causa (3), causa (2),
fazendo com que (1), cometer (2), compromete (2), comprometida (4) , composto (1),
considere (1), criou as coisas (1), tratada (1), fiz (33), fez, fazer (2), fazer (170), faz
(16), faz, fazer (1), fazendo (38), feito (43), que cria (1), executar (4), exercícios (1),
expor * (1), formado (1), formou uma conspiração (1), formas ( 1), deu (4), dar (4), dá
(1), dando (1), ter (2), ter mantido (1), tendo (1), realizada (1), entregando-se (1),
mantenha (3), mantém a (1), mantido (1), feito (38), fazer (47), faz com que (7),
fazendo com (9), observar (2), oferta (1), oferecendo (1), executar (4), realizada (8),
realizando (7), realiza (1), a prática (5), práticas (11), praticando (1), presente (1),
processo (1), produzem (3), produzida (1), produz (2), a produção de (1), proporcionar
(1), colocar (1), satisfaz * (1), definindo (1), apresentar (2), mostrou (1), mostrado (1),
gasta (1), irradiado (4), deu (1), o tratamento de (6), tratou-se (1), fraca (1), de trabalho
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(1), de trabalho (1). Em Romanos 9: 21 temos a seguinte forma do verbo: aoristo,
infinitivo e ativo. A seguir o que temos é um pouco de crítica textual para exemplificar
o longo caminho que o estudo de um vocábulo pode promover.
7.4. Formar: com os nomes das coisas feitas, para produzir, construir, forma,
moda, etc: ἀνηπακιαν , João 18:18 ; εἰκόνα ,Apocalipse 13:14 ; ἱμάηια , Atos
09:39 ; ναούρ , Atos 19:24 ;ζκηνάρ , Matthew 17: 4 ; Mark 9: 5 ; Lucas
9:33 ; ηύποςρ ,Atos 7:43 ; πηλόν , John 9:11, 14 ; πλάζμα , Romanos 9:20 ; de acordo
com alguns intérpretes (também Winer Gramática 's, 256 n. 1 (210 n.
2)) ὁδόν ποιεῖν , para fazer um caminho, Mark 2:23 R G T Tr texto WH texto (de
modo que o significado é, que o discípulos de Cristo fez um caminho para si através
da seara arrancando as cabeças; ver ὁδοποιέυ , no fim Se adotarmos esta
interpretação, devemos tomar o fundamento de que Mark não nos dá a verdadeira
conta do assunto, mas tem. tristemente corrompido a narrativa recebido de outros;
(aqueles que aceitá-lo, no entanto, não só insistir sobre o uso lexical quase invariável,
mas chamar a atenção para o fato de que a outra interpretação (veja abaixo) acha a
idéia principal expressa no particípio - uma expressão aparentemente estranho ao NT
(ver Winer 'gramática, 353 (331) s), e à circunstância adicional que Mark introduz a
frase depois de já ter expressado a idéia de' ir ', e expressou-a substancialmente a
mesma palavra ( παπαποπεύεζθαι ) que Matthew () E Lucas () Empregar e consideram
por si só suficiente. Na interpretação da passagem, a alegada "corrupção triste ', etc.,
ver James Morison, Comentário sobre Marcos, 2ª edição, p. 57f; Por outro lado,
Weiss, Marcusevangelium, p. 100). Mas veja logo abaixo, de acordo com c).. Criar,
para produzir : de Deus, como o autor de todas as coisas, ηί ou ηινα , Mateus 19:
4 ; Marcos 10: 6 ; Lucas 11:40 ; Hebreus 1: 2 ; Atos 04:24 ; Atos 07:50 ; Atos
17:24 ;Apocalipse 14: 7 ; passivas, Hebreus 12:27 . (Sab 1:13 Wis. 9:. 9; 2 Macc 7:28,
e muitas vezes na OT Apocrypha, por emGênesis 1: 7, 16, 25 , etc .;
para em Gênesis 1:21, 27 ;Genesis 5: 1 , etc .; também em escritos
gregos: γένορἀνθπώπυν , Hesíodo . op 109, etc .; absolutamente, ¼ποιῶν , o
criador, Plato ..., Tim, p 76 c) ; aqui também pertence Hebreus 3: 2 , em que vê Bleek
e Lünemann ((cf. abaixo, 2 c. β ).). À imitação do hebraico (cf. Winer ( 's Simonis
(4ª edição 1828)), Lex hebraico et Entre-Chald, p 754;..... Gesenius, Thesaurus, ii, p
1074f) absolutamente dos homens, ao trabalho, para fazer o trabalho, Matthew
20:12 (Rute 2: 19 ); equivalente a estar operacional, atividade exercício, Apocalipse
13: 5 R Elz . L T Tr WH (cf. Daniel 11:28 , mas outros são processados ποιεῖν em
ambos os exemplosgastar, continuam, em referência ao tempo, ver II. B) juntou aos
substantivos que denotam um estado ou condição, isso significa ser o autor de, para
causar :ζκάνδαλα , Romanos 16:17 ; εἰπήνην (para ser o autor de harmonia), Efésios
2: 15; Tiago3:18 ; ἐπιζύζηαζιν ( L TTr WH ἐπίζηαζιν ), Atos dos Apóstolos 4: 12;
ζςζηποθήν , Atos 23:12; ποιῶ ηίνι ηί , para trazer, pagar, uma coisa para um, Lucas
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1:68 ; Atos 15: 3 (assim também escritos gregos, comoXenophon , mem. 3, 10, 8 (cf.
Liddell e Scott, sob a palavra A. II. 1 a.). C) juntou-se a substantivos que envolvem a
idéia de ação (ou de algo que é realizado pela ação), de modo a formar uma perífrase
para o cognato verbo do substantivo e, portanto, para expressar a idéia do verbo mais
força - em que as espécies de perífrase os gregos mais comumente usar o meio (ver
ponto 3 infra, e Winer s gramática, 256 (240); ( Buttmann , § 135,
5)):μόνην ποιῶ παπά ηίνι , João 4:23 (onde L T Tr WHποιηζόμεθα ; cf. Tucídides 1,
131); ὁδόν , para fazer o nosso caminho, vai, Mark 02:23 (onde renderizado
assim: eles começaram, como eles foram, para colher espigas ;
cf.ποιῆζαι ὁδόν αὐηοῦ , juízes 17: 8 ; os gregos dizemὁδόν ποιεῖζθαι , Heródoto 7, 42;
ver acima, sob a);.πόλεμον , Apocalipse 13: 5 . Rec Elz ; com a adição
deμεηά ηίνορ (equivalente a πολεμεῖν ), Apocalipse 11: 7 ;Apocalipse
12:17 ; Apocalipse 13: 7 (aqui L omite; WH Tr leitura marginal enquadra a
cláusula);(veja μεηά , I. 2 d, p 403 {b}..);ἐκδίκηζιν , Lucas 18: 7, 8 ; ηίνι , Atos 07:24 ,
( Miquéias 5:15 ); ἐνέδπαν , equivalente a ἐνεδπεύυ , para fazer uma emboscada,
espreitam, Atos 25: 3 ; ζςμβούλιον , equivalente a ζςμβοςλεύομαι , a realização de
uma consulta, deliberada, Mark 3: 6 ( R G T Tr marginal leitura W Hleitura
marginal); Marcos 15: 1 (aqui T WH marginal leitura
ζςμβούλιον ἑηοιμαζανηερ ); ζςνυμοζίαν , equivalente a ζςνόμνςμι , Atos
23:13 (onde L T Tr WH ποιηζάμενοι para Rec. πεποιηκόηερ ; ver em 3
abaixo);κπίζιν , para julgar, John 05:27 ; Jude 1:15 . Para esta cabeça pode ser referido
normas pelas quais o modo ou tipo de ação é mais precisamente
definidos; como δςνάμειρ ,δύναμιν , ποιεῖν , Mateus 07:22 ; Mateus 13:58 ; Marcos 6:
5 ; Atos 19:11 ; ηήν ἐξοςζίαν ηίνορ , Apocalipse 13:12 ;ἔπγον (uma obra
notável), ἔπγα , de Jesus, John 5 : 36 ;João 7: 3, 21 ; João 10:25 ; João 14:10, 12 ; João
15:24 ; κπάηορ , Lucas 1:51 ; ζημεῖα , ηέπαηα καί ζημεῖα (Marcos 13:22 Tdf. ); João 2
: 23 ; João 3: 2 ; João 04:54 ; João 6: 2, 14, 30 ; João 07:31 ; João 09:16 ; João
10:41 ; João 11:47; João 00:18, 37 ; John 20:30 ; Atos 02:22 ; Atos 6: 8 ; Atos
07:36 ; Atos 8: 6 ; Atos 15:12 ; Apocalipse 13:13, 14 ;Revelação 16:14 ; Apocalipse
19:20 ; θαςμάζια , Matthew 21 : 15 ; ὅζα ἐποίει , ἐποίηζαν , etc., Mark 3: 8 ; Mark
6:30 ; Lc 9:10 ; Em outras palavras ele é usado de obras maravilhosas, Mateus
09:28 ; Lucas 04:23 ; João 04:45 ; João 7: 4 ; João 11:45, 46 ; João 21:25 (não .
Tdf ); Atos 10: 39 ;Atos 14:11 ; Atos 21:19 ; etc. D) equivale a fazer pronto, para
preparar : ἄπιζηον , Lucas 14:12 ; δεῖπνον , Mark 06:21 ; Lucas 14:16 ; João 12:
2 (δεῖπνον ποιεῖζθαι , Xenofonte , Cyril 3, 3, 25); δοσήν ,Lucas 05:29 ; Lucas
14:13 ( Gênesis 21: 8 ); γάμοςρ ,Matthew 22: 2 ( γάμον , Tobit 08:19). E) de coisas
realizadas por força geradora, para produzir, urso, brotar : de árvores, cipós,
gramíneas, etc., κλάδοςρ ,Marcos 04:32 ; καππούρ , Matthew 3: 8 , etc.,
consulteκαππόρ , 1 e 2 uma. ( Gênesis 1:11, 12 ; Aristóteles , de vegetais (1, 4, p 819b,
31);.. 2, 10 (829a, 41); Theophrastus ..?, De caus planta 4, 11 (())) ; ἐλαίαρ , James
3:12 ( ηόν οἶνον, da videira, Josephus , Antiquities 11, 3, 5); de uma fonte produzindo
água, ibid. F) ποιῶ ἐμαςηῷ ηί , adquirir, fornecer uma coisa para si mesmo (ou seja,
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para uma de uso): βαλάνηια , Lucas 12:33; θίλοςρ , Lucas 16: 9 ; sem um dativo, para
ganhar : de comerciantes (como a nossa linguagem cotidiana, para fazer alguma
coisa), Matthew 25:16 ( L Tr WH ἐκέπδηζεν ); Lucas 19:18 ( Políbio 2, 62, 12;
pecuniam Maximam facere, Cicero , Verr. 2, 2, 6). 2. Com adições ao acusativo que
definir ou limitar a ideia de fazer: A) ηί ἐκ ηίνορ (genitivo de material), para fazer uma
coisa fora de algo, João 2:15 ; João 9: 6 ; Romanos 9:21 ; καηά ηί, de acordo com o
padrão de uma coisa (veja καηά , II. 3 c. α.), Atos 07:41 . com a adição, para o
acusativo da coisa, de um adjetivo com o qual o verbo assim que combina que,
tomado com o adjetivo, ele pode ser alterado para o cognato verbo ao
adjetivo: εὐθείαρ ποιεῖν ( ηάρ ηπίβοςρ ), equivalente aἐςθύνειν , Matthew 3: 3 ; Marcos
1: 3 ; Luke 3: 4 ; ηπίσαλεςκήν r | μέλαιναν , equivalente
a λεςκαίνειν ,μελαίνειν , Mateus 05:36 ; adicionar, Atos 12:19 ; Hebreus
0:13 ; Apocalipse 21: 5. B) ηό ἱκανόν ηίνι ; veja ἱκανόρ , ac ποιεῖν ηινα com um
acusativo do predicado, α . (fazer isto) prestar uma coisa: ηινα ἴζον ηίνι , Mateus
20:12 ; ηινα δῆλον , Mateus 26:73 ; adicionar, Mateus 00:16 ; Mateus 28:14 ; Marcos
03:12 ;João 5:11, 15 ; João 07:23 ; João 16: 2 ; Romanos 9:28 ( R G ,Tr leitura
marginal entre parênteses); Hebreus 1: 7 ; Apocalipse 12:15 ; ηιναρ ἁλιεῖρ , para torná-
los aptos (qualificá-los) para a pesca, Mateus
4:19 ; ( Ποιῶν ηαῦηα γνυζηά ἀπ'αἰῶνορ , Atos 15:17 f, G T Tr WH (veja γνυζηόρ , e
cf. II. ηά ἀμθόηεπα ἕν , para fazer a duas coisas diferentes um, Efésios 2:14 ; para
mudar uma coisa em outra,Mateus 21:13 ; Marcos 11:17 ; Lucas 19:46 ; João
2:16 ; João 04:46 ; 1 Coríntios 6:15 . β . (fazer isto) constituir ou designar um qualquer
coisa : ηινα κύπιον , Atos 02:36 ;Apocalipse 5:10 ; a este sentido alguns intérpretes
remeteHebreus 3: 2 também, onde após ηῷ ποιήζανηι αὐηόνeles fornecem a partir do
contexto anterior ηόν ἀπόζηολονκαί ἀπσιεπέα κηλ ;. mas é mais correta a ser
tomadaποιεῖν aqui no sentido de criar (veja 1 a acima.); ηινα , ἵναcom o subjuntivo de
nomear ou ordenar que etc. Marcos 3:14. γ . (fazer, ou seja,) declarar uma coisa : João
5:18 ; João 08:53 ; João 10:33 ; João 19: 7, 12 ; 1 João 1:10 ; 1 João 5:10 ;ηί com um
acusativo do predicado Matthew 00:33 (em que ver Meyer). C) com
advérbios: καλῶρ ποιῶ ηί , Mark 07:37 ( AV fazer );ηινα ἔξυ , para colocar um outro,
para levá-lo para fora(alemão hiuausthun ), Atos 05:34 ( Xenofonte , Cyril 4, 1, 3). D)
ποιῶ ηινα com um infinitivo para fazer uma fazer uma coisa, Mark
08:25 ( R G L Tr leitura marginal); Lucas 05:34 ;João 06:10 ; Atos 17:26 ; ou tornar-
se algo, Marcos 1:17 ;ηινα seguido por ηοῦ com um infinitivo para causar um
paraetc. Atos 03:12 ( Winer s Gramática, 326 (306); Buttmann , § 140,
16 δ .); Também seguido por ἵνα ( Buttmann , § 139, 43;Winer 's gramática, § 44, 8 b
no final.), John 11:37 ;Colossenses 4:16 ; Apocalipse 13:15 (aqui T omite; WH
suportes ἵνα );; (outros exemplos em Sófocles Lexicon ', sob a palavra, 8). 3) Como o
ativo ποιεῖν (. Ver 1 c acima), assim também o meio ποιεῖζθαι , juntou-se a acusativos
de substantivos abstratos forma uma perífrase para o cognato verbo do substantivo; e,
em seguida, enquanto ποιεῖν significa ser o autor de uma coisa (para provocar,
provocar, como ποιεῖνπόλεμον , εἰπήνην ), ποιεῖζθαι denota uma ação que pertence de
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alguma forma para o ator (para si mesmo, entre si, etc., ζπονδάρ , εἰπήνην ποιεῖζθαι ),
ou o que é feito por um com seus próprios recursos ((o "dinâmico" ou "subjetivo" do
meio), como πόλεμον ποιεῖζθαι ( para fazer, continue, guerra); cf. Passow , sob a
palavra, I. 2 a ii, p 974f;... (Liddell e Scott, sob a palavra, A. II. 4); Krüger , § 52, 8, 1;
Blume ad Licurgo , p 55;. ( Winer s gramática, § 38, 5 n .;Buttmann , § 135, 5),
embora esta distinção não é sempre, observado mesmo pelos
gregos): ποιεῖζθαι μόνην(faremos morada), João 14:23 L T Tr WH (veja 1 c.
