Notas sobre o conceito de λόγος e a origem da Metafísica · ... a partir da definição...

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Notas sobre o conceito de λόγος e a origem da Metafísica Prof. Dr. Jadir Antunes Professor do PPG de Filosofia da Unioeste Escutando não a mim, mas ao λόγου, é sábio homologar: tudo é um [ὁμολογεῖν σοφόν ἐστιν ἓν πάντα εἶναί]. Por isso, é preciso seguir o-que-é-comum [ξυνῷ]. Mas, sendo o λόγου o-que-é- comum [ξυνοῦ], vivem os homens como se tivessem uma inteligência particular [ἰδίαν... φρόνησιν]. [Heráclito de Éfeso. Sobre a Natureza. Fragmentos 50 e 02] 1 . 1. Introdução Nosso artigo pretende, a partir da definição fornecida por dois importantes dicionários da língua grega antiga, o Dictionnaire étymologique de la langue grecque, de Pierre Chantraine e de A Greek-English Lexicon, de Henry George Liddell & Robert Scott, mostrar a riqueza e a pluralidade semântica do termo logos [λόγος] presentes na cultura popular grega para em seguida comparar com o destino dado ao termo pelo nascimento da filosofia. No final do artigo, ainda, procuramos mostrar as possíveis causas para o surgimento da metafísica e da redução do termo logos ao seu sentido abstrato e moderno de ratio e cognitio. 2. Etimologia do termo λόγος Λόγος é uma palavra de origem grega derivada do verbo légo [λέγω] ou légein [λέγειν] que possui vários significados próximos. Entre os mais significativos sentidos de λέγω e λέγειν, geralmente empregados pela tradição filosófica, podemos citar: ação de colher e recolher; ação de reunir e ordenar; ação de contar e enumerar; ação de estender e entregar. Λέγω e λέγειν podem 1 HERÁCLITO: Héraclite d’Ephèse. Edição online: http://philoctetes.free.fr/heraclite.pdf .

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Notas sobre o conceito de e

a origem da Metafsica

Prof. Dr. Jadir Antunes Professor do PPG de Filosofia da Unioeste

Escutando no a mim, mas ao , sbio homologar: tudo

um [ ]. Por isso, preciso

seguir o-que--comum []. Mas, sendo o o-que--

comum [], vivem os homens como se tivessem uma

inteligncia particular [... ]. [Herclito de feso.

Sobre a Natureza. Fragmentos 50 e 02]1.

1. Introduo

Nosso artigo pretende, a partir da definio fornecida por dois

importantes dicionrios da lngua grega antiga, o Dictionnaire tymologique de

la langue grecque, de Pierre Chantraine e de A Greek-English Lexicon, de

Henry George Liddell & Robert Scott, mostrar a riqueza e a pluralidade

semntica do termo logos [] presentes na cultura popular grega para em

seguida comparar com o destino dado ao termo pelo nascimento da filosofia.

No final do artigo, ainda, procuramos mostrar as possveis causas para o

surgimento da metafsica e da reduo do termo logos ao seu sentido abstrato

e moderno de ratio e cognitio.

2. Etimologia do termo

uma palavra de origem grega derivada do verbo lgo

[] ou lgein [] que possui vrios significados prximos. Entre os mais

significativos sentidos de e , geralmente empregados pela tradio

filosfica, podemos citar: ao de colher e recolher; ao de reunir e ordenar;

ao de contar e enumerar; ao de estender e entregar. e podem

1HERCLITO: Hraclite dEphse. Edio online: http://philoctetes.free.fr/heraclite.pdf.

http://philoctetes.free.fr/heraclite.pdf

significar tambm ao de pensar, raciocinar, pronunciar e dizer. pode

significar, ainda, a ao de conter e sustentar. O que recolhe, organiza,

ordena, sistematiza e estende num conjunto, num universal, tambm, assim,

o que contm e sustenta o conjunto daquilo que reunido e

sistematizado.

Segundo Liddell-Scott, etimologicamente o verbo tem sua

origem em dois termos distintos: [gather = agarrar, reunir, juntar, colher,

recolher, escolher, apanhar e congregar] e [lay = pr, estender, pousar,

deitar e entregar]2. Para Chantraine3, possui o sentido original de juntar,

recolher e escolher (rassembler, cueillir e choisir). , por isso,

originariamente, ao de agarrar, reunir, colher, recolher e, ao mesmo tempo,

estender, deitar, pousar e entregar.

O verbo tambm pode significar a ao de contar, narrar,

numerar, enumerar, calcular, pensar, dizer, discorrer, discursar e expor em

palavras, aes que remetem ao significado de enquanto esprito e

linguagem. Na linguagem, o aquela ao de organizar e dar forma s

palavras recolhidas dentro de um discurso que se mostra ordenadamente

diante daquele que diz. assume ainda o sentido de sentido orientador,

significado, orientao. O que no possui no possui sentido, significado

e orientao, sendo aquilo que vago, vazio, indeterminado e desorientado.

De derivam palavras como , conversao,

linguagem ou discusso; , dotado para a discusso; , arte

do dilogo e da conversao; , refletir ou considerar; ,

conversar, dialogar; , em Atenas significava lista de cidados inscritos

para o servio militar; , reunio de pessoas, assembleia; ,

anlogo; , palavra, estilo; , discurso; , o irracional, ausncia

ou privao de . Traduzidos para o latim, , e podem

significar ligare, colligare, colre, collgo, collgi, collectum, lgo, lgi e lectum.

