Post on 10-Sep-2018
i
GABRIELA DESIREÉ TORMET GONZÁLEZ
CARACTERIZAÇÃO DE EPÓXIDO HIDROLASES DO TIPO α,β E
LEH DE ACTINOBACTÉRIAS DO GÊNERO Streptomyces
CAMPINAS
2015
iii
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
INSTITUTO DE QUÍMICA
GABRIELA DESIREÉ TORMET GONZÁLEZ
CARACTERIZAÇÃO DE EPÓXIDO HIDROLASES DO TIPO α,β E
LEH DE ACTINOBACTÉRIAS DO GÊNERO Streptomyces
ORIENTADORA: PROFA. DRA. LUCIANA GONZAGA DE OLIVEIRA
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO APRESENTADA
AO INSTITUTO DE QUÍMICA DA UNICAMP PARA
OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRA EM QUÍMICA
NA ÁREA DE ORGÂNICA
ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA DISSERTAÇÃO DEFENDIDA
POR GABRIELA DESIREÉ TORMET GONZÁLEZ, E ORIENTADA PELA PROFA. DRA.
LUCIANA GONZAGA DE OLIVEIRA.
_______________________
Assinatura da Orientadora
CAMPINAS
2015
vi
Dedico esta dissertação a mami, papi e ao meu bro.
Whether you think that you can, or that you can't, you are usually right.
Henry Ford
vii
Agradecimentos
À Deus por me conduzir pelos melhores caminhos ainda atuando de formas
misteriosas.
À papi, mami, Sinkler, meus bebés, Rafa e panda por ser minha fortaleza
nos momentos difíceis e a fonte constante de humor e alegria.
À Profa. Dra. Luciana, minha orientadora, pela paciência, motivação e
dedicação em cada etapa deste trabalho e pelas coisas gostosas que me
fizeram ganhar peso.
À Profa. Wanda por ser tão amorosa e atenciosa, por ser como minha mãe
no Brasil, por me tratar como uma estudante mais de seu grupo, pelas
companhias os sábados e domingos e por sempre me fazer rir.
À minha querida UCV, minha Alma mater, por me formar não só como uma
profissional da química como também por criar em mim uma visão critica na
defesa dos direitos fundamentais do ser humano, por me fazer entender
que o conhecimento e a esperança são as únicas coisas que as ditaduras
não podem roubar.
Aos meus amigos do IQ e do IB Daniela Cipriany, Re Parruca, Ana, Renzo,
Gih, Marcos, Fábio, Lucídio, Bruna, André, Juliano e Marcelo, Tati, Lucas,
Dayanne, Renata S, Erick, João Guilherme, Letícia e Gaby Salazar.
Aos Prof. Moran, Prof. José Augusto, Profa. Anita, Profa. Annete, Prof.
Marcio, Prof. Pilli e a Profa. Ljubica por suas respectivas contribuições.
À Bel, Rinaldo, Ricardo, Priscila, Leandro e Claudia pela ajuda.
Ao Instituto de Química UNICAMP, Capes, Faepex, Fapesp e UNICAMP.
viii
Curriculum vitae
Informações pessoais
Nome: Gabriela Desireé Tormet González.
Lugar de nascimento: La Guaira, Venezuela.
Email: gabrielatormet@gmail.com.
Formação Acadêmica
2013 – 2015 Mestrado em Química (Universidade Estadual de Campinas),
Campinas, Brasil.
2004 – 2010 Graduação em Química (Universidade Central da Venezuela),
Caracas, Venezuela.
Trabalhos publicados
de Oliveira, L. G., Tormet, G. D., Marcom, J., Samborsky, M., Araujo, W. L. and de
Azevedo, J.L., Sequence of Streptomyces wadaymensis A23 strain, an endophytic
actinobacteria from Citrus reticulata, 2014. DDBJ/EMBL/Gen Bank under the
accession JHDU00000000.
de Oliveira, L. G., Tormet Gonzalez, G. D., Samborsky, M., Marcon, J., Araujo, W.
L. and de Azevedo, J. L. Genome sequence of Streptomyces wadayamensis A23
strain, an endophytic actinobacteria from Citrus reticulate. Genome Announc.
2014, 2. doi: 10.1128/genomeA.00625-14
Trabalhos publicados em congressos e eventos
de Jesus, H. C. R., Tormet González, G. D., Balbuena, T. S., de Oliveira, L. G.,
Gozzo, F. Prediction of tertiary structure of SalbIII protein using chemical cross-
linking/mass spectrometry. 2nd Meeting of the Brazilian Proteomics Society jointly
with the 2nd Pan American HUPO Meeting, December 2014. Búzios. RJ-Brasil.
ix
Gonzalez, G.D.T., de Oliveira, L.G., Enzimas B relacionadas à limoneno epóxido-
hidrolase apresentam elevada aceitação por substratos. 37 Reunião Anual da
SBQ, Maio 2014, Natal, RN-Brasil.
Gabriela D. Tomet, Dayane C. C. M. Coqueiro, Luciana G. de Oliveira. Expressão e atividade de duas epóxido-hidrolases putativas
de Streptomyces sp., 37 Reunião Anual da SBQ, Maio 2014, Natal, RN-Brasil.
Gabriela D. T. Gonzalez, Marcio Dias, Fanglu Huang, Pater F. Leadlay, Luciana G.
de Oliveira., Ionophore poliether hydrolases-cyclases shows high activity and wide-
ranging substrate acceptance as epoxide-hydrolases., VII Workshop on
biocatalysis and biotransformations., Setembro, 2014. Búzios, RJ-Brazil.
Gabriela D. Tormet G. Five three per year will make you happier. Reunião annual
dos jovens embaixadores ambientais da farmacêutica Bayer e do Programa das
Nações Unidas para o Medioambiente. Novembro, 2007. Leverkusen, Alemanha.
Premiações
Embaixadora ambiental jovem do programa BYEE da farmacêutica Bayer e o
Programa das Nações Unidas para o Medioambiente (UNEP) na Região Andina.
Período 2007-2008.
Estágios docentes
Programa de estágio docente disciplina QO-620 e QO-422. 1° e 2° semestre 2014.
Unicamp. Campinas, Brasil.
Estágio docente na disciplina Química Analítica Instrumental. Março 2010-Janeiro
2011. Universidad Central da Venezuela. Caracas, Venezuela.
x
Resumo
CARACTERIZAÇÃO DE EPÓXIDO HIDROLASES DO TIPO α,β
E LEH DE ACTINOBACTÉRIAS DO GÊNERO Streptomyces
Epóxido-hidrolases pertencem a um amplo grupo de enzimas hidrolíticas
encontradas em todos os tipos de organismos vivos, incluindo insetos, plantas e
micro-organismos. Agem sobre uma variedade de epóxidos convertendo-os aos
respectivos dióis. As epóxido-hidrolases são de grande interesse para aplicação
em biotecnologia uma vez que podem levar à obtenção de epóxidos e dióis
enantiomericamente puros como uma alternativa à aplicação dos catalisadores
químicos. Neste estudo foram produzidas e caracterizadas funcional e
estruturalmente epóxido-hidrolases de dois tipos: uma α,β-hidrolase (B1EPH2)
anotada do genoma de Streptomyces sp B1 e várias hidrolases-ciclases análogas
à limoneno epóxido hidrolase (LEH) denominadas enzimas B. As enzimas B são
encontradas nos agrupamentos de genes que participam da biossíntese de
poliéteres como lasalocida, nigericina, nanchangmicina, tetronasina, tetronomicina
e salinomicina. As enzimas B atuam no mecanismo de ciclização oxidativa que
origina os anéis do tipo pirano e furano presentes nesses compostos. Todos os
genes foram clonados e expressos com sucesso em E. coli BL21(DE3). As
enzimas foram purificadas via cromatografia por afinidade. A atividade das
enzimas como epóxido-hidrolases foi avaliada utilizando-se o teste de adrenalina.
Observou-se que todas as enzimas apresentaram ampla atividade catalítica na
hidrólise de epóxidos com diferentes características estruturais; ao contrário da
LEH, as enzimas B apresentaram alta capacidade de aceitação por substratos. As
estruturas secundárias e terciárias destas enzimas foram previstas por análise in
silico e por medições do espectro de dicroísmo circular. As estruturas
tridimensionais de algumas enzimas B, assim como a previsão dos resíduos que
compõem o sítio ativo, foram obtidas através de estudos de difração de raios-X,
evidenciando a similaridade estrutural das enzimas B à LEH.
xi
Abstract
CHARACTERIZATION OF α,β AND LEH EPOXIDE
HYDROLASES FROM ACTINOMYCETES OF THE GENUS
Streptomyces
Epoxide hydrolases are hydrolytic enzymes found in all living organisms, including
insects, plants and microorganisms. Such enzymes act promoting the conversion
of a variety of epoxides to the corresponding diols. Epoxide hydrolases are of great
interest in biotechnological applications as an alternative to chemical catalysts
since it can lead to enantiomerically pure epoxides and diols. This study details the
production and structural and functional characterization of one α,β-hydrolase
(B1EPH2) annotated from genome of Streptomyces sp B1 and several hydrolases-
cyclases similar to limonene epoxide hydrolase (LEH) named B enzymes. B
enzymes are found in biosynthetic gene clusters of polyether antibiotic as
lasalocid, nigericin, nanchangmycin, tetronasin, tetronomycin and salinomycin.
They are known to participate in the oxidative cyclization process leading to the
formation of the pyran and furan rings present in these compounds. All genes were
successfully cloned and expressed into E. coli BL21(DE3). The enzymes were
purified by affinity chromatography and the activity as epoxide hydrolase was
evaluated using the adrenaline fingerprint test. All enzymes showed wide catalytic
activity towards the hydrolysis of epoxides with diverse structural features; unlike
LEH, B enzymes have high range substrate acceptance. Secondary and tertiary
structures of these enzymes were predicted by in silico analyses and circular
dichroism spectrum measurements. Three-dimensional structures of some of the B
enzymes as well as the prediction of the active site residues were obtained
throughout X-ray diffractometry endorsing structural similarities of B enzymes and
LEH.
xii
Sumário
Lista de abreviaturas .............................................................................................. xv
Lista de tabelas ..................................................................................................... xvi
Lista de esquemas ............................................................................................... xvii
Lista de figuras .................................................................................................... xviii
1. Introdução ......................................................................................................... 1
1.1. Epóxido-hidrolases microbianas ................................................................ 4
1.2. Estrutura das epóxido-hidrolases e mecanismos de atuação .................... 6
1.3. Enzimas B análogas à limoneno epóxido hidrolase ................................. 11
2. Objetivos ......................................................................................................... 15
3. Materiais e métodos........................................................................................ 16
3.1. Analise in sílico das enzimas ................................................................... 16
3.2. Reagentes químicos................................................................................. 16
3.3. Reagentes biológicos ............................................................................... 16
3.4. Micro-organismos ..................................................................................... 17
3.5. Vetores ..................................................................................................... 18
3.6. Soluções utilizadas................................................................................... 18
3.6.1. Soluções utilizadas para o preparo de células quimio e
eletrocompetentes .......................................................................................... 18
3.6.2. Soluções utilizadas na purificação das proteínas .............................. 18
3.6.3. Soluções utilizadas para preparo do gel SDS-PAGE ........................ 20
3.6.4. Soluções utilizadas nas medições dos parâmetros cinéticos e
enantiosseletividade das enzimas .................................................................. 23
3.7. Métodos ................................................................................................... 23
3.7.1. Extração de DNA plasmidial ............................................................. 23
xiii
3.7.2. Manutenção microbiológica ............................................................... 23
3.7.3. Preparação de células quimicamente competentes .......................... 24
3.7.4. Preparação de células eletrocompetentes ......................................... 25
3.7.5. Transformação química ..................................................................... 26
3.7.6. Eletrotransformação/Eletroporação ................................................... 26
3.7.7. Expressão de proteínas ..................................................................... 27
3.7.8. Eletroforese de proteínas .................................................................. 27
3.7.9. Purificação de proteínas .................................................................... 28
3.7.10. Quantificação pelo método de Bradford ......................................... 30
3.7.11. Teste de adrenalina para epóxido-hidrolases ................................. 31
3.7.12. Medições da influencia do pH e temperatura na atividade das
enzimas ....................................................................................................... 32
3.7.13. Medições do espectro de dicroísmo circular .................................. 32
4. Resultados e Discussão ................................................................................. 34
4.1. Enzima tipo α,β-hidrolase ........................................................................ 34
4.1.1. Análise in sílico .................................................................................. 34
4.1.2. Expressão e purificação de proteínas ................................................ 40
4.1.3. Caracterização de enzimas: espectro de dicroísmo circular (DC) ..... 41
4.1.4. Determinação da atividade enzimática pelo teste de adrenalina ....... 44
4.1.5. Medida da influência do pH e temperatura na atividade enzimática .. 47
4.2. Enzimas B ................................................................................................ 51
4.2.1. Analises in sílico ................................................................................ 51
4.2.2. Expressão e purificação das enzimas B ............................................ 59
4.2.3. Espectro de dicroísmo circular (DC) .................................................. 63
4.2.4. Determinação da atividade enzimática pelo teste de adrenalina ....... 65
xiv
4.2.5. Estruturas tridimensionais das enzimas B ......................................... 69
5. Conclusões ..................................................................................................... 75
6. Anexos ............................................................................................................ 77
xv
Lista de abreviaturas
A600nm Absorbância medida a 600 nm
ACN Acetonitrila
APS Persulfato de amônio
BSA Albúmina de soro bovino
Da Dalton
DC Dicroísmo circular
DMSO Dimetilsulfóxido
E Razão Enantiomérica
ee Excesso Enantiomérico
EH Epóxido-Hidrolase
IPTG isopropil-ß-D-1-tiogalactopiranosídeo
LEH Limoneno epóxido-hidrolase
PDB Banco de Dados de Proteínas
rpm Rotações por Minuto
SDS-PAGE Eletroforese em gel de poliacrilamida com dodecil sulfato de
sódio
TEMED N,N,N′,N′-tetrametiletilenodiamina
xvi
Lista de tabelas
Tabela 1. Reagentes biológicos utilizados ............................................................ 17
Tabela 2. Composição em imidazol dos tampões fosfato de sódio 20 mM cloreto
de sódio 500 mM e imidazol 20-500 mM ............................................................... 19
Tabela 3. Quantidade de reagentes utilizados no preparo dos tampões fosfato de
sódio 50 mM cloreto de sódio 150 mM a diferentes pH ........................................ 20
Tabela 4. Substratos usados no teste de adrenalina ............................................ 22
Tabela 5. Proteínas análogas a B1EPH2 depositadas no PDB ............................ 35
Tabela 6. Contribuições participantes na estrutura secundária da enzima B1EPH2
.............................................................................................................................. 43
Tabela 7. Comparação dos dados da estrutura secundária de B1EPH2 gerados
com o programa CDNN para as medições de dicroísmo circular e a estrutura
prevista pelo servidor I-TASSER ........................................................................... 43
Tabela 8. Parâmetros de ponto isoelétrico (pI), coeficiente de instabilidade e
massa molecular das enzimas B calculadas com a ferramenta ProtParam do
ExPASy ................................................................................................................. 52
Tabela 9. Previsão das proteínas análogas a TmnB (I-TASSER) ........................ 56
