Tingimento de Materiais Texteis

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Universidade do Minho Escola de Engenharia Maria Madalena Alves Martins de Sá Aplicação de β-Ciclodextrinas no Tingimento de Materiais Têxteis Tese de Mestrado em Química Têxtil Trabalho Efectuado sob a Orientação da Professora Doutora Graça Maria Barbosa Soares Julho de 2008

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Tingimento de Materiais Texteis

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  • Universidade do Minho

    Escola de Engenharia

    Maria Madalena Alves Martins de S

    Aplicao de -Ciclodextrinas no

    Tingimento de Materiais Txteis

    Tese de Mestrado em Qumica Txtil

    Trabalho Efectuado sob a Orientao da

    Professora Doutora Graa Maria Barbosa Soares

    Julho de 2008

  • Aplicao de -Ciclodextrinas no Tingimento de Materiais Txteis

    Mestrado em Qumica Txtil ii

    Agradecimentos

    Ao iniciar a apresentao deste trabalho queria aqui expressar publicamente os meus mais

    sinceros agradecimentos a todos aqueles que me apoiaram na realizao deste trabalho,

    nomeadamente:

    minha orientadora, Professora Doutora Graa M. B. Soares, por todo o apoio, constante

    incentivo, disponibilidade, ensinamentos transmitidos e pela orientao ao longo de todo este

    trabalho; tambm quero aqui exprimir o meu sincero agradecimento pela sua dedicao, pela

    ajuda e pela oportunidade proporcionada de participarmos no 21st IFATCC INTERNATIONAL

    CONGRESS em Barcelona no corrente ano. A presena neste to importante congresso

    incentivou-me ainda mais para a realizao deste trabalho.

    Ao Professor Doutor Jorge Santos pelo apoio, suporte e esclarecimentos que se revelaram to

    importantes em determinadas fases deste trabalho.

    TEBE Empresa Txtil de Barcelos, em particular ao seu presidente Eng. Franois Gros, ao seu

    gestor Eng. Amncio Torres e aos responsveis da Tinturaria pelo constante apoio, incentivo e

    disponibilidade para apoiar em tudo o que fosse necessrio.

    minha famlia, em particular aos meus pais e ao Antnio, que sempre me apoiaram e

    acarinharam, apesar da minha constante falta de tempo e da pouca ateno que lhes dediquei

    ao longo da realizao de todo este trabalho.

    A todos muito obrigada.

  • Aplicao de -Ciclodextrinas no Tingimento de Materiais Txteis

    Mestrado em Qumica Txtil iii

    Resumo

    A aplicao de -Ciclodextrinas (CD) no tingimento txtil tem vindo a assumir um interesse

    crescente entre a comunidade cientfica. A modificao das propriedades fsico-qumicas dos

    corantes, tais como, solubilidade, estabilidade ou afinidade para os materiais txteis conseguida

    pela sua capacidade de formar complexos de incluso com as CDs.

    A produo de materiais celulsicos fluorescentes condicionada pela indisponibilidade de

    corantes no mercado para este fim. Assim sendo, o objectivo da primeira parte deste trabalho foi

    desenvolver um mtodo que permitisse o tingimento de fibras celulsicas usando os corantes

    fluorescentes disponveis para fibras sintticas. Para isso, duas -Cicloclodextrinas comerciais,

    um derivado metilado e um hidroxipropilado, foram testadas num processo de tingimento,

    usando a Rodamina B como corante modelo. Analisou-se influncia de todos os parmetros de

    processo, como o pH, concentrao de corante, tipo e concentrao de CD e agente catinico.

    Verificou-se que o mtodo em duas fases, consistindo num processo de impregnao com

    corante -CD a pH alcalino e temperatura ambiente, seguido de uma fixao o processo mais

    conveniente para a obteno materiais fluorescentes com desempenho conveniente.

    A segunda parte do trabalho foi dedicada ao desenvolvimento de um processo de aplicao

    alternativo de corantes de cuba ao algodo, sem recurso a processos de oxidao-reduo.

    Escolheram-se como corantes modelo trs corantes vulgarmente usados na indstria, baseado no

    facto de apresentarem capacidade de complexao com CD em estudos de modelizao

    molecular previamente feitos.

    Todos os factores que podiam influenciar o processo de aplicao do corante foram analisados.

    Obtiveram-se materiais de algodo tingidos com um aspecto envelhecido interessante usando

    uma combinao de corante, CD, fosfato trissdico, carbonato de sdio e agente catinico, para

    melhorar as propriedades de solidez gua e lavagem. Os melhores resultados foram obtidos a

    95C e pH 11 e as amostras tingidas apresentaram um bom compromisso em termos de

    propriedades de solidez lavagem e comportamento mecnico.

  • Aplicao de -Ciclodextrinas no Tingimento de Materiais Txteis

    Mestrado em Qumica Txtil iv

    Abstract

    The application of -cyclodextrins (CD) in the textile dyeing processes has been coming to

    assume a growing interest among the scientific community. The modification of physical and

    chemical properties of dyes, such as, solubility, stability or even affinity for the textile materials is

    guaranteed by their ability to form inclusion complexes with CDs.

    The production of fluorescent cellulosic materials is conditioned by the unavailability of dyes in

    market for these propose. Therefore, the aim of the first part of the present work was to find out

    suitable method of dyeing cellulosic fibers using available fluorescent dyes for the dyeing of

    synthetic fibers. To that, two different commercial -cyclodrextrins, methylated and

    hydroxypropilated derivatives were tested in a dyeing process using Rhodamine B as model dye.

    The influences of process parameters, like pH, dye concentration, type of CD and concentration

    as well as cationic agent were analysed. It was found that the two-step method, consisting of one

    impregnation process with dye dye-CD complexes, at alkaline pH and room temperature followed

    of a fixation step is the most convenient process to obtain fluorescent dyed fabrics with suitable

    performance.

    The second part of work was dedicated to develop an alternative process to apply vat dyes in

    cotton materials without the oxidation-reduction process. Three dyes widely uses in industrial

    applications were chosen as model compounds based in their ability to complex with CD previous

    defined by molecular modelling studies.

    All factors that could influence the application of the dye were analysed. An interesting aged

    dyed cotton material were obtained using a combination of vat dye, CD, trisodium phosphate,

    sodium carbonate and a cationic agent, to improve water and washing fastness properties. The

    best results were obtained at 95C and pH 11 and the obtained samples presented good balance

    between washing fastness and mechanical properties.

  • Aplicao de -Ciclodextrinas no Tingimento de Materiais Txteis

    Mestrado em Qumica Txtil v

    ndice Geral

    Agradecimentos ________________________________________________________ ii

    Resumo ______________________________________________________________ iii

    Abstract ______________________________________________________________ iv

    ndice Geral ___________________________________________________________ v

    ndice de Figuras ______________________________________________________ viii

    ndice de Tabelas _______________________________________________________xi

    Lista de Smbolos e Abreviaturas _________________________________________ xiv

    DESENVOLVIMENTO TERICO ____________________________________________ 1

    Captulo 1 Fibras Celulsicas, Corantes e Tingimento _______________________ 2

    1.1. Fibras Txteis _______________________________________________________ 3

    1.1.1. Introduo _______________________________________________________________ 3

    1.1.2. Fibras Celulsicas __________________________________________________________ 4

    1.1.2.1. Algodo ____________________________________________________________ 4

    1.2. Corantes ___________________________________________________________ 9

    1.2.1. Introduo _______________________________________________________________ 9

    1.2.2. Estrutura Molecular dos Corantes ______________________________________________ 11

    1.2.3. Corantes e Tingimento de Fibras Celulsicas ______________________________________ 14

    1.2.3.1. Corantes de Cuba ____________________________________________________ 15

    1.2.3.2. Corantes cidos _____________________________________________________ 22

    1.2.4. Fluorescncia e Corantes Fluorescentes _________________________________________ 24

    1.3. Mtodos e Processos de Tingimento ___________________________________ 26

    1.3.1. Introduo ______________________________________________________________ 26

    1.3.2. Factores Fsico-Qumicos que Influenciam o Processo de Tingimento _____________________ 27

    1.3.3. Fixao do Corante na Fibra Txtil durante o Processo de Tingimento ____________________ 29

    1.3.4. Alguns Produtos Auxiliares usados no Processo de Tingimento de Materiais Txteis __________ 29

    1.3.5. Processos de Tingimento ____________________________________________________ 30

  • Aplicao de -Ciclodextrinas no Tingimento de Materiais Txteis

    Mestrado em Qumica Txtil vi

    1.3.5.1. Processo de Tingimento por Esgotamento ou Processo Descontnuo ________________ 31

    1.3.5.2. Processo de Tingimento por Impregnao ou Processo Contnuo ___________________ 32

    1.4. Avaliao de Cor e Tingimento ________________________________________ 37

    1.4.1. Introduo ______________________________________________________________ 37

    1.4.2. Medio da Reflectncia em Materiais Txteis _____________________________________ 37

    1.4.3. Avaliao do Rendimento Colorstico dos Corantes __________________________________ 38

    1.4.4. O Sistema CMC __________________________________________________________ 40

    1.4.5. Avaliao dos Materiais Tingidos ______________________________________________ 43

    1.4.5.1. Importncia da Qualidade nos Materiais Tingidos ______________________________ 43

    1.4.5.2. Princpios de Solidez dos Corantes ________________________________________ 44

    1.4.5.3. Resistncia dos Materiais Tingidos a Agentes Prejudiciais ________________________ 45

    1.4.5.4. Testes de Solidez Lavagem (ISO C01-C06) _________________________________ 46

    1.4.5.5. Outras Propriedades de Solidez __________________________________________ 47

    Captulo 2 Ciclodextrinas e sua Aplicao nos Processos Txteis _____________ 48

    2.1. Ciclodextrinas _____________________________________________________ 49

    2.1.1 Introduo ______________________________________________________________ 49

    2.1.2. Ciclodextrinas Modificadas ___________________________________________________ 52

    2.1.2.1. Ciclodextrinas Metiladas _______________________________________________ 53

    2.1.3. Toxicidade das CDs ________________________________________________________ 53

    2.2. Aplicao de Ciclodextrinas nos Processos Txteis _______________________ 55

    2.2.1. Introduo ______________________________________________________________ 55

    2.2.2. Complexao com Ciclodextrinas ______________________________________________ 58

    2.2.2.1. Encapsulao de Corantes com Ciclodextrinas ________________________________ 60

    PARTE EXPERIMENTAL _________________________________________________ 62

    Captulo 3 - Estudo da Aplicao da Rodamina B com -Ciclodextrinas ao Algodo 63

    3.1. Introduo ________________________________________________________ 64

    3.2. Materiais e Mtodos ________________________________________________ 65

    3.2.1. Materiais _______________________________________________________________ 65

    3.2.1.1. Substrato txtil ______________________________________________________ 65

    3.2.1.2. Reagentes _________________________________________________________ 65

    3.2.1.3. Ciclodextrinas _______________________________________________________ 65

    3.2.1.4. Corante ___________________________________________________________ 67

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    3.2.2. Procedimento Experimental __________________________________________________ 69

