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J Bras Pneumol. 2006;32(Supl 6):S 403-S 446 ΙΙ Diretrizes Brasileiras no Manejo da Tosse Crônica S 403 TOSSE - DEFINIÇÃO A tosse constitui um sintoma de uma grande variedade de patologias, pulmonares e extrapul- monares, e por isto mesmo é muito comum, sendo, com certeza, uma das maiores causas de procura por atendimento médico. Este sintoma produz impacto social negativo, intolerância no trabalho e familiar, incontinência urinária, constrangimento público e prejuízo do sono, promovendo grande absenteísmo ao traba- lho e escolar, além de gerar grande custo em exa- mes subsidiários e com medicamentos. Classificação Aguda: é a presença do sintoma por um período de até três semanas. Subaguda: tosse persistente por período entre três e oito semanas. Crônica: tosse com duração maior que oito semanas. FISIOPATOLOGIA Para que a troca de gases ocorra faz-se neces- sária grande mobilização de ar para o interior das vias aéreas, o que acarreta a inalação de partículas que, na dependência de seu tamanho, podem al- cançar regiões cada vez mais distais. Sabe-se que o diâmetro necessário para haver penetração das partículas na traquéia é de 10 a 20 μ, e aquelas abaixo de 2 μ podem atingir bronquíolos respira- tórios e parênquima pulmonar. Existem dois mecanismos de depuração para proteção das vias aéreas com relação à entrada de partículas procedentes do meio externo. O primeiro é o clearance mucociliar, através do qual os movi- mentos ciliares impulsionam, no sentido cranial, uma fina camada de muco com partículas a serem depuradas. A tosse, ocorrendo por meio de ato reflexo, é o segundo mecanismo envolvido neste sistema de proteção das vias aéreas inferiores, podendo ser voluntária ou involuntária. Os principais benefícios da tosse são: elimina- ção das secreções das vias aéreas pelo aumento da pressão positiva pleural, o que determina compres- são das vias aéreas de pequeno calibre, e através da produção de alta velocidade do fluxo nas vias aéreas; proteção contra aspiração de alimentos, se- creções e corpos estranhos; é o mais efetivo meca- nismo quando existe lesão ou disfunção ciliar, como acontece na mucoviscidose, asma e discinesia ciliar; proteção contra arritmias potencialmente fatais (ao originar aumento de pressão intratorácica) Ato de tossir O ato de tossir está sob controle voluntário e involuntário, e consiste das fases inspiratória, com- pressiva e expiratória, seguindo-se a fase de rela- xamento. (1) Quanto maior a fase inspiratória, maior será a eficácia da tosse. Assim, uma inspiração profunda permite um maior volume torácico e dilatação dos brônquios, o que torna mais eficiente a segunda fase. Na fase compressiva existe fechamento da glote por cerca de 0,2 segundos, e ativação do diafragma e dos músculos da parede torácica e abdominal que, aumentando a pressão intratorá- cica até 300 mmHg, comprimem as vias aéreas e os pulmões. Na fase expiratória há uma abertura súbita da glote com saída do ar em alta velocida- de, podendo atingir fluxos de até 12 L/s, ocasio- nando o som característico da tosse. O fluxo expi- ratório na última fase da tosse é gerado mesmo mediante pequenas variações de pressão positiva intratorácica. Assim, a realização da tosse efetiva pode se dar mesmo em situações nas quais sejam obtidas pressões bem abaixo das que podem ser produzidas pela musculatura expiratória. (2) Na fase de relaxamento há relaxamento da musculatura e retorno das pressões aos níveis basais. Dependen- do do estímulo, essas fases podem resultar em tosse de intensidade leve, moderada ou grave. Mecanismos de suspensão ou de diminuição da efetividade da tosse São mecanismos de supressão ou de diminuição da efetividade da tosse: a presença de anormali- dades ou alterações no arco reflexo, que podem tornar os receptores ineficazes ou pouco efetivos, principalmente após estimulação repetitiva, o que pode ser observado em crianças ou idosos que aspiraram corpos estranhos e apresentam muita tosse nos primeiros dias e depois diminuição ou cessação do ato de tossir (crianças com retardo de desenvolvimento neuropsicomotor grave e que apresentam aspiração de líquidos podem apresentar pouca tosse depois de um tempo prolongado de aspiração); uso de medicamentos sedativos e nar- cóticos; dano decorrente de aumento de pressão sobre o centro da tosse (tumores de sistema ner-

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TOSSE - DEFINIÇÃO

A tosse constitui um sintoma de uma grandevariedade de patologias, pulmonares e extrapul-monares, e por isto mesmo é muito comum, sendo,com certeza, uma das maiores causas de procurapor atendimento médico.

Este sintoma produz impacto social negativo,intolerância no trabalho e familiar, incontinênciaurinária, constrangimento público e prejuízo dosono, promovendo grande absenteísmo ao traba-lho e escolar, além de gerar grande custo em exa-mes subsidiários e com medicamentos.

ClassificaçãoAguda: é a presença do sintoma por um período

de até três semanas.Subaguda: tosse persistente por período entre

três e oito semanas.Crônica: tosse com duração maior que oito

semanas.

FISIOPATOLOGIA

Para que a troca de gases ocorra faz-se neces-sária grande mobilização de ar para o interior dasvias aéreas, o que acarreta a inalação de partículasque, na dependência de seu tamanho, podem al-cançar regiões cada vez mais distais. Sabe-se queo diâmetro necessário para haver penetração daspartículas na traquéia é de 10 a 20 µ, e aquelasabaixo de 2 µ podem atingir bronquíolos respira-tórios e parênquima pulmonar.

Existem dois mecanismos de depuração paraproteção das vias aéreas com relação à entrada departículas procedentes do meio externo. O primeiroé o clearance mucociliar, através do qual os movi-mentos ciliares impulsionam, no sentido cranial,uma fina camada de muco com partículas a seremdepuradas. A tosse, ocorrendo por meio de atoreflexo, é o segundo mecanismo envolvido nestesistema de proteção das vias aéreas inferiores,podendo ser voluntária ou involuntária.

Os principais benefícios da tosse são: elimina-ção das secreções das vias aéreas pelo aumento dapressão positiva pleural, o que determina compres-são das vias aéreas de pequeno calibre, e através daprodução de alta velocidade do fluxo nas viasaéreas; proteção contra aspiração de alimentos, se-creções e corpos estranhos; é o mais efetivo meca-

nismo quando existe lesão ou disfunção ciliar, comoacontece na mucoviscidose, asma e discinesia ciliar;proteção contra arritmias potencialmente fatais (aooriginar aumento de pressão intratorácica)

Ato de tossirO ato de tossir está sob controle voluntário e

involuntário, e consiste das fases inspiratória, com-pressiva e expiratória, seguindo-se a fase de rela-xamento.(1)

Quanto maior a fase inspiratória, maior será aeficácia da tosse. Assim, uma inspiração profundapermite um maior volume torácico e dilatação dosbrônquios, o que torna mais eficiente a segundafase. Na fase compressiva existe fechamento daglote por cerca de 0,2 segundos, e ativação dodiafragma e dos músculos da parede torácica eabdominal que, aumentando a pressão intratorá-cica até 300 mmHg, comprimem as vias aéreas eos pulmões. Na fase expiratória há uma aberturasúbita da glote com saída do ar em alta velocida-de, podendo atingir fluxos de até 12 L/s, ocasio-nando o som característico da tosse. O fluxo expi-ratório na última fase da tosse é gerado mesmomediante pequenas variações de pressão positivaintratorácica. Assim, a realização da tosse efetivapode se dar mesmo em situações nas quais sejamobtidas pressões bem abaixo das que podem serproduzidas pela musculatura expiratória.(2) Na fasede relaxamento há relaxamento da musculatura eretorno das pressões aos níveis basais. Dependen-do do estímulo, essas fases podem resultar emtosse de intensidade leve, moderada ou grave.

Mecanismos de suspensão ou de diminuição daefetividade da tosse

São mecanismos de supressão ou de diminuiçãoda efetividade da tosse: a presença de anormali-dades ou alterações no arco reflexo, que podemtornar os receptores ineficazes ou pouco efetivos,principalmente após estimulação repetitiva, o quepode ser observado em crianças ou idosos queaspiraram corpos estranhos e apresentam muitatosse nos primeiros dias e depois diminuição oucessação do ato de tossir (crianças com retardode desenvolvimento neuropsicomotor grave e queapresentam aspiração de líquidos podem apresentarpouca tosse depois de um tempo prolongado deaspiração); uso de medicamentos sedativos e nar-cóticos; dano decorrente de aumento de pressãosobre o centro da tosse (tumores de sistema ner-

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voso central e hipertensão intracraniana); doençasneuromusculares, pela menor capacidade de mo-bilizar o ar na fase inspiratória, e comprometimentoda musculatura respiratória expiratória; cirurgiasabdominais e torácicas; anomalias da laringe comineficácia de abertura da glote (paralisia de cor-das vocais); e ineficácia de abertura da glote porprocedimentos médicos (traqueostomia, tubo na-sotraqueal).

O mecanismo de produção de tosse pode seralterado, acarretando redução da velocidade defluxo e de pressões necessárias para que se torneum real mecanismo de defesa das vias aéreas.

Outro importante fator determinante da eficáciada tosse é a velocidade do fluxo aéreo produzidona fase expiratória. A remoção do muco dependetambém da obtenção de elevada velocidade do gás,que pode atingir aproximadamente 2.500 cm/s, oque favorece a suspensão de partículas do mucono lúmen da via aérea. Propriedades reológicasdo muco podem também interferir na capacidadede mobilizá-lo pela tosse.(3)

Anatomia e neurofisiologia do reflexo da tosseO reflexo da tosse envolve cinco grupos de com-

ponentes: receptores de tosse, nervos aferentes, cen-tro da tosse, nervos eferentes e músculos efetores.

O mecanismo da tosse requer um complexoarco reflexo iniciado pelo estímulo irritativo emreceptores distribuídos pelas vias aéreas e em lo-calização extratorácica. O início deste reflexo dá-sepelo estímulo irritativo que sensibiliza os recepto-res difusamente localizados na árvore respiratória,e posteriormente ele é enviado à medula.

Os receptores da tosse podem ser encontradosem grande número nas vias aéreas altas, da laringeaté a carina, e nos brônquios, e podem ser esti-mulados por mecanismos químicos (gases), me-cânicos (secreções, corpos estranhos), térmicos (arfrio, mudanças bruscas de temperatura) e infla-matórios (asma, fibrose cística). Também podemapresentar receptores para tosse a cavidade nasale os seios maxilares (nervo trigêmio aferente), afaringe (nervo glossofaríngeo aferente), o canalauditivo externo e a membrana timpânica, a pleura,o estômago (nervo vago aferente), o pericárdio ediafragma (nervo frênico aferente), e o esôfago.(4)

Os receptores de tosse não estão presentes nosalvéolos e no parênquima pulmonar. Portanto, umindivíduo poderá apresentar uma pneumonia alve-

olar com consolidação extensa, sem apresentar tosse.Os impulsos da tosse são transmitidos pelo

nervo vago até um centro da tosse no cérebro quefica difusamente localizado na medula. Até hojenão se conhece o local exato do centro da tosse.(6)

O centro da tosse pode estar presente ao longo desua extensão, já que ainda faltam evidências sig-nificativas capazes de definir sua localização pre-cisa no encéfalo (Figura 1).(3)

Os receptores da tosse pertencem ao grupo dosreceptores rapidamente adaptáveis, que representamfibras mielinizadas, delgadas e contribuem para acondução do estímulo, mas ainda permanece nãoesclarecido seu potencial de indução de bronco-constricção.(5-6)

Os receptores rapidamente adaptáveis têm a ca-racterística de sofrerem rápida adaptação perante ainsuflação pulmonar mantida por cerca de 1 a 2 se-gundos, e são ativados por substâncias como trom-boxane, leucotrieno C4, histamina, taquicininas, me-tacolina e também pelo esforço inspiratório e expira-tório com a glote fechada. Agem sinergicamente comoutros subtipos de nervos aferentes para gerar tosse.

Receptores de adaptação lenta ao estiramentotambém participam do mecanismo da tosse de for-ma ainda não definida.(7)

Outro grupo de nervos aferentes envolvidos nomecanismo da tosse é o composto pelas fibras C,as quais não são mielinizadas, possuem a capaci-dade de produzir neuropeptídeos, têm relativa in-sensibilidade à distensão pulmonar e se ativam peloefeito da bradicinina e da capsaicina. Terminaçõesdas fibras C brônquicas ou pulmonares mediambroncoconstricção. No entanto, o real papel dasfibras C na fisiopatologia da tosse tem sido alvode discussões na literatura, já que o transporte dosestímulos da tosse ocorre preferencialmente atravésde fibras mielinizadas.(8) Há indícios de que as fi-bras C brônquicas possam inibir o reflexo da tosse.Os receptores rapidamente adaptáveis interagemcom estas fibras, que geram inflamação neurogê-nica em resposta ao seu próprio estímulo (ácidocítrico, tabagismo, bradicinina) e, por sua vez,passam a liberar taquicininas, as quais ativam osreceptores rapidamente adaptáveis. Este ciclo in-duz tosse na dependência do grau de ação nestesreceptores, já que mediante estímulo leve poderápotencializá-la por mecanismo local e, sendo omesmo mais intenso, pode inibi-la por ação reflexacentral.(9)

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Em regiões basais do epitélio respiratório en-contram-se terminações nervosas, principalmentedo tipo sensitivas, capazes de mediar inflamaçãoneurogênica e liberar neuropeptídeos (taquicininas)como a substância P, neurocinina A e peptídeorelacionado ao gene da calcitonina, que acarre-tam, além das conseqüências relacionadas ao pro-cesso inflamatório, a produção de tosse.(9)

Mecanismos inflamatóriosAs principais causas de tosse crônica podem

guardar entre si a característica comum de haverenvolvimento inflamatório incidindo nas vias aéreas.Isso foi verificado pela existência de maior númerode mastócitos e eosinófilos nos pacientes não as-máticos e com tosse crônica do que nos controlesutilizados. Foi também observada elevada concen-tração de eosinófilos em lavado broncoalveolar nosportadores de tosse variante da asma e nos asmá-ticos propriamente ditos, quando comparados aogrupo controle.(10)

A inflamação da mucosa brônquica tem sidoconfirmada também por biópsia nos portadores detosse crônica sem correlação com as etiologias maiscomuns, como asma, doença do refluxo gastreso-fágico, síndrome do gotejamento pós-nasal, bron-quite crônica, bronquiectasias ou uso de inibidoresda enzima conversora de angiotensina. Diante danegatividade da investigação para as causas maiscomuns, de acordo com as previamente mencio-

nadas, deve-se considerar a possibilidade de seincluir, dentre os diagnósticos diferenciais, a bron-quite eosinofílica, tosse variante da asma e a bron-quite linfocítica, por ordem de freqüência. Em taispatologias indutoras de tosse crônica está presenteo componente inflamatório, com predomínio eo-sinofílico ou linfocítico, na dependência da etio-logia.(11)

Destarte, a fisiopatologia da tosse crônica reúneum grupo de anormalidades que interferem nodelicado arco reflexo, ativando receptores de fi-bras aferentes, notadamente relacionadas ao nervovago. Os receptores rapidamente adaptáveis e asfibras C modulam a resposta com participação decentros mais elevados, ainda pouco definidos.

As vias aéreas são freqüentemente colocadasem contato com elementos estranhos ao seu meio.Por isso, o papel da resposta inflamatória brôn-quica é identificável e preponderante para o en-tendimento desse importante sintoma que, possi-velmente, se correlaciona à lesão epitelial comconseqüente exacerbação da sensibilidade das ter-minações nervosas aos estímulos.(11) No entanto,esta afirmativa ainda carece de maior comprovação.

Ressaltamos que a compreensão dos mecanismosfisiopatológicos auxilia na realização do diagnósticodiferencial dentre as diversas causas de tosse, bemcomo no estabelecimento do planejamento tera-pêutico, o que favorece a obtenção de melhoresrespostas clínicas.

Figura 1 - Anatomia do reflexo da tosse

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TOSSE AGUDA

Apesar da falta de estudos prospectivos comgrande casuística, a experiência clínica indica queas maiores causas de tosse aguda são as infecçõesvirais das vias aéreas superiores, em especial o res-friado comum, e das vias aéreas inferiores, comdestaque para as traqueobronquites agudas.(12)

Outras causas comuns são as sinusites agudas,exposição a alérgenos e irritantes, e exacerbaçõesde doenças crônicas como asma, doença pulmonarobstrutiva crônica (DPOC) e rinossinusites. Alémdessas entidades com baixo risco de complicações,outras doenças potencialmente graves comopneumonias, edema pulmonar por insuficiência ven-tricular esquerda, embolia pulmonar e exacerba-ções graves de asma e DPOC podem manifestar-secom tosse aguda e, ao contrário das causas ante-riores, necessitam de intervenção precoce devidoao risco de complicações (Quadro 1).

A seguir descrevermos as características dasprincipais causas de tosse aguda.

Resfriado comumO diagnóstico é altamente sugestivo em paci-

entes com doença das vias aéreas superiores carac-terizada predominantemente por tosse, sintomasnasais como rinorréia mucosa ou hialina, espirros,obstrução nasal e drenagem pós-nasal de secre-ções, concomitantes a lacrimejamento, irritação dagarganta, ausculta pulmonar normal, com ou semfebre.(13)

Na etiologia estão envolvidos mais de 200 vírus,em especial rinovírus, coronavírus, parainfluenza,vírus respiratório sincicial, adenovírus e enterovírus.

Quanto à fisiopatogenia, há gotejamento nasalposterior e aumento da sensibilidade dos recepto-res aferentes das vias aéreas inflamadas.

Com relação à propedêutica, em estudos tomo-gráficos o acometimento dos seios da face aproxi-ma-se de 80%, e as alterações usualmente são indis-tinguíveis daquelas da sinusite bacteriana.(14) Estasanormalidades resolvem-se espontaneamente emmenos de vinte dias, inclusive nos casos com ní-veis hidroaéreos. Por este motivo, não são indica-dos estudos de imagem, especialmente radiografiados seios da face, na primeira semana de resfriado.

Os anti-histamínicos de primeira geração asso-ciados a descongestionantes de longa duração sãoos medicamentos mais eficazes para o tratamen-

to.(15) Antitussígenos periféricos, expectorantes emucolíticos têm pouco valor no tratamento da tos-se aguda.(16-17) Os antibióticos não devem ser usa-dos de rotina, apesar da grande dificuldade de di-ferenciação entre resfriado e sinusite bacteriana, edesta complicar o resfriado em 1% a 5% dos casos.

Traqueobronquite agudaA traqueobronquite aguda é responsável por

mais de 10 milhões de consultas médicas por anonos EUA. Apesar de todos os avanços na área dasaúde, persiste como um dos maiores motivos deuso desnecessário de antibióticos.

O diagnóstico provável dá-se com o pacientecom infecção respiratória aguda manifestada predo-minantemente por tosse, com ou sem expectoração,que pode ou não ser purulenta, com duração in-ferior a três semanas, e sem evidência clínica e/ouradiológica de resfriado comum, sinusite, exacer-bação da DPOC ou crise de asma.(18)

A etiologia é viral na maioria dos casos, espe-cialmente por influenza A e B, parainfluenza evírus respiratório sincicial. Em menos de 10% dasbronquites agudas são identificadas bactérias enestes casos as mais comuns são o Mycoplasmapneumoniae, Chlamydophila pneumoniae e oca-sionalmente a Bordetella pertussis.

Quadro 1 - Etiologia da tosse aguda Doenças com baixo risco de complicações e morte

Resfriado comumSinusite agudaGripeRinite, laringite, traqueíte e faringiteBronquite agudaExacerbação de doença pré-existentes- crise leve de asma- bronquiectasia- exacerbação leve da DPOC- rinossinusopatiasExposição a alérgenos ou irritantes- ambientais ou ocupacionaisDrogas- inibidores ECA, β-bloqueadores

Doenças com alto risco de complicações e mortePneumoniaCrise grave de asma ou DPOCEdema pulmonar por IVEEmbolia pulmonar

DPOC: doença pulmonar obstrutiva crônica; ECA: enzimaconversora da angiotensina; IVE: insuficiência ventricularesquerda.

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A traqueobronquite aguda pode causar obs-trução do fluxo aéreo e hiperresponsividade brôn-quica transitórias, com duração inferior a seis se-manas, em até 40% dos pacientes.

Quanto ao tratamento, não existe medicaçãoeficiente para a tosse da bronquite aguda. Os an-titussígenos têm pequeno efeito e os mucolíticosnão são indicados.(16) Broncodilatadores podem serúteis se houver indícios clínicos ou funcionais deobstrução do fluxo aéreo. Estão indicados os ma-crolídeos em situações especiais como epidemiaspor atípicos e/ou quadro clínico sugestivo de co-queluche, contato com infectados, tosse emeti-zante e guincho, com duração de sintomas inferiora duas semanas.

Sinusite agudaA rinossinusite aguda viral é pelo menos vinte

vezes mais freqüente do que a bacteriana e ambassão causas comuns de tosse aguda.(19) O acometi-mento dos seios da face é comum nos resfriados,gripes e exacerbações das rinites. A rinossinusitebacteriana complica de 1% a 5% das infecçõesvirais de vias aéreas superiores.