Tabela 10. Contribuições participantes nas estruturas secundárias das enzimas
NigBI e LasB* ........................................................................................................ 64
Tabela 11. Comparação da estrutura secundária gerada com medições do
espectro DC e a estrutura prevista pelo servidor I-TASSER ................................. 65
xvii
Lista de esquemas
Esquema 1. Reação de hidrólise de epóxido resultando no respectivo 1,2-diol
catalisada pela enzima epóxido-hidrolase. .............................................................. 3
Esquema 2. A degradação de aromáticos pode prosseguir através de uma reação
de epoxidação catalisada por mono-oxigenase seguida pela conversão dos
epóxidos a dióis catalisada por epóxido-hidrolases. ............................................... 3
Esquema 3. Reação de abertura enantiosseletiva de epóxidos promovida pelo
extrato enzimático de Rhodococcus sp SP409.25 ................................................... 5
Esquema 4. Representação da reação de conversão do N-fenilcarbamato geraniol
para o correspondente (S)-epóxido catalisada pela EH de Asperigillus niger.31 ..... 6
Esquema 5. Mecanismo proposto para hidrólise de epóxidos promovida pela EH
de Agrobacterium radiobacter.33 ............................................................................. 8
Esquema 6. Representação das possíveis vias pelas quais a hidrólise de epóxidos
pode proceder. ........................................................................................................ 8
Esquema 7. Reação de hidrólise enantioconvergente do limoneno óxido levando a
formação do limoneno-1,2-diol mediada pela LEH de Rhodococcus erythropolis... 9
Esquema 8. Representação do mecanismo push-pull de hidrólise em uma etapa
para a enzima LEH de Rhodococcus erythropolis.23,39 .......................................... 10
Esquema 9. Estrutura dos antibióticos poliéteres lasalocida e monensina de
Streptomyces lasaliensis e Streptomyces cinnamonensis respectivamente. ........ 12
Esquema 10. Modelo CCW representando a biossíntese de poliéteres ionóforos
via epoxidação estereosseletiva seguida de abertura e ciclização. ...................... 13
Esquema 11. Teste de adrenalina para epóxido hidrolases (esquema adaptado da
referência 71). ....................................................................................................... 44
Esquema 12. O processo de ciclização exo-tet leva a formação do anel do tipo
furano nos compostos tetronasina (A) e tetronomicina (B). Desconsiderando o anel
tetronato, todos os centros estereogênicos nos produtos naturais são
enantioméricos. ..................................................................................................... 74
xviii
Lista de figuras
Figura 1. Resíduos do sítio ativo responsáveis pela catálise da enzima limoneno
epóxido-hidrolase de Rhodococcus erythropolis (adotado da Ref.40). ................. 11
Figura 2. Modelos tridimensionais obtidos para a enzima B1EPH2 pelo servidor I-
TASSER. ............................................................................................................... 36
Figura 3. Detalhe do modelo tridimensional da enzima B1EPH2 destacando os
resíduos D114 (em azul), D281 (em verde) e H312 (em rosa) que compõem a
tríade catalítica junto aos resíduos de Y163 e Y251 (em vermelho) que ativam o
anel oxirano. .......................................................................................................... 37
Figura 4. Modelagem da interação entre o substrato glicidil fenil éter e a enzima
B1EPH2................................................................................................................. 39
Figura 5. Modelagem da interação entre o substrato 1,2-epóxioctano e a enzima
B1EPH2................................................................................................................. 39
Figura 6. Gel SDS-PAGE apresentando as bandas correspondentes às frações
eluídas a distintas concentrações de imidazol no processo de purificação da
enzima B1EPH2 através da coluna de afinidade de níquel (coluna 1 (lisado);
colunas 2-13 4 (diferentes frações eluídas com o gradiente de tampões fosfato de
sódio pH 7,4 contendo 20-500 mmol L-1 imidazol); coluna 15 marcador
ColorBurst™ Electrophoresis Marker). .................................................................. 41
Figura 7. Medições do espectro DC da enzima B1EPH2. Dados corrigidos de
elipticidade molar θ (graus. cm2 dmol-1) em função do cumprimento de onda para
uma concentração de 125 µg ml-1. ........................................................................ 42
Figura 8. Foto da placa com o teste de adrenalina para a enzima B1EPH2
(superior) e escala de cinza correspondente (inferior). ......................................... 46
Figura 9. Atividade relativa (%) da enzima B1EPH2 em função da variação de pH
e de temperatura em DMSO. ................................................................................ 47
Figura 10. Atividade relativa (%) da enzima B1EPH2 em função da variação de pH
e temperatura em ACN. ........................................................................................ 48
Figura 11. Comparação das atividades relativas (%) da enzima B1EPH2 em ACN
e DMSO................................................................................................................. 49
xix
Figura 12. Atividade relativa (%) da enzima B1EPH2 em DMSO nas diferentes
temperaturas testadas. .......................................................................................... 50
Figura 13. Modelos tridimensionais com maior C-score obtidos para as enzimas a)
NigBI, b) TsnB e c) TmnB pelo I-TASSER. ........................................................... 53
Figura 14. Modelos tridimensionais com maior C-score obtidos para a) LasB e b)
NanI destacando as α-hélices (em azul), as folhas β (em vermelho) e a estrutura
randômica (em roxo). ............................................................................................ 54
Figura 15. Modelos tridimensionais com maior C-score obtidos para as enzimas a)
SalBI, b) SalBII e c) SalBIII pelo I-TASSER. ......................................................... 55
Figura 16. Alinhamento das enzimas B que mostram vários resíduos conservados
que podem contribuir para a atividade enzimática. ............................................... 57
Figura 17. Superposição gerada no programa PyMol dos modelos das enzimas
NigBI (rosa) e LEH 1NWW (verde) gerados pelo servidor I-TASSER. .................. 58
Figura 18. Superposição gerada no programa PyMol dos modelos das enzimas
NigBI (rosa) e LasB (azul) gerados pelo servidor I-TASSER. ............................... 58
Figura 19. Superposição gerada no programa PyMol dos modelos das enzimas
NigBI (rosa) e NanI (verde) gerados pelo servidor I-TASSER............................... 59
Figura 20. Gel SDS-PAGE apresentando as bandas correspondentes às frações
eluídas a distintas concentrações de imidazol no processo de purificação da
enzima NigBI (tamanho 15,8 kDa) por coluna de afinidade de níquel (coluna 1
(lisado); colunas 2-8 (frações eluídas com tampão 20 mmol L-1 fosfato de sódio, e
gradiente de 20-500 mmol L-1 imidazol, pH 7,4); colunas 9-14 (frações
concentradas e dessalinizadas com tampão 50 mmol L-1 fosfato de sódio, 150 mM
cloreto de sódio, pH 7); coluna 15 marcador Precision Plus Protein™ Dual Color
Standards (BIO-RAD). ........................................................................................... 60
Figura 21. Gel SDS-PAGE mostrando as bandas correspondentes a NanI
(colunas 1, 2 e 3; tamanho 34,4 kDa). NigBI (colunas 4, 5 e 6; tamanho 15,8 kDa;
marcador Precision Plus Protein™ Dual Color Standards da BIO-RAD (coluna 7).
B1EPH2 (colunas 8, 9, 10 e 11; tamanho 37,0 kDa); TsnB (colunas 12, 13 e 14;
tamanho 14,8 kDa). Todas as enzimas foram purificada parcialmente por coluna
de afinidade e concentradas com coluna de dessalinização. ............................... 61
xx
Figura 22. Gel SDS-PAGE mostrando as bandas correspondentes a TmnB
(Colunas 1 e 2: lisado, Colunas 4, 5, 6, 7 e 8 purificação parcial por coluna de
afinidade e Colunas 9, 10, 11, 12 e 13 frações eluídas no processo de
concentração da proteína com coluna de dessalinização). Marcador Precision Plus
Protein™ Dual Color Standards (BIO-RAD). ......................................................... 61
Figura 23. Gel SDS-PAGE mostrando as bandas correspondentes a SalBI
(colunas 1 e 2: lisado, colunas 3 e 4 proteína purificada coluna de afinidade),
SalBIII (coluna 5: purificação parcial por coluna de afinidade) e SBalII (coluna 6:
lisado, colunas 7, 8 e 9: purificação parcial por coluna de afinidade) e B1EPH2
(colunas 10, 11, 12, 13 e 14 frações eluídas a diferentes concentrações de
imidazol pela coluna de afinidade). Marcador Novex® Sharp Pre-Stained Protein
Standard (Invitrogen). ............................................................................................ 62
Figura 24. Medições do espectro DC para a enzima NigBI. Dados corrigidos de
elipticidade molar θ (graus. cm2. dmol-1) em função do cumprimento de onda (200
a 260 nm) para uma concentração de 300 µg ml-1. ............................................... 63
Figura 25. Medições do espectro DC para a enzima LasB. Dados corrigidos de
elipticidade molar θ (graus. cm2. dmol-1) em função do cumprimento de onda (195
a 260 nm) para uma concentração de 250 µg ml-1 da enzima. ............................. 64
Figura 26. Escalas de cinza correspondente as enzimas TsnB, TmnB, LasB, NanI,
NigBI e SalBIII. ...................................................................................................... 68
Figura 27. Estrutura tridimensional obtida por difração de raios-X da enzima LasB.
A projeção indica os resíduos previstos em fazer parte do sítio ativo. Imagem
cedida pelo Prof. Marcio Dias. ............................................................................... 70
Figura 28. Estrutura tridimensional da enzima NanI obtida por difração de raios-X,
mostrando a cavidade prevista em conter o sítio ativo nos domínios da enzima
(domínio N-terminal em verde e domínio C-terminal em rosa). Imagem cedida pelo
Prof. Marcio Dias. .................................................................................................. 71
Figura 29. As enzimas LasB (esquerda) e NanI (direita) apresentam uma possível
permutação estrutural entre seus domínios. Imagem cedida pelo Prof. Marcio Dias.
.............................................................................................................................. 72
xxi
Figura 30. Estruturas das enzimas TsnB (A) e TmnB (B). Apesar da elevada
similaridade estrutural dessas enzimas, as cavidades de sítio ativo apontam para
direções opostas. Imagem cedida pelo Prof. Marcio Dias. .................................... 73
Figura 31. Sobreposição dos resíduos polares do sítio ativo de TsnB e TmnB.
Imagem cedida pelo Prof. Marcio Dias. ................................................................. 73
1
1. Introdução
Epóxidos e dióis vicinais são elementos estruturais presentes em um
grande número de moléculas simples e complexas. Especificamente os epóxidos
destacam-se por sua ampla capacidade para sofrer reações de abertura régio-,
estéreo- e enantiosseletiva devido à alta reatividade do anel oxirano presente na
molécula.1,2 A versatilidade e reatividade dos epóxidos permitem categorizá-los
como materiais de partida e intermediários versáteis na síntese e biossíntese de
compostos dotados de relevantes atividades biológicas e farmacológicas.3
Nas últimas décadas muitos esforços foram dedicados ao desenvolvimento
de estratégias inovadoras para a preparação de epóxidos e outros compostos
enantiomericamente puros para serem empregados como intermediários na
preparação de drogas quirais como enantiômeros únicos para cumprir com as
exigências dos órgãos reguladores como a FDA (Food and Drug Administration)
dos Estados Unidos.4 Neste contexto têm sido desenvolvidas diversas
metodologias para o preparo de epóxidos enantiomericamente puros, entretanto
nenhuma destas alternativas é de aplicação geral pelas restrições próprias de
cada metodologia. Dentre estes procedimentos destacam-se a epoxidação de
Sharpless, conhecida como a primeira reação de epoxidação assimétrica e que
utiliza um catalisador de titânio. Esta reação apresenta como desvantagem um
uso limitado a álcoois alílicos.5 De maneira a estender a reação de epoxidação de
Sharpless a outros tipos de compostos foi desenvolvida a epoxidação de
Jacobsen-Katsuki, que emprega um catalisador de manganês e tem como
vantagem alta enantiosseletividade para cis-alcenos, porém os resultados são
menos satisfatórios para os isômeros trans. 6,7,8
1 Schurig, V. and Betschinger, F. Chem. Rev. 1992, 92, 873-888.
2 Kolb, H., Van Nieuenhze, M. and Sharpless, K. Chem. Rev. 1994, 94, 2483-2547.
3 Belshaw, P. J., Meyes, D. and Johnson, D. D. Synlett 1994, 6, 381-392.
4 Barreiro, E. J., Ferreira, V. F. and Costa, P. R. R. Quim. Nova 1997, 20, 647-656.
5 Finn, M. G. and Sharpless, K. B.: On the Mechanism of Asymmetric Epoxidation with Titanium-
Tartrate Catalysts, ”Asymmetric Synthesis,” Academic Press, Inc.: New York, 1985. 6 Hosoya, N., Hatayama, A., Irie, R., Sasaki, H. and Katsuki, T. Tetrahedron 1994, 50, 4311-4322.
7 Linker, T. Angew. Chem. Int. Ed. 1997, 36, 2060-2062.
2
Visando alcançar melhores rendimentos na obtenção de epóxidos
enantiopuros desenvolveram-se vários processos biocatalíticos, entre os que
destacam o uso de mono-oxigenases bacterianas do citocromo P-450 e de outros
tipos para a epoxidação estereoespecífica de alcenos, resultando em excessos
enantioméricos frequentemente altos, porém os rendimentos químicos são
baixos.9,10,11,12 Outros limitantes na aplicação dessas enzimas na síntese orgânica
incluem o uso de cofatores e a alta especificidade que restringe o número de
substratos aceitos pela enzima.
Alternativamente, para a obtenção de epóxidos e dióis enantiomericamente
puros são utilizadas enzimas epóxido-hidrolases (EH), que catalisam a adição de
moléculas de água a epóxidos levando à formação do diol vicinal correspondente
(Esquema 1). A reação ocorre via mecanismo SN2 e a abertura específica de
epóxidos 1,2-substituídos leva à formação de 1,2-dióis com configuração trans. As
principais vantagens da utilização destas enzimas em processos biocatalíticos são
que não requerem cofatores para atuar e estão presentes em uma grande
variedade de seres vivos como mamíferos,13 plantas,14 insetos,15 leveduras,16
fungos filamentosos17,18 e bactérias.19,20
8 Katsuki, T. and Martin, V. S. Org. React. 1996, 48, 1-299.
9 Pedragosa-Moreau, S., Archelas, A. and Furtoss, R. Bull. Soc. Chim. Fr. 1995, 132, 769-800.
10 de Bont, J. A. M. Tetrahedron: Asymmetry 1993, 4, 1331-1340.
11 Onumonu, A. N., Colocoussi, N., Matthews, C., Woodland, M. and Leak, D. Biocatalysis 1994,
10, 211-218. 12
Besse, P. and Veschambre, H. Tetrahedron 1994, 50, 8885-8927. 13
Bellucci, G., Chiappe, C., Marioni, F. and Benetti, M. J. Chem. Soc., Perkin Trans. 1 1991, 1, 361-363. 14
Blée, E. and Schuber, F. Eur. J. Biochem 1995, 230, 229-234. 15
Linderman, R. J., Walker, E. A., Haney, C. and Roe, R. M. Tetrahedron 1995, 51, 10845-10856. 16
Weijers, C. A. G. M. Tetrahedron: Asymmetry 1997, 8, 639-647. 17
Grogan, G., Roberts, S. M. and Willetts, A. J. FEMS Microbiol. Lett. 1996, 141, 239-243. 18
Pedragosa-Moreau, S., Archelas, A. and Furstoss, R. Tetrahedron 1996, 52, 4593-4606. 19
Mischitz, M., Faber, K. and Willetts, A. Biotechnol. Lett. 1995, 17, 893-898. 20
Osprian, I., Kroutil, W., Mischitz, M. and Faber, K. Tetrahedron: Asymmetry 1997, 8, 65-71.
3
Esquema 1. Reação de hidrólise de epóxido resultando no respectivo 1,2-diol
catalisada pela enzima epóxido-hidrolase.
Na natureza as EH fazem parte do grupo enzimático responsável pela
desintoxicação de xenobióticos de organismos procariotos e eucariotos,
promovendo a hidrólise dos epóxidos formados previamente a partir de compostos
olefínicos ou aromáticos pela ação de mono-oxigenases do tipo citocromo P-450.