acima);ζςνυμοζίαν ( Herodes , 7, 4, 7 (3 edição, Bekker); Políbio1, 70, 6, 6, 13, 4; em
segunda instância Políbio pode mais apropriadamente ter dito ποιεῖν ), Atos
23:13 L T Tr WH , consulte 1 c. acima; λόγον , para compor uma narrativa, Atos 1:
1 ; para fazer conta, respeito, (ver λόγορ , II 2 ) Atos
20:24 ( T Tr WH , λόγος ); ἀναβολήν (vejaἀναβολή ), Atos25:17 ; ἐκβολήν (veja ἐκβο
λή , b.),Atos 27:18 ; κοπεηόν (equivalente a κόπηομαι ), Atos 8: 2(aqui L T Tr WH dar
o ativo, cf. Buttmann , § 135, 5 n.);ποπείαν (equivalente a ποπεύομαι ), Luke
13:22 (Xenofonte , Cyril 5, 2, 31;. anab 5, 6, 11; Josephus , Vita §§11
and52; Plutarco .., de solert anim, p 971 e .; 2 Mac.. 3: 8. 2Macc 12:10); κοινυνίαν ,
para fazer uma contribuição entre si e para os seus próprios meios, Romanos
15:26 ;ζποςδήν , Jude 1: 3 ( Heródoto 1, 4, 9, 8; Platão ., Legg 1 , p 628 e .;. Políbio 1,
46, 2 e muitas vezes; Diodoro 1, 75; Plutarco, puer educ 7, 13;..
outros); αὔξηζιν (equivalente aἀςξάνομαι ), para fazer aumentar, Efésios
4:16 ; δέηζιν ,δεήζειρ , equivalente a δέομαι , para fazer súplica, Lucas
05:33 ; Filipenses 1: 4 ; 1 Timóteo 2: 1 ; μνείαν ; (que ver)μνήμην (., que vê em b), 2
Pedro 1:15 ; ππόνοιαν(equivalente a ππονυςμαι ), para ter em conta, cuidar,
prever, ηίνορ , Romanos 13:14 ( Isócrates paneg. §§ 2 e 136 (pp. 52 e 93, edição
Lange); Demóstenes , p. 1163, 19; 1429, 8; Políbio 4, 6, 11; Dionísio Halicarnassus ,
Antiguidades 5, 46;Josephus , bj 4, 5, 2; Antiguidades 5, 7, 9; contra Apion 1, 2,
3;Aelian vh 12, 56; outras; cf. Kypke , observações, II, p. 187);καθαπιζμόν , Hebreus
1: 3 ( Jó 07:21 ); βέβαιονποιεῖζθαι ηί , equivalente a βεβαιοςν , 2 Pedro 1:10. II para
fazer (Latin atrás ), ou seja, a seguir um método para expressar por ações os
sentimentos e pensamentos da mente; um universalmente, com advérbios que
descrevam o modo de ação: καλῶρ , a agir justamente, fazer o bem, Mateus 00:12 ; 1
Coríntios 7:37, 38 ; Tiago 2:19 ; καλῶρ ποιεῖνseguido por um particípio
(cf. Buttmann , § 144, 15 a .; Winergramática 's, § 45, 4 a),. Atos 10:33 ; Filipenses
4:14 ; 2 Pedro 1:19 ; 3 João 1: 6 (exemplos de escritos gregos são dadas porPassow ,
sob II 1 b vol ii, p 977 {a}, (Liddell e Scott, sob a palavra, BI 3));..... κπεῖζζον , 1
Coríntios 07:38 ;θπονίμυρ , Lucas 16: 8 ; οὕηυ ( οὕηυρ ), Matthew
05:47 (R G );; Lucas 09:15 ; Lucas 00:43 ; João 14:31 ; Atos 12: 8 ; 1 Coríntios 16:
1 ; James 2:12 ; ὡρ καθώρ , Mateus 01:24 ;Mateus 21: 6 ; Mateus 26:19 ; Mateus
28:15 ; Lucas 9:54 ( T Trtexto WH omitir; Tr leitura marginal enquadra a cláusula); 1
Tessalonicenses 5:11 ; ὥζπεπ , Mateus 6: 2 ; ὁμοίυρ ,Lucas 03:11 ; Lucas
10:37 ; ὡζαύηυρ , Matthew 20: 5 .καηά ηί , Mateus 23: 3 ; Lucas 02:27 ; ππόρ ηί (ver,
para fazer de acordo com uma coisa ππόρ ., I. 3 f), Lucas 12:47 .com um particípio
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indicando que o modo de agir, ἀγνοῶνἐποίηζα , eu agi ( AV fez isso ] por
ignorância, 1 Timóteo 1:13 com o acusativo de uma coisa, e que o acusativo de um
pronome:. com ηί indefinidos 1 Coríntios 10:31 ; com ηίinterrogativa, Mateus 12:
3 ; Marcos 02:25 ; Marcos 11: 3 (não Lachmann leitura marginal); Lucas 3:12,
14 ; Lucas 6: 2 ; Lucas 10:25 ; Lucas 16: 3, 4 ; Lucas 18:18 ; João 07:51 ; João 11:47 ,
etc .; com um particípio acrescentou, ηί ποιεῖηε λύονηερ ; equivalente
a διά ηί λύεηε ; Marcos 11: 5 ; ηί ποιεῖηεκλαίονηερ ; Atos 21:13 , mas de forma
diferente ηίποιήζοςζι κηλ ;. ou seja, o que deve ser pensado a conduta daqueles que
recebem o batismo será que eles não parecem agir estupidamente? 1 Coríntios
15:29 . ηίπεπιζζόν , Mateus 05:47 ; com a relativa ὁ , Mateus 26:13 ;Marcos 14:
9 ; Lucas 6: 3 ; João 13: 7 ; 2 Coríntios 11:12 , etc .;ηοῦηο , ou seja, o que acaba de ser
dito, Mateus 13:28 ;Marcos 05:32 ; Lucas 5: 6 ; Lucas 22 : 19 (( WH rejeitam a
passagem)); Romanos 7:20 ; 1 Coríntios 11:25 ; 1 Timóteo 4:16; Hebreus 6:
3 ; Hebreus 07:27 , etc .; ηοῦηο a fornecer, Lucas 6:10 ; αὐηό ηοῦηο , Gálatas
2:10 ; ηαῦηα , Mateus 23:23 ;Gálatas 5:17 ; 2 Pedro 1:10 ; ( Ταῦηα seguido por um
adjetivo predicado Atos 15:17 f, G T Tr WH (de acordo com uma construção;
cf. RV leitura marginal, ver I. 2 c. Α acima, e cf..Γνυζηόρ )); αὐηά , Romanos 2 :
3 ; Gálatas 3:10 . Com substantivos que denotam um comando, ou alguma regra de
ação, ποιῶ significa levar a cabo, para executar ; como, ηόννόμον , em grego clássico
para fazer uma lei, Latina ferre legem , dos legisladores; mas em grego bíblico para
fazer a lei, satisfazer suas exigências, legi satisfacere , João 7:19 ; Gálatas 5: 3 ,
( Josué 22: 5 ; 1 Crônicas 22:12 ; , 2 Crônicas 14: 3 (4)) ; ηά ηοῦ νόμος , as
coisas que a lei ordena, Romanos 2:14 ; ηάρ ἐνηολάρ , Mateus 5:19 ; 1 João 5:
2 L T Tr WH ; Apocalipse 22:14 R G ; ηό Thelema ηοῦθεοῦ ;, Matthew 7 :
21 ; Mateus 12:50 ; Marcos 3:35 ; João 4:34 ; João 6:38 ; Jo 7:17 ; Jo 9:31 ; Efésios 6:
6 ; Hebreus 13:21 ; ηά θελήμαηα ηῆρ ζαπκόρ , Efésios 2 : 3 ; ηάρἐπιθςμίαρ ηίνορ , João
8:44 ; ηήν γνώμην ηίνορ ,Apocalipse 17:17 ; μίαν γνώμην ., a seguir uma única e
mesma mente (propósito) em atuar, ibid R G T Tr WH ; ηόνλόγον ηοῦ Θεοῦ , Lucas
08:21 ; ηούρ λόγοςρ ηίνορ ,Mateus 07:24, 26 ; Lucas 06:47,
49 ; ἅ ou ὁ ou ὁ , ηί etc.λέγει ηίρ , Mateus 23: 3 ; Lucas 6:46 ; João 2: 5 ; Atos
21:23; ct παπαγγέλλει ηίρ , 2 Tessalonicenses 3:
4 ; ηήνππόθεζιν , Efésios3:11 ; ηά διαηασθένηα , Lucas17:10( ηό πποζηασθεν , Sófocles
. Phil 1010); ¼ αἰηεῖ ηίρ ,João 14:13 ; Efésios 03:20 ; ¼ ἐνηέλλεηαι ηίρ , João
15:14; ηά ἔθη , Atos 16:21 . Com substantivos que descrevem um plano ou curso de
ação, para executar, realizar : ἔπγα , Tito 3: 5 ; ποιεῖν ηά ἔπγα ηίνορ , para fazer as
mesmas obras como outro, John 08:39, 41 ; ηά ππῶηα ἔπγα , Apocalipse 2:
5 ; ηά ἔπγα ηοῦ Θεοῦ , entregues por Deus para ser executada, John 10:37 f; ηό ἔπγον ,
obra a mim por Deus,João 17: 4 ; ηό ἐπγοι εὐαγγελιζηοῦ , para realizar aquilo que as
relações e deveres de uma demanda evangelista, 2 Timóteo 4: 5 ; ἔπγον ηί , para
cometer uma má ação, 1 Coríntios 5: 2 ( T WH Tr marginal leitura ππάξαρ ); plural 3
João 1:10 ; ἀγαθόν , para fazer o bem, Mateus 19:16 ; (Marcos 3: 4 Tdf. ); 1 Pedro
3:11 ; ηό ἀγαθόν , Romanos 13: 3 ; ¼ ἐάν ἀγαθόν , Efésios 6: 8 ; ηά ἀγαθά , João
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5:29 ;ηό καλόν , Romanos 7:21 ; 2 Coríntios 13: 7 ; Gálatas 6: 9 ;Tiago
4:17 ; ηά ἀπεζηά ηῷ Θεῷ , João 8:29 ; ηόἀπεζηόν ἐνώπιον ηοῦ Θεοῦ , Hebreus
13:21 ; 1 João 3:22 ; ηί πιζηόν , para realizar algo digno de um Christian (ver πιζηόρ ,
no final), 3 John 1: 5 ; ηήν δικαιοζύνην ,Mateus 6: 1 (para Rec. ἐλεημοζύνην ); 1 João
2:29 ; 1 João 3: 7, 10 (não Lachmann; Apocalipse 22:
11 G L T Tr WH );ηήν ἀλήθειαν (a agir com retidão; ver ἀλήθεια , I. 2 c),.João
3:21 ; 1 João 1: 6 ; σπηζηόηηηα , Romanos 3:12 ;ἔλεορ , mostrar-se
misericordioso, Tiago 2:13 ; com μεηάηίνορ acrescentado (ver ἔλεορ , ἐλέοςρ , 1 e 2
b.), Lucas 1:72 ; Lucas 10:37 ; ἐλεημοζύνην , Mateus 6: 2 f; plural,Atos 09:36 ; Atos
10: 2 (ver ἐλεημοζύνη , 1 e 2). cometer :ηήν ἁμαπηίαν , João 8:34 ; 1 João 3: 4,
8 ; ἁμαπηίαν , 2 Coríntios 11: 7 ; James 5: 15 ; 1 Pedro 2:22 ; 1 João 3:
9 ; ηήνἀνομίαν , Mateus 13:41 ; ἁμάπηημα , 1 Coríntios
06:18 ;ηά μή καθήκονηα , Romanos 1:28 ; ¼ οὐκ ἔξεζηιν ,Matthew 12: 2 ; Mark 2 :
24 ; ἄξια πληγῶν ; Lucas 12:48 ;βδέλςγμα , Apocalipse 21:27 ; θόνον , Mark 15:
7 ;τεῦδορ , Apocalipse 21:27 ; Apocalipse 22:15 ; κακόν ,Mateus 27:23 ; Marcos
15:14 ; Lucas 23:22 ; 2 Coríntios 13: 7 ;ηό κακόν , Romanos 13: 4 ; plural κακά , 1
Pedro 3:12 ; ηάκακά , Romanos 3: 8 . B) ποιεῖν ηί com o caso de uma pessoa
acrescentado; α .com um acusativo da pessoa: ηί ποιήζυ Ἰηζοῦν ; o que devo fazer
para Jesus? Matthew 27:22 ; Marcos 15:12 ; cf.Winer s Gramática, 222
(208); ( Buttmann , § 131, 6; Kühner, § 411, 5); Matthiae , § 415, 1 a. Β .; Também
com um advérbio,εὖ ποιῶ ηινα , para fazer bem isto é mostrar-se bom (tipo) a um
(ver εὖ , sob a final), Mark 14: 7 R G ; Também καλῶρποιῶ , Mateus
5:44 Rec. β . com um dativo da pessoa, para fazer (uma coisa) até um (a sua vantagem
ou desvantagem), raramente isso em escritos gregos (cf. Winer 's gramática e B como
acima; Kühner, como acima Anm 6.): Mateus 7:12 ;Mateus 18:35 ; Mateus
20:32 ; Mateus 21:40 ; Mateus 25:40, 45 ; Marcos 05:19, 20 ; Marcos 10:51 ; Lucas
01:49 ; Lucas 06:11 ; Lucas 08:39 ; Lucas 18:41 ; Lucas 20:15 ; João 09:26 ;João
12:16 ; João 13:12 ; Atos 04:16 ; Também com um advérbio: καθώρ , Mark 15:
8 ; Lucas 6:31 ; João 13:15 ;ὁμοίυρ , Lucas 6:31 ; οὕηυρ , Lucas 1:25 ; Lc
2:48 ;ὡζαύηυρ , Mateus 21:36 ; καλῶρ ποιεῖν ηίνι , Lucas 6:27 ; εὖ , Mark 14:
7 L Tr WH ; κακά ηίνι , para fazer o mal a um, Atos 09:13 ; ηί , o que (ou
seja, κακόν ), Hebreus 13: 6 (de acordo com a pontuação
de G L T Tr WH ); ηαῦηαπάνηα , John15:21 R G L leituramarginal; ποιεῖν ηίνι καηά ηά
αὐηά ( L T Tr WH ( Rec.ηαῦηα )), da mesma forma, Lucas 6:23: 26 . γ . ποιεῖν ηίcom
