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Germinação in vitro de esporos de Albugo cândida (Pers.) Kuntz sob

diferentes temperaturas (1)

Mayra Taniely Ribeiro Abade (2); Maria Eunice Lima Rocha (3); Luanna Karoline Rinaldi (4); Renata Filler Barabasz (5); José Renato Stangarlin (6); Élcio Silvério

Klosowski (7)

(1)

Trabalho executado com recursos de Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES/PROAP.

(2)

Mestranda em agronomia/Bolsista CAPES; Universidade Estadual do Oeste do Paraná; Marechal Cândido Rondon/PR; [email protected];

(3) Mestranda em agronomia/ Bolsista CAPES; Universidade Estadual do

Oeste do Paraná; (4)

Doutorando em agronomia/ Bolsista CAPES; Universidade Estadual do Oeste do Paraná; (5)

Estudante de agronomia/ Bolsista PIBIC; Universidade Estadual do Oeste do Paraná;

(6) Professor; Universidade

Estadual do Oeste do Paraná; (7)

Professor; Universidade Estadual do Oeste do Paraná.

RESUMO: Albugo candida, agente causal da ferrugem branca das crucíferas, é considerado um “falso fungo” por pertencer ao Reino Chromista, com caráter biotrófico e que ao longo dos anos tem sido encontrado em quase todas as crucíferas. O objetivo deste trabalho foi avaliar diferentes temperaturas na germinação in vitro de esporos de A. candida, quando incubados em câmara BOD, por 24 horas. O ensaio foi realizado in vitro utilizando inóculo do fungo A. candida proveniente de folhas de rúcula. As placas de Petri foram acondicionadas em câmaras incubadoras (BOD) a 20; 22,5; 25; 27,5; 30 e 32,5 °C, com Umidade Relativa de 75%, por 24 horas e escuro. Esporos quando incubados a 20 e 22,5 °C apresentaram maior porcentagem de germinação, e a partir desse ponto ocorre redução, tendo menor germinação a 32,5 °C. Para o tamanho do tubo germinativo, o modelo linear foi significativo e os demais não se ajustaram aos dados, levando à ideia de que o tamanho do esporo é inversamente proporcional ao aumento da temperatura, ou seja, à medida que há incremento na temperatura, o crescimento do tubo é reduzido. Termos de indexação: Tubo germinativo; ferrugem branca; rúcula.

INTRODUÇÃO

No Brasil, o consumo da rúcula vem se intensificando, pois suas propriedades organolépticas a tornam um ingrediente culinário muito requisitado. Essa procura contribuiu para o aumento da produção, aliada aos valores de mercado superior ao de outros cultivos de folhosas como a alface, almeirão, chicória e couve (Moura et al., 2008).

A cultura é afetada por doenças, como a ferrugem branca causada por Albugo candida. Este agente causal é considerado um “falso fungo” por pertencer ao Reino Chromista, com caráter biotrófico (Jacobson et al., 1998) e que ao longo dos anos tem sido encontrado em quase todas as crucíferas, tanto cultivadas quanto espontâneas, ocorrendo comumente nas culturas do rabanete, mostarda, nabo e agrião seco, mas não tem sido encontrado em repolho, couve-flor e outras brássicas. A não ocorrência desse fungo em algumas espécies de brássicas no país é explicada pela ausência de raças fisiológicas especializadas (Tokeshi & Salgado, 1980), pois a existência de raças fisiológicas do patógeno está comprovada (Pound & Williams, 1963).

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Dentro das espécies de Albugo, A. candida é possivelmente a mais polífaga, afetando 214 espécies em

63 gêneros de crucíferas (Fernandez-Valiela, 1978). O sintoma característico da ferrugem branca é a presença de pústulas brancas na parte inferior das folhas, podendo ser vistas também em outros órgãos aéreos da planta. Quando a epiderme se rompe, um pó branco formado por órgãos de origem assexual é liberado (Tokeshi & Salgado, 1980).