A suspeita de rinossinusite bacteriana deveocorrer quando os sintomas de uma virose das viasaéreas superiores pioram após o quinto dia oupersistem por mais de dez dias.(19-20)

A presença de dois ou mais sinais maiores oude um sinal maior e dois menores são altamentesugestivos de sinusite aguda.(21-22) São sinais maio-res: cefaléia, dor ou pressão facial, obstrução oucongestão nasal, secreção nasal ou pós-nasal pu-rulenta, hiposmia ou anosmia, e secreção nasal oupós-nasal purulenta ao exame. São sinais menores:febre, halitose, odontalgia, otalgia ou pressão nosouvidos e tosse.

O valor da radiografia de seios da face é con-troverso. Ela não é acurada para várias regiões daface, tem pouca utilidade para diferenciar infecçãobacteriana de viral ou alterações alérgicas, e baixarelação entre custo e benefício, mesmo nos casosem que existe dúvida diagnóstica após história eexame físico.(19,23)

Não há necessidade de tratamento da sinusiteviral que apresenta sintomas leves e resolução es-pontânea. Para as sinusites bacterianas preconiza-seamoxacilina por sete a dez dias. Dependendo daresistência local, evolução e uso prévio de antibió-ticos, podem ser usados amoxacilina com clavula-

nato, macrolídeos, cefalosporina de segunda ge-ração e até quinolonas respiratórias (moxifloxaci-na e levofloxacina).(23) A solução salina isotônicaou hipertônica e os vasoconstrictores sistêmicospodem ser usados por poucos dias. Os corticoste-róides orais devem ser reservados para casos maisgraves, com grande edema das mucosas e por curtoperíodo de tempo, inferior a sete dias.

GripeO diagnóstico da gripe não é difícil quando o

paciente apresenta síndrome aguda caracterizadapor manifestações constitucionais como febre alta,calafrios, prostração, fadiga, mialgia, cefaléia, sin-tomas de vias aéreas superiores e inferiores, comdestaque para tosse e coriza, e sintomas ocularescomo lacrimejamento, fotofobia e hiperemia dasconjuntivas. Em algumas situações pode ser difícildiferenciar a gripe da sinusite bacteriana aguda epneumonia, principalmente quando há rinorréia e/ou expectoração purulenta. Em caso de dúvida,deve-se realizar hemograma, dosagem de proteí-na-C e exames de imagens para esclarecimento dodiagnóstico.

As causas mais importantes da gripe são os ví-rus influenza A e B, especialmente em surtos epi-dêmicos.

O tratamento é fundamentalmente sintomático,com hidratação oral e uso de antitérmicos e anal-gésicos. Anti-histamínicos de primeira geraçãoassociados a descongestionantes podem ser úteisnos casos de tosse com drenagem pós-nasal. An-titussígenos e anti-inflamatórios têm pouco valorterapêutico.

Exacerbação de doença pré-existenteNa avaliação do paciente com tosse aguda é

fundamental identificar, através da história clínica,exame físico e quando necessário de propedêutica,casos de tosse devidos a crise de asma, exacerbaçãoda DPOC, bronquiectasias infectadas e descontrolede rinossinusopatia.

As exacerbações da DPOC devidas a traqueo-bronquites bacterianas caracterizam-se pela piorada dispnéia, mudança do aspecto do escarro parapurulento e aumento do volume da expectoração.Na DPOC leve ou moderada, em pacientes compoucas exacerbações por ano, os agentes etiológi-cos mais freqüentes são: Haemophilus influenzae,Streptococcus pneumoniae e Moraxella catarrhalis.

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Nos pacientes graves, com co-morbidades ou muitasexacerbações, predominam as infecções por Gram-negativos entéricos, pseudomonas e S. pneumoniaeresistente a penicilina.(24)

O tratamento da exacerbação infecciosa daDPOC inclui o uso de broncodilatadores, corticos-teróides, oxigênio e antibióticos. O uso racionalde antibióticos na traqueobronquite da DPOC ba-seia-se na sua gravidade, presença de co-morbi-dades e número de exacerbações por ano:(24) qua-dro leve a moderado, sem outras co-morbidades epoucas exacerbações por ano - β-lactâmico asso-ciado a inibidor de β-lactamase, cefuroxima oumacrolídeo; quadro leve a moderado, com co-morbi-dades ou muitas exacerbações por ano - antibióticosanteriores mais moxifloxacino, levofloxacina, outelitromicina; quadros graves, com ou sem co-mor-bidades e com muitas exacerbações por ano - mo-xifloxacino, levofloxacina, gatifloxacina ou cipro-floxacino (suspeita de pseudomonas).

Exposição a fatores irritantes ou alérgicosNa avaliação de pacientes com tosse aguda é

fundamental pesquisar a exposição a fatores alér-gicos, ambientais ou ocupacionais que tenhamrelação temporal com o início ou piora da tosse.O afastamento da exposição, quando não houverdoença respiratória pré-existente, como asma ourinite, pode tornar desnecessário o uso de medi-camentos para controle dos sintomas.

Uso de medicamentos capazes de causar tosseÉ essencial identificar o uso de medicamentos

capazes de causar tosse como os inibidores daenzima conversora da angiotensina (captopril, ena-lapril, etc) e os beta-bloqueadores. Os primeiros,por causarem tosse irritativa, sem expectoração em10% a 20% dos seus usuários, que geralmente édiagnosticada antes de três semanas de uso. E osβ-bloqueadores, inclusive na forma de colírios, porpiorarem a obstrução das vias aéreas de pacientescom asma ou DPOC, e causarem tosse com ou semdispnéia e chiado.

Em geral, a tosse causada por medicamentosmelhora em poucos dias após a suspensão dosmesmos. Quando necessário, deve-se utilizar bron-codilatadores e/ou corticosteróides.

Doenças potencialmente gravesAs doenças potencialmente graves, como pneu-

monia, edema pulmonar cardiogênico, crise gravede asma ou DPOC, e embolia pulmonar, geralmentenão são difíceis de serem diagnosticadas quandocausam tosse, uma vez que raramente se manifes-tam isoladamente por este sintoma. O sucesso domanejo depende da instituição de propedêuticaadequada e terapia específica para cada doença.

Tosse subagudaNo Ι Consenso Brasileiro sobre Tosse realizado

em 1997, tosse com duração superior a oito se-manas era classificada como crônica.(13) Aplican-do-se o algoritmo de manejo proposto o sucessoterapêutico chegava a mais de 90% (Quadro 2).

No Consenso Norte-Americano de Tosse publi-cado em 2006 foi proposta nova classificação naqual a tosse com duração superior a três e inferiora oito semanas foi definida como tosse subagu-da.(12) Os autores deste documento destacam aausência de publicações sobre a etiologia da tossesubaguda e reafirmam que as orientações de ma-nejo são baseadas na opinião de seus integrantes.

Segundo a diretriz norte-americana, uma dascausas mais comuns de tosse subaguda é a tossepós-infecciosa, ou seja, aquela que acomete paci-entes que tiveram infecção respiratória recente enão foram identificadas outras causas. Uma vezafastada a etiologia pós-infecciosa, o manejo seráo mesmo da tosse crônica.

Tosse pós-infecciosaO diagnóstico é realizado por exclusão, e de-

vem ser considerados três aspectos fundamentais:(3)

tosse com duração superior a três e inferior a oitosemanas; avaliação clínica detalhada sem identifi-cação de uma causa; história de infecção das viasaéreas nas últimas três semanas.

A fisiopatogenia é multifatorial, com extensainflamação e lesão epitelial das vias aéreas, comou sem hiperresponsividade transitória. Outros fa-tores que podem contribuir são a drenagem pós-nasal, acúmulo de secreções nas vias aéreas infe-riores e agravamento de refluxo gastresofágicodevido a alterações no gradiente pressórico tóraco-abdominal durante a tosse.

A etiologia relaciona-se, em geral, a infec-ções virais, ocasionalmente após infecções porB. pertussis, M. pnuemoniae e C. pneumoniae.

A tosse em geral é auto-limitada e resolve-seem poucas semanas. Não há tratamento específico.

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Deve-se considerar o uso de brometo de ipratró-pio e corticosteróides por via inalatória.(20) Em ca-sos mais intensos, com grande repercussão na qua-lidade de vida, deve-se testar o efeito de predni-sona ou prednisolona a 30 a 40 mg por dia, porcinco a sete dias.(25) O uso de antibióticos deve serreservado para casos em que haja alta probabili-dade de infecção bacteriana, como nos surtos detraqueobronquite por micoplasma. Diante de umcaso de coqueluche, só se justifica o uso de ma-crolídeo se a tosse tiver duração inferior a catorzedias (tosse aguda).

HISTÓRIA CLÍNICA E EXAME FÍSICO DOPACIENTE COM TOSSE CRÔNICA

Uma história clínica cuidadosa permite um diag-nóstico clínico na maioria das vezes, sem a neces-sidade de investigação adicional ou de tentativasterapêuticas, sendo esta anamnese e o exame físi-co a primeira etapa na investigação da tosse crô-nica. Estes dois instrumentos têm sido úteis nodiagnóstico da tosse em até 70% dos casos.(26-27)

No Brasil, dois estudos relatam valores semelhan-tes, um em um centro terciário(28) e outro em umhospital geral.(29)

A história de tabagismo e a quantidade e ca-racterísticas da expectoração devem ser muito bemdetalhadas. A tosse crônica em fumantes de cigarroé dose-relacionada(30) e pode ser acompanhada deexpectoração mucóide ou mucopurulenta, como

TOSSE AGUDA - Duração inferior a três semanas História e exame físico minuciosos. Exames propedêuticos em situações especiais. 1α questão - Doença potencialmente grave ou não? Etiologia:

Doenças com baixo risco de complicações e morte - resfriado, gripe, sinusite aguda, traqueobronquitesagudas, rinite, exposição a alérgenos e irritantes, medicamentos, exacerbações de asma, DPOC erinossinusites.Doenças com maior risco de complicações ou morte - exacerbações graves de asma, DPOC ourinossinusites, pneumonia, edema pulmonar cardiogênico e embolia pulmonar.

TOSSE SUBAGUDA - Duração entre três e oito semanas História e exame físico minuciosos. Exames propedêuticos em situações especiais. 1α questão - Pós-infeciosa ou outra causa? Etiologia:

Pós-infecciosa - história recente de virose.Outras causas - as clássicas da tosse crônica como asma, síndrome das vias aéreas superiores(rinossinusites), doença do refluxo gastresofágico e bronquite eosinofílica, e doenças broncopulmonaresevidenciadas pela história clínica, exame físico e/ou exames de imagens.

Quadro 2 - Algoritmo da tosse aguda e subaguda

resultado da bronquite crônica, ou pode ser secacomo resultado dos efeitos irritantes da fumaçado cigarro.

Exames de função pulmonar podem revelar si-nais de obstrução ao fluxo aéreo. A produção devolumes significativos (mais de uma xícara por dia)de expectoração pode sugerir algumas patologias.A mais comum delas é a bronquiectasia, em quefreqüentemente as secreções são purulentas e rela-cionadas com a mudança postural. O exame físicopode revelar baqueteamento digital, halitose e es-tertores localizados ou difusos, além de sinais deobstrução ao fluxo aéreo. O diagnóstico destascausas de tosse produtiva é normalmente direto, eestratégias para intervenção e tratamento estãobem definidas.(31)

A tosse seca ou pouco produtiva é um dosmaiores desafios diagnósticos. Uma história deterapia com inibidores de enzima de conversão daangiotensina ocorre apenas em até 15% de paci-entes usuários de enzima de conversão da angio-tensina que desenvolvem tosse seca logo após oinício da terapia.(32) A tosse normalmente diminuicom a cessação do tratamento, mas a resoluçãocompleta pode demorar vários meses e pode per-sistir em uma pequena minoria de pacientes porlongo tempo.

A infecção respiratória de vias aéreas superioresé acompanhada freqüentemente por tosse quenormalmente diminui rapidamente com o passardo tempo.(33-34) Porém, em indivíduos previamente

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hígidos, esta tosse seca pode persistir por longotempo após a infecção.(35)

Vários estudos mostraram que em indivíduosnão fumantes, com radiografia de tórax normal eque não estejam utilizando enzima de conversãoda angiotensina, a tosse normalmente é ocasionadapor três condições, asma, rinossinusite ou a doençado refluxo gastresofágico, e duas causas podemestar presentes no mesmo indivíduo.(36-37) Sintomassugestivos destas doenças podem estar ausentes,mas importantes informações na história freqüente-mente não são reconhecidas. Alterações no examefísico são raras nestes pacientes com tosse crônica.

Dispnéia, opressão no peito, chiado e cansaçofácil, além da tosse, sugerem fortemente o diag-nóstico de asma, mas estes sintomas podem estarcompletamente ausentes e esta condição denomi-na-se, então, tosse variante de asma. Variabilidadedo pico de fluxo nas medidas diárias e exacerbaçãonoturna são sinais muito sugestivos desta condição.

A tosse pode ser estimulada pelo exercício e/ou contato com ar frio, mas isto também acontececom pacientes não asmáticos. O chiado pode serencontrado no exame físico, mas freqüentementeé ausente nos pacientes com tosse variante deasma. No Brasil, um estudo não encontrou relaçãoentre as respostas positivas a um questionário detosse e o tratamento em pacientes com tosse varian-te de asma.(38)

A presença de rinossinusite pode ser sugeridapor uma história de obstrução ou congestão na-sais, rinorréia, espirros, secreção purulenta, dorfacial e drenagem retronasal (sensação de secre-ções que gotejam por trás da garganta). O exameda faringe pode revelar eritema, um “atapetamento"da mucosa da faringe posterior e a presença desecreção mucóide ou purulenta. Infelizmente,muitos sinais e sintomas faríngeos também acon-tecem na doença do refluxo gastresofágico.

A doença do refluxo gastresofágico pode sersuspeitada quando da presença de sintomas comodispepsia e azia, mas recentemente são reconhe-cidos também sintomas como voz rouca e afonia.O refluxo normalmente é causado por relaxamentopassageiro do esfíncter inferior do esôfago.(35) As-sim, a tosse pode acontecer durante ou após asrefeições ou mesmo quando o indivíduo mantéma posição supina, dobrando-se ou inclinando-se.A tosse normalmente diminui durante o sono e aose adotar uma postura vertical. O ato de falar ou

rir muito pode precipitar o refluxo e a tosse. Adoença do refluxo gastresofágico é mais comumem pacientes com sobrepeso ou obesos emboranão se restrinja a eles.

Os sintomas sugestivos de asma, rinossinusiteou doença do refluxo gastresofágico estão pre-sentes em cerca da metade dos pacientes que pro-curam uma clínica especializada.(37) Embora a tos-se possa ser o único sintoma presente nestas con-dições,(39-40) não devemos deixar de realizar umahistória detalhada e exame físico completos.

IMPACTO NA QUALIDADE DE VIDA

A qualidade de vida, no que se refere estrita-mente à saúde orgânica, e principalmente quantoàs manifestações respiratórias, suscita que se con-siderem vários ditames essenciais para o bem es-tar do indivíduo. Adicionalmente se sabe que atosse é a queixa respiratória que conduz mais fre-qüentemente o indivíduo a atendimento médico.

Quatro estudos longitudinais(41-44) documenta-ram que a tosse constitui uma das causas maisimportantes de subversão da qualidade de vidahumana. Além desses quatros trabalhos, neste cor-rente ano, publicou-se excelente revisão sobrecomplicações da tosse.(45)

Em ordem cronológica, o primeiro estudo ci-tado foi o Sickness Impact Profile, publicado em2002,(4¹) o qual enfatizou queixas não específicaspara certas doenças ou disfunções e, em contra-partida, utilizou um critério no qual se quantificavao desempenho das atividades usuais de cada dia.As disfunções relacionadas com doenças, em paci-entes com tosse crônica, é mais provavelmente psi-cológica em sua patogenia.(42) Enquanto o SicknessImpact Profile não tiver sido testado psicotecni-camente para qualificar os efeitos da tosse, essedocumento, que utilizou a intervenção “com tra-tamento", antes e depois, deixa a conclusão deque a tosse crônica estava associada a uma deterio-ração significativa na qualidade de vida do pacien-te, e que a disfunção relacionada à doença era maisprovavelmente devida a fatores psicológicos.(43)

O segundo estudo utilizou um questionáriovalorizando a qualidade de vida e foram identifi-cadas as 28 razões mais comuns que conduziamo paciente a procurar o atendimento médico porcausa da tosse.(42) Configurou-se uma ferramentaconfiável e válida na avaliação do impacto da tosse

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aguda e crônica em adultos, e um método válidopara se determinar a eficácia de esquemas de tra-tamento da tosse crônica.

A comparação dos escores do questionárioobtidos de tossidores crônicos e agudos mostrouque, enquanto os escores eram similares entre si,eles eram, ambos, significativamente mais altos doque aqueles do grupo controle e fumantes quenão se queixavam da tosse.

Comparando-se com os indivíduos controles,os pacientes com tosse crônica queixavam-se sig-nificativamente mais de: sintomas físicos (porexemplo, perda do apetite, tontura, sudorese, rou-quidão, dispnéia, insônia, dores no corpo e exaus-tão); sintomas psicossociais (“a família não con-segue tolerá-los", dificuldade de falar ao telefone,embaraço, perturbação porque outros pensam quehaja algo errado); perturbação no desempenhofuncional (por exemplo, ausências prolongadas dehabilidades para certas atividades, dificuldade deengajar-se em grupos e por isso obrigados a mu-dar o estilo de vida); eventos que afetavam adver-samente seu bem estar emocional (por exemplo,temor excessivo de contrair tuberculose ou sín-drome da imunodeficiência adquirida); sintomasfísicos importantes (por exemplo, enjôo no estô-mago e vômitos); e temores pessoais de insegu-rança e hipocondria (temor de possuir algumadoença grave).

O terceiro estudo, realizado em Leicester, quese dedicou à avaliação psicométrica, foi válido enão introduziu alterações significativas.

O quarto estudo, que dispôs de grupo controlecom fumantes que não tossiam, revelou que asmulheres com tosse crônica mais freqüentementeprocuravam o médico e temiam estar doentes porrazões menos graves do que os homens.

Em conjunto, as mulheres em geral apresen-tam limiar para surgimento da tosse mais baixoque os homens. As mulheres com tosse crônicasão inclinadas a procurar mais atendimento médicodo que os homens, porque parecem ser mais atentaspor apresentarem desconforto por incontinênciaurinária, o que provoca repercussão psicossocialcomo, por exemplo, temor de engravidar.

ASMA E TOSSE

A asma é uma das principais causas de tosse crô-nica em adultos não tabagistas (24% A 29%).(27, 46)

Usualmente a tosse é acompanhada de disp-néia e chiado no peito em pacientes com asma,entretanto, em alguns indivíduos, a tosse podeser o único sintoma da doença. Esta condição éconhecida como tosse variante de asma (TVA).(46)

O reconhecimento da TVA no diagnóstico dife-rencial de tosse crônica, portanto, é muito impor-tante, embora seus mecanismos fisiopatológicosainda não sejam completamente entendidos.