    3.2.2.1. Tingimento do Algodo com o Corante Rodamina B ____________________________ 69

    3.2.2.2. Processo de Fixao do Corante Rodamina B ao Algodo ________________________ 69

    3.2.3. Controlo de Qualidade dos Materiais Tingidos _____________________________________ 70

    3.3. Apresentao e Discusso de Resultados _______________________________ 71

    3.3.1. Aplicao da Rodamina B na Ausncia de -CD ____________________________________ 72

    3.3.2. Aplicao da Rodamina B com 2-Hidroxipropil--CD e Metil--CD _______________________ 72

    3.4. Concluses ________________________________________________________ 86

    Captulo 4 - Estudo da Aplicao de Corantes de Cuba com -Ciclodextrinas a

    Materiais Celulsicos __________________________________________________ 87

    4.1. Introduo ________________________________________________________ 88

    4.2. Materiais e Mtodos ________________________________________________ 89

    4.2.1. Materiais _______________________________________________________________ 89

    4.2.1.1. Substrato txtil ______________________________________________________ 89

    4.2.1.2. Reagentes _________________________________________________________ 89

    4.2.1.3. Ciclodextrinas _______________________________________________________ 89

    4.2.1.4. Corantes___________________________________________________________ 90

    4.2.2. Procedimento Experimental __________________________________________________ 91

    4.2.2.1. Tingimento Tradicional do Algodo com Corantes de Cuba _____________________ 91

    4.2.2.2. Tingimento com Corantes de Cuba e -Ciclodextrinas ___________________________ 92

    4.2.3. Controlo de Qualidade dos Materiais Tingidos _____________________________________ 93

    4.3. Apresentao e discusso de resultados ________________________________ 93

    4.3.1. Corantes de Cuba e Ciclodextrinas _____________________________________________ 94

    4.3.2. Aplicao dos Corantes de Cuba usando o Processo de Oxidao-Reduo ________________ 95

    4.3.3. Aplicao dos Corantes de Cuba usando -CD ____________________________________ 98

    4.4. Concluses _______________________________________________________ 118

    Capitulo 5 - Perspectivas Futuras _______________________________________ 119

    5.1. Perspectivas Futuras _______________________________________________ 120

    Capitulo 6 - Bibliografia ______________________________________________ 121

    6.1. Bibliografia _______________________________________________________ 122

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    Mestrado em Qumica Txtil viii

    ndice de Figuras

    Figura1- Estrutura da celulose destacando a unidade bsica repetitiva (celobiose) e

    extremidades

    Figura 2- Reaco de diazotao

    Figura 3- Estrutura molecular (a) Naftaleno, (b) Antraquinona

    Figura 4- Exemplo do processo de reduo do corante de cuba com ditionito de sdio.

    Figura 5- Reaces qumicas envolvidas na formao de um ster leucoderivado

    Figura 6- Exemplo de uma reaco de oxidao-reduo

    Figura 7- Exemplo de uma reaco redox considerando os seus pares redox conjugados

    Figura 8- Esquema das reaces qumicas durante o tingimento de corantes cidos

    Figura 9- Ilustrao da aceptibilidade eplisoide da equao da diferena de cor CMC (nos trs

    semi-eixos)

    Figura 10- Estrutura molecular das ciclodextrinas

    Figura 11- Estrutura molecular das ciclodextrinas alfa, beta e gama

    Figura 12- Estrutura externa da CDs so hidroflicas e internamente so hidrofbicas

    Figura 13- Pontos de modificao mais frequentes, nos hidroxilos das CDs

    Figura 14- Modificao superficial com ciclodextrinas

    Figura 15- Estrutura qumica da Cavasol W7 M

    Figura 16- Estrutura qumica da Cavasol W7 HP

    Figura 17- Estrutura qumica da Rodamina B

    Figura 18- Espectro de excitao (a) e espectro de emisso da Rodamina B (b)

    Figura 19- Modelagem molecular do complexo Rodamina-CD

    Figura 20- Amostra resultante da impregnao da Rodamina B (1%)

    Figura 21- Valores de reflectncia (%) das diferentes amostras tingidas com Rodamina B e HP-

    -CD nas seguintes condies: A12- 10% CD, 1%RdB e com tratamento posterior; A1-

    10% CD HP e 1%RdB; A2- 20% CD HP, 1%RdB; A3- 10% CD e 2%RdB.

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    Mestrado em Qumica Txtil ix

    Figura 22- Valores de reflectncia (%) das diferentes amostras tingidas com Rodamina B e M- -

    CD nas seguintes condies: B12- 10% CD M e 1%RdB e com tratamento posterior,

    B1- 10% CD M e 1%RdB; B2- 20% CD M e 1%RdB; B3- 10% CD M e 2%RdB.

    Figura 23- Estrutura qumica do corante Vermelho Cibanon 2B

    Figura 24- Estrutura qumica do corante Azul Cibanon RSJ

    Figura 25- Amostras de algodo tingidas com corante Cuba (1%) e 2-Hidroxipropil--

    Ciclodextrina (10%)

    Figura 26- Amostras de algodo tingidas com corante Cuba (1%) e Optifix (60gL-1)

    Figura 27- Amostras de algodo tingidas com corante Cuba (1%), 2-Hidroxipropil--Ciclodextrina

    (10%) e Optifix (60gL-1)

    Figura 28- Amostras de algodo tingidas a 40C com corante Cuba (1%), 2-Hidroxipropil--

    Ciclodextrina (10%) e Carbonato de Sdio (15gL-1)

    Figura 29- Valores de K/S para as amostras de algodo tingidas a 40C com corante Cuba (1%),

    2-Hidroxipropil--Ciclodextrina (10%) para cada um dos corantes, que correspondem

    a Am1, Vm1 e Az1; os valores de K/S para as amostras de algodo tingidas a 40C

    com corante Cuba (1%), 2-Hidroxipropil--Ciclodextrina (10%) e Carbonato de Sdio

    (15gL-1) para cada um dos corantes correspondem aos ensaios Am7, Vm7 e Az7

    Figura 30- Amostras de algodo tingidas com corante Cuba (1%), 2-Hidroxipropil--Ciclodextrina

    (10%) e Optifix (60gL-1)

    Figura 31- Amostras de algodo tingidas a 70C com corante Cuba (1%), 2-Hidroxipropil--

    Ciclodextrina (10%) e Optifix (60gL-1) adicionado 10 minutos antes do fim do

    tingimento

    Figura 32- Amostras de algodo tingidas a 70C com corante Cuba (1%), 2-Hidroxipropil--

    Ciclodextrina (10%) e Carbonato de Sdio (15gL-1)

    Figura 33- Valores de K/S para as amostras de algodo tingidas a 40C (Am7, Vm7 e Az7) e a

    70C (Am8, Vm8 e Az8) para cada um dos corantes, com corante Cuba (1%), 2-

    Hidroxipropil--Ciclodextrina (10%) e Carbonato de Sdio (15gL-1)

    Figura 34- Amostras de algodo tingidas a 70C e 95C com corante Cuba (1%), 2-Hidroxipropil-

    -Ciclodextrina (10%), e Carbonato de Sdio (60gL-1)

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    Mestrado em Qumica Txtil x

    Figura 35- Valores de K/S para as amostras de algodo tingidas a 70C e 95C com corante

    Cuba (1%), 2-Hidroxipropil--Ciclodextrina (10%), e Carbonato de Sdio (60gL-1)

    Figura 36- Amostras de algodo tingidas a 95C com corante Cuba (1%), 2-Hidroxipropil--

    Ciclodextrina (10%), Carbonato de Sdio (15gL-1), Soda Custica 38B (6gL-1), Sulfato

    de Sdio (20gL-1) e Optifix (60gL-1) adicionado 10 minutos antes do fim do tingimento

    Figura 37- Amostras de algodo tingidas a 95C com corante Cuba (1%), 2-Hidroxipropil--

    Ciclodextrina (10%), Carbonato de Sdio (15gL-1), Fosfato Trissdico (20gL-1) e Optifix

    (60gL-1) adicionado 10 minutos antes do fim do tingimento

    Figura 38- Valores do rendimento colorstico (K/S) para as amostras de algodo tingidas a 95C

    com corante Cuba (1%), 2-Hidroxipropil--Ciclodextrina (10%), Carbonato de Sdio

    (15gL-1), Fosfato Trissdico (20gL-1) e Optifix (60gL-1) adicionado 10 minutos antes do

    fim do tingimento (Am19/Vm19/Az19) e amostras de algodo tingidas a 95C com

    corante Cuba (1%), Carbonato de Sdio (15gL-1), Fosfato Trissdico (20gL-1) e Optifix

    (60gL-1) adicionado 10 minutos antes do fim do tingimento (Am17/Vm17/Az17)

    Figura 39- Amostras de algodo tingidas com corante Cuba vermelho ou azul (1%), 2-

    Hidroxipropil--Ciclodextrina (10%), Carbonato de Sdio (15gL-1), Fosfato Trissdico

    (20gL-1) e Optifix (60gL-1) adicionado 10 minutos antes do fim do tingimento pelos

    processo 1 e 2 acima descritos

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    Mestrado em Qumica Txtil xi

    ndice de Tabelas

    Tabela 1- Amostras resultantes da aplicao da Rodamina B (1%) e 2-Hidroxipropil--

    Ciclodextrina ou Metil--Ciclodextrina em diferentes concentraes, usando um

    banho a pH 9 e temperatura ambiente, a uma temperatura de fixao de 170C

    Tabela 2- Amostras resultantes da aplicao da Rodamina B em diferentes concentraes e 2-

    Hidroxipropil--Ciclodextrina (10%), usando um banho a pH 9 e temperatura

    ambiente, e uma temperatura de fixao de 170C

    Tabela 3- Amostras resultantes da aplicao da Rodamina B em diferentes concentraes e