Os trans-1,2-dióis resultantes da hidrólise são posteriormente metabolizados ou
excretados de forma mais fácil pelas células pela maior solubilidade em água
(Esquema 2). Uma atividade deficiente das EH no organismo origina, portanto, um
acúmulo de moléculas de epóxido, que devido ao caráter eletrofílico do anel
oxirano podem reagir facilmente até a formação de compostos tóxicos,
carcinogênicos e teratogênicos.21,22,23
Esquema 2. A degradação de aromáticos pode prosseguir através de uma reação
de epoxidação catalisada por mono-oxigenase seguida pela conversão dos
epóxidos a dióis catalisada por epóxido-hidrolases.
21
Seidegard, J. and De Pierre, J. W. Biochim. Biophys. Acta 1983, 695, 251-270. 22
Armstrong, R. N. CRC Crit. Rev. Biochem. 1987, 22, 39-88. 23
Faber, K.: Biotransformations in Organic Chemistry; 6th ed.; Springer, 2011. pp. 124-149.
4
1.1. Epóxido-hidrolases microbianas
Embora a aplicação de epóxido-hidrolases microbianas em biocatálise
começou de forma mais estendida na década dos 90 com as pesquisas do Prof. K.
Faber na Áustria e o Prof. R. Furtoss na França, desde há vários anos atrás se
conhecia da existência desta classe enzimática em células de micro-organismos.
Allen et al já tinham relatado em 1969 a catálise na síntese de ácido L- e meso-
tartárico a partir de um precursor epóxido por parte de uma EH isolada da
linhagem Pseudomonas putida.24
No ano 1994, o grupo de Prof. Faber verificou que no preparo enzimático
SP409 produzido a partir de Rhodococcus sp produzido pela Novozymes e
destinado à hidrólises de nitrilas, era capaz também de hidrolisar uma grande
variedade de epóxidos mono- e 2,2-di-substituído com uma enantiosseletividade
de baixa a moderada (Esquema 3).25 Estes resultados abriram uma nova etapa no
estudo das EH microbianas como alternativa para a produção de epóxidos e dióis
enantiopuros uma vez que foi demonstrado que uma ampla variedade de micro-
organismos produzem EH e essas podem exibir excelente enantiosseletividade na
conversão de epóxidos a dióis. 26
24
Allen, R. H. and Jakoby, W. B. J. Biol. Chem. 1969, 244, 2078-2084. 25
Mischitz, M. and Faber, K. Tetrahedron Lett. 1994, 35, 81-84. 26
Bornscheuer, U. and Kazlauskas, R. J.: Hydrolases in Organic Synthesis: Regio- and Stereoselective Biotransformations; 2nd ed., 2006. pp. 220-222.
5
.
Esquema 3. Reação de abertura enantiosseletiva de epóxidos promovida
pelo extrato enzimático de Rhodococcus sp SP409.25
Os estudos citados anteriormente e outros permitiram o acúmulo de
conhecimento sobre EH microbianas de variadas fontes como bactérias, fungos
filamentosos e leveduras e levou à visualização das preferências na atividade de
EH frente a padrão de substituição de diferentes tipos de epóxidos.27,28,29,30,31 Por
exemplo, EH de fungos (ex. Aspergillus e Beauveria sp) em geral são mais ativas
frente a substratos do tipo óxido de estireno enquanto EH bacterianas em
particular as derivadas de actinobactérias como Rhodococcus e Nocardia sp são
catalisadores preferenciais para epóxidos 2,2- e 2,3- dissubstituídos.23
A primeira hidrólise em escala preparativa produzida por EH foi relatada
pelo grupo do Prof. Furstoss. Eles observaram que o fungo Aspergillus niger
promove a conversão enantiosseletiva do N-fenilcarbamatogeraniol produzindo o
(S)-epóxido em alta pureza óptica (Esquema 4), o qual foi posteriormente
convertido para o composto de Bower.31 Os avanços surgido nas décadas dos
noventa e princípios do 2000 nas técnicas de biologia permitiram que um número
significativo de enzimas EH de outras classes foram clonadas em organismos
heterólogos e posteriormente caracterizadas e melhoradas a partir da identificação
27
Saving, J. and de Bont, J. A. M. Enzyme Microb. Technol. 1998, 22, 19-26. 28
Archer, I. V. J. Tetrahedron 1997, 53, 15617-15662. 29
Weijers, C. A. G. M. and de Bont, J. A. J. Mol. Catal. B: Enzym. 1999, 6, 199-214. 30
Orru, R. V. A., Archelas, A., Furstoss, R. and Faber, K. Adv. Biochem. Eng. Biotechnol. 1998, 63, 145-167. 31
Zhang, X. M., Archelas, A. and Furstoss, R. J. Org. Chem. 1991, 56, 3814-3817.
6
dos genes correspondentes, possibilitando a obtenção de quantidades aceitáveis
de enzima para biotransformações em escala preparativa assim como um
aumento na enantiosseletividade comparadas às enzimas selvagens. Aplicando-
se estas metodologias de evolução in vitro por exemplo, a EH de A. niger teve
sua enantiosseletividade amplificada de E = 4,6 para 10,8 frente ao substrato
glicidil fenil éter. 32
Esquema 4. Representação da reação de conversão do N-fenilcarbamato geraniol
para o correspondente (S)-epóxido catalisada pela EH de Asperigillus niger.31
1.2. Estrutura das epóxido-hidrolases e mecanismos de atuação
A maioria das EH pertencem à família das α,β-hidrolases. Estas enzimas
apresentam o numero de classificação enzimática de 3.3.2.10 que corresponde a
enzimas solúveis que catalisam a hidrólise de ligações de éter. As quatro
32
Reetz, M. T., Torre, C., Eipper, A., Lohmer, R., Hermes, M., Brunner, B., Maichele, A., Bocola, M., Arand, M., Cronin, A., Genzel, Y., Archelas, A. and Furstoss, R. Org. Lett. 2004, 6, 177-180.
7
estruturas de EH mais representativas desta família são a EH de Agrobacterium
radiobacter,33 a EH solúvel dos mamíferos Mus musculus34,35 e Homo sapiens,36 e
a EH do fungo Asperigillus niger.37 O modelo básico para a estrutura das EH do
tipo α,β-hidrolases é constituído por uma região central com oito conformações de
tipo folhas-β flanqueadas por α-hélices, em meio a estas estruturas encontram-se
os três resíduos que formam a tríade catalítica. Outra região principalmente
formada por estruturas helicoidais constituem uma cobertura (lid) do núcleo que
contém as duas tirosinas que auxiliam na catálise.
O mecanismo proposto para a hidrólise de epóxidos pelas enzimas EH foi
elucidado em 1999 a partir da resolução por difração de raios-X da estrutura da
EH de Agrobacterium radiobacter AD133 em conjunto com estudos de mutação.
Esses estudos permitiram concluir que a conversão de epóxido a diol ocorre em
duas etapas. Em uma primeira etapa dois resíduos de tirosina (Tyr152 e Tyr215)
ativam o anel oxirano presente no substrato para o ataque do resíduo de Asp107.
Os resíduos de tirosina também são responsáveis pela estabilização do estado de
transição.38 Já na segunda etapa, a molécula de água requerida para a catálise é
ativada pelo par histidina-aspartato, promovendo a hidrólise do intermediário
covalente e resultando na formação do diol correspondente (Esquema 4). Estudos
de outras EH como a do fungo Aspergillus niger revelaram que esta enzima tem
uma estrutura e mecanismo de atuação similar. 37
33
Nardini, M., Ridder, I. S., Rozeboom, H. J., Kalk, K. H., Rink, R., Janssen, D. B. and Dijkstra, B. W. J. Biol. Chem. 1999, 274, 14579-14586. 34
Argiriadi, M. A., Morisseau, C., Hammock, B. D. and Christianson, D. W. Proc. Natl. Acad. Sci. 1999, 96, 10637-10642. 35
Argiriadi, M. A., Morisseau, C., Goodrow, M. H., Dowdy, D. L., Hammock, B. D. and Christianson, D. W. J. Biol. Chem. 2000, 275, 15265-15270. 36
Gomez, G. A., Morisseau, C., Hammock, B. D. and Christianson, D. W. Biochemistry 2004, 43, 4716-4723. 37
Zou, J., Hallberg, B. M., Bergfors, T., Oesch, F., Arand, M., Mowbray, S. L. and Jones, T. A. Structure Fold Des. 2000, 8, 111-122. 38
Rink, R., Spelberg, J. H. L., Pieters, R. J., Kingma, J., Nardini, M., Kellogg, R. M., Dijkstra, B. W. and Janssen, D. B. J. Am. Chem. Soc. 1999, 121, 7417-7418.
8
Esquema 5. Mecanismo proposto para hidrólise de epóxidos promovida pela EH
de Agrobacterium radiobacter.33
O mecanismo proposto evidencia que a hidrólise enzimática de epóxidos
terminais pode ocorrer com o ataque do aspartato sobre o carbono menos
impedido do anel oxirano, levando neste caso à retenção da configuração (rota
mais comum) ou no centro esterogênico resultando em inversão da configuração
(Esquema 6).23
Esquema 6. Representação das possíveis vias pelas quais a hidrólise de epóxidos
pode proceder.
9
Algumas EH podem seguir um mecanismo de atuação diferente, onde a
molécula de água ataca diretamente ao epóxido por um mecanismo de apenas
uma etapa. A enzima limoneno-1,2-epóxido hidrolase (LEH) de Rhodococcus
erythropolis apresenta uma estrutura com pouca semelhança quando comparada
a EHs do tipo α,β-hidrolase e um tamanho de apenas 17 kDa (enquanto as
convencionais já mencionadas possuem tamanhos de mais de 30 kDa). A
caracterização estrutural completa e identificação dos resíduos no sítio ativo
responsáveis pela catálise foi relatada por Arand et al., em 2003.39 Os dados de
difração de raios-X foram depositados no banco de dados de proteínas (PDB) com
código de identificação 1NWW. A bactéria Rhodococcus erythropolis consegue
crescer aproveitando limoneno e outros terpenos como fonte de carbono, além de
catalisar a reação de hidrólise do limoneno óxido levando a formação do limoneno-
1,2-diol (Esquema 7) em uma reação enantioconvergente, de grande interesse
para utilização em síntese industrial.
Esquema 7. Reação de hidrólise enantioconvergente do limoneno óxido levando a
formação do limoneno-1,2-diol mediada pela LEH de Rhodococcus erythropolis.
39
Arand, M., Hallberg, B. M., Zou, J., Bergfors, T., Oesch, F., van der Werf, M. J., de Bont, J. A., Jones, T. A. and Mowbray, S. L. EMBO J. 2003, 22, 2583-2592.
10
A enzima LEH não apresenta similaridades ao sítio ativo encontrado na
maioria das EH. Possui uma cavidade hidrofóbica moldada por 6 folhas-β
rodeadas por 4 α-hélices. A cavidade possui na posição mais profunda um
conjunto de grupos polares, incluindo uma tríade Asp-Arg-Asp. Os experimentos
voltados para elucidar a atividade catalítica sugeriram um mecanismo do tipo
push-pull que ocorre em apenas uma etapa e envolve a protonação do epóxido
pelo resíduo Asp101 concomitante ao ataque nucleofílico por uma molécula de
água sobre um dos átomos de carbono do anel oxirano.39 A molécula de água é
ativada por ligações de hidrogênio aos resíduos Asp132, Tyr53 e Asn55. As
argininas próximas ao sítio ativo também interagem facilitando o posicionamento
dos resíduos de aspartato (Esquema 8; Figura 1).
Esquema 8. Representação do mecanismo push-pull de hidrólise em uma etapa
para a enzima LEH de Rhodococcus erythropolis.23,39
11
Figura 1. Resíduos do sítio ativo responsáveis pela catálise da enzima limoneno
epóxido-hidrolase de Rhodococcus erythropolis (adotado da Ref.40).
1.3. Enzimas B análogas à limoneno epóxido hidrolase
Os poliéteres ionóforos representam um grande grupo de substâncias
naturais biossintetizadas principalmente por bactérias do gênero Streptomyces.
Apresentam uma extensa gama de atividades biológicas e uma estrutura
característica composta por múltiplos anéis de tipo furano e pirano (Esquema 9).40
A diversidade estrutural dos poliéteres ionóforos tem sua origem no número de
anéis do tipo pirano e furano originados vias reações de ciclização. Vários
antibióticos poliéteres como monensina (Coban, Rumensin, Coxidin), lasalocida
(Avatec, Bovatec), salinomicina (Bio-cox, Sacox), narasina (Monteban, Maxiban),
maduramicina (Cygro), laidlomicina (Cattlyst) e semduramicina (Aviax) têm
aplicação comercial como agentes anticoccidianos e como aditivos em alimentos
para ruminantes, sendo comercializados com essa finalidade.41
40
Dutton, C. J., Banks, B. J. and Cooper, C. B. Nat. Prod. Rep. 1995, 12, 165-181. 41
Rutkowski, J. and Brzezinski, B. Biomed. Res. Int. 2013, 2013, 1-32.; Huczyński, A. Bioorg. Med.
Chem. Lett. 2012, 22, 7002-7010.
12
Esquema 9. Estrutura dos antibióticos poliéteres lasalocida e monensina de
Streptomyces lasaliensis e Streptomyces cinnamonensis respectivamente.
As estruturas e as atividades biológicas dos poliéteres ionóforos atraíram
estudos extensivos das rotas biossintéticas que os originam ao longo dos últimos
40 anos.42 Um modelo biossintético unificado para a biossíntese dos poliéteres
ionóforos foi proposto por Cane, Celmer e Westley com base em dados empíricos.
Este modelo, denominado modelo CCW, envolve a participação de um
intermediário policetídico insaturado linear, o qual sofre epoxidação
estereosseletiva seguida de abertura dos anéis do tipo epóxido e ciclização em
cascata, levando a formação dos sistemas espirocetálicos e dos diversos anéis do
tipo furano e pirano (Esquema 10). Esta estratégia simples, mas versátil para a
construção de antibióticos poliéteres, pode ser estendida para todos os poliéteres
naturais.43
As enzimas “B” são hidrolases-ciclases encontradas como participantes da
biossíntese dos poliéteres ionóforos. Estas enzimas atuam promovendo a abertura
e ciclização dos epóxidos ao longo da biossíntese originando os éteres cíclicos. As
enzimas B de Streptomyces foram inicialmente descritas no cluster de genes que
codifica a biossíntese do antibiótico monensina, produzido por Streptomyces
42
Minami, A., Ose, T., Sato, K., Oikawa, A., Kuroki, K., Maenaka, K., Oguri, H. and Oikawa, H. ACS Chem. Biol. 2014, 9, 562-569. 43
Cane, D., Celmer, W. and Westley, J. J. Am. Chem. Soc. 1983, 105, 3594−3600.
13
cinnamonensis.44,45 Posteriormente, enzimas desempenhando atividades similares
foram identificadas nos clusters de outros antibióticos poliéteres como
lasalocida,46,47 nigericina,48 nanchangmicina,49 tetronasina e tetronomicina 50 e
salinomicina. 51
Esquema 10. Modelo CCW representando a biossíntese de poliéteres ionóforos
via epoxidação estereosseletiva seguida de abertura e ciclização.