o objeto mais distante adicionado por meio de uma preposição: ἐν ηίνι (alemão um
einem ), para fazer a um, Mateus 17:12 ; Lucas 23:31 (aqui AV 'na árvore verde,'
etc);Também εἰρ ηινα , até um, John 15:21 L texto T Tr WH . C) Deus é
dito ποιῆζαι ηί μεηά ηίνορ , quando presente com e auxiliando (veja μεηά , I. 2
b. β .), Atos 14:27 ; Atos 15: 4 . D) com denominações de tempo ( Buttmann , § 131,
1), para passar, passar : σπόνον , Atos 15:33 ; Atos 18:23 ; μῆναρηπεῖρ , Atos 20:
3 ; νςσθήμεπον , 2 Coríntios 11:25 ;ἐνιαςηόν ou ἐνιαςηόν ἕνα , Tiago 4:13 (Tobias 10:
7;Josephus , Antiguidades 6, 1, 4, no final; Stallbaum em Platão..., Phileb, p 50 c, dá
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exemplos de escritos gregos (e referências; cf. também Sófocles Lexicon ', sob a
palavra 9); no mesmo sentido em Eclesiastes 6:12 (); e do latim facere :Cícero , ad
Att. 5, 20 Apameae quinque morre morati, ... Iconii decem fecimus ; Seneca , epístolas
66 (l 7, epístola 4, edição Haase.), Quamvis autem paucissimos una fecerimus
morre );alguns intérpretes trazer aqui também Mateus 20:12 eApocalipse 13: 5 .
Rec não Elz L T Tr WH ; mas nesses passagaes ver I. 1 a. acima. E) como o
Latin atrás equivalente a celebrar, manter, com o acusativo de um substantivo que
designa uma festa: ηόπάζσα , Matthew 26:18 ( Josué 5:10 , mas em Hebreus 11:28a
linguagem denota a fim de preparar, e assim, ao mesmo tempo para instituir, a
celebração da páscoa, alemãoveranstalten ); ηήν ἑοπηήν , Atos
18:21 Rec. f. equivalente a (Latin Perficio ) para executar : em oposição
a λέγειν ,Mateus 23: 3 ; para θέλειν , 2 Coríntios 8:10 f; a uma promessa, 1
Tessalonicenses5: 24 . (Compare estas expressões com πεπιποιέυ ,πποζποιέυ .)
[ Sinônimos: ποιεῖν , ππάζζειν : grosso modo, ποιεῖν pode ser dito para responder ao
latim facere ou o Inglês não, ππάζζειν a Agere ou Inglês prática ; ποιεῖνpara designar
desempenho, ππάζζειν destina-se, sério, habitual, o desempenho; ποιεῖν para denotar
uma ação meramente produtiva, ππάζζειν definitivamente ação dirigida; ποιεῖν para
apontar para um resultado real,ππάζζειν . ao âmbito e carácter do resultado em sótão
em certas conexões a diferença entre eles é grande, em outros dificilmente
perceptíveis ( Schmidt ); ver seu Syn, capítulo 23, especialmente § 11.; cf. Trench ,
NT sinônimos, § xcvi .; verde , 'nota crítica' em João 5:29 ; (cf. ππάζζυ , no início e
2). As palavras são associados em João 3:20, 21 ; João 5:29 ; Atos 26: 9,
10 ; Romanos 1: 32 ; Romanos 2: 3 ; Romanos 7:15 ff;13: 4, etc] Concordância
Exaustiva de Strong - para fazer ou fazer. Aparentemente uma forma prolongada de
um primário obsoleto; para fazer ou fazer (em uma aplicação muito ampla, mais ou
menos direta) - respeitar, + de acordo, nomear, X vingar, + unir, ser, urso, + trair, traga
(diante), lançado fora, causa, comprometer, + conteúdo, continuar, negócio, + sem
qualquer atraso, (seria) que (ing), execute, exercício, cumprir, ganho, dar, ter, ter, X
viajando, mantenha, + a tocaias, + aliviar o navio, fazer, X significa, + nenhuma
dessas coisas me movem, observar, ordenar, executar, fornecer, + ter purgado,
propósito, colocar, + levantando, X seguro, anunciai, X atirar para fora, gastar, tomar,
alcatrão, + transgredir a lei, trabalho, rendimento.
7.5. ὀπγὴν, δςναηὸν e μακποθςμίᾳ (ira, poder e paciência) – não nos deteremos muito
nestas palavras, mas elas são importantes para ressaltar a possibilidade de um debate
acerca do que significa destinar alguns vasos para a desonra. No final do capitulo 8 de
Romanos, Paulo fala do modo como o Faraó egípcio foi instrumento de Deus para sua
vontade e, sabemos pelo texto de Êxodo, que uma desgraça muito grande abateu o
Faraó e todo o Egito. Deus mostrou-se poderoso e mostrou que nada podia impedir
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sua Vontade. Para nosso debate aqui e exegese preliminar, fica claro que os vasos de
desonra receberão de Deus sua Ira (com pragas, castigos, força), verão seu poder
(insuperável) e, mesmo assim, até que isto ocorra, tem recebido a paciência de Deus,
aguardando, obviamente, que se arrependam e voltem. ὀπγὴν está no nominativo
acusativo (substantivo objeto direto em português), ou seja, como a ira impetrada por
Deus aos vasos de desonra. δςναηὸν é um adjetivo acusativo, ou seja, um Deus que
tem poder e/ou poderoso, uma qualidade intrínseca e necessária de Deus. μακποθςμίᾳ
também é um nominativo (substantivo) mas no caso dativo, ou seja, um nome para
uma caraterística também divina.
7.6. δόξηρ e ἐλέοςρ (glória e misericórdia) – do mesmo modo, Paulo fala do que os vasos
de honra receberão. Glória não é muito claro no texto, mas tem conotação de fim
honroso, ou seja, ser usado de modo magnifico para a glória de Deus e, pelo contexto,
este uso não é apenas futuro mas já no presente. A misericórdia de Deus, por sua vez,
já é exercida em sua eleição dos vasos de honra, ou seja, por meio da conversão e da
vida abundante que levam.
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8. PANO DE FUNDO HISTÓRICO CULTURAL
Já analisamos anteriormente o contexto de Roma e do propósito da carta. Aqui, a orientação
de Stuart e Fee vai em um direção um pouco diferente, que é a de analisar a influência do
pano histórico no próprio texto.
Paulo é um judeu e apóstolo aos gentios, como ele mesmo se apresenta e da forma
com se dá seu chamado em Atos 9. Os Romanos tem importância em seu ministério do ponto
de vista missionário, porque deseja chegar a capital do Império, levando ainda mais adiante os
limites de seu alcance como apóstolo aos gentios. Tem, também, importância econômica
porque podem ajudar nas necessidades dos crentes de Jerusalém, do mesmo modo que estão
auxiliando em seu ministério. Os gentios, foco de seu ministério, são nesta carta, encaixados
pela fé no plano de salvação e enxertados no tronco principal da árvore, mas os judeus de
modo algum são desprezados e preteridos.
Existe uma tensão entre as riquezas materiais e espirituais dos mundos em que o
Apóstolo transita. No entanto, a preocupação espiritual é a que sobressai. Se ele está
interessado em levantar recursos para crentes de Jerusalém, que são, sobretudo, judeus, muito
mais deseja que sejam salvos por meio da fé.
Paulo é um pregador destemido e ousado, e suas colocações são de coragem
inigualável, porque sendo judeu, não teme ser mal interpretado sobre suas conclusões tão
duras quanto ao destino dos judeus em virtude de sua desobediência. A história dos judeus,
que culminou no exílio, parece se repetir, mas agora eles têm zelo por Deus, mas não tem
entendimento (Rm 10: 1-3), o que não resolve de forma alguma o problema dos judeus com
Deus, porque tanto a salvação quanto a justiça de Deus vem apenas pela fé. De novo estão
falhando.
Não sabemos o quanto os Romanos tinham consciência de tudo o que Paulo procura
ensinar nesta carta. Mas dada sua complexidade, supomos que muitos destes ensinos são
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novos e que talvez Paulo tivesse os Romanos em altíssima conta, também do ponto de vista
do conhecimento bíblico, teológico e espiritual.
Há muitos ecos do AT em Romanos a começar em Habacuque: o justo viverá pela fé
(Hc 2: 4b). Na passagem de Romanos 9 temos, pela ordem, citações de Oséias 2: 23, Oséias
1: 10; Isaías 10: 22, 23; Isaías 1: 9; Isaías 28: 16. Afora algumas outras citações indiretas
como Deuteronômio 9, 32; 1 Reis 19; Salmos 19, 69; Isaías 29, 53, 65. Estes textos tratam
sobre a Soberania divina na criação, a necessidade da obediência pela fé, e o resultado da
presença gloriosa de Deus sobre sua criação.
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9. CARACTERÍSTICAS FORMAIS DA EPÍSTOLA
Já discutimos muitos detalhes sobre o proposito da carta de Romanos, mas aqui ainda
podemos incluir alguns detalhes importantes sobre nossa passagem especifica e detalhes da
carta também.
O trecho que analisamos é altamente teológico e explicativo. Tem caráter normativo
para a compreensão do porque os gentios são salvos e porque os judeus estão se perdendo.
Logo, misericórdia, ira, paciência, vasos de honra e desonra, são termos altamente necessários
para a compreensão do todo.
Mesmo tendo um distanciamento de Roma geograficamente e, por nunca tê-la visitado
antes, vemos de modo muito interessante a grande lista de conhecidos e amigos que Paulo tem
em Roma, logo a carta não é necessariamente o documento enviado por um estranho. Paulo
mostra relacionamento com muitos dos Romanos e mostra também conhecimento do seu dia a
dia. Romanos 16: 1-24 diz:
Recomendo-lhes nossa irmã Febe, serva da igreja em Cencréia.
Peço que a recebam no Senhor, de maneira digna dos santos, e lhe
prestem a ajuda de que venha a necessitar; pois tem sido de grande
auxílio para muita gente, inclusive para mim. Saúdem Priscila e
Áqüila, meus colaboradores em Cristo Jesus. Arriscaram a vida por
mim. Sou grato a eles; não apenas eu, mas todas as igrejas dos gentios.
