Adiponectina e TNF-α no desenvolvimento de Mieloma Múltiplo · prognóstico do mieloma múltiplo...

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Adiponectina e TNF-α no desenvolvimento de Mieloma Múltiplo Carla Susana Pessegueiro Serra Dissertação de Mestrado em Oncologia Outubro 2010

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Adiponectina e TNF-α no desenvolvimento de Mieloma

Múltiplo

Carla Susana Pessegueiro Serra

Dissertação de Mestrado em Oncologia

Outubro 2010

Carla Susana Pessegueiro Serra

Adiponectina e TNF-α no desenvolvimento de Mieloma Múltiplo

Dissertação de Candidatura ao grau de Mestre em Oncologia submetida ao Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar da Universidade do Porto. Orientador – Professor Doutor Rui Medeiros Categoria – Professor Associado Afiliação – Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto e Instituto Português de Oncologia de Francisco Gentil, EPE - Porto. Co-orientador – Dr. Ricardo Ribeiro Categoria – Investigador Afiliação – Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto e Instituto Português de Oncologia de Francisco Gentil, EPE - Porto.

II

Agradecimentos

Ao Prof. Dr. Rui Medeiros, meu orientador, pela oportunidade dada

de desenvolver este trabalho, todo o tempo dispensado e,

nomeadamente, todas as sugestões construtivas empreendidas ao

longo do desenvolvimento deste trabalho e a sua revisão.

Ao Dr. Ricardo Ribeiro, meu co-orientador pela ajuda prestada ao

longo de todo o trabalho, disponibilidade, incansável apoio e

paciência. Muito obrigada.

Ao Dr. Carlos Mendes um especial agradecimento por ter tornado

este projecto possível e pela incansável ajuda. Muito obrigada.

Ao Prof. Dr. Carlos Lopes por todo o apoio prestado, pelo seu

carinho e amabilidade.

Ao Dr. Luís Araújo e Dr. Mário Mariz pela possibilidade de ter

tornado este projecto possível e por toda disponibilidade prestada.

Ao Dr. Luís Leite e Dr. Nuno Duarte por toda disponibilidade e ajuda

prestada ao longo do projecto.

Ao meu amigo Leandro por toda a preocupação e ajuda prestada e

pela grande amizade que nos une.

Às colegas do grupo de Oncologia Molecular Cátia, Célia e Virgínia

e às colegas de trabalho Ana Aguiar, Carina, Filomena, Raquel e

Ana Paula pelo apoio e pela sempre prontidão em ajudar.

À minha família sempre presente, em especial à minha mãe e irmã

por todo o apoio, confiança e paciência.

III

Resumo

Alguns estudos têm vindo a demonstrar associação entre obesidade e mieloma

múltiplo. Esta associação parece dever-se à modificação do padrão de produção de

adipocinas em doentes obesos, nomadamente a adiponectina e o factor de necrose

tumoral α (TNF-α), que parecem apresentar um papel no desenvolvimento de vários

tumores sólidos, assim como em doenças do foro hematológico, tais como as leucemias

e o mieloma múltiplo.

Neste estudo, foram avaliados os níveis circulantes de adiponectina e TNF-α no

sangue periférico e a sua concentração na medula óssea, no momento do diagnóstico e

após tratamento, com o intuito de esclarecer a sua associação com a patogénese e

prognóstico do mieloma múltiplo e compreender os mecanismos envolvidos.

Foram utilizadas amostras de sangue periférico e de líquido intersticial medular

(LIM) de 13 indivíduos com mieloma múltiplo (MM) ou plasmocitoma, 8 com gamapatia

monoclonal de significado indeterminado (MGUS) e 12 controlos emparelhados por idade

e género. As amostras foram colhidas entre Janeiro e Junho de 2010, tendo sido

doseados os níveis de adiponectina total (tAd), globular (gAd) e TNF-α no plasma e no

LIM, no diagnóstico e os níveis de adiponectina total (tAd), globular (gAd) no plasma, 1

mês após tratamento. O diagnóstico foi obtido de acordo com os critérios clássicos

morfológicos, clínicos e laboratoriais e a classificação do estádio segundo o sistema

internacional de estadiamento (ISS).

Não se observaram diferenças com significado estatístico entre MM e MGUS para

níveis circulantes de tAd e gAd (p>0,05). Na análise efectuada de acordo com o

estadiamento ISS verificamos ausência de associação com a adiponectina no líquido

intersticial mas tendência para níveis sanguíneos mais baixos de gAd nos indivíduos com

estádios ≥2 (p=0,094), sugestivo de pior prognóstico, assim como para o TNF-α (8,8 ±

4,0; 38,7 ± 9,9 p<0,036). Foi observada correlação, no momento do diagnóstico, entre os

níveis de TNF-α doseado LIM e no plasma de doentes com MM (r = 0,942; p = 0,002).

Também foram presenciadas correlações inversas entre os níveis de TNF-α do LIM com

a concentração de adiponectina globular plasmática, (r = -0,810; p=0,027) e entre o

número de plasmócitos contabilizados morfologicamente em lâminas de medula óssea,

com a adiponectina globular intersticial (r = -0,680; p = 0,031). Considerando estas

IV

correlações é possível que a adiponectina possa indirectamente diminuir o crescimento

dos plasmócitos através do seu efeito supressor na produção de TNF-α e

consequentemente diminuição da viabilidade dos plasmócitos.

Não foi detectada a expressão dos receptores de adiponectina nos plasmócitos ou

nas células de linhagem linfóide, sugerindo uma eventual acção indirecta da

adiponectina, ou alternativamente, esta poderá apenas representar o estado metabólico

associado à obesidade, podendo outras adipocinas possuir maior relevância na sua

acção nos plasmócitos.

Para confirmar as associações encontradas serão necessários estudos com

amostragens mais significativas. Os nossos resultados ajudam a explorar os mecanismos

que poderão envolver estas adipocinas e o mieloma múltiplo.

V

Abstract

Some studies have come to demonstrate the association between obesity and

multiple myeloma. This association appears to be due to a change in the production of

citokines in the state of obesity, particularly adiponectin and TNF-α seem to take part in

the development of some solid tumors and in leukemia.

In this study, were evaluated the adiponectin and TNF-α circulating levels in the

peripheral blood and its concentration in bone marrow, at the diagnosis and after

treatment, in order to clarify its association with the pathogenesis and prognosis of

multiple myeloma and understand the mechanisms involved.

Samples of peripheral blood and medular interstitial liquid of 13 individuals with

myeloma (MM) or plasmacytoma, 8 with monoclonal gammopathy of undetermined

significance (MGUS) and 12 controls paired up for age and gender had been used. These

samples were collected between January and June of 2010, and assayed the levels of

total (tAd) and globular adiponectin (gAd) and TNF-α in the plasma and interstitial liquid of

the bone marrow, at the diagnosis and 1 month after treatment. The diagnosis was made

according to morphologic, clinical and laboratorial traditional criteria and the stage

classification according to international system for staging (ISS).

There were no statistically significant differences between MM and MGUS

circulating levels of tAd and gAd (p> 0.05). In the analysis carried out in accordance with

the ISS stage, we found no association with adiponectin in the interstitial liquid but a trend

to lower blood levels of gAd in individuals with stage ≥2 (p=0,094), suggesting a worse

prognosis, as well as for TNF-α (8,8 ± 4,0; 38,7 ± 9,9 p<0,036). A correlation was

observed at the time of diagnosis between TNF-α levels assayed in the medular interstitial

liquid and in plasma of patients MM (r = 0.942, p = 0.002). We also observe inverse

correlations between levels of TNF-α in bone marrow interstitial fluid and the plasma

concentration of globular adiponectin (r = -0.810, p = 0.027) and between the number of

plasma cells accounted in bone marrow slides, with interstitial globular adiponectin (r = -

0.680, p = 0.031).Considering these correlations is possible that adiponectin may

indirectly reduce the growth of plasmocytes by its suppressive effect on TNF-α production

and subsequent decline of plasmocytes viability.

It was not detected the expression of adiponectin receptors in the plasmocytes or

cells of lymphoid lineage, suggesting a possible indirect action of adiponectin, or

VI

alternatively, it can only represent the metabolic state associated with obesity; other

adipokines may have greater relevance in their action in plasmocytes.

To confirm these associations, studies with more significant number of samples

have to be performed. Our results help to explore the mechanisms that may involve these

adipokines with multiple myeloma.

VII

Lista de abreviaturas

ACC - Carboxilase acetil-CoA

ADN – Ácido desoxiribonúcleico

AMPK - Proteína cinase activada

bFGF - Factor de crescimento dos fibroblastos

BJP - Proteínas de bence-jones

CCL-2 - Quimiocina C-C-2

CXCR4- Receptor de quimiocinas CXC 4

EMP - Plasmocitoma extramedular

FAZ - Sintase de ácidos gordos

gAd ou gAcrp30 - Adiponectina globular

HB EGF - Factor de crescimento epidérmico de ligação à heparina

HDL – Colesterol de alto peso molecular

HGF - Factor de crescimento da heparina

HMW - Adiponectina de alto peso molecular

ICAM-1- Molécula de adesão intercelular

IFN-γ – Interferão γ

Ig – Imunoglobulina

IL-1β – Interleucina 1β

IL-3 – Interleucina 3

IL-6 - Interleucina 6

IMC – Índice de massa corporal

ISS - Sistema internacional de estadiamento

LFA-1 - Antigénio associado ao leucócito

LIM - Líquido intersticial medular

LMA-M1 – Leucemia mieloblástica aguda M1

LMW - Adiponectina de baixo peso molecular

MCP-1- Proteína quimio-atractora de monócitos 1

MGUS - Gamopatia monoclonal de significado indeterminado

MIF - Factor de migração inibitório

MIP-1α - proteína inflamatória macrófagos

MM - Mieloma múltiplo

VIII

MMW – Adiponectina de médio peso molecular

NF-kB - Factor nuclear-kB

PAI-1 - Inibidor do activador do plasminogénio 1

PCR - Proteína C reactiva

PDGF-BB - Factor de crescimento derivado de plaquetas BB

PPAR α - Receptor do activador da proliferação de peroxisomas α

PPAR γ - Receptor do activador da proliferação de peroxisomas γ

RPM – Rotações por minuto

SBP - Plasmocitoma ósseo solitário

tAd ou Acrp30 –Adiponectina total

TBS - tris buffered saline

TNF-α – Factor de necrose tumoral α

TZDs - Tiazidas

VCAM-1 - Molécula de adesão celular vascular

VEGF - Factor de crescimento do endotélio vascular

VF - Visfatina

VLA- 4 - Antigénio muito tardio

WHO - World Health Organization

IX

Índice

Agradecimentos .............................................................................................................. II

Resumo ...........................................................................................................................III

Abstract ........................................................................................................................... V

Lista de abreviaturas .................................................................................................... VII

Índice de figuras ............................................................................................................ XI

Índice de quadros ......................................................................................................... XII

Índice de gráficos ........................................................................................................ XIII

1. Introdução ................................................................................................................... 1

1.1 Neoplasias: Aspectos gerais e biopatologia ............................................................ 2

1.2 Células plasmáticas: Conceito e fisiopatologia ........................................................ 3

1.3 Neoplasias de células plasmáticas: Gamapatias monoclonais ................................ 6

1.3.1 Mieloma Múltiplo: Características gerais e critérios de diagnóstico ................... 9

1.3.2 Plasmocitoma: Características gerais e critérios de diagnóstico ......................10

1.3.3 MGUS: Características gerais e critérios de diagnóstico ..................................11

1.4 Tecido adiposo: Conceito e fisiopatologia...............................................................13

1.5 Adiponectina ..........................................................................................................17

1.5.1 Caracterização molecular e genética ...............................................................17

1.5.2 Receptores ADIPOR1 e ADIPOR2 ..................................................................18

1.5.3 Caracterização fisiológica ................................................................................19

1.6 Adiponectina e as neoplasias .................................................................................22

1.7 Obesidade, adiponectina - mieloma múltiplo / MGUS/plasmocitoma ......................25

2. Objectivos ..................................................................................................................26

3. Material e Métodos .....................................................................................................28

3.1 População ..............................................................................................................29

3.2 Processamento de amostras ..................................................................................30

X

3.3 Análise estatística ..................................................................................................31

4. Resultados .................................................................................................................32

5. Discussão ...................................................................................................................40

6. Conclusão e perspectivas futuras ............................................................................47

7. Referências ................................................................................................................50

XI

Índice de figuras

Figura 1: Processo de captação dos precursores das células plasmáticas do sangue

periférico para a medula óssea (Harousseau and Moreau, 2009). .................................... 4

Figura 2: Interacções entre as células plasmáticas neoplásicas e o micro ambiente da

medula óssea (Harousseau and Moreau, 2009).. ............................................................. 5

Figura 3: Principais proteínas encontradas em cada banda eletroforética (Silva, 2008). .. 6

Figura 4: Mecanismos oncogénicos envolvidos na diferenciação das células plasmáticas.