, por isso, significa, originariamente, a ao de colher,

recolher, coletar, ligar, coligar, reunir e ordenar o abstrato, o disperso e o

indeterminado dentro de um nico sistema concreto, belo, harmnico e perfeito.

2 Henry George Liddell & Robert Scott: A Greek-English Lexicon.

http://www.perseus.tufts.edu/hopper/text?doc=Perseus%3Atext%3A1999.04.0057%3Aentry%3Dle%2Fgw2 3 Pierre Chantraine: Dictionnaire tymologique de la langue grecque. Tomo III. Paris: ditions

Klincksieck, 1974, pp. 625-626.

http://www.perseus.tufts.edu/hopper/text?doc=Perseus%3Atext%3A1999.04.0057%3Aentry%3Dle%2Fgw2http://www.perseus.tufts.edu/hopper/text?doc=Perseus%3Atext%3A1999.04.0057%3Aentry%3Dle%2Fgw2

O , portanto, aquilo que recolhe, rene, governa, ordena, regra, legisla

e, assim, universaliza e sistematiza, seja todos os entes seja todas as palavras,

dentro de um mesmo cosmos e de um mesmo mundo.

3. Sentido arcaico do termo

em seu sentido arcaico e originrio, no pode ser

compreendido como ratio ou cognitio, seja como proporo entre dois nmeros,

como ordem do discurso ou como faculdade humana. Ainda que o termo

possa ser empregado com um sentido tcnico mais preciso, como ratio, por

exemplo, e menos amplo para a filosofia, para a cultura popular grega em

geral, no uma ao restrita exclusivamente esfera da linguagem e

da matemtica, como se poderia supor, uma ao que se estende a

todos os campos da atividade humana, sejam elas intelectuais ou manuais.

Assim, por exemplo, tambm o pedreiro, o marceneiro, o construtor, e todos os

demais artesos, praticam a ao de , na medida em que recolhem,

renem, contam, enumeram, estendem e pousam o conjunto do material

recolhido do seio da natureza, sobre uma ordem mtrica, regular, proporcional

e humana antes no existente. Como ocorre em Homero e Pndaro, onde

[aimasis lgon] pode ser traduzido como coletar pedras para

a construo de muralhas [picking out stones for building walls]4.

Na cultura grega antiga, pode ser empregado como sufixo

indicador da atividade [como ] ou como sufixo indicador daquele que

exerce determinada atividade [como ] nos mais variados domnios da

realidade, desde as mais elevadas at as consideradas mais baixas e indignas.

Como exemplos deste ltimo emprego podemos citar palavras tais como: 1.

[o astrnomo ou astrlogo]; 2. [o coletor de tributos];

3. [o coletor de impostos e pedgios - Aristophanes, Frogs Ar.

Ras. 363]; 4. [o recolhedor de vegetais]; 5. [o

recolhedor de resduos]; 6. [o investigador da physis - Arist.

Metaph. 986b14, 990a3]; 7. [o recolhedor de frutas]; 8.

[o coletor de pedras para a construo]; 9. [o investigador dos

meteoros - Arist. Mete. 354a29: Pl. Cra. 401b]; 10. [o marujo

4 Henry George Liddell & Robert Scott: An Intermediate Greek-English Lexicon:

http://www.perseus.tufts.edu/hopper/text?doc=Perseus%3Atext%3A1999.04.0058%3Aentry%3Dle%2Fgw2

http://www.perseus.tufts.edu/hopper/text?doc=Perseus%3Atext%3A1999.04.0058%3Aentry%3Dle%2Fgw2http://www.perseus.tufts.edu/hopper/text?doc=Perseus%3Atext%3A1999.04.0058%3Aentry%3Dle%2Fgw2

coletor de peixes do mar]; 11. [o investigador das palavras]; 12.

[o coletor de trigo para a cidade]; 13. [o poeta investigador

e produtor de discursos sobre os deuses, como Hesodo e Orpheu - Arist.

Metaph. 1000a9; Arist. Metaph. 1071b27]; 14. [o coletor de

dinheiro]; 15. [o coletor de forragem]; 16. [o coletor de

dinheiro]5.

Alm destes, a cidade grega antiga contava ainda entre seus

cidados com o mytholgo, o poeta criador dos mitos, com o dikaiolgos [o

advogado guardio e defensor da justia], o physilogos [o investigador do

da natureza], o genealgos [o investigador da gnese], o tholgos [o

pintor dos caracteres e costumes humanos], o ionikolgos [o recitador de

versos poticos], o mimolgos [o recitador da mmesis humana] e o

anthropolgos [o conhecedor do homem].

Na cultura grega antiga, litholgos [] aquele contrutor

[; ], conforme referido por Plato nas Leis [858b] e por

Thucdides na Gerra do Peloponeso [6.44]6, aquele pedreiro que constri

uma casa no com qualquer pedra recolhida ao acaso, no com qualquer

pedra indeterminada, mas com aquela pedra determinada, selecionada e

recolhida reta e justamente do universo indeterminado das pedras para caber

exatamente em seu devido e correto lugar e na ordem bela e harmnica da

construo.

Litholgos o lithotmos [], aquele cortador de pedras

que sabe como serrar, como partir, como extrair do universo abstrato e

indeterminado de uma rocha, a melhor e determinada pedra para a construo.