Saúdem também a igreja que se reúne na casa deles. Saúdem meu
amado irmão Epêneto, que foi o primeiro convertido a Cristo na
província da Ásia. Saúdem Maria, que trabalhou arduamente por
vocês. Saúdem Andrônico e Júnias, meus parentes que estiveram na
prisão comigo. São notáveis entre os apóstolos, e estavam em Cristo
antes de mim. Saúdem Amplíato, meu amado irmão no Senhor.
Saúdem Urbano, nosso cooperador em Cristo, e meu amado irmão
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Estáquis. Saúdem Apeles, aprovado em Cristo. Saúdem os que
pertencem à casa de Aristóbulo. Saúdem Herodião, meu parente.
Saúdem os da casa de Narciso, que estão no Senhor. Saúdem Trifena e
Trifosa, mulheres que trabalham arduamente no Senhor. Saúdem a
amada Pérside, outra que trabalhou arduamente no Senhor. Saúdem
Rufo, eleito no Senhor, e sua mãe, que tem sido mãe também para
mim. Saúdem Asíncrito, Flegonte, Hermes, Pátrobas, Hermas e os
irmãos que estão com eles. Saúdem Filólogo, Júlia, Nereu e sua irmã,
e também Olimpas e todos os santos que estão com eles. Saúdem uns
aos outros com beijo santo. Todas as igrejas de Cristo enviam-lhes
saudações. Recomendo-lhes, irmãos, que tomem cuidado com aqueles
que causam divisões e colocam obstáculos ao ensino que vocês têm
recebido. Afastem-se deles. Pois essas pessoas não estão servindo a
Cristo, nosso Senhor, mas a seus próprios apetites. Mediante palavras
suaves e bajulação, enganam os corações dos ingênuos.
Todos têm ouvido falar da obediência de vocês, por isso estou muito
alegre; mas quero que sejam sábios em relação ao que é bom, e sem
malícia em relação ao que é mau. Em breve o Deus da paz esmagará
Satanás debaixo dos pés de vocês. A graça de nosso Senhor Jesus seja
com vocês. Timóteo, meu cooperador, envia-lhes saudações, bem
como Lúcio, Jasom e Sosípatro, meus parentes. Eu, Tércio, que redigi
esta carta, saúdo vocês no Senhor. Gaio, cuja hospitalidade eu e toda a
igreja desfrutamos, envia-lhes saudações. Erasto, administrador da
cidade, e nosso irmão Quarto enviam-lhes saudações. Que a graça de
nosso Senhor Jesus Cristo seja com vocês todos. Amém.
Este é o trecho que revela que Paulo conhecia uma quantidade muito grande de crentes
de Roma tendo inclusive parente lá. Mostra que já recebera ajuda de Roma e espera que esta
ajuda continue. E mostra, também, que está informado sobre problemas com falsos
pregadores e causadores de divisão que tem andado em Roma.
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10. O CONTEXTO HISTÓRICO PARTICULAR
Os Romanos são uteis ao ministério de Paulo e precisam de orientações teológicas e de
natureza prática. O principal motivo do envio desta carta à comunidade de Roma é a
apresentação de seu ―evangelho‖ a comunidade que tem como principal eixo teológico a
justificação por meio da fé conforme Habacuque 2: 4b. Do ponto de vista pratico, vemos sua
intenção de pregar o Evangelho no extremo oeste do Império, manter e ampliar as ofertas
recebidas e orientar os crentes dali quanto ao ensino falso de alguns que estavam em Roma.
Suspeitamos que judeus estivessem por lá se vangloriando de sua salvação e eleição e Paulo
procura mostrar que estão enganados. É o antigo problema dos judaizantes que provavelmente
antecederam Paulo em Roma.
Paulo previa um novo horizonte e futuro pra a igreja. Ele queria chegar até o extremo
do Império Romano. A Espanha. Roma seria colocada como lugar base do anúncio do
Evangelho, mesmo porque era a capital e centro do Império Romano. Para o pensamento
paulino o Oriente já estava evangelizado, era preciso atingir o Ocidente do Império.
Não estava nos planos de Paulo ir a Roma fundar Comunidade, pois esta já existia,
mas que Paulo ainda não visitara.
Romanos é a maior carta do Novo Testamento e a mais complexa.
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11. O CONTEXTO LITERÁRIO
Esta passagem de nossa analise é das mais criticas quanto ao conteúdo logico e bastante
controverso, mas colocado pelo Apóstolo em termos de lógica teológica. Deus é soberano e
faz seus vasos conforme sua vontade.
Ele usa linguagem extraída do AT e da tradição judaica, mas acrescenta o conteúdo da
salvação pela fé que os judeus não conseguem enxergar. Em uma conversa imaginaria, ele
antecipa os argumentos que podem surgir diante de sua afirmações e afirma que tais dúvidas
diante da Soberania de Deus não se sustentam.
O argumento da justificação pela fé, conteúdo teológico fundamental da carta, só se
sustenta por meio da Soberania de Deus e a fragilidade e debilidade humanas, ou seja, não é
possível que por qualquer obra de justiça se chegue à salvação, nem pelo esforço próprio, o
homem está destituído da glória de Deus e desconhece os caminhos e desígnios de Deus
porque é apenas um vaso de barro na mão de um Oleiro onipotente.
Os argumentos dos capítulos 6 e 7, sobre a fragilidade da Lei para salvar e da
capacidade humana de chegar à salvação, são fortalecidas pela Vida no Espirito do capitulo 8,
quando os que tem fé são feitos justiça e vitoriosos contra o pecado estando em Cristo. Deste
modo, nada resta ao homem, a não ser reconhecer a soberania e a bondade de Deus em ter
paciência com Ele e se entregar por meio do arrependimento e consagração da vida. Assim, o
argumento de que o homem é um vaso nas mãos de Deus toma todo o significado porque não
restou nada para o homem, senão apenas crer e se entregar, uma atitude totalmente passiva
diante de todas as suas impossibilidades.
Segundo Romanos 2: 4, 5 que diz: ¨Ou será que você despreza as riquezas da sua
bondade, tolerância e paciência, não reconhecendo que a bondade de Deus o leva ao
arrependimento? Contudo, por causa da sua teimosia e do seu coração obstinado, você está
acumulando ira contra si mesmo, para o dia da ira de Deus, quando se revelará o seu justo
Exegese de Romanos 9: 19-21 Introdução Bíblica 2016
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julgamento‖. Deixa claro o que Paulo já havia dito a eles, essa paciência e tolerância de Deus,
em suportar os incrédulos por muito tempo, tem como finalidade levá-los ao arrependimento.
O que Paulo está dizendo é que a razão pela qual Deus é longânimo para com os incrédulos é
porque Ele lhes está dando tempo para se arrependerem. Se não se arrependerem, eles serão
condenados.
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12. CONTEXTO BÍBLICO E TEOLÓGICO MAIS AMPLO
O contexto teológico mais amplo é o da justificação pela fé, e temos o capítulo 5 como central
neste debate. Faremos uma divisão do assunto da justificação pro alguns prismas para ampliar
o escopo do entendimento. Traremos um identificação dos argumentos deste raciocínio como
se apresentam.
12.1. Antropologicamente - A justificação pela fé é quem desencadeia todo o
argumento do texto selecionado. O fim desta justificação, pelo menos no trecho que se
segue, é a reconciliação que alcançamos em Cristo, ou por meio de Cristo. A
reconciliação é o desfazer de nossa inimizade com Deus por meio do sangue de Cristo,
ou seja, da condição de ímpios para reconciliados com Deus. Da nossa parte cabe, a
partir das tribulações, migrar da condição de ímpios para salvos, aprendendo a nos
gloriar em Deus por todo o seu amor demonstrado em Cristo. Frisamos as expressões:
fraco, ímpio e pecadores. As três formam um pano de fundo para descrever a condição
existencial do homem nascido naturalmente e vivendo sem Cristo. São expressões
fundamentais para que possamos entender a grandeza do amor de Deus e dos atos de
Cristo. O homem teologicamente é doente, moral e eticamente mal e ontologicamente
longe de Deus.
12.2. Teologicamente - Deus é o agente da ira e quem pode reivindicar do homem o
pagamento de sua dívida, assim, por amor, oferece um substitutivo para esta
exigência. No entanto, assim como exige do homem, que tenha o amor como
fundamento para suas ações, ele decide, por amor, justificar e salvar o homem. Ele não
contraria suas próprias exigências ao amar e salvar o homem, porque ¨descarrega¨
todas as suas exigências em Cristo, mas movido pelo amor, justifica e salva o homem.
12.3. Cristologicamente - Cristo é quem morre pelos maus derramando o seu sangue
para satisfazer as exigências de Deus. Sua morte é tal que ainda nos traz uma série de
outras vantagens nesta relação, como amizade, crescimento espiritual e bençãos
indizíveis. Em sua condição humana, o preço pago foi muito alto e a dor quase
Exegese de Romanos 9: 19-21 Introdução Bíblica 2016
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intolerável. A dor sofrida e o preço pago estão a altura da condição do homem de
modo inversamente proporcional, ou seja, por causa da condição profundamente
desgraçada do homem, distante de Deus, e sujeito a ira de Deus, apenas a morte da
pessoa teantrópica (Deus-homem), é capaz de reverter esta situação.
12.4. Pneumatologicamente - Derrama esperança nos nossos corações. Talvez seja
esta uma das manifestações mais intensas do paracletos, ou seja, do consolador,
derramar esta esperança no coração dos crentes. Este derramamento é espiritual,
operado de modo misterioso pelo Espirito, haja vista que o contexto da passagem que
traz inclusive a possibilidade de problemas ao longo da caminhada com tribulações,
como explicar a alegria e constância do crente? Pela presença consoladora e de
esperança do Espirito Santo.
12.5. Colocaremos aqui alguns questionamentos que surgem do ponto de vista
arminiano que julgamos interessantes:
12.5.1. Comentário ACAP: "Se o oleiro tem o direito de fazer um vaso para um fim e
outro vaso para outro fim, quanto mais Deus teria tal direito. Isso significa que
Deus tem o direito de fazer isso caso quisesse, mas não significa que Deus decidiu
agir assim." Ou seja, este comentário coloca nosso texto no campo das hipóteses.
12.5.2 ACAP afirma que os vasos são feitos vazios e tornam-se ou bens ou maus. Deus
pode mudar vasos de desonra em vasos de honra: 2 TIM 2: 20-21, jeremias 18: 1-
10; romanos 11: 17-24. Ou seja, este comentário nos dá a ideia de que um vaso
pode ser mudado em sua condição.
12.5.3. Para os arminianos o texto não fala de salvação individual, mas do povo de Israel.
Logo o vaso não são indivíduos, mas a nação de Israel.
12.5.4. Acrescentamos que o processo de exegese busca a melhor tradução e o
entendimento do trecho a luz do contexto, ou seja, há uma discussão sobre vaso
qual o uso nos textos do AT, ou seja, se são pessoas ou a nação de Israel apenas.
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Martinho Lutero comentando o verso 21, acrescenta que a importância teológica deste
texto se dá pelo fato de que, por meio das palavras do apostolo Paulo, o homem deve se dar
conta de sua condição caída, na versão em espanhol, usa a palavra apostasia, não no sentido
teológico dos que caem da graça ou se desviam (para os que admitem esta possibilidade), mas
no sentido de caídos na Queda, no Éden, destituídos da glória de Deus (Rom 3: 23).
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13. LITERATURA SECUNDÁRIA
Usaremos diversos comentários extensos e outras anotações.
13.5. Comentários de Karl Barth sobre Romanos 9: 19-21 – um representante da neo-
ortodoxia e que escreveu um longo comentário sobre toda a Epistola de Romanos.
Abaixo segue uma versão na integra do texto.
Sendo assim, o que tem ele a censurar, pois quem haveria de resistir à sua vontade? Ó
homem! Quem és tu que queres replicar a Deus? Acaso pode a obra feita perguntar ao
mestre: por que me fizeste assim? Acaso não tem o oleiro poder sobre a argila para, da
mesma massa, fazer um vaso para adorno e outro para a imundícia? [Parece-me que na
maneira de redigir do Almeida fica mais evidente do que na tradução de Almeida, que
a objeção ao direito da censura a Deus está vinculada à sua absoluta liberdade de
eleger e rejeitar, de ter misericórdia de quem quer e de endurecer a quem lhe apraz].