Adaptado de:(Kyle and Rajkumar, 2004). ......................................................................... 7

Figura 5: Patogénese e progressão de gamapatia monoclonal de significado

indeterminado para mieloma múltiplo. Adaptado de:(Rajkumar, 2005). ...........................12

Figura 6: Tecido adiposo: componentes celulares, moléculas sintetizadas e seu

envolvimento com a inflamação (Tilg and Moschen, 2008). .............................................15

Figura 7: Factores contribuintes para o aumento do risco da obesidade associada a

neoplasias. Adaptado de: (Barb et al., 2007). ..................................................................16

Figura 8: Estrutura e formas oligoméricas da adiponectina total (Kadowaki and

Yamauchi, 2005). .............................................................................................................17

Figura 9: Estrutura dos receptores de adiponectina (Kadowaki and Yamauchi, 2005). ...18

Figura 10: Mecanismos de expressão da adiponectina pela activação dos agonistas do

receptor do activador da proliferação de peroxisomas (Tilg and Moschen, 2008). ...........21

Figura 11: Possíveis mecanismos moleculares implicados na regulação do crescimento

das células tumorais pela proteína kinase activada por 5´-AMP. Adaptado de (Kelesidis et

al., 2006). .........................................................................................................................24

Figura 12: Imunocitoquímica para os anticorpos ADIPOR1 (a) e ADIPOR2 (b) em

esfregaço de medula óssea de doentes com mieloma múltiplo. ......................................39

XII

Índice de quadros

Quadro 1: Sistema internacional de estadiamento (ISS). Adaptado de: (Silva, 2009). ..... 8

Quadro 2: Classificação internacional de alteração de peso de acordo com o Índice de

Massa Corporal. Adaptado de (OMS, 2004). ...................................................................14

Quadro 3: Características clínicas e analíticas dos doentes com mieloma múltiplo e

gamapatia monoclonal de significado indeterminado .......................................................33

Quadro 4: Associação entre a obesidade e os casos de mieloma múltiplo, gamapatia

monoclonal de significado indeterminado ........................................................................34

Quadro 5: Concentração no sangue periférico de adiponectina total, globular e TNF-α em

cada um dos grupos no momento de diagnóstico ............................................................34

Quadro 6: Concentração de adiponectina total, globular e TNF-α nos casos e nos

controlos no momento do diagnóstico no LIM ..................................................................35

Quadro 7: Concentração de adiponectina total, globular e TNF-α nos casos de mieloma

múltiplo em sangue periférico e LIM no momento de diagnóstico, de acordo com o

estadiamento ISS ............................................................................................................36

Quadro 8: Comparação dos níveis de adiponectina total e globular, nos casos de

mieloma múltiplo, em sangue periférico no momento do diagnóstico e após 1 mês de

tratamento .......................................................................................................................37

XIII

Índice de gráficos

Gráfico 1: Correlação entre adiponectina total (a), globular (b) e TNF-α (c) doseados no

LIM e no plasma de doentes com mieloma múltiplo, no momento de diagnóstico ...........38

1. Introdução

2

1. Introdução

1.1 Neoplasias: Aspectos gerais e biopatologia

Nos países desenvolvidos, as doenças neoplásicas são consideradas a segunda

causa de morte sendo ainda responsáveis pela elevada taxa de morbilidade. As

estimativas da Organização Mundial de Saúde até 2030 sugerem aumentos na incidência

e mortalidade (OMS, 2008).

Actualmente, parece estar estabelecido que o diagnóstico tardio das neoplasias

se encontra associado a uma maior mortalidade. Assim, a identificação de grupos de

risco e o estabelecimento de novos biomarcadores são fundamentais para o diagnóstico

precoce e orientação terapêutica.

As neoplasias são doenças complexas, sabendo-se que na sua etiopatogenia

estão envolvidos factores genéticos e ambientais. As neoplasias malignas caracterizam-

se pela divisão celular descontrolada que escapam ao controle dos factores que,

normalmente, regulam a sua proliferação e maturação. A progressão tumoral é, na

maioria dos casos, lenta e envolve a acumulação de mutações em proto-oncogenes,

genes supressores tumorais, genes associados à regulação da apoptose ou genes

envolvidos na reparação do ADN (Lengauer et al., 1998).

Segundo (Hanahan and Weinberg, 2000), as células tumorais apresentam seis

características essenciais que permitem o seu desenvolvimento e progressão: auto-

suficiência em factores de crescimento, insensibilidade a sinais inibidores de crescimento,

potencial replicativo ilimitado, fuga à apoptose, capacidade de invasão tecidular e a

metastização. Ao longo dos últimos anos tem-se vindo a acumular evidências sobre o

papel do micro ambiente na carcinogénese, estando estabelecida a interacção entre

células tumorais e células estromais envolventes (Rajala and Scherer, 2003; Finak et al.,

2008).

3

1.2 Células plasmáticas: Conceito e fisiopatologia

As células plasmáticas, também denominadas de plasmócitos, são linfócitos B

totalmente diferenciados que desempenham funções específicas de produção e secreção

de imunoglobulinas com o objectivo de combater e eliminar os agentes causadores de

infecção, como as bactérias ou os vírus (Radbruch et al., 2006; Alexander et al., 2007).

As células precursoras das células plasmáticas, tal como todas as células do

sistema hematopoiético, têm uma origem comum na medula óssea, a partir de uma stem

cell pluripotente (figura 1). No entanto, durante a fase terminal de diferenciação

desencadeada nos nódulos linfáticos poderão ocorrer erros genéticos a nível das células

precursoras, os plasmablastos (Harmening, 1997; Greipp et al., 2005; Radbruch et al.,

2006).

Os plasmablastos mutados gerados são transportados através do sangue

periférico para a medula óssea, onde serão produzidos clones. O mecanismo sob o qual

estas células precursoras são deslocadas para a medula óssea ainda se encontra por

clarificar. Contudo, foi proposto que a ligação da proteína quimio-atractora de monócitos

1 (MCP-1), expressa em células estromais, ao receptor de quimiocinas CXC 4 (CXCR4),

expresso nos plasmablastos parece desempenhar um papel importante na migração e

afinidade medular. O microambiente da medula óssea parece estar organizado para

capturar precursores das células tumorais circulantes, oferecendo-lhes condições

favoráveis para a sua diferenciação e expansão clonal (Caligaris-Cappio et al., 1985).

Assim, a MCP-1 activa os plasmablastos CXCR4 positivos, estimulando a sua adesão ao

endotélio através de moléculas de adesão pelo antigénio associado ao leucócito (LFA-1)

e pelo antigénio muito tardio (VLA-4). Desta forma, os plasmablastos conseguem migrar

para a medula óssea e assim ficarem expostos às células estromais (Radbruch et al.,

2006; Harousseau and Moreau, 2009) (figura 2).

4

Figura 1: Processo de captação dos precursores das células plasmáticas do sangue periférico para a medula óssea (Harousseau and Moreau, 2009). Esquema da figura descrito no texto. MCP-1 – Proteína

quimio-atractora de monócitos 1; CXCR4 - Receptor de quimiocinas CXC 4; LFA-1 - Antigénio associado ao leucócito; VLA-4 - Antigénio muito tardio; SDF-1 – Factor 1 derivado das células estromais; ICAM-1- Molécula de adesão inter-celular 1; VCAM-1 - Molécula de adesão célula vascular 1.

Perante a interacção com o microambiente da medula óssea, os plasmablastos

adquirem propriedades de secrecção de interleucina 6 (IL-6) uma citoquina implicada na

estimulação do crescimento, proliferação e migração de células plasmáticas neoplásicas.

Outras moléculas secretadas incluem o factor de necrose tumoral (TNF-α), que regula

positivamente a IL-6, o factor de crescimento do endotélio vascular (VEGF), o factor de

crescimento dos fibroblastos (bFGF) e o factor de crescimento dos hepatócitos (HGF),

intervenientes no processo de neo-angiogénese. O activador do receptor do ligando

factor nuclear kB (RANKL), produzido pelas células estromais assim como a proteína

inflamatória macrófagos (MIP-1α) produzida nas células plasmáticas neoplásicas,

estimulam a proliferação osteoclástica, enquanto os osteoblastos são inibidos pela

interleucina 3 (IL-3), proteína 1 relacionada com dickkopf (DKK-1) e pelo HGF (Kyle and

Rajkumar, 2004; Harousseau and Moreau, 2009) (Figura 3).

5

Figura 2: Interacções entre as células plasmáticas neoplásicas e o micro ambiente da medula óssea (Harousseau and Moreau, 2009). Esquema da figura descrito no texto. MCP-1 – Proteína quimio-atractora

de monócitos 1; CXCR4 - Receptor de quimiocinas CXC 4; LFA-1 - Antigénio associado ao leucócito; VLA-4 - Antigénio muito tardio; SDF-1 – Factor 1 derivado das células estromais; ICAM-1- Molécula de adesão inter-celular 1; VCAM-1 - Molécula de adesão célula vascular 1; IL-6 – Interleucina 6; VEGF – Factor de crescimento do endotélio vascular; TNF-α - Factor de necrose tumoral; bFGF - Factor de crescimento dos fibroblastos; HGF - Factor de crescimento dos hepatócitos; RANKL - Activador do receptor do ligando factor nuclear kB; MIP-1α - Proteína inflamatória macrófagos; IL-3 - Interleucina 3; DKK-1 - Proteína relacionada com dickkopf; SDF-1α – Factor derivados das células estromais 1α; TGF-β – Factor transformador de crescimento β; RUNX2 -factor de transcrição 2 relacionado com runt.

Os níveis elevados de DKK-1 na medula óssea e no sangue periférico em doentes

com mieloma múltiplo está associado com a presença de lesões osteolíticas (Tian et al.,

2003). O microambiente existente na medula óssea poderá assim desempenhar um

papel na patogénese da doença e na resistência aos fármacos.

6

1.3 Neoplasias de células plasmáticas: Gamapatias monoclonais

As gamapatias definem-se pelo aumento sérico de imunoglobulinas (Igs) e podem

ser de dois tipos, policlonais ou monoclonais. As gamapatias policlonais são

caracterizadas por um aumento homogéneo e difuso da fracção gama da electroforese

das proteínas séricas, representando a produção de vários tipos de imunoglobulinas

pelos vários clones de plasmócitos. Encontram-se associadas a um grupo heterogéneo

de situações não malignas, fruto de diversos processos inflamatórios ou reactivos, como

infecções virais, alergias e infecções crónica (Turgeon, 1999; Dispenzieri et al., 2001;

Kyle et al., 2002).

As gamapatias monoclonais resultam da produção excessiva de um tipo

específico de imunoglobulina ou de um fragmento por um único clone plasmocitário

potencialmente neoplásico (Attaelmannan and Levinson, 2000; Dispenzieri et al., 2001;

Silva, 2008). A imunoglobulina monoclonal, também designada de componente M,

proteína M ou paraproteína, é reconhecida na electroforese sérica ou urinária, por uma

banda de migração restrita na fracção gama (pico monoclonal) (Attaelmannan and

Levinson, 2000; Faria, 2007). A imunoglobulina é constituída por duas cadeias

polipéptidicas pesadas da mesma classe e subclasse (IgG, IgA, IgM, IgD e IgE) e por

duas cadeias polipeptidicas leves do mesmo tipo lambda (λ) ou kappa (k)(Attaelmannan

and Levinson, 2000; Faria, 2007) (figura 4). Quando a banda representada pelas

imunoglobulinas monoclonais de cadeias leves é identificada na urina, estas são

denominadas de proteínas de Bence-Jones (BJP).