Pacientes com TVA parecem ser um subgrupodistinto de asmáticos, com também distintas ca-racterísticas.(46)

Estes indivíduos apresentam receptores da tossemais sensíveis a diferentes substâncias inaladasquando comparados a asmáticos e pessoas nor-mais,(47-48) porém demonstram um grau de hiper-responsividade à metacolina menos intenso do queo observado em pacientes com asma.(49)

As alterações inflamatórias das vias aéreas depacientes com TVA são semelhantes às encontradasna asma: infiltração eosinofílica e espessamentosubepitelial da mucosa brônquica, provocandoremodelamento das vias aéreas.(10, 50-51)

O fator de crescimento endotelial vascular éum dos mais potentes indutores da proliferaçãocelular endotelial, além de aumentar a permeabili-dade vascular de proteínas plasmáticas, contribu-indo para a fisiopatogenia da asma. Um estudorecente, com o objetivo de examinar os níveis defator de crescimento endotelial vascular em paci-entes com TVA, analisou amostras de escarro in-duzido de doze controles, dezesseis pacientes comTVA e dezesseis pacientes com asma. Observou-seque os níveis de fator de crescimento endotelialvascular foram significativamente maiores nos por-tadores de asma e TVA quando comparados aoscontroles. Além disso, foram significativamentemaiores em asmáticos do que em pacientes comTVA, podendo ser esta a diferença responsável pelascaracterísticas distintas das duas patologias, já queo processo inflamatório é similar.(52)

Os pacientes com TVA freqüentemente apre-sentam exame físico e função pulmonar normais.O diagnóstico de TVA pode ser feito através deum teste de broncoprovocação com metacolinapositivo, mas o diagnóstico definitivo somenteocorrerá após resolução da tosse com um trata-mento específico para asma.(46, 53)

Alguns autores, com o objetivo de comparar aprevalência e o nível de resposta máxima de platô

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à metacolina na TVA e asma, estudaram 83 pacien-tes com TVA e 83 pacientes com asma. Observaramque os níveis de resposta máxima das vias aéreas,na curva dose-resposta da metacolina, foram sig-nificativamente menores em portadores de TVAquando comparados aos asmáticos. Pacientes comTVA apresentam com mais freqüência um platô nacurva dose-resposta da metacolina. Os asmáticosapresentam um estreitamento progressivo das viasaéreas, sem platô.(54)

O tratamento de pacientes com TVA é seme-lhante ao utilizado na asma. Uma melhora parcialé obtida com o uso de broncodilatadores inalató-rios, mas a resolução completa da tosse, usual-mente, ocorre após oito semanas de tratamentocom corticóide inalatório.(46, 55)

Em pacientes com TVA grave e/ou refratária aotratamento inicial com corticóide inalatório, umcurso curto de corticóide oral deve ser instituído,seguido do uso de corticóide inalatório.(46, 53)

A hiperresponsividade das vias aéreas à meta-colina e a sensibilidade do reflexo da tosse à cap-saína foram examinadas em vinte pacientes comTVA. Três dos oito pacientes que não utilizaramcorticóide inalatório por longo prazo desenvolve-ram asma. Nenhum dos doze pacientes que utili-zaram corticóide inalatório apresentou a doença.A concentração de estímulo necessária para pro-vocar uma queda do volume expiratório forçadoao final do primeiro segundo de 20% em relaçãoao seu basal aumentou de 1,80 para 10,7 mg/mlem pacientes que utilizaram corticóide inalatório(p = 0,0171), mas não se alterou em pacientes quenão estavam em tratamento. A concentração decapsaína necessária para provocar cinco ou maisepisódios de tosse não se modificou após o usode corticóide inalatório. Os autores concluíram queo corticóide inalatório reduz a hiperresponsivida-de das vias aéreas, sem alterar a sensibilidade doreflexo da tosse.(56)

Os antagonistas dos leucotrienos parecem tam-bém ser efetivos no tratamento da TVA. Algunsautores, com o objetivo de verificar a eficácia domontelukaste no tratamento da TVA, avaliaramcatorze pacientes que receberam a droga ou pla-cebo por quatro semanas. Evidenciaram que a fre-qüência da tosse melhorou de forma significativaa partir da segunda semana de tratamento commontelukaste. Ao final do estudo, a porcentagemmédia de melhora da tosse em relação ao basal foi

de 75,7% no grupo do montelukaste e 20,7% nogrupo do placebo.(57)

Pacientes com tosse crônica devem ser sempreinvestigados para a possibilidade diagnóstica deasma, já que esta é uma condição relativamentecomum em que a tosse costuma estar presente.Muitas vezes, a tosse é o único sintoma encontra-do nestes doentes.

ÓXIDO NÍTRICO EXALADO NOALGORITMO DE INVESTIGAÇÃO DE TOSSE

O óxido nítrico tem sua concentração no ar exa-lado elevada em pacientes com asma, bronquiecta-sias e infecção viral aguda. Essa fração diminui como uso de corticosteróides, refletindo redução dainflamação. Paralelamente, a inflamação das viasaéreas é um evento comum em pacientes com diag-nóstico de tosse crônica que têm asma, rinossinusi-te, refluxo gastresofágico e tosse por enzima deconversão da angiotensina como causa básica.

A medida da concentração de óxido nítrico no arexalado tem sido sugerida como um método simplese não invasivo de monitorar a inflamação no tratorespiratório, e também por um possível papel no diag-nóstico clínico de algumas situações clínicas.(58-59)

Como o diagnóstico final da causa de tosse ge-ralmente requer procedimentos invasivos ou inter-vencionistas, a mensuração do óxido nítrico no arexalado tem sido considerada como uma ferramentapotencialmente útil para a identificação da causabásica da tosse, principalmente quando esta não étão evidente.

Estudando 38 pacientes não fumantes com tossecrônica, 44 asmáticos e 23 controles sadios, algunsautores(59) encontraram valores de óxido nítrico noar exalado significativamente mais altos naqueles ca-sos em que a asma foi a causa final atribuível aossintomas, quando comparada aos controles sadios ecasos não asmáticos. A sensibilidade e a especifici-dade do método para detectar asma usando 30 ppbcomo ponto de corte foram de 75% e 87%, respec-tivamente. Os valores preditivos positivo e negativoforam de 60% e 93%. A conclusão foi a de quevalores baixos de óxido nítrico no ar exalado pratica-mente excluem o diagnóstico de asma, o que revelaseu potencial papel no diagnóstico de tosse crônica.

A European Respiratory Society inseriu a medidado óxido nítrico no ar exalado no seu algoritmodiagnóstico de tosse crônica.(53)

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TOSSE EM DOENÇA PULMONAROBSTRUTIVA CRÔNICA

A suspeição clínica de doença pulmonar obs-trutiva crônica (DPOC) baseia-se na simultaneidadede exposição ambiental (fumaça do cigarro é oprincipal agente) e sintomas respiratórios (sendoa tosse o mais freqüente e importante). A confir-mação é feita com a realização da espirometria,cujas alterações confirmam e estadiam a doença.(60)

Um dos principais motivos que levam um pacientecom DPOC ao médico é a tosse crônica, permitindoentão o diagnóstico da doença. Nesta situação omelhor e mais eficiente tratamento é o abandonodo tabagismo ou da exposição ambiental, causa-dores da doença, o que leva cerca de 90% dosindivíduos a melhorarem o quadro de tosse.(61)

Pacientes com tosse crônica devem ser inves-tigados intensivamente para se definir um diagnósti-co. Tosse e produção de escarro na maior parte dosdias, por no mínimo três meses em pelo menos doisanos consecutivos, exposição a irritantes da via aéreapelo tabagismo (cigarros, charutos, cachimbo, etc),tabagismo passivo, exposição a agentes nocivos notrabalho (fumaça, vapores, etc) ou em domicílio(fogão a lenha, por exemplo) levam ao diagnósticode bronquite crônica, na ausência de outras doen-ças respiratórias ou cardíacas capazes de causar tossecrônica. Nesta situação a espirometria serve paradefinir o diagnóstico de DPOC e estadiar a doença.Outros exames, como a radiografia de tórax, ser-vem para afastar co-morbidades.

Primeira afirmação: o afastamento do tabaco oudos agentes irritantes causadores de DPOC é o me-lhor tratamento da tosse destes pacientes (nível deevidência: bom; benefício: elevado; nível de reco-mendação A).

Em pacientes já diagnosticados e em acompanha-mento por DPOC, o surgimento de tosse crônica oumudança na característica da tosse usual obrigam-nos a buscar o diagnóstico causal. Deve-se lembrarde situações associadas à doença de base e que omesmo agente etiológico de DPOC o é também docâncer de pulmão,(62) de laringe e de esôfago. Deve-seressaltar a maior incidência de refluxo gastresofágico,tanto pela faixa etária quanto pelo maior número demedicamentos (também outra causa freqüente de tos-se crônica) ingeridos pelos pacientes. Quadros infec-ciosos virais ou bacterianos também aparecem comdestaque como desencadeantes freqüentes.

Segunda afirmação: em pacientes com DPOCestável o aparecimento de tosse crônica ou a mu-dança de sua característica determinam necessi-dade de investigar doenças associadas como agen-tes etiológicos, sendo que o refluxo gastresofági-co, a síndrome do gotejamento pós-nasal, o usode medicamentos e neoplasia são os principaiscausadores.

A tosse provocada pela exacerbação de DPOCdeve ser avaliada pela presença (aumento do vo-lume) e pela qualidade (purulência) do escarro,bem como pelo grau de piora da dispnéia (critériosde Anthonisen). Havendo a presença de pelo me-nos dois dos três critérios de Anthonisen o uso deantibióticos está correto. O uso de corticóide oralou injetável está indicado em exacerbações mo-deradas e graves.

Os antibióticos, broncodilatadores inalados ecorticóides são úteis no tratamento das exacerba-ções, porém seus efeitos sobre a tosse não têmsido avaliados de modo sistemático. Nesta situa-ção, os trabalhos científicos não demonstram vanta-gem no uso de expectorantes, drenagem postural,fisioterapia e uso de teofilina.(63)

Em DPOC estável, trabalhos mostram que o usode β2 agonistas de curta duração inalados, bro-meto de ipratrópio, teofilina oral e associação deβ2 agonistas de longa duração e corticóide inala-tório podem melhorar a tosse. O uso de brometode ipratrópio inalado reduz a tosse e diminui ovolume de produção do escarro.(64)

O uso de β2 agonistas de curta duração nãoparece interferir na tosse do paciente, porém atuana melhora da dispnéia. O uso da associação β2agonistas de longa duração e corticóide inaladoestá indicado em pacientes com doença grave ecom exacerbações freqüentes. O brometo de tio-trópio atua como broncodilatador, não tendo, apa-rentemente, efeito sobre a tosse.(64) A teofilina emDPOC estável parece diminuir a tosse e pode serempregada, com os cuidados para se evitar toxici-dade e efeitos adversos, devendo porém ser evita-da na exacerbação, pelo risco de eventos adversosser maior que o possível benefício.(65)

O uso profilático de antibióticos, corticóideoral, expectorantes, drenagem postural e fisiote-rapia respiratória não demonstraram efetividadeno controle da tosse na DPOC e não são indica-ções para controle e redução da tosse nessespacientes.

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O uso de expectorantes na tosse da DPOC nãoencontra respaldo na literatura médica, e deveser evitado. Alguns mucolíticos como a acetilcis-teína demonstram possíveis efeitos benéficos nouso em longo prazo. Com relação aos antitussí-genos, existe a necessidade de separarmos aque-les pacientes cuja etiologia da tosse não podeser completamente curada, como nos casos decâncer sem possibilidade cirúrgica, por exemplo,nos quais o uso de antitussígenos não específi-cos (só para bloquear a tosse) é imperativo, da-queles em que o tratamento da causa leva aodesaparecimento da tosse, nos quais o uso deantitussígenos não específicos é desnecessário ouse dá por tempo muito curto. O uso de antitussí-genos (codeína e dextrometorfano) em geral nãoestá indicado, e quando for necessário, deve serutilizado por curto espaço de tempo. O uso deagentes pró-tussígenos (solução salina hipertô-nica, amilorida) talvez tenha um efeito positivoem doenças como fibrose cística, por exemplo,porém novos estudos precisam comprovar estapossibilidade. A drenagem postural e a fisioterapiarespiratória não parecem demonstrar capacidadede modificar a tosse na DPOC.

Terceira afirmação: o tratamento da exacerba-ção deve ser dirigido preferencialmente à elimina-ção do agente causal e à recuperação do estadopré-exacerbação, sendo o tratamento da causa datosse a regra, e sua inibição a exceção.

Leis para tornar espaços públicos e ambientesde trabalho livres do cigarro devem ser estimula-das, pois existe comprovação científica de que otabagismo passivo é capaz de causar tosse e pro-dução aumentada de escarro, e estes sintomas sãode intensidade proporcional à exposição.

EXAMES SUBSIDIÁRIOS

Testes de função respiratóriaO estudo da função respiratória é antigo. O

primeiro trabalho notório sobre o assunto foi pu-blicado em Londres, Inglaterra, em 1846, porJohn Hutchinson, cerca de meio século antes dapublicação dos princípios da radiologia e eletro-cardiografia.(66)

A avaliação da função pulmonar constitui im-portante componente do arsenal propedêutico atual,permitindo, além do próprio diagnóstico, a abor-dagem da história natural de uma determinada

patologia respiratória ou sistêmica, a classificaçãoda sua gravidade e a resposta ao tratamento insti-tuído. Sinais e sintomas pulmonares, entre eles atosse, têm a causa freqüentemente esclarecida atra-vés do estudo da função respiratória.

Na investigação de um paciente com tosse, umacuidadosa história clínica pode fornecer impor-tantes pistas para o diagnóstico, sem necessidadede exames complementares. Quando há necessi-dade destes, os testes de função respiratória sãocolocados logo após o estudo radiológico na hie-rarquia da seqüência de abordagem diagnóstica.(53)

Os testes mais úteis são a espirometria com provabroncodilatadora, os testes de provocação brôn-quica e o pico de fluxo expiratório seriado.

Espirometria (prova de função pulmonar)A espirometria, indispensável na avaliação da

fisiologia respiratória, é um teste que mede quantoum indivíduo inspira ou expira volumes de ar emfunção do tempo, devendo ser parte integrante daavaliação de pacientes com sintomas respiratórios.(67)

Vários estudos(28-46) mostram que em significativaparte dos casos de tosse crônica de causa não apa-rente a etiologia é a asma. Na espirometria, a detec-ção de obstrução ao fluxo aéreo que desaparece oumelhora significativamente após o uso de broncodi-latador indica o diagnóstico de asma.(68) Cabe salien-tar que quando a reversão da obstrução é completa,o diagnóstico de asma é feito com segurança.

A variação significativa após o uso do bronco-dilatador, sem que, no entanto, seja atingida a nor-malidade, também é indicativa de asma. Por outrolado, pacientes com doença pulmonar obstrutivacrônica podem, também, apresentar este compor-tamento de resposta funcional.(69) A própria doençapulmonar obstrutiva crônica é uma das causas detosse crônica, sendo este o sintoma mais encontra-do na mesma.(70-71) Um estudo brasileiro apresentousensibilidade de 50% e especificidade de 90% naseparação de pacientes com asma e com doençapulmonar obstrutiva crônica, com volumes expira-tórios forçados no primeiro segundo (VEF1) iniciaissemelhantes, tendo como ponto de corte sugestivopara asma o aumento de 10% no VEF1 em relaçãoao valor previsto de referência.(72) Deve-se lembrarque alguns asmáticos, principalmente com grauextremo de obstrução, podem não responder agu-damente ao broncodilatador.

O distúrbio ventilatório obstrutivo não é exclusivo

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da asma e da doença pulmonar obstrutiva crônica.Outras doenças que causam tosse, como a sarcoido-se, podem apresentar limitação ao fluxo aéreo.(73)

A espirometria normal não exclui asma, sendoindicada a broncoprovocação na seqüência diagnós-tica. Um achado relativamente freqüente em espiro-metria normal é a presença de resposta significativaao broncodilatador (em normais, a variação do VEF1

é considerada significativa quando igual ou acimade 10% do valor previsto), a qual sugere aumentodo tônus broncomotor. Nesta situação, em pacientescom correlação clínica positiva, pode ser inferido odiagnóstico de asma. Entretanto, na vigência de es-pirometria basal normal, ao invés da prova bronco-dilatadora, deve ser preferido o teste de provocaçãobrônquica para a confirmação diagnóstica.(69)

Testes de provocação brônquicaEstes testes medem a resposta das vias aéreas

quando expostas a agentes farmacológicos inala-tórios que causam broncoespasmo, como metaco-lina, carbacol e histamina. Uma resposta bronco-constritora limitada é esperada em qualquer pessoahígida, mas em um paciente asmático esta respostaé exagerada, sendo indicativa de hiperresponsivi-dade das vias aéreas. Por definição, a hiperres-ponsividade brônquica é a resposta broncocons-tritora exagerada a um estímulo broncoconstri-

tor.(74) A hiperresponsividade brônquica tambémpode ocorrer em pacientes com quadro de infec-ção respiratória, rinite alérgica e em tabagistasassintomáticos.

O exame consiste na inalação de concentra-ções crescentes do fármaco broncoconstritor, sendoconsiderado positivo quando a queda do VEF1 atin-ge 20% do valor inicial. A variável principal é adose cumulativa da substância que levou a estedecréscimo funcional (PD20). Uma alternativa é oteste de provocação brônquica por esforço, parao diagnóstico de asma induzida por exercício, sen-do considerada positiva, neste caso, a queda igualou acima de 10% do VEF1 em relação ao valorinicial.(74-75)

Outra variável que pode ser aferida no teste deprovocação é a queda do FIF50%, preconizadapara o estudo de hiperresponsividade de vias aé-reas extratorácicas. Quando ela for maior que 25%,o teste é considerado positivo. O teste positivo érelacionado com a presença de doenças crônicasdas vias aéreas superiores (laringite, faringite, rinitee/ou sinusite).(76) Ainda é questionado se essas pa-tologias causam ou são conseqüências deste tipode hiperresponsividade.(77)

A realização do teste de provocação é preconi-zada na suspeita de asma como etiologia da tosse,principalmente naqueles pacientes com históriaclínica compatível, quando outros exames, emparticular a espirometria, não estabeleceram oueliminaram o diagnóstico.(74-75, 78)

O valor preditivo positivo do teste é elevado,mas a confirmação diagnóstica só ocorre após amelhora clínica com o tratamento da asma, vistoque outras causas de tosse (tabagismo, rinossinu-site, refluxo gastresofágico, bronquiectasias) tam-bém podem apresentar positividade no exame.(46, 74)

O teste também apresenta alto valor preditivonegativo, ou seja, a ausência de queda significati-va do VEF1 praticamente exclui a hipótese deasma.(46,74-75,78) Em um paciente com teste negati-vo, e com melhora da tosse em posterior trata-mento com corticóide inalado, o diagnóstico maisprovável é bronquite eosinofílica não asmática.(74, 79)

Pico de fluxo expiratório seriadoO registro seriado do pico de fluxo expiratório

permite a detecção de variações temporais desteparâmetro. A variabilidade do pico de fluxo expira-tório intradiária maior que 15% é característica de

TosseAguda Subaguda CrônicaExacerbação exacerbação doença associada neoplasia pulmão

laringeBronquite sinusopatia esôfagoaguda bronquiectasiaGripe/resfriado pós-infecciosa HRB

Bronquiolite resp.Refluxo, SGPN,Inib. ECA

persistência de tabagismo

Quadro 4 - Algoritmo em pacientes com diagnóstico de DPOC

Quadro 3 - Algoritmo em pacientes com diagnóstico de DPOC Tosse Aguda Subaguda Crônica

tosse Suspeitar de DPOC expectoração

dispnéia Espirometria Exames para afastar outras doenças

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asma, ainda que não seja critério obrigatório para oseu diagnóstico.(69) O grau de variação intradiária podetambém ser utilizado na estratificação de gravidadeda doença. A sensibilidade para o diagnóstico deasma é maior com os testes de provocação brônqui-ca, mas em casos duvidosos, a adição de medidasseriadas do pico de fluxo expiratório pode adicionarsensibilidade ao diagnóstico.(74) O teste tem ainda valorem medicina ocupacional, visto que permite estabe-lecer variações funcionais, correlacionadas com sin-tomas respiratórios, decorrentes da exposição a agen-tes inalatórios no ambiente de trabalho.(80)

Outros testesEm casos de suspeita de doença intersticial

pulmonar como causa da tosse, a determinaçãodos volumes pulmonares e a prova de difusão domonóxido de carbono devem ser realizadas.

Um algoritmo adaptado(74) dos testes de fun-ção respiratória na investigação da tosse crônica émostrado na Figura 2.

DISFUNÇÃO DE CORDAS VOCAIS

A disfunção de cordas vocais (DCV), tambémchamada de discinesia de laringe, é uma condiçãorespiratória caracterizada pela adução das cordasvocais durante a inspiração e/ou no início da ex-piração, resultando em limitação do fluxo aéreono nível da laringe,(81-82) sem base anatômica e nãoorgânica, ou seja, é uma alteração funcional, cujossinais e sintomas clínicos podem ser confundidoscom outras patologias respiratórias, principalmenteasma brônquica.(81, 83)

Pela falta do substrato anatômico e por ser umacondição pouco descrita na literatura, tendo sidocitada apenas em relatos de casos e pequenas sé-ries, seu diagnóstico muitas vezes não é feito ou étardio, pela falta de lembrança ou mesmo de co-nhecimento dos médicos que atendem a essespacientes. São usadas medicações para asma dedifícil controle, como corticóide oral em altas dosese mesmo imunossupressores, de maneira desneces-sária, o que leva a retardo do tratamento correto,com efeitos colaterais e elevado custo financeirodo tratamento.(81, 84-85) Com apropriadas identifica-ção e intervenção, muitos pacientes podem ter sig-nificativa melhora na qualidade de vida.(83)

Tosse crônica ocorre em cerca de 80% dospacientes com DCV,(86) associada a outros sinto-mas de DCV, em particular sintomas respiratórios,havendo uma correlação importante com doençado refluxo gastresofágico (DRGE).(86-87)

Há uma variedade grande de sinonímias(84,88) quedemonstram as dúvidas e dificuldades no diag-nóstico desta patologia e como a estamos vendona atualidade: disfunção de cordas vocais, asmapsicogênica, asma factícia, asma laríngea, movi-mento paradoxal das pregas vocais, estridor deMunchasen, estridor psicogênico, estridor histérico,estridor do adolescente funcional, estridor laríngeo,obstrução funcional da laringe, adução paradoxalde cordas vocais, obstrução psicogênica das viasaéreas superiores e crupe histérico,(84) além de estri-dor inspiratório funcional e estridor não orgânico.(89)

A laringe tem como funções fisiológicas prin-cipais a manutenção pérvia das vias aéreas, a pro-teção das vias aéreas e a fonação. O reflexo datosse e o reflexo de fechamento da glote não sãoimportantes somente para proteção da via aéreadurante a deglutição, mas também em resposta aestímulos inalatórios potencialmente nocivos. Os

Figura 2 - Algoritmo para investigação funcional da tossecrônicaDRGE: doença do refluxo gastresofágico; ECA: enzimaconversora de angiotensina; TPB: teste de provocaçãobrônquica; TCAR: tomografia computadorizada de altaresolução; PFE: pico de fluxo expiratório.