    Metil--Ciclodextrina (10%), usando um banho a pH 9 e temperatura ambiente, e

    uma temperatura de fixao de 170C

    Tabela 4- Amostras resultantes da aplicao da Rodamina B (1%) e 2-Hidroxipropil--

    Ciclodextrina (10%) ou Metil--Ciclodextrina, usando um banho a pH 9 e a diferentes

    temperaturas

    Tabela 5- Amostras resultantes da aplicao da Rodamina B (1%) e 2-Hidroxipropil--

    Ciclodextrina (10%), usando um banho a diferentes valores de pH

    Tabela 6- Amostras resultantes da aplicao da Rodamina B (1%) e Metil--Ciclodextrina (10%),

    usando um banho diferentes valores de pH

    Tabela 7- Amostras resultantes da aplicao da Rodamina B (1%) e 2-Hidroxipropil--

    Ciclodextrina (10%) ou Metil--Ciclodextrina, usando um banho a pH 9 e na presena

    ou ausncia de sal

    Tabela 8- Amostras resultantes da aplicao da Rodamina B (1%) e 2-Hidroxipropil--

    Ciclodextrina (10%), usando um banho a pH 9 e com fixao ps tingimento a

    diferentes temperaturas com calor seco

    Tabela 9- Amostras resultantes da aplicao da Rodamina B (1%) e Metil--Ciclodextrina (10%),

    usando um banho a pH 9 e com fixao ps tingimento a diferentes temperaturas

    com calor seco

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    Mestrado em Qumica Txtil xii

    Tabela 10- Amostras resultantes da aplicao da Rodamina B (1%) e 2-Hidroxipropil--

    Ciclodextrina (10%), usando um banho a pH 9 e a adio do agente fixador, a

    temperatura de fixao ps tingimento a 170C ou ps tratamento com resinas a

    180C

    Tabela 11- Amostras resultantes da aplicao da Rodamina B (1%) e Metil--Ciclodextrina

    (10%), usando um banho a pH 9 e adio do agente fixador, a temperatura de

    fixao ps tingimento a 170C ou ps tratamento com resinas a 180C

    Tabela 12- Resultados dos testes de solidez gua e lavagem das amostras tingidas com

    Rodamina B (1%), 2-Hidroxipropil--Ciclodextrina ou Metil--Ciclodextrina (10%),

    usando um banho a pH 9 e temperatura ambiente, e uma temperatura de fixao

    de 170C (ensaio sem fixador)

    Tabela 13- Resultados dos testes de solidez gua e lavagem das amostras tingidas com

    Rodamina B (1%), 2-Hidroxipropil--Ciclodextrina ou Metil--Ciclodextrina (10%),

    com o fixador (30gL-1), usando um banho a pH 9 e a temperatura ambiente, e uma

    temperatura de fixao de 170C

    Tabela 14- Resultados dos testes de solidez gua e lavagem das amostras tingidas com

    Rodamina B (1%), 2-Hidroxipropil--Ciclodextrina ou Metil--Ciclodextrina (10%),

    fixador (30gL-1), usando um banho a pH 9 e a temperatura ambiente, e uma

    temperatura de fixao de 180C com o ps tratamento com resinas

    Tabela 15 - Propriedades mecnicas dos ensaios

    Tabela 16- Amostras resultantes do tingimento por esgotamento pelo processo tradicional

    para cada um dos corantes (1%)

    Tabela 17- Resultados obtidos, para o corante Amarelo Cibanon G pelo processo tradicional,

    a nvel de manchamento e alterao de cor nos testes de solidez gua e

    lavagem

    Tabela 18- Resultados obtidos, para o corante Vermelho Cibanon 2B pelo processo

    tradicional, nvel de manchamento e alterao de cor nos testes de solidez

    gua e lavagem

  • Aplicao de -Ciclodextrinas no Tingimento de Materiais Txteis

    Mestrado em Qumica Txtil xiii

    Tabela 19- Resultados obtidos, para o corante Azul Cibanon RSJ pelo processo tradicional",

    nvel de manchamento e alterao de cor nos testes de solidez gua e lavagem

    Tabela 20- Resultados dos testes de solidez obtidos para as amostras tingidas com corante

    Amarelo Cibanon G, a nvel de manchamento e alterao de cor nos testes de

    solidez gua e lavagem

    Tabela 21- Resultados dos testes de solidez obtidos para as amostras tingidas com corante

    Vermelho Cibanon 2B, a nvel de manchamento e alterao de cor nos testes de

    solidez gua e lavagem

    Tabela 22- Resultados dos testes de solidez obtidos para as amostras tingidas com corante

    Azul Cibanon RSJ, a nvel de manchamento e alterao de cor nos testes de

    solidez gua e lavagem

    Tabela 23- Resultados dos testes de solidez obtidos para as amostras tingidas com corante

    Amarelo Cibanon G, processo 2

    Tabela 24- Resultados dos testes de solidez obtidos para as amostras tingidas com corante

    Vermelho Cibanon 2B, processo 2

    Tabela 25- Resultados dos testes de solidez obtidos para as amostras tingidas com corante

    Azul Cibanon RSJ, processo 2

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    Mestrado em Qumica Txtil xiv

    Lista de Smbolos e Abreviaturas

    i. Smbolos Latinos

    A- rea

    ab- Coordenadas CIELab

    c- Velocidade de Luz Absorvida

    C*- Croma

    C*- Variao de croma

    Cf- Concentrao de corante na fibra

    Cmax- Concentrao de corante mximo da fibra

    Cs- Concentrao de corante em soluo

    D- Coeficiente de Difuso (Fick)

    dc/dx- Gradiente de Concentrao (Fick)

    ds/dt- Gradiente de Concentrao (Fick)

    e- - electro

    E- Variao de Energia

    ECMC- Variao de cor para a equao CMC

    Ft- Fora Motriz

    h- Constante de Planck

    H*- Tonalidade

    H*- Variao de tonalidade

    k- Constante de equilbrio

    L*- Luminosidade

    Log- Logaritmo

    L*- Variao de luminosidade

    n- Nmero de electres

    Ox- Forma oxidada

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    R- Resistncia penetrao das molculas de corante

    Red- Forma reduzida

    SL, SC, SH- Variaes de Luminosidade, croma e tonalidade

    Vt- Velocidade de Tingimento

    101010 zyx ++ - Coordenadas do sistema CIE

    ii. Smbolos Gregos

    - Alfa

    - Beta

    - Gama

    - Variao finita

    - Comprimento de Onda

    - Frequncia

    - Somatrio total

    iii. Abreviaturas e Siglas

    Am- Amarelo

    Az- Azul

    BSI- British Standards Institution

    BOD- Carncia Bioqumica de Oxignio de Efluentes

    Cel- Celulose

    CD- Ciclodextrina

    CDs- Ciclodextrinas

    CD M- Ciclodextrina Metilada

    CD HP- Ciclodextrina Hidroxipropilada

    CIE Comission Internationale de L`Eclairage

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    CIELab- Comission Internationale de L`Eclairage usando as coordenadas Lab

    CMC- Colour Matching Comittee

    COD- Carncia Qumica de Oxignio de Efluentes

    DIMEB- Dimetil-beta-ciclodextrina

    EN- Norma Europeia

    HPCD- Hidroxipropil beta Ciclodextrina

    ISO- Internatinal Standard Organization

    Min- Minutos

    Owf- On weight fiber

    RdB- Rodamina B

    SDC- Society of Dyers and Colourists

    TRIMEB- Trimetil-beta-ciclodextrina

    K/S- Rendimento Colorstico

    UV- Ultravioleta

    Vm- Vermelho

    TOC- Carbono Orgnico Total de Efluentes

  • DESENVOLVIMENTO TERICO

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    Mestrado em Qumica Txtil 2

    Captulo 1 Fibras Celulsicas, Corantes e Tingimento

  • Aplicao de -Ciclodextrinas no Tingimento de Materiais Txteis

    Mestrado em Qumica Txtil 3

    1.1. Fibras Txteis

    1.1.1. Introduo

    As fibras txteis podem ser divididas em dois grandes grupos denominadas fibras naturais e

    sintticas. As fibras naturais mais utilizadas so celulsicas (com cadeias polimricas lineares de

    glucose) e protecas (polmero complexo composto por diferentes aminocidos). Nas primeiras se

    incluem o algodo e linho, fazendo a l e a seda parte do segundo grupo.

    As fibras sintticas so comercializadas como viscose (xantato de celulose obtida da madeira),

    acetato de celulose (triacetato obtido da madeira), poliamida (condensao do cido adpico e

    hexametileno diamina), polister (polmero do cido terefltico e etilenoglicol) e acrlica

    (polimerizao da acrilonitrilo). Todas estas fibras podem ser coloridas numa larga gama de

    cores, apresentando propriedades de solidez diversas, sendo usadas numa imensido de

    diferentes produtos txteis. Cada uma destas fibras requer corantes com caractersticas bem

    definidas, aplicados de acordo com mtodos de tingimento adequados.

    Muitas vezes os materiais apresentam-se em misturas de fibras, mas o tingimento da maioria das

    fibras secundrias frequentemente similar ao das fibras principais.

    As fibras naturais apresentam uma srie de desvantagens inerentes. Estas fibras apresentam

    variaes significativas em termos de durabilidade, delicadeza, forma, entre outras propriedades

    fsicas, dependendo das condies de origem em termos de localizao e condies de

    crescimento. As fibras animais e vegetais tambm contm considerveis quantidades de

    impurezas, que devem ser removidas antes do tingimento txtil. As fibras fabricadas

    artificialmente so bastante mais uniformes em termos de propriedades fsicas. Estas fibras

    possuem apenas como contaminantes pequenas quantidades de oligomeros, polmeros de baixo

    peso molecular e ligeiramente solveis assim como alguns lubrificantes que foram produtos

    qumicos adicionados para facilitar o processo de produo das fibras. Estes aditivos so

    relativamente fceis de remover comparativamente com a dificuldade de purificar as fibras

    naturais.

  • Aplicao de -Ciclodextrinas no Tingimento de Materiais Txteis

    Mestrado em Qumica Txtil 4

    Mas as fbras naturais apresentam um sem nmero de vantagens que as tornam comercialmente

    muito atractivas. Para alem de propriedades de conforto e caractersticas estticas atraentes, tm

    capacidade de absoro de gua que vai condicionar o seu comportamento, nomeadamente no

    que se refere possibilidade de serem tingidas ou acabadas. As fibras celulsicas ou proteicas

    so hidroflicas e absorvem elevadas quantidades de gua, o que provoca um inchao radial. Pelo

    contrrio, as fibras sintticas so hidrofbicas, e quase no absorvem gua.

    O carcter hidroflico ou hidrofbico das fibras vai influenciar o tipo de corante a usar no seu

    tingimento (GUARATINI ET AL., 2000; BROADBENT, 2001).