Figura 3: Principais proteínas encontradas em cada banda eletroforética (Silva, 2008).

7

O mieloma múltiplo, o plasmocitoma e as gamapatias monoclonais de significado

indeterminado (MGUS) são alguns dos modelos de gamapatias monoclonais

provenientes de alterações das células plasmáticas. O seu diagnóstico requer o

estabelecimento de vários critérios bem definidos que têm por base as manifestações

clínicas e os estudos laboratoriais para verificação de possíveis alterações orgânicas.

Este inclui a detecção e quantificação do componente monoclonal, o exame da medula

óssea para verificação da infiltração plasmocitária e o estudo genético (Silva, 2008).

Durante a replicação celular e diferenciação dos linfócitos B maduros em células

plasmáticas poderão ocorrer erros genéticos, mais especificamente a nível dos

plasmablastos. Assim, a pesquisa de alterações cromossómicas é importante, pois

influenciam o prognóstico da doença. As variações mais comuns ocorrem no

cromossoma 14q32.3 originando alterações a nível do locus da cadeia pesada da

imunoglobulina (IgH). A hiperploidia encontra-se associada a melhor prognóstico,

enquanto que a deleção do cromossoma 17p13, verificado em 10% dos indivíduos, e as

translocações dos cromossomas 14q32.3 (50%), 4p16.3 (15%), o 16q23 (5%), 11q13,

6p21 e 20q11 encontram-se associadas a pior prognóstico da doença. Uma grande

variedade de outras alterações genéticas pode ocorrer em fases mais avançadas da

doença, como mutações em genes da família do oncogene RAS e do gene supressor

tumoral P53, as translocações do gene MYC e as metilações da P16 (Kyle and Rajkumar,

2004; Martinez, 2007; Harousseau and Moreau, 2009) (Figura 5).

Ocorrências oncogénicas nas células plasmáticas

Figura 4: Mecanismos oncogénicos envolvidos na diferenciação das células plasmáticas. Adaptado de:(Kyle and Rajkumar, 2004). Esquema da figura descrito no texto. IgH - cadeia pesada da imunoglobulina; MYC – factor de transcrição nuclear; RAS- proteína transdutora de sinal; NF-kB - Factor nuclear-kB; P53 – Gene supressor tumoral.

Translocação IgH 14q32 (4p26, 11q13, 16q23, 20q11, 12p13… Delecção 13 Trissomia 3, 5, 7, 9, 11, 15, 19, 21

N-Ras, K-Ras Desregulação MYC Mutação P53 Mutação da via activada do NF-kB

8

Por outro lado, as alterações verificadas no microambiente da medula óssea

também poderão exercer uma influência bem marcada neste tipo de patologias. Podemos

incluir o efeito pró-angiogénico das moléculas segregadas pelos plasmócitos neoplásicos,

a supressão imunológica e a acção da IL-6 e do VEGF.

As manifestações clínicas neste tipo de alterações das células plasmáticas podem

variar desde assintomática até estados avançados dolorosos e incapacitantes devido ao

envolvimento ósseo. Os sinais e sintomas manifestados mais frequentemente incluem a

perda de peso, cansaço, osteólise, insuficiência renal, supressão da hematopoiese, maior

risco de infecções, hipercalcémia, hiperviscosidade do sangue e amiloidose (Bataille et

al., 1984; Attaelmannan and Levinson, 2000; Kyle et al., 2002; Alexander et al., 2007;

Hungria, 2007; Grethlein, 2009; Harousseau and Moreau, 2009; Silva, 2009; Barbara J.

Bain, 2010).

O sistema de estadiamento clínico desenvolvido por Durie & Salmon para

estabelece o diagnóstico de gamapatias baseia-se na correlação de vários factores

(hemoglobina, cálcio sérico, componente monoclonal e creatinina) com a massa tumoral

(Greipp et al., 2005). No entanto, evidências recentes têm vindo a mostrar que este

sistema é incapaz de se relacionar adequadamente com a sobrevivência global e com o

tempo livre de doença (Zaidi and Vesole, 2001; Greipp et al., 2005). Desta forma, tornou-

se necessário o desenvolvimento de novos parâmetros que permitissem uma melhor

correlação clínica e uma estratificação de subgrupos com diferentes valores preditivos e

prognóstico. A combinação da β2 – microglobulina com a albumina sérica resultou num

sistema de estadiamento simples e confiável, possibilitando uma divisão em três estádios

clínicos, denominado sistema internacional de estadiamento (ISS) (quadro 1) (Zaidi and

Vesole, 2001; Greipp et al., 2005; Silva, 2009).

Quadro 1 - Sistema internacional de estadiamento (ISS). Adaptado de: (Silva, 2009).

Estádio I β2 microglobulina sérica <3,5mg/gL

Albumina sérica >3,5g/gL

Estádio II β2 microglobulina sérica <3,5mg/gL e albumina sérica <3,5g/gL

ou

β2 microglobulina sérica >3,5mg/gL e albumina sérica >3,5g/dL

Estádio III β2 microglobulina sérica >5,5mg/dL

9

1.3.1 Mieloma Múltiplo: Características gerais e critérios de diagnóstico

O mieloma múltiplo é uma neoplasia que representa cerca de 1% da totalidade

das neoplasias malignas e cerca de 10% das neoplasias hematológicas. É mais

frequente em indivíduos do sexo masculino com idades superiores a 65 anos e é mais

incidente na raça negra (Landgren et al., 2006; Alexander et al., 2007; Harousseau and

Moreau, 2009). Dados epidemiológicos referem igualmente que apenas 2% dos

indivíduos com idades inferiores a 40 anos poderão desenvolver este tipo de patologia

(Alexander et al., 2007; Lynch et al., 2008; Silva, 2009). Actualmente, tem-se vindo a

verificar um aumento na incidência de MM, reflexo de um maior conhecimento da história

natural da patologia e da sua patogénese, de um avanço dos recursos laboratoriais de

diagnóstico e do aumento da esperança média de vida (Silva, 2009). O MM possui mau

prognóstico, na medida em que somente um terço dos pacientes sobrevive 5 ou mais

anos e apenas 16% sobrevivem até aos 10 anos. Desta forma, a identificação de factores

de risco e de biomarcadores poderão ter impacto na morbilidade e mortalidade desta

patologia (Larsson and Wolk, 2007; Weiss et al., 2009). Estudos ocupacionais assinalam

um aumento do risco em indivíduos expostos a pesticidas, produtos químicos, radiações

ionizantes, asbestos e solventes específicos, como o benzeno (Lope et al., 2008). Para

além da exposição crónica a agentes poluentes, outros factores poderão estar implicados

na etiologia do MM, como a estimulação imunológica crónica, história familiar de MM e a

co-existência de doenças auto-imunes (Larsson and Wolk, 2007).

O MM é uma neoplasia progressiva e incurável caracterizada pela proliferação

desregulada e clonal na medula óssea, de células plasmáticas neoplásicas com

características morfológicas e funcionais semelhantes às células plasmáticas normais

(Turgeon, 1999; Grethlein, 2009; Barbara J. Bain, 2010). Desta forma, podem apresentar

características morfológicas tipicamente normais como o núcleo excêntrico, cromatina

grosseira e aparelho de Golgi vísivel, ou por outro lado podem apresentar modificações

moderadas ou displásicas. As alterações citológicas verificadas frequentemente incluem

a assincronia de maturação do citoplasma e do núcleo (citoplasma maduro e cromatina

nuclear difusa com nucléolos proeminentes), pleomorfismo celular e presença de corpos

de Russell (Turgeon, 1999; Beutler, 2001; Grethlein, 2009; Barbara J. Bain, 2010).

A proteína M mais frequentemente secretada é a IgG (60%), seguida da IgA (20%), IgM,

IgE ou IgD (2%), biclonal (8%) e 15 a 20% apenas produzem imunoglobulinas de cadeias

10

leves. Cerca de 7% de pacientes não produz nenhum tipo de imunoglobulinas, a nível

sérico e urinário, denominando-se a patologia por mieloma não secretor.

A imunofenotipagem completa dos plasmócitos tumorais, demonstra grande

heterogeneidade na expressão de marcadores associados à linhagem B e à

diferenciação celular. Os plasmócitos normais expressam CD19+, CD38+, CD138+,

CD45+ e são negativos para CD56-. O plasmócitos neoplásicos, na sua maioria

expressam CD56+ (62% - 75% dos casos), CD138+, CD38+, CD20+, CD28+, CD33+,

CD117+ em 28% dos casos podendo apresentar positividade fraca ou negativa para

CD45+/-. As moléculas de adesão, principalmente a CD56 e o CD86, vão permitir a sua

ligação a locais metastáticos extra-medulares quando se encontram distantes do

microambiente medular, daí que a expressão destes anticorpos se encontre relacionada

com maior agressividade e com pior prognóstico (Epstein, 1992; Omede et al., 1993;

Teoh and Anderson, 1997; Robillard et al., 2003; Lin et al., 2004; Matsui et al., 2004;

Falcão, 2007; Barbara J. Bain, 2010).

Os critérios para diagnóstico do MM envolvem a presença de mais de 10% de

células plasmáticas no aspirado de medula óssea; presença de uma proteína monoclonal

no soro e / ou urina >3g/dL, com excepção dos pacientes com MM não secretor;

evidência de alterações orgânicas atribuídas à proliferação das células plasmáticas como

a hipercalcémia (cálcio ≥11.5mg/100mL), insuficiência renal (creatinina sérica >1.75

g/dL); anemia normocrómica, normocítica com valores de hemoglobina de <10g /dL;

lesões ósseas, incluindo lesões líticas, osteoporose ou fracturas e outros como a

hiperviscosidase sanguínea e infecções bacterianas recorrentes, superiores a 2 episódios

por ano (Kyle et al., 2002; Hungria, 2007; Kyle and Rajkumar, 2009; Barbara J. Bain,

2010).

1.3.2 Plasmocitoma: Características gerais e critérios de diagnóstico

O plasmocitoma é a terminologia utilizada para a neoplasia caracterizada pela

invasão de plasmócitos neoplásicos localizados numa determinada área sem evidência

11

de disseminação proliferativa sistémica (Kumar et al., 2003). Os plasmocitomas são

responsáveis por 5 a 10% do total das neoplasias de células plasmáticas e podem ser

classificados numa lesão óssea única (plasmocitoma ósseo solitário, SBP) ou numa lesão

de tecidos moles (plasmocitoma extramedular). Os plasmocitomas não tratados poderão

evoluir para MM em cerca de 2 a 3 anos (Kumar et al., 2003).

Os critérios para diagnóstico de ambos os tipos de plasmocitoma incluem a

existência de uma área isolada de destruição óssea devido a um clone de plasmócitos

(SBP) ou a presença de células plasmáticas monoclonais no tecido de biópsia, infiltração

da medula óssea por plasmócitos inferior a 10%, ausência de anemia, hipercalcémia ou

insuficiência renal e baixa concentração de proteína M sérica (IgG <3g/dL; IgA <2g/dL)

e/ou urinária (λ ou k <1g/24H) (Dimopoulos et al., 2000; Faria, 2007; Fanning, 2008).

A indução da angiogénese é uma característica das células plasmáticas

neoplásicas, que poderá contribuir para a progressão do plasmocitoma para MM, na

medida em que permitirá a invasão da medula óssea pelos plasmócitos neoplásicos e

consequentemente, o crescimento tumoral (Kumar et al., 2003; Rajkumar, 2005).

1.3.3 MGUS: Características gerais e critérios de diagnóstico

A MGUS é a gamapatia mais frequente, presente em aproximadamente 3% da

população acima dos 50 anos, apresentando uma prevalência aumentada com a

progressão da idade (1.7% em indivíduos entre os 50 e os 59 anos e superior a 5% em

indivíduos a partir dos 70 anos) (Faria, 2007).

Os factores que contribuem para o desenvolvimento da MGUS, assim como os

que conduzem à sua evolução para MM ainda se encontram por elucidar. No entanto,

estudos referem que indivíduos com evidência de MGUS apresentam um risco mais

acentuado de progressão para MM (Cesana et al., 2002; Rajkumar, 2005; Landgren et

al., 2006; Lynch et al., 2008; Weiss et al., 2009). O risco estimado de progressão de

MGUS para MM é de aproximadamente de 19%, no intervalo de tempo de 2 a 19 anos

(Grethlein, 2009).