O cortador de pedras aquele que, ento, da escurido da caverna, do breu da

indeterminao, capaz de ver, escolher, recolher e trazer para a presena da

determinao, para a presena do dia e da luz, a melhor parte do mrmore

para a construo.

O do arteso trabalhador , assim, negao e atuao,

ao de arrancar a coisa do breu da abstrao e da indeterminao e traz-la

para a luz da existncia, da concretude e da determinao. Este

5 Greek Dictionary Headword Search Results:

http://www.perseus.tufts.edu/hopper/resolveform?lang=greek&type=end&page=1&lookup=logos 6 [one who picks out stones for building: hence, one who builds with stones picked

out to fit their places, not squared]. Plato, Laws [Pl.Lg.858b; masons and joiners, [Thucydides, The Peloponnesian War Th.6.44, cf. 7.43, X.HG4.4.18].

http://www.perseus.tufts.edu/hopper/resolveform?lang=greek&type=end&page=1&lookup=logos

produtor, assim, como o da parteira socrtica, tem a fora de arrancar a

coisa do interior e traz-la para a presena do exterior e da vida. Este

poitico e construtor, assim, como o especulativo do filsofo, tem a fora

de arrancar a coisa da indeterminao do esquecimento e traz-la para a

presena da determinao e do conceito.

O originrio grego no investiga, portanto, somente as

coisas divinas e sobre-humanas, como fazem o thelogos, o meteorolgos, o

astrlogos e o physilogos, mas, tambm, para no dizer sobretudo, as coisas

no divinas e humanas como as coisas da natureza que esto a ao dispor do

homem, como as rochas, as frutas e os vegetais, como fazem os lithologoi [os

pedreiros coletores de pedras para a construo das casas e das muralhas da

cidade], o karplogos [o coletor de frutas para uso humano] e o sitlogos [o

coletor e guardio do trigo da despensa pblica]. O originrio grego se

dedica, ainda, nas figuras do dasmolgos, do eikostolgos, do chalkolgos e do

chrisolgos, a investigar, contar, coletar, recolher, entregar e guardar esta coisa

baixa e impura chamada dinheiro, os tributos pagos pelos cidados. O

abstrato da lei, que cria o tributo apenas em palavras, se mostra aqui em

perfeita unidade e harmonia com o concreto do coletor e do contador,

que o recolhem, contam e guardam nos cofres do tesouro da cidade.

O originrio, portanto, no somente ao de dizer, e de

dizer com ordem e sistematicidade, mas , sobretudo, ao de fazer e de

construir, , sobretudo, ao de determinar, de conceber e de trazer vida,

com ordem e sistematicidade, tudo aquilo que existe ainda somente na forma

da dynamis, da indeterminao e do vir-a-ser. O originrio, seja o do

intelecto, seja o das mos humanas, possui, assim, a capacidade

extraordinria, capacidade divina para a cultura grega, de recolher e reunir o

disperso dentro de uma ordem universal justa e proporcional e de um sentido

belo, harmnico e inteligvel.

O discurso e a prtica sustentados pelo em sua origem,

assim como a prtica do arteso, recolhem, renem, unificam, ordenam e do

um sentido comum a toda a multido dos entes da realidade, sejam estes os

mais diversos e plurais dos entes: matemticos, divinos, sensveis ou

inteligveis. O originrio, deste modo, a fora unificadora, ordenadora e

inteligvel de toda a realidade das palavras e dos entes. Sendo o a arkh

de todas as palavras e de todos os entes, o tambm o princpio

fundador, governador e ordenador de todos os discursos sobre os entes. As

palavras e os entes so o que so pela fora e originalidade, pela

primordialidade e precedncia ontolgica do em relao a todos os

discursos e a todos os entes. Tudo o que s , portanto, no e atravs

do . Fora do originrio no poderia haver, por isso, nenhuma

existncia real e efetiva. Fora do a coisa viveria como coisa precria,

indeterminada e abstrata. O , assim, em sua origem, a determinao

viva e concreta de todas as coisas pensadas, ditas ou feitas.

O originrio grego no est no particular e na abstrao,

porque o no muitos, o nico, o a unidade viva e

pulsante de todas as partes constituintes da realidade dentro de um nico e

mesmo sistema concreto, belo, harmnico e ordenado. Saber conjugar estes

muitos fatiados, desgarrados e esparramados pela realidade num nico

e mesmo discurso, numa nica e mesma viso, numa nica e mesma prtica,

saber homologar e dizer como Herclito que tudo um no universo do

originrio, seja ele pensamento, ser ou linguagem.

4. O empobrecimento do termo pela letra dos filsofos

Ao longo do tempo, especialmente com o surgimento da filosofia

clssica, porm, a riqueza semntica do termo ser lentamente reduzida

a um significado abstrato de ratio e cognitio, pensamento, discurso, raciocnio,

razo e linguagem. O deixar de representar assim, a plenitude dos

sentidos prticos, poiticos e noticos do homem para representar apenas o

significado abstrato de palavra, raciocnio ou razo.

Segundo Michel Fattal7, Herclito fora quem, pela primeira vez,

empregou o termo na histria da filosofia ocidental. Antes de significar

razo e raciocnio cientfico, porm, para Herclito contm uma

pluralidade de significaes, tais como inteligncia, palavra, discurso, fogo,

guerra, harmonia, relao, lei sabedoria e deus que conservam o sentido

originrio da palavra.