    1.1.2. Fibras Celulsicas

    1.1.2.1. Algodo

    O algodo sem dvida uma das fibras txteis mais importantes. A fibra de algodo resulta de

    sementes de plantas do gnero Gossypium, cultivadas em climas sub-tropicais. A morfologia da

    fibra do algodo extremamente complexa.

    A fibra de algodo apresenta uma cutcula ou parede celular exterior que relativamente

    hidrofbica, contendo alguma celulose e acompanhada de gorduras e ceras. Estas sero

    quebradas e removidas durante o processo de preparao (lavagem e branqueamento) para

    tornar as fibras mais absorventes. A cutcula uma camada das clulas primrias composta de

    fibrilas entrecruzadas de celulose contendo algumas pectinas.

    A camada interior, secundria, constituda por sucessivas camadas de fibrilas. Estas so

    estruturas longas e esta espiral envolve a fibra de uma forma helicoidal. De tempos em tempos,

    as espirais mudam de direco e so responsveis pelas caractersticas convulses da fibra de

    algodo que se desenvolvem na primeira secagem. Por sua vez, as fibrilas so compostas por

    pequenas microfibrilas, as mais pequenas so a combinao de molculas de celulose.

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    O lmen, a cavidade que pode permanecer depois do protoplasma no interior da clula ser

    evaporado, tem protenas e a matria corada e minerais so depositados nas suas paredes

    (BROADBENT, 2001).

    Quimicamente o algodo constitudo por celulose pura, e contm uma pequena quantidade de

    impurezas, entre as quais, gorduras e ceras naturais, pectina, matria corada e compostos de

    azoto (substncia que enche o lmen).

    Os cidos inorgnicos diludos a frio no atacam o algodo, porm, se aps a impregnao com

    estes cidos secarmos o substrato, este ser fortemente danificado. O cido sulfrico

    concentrado e em aco prolongada transforma o algodo em compostos solveis como a

    dextrina.

    O algodo pode ser fervido em solues alcalinas sem ser prejudicado, sendo, porm

    recomendvel a ausncia de ar, pois na presena do mesmo pode haver enfraquecimento da

    fibra pela formao de oxicelulose (TWARDOKUS, 2004).

    As fibras celulsicas absorvem largas quantidades de gua (20-30% para uma humidade relativa

    de 100% a 25C). A celulose um polialcool, mas as ligaes fortes de hidrognio entre os

    grupos hidroxilo de molculas de polmero vizinhas no so facilmente quebradas, mesmo na

    presena de gua. Na realidade, a gua no penetra no interior compacto das regies cristalinas

    da celulose. Contudo, o algodo relativamente hidroflico, sendo uma fibra absorvente. A sua

    estrutura porosa permite uma penetrao rpida de molculas de gua entre as fibrilas e no

    interior da regio amorfa do polmero, onde podem ser facilmente formadas ligaes de

    hidrognio com grupos hidroxilo de celulose livres.

    O elevado peso molecular e a cristalinidade da celulose so assim responsveis pelas suas boas

    propriedades mecnicas e a sua estrutura fibrilar e as regies amorfas pelo seu carcter

    hidroflico. Desta forma, as propriedades fsico-qumicas e mecnicas da celulose esto

    relacionadas com a sua constituio qumica. Este polissacardeo formado por unidades de -

    D-glicopiranose unidas por ligaes glicosdicas; a unidade estrutural a celobiose ou anidro

    glicose sindiottica (Figura 1); os seus grupos terminais so diferentes quanto reactividade.

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    Figura 1- Estrutura da celulose

    As cadeias de celulose formam ligaes de hidrognio intramoleculares (entre grupos hidroxilo da

    mesma cadeia) e intermoleculares (entre grupos hidroxilo de cadeias adjacentes). O primeiro tipo

    de interaco responsvel pela rigidez da cadeia e o segundo pela formao da fibra vegetal, ou

    seja, as cadeias de celulose agregam-se formando as microfibrilas, que por sua vez se agregam

    formando as fibrilas que se ordenam para formar as sucessivas paredes celulares da fibra.

    As fibras de celulose so constitudas de regies ordenadas tridimensionalmente (cristalitos) que

    se alternam com as regies amorfas (completamente desordenadas). A relao entre regies

    ordenadas e desordenadas varia consideravelmente conforme a origem da celulose. Os cristalitos

    da celulose possuem vrias formas polimrficas. Estas dependem das condies em que as

    regies cristalinas foram formadas. As regies amorfas da celulose so determinantes no seu

    comportamento em processos a molhado, uma vez que elas permitem que os compostos

    acedam fibra. Um exemplo disso o tingimento das fibras em que a penetrao dos corantes

    acontece atravs destas zonas no cristalinas.

    A reactividade da celulose governada por grupos funcionais presentes na estrutura qumica e

    interaces fsicas entre as cadeias do polimero. A presena de regies amorfas e cristalina na

    fibra da celulose determina a acessibilidade dos agentes qumicos aos grupos reactivos

    (BROADBENT, 2001; INGAMELLS, 1993).

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    Um nvel relativamente elevado de absoro de gua e boas propriedades de frescura contribuem

    para que o algodo seja uma das fibras mais confortveis. Devido aos grupos hidroxilos da

    celulose, o algodo tem uma grande capacidade de atraco pela gua. Assim que, a gua

    penetra na fibra, o algodo incha e a sua seco cruzada torna-se mais arredondada. A elevada

    capacidade de inchar quando est hmido permite ao algodo absorver at cerca de um quarto

    do seu peso em gua. Isto significa que em presena de temperaturas elevadas a transpirao do

    corpo humano absorvida pelos tecidos de algodo, sendo transportado ao longo dos fios para a

    superfcie exterior da roupa e evaporados para o ar. Assim, o corpo ajudado pelo tecido a

    manter a sua temperatura.

    Talvez a maior desvantagem das peas de algodo seja a sua tendncia para amarrotar e a

    dificuldade para remover os vincos formados. A rigidez das fibras de algodo reduz a capacidade

    dos fios para resistir ao amarrotamento. Quando as fibras so dobradas formando uma nova

    configurao, as ligaes de hidrognio que mantm as cadeias de celulose juntas rompem-se e

    as molculas dispem-se de modo a reduzir o stress dentro da fibra. As ligaes de hidrognio

    reorganizam-se em novas posies, sendo que, quando a fora de presso retirada as fibras

    mantm-se nas novas posies. a ruptura e a nova organizao das ligaes de hidrognio que

    permitem a permanncia dos vincos, sendo assim o algodo tem de ser passado a ferro.

    O algodo uma fibra moderadamente forte, com uma boa resistncia abrasiva e uma boa

    estabilidade dimensional. resistente aos cidos, lcalis e solventes orgnicos habitualmente

    usados. Mas, sendo um material de origem natural, est sujeito aos ataques dos insectos e dos

    fungos, evidenciado pela tendncia do algodo para ganhar mofo se permanecer hmido.

    O algodo resiste bem luz solar e ao calor, embora uma exposio permanente a uma luz solar

    intensa cause o amarelecimento e a eventual degradao da fibra. O amarelecimento pode

    tambm ocorrer quando as peas de algodo so secas em secadores a gs. A alterao da cor

    o resultado das reaces qumicas entre a celulose e o oxignio ou o xido de azoto contido no

    ar quente do secador. O algodo manter a sua brancura mais tempo quando seco em

    secadores elctricos.

    Uma caracterstica interessante do fio de algodo que ele mais resistente molhado do que

    quando est seco. Esta propriedade uma consequncia das caractersticas micro e macro

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    estruturais da fibra. Quando a gua absorvida, a fibra incha e a sua seco cruzada torna-se

    mais arredondada. Normalmente esta absoro pelas fibras vai causar um stress interno

    conduzindo ao seu enfraquecimento. Contudo, no caso do algodo, a absoro da gua causa

    uma diminuio do stress interno da fibra. Assim, com menos stress interno para compensar a

    fibra torna-se mais forte. Ao mesmo tempo, as fibras inchadas no interior dos fios aumentam

    fortemente a presso entre elas. A frico interna torna o fio mais forte. Adicionalmente, a gua

    absorvida actua como um lubrificante interno que contribui para um maior nvel de flexibilidade

    das fibras. Isto contribui para o facto de as roupas de algodo so mais fceis de passar a ferro

    quando hmidas. As fibras de algodo so mais susceptveis de encolher aps a lavagem.

    Mais do que qualquer outra fibra, o algodo satisfaz os requisitos da indstria do vesturio, da

    decorao para o lar e de outras utilizaes. Fornece tecidos leves, fortes, flexveis, fceis de

    secar e de lavar. No vesturio, o algodo possibilita roupas que so confortveis, fceis de secar,

    com cores duradouras e que so fceis de cuidar. Os aspectos mais desfavorveis so a

    propenso dos fios de algodo para encolher e a roupa de algodo para amarrotar. O

    encolhimento pode ser controlado pela aplicao de acabamentos anti-encolhimento. Alm disso,

    propriedades de presso durveis podem ser aplicadas por tratamentos qumicos ou misturando

    com o algodo fibras mais resistentes ao vinco como o polister.

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    1.2. Corantes

    1.2.1. Introduo

    As cores sempre exerceram fascnio na humanidade. Por toda a histria, corantes e pigmentos

    foram objecto de actividades comerciais. Hoje, so mais de 8 mil compostos diferentes,

    substncias que podem ser orgnicas ou inorgnicas. So elas que do cor s nossas roupas,

    papeis, casas, carros ou na cosmtica.

    H mais de 20 mil anos que o homem utiliza materiais com cores. J se tingiam materiais 3000

    A.C. Os corantes naturais que usavam eram extrados a partir das plantas ou animais com gua,

    por vezes em condies de fermentao. Os tecidos eram tingidos sendo envolvidos no extracto

    aquoso e secos de seguida. Estes corantes possuam um limite de cores condicionado pela flora

    local.

    Com o tempo, muitos corantes naturais foram sendo descobertos. As capas dos centuries

    romanos eram tingidas de vermelho a partir de um corante obtido de um molusco chamado

    Murex, um caramujo marinho. Outro corante muito utilizado era o ndigo, conhecido desde os

    egpcios extrado da planta Isatis tinctoria.

    O primeiro corante orgnico sinttico foi o Mauve, obtido em 1856, por William H. Perkin, atravs

    da oxidao da fenilamina (anilina) com dicromato de potssio (K2Cr2O7).

    No fim do sculo XIX, surgiram fbricas de corantes sintticos na Alemanha, Inglaterra, Frana e

    Sua, fornecendo os corantes para as indstrias de tecidos, couro e papel. J mais

    recentemente, nos anos de 1994 e 1995, por questes comerciais e ambientais, as grandes

    empresas produtoras de corantes migraram para os pases asiticos, como China, ndia e

    Indonsia, implantando unidades prprias ou em parcerias com fabricantes locais (ABIQUIM,

    2005).