Tratamento da causaEspirometria

Normal

Alterada

Tratamento da causa

TCAREscarro (eos)PFEpHmetriaBroncoscopia

TPB

Negativo

Positivo

Tosse crônica

Radiologia de tórax eseios da face normais

Ausência de dripSem sintomas de DRGENão fumanteSem uso de inibidor de ECA

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receptores sensitivos distribuídos na laringe, tra-quéia e brônquios, quando estimulados, podemdesencadear constrição da laringe. Os pacientesportadores de DCV têm o reflexo de proteção dalaringe aumentado a estímulos extrínsecos e in-trínsecos.(87)

A verdadeira prevalência de DCV é desconheci-da e sua patogênese ainda não é bem definida.Como a etiopatogenia da DCV ainda não está to-talmente clara, algumas teorias tentam explicar adoença, como a teoria neurogênica, a da DRGE eda reação de conversão.(84)

Segundo a teoria neurogênica, o limiar de es-tímulo para produzir espasmo da glote por ativa-ção da inervação efetora do vago estaria baixo,facilitando as crises de discinesia após infecçõesdo trato respiratório, onde um vírus neurogênicoafetaria o nervo vago, como também por desor-dens neurológicas que alterem o balanço autonô-mico da laringe.(87)

Outra teoria é a da DRGE, cuja associação comtosse crônica é bastante conhecida. Modelos ani-mais de DRGE foram sugestivos de que pH abaixode 2,5 induz a laringoespasmo através de um me-canismo mediado pelo vago e de sensibilizaçãode quimiorreceptores da mucosa da laringe.(90) Airritação crônica da laringe pode ser o gatilho paraa crise de DCV e a DRGE deve ser prontamentemanejada nestes pacientes.

Uma terceira teoria é a de reação de conversão,daí a associação de discinesia com patologias psi-quiátricas, incluindo depressão, trauma psíquicopor abuso sexual, emoções intensas e estresse físico(pode ser desencadeada em atletas em competiçõesestressantes), sendo um diagnóstico diferencial comasma induzida por exercício.

O mais aceito na literatura atual é a associaçãode mais de uma teoria.(91)

Os sinais e sintomas de DCV são inespecíficose podem ser vistos em outras doenças respiratóriasagudas ou crônicas. Para o diagnóstico, é reque-rido alto grau de suspeita clínica, sendo os sinaise sintomas mais comuns: tosse, chiado, estridor,dispnéia, rouquidão e sufocamento. Alguns paci-entes referem dificuldade de deglutir ou dor nagarganta e no tórax, e sintomatologia de DRGE.(83, 86)

Na anamnese chama à atenção a ausência de his-tória pessoal e familiar de atopia. Há predominânciano sexo feminino e na faixa etária de vinte a 45anos. Entretanto, pode ocorrer em qualquer idade.(81)

A confirmação diagnóstica nem sempre é fácil.O reconhecimento de DCV em pacientes com quei-xas respiratórias é difícil e deve-se ter um apropria-do nível de suspeita clínica. Pacientes com sinto-mas semelhantes aos da asma que não respondemao tratamento adequado devem ser avaliados paraa possibilidade de DCV, fazendo-se o diagnósticoprecoce e evitando-se iatrogenias das drogas an-tiasmáticas.(83)

A DCV pode ocorrer isolada ou associada à asmabrônquica persistente grave, o que dificulta maisainda seu diagnóstico. Em torno de 40% a 50 %dos pacientes que têm DCV e que foram internadospor dificuldade respiratória têm asma associada, oque quer dizer que a presença de asma não excluio diagnóstico de DCV e vice-versa.(81)

A tosse crônica está presente em cerca de 80%dos portadores de DCV, sendo que 33% a 40%deles são portadores de DRGE.(86) Podem apresen-tar-se clinicamente apenas com tosse e DRGE, e aDCV deve ser considerada como causa de tossecrônica na ausência de patologia rinolaringológicaou pulmonar.(87)

Estridor aparece em menos de 20 % dos ca-sos.(81) Quando este sintoma surge durante exercí-cios físicos, principalmente em atletas de elite, aDCV pode mimetizar asma induzida por exercício,o que leva a diagnóstico errado e tratamento equi-vocado para asma induzida por exercício, quandona verdade o que está presente é a DCV, ou mesmocoexistem as duas patologias.

Os sintomas de DCV podem ser desencadeadospor problemas emocionais como estresse ou medo(relato de abuso sexual tem sido descrito nestespacientes), esforço físico, inalação de irritantescomo cigarro, perfumes, amônia, cloro, agentesde limpeza e outras substâncias químicas comodores fortes, drenagem pós-nasal devida a rinos-sinusopatia (alérgica ou infecciosa), DRGE, e po-dem ocorrer sem nenhum fator desencadeanteidentificado.(83) Pacientes podem descrever exacer-bação dos seus sintomas com identificação dogatilho em 20% a 45% dos casos.(86)

Ocasionalmente a DCV se desenvolve em paci-entes com doenças neurológicas, como a escleroselateral amiotrófica, encefalite, má formação deArnold-Chiari, estenose do aqueduto cerebral edesordem dos movimentos.

Os principais exames utilizados no diagnósticode DCV são a laringoscopia e a espirometria utili-

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zando a alça fluxo volume. Entretanto, ambos osmétodos têm baixa sensibilidade, embora com altaespecificidade.(82)

A nasofibrolaringoscopia com tubo flexível é oprincipal exame no diagnóstico da DCV,(81-82, 88) evi-denciando-se obstrução de 50% ou mais da viaaérea no nível da glote.(86) Deve-se, durante o exa-me, realizar manobras para afastar patologias neu-rológicas como causa da obstrução da laringe.(84)

A nasofibrolaringoscopia é também utilizada paraexcluir os diagnósticos diferenciais de obstruçãodas vias aéreas superiores.

O momento do ciclo respiratório em que ocor-re o fechamento paradoxal das pregas vocais naDCV mais aceito pela literatura é a fase inspiratóriae/ou início da fase expiratória.(83) A laringofibros-copia é normal em 50% dos pacientes quando rea-lizada fora das crises.(81)

A curva fluxo volume realizada durante a espi-rometria pode revelar obstrução das vias aéreasextratorácicas com achatamento da alça inspira-tória, em cerca de 23% dos casos.(81) Pode sugerirmas não estabelecer o diagnóstico de obstruçãode vias aéreas superiores.

Se estes testes não são diagnósticos em paci-entes com suspeita de DCV, então é possível pro-vocar episódio de DCV com exercício, metacolinaou frio,(88) com resultados divergentes na literatu-ra sobre a positividade dos testes. Deve-se, conco-mitantemente, realizar laringoscopia e espirometria.(83)

Se os resultados de exames realizados fora dacrise não estabelecerem o diagnóstico de DCV, la-ringoscopia e/ou espirometria durante as crisessintomáticas devem ser realizadas.(83) Entretanto,cresce na literatura a consideração de que a sinto-matologia de obstrução variável extratorácica éaltamente sugestiva de DCV e, quando detectada,em apropriado contexto clínico, é suficiente parao diagnóstico e início do tratamento de DCV.(83)

Uma equipe multidisciplinar deve ser envolvidano diagnóstico e na terapia dos pacientes porta-dores de DCV, já que podem apresentar co-fatoresenvolvendo a doença, em que são valorizados ossintomas.(87) No diagnóstico, conforme o quadroclínico, podem participar o pneumologista, otor-rinolaringologista, endoscopista respiratório, fono-terapeuta, e psiquiatra.

Modalidades terapêuticas são individualizadascaso a caso, conforme a sintomatologia e incluemsuporte respiratório, fonoterapia, terapia farmaco-

lógica (drogas anti-DRGE, antialérgicos, antidepres-sivos, ansiolíticos e sedativos), técnicas de rela-xamento, e clara explicação da síndrome com ces-sação de medicamentos desnecessários e suporteemocional psiquiátrico.

Deve-se evitar o contato com irritantes quími-cos e substâncias alergizantes que possam desen-cadear crises. Em raros casos é utilizada pressãopositiva contínua na via aérea (CPAP), tendo sidoreferido também o uso de heliox (80% de hélio e20% de oxigênio).(87) A combinação de métodosterapêuticos é a conduta mais indicada e signifi-cativa melhora é observada em 88% dos casosquando a equipe multidisciplinar está envolvida.(86)

TOSSE CRÔNICA:BRONQUITE EOSINOFÍLICA SEM ASMA

O termo bronquite geralmente se refere a infla-mação dos brônquios. Bronquite eosinofílica é umachado cardinal, porém não universal ou exclusivoda asma. Por exemplo, a bronquite eosinofílica podeestar ausente nas exacerbações da asma,(92) duranteinfecções bacterianas(92-93) ou virais,(94) e na asmaestável de diferentes gravidades.(92, 95) Por outro lado,a bronquite eosinofílica pode estar presente na au-sência de asma, em fumantes ou ex-fumantes, comou sem doença pulmonar obstrutiva crônica,(96) eem portadores de tosse crônica sem asma.(97)

A bronquite eosinofílica sem asma como causade tosse crônica foi descrita há apenas cerca de vinteanos.(98) A partir de então, diversas publicações têmdemonstrado que a bronquite eosinofílica sem asmaé uma causa comum de tosse crônica, ocorrendo emque cerca de 10% dos pacientes referidos à clínicasterciárias para investigar este sintoma.(99-100)

A bronquite eosinofílica sem asma é definidapela presença de tosse crônica em pacientes semsintomas ou evidência objetiva funcional de asma(broncoconstricção com resposta broncodilatadorae/ou hiperresponsividade das vias aéreas), associa-da à presença de eosinofilia no escarro (eosinófi-los = 3,0%).(99-100) Em síntese, a bronquite eosinofí-lica distingue-se da asma por não possuir as ca-racterísticas fisiológicas da asma: broncoconstric-ção e hiperresponsividade das vias aéreas.

Quadro clínico e diagnósticoA bronquite eosinofílica sem asma mais comu-

mente se manisfesta como tosse seca ou produti-

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va que se enquadra na definição de tosse crônica,sem evidência clínica ou radiológica de ser causa-da por outras doenças pulmonares. Nestes paci-entes, a espirometria é normal ou mostra limitaçãoleve, sem resposta broncodilatadora e a responsi-vidade das vias aéreas ao teste de broncoprovo-cação com metacolina ou histamina é normal. Odiagnóstico é confirmado pela presença de eosi-nofilia no escarro espontâneo ou induzido. Comoa tosse crônica comumente tem múltiplas causas,a bronquite eosinofílica deve sempre fazer partedo diagnóstico diferencial, mesmo em pacientescom outras causas de tosse diagnosticada (excetoasma) e, especialmente, naqueles com respostaparcial ao tratamento. Adicionalmente, uma histó-ria ocupacional detalhada é importante tambémpara levantar a possibilidade de bronquite eosino-fílica ocupacional.

Tratamento e evoluçãoA bronquite eosinofílica sem asma responde

bem ao tratamento com corticosteróides inalados,com a eosinofilia desaparecendo do escarro emduas semanas.(101) Apesar de a história natural dabronquite eosinofílica ser controversa,(102-103) acre-dita-se que na maior parte dos casos ela é umacondição autolimitada(102) e que apenas uma mino-ria evolui para asma. Por outro lado, pacientes comtosse crônica e sem asma, que apresentem escarrosem eosinofilia (eosinófilos < 3%), não respondemao tratamento com corticosteróides inalatórios ad-ministrados durante quatro semanas.(104) Pacientescom bronquite eosinofílica ocupacional em geralapresentam regressão do quadro quando afastadosda exposição.

TOSSE PÓS-INFECCIOSA

Pacientes com tosse raramente procuram as-sistência médica, à exceção das crianças e dos ido-sos, cujos parentes são responsáveis em conduzi-los a consultar o médico.

A tosse que ocorre após infecção do trato res-piratório superior e inferior é considerada tossepós-infecciosa.

O resfriado comum é a causa mais freqüente.Caracteriza-se pela presença de sinais e sintomasreferentes à via aérea superior, como rinorréia, obs-trução nasal, ato de fungar e espirrar, corrimentopós-nasal, com ou sem febre, lacrimejamento, irri-

tação da garganta, rouquidão e evidentemente tosseimprodutiva seca ou com pouca eliminação demuco, com exame do tórax sem ruídos adventícios.Os sintomas com duração de menos de três sema-nas são considerados tosse aguda e quando ultra-passam três até oito semanas tosse subaguda. Odiagnóstico é basicamente clínico. Em mais de97% dos casos, o radiograma de tórax é normal. Atosse é conseqüente à presença do gotejamentopós-nasal, limpeza da faringe ou de ambos. A tossenessa situação é autolimitada e resolve-se na maio-ria das vezes. Quando houver prostração e incô-modo, o tratamento consiste no uso do maleatode dexclorfeniramina a 2 mg até quatro vezes aodia, associado a pseudoefedrina. O brometo deipratrópio tópico nasal pode ser usado, associadoou isolado, para alívio da rinorréia, na dose dedois jatos em cada narina três a quatro vezes aodia. Na presença da dor e irritação intensa da fa-ringe, deve ser prescrito naproxeno a 500 mg, trêsvezes ao dia, durante cinco dias. Os anti-histamí-nicos de última geração, não sedantes, associadosou não a pseudoefedrina, como por exemplo aloratadina, não parecem ter consistentes benefíciosem controlar a tosse e outros sintomas do resfriadocomum, já que esses sintomas não são histaminadependentes. Os corticosteróides também não tra-zem vantagens quando prescritos para aliviar ossintomas do resfriado comum.

A infecção por vírus é reconhecida como a prin-cipal causa de exacerbação de asma tanto em adul-tos quanto em crianças. As células das vias aéreassão o principal sítio da infecção viral e replicação,com liberação de uma série de mediadores pró-inflamatórios. O vírus parece induzir uma disfun-ção dos receptores muscarínicos M2 da via paras-simpática, resultando na liberação de acetilcolinae maior responsividade brônquica. O vírus atuadiretamente no receptor M2, ou indiretamente pelaliberação de interferon-gama pelas células epiteliaise pelos macrófagos. Os corticosteróides aliviam esteprocesso, o que sugere influência taquicinérgica.

A sinusite bacteriana aguda é a segunda grandecausa da tosse aguda pós-infecciosa, muitas ve-zes indistinguível da rinossinusite aguda viral. Aospacientes com rinossinusite aguda viral, que nãorespondem ao tratamento descrito acima, devemser prescritos antibióticos quando apresentarempelo menos dois dos seguintes sinais e sintomas:dor na face (maxilar), secreção nasal purulenta,

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anormalidade no teste da transiluminação dos seiosparanasais, descoloração da secreção nasal. Nãohá necessidade de estudo radiológico dos seiosda face para se iniciar o uso do antibiótico, cujacobertura se faz necessária para H. influenzae e S.pneumoniae, isto é, amoxacilina associada ao áci-do clavulânico, a 500 mg de oito em oito horas,por quatorze dias, ou fluoroquinolona de terceirageração (levofloxacina, gatifloxacina, moxifloxa-cina) em dose diária, por quatorze dias. Deve-seassociar a dexclorfeniramina, com ou sem pseu-doefedrina, e descongestionante nasal tópico aoantibiótico.

A tosse aguda pós-infecciosa é uma manifes-tação freqüente da pneumonia adquirida na co-munidade. Na maioria dos casos, outros sinais esintomas estão presentes, porém, nos idosos, ne-cessitamos de alto índice de suspeição clínica jáque muitas vezes febre, dor torácica e calafriosestão ausentes. A presença de tosse, alteração docomportamento e anormalidade no exame físicodo tórax deve sempre levar à suspeita de pneumoniaadquirida na comunidade e início de antibiotico-terapia, após um radiograma do tórax sugestivo.

A causa mais freqüente de tosse subaguda pós-infecciosa é a infecção aguda do trato respiratóriosuperior sem evidências de pneumonia (radiogramade tórax normal). Na verdade, é a tosse do resfriadocomum ou da gripe que se prolonga por mais detrês semanas. A tosse é o resultado de gotejamentopós-nasal ou limpeza da garganta, secundária àrinite. Na traqueobronquite com ou sem hiperres-ponsividade transitória, a tosse é secundária aoaumento e retenção de secreção secundária à in-flamação em que os receptores da tosse são esti-mulados. A tosse pode durar semanas ou até me-ses pela persistência da inflamação. Uma extensaruptura da integridade epitelial e extensa inflamaçãodas vias aéreas superiores e inferiores ocorre nes-ses casos. A broncoscopia e a biópsia brônquicarevelam, na infecção pelo vírus da influenza A,extensa descamação epitelial no nível da mem-brana basal, com aumento do percentual de linfó-citos e neutrófilos no lavado broncoalveolar. Omaterial de biópsia mostra uma bronquite linfocí-tica. O tratamento é o mesmo descrito acima paratosse aguda pós-infecciosa acrescida de brevecurso de prednisona ou predinisolona a 30 a 40mg/dia pela manhã, por três semanas. Nos casosde traqueobroquite por M. pneumoniae a flutica-

sona inalatória tem sido útil. O brometo de ipra-trópio inalado parece atenuar a tosse pós-infeccio-sa. Derivados da codeína e o dextromertofanopodem produzir alívio da tosse. Caso a tosse nãodesapareça num prazo de uma semana, deve-serealizar estudo radiográfico dos seios da face e, sehouver espessamento da mucosa > 5mm, nívelhidroaéreo ou opacificação, notadamente dos sei-os maxilares e/ou frontal, deverá ser prescrito des-congestionante nasal (tópico) ou sistêmico e anti-bióticos por pelos menos três semanas, com co-bertura para H. influenzae e S. pneumoniae. Na-queles doentes com tosse e presença de roncos,sibilos e estertores inspiratórios à ausculta do tó-rax, com radiograma de tórax normal, prescrevem-se broncodilatadores e corticosteróides inalatórios.Na presença de secreção purulenta (notadamentenas traqueobronquites) está indicado o uso deantibióticos visando ao S. pneumoniae. Nos pacien-tes portadores de bronquite crônica, deve-se co-brir também o H. influenzae e M. catharralis.

Muitos adultos queixam-se de tosse prolonga-da após infecção de vias aéreas superiores, nota-damente secundária a infecção viral, com radio-grama de tórax normal (freqüência de 11% a 25%).Durante epidemias de micoplasmose e coqueluxe,a freqüência aumenta para 25% a 50% em sériesselecionadas. Na população geral há uma médiade freqüência de 2,2% de infecções respiratóriasvirais por indivíduo ao ano. Crianças acima de cincoanos de idade têm de 3,8 a cinco infecções porano por criança. As crianças em creches têm maiorincidência. Os vírus respiratórios (influenza, parain-fluenza, sincicial respiratório, adenovirus), o mico-plasma, a B. pertussis, a Chlamydia pneumonie e aM. catharralis têm sido implicados nesses peque-nos pacientes.

Caso infecção pela B. pertussis tenha sido rela-tada na comunidade, ou haja história recente decontato com doentes com diagnóstico firmado decoqueluche, ou na presença de sintomas caracte-rísticos de coqueluche, isto é, episódios de tosseou “quintas" com “guinchos" seguidos de expecto-ração mucóide, várias vezes ao dia, espasmódica,principalmente à noite, associados a sudoreseabundante, exaustão, congestão das conjuntivas,turgência dos vasos do pescoço, sufocação e perdada consciência (crianças maiores), devemos con-siderar o diagnóstico de coqueluche. A criançaentra em apnéia e sobrevém uma inspiração for-

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çada, ruidosa e estridente, conseqüente à glotesemicerrada, após uma expiração fixa. Vômitos apósas crises de tosse (whooping cough) são muito co-muns em qualquer idade e é um importante indícioda doença em adolescentes e adultos. Não costu-ma haver febre. A infecção por B. pertussis é reco-nhecida por causar tosse persistente em crianças,adolescentes e adultos, e é conhecida como “tos-se dos cem dias". Trata-se de uma infecção alta-mente contagiosa. Vem apresentando aumento deincidência desde os anos 1980 em todas as faixasetárias, pelo declínio imunológico da vacinação.O aumento da incidência tem ocorrido na faixaetária de dez a dezenove anos. Em um estudo pros-pectivo no Canadá, em 19,9% dos adolescentes eadultos com tosse pós-infecciosa a etiologia eraB. pertussis.

Além das manifestações clínicas, o padrão ouropara o diagnóstico da coqueluche é o isolamentoda B. pertussis por meio de cultura do materialobtido de esfregaço da nasofaringe. O exame temrendimento maior (60% a 70% de crescimento)dentro das primeiras quatro semanas da doença.O exame sorológico pelo método ELISA para de-monstrar aumento de IgG antitoxina pertussis é ocritério sorológico mais aceito para confirmar odiagnóstico. Um exame pareado é necessário parase afastar simples imunização de infecção, colhen-do-se as amostras de soro na fase aguda e na con-valescença. Aumento de quatro vezes da IgG étambém consistente com a presença recente deinfecção por B. pertussis. A especificidade é de63%. A técnica da reação em cadeia da polimeraseé uma promessa, com especificidade de 100%.

O antibiótico de escolha é a eritromicina, depreferência o estolato de eritromicina em dosesde 40 mg/Kg/dia para crianças e 2 g/dia para adul-tos, ambas divididas em quatro tomadas, ou osderivados atuais da eritromicina, ou seja, claritromi-cina a 1 g/dia, durante dez dias, ou azitromicina a500 mg/dia, durante cinco dias. Antitussígenos,hidratação oral e expectoração por fisioterapia res-piratória estão indicados.