44
Leadlay, P. F., Staunton, J., Oliynyk, M., Bisang, C., Cortes, J., Frost, E., Hughes-Thomas, Z. A., Jones, M. A., Kendrew, S. G., Lester, J. B., Long, P. F., McArthur, H. A., McCormick, E. L., Oliynyk, Z., Stark, C. B. and Wilkinson, C. J. J. Ind. Microbiol. Biotechnol. 2001, 27, 360-367. 45
Oliynyk, M., Stark, C. B. W., Bhatt, A., Jones, M. A., Hughes-Thomas, Z. A., Wilkinson, C., Oliynyk, Z., Demydchuk, Y., Staunton, J. and Leadlay, P. F. Mol. Microbiol. 2003, 49, 1179-1190. 46
Migita, A., Watanabe, M., Hirose, Y., Watanabe, K., Tokiwano, T., Kinashi, H. and Oikawa, H. Biosci. Biotechnol. Biochem. 2009, 73, 169-176. 47
Smith, L., Hong, H., Spencer, J. B. and Leadlay, P. F. ChemBioChem. 2008, 9, 2967-2975. 48
Harvey, B. M., Mironenko, T., Sun, Y., Hong, H., Deng, Z., Leadlay, P. F., Weissman, K. J. and Haydock, S. F. Chem. Biol. 2007, 14, 703-714. 49
Sun, Y., Zhou, X., Dong, H., Tu, G., Wang, M., Wang, B. and Deng, Z. Chem. Biol. 2003, 10, 431-441. 50
Bhatt, A., Stark, C. B., Harvey, B. M., Gallimore, A. R., Demydchuk, Y. A., Spencer, J. B., Staunton, J. and Leadlay, P. F. Angew. Chem. Int. Ed. Engl. 2005, 44, 7075-7078. 51
Yurkovich, M. E., Tyrakis, P. A., Hong, H., Sun, Y., Samborskyy, M., Kamiya, K. and Leadlay, P. F. ChemBioChem. 2012, 13, 66-71.
14
A análise da sequência do cluster de genes envolvido na biossíntese da
monensina sugeriu inicialmente que duas enzimas, identificadas como MonBI e
MonBII, poderiam ser responsáveis pela isomerização cis-trans das duplas
ligações do intermediário policetídeo linear pré-monensina, agindo em conjunto a
outra enzima identificada como MonCII. MonCII desempenharia atividade de
epóxido-hidrolase além de catalisar a ciclização em cascata do intermediário
poliepóxido.52 Experimentos de deleção de genes MonCII descartaram qualquer
papel para MonBI ou BII na isomerização das ligações duplas do policetídeo
enquanto estudos paralelos estabeleceram que MonCII era uma tioesterase
responsável pela liberação do produto poliéter da proteína carreadora de acila.48
Estes resultados forneceram uma nova perspectiva sobre os papéis de MonBI e
MonBII como candidatas a EH. A comparação de MonBI e MonBII no Banco de
Dados de Proteínas (PDB) forneceu um número de hits dentre os quais o modelo
estrutural mais próximo foi a limoneno 1,2-epóxido-hidrolase de Rhodococcus
erythropolis.52 Com base no alinhamento prévio do modelo 3D de MonBI com a
estrutura da LEH, os resíduos E38 e E65 de MonBI foram identificados como
possíveis resíduos do sítio ativo que auxiliam na catálise. A participação desses
aminoácidos na catálise enzimática foi confirmada posteriormente com a
resolução das estruturas de MonBI e MonBII por difração de raios-X e
experimentos de mutação sítio dirigida.42
52
Liu, T., Cane, D. E. and Deng, Z. Methods Enzymol. 2009, 459, 187-214.
15
2. Objetivos
O objetivo geral deste trabalho é a caracterização de um grupo de epóxido-
hidrolases anotadas do genoma de linhagens de actinobactérias do gênero
Streptomyces. Foram eleitas uma hidrolase do tipo α,β e várias hidrolases-ciclases
análogas à limoneno epóxido hidrolase (identificadas nos clusters de genes que
codificam para antibióticos poliéteres produzido por diversas linhagens de
Streptomyces). A caracterização funcional e estrutural dessas enzimas representa
um primeiro passo para a aplicação em síntese industrial. Como objetivos
específicos são propostos:
Expressão das epóxido-hidrolases de actinobactérias do gênero
Streptomyces;
Caracterização da atividade enzimática das enzimas purificadas.
16
3. Materiais e métodos
3.1. Analise in sílico das enzimas
As estruturas das enzimas estudadas foram modeladas pelo servidor I-
TASSER.53,54,55 Para o docking ligante-enzima utilizou-se o programa Vina56 e
foram selecionadas as estruturas das proteínas com maior pontuação ou C-score
gerada pelo I-TASSER. A visualização das diferentes moléculas foi realizada
através do PyMOL.57 Os alinhamentos das sequencias de aminoácidos foram
desenhados com auxílio do ClustalW.58 Os parâmetros como o ponto isoelétrico
(pI), coeficiente de estabilidade e massa das proteínas a foram obtidos com a
ferramenta ProtParam do ExPASy.59
3.2. Reagentes químicos
Foram utilizados solventes grau PA ou HPLC de acordo com o
procedimento seguido. As soluções foram preparadas com água ultrapura obtida
com o sistema Milli-Q produzido pela Millipore®. Reagentes químicos foram
adquiridos da empresa Sigma Aldrich.
3.3. Reagentes biológicos
Os antibióticos utilizados foram adquiridos da Sigma Aldrich e o isopropil-ß-
D-1-tiogalactopiranosídeo (IPTG) da Uniscience. As concentrações das soluções
estoque e de trabalho utilizadas estão descritas na Tabela 1. As soluções estoque
foram preparadas com Água Milli-Q ou solvente grau PA e esterilizadas através da
passagem por membrana filtrante 0,22 µm e armazenadas a -20 ºC.
53
Roy, A., Kucukural, A. and Zhang, Y. Nat. Protoc. 2010, 5, 725-738. 54
Roy, A., Yang, J. and Zhang, Y. Nucleic. Acids. Res. 2012, 40, W471-477. 55
Zhang, Y. BMC. Bioinformatics 2008, 9, 40. 56
Trott, O. and Olson, A. J. J. Comput. Chem. 2010, 31, 455-461. 57
The PyMOL Molecular Graphics System, Version 1.5.0.4 Schrödinger, LLC. 58
Larkin, M. A., Blackshields, G., Brown, N. P., Chenna, R., McGettigan, P. A., McWilliam, H., Valentin, F., Wallace, I. M., Wilm, A., Lopez, R., Thompson, J. D., Gibson, T. J. and Higgins, D. G. Bioinformatics 2007, 23, 2947-2948. 59
Gasteiger E., H. C., Gattiker A., Duvaud S., Wilkins M.R., Appel R.D., Bairoch A. Protein Identification and Analysis Tools on the ExPASy Server. In The Proteomics Protocols Handbook. 2005. 52. 571-607.
17
Tabela 1. Reagentes biológicos utilizados
Reagente Biológico Solvente Concentração
Estoque
Concentração
de trabalho
Canamicina Água 50 mg ml-1 50 µg ml-1
Ampicilina Água 50 mg ml-1 50 µg ml-1
Cloranfenicol Etanol 34 mg ml-1 34 µg ml-1
IPTG Água 1 mol L-1 400 µmol L-1
Meio de cultivo LB: Meio utilizado para reativação e crescimento de E. coli em
geral.
Triptona 10 g
Extrato de levedura 5 g
NaCl 10 g
Água MilliQ 1 L
Para meio sólido adicionou-se 20 g L-1 de ágar. Esterilizou-se em autoclave
a 120 °C durante 20 minutos.
3.4. Micro-organismos
As cepas de Escherichia coli utilizadas no estudo foram BL21(DE3),
BL21(DE3)pLysS, DH10B, Rosetta 2 e Rosetta (DE3).60,61
60
http://openwetware.org/wiki/E._coli_genotypes. Acessada em 12/2014 61
pET System Manual EMD Chemicals Inc. 2011
18
3.5. Vetores
Os vetores do sistemas pET foram utilizados nas etapas de clonagem,
transformação e expressão. Estes plasmídeos tem resistência a diversos
antibióticos e a expressão é controlada pelo promotor T7lac. A proteína heteróloga
foi expressa com uma cauda de histinas no C-terminal ou no N-terminal para
facilitar a etapa de purificação. Todas as construções contendo os plasmídeos
utilizados neste estudo foram realizadas pela Prof. Dra. Luciana Gonzaga de
Oliveira e pela Dra. Fanglu Huang do Departamento de Bioquímica da
Universidade de Cambridge, Reino Unido.
3.6. Soluções utilizadas
3.6.1. Soluções utilizadas para o preparo de células quimio e
eletrocompetentes
Tampão A 50 mM cloreto de cálcio, 10 mM acetato de potássio, pH 6,2:
Dissolveu-se 0,2778 g de cloreto de cálcio e 0,0496 g de acetato de potássio em
50 mL de água MilliQ. Ajustou-se o pH para 6,2 adicionando HCl 1 M ou NaOH 1
M. Filtrou-se a solução e reservou-se na geladeira até o uso.
Tampão B 50 mM cloreto de cálcio, 10 mM acetato de potássio, 20% de
glicerol, pH 6,2: Dissolveram-se 0,2778 g de cloreto de cálcio e 0,0496 g de
acetato de potássio em 25 mL de água MilliQ. Adicionou-se 10 mL de glicerol e
completou-se o volume para 50 mL com água. Ajustou-se o pH para 6,2
adicionando HCl 1 M ou NaOH 1 M. Filtrou-se a solução e reservou-se na
geladeira até o uso.
Glicerol 10%: Misturou-se 100 mL de glicerol com 900 mL de água Milli-Q.
Esterilizou-se por filtração.
3.6.2. Soluções utilizadas na purificação das proteínas
Tampões 20 mM fosfato de sódio, 500 mM cloreto de sódio e 20-500 mM
imidazol: Dissolveram-se 1,340 g de fosfato dissódico hepta-hidratado, 0,690 g de
19
fosfato monossódico mono-hidratado, 14, 61 g de cloreto de sódio e imidazol em
quantidade apropriada com a concentração da solução (Tabela 2) em 450 mL de
água Milli-Q. Ajustou-se o pH com HCl 1M e completou-se o volume para 500 mL
com água Milli-Q. Filtrou-se a solução.
Tabela 2. Composição em imidazol dos tampões fosfato de sódio 20 mM cloreto
de sódio 500 mM e imidazol 20-500 mM
Tampão Concentração de imidazol
no tampão (m mol-1)
Quantidade de fosfato de
imidazol (g)
1 10 0,34
2 20 0,68
3 30 1,00
4 40 1,35
5 50 1,70
6 60 2,05
7 70 2,40
8 80 2,70
9 90 3,05
10 100 3,40
11 200 6,80
12 300 10,20
13 500 17,68
Tampão C de dessalinização 50 mM de fosfato de sódio e 0,15 M de cloreto
de sódio, a diferentes pH: Dissolveu-se quantidades necessárias de fosfato
monossódico mono-hidratado e fosfato dissódico hepta-hidratado (Tabela 3) e
4,383 g de cloreto de sódio em 400 mL de água. Ajustou-se o pH adicionando HCl
20
1 M ou NaOH 1 M. Completou-se o volume para 500 mL com água. Filtrou-se a
solução.
Tabela 3. Quantidade de reagentes utilizados no preparo dos tampões fosfato de
sódio 50 mM cloreto de sódio 150 mM a diferentes pH
pH Quantidade de fosfato de
monossódico mono-hidratado (g)
Quantidade de fosfato de
dissódico hepta-hidratado (g)
5,0 3,4035 0,0900
6,0 3,0360 0,8045
7,0 1,4590 3,8665
7,2 1,0910 4,5815
7,4 0,7790 5,1870
8,0 0,2355 6,2425
Solução de albumina de soro bovino-BSA 2 mg mL-1 (ThermoScientific):
utilizou-se este padrão na quantificação da proteína total presente após a
purificação das enzimas estudadas.
Padrões de BSA: Diluiu-se uma solução de BSA 2 mg mL-1 até as
concentrações 1,250, 1,000, 0,750, 0,500, 0,250, 0,125 mg mL-1. Essas soluções
foram preparadas na realização da curva de calibração para a quantificação de
proteínas pelo método de Bradford.
3.6.3. Soluções utilizadas para preparo do gel SDS-PAGE
Tampão 1,5 mol L-1 Tris/HCl pH 8,8: Dissolveram-se 90,885 g de base
ultrapura Tris em 400 mL de água MilliQ. Ajustou-se pH a 8,8. Completou-se o
volume para 500 mL com água Milli-Q.
21
Tampão 0,5 mol L-1 Tris/HCl pH 6,8: Dissolveram-se 30,285 g de base
ultrapura Tris em 400 mL de água MilliQ. Ajustou-se o pH a 6,8. Completou-se o
volume para 500 mL com água Milli-Q.
Solução 20% dodecil sulfato de sódio (SDS): Dissolveram-se 10 g de SDS
em 50 mL de água Milli-Q levemente aquecida.
Solução 10% persulfato de amônio (APS): Dissolveram-se 0,2 g de APS em
água Milli-Q. Reservou-se em tubos de 1,5 mL cobertos com papel alumínio. As
soluções foram mantidas em geladeira.
Gel de corrida 12% de acrilamida/bis-acrilamida: Misturou-se 2,40 mL de
água Milli-Q, 1,82 mL de tampão 1,5 mol L-1 Tris/HCl pH 8,8, 75 µL de solução
10% SDS, 3,00 mL de solução 30% acrilamida/bis- acrilamida, 75 µL APS 10% e
7,5 µL de N,N,N′,N′-tetrametiletilenodiamina (TEMED).
Gel de concentração 4% acrilamia/bis-acrilamida: Misturou-se 2,98 mL de
água Milli-Q, 1,25 mL de tampão 0,5 mol L-1 Tris/HCl pH 6,8, 50 µL de solução
10% SDS, 0,67 mL de solução 30% acrilamida/bis-acrilamida, 50 µL solução 10%
APS e 5 µL de N,N,N′,N′-tetrametiletilenodiamina (TEMED).
Tampão de desnaturação das amostras LDS 5x: Dissolvou-se 1 g de SDS
em 3 mL de glicerol, 5 mL de solução tampão 0,5 mol L-1 Tris/HCl pH 6,8, 0,5 mL
de β-mercaptoetanol. Adicionaram-se alguns miligramas de azul de bromofenol
até alcançar uma coloração azul escura.
Tampão de corrida do gel: Dissolveram-se 3,0275 g de base ultrapura Tris,
14,40 g de glicina, 5 mL de solução 20% SDS em 1 L de água Milli-Q.
22
Soluções utilizadas na caracterização da atividade enzimática pelo teste de
adrenalina.
Solução periodato de sódio: Dissolveram-se 21,4 mg de periodato de sódio
(NaIO4) em 10 mL de água MilliQ. A solução foi preparada imediatamente antes
do uso.
Solução estoque de epóxido ou diol 100 mM: Dissolveram-se 0,5 mmol do
substrato ou diol desejado em 5 mL de acetonitrila (Tabela 4).
Tabela 4. Substratos usados no teste de adrenalina
Epóxido Estrutura Epóxido Estrutura
Butil glicidil éter
trans-2,3-
epoxibutano
(+)-trans-limoneno-
1,2-epóxido
cis-2,3-epoxibutano
Óxido de ciclopenteno
1,4-ciclo-
hexanodimetanol
éter diglicidílico
Óxido de cicloexeno
1,2-epoxioctano
Glicidil fenil éter
terc-butilglicidiléter
Óxido de estireno
Sal dissódico da
fosfomicina
exo-2,3-
epoxinorbornano
(+)-trans-1,2-
cicloexanodiol
23
Solução aquosa de sal de adrenalina 10 mmol L-1: Em um balão volumétrico
de 10 mL, adicionou-se 18 mg de L-adrenalina em 7 mL de água e 98 µL de HCl
37%. Após a dissolução do sal, completou-se o volume para 10 mL com água.