    Os corantes tm que apresentar algumas particularidades estruturais nas suas molculas. As

    cores dos corantes e pigmentos so devidas absoro de radiao electromagntica pelos

    compostos na faixa da luz visvel (400-720nm). As cores esto relacionadas com a absoro da

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    radiao em comprimentos de onda particulares, por exemplo a faixa entre 480-530 corresponde

    ao vermelho enquanto que para o azul entre 600-700. Esta caracterstica dos compostos

    orgnicos poderem absorver radiao electromagntica aproveitada pelas tcnicas de anlise

    de infravermelho ou espectroscopia de ultravioleta. Contudo, somente os compostos com vrias

    ligaes duplas conjugadas na sua estrutura qumica que so capazes de absorver radiao na

    faixa de luz visvel. A forma e frequncia onde ocorre a absoro que define a cor do composto

    e a cor observada a complementar cor absorvida. Por exemplo, os corantes pretos, absorvem

    radiao em toda a faixa visvel, enquanto que os brancos reflectem toda a luz visvel, e quanto

    mais estreita for a faixa de absoro, mais intensa e brilhante ser a cor apresentada. Sem

    duvida que estas caractersticas contriburam para a popularidade dos corantes sintticos, que

    absorvem em comprimentos de onda bem definidos.

    A maioria dos corantes utilizados actualmente so compostos orgnicos sintticos que se fixam,

    no caso, fibra txtil e devido ao seu grupo cromforo conferem colorao fibra. Eles so

    adsorvidos pela fibra e permanecem retidos por reteno mecnica, ligaes inicas ou

    covalentes. Segundo a estrutura qumica que os corantes apresentam, podem ser classificados

    como azo, antraquinona, etc.

    De acordo com o tipo de aplicao os corantes so classificados como, reactivos, directos,

    dispersos, cuba, cidos, entre outros.

    H inmeros factores envolvidos na seleco de corantes para corar as fibras, nomeadamente o

    tipo de fibra presente, o destino do material txtil e o grau de exigncia pretendido, as

    propriedades de solidez exigidas no artigo final, o mtodo de tingimento a ser usado estando

    interligado o custo e maquinaria disponvel, e invariavelmente a cor pretendida pelo cliente

    (BROADBENT, 2001; INGAMELLS, 1993).

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    Devido a exigncias do mercado, milhes de compostos qumicos com cor tm sido sintetizados

    nos ltimos 100 anos, dos quais cerca de 10.000 so produzidos em escala industrial. Estima-se

    que 2.000 corantes diferentes esto disponveis para a indstria txtil actualmente. Este grande

    nmero de corantes justificado pela diversidade de fibras existentes, uma vez que cada tipo de

    fibra a ser tingida requer corantes com caractersticas prprias e bem definidas. Alm disso, h

    uma constante necessidade de novas cores e de corantes com maior capacidade de fixao e

    especificidade para com as fibras (GUARATINI, 2000).

    1.2.2. Estrutura Molecular dos Corantes

    A estrutura das molculas de corante so complexas quando comparadas com a maioria dos

    compostos orgnicos.

    A formao da cor deriva da deslocalizao de electres atravs de sistemas conjugados de

    ligaes duplas e simples. Isto implica que, as molculas que compem o corante sejam

    insaturadas, sendo na sua maioria conjuntos de anis aromticos ligados entre si por grupos

    designados por cromforos, que fornecem a conjugao necessria.

    Estruturalmente, a maioria dos corantes contm um ou mais anis aromticos, unidos num

    sistema conjugado. Isto significa que, existe uma longa sequncia de ligaes duplas e simples

    alternadas entre o carbono e outro tomo ao longo da maior parte da estrutura. Este tipo de

    arranjo frequentemente chamado de cromforo. O sistema conjugado permite deslocalizaes

    extensas de electres a partir das ligaes duplas e resulta em pequenas diferenas de energia

    entre as orbitais moleculares ocupadas e desocupadas para estes electres. necessrio pelo

    menos 5 ou 6 ligaes duplas na estrutura molecular do composto para ser corado. O

    comprimento de onda da luz absorvida capaz de excitar um electro a partir da orbital ocupada

    para a orbital molecular desocupada corresponde luz visvel. A diferena de energia menor, o

    comprimento de onda mais longo de energia absorvida, corresponde equao de Planck:

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    hchE ==

    (1)

    Nesta equao, E corresponde diferena de energia entre a molcula orbital implicada, h a

    constante de Planck, a frequncia e c a velocidade da luz absorvida, e o comprimento

    de onda.

    Uma reaco particularmente importante na sntese de corantes a reaco de diazotao, que

    permite a sntese dos corantes azo. A Figura 2 ilustra esta reaco de diazotao, na qual a

    amina diazotada com o cido nitroso para formar o sal diaznio (no se forma o sal diaznio se

    for usada uma amina aliftica). Estes sais reagiro prontamente com um agente apropriado para

    formar a molcula de corante.

    Figura 2- Reaco de diazotao

    muito usual em molculas de corantes encontrar anis fundidos, como o naftaleno (Figura 3a),

    ou anis unidos atravs de outros grupos, como a antraquinona (Figura 3b).

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    Figura 3- Estrutura molecular (a) Naftaleno, (b) Antraquinona

    Existem inmeras possibilidades de construir molculas de corante usando estruturas de formas

    conjugadas em que os grupos funcionais de tomos podem ser agregados de forma a obter

    propriedades especficas e caractersticas fundamentais que permitem a sua obteno

    sistemtica (BROADBENT, 2001; INGAMELLS, 1993).

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    1.2.3. Corantes e Tingimento de Fibras Celulsicas

    A difuso e desenvolvimento do uso de fibras celulsicas naturais como o algodo e linho assim

    como de fibras celulsicas regeneradas, conduziu necessidade de obter estes materiais com

    muitas cores e diferentes padres para as vrias utilizaes. Tambm os requisitos de qualidade

    tiveram que ser ajustados, por exemplo, em utilizaes como uniformes militares e navais, ou

    gabardinas de alta performance essencial uma boa solidez luz, mas outras utilizaes podem

    requerer bom desempenho em termos de outras propriedades de solidez, nomeadamente

    lavagem.

    A diversidade de requisitos pretendidos no estabelecimento de requisitos de qualidade dos

    materiais txteis conduziu ao desenvolvimento de corantes e mtodos de aplicao diferentes

    para as fibras celulsicas. Existem corantes solveis em gua aplicados num s banho de

    tingimento sem o uso de mordentes (corantes directos), existem corantes solveis em gua que

    formam uma ligao qumica com a fibra (corantes reactivos) e ainda existem corantes insolveis

    na gua, que so solubilizados para serem aplicados e posteriormente so convertidos em

    pigmentos insolveis aps a sua difuso no interior da fibra (corantes de cuba, azicos e

    sulfurosos).

    Quando as fibras celulsicas so imersas em gua adquirem uma carga negativa. Como a carga

    da fibra a mesma que a do anio do corante, a fibra repele o corante, dificultando ou at

    impedindo a sua aproximao. A maioria dos corantes aninicos so solveis em gua e a adio

    de electrlitos feita para vencer esta repulso electrosttica entre a fibra e o corante e explicada

    pela teoria da membramna de Donnan, permitindo que este seja adsorvido e se ligue ao material.

    A fora das ligaes entre corante e fibra obviamente dependente do tipo de corante usado,

    assim como o rendimento colorstico e a solidez a hmido dos materiais tingidos. A fora

    combinada das interaces moleculares envolvidas denominada como afinidade do corante

    para o substrato. Esta uma quantidade termodinmica que pode ser medida, ento a seleco

    do corante pode ser ajudada pelo ordenamento dos membros de qualquer classe de corante por

    ordem de afinidade.

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    Mestrado em Qumica Txtil 15

    Contudo, como a afinidade medida sob condies especificamente definidas de temperatura,

    pH e concentrao de sal, os valores obtidos permitem a comparao entre corantes somente

    sob condies especficas.

    As condies alteram sempre durante o processo de tingimento, e o termo menos especfico, a

    substantividade, o mais til para o tintureiros, porque pode indicar-lhes o nvel de esgotamento

    do corante a obter (ver o corante desaparecer do banho de tingimento para a fibra, em boas

    condies). Geralmente, a afinidade de um corante para um substrato em particular est

    relacionada com a substantividade sob aplicaes prticas.

    1.2.3.1. Corantes de Cuba

    Os corantes de cuba so usados em tingimento e estamparia em todo o tipo de fibras celulsicas

    e em misturas de algodo e polister. Apresentam-se como pigmentos insolveis, sendo a sua

    aplicao dependente de reaces reversveis de oxidao-reduo. No banho de tingimento, o

    pigmento convertido para a sua forma solvel, sendo necessrio para isso uma soluo

    fortemente alcalina na presena de um poderoso agente redutor. Forma-se o composto leuco

    do corante, o qual solvel em gua mas com uma cor frequentemente diferente da cor original

    do pigmento. Por este motivo, possvel tingir as fibras de celulose na forma solvel do corante;

    quando o esgotamento do corante estiver completo o composto leuco oxidado, obtendo

    assim a forma corada.

    A maior parte dos corantes de cuba so baseados em cromforos de antraquinona ou de ndigo.

    O ndigo um dos corantes mais antigos que ainda continua em uso, pelo facto de um largo uso

    do efeito Denim. Muitos corantes de antraquinona so complexos de quinonas policiclicas, e

    todos possuem dois grupos carbonilo (C=O) unidos por um sistema alternado de ligaes duplas

    e simples. Este arranjo molecular responsvel pela fcil reversibilidade da reaco redox, da

    qual a aplicao dos corantes de cuba depende.

    Os corantes de cuba sintticos so caros porque so difceis de preparar, e o seu uso

    normalmente directo para tecidos de alta qualidade. No obstante, os corantes de cuba so

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    largamente usados para artigos de elevada solidez luz, tais como, uniformes militares e navais,

    toldos, cortinas, tapearia e gabardinas de alta qualidade.