O doente deve ficar isolado em casa e perma-necer ausente do trabalho e da escola por cincodias após o início do uso do antibiótico. Parecemdestituídos de benefícios os antitussígenos, os betaagonistas e imunoglobulinas antipertussis. Profi-laxia deve ser iniciada nas duas primeiras semanaspara os comunicantes.

Ensaios em adultos e crianças usando vacinaantipertussis acelular, mais do que a vacina total,sugerem futuro promissor na prevenção da doença,tanto em adultos como em crianças. Um grandeensaio multicêntrico, aleatorizado, controlado,duplo cego, com vacina antipertussis acelular,numa população com idades entre quinze e 65anos, foi realizado pelo Instituto Nacional de Aler-gia e Doenças Infecciosas dos EUA e publicadoem 2005. A vacina foi altamente efetiva, com taxade proteção de 92%, e muito segura. Devido aosucesso da imunização foi recomendada a vacina-ção isolada (não associada à antidiftérica e à anti-tetânica) para adolescentes entre onze e dezoitoanos de idade e idosos acima de 65 anos.

O diagnóstico de tosse crônica pós-infecciosana maioria das vezes é de exclusão, principalmentequando secundária a infecção por vírus, com du-ração de mais de oito semanas.

Como descrito acima para a tosse subaguda, emcrianças, os vírus respiratórios (notadamente o sin-cicial respiratório e o parainfluenza), o Mycoplasmapneumoniae, a Chlamydia pneumoniae e a B.pertussis têm sido implicados na etiologia da tossecrônica. A tosse crônica pode resultar de infec-ções repetidas. A tosse por B. pertussis ou por in-fecção por vírus pertussis-like pode resultar emtosse persistente prolongada.

Outras infecções na infância, de ocorrência afe-bril, em cuja ausculta do tórax estão presentes es-tertores inspiratórios, são causadas por Ureaplasmaurealyticum, Cytomegalovirus, P. carinii e M.catharralis. Sarampo pode ser outra causa da tossenessa idade, associada ou não ao quadro clássicoda doença.

Nas infecções por Mycoplasma pneumoniae odiagnóstico faz-se pela presença de títulos altosde crioaglutinina, do tipo IgM e IgG, no sangue.

Não existe um teste padrão para o diagnósticode Chlamydia pneumoniae, porém a pesquisa deanticorpos do tipo IgG e IGM pela técnica da mi-croimunofluorescência é aceita para o diagnóstico,assim como a cultura e a reação em cadeia dapolimerase.

Outras causas de tosse crônica pós-infecciosasão as bronquiectasias, sinusite crônica bacteriana,discinesia ciliar primária, fibrose cística, panbron-quiolite difusa e, em nosso meio, a tuberculosepulmonar e a paracoccidioidomicose. A históriaclínica e o exame físico estreitam muito o diag-

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nóstico dessas doenças.A tosse produtiva é uma manifestação proemi-

nente das doenças supurativas, tais como as bron-quiectasias, a discinesia ciliar primária, a fibrosecística e a panbronquiolite difusa. O comprometi-mento do sistema de defesa predispõe à persistênciada infecção bacteriana, perpetuando um ciclo vi-cioso de destruição e inflamação da via aérea.

O radiograma de tórax e a tomografia compu-tadorizada do tórax e dos seios da face confir-mam as hipóteses diagnósticas dessas causas, pelapresença de: dilatação e espessamento brônqui-cos, cistos, nódulos, varicosidades, “sinal do tri-lho", e anel de “sinete" nas bronquiectasias; infil-trado acinar com ou sem cavidade, principalmen-te nos segmentos 1, 2 e 6 na tuberculose; infiltra-do retículo-nodular assimétrico predominando noscampos médios e superiores de ambos pulmõescom hipertransparência junto às bases pulmonares,na paracoccidioidomicose; e espessamento dasmucosas, opacificação e nível hidroaéreo dos seiosparanasais na sinusite bacteriana crônica.

A discinesia ciliar e a fibrose cística apresen-tam aspectos radiográficos de bronquiectasias ecomprometimento sistêmico inerente a essas do-enças. Na panbronquiolite as manifestações radio-gráficas mais freqüentes são a presença de bron-quiectasias, bronquioloectasias, “árvore em bro-tamento", perfusão em mosaico de distribuição di-fusa e/ou com predominância junto às bases pul-monares, e também aumento do volume pulmonar.

A presença do bacilo de Koch no exame direto(esfregaço) do escarro e/ou cultura sela o diag-nóstico de tuberculose pulmonar.

O isolamento do Paracoccidioides brasiliensis nassecreções pulmonares, na cultura, ou, quando desua ausência, a imunodifusão em duplo-gel de agarou a reação de fixação do complemento positivasatestam o diagnóstico da paracoccidioidomicose.

A tosse, na maioria das vezes, é produtiva comsecreção purulenta na sinusite crônica e nas ou-tras doenças supurativas. Na tuberculose e na pa-racoccdioidomicose a tosse é produtiva com se-creção mucóide com ou sem a presença de raiasde sangue, ou até mesmo com escarro hemático ehemoptise na tuberculose pulmonar.

A tuberculose pulmonar deve ser tratada com oesquema E-I, segundo as Diretrizes Brasileiras paraTuberculose (2004) e a paracoccidioidomicose comcotrimoxazol ou derivados azólicos.

No tratamento das bronquiectasias, além dautilização de antibióticos de amplo espectro co-brindo bactérias Gram negativas, Gram positivas eanaeróbios, inclui-se a fisioterapia respiratória, vi-sando à drenagem e eliminação das secreções. Abroncoscopia é útil na avaliação inicial, tanto parao diagnóstico etiológico (estenose, corpo estranho)quanto para ajudar na remoção das secreções.Deve-se considerar a possibilidade cirúrgica, prin-cipalmente nos pacientes com doença localizada.Antibióticos e fisioterapia permanecem como ocarro chefe no tratamento das bronquiectasias.

Quanto ao tratamento da pambronquiolite, efi-cácia clínica tem sido freqüentemente relatada como uso de macrolídeos por tempo prolongado.

TOSSE SAZONAL

A tosse é um sintoma sentinela de anormalidadedo estado de saúde do indivíduo. Na maioria dasvezes essa anormalidade está nas vias aéreas ouno parênquima pulmonar propriamente dito. A tos-se que acontece associada a determinado períododo ano tem a ver com a anormalidade que ocorre,principalmente, nas vias aéreas, e que é influencia-da por fatores esternos próprios daquele períododo ano. Assim, três são as principais causas quedeterminam inflamação ou irritação das vias aérease que são causas de tosse sazonal: alérgicas, in-fecciosas e poluição atmosférica.

Seja qual for a origem, inicialmente ocorre umainflamação da mucosa nasal, provocando uma sín-drome de rinite, caracterizada por um conjunto desintomas, freqüentemente associados com goteja-mento pós-nasal e tosse.(105-107) Ademais, a inflama-ção pode causar obstrução do complexo osteome-atal, predispondo a uma infecção bacteriana e cau-sando sinusite. Como as vias aéreas superiores einferiores constituem uma via aérea única, estesfenômenos, inicialmente nas vias aéreas superiores,freqüentemente evoluem e acometem as vias aé-reas inferiores. Assim, mecanismos adicionais deorigem e acentuação da tosse vão se ativando.Rinossinusite(108) e sinusobronquite são termos fre-qüentemente usados e até preferidos por algunsautores quando se referem à inflamação das viasaéreas superiores exclusiva ou associada à das viasaéreas inferiores, respectivamente.

A rinite alérgica é classificada como sazonalse os sintomas tipicamente ocorrerem em um de-

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terminado período do ano, e como perene se ossintomas ocorrerem distribuídos durante todo oano. Polens de gramíneas e de árvores são alérge-nos comuns que causam rinite alérgica sazonal.Alérgenos indoor como pó domiciliar, ácaros, pro-teína animal (cão, gato, barata, etc) e fungos sãofreqüentemente associados com rinite perene.(109)

Se a exposição for sazonal, durante a floraçãona primavera, por exemplo, os sintomas são pre-ditíveis e reprodutíveis. Assim, uma tosse sazonaldecorrente de rinite é diagnosticada, principalmente,pela história clínica. A associação com sintomasde asma reforça a natureza alérgica. No entanto,sintomas alérgicos sazonais podem ser difíceis deserem distinguidos clinicamente de causas não alér-gicas, pois, como dito acima, outras causas po-dem estar envolvidas. Sintomas de rinite sazonal,em 78% dos casos são de causa alérgica. Em 68%dos casos de pacientes com rinite perene comexacerbação sazonal, a causa é alérgica.(110-111) Assim,em determinadas situações, a exemplo de pacientesque não respondem ao tratamento relacionado àcausa alérgica, para um acurado diagnóstico, tes-tes de alergia podem ser realizados.

Um estudo envolvendo mais de 18.000 indiví-duos na Itália não encontrou associação entre va-riáveis geoclimáticas e rinite alérgica ou tosse crô-nica, apesar de demonstrar uma influência signifi-cativa entre variação de temperatura e sintomasasma-like.(112) Vale salientar que sintomas alérgicossazonais são menos relevantes nos climas das re-giões tropicais e subtropicais.

A origem infecciosa de sintomas respiratórios commaior incidência durante o inverno é bem conhe-cida, como nos surtos epidêmicos de Chlamideapneumoniae, vírus da influenza, etc.(113) Assim, umamaior prevalência de tosse na população neste pe-ríodo é esperada. Outros fatores, que não os climá-ticos, podem influenciar o surgimento de sintomasrespiratórios de origem infecciosa. Por exemplo,períodos de grandes aglomerações em cidades deapelo turístico podem ser a causa de microepide-mias de infecções com envolvimento respiratório.

Finalmente, atenção deve ser dada à influênciada sazonalidade e maior concentração de poluentesatmosféricos nas grandes cidades, fato já bem docu-mentado. Assim, maiores concentrações de ozônio ede outras partículas são responsabilizadas por umamaior prevalência de tosse e declínio de volume ex-piratório forçado no primeiro segundo.(114)

GOTEJAMENTO PÓS-NASAL,RINITE E RINOSSINUSITE

Vários estudos confirmaram a síndrome do go-tejamento pós-nasal (GPN) como a causa maiscomum de tosse crônica.(20, 27, 115-117) Em uma série de102 pacientes com tosse crônica, foi demonstra-do que o GPN foi a mais freqüente causa isoladade tosse. Outro estudo comprovou a presença deGPN isolado em 35% dos pacientes com tosse crô-nica, sem hiperresponsividade brônquica.(118)

O GPN tem sido demonstrado através de váriosestudos, sendo ocasionado por inúmeras afecções queacometem fossas nasais, faringe e seios paranasais.

O termo gotejamento pós-nasal vem sendoempregado nas seguintes situações: sensação de ter“algo gotejando dentro da garganta", ou de descar-ga pós-nasal (sinal de aspiração faríngea), em queusualmente os pacientes procedem à aspiração fa-ríngea e então ou deglutem o catarro ou o expecto-ram (manifesta-se mais tipicamente em casos de si-nusite crônica); necessidade freqüente de limpar agarganta (sinal de pigarrear); quando os exames fí-sicos da nasofaringe ou da orofaringe, procedidosapós o sinal de aspiração faríngea, revelam a pre-sença de secreções mucóides ou mucopurulentasaderidas às suas paredes posteriores; quando se de-tecta aparência “pavimentada" (cobblestone) damucosa da faringe ao exame físico (embora o reflu-xo gastresofágico possa causar achado semelhante).

O mecanismo da associação entre tosse e GPNnão está claro. A tosse iniciada no trato respiratóriosuperior geralmente é produzida pelo estímulo determinações nervosas dos ramos do glossofarín-geo e do faríngeo (ramos do vago). Especula-seque o GPN possa causar tosse pela irritação quí-mica ou mecânica de receptores localizados nalaringe e/ou faringe.

O quadro clínico dos pacientes com síndromedo GPN, além da tosse, envolve a queixa de sensa-ção de algo gotejando na garganta, necessidade delimpar a garganta, obstrução nasal, rinorréia, as-pecto pavimentoso da mucosa orofaríngea comou sem presença de muco, rouquidão, halitose,cefaléia e, usualmente, há história prévia de rinos-sinusopatia. Esses achados clínicos são relativa-mente sensíveis, porém inespecíficos. Alguns au-tores, além da tosse, produtiva em 50% dos ca-sos, encontraram como manifestações clínicas maisfreqüentes o sinal do pigarrear (66,7%) e o sinal

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de aspiração faríngea (26,7%).(119-121)

O GPN está relacionado com processos inflama-tórios como a rinite, rinossinusite e adenoidite, alémde alterações anatômicas como a concha bolhosainfectada. O refluxo gastresofágico e o hábito tabá-gico causam GPN pelo efeito irritante do fluído gás-trico refluindo na faringe.

No termo rinite está implícito um processo infla-matório da mucosa nasal. O diagnóstico clínico ébaseado na presença dos seguintes sintomas: pruri-do, espirros, rinorréia e obstrução nasal. No Quadro5 apresenta-se a classificação das rinites.

A resposta nasal mediada por IgE está presentenas rinites alérgicas. A intermitente é típica da pri-mavera e do outono nos países de clima temperado,onde sintomas nasais e oculares são decorrentes dainalação de polens. A rinite alérgica persistente édecorrente da inalação de alérgenos perenes.

A rinite infecciosa é a forma de rinite mais fre-qüente. Decorre da proliferação de microorganismosna mucosa nasal (vírus, bactérias, fungos ou espiro-quetas). Pode aparecer isoladamente ou estar asso-ciada a outras formas de rinite.

A rinite ocupacional decorre da inalação de alér-genos no exercício de algumas profissões e diminuide intensidade quando o indivíduo está fora do seuambiente de trabalho.

A rinite medicamentosa ocorre pela utilização dedrogas empregadas no manejo da própria rinite, noabuso de vasoconstritores tópicos ou drogas de usosistêmico, principalmente aspirina e outros antiinfla-matórios não hormonais e anti-hipertensivos comoreserpina, metildopa, ou guanetidina, possivelmentepor estas drogas interferirem na atividade alfa-adre-nérgica, ou outras drogas, por mecanismos desco-nhecidos.

Na rinite hormonal endócrina, os sintomas na-sais são decorrentes de possíveis alterações no fluxosanguíneo nasal e/ou na reatividade glandular,como na gravidez, menopausa, puberdade ou nohipotireoidismo.

Mecanismos não mediados por IgE podem serresponsáveis por sintomas nasais nas rinites nãoalérgicas. A liberação de mediadores dessas células,eosinófilos ou mastócitos, que se encontram emnúmero aumentado na mucosa nasal, muitas vezesdevido a fatores precipitantes ou agravantes poucoespecíficos, provoca os sintomas nasais.

A rinite irritativa decorre da exposição da muco-sa nasal a substâncias lesivas ao tecido, como fuma-

ça de cigarro ou dióxido de enxofre. A rinite podetambém ser induzida pela exposição da mucosa na-sal ao ar frio e seco, com a liberação de mediadoresdos basófilos, caracterizando-se por rinorréia clara,com congestão nasal e mínimos espirros.

Estímulos reflexos desencadeiam os sintomasnasais na rinite reflexa, como mudanças na posi-ção do corpo, luz forte, cheiro forte e estímulosexual, entre outros.

A rinite idiopática caracteriza-se por sintomasnasais decorrentes de instabilidade vasomotora esecretora, na ausência de causa definida.

Nas rinites relacionadas a deformidades estru-turais, problemas de ordem mecânica favorecem aobstrução nasal, e podem se associar a outras for-mas de rinite, agravando o quadro e contribuindopara um pior prognóstico.

A investigação laboratorial deve ser realizada emtodos os pacientes nos quais haja dúvidas quanto àverdadeira etiologia da rinite, assim como naquelescom manifestação perene. A avaliação laboratorialtem por finalidade diagnosticar o estado atópico eidentificar o provável agente etiológico, além deoutras condições muitas vezes associadas à rinitealérgica.

É importante demonstrar a presença de anticor-pos IgE específicos, por meio de testes in vivo (testecutâneo) e/ou in vitro (RAST - radioallergosorbent test).

Quadro 5 - Classificação das rinites

AlérgicaIntermitentePersistente

InfecciosaViralBacterianaOutros agentes infecciosos

Ocupacional (alérgica e não alérgica)IntermitentePersistente

MedicamentosaAspirinaOutras medicações

HormonalOutras causas

NARES,AtróficaEmocionalIrritativa,Refluxo gastresofágicoAlimentar

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A endoscopia nasal representa, sem dúvida, im-portante ferramenta diagnóstica. Pode ser realizadautilizando-se endoscópios rígidos de Hopkins e/ouendoscópios flexíveis de fibra ótica. Deve-se prestaratenção com relação à presença de anormalidadesno interior do meato médio e na nasofaringe.

O objetivo do tratamento clínico da rinite érestaurar a função nasal, a fim de manter a inte-gridade funcional de toda via aérea. O programaterapêutico deve ser individualizado, com base naintensidade e duração dos sintomas, e envolver otratamento das complicações infecciosas e mecâni-cas associadas. São tópicos importantes: higiene doambiente físico, higiene nasal, farmacoterapia eimunoterapia específica.

São drogas utilizadas no tratamento da rinitealérgica: anti-histamínicos, vasoconstritores oraise tópicos, brometo de ipratrópio, cromoglicato dis-sódico, nedocromil sódico, e corticosteróides oraise tópicos. Estas drogas podem ser utilizadas tantode forma isolada quanto em associação, princi-palmente quando o controle do ambiente físico ea higiene nasal com solução salina não são suficien-tes para diminuir a intensidade dos sintomas na-sais (Quadro 6).

A rinossinusite é definida como uma condiçãoresultante de um processo inflamatório da mucosaque reveste a cavidade nasal e os seios paranasais. Aexpressão rinossinusite é a mais apropriada para de-finir esta doença, já que rinite e sinusite se apresen-tam usualmente como uma continuidade anatômicae fisiopatológica. A rinite existe isoladamente, mas asinusite sem rinite é rara.

A rinossinusite pode ser classificada com base naduração dos sintomas e na freqüência dos episódios.

A rinossinusite aguda é uma das causas maiscomuns de atendimento médico, sendo manejadapor clínicos, pediatras, pneumologistas e otorri-nolaringologistas. Cerca de 0,5% a 5% das infec-ções das vias aéreas superiores evoluem para ri-

nossinusite aguda, e a diferenciação entre um qua-dro gripal e uma infecção bacteriana nem sempreé fácil. Os sintomas mais comuns, como obstruçãonasal, rinorréia, hiposmia, pressão facial, goteja-mento pós-nasal, tosse e febre, são inespecíficos.

Alguns sintomas como febre, halitose e hipos-mia, considerados sintomas menores nos adultos,podem ser a única manifestação de rinossinusiteem crianças, sendo comum nestes pacientes a as-sociação de tosse (principalmente diurna), obstru-ção nasal e rinorréia purulenta, ao passo que acefaléia é um sintoma incomum até os cinco ouseis anos de idade.

Na rinossinusite crônica é freqüente a ocor-rência de tosse crônica (por mais de três semanas)e expectoração purulenta ou mucopurulenta, semevidências de foco supurativo em vias aéreas infe-riores (bronquite crônica, tuberculose, etc).

Os sinais e sintomas clínicos nas rinossinusitesaguda, subaguda e crônica são semelhantes, dife-renciando-as o seu tempo e a forma de evolução(Quadros 7 e 8).

A inspeção tradicional do nariz com luz frontal eespéculo nasal garante informações muito restritas.Os endoscópios rígidos e flexíveis de fibra ópticaproporcionam uma avaliação sistemática e direta deáreas de inflamação ou drenagem patológica no na-riz, nasofaringe, recesso esfenoetmoidal e meatomédio visualizadas. A indicação de endoscopia deveser considerada quando o paciente apresentar sinto-mas graves e persistentes, apesar do tratamento clí-nico apropriado.

Em geral, o valor diagnóstico dos radiogramassimples é controvertido, pois anormalidades dos seiosetmoidais, esfenoidais, recesso frontal e do complexoostiomeatal podem passar desapercebidas devido àdificuldade de visualização desses sítios anatômicos.

A tomografia computadorizada é o estudo pre-ferencial para a avaliação dos seios paranasais,porque revela melhor a relação entre os tecidos

Quadro 6 - Drogas utilizadas no tratamento da rinite alérgica

Prurido/ Secreção Bloqueio Olfato espirro alterado

Cromoglicato de sódio + + + - Anti-histamínicos orais +++ ++ + - Brometo de ipratrópio - +++ - - Descongestionantes tópicos - - +++ - Corticosteróides tópicos +++ +++ ++ + Corticosteróides orais +++ +++ +++ ++

Quadro 7 - Sinais e sintomas de rinossinusite

Congestão e obstrução nasalSecreção purulenta nasal e em rinofaringeTosse diurna e/ou noturnaDor e pressão facialCefaléiaIrritação na gargantaHalitoseFebre

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moles e as estruturas ósseas.Este método pode ser empregado para se ava-

liar a extensão das complicações regionais ou in-tracranianas da rinossinusite, na diferenciação en-tre processos inflamatórios e neoplásicos. Prefe-rencialmente deve ser comparada com a tomogra-fia computadorizada, porque não evidencia os li-mites ósseos do complexo ostiomeatal.