―Neste caso, o que tem ele a censurar, pois quem haveria de resistir à sua vontade?‖
(Almeida escreve: ―Do que se queixa ele?‖) Já conhecemos esta aproximação, [este
tipo de conversa] (3, 8; 6, 1 e 6, 15) [Ora], nenhuma ação humana contribui para o
triunfo, para a vitória de Deus; [qualquer que seja nossa reação ou nossa atitude, ela
não constituirá nem empecilho, nem contribuirá para a promoção dos desígnios de
Deus]. Concluir-se-ia, pois, que ante a absoluta liberdade de Deus e considerando que
só ele é Todo-Poderoso e, mais ainda, que o ser humano não tem qualquer
responsabilidade e, [finalmente], como o pecado é sobrepujado pela universalidade da
graça divina, então a criatura humana pode praticar, livremente, tanto o bem quanto o
mal? Esta conclusão surge infalivelmente sempre que se meditar seriamente sobre a
eternidade ou sobre o pensamento de Deus, todavia, quando esta indagação surgir
precisamos conduzir-nos com tremor e temor porque estaremos fitando a sarça
ardente, estaremos próximos de Deus; contudo a Igreja não pode deixar de levar essa
indagação a sério por considerações de ordem humana, pois de outra forma, [as
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pessoas que tomarem essa objeção por válida] poderão ser conduzidas à loucura, à
imoralidade, ao crime e ao suicídio. [Se a Igreja objetar a essa indagação,] colocará em
jogo a sua própria existência como fator [de moderação e de sal da terra] na sociedade
e no mundo. As coisas mais absurdas que podem acontecer e têm ocorrido no contexto
da proclamação evangélica, justamente nos seus pontos mais altos, não testificam
contra a verdade [anunciada], mas contra a criatura humana que não consegue suportá-
la. Naturalmente (quando dizemos ―criatura humana‖) referimo-nos a todos os homens
e não a uma ou outra pessoa que em virtude de sua força ou sua fraqueza tenha sentido
no próprio corpo, de maneira clara e especial, quão insuportável é a verdade;
(portanto, não é apenas contra Nietzsche), porém e contra a sociedade e contra o
mundo cujas organizações parecem esfacelar-se [ou desconjuntar-se] quando a ordem
divina acaso se aproxima delas. O desfecho do ―Idiota‖ de Dostoiewski ou o fim de
um Hoelderlin ou Nietzsche, a inevitável catástrofe de todos ―BATIZADORES‖
(Muck-Lamberty!), apenas tornam consternadamente claro que a criatura, em sua
presumida opulência, sua sanidade [e saúde], sua retidão, precisa morrer, [precisa
desaparecer] perante a verdade. As pessoas [que sentem o problema da eternidade de
forma crucialmente pessoal] são quais parábolas [para observação e ensino] indicando
aos demais que talvez tenham sido poupados de tão grande tentação e consequente
queda, o quanto a criatura está enferma [e fraca] perante Deus, embora esse resguardo,
provavelmente, não contribua para a celebridade deles. [A tradução inglesa escreve:
Os sofrimentos de tais pessoas, em todo caso, mostram quão grande é a enfermidade
de que os homens sofrem nas mãos de Deus]. [Em nota de rodapé a Edição Inglesa
explica que... ―Muck-Lamberty‖ foi um escândalo religioso que surgiu entre
―Movimento de Juventude‖ na Alemanha de após a primeira guerra mundial.
Hoelderlin foi poeta alemão que faleceu sofrendo das faculdades mentais, em estado
de infantilismo, (apud Delta-Larousse). Nietzsche terminou seus dias, também,
transtornado mentalmente e sentindo extrema solidão]. O que acontece com tais
pessoas é prova inconfundível de quanto a criatura humana está enferma em Deus.
Todavia não é o caso de fugir da doença (de que todos nós sofremos) por medo dos
sintomas; [afinal], as mais pavorosas aberrações e os destinos trágicos de uns poucos
ou de muitos, nada mais são do que sintomas. Não é o caso de contornar a aludida
objeção ou de não meditar seriamente sobre o pensamento de Deus. Apenas podemos
Exegese de Romanos 9: 19-21 Introdução Bíblica 2016
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praticar efetivamente o amor ao próximo mediante o amor a Deus, mas este amor a
Deus não nos permite calar a respeito do temor que a ele devemos, nem por medo dos
homens nem para lhes sermos agradáveis. Parece-nos que agora entendemos o perigo
que representa a restrição [... ―neste caso, o que tem ele a censurar?‖]. Vemos esse
perigo porque fracassamos e sempre fracassaremos de novo se quisermos falar da
liberdade, do poder e da graça de Deus de tal maneira que de nosso discurso resulte
um maior e melhor conhecimento de Deus e não uma erupção [violenta] de nossa
própria prepotência. E porque é notório que fracassamos sempre [quando queremos
arrazoar a respeito da liberdade, do poder e da graça de Deus nos termos da objeção
formulada], não nos podemos conformar com o sacrifício que a via indireta da verdade
sempre exige: a renúncia a toda argumentação lógica e insubmissa. Esta renúncia se
impõe mais fortemente justamente quando meditamos sobre os pensamentos de Deus
com seriedade absoluta. Fica, portanto, fundamentalmente assentado que a objeção
levantada não corresponde à verdade e, por isso, deve ser rejeitada. Vamos, porém,
elaborar essa rejeição, mais uma vez. ([Para as anteriores ver] 3, 5s; 6, Is; e 6, l5s). ―Ó
homem! Quem és tu que queres replicar a Deus?‖ O homem! Com isto já está dito o
que se poderia dizer contra essa objeção que ignora a infinita diferença qualitativa que
existe entre Deus e os homens. Essa crítica ajuíza entre o Criador e a criatura como se
fosse entre coisas iguais; ela fala de um Deus ao qual o homem se opõe com as
objeções de um parceiro, ainda que da parte mais fraca, imediatamente vencido,
todavia, com o direito imediato de exercer essa oposição. Essa objeção admite, senão
total, quase totalmente que a ação humana é consequente da vontade de Deus, isto é,
ela subentende que aquilo que o homem fizer está em relação a Deus em termos de
causa e efeito. Ora, isto é improcedente. O que o homem faz não pode ser relacionado
com a vontade divina nem como causa nem como efeito. Não existe nenhuma relação
direta, visível, entre a responsabilidade humana e a liberdade de Deus, mas apenas o
relacionamento indireto, inderivável, irrealizável, entre o temporal e o eterno, entre
Criador e criatura. A liberdade de Deus com relação à criatura humana não é
mecanismo que, de fora, impulsione os homens nem é a força geratriz (ou criativa) da
vida (ver 1ª Edição deste livro!), porém é a genuína origem da criatura; a liberdade de
Deus é a luz na qual os olhos da criatura brilham e sem a qual se obscurecem; ela é o
infinito a cuja dupla dimensão o ser humano é grande ou pequeno; ela é a sentença do
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juiz pela qual o homem permanece em pé ou cai. Pelas suas próprias ações o homem
não pode nem diminuir nem aumentar, nem promover nem reter a liberdade divina.
Esta possibilidade está tão fora de cogitação, pois é justamente no relacionamento
indireto da própria liberdade do ser humano com a liberdade de Deus que se
fundamenta e está garantida a relativa necessidade, a relativa seriedade e a relativa
ordenação dos homens. É o conhecimento da Liberdade de Deus, de seu Poder e de
sua Graça, que mantém a criatura ―nos trilhos‖ porque este conhecimento está
inextricavelmente interligado com o reconhecimento de que o ser humano é homem e
não Deus! É Justamente a pessoa que respeita a Deus como Deus, que não terá
motivos para essa objeção; tal pessoa nem temerá nem desejará a supressão de sua
responsabilidade; ela não enlouquecerá nem se tornará imoral, criminosa ou suicida. E
se [acaso] ela vier a ser uma destas coisas ela não as erigirá em ―sacramento‖
(Blueher) mas, mui possivelmente [as tomará] como sinal de advertência — (qual
Raskolnikoff, de Dostoiewski!) [em Crime e Castigo] — da possibilidade de
entendermos mal o mandamento que nos diz que a verdade final consiste em temer e
amar a Deus sobre todas as coisas; será [talvez] um memento de quanto, para nós, o
respeito a Deus é uma novidade que tudo [revoluciona e] põe por terra; do quanto
somos incapazes de vigiar com Cristo por uma hora, ao menos; de como nos é difícil
suportar o paradoxo de nossa existência sem recorrer a toda sorte de titanismo [de
heroísmo e de grandiosidade humana], para a satisfação de nossa sede de equilíbrio.
[Blueher, (Hans) foi um dos líderes intelectuais do ―Movimento da Juventude alemã‖,
após 1928; em 1921 publicou um tratado sobre o comportamento da sociedade
masculina, defendendo o suicídio como ―sacramento‖. Aderiu ao nazismo no tempo de
Hitler]. A pessoa que percebe que Deus é a aflição daqueles que a ele pertencem, sabe
que, em qualquer caso, tanto em sua moral quanto em sua [eventual] amoralidade ela é
digna de censura e se opõe à vontade de Deus (9, 19); ela sabe que para ela não há
qualquer compensação e que ela não encontra pretexto, nem em sua moral nem na
amoralidade para replicar a Deus, para pretender ter razão perante ele e assim se
eximir dessa aflição. Tal pessoa levará essa atribulação muito mais a sério e dessa
maneira fundamentará a conscientização de sua responsabilidade. ―Estas coisas não
são ditas para que, pela dureza de nossa cerviz e nossa indolência ponhamos em
cheque o Espírito Santo — que nos deu um pequeno lampejo de sua luz — mas para
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que entendamos que aquilo que temos, dele recebemos e para que aprendamos a
procurar tudo nele, a esperar nele, a nos reconsagrarmos a ele e a prosseguirmos ao
encalço de nossa salvação com temor e tremor‖. (Calvino). ―Acaso perguntará a obra
ao mestre: por que me fizeste assim? Acaso não tem o oleiro poder sobre a argila para,
da mesma massa, fazer um vaso para o adorno e outro para a imundícia?‖ Esta é a
situação do homem perante Deus. Prossigamos agora analisando o problema tomando
por base a conhecida parábola profética (Isa. 29: 16; 48: 9; 64: 7; [e também nos
apócrifos, o livro de] Sabedoria 15, 7). Como [interrogará] a obra ao artista e o barro
ao oleiro? Quem ousa falar ainda em dois parceiros, de dois elementos de uma série
(como causa e efeito)? Aqui, o artífice com sua intenção; acolá o material de que se
serve e ali o produto acabado. Daqui para ali, do oleiro ao barro, do artista à obra, não
há ponte de ligação, não há continuidade, O ―aqui‖ e o ―acolá‖ representam diferença
qualitativa que é incomensurável, infinita; [diferença que], embora expressa com certa
impropriedade, implica em relacionamento indireto, invisível, entre o ―aqui‖ e o ―ali‖
(ou que [por outras palavras] é uma parábola de tal relacionamento!). A despeito de
tudo quanto se puder dizer sobre a natureza do material, sobre a utilidade [do produto],
sobre a disposição, o conhecimento e o êxito do artífice ou ainda sobre a sequencia
que deve ser seguida no processo, [sobre como proceder] de passo a passo e de etapa a
etapa (conforme a 1ª Edição deste livro!) — [Sim, a despeito de tudo quanto se puder
dizer] a fim de esclarecer que o mesmo material trabalhado pelas mesmas mãos tanto
pode vir a ser um vaso de flores quanto um urino] — (que a liberdade do artista para
decidir entre este e aquele produto não se prende a concatenações de causa e efeito,)
— do ponto de vista da ―matéria prima‖ e do ―produto‖ continua faltando a explicação
do ―por que‖ de cada decisão. Assim, o homem e Deus. Deus está perante o homem
como ORIGEM e não CAUSA. Se o homem for justo, ele o é para Deus; se pecar
estará pecando contra Deus. Se o homem viver, vive na participação da vida divina e
se morrer é porque a criatura precisa morrer em Deus! Na sua existência e no seu
modo de ser a criatura não é apenas condicionada, mas, juntamente com tudo [ou
todas as coisas] que a condicionam (e que esse conjunto fosse um ―Deus‖), a criatura é
(ou seria) um ser criado. A parábola [a analogia] do ―Artífice e da Obra‖ ou do ―Oleiro
e do Barro‖, naturalmente não se estende a este ―CRIAR‖; todavia, aponta para ele. A
criatura humana está perante Deus como a realidade ante o irreal; como o ―SER‖ ante
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o ―NÃO SER‖. Qualquer argumentação sobre a justiça e sobre a liberdade da criatura
pode, quando muito, adiar o enfoque do problema da origem, da justiça e da liberdade
de Deus; o problema do começo e do fim, da criação e da redenção. A ponderação
sobre a predestinação significa a renúncia fundamental dessa procrastinação e ela se
impõe forçosamente quando Deus é reconhecido como DEUS perante todo o SER, o
TER e o AGIR da criatura humana. Deus precisa ser compreendido como o Deus de
Jacó E o Deus de Esaú; de outra forma não ficaria claro como, em toda temporalidade,
ele é o Deus de Esaú e, na eternidade, é o Deus de Jacó. Como, porém, se imporia
mais vigorosamente a ideia da responsabilidade individual do ser humano (que a
objeção (9, 19) teme ou deseja), do que pela ―assim chamada‖ relatividade
(correlação!) do ser humano perante Deus?
13.6. Comentário da CACP sobre Romanos 9: 19-24, que é uma defesa arminiana do texto
de Romanos afirmando, entre outras coisas, que a eleição narrada em Romanos 9 é
corporativa e não individual como defendem os calvinistas.
Os vasos de desonra, Prosseguindo a leitura, Paulo diz: ―Mas algum de vocês me dirá:
‗Então, por que Deus ainda nos culpa? Pois, quem resiste à sua vontade?‘ Mas quem é
você, ó homem, para questionar a Deus? Acaso aquilo que é formado pode dizer ao
que o formou: ‗Por que me fizeste assim?‘ O oleiro não tem direito de fazer do mesmo
barro um vaso para fins nobres e outro para uso desonroso? E se Deus, querendo
mostrar a sua ira e tornar conhecido o seu poder, suportou com grande paciência os
vasos de sua ira, preparados para destruição? Que dizer, se ele fez isto para tornar
conhecidas as riquezas de sua glória aos vasos de sua misericórdia, que preparou de
antemão para glória, ou seja, a nós, a quem também chamou, não apenas dentre os
judeus, mas também dentre os gentios?‖ (Romanos 9:19-24). Paulo começa refutando
um interlocutor oculto que poderia pensar que Deus é injusto por escolher uma nação
à outra, um grupo à outro, por ditar as regras do jogo. Se Deus escolheu estabelecer
um pacto com um grupo e não com outro, por que este que não foi escolhido deve ser
considerado culpado? Se não foi da vontade de Deus que ele estabelecesse um pacto
com outro povo, ninguém poderia resistir a esta vontade soberana. Paulo sabia bem as
consequências deste pensamento, pois estava prestes a concluir sua argumentação em
Exegese de Romanos 9: 19-21 Introdução Bíblica 2016
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favor da inclusão dos gentios em um Novo Pacto, a partir de uma descendência
espiritual de Abraão, ao invés de uma descendência natural. Mas, se Deus decidiu
―endurecer‖ (entregar ao endurecimento) um grupo de israelitas incrédulos e exercer
misericórdia sobre outro grupo (a descendência espiritual de Abraão, que inclui os
gentios), ele não estaria sendo injusto por isso? Paulo já havia respondido essa questão
no verso 14, dizendo que ―de maneira nenhuma‖ (v.14) Deus seria injusto por isso.