    Os corantes de cuba antraquinnicos so largamente usados no fabrico de, por exemplo, para

    camisas, toalhas de mesa, roupas de desporto, roupa para criana e mulher. Com uma cuidada

    seleco de corantes, o uso de corantes de cuba permite que materiais sejam preparados com

    uma garantia contra a alterao de cor. Contudo, a limitao destes corantes a falta de

    algumas gamas de cores como o escarlate, castanho e os lilases.

    i. Formas de Reduzir os Corantes de Cuba

    A solubilizao dos corantes de cuba feita por reduo, em meio alcalino, sendo vulgarmente

    utilizado como composto redutor o hidrossulfito de sdio ou derivados estabilizados do mesmo e

    como agente alcalino a soda custica. Durante este processo de reduo, o composto redutor

    usado oxidado, frequentemente de forma irreversvel.

    A quantidade de agente redutor depende da estrutura qumica do corante, nomeadamente do

    nmero de grupos redutveis, massa molecular relativa e contedo em corante puro, da rea

    especfica do corante, da temperatura e agitao do banho e do arejamento da reaco (BOZIC

    ET AT., 2008).

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    Figura 4- Exemplo do processo de reduo do corante de cuba

    com ditionito de sdio.

    Embora seja possvel isolar a forma reduzida do corante, esta prontamente oxidada pelo ar para

    promover a cor com o leuco derivado. Contudo, possvel converter o cido leuco no ster leuco,

    um derivado que apresenta uma maior resistncia oxidao e uma maior solubilidade na gua.

    Estes steres podem ser formados por reaco de um grupo hidroxilo na forma leuco cida,

    formando um ster sulfrico (Figura 5).

    Figura 5- Reaces qumicas envolvidas na formao de um ster leucoderivado

    Os sais de sdio destes steres so estveis e podem ser armazenados at ao uso pretendido.

    Como o grupo ster apenas fracamente ligado restante molcula do corante, facilmente

    removido por uma aco de nitrito de sdio em cido sulfrico diludo. O leuco derivado

    regenerado pode ser novamente oxidado pela forma de pigmento.

    O hidrossulfito pode fazer dois tipos de decomposio: Trmica e Oxidativa.

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    A decomposio trmica em funo da temperatura, de tal forma que a 100C se decompe

    cerca de 80% do total do composto em 1hora.

    A decomposio oxidativa produz-se atravs da aco oxidativa, do oxignio do ar, do oxignio

    dissolvido na gua e contido na prpria matria-prima. Por tudo isto, deve-se utilizar um excesso

    de hidrossulfito de sdio, j que durante o processo de tingimento, se vai consumindo o redutor,

    e se este no existir em quantidade suficiente, poder produzir-se oxidao do corante apenas

    15-20% do total.

    A soda custica o agente alcalino usado no processo, e gasta-se em:

    Formao do leucoderivado solvel dependendo a quantidade necessria da

    estrutura qumica e da percentagem da saturao por fibra do corante.

    Transformao da celulose em lcali-celulose

    Cel-OH + NaOH Cel-ONa + H2O

    A quantidade de soda adsorvida pela fibra da ordem de 7-25% do total, sendo

    funo da temperatura, tempo, concentrao de soda e tipo de fibra celulsica.

    Neutralizao dos produtos cidos de decomposio do hidrossulfito, sendo esta

    quantidade muito difcil de calcular uma vez que varia em funo das condies de

    trabalho.

    Por tudo isto, se adiciona sempre um excesso de soda custica (PINTO, 1999; BROADBENT,

    2001; INGAMELLS, 1993).

    O uso de agentes redutores no re-oxidveis causa vrios problemas inerentes sua descarga,

    quer nos equipamentos quer nos efluentes, onde estes produtos podem ser txicos, resultantes

    do processo de tingimento com estes corantes. Por esta razo, alguma ateno tem sido dada a

    alternativas mais ecolgicas para reduzir os corantes de cuba.

    Em 1990, a BASF lanou um novo processo que implica a utilizao de um auxiliar composto por

    sulfato de sdio hexahidratado e um catalisador. um mtodo econmico, abrangente mas

    limitado obteno de cores pastel (BOZIC ET AL., 2008).

    Em 1999, a Dystar apresentou o sistema pro VAT plus que permitiu optimizar a quantidade de

    redutor usado, usando um sistema automatizado de doseamento e a medio on-line da variao

    do potencial redox no sistema de reduo do corante (BOZIC ET AL., 2008).

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    Outra estratgia foi o uso de compostos auxiliares do tipo enodiol de baixo peso molecular e -

    hidroxicetons. Mas os resultados foram insatisfatrios no que diz respeito reprodutibilidade de

    cor e solidez.

    Temos ainda os sistemas com tioureia mas com efeito adverso na carga poluente dos efluentes

    (faz aumentar o TOC; COD ou BOD).

    Podem usar-se tambm acares redutores mas apenas para corantes sensveis a reduo.

    Na realidade, o desenvolvimento de processos mais ecolgicos de aplicao txtil de corantes de

    cuba permanece um desafio que se coloca aos investigadores.

    ii. Mecanismo de Oxidao/Reduo

    Como j foi referido anteriormente, a aplicao de corantes de cuba baseia-se num mecanismo

    de oxidao-reduo. Historicamente, o termo oxidao, tal como foi utilizado pela primeira vez

    por Lavoisier, significava reaco com o oxignio. Posteriormente, foi introduzida a noo

    oxidao-reduo, referindo-se transferncia de oxignio de uma espcie qumica para outra,

    conceito depois alargado para outras reaces, como a transferncia de hidrognio entre

    espcies qumicas.

    Com descoberta do electro, por Thomson em 1897, e a introduo do modelo atmico de em

    1913, o conceito oxidao-reduo passa a designar processos de transferncia electrnica.

    Assim, a oxidao e a reduo de uma espcie qumica corresponderiam, respectivamente,

    perda ou ganho de electres por essa espcie. Neste conceito, espcie oxidante ser aquela com

    tendncia a captar electres, enquanto que a redutora ser a que cede electres. As mesmas

    noes podem ser definidas, mais formalmente, em termos de variao do grau de oxidao

    (aumento, no caso de oxidao ou diminuio, no caso de reduo) (SARRAZIN ET AL., 1991).

    Um oxidante capta electres e reduzido, ao mesmo tempo que outra espcie, o redutor, perde

    electres oxidando-se. Deste facto surge a noo de par oxi-redutor ou par redox, referindo-se a

    um oxidante e a um redutor conjugados. A passagem reversvel de uma espcie a outra pode ser

    representada por uma equao de semi-reaco,

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    Figura 6- Exemplo de uma reaco de oxidao-reduo

    Considerando este tipo de reaco como uma transferncia electrnica reversvel entre duas

    espcies qumicas, no possvel oxidar uma delas sem a reduo simultnea da outra. Assim,

    numa reaco de oxidao-reduo, ou reaco redox, devem ser considerados dois pares redox

    conjugados e a reaco total pode ser traduzida por uma equao que englobe os dois processos

    parciais.

    Figura 7- Exemplo de uma reaco redox considerando os seus pares redox conjugados

    Forma oxidada + n electres Forma reduzida

    Ou

    Ox + n e- Red

    Ox1 + n1e- Red1

    Red2 Ox2 + n2 e-

    n2 Ox1 + n1 Red2 n1 Ox2 + n2 Red1

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    iii. Estrutura e Afinidade dos Corantes de Cuba

    Seria natural esperar que as condies que governam a relao entre a estrutura e a afinidade

    nos corantes directos seriam tambm de aplicar aos corantes de cuba. Contudo, a situao

    mais confusa porque no somente muitas molculas so no lineares, mas so tambm

    deficientes em grupos capazes de formar pontes de hidrognio. Em 1936 Phomson (PHOMSON

    ET AL., 1936) sugere que a substantividade dos corantes antraquinnicos depende da

    complexidade molecular. Todavia, em 1955 Peters e Sumner (PETERS ET AL., 1955) estudaram

    o assunto e chegaram concluso que a possibilidade de formao de pontes de hidrognio

    entre o corante e a fibra no podia ser ignorada. Todavia, esta explicao no suficiente para

    explicar o que acontece, sugerindo-se que as foras de Van der Waals tambm so um factor

    importante, sobretudo medida que a complexidade molecular do corante aumenta. Embora a

    molcula de corante de cuba possa ser no linear, ela deve ser suficientemente planar para

    permitir que se aproxime da zona das foras de ligao com a fibra (PINTO, 1999; GUARATINI,

    1999; BROADBENT, 2001; INGAMELLS, 1993).

    iv. Velocidade de Tingimento com Corantes de Cuba

    Os corantes de cuba possuem uma elevada velocidade de tingimento e, mesmo atingindo o

    ponto em que o esgotamento no aumenta mais ao longo do tempo, tal no significa que se

    tenha atingido o equilbrio porque, embora a fibra no absorva mais corante, o corante est

    apenas situado superfcie da fibra e pode ainda migrar. A igualizao destes corantes

    medocre, pelo que convm retardar a sua velocidade de tingimento controlando factores como a

    relao de banho e a temperatura. Quanto menor a relao de banho mais rpida ser a

    absoro do corante pela fibra.

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    1.2.3.2. Corantes cidos

    Os corantes cidos so normalmente sais de sdio de cidos sulfnicos, ou menos

    frequentemente, de cidos carboxlicos e so corantes aninicos em soluo aquosa. Estes

    corantes tingem as fibras com cargas positiva em soluo. Isto implica normalmente a

    substituio de grupos de ies amnio em fibras como a l, seda e poliamida. Estas fibras

    absorvem cidos. O cido protona os grupos amina da fibra e ento eles tornam-se catinicos.

    O processo de tingimento envolve a mudana de um anio associado com um anio amnio da

    fibra com um anio do corante no banho de tingimento

    Figura 8- Esquema das reaces qumicas durante o tingimento de

    corantes cidos

    Os corantes cidos tm um peso molecular entre 300-1000 gmol-1. Os que apresentam

    molculas grandes tm elevada substantividade para a l e a poliamida. Por outro lado, estes

    corantes tm uma difuso lenta na fibra e por isso menos capacidade de migrar e de tingir a

    fibra. O corante mais hidrofbico, mais alto peso molecular tem, e portanto tem melhor solidez

    nos processos a molhado.

    A absoro dos corantes pelas fibras de l e poliamida tambm envolvem interaces do corante

    com grupos hidrofbicos na fibra, que incluem pontes de hidrognio e interaces de Van der

    Waals. Por este motivo, a fixao do corante no ocorre apenas por uma simples atraco inica.

    Os corantes cidos tm diferentes estruturas qumicas apresentando vrios sistemas

    cromofricos. Permitem, por isso, obter um largo espectro de cores e podem ser aplicados sob

    vrias condies.