Solução estoque da enzima 1 mg ml-1: Dissolveram-se 2 mg da enzima
purificada em 2 mL do tampão C (50 mM de fosfato de sódio e 0,15 mol L-1 de
cloreto de sódio pH 7,0).
3.6.4. Soluções utilizadas nas medições dos parâmetros cinéticos e
enantiosseletividade das enzimas
Solução estoque 200 mmol L-1 de glicidil fenil éter em DMSO: Dissolveram-
se 2 mmol do glicidil fenil éter em 10 mL de DMSO.
Solução 0,05 mg mL-1 de benzofenona em acetato de etila: Dissolveram-se
0,5 mg de benzofenona em 100 mL de acetato de etila.
Soluções estoque 20 mmol L-1 de glicidil fenil éter, 0,05 mg mL-1 de
benzofenona em acetato de etila: Dissolveram-se 0,2 mmol de glicidil fenil éter em
10 mL da solução anterior. Diluições a concentrações 2, 4, 6, 8, 10, 15 e 20
mmmol L-1 de glicidil fenil éter foram preparadas a partir desta solução estoque.
3.7. Métodos
3.7.1. Extração de DNA plasmidial
A extração do DNA62 plasmidial foi efetuada com o kit QIAprep Spin
Miniprep (QIAGEN).
3.7.2. Manutenção microbiológica
Todas as linhagens de E.coli utilizadas foram incubadas a 37 ºC, durante 16
horas. Os cultivos em meio líquido foram realizados em erlenmeyers estéreis com
capacidade para 5 vezes o volume total do cultivo. No caso de linhagens ou
62
QIAprep Miniprep Handbook 2003.
24
vetores com resistência, foi adicionado o antibiótico correspondente na
concentração de trabalho.
As linhagens foram conservadas em placas de Petri contendo meio sólido
adicionado de antibiótico e seladas com parafilme a 4 ºC e em soluções estoque
de glicerol 20% a -80 ºC.
Todos os procedimentos foram realizados em fluxo unidimensional CFLV 12
(Grupo VECO).
3.7.3. Preparação de células quimicamente competentes
1. Preparou-se um pré-inoculo com 5 mL de meio LB adicionado com
antibiótico quando requerido e deixou-se em crescimento por 16 horas
a 37 °C sob agitação de 200 rpm.
2. Inoculou-se 1 mL do pré-inoculo em 50 mL de meio LB adicionado de
antibiótico quando requerido.
3. Cresceram-se as células a 37 °C e sob agitação de 150 rpm até A600nm
de 0,5 a 0,7.
4. Resfriaram-se as células no gelo. Nas próximas etapas, as células
foram mantidas o mais próximo possível de 0 °C e resfriaram-se todos
os recipientes aonde as células vieram a ser adicionadas. Transferiram-
se as células para um tubo de centrífuga resfriado e centrifugou-se a
1744 x g por 20 min a 4 °C.
5. Descartou-se completamente o sobrenadante.
6. As células foram ressupensas, gentilmente, em 50 mL do tampão A e
deixada em incubação por 1 h em gelo. Centrifugou-se a 2300 x g por
20 min a 4°C. Descartou-se completamente o sobrenadante.
7. As células foram ressuspensas em 3 mL de tampão B gelado.
25
8. Alíquotas de 100 µL da suspensão foram colocadas em tubos de 1,5
mL previamente esterilizados e armazenada à -80 °C.
3.7.4. Preparação de células eletrocompetentes
1. Preparou-se um pré inoculo com 5 mL de meio LB adicionado com
antibiótico quando requerido e deixou-se em crescimento por 16 horas
a 37 °C sob agitação de 200 rpm.
2. Inoculou-se 1 mL do pré inoculo em 50 mL de meio LB adicionado de
antibiótico quando requerido.
3. Cresceram-se as células a 37 °C e sob agitação de 150 rpm até A600nm
de 0,5 a 0,7.
4. Resfriaram-se as células no gelo por 20 min. Nas próximas etapas, as
células foram mantidas o mais próximo possível de 0 °C e resfriaram-se
todos os recipientes aonde as células vieram a ser adicionadas.
Transferiram-se as células para um tubo de centrífuga resfriado e
centrifugou-se a 2300 x g por 20 min a 4 °C.
5. Descartou-se completamente o sobrenadante.
6. Ressuspendeu-se o “pellet”, gentilmente, em 50 mL de glicerol 10%
gelado. Centrifugou-se a 2300 x g por 20 min a 4 ºC. Descartou-se
completamente o sobrenadante.
7. Ressuspendeu-se o “pellet” em 50 mL de glicerol 10% gelado.
Centrifugou-se nas mesmas condições que anteriormente. Descartou-
se completamente o sobrenadante.
8. Ressuspendeu-se o “pellet” em 20 mL de glicerol 10% gelado.
Centrifugou-se novamente e descartou-se completamente o
sobrenadante.
26
9. Ressuspendeu-se o pellet em um volume de 1 mL de glicerol 10%
gelado.
10. Esta suspensão foi alíquotada em tubos de 1,5 mL previamente
esterilizados e armazenada à -80 ºC.
3.7.5. Transformação química
1. Descongelou-se 1 vial contendo 100 µL de células quimicamente
competentes em gelo e adicionou-se 1 µ L do plasmídeo. Misturou-se
gentilmente e resfriou-se em gelo por 30 minutos.
2. Levou-se o tubo que contém as células a 42 °C por 55 segundos e
colocou-se novamente em gelo por 2 minutos.
3. Adicionou-se 500 µL de meio LB no tubo contendo às células e
incubou-se a 37 ºC por 1 h sob agitação.
4. Plaquearam-se alíquotas de 150 µL em meio LB sólido contendo o
antibiótico apropriado.
5. Incubaram-se as placas a 37 ºC por 16 h.
3.7.6. Eletrotransformação/Eletroporação
1. Descongelaram-se 40 µL de células electrocompetentes em gelo.
Adicionou-se 1 µ L do plasmideo às células e misturou-se gentilmente.
2. Transferiu-se para uma cubeta de eletroporação previamente
esterilizada e resfriada em gelo.
3. Secou-se a parte externa da cubeta e colocou-se no suporte do
electroporador.
4. Aplicou-se 1800 V.
27
5. Rapidamente, adicionou-se 500 µL de meio LB às células, transferiu-se
para um tubo 1,5 mL estéril e incubou-se por 1 h a 37 °C sob agitação.
6. Adicionaram-se alíquotas de 100 µL em placas de meio LB sólido
contendo o antibiótico apropriado.
7. Incubaram-se as placas a 37 ºC por 16 h.
3.7.7. Expressão de proteínas
1. Preparou-se um pré-inóculo com 25 mL do meio correspondente
adicionado com o antibiótico apropriado e deixou-se em crescimento
por 16 horas a 37 °C sob agitação de 200 rpm.
2. Inoculou-se 25 mL do pré-inóculo em 475 mL de meio LB adicionado
de antibiótico a 37 ° C e sob agitação a 120 rpm.
3. Cresceram-se as células até A600nm 0,7.
4. Adicionou-se a quantidade necessária de IPTG e incubou-se a por
16 horas.
5. Transferiu-se o inóculo a copos plásticos de centrífuga de 500 mL e
centrifugou-se a 3220 x g por 25 minutos.
6. Descartou-se o sobrenadante e ressuspendeu-se o “pellet” em 40 mL
de meio LB.
7. Transferiu-se a tubos de 50 mL e centrifugou-se a 3100 x g x 25 min.
Descartou-se o sobrenadante e o “pellet” foi armazenado a -80 ºC.
3.7.8. Eletroforese de proteínas
As análises da expressão e pureza das proteínas estudadas foram
realizados com o preparo de géis SDS-PAGE. Os géis foram preparados em
cassetes de plástico e corridos no sistema XCell SureLock, ambos da Invitrogen.
28
1. Misturaram-se em um tubo de centrífuga de 15 mL os reagentes
necessários para o preparo de gel de corrida e transferiu-se esta
mistura a um cassete de plástico. Deixou-se polimerizar por 20 minutos.
2. Misturaram-se os reagentes do preparo do gel de focalização,
transferiu-se a solução para o cassete e colocou-se um molde marcador
de poços. Aguardou-se 20 minutos até a polimerização da solução.
3. Adicionou-se 40 µL de cada amostra e 10 µL de 5x LDS tampão de
desnaturação em tubos de 0,5 mL. Deixou-se a 80ºC por 10 minutos.
4. O tampão de corrida e o cassete com o gel foram acondicionados na
cuba de eletroforese.
5. As amostras (12 µL) foram dispensadas nos poços do gel. Aplicou-se
uma voltagem de 200 V por 45 minutos.
6. Retirou-se o gel do cassete e lavou-se com água Milli-Q 3 vezes.
Descartou-se completamente a água Milli-Q.
7. Adicionou-se 20 mL de corante SimplyBlue Gel Staining Reagent e o
gel foi deixado corar sob agitação por 1 hora em plataforma agitadora.
8. Descartou-se o corante e lavou-se o gel com água Milli-Q deixando-se
em agitação por 4 horas.
3.7.9. Purificação de proteínas
A purificação das enzimas foi realizada com colunas de afinidade de Níquel
HisTrap FF crude 1 mL da GE HealthCare.
1. Descongelou-se o “pellet” resultante dos experimentos de expressão de
proteínas e resupendeu-se em 40 mL de tampão 1 de imidazol.
29
2. Sonicou-se a solução 7 vezes com potencia de 6 watts, em banho de
gelo por 30 segundos e intervalos de repouso de 1,5 minutos entre
cada pulso. A sonicação foi realizada no Sonic Dismembrator Model
100 da Fisher Scientific.
3. Centrifugou-se a solução a 3100 x g, 4 ºC por 20 minutos.
4. Transferiu-se o sobrenadante para um tubo de centrífuga.
5. Equilibrou-se a coluna de afinidade com 10 mL de tampão 2 de
imidazol. Imediatamente depois, passou-se 40 mL do lisado bacteriano
pela coluna. Reservou-se o sobrenadante não retido pela coluna para
análises posteriores.
6. Passaram-se 5 volumes de coluna dos tampões 2, 3, 4, 5, 12 e 13
através de coluna e recolheram-se as frações eluídas em tubos de 1,5
mL.
7. Realizou-se um gel SDS-PAGE com as frações recolhidas na etapa
anterior.
8. Juntaram-se as frações que apresentaram a banda da proteína alvo e
utilizou-se um tubo com filtro Amicon (Millipore) para a concentração e
dessalinização da proteína alvo. Centrifugou-se a 3200 x g, a 22 ºC por
20 minutos. Descartou-se o filtrado.
9. Adicionou-se 3,5 mL de tampão C ao tubo Amicon e centrifugou-se a
3200 x g, 22 ºC por 20 minutos. Descartou-se o filtrado.
10. Transferiu-se a solução retida pelo tubo de concentração a um tubo
de 1,5 mL.
11. Realizou-se um gel SDS-PAGE para verificar a presença da proteína
alvo.
30
3.7.10. Quantificação pelo método de Bradford63
Utilizou-se reagente de Bradford da Sigma Aldrich na quantificação das
proteínas purificadas. A concentração das proteínas também foi estimada com
medições no espectrofotômetro Biomate 3 da Thermo Scientific, utilizando cubetas
de quartzo.
1. Prepararam-se padrões com concentrações 125-1250 µg mL-1 de BSA.
2. Adicionou-se 5 µL das soluções padrão em uma microplaca de 96
poços de polipropileno. Para a medição do branco foram adicionados 5
µL de tampão C no poço G. As medições foram feitas em triplicata.
3. Prepararam-se diluições da amostra de proteína com o tampão C, com
concentrações aproximadas à dos padrões de BSA.
4. Adicionou-se 5 µL das amostras diluídas da proteínas em diferentes
poços da placa.
5. Adicionou-se 250 µL do reagente Bradford a cada poço onde foram
adicionadas diluições dos padrões ou das amostras.
6. Agitou-se a placa por 30 segundos na leitora marca Anthos Zenyth 200
rt (Biochrom) e incubou-se por 15 minutos a temperatura ambiente.
7. Após a incubação a absorbância foi medida a λ=595 nm.
8. Construiu-se uma curva padrão de absorbância vs concentração de
BSA.
9. Determinou-se a concentração das amostras de proteínas por
comparação a curva de calibração.
63
Bradford, M. M. Anal. Biochem. 1976, 72, 248-254.
31
3.7.11. Teste de adrenalina para epóxido-hidrolases
1. Preparou-se uma solução com 6,3 ml de tampão C e 900 µl da solução
de periodato de sódio. Adicionou-se 80 µl desta solução em cada poço
de uma microplaca de propileno (A) de 96 cavidades.
2. Adicionaram-se 10 µl da enzima a ser testada em cada poço. Para o
controle da hidrólise espontânea adicionou-se 10 µL do tampão no lugar
da enzima.
3. Adicionaram-se 10 µl do substrato correspondente nos poços da placa.
Como controle positivo foi adicionado 10 µL do diol 1,2-cicloexanodiol
no lugar do substrato.
4. Cobriu-se a microplaca A com uma película adesiva para vedação
térmica e deixou-se em incubação por 30 minutos.
5. Adicionaram-se 15 µl da solução de L-adrenalina em uma segunda
placa (B).
6. Transferiram-se 85 µl da solução que foi deixada em incubação na
microplaca A à placa B.
7. Levou-se a placa B imediatamente depois da transferência da solução
da placa A até a leitora de microplacas e mediu-se a absorbância a λ =
490 nm.
8. Cada enzima foi testada nas concentrações 1, 2,5, 5, 10, 15 e 20 µg
mL-1.
Tratamento dos dados obtidos
1. Substraiu-se a leitura da hidrólise espontânea de cada substrato das
leituras correspondentes à atividade de cada enzima com o substrato
correspondente.
2. Calculou-se a média de cada par de replicatas de leitura de atividade
para uma mesma concentração de enzima e substrato.
32
3. Converteram-se os valores obtidos a uma escala de intensidades de
cores, onde o menor valor é representado com a cor branca (valor do
controle negativo; reação de periodato de sódio e adrenalina) e o maior
valor correspondente à máxima atividade (controle positivo; reação do
1,2-cicloexano diol, periodato de sódio e adrenalina) é representado
com a cor preta.
3.7.12. Medições da influencia do pH e temperatura na atividade
das enzimas
Os efeitos da variação do pH e a temperatura na atividade EH foram
determinados utilizando o teste de adrenalina descrito acima através da variação
do pH de 5 a 9 (tampões fosfato de sódio 50 mmol L-1 a diferentes pH) e
temperatura de 25 para 60 ° C.
3.7.13. Medições do espectro de dicroísmo circular
As medições do espectro de dicroísmo circular foram feitas no equipamento
Jasco J-720 (Jasco ORD 306) dos Laboratórios Institucionais do Instituto de
Químcia. Utilizou-se uma cubeta de quartzo de 1 cm x 1 cm. As medições foram
realizadas em cumprimento de ondas entre 260 nm e 195 nm.
1. Adicionou-se 500 µL de tampão fosfato de sódio (20 mmol L-1, pH 7) e
realizou-se a medição do branco.
2. Descartou-se o tampão fosfato da cubeta e adicionou-se 500 µL de
solução 1 mg ml-1 das enzimas e realizou-se a medição.
3. Realizaram-se diluições das soluções das enzimas até conseguir uma
concentração de trabalho na qual a sinal obtido no equipamento não
estivesse saturado. Esta concentração de trabalho foi entre 100 e 500
µg ml-1.
33
4. Para a deconvolução dos dados utilizou-se o programa CDNN,64 que
gera as porcentagens de cada tipo de conformação na estrutura
secundária total.