Para que ocorra a infecção, os esporos de fungos em geral necessitam de condições favoráveis de ambiente, tal como umidade e requerimentos específicos de temperatura e luz para germinação dos esporos. A presença de filme de água na superfície da folha é essencial para a germinação e infecção dos esporângios e dos zoósporos (Maringoni & Silva, 2016).

Devido à escassez de informações sobre as condições ambientais para que ocorra a germinação e consequente infecção da planta pelo patógeno A. candida, o objetivo deste trabalho foi avaliar diferentes temperaturas na germinação in vitro de seus esporos.

MATERIAL E MÉTODOS

O ensaio foi realizado in vitro utilizando inóculo do fungo Albugo candida proveniente de folhas de rúcula cultivar Folha Larga, coletadas no município de Marechal Cândido Rondon, PR.

A partir das folhas infectadas preparou-se uma suspensão de esporos na concentração de 51 x 104

esporos mL-1

de água destilada contendo Tween 20 a 1%. A suspensão de esporos foi calibrada com câmara de Neubauer.

Após preparo da suspensão adicionou-se 100 μL da mesma em lâminas de microscopia contendo ágar-água 1%, sendo em seguida a lâmina depositada sobre dois palitos de madeira, sobre papel germitest umedecido dentro de placas de Petri.

As placas foram acondicionadas em câmaras incubadoras (BOD) a 20; 22,5; 25; 27,5; 30 e 32,5 °C e Umidade Relativa de 75%, por 24 horas e escuro. Cada temperatura correspondeu a um tratamento, totalizando seis tratamentos, cada um composto por quatro repetições, sendo considerada como repetição uma placa de Petri contendo uma lâmina.

Após 24 h de incubação, procedeu-se a avaliação retirando-se a lâmina de cada repetição e adicionando 50 μL do corante azul algodão com lactofenol, com colocação em seguida de lamínula para posterior visualização em microscópio ótico.

A avaliação de germinação foi realizada pela contagem de 100 esporos com auxílio de microscópio óptico com magnitude de 100 vezes. Foi considerado esporo germinado aquele com tubo germinativo maior que o tamanho do menor diâmetro do esporo.

Para fins de cálculo do tamanho do tubo germinativo, levou-se em consideração o número de vezes que este era maior que o diâmetro do esporo, o qual se situa entre 12 e 18 μm de diâmetro (Williams, 1985).

Os dados foram transformados pelo método da raiz quadrada, submetidos à análise de variância sendo feita à análise de regressão a 5% de probabilidade com o uso do programa estatístico SISVAR 5.3 (Ferreira, 2011).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na análise de regressão aplicada aos dados foi observada diferença significativa para os parâmetros estudados.

Para porcentagem de esporos germinados o modelo quadrático foi o que melhor se ajustou aos dados. Esporos quando incubados a 20 e 22,5 °C apresentaram maior porcentagem de germinação, com redução a partir desse ponto, tendo menor germinação a 32,5 °C. Por meio da derivação da equação (y = -0,0126x

2 + 0,5185x – 2,4236), encontrou-se que o ponto de máxima germinação de esporos foi na

temperatura de 20,57°C (Figura 1). Altas temperaturas tendem a acelerar ação de enzimas, funcionando como catalisador

enzimático, mas podem danificar a estrutura do esporo fúngico, reduzindo a viabilidade do mesmo quanto à germinação.

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Os resultados obtidos nesse trabalho estão de acordo com encontrado por outros autores, os

quais verificaram que a germinação é maior em temperaturas mais amenas. Lakra & Saharan (1988) verificaram que a máxima germinação de esporângios de A. candida, in vitro, ocorria a temperaturas de 12 a 14 ˚C, o que também que está de acordo com os valores obtidos por Raabe & Pound (1952) para A. occidentalis Wilson.

Figura 1: Porcentagem de germinação de esporos de Albugo candida em função da variação de temperatura ambiente.