A MGUS é caracterizada por apresentar ausência de sintomatologia clínica,

infiltração da medula óssea por plasmócitos inferior a 10%, pela similaridade evidente nas

12

alterações cromossómicas referenciadas em doentes com MM (figura 19), pela presença

sérica e /ou urinária de IgG com concentração inferior a 3g/dL ou IgA <2g/dL e k ou λ

<1g/24h, pela inexistência de lesões ósseas, anemia ou falência renal. A proteína M mais

frequente é a IgG (55.5%), seguida da IgM (20%), IgA (10%), biclonal (8%), cadeias leves

(6%) e IgD (<0.5%) (Rajkumar, 2005; Faria, 2007; Lynch et al., 2008; Landgren et al.,

2009).

Os indivíduos com MGUS não são tratados, no entanto é necessário efectuar um

follow-up das suas condições pré-malignas, devido à possível evolução para MM. O risco

de progressão é afectado pela concentração sérica da imunoglobulina monoclonal, pelo

aumento de plasmócitos neoplásicos na medula óssea, pelo aumento da angiogénese e

pelo comprometimento orgânico que caracteriza o MM (figura 6). No entanto, a razão

pela qual o MGUS evolui para MM é desconhecida, continuando esta a ser uma

importante questão ainda por resolver (Rajkumar, 2005; Landgren et al., 2009; Weiss et

al., 2009).

Figura 5: Patogénese e progressão de gamapatia monoclonal de significado indeterminado para mieloma múltiplo. Adaptado de:(Rajkumar, 2005). Esquema da figura descrito no texto. RANKL - Activador

do receptor do ligando factor nuclear kB; MIP-1α - Proteína inflamatória macrófagos; IL-6 - Interleucina 6; VEGF – Factor de crescimento do endotélio vascular;N-Ras - Proteína transdutora de sinal; K-Ras - Proteína transdutora de sinal; MGUS – Gamapatia monoclonal de significado indeterminado.

13

Vários autores têm referenciado a obesidade como factor de risco ao

desenvolvimento de vários tumores sólidos, incluindo o do cólon, mama, endométrio, rim

e esófago (Barb et al., 2007). O excesso de peso e a obesidade também parecem estar

associados com o desenvolvimento de MM, no entanto as evidências epidemiológicas

são ainda reduzidas devido ao escasso número de estudos (Lauta, 2003; Birmann et al.,

2007; Larsson and Wolk, 2007). Este poderá ser um dado para a patogénese do MM,

com consequências no desenvolvimento de estratégias preventivas da doença e

abordagem terapêutica.

1.4 Tecido adiposo: Conceito e fisiopatologia

Actualmente, os avanços nas ciências biomédicas têm vindo a demonstrar uma

mudança de conceito relativamente às funções dos tecidos e órgãos do organismo

humano. O tecido adiposo representa um típico exemplo desta mudança. Para além da

sua clássica função de armazenamento de energia, representa o maior órgão endócrino

do organismo, produtor de hormonas e outras moléculas com impacto na regulação do

metabolismo energético, sensibilidade à insulina, imunidade, inflamação e metabolismo

ósseo (Haluzik et al., 2004; Dietze-Schroeder et al., 2005). O tecido adiposo é constituído

por adipócitos e por uma fracção vascular estromal, na qual estão incluídos os pré-

adipócitos, macrófagos, as células mesenquimais, endoteliais e fibroblastos. No tecido

adiposo são produzidas várias citocinas, (TNF-α, IL-6 e IL-8), hormonas (adiponectina,

leptina e resistina), factores de crescimento (VEGF, bFGF) e mediadores do processo de

coagulação (inibidor do activador do plasminogénio 1 - PAI-1), que representam um papel

relevante no desenvolvimento da obesidade, na proliferação celular e no interface entre o

sistema imunológico e metabólico (Fruhbeck et al., 2001; Onuma et al., 2003; Tilg and

Moschen, 2006).

A obesidade é definida pela alteração nutricional mais frequente nos países

desenvolvidos e a sua prevalência tem vindo a aumentar significativamente (OMS, 2006).

14

A determinação do índice de massa corporal (IMC) é o método mais frequentemente

utilizado para classificar a obesidade e, adicionalmente, fornecer informações acerca do

risco de desenvolvimento de doenças associadas (tabela 2). Segundo a World Health

Organization (WHO) o estado de obesidade é classificado com índices de IMC≥30 kg/m2

(OMS, 2006).

Quadro 2 - Classificação internacional de alteração de peso de acordo com o Índice

de Massa Corporal. Adaptado de (OMS, 2004).

Classificação IMC (kg/m

2)

Pontos principais de cut-off Pontos adicionais de cut-off

Peso inferior ao normal <18.50 <18.50

Peso normal 18.50 - 24.99 18.50 - 22.99

23.50 - 29.99

Peso acima do normal ≥ 25.00 ≥ 25.00

Obeso ≥ 30.0 ≥ 30.0

Vários estudos têm vindo a concluir que a obesidade predispõe para um risco

acentuado de desenvolvimento de muitas doenças incluindo a aterosclerose, diabetes

tipo2, esteatose hepática, alguns cancros e doenças relacionadas com os sistemas

metabólico e imunológico. Muitas das interacções entre estes dois sistemas parecem ser

orquestradas por uma complexa rede de mediadores solúveis produzidos pelos

adipócitos. As adipocinas são mediadores solúveis produzidos, maioritaria mas não

exclusivamente, pelos adipócitos e incluem várias moléculas, como é o caso da

adiponectina, visfatina (VF), leptina, resistina, TNF-α, IL-6, MCP-1, PAI-1, factor inibidor

de migração dos macrófagos (MIF) e a proteína inflamatória dos macrófagos (MIP-1α),

entre outras. Actualmente, o número de adipocinas encontra-se em constante

crescimento, estando associado à interacção entre o tecido adiposo e o sistema

imunológico. Muitos destes mediadores são, também, expressos por macrófagos

activados e por outras células imunitárias (linfócitos T), presentes em grande quantidade,

15

no tecido adiposo de indivíduos obesos, representando, desta forma uma fonte adicional

e desequilibrada da sua produção.

Assim, em situações de obesidade verifica-se uma indução da produção do TNF-

α, IL-6, PBEF/vistafina, leptina e IL-1β, infiltração de macrófagos e linfócitos T no tecido

adiposo, supressão da expressão da adiponectina, aumento sérico de produtos de fase

aguda (proteína C reactiva - PCR), que no seu conjunto vão contribuir para o

desenvolvimento de inflamação local e sistémica (Figura 7).

Figura 6: Tecido adiposo: componentes celulares, moléculas sintetizadas e seu envolvimento com a

inflamação (Tilg and Moschen, 2008). Esquema da figura descrito no texto. MIP-1α - Proteína inflamatória

macrófagos; IL-6 - Interleucina 6; TNF-α - Factor de necrose tumoral; MCP-1 – Proteína quimio-atractora de

monócitos 1; MIP-1α - Proteína inflamatória macrófagos; IL-1β - Interleucina 1β; MIF - factor inibidor de

migração dos macrófagos.

O MCP-1, o MIF e o MIP-1α foram recentemente identificados como potenciais

factores de infiltração dos macrófagos no tecido adiposo. Uma vez presentes e activos no

tecido adiposo, os macrófagos em conjunto com os adipócitos, podem perpetuar um ciclo

com feed-back positivo no recrutamento de macrófagos e produção de citoquinas pró-

inflamatórias (Okamoto et al., 2006; Tilg and Moschen, 2006, 2008).

16

Os macrófagos representam a principal fonte de produção de TNF-α no tecido

adiposo. O TNF-α tem um efeito supressor da produção de adiponectina nos adipócitos

apresentando-se como um dos mecanismos para níveis mais baixos deste mediador anti-

inflamatório nos indivíduos obesos. A diminuição da produção de adiponectina pode

contribuir para o desenvolvimento de tumores, devido à interacção com as vias da

insulina, com a inflamação e com a angiogénese (Barb et al., 2007). (Figura 8)

Figura 7: Factores contribuintes para o aumento do risco da obesidade associada a neoplasias. Adaptado de: (Barb et al., 2007). Esquema da figura descrito no texto. FFA –Ácidos gordos livres; IGFBPs –

Proteínas de ligação ao factor de crescimento insulínico; IGF – Factor crescimento insulínico 1; E2 – Estradiol; T – Testosterona; 17βHSD – desidrogenase hidroxiesteróide 17

Em situações patológicas de obesidade, o desequilíbrio na concentração destas

adipocinas, poder-se-á reflectir no desenvolvimento de patologias malignas, como o

cancro do endométrio, mama, próstata e aparelho digestivo (Kelesidis et al., 2006; Barb

et al., 2007). Mais recentemente, estudos demonstraram o relacionamento da obesidade

com patologias hematológicas, como a leucemia mieloblástica aguda e o mieloma

múltiplo (Petridou et al., 2006; Dalamaga et al., 2009).

O tecido adiposo é um órgão endócrino complexo, que se encontra envolvido, em

importantes processos biológicos do organismo humano, nomeadamente através de

adipocinas produzidaspelo mesmo e segregadas para o sangue e interstícios. Este

estudo incidirá sobre, uma das principais adipocinas anti-inflamatórias produzida pelos

adipócitos, a adiponectina.

17

1.5 Adiponectina

1.5.1 Caracterização molecular e genética

A adiponectina, também conhecida por GBP-28 (Nakano et al., 1996) apM1

(Maeda et al., 1996) adipoQ (Hu et al., 1996) ou Acrp30 (Scherer et al., 1995), é uma

proteína produzida nos adipócitos. É codificada pelo gene apM1, localizado no

cromossoma 3q27, (Avcu et al., 2006; Kelesidis et al., 2006; Barb et al., 2007; Waki and

Tontonoz, 2007) (figura 9).

Actualmente, são conhecidas várias formas de adiponectina circulantes no

plasma, a total (fAd) e a globular (gAd), sendo a fAd a mais predominante em circulação,

com concentrações plasmáticas de aproximadamente 10µg/mL.

A fAd constituída por 244 aminoácidos, apresentando uma região N-terminal com

uma grande afinidade estrutural para o colagénio VIII, X e complemento C1q e uma

região C-terminal globular que origina diferentes formas multiméricas (Barb et al., 2007;

Guerre-Millo, 2008). Pode apresentar-se sob três isoformas estáveis e distintas, como

trímero (adiponectina de baixo peso molecular - LMW), hexâmero (médio peso molecular

- MMW) ou como adiponectina de alto peso molecular (HMW), encontrando-se esta

última, presente em maior concentração em circulação (Kadowaki and Yamauchi, 2005)

(Figura 9).

A gAd resulta da clivagem proteolítica da adiponectina HMW, consistindo numa

molécula constituída por 110 aminoácidos (Kadowaki and Yamauchi, 2005; Barb et al.,

2007).

Figura 8: Estrutura e formas oligoméricas da adiponectina total (Kadowaki and Yamauchi, 2005).

18

1.5.2 Receptores ADIPOR1 e ADIPOR2

A adiponectina é produzida principalmente nos adipócitos. Vários autores

verificaram a expressão dos seus receptores em outras células e tecidos, nomeadamente

nos osteoblastos (Berner et al., 2004) e no tecido músculo-esquelético (Delaigle et al.,

2004), hepatócitos (Berg et al., 2001), medula óssea (Yokota et al., 2002; Luo et al.,

2006), em miócitos cardíacos (Ding et al., 2007) e em células do sangue periférico,

nomeadamente nos neutrófilos (Crawford et al., 2010). Encontram-se descritos dois tipos

de receptores de adiponectina, o ADIPOR1 e o ADIPOR2, com distribuições e afinidades

específicas para as diferentes formas de adiponectina circulante. Ambos são proteínas

integrais de membrana constituídas por sete domínios transmembranares, uma

terminação interna N-terminal e uma externa C-terminal (Figura 10).

Figura 9: Estrutura dos receptores de adiponectina (Kadowaki and Yamauchi, 2005). Esquema da figura

descrito no texto.