7 Michel Fattal: Logos, pense et verit dans la philosophie grecque. Paris: LHarmattan, 2001,

p. 75.

O heracliteano operaria em dois nveis distintos e

complementares, diz Fattal8, como -cosmos e -inteligncia. Deste

modo, Herclito teria sido o primeiro, para no dizer o nico, ao lado de Hegel,

a transportar para a filosofia o significado originrio de , de unitrio

que abarca em seu interior as duas dimenses da realidade: a csmica e a

inteligvel; a ontolgica e a lgica; a do fazer e a do dizer; a do ser e a do

pensar. Como diz Fattal9, para Herclito logos e cosmos so indissociveis. O

-cosmos o onde tudo um, o da unidade e do arranjo

harmonioso do mundo e de todas as coisas em comum. O -inteligncia

o do universal e do que comum, o que faz abstrao do

particular e do individual para deixar passar atravs dele o universal e a

unidade de todas as coisas, diz Fattal10. O -inteligncia [ ;

] o comum [ ], o que se ope

inteligncia particular [ ] do homem comum, deste homem cego

e surdo que no v nem escuta o que comum.

Neste mesmo sentido de compreender o heracliteano como

unidade de pensamento e realidade, de abstrato e concreto, segue tambm

Philip Wheelwright11, para quem a unidade indivisvel entre concreto e abstrato

especialmente evidente em Herclito na ideia e na imagem central do fogo.

O fogo aludido por Herclito, diz Wheelwright, no o fogo fsico, mas o fogo

que simboliza a unidade do que inteligncia com o que o

cosmos. Este fogo, diz ainda Wheelwright, o fogo dos romnticos alemes,

como Goethe, que define o fogo heracliteano como um smbolo genuno, como

uma instncia particular unida com o universal que, desse modo, desempenha

um papel nico e revelador, de um modo que nenhum outro ente particular

poderia revelar, da natureza universal desse algo mais geral e comum a todos

os entes e inteligncias do mundo que o 12.

Para Heidegger, e , como a palavra alem legen,

possuem, originariamente, o sentido amplo de de-por, no sentido de estender

e prostrar, pro-por, no sentido de adiantar e apresentar13. , e

legen se aproximam da palavra latina legere, significando colher, recolher,

8 Fattal, p. 77.

9 Fattal, p. 79.

10 Fattal, p. 83.

11 Philip Wheelwright: Herclitus: New Jersey: Princeton University Press, 1959, p. 14.

12 Wheelwright, pp. 14-15.

13 Martin Heidegger: Logos (Herclito Fragmento 50). In: Ensaios e Conferncias. Petrpolis, Vozes, 2012, p. 184.

escolher... no sentido de apanhar e juntar14. Diz ainda Heidegger: Legen

significa estender e prostrar mas, ao mesmo tempo, significa tambm pr uma

coisa junto com outra, pr em conjunto, ajuntar 15. Heidegger se refere legen

como as aes de colher, recolher e guardar os frutos de uma colheita sem

ressaltar em nenhum momento, porm, o significado prtico e manual deste

sentido originrio de legen.

Apesar da riqueza e da originalidade da compreenso

heideggeriana sobre o significado conceitual originrio de e de enfatizar

o sentido de no enquanto ao abstrata de ratio e cognitio, mas

enquanto ao de deixar disponvel num conjunto com outras coisas16,

Heidegger mantm-se preso busca do sentido original de um enquanto

tal, de um que no este ou aquele , sem se ocupar de ressaltar o

profundo significado prtico, poitico e manual que a palavra continha em sua

originalidade arcaica. Heidegger no parece preocupado em investigar a

relao entre a riqueza semntica do sentido original e arcaico de com a

riqueza e a pluralidade de sentidos prtico, manual, mental e lingustico da

palavra, mas somente em rejeitar e combater a simplicidade e o reducionismo

da viso moderna de enquanto ratio e cognitio.

Com Pitgoras, clebre filsofo dos nmeros que mais tarde

influenciar toda uma ampla gerao de filsofos da cincia, ainda

aparecer com o significado de conjunto de todos os sentidos e atividades do

homem, de recolher, juntar e ordenar, porm, j aparecer em seu reduzido e

abstrato sentido matemtico de ratio e cognitio, de razo, raciocnio ou

proporo entre dois nmeros. Como o nmero seria a arkh do universo, o

nmero corresponderia sua razo, ao seu e quilo que permitiria ao

conjunto dos entes sua estabilidade e unidade. Sem o nmero e a unidade, o

universo estaria desprovido de uma arkh, de uma ordem e de uma

estabilidade que lhe governassem e tornassem possvel sua existncia.

Como diz Aristteles na Metafsica [985b]17, os pitagricos

acreditaram que os princpios da matemtica eram os princpios de todos os

seres e que os nmeros eram, por natureza, anteriores a todas as coisas. Os

pitagricos acreditavam encontrar a essncia das coisas bem mais nas suas

14

Heidegger, p. 184. 15

Heidegger, p. 185. 16

Heidegger, p. 186. 17

Aristteles: Metafsica. Mxico: Editorial Porra, 1992, p. 14.

relaes numricas do que nos elementos qualitativos e sensveis da natureza,

como o fogo, a terra, o ar e a gua. Sendo o elemento dos nmeros a essncia

de todos os seres, os pitagricos abstraam da essncia dos seres, assim,

todas as suas determinaes qualitativas e sensveis, convertendo-as em

determinaes externas e sem nenhum valor ontolgico.