Aqui ele começa refutando este pensamento mostrando que, em primeiro lugar, não
somos nada para questionar a Deus (v.20). Em seguida, ele passa a contra argumentar
essa tese, fazendo uma analogia com o oleiro e o vaso. Se o oleiro tem o direito de
fazer um vaso para um fim e outro vaso para outro fim, quanto mais Deus teria tal
direito. Isso significa que Deus tem o direito de fazer isso caso quisesse, mas não
significa que Deus decidiu agir assim. O verso seguinte (v.22) lança mais luz ao que
Paulo estava dizendo, sobre Deus suportar com grande paciência os vasos preparados
para a destruição. Isso implica, logicamente, que Deus é longânimo para com eles,
―não querendo que ninguém pereça, mas que todos cheguem ao arrependimento‖
(2Pe.3:9). Paulo não precisou entrar mais a fundo neste ponto porque ele já havia feito
isso no capítulo 2, quando disse: ―Ou será que você despreza as riquezas da sua
bondade, tolerância e paciência, não reconhecendo que a bondade de Deus o leva ao
arrependimento? Contudo, por causa da sua teimosia e do seu coração obstinado, você
está acumulando ira contra si mesmo, para o dia da ira de Deus, quando se revelará o
seu justo julgamento‖ (Romanos 2:4,5). Em outras palavras, como Paulo já havia dito
a eles, essa paciência e tolerância de Deus, em suportar os incrédulos por muito
tempo, tem como finalidade levá-los ao arrependimento. Isso derruba a tese calvinista
de que esses vasos de desonra já estavam fadados à morte eterna. Se fosse assim, Deus
não estaria buscando levá-los ao arrependimento. O que Paulo está dizendo é que a
razão pela qual Deus é longânimo para com os incrédulos é porque Ele lhes está dando
tempo para se arrependerem. Se não se arrependerem, eles serão condenados pela
própria ―teimosia do seu coração obstinado‖ (v.5), que se recusa a se arrepender, e não
porque Deus os tenha decretado a este fim. Norman Geisler também destaca este texto
e diz: ―Essa passagem sugere que os ‗vasos de ira‘ são objeto da ira porque se recusam
a se arrepender. Eles não estão desejosos de trazer honra a Deus, de forma que se
tornam objeto da ira de Deus. Isso é evidente pelo fato de que são suportados por Deus
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com grande paciência (Rm 9.22). Isso sugere que Deus estava esperando
pacientemente por seu arrependimento‖. Laurence Vance acrescenta que ―vasos são
feitos vazios, e trazem honra ou desonra (2 Tm 2.20) conforme o que é colocado neles.
Deus não cria ninguém honroso ou desonroso‖. Em outras palavras, há a possibilidade
de que alguém que é um ―vaso de desonra‖ (um incrédulo dentre os israelitas, naquele
contexto) se torne um ―vaso de honra‖, caso se arrependa de seus pecados e creia em
Cristo. Há pelo menos outros três textos bíblicos que deixam este conceito claro. Um
deles é do próprio Paulo ao escrever a Timóteo, dizendo: ―Numa grande casa há vasos
não apenas de ouro e prata, mas também de madeira e barro; alguns para fins
honrosos, outros para fins desonrosos. Se alguém se purificar dessas coisas, será vaso
para honra, santificado, útil para o Senhor e preparado para toda boa obra‖ (2 Tim 2:
20,21) Ele não diz que este ―alguém‖ já é um vaso de honra. Ao contrário: diz
que caso se purifique dessas coisas (i.e, do pecado) será (verbo no futuro!) um vaso de
honra. Isso obviamente implica que um vaso de desonra, que hoje vive no pecado,
pode vir a se arrepender e se tornar um vaso de honra. Isso também está nitidamente
presente em um texto do profeta Jeremias, onde essa mesma analogia é feita por Deus:
―Esta é a palavra que veio a Jeremias da parte do Senhor: ‗Vá à casa do oleiro, e ali
você ouvirá a minha mensagem‘. Então fui à casa do oleiro, e o vi trabalhando com a
roda. Mas o vaso de barro que ele estava formando se estragou em suas mãos; e ele o
refez, moldando outro vaso de acordo com a sua vontade. Então o Senhor dirigiu-me a
palavra: ‗Ó comunidade de Israel, será que não posso eu agir com vocês como fez o
oleiro?‘, pergunta o Senhor. ‗Como barro nas mãos do oleiro, assim são vocês nas
minhas mãos, ó comunidade de Israel. Se em algum momento eu decretar que uma
nação ou um reino seja arrancado, despedaçado e arruinado, e se essa nação que eu
adverti converter-se da sua perversidade, então eu me arrependerei e não trarei sobre
ela a desgraça que eu tinha planejado. E, se noutra ocasião eu decretar que uma nação
ou um reino seja edificado e plantado, e se ele fizer o que eu reprovo e não me
obedecer, então me arrependerei do bem que eu pretendia fazer em favor dele‘‖
(Jeremias 18:1-10) O ponto de Paulo em Romanos 9:21-24 é exatamente o mesmo,
incluindo o uso da mesma analogia, de Jeremias 18:1-10. Deus diz que pode
remodelar os israelitas assim como o oleiro faz com o vaso de barro, dependendo das
atitudes dos próprios israelitas. Em outras palavras, se eles obedecerem a Deus, Ele os
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converterá em vasos de honra; se, porém, alguém fizer o que Deus reprova, se tornará
um vaso de desonra. Está perfeitamente claro que não havia ideia de um vaso que já
está fixamente determinado como sendo de honra ou de desonra, como se Deus tivesse
desde a eternidade definido quem estaria no Céu e quem estaria fadado ao inferno.
Nenhum vaso já estava predeterminado a ser de honra ou predeterminado a ser de
desonra. Os vasos se tornavam de honra ou desonra em função das atitudes de cada
um. Sendo assim, um vaso de honra poderia se tornar de desonra, assim como um de
desonra poderia se purificar do pecado e se tornar um vaso de honra. Vance tinha
razão quando disse que ―quando um homem está reservado, apontado, ou ordenado
para condenação, é sempre por causa de algo que ele fez, não por um decreto eterno da
reprovação‖. A analogia com os vasos de barro é completamente oposta ao que
ensinam os calvinistas. Paulo não estava de forma alguma ensinando que Deus
determinou na eternidade que alguém seria um vaso de honra e outra pessoa seria um
vaso de desonra, e que não há nada que estes vasos possam fazer para mudarem isso.
Pelo contrário: à luz do ensinamento tanto do Antigo como do Novo Testamento, tal
analogia nos mostra que Deus respeita as livres escolhas do homem para moldar ou
remodelar um vaso, de modo que tanto a conversão quanto a apostasia são possíveis.
Os vasos de honra estão ―preparados para a glória‖, se não se desviarem e se tornarem
vasos de desonra. Da mesma forma, os vasos de desonra estão ―preparados para a
destruição‖, se não se arrependerem e se tornarem vasos de honra. É este o conceito
bíblico, que difere de forma radical da teologia calvinista, onde vasos de honra e de
desonra já são definidos desde a eternidade e são conceitos fixos, imutáveis, que
jamais poderão ser remodelados para que se tornem outra coisa, contrariando
gritantemente os textos bíblicos (Je.18:1-10; 2Tm.2:20,21; Rm.11:17-24). Outro texto
que nos mostra de forma clara que o conceito de ―vaso de honra‖ ou ―vaso de
desonra‖ não é algo fixo está também na mesma epístola aos romanos. Paulo lhes
disse: ―Se alguns ramos foram cortados, e você, sendo oliveira brava, foi enxertado
entre os outros e agora participa da seiva que vem da raiz da oliveira, não se glorie
contra esses ramos. Se o fizer, saiba que não é você quem sustenta a raiz, mas a raiz a
você. Então você dirá: ‗Os ramos foram cortados, para que eu fosse enxertado‘. Está
certo. Eles, porém, foram cortados devido à incredulidade, e você permanece pela fé.
Não se orgulhe, mas tema. Pois se Deus não poupou os ramos naturais, também não
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poupará você. Portanto, considere a bondade e a severidade de Deus: severidade para
com aqueles que caíram, mas bondade para com você, desde que permaneça na
bondade dele. De outra forma, você também será cortado. E quanto a eles, se não
continuarem na incredulidade, serão enxertados, pois Deus é capaz de enxertá-los
outra vez. Afinal de contas, se você foi cortado de uma oliveira brava por natureza e,
de maneira antinatural, foi enxertado numa oliveira cultivada, quanto mais serão
enxertados os ramos naturais em sua própria oliveira?‖ (Romanos 11:17-24 ). Paulo
traça aqui outra analogia, que é muito semelhante à analogia dos vasos de barro. Ele
deixa claro, mais uma vez, que os que foram ―enxertados‖ e hoje fazem parte do
Corpo de Cristo (os vasos de honra) podem ser cortados da mesma forma que os
judeus incrédulos (vasos de desonra) foram cortados. Ele também diz que aqueles que
foram cortados (vasos de desonra) podem ser enxertados outra vez (tornando-se vasos
de honra), se não continuarem na incredulidade. O quadro comparativo a seguir ilustra
bem isso:
EM ROMANOS 9 EM ROMANOS 11
―E que direis se Deus, querendo mostrar a
sua ira, e dar a conhecer o seu poder,
suportou com muita paciência os vasos da
ira , preparados para a perdição?‖
(Romanos 9:22)
―Se não permanecerem na incredulidade,
serão enxertados; porque poderoso é Deus
para os tornar a enxertar‖
(Romanos 11:23)
―Que dizer, se ele fez isto para tornar
conhecidas as riquezas de sua glória aos
vasos de sua misericórdia, que preparou
de antemão para glória‖ (Romanos 9:23)
―Portanto, considere a bondade e a
severidade de Deus: severidade para com
aqueles que caíram, mas bondade para com
você, desde que permaneça na bondade
dele. De outra forma, você também será
cortado‖ (Romanos 11: 22)
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O problema do calvinista é que ele lê tudo de forma isolada, superficial,
desrespeitando o contexto e as regras da exegese. Se ele se preocupasse em ler o
contexto geral, iria perceber que suas interpretações distorcidas já foram refutadas há
muito tempo, pelo próprio apóstolo Paulo, e na mesma epístola aos romanos! Muita
coisa do que Paulo escreveu em Romanos 9 ele já tinha abordado antes ou voltou a
abordar depois, explicando melhor suas analogias. Mas o calvinista que tira Romanos
9 grosseiramente do seu contexto e o interpreta de acordo com as lentes da sua
teologia não percebe isso. Como consequência disso, ele comete disparates exegéticos
que não se comparam com nada na teologia. Uma leitura superficial, leviana e isolada
em Romanos 9 pode parecer algum favorecimento ao calvinismo. Uma leitura séria,
honesta e exegética refuta o próprio calvinismo. Concluindo, o apóstolo Paulo conclui
o seu pensamento em Romanos 9 da seguinte maneira: ―Que diremos, então? Os
gentios, que não buscavam justiça, a obtiveram, uma justiça que vem da fé; mas Israel,
que buscava uma lei que trouxesse justiça, não a alcançou. Por que não? Porque não a
buscava pela fé, mas como se fosse por obras. Eles tropeçaram na ‗pedra de tropeço‘‘.
Como está escrito: ‗Eis que ponho em Sião uma pedra de tropeço e uma rocha que faz
cair; e aquele que nela confia jamais será envergonhado‘‖ (Romanos 9:30-33). Como
vemos, a conclusão de todo o discurso de Paulo não era que Deus predestina um
indivíduo ao Céu e outro ao inferno, e sim que a eleição de Israel era irrevogável e que
hoje permanece no Israel da promessa, que é a descendência espiritual de Abraão, que
inclui os israelitas que creem e os gentios que creem – o que nós chamamos
de ekklesia, a Igreja, o Corpo místico de Cristo. Foi essa a conclusão de Paulo, e foi
isso o que ele argumentou ao longo de todo aquele capítulo. Nunca uma predestinação
individual à salvação ou perdição esteve em jogo em Romanos 9, pois não era este o
ponto de Paulo, não era a isso que ele queria levar. Sempre o que esteve em jogo foi a
eleição de Israel à luz da inclusão dos gentios no Novo Pacto – uma
eleição corporativa. O calvinista que tenta tirar Romanos 9 do seu contexto para
defender uma espécie de predestinação individual à salvação é ou ignorante ou
desonesto.
13.7. Visão Arminiana de Romanos 9. Aqui mais alguns debates sobre eleição corporativa
e individual.
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Romanos 9 é geralmente o texto preferido dos calvinistas. Eles sustentam que ele trata
da eleição individual para salvação – que Deus incondicionalmente escolhe salvar
certas pessoas e que incondicionalmente rejeita e endurece outras. John Piper escreve
que a interpretação calvinista de Romanos 9:11-12 foi o marco divisor de águas que o
fez se tornar calvinista. Arminianos chegam a uma conclusão diferente sobre Romanos
9. Afirmamos que ele trata da eleição da nação de Israel para cumprir propósitos
maiores de Deus. Especificamente, ele ensina como Deus é justo na maneira que tem
tratado Israel e ensina como Ele tem cumprido sua palavra da forma que os tem
tratado. O texto não é sobre a eleição individual calvinista. Paulo está perguntando se
a nação de Israel pode ser salva, e se Deus é justo na maneira que os trata como um
povo. Os judeus são salvos pela sua genealogia? Ou eles devem crer em Jesus para
serem salvos? Paulo argumenta que, embora os judeus sejam descendentes de Jacó e
Abraão, eles não são privilegiados por causa de sua ancestralidade (Romanos 9:8).