O ADIPOR1 apresenta uma maior afinidade para a gAd comparativamente com as

várias isoformas de fAd. Está abundantemente expresso nos tecidos do músculo-

esquelético e em células endoteliais. O ADIPOR2 apresenta similar afinidade para todas

as formas de adiponectina e encontra-se, predominantemente, nos hepatócitos

(Yamauchi et al., 2003; Fang and Sweeney, 2006; Okamoto et al., 2006; Tilg and

Moschen, 2006; Guerre-Millo, 2008).

Vários estudos reportaram que a caderina T, um receptor celular de superfície

envolvido na interacção célula-célula mediada por cálcio e na sinalização de células

endoteliais e do músculo liso, parece funcionar como receptor para as isoformas MMW e

HMW de adiponectina, existindo compatibilidade para a gAd e LMW. Vários autores

19

sugeriram que a caderina-T, devido à ausência do domínio intracelular, actua como co-

receptor de um receptor de sinalização não identificado. (Tilg and Moschen, 2006; Barb et

al., 2007; Waki and Tontonoz, 2007).

Também em linhas de células tumorais e tumores foi demonstrada a presença de

ADIPORs na próstata, mama, endométrio, fígado, cólon e em neuroblastoma (Wang et

al., 2005b; Bub et al., 2006; Dieudonne et al., 2006; Barb et al., 2007), sugerindo efeitos

directos da adiponectina mediado pelos seus receptores neste tipo de células.

1.5.3 Caracterização fisiológica

A adiponectina possui um papel importante nos metabolismos lipídico e da glicose

e no desenvolvimento e progressão de patologias relacionadas com a obesidade, embora

o seu processo de envolvimento não esteja ainda totalmente esclarecido, sabendo-se

que a eficácia biológica da adiponectina depende da disponibilidade sérica das suas

isoformas e da capacidade funcional dos seus receptores.

Estudos prévios revelaram a intervenção da adiponectina nos mecanismos

reguladores de ácidos gordos livres (oxidação de ácidos gordos) e na glicogenólise.

(Guerre-Millo, 2008).

A adiponectina apresenta alguns efeitos biológicos nas células do sistema

imunológico, na medida em que está implicada na indução da apoptose dos monócitos,

na estimulação da via da proteína quinase activada por 5´-AMP (AMPK), na inibição do

crescimento dos precursores dos macrófagos e na supressão da actividade fagocítica

dos macrófagos. Também é responsável pela supressão da produção de IL-6, IL-8 e

induz a síntese de IL-10 e do receptor antagonista da IL-1 (IL-1RA).

A adiponectina globular, através da ligação ao receptor ADIPOR1, suprime a

activação do factor nuclear-kB (NF-kB) (Arkan et al., 2005; Tilg and Moschen, 2006),

implicado na produção de TNF-α e IFN-γ (Tilg and Moschen, 2006; Barb et al., 2007;

Waki and Tontonoz, 2007).

A adiponectina é um importante mediador na regulação da sensibilidade à insulina

e na supressão da inflamação. Vários estudos indicam que a estimulação dos receptores

ADIPOR1 e ADIPOR2 desencadeiam, nos tecidos do músculo-esquelético e no fígado, a

activação da AMPK e do receptor do activador da proliferação de peroxissomas α e γ

(PPAR α e γ), responsáveis pela oxidação de ácidos gordos e metabolismo da glicose

(Kern et al., 2003; Okamoto et al., 2006; Kanazawa et al., 2007; Guerre-Millo, 2008).

20

A AMPK actua como um sensor na conservação energética da célula e apresenta

um papel fundamental no controlo do balanço energético sistémico através regulação da

ingestão alimentar, peso corporal e homeostase da glicose e dos lípidos. Para além da

adiponectina, pode ser activada por outras moléculas a leptina, IL-6 ou catecolaminas.

Uma vez activada, exerce efeitos directos em enzimas específicas que são a chave

reguladora das proteínas e ácidos gordos. (Tilg and Moschen, 2006)

Nos tecidos do músculo-esquelético a adiponectina globular e HMW activam a

AMPK conduzindo à estimulação da fosforilação da carboxilase acetil-CoA (ACC),

oxidação dos ácidos gordos e consumo de glicose. No fígado, apenas a fAd activa a

AMPK, reduzindo moléculas envolvidas na gluconeogénese e promovendo a fosforilação

do ACC e a oxidação dos ácidos gordos.

O PPAR α e γ são membros dos receptores hormonais nucleares da super-família

de ligandos dependentes de factores de transcrição, responsáveis pela regulação do

metabolismo energético e pela homeostase (Ding et al., 2007).

Vários autores referem que a adiponectina é responsável, via activação de PPAR-

α, pela combustão dos ácidos gordos e consumo de energia que predispõe para o

decréscimo do conteúdo de triglicerídeos no fígado e nos tecidos do músculo-esquelético

e, consequentemente, para a indução da sensibilidade à insulina. Os níveis de

adiponectina circulante são regulados positivamente pela actividade dos agonistas do

PPAR-γ, como é o caso das tiazidas (TZDs) (figura 11) (Kern et al., 2003; Rajala and

Scherer, 2003; Kadowaki and Yamauchi, 2005; Tilg and Moschen, 2008).

21

Figura 10: Mecanismos de expressão da adiponectina pela activação dos agonistas do receptor do activador da proliferação de peroxisomas (Tilg and Moschen, 2008). Esquema da figura descrito no texto.

IL-1RA - Receptor antagonista da IL-1; AMPK - Proteína kinase activada por 5´-AMP; NF-kB - Factor nuclear-kB; TNF-α – Factor de necrose tumoral e IFN-γ – Interferão γ; PPAR α e γ - Receptor do activador da proliferação de peroxisomas α e γ; ACC - Carboxilase acetil-CoA; TZDs – tiazidas.

Nos tecidos do músculo-esquelético a adiponectina globular e HMW activam o

PPAR-α, embora no fígado, apenas a fAd de HMW exerce essa acção. A activação do

PPAR-α irá estimular a oxidação dos ácidos gordos e suprimir o conteúdo de

triglicerídeos quer no fígado, quer no tecido músculo-esquelético (Kadowaki and

Yamauchi, 2005).

Está descrito que em estados de obesidade, em indivíduos com diabetes tipo 2 e

em síndromes de lipodistrofia congénita, se verificam níveis circulantes diminuídos de

adiponectina. Assim, em estados de obesidade, espera-se o desencadear de um estado

pró-inflamatório (Tilg and Moschen, 2008).

22

Nos últimos anos verifica-se uma evidência crescente de associação entre a

resistência à insulina e a inflamação, possivelmente mediada pelo TNF-α. Com o

aumento do tecido adiposo várias adipocinas induzem a activação e infiltração de

macrófagos. Estes, quando activados, segregam citoquinas pró-inflamatórias que podem

alterar a sensibilidade à insulina e estimular a infiltração dos monócitos e macrófagos no

tecido adiposo. Os pré-adipócitos também podem segregar quimiocinas, mediante

estimulação pelo TNF-α, podendo contribuir para a infiltração de macrófagos. Estes sinais

de amplificação podem comprometer a sinalização da insulina e, eventualmente, causar

uma resistência sistémica à insulina (Xu et al., 2003).

Adicionalmente, também foi descrito o relacionamento da adiponectina com o

processo de angiogénese, na qual esta adipocitoquina actuará como um inibidor directo,

actuando em factores de crescimento que regulam a proliferação celular da parede

vascular das células. Por outro lado, a adiponectina tem a capacidade de activar

directamente um grupo de caspases (3, 8 e 9) que se encontram envolvidas na apoptose

celular das células endoteliais, implicando de uma forma indirecta, a inibição celular do

crescimento tumoral pelo decréscimo da neovascularização (Brakenhielm et al., 2004;

Wang et al., 2005b; Kelesidis et al., 2006; Molica et al., 2009).

1.6 Adiponectina e as neoplasias

Vários estudos epidemiológicos revelaram que a obesidade representa um factor

de risco, no desenvolvimento de neoplasias. Um estudo prospectivo com

aproximadamente 1 milhão de indivíduos adultos nos EUA durante um período de 16

anos verificou associação entre o IMC e o risco de morte relativo a várias neoplasias

(Calle et al., 2003).

Os órgãos ricos em tecido adiposo, como a mama e a medula óssea, poderão ser

locais predisponentes ao desenvolvimento de neoplasias. Contudo, a oncogénese poderá

não estar forçosamente associada à massa gorda corporal, mas sim influenciada

23

maioritariamente, pelos perfis de secreção fisiopatológicos induzidos pelos adipócitos nos

microambientes oncogénicos (Rajala and Scherer, 2003).

Desta forma, a adiponectina possui um papel de protecção relativamente aos

mecanismos de iniciação e desenvolvimento tumoral celular. Assim, relativamente à sua

acção directa nas células, um estudo demonstrou, in vitro, que a adiponectina suprime o

crescimento das linhas celulares mielomonocíticas, induzindo a apoptose das células

progenitoras mielomonocíticas, modula a expressão dos genes relacionados com a

apoptose nas células LMA-M1 e regula negativamente a expressão do gene BCL-2

(Yokota et al., 2000). Apresenta ainda uma relação indirecta com o desenvolvimento de

cancro através da interacção com vários factores de crescimento, incluindo o factor de

crescimento derivado de plaquetas BB (PDGF-BB), o factor de crescimento epidérmico

de ligação à heparina (HB EGF), o VEGF e o FGF, responsáveis pelo seu envolvimento

na regulação da angiogénese, aterogénese, carcinogénese e inflamação. A adiponectina

influencia a biodisponibilidade destes factores de crescimento, regulando assim, a

fisiopatologia desses processos com efeitos anti-ateroscleróticos, anti-angiogénicos e

anti-proliferativos (Wang et al., 2005b; Kelesidis et al., 2006; Molica et al., 2009).

Uma das principais moléculas intervenientes na sinalização celular da

adiponectina é a AMPK que apresenta um papel particularmente importante no

mecanismo de regulação do crescimento das células tumorais. Assim, a AMPK activada

pela adiponectina poderá exercer efeitos directos, incluindo a inibição da sintase de

ácidos gordos (FAS) e a activação do TSC2, um supressor tumoral, que regula

negativamente a síntese de proteínas pela inibição da proteína mTOR. Estas vias

moleculares representam alguns dos mecanismos pelos quais a adiponectina ao

estimular a AMPK, inibe o crescimento e/ou a sobrevivência das células tumorais

(Kelesidis et al., 2006) (Figura 12).

A correlação negativa entre os níveis circulantes de adiponectina, a obesidade e o

conhecimento das suas funções de inibição da proliferação celular e da indução da

apoptose celular, sugerem plausibilidade biológica para um papel inibidor do

desenvolvimento tumoral e confirmam as evidências previamente estabelecidas relativas

à associação entre obesidade e as neoplasias.

24

Figura 11: Possíveis mecanismos moleculares implicados na regulação do crescimento das células tumorais pela proteína kinase activada por 5´-AMP. Adaptado de (Kelesidis et al., 2006). Esquema da

figura descrito no texto. AMPK - Proteína kinase activada por 5´-AMP; PI-3K – fosfatidilinositol-3-kinase; AKT – Proteína B kinase; FAS - sintase de ácidos gordos; mTOR – proteína de alvo da rapamicina

Vários estudos de caso-controlo mostraram que os níveis circulantes de

adiponectina se encontram inversamente correlacionados com o cancro na mama

(Korner et al., 2007; Tworoger et al., 2007), endométrio (Soliman, 2005; Cust et al., 2007),

próstata (Michalakis et al., 2007), colo-rectal (Wei et al., 2005), gástrico (Ishikawa et al.,

2005), renal (Spyridopoulos et al., 2007), leucemia mieloblástica aguda (Petridou et al.,

2006), leucemia linfoblástica crónica / síndrome mielodisplásico (Avcu et al., 2006) e

mieloma múltiplo (Dalamaga et al., 2009; Reseland et al., 2009).