    FibraNH2 (s) + H+ (aq) + HSO4 (aq) FibraNH3

    + HSO4

    (s)

    FibraNH3+ HSO4

    (s) + CoranteSO3

    (aq) FibraNH3

    + CoranteSO3 (aq) + HSO4 (aq)

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    Todas as molculas de corante cido tm como caracterstica comum o facto de possurem pelo

    menos um grupo de tomos que lhes permite serem solveis em gua. Normalmente, so

    grupos sulfnicos, sendo a maior parte destes compostos, corantes azo sulfonados,

    principalmente mono e bis-azo.

    Os corantes cidos, normalmente, tm pouca substantividade para as fibras celulsicas e no

    permitem esgotamentos de corante apreciveis. Contudo, alguns corantes cidos azo de alto

    peso molecular so difceis de distinguir dos corantes directos para o algodo. A caracterstica

    que distingue os corantes cidos dos directos, a planaridade molecular dos corantes, que no

    essencial para os corantes cidos, mas condio obrigatria para que os corantes directos

    tenham substantividade para o algodo (BROADBENT, 2001; INGAMELLS, 1993).

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    1.2.4. Fluorescncia e Corantes Fluorescentes

    No mercado, os corantes fluorescentes disponveis so apenas para fibras sintticas, com a nica

    excepo do Amarelo Luminous Remazol FL, da Dystar, lanado para fibras celulsicas e

    disponvel no mercado em data posterior ao incio deste trabalho. Apesar disto, estamos

    restringidos ao tingimento de fibras celulsicas amarelas fluorescentes e a produo de materiais

    celulsicos fluorescentes de outros tons tem que ser feita por estamparia. Os pigmentos usados

    no so solveis e no apresentam qualquer substantividade para com as fibras txteis,

    precisando a sua fixao na superfcie da fibra de recorrer a um ligante.

    Em tinturaria, a utilizao de pigmentos rara pois, tm imensos problemas ao nvel do toque e

    de solidez frico, inviabilizando o uso de pigmentos fluorescentes para tingir os materiais

    txteis.

    O fenmeno da fluorescncia consiste na absoro de energia por electres, que passam do

    estado fundamental para o excitado, electres esses que ao retornarem ao estado fundamental

    libertam energia a um comprimento de onda superior do absorvido. Os corantes fluorescentes

    so assim corantes que absorvem na regio ultravileta do espectro electromagntico e emitem

    radiao na regio do visvel.

    Os compostos qumicos fluorescentes conhecem-se h muito tempo. Em 1971, o qumico

    alemo Adoph Von Bayer descobriu que o aquecimento do anidrido ftlico com resorcinol (1,3-di-

    hidroxibenzeno) em soluo aquosa produzia um novo composto, designado por fluorescena. At

    hoje, este composto usado em corantes como a eosina (tetrabromofluorescena) e a eritrosina.

    A fluorescena um xanteno, uma classe de compostos largamente usada em corantes. Os

    corantes de acridina, xanteno e os derivados da rodamina e da ftalena tambm podem ser

    includos neste grupo.

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    O uso de corantes fluorescentes promove um aumento significativo do brilho das cores no

    material, o que torna os materiais mais facilmente perceptveis, aumentando assim a sua

    visibilidade. Tambm permitem criar efeitos estticos interessantes em roupas de criana, em

    roupas desportivas, em uniformes de servios especiais (ex. Polcia) e em materiais de proteco

    (SZUSTER ET AL., 2004; USFC).

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    1.3. Mtodos e Processos de Tingimento

    1.3.1. Introduo

    O objectivo do processo de tingimento obter uma colorao uniforme das fibras que constituem

    o material a tingir, normalmente destinado a ter uma determinada cor especfica.

    Qualquer diferena em termos da cor obtida e da cor pretendida pelo cliente imediatamente

    visvel. Isto porque o processo delicado e nele interferem um grande nmero de factores que

    podem influenciar a aparncia da cor final, entre os quais, as caractersticas da fibra (a textura,

    titulo de fio, corte transversal), construo do artigo e os parmetros do processo (pH,

    temperatura, tempo de tingimento, agitao).

    A colorao do material txtil obtida de muitas formas diferentes, nomeadamente:

    1. tingimento directo, em que o corante est numa soluo aquosa em contacto com o

    material, sendo gradualmente absorvido para o interior da fibra por causa da sua

    inerente substantividade;

    2. tingimento com o corante na sua forma solvel em que o composto corado forma um

    pigmento insolvel dentro da fibra num tratamento aps o tingimento;

    3. tingimento directo seguido de uma reaco qumica do corante com um grupo

    apropriado da fibra;

    4. adeso do corante ou pigmento na superfcie da fibra usando o mtodo de ligao

    propriado.

    O processo de tingimento consiste, por isso, na unio do corante apropriado fibra respectiva.

    Essa unio apresenta uma determinada resistncia, consequncia da energia da ligao qumica

    entre o corante e a fibra; energia de ligao que depende das relaes existentes entre as

    estruturas moleculares dos corantes e das fibras e da forma como foi feito o tingimento.

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    Sempre que o corante em soluo apresenta carga igual da fibra, o processo de tingimento tem

    de ser feito na presena de um electrlito. Os electrlitos mais correntemente usados so o

    cloreto de sdio (sal comum) e o sulfato de sdio (sal de Glauber).

    Outras operaes precedentes ou posteriores ao processo de tingimento so necessrias. O pr-

    tratamento, que inclui a preparao e branqueamento do material, pode ser realizado por

    operaes contnuas e separadas ou por processos batch na mquina de tingimento. Nestes

    tratamentos promove-se a remoo das impurezas naturais e sintticas do material a tingir, para

    assim poder obter um bom resultado a nvel de uniformidade de penetrao do banho de

    tingimento.

    Aps o processo de tingimento, o material lavado para remover restos de resduos. Podem,

    ainda, ser necessrios tratamentos adicionais, enquanto o material permanece na mquina, e

    que podem incluir:

    1. lavagem com detergentes, para remover o corante no fixado na superfcie das fibras

    (ensaboamento);

    2. podem ser usados banhos com produtos qumicos para melhorar as propriedades de

    solidez do material tingido que, no entanto, podem por vezes causar complicadas

    mudanas de tom e tingimentos no uniformes; aplicao de acabamentos qumicos

    simples de que exemplo vulgar o amaciamento (BROADBENT, 2001; INGAMELLS,

    1993).

    1.3.2. Factores Fsico-Qumicos que Influenciam o Processo de

    Tingimento

    Os factores que influenciam o processo de tingimento podem ser de natureza fsica e qumica. Os

    primeiros esto relacionados com a estrutura do material, dizem respeito aos espaos vazios na

    estrutura das fibras que permitiro a difuso do corante no material txtil. Os factores qumicos

    incluem caractersticas referentes s molculas dos corantes, tais como a geometria das

    molculas (corantes lineares tm maior substantividade); a valncia residual, as ligaes duplas

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    conjugadas (maior substantividade); os ncleos benznicos e naftalnicos num mesmo plano, o

    que facilita a unio fibra/corante (maior substantividade); a distncia entre grupos substantivos

    do corante que deve conter a unidade da cadeia celulose (maior substantividade) e a ligao

    entre corante e fibra (por exemplo, pontes de hidrognio, ligaes de Van der Waals). Assim, o

    comportamento dos corantes em soluo vai depender do estado dos corantes em soluo, da

    interaco entre os corantes no banho, da velocidade de adsoro do corante na superfcie da

    fibra, da velocidade de difuso do corante na fibra e da concentrao que permite a saturao da

    fibra.

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    1.3.3. Fixao do Corante na Fibra Txtil durante o Processo de

    Tingimento

    No processo de tingimento estabelecem-se vrios tipos de ligaes qumicas entre o corante e a

    fibra, tais como, ligaes inicas (para l, poliamida e acrlicas), pontes de hidrognio

    (usualmente nas fibras proteicas e poliamida), interaces tipo de Van Der Waals e ligaes

    covalentes, que implicam a partilha de electres entre corante e fibra. Geralmente os corantes

    fixam-se fibra atravs de qualquer das ligaes descritas (regra geral pelo sumatrio de vrios

    tipos de ligaes) com a excepo das ligaes covalentes que apenas ocorrem entre os corantes

    reactivos e as fibras txteis.

    1.3.4. Alguns Produtos Auxiliares usados no Processo de Tingimento de

    Materiais Txteis

    Nos processos de tingimento de fibras txteis, alm dos corantes que visam conferir cor aos

    materiais, encontram-se presentes outras substncias que permitem que ocorra o fenmeno de

    adsoro do corante, aumentando o rendimento de fixao ou melhorando a sua distribuio no

    material, contribuindo assim para uma boa igualizao e para aumentar os nveis de solidez dos

    materiais depois de tingidos. So, pois, produtos que se destinam a apoiar, complementar ou

    preparar a aco dos corantes no processo. Estes produtos auxiliares incluem os mais variados

    compostos, nomeadamente compostos redutores, oxidantes, fixadores, tensioactivos, cidos,

    bases, amaciadores e retardadores.

    Entre os produtos auxiliares usados para melhorar a fixao dos corantes s fibras txteis,

    utilizam-se substncias fixadoras que criam pontes entre a molcula de corante e a fibra, evitam

    a migrao do corante do interior da fibra para o meio externo. Desta forma, melhoram-se os

    nveis de solidez do material tingido a processos a molhado, de que so exemplo as lavagens.

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    A maior utilizao dos oxidantes no branqueamento das fibras. Normalmente usa-se o

    hipoclorito de sdio ou diversos perxidos para esse efeito. Mas podem tambm utilizar-se outros

    compostos oxidantes, como por exemplo, o dicromato de potssio, cloreto de ferro (III) e o nitrito

    de sdio.

    Os produtos redutores so menos frequentemente usados na indstria txtil em comparao com

    os compostos oxidantes. O redutor mais utilizado o hidrossulfito de sdio para a reduo dos

    corantes cuba, bem como para a eliminao dos corantes dispersos superfcie das fibras

    sintticas, a operao ps-tingimento designada por limpeza redutora. ainda um agente eficaz

    para a desmontagem de tintos.

    1.3.5. Processos de Tingimento

    O tingimento o processo no qual so aplicados os corantes ao material txtil, ocorrendo uma

    modificao fsico-qumica do substrato de forma que a luz reflectida provoque uma percepo de

    cor.

    Os corantes so normalmente substncias orgnicas capazes de corar substratos txteis ou no

    txteis, de forma que a cor no material seja relativamente resistente (slida) luz e a tratamentos

    hmidos.

    Os corantes so compostos solveis ou dispersos no meio de aplicao que normalmente a

    gua e durante o tingimento so adsorvidos e difundem-se para o interior da fibra.

    De uma forma geral, os processos de tingimento de fibras txteis podem ser classificados em

    processos de esgotamento e de impregnao (PRESTON, 1986; CEGARRA, 1981).