Israel tem sido abençoado como um povo, porque a salvação vem dos judeus.
Contudo, os judeus são salvos individualmente da mesma forma que os gentios –
tendo fé em Jesus (Romanos 9:31, Romanos 10: 11-13). Para entender Romanos 9,
leia todo o capítulo juntamente com Romanos 10 e 11. Melhor ainda, leia o livro
inteiro. O contexto geral é a chave para compreender a passagem. Os calvinistas
preferem citar apenas Romanos 9:10-24, porque essa é a parte que mais parece
calvinista quando lida de modo isolado. Mas Romanos 9:10-24 não deveria ser lido
sem o entendimento de todo o contexto e sem a questão que Paulo está levantando.
Este é o contexto geral: Israel confiava em sua etnia como descendente de Abraão.
Eles pensavam que, por serem filhos de Abraão segundo a carne, eram
consequentemente salvos. Paulo usa Jacó (Israel) e Esaú (Edom) para demonstrar que
a etnia não é garantia de benção. Paulo dá o exemplo de que tanto Isaque quanto Jacó
foram escolhidos para serem abençoados ao invés de Ismael e Esaú, embora todos eles
fossem filhos de Abraão e embora Ismael e Esaú fossem filhos primogênitos. Ainda
que fossem abençoados por serem descendentes de Jacó, os judeus eram salvos do
mesmo modo que os gentios – pela fé em Jesus. Apesar de os judeus serem
descendentes de Abraão segundo a carne (assim como Ismael e Esaú), eles ainda
devem crer em Jesus para serem salvos (Romanos 10:11-13). Este é o argumento de
Paulo. Paulo declara que ele está falando sobre a nação de Israel na introdução do
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capítulo 9 (negrito meu): Romanos 9:1-5: Digo a verdade em Cristo – não minto;
minha consciência o confirma no Espírito Santo – tenho grande tristeza e constante
angústia em meu coração. Pois eu até desejaria ser amaldiçoado e separado de Cristo
por amor de meus irmãos, os de minha raça, o povo de Israel. Deles é a adoção de
filhos; deles é a glória divina, as alianças, a concessão da Lei, a adoração no templo e
as promessas. Deles são os patriarcas, e a partir deles se traça a linhagem humana de
Cristo, que é Deus acima de todos, bendito para sempre! Amém. Paulo nos lembra
novamente que ele está escrevendo sobre a nação de Israel no final do capítulo 9
(negrito meu): Romanos 9:30-32 - Que diremos, então? Os gentios, que não buscavam
justiça, a obtiveram, uma justiça que vem da fé; mas Israel, que buscava uma lei que
trouxesse justiça, não a alcançou. Por que não? Porque não a buscava pela fé, mas
como se fosse por obras. A nação de Israel está sempre em foco em Romanos 9, 10 e
11. Nunca o texto é sobre eleição individual calvinista. Por isso é tão importante ler
toda a epístola de Romanos. Quando ler a parte de Romanos 9 que parece calvinista,
vá para os textos do Antigo Testamento que Paulo usa para sua argumentação. Eles
mostram que Paulo ainda está no assunto da nação de Israel, e está se referindo ao
direito de Deus de usar Israel como lhe apraz. Os versículos parecem se referir a
indivíduos numa leitura descuidada (Jacó, Esaú e Faraó), porém as referências do
Antigo Testamento indicam que os indivíduos são, na verdade, representações
corporativas de suas nações. Por exemplo, (negrito meu): Gênesis 25:23: Disse-lhe o
Senhor: ―Duas nações estão em seu ventre, já desde as suas entranhas dois povos se
separarão; um deles será mais forte que o outro, mas o mais velho servirá ao mais
novo.‖ (citado em Romanos 9:11-12). Malaquias 1:1-5: ―A palavra do Senhor a Israel,
por intermédio de Malaquias. Eu vos tenho amado, diz o Senhor. Mas vós dizeis:Em
que nos tens amado? Acaso não era Esaú irmão de Jacó? diz o Senhor; todavia amei a
Jacó, e aborreci a Esaú; e fiz dos seus montes uma desolação, e dei a sua herança aos
chacais do deserto. Ainda que Edom diga: Arruinados estamos, porém tornaremos e
edificaremos as ruínas; assim diz o Senhor dos exércitos: Eles edificarão, eu, porém,
demolirei; e lhes chamarão: Termo de impiedade, e povo contra quem o Senhor está
irado para sempre. E os vossos olhos o verão, e direis: Engrandecido é o Senhor ainda
além dos termos de Israel‖. (citado em Romanos 9:13). Jeremias 18:1-10: ―Esta é a
palavra que veio a Jeremias da parte do Senhor: ―Vá à casa do oleiro, e ali você ouvirá
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a minha mensagem‖. Então fui à casa do oleiro, e o vi trabalhando com a roda. Mas o
vaso de barro que ele estava formando estragou-se em suas mãos; e ele o refez,
moldando outro vaso de acordo com a sua vontade. Então o Senhor dirigiu-me a
palavra: ―Ó comunidade de Israel, será que eu não posso agir com vocês como fez o
oleiro?‖, pergunta o Senhor. ―Como barro nas mãos do oleiro, assim são vocês nas
minhas mãos, ó comunidade de Israel. Se em algum momento eu decretar que uma
nação ou um reino seja arrancado, despedaçado e arruinado, e se essa nação que eu
adverti converter-se da sua perversidade, então eu me arrependerei e não trarei sobre
ela a desgraça que eu tinha planejado. E, se noutra ocasião eu decretar que uma nação
ou um reino seja edificado e plantado, e se ele fizer o que eu reprovo e não me
obedecer, então me arrependerei do bem que eu pretendia fazer em favor
dele‖. (referido em Romanos 9:21). É importante perceber que na passagem de
Jeremias, Deus (o Oleiro) não decreta o que a nação fará, antes, ele primeiro observa o
que a nação faz e então a molda posteriormente, em resultado do comportamento
corporativo. Isso é o oposto de uma ―eleição individual incondicional‖. Deus muda de
ideia de como lidar com uma nação levando em conta se esta o está seguindo ou não.
Isto é particularmente relevante para o argumento de Paulo em Romanos 9. Israel não
estava seguindo a Deus como fora revelado em Cristo, e por isso, Deus (o Oleiro) vai
tratá-los como é devido. Outra coisa que requer atenção é a expressão hebraica
―aborreci‖ (usado em Romanos 9:13 e Malaquias 1:3 – ―Amei a Jacó e aborreci a
Esaú...‖). Essa expressão significa amar menos uma pessoa em comparação a outra.
Assim como temos expressões idiomáticas (por exemplo: ―está chovendo a cântaros‖),
também tinham os hebreus. Essa expressão não significa que Deus
incondicionalmente desprezou e condenou a Esaú e todos os seus descendentes.
Significa que Ele preferiu a nação de Jacó à de Esaú, e escolheu os filhos de Jacó para
a honra especial de serem da linhagem da qual viria o Messias. Jesus usa exatamente a
mesma expressão quando diz, ―Se alguém vier a mim, e não aborrecer a pai e mãe
(...)‖ (Lucas 14:26). Ele não está dizendo que você deve desprezar seus pais: isso seria
quebrar um mandamento! Ele está dizendo que em comparação com nosso amor a
Deus, o amor aos nossos pais deveria ser muito menor. O mesmo acontece com Jacó e
Esaú. Deus amava a ambos, bem como a seus descendentes. Contudo, Ele tinha
afeição especial por Jacó e seus descendentes, e, por causa de Seu propósito de salvar
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o mundo, escolheu os de Jacó aos de Esaú. No caso do Faraó, Paulo se vale dele como
uma analogia para mostrar como Deus pode tratar da nação de Israel justamente,
mesmo que Ele tenha que ―endurecê-los‖ nesse processo. Assim como Deus
endureceu a Faraó para Seus propósitos (depois de demasiado mau comportamento do
Faraó), ele tem o direito de endurecer a nação de Israel para Seus propósitos; e vemos
pela passagem de Jeremias que o endurecimento vem como uma resposta de Deus; e
não como Sua primeira preferência. Significativamente, não foi a primeira preferência
de Deus condenar a Faraó eternamente; Deus o tratou justamente, e quis que ele fosse
salvo17
. Seja qual for o sentido de Romanos 9, ele não pode dizer que Deus é um
mentiroso e não pode contradizer o sentido claro de outras passagens da Escritura. Se
Deus é amor (1 João 4:8), então não podemos usar Romanos 9 para provar que Deus
seja ódio. Esta foi a observação feita por John Wesley. Obviamente, os calvinistas não
alegam que Deus odeie ou minta, mas, pelo que vemos, a linha de raciocínio deles só
pode levar a essa conclusão. Tipicamente, quando você perguntar a um calvinista
sobre a bondade de Deus em Romanos 9, ou ele se atrapalhará ou irá considerar sua
interpretação do texto como um ―por que replicas a Deus?‖ (Romanos 9:20). Segue
aqui o que Wesley escreveu sobre essa questão: ―Esta é a blasfêmia claramente
contida no terrível decreto da predestinação! E aqui fixo os meus pés. Nesse caso me
oponho a todo defensor dela. Você representa a Deus pior do que um demônio, mais
falso, mais cruel, mais injusto. Porém, você diz que provará isto nas Escrituras.
Espere! O que provará nas Escrituras? Que Deus é pior que o demônio? Não pode ser.
Seja o que for que as Escrituras provem, nunca poderão provar isso. O que quer que
seja, este não poderá ser seu verdadeiro significado. Você pergunta: ―Qual é o seu
significado então?‖. Se eu disser ―não sei‖, você não ganhou nada, porquanto há
muitas passagens nas Escrituras das quais nunca saberemos seu significado até que a
morte seja tragada pela vitória. Mas disso sei: melhor fora dizer que não há
significado, do que sustentar um significado como esse. Não pode significar, seja o
que for, que o Deus da verdade é um mentiroso. Não pode significar que o Juiz de
todo o mundo é injusto. Nada na Escritura pode dizer que Deus não é amor ou que Sua
misericórdia não está sobre todas as Suas obras. Ou seja, o que quer que prove além
disso, nada na Escritura poderá provar a predestinação [incondicional]‖. Wesley está
17
Para mais: http://wesleyanarminian.wordpress.com/2011/03/09/the-hardening-of-pharaohs-heart/.
Exegese de Romanos 9: 19-21 Introdução Bíblica 2016
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certo. O que quer que seja a compreensão de Romanos 9, ele não pode declarar que o
Deus da verdade seja um mentiroso.
13.8. Segue agora uma visão calvinista discutindo a eleição corporativa e individual:
Romanos 9 ensina eleição individual para a salvação? Algumas reflexões exegéticas e
teológicas (Por Thomas Schreiner)18
. Uma analogia pode ajudar aqui19
. Suponha que
você diga: ―Eu vou escolher comprar um time de baseball profissional.‖ Isto faz sentido se
você então compra o Minnesota Twins ou o Los Angeles Dodgers. Mas se você faz isto,
você escolhe os membros daquele time específico sobre outros jogadores individuais em
outros times. Não faz sentido dizer: ―Eu vou comprar um time de baseball profissional‖
que não tem membros, sem jogadores, e então permite que quem desejar vir jogar no time.
No último caso, você não escolheu um time. Você tem escolhido que haja um time, a
composição do que está totalmente fora do seu controle. Então escolher um time requer
que você escolha um time entre outros juntamente com os indivíduos que o compõem.
Escolher que haja um time não implica na escolha de um grupo sobre outro, mas apenas
que um grupo pode formar em um time se eles quiserem. O ponto da analogia é que se há
realmente tal coisa como a escolha de um grupo específico, então a eleição individual está
implicada na eleição corporativa. Aqueles que esposam a eleição corporativa poderiam
contra-atacar, porém, ao enfatizar que a eleição é ―em Cristo‖ (Ef 1.4)20
. A ideia então é
que Jesus Cristo é o único a quem Deus elegeu, e ele elegeu um grupo corporativo, a
igreja, para estar em Cristo21. Forster e Marston dizem: ―Nós somos escolhidos em Cristo.
Isto não significa que nos fomos escolhidos para sermos colocados em Cristo. Isto
18
Tradução: Francisco Alison Silva Aquino. Fonte: Thomas R. Schreiner, ―Does Romans 9 Teach
Individual Election Unto Salvation? Some Exegetical And Theological Reflections‖ in Journal of the
Evangelical Theological Society JETS 36:1 (Mar 1993).
19
Esta analogia foi sugerida a mim por Bruce Ware.
20
Klein, Chosen People 179-180; Forster and Marston, God's Strategy 97 131-132.
21
Eu estou distinguindo este ponto de vista daquele de K. Barth (Church Dogmatics II.2.1-506), pois a visão
de Barth parece levar ao universalismo. A própria exegese de Cranfield (Romans 448-450) tem sido
decisivamente influenciada por Barth. P. K. Jewett eficazmente critica a visão Barthiana (Election and
Predestination [Grand Rapids: Eerdmans, 1985] 47-56).