Outros estudos mais recentes investigaram a possível acção da adiponectina no

processo de hematopoiese na medula óssea. O microambiente da medula óssea é

constituído por vários elementos, dentre os quais se destacam citoquinas, componentes

da matriz extracelular, adipócitos e vários tipos de células do estroma, como é o caso dos

fibroblastos, das células endoteliais e das células fagocíticas mononucleares. Desta

forma, como a formação celular hematopoiética se encontra dependente do equilíbrio

existente entre estes componentes e tendo em conta as acções que a adiponectina

exerce em alguns destes elementos, esta poderá ter um papel na regulação da

hematopoiese (Yokota et al., 2002; Iversen and Wiig, 2005; Petridou et al., 2006;

Crawford et al., 2010).

25

1.7 Obesidade, adiponectina - mieloma múltiplo / MGUS/plasmocitoma

Estudos anteriores investigaram a provável implicação da obesidade no risco de

desenvolvimento de MM, embora os potenciais mecanismos pelos quais esta relação é

estabelecida ainda permaneçam por elucidar (Birmann et al., 2007; Larsson and Wolk,

2007). Foi sugerido que o aumento do número total de plasmócitos em risco de sofrer

transformação maligna e a contribuição de citoquinas envolvidas na proliferação e

sobrevivência dos plasmócitos podem explicar o risco de MM em obesos (Lauta, 2003). A

IL-6 tem sido descrita como a citoquina que parece ser também influente na patogénese

do MM e na proliferação anormal dos plasmócitos (Lauta, 2003). A produção e a

actividade de IL-6 são reguladas por vários mecanismos e pode estar relacionada com

níveis de adiponectina observados em doentes com MM, possivelmente decorrente da

sobreprodução de IL-6 e TNF-α na medula óssea.

Alguns autores sugeriram uma associação entre a obesidade e o mieloma

múltiplo(Dalamaga et al., 2009; Reseland et al., 2009). Estes estudaram os níveis de

adiponectina, leptina e resistina em doentes com MM. Em ambos os estudos foi

observada associação inversa entre os níveis séricos de adiponectina e o risco para

desenvolvimento de MM: no trabalho de Reseland et al. (2009) foi avaliada ainda a

concentração de adiponectina no momento da recidiva de MM, não se tendo verificado

qualquer relação com o prognóstico.

Permanece por estabelecer e confirmar a associação da adiponectina com o MM,

nomeadamente qual a isoforma envolvida e o seu envolvimento como marcador de

prognóstico.

2. Objectivos

27

2. Objectivos

Objectivos gerais

Estudar a influência da adiponectina e do TNF-α no desenvolvimento de mieloma

múltiplo.

Avaliar a influência do tratamento na concentração de adiponectina, em doentes com

mieloma múltiplo.

Objectivos específicos

Dosear a adiponectina total e globular no sangue periférico e no líquido intersticial

medular em doentes com mieloma múltiplo e em controlos.

Avaliar os níveis de adiponectina antes e após tratamento.

Dosear os níveis de TNF-α no sangue periférico e líquido intersticial medular.

Avaliar a expressão dos receptores da adiponectina nos plasmócitos de doentes com MM

no momento do diagnóstico.

3. Material e Métodos

29

3. Material e métodos

3.1 População

Este estudo do tipo caso-controlo incluiu amostras de sangue periférico e medula

óssea de 24 indivíduos, 14 do género feminino e 10 do género masculino. Participaram

neste estudo doentes com diagnóstico de MM e plasmocitoma (n = 13; idade = 64,3 ±

10,7), os quais foram englobados no mesmo grupo, devido às características de

malignidade e tratamento; e MGUS (n = 8; idade = 62,9 ± 13,6), incidentes no Serviço de

Onco-Hematologia do Instituto Português de Oncologia de Francisco Gentil, EPE – Porto,

entre Janeiro e Junho de 2010.

O grupo controlo inclui 12 indivíduos, 7 homens e 5 mulheres (idade = 62,2 ± 8,0)

sem qualquer tipo de patologia neoplásica, recrutados a partir do Banco de Dadores de

Sangue do IPO Porto e emparelhados com os doentes de acordo com o grupo etário.

Nenhum dos controlos desenvolveu MM, MGUS ou plasmocitoma durante o estudo.

O diagnóstico foi obtido de acordo com os critérios clássicos morfológicos, clínicos e

laboratoriais em todos os estádios da doença (I, II e III), segundo o sistema de

internacional de estadiamento (ISS).

Os doentes com MM foram divididos à data do diagnóstico em dois grupos de

tratamento. Um grupo com os doentes elegíveis para auto-transplante de medula óssea

(idade inferior ou igual a 65 anos) tratados com talidomida e dexametasona (tratamento

A). No outro grupo encontram-se os doentes não elegíveis para transplante (idade

superior a 65 anos), tratados com melfalam, talidomida e prednisolona (tratamento B). O

tratamento A consiste em ciclos de talidomida e dexametasona até à data do transplante.

A talidomida é administrada contínuamente (200mg/dia) enquanto que a dexametasona é

administrada durante 7 dias, a cada 28 dias. O tratamento B consiste me ciclos de 28

dias, até ao máximo de 12 ciclos (aproximadamente 1 ano). São administrados

100mg/dia de talidomida, enquanto o melfalam e a prednisolona são administrados

durante 7 dias, a cada 28 dias.

O projecto de investigação, assim como o acesso aos processos clínicos foi

avaliado e aprovado pela Comissão de Ética do Instituto. Apenas foram incluídos no

estudo os doentes que aceitaram participar e assinaram o consentimento informado.

30

3.2 Processamento de amostras

As amostras de medula óssea e sangue periférico foram obtidas,

respectivamente, por punção medular da crista ilíaca e venopunção do antebraço, na

fase de diagnóstico da patologia. Após 1 mês de tratamento, foram novamente colhidas

amostras de sangue periférico. Em todos os casos apenas foram utilizadas amostras

biológicas remanescentes dos procedimentos de diagnóstico, nunca o colocando em

causa. Todas as amostras foram centrifugadas a 2000 rpm durante 10 minutos à

temperatura ambiente. O plasma e o líquido intersticial medular recolhido foi armazenado

a -20ºC.

As lâminas de aspirado de medula óssea, obtidas através punção medular, foram

fixadas em acetona refrigerada durante 5 minutos e após secagem foram armazenadas a

-20ºC.

O processo de colheita e armazenamento das amostras e em todos os indivíduos

foi realizado obedecendo criteriosamente ao mesmo protocolo estabelecido.

Quantificação de adiponectina, TNF-α

As concentrações de adiponectina total e globular no plasma e no líquido

intersticial foram determinadas sempre em duplicado através de ELISA. Para detecção da

gAd utilizou-se um kit específico: Human Globular Adiponectin gAcrp30 (Alpha Diagnostic

International, EUA). As amostras foram diluídas numa concentração 1:10.

A detecção de tAd foi realizada através do kit AviBion Human Adiponectin Acrp30

(Orgenium Laboratories, Finlândia) no analisador Dynex DS2 system. As amostras foram

diluídas 1:1000.

A concentração de TNF-α foi determinada no plasma e no líquido intersticial

medular em duplicado para cada amostra através de radioimunoensaio (RIA). Foi usado

o kit TNF-α-IRMA (Diasource ImmunoAssays S.A.) no analisador LKB 1271 RIAGAMA.

31

Imunocitoquímica dos receptores de adiponectina

A pesquisa de receptores de adiponectina, ADIPOR1 e ADIPOR2 foi efectuada

nas lâminas de medula óssea preparadas aquando da punção medular de diagnóstico.

Após descongelação das lâminas em acetona (-20 C) e lavagem em tris buffered saline

(TBS) foi efectuado bloqueio da Peroxidase endógena. Os anticorpos primários ADIPOR1

(cat.nº H-001-23) e ADIPOR2 (cat.nº H-001-44) (Phoenix Pharmaceuticals, Inc.) foram

incubados durante 1h à temperatura ambiente (diluição 1:750 e 1:220, respectivamente),

foi utilizado para detecção da reacção o sistema Power Vision + Poly – anti Ms/Rb/Rt IgG

biotin-free (Immunologic BV). Após incubação com o HRP durante 30 minutos à

temperatura ambiente, foi realizada revelação com DAB e coloração com hematoxilina.

O critério de positividade foi reconhecido pela coloração castanha na membrana

citoplasmática.

3.3 Análise estatística

Os resultados relativos às variáveis categóricas foram realizados através da

frequência (percentagem), tendo sido utilizado o teste de qui-quadrado de Pearson para

avaliar diferenças entre proporções, ou quando adequado o teste exacto de Fisher.

No que respeita ao estudo das variáveis contínuas, foram efectuados os testes de

normalidade Kolmogorov-Smirnov e Shapiro-Wilk, verificando-se a existência de variáveis

não-paraméticas (IMC, TNF-α no momento do diagnóstico, LDH, pico monoclonal e o

número de plasmócitos). Foram usadas como medidas de tendência central a média ±

erro padrão da média e a avaliação de diferenças entre grupos, no momento do

diagnóstico através t-Student medidas independentes e Mann Whitney U, de acordo com

o tipo de variável paramétrica e e não-paramétrica, respectivamente. A comparação da

idade e IMC entre os grupos MM, MGUS e controlos foi efectuada através da ANOVA

factorial de medidas independentes. Para comparação das médias dos mesmos grupos

ao longo do tempo foi usado o teste de t-Student medidas emparelhadas. O grau de

associação entre as variáveis contínuas foi testado através do teste de correlação de

Pearson (r). Foi considerado com significado estatístico o valor de p<0,05. A análise

estatística foi efectuada através do software SPSS 16.0.

4. Resultados

33

4. Resultados

O quadro 3 evidencia as características demográficas e clínicas dos indivíduos

participantes neste estudo. Não se verificaram diferenças significativas a nível de idade

(p=0,879) e de IMC (p=0,973), entre os grupos MM, MGUS e controlos. Observou-se que,

segundo a classificação clínica de obesidade, os valores médios de IMC em cada grupo,

MM, MGUS e controlos se classificam como excesso de peso (28,0 ± 4,8; 28,2 ± 4,8 e

27,8 ± 3,2, respectivamente).

Relativamente às características clínicas dos MM verificou-se que 53,9% se

encontravam no estádio III correspondente ao estadiamento ISS (Quadro 3). A

imunoglobulina mais frequente é a IgG, representada em 69,3% e 75% dos casos de MM

e MGUS, respectivamente (Quadro 3).

As sintomatologias mais relevantes apresentadas pelos doentes no momento do

diagnóstico foram: 57,1% com sintomatologia álgica óssea (MM, 69,2%; MGUS, 37,5%),

23,8% com caquexia/anorexia (MM, 30,8%; MGUS, 12,8%) e 23,8% não apresentavam

sintomatologia no momento de diagnóstico.

Quadro 3 - Características clínicas e analíticas dos doentes com mieloma múltiplo e

gamapatia monoclonal de significado indeterminado

Casos

MM (n=13) MGUS (n=8) p*

Estadiamento (ISS)a

I 6 (46,2 %) 8 (100%)

II 3 (23,1 %) 0 (0%)

III 4 (30,8 %) 0 (0%)

Proteína monoclonala

IgG 9 (69,3%) 6 (75%)

IgA 1 (7,6%) 2 (25%)

Cadeias leves 3 (23,1%) 0 (0%)

Número de plasmócitos na

medula óssea por

contagem morfológicab

38,1 ± 7,7 1,6 ± 0,6 0,001

Pico monoclonalb 24,0 ± 6,7 10,9 ± 1,5 0,310

MM - Mieloma múltiplo. MGUS - Gamapatia monoclonal de significado indeterminado. a n (%);

b média ± erro

padrão. * - Teste Mann Whitney U.

34

O quadro 4 evidencia a associação entre obesidade e MM e MGUS. Não se

observou risco acrescido para desenvolver MGUS ou MM nos indivíduos obesos/excesso

de peso (p=1,000 e p=0,649, respectivamente).