A etiopatogenia da rinossinusite é de naturezamultifatorial e o reconhecimento dos fatores de ris-co é fundamental para o diagnóstico precoce e tra-tamento adequado. Os principais fatores de riscoencontram-se resumidos no Quadro 9.

Os objetivos do tratamento clínico da rinossi-

nusite são controlar a infecção, restaurar a venti-lação normal das cavidades e a patência dos óstiossinusais, melhorar a depuração mucociliar, e pro-mover a drenagem de secreções, evitando dessaforma o dano tecidual.

A microbiologia da rinossinusite aguda baseia-se em cultura da secreção dos seios maxilares ouem aspirados do meato médio, sendo similar nacriança e no adulto. As bactérias isoladas commais freqüência são: Streptococcus pneumoniae,Haemophilus influenzae, Streptococcus viridans,Moraxella catarrhalis e Staphylococcus aureus,sendo que aproximadamente 70% das rinossinusi-tes agudas são causadas pelos dois primeiros. En-tre os vírus, podem ser encontrados o Rhinovirus,Influenzae A e Parainfluenzae. Na rinossinusitecrônica, o estudo bacteriológico mostra predomi-nância da flora mista e de anaeróbicos, devida àmenor concentração de oxigênio nos seios parana-sais. Os germes mais comuns são: Staphylococcusaureus, Haemophilus influenzae, Streptococcuspneumoniae, Streptococcus alfa-hemolitico,Bacteroides, Veilonella e Corynebacterium. Os fun-gos são isolados de entre 3% e 10% das rinossinu-sites crônicas, sendo os mais comuns Aspergilus,Candida albicans e Alternaria.

O principal agente etiológico das infecções devias aéreas é o S. pneumoniae. Logo, é de vital im-portância que se esteja a par da atividade dos dife-rentes antimicrobianos contra este microrganismo.Estudos recentemente realizados sobre este patóge-no demonstram uma resistência intermediária à pe-nicilina em cerca de 20% das cepas e uma resistên-cia elevada em aproximadamente 1% delas. Alémdisso, estudos apontam um elevado nível de resis-tência bacteriana à associação com cotrimoxasol eaos macrolídeos.(122-126) No que se refere a outrosgermes, aproximadamente 10% das cepas de H.influenzae e mais de 90% das de M. Catarrhalis fo-ram produtoras de β-lactamase .

Tanto em adultos quanto em crianças os anti-bióticos de primeira linha incluem amoxicilina oucotrimoxasol por sete a dez dias. Estes, entretanto,não são eficazes contra a -lactamase produzidapelo H. influenzae, S. aureus, M. catarrhalis e al-gumas bactérias aeróbicas. Se eles forem ineficazes,amoxicilina com clavulanato ou uma cefalosporinade segunda geração, como o cefaclor ou a cefu-roxima, podem ser usadas durante sete a catorzedias. Também podem ser administrados macrolí-

Quadro 8 - Classificação da rinossinusite em adultose crianças

Aguda Duração dos sintomas até 4 semanasSubaguda Duração dos sintomas de 4 a 12 semanasCrônica Duração dos sintomas por mais de 12

semanasRecorrente Mais de 4 episódios por ano, com

duração de 7 a 10 dias e resoluçãocompleta nos intervalos

Complicada Complicação local ou sistêmica emqualquer fase

• Infecção prévia nas vias aéreas superiores• Infecção por Streptococus do grupo A concomitante• Rinite alérgica ou não alérgica• Poluentes• Irritantes locais (abuso de vasoconstritores tópicos e cocaína)• Infecções ou extrações dentárias• Alterações hormonais• Fatores iatrogênicos (ventilação mecânica, tubos nasogástricos, tamponamento nasal, procedimentos odontológicos)• Variações anatômicas (hipertrofia de adenóides e tonsilas, desvio de septo, pólipos nasais, fenda palatina)• Natação• Imunodeficiência• Distúrbios secretórios (fibrose cística)• Síndrome do cílio imóvel• Broncectasias• Hipertrofia de tonsilas faríngeas

Quadro 9 - Fatores de risco para rinossinusite

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deos como claritromicina e, em pacientes adultos,as fluoroquinolonas, como levofloxacina, gatiflo-xacina e moxifloxacina.

Na escolha terapêutica deve ser consideradaa ocorrência de episódios anteriores, tempo deevolução do quadro clínico, gravidade da doença,história de doenças de base e as particularidadeslocais de resistência bacteriana.

Nas rinossinusites crônicas agudizadas ou nasodontogênicas a antibioticoterapia costuma sercoadjuvante, de modo que devem ser utilizadosregimes terapêuticos que possuam atividade con-tra o S. aureus e os estafilococos coagulase-ne-gativos, que são os germes aeróbios mais preva-lentes, associados a drogas anaerobicidas comoa clindamicina ou o metronidazol. A duração dotratamento nunca deve ser inferior a 21 dias, edepende de outras medidas terapêuticas, inclu-indo o tratamento cirúrgico.

DOENÇA DO REFLUXO GASTRESOFÁGICO

A doença do refluxo gastresofágico (DRGE),considerada uma das afecções digestivas de maiorprevalência nos países ocidentais,(127) tem sido bas-tante estudada. Merece destaque o grande númerode publicações existentes na literatura médica so-bre o tema. Contudo, há controvérsias em relação avários aspectos relevantes da afecção.

O Ι Consenso Brasileiro sobre a Doença do Re-fluxo Gastresofágico(127) definiu a doença como“afecção crônica decorrente do fluxo retrógradode parte do conteúdo gastroduodenal para o esô-fago e/ou órgãos adjacentes, acarretando variávelespectro de sintomas (esofágicos ou extra-esofá-gicos), associados ou não a lesões teciduais". Con-vém destacar três aspectos importantes na definiçãoapresentada: admite-se a participação de compo-nentes do refluxo duodenogástrico na fisiopato-genia da afecção e em função disso, propõe-se otermo refluxo de conteúdo gastroduodenal (“nãoácido") e não apenas de conteúdo gástrico (ácido);admite-se a existência de sintomas esofágicos eextra-esofágicos (atípicos); destaca-se que os sin-tomas podem ou não ser acompanhados por le-sões teciduais esofágicas diagnosticadas pelo exameendoscópico (pode haver ou não esofagite).

Prevalência da DRGEA DRGE é uma afecção de grande importância

médico-social pela elevada e crescente incidênciae por determinar sintomas de intensidade variável,que se manifestam por tempo prolongado, podendoprejudicar consideravelmente a qualidade de vidado paciente. Tem prevalência estimada de 20% napopulação adulta dos EUA(128) e taxas similares naEuropa.

No Brasil, em um estudo populacional empre-endido em 22 metrópoles, em que se entrevistouuma amostra populacional de 13.959 indivíduos,(129)

observou-se que 4,6% dos entrevistados apresen-tavam pirose uma vez por semana e que 7,3%apresentavam esta queixa duas ou mais vezes porsemana. Em função destes dados, estima-se que aprevalência da DRGE, em nosso meio, seja ao re-dor de 12%.

Prevalência do refluxo gastroesofágico como cau-sa de tosse

Publicações(27, 130-134) que caracterizam tosse crô-nica como decorrente do refluxo gastresofágico(RGE), nos casos nos quais o tratamento específicodo refluxo elimina ou melhora a queixa de tosse,consideram que o RGE representa uma das causasmais comuns de tosse crônica em adultos em todoo mundo. A prevalência dessa condição nesses es-tudos varia de 5% a 41%. Alguns autores, em trêspublicações sobre o tema,(26-27, 43) apontaram em1981(26) que a prevalência de tosse crônica decor-rente de RGE era de 10% e que o refluxo repre-sentava a quarta causa mais freqüente de tossecrônica. Em 1990,(27) a prevalência observada foide 21% e os autores passaram a considerar o re-fluxo como a terceira causa mais comum de tossecrônica e, em 1998,(43) observaram prevalência de36%, tendo sido considerado o refluxo como asegunda causa mais comum de tosse crônica.

Entretanto, os critérios adotados para caracte-rização da tosse como decorrente de refluxo sãobastante questionáveis, pois o fato de a tosse nãomelhorar com o tratamento clínico do refluxo nãosignifica que a mesma não seja decorrente de re-fluxo, uma vez que pode ser desencadeada porrefluxo “não ácido", que não é adequadamentecontrolado pelo tratamento clínico.

Deve-se considerar também que as duas con-dições clínicas (tosse e RGE) são bastante comunsna população em geral e que essas queixas po-dem estar associadas sem necessariamente haverrelação de causa e efeito entre elas.(135-137)

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Manifestações clínicasAs manifestações clínicas consideradas típicas

da DRGE são pirose e regurgitação. Apesar de es-ses sintomas sugerirem a presença da afecção, valesalientar que outras doenças, como úlcera pépti-ca, gastrites e eventualmente neoplasias, podemcursar com um deles. Contudo, quando essas quei-xas coexistem, a possibilidade de o paciente serportador de DRGE é superior a 90%.

Mais recentemente, reconheceu-se que outrasmanifestações clínicas podem ser decorrentes deRGE. Considera-se que dor torácica não coronaria-na, sensação de globus faríngeo, manifestaçõesextra-esofágicas respiratórias (fundamentalmentetosse e asma brônquica) e otorrinolaringológicas(basicamente disfonia e pigarro) possam tambémser decorrentes de RGE. Deve-se lembrar que aausência de manifestações típicas do refluxo (pi-rose e regurgitação) não exclui o diagnóstico deDRGE. Pacientes com manifestações atípicas fre-qüentemente não apresentam sintomas típicos dorefluxo.(138)

São cabíveis dois tipos de abordagem inicial empacientes com DRGE: tratamento empírico (testeterapêutico) e tratamento baseado na confirmaçãodiagnóstica da afecção por exames subsidiários. Nadecisão sobre a abordagem inicial do paciente, éimportante considerar a idade e a presença ou nãode manifestações de alarme. Recomenda-se con-firmação diagnóstica em pacientes com idade supe-rior a 40 anos, na presença de manifestações dealarme como disfagia, odinofagia, anemia, hemor-ragia digestiva e emagrecimento, nos indivíduoscom história familiar de câncer e naqueles comqueixas de náuseas e vômitos e/ou sintomas de gran-de intensidade ou de ocorrência noturna.(139-140)

Quando, no entanto, estamos frente a mani-festações típicas em pacientes com menos de 40anos de idade, sem manifestações de alarme, po-demos considerar a instituição do teste terapêutico.Nestes casos, é prescrito um inibidor da bombaprotônica (IBP) em dose plena diária por quatrosemanas, como conduta inicial. A resposta satisfa-tória, com remissão dos sintomas, sugere o diag-nóstico de DRGE.

Entretanto, a respeito do teste terapêutico, énecessária cautela, visto que um estudo baseadoem revisão sistemática da literatura(142) concluiu que“o teste terapêutico com inibidores de bomba pro-tônica, em pacientes com suspeita clínica de DRGE,

não estabelece o diagnóstico confiável da afec-ção". Justificando tal afirmação, destacamos queo RGE pode desencadear sintomas decorrentes daacidez do material refluído (por exemplo, piroseretroesternal). Contudo, pode também determinarsintomas que são mais dependentes da presençafísica do refluxo que da sua acidez propriamentedita (por exemplo, regurgitação e muitas das ma-nifestações extra-esofágicas). Os sintomas decor-rentes da acidez do refluxo costumam melhorarcom o uso de medicamentos anti-secretores (osmais usados são os IBP). Porém, os sintomas de-correntes da presença física do refluxo (indepen-dentes da sua acidez) não são adequadamentecontrolados por estas drogas. Portanto, havendomelhora da queixa clínica durante o teste tera-pêutico com IPB, sugere-se fortemente a partici-pação do RGE, contudo, não havendo melhoraexpressiva, não se pode descartar o diagnósticode DRGE, pois os sintomas apresentados pelo pa-ciente podem ser decorrentes de refluxo “não áci-do", que não é adequadamente bloqueado pelosmedicamentos anti-secretores.

Tosse decorrente de RGENão há características próprias da tosse de-

corrente do RGE que a diferencie das tosses de ou-tras origens.(143) A tosse decorrente do refluxo pre-domina no período diurno e não está associada amanifestações típicas do RGE (pirose e regurgita-ção) em até 75% das vezes.(130)

Baseando-se em estudos prospectivos, qua-tro(26-27,143-144) de pacientes com tosse crônica dediversas origens e dois(138,156) de pacientes comtosse decorrente de RGE, elaborou-se um perfilclínico que tem alta capacidade de predição paratosse decorrente de RGE (aproximadamente 91%)(Quadro 10).

Outro fator interessante a ser apontado é queo antecedente de cirurgia anti-refluxo não des-carta que a tosse seja decorrente de RGE. Pode serque a cirurgia tenha sido realizada, mas que nãohaja eficiência no controle do refluxo.(146)

DiagnósticoPara o diagnóstico adequado da DRGE é im-

portante que se conheça o conceito atual da afec-ção, suas várias formas de apresentação clínica einformações sobre alguns exames subsidiários, queserão apresentados a seguir.

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Indicações e limitações dos principais métodosdiagnósticosEndoscopia digestiva alta: Através da endosco-pia digestiva alta avalia-se a presença e o grau deesofagite (é considerado o melhor método paratal diagnóstico). Deve-se lembrar que existe eso-fagite endoscópica em cerca de 50% dos pacien-tes com DRGE com predomínio de manifestaçõestípicas (pirose e regurgitação), e em apenas 15%a 20% daqueles com predomínio de manifesta-ções atípicas. Portanto, a ausência de esofagiteao estudo endoscópico não exclui o diagnósticode DRGE.(138)

Pela endoscopia digestiva alta caracteriza-se apresença de complicações da DRGE (esôfago deBarrett, estenose e ulcerações esofágicas) e evi-denciam-se afecções associadas (hérnia hiatal,úlceras pépticas gastroduodenais, neoplasias, etc).

Quanto a suas limitações, deve-se considerarque não avalia o RGE (apenas eventuais conseqüên-cias do mesmo).

pHmetria esofágica prolongada: Através da pH-metria esofágica prolongada avalia-se a presençae a intensidade do refluxo ácido gastresofágico.Caracteriza-se o padrão de refluxo (ortostático,supino ou combinado) e relaciona-se a queixa clí-nica com o refluxo ácido gastresofágico.

A pHmetria esofágica prolongada está indicadapara: identificação dos portadores da DRGE semesofagite; caracterização do padrão de refluxo;estudo da participação do refluxo ácido nas ma-nifestações atípicas do refluxo (nesta situação, re-comenda-se pHmetria com dois ou mais canais deregistro: um posicionado no esôfago distal paracaracterizar RGE e outro posicionado no esfínctersuperior do esôfago ou logo acima dele, para ca-

racterização de refluxo supraesofágico, tambémchamado de laringofaríngeo); estudo da recidivados sintomas no pós-operatório; e avaliação daeficácia do tratamento clínico (nesta situação, tam-bém se recomenda a pHmetria com dois ou maiscanais de registro: um posicionado no estômagopara avaliar a eficiência da droga em uso na neu-tralização da acidez gástrica e outro no esôfagoinferior para caracterizar RGE.

Com a pHmetria esofágica prolongada não seavalia a presença de esofagite e de complicaçõesda mesma e nem a ocorrência de refluxo “não áci-do" (freqüentemente denominado, de modo errô-neo, de refluxo alcalino).

A endoscopia digestiva alta e a pHmetria eso-fágica prolongada são os dois métodos diretamenterelacionados com o diagnóstico da DRGE. O pri-meiro identificando as formas da doença que cur-sam com esofagite e o segundo identificando oscasos de RGE sem esofagite. A endoscopia propi-cia ainda a realização de coleta de material de bióp-sia para estudo histológico. Este procedimento éde fundamental importância no estudo das com-plicações da afecção.

Impedanciometria esofágica: Em função das jácitadas limitações da pHmetria, foi desenvolvidonovo método de análise que, realizado de modoassociado com a pHmetria, passa a ser reconhecidocomo o melhor método diagnóstico do RGE: a im-pedâncio-pHmetria esofágica.

A impedanciometria intraluminar esofágica é ummétodo que possibilita o acompanhamento domovimento anterógrado (transporte do bolus ali-mentar) e do movimento retrógrado (RGE) do con-teúdo intraluminar esofágico. Associando-se a im-pedanciometria com a pHmetria (impedâncio-pH-metria esofágica), pode-se avaliar o movimentoretrógrado do material refluído, e caracterizar suasnaturezas física (líquido, gasoso ou misto) e quí-mica (ácido, “não ácido" e levemente ácido). Comisso, pode-se verificar se ocorre refluxo, se esterefluxo é líquido, gasoso ou misto e se é ácido ou“não ácido".(147-148)

Estudos recentes, em adultos e crianças, suge-rem que a impedâncio-pHmetria tem potencial paraser o novo padrão ouro para o diagnóstico daDRGE. Em uma recente revisão sobre o tema,(160)

afirma-se que a presença e a ascensão proximaldos episódios de refluxo “não ácido", que ocor-

Ausência de exposição a agentes irritantesNão ser fumante na atualidadeNão estar em tratamento com drogas inibidoras daenzima de conversão da angiotensinaRadiografia de tórax normal ou com alteraçõesinespecíficasParticipação de asma descartada: - a tosse não melhora com o tratamento da asma - teste negativo de provocação com metacolinaParticipação de sinusites descartadaParticipação de bronquite eosinofílica descartada

Quadro 10 - Características que sugerem que a tossecrônica seja decorrente de refluxo gastresofágico

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rem predominantemente no período pós-prandial(quando a acidez gástrica pode estar tamponadapelos alimentos ingeridos) e durante o tratamentocom drogas anti-secretoras, podem agora ser ade-quadamente analisadas. A possibilidade de estudoda relação existente entre as manifestações sinto-máticas do paciente e a presença de refluxo “nãoácido" pode ser de grande valor, sobretudo naavaliação dos sintomas em pacientes na vigênciade drogas anti-secretoras.

A associação de pH e impedância também temse mostrado útil para auxiliar na indicação cirúr-gica de alguns casos. Alguns autores,(150) avaliandotreze pacientes com sintomas persistentes apesardo uso de IBP em dose dupla, observaram quesete apresentavam sintomas relacionados com re-fluxo: um deles com refluxo ácido e seis com re-fluxo “não ácido". Isto significa que a maioria (6/7)dos pacientes apresentava sintomas persistentesdevidos a refluxo “não ácido", ou seja, não detec-tados pela pHmetria convencional. Dez pacientesforam submetidos a fundoplicatura e reavaliados,notando-se desaparecimento de sintomas e de re-fluxo. Isto indica que, diferentemente do trata-mento com anti-secretores, o tratamento cirúrgicopode eliminar também o refluxo “não ácido".

A seguir, são apresentados outros métodos diag-nósticos que, apesar de não se prestarem para odiagnóstico da DRGE em si, têm utilidade na prá-tica clínica.

Estudo radiológico contrastado do esôfago: Oestudo radiológico contrastado do esôfago propi-cia boa avaliação morfológica do órgão (forma doesôfago e características do trânsito da substânciade contraste), e pode evidenciar complicações daDRGE (estenoses e ulcerações) e condições favore-cedoras do refluxo (hérnia hiatal e ângulo esôfago-gástrico anormal). Não identifica, porém, esofagite(apenas eventuais complicações da mesma) e nãocaracteriza adequadamente o RGE.

Manometria esofágica: A manometria esofágicaavalia o tônus pressórico dos esfíncteres do esôfa-go e a atividade motora do corpo esofágico.(151)

Ela fornece bom parâmetro preditivo de evoluçãoda doença (casos com hipotonia muito acentuadado esfíncter inferior do esôfago freqüentementenecessitam de tratamento medicamentoso continua-do, para controle adequado dos sintomas, e nes-

ses casos cogita-se mais precocemente a opçãodo tratamento cirúrgico do refluxo). Está indicadatambém para o diagnóstico de distúrbios motoresespecíficos do esôfago, que podem alterar a orien-tação terapêutica (presença de acalasia, aperistalsee hipocontratilidades muito acentuadas). Fornecebom parâmetro da atividade motora no pré-opera-tório de cirurgia anti-refluxo. Na presença de com-plicação disfágica, no pós-operatório de fundopli-catura, a avaliação manométrica do esôfago temmais chance de poder auxiliar no esclarecimentoda causa da disfagia nos pacientes submetidos amanometria pré-operatória (a manometria préviafornece bom parâmetro referencial, aumentando achance de esclarecimento diagnóstico da causa dadisfagia). A manometria esofágica é útil na identifi-cação da localização dos esfíncteres do esôfago,para posicionamento adequado dos sensores de pH-metria (para este fim, não é necessário estudo ma-nométrico completo do esôfago; realiza-se estudosumário, apenas para identificação dos esfíncteres).