64
Böhm, G., Muhr, R. and Jaenicke, R. Protein Eng., Des. Sel. 1992, 5, 191-195.
34
4. Resultados e Discussão
Micro-organismos do gênero Streptomyces estão entre os mais importantes
produtores de metabólitos com ampla aplicação farmacológica. Seus metabólitos
ditos “secundários” apresentam atividades antimicrobianas, antifúngica,
antiparasitária, antitumoral e agroquímica entre outras. O potencial enzimático em
Streptomyces é de grande interesse e vários autores têm empregado estes micro-
organismos em reações de biotransformação para a obtenção de compostos
provenientes da ação de mono-oxigenases,65 desidrogenases,66 entre outras.
Dentre o maquinário enzimático produzido por Streptomyces sp, as
epóxido-hidrolases se destacam por sua aplicação em biocatálise para a obtenção
de epóxidos e dióis enantiomericamente puros, que são compostos usados
extensivamente como intermediários para a síntese de compostos bioativos.26
Nesse capítulo serão apresentados os resultados de avaliação in vitro da atividade
enzimática de um grupo de epóxido-hidrolases anotadas dos genomas de várias
linhagens do gênero Streptomyces.
4.1. Enzima tipo α,β-hidrolase
4.1.1. Análise in sílico
A enzima B1EPH2 corresponde a uma α,β-epóxido hidrolase anotada do
genoma de Streptomyces sp. A modelagem da enzima pelo I-TASSER possibilitou
a previsão das estruturas secundárias e terciárias, os resíduos que formam o sítio
ativo, além da similaridade da enzima estudada com outras proteínas depositadas
no Banco de Dados de Proteínas (PDB).67
A enzima B1EPH2 tem uma massa molecular de 36,092 kDa. O ponto
isoelétrico (pI) é 5,10 e o índice de instabilidade é 34,13 o que indica que a
65
Molnar, I., Hill, D. S., Zirkle, R., Hammer, P. E., Gross, F., Buckel, T. G., Jungmann, V., Pachlatko, J. P. and Ligon, J. M. Appl. Environ. Microbiol. 2005, 71, 6977-6985. 66
Kasanah, N., Rao, K., Yousaf, M., Wedge, D. and Hamann, M. Tetrahedron Lett. 2003, 44, 1291-1293. 67
http://www.rcsb.org/pdb/home/home.do. Acessada em janeiro 2015.
35
proteína, de acordo com o algoritmo utilizado pela ferramenta ProtParam e que
considera valores menores a 40 como enzimas estáveis, é teoricamente estável
em um teste hipotético em tubo de ensaio.59
Simulações computacionais realizadas pelo servidor I-TASSER geraram
cinco possíveis estruturas tridimensionais (Figura 2). Os modelos obtidos possuem
um C-score ou pontuação que varia de -5 a 2, sendo que uma maior pontuação
indica uma melhor previsão estrutural. A estrutura secundária prevista para
B1EPH2 é formada por aproximadamente, 40% α-hélices, 9,3% folhas β e 44,6%
de estrutura randômica.
Nos modelos obtidos pelo I-TASSER observou-se a tríade catalítica
formada pelos resíduos de aspartato D114 e D281 e histidina H312. Segundo o
mecanismo proposto para enzimas α,β-EH, os resíduos de tirosina Y163 e Y251
próximos ao sítio catalítico ativam o anel oxirano para que ocorra o ataque
nucleofílico por parte dos resíduos de ácido aspártico (Figura 3). Os cinco modelos
estruturais mais próximos a B1EPH2 correspondem a epóxido hidrolases isoladas
de diferentes organismos, sendo a EH I de Solanum tuberosum 2CJP a que
apresenta maior homologia estrutural. A Tabela 5 apresenta a previsão das cinco
enzimas com maior similaridade estrutural com B1EPH2 e o número de
classificação enzimático (E.C.) para todas elas.
Tabela 5. Proteínas análogas a B1EPH2 depositadas no PDB
Enzimas análogas a B1EPH2 Número PDB Número E.C
EH I de Solanum tuberosum 2CJP 3.3.2.3
EH de Mus musculus 1CQZ 3.3.2.3
EH solúvel de Homo sapiens 1ZD3 3.3.2.10
EH de Mycobacterium tuberculosis 2ZJF 3.3.2.3
EH solúvel de Homo sapiens 1VJ5 3.3.2.10
36
Modelo 1= 1,22
Modelo 2= -3,86 Modelo 3: -4,59
Modelo 4= -5,00 Modelo 5= -5,00
Figura 2. Modelos tridimensionais obtidos para a enzima B1EPH2 pelo servidor I-
TASSER.
37
Figura 3. Detalhe do modelo tridimensional da enzima B1EPH2 destacando os
resíduos D114 (em azul), D281 (em verde) e H312 (em rosa) que compõem a
tríade catalítica junto aos resíduos de Y163 e Y251 (em vermelho) que ativam o
anel oxirano.
Apesar de B1EPH2 ser uma enzima de micro-organismo a previsão é que
esta seja análoga à EH de plantas (2CPJ de batata) e de mamíferos (1CQZ de
rato e 1ZD3 de humanos). Esta semelhança é muito interessante e pode resultar
em características na aceitação dos substratos para B1EPH2.
Estudos comparando as estruturas de epóxido hidrolases de micro-
organismo (Aspergillus niger), plantas (Solanarum tuberosum) e mamíferos (Mus
musculus e Homo sapiens sapiens) demonstraram que existe uma correlação
entre o tamanho de dois loops presentes nestas enzimas e a especificidade por
substratos. Nos casos da EH de S. tuberosum estes loops são formados por mais
de 24 resíduos de aminoácidos e contêm uma α-hélice que é determinante na
Y163 Y251
D281
H312 D114
38
flexibilidade da cavidade do sítio ativo o que é concordante com a preferência
desta enzima por substratos volumosos como os epóxidos de ácidos graxos. Nas
EH de mamíferos pode ser verificado um comportamento similar com dois loops
formados por 23 e 35 resíduos. A ausência destes loops nas estruturas das EH de
micro-organismos como Aspergillus niger estaria de acordo com a maior atividade
destas enzimas frente a epóxidos monosubstituidos.68,69
De acordo com as informações descritas anteriormente, é possível prever
uma flexibilidade na cavidade catalítica de B1EPH2 que daria a esta enzima a
capacidade de aceitar ligantes de grande volume embora seja uma EH bacteriana.
Os epóxidos glicidil fenil éter e 1,2-epoxioctano foram selecionados como
ligantes para realizar modelagens in sílico de interação substrato-enzima. O
modelo tridimensional com o maior C-score obtido pelo I-TASSER para a enzima
B1EPH2 foi utilizado para realizar o docking dos ligantes através do programa
Vina.56 Para o glicidil fenil éter a previsão do distanciamento entre as tirosinas e o
oxigênio do anel oxirano é 1,9 e 3,2 Å para as tirosinas Y163 e Y251
respectivamente (Figura 4). Já o distanciamento entre o resíduo de aspartato
D114, previsto em realizar o ataque nucleofílico, é de 3,2 e 4,7 Å para o carbono
menos e mais substituído do anel oxirano do substrato. Distanciamentos similares
são observados no modelo de interação da enzima com o substrato 1,2-
epoxioctano (Figura 5). Como a distância mais curta para o ataque nucleofílico
sobre o epóxido é com relação ao carbono menos substituído nos dois casos,
possivelmente na reação de hidrólise ocorrerá à formação diol com retenção da
configuração.
68
Mowbray, S. L., Elfstrom, L. T., Ahlgren, K. M., Andersson, C. E. and Widersten, M. Protein. Sci. 2006, 15, 1628-1637. 69
Barth, S., Fischer, M., Schmid, R. D. and Pleiss, J. Proteins 2004, 55, 846-855.
39
Figura 4. Modelagem da interação entre o substrato glicidil fenil éter e a enzima
B1EPH2.
Figura 5. Modelagem da interação entre o substrato 1,2-epóxioctano e a enzima
B1EPH2.
Y163
Y251
D281
H312
D114
Ligante
Y163 Y251
D114 D281
H312
40
4.1.2. Expressão e purificação de proteínas
Para a expressão dos genes que codificam para as enzimas estudadas foi
realizado um monitoramento de diferentes condições visando a obtenção de cada
uma em quantidade adequada para acessar a atividade. Testaram-se diferentes
temperaturas, velocidade de agitação, tempo de finalização do processo,
quantidade de IPTG adicionado e tipo de frasco Erlenmeyer usado no
procedimento de expressão. Optou-se pela adoção de um mesmo protocolo de
expressão para todas as enzimas estudadas: crescimento a 37 ºC, indução com
IPTG e agitação por 16 horas.
Para a purificação das proteínas, aproveitou-se vantagem da presença da
cauda de histidina na clonagem do gene. Utilizou-se a técnica de cromatografia
por afinidade com coluna contendo uma fase estacionaria constituída de uma
matriz de agarose com uma baixa concentração de íons Ni2+. A cauda de histidina
aumenta a afinidade da proteína pelo Ni2+ fazendo com que aquelas que
possuem a marca de histidina se liguem mais fortemente que as outras proteínas
presentes no lisado. Um aumento gradual na concentração de imidazol de 10 mM
até 500 mM promove a eluição das outras proteínas presentes no lisado que são
pouco retidas na coluna e finalmente da proteína alvo.
A etapa seguinte envolveu a concentração e dessalinização através de
colunas de troca de tampão ou filtros de centrifugas. Na Figura 6 apresenta-se um
gel SDS-PAGE com as frações eluídas utilizando-se tampões com diferentes
concentrações de imidazol na purificação por coluna de afinidade da enzima
B1EPH2.
41
Figura 6. Gel SDS-PAGE apresentando as bandas correspondentes às frações
eluídas a distintas concentrações de imidazol no processo de purificação da
enzima B1EPH2 através da coluna de afinidade de níquel (coluna 1 (lisado);
colunas 2-13 4 (diferentes frações eluídas com o gradiente de tampões fosfato de
sódio pH 7,4 contendo 20-500 mmol L-1 imidazol); coluna 15 marcador
ColorBurst™ Electrophoresis Marker).
4.1.3. Caracterização de enzimas: espectro de dicroísmo circular
(DC)
As medições do espectro de dicroísmo circular são de grande importância
para a caracterização de proteínas, uma vez que as informações obtidas permitem
prever suas estruturas secundárias.70 As medições de dicroísmo circular foram
realizadas em cumprimento de ondas entre 260 nm e 195 nm. Realizaram-se
diluições das soluções das enzimas até conseguir uma concentração de trabalho
na qual o sinal obtido no equipamento não estivesse saturado. O programa
CDNN64 gerou as porcentagens de cada tipo de conformação na estrutura
secundária total. O programa CDNN faz a diferenciação entre α-hélice, o tipo de
70
Kelly, S. M., Jess, T. J. and Price, N. C. Biochim. Biophys. Acta 2005, 1751, 119-139.
100 kDa
60
45
30
20
12
8
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15
42
folhas β (paralelas e antiparalelas) e as estruturas do tipo randômicas dobras β e
estruturas randômicas.
As medições para a enzima B1EPH2 foram realizadas empregando uma
concentração de 125 µg ml-1. A curva da figura 7 apresenta os dados corrigidos de
elipticidade molar θ (graus. cm2 dmol-1) em função do cumprimento de onda para a
concentração indicada de enzima. A correção foi feita subtraindo-se o valor das
medições da solução tampão sem enzima.
190 200 210 220 230 240 250 260
-2000
-1000
0
1000
2000
3000
4000
5000
[] (g
rau
s.c
m2.d
mo
l-1)
Comprimento de onda (nm)
Figura 7. Medições do espectro DC da enzima B1EPH2. Dados corrigidos de
elipticidade molar θ (graus. cm2 dmol-1) em função do cumprimento de onda para
uma concentração de 125 µg ml-1.
Várias medições do espectro de dicroísmo circular foram realizadas com o
tampão utilizado nos ensaios enzimáticos (50 mM de fosfato de sódio e 150 mM
de cloreto de sódio), entretanto observou-se que as voltagens geradas eram muito
altas, levando a saturação do sinal e podendo resultar em danos ao
fotomultiplicador do equipamento. Novos testes com tampão fosfato de sódio com
concentrações entre 20 e 50 mmol L-1 e com e sem adição de cloreto de sódio
43
permitiu abranger a faixa do espectro entre 195-260 nm. As medições foram então
realizadas em tampão fosfato de sódio 20 mmol L-1 sem adição de cloreto de
sódio.
Tabela 6. Contribuições participantes na estrutura secundária da enzima B1EPH2
Estrutura secundária B1EPH2
α-hélices 41,0 %
Folhas β paralelas 6,3 %
Folhas β antiparalelas 7,1 %
Dobras β 15,4 %
Randômica 28,7 %
Uma comparação dos dados gerados após deconvolução das medições do
espectro de dicroísmo circular da enzima B1EPH2 e aqueles previstos pelo
servidor I-TASSER evidencia que as diferenças entre as duas previsões não é
maior que 5% para nenhum tipo de conformação da estrutura secundária, sendo
que a maior discrepância é visualizada para folhas β enquanto as α-hélices e
conformações randômicas apresentam valores similares (Tabela 7).
Tabela 7. Comparação dos dados da estrutura secundária de B1EPH2 gerados
com o programa CDNN para as medições de dicroísmo circular e a estrutura
prevista pelo servidor I-TASSER
Tipo de estrutura B1EPH2 medições
CD
B1EPH2 previsão
I-TASSER
α-hélices 41,0 % 40,0 %
Folhas β 13,4 % 9,3 %
Randômica 44,1 % 44,6 %
44
4.1.4. Determinação da atividade enzimática pelo teste de
adrenalina
Após obtenção da proteína purificada, escolheu-se como método de
caracterização funcional da atividade como epóxido-hidrolase o teste de
adrenalina. O teste de adrenalina para enzimas é um ensaio colorimétrico
baseado na quantificação de produtos da reação que sejam sensíveis ao
periodato, tais como 1,2-dióis. O periodato remanescente é retro-titulado com L-
adrenalina, originando um adrenocromo de cor vermelha facilmente detectável a
490 nm.71 Caso ocorra a hidrólise enzimática, os dióis vicinais resultantes
consomem o periodato. Nesse caso a formação do adrenocromo (adrenalina +
periodato) não é possível, ficando a solução incolor. No caso oposto, quando o
resultado do teste é negativo, ocorre a reação completa entre o periodato e a L-
adrenalina, formando o adrenocromo de coloração vermelha.
Esquema 11. Teste de adrenalina para epóxido hidrolases (esquema adaptado da
referência 71).
71
Fluxa, V. S., Wahler, D. and Reymond, J. L. Nat. Protoc. 2008, 3, 1270-1277.
λ
45
O estudo foi realizado para um grupo de 12 substratos de forma a verificar
se B1EPH2 apresenta atividade de EH. Adotando-se epóxidos com diferentes
características estruturais é também possível verificar a abrangência dos
substratos hidrolisados pela enzima. No ensaio utilizou-se como controle positivo o
trans-1,2-ciclohexanodiol. O controle negativo corresponde à reação do periodato
de sódio com L-adrenalina na ausência de enzima e substrato. A hidrólise
espontânea do substrato também foi medida como parte do teste e subtraída dos
dados da hidrólise promovida pela enzima. Para a B1EPH2 foram ensaiadas as
concentrações 1, 2,5, 5, 10, 15 e 20 µg ml-1 de enzima frente aos 12 substratos
selecionados, totalizando 228 medições da atividade enzimática, quantidade de
ensaios que foi possível alcançar devido à realização em formato miniaturizado,
utilizando microplacas de 96 poços. Os dados obtidos foram convertidos para
escala de cinzas com o auxílio de uma ferramenta computacional, com o branco
atribuído a 0% de atividade e preto a 100% de atividade. A escala de cinzas
representa o percentual de redução nos valores de absorbância a 490 nm.