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significa que quando nós nos arrependemos e nascemos de novo no corpo de Cristo, nós
participamos do seu povo eleito.‖22
Algumas coisas deveriam ser ditas em resposta a esta
interpretação. Primeiro, o texto não diz especificamente que Cristo foi eleito. O objeto do
verbo ―escolher‖ é ―nos‖ em Ef 1.4. É incorreto ver a ênfase na eleição de Cristo enquanto
que o verso enfatiza a eleição de pessoas.23
E desde que Ef 1.4 diz que ―nós fomos
escolhidos antes da fundação do mundo‖, não há evidência de que a escolha foi baseada
em nossa fé prevista. Afirmar (como Forster e Marston fazem) que a fé das pessoas é
decisiva inverte a ênfase do texto, pois Ef 1.4 (e tudo de 1.3-14) tem como foco a obra de
Deus, e assim inserir a fé no verso é contrabandear uma ideia que não é afirmada. Além
disso, Rm 9.11-13 confirma o que nós temos sugerido de Ef 1.4— a saber, que a fé é o
resultado de ser escolhido. Segundo, quando o texto diz ―nos escolheu nele‖ isto
provavelmente significa que Deus escolheu que a igreja experimentaria a salvação
―através de Cristo‖. Ele é o agente e a pessoa através de quem a obra eletiva de Deus se
concretizaria. Quando Deus planejou salvar alguns, ele pretendeu desde o início que a
salvação deles seria efetivada através da obra de Cristo. Terceiro, assim me parece que
aqueles que enfatizam que a eleição é ―em Cristo‖ acabam negando que Deus escolheu
um grupo corporativo em qualquer sentido significante. Tudo o que a escolha de Deus de
um grupo corporativo significa é que Deus escolheu que todo aquele que pusesse sua fé
em Cristo seria salvo. Aqueles que colocassem sua fé em Cristo seriam designados a
Igreja. Aqueles que defendem a eleição corporativa estão conscientes do fato de que é
difícil separar eleição corporativa de eleição individual, pois a lógica pareceria requerer
que os indivíduos que compõem um grupo não podem ser separados do próprio grupo.
Klein responde dizendo que isto equivale a uma imposição de categorias ocidentais
modernas sobre os escritores bíblicos24
. Ele prossegue dizendo que isto requer uma
―lógica que é alheia ao pensamento deles.‖25
Clark Pinnock também diz que a visão
arminiana é mais atrativa porque ela está ―no processo de aprender a ler a Bíblia de um
novo ponto de vista, que eu acredito que é mais verdadeiramente evangélico e menos
22
Forster and Marston, God's Strategy 97.
23 Contra M. Barth, Ephesians (AB; Garden City: Doubleday, 1974) 1.107-108.
24 Klein, Chosen People 264; cf. also p. 260.
25 Ibid. 264.
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racionalista.‖26
Aqueles que não conseguem ver como a eleição é corporativa sem também
envolver indivíduos têm sido vítimas à imposição da lógica ocidental sobre a Bíblia. Eu
devo confessar que esta objeção me parece altamente irônica. Por exemplo, Klein também
diz que não faz sentido para Deus pleitear para Israel ser salvo (Rm 10.21) se ele elegeu
apenas alguns para serem salvos27
. Mas esta objeção certamente parece ser baseada na
assim chamada lógica ocidental. Klein parece não conseguir entender logicamente como
ambos podem ser verdadeiros, e então ele conclui que a eleição individual não é crível.
Ele já considerou que ele poderia estar forçando a lógica ocidental sobre o texto e que
ambos poderiam ser verdadeiros de uma forma que nós não compreendemos totalmente?
Na verdade, alguém poderia afirmar que o foco na escolha individual como finalmente
determinante na salvação é baseada na lógica ―ocidental‖ enquanto que ela se concentra
no indivíduo e a escolha individual dele ou dela. E na mesma página que Pinnock diz que
ele está escapando do racionalismo, ele diz que ele não pode crer que ―Deus determina
todas as coisas e que a liberdade é real‖ porque esta visão é contraditória e incoerente. Ele
prossegue dizendo que ―a lógica do calvinismo consistente faz Deus o autor do mal e
lança sérias dúvidas sobre sua bondade.‖28
Esses tipos de afirmações de Pinnock
certamente parecem refletir uma dependência da lógica ocidental.‖ A maioria dos
calvinistas afirmaria que a lógica não deveria ser descartada, mas eles também afirmariam
que a relação entre soberania divina e responsabilidade humana é finalmente um mistério.
A admissão do mistério demonstra que os calvinistas não são dominados pela lógica
ocidental. Na verdade me parece que aqueles que insistem que a liberdade humana e a fé
individual deve excluir a determinação divina de todas as coisas são aqueles que acabam
subscrevendo as categorias da lógica ocidental. Meu próprio ponto de vista do papel da
lógica precisa ser esclarecido aqui de forma que o que eu tenho dito não seja mal
interpretado. A lei da não contradição não foi inventada por Aristóteles. Ela foi articulada
e defendida por ele e é característica de todo pensamento e discurso humanos. O que é
contraditório não pode ser verdadeiro. Assim, é legitimo perguntar se uma posição
teológica particular é contraditória ou ilógica. A lei da não contradição não pode ser
descartada como ocidental, em minha opinião, pois todas as pessoas intuitivamente
26 Pinnock, "Augustine" 21. Ele continua, ―É claro, haverá alguma nostalgia quando nós deixarmos para trás
logicamente e lindamente o estreito sistema de teologia determinista‖ (p. 28). 27 Klein, Chosen People 267.
28 [38] Pinnock, "Augustine" 21.
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sentem que o que é contraditório não pode ser verdadeiro. Isto explica porque Klein e
Pinnock revertem para a lei da não contradição mesmo enquanto afirmando que eles estão
se livrando da lógica ocidental. No entanto, subscrever a lei da não contradição não
significa que a lógica pode resolver todo problema na teologia. Há momentos quando a
escritura fortemente afirma duas realidades que não podem finalmente ser resolvidas por
nós. Por exemplo, as doutrinas da trindade e das duas naturezas de Cristo em uma pessoa
são construções teológicas que são corretamente derivadas da Bíblia, e ainda assim nós
não podemos finalmente explicar como pode haver três pessoas e ainda um único Deus.
Isto não significa que a doutrina da trindade é irracional. Isto significa que ela está acima
de nossas capacidades racionais. Tais mistérios deveriam apenas ser adotados se isto é
onde a evidência bíblica leva. Eu acredito que a evidencia bíblica nos compele a ver tal
mistério no caso da eleição divina e responsabilidade humana. Por um lado, um mistério
não é requerido no caso da eleição corporativa, e assim não há necessidade de postular
uma descontinuidade entre eleição corporativa e individual. Na verdade, a eleição
individual não pode ser descartada, uma vez que ela é ensinada em muitos textos (Jo 6.37,
44-45, 64-65; 10.26; At 13.48; 16.14; etc.). A exegese bíblica requer de nós, então, ver
uma mistério no caso da eleição divina e da responsabilidade humana. Romanos 9 ensina
que Deus elege indivíduos e grupos para a salvação, e ele determina quem exercerá fé. No
entanto, Rm 9.30-10.21 nos ensina que aqueles que não exercem fé são responsáveis e
deveriam ter feito assim. Como podem ambas as informações ser logicamente
verdadeiras? Nós não podemos compreender totalmente a resposta a esta questão, como
com outros mistérios na escritura nós afirmamos que nossas mentes humanas não podem
compreender adequadamente o sentido completo da revelação divina. CONCLUSAO:
Neste artigo eu explorei se duas das principais objeções a uma exegese calvinista de
Romanos 9 são persuasivas. As objeções são (1) que Romanos 9 não se refere a salvação
mas ao destino histórico de Israel e seu papel na historia temporal e (2) que a eleição
descrita em Romanos 9 não é uma eleição individual para a salvação mas é corporativa.
Eu argumentei que nenhuma das duas objeções funciona. A primeira falha porque o
contexto inteiro de Romanos 9-11 trata da salvação de Israel. Quando Paulo introduz os
capítulos em 9.1-5 ele deixa claro que ele quase estaria disposto a ser amaldiçoado porque
seus parentes de Israel não são salvos. É esta a questão da salvação de Israel (ou a
ausência dela) que informa os três capítulos. Desde que o assunto especifico que introduz
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Romanos 9-11 se refere a salvação, é bastante improvável que Paulo inserisse uma
discussão no capítulo 9 sobre as promessas terrenas dadas a Israel e então de repente volta
ao assunto principal da salvação em 9.30-11.36. A segunda objeção a leitura calvinista de
Romanos 9 também falha em convencer porque a eleição corporativa e individual são
inseparáveis. Os recipientes da obra eletiva de Deus são frequentemente referidos no
singular no capitulo 9, e a seleção de uma remanescente implica que alguns indivíduos
foram escolhidos de um grupo maior. Além disso, aqueles que defendem a eleição
corporativa afirmam que os capítulos 9 e 11 se referem ao Israel corporativo, enquanto
que Paulo fala de israelitas individuais no capítulo 10. Não há justificativa exegética para
tal mudança. Isto parece ser devido a um viés filosófico que não consegue entender como
indivíduos podem ainda ser responsabilizados se a eleição divina é verdadeira. Além
disso, aqueles que defendem a eleição corporativa são vagos em sua própria descrição do
que a eleição corporativa envolve. A forma como a eleição corporativa é definida torna
duvidoso que eles estejam descrevendo a eleição de um grupo. Eu concluo, então, que a
visão calvinista de que Deus escolheu indivíduos para serem salvos é mais convincente
exegética e teologicamente.
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Exegese de Romanos 9: 19-21 Introdução Bíblica 2016
ηιμὴν ζκεῦος, ὃ δὲ εἰς ἀηιμίαν
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14. TRADUÇÕES FINAIS E COMENTÁRIOS
Aqui, então, fazemos nossa sugestão de tradução seguindo nossos comentários anteriores.
Então, alguém poderá me perguntar? Por que Deus ainda nos culpa? Quem é capaz de
lhe resistir e ir contra a sua vontade? O que é o homem para discutir com Deus? A coisa que
foi formada pode perguntar ao que o formou: Por que me fizeste deste jeito? Ou não tem o
oleiro poder sobre o material, para do mesmo material fazer um vaso que seja para fins
honrosos e outro para fins desonrosos?
Obviamente há um pouco de interpretação na tradução que jugamos necessária para a
compreensão da ênfase que queremos dar.
14.1. Então, alguém poderá me perguntar? – a ênfase da nossa tradução está no fato de
que Paulo está se referindo a um interlocutor qualquer e não exatamente os romanos,
mas provavelmente judeus que não são capazes de entender a Soberania de Deus e a
Salvação por meio da fé.
14.2. Por que Deus ainda nos culpa? – a expressão culpa parece apropriada porque
encerra em si a responsabilidade de quem comete algo. No caso, como Deus pode
nos considerar culpados de pecado e desonra se é Ele que nos fez assim?
14.3. Quem é capaz de lhe resistir e ir contra a sua vontade? – a expressão resistir
significa não se permitir moldar, ou seja, um vaso que não poderia ser transformado
pelo oleiro, o que, como o texto nos aponta, não é possível.
14.4. O que é o homem para discutir com Deus? - o que é o homem parece melhor do
quem é o homem, uma vez que a ênfase está no fato de que o homem é algum tipo de
material nas mãos de um oleiro.
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14.5. A coisa que foi formada pode perguntar ao que o formou: Por que me fizeste deste
jeito? - coisa formada deixa o homem na condição de sua miséria com Barth colocar,
ainda que o texto grego não traga necessariamente esta versão.
14.6. Ou não tem o oleiro poder sobre o material, para do mesmo material fazer um vaso
que seja para fins honrosos e outro para fins desonrosos? – a finalidade do vaso
parece-nos a ênfase mais importante do que a aparência ou outras questões.
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15. SERMÃO OU MONOGRAFIA
Aqui é o momento em que todo nosso esforço deve gerar conhecimento para a igreja. Não
apresentaremos neste documento esta conclusão final porque precisamos tomar decisões em
sala de aula. Outras categorias do conhecimento serão exigidas aqui.
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BIBLIOGRAFIA
1. BARTH, Karl. Aos Romanos. São Paulo: Fonte Editorial, 2008, 858 pág.
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Paulo: Vida Nova, 2014, 1415 pág.
3. BRUCE, F.F. Comentário Bíblico NVI, Antigo e Novo Testamento. Editora Vida,
2012, 1561 pág.
4. ___________. Romanos - introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova, 2011, 16⁰ vol.
5. CALVINO, João. Romanos. São José dos Campos: Fiel, 2014. 603 pg.
6. CHAMPLIN, R.N. O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo. São
Paulo: Hagnos, 2001.
7. ________________. Enciclopédia de Bíblia e Teologia e Filosofia. São Paulo:
Hagnos, 2004, 7ª edição, volume 3, 935 pág.
8. DOUGLAS, J.D. O Novo Dicionário da Bíblia. São Paulo: Vida Nova, 1995, 1680
páginas.
9. GABEL, John B e WEHEELER, Charles B. A Bíblia como Literatura. São Paulo:
Edições Loyola, 1993.
10. KÖSTENBERGER, Andreas J. Convite à interpretação bíblica: tríade hermenêutica.
São Paulo: Vida Nova, 2015. 800 pág.
11. LUTERO, Martinho. Carta del Apóstol Pablo a los Romanos. Terras - Spain:
Eltropical. 467 pg.
12. OSBORNE, Grant R. A Espiral Hermenêutica - uma nova abordagem a interpretação
bíblica. São Paulo: Vida Nova, 2009.
13. SCHNELLE, Udo. Paulo: Vida e pensamento. Santo André: Paulus, 2010. 776 pág.
14. STUART, Douglas. Manual de Exegese Bíblia. São Paulo: Vida Nova, 2008. 377 pg.
15. ________________. Entender os que lês. São Paulo: Vida Nova, 2014. 336 pag.
SITES DA INTERNET
1. https://tiagolinno.wordpress.com
2. https://pt.wikipedia.org
3. http://www.cacp.org.br
4. www.youtube.com