Com os pitagricos, porm, ainda que o nmero em sua

qualidade abstrata seja visto como a essncia da realidade e do pensamento,

esta essncia ainda uma essncia visvel ao olhar do homem comum, pois

uma essncia numrica presente nas prprias relaes entre os seres que

poderia ser apreendida pelas mais variadas artes prticas e utilitrias,

especialmente pela arquitetura. Como diz Gilberto Garbi18, comentando a

matemtica pitagrica: apesar de ser a Matemtica algo ideal e abstrato, sua

presena no mundo fsico era percebida por toda a parte, nos cus e na Terra.

O famoso teorema pitagrico de que em qualquer tringulo retngulo o

quadrado da hipotenusa igual soma do quadrado dos catetos de ampla

verificao emprica e utilidade prtica. O nmero, assim, para os pitagricos,

ordenava racionalmente tanto o universo dos cus e o mundo inteligvel do

pensamento quanto o mundo emprico das mos e do cosmos humano. A

linguagem abstrata dos nmeros, a linguagem da matemtica, de suas

equaes, de seus teoremas e de suas frmulas seria, assim, na viso

pitagrica, a verdadeira linguagem do .

Com Parmnides, ao contrrio de Pitgoras, o nmero ser

totalmente excludo da determinao essencial da realidade. A essncia,

segundo ele, ser algo totalmente qualitativo e indeterminado, no ter

nenhuma relao com o mundo fsico e sensvel nem ordenar este mundo,

essencialmente desordenado em sua viso, mas somente o mundo inteligvel

do pensamento e da linguagem gramatical. Com Parmnides, o ser

excludo definitivamente das atividades manuais para tornar-se propriamente

razo gramatical abstrata, crtica e negativa, como razo capaz de pensar e

dizer o ser dentro de determinadas regras ou princpios precisos e a priori, tais

como o princpio de identidade.

Com Parmnides e Xenphanes, surge pela primeira vez na

histria da filosofia a ideia de associar no mais ao conjunto das

18

Gilberto Geraldo Garbi: A Rainha das Cincias: um passeio histrico pelo maravilhoso mundo da matemtica. So Paulo: Editora Livraria da Fsica, 2009, p. 27.

atividades manuais e mentais do homem, mas s ideias de verdade e razo, ao

-altheia, ao -ratio, ao -noen, ao -noma e ao -

lgein. Segundo Fattal19, Xenphanes j falava, antes ainda de Parmnides, da

necessidade de se encontrar um caminho para o verdadeiro do discurso

e das palavras puras [ ].

O mtodo de Parmnides consiste em separar, primeiro, o

das mos do do pensamento e da linguagem. Parmnides desconsidera

totalmente o saber tcnico e poitico do homem comum, o saber necessrio

vida, como saber do , para ele, somente o pensamento e a linguagem

abstrata do ser podem ser considerados como verdadeiras atividades do

. Uma vez que o separado do trabalho, Parmnides separa,

ainda, o da doxa, atribuindo a esta o sentido de falso, irracional e

desordenado. Enquanto o discurso abstrato do filsofo seria o discurso do que

sempre [ ; ; ], o discurso dos mortais seria o discurso da doxa

[], e do que no [ ]. O discurso do filsofo seria o nico

discurso digno de f [ ] e a nica crena verdadeira [

], enquanto o discurso da doxa, da doxa dos mortais [ ],

seria o discurso no fivel e no verdadeiro20.

Para Parmnides, o nico caminho filosoficamente fivel o

caminho do ser [], do ser abstrato que no nem este nem aquele ser, o

ser que no no ser, do ser que o ser. O caminho do no ser [ ], o

caminho da doxa e da glssa do homem comum, o caminho do totalmente

impensvel e incognoscvel. O caminho do no ser o da falsidade e das

trevas. O caminho do ser, porm, o da verdade e da luz, pois o mesmo

pensar e ser [ ].

A fora e a veracidade do poema de Parmnides residem no

interior do prprio caminho escolhido para encontrar a altheia []: o

caminho do pensamento e da linguagem racional. Uma vez que Parmnides

escolhe o pensamento e a linguagem como o lugar natural do e da

, fica fcil mostrar que a verdade no pode estar entre a doxa e a glssa

da multido, mas somente na linguagem abstrata da lgica, que fala do ser

19

Fattal, p. 36. 20

Le pome de Parmnide. Traduo francesa de Paul Tannery. Disponvel online na verso grego-francs com link de acesso ao site da Perseus Digital Library e do Dicionrio Grego-Ingls de Henry George Liddell & Robert Scott: http://philoctetes.free.fr/uniparmenide.htm.

http://philoctetes.free.fr/uniparmenide.htm

somente enquanto categoria pura e abstrata do pensamento. Como diz Fattal21,

Parmnides teria sido o iniciador da linguagem, na medida em que teria

percebido... a importncia do verbo ser na constituio de toda proposio, de

todo pensamento e, por consequncia, de toda lgica.

Elegendo, assim, o apenas como pensamento e linguagem,

tornou-se fcil para Parmnides excluir do toda forma de saber no

fundamentada na nova ontologia por ele concebida. A concepo lgica de

Parmnides teria, assim, um valor de verdade superior e insupervel em

relao ao originrio enquanto saber da vida e do trabalho manual.