Quadro 4 - Associação entre a obesidade e os casos de mieloma múltiplo,

gamapatia monoclonal de significado indeterminado

IMC

(Kg.m-2

)

< 25 ≥25 OR IC 95% p*

Controlos n(%) 2 (25%) 9 (38%) ------

MGUS n(%) 2 (25%) 6 (24%) 1,5 0,1 - 22,1 1,000

MM n(%) 4 (50%) 9 (38%) 2,0 0,1 – 21,4 0,649

MM – Mieloma múltiplo; MGUS – Gamapatia monoclonal de significado indeterminado; * teste exacto de Fisher

No quadro 5 estão expostas as concentrações médias de tAd, gAd e TNF-α no

sangue periférico. Não se observaram diferenças com significado estatístico entre os

grupos estudados (p=0,332, p=0,334, p=0,257, respectivamente)

Quadro 5 - Concentração no sangue periférico de adiponectina total, globular e

TNF-α em cada um dos grupos no momento de diagnóstico

MM ( n=9) MGUS( n=6) Controlos( n=11) p*

AdipoQ total (ng/mL)

7653,9 ± 1493,7

7442,3 ± 1666,7

10277,5 ± 1425,1

0,332

AdipoQ globular (ng/mL) TNF-α (pg/mL)

15,0 ± 0,5

32,0 ± 9,9

29,4 ± 15,2

10,9 ± 2,4

18,0 ± 1,8

--------

0,334

0,257a

AdipoQ – adiponectina; SP – Sangue periférico; MM – Mieloma múltiplo; MGUS – Gamapatia monoclonal de significado indeterminado. Os valores representam as médias da concentração plasmática ± erro padrão; *ANOVA factorial de medida repetidas;

a teste Mann Whitney U.

35

As concentrações médias de tAd, gAd e TNF-α no LIM estão representadas no

quadro 6. Não se observaram diferenças com significado estatístico entre os vários

grupos (p=0,085, p=0,849, p=0,280, respectivamente).

Quadro 6 - Concentração de adiponectina total, globular e TNF-α nos casos e nos

controlos no momento do diagnóstico no LIM

MM ( n=9) MGUS( n=6) Controlos(n=11) p*

AdipoQ total (ng/mL)

7151,8 ± 1301,1

10419,7 ± 1519,7

3666,0 ± 1422,8

0,085

AdipoQ globular (ng/mL) TNF-α (pg/mL)

23,7 ± 4,2

25,4 ± 7,6

20,0 ± 5,0

10,7 ± 3,2

24,3 ± 8,8

----------

0,849

0,280a

AdipoQ – adiponectina; SP – Sangue periférico; MM – Mieloma múltiplo; MGUS – Gamapatia monoclonal de significado indeterminado. Os valores representam as médias da concentração intersticial ± erro padrão; *ANOVA factorial de medidas repetidas;

a teste Mann Whitney U.

Na medula óssea verificou-se a existência de níveis intersticiais de TNF-α

significativamente mais elevados nos doentes com MM em estadiamento ISS ≥2,

comparativamente com o estádio I (p=0,036). Para as restantes variáveis dependentes

(tAd e gAd) não se observaram diferenças com significado estatístico entre estádios.

No sangue periférico não existem diferenças estatisticamente significativas entre

estádios (quadro 7).

36

Quadro 7 - Concentração de adiponectina total, globular e TNF-α nos casos de

mieloma múltiplo em sangue periférico e LIM no momento de diagnóstico, de

acordo com o estadiamento ISS

Estadiamento (ISS) p*

1 ≥ 2

LIM n = 6 n =7

AdipoQ total (ng/mL)

6896,9 ± 2021,3 7370,4 ± 1831,0 0,865

AdipoQ globular (ng/mL) TNF-α (pg/mL)

27,9 ± 7,1

8,8 ± 4,0

20,1 ± 5,0

38,7 ± 9,9

0,392

0,036

Sangue periférico n = 6 n =7

AdipoQ total (ng/mL)

6477,2 ± 63,4 8360,0 ± 2431,8 0,482

AdipoQ globular (ng/mL) TNF-α (pg/mL)

16,1 ± 0,7

13,7 ± 5,8

14,3 ± 0,6

46,6 ± 14,5

0,094

0,142a

ISS – Sistema Internacional de Estadiamento; AdipoQ – adiponectina. Os valores representam as médias da concentração ± erro padrão; * teste t-student;

a Teste de Mann Whitney U.

O quadro 8 apresenta os níveis de adiponectina total e globular e TNF-α, nos

casos de mieloma múltiplo, em sangue periférico no momento do diagnóstico e após 1

mês de tratamento. Não se observaram diferenças com significado estatístico entre os

doseamentos pré e pós-tratamento em qualquer das adipocinas estudadas (quadro 8).

Apenas no grupo de doentes tratados com tratamento A foi verificada tendência para uma

diminuição dos níveis de tAd (p=0,080).

37

Quadro 8 - Comparação dos níveis de adiponectina total e globular, nos casos de

mieloma múltiplo, em sangue periférico no momento do diagnóstico e após 1 mês

de tratamento

Momento de colheita p*

Diagnóstico 1 mês após tratamento

Tratamento A n = 4 n = 4

AdipoQ total (ng/mL)

8888,1 ± 1999,0 7241,3 ± 2330,1 0,080

AdipoQ globular (ng/mL) TNF-α (pg/mL)

15,3 ± 0.7

23,0 ± 13,7

14,7 ± 2,0

20,1 ± 7,2

0,807

0,715a

Tratamento B n = 3 n = 3

AdipoQ total (ng/mL)

6430,2 ± 3286,7 6670,7 ± 2770,8 0,837

AdipoQ globular (ng/mL) TNF-α (pg/mL)

14,6 ± 1,2

50,1 ± 23,1

13,8 ± 1,4

37,3 ± 29,8

0,693

0,285 a

AdipoQ – adiponectina. Os valores representam as médias da concentração ± erro padrão; * teste t-student de medidas emparelhadas;

a teste Wilcoxon; Tratamento A: Talidomida e Dexametasona; Tratamento B:

Melfalam, Talidomida, Prednisolona

Foi realizado o estudo de correlação entre adiponectina total, globular e TNF-α

nos casos de MM em sangue periférico versus medula óssea no momento do

diagnóstico. No gráfico 1a existe uma correlação positiva e significativa para a tAd entre o

LIM e o plasma (r = 0,815; p=0,014). No gráfico 1b não se verificou correlação entre a

gAd doseada no LIM e no plasma dos doentes com MM (r = 0,206; p = 0,625). No gráfico

1c está representada a correlação entre os níveis de TNF-α do LIM versus plasma (r =

0,942; p = 0,002). Foram observadas correlações inversas, no momento de diagnóstico,

entre o TNF-α do LIM com a gAd do sangue periférico, (r = -0,810; p= 0,027) e do número

de plasmócitos (contados morfologicamente em lâminas de medula óssea) com a gAd do

LIM (r = -0,680; p = 0,031).

38

Gráfico 1 - Correlação entre adiponectina total (a), globular (b) e TNF-α (c)

doseados no LIM e no plasma de doentes com mieloma múltiplo, no momento de

diagnóstico

Calculado segundo coeficiente de correlação de Pearson.

r=0,815;

p=0,014

a b

c

39

Relativamente à avaliação da expressão dos receptores ADIPOR1 e ADIPOR2

nos plasmócitos normais e patológicos, a marcação do anticorpo mostrou-se negativa em

todas as fases celulares deste tipo de células, embora apresentasse positividade para as

células da linhagem miéloide. Este tipo de marcação foi observada quer para o ADIPOR1

como para o ADIPOR2 (figura 13).

a

b

Figura 12: Imunocitoquímica para os anticorpos ADIPOR1 (a) e ADIPOR2 (b) em esfregaço de medula óssea

de doentes com mieloma múltiplo. Observa-se marcação positiva para as células da linhagem mielóide (seta vermelha) e ausência de marcação nos plasmócitos e em células de linhagem linfóide (seta amarela).

5. Discussão

41

5. Discussão

Actualmente, considera-se que o tecido adiposo é um órgão endócrino activo.

Apesar da sua capacidade de produção de várias proteínas, entre as quais a

adiponectina, esta parece desempenhar um importante papel no metabolismo da glicose

e dos lípidos, assim como no desenvolvimento de neoplasias. A associação entre

obesidade e doenças hemato-oncológicas tem sido objectivo de estudo nos últimos anos.

Os estudos epidemiológicos sugerem uma associação entre ser obeso e risco acrescido

de desenvolver síndrome mielodisplásicos, leucemias e mieloma múltiplo (Avcu et al.,

2006; Petridou et al., 2006; Barb et al., 2007; Dalamaga et al., 2009; Reseland et al.,

2009). No que diz respeito ao MM, alguns trabalhos, incluindo meta-análises,

demonstraram que indivíduos obesos têm maior predisposição para desenvolver MM

(Birmann et al., 2007; Larsson and Wolk, 2007; Crawford et al., 2010). No presente

estudo, não observamos uma sobre-representação de indivíduos com excesso de

peso/obesos no grupo de doentes MM (p=0,649), em contraste com os resultados

previamente descritos na literatura. A ausência de associação observada no nosso

estudo poderá dever-se ao reduzido número de indivíduos incluídos no trabalho, que

resulta na diminuição do poder estatístico. No entanto, verificamos que não existiam

diferenças significativas de IMC entre os vários grupos estudados, conferindo maior

homogeneidade inter-grupos e reduzindo a influência desta co-variável nos níveis

circulantes de adiponectina.

A baixa concentração circulante de adiponectina tem sido descrita como factor de

risco para o desenvolvimento de patologias neoplásicas, daí que o estudo da sua

fisiopatologia e mecanismos de actuação adicionarão informação sobre a associação

entre obesidade e cancro. O IMC e a percentagem de gordura estão inversamente

correlacionados com os níveis circulantes de adiponectina (Barb et al., 2007; Birmann et

al., 2007; Larsson and Wolk, 2007).

Desta forma, foi já referido que o doseamento dos níveis de adiponectina

circulante poderá vir a ser usado como um biomarcador no rastreio do cancro e em

doenças relacionadas com a obesidade (Kelesidis et al., 2006). Estudos prévios

mostraram a existência de correlação inversa entre a concentração plasmática de

adiponectina e o desenvolvimento de várias patologias malignas, como o cancro da

mama (Korner et al., 2007; Tworoger et al., 2007), do endométrio (Soliman, 2005; Cust et

42

al., 2007), da próstata (Michalakis et al., 2007), colo-rectal (Wei et al., 2005), gástrico

(Ishikawa et al., 2005) e renal (Spyridopoulos et al., 2007). Relativamente ao risco para

neoplasias hemato-oncológicas, alguns trabalhos também suportam o papel protector da

adiponectina (Avcu et al., 2006; Petridou et al., 2006; Dalamaga et al., 2009; Reseland et

al., 2009).

Dalamaga et al. (2009) e Reseland et al. (2009) observaram concentrações

significativamente mais baixas de adiponectina total nos doentes com MM. Não foram

observadas diferenças com significado estatístico nos níveis circulantes de tAd entre os

MM e os controlos no presente estudo. Assim, os mesmos resultados sugerem que a tAd

não parece discriminar entre MM e controlos, e portanto, não deverá estar envolvida na

fisiopatologia do MM. Nos trabalhos caso-controlo de Dalamaga et al. (2009) foram

incluídos 73 casos de MM e 73 controlos, enquanto no de Reseland et al. (2009)

participaram 23 casos de MM e 23 controlos. No nosso estudo participaram apenas 13

casos de MM e 12 controlos, portanto, limitando a extrapolação de resultados e a

consistência da associação. Contudo, no estudo de Dalamaga et al. (2009) os indivíduos

do grupo MM tinham IMC significativamente mais elevado do que os controlos, não

existindo informação do IMC no estudo de Reseland et al. (2009).

Actualmente, sabe-se que a adiponectina circulante é composta por várias

isoformas com percentagens relativas, que poderão eventualmente variar de acordo com

condições fisiológicas distintas (Kelesidis et al., 2006). Doseamos a gAd e a fAd, embora

também na gAd não tenham sido observadas diferenças entre MM e controlos.

Considerando que a gAd possui maior potência de activação ADIPOR1 (Alexander et al.,

2008; Reseland et al., 2009) tínhamos colocado a hipótese de que a gAd poderia estar

diminuída nos MM quando comparados com os controlos. Adicionamos ao já descrito

doseamento de adiponectina no sangue periférico, o doseamento de tAd e gAd no LIM

dos doentes com MM, com estado pré-neoplásico de MGUS e em 3 controlos. Não se

observaram diferenças com significado estatístico entre MM e MGUS para a tAd e gAd

(p>0,05).