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    1.3.5.1. Processo de Tingimento por Esgotamento ou Processo Descontnuo

    No processo de tingimento por esgotamento, o material imerso no banho, assim

    permanecendo durante todo o processo. Os corantes so deslocados do banho para a fibra e tem

    de haver contacto frequente entre o banho e a fibra mediante movimentao de um deles ou dos

    dois. O corante desloca-se do banho para a fibra devido ao facto de apresentar substantividade

    com ela. A substantividade a propriedade do corante que resulta de um conjunto de

    caractersticas estruturais da molcula e que se reflecte na afinidade que vai apresentar para a

    fibra.

    A penetrao do corante na fibra determinada pela velocidade de tingimento que, por sua vez,

    depende da velocidade de difuso e adsoro do corante no material. Nestes processos

    fundamental o estabelecimento das condies de reaco apropriadas, tais como o valor de pH,

    de temperatura, concentrao de electrlito e agitao uniforme do sistema banho-fibra.

    Pode dividir-se o processo de tingimento em trs etapas importantes: a montagem, a fixao e

    o tratamento final. A fixao do corante fibra feita atravs de reaces qumicas ou da simples

    insolubilizao do corante (ou de derivados gerados), e ocorre usualmente durante a fase de

    montagem e fixao. Todos os processos de tingimento envolvem uma operao final de

    lavagem para retirar o excesso de corante original ou o corante hidrolisado no fixado nas etapas

    precedentes.

    Podem tambm considerar vrios processos de tingimento de acordo com o tipo de material a

    tingir. O tingimento por esgotamento em Barca ou Jet utilizado no caso de material em malha e

    em Jigger no caso de tecido. Estes processos diferem na velocidade e no modo como o material

    a tingir passa pelo banho.

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    1.3.5.2. Processo de Tingimento por Impregnao ou Processo Contnuo

    No processo de impregnao, o banho permanece estacionado enquanto o substrato passa

    continuamente por ele, espremido mecanicamente e fixado por calor seco, vapor ou por

    repouso prolongado. O corante deslocado do banho para a fibra por contacto frequente entre o

    banho e a fibra.

    Em geral, este mtodo limita o processo de difuso do corante, por esse motivo, essencial a

    distribuio uniforme do corante durante a fase de impregnao.

    Vrios sistemas de tingimento por impregnao podem ser considerados, tais como, Pad Batch,

    Pad Roll, Pad Steam, Pad Dry e Pad Steam. Em todos estes processos, o tecido passa pelo

    banho de tingimento, espremido por um sistema de rolos designado por Foulard e enrolado.

    As principais diferenas referem-se existncia ou no de uma fase de repouso aps o

    enrolamento e ao modo de fixao do corante fibra (vapor ou calor seco) (BROADBENT, 2001;

    INGAMELLS, 1993).

    muito importante o conhecimento do processo de tingimento sobretudo no que se refere ao

    mecanismo de reaco corante-fibra e das variveis envolvidas de processo envolvidas. Disso

    depende a possibilidade de actuar no processo, optimizando o seu desempenho ou mesmo

    desenvolver novos processos que permitam cumprir os requisitos de qualidade que se pretendem

    novos corantes, conhecimentos estes que no seriam alcanados baseando-se somente em

    experincias prticas.

    O processo de tingimento pode ser analisado em termos cinticos, determinando a velocidade de

    transferncia do corante do banho para a fibra, da adsoro do corante na superfcie da fibra e

    da difuso do corante para o interior da fibra.

    Estas velocidades dependem da concentrao de corante e electrlitos no banho de tingimento,

    do valor de pH do banho, da temperatura e relao de banho usadas no processo.

  • Aplicao de -Ciclodextrinas no Tingimento de Materiais Txteis

    Mestrado em Qumica Txtil 33

    A difuso ocorre conforme a Equao de Fick (equao 2):

    dx

    dcD.A.

    dt

    ds= (2)

    Nesta equao, dt

    ds corresponde velocidade de difuso,

    dx

    dc ao gradiente de concentrao, D

    ao coeficiente de difuso e A corresponde rea.

    Nesta fase ocorrem a maior parte dos problemas identificados no material tingido. O factor

    determinante para se conseguir um tingimento uniforme reside no controlo da velocidade de

    adsoro do corante pela fibra. O estudo da cintica do tingimento , portanto, to importante

    quanto fase de equilbrio (fase termodinmica).

    Geralmente confunde-se a velocidade em que o processo ocorre (cintica) e a grandeza da fora

    que provoca o processo. A existncia de uma fora motriz num sistema mecnico no

    suficiente para garantir um movimento, visto que, esta fora deve vencer certa resistncia antes

    que o movimento seja possvel. Quanto maior a resistncia ao movimento, menor a velocidade

    para uma determinada fora. No processo de tingimento admite-se uma fora motriz ou

    afinidade, responsvel para a ocorrncia do fenmeno. um parmetro de velocidade ou o grau

    de resistncia difuso do corante no interior da fibra (SALEM, 2000).

    A forma mais simples de expressar esta ideia mediante a equao da velocidade de tingimento

    (equao 3),

    R

    FtVt = (3)

    Nesta equao, Vt corresponde velocidade de tingimento, Ft fora motriz de tingimento e R a

    resistncia penetrao das molculas de corante.

    Tambm, podemos expressar a velocidade de tingimento atravs da equao 4,

    R

    1FtVt = (4)

  • Aplicao de -Ciclodextrinas no Tingimento de Materiais Txteis

    Mestrado em Qumica Txtil 34

    Nesta equao, Ft corresponde ao parmetro de afinidade e R

    1 corresponde ao parmetro de

    velocidade.

    O processo de tingimento pode tambm der analisado do ponto de vista termodinmico. Desta

    forma, analisam-se os factores que favorecem a fixao do corante na fibra, sendo denominados

    de afinidade do corante para o material.

    A tendncia de um sistema passar espontaneamente de um estado de alta energia a outro de

    menor energia estudado pela termodinmica, a qual relaciona as mudanas de energia no

    incio e no final do processo, quando ocorre o equilbrio, no considerando as fases

    intermedirias.

    Num sistema de tingimento pareceria existir uma contradio ao princpio de liberdade de

    movimento: uma soluo relativamente diluda de corante transfere-se em pouco tempo para um

    espao bem mais reduzido na fibra. Uma fora interveio para forar as molculas dos corantes a

    permanecer na fibra; esta fora descreve-se vulgarmente por afinidade.

    A permanncia do corante na fibra afectada por vrios factores, onde se inclui a vibrao da

    estrutura molecular da fibra, a cada momento, tomando novas configuraes, durante o processo

    de tingimento existe um constante choque entre as molculas da gua e o corante, dificultando a

    sua fixao na fibra e com o aumento da temperatura do sistema, aumenta a vibrao das

    molculas da fibra e o movimento das molculas da gua. Todos estes factores influenciam o

    esgotamento, uma vez que, o rendimento no total, nem a solidez aos tratamentos hmidos

    absoluta.

    Aps a fase cintica, o tingimento entra em equilbrio com o corante remanescente no banho, o

    que constitui a fase termodinmica.

    No estado de equilbrio, a relao corante na fibra-corante no banho expressa por uma

    constante de equilbrio K.

    As isotrmicas de adsoro demonstram a concentrao da substncia adsorvida numa

    superfcie slida em relao sua concentrao de fluido que circunda, quando o sistema est

    em equilbrio e a temperatura constante. Existem principalmente trs tipos de isotrmicas de

    adsoro no tingimento, normalmente referidas como as de Nernst, Langmuir e Freundlich.

  • Aplicao de -Ciclodextrinas no Tingimento de Materiais Txteis

    Mestrado em Qumica Txtil 35

    Muitos sistemas de tingimento envolvem apenas adsoro completamente reversvel. As

    isotrmicas de equilbrio, estabelecidas pela adsoro do corante a partir da soluo sobre fibras

    no tingidas inicialmente, so idnticas s obtidas por desadsoro do corante a partir das fibras

    tingidas em um banho de tingimento inicialmente com espaos livres.

    A isotrmica de Nernst simples e dada pela equao 5,

    kCsCf = (5)

    Nesta equao Cf corresponde concentrao de corante na fibra, k a constante de equilbrio e

    Cs corresponde concentrao de corante em soluo. Graficamente, os valores de Cf em

    funo de Cs representam uma linha linear at um certo ponto, aps este ponto uma linha de

    estagnao iniciada, que corresponde saturao do corante na fibra e na gua.

    A isotrmica de Langmuir aplicada a processos de adsoro em condies bem especificas no

    substrato slido, o qual frequentemente em nmero limitado. Esta situao existe no tingimento

    de fibras como a poliamida com um simples mecanismo de mudana de um io, com corantes

    cidos. A adsoro de Langmuir engloba caractersticas, como, o corante e a fibra interagem

    fortemente, os corantes e fibras tm polaridade oposta e o corante tem afinidade especfica

    (limite de saturao fibra tem stios limitados).

    KCs1

    KCs

    C

    Cf

    max += (6)

    Nesta equao Cf corresponde concentrao de corante na fibra, Cmax a concentrao

    mxima da fibra,

    A isotrmica de Nernst, descrita atrs, um caso particular da isotrmica de Langmuir para a

    condio onde KCs bastante pequeno quando comparado com a unidade.

  • Aplicao de -Ciclodextrinas no Tingimento de Materiais Txteis

    Mestrado em Qumica Txtil 36

    A isotrmica de Freudlich aplica-se em situaes onde a absoro do corante sobre a fibra no

    limitada por um nmero especfico de lugares especficos de adsoro e a fibra no se torna

    saturada com corante. A equao emprica que descreve esta isotrmica a seguinte:

    ( ) ( ) ( )CslogklogCflogoukCsCf +== (7)

    Nesta equao, Cf corresponde concentrao de corante na fibra, k a constante de equilbrio

    e Cs a concentrao de corante em soluo, o expoente frequentemente tem um valor que

    ronda os 0.5 para a adoro de corantes aninicos nas fibras celulsicas. A quantidade de

    corante adsorvido pela fibra de algodo depende dos poros disponveis na rea de superfcie

    (BROADBENT, 2001; SALEM, 2000).

    A isotrmica de adsoro para determinado sistema de tingimento tem que ser sempre

    determinada experimentalmente.

  • Aplicao de -Ciclodextrinas no Tingimento de Materiais Txteis

    Mestrado em Qumica Txtil 37

    1.4. Avaliao de Cor e Tingimento

    1.4.1. Introduo

    A medio da cor apresentada pelos materiais um