A enzima B1EPH2 apresentou atividade de EH a partir da concentração 2,5
µg ml-1. Na escala de cinzas foi observado que um aumento na concentração da
enzima promove o aumento diretamente proporcional na atividade frente a todos
os substratos ensaiados (Figura 8).
46
Figura 8. Foto da placa com o teste de adrenalina para a enzima B1EPH2
(superior) e escala de cinza correspondente (inferior).
Os resultados obtidos após a realização do teste de adrenalina mostram
que a enzima B1EPH2 promove a hidrólise de todos os substratos que foram
testados. Porém, apresenta maior aceitação por substratos específicos. A enzima
apresenta maior aceitação pelos butil glicidil éter e glicidil fenil éter onde a
hidrólise é promovida de forma mais eficiente. A preferência da enzima B1EPH2
pode ser explicada em função do impedimento estéreo dos epóxidos para os quais
apresenta menor aceitação, o que possivelmente dificulta um posicionamento
efetivo na cavidade do sítio ativo. Este fato estaria de acordo também com a
preferência prevista da enzima a epóxidos terminais para os quais a interação com
os resíduos catalíticos aparentemente é mais eficiente.
Controle positivo Enzima conc. 5 µg ml-¹ Enzima conc. 2,5 µg ml-¹ Hidrólise espontânea Controle negativo
47
4.1.5. Medida da influência do pH e temperatura na atividade
enzimática
A influência do pH na atividade enzimática para a enzima B1EPH2 foi
avaliada pelo teste de adrenalina usando como substrato o epóxido glicidil fenil
éter. O pH das soluções tampão variaram entre 5,0 e 9,0 e as temperaturas entre
25 e 60 °C. Os valores foram expressos em função da porcentagem da atividade
relativa. As curvas representando a atividade relativa da enzima a diferentes pH
em função da temperatura estão apresentadas nas Figuras 9 e 10. Estas curvas
foram realizadas seguindo o protocolo de Fluxa et al71 introduzindo-se uma
variável adicional: utilizou-se acetonitrila (ACN) e também dimetilsulfóxido (DMSO)
no preparo das soluções de epóxido para efeito de comparação da influência do
solvente.
Figura 9. Atividade relativa (%) da enzima B1EPH2 em função da variação de pH
e de temperatura em DMSO.
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
5 6 7 8 9
Ati
vid
ade
Re
lati
va (
%)
pH
Atividade Relativa de B1EPH2 em DMSO
25 °C
30 °C
37 °C
45 °C
50 °C
55 °C
60 °C
48
Figura 10. Atividade relativa (%) da enzima B1EPH2 em função da variação de pH
e temperatura em ACN.
Quando usado DMSO como solvente (Figura 9), o melhor desempenho
catalítico para B1EPH2 foi alcançado a uma temperatura de 45 °C e pH 6,0. Em
todas as temperaturas testadas a atividade relativa de B1EPH2 é maior em pH 6,0
sendo que para as temperaturas de 25 a 45 °C neste pH a atividade é superior a
70%. Para pH superiores a 6 observa-se uma diminuição da atividade até valores
próximos a 30%. Uma análise análoga para os dados das atividades relativas
quando ACN foi utilizada como solvente (Figura 10) permite observar uma
tendência muito similar de atividade em todas as temperaturas e pH testados.
Pode-se verificar uma maior atividade a pH 5 que mantém-se sem muita variação
até pH 9,0, onde é visualizado novamente um leve aumento. A maior atividade
para a enzima em ACN foi observada à temperatura de 25 °C não sendo possível
atribuir uma preferência por algum pH devido à pouca mudança nas porcentagens
de atividade enzimática.
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
5 6 7 8 9
Ati
vid
ade
Re
lati
va (
%)
pH
Atividade Relativa de B1EPH2 em ACN
25 °C
30 °C
37 °C
45 °C
50 °C
55 °C
60 °C
49
Uma comparação entre a atividade enzimática a 30 °C quando usados os
solventes ACN e DMSO pode ser visualizada na Figura 11. Na curva é evidente
que a enzima promove de forma mais efetiva a hidrólise quando utiliza-se DMSO
como solvente, alcançando um desempenho relativo entre o 70-100% para os pHs
5, 6 e 7. Já quando ACN é utilizada como solvente observa-se uma atividade
modesta alcançando um máximo de 30% no pH 9. Estes dados com poucas
variações para as medições realizadas em ACN sugerem que os efeitos do pH e a
temperatura nesse solvente estão em segundo plano e o fator dominante na perda
da atividade enzimática seria o uso de ACN como solvente inibindo a catálise
promovida por B1EPH2.
Figura 11. Comparação das atividades relativas (%) da enzima B1EPH2 em ACN
e DMSO.
Uma curva apresentando as variações da atividade relativa para B1EPH2 a
diferentes temperaturas (Figura 12) permite visualizar que a enzima apresenta um
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
5 6 7 8 9
Ati
vid
ade
Re
lati
va (
%)
pH
Atividade Relativa de B1EPH2 em ACN e DMSO a 30 °C
ACN
DMSO
50
ótimo de atividade a 45 °C. Em temperaturas superiores a 50 °C a atividade da
enzima diminui gradualmente, atingindo 50% de atividade relativa nessa
temperatura até valores próximos a 0% a temperaturas de 55 e 60 °C. Não foi
possível testar temperaturas superiores devido às limitantes próprias do protocolo
utilizado, que incluíam entre outros fatores a impossibilidade de incubar de forma
adequada, pelos 30 minutos requeridos para o teste, as placas em temperaturas
superiores a 60 °C.
A termoestabilidade é uma medida da atividade residual da enzima quando
submetida a temperaturas elevadas. T50 corresponde à temperatura requerida
para reduzir em 50% a atividade enzimática inicial em um determinado período de
tempo, sendo este valor próximo à temperatura de desnaturação da enzima.72
Pelo gráfico é possível determinar que o é 50 °C.
Figura 12. Atividade relativa (%) da enzima B1EPH2 em DMSO nas diferentes
temperaturas testadas.
72
Reetz, M. T., Carballeira, J. D. and Vogel, A. Angew. Chem. Int. Ed. Engl. 2006, 45, 7745-7751.
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
25 30 35 40 45 50 55 60
Ati
vid
ade
re
lati
va (
%)
temperatura (°C)
Termoestabilidade de B1EPH2
DMSO
51
4.2. Enzimas B
4.2.1. Analises in sílico
As enzimas B NanI, TsnB, TmnB, LasB, SalBI, SalBII, SalBIII e NigBI
anotadas dos clusters de genes que codificam para a biossíntese dos poliéteres
ionóforos nanchangmicina, tetronasina, tetronomicina, lasalocida, salinomicina e
nigericina de Streptomyces foram modeladas in sílico utilizando-se as mesmas
ferramentas empregadas para a análise de B1EPH2, pelo servidor I-TASSER
obtive-se a previsão das estruturas secundárias e terciárias, os resíduos que
formam o sítio ativo e as enzimas análogas depositadas no Banco de Dados de
Proteínas (PDB). A ferramenta ProtParam foi utilizada para o calculo dos
parâmetros ponto isoelétrico e massa das proteínas, uma compilação destes
dados obtidos pode ser observada na Tabela 8. Nas Figuras 13, 14 e 15 são
apresentadas as estruturas tridimensionais com maior C-score para cada uma das
enzimas estudadas obtidas pelo I-TASSER.
52
Tabela 8. Parâmetros de ponto isoelétrico (pI), coeficiente de instabilidade e
massa molecular das enzimas B calculadas com a ferramenta ProtParam do
ExPASy
Enzima pI Massa da proteína
(kDa) Índice de estabilidade
NigBI 4,82 15,793 44,49
Instável
TmnB 6,05 15,348 29,52
Estável
TsnB 5,15 14,816 27,58
Estável
LasB 5,53 30,249 39,07
Estável
NanI 5,15 34,405 36,15
Estável
SalBI 5,75 16,641 22,62
Estável
SalBII 4,93 16,126 25,18
Estável
SalBIII 4,66 14,205 25,69
Estável
53
Figura 13. Modelos tridimensionais com maior C-score obtidos para as enzimas a)
NigBI, b) TsnB e c) TmnB pelo I-TASSER.
a)
b)
b)
b)
c)
b)
54
Figura 14. Modelos tridimensionais com maior C-score obtidos para a) LasB e b)
NanI destacando as α-hélices (em azul), as folhas β (em vermelho) e a estrutura
randômica (em roxo).
b)
b)
a)
b)
55
Figura 15. Modelos tridimensionais com maior C-score obtidos para as enzimas a)
SalBI, b) SalBII e c) SalBIII pelo I-TASSER.
b)
b)
c)
b)
a)
b)
56
Apesar do servidor I-TASSER classificar várias das enzimas B como
análogas a delta cetoesteróide isomerases (Tabela 9), é sabido de estudos
realizados anteriormente que estas enzimas apresentam alta correlação estrutural
á LEH.52 Esta previsão é apresentada na lista do I-TASSER, que indica homologia
de TmnB à LEH de Mycobacterium tuberculosis.
Tabela 9. Previsão das proteínas análogas a TmnB (I-TASSER)
A partir do alinhamento das enzimas B com a utilização do programa
ClustalW é possível identificar vários resíduos de aminoácidos em posições
conservadas que podem fazer parte do sítio ativo (Figura 16). Entre estes resíduos
destacam-se o D38 e E65 já descritos na literatura.48 Como participantes na
atividade catalítica de outras enzimas B como a MonBI e MonBII participantes da
biossíntese da monensina.
Enzimas análogas a TmnB Número
PDB Número E.C
Delta cetoesteróide isomerase de
Pseudomonas testosteroni 8CHO 5.3.3.1
Delta cetoesteróide isomerase de
Comamonas testosteroni 1BUQ 5.3.3.1
Delta cetoesteróide isomerase de
Pseudomonas putida 1E3V 5.3.3.1
Proteína quinase dependente de
calcio/calmodulin de Homo sapiens 1FWX 2.7.11.17
Epóxido-hidrolase análoga a LEH de
Mycobacterium tuberculosis 2BNG 3.3.2.8
57
Figura 16. Alinhamento das enzimas B que mostram vários resíduos conservados
que podem contribuir para a atividade enzimática.
As enzimas de tipo LEH possuem tamanho aproximado de 17 kDa. Ao
realizar uma superposição das enzimas NigBI e LEH de Rhodococcus erytropolis
observa-se que estas apresentam grande semelhança estrutural (Figura 17). No
entanto, a enzima LasB e NanI, ainda sendo identificadas como análogas a LEH
tem o tamanho de aproximadamente 30 kDa. Nas estruturas tridimensionais
destas duas enzimas observa-se que as mesmas parecem heterodímeros
formados pela união de duas subunidades de tamanhos menores. Uma
superposição dos modelos das estruturas terciárias das enzimas NanI e LasB à
enzima NigBI como apresentado na Figura 18 e 19, permite observar como a
enzima NigBI de 15 kDa (em rosa) se sobrepõe a metade da estrutura da enzima
LasB e NanI de 30 kDa (em azul e verde respectivamente). LasB e Nan I
58
apresentam uma estrutura possivelmente formada por duas unidades de enzimas
B análogas a LEH.
Figura 17. Superposição gerada no programa PyMol dos modelos das enzimas
NigBI (rosa) e LEH 1NWW (verde) gerados pelo servidor I-TASSER.
Figura 18. Superposição gerada no programa PyMol dos modelos das enzimas
NigBI (rosa) e LasB (azul) gerados pelo servidor I-TASSER.
59
Figura 19. Superposição gerada no programa PyMol dos modelos das enzimas
NigBI (rosa) e NanI (verde) gerados pelo servidor I-TASSER.
4.2.2. Expressão e purificação das enzimas B
Os genes que codificam para as enzimas B foram clonados e os
plasmídeos resultantes transformados em E. coli para expressão. As clonagens
incorporam marcadores hexa-His-Tag no C- ou N-terminal. Para as enzimas B foi
necessário otimizar os procedimentos nas etapas de expressão e purificação das
enzimas, testando diversas condições como temperaturas, velocidade de
agitação, tempo de finalização do processo, quantidade de IPTG adicionado e tipo
de frasco Erlenmeyer usado no procedimento de expressão. Finalmente, adotou-
se o mesmo protocolo de expressão e purificação seguido para a enzima
B1EPH2: crescimento a 37 ºC, indução com IPTG e agitação por 16 horas. Para a
purificação das proteínas, utilizaram-se colunas contendo uma fase estacionaria
com uma baixa concentração de íons Ni2+ e soluções com diferente concentração
de imidazol para promover a eluição das proteínas alvo, seguida da concentração
e dessalinização usando colunas de troca de tampão ou filtros de centrifugas. As
60
Figuras 20, 21, 22 e 23 correspondem aos géis SDS-PAGE realizados nas
diferentes etapas de purificação dessas enzimas.
Figura 20. Gel SDS-PAGE apresentando as bandas correspondentes às frações
eluídas a distintas concentrações de imidazol no processo de purificação da
enzima NigBI (tamanho 15,8 kDa) por coluna de afinidade de níquel (coluna 1
(lisado); colunas 2-8 (frações eluídas com tampão 20 mmol L-1 fosfato de sódio, e
gradiente de 20-500 mmol L-1 imidazol, pH 7,4); colunas 9-14 (frações
concentradas e dessalinizadas com tampão 50 mmol L-1 fosfato de sódio, 150 mM
cloreto de sódio, pH 7); coluna 15 marcador Precision Plus Protein™ Dual Color
Standards (BIO-RAD).
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15
61
Figura 21. Gel SDS-PAGE mostrando as bandas correspondentes a NanI
(colunas 1, 2 e 3; tamanho 34,4 kDa). NigBI (colunas 4, 5 e 6; tamanho 15,8 kDa;
marcador Precision Plus Protein™ Dual Color Standards da BIO-RAD (coluna 7).
B1EPH2 (colunas 8, 9, 10 e 11; tamanho 37,0 kDa); TsnB (colunas 12, 13 e 14;
tamanho 14,8 kDa). Todas as enzimas foram purificada parcialmente por coluna
de afinidade e concentradas com coluna de dessalinização.
Figura 22. Gel SDS-PAGE mostrando as bandas correspondentes a TmnB
(Colunas 1 e 2: lisado, Colunas 4, 5, 6, 7 e 8 purificação parcial por coluna de
afinidade e Colunas 9, 10, 11, 12 e 13 frações eluídas no processo de
concentração da proteína com coluna de dessalinização). Marcador Precision Plus
Protein™ Dual Color Standards (BIO-RAD).
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14
62
Figura 23. Gel SDS-PAGE mostrando as bandas correspondentes a SalBI
(colunas 1 e 2: lisado, colunas 3 e 4 proteína purificada coluna de afinidade),
SalBIII (coluna 5: purificação parcial por coluna de afinidade) e SalBII (coluna 6:
lisado, colunas 7, 8 e 9: purificação parcial por coluna de afinidade) e B1EPH2
(colunas 10, 11, 12, 13 e 14 frações eluídas a diferentes concentrações de
imidazol pela coluna de afinidade). Marcador Novex® Sharp Pre-Stained Protein
Standard (Invitrogen).