Entretanto, a manometria esofágica não avaliaa real capacidade de transporte do bolus ingerido.Há alterações manométricas (pressóricas) que com-prometem bastante a função esofágica de trans-porte do bolus ingerido (ex. acalasia, acometimentoimportante do esôfago por colagenoses e espasmodifuso do esôfago). Por outro lado, há alteraçõesevidenciadas pelo exame manométrico que nãocomprometem substancialmente o transporte dobolus (nutcraker esophagus, hipocontratilidadespouco acentuadas do corpo esofágico, etc).(152)

Estratégia de abordagem do paciente com tossecrônica e suspeita de RGE

Apesar de os últimos consensos, europeu(53) enorte-americano,(146) recomendarem o tratamentoempírico do RGE em todos os casos mostrados noQuadro 10, há contestação atual em relação à efi-ciência dessa conduta. Alguns autores,(153) em umarevisão sistemática de literatura sobre o tema, con-cluem que “o uso de IBP no tratamento da tossecrônica associada à DRGE tem efeitos benéficosem alguns adultos. Contudo, inferiores aos suge-ridos nos últimos consensos sobre tosse e que “osresultados de tal tratamento são inconsistentes ede benefício variável". Outros(154) referem que ape-nas 35% dos pacientes com tosse crônica e refluxopatológico à pHmetria esofágica respondem bemao uso de IBP.

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Por outro lado, o tratamento empírico do re-fluxo é justificado por um estudo retrospectivo,(154)

no qual foi considerado que o RGE era causa detosse em 44 dentre 56 pacientes com tosse estu-dados (79%), pelo fato de haver melhora da queixacom o uso de IBP. Na estratégia de abordagemque emprega o tratamento empírico do refluxo,recomenda-se a realização de investigação diag-nóstica específica (pHmetria esofágica prolongada)nos casos que não apresentam melhora significa-tiva com o tratamento. A pHmetria indicada nestasituação tem por objetivo avaliar se as medidasem uso estão sendo suficientes para controlar oRGE. Porém, há de se destacar que o exame conse-gue avaliar apenas a ocorrência de refluxo ácidogastresofágico, não conseguindo caracterizar apresença de refluxo “não ácido". Convém salientarque, para a realização do tratamento empírico,recomendam-se medidas comportamentais e die-téticas e o uso de IBP, em dose dupla, por dois atrês meses.

Em nenhuma das publicações sobre tosse crôni-ca e refluxo consultadas para a elaboração destecapítulo se esclarece que a pHmetria executadapara controle do tratamento empírico é realizadade modo diferente da utilizada para o diagnósticodo RGE, que não esteja na vigência de tratamento.Quando queremos avaliar a real ocorrência de re-fluxo ácido gastresofágico, realizamos a monitori-zação pHmétrica estimulando o paciente a mantersuas atividades cotidianas, ingerir alimentos comos quais costuma ter queixas de refluxo e suspenderqualquer medicação anti-secretora por, pelo me-nos, uma semana antes da realização do exame.

Para realização da pHmetria com objetivo de con-trole de tratamento, recomenda-se que o exame sejafeito na vigência das medidas terapêuticas e que sejautilizado, além dos sensores esofágicos (para avalia-ção de refluxo ácido gastresofágico e de refluxo áci-do supraesofágico), um sensor de pH posicionadono interior da câmara gástrica, para avaliar se a aci-dez gástrica está devidamente bloqueada.

Convém comentar que o Consenso Europeu fazuma afirmação inadequada ao recomendar a pH-metria esofágica como o melhor teste diagnósticodo RGE. Atualmente, considera-se que o métodoseja, realmente, o melhor para caracterização dorefluxo ácido gastresofágico. Contudo, são reco-nhecidas as suas limitações na caracterização dorefluxo “não ácido". Em função disso, pode-se dizer

que o melhor método diagnóstico do refluxo é aimpedâncio-pHmetria esofágica, que conseguecaracterizar a presença de refluxos ácido e “nãoácido".

A revisão sistemática da literatura sobre tossedecorrente de refluxo publicada em janeiro de2006(146) reconhece a importância da impedâncio-pHmetria, mas a coloca como perspectiva futura esugere o estudo radiológico contrastado do esôfa-go nos casos nos quais a pHmetria convencionalnão consegue caracterizar refluxo patológico. Po-rém, a nosso ver, esta proposta, apesar de práticae pouco dispendiosa, deve ser considerada combastante crítica, pois o estudo radiológico do esô-fago promove apenas avaliação momentânea dorefluxo, tendo sensibilidade diagnóstica bastantereduzida, e a impedâncio-pHmetria esofágica nãoé apenas uma perspectiva futura, mas sim um mé-todo disponível em vários centros de referência deestudo do RGE, inclusive em nosso meio.

Tanto o consenso europeu quanto a recente re-visão de 2006 reforçam que não se deve descartar aDRGE como causa de tosse crônica nos casos quenão respondem bem ao tratamento empírico do re-fluxo. O insucesso do tratamento tem duas princi-pais causas: a tosse pode ser decorrente de refluxo“não ácido" gastresofágico, que não é adequada-mente bloqueado pelo tratamento clínico; e a tossepode ser decorrente de refluxo ácido que não estáadequadamente controlado pelas medidas clínicasadotadas (resistência ao anti-secretor utilizado).

Um aspecto importante a ser considerado é queos IBP controlam adequadamente os sintomas ácidodependentes da DRGE, porém, não têm efeitoadequado no controle de sintomas que são decorren-tes da presença física do refluxo (independentes daacidez do mesmo). Alguns autores,(156) avaliando pormeio de impedâncio-pHmetria esofágica a eficiên-cia do omeprazol no controle do RGE, observaramque o uso do fármaco não reduzia significativa-mente o número de episódios de refluxo mas simalterava sua acidez (continuava havendo o mesmonúmero de refluxos, contudo eles tornavam-se“não ácidos"). Portanto, espera-se melhora clínicacom o uso da droga apenas dos sintomas ácidodependentes, o que explica a manutenção da quei-xa dos sintomas “não ácido" dependentes.

Alguns autores,(147) estudando pacientes que per-maneciam sintomáticos apesar do uso de IBP, pormeio de impedâncio-pHmetria, observaram que 28%

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deles apresentavam sintomas relacionados com re-fluxo ácido (detectável por pHmetria convencional).Contudo, 40% deles apresentavam sintomas relacio-nados com refluxo “não ácido" (detectável pelaimpedâncio-pHmetria). Os autores descrevem quenos 32% restantes, os sintomas não foram relacio-nados com refluxo (ácido e “não ácido").

Com a melhor caracterização do RGE, pode-seorientar, de modo mais adequado, as alternativasterapêuticas. O tratamento clínico é bem indicadonos casos nos quais a tosse seja decorrente derefluxo ácido. Contudo, para os casos de tossedecorrentes de refluxo “não ácido" ou de aspira-ção grosseira para as vias respiratórias do materialrefluído, a opção de correção cirúrgica do refluxodeve ser fortemente considerada.(157)

TratamentoO tratamento visa ao alívio dos sintomas, à ci-

catrização das lesões e à prevenção de recidivas ecomplicações. Do ponto de vista prático, objetiva-se reduzir o potencial agressivo do conteúdo gás-trico, minimizando a agressão representada peloácido clorídrico do suco gástrico.(139)

Pode-se classificar a abordagem terapêutica emmedidas comportamentais e farmacológicas, que de-verão ser implementadas simultaneamente. As me-didas comportamentais acham-se apresentadas noQuadro 11.

Em nosso conhecimento, não existem estudossuportados por evidências de acordo com os cri-térios de Medicina baseada em evidências em favor

da utilização das medidas comportamentais. Ain-da assim, a experiência clínica tem sugerido forte-mente a sua utilização (recomendação nível C).

Quanto às medidas farmacológicas, os IBP ali-viam os sintomas do refluxo e cicatrizam a esofa-gite mais rapidamente que os antagonistas H2 (AH2),conforme mostrado em duas revisões sistemáti-cas.(158-159) São apresentadas no Quadro 12 as do-ses plenas diárias dessas drogas.

Contudo, apesar da eficiência dos IBP, como jádestacado, existem casos que não têm boa respos-ta à droga. Há tendência em se tratar os pacientescom diagnóstico de esofagite com IBP, em doseplena, por seis a doze semanas. Alguns autores(160-161)

propõem administração de dose dobrada para asesofagites de maior gravidade (graus ΙΙΙ e ΙV deSavary-Miller ou C e D de Los Angeles).

Um estudo baseado em revisão sistemática daliteratura com meta-análise,(162) avaliando a eficiên-cia de IBP e AH2 em adultos com sintomas típicos daDRGE sem esofagite ao estudo endoscópico, con-cluiu que: “os agentes anti-secretores são eficientesno controle da queixa clínica desses pacientes e osIBP apresentam resultados melhores que os AH2".

Alguns novos IBP (lansoprazol, rabeprazol epantoprazol) têm eficiência semelhante ao omepra-zol no controle da pirose, na taxa de cicatrizaçãode esofagite e no controle da recidiva. Um estudobaseado em revisão sistemática da literatura,(163)

avaliando a eficiência desses novos IBP em com-paração com omeprazol, ranitidina e placebo, nacicatrização e melhora dos sintomas decorrentesde DRGE, concluiu que: “alguns novos IBP têmeficácia similar ao omeprazol em termos de con-trole da pirose, taxas de cicatrização e de recidivados sintomas. Os IBP foram melhores que a raniti-dina e o placebo na cicatrização da esofagite".

A história natural da DRGE ainda não é bemcompreendida. De fato, embora os sintomas sejamcrônicos, e muitas vezes recorrentes, usualmente

• Elevação da cabeceira da cama (15 cm)• Moderar a ingestão dos seguintes alimentos, na dependência da correlação com os sintomas:

gordurosos, cítricos, café, bebidas alcoólicas,bebidas gasosas, menta, hortelã, produtos detomate, chocolate

• Cuidados especiais para medicamentospotencialmente "de risco": anticolinérgicos,teofilina, antidepressivos tricíclicos, bloqueadoresde canais de cálcio, agonistas beta adrenégicos,alendronato

• Evitar deitar-se nas duas horas seguintes àsrefeições

• Evitar refeições copiosas• Redução drástica ou cessação do fumo• Reduzir o peso corporal (emagrecimento)

Quadro 11 - Medidas comportamentais no tratamentoda doença do refluxo gastresofágico

Quadro 12 - Inibidores da bomba protônica e dosesplenas diárias

IBP Dose plena diáriaOmeprazol 40 mgLansoprazol 30 mgPantoprazol 40 mgRabeprazol 20 mgEsomeprazol 40 mg

IBP: inibidor da bomba protônica.

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a esofagite não progride com o passar do tempo.Assim, apenas pequena proporção (menos de 15%dos pacientes sem esofagite ou com esofagite leve)progride para graus mais avançados da doença.(164)

Vale salientar que cerca de 80% dos pacientes comDRGE apresentam recidiva dos sintomas nos seisprimeiros meses de interrupção do tratamentomedicamentoso.(165-166) Nos casos nos quais é reque-rido o tratamento de manutenção, este deve serfeito com IBP, empregando-se a dose mínima efi-caz para controle dos sintomas.

Outro estudo baseado em revisão sistemáticada literatura,(167) avaliando a eficiência de IBP, AH2,procinéticos, sucralfato e placebo em adultos comDRGE (com e sem esofagite) concluiu que os IBPsão mais eficientes que as demais drogas, contudo,apresentam ocorrência de efeitos colaterais maiorque o placebo e maior ocorrência de cefaléia quea observada com os AH2. Os AH2 previnem recor-rência de sintomas melhor que o placebo, o quejustifica seu uso em pacientes com intolerânciaaos IBP. Tanto os procinéticos quanto o sucralfatomostraram benefícios em relação ao placebo.

O grande problema do tratamento clínico daDRGE não é controlar os sintomas, mas sim manteros pacientes assintomáticos em longo prazo. Frenteao paciente que necessita de tratamento farmaco-lógico continuado para manter-se bem, devemoscogitar e apresentar a alternativa do tratamentocirúrgico. Na decisão da indicação do tratamentocirúrgico pesam vários fatores, como idade e con-dições clínicas do paciente, tipo de droga neces-sária para mantê-lo assintomático e análise das li-mitações impostas em relação à qualidade de vidado paciente submetido ao tratamento clínico porlongo prazo.

Um aspecto importante a ser reforçado é que,como já destacado, os IBP controlam adequadamenteapenas os sintomas ácido dependentes da DRGE.

Tratamento cirúrgicoPor muito tempo, preconizou-se que o trata-

mento cirúrgico da DRGE estaria indicado nos ca-sos de “intratabilidade clínica" e nas formas com-plicadas da doença. Com o significativo aumentoda eficiência das drogas usadas no tratamento clí-nico da afecção, pode-se dizer que, atualmente, émais rara a observação de “intratabilidade clínica",devendo os pacientes nesta situação ser meticu-losamente estudados para conferir a real partici-

pação do RGE no desencadeamento dos sintomas.O que se observa na prática é que a grande maioriados pacientes tem boa resposta às medidas clínicasusualmente empregadas. Entretanto, parte signifi-cativa dos enfermos (cerca de 50%) tem necessi-dade de manutenção de tratamento clínico pro-longado (comportamental e/ou medicamentoso)para se manterem assintomáticos.(168)

Atualmente, o ponto crucial da indicação dotratamento cirúrgico é a tolerância do paciente aotratamento clínico prolongado. Alguns pacientespreferem manter restrições comportamentais e, fre-qüentemente, o uso de medicamentos, a seremoperados. Outros preferem o contrário. Cabe aomédico apresentar ao paciente, com imparcialida-de, as opções terapêuticas (clínica prolongada ecirúrgica) ponderando vantagens e desvantagense compartilhar com o mesmo a decisão da moda-lidade de tratamento a ser utilizada.

Um estudo baseado em revisão sistemática deliteratura,(169) comparando a eficácia dos tratamen-tos clínico e cirúrgico da DRGE crônica, concluiuque: “o tratamento cirúrgico é mais eficaz que otratamento clínico em relação à melhora dos sin-tomas e cicatrização da esofagite. Contudo, os IBPpodem proporcionar melhora dos sintomas com-parável ao tratamento cirúrgico, se forem utiliza-das doses ajustadas da medicação". Ou seja, au-menta-se a dose até conseguir bloqueio adequadoda secreção ácida do estômago, avaliada por pH-metria esofágica prolongada. Vale destacar que,apesar de esta consideração ser válida para o con-trole das queixas clínicas ácido dependentes dorefluxo, pode não o ser para o controle das queixas“não ácido" dependentes.

Indicações do tratamento cirúrgicoO tratamento cirúrgico está indicado na intole-

rância ao controle clínico prolongado. Considerarque os pacientes nos quais se observam melhoresresultados funcionais do tratamento cirúrgico sãoos que tiveram boa resposta ao tratamento clínico,mas que se tornaram dependentes do mesmo paramanterem-se assintomáticos.

Está indicado também nas formas complicadasda doença (esôfago de Barrett, ulceração, estenose).Apesar de a indicação do tratamento cirúrgico nasformas complicadas da DRGE ser menos polêmicado que nas formas não complicadas, não se deveindicar a terapêutica cirúrgica simplesmente pela

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existência de uma das complicações da doença.Os pacientes com formas complicadas devem sercuidadosamente estudados, buscando-se compreen-der melhor a fisiopatogenia da complicação, indi-cando-se o tratamento mais adequado para cada caso.

O risco de adenocarcinoma do esôfago é maiordentre os indivíduos com esôfago de Barrett. Con-tudo, existe grande polêmica quanto à capacidadedo tratamento cirúrgico em diminuir este risco. Umestudo baseado em revisão sistemática da literatu-ra,(170) avaliando o efeito do tratamento cirúrgicodo refluxo no risco de adenocarcinoma no esôfagode Barrett, concluiu que: “o risco de adenocarci-noma em indivíduos com esôfago de Barrett épequeno e não é reduzido, de modo significante,pelo tratamento cirúrgico do refluxo. Em funçãodisso, o tratamento cirúrgico do RGE não deve serrecomendado como medida antineoplásica".

Com relação aos pacientes com manifestaçõesrespiratórias da DRGE, deve-se considerar que existeassociação freqüente entre a ocorrência de sinto-mas respiratórios e RGE. Entretanto, a relação decausa e efeito nem sempre é de fácil comprovação.Alguns pacientes com problemas respiratórios pri-mários desenvolvem secundariamente DRGE pelouso de medicamentos que reduzem o tônus pres-sórico do esfíncter inferior do esôfago e, por vezes,por deformidades torácicas associadas que favo-recem o RGE. Outros enfermos apresentam prima-riamente RGE e manifestações respiratórias decor-rentes do mesmo. Quando ficar bem esclarecida aparticipação do RGE na determinação e/ou perpe-tuação dos sintomas respiratórios, a correção ci-rúrgica do refluxo é bem indicada.

Alguns estudos apontam que mais da metadedos pacientes asmáticos apresenta evidências en-doscópicas ou pHmétricas indicativas da DRGE.Contudo, a relação entre causa e efeito entre es-sas duas condições (asma e DRGE) nem sempre éde fácil entendimento. O refluxo gastresofágicopode ser causa, mas também pode ser conseqü-ência da asma e do seu tratamento.

Existem controvérsias quanto ao valor da tera-pia anti-refluxo na asma. Alguns autores(171) com-pararam os resultados obtidos com as seguintesmodalidades de tratamento: fundoplicatura tipoNissen, ranitidina (150 mg três vezes ao dia) e al-calinos. Foram analisados os sintomas de asma pormeio de pontuação na qual se considerava, alémdas queixas clínicas, a necessidade de uso de bron-

codilatadores e corticóides. Os autores referirammelhora parcial ou completa em 75% dos pacientestratados cirurgicamente, em 9% dos tratados comranitidina e em 4% no tratamento com apenas alca-linos. O uso de corticóides foi interrompido em 33%dos pacientes do grupo tratado cirurgicamente, 11%do grupo tratado com ranitidina e em nenhum casodo grupo tratado com alcalinos. Deve-se destacar,entretanto, que as drogas utilizadas no grupo trata-do farmacologicamente não são as mais eficientesdisponíveis.

Há várias revisões analisando a alta freqüênciade RGE em pacientes com asma e as dificuldadesdiagnósticas existentes em se saber a real parti-cipação do refluxo no quadro respiratório. Contudo,as poucas revisões sistemáticas publicadas apre-sentam resultados conflitantes.(172-176)

Um estudo, baseado em revisão sistemática daliteratura,(177) avaliando a eficácia do tratamentocirúrgico do refluxo no controle da asma, con-cluiu que: “o tratamento cirúrgico do refluxo me-lhora os sintomas do refluxo e da asma e reduz anecessidade de medicamentos, mas tem pouco ounenhum efeito sobre a função pulmonar".

Outra publicação, também baseada em revisãosistemática da literatura,(178) avaliando a eficáciado tratamento cirúrgico do refluxo no controle daasma, concluiu que: “em termos gerais, não hámelhora significante da asma após o tratamentodo refluxo. Contudo, pode haver subgrupos depacientes que se beneficiam substancialmente como tratamento do refluxo; a grande dificuldade épredizer quais são os bons respondedores".

Talvez o desafio atual em relação a essa questãoseja identificar o subgrupo de pacientes com sin-tomas respiratórios e RGE, nos quais o tratamentodo refluxo possa ser benéfico em relação ao con-trole da asma.

Considera-se, atualmente, que o acesso video-laparoscópico seja mais vantajoso que o acesso porlaparotomia (cirurgia aberta). Contudo, destaca-seque é de fundamental importância que o tratamen-to cirúrgico seja realizado por equipes de grandeexperiência no tratamento cirúrgico do refluxo.

Um estudo baseado em revisão sistemática daliteratura,(179) comparando resultados da videocirur-gia com a operação convencional (técnica aberta),concluiu que: “a videocirurgia é, no mínimo, tãosegura e eficiente quanto a operação pela técnicaaberta e proporciona menor morbidade, menor tem-

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po de permanência hospitalar e recuperação maisrápida".

Tratamento endoscópicoVárias modalidades de tratamento endoscópico

da DRGE (plicatura endoscópica, aplicação de ra-diofreqüência e injeção de polímeros na transiçãoesôfago-gástrica) têm sido desenvolvidas. Contu-do, até o presente momento, há estudos avaliandoos resultados apenas em curto prazo dessas mo-dalidades de tratamento. Estes estudos têm evi-denciado melhora da queixa de pirose, mas nãonormalização do refluxo à pHmetria e nem cicatri-zação da esofagite endoscópica. Algumas compli-cações (incluindo óbitos) têm sido relatadas. Atéo momento, não há evidências favoráveis sufici-entes que autorizem a utilização destas modalida-des de tratamento na prática clínica assistencial.Os estudos relativos ao tema devem continuar res-tritos a centros de pesquisa e investigação, até quese produzam resultados mais consistentes.

Um estudo baseado em revisão sistemática daliteratura,(180) avaliando o tratamento endoscópicoda DRGE, concluiu que: “apesar de haver resultadosfavoráveis, não há estudos bem controlados sufi-cientes que justifiquem a aplicação clínica do tra-tamento endoscópico do refluxo".

Resumo de algumas recomendações apresentadasem recente revisão sistemática da literatura sobrea tosse crônica e DRGE

Em pacientes com tosse crônica, mesmo que hajaevidências concretas de RGE, o diagnóstico efetivode tosse crônica decorrente de refluxo só pode serfeito se houver desaparecimento da tosse com o tra-tamento do refluxo (Nível de evidência: baixo).