Enquanto em Herclito predominaria a ideia original de

enquanto sntese, de um -, de um do que comum, em

Parmnides predominaria a ideia de um crtico e analtico, de um

, de um -ratio que julga, discrimina, diferencia e separa.

Em nome deste -ratio abstrato e purgado do sensvel de

Parmnides, Scrates em sua Repblica imaginava uma cidade organizada e

dirigida por uma classe elitizada de reis filsofos, onde as mais variadas

atividades manuais e produtivas da cidade, por ele consideradas como

carentes de , como atividades da doxa, ficariam submersas na base da

pirmide de poder, trabalhando e vivendo para alimentar este abstrato

dos filsofos. A razo abstrata dos filsofos purgaria a cidade de toda fealdade

e imperfeio oriundas do que no , expulsando dela todos os

defensores de um mltiplo e variado, como os poetas Homero, Hesodo,

Simnides e Pndaro e todos os defensores da vida como relao, novidade,

variao e movimento.

Esta separao entre o que sensvel e concreto e o que

abstrato e inteligvel tem origem em Scrates em sua conhecida Teoria das

Formas [Repblica: 509d a 511e]22, onde Scrates institui a diviso da

realidade em dois domnios distintos e separados: o domnio do visvel

[], e o do inteligvel [], sendo o primeiro, o domnio onde residem

as coisas sensveis produzidas pela natureza e pela arte humana, e o segundo,

o domnio abstrato das ideias puras, que existiriam em si mesmas como

substncias separadas do concreto e do sensvel. Estas substncias, agora

21

Fattal, p. 37. 22

Plato: A Repblica. So Paulo: Perspectiva, 2006, p. 258. Disponvel online na verso grego-ingls no site da Perseus Digital Library: http://www.perseus.tufts.edu/hopper/text?doc=Perseus%3atext%3a1999.01.0167 .

http://www.perseus.tufts.edu/hopper/text?doc=Perseus%3atext%3a1999.01.0167

separadas do concreto e da realidade humana, do cotidiano, do trabalho e dos

afazeres prticos, s poderiam ser alcanadas pelo pensamento e, como o ser,

enunciadas pela linguagem abstrata de Parmnides. Como em Parmnides,

em Scrates se repete a ideia da existncia de um verdadeiro, de um

abstrato que puro pensamento, e de um falso, que pura

glssa, phon e doxa.

Aristteles vai mais longe ainda do que Scrates na concepo de

um totalmente abstrato e lingustico, ao separar o complexo das

atividades humanas em categorias separadas e opostas entre si. Com ele, a

atividade produtiva das mos, a tekn e a poisis, a atividade da maioria dos

indivduos da cidade, ser excluda da atividade prtica poltica e moral, a

chamada prxis, e das atividades noticas, as atividades contemplativas da

alma humana que apreendem o absoluto e os primeiros princpios de todos os

seres, atividades tidas como excelncias e prprias somente dos senhores.

Em nome deste purgado e abstrato concebido por

Parmnides, Aristteles em sua Poltica chegava, assim, at mesmo a negar o

direito de cidadania a todos aqueles membros da cidade que no tivessem o

, o enquanto linguagem e discurso, como sua atividade central, tais

como as mulheres, os artesos e os escravos. Segundo Aristteles, estes

indivduos podiam ser exmios manejadores do corpo e das mos, podiam

ainda ser exmios manejadores dos nmeros, mas no da palavra, do discurso,

do dilogo, da concrdia e do entendimento.

Para justificar seu preconceito em relao s camadas populares

da cidade e ao em seu sentido originrio, Aristteles diferenciava

de glssa e phon. seria a atividade propriamente lgica do pensamento

e da linguagem, enquanto phon e glssa seriam vistos meramente como voz

e como lngua. Os artesos, os escravos e mesmo as mulheres gregas

possuiriam phon e glssa, mas no . Em nome de um abstrato,

do que somente palavra, Aristteles negava, assim, como Parmnides,

haver racionalidade nas mais variadas atividades humanas, na maioria das

atividades na verdade, nas atividades essenciais vida humana, onde o

enquanto palavra no se fazia diretamente presente.

J no mundo romano e a partir da emergncia do cristianismo,

continuou a ser empregado especialmente, se no exclusivamente, no

sentido unilateral e subjetivo de palavra e discurso. Nos evangelhos cristos,

que mais tarde determinaro toda a concepo medieval de ,

aparece claramente com este significado subjetivo de dizer, de verbo e palavra.

Especialmente no Evangelho de Joo, sempre compreendido como

verbo ou palavra. Irmos, no vos escrevo um novo mandamento, mas o

mandamento antigo, que desde o princpio [] tivestes. O antigo

mandamento a palavra [] que desde sempre ouvistes: Epstola de Joo

2.7. O que era desde o princpio [], o que temos ouvido, o que temos

visto com os nossos prprios olhos, o que contemplamos, o que as nossas

mos apalparam, com respeito ao Verbo da vida [ ]: Epstola de

Joo 1.1. No princpio era o Verbo [], e o Verbo [] estava com

Deus, e o Verbo era Deus [ ]: Evangelho de Joo 1.1.

Tambm no Livro do Apocalipse, aparece como palavra: Estava vestido

com um manto tinto de sangue; e o nome pelo qual se chama a Palavra de

Deus [ ]: Apocalipse 19.13.