Para o tamanho do tubo germinativo, o modelo linear foi significativo e os demais não se ajustaram aos dados, levando-se à ideia de que o tamanho do esporo é inversamente proporcional ao aumento da temperatura, ou seja, à medida que há incremento na temperatura, o crescimento do tubo é reduzido (Figura 2).

Para o processo de infecção do patógeno, esse resultado é negativo, pois a emergência do tubo germinativo é o ultimo estágio da germinação, sendo assim, o seu rápido crescimento em um curto espaço de tempo favorece a infecção da planta pelo patógeno, garantindo o sucesso da infecção. Patógenos fúngicos com emergência rápida e crescimento acelerado do tubo germinativo tendem a se estabelecer mais facilmente no hospedeiro, enquanto que aqueles que atrasam este processo podem até não conseguir parasitar o hospedeiro.

Maringoni & Silva (2016) verificaram que a temperatura ótima para o desenvolvimento da doença é ao redor de 20 °C, podendo explicar porque que a medida que a temperatura aumenta há redução no tamanho do tubo germinativo do esporo. Figura 2: Tamanho do tubo germinativo de esporos de Albugo candida em função da variação de temperatura ambiente.

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Para que a doença ocorra é necessária à interação de três fatores: ambiente, hospedeiro e patógeno.

Neste trabalho, foi avaliada a interferência do ambiente nos processos de germinação do esporo, e foi observado que este está diretamente ligado aos processos que levam a germinação.

CONCLUSÕES

O aumento da temperatura interfere na germinação de esporos e no tamanho do tubo germinativo de A. candida, podendo ser considerado um condicionante no processo de infecção da planta pelo patógeno.

AGRADECIMENTOS

A CAPES, pelo financiamento da pesquisa realizada.

REFERÊNCIAS

FERREIRA, D. F. Sisvar: a computer statistical analysis system. Ciência e Agrotecnologia, 35, (6): 1039-1042, 2011.

FERNANDEZ-VALIELA, M.V. Introducción a Ia fitopatologia: Hongos. Vol.III. Buenos Aires, INTA, 1978. 779 p. (INTA, Colección científica, Tomo VII). JACOBSON, D. J. et al. Persistent, systemic, asymptomatic infections of Albugo candida, an oomycete parasite, detected in three wild crucifer species. Canadian Journal of Botany, 76, (5): 739-750, 1998. LAKRA, B. S.; SAHARAN, G. S., 1988. Factors affecting sporangial germination of Albugo candida causing white rust of mustard. Indian Phytopathology, 41: 287. MARINGONI, A.C.; SILVA, Jr., T.F.A. Doenças das brássicas. In: AMORIM, L. et al. Manual de fitopatologia: doenças das plantas cultivadas. 5. ed. Ouro Fino: Agronômica Ceres, 2016, p.165-173. MOURA, K. K. C. F.; NETO, F. B.; DE LIMA, J. S. S.; MOURA, K. H. S. Avaliação econômica de rúcula sob diferentes espaçamentos de plantio. Revista Caatinga, 21, (2):113-118, 2008. POUND, G.S. & WILLIAMS, P.H. Biological races oi Albugo candida. Phytopathology, 53(10): 1146-1149, 1963.

RAABE, R. D.; POUND, G. S. Relation of certain environmental factors to initiation and development of the white rust of spinach. Phytopathology, 42: 448-452, 1952.

TOKESHI, H. & SALGADO, CL. Doenças das crucíferas: brócolo, couves, couve-flor, rabanete e repolho. In: GALLI, F. coord. Manual de fitopatologia: doenças das plantas cultivadas. São Paulo, Editora Agronômica Ceres, 1980, 2: 236-250. WILLIAMS, P. H., 1985. Crucifer genetics cooperative resource book. Dept. of Plant Pathology, Univ. of Wisconsin, Madison, Wisconsin, EUA. 124 p.