Em pacientes nos quais não há melhora da tossecom o tratamento empírico do refluxo, não se podeexcluir a possibilidade da tosse ser decorrente derefluxo (Nível de evidência: baixo).

Em pacientes com tosse crônica decorrente deRGE, o termo doença do refluxo ácido deve ser subs-tituído pelo termo (mais abrangente) doença do re-fluxo, para não induzir ao pensamento inadequadode que a tosse decorrente de refluxo deve melhorarcom o uso de medicamentos ácido-supressores (Ní-vel de evidência: opinião de especialistas).

Em pacientes com tosse crônica submetidos àendoscopia digestiva alta, o achado de examenormal não exclui a possibilidade da tosse ser de-

corrente de refluxo (Nível de evidência: baixo).Em pacientes com tosse crônica submetidos à

pHmetria, a baixa porcentagem de tosse associadaou induzida por refluxo durante o método nãoexclui a possibilidade da tosse ser decorrente derefluxo (Nível de evidência: baixo).

Para o diagnóstico do refluxo “não ácido" comocausa de tosse, deve ser realizado o estudo radio-lógico do esôfago para identificação de refluxogrosseiramente patológico (Nível de evidência:baixo). A nosso ver, se disponível, deve ser indicadaa impedâncio-pHmetria esofágica nestes casos.

Pacientes com tosse crônica que apresentamsintomas típicos de DRGE, ou que se enquadremno perfil apresentado no Quadro 10, têm suspeitaforte de DRGE e devem receber tratamento para oRGE (Nível de evidência: baixo).

Em pacientes nos quais a tosse decorrente derefluxo não é adequadamente controlada pelo trata-mento clínico, o tratamento cirúrgico do refluxodeve ser cogitado (Nível de evidência: baixo).

O tratamento cirúrgico do refluxo pode ser in-dicado nos pacientes com os seguintes critérios:refluxo patológico confirmado por pHmetria, perfilclínico sugestivo de que o refluxo é a causa datosse, ausência de melhora significativa da tosseem três meses de tratamento clínico intensivo dorefluxo, provas de refluxo realizadas durante otratamento (pHmetria, estudo radiológico contras-tado do esôfago, ou outros) sugerindo que o re-fluxo não esteja adequadamente controlado pelotratamento clínico e avaliação, pelo próprio paci-ente, de que sua qualidade de vida está bastantecomprometida pela tosse (Nível de evidência: opi-nião de especialistas).

Não descartar a participação do RGE na ori-gem da tosse em pacientes que já foram operadospor DRGE (Nível de evidência: baixo).

TOSSE E INIBIDORES DA ENZIMACONVERSORA DE ANGIOTENSINA

A enzima conversora da angiotensina possuiefeito não só de converter angiotensina Ι em an-giotensina ΙΙ , como também de degradar algunsmediadores inflamatórios, como a bradicinina,substância P e neurocinina A. Estas substânciasencontram-se diretamente relacionadas na mediaçãoda tosse por interagirem com os receptores rapi-damente adaptáveis e fibras C, ambos participando

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do ramo aferente do reflexo tussígeno. Assim, aocorrência de tosse nos usuários de anti-hiperten-sivos inibidores da enzima conversora de angioten-sina pode ser justificada pela elevação de fatoresfacilitadores deste sintoma, o que ocorre em pre-valência de aproximadamente 20%.

Entretanto, outros mecanismos têm sido suge-ridos como participantes do efeito colateral, comoa elevação da síntese de prostaglandina por estí-mulo da cascata do ácido aracdônico.

A exposição prolongada ao tabaco possivelmenteacarreta dessensibilização de receptores da tosselocalizados no epitélio das vias aéreas, que pode,inclusive, se relacionar a menor indução de tosseentre os tratados com inibidores da enzima con-versora de angiotensina.

BRONQUIECTASIA E TOSSE CRÔNICA

A grande maioria (80% a 90%) dos casos detosse crônica tem como causa as doenças queconstituem a tríade afecções das vias áreas supe-riores, asma e doença do refluxo gastresofágico,condições que podem estar presentes isoladamenteou associadas. Outras doenças causadoras de tossecrônica são a bronquiectasia, a bronquite crônicae a tosse pós-infecciosa.(53)

A bronquiectasia é referida em alguns estudoscom prevalência de 4% a 18%.(28)

Com o advento dos antibióticos em 1940 e avacinação maciça para as doenças da infância (sa-rampo e coqueluche), a incidência de bronquiecta-sia declinou acentuadamente, passando então,conseqüentemente, a ser pouco estudada e lem-brada, o que levou Barker, em 1988, a denominá-la“doença órfã".

Em países em desenvolvimento, a incidênciada bronquiectasia deve ser maior do que nos paí-ses desenvolvidos.(181)

A grande maioria das bronquiectasias tem comoetiologia a infecção, seja de vias aéreas superiores(sinusite crônica), seja de inferiores (pneumonias,tuberculose). Alguns autores, em 1998,(182) estu-daram 314 casos de bronquiectasias e encontraram42,7% dos casos como secundários a tuberculose.

Outras etiologias são: transplante de pulmão ede medula óssea, síndrome da imunodeficiênciaadquirida, obstruções intrabrônquicas (neoplasia,corpo estranho) e extrabrônquicas (linfonodono-megalias), aspergilose broncopulmonar alérgica, etc.

Dentre as síndromes hereditárias associadasàs bronquiectasias, raras, tem-se: síndrome deMounier-Kuhn, de Williams-Campbell, de Marfan,de Kartagener, das unhas amarelas, de Swyer McLeod, fibrose cística, deficiência de alfa 1-anti-tripsina, seqüestro pulmonar e imunodeficiênciacongênita e hereditária (doença granulomatosacrônica, imunodeficiência comum variável de imu-noglobulina e de interferon-γ).(183)

Clinicamente a tosse crônica costuma ser pro-dutiva com expectoração de grande quantidade desecreção mucóide, purulenta (vômica), de escarrosanguinolento, muitas vezes na forma de hemoptise.Não é incomum pacientes eliminarem quantidadesvolumosas de secreção purulenta que podem atingir600 ml/dia. Classicamente a expectoração exami-nada num frasco transparente apresenta três cama-das distintas: a superior apresenta coloração esver-deada-acinzentada clara, com bolhas de ar, pus emuco; a intermediária é semelhante, estreita e commenos bolhas de ar; a inferior é mais larga que asanteriores, e apresenta precipitado esverdeado-aci-zentado escuro, com pus, restos celulares, fibrina,rolhas de catarro, ácido graxo, cristais e fibras elás-ticas. A tosse é influenciada pela mudança de de-cúbito, o que confere a feição vômica fracionada.Halitose pode estar presente, assim como baque-teamento de dedos, estertores pulmonares localiza-dos ou difusos e sinais propedêuticos e funcionaisde hiperinsuflação pulmonar. “Bronquiectasias se-cas" e, portanto, com tosse seca são raras e habitu-almente seqüelas de tuberculose, e são localizadaspreferencialmente nos lobos superiores.

O diagnóstico da bronquiectasia na ausênciade imagens típicas ao radiograma de tórax é con-firmado pela tomografia computadorizada de altaresolução do tórax, que permite classificar a do-ença em cilíndrica, sacular ou varicosa.

O tratamento da tosse presente na bronquiec-tasia é realizado pelo controle da infecção, clini-camente exteriorizada pela purulência do escarroe sintomas gerais, que deve ser tratada energica-mente com os recursos disponíveis, uma vez quea protease, liberada dos neutrófilos seqüestradosnas vias aéreas e representada pela elastase comoa principal, é a responsável pela inflamação crônicaque vai favorecer novas dilatações, agravando ocaso local e sistemicamente.

Os recursos terapêuticos disponíveis são apre-sentados a seguir.(53, 181, 184-186)

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Os antibióticos são utilizados no combate àinfecção produzida por Streptococcus pneumoniae,Haemophylus influenzae e Brarhamella cartharralis.Anaeróbios, Pseudomonas aeruginosa e Staphylococusaereus são menos freqüentes. Esses fármacos devemser utilizados para as agudizações por um períodode catorze a 21 dias, selecionando-se o medicamen-to conforme o caso. Para a panbronquiolite difusa(sinusite crônica associada à bronquiectasia) pode-mos utilizar os macrolídeos com bons resultados.

A corticoterapia sistêmica deve ser administradapor períodos adequados, quando houver bronco-espasmo. Deve-se monitorar os efeitos colaterais.

Quanto à fisioterapia respiratória, a drenagempostural realizada pela percussão associada à tosse,assim como técnicas de expiração forçada são su-periores àquela realizada apenas pela tosse. Nãoexistem estudos avaliando o efeito de programasde reabilitação pulmonar nesses pacientes e osestudos não mostram evidências claras sobre aimportância das técnicas de higiene brônquica,uma vez que abordam preferencialmente os efeitosdas técnicas sobre a quantidade da secreção ex-pectorada e sobre a avaliação da função pulmonarapós a realização de uma única sessão. O impactodas técnicas de higiene brônquica sobre a evoluçãoda função pulmonar em longo prazo, qualidadede vida, morbidade e mortalidade é desconhecido.

Antibióticos inalatórios são usados na infecção porpseudomonas na fibrose cística e nas agudizaçõesem casos refratários à antibioticoterapia sistêmica.

Broncodilatadores e corticóides inalatórios sãoadministrados nos casos de obstrução ao fluxoaéreo ou na presença de hiperresponsividade brôn-quica, com boas evidências clínicas de sucesso.

O uso sistêmico e prolongado de antibióticopode produzir efeitos colaterais indesejáveis, compequeno benefício na diminuição da purulência evolume do escarro.

De maneira prática podemos dizer que, após ouso de antibióticos, os portadores de bronquiectasiacom eliminação habitual e crônica de escarro puru-lento apresentam novo episódio de exacerbação clí-nica rapidamente (menos de quinze dias), os comexame muco-purulento em um a dois meses e nospacientes com escarro mucóide, em seis a sete meses.

A resposta aos antibióticos em doses habituaisocorre em 50% dos casos, em doses maiores em30%, e com antibiótico por via inalatória em 20%dos casos (aminoglicosídeos, amoxicilina).

O tratamento cirúrgico é indicado numa dasseguintes situações: doença localizada com sin-tomas importantes e incontroláveis com tratamentoclínico; hemoptise grave ou recorrente, na doençadifusa ou localizada; nos casos de infecção recor-rente ou grave, mesmo na bronquiectasia difusaquando for passível de ressecção cirúrgica.

TOSSE E TUBERCULOSE

A tosse e a expectoração são sintomas cardinaisda tuberculose e por onde se deve começar a inves-tigação para que os casos pulmonares sejam diag-nosticados e tratados precocemente. Outros sintomassurgem com o tempo: anorexia, febre, emagrecimen-to, hemoptise, astenia e sudorese noturna.(187-188)

Por muitas décadas um grupo de doentes é prio-ritário em termos de rastreamento da tuberculosepulmonar: sintomáticos respiratórios, definidos comopessoas portadoras de tosse e expectoração por pe-ríodos de três semanas ou mais. O prolongamentodesse tempo, entre o início dos sintomas e a investi-gação dos sintomáticos, é um dado importante pelofato de um eliminador de bacilos no escarro poderinfectar dez pessoas ao longo de um ano.(187-192)

O diagnóstico diferencial deve ser feito com osportadores de tosse subaguda e crônica secundáriaprincipalmente a doença pulmonar obstrutiva crô-nica, sinusite crônica, bronquiectasias, câncer depulmão e fibrose cística.(190-192)

A tuberculose primária (contemporânea do com-plexo primário) é mais freqüente na criança e habi-tualmente faltam sintomas respiratórios, predomi-nando sintomas sistêmicos. O dado mais relevanteé a história do contato com adulto sintomático res-piratório, principalmente com aquele com diagnós-tico de tuberculose pulmonar confirmado. Impõe-se um radiograma de tórax. A alteração radiográfi-ca mais comum é a linfonodomegalia hilar e para-traqueal unilateral. A lesão pulmonar raramente énotada (foco de Gohn). Quando há rompimento doslinfonodos hilares caseificados para a via aérea (dis-seminação brônquica) a tosse surge como manifes-tação respiratória exuberante.(205-207)

Ao contrário, na tuberculose do adulto (tubercu-lose de reinfecção) as manifestações respiratóriassão predominantes. A tosse é a manifestação prin-cipal e inicial da doença e geralmente é seca, pas-sando a produtiva com escarros mucóides ou pu-rulentos e, por vezes, com raias de sangue ou

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mesmo hemoptise. A tosse não tem horário prefe-rencial e o tempo do sintoma depende do tempode adoecimento. Os sintomas sistêmicos, além defebre (classicamente vespertina), surgem com aevolução da doença.(191-192)

Nos doentes com expectoração espontânea de-vemos solicitar a baciloscopia direta (pesquisa debacilo álcool-ácido resistente) em três amostras deescarro, em jejum, em dias seguidos. Havendo dis-ponibilidade de cultura para micobactérias, esta deveser também solicitada. A baciloscopia positiva emduas ou mais amostras ou a cultura positiva atestamcomo caso de tuberculose pulmonar positiva. O ren-dimento da baciloscopia é de 50% a 80% dos casos.A pesquisa bacteriológica é método prioritário querpara o diagnóstico quer para o controle de trata-mento, além de permitir identificar a fonte de trans-missão da infecção, o bacilífero.(190)

O escarro induzido e a broncofibroscopia estãoreservados para os casos de baciloscopia negativa.Dá-se prioridade, inicialmente, ao escarro induzidoquando houver disponibilidade do exame. Nestescasos, além da baciloscopia direta deve ser solici-tada a cultura para micobactérias.(187-189)

Técnicas de biologia molecular, como a reaçãoem cadeia da polimerase, têm elevada sensibilidadee especificidade em amostras com baciloscopiapositivas, porém seu rendimento diagnóstico é in-ferior nas amostras com baciloscopia negativa.Recomenda-se que a técnica da reação em cadeiada polimerase não deva ser utilizada na rotina diag-nóstica da tuberculose pulmonar com escarro ne-gativo na baciloscopia.(187)

A prova tuberculínica faz parte da abordagemdiagnóstica e está indicada como método de tria-gem ou para o diagnóstico de tuberculose.(187-188)

O estudo radiológico convencional é métodoauxiliar e sempre indicado para os sintomáticos,contactantes e infectados pelo vírus da imunode-ficiência humana.(187)

A tomografia computadorizada do tórax justi-fica-se apenas em situações nas quais o radiogramade tórax suscita dúvidas em relação à localizaçãoe aspecto da lesão parenquimatosa.(187, 190)

TOSSE CRÔNICA EM CRIANÇAS

As três entidades mais freqüentemente associa-das à tosse crônica, recidivante ou persistente, emadolescentes, adultos e idosos, segundo a maioria

dos estudos são: tosse variante de asma (definidacomo tosse persistente, não produtiva, sem sibi-lância ou com um mínimo de sibilância ou disp-néia), refluxo gastresofágico e sinusite. Ainda nãose sabe se os lactentes e as crianças apresentamessas enfermidades, na mesma proporção dos adul-tos, como etiologia de tosse crônica. Atualmentealguns trabalhos têm mostrado evidências de queas crianças com tosse crônica devem ser melhorinvestigadas e que a tosse variante de asma podenão ser a mesma enfermidade que observamos nosindivíduos adultos, principalmente quando sãoanalisadas as características epidemiológicas e delavado broncoalveolar.(193-194) Assim, crianças com tos-se crônica bem como os lactentes chiadores devemter vários fenótipos que necessitam ser avaliados eentendidos dentro do diagnóstico diferencial. Alémde numerosos fenótipos, a tosse crônica pode serdecorrente de associação de duas ou mais doençase por isto a história clínica e o exame físico sãofundamentais para o esclarecimento diagnóstico edas associações diagnósticas, como acontece naasma e refluxo gastresofágico, asma e sinusite,asma e helmintíases, asma e infecções virais, tu-berculose e pneumonia bacteriana, etc.

Atualmente, acumulam-se evidências de que atosse crônica em crianças que não está associada asibilância pode ter como etiologia fatores poluen-tes intra e extradomiciliares (tabagismo dos pais,partículas derivadas da combustão do diesel, fre-qüência a creches, exposição a inseticidas, materialparticulado no ar, animais no domicílio, etc). Outroaspecto importante a ser considerado em escola-res, e principalmente em adolescentes, é a tosseseca crônica de origem psicogênica. Ao contráriodas outras, ela melhora muito com o sono. Apesarde se conhecer as causas mais freqüentes de tossecrônica ela não deve ser tratada de forma presuntivaou com um diagnóstico provável.

A tosse crônica com radiografia de tórax normalconstitui um desafio para o médico. Deve-se dar im-portância às características da tosse, ritmo diário, épocae condições de início, e sinais e sintomas associados(Quadro 13). Os Quadros 14 e 15 apresentam resulta-dos de estudos sobre a etiologia da tosse crônica.

Tratamento da tosseSe a história, exame físico e a radiografia de tó-

rax fornecem subsídios efetivos e suficientes para odiagnóstico etiológico, deve-se realizar o tratamento

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adequado. Alguns autores(26, 38) estudaram adultoscom tosse crônica e encontraram um diagnósticoespecífico em 92% dos indivíduos e a terapia espe-cífica melhorou o sintoma em 98% deles. Este estu-do mostra que é fundamental o tratamento da causa

Quadro 13 - Particularidades da tosse a sereminvestigadas para o diagnóstico etiológico

Características da tosseProdutiva, seca, irritativa, pigarro, paroxística,rouca, com estridor.

Ritmo diárioMatinal, noturna, piora com o decúbito.

Época e condições de inícioApós entrar em creches, após infecções, apósexercícios, após mudanças de postura, durante adeglutição, após a exposição a alérgenos eirritantes.

Enfermidades, sinais e sintomas associadosAtopia, sintomas gastrintestinais, déficit pondero-estatural, parasitoses, cardiopatias, hipoxemia,infecções em outros aparelhos, sinusite,hiperplasia de adenóides.

Quadro 14 - Causas de tosse crônica em 72 criançase adolescentes com radiografias de tórax normais,segundo Holinger, LD, 1991

Causas mais freqüentes prevalência aproximadaTosse variante de asma 32%Rinossinusites 23%Refluxo gastresofágico 15%Anel vascular 12%Tosse psicogênica 10%

básica, porém nem sempre isto é possível e, em al-gumas ocasiões, um medicamento paliativo, princi-palmente de uso noturno, pode ser recomendado.Embora haja possibilidade de alívio com os medi-camentos antitussígenos (todos muito freqüentementeutilizados pelos médicos), a melhora é discreta, edeve-se em parte ao fato de a dose efetiva estar muitoelevada, próxima da dose tóxica (Quadro 16).

O dexametorfano possui um antídoto específicoque é a naloxana e, portanto, tem sido considera-do o medicamento antitussígeno mais seguro.

Segundo Howard Eigen, “a tosse em si mesmanão é uma doença, porém o resultado de um es-tímulo ou de uma doença básica, e por isso a avalia-ção e o tratamento da tosse devem ser dirigidospara a doença básica e não para a própria tosse".

Quadro 16 - Medicamentos antitussígenos mais utilizados

Não narcóticos Dexametorfano: Adultos: 15 a 30 mg a cada 4 ou 6 horas Crianças: 1 mg/kg/dia divididos em 4 doses Clobutinol: Crianças maiores de 3 anos: 40 a 80 mg/dia divididos em 3 doses Brometo de ipratrópio: Na forma de inalações, 3 a 4 vezes/dia, pode ser útil nas tosses de origem viral Narcóticos Codeína: Crianças: 0,2 a 1 mg/kg/dia em 4 doses Adultos: 15 a 30 mg de 6 em 6 horas

Quadro 15 - Etiologia da tosse crônica em lactentes, crianças e adolescentes. Modificado de Holinger, LD, 1991 e deCloutier, MM, 1994

Asma Tosse variante de asmaInfecciosa Rinossinusite, adenoidite, coqueluche, tuberculose, infecção por adenovírus, vírus sincicial

respiratório, citomegalovírus, vírus da imunodeficiência humana, bronquite crônica,infecções por parasitas intestinais (síndrome de Löefler), Clamydia tracomatis

Congênita Anéis vasculares, anomalias do trato digestivo: duplicações, agenesias, cistos, cistos(estreitamento broncogênicos, estenose subglótica, traqueomalácea, estenose de brônquio e de traquéiadas vias aéreas)Congênita Refluxo gastresofágico, não coordenação da deglutição, fístula traqueoesofágica,(aspirativas) cleft laríngeo, paralisia de corda vocal, acalasiaCongênita Anormalidades da árvore traqueobrônquica, fibrose cística, discinesia ciliar primária,(outras) cardiopatias congênitas, displasia bronco pulmonarPsicogênica Tosse psicogênica (melhora com o sono)Ambiental Fumaça de cigarro, poluição intra e extradomiciliar, baixa umidade do ar, inseticidas, frioTraumática Corpo estranho em: traquéia, brônquio, canal auditivo externo, nariz, laringeOtológica Cerume ou pêlo no canal auditivo externo, infecção, neoplasiaNeoplásica Tumores de mediastino causando compressão brônquica, papilomatose recidivante, adenoma brônquicoOutras Insuficiência cardíaca congestiva, cardiopatias

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