A partir da Modernidade e de volta s mos e letra dos filsofos,

especialmente daqueles ligados ao nascimento das cincias da fsica e da

matemtica, o termo voltar a ser visto em seu sentido pitagrico de

nmero, razo e proporo. Ao sentido pitagrico de juntar-se-, ainda, o

sentido latino de como faculdade, como cogito, ratio e cognitio. Com este

sentido pitagrico e romano do termo, ser visto pelos filsofos da

cincia moderna meramente como a faculdade da razo de raciocinar,

enumerar e calcular corretamente.

Mesmo em Hegel, filsofo de profunda inspirao grega e crtico

da racionalidade cientfica concebida pela modernidade, o enquanto

Geist ou Esprito ser visto essencialmente como linguagem, como j viam

Scrates, Plato, Aristteles e toda a tradio filosfica crist. Ser na

linguagem, ainda que no na linguagem dos nmeros, do sentimento, da arte e

da f, mas na linguagem do Esprito, que o se expressar em toda a sua

verdade, especialmente em sua Cincia da Lgica, a cincia do ser puro e

abstrato, do ser que totalmente pensamento.

A Cincia da Lgica de Hegel a apresentao pura e racional do

enquanto linguagem, do enquanto o conjunto das categorias

abstratas e puras do pensamento, a cincia emancipada de todo carter

prtico e utilitrio, a cincia das cincias, a lgica das lgicas e o saber de

todo saber. A Cincia da Lgica, assim, o estudo do saber puro, das

essencialidades puras e dos pensamentos puros. A Cincia da Lgica, assim,

o esprito que pensa sua essncia23, diz Hegel. Deste modo, diz Hegel, a

lgica se determinou como a cincia do pensar puro, que tem como seu

princpio o saber puro... o ser sabido como conceito puro em si mesmo e o

conceito puro sabido como o ser verdadeiro24.

O conceito puro sabido como o ser verdadeiro porque para a

lgica, como para toda ontologia desde Parmnides, ser e pensar, realidade e

pensamento, so o mesmo. Estudando-se o pensamento em suas categorias

puras e conceituais, estuda-se e se conhece, ao mesmo tempo, a realidade

que estaria fora do pensamento, pois esta mesma realidade pensamento.

Nesta relao de coincidncia entre pensamento e realidade e sendo as

determinaes do pensamento as mesmas determinaes do ser, a Lgica se

torna uma Ontologia e, por conseguinte, como diz Taylor comentando a Cincia

da Lgica de Hegel25, descobrindo as relaes necessrias entre os conceitos

categoriais da lgica transcendental [da lgica que uma ontologia], tambm

estaremos descobrindo a estrutura necessria da realidade. Por conseguinte,

diz Taylor a Lgica apresenta uma cadeia de conceitos necessariamente

conectados que fornecem a estrutura conceitual da realidade26.

5. Causas da noo abstrata de

A separao do enquanto razo, pensamento e linguagem,

enquanto ao abstrata do intelecto, do enquanto ao de recolher,

juntar e ordenar manualmente tem origem, inicialmente, na diviso social do

trabalho fundada na escravido. Com a escravido grega clssica, surge pela

primeira vez na histria humana uma separao real e verdadeira entre as

atividades puras e abstratas do intelecto e as atividades das mos operadas

pelos escravos, artesos e mulheres da cidade. O surgimento de uma classe

de homens ociosos e liberados das necessidades do trabalho tornou

sociologicamente possvel a emergncia da metafsica, da lgica e da filosofia

enquanto cincias puras e abstratas, sem qualquer propsito prtico e utilitrio

imediato. A atividade manual das mulheres, dos escravos e dos artesos, que

23

George W. F. Hegel: Cincia da Lgica. 1. A doutrina do ser. Petrpolis R.J: Editora Vozes, 2016. 24

Hegel, p. 63. 25

Charles Taylor: Hegel: Sistema, mtodo e estrutura. So Paulo: Editora Realizaes, 2014, p. 255. 26

Taylor, p. 259.

permaneciam presos s necessidades da natureza e do trabalho, aparecia,

assim, para esses homens ociosos, diante da sofisticada e complexa

linguagem categorial da filosofia e da lgica, como pura doxa sem pensamento

e sem .

A necessidade dessa base natural desenvolvida e dessa diviso

social do trabalho para o surgimento de um pensamento de natureza

especulativa e no utilitria j era compreendida por Aristteles ainda no

mundo antigo. Como diz ele no Livro I da Metafsica comentando o surgimento

das cincias no utilitrias, como a Matemtica egpcia e a Filosofia:

Todas as artes utilitrias j estavam inventadas quando se

descobriram estas cincias que no se aplicam nem aos prazeres

nem s necessidades da vida. Nasceram primeiro naqueles

pontos onde os homens gozavam do cio. As matemticas foram

inventadas no Egito, porque neste pas se deixava muito tempo

livre para a casta dos sacerdotes.27

Hegel, que assim como Aristteles fora um grande historiador da

filosofia, comenta esta passagem da Metafsica em sua Cincia da Lgica

confirmando que a necessidade de ocupar-se com os pensamentos puros

pressupe um longo percurso pelo qual o esprito humano tem que ter passado

e que a ausncia e a abstrao da carncia, da utilidade, da praticidade e da

necessidade estavam na base do surgimento da lgica como a cincia dos

objetos na sua abstrao completa28.