As enzimas SalBI e SalBII foram previstas como estáveis pelos dados de
análise “in silico”. Entretanto, apesar de ser possível afirmar a expressão dessas
enzimas pelo gel de SDS-PAGE, observou-se a degradação de ambas as enzimas
48 horas após a purificação. De acordo com as simulações estruturais feitas pelo
servidor I-TASSER, supõe-se que estas duas enzimas possam fazer parte de um
heterodímero não ligado, similar a LasB, o que conferiria estabilidade a ambas
estruturas. Devido à instabilidade de SalBI e SalBII não foi possível dar
continuidade às etapas de caracterização funcional dessas enzimas como epóxido
hidrolases. A etapas posteriores do estudo envolvendo experimentos de
caracterização da atividade como EH das enzimas B foram conduzidas para as
enzimas SalBIII, NigBI, TsnB, TmnB, LasB e NanI.
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15
63
4.2.3. Espectro de dicroísmo circular (DC)
Realizaram-se medições de dicroísmo circular para as enzimas NigBI e
LasB. Foram seguidas as mesmas condições e soluções de trabalho
anteriormente descritas para as medições do DC da enzima B1EPH2. Mediu-se a
enzima NigBI em uma concentração de 300 µg ml-1 entre as faixas 200 nm a 260
nm e LasB a 250 µg ml-1 na faixa 195 nm a 260 nm. Nas Figuras 24 e 25
observam-se as curvas que relacionam a elipticidade molar θ (graus. cm2. dmol-1)
ao cumprimento de onda, obtidas com os dados adquiridos. Na Tabela 10 estão
apresentadas as composições da estrutura secundária para cada enzima,
calculadas com o programa CDNN.
190 200 210 220 230 240 250 260
-25000
-20000
-15000
-10000
-5000
0
5000
[](
gra
us.c
m2.d
mo
l-1)
Comprimento de onda (nm)
Figura 24. Medições do espectro DC para a enzima NigBI. Dados corrigidos de
elipticidade molar θ (graus. cm2. dmol-1) em função do cumprimento de onda (200
a 260 nm) para uma concentração de 300 µg ml-1.
64
190 200 210 220 230 240 250 260
-6000
-4000
-2000
0
2000
4000
6000
8000
[](
gra
us.c
m2.d
mo
l-1)
Comprimento de onda (nm)
Figura 25. Medições do espectro DC para a enzima LasB. Dados corrigidos de
elipticidade molar θ (graus. cm2. dmol-1) em função do cumprimento de onda (195
a 260 nm) para uma concentração de 250 µg ml-1 da enzima.
Tabela 10. Contribuições participantes nas estruturas secundárias das enzimas
NigBI e LasB*
*
*Dados gerados após a deconvolução das medições do espectro de DC.
Os dados para comparação entre as contribuições participantes da
estrutura secundária obtidos por DC com aqueles gerados pelo I-TASSER
apresentam-se na Tabela 11. Para as duas enzimas observa-se precisão entre as
NigBI LasB
α hélices 31,0 % 25,4 %
Folhas β paralelas 8,9 % 9,9 %
Folhas β antiparalelas 9,3 % 11,8 %
Dobras β 17,3 % 18,1 %
Randômica 34,7 % 39,9 %
65
percentagens de α-hélices, enquanto para as folhas β e estruturas randômicas
tem-se uma diferenciação maior na comparação destes valores. Em geral, é
recomendado que as aquisições de DC para previsão da estrutura secundária de
enzimas sejam realizadas entre os 180 nm e 260 nm.73 As estruturas do tipo α-
hélices podem ser reconhecidas usando como limite inferior de medição qualquer
cumprimento de onda entre 180 e 210 nm. Já as folhas β, precisam de
cumprimentos de ondas menores que 190 ou 185 nm para serem determinadas
com exatidão. Este fator pode explicar as diferenças observadas nos dados
comparativos das folhas β das estruturas secundárias obtidas pelo CDNN e a
previsão das mesmas pelo servidor I-TASSER.
Essa limitação também origina outro erro perceptível na deconvolução dos
dados de medições feitas em cumprimentos de ondas acima de 185 nm: nesse
caso observa-se uma somatória superior a 100% para as percentagens de cada
tipo de estrutura. 73
Tabela 11. Comparação da estrutura secundária gerada com medições do
espectro DC e a estrutura prevista pelo servidor I-TASSER
Tipo de
estrutura
NigBI
medições
CD
NigBI
previsão
I-TASSER
LasB
medições
CD
LasB
previsão
I-TASSER
α-hélices 32,9 % 30,3 % 25,4 % 28,0 %,
Folhas β 17,1 % 28,3 % 21,7 % 30,1 %
Randômica 50,3 % 41,4 % 58,0 % 41,8 %
4.2.4. Determinação da atividade enzimática pelo teste de
adrenalina
O ensaio de adrenalina foi realizado para as enzimas B seguindo o mesmo
protocolo e tratamento de dados já apresentados para a enzima B1EPH2. Foi
73
http://bioinformatik.biochemtech.uni-halle.de/cdnn.
66
calculada a média das duplicatas dos dados de absorbância e subtraído o valor da
hidrólise espontânea para cada epóxido testado. Com auxílio de uma ferramenta
computacional74 gerou-se as escalas de cinzas.
Este teste foi realizado em formato miniaturizado e para cada enzima
estudada foram ensaiadas as concentrações 1, 2,5, 5, 10, 15 e 20 µg ml-1 para os
12 substratos selecionados, totalizando 228 medições por enzima e 1824 ensaios
para o conjunto das enzimas B.
Pode-se observar que todas as enzimas testadas possuem atividade de
EH, promovendo a hidrólise dos substratos aos respectivos dióis vicinais. As
enzimas LasB, TsnB e NigBI apresentaram atividade a partir de uma concentração
de 2,5 µg ml-1 enquanto a enzima TmnB e NanI apresentam atividade a partir de
concentrações de 5,0 µg ml-1.
TmnB
74
http://matplotlib.org/
Controle positivo
Enzima conc. 5 µg ml-¹
Enzima conc. 2,5 µg ml-¹
Hidrólise espontânea
Controle negativo
67
TsnB
NigBI
LasB
Controle positivo
Enzima conc. 5 µg ml-¹
Enzima conc. 2,5 µg ml-¹
Hidrólise espontânea
Controle negativo
Controle positivo
Enzima conc. 5 µg ml-¹
Enzima conc. 2,5 µg ml-¹
Hidrólise espontânea
Controle negativo
Controle positivo
Enzima conc. 5 µg ml-¹
Enzima conc. 2,5 µg ml-¹
Hidrólise espontânea
Controle negativo
68
NanI
SalBIII
Figura 26. Escalas de cinza correspondente as enzimas TsnB, TmnB, LasB, NanI,
NigBI e SalBIII.
As enzimas ensaiadas promovem a hidrólise de todos os epóxidos de
acordo com os resultados do teste de adrenalina. LasB apresenta uma preferência
maior pelo cis-2,3-epoxibutano e pelo (+)-trans-1,2-limoneno epóxido. NanI e
NigBI apresentam preferências pelo 1,2-epoxioctano. Porém, a tendência geral de
preferências dos substratos das enzimas não pode ser determinada só com os
dados obtidos neste ensaio uma vez que não observamos um comportamento
constante em diferentes leituras.
Controle positivo
Enzima conc. 5 µg ml-¹
Enzima conc. 2,5 µg ml-¹
Hidrólise espontânea
Controle negativo
Controle positivo
Enzima conc. 5 µg ml-¹
Enzima conc. 2,5 µg ml-¹
Hidrólise espontânea
Controle negativo
69
O teste de adrenalina para SalBIII foi negativo para todos os substratos em
diferentes concentrações de enzimas, mostrando que apesar da similaridade
estrutural as outras enzimas B, SalBIII deve apresentar atividade enzimática
distinta das EH. O mecanismo de interação da enzima SalBIII com o substrato
natural (intermediário da biossíntese da salinomicina) e análogo deve ser
estudado com mais detalhes com o objetivo de classificar o tipo de atividade
enzimática que esta apresenta.
Para as outras enzimas B os resultados observados mostram que estas
possuem elevada aceitação por substratos, incluindo o limoneno-1,2-epóxido,
substrato natural da enzima LEH de R. erythropolis. Esse comportamento suporta
ainda mais a analogia entre as estruturas e a função enzimática. A baixa
especificidade pelos epóxidos aceitos pelas enzimas B é um fator interessante
para aplicações futuras destas enzimas já que supõe-se uma vantagem com
relação à enzima 1NWW, a qual apresenta um mecanismo enantioconvergente,
mas uma limitada aceitação por substratos.
4.2.5. Estruturas tridimensionais das enzimas B
Em colaboração com o Prof. Marcio Dias (ICB-USP) foi possível a obtenção
de dados estruturais por difração de raios-X de várias das enzimas B avaliadas
com relação à função enzimática.
Para as enzimas LasB e NanI é possível observar um par de domínios
homólogos, mas não idênticos. Pode-se observar que as enzimas possuem o
dobro do tamanho da maioria das enzimas B conhecidas. Essas estruturas são
monoméricas e esses resultados são consistentes com a hipótese de que elas
representam uma fusão de dois monômeros de enzimas análogas a LEH. É
possível observar que essas enzimas adotam uma estrutura do tipo barril formado
por seis folhas beta, as quais se dobram em direção a um trio de α-hélices
formando uma cavidade hidrofóbica prevista em conter o sítio ativo. NanI é
homóloga a LasB, entretanto observa-se pelos testes funcionais que é uma
enzima menos ativa. Especula-se que um dos domínios de NanI seja inativo.
70
Na Figura 27 e 28 estão representadas as estruturas tridimensionais para
LasB e NanI. No domínio N-terminal de LasB é possível identificar vários resíduos
polares como D38, Y14 e outros resíduos adjacentes como E65, R54 e W121, os
quais podem estar envolvidos na catálise. No domínio C-terminal foram também
identificados vários resíduos polares (D170, H186, H146, E195, Y251 e W270) na
cavidade hidrofóbica.
Figura 27. Estrutura tridimensional obtida por difração de raios-X da enzima LasB.
A projeção indica os resíduos previstos em fazer parte do sítio ativo. Imagem
cedida pelo Prof. Marcio Dias.
71
Figura 28. Estrutura tridimensional da enzima NanI obtida por difração de raios-X,
mostrando a cavidade prevista em conter o sítio ativo nos domínios da enzima
(domínio N-terminal em verde e domínio C-terminal em rosa). Imagem cedida pelo
Prof. Marcio Dias.
Outra característica interessante é a alta homologia entre o domínio N-
terminal da LasB com o domínio C-terminal de NanI e o domínio C-terminal de
LasB com o domínio N-terminal de NanI que evidencia uma permuta estrutural dos
domínios C- e N-terminais entre as duas enzimas (Figura 29).
72
Figura 29. As enzimas LasB (esquerda) e NanI (direita) apresentam uma possível
permutação estrutural entre seus domínios. Imagem cedida pelo Prof. Marcio Dias.
As enzimas TsnB e TmnB são homodiméricas e idênticas estruturalmente.
Apesar da elevada similaridade estrutural é possível observar que a cavidade do
sítio ativo dessas enzimas possuem orientações opostas (Figura 30). Na cavidade
do sítio ativo é possível observar a sobreposição dos resíduos correspondentes a
Asp38, His54, Phe30, Tyr14 e Glu65. Estes resíduos incluem o duo D38/E65
também presente em um dos sítios ativos de LasB e identificada como participante
da atividade catalítica das enzimas MonBI e MonBII (Figura 31). A diferença no
posicionamento das cavidades que direcionam para o sítio ativo das duas ciclases
constitui um fator estrutural bastante interessante que pode ajudar a explicar a
estereoquímica complementar observada nos éteres cíclicos das estruturas da
tetronacina e tetronomicina (Esquema12).
73
Figura 30. Estruturas das enzimas TsnB (A) e TmnB (B). Apesar da elevada
similaridade estrutural dessas enzimas, as cavidades de sítio ativo apontam para
direções opostas. Imagem cedida pelo Prof. Marcio Dias.
Figura 31. Sobreposição dos resíduos polares do sítio ativo de TsnB e TmnB.
Imagem cedida pelo Prof. Marcio Dias.
A BA B
74
Esquema 12. O processo de ciclização exo-tet leva a formação do anel do tipo
furano nos compostos tetronasina (A) e tetronomicina (B). Desconsiderando o anel
tetronato, todos os centros estereogênicos nos produtos naturais são
enantioméricos.
75
5. Conclusões
As análises in sílico facilitadas pelo servidor I-TASSER permitiram a
obtenção de modelos para a estrutura secundária e terciária de B1EPH2 em
comparação a enzimas análogas depositadas no PDB. Observou-se que apesar
de ser uma EH microbiana, a mesma foi classificada como análoga às EH solúveis
de mamíferos, característica que facilita justificar a aceitação por substratos
volumosos por esta enzima.
As enzimas B também tiveram as suas estruturas modeladas pelo I-
TASSER. O alinhamento das sequencias de aminoácidos das enzimas B com a
LEH 1NWW permitiu determinar que existem regiões altamente conservadas
nestas estruturas, destacando-se alguns resíduos de aminoácidos como D38 e
E65 identificados na cavidade catalítica de outras enzimas B como MonBI e
MonBII.
A expressão dos genes que codificam para as proteínas B1EPH2 o tipo EH
α,β-hidrolase e NigBI, TsnB, TmnB, NanI, LasB, SalBI, SalBII e SalBIII do tipo LEH
foi otimizada testando diferentes condições de crescimento e/ou indução e
finalmente adotado um protocolo para expressão que permitiu obter todas as
enzimas com sucesso em diferentes linhagens de E.coli.
O processo de purificação foi realizado efetivamente para todas as enzimas
com a técnica de cromatografia de afinidade, usando uma coluna de afinidade
com níquel e tampões de fosfato de sódio/cloreto de sódio com concentrações
variáveis de imidazol; este processo foi acompanhado com géis SDS-PAGE que
permitiram observar a presença das proteínas alvo dos tamanhos esperados. As
enzimas SalBI e SalBII ainda sendo observadas nos géis SDS-PAGE degradaram
após poucas horas não sendo possível realizar a caracterização da atividade
enzimática.
Foi realizado o teste de adrenalina para medir a atividade como EH das
enzimas a diferentes concentrações e com um grupo de 12 substratos. A enzima
76
B1EPH2 foi capaz de hidrolizar todos os substratos testados e apresentou uma
leve preferência pelos epóxidos terminais, possivelmente devido à interação
substrato-ligante mais efetiva em função da diminuição do impedimento estéreo na
cavidade do sítio ativo.
Medições da estabilidade de B1EPH2 em função do pH e a temperatura
revelaram que o máximo de atividade catalítica para esta enzima é alcançado a
pH 6 e temperatura de 45 °C, sendo que para temperaturas entre 25 e 37 °C a
atividade observada é similar. A partir 50 °C a atividade catalítica diminui. A
determinada foi 50 °C. Não foi possível realizar medições a temperaturas mais
altas devido a limitações no processo de incubação das placas utilizadas na
realização do teste
As enzimas LasB, NigBI, NanI, TsnB e TmnB apresentaram atividade de EH
promovendo a hidrólise dos substratos ao respectivos dióis vicinais. Enquanto
LEH tem uma preferência por substratos bastante limitada, as enzimas B
mostraram uma ampla aceitação substratos. A enzima SalBIII não apresentou
atividade como EH em nenhuma concentração, levando a considerar que o
mecanismo de atuação para esta enzima deve ser diferente, mesmo sendo
inicialmente identificada como uma hidrolase-ciclase.
As medições de espectro de dicroísmo circular para LasB, NigBI e B1EPH2
permitiram estimar a estrutura secundária das enzimas estudadas. Para as
estruturas α-hélices obtiveram-se valores semelhantes aos das análises in silico.
No caso das estruturas de tipo folhas β e randômicas a previsão e as
porcentagens calculadas diferem. Provavelmente essa diferença seja uma
consequência direta da limitação experimental para realizar medições em
cumprimentos de onda abaixo de 195 nm.