A classificação ISS encontra-se associada com o prognóstico do MM (Kyle and

Rajkumar, 2009). Na análise efectuada de acordo com o estadiamento ISS verificamos

ausência de associação com a adiponectina no LIM mas tendência para níveis

sanguíneos mais baixos de gAd nos indivíduos com estádios ≥2 (p=0,094), portanto

indicador de pior prognóstico. Assim, a gAd em circulação através do seu

efeito/interacção periférica com a β2-microbulina e albumina, poderá reflectir uma relação

fisiológica com estes parâmetros de estadiamento e não com um efeito endócrino que

43

corresponde a uma acção protectora da gAd de MM mais agressivo. Também Dalamaga

et al. (2009) obtiveram resultados sobreponíveis, sugerindo a ausência de valor

prognóstico da adiponectina no MM.

Neste estudo verificamos que a concentração plasmática de gAd se manteve

semelhante no diagnóstico e 1 mês após o tratamento (p>0,05). Relativamente à tAd

observou-se uma tendência para os seus valores circulantes diminuírem após tratamento

com talidomida e dexametasona (tratamento A) (p=0,080), mas não após o tratamento B

(melfalam, talidomida e prednisolona). Reseland et al. (2009) não observaram variações

nos níveis circulantes de tAd em doentes com MM tratados com tratamento A. Contudo, o

número reduzido de doentes com doseamento pré e pós-tratamento no nosso estudo e a

existência de tratamento prévio no grupo submetido ao tratamento A no estudo de

Reseland et al. (2009) poderão explicar a ausência de concordância. Os resultados

apresentados sugerem, na nossa perspectiva, um eventual impacto directo do tratamento

A nos níveis circulantes de tAd, talvez devido ao efeito dos fármacos talidomida e

dexametasona nos adipócitos ou com o efeito deste tratamento no microambiente

medular, uma vez que estes fármacos influenciam as células das linhagens mielóide e

imuno-inflamatórias que interagem com os adipócitos. No entanto não existe literatura

que aborde esta possível associação, daí que seria uma das formas de futuros estudos

no que diz respeito à interacção do tratamento na diminuição dos níveis de adiponectina.

A diminuição da produção de adiponectina pode directa ou indirectamente,

através da resistência à insulina e da promoção da inflamação contribuir largamente para

o aumento do risco de desenvolvimento tumoral. Em situações de obesidade, a

resistência à insulina é o produto da diminuição da adiponectina mas também funciona

como indutor de outras citoquinas pró-inflamatórias, como o TNF-α. Neste estudo foram

avaliados os níveis de TNF-α no sangue periférico e no LIM. Mediante os resultados

obtidos verifica-se, a ausência de diferenças com significado estatístico entre os grupos

de MGUS e MM para os níveis circulantes e para a concentração na medula óssea.

Relativamente aos níveis de TNF-α circulantes antes e após tratamento, verificamos

ausência de diferenças com significado estatístico. É possível que o tempo de tratamento

tenha sido insuficiente para que influenciasse os níveis de TNF-α.

Estudos prévios referem que o TNF-α apresenta efeitos diversos e opostos na

patogénese e no crescimento das células plasmáticas tumorais (Davies et al., 2000;

Jurisic and Colovic, 2002). Assim, sabe-se que o TNF-α desempenha funções

44

importantes na diferenciação e transformação dos linfócitos B no micro ambiente da

medula óssea, pela complexa comunicação com as células estromais. No entanto, foi

demonstrado in vitro que depois de adquirir receptores apropriados pode induzir a

apoptose em células plasmáticas neoplásicas (Davies et al., 2000; Jurisic and Colovic,

2002). Neste estudo, observamos que o TNF-α poderá vir a ser um marcador tumoral

com significado prognóstico para doentes com MM, isto porque em estádios mais

avançados da doença apresenta concentrações medulares significativamente mais

elevadas. Estudos anteriores revelam que altas concentrações circulantes de TNF-α se

encontram associadas a pior prognóstico (Jourdan et al., 1999; Balkwill, 2006). Assim, o

facto de o TNF-α apresentar um efeito indutor do crescimento de células plasmáticas

tumorais (Jourdan et al., 1999; Kelesidis et al., 2006) e também o facto de nesta patologia

existir uma grande quantidade de células estromais que contribuem para a

sobreprodução desta citoquina (Jurisic and Colovic, 2002), pode justificar a elevada

concentração de TNF-α. Outros estudos parecem suportar os nossos resultados, já que

revelaram que o efeito estimulatório do microambiente tumoral aumenta a expressão de

vários genes relacionados com citoquinas inflamatórias, incluindo o TNF-α (Wang et al.,

2005a).

Sabe-se que a adiponectina sofre clivagens e processamentos pós-tradução,

através da acção de enzimas como a elastase dos leucócitos (Kadowaki and Yamauchi,

2005; Waki et al., 2005) para produzir as diferentes isoformas, incluindo a gAd.

Observamos correlação entre a concentração de adiponectina total do LIM e os níveis

plasmáticos (r = 0,815; p=0,014). No entanto, não se observou correlação significativa

entre a gAd da medula óssea e a gAd plasmática. Estes resultados poderão sugerir que

existem mecanismos de processamento distintos da adiponectina na medula óssea. O

presente trabalho sugere que o ambiente da medula óssea poderá influenciar de

diferente modo o processamento da gAd. Outros trabalhos demonstraram previamente

que a adiponectina é produzida na medula óssea por adipócitos e que existe em níveis

mais elevados comparativamente com os níveis plasmáticos (Berner et al., 2004; Iversen

and Wiig, 2005). O nosso estudo evidencia que também em MM o ambiente medular

mantém a produção de adiponectina.

Alguns estudos demonstraram, previamente, que os níveis de TNF-α em doentes

com MM se encontram elevados na medula óssea, na medida em que as células

plasmáticas neoplásicas segregam significantes quantidades desta citocina (Davies et al.,

45

2000). Além disso, o TNF-α promove a proliferação da linhagem das células plasmáticas

neoplásicas e o aumento desta citocina a nível plasmático (Jourdan et al., 1999).

Observámos correlação entre o TNF-α doseado no LIM e no plasma de doentes com MM

(r = 0,942; p = 0,002). Outro estudo referencia que a grande produção de TNF-α pelas

células do estroma da medula óssea provavelmente contribuem para o aumento dos

valores plasmáticos, suportando que estes dados indicam a significância da

determinação desta citoquina em relação ao número de células plasmáticas neoplásicas

existentes. (Jurisic and Colovic, 2002)

Existe ausência de concordância entre os estudos anteriores relativamente à

associação, entre adiponectina total e TNF-α, uma vez que alguns afirmam que a

adiponectina inibe a produção de TNF-α (Kern et al., 2003; Bernstein et al., 2006; Gumbs,

2008; Dalamaga et al., 2009), enquanto que outros referem que a relação inversa entre

adiponectina e TNF-α tem origem em situações de resistência à insulina e da

consequente promoção da inflamação (Wang et al., 2005a; Barb et al., 2007). Neste

estudo observamos correlação inversa, no momento do diagnóstico, entre os níveis de

TNF-α do LIM com a concentração de adiponectina globular plasmática, (r = -0,810;

p=0,027) sugerindo que o mecanismo de acção destas citocinas possa passar pela sua

interacção, o que está de acordo com evidências de estudos anteriores, adicionando

informação relativamente ao efeito especificamente da gAd nos níveis de TNF-α na

medula óssea.

Vários estudos indicam que a adiponectina tem efeitos nas células mesenquimais

do microambiente da medula óssea parecendo desempenhar um papel importante na

regulação da maturação deste tipo de células (Berner et al., 2004). Os adipócitos, as

células do estroma, os osteoblastos e os miócitos derivam das células mesenquimais

(Yokota et al., 2002) suportando eventual influência da concentração de adiponectina na

diferenciação selectiva das linhagens celulares. Outro estudo revela que a adiponectina

detectada na medula óssea, pode inibir clones isolados de progenitores de macrófagos,

mas não inibe a mielopoiese (Yokota et al., 2002). No entanto, a linfopoiese B é inibida

por esta citocina através de mecanismos de acção nas células do estroma. Estes

resultados estão de acordo com a correlação encontrada no nosso estudo, no qual se

observou correlação inversa entre o número de plasmócitos contabilizados

morfologicamente em lâminas de medula óssea, com a adiponectina globular intersticial

46

(r = -0,680; p = 0,031). Alternativamente, considerando a correlação inversa da

adiponectina com o TNF-α, é possível que a adiponectina possa indirectamente diminuir

o crescimento dos plasmócitos através do seu efeito supressor na produção de TNF-α e

consequentemente diminuição da viabilidade dos plasmócitos.

Não existem estudos de expressão dos receptores de adiponectina em tumores

líquidos. No entanto, vários trabalhos demonstram a presença dos ADIPOR1 e ADIPOR2

em vários tecidos normais e tumorais (Berner et al., 2004; Miller et al., 2009). No presente

estudo não se observou marcação para ambos os receptores em plasmócitos normais ou

patológicos para qualquer fase celular. Deste modo, concluímos que a eventual

associação entre níveis circulantes de adiponectina e MM descritos na literatura

(Dalamaga et al., 2009; Reseland et al., 2009) se devem a uma possível acção indirecta

da adiponectina na biologia dos plasmócitos ou dos linfócitos (Crawford et al., 2010). As

células da linhagem mielóide estavam marcadas com ADIPOR1 e ADIPOR2, suportando

uma acção fisiológica da adiponectina neste tipo de células. Existem outros estudos que

argumentam a adiponectina como factor protector em determinadas leucemias da série

mielóide, resta-nos saber se estas células têm capacidade de produção desta citocina, ou

será devida à existente em circulação (Yokota et al., 2002; Iversen and Wiig, 2005;

Petridou et al., 2006; Crawford et al., 2010).

6. Conclusão e perspectivas futuras

48

6. Conclusão e perspectivas futuras

Os resultados do presente estudo sugerem que a adiponectina e o TNF-α não

influenciam o desenvolvimento de mieloma múltiplo, na medida em que quer a nível

plasmático quer a nível do LIM os níveis de gAd, fAd e TNF-α não se encontram

alterados. No entanto, os resultados indicam uma correlação entre os níveis de TNF-α

plasmático e o LIM. Além disso, apontam para a associação com o estádio e prognóstico

do mieloma múltiplo, pois verificamos que em estádios mais avançados da doença

existem níveis aumentados na medula óssea. Estudos futuros deverão confirmar o

doseamento de TNF-α plasmático (menos invasivo) como biomarcador de prognóstico no

mieloma múltiplo. Também se constatou a correlação inversa entre o TNF-α do líquido

intersticial e a gAd plasmática, reflectindo um eventual efeito protector indirecto da gAd

para estádios mais avançados da doença (ISS≥2), devido à sua relação com o TNF-α.

Cumulativamente, a gAd está inversamente associada com o número de plasmócitos, o

que suporta a existência de um mecanismo indirecto para a acção da adiponectina nos

MM, pois não encontramos expressão dos receptores ADIPOR1 E ADIPOR2 nas células

da série linfóide.

Após o trabalho desenvolvido neste projecto e atendendo ao facto de que os

nossos resultados suportam algumas hipóteses mas efectivamente levantam muitas

questões, consideramos como perspectivas e trabalhos futuros o seguinte:

- Incrementar o número de doentes e controlos, contribuindo para aumentar o

poder estatístico das análises.

- Estudar interacção da IL-6 e outras citoquinas com a adiponectina, nas células

plasmáticas dos MM.

- Estudar a possível presença de receptores da adiponectina nas linhagens

celulares das patologias hematológicas mielóides, no sentido de encontrar possíveis

associações entre a produção de adiponectina e o desenvolvimento e prognóstico dessas

patologias.

49

- Estudar a influência da talidomida e da dexametasona in vitro nos adipócitos e

na produção de adiponectina.

- Estudar a relação entre o TNF-α e os plasmócitos.

- Correlacionar os resultados do presente estudo com mediadores de prognóstico

(sobrevivência global, tempo até progressão/recidiva), avaliando o seu valor preditivo de

resposta ao tratamento e valor prognóstico.

50

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