Porm, j em sua juventude de Iena, Hegel compreendia que a

filosofia como cincia tinha sua origem numa ciso ocorrida no interior do

. Como diz ele na Diferena entre os sistemas de filosofia de Fichte e

Schelling [p. 18], a ciso [Entzweiung] e a contraposio [Entgegenstze] entre

esprito e matria, alma e corpo, f e entendimento, liberdade e necessidade,

razo e sensibilidade, inteligncia e natureza, subjetividade e objetividade, ser

e no-ser, conceito e ser, finitude e infinitude, e tantas outras, so as fontes da

necessidade da filosofia.

27

Aristteles: Metafsica, p. 07. 28

Hegel, p. 34.

O desenvolvimento infinito da diversidade [unendlichen

Entwicklung von Mannigfaltigkeit] e da particularidade no interior da unidade

originria do , a transformao de contraposies relativas em

contraposies absolutas [absolut Entgegengesetzten], o fixar absoluto da

ciso por meio do Entendimento [das absolute Fixieren der Entzweiung durch

den Verstand], o desenvolvimento da anlise e das contraposies do

Entendimento em detrimento do desenvolvimento da sntese e da Razo e a

transformao destas contraposies em essncias fixas, imutveis, isoladas e

autnomas uma da outra esto na base da origem da necessidade da filosofia,

diz Hegel [pp. 17-24].

Uma vez que a unidade originria do cindida e suas

partes complementares so isoladas e contrapostas como coisas estranhas

umas s outras, uma vez que surge a atividade abstrata do Entendimento

transformando aquilo que mera manifestao do absoluto no prprio

absoluto, surge a necessidade da reunificao e da reconciliao do absoluto

pela atividade da Razo e da Filosofia. Como diz Hegel: a necessidade da

filosofia surge quando o poder de unificao [die Macht der Vereinigung]

desaparece da vida dos homens e os opostos [Gegenstze] perdem sua viva

relao e interao e cobram uma vida de autonomia [Selbstndigkeit] [p. 20].

A emergncia de um poder racional unificador representado pela

Razo [Vernunft] e a Filosofia se faz necessria, diz Hegel, quando o

Entendimento [Verstand] contrape, frente a frente, como duas essncias fixas,

separadas e estranhas, um mundo de ser pensante e de essncia pensada

em contraposio a um mundo de realidade efetiva [eine Welt von denkendem

und gedachtem Wesen, im Gegensatz gegen eine Welt von Wirklichkeit] [p.

21].

Com a ciso no interior da unidade e da identidade originrias do

surge a inverso metafsica e o que mero fenmeno aparece como

sendo o prprio absoluto. Na histria da cultura, por isso, diz Hegel, aquilo que

manifestao do absoluto [Erscheinung des Absoluten] se tem isolado do

absoluto [Absoluten isoliert] e se fixado como algo autnomo [ein Selbstndiges

fixiert] [p. 18]. Na formao da cultura surgem, deste modo, a metafsica e a

inverso mstica da realidade, onde aquilo que era mero fenmeno

[Erscheinung] e manifestao aparente do absoluto [Erscheinung des

Absoluten], onde aquilo que era mera essncia parcial e diversa

[mannigfaltigen Teilwesen], diz Hegel, se tem hipostasiado e se entificado na

forma do ser absoluto enquanto tal.

A histria da cultura filosfica, diz Hegel, pode ser assim definida

como a histria das diferentes formas assumidas pelo absoluto enquanto

essncia ou substncia no interior do mundo dos entes. No progredir da

cultura, diz Hegel, estas diferentes contraposies e manifestaes do absoluto

se isolam em domnios totalmente separados e para cada um deles no tem

nenhum significado o que sucede com o outro [p. 22]. Nesta histria, porm,

diz Hegel [p. 20], a atividade infinita do devir e do produzir [unendlichen

Ttigkeit des Werdens und Produzierens] da Razo tem superado o

Entendimento e unificado o que estava dividido, e rebaixado a ciso tida como

absoluta [absolute Entzweiung] a uma ciso relativa [relativen Entzweiung]

condicionada identidade originria [ursprngliche Identitt] do .

O mesmo Hegel, porm, no tem qualquer pudor em se

contradizer e repetir o velho modelo parmenideano de repartir o em

material e espiritual, sensvel e suprassensvel, abstrato e concreto, finito e

infinito e atribuir exclusivamente aos aspectos espiritual, suprassensvel,

abstrato e infinito do o carter de verdade, efetividade, realidade e

essencialidade, em contraposio aos demais aspectos contrrios,

considerados como no verdadeiros, no efetivos, no reais e no essenciais

[Colletti, pp. 11 a 13 principalmente].

Alm desta origem sociolgica, a lgica e a metafsica possuem

ainda uma origem ontolgica. Em segundo lugar, assim, a lgica e a metafsica

tm sua origem na capacidade natural contida no interior do prprio

pensamento de se cindir com a realidade que est fora do pensamento, de se

distinguir e se separar da ao e do fazer manuais. A metafsica e a eleio do

como pensamento e linguagem tm origem na capacidade natural do

intelecto de abstrair da multiplicidade emprica e sensvel dos entes suas

determinaes essenciais e ontolgicas e da transformao destas abstraes

em essncias, categorias e conceitos.

O segundo passo para a transformao destas categorias e

conceitos em abstraes e essncias metafsicas ocorre quando estas

abstraes, estes meros predicados e qualidades abstratas da coisa pensada,

so hipostasiadas e transformadas em sujeitos, essncias, substncias, almas

e entidades separadas, independentes e autnomas, tornando-se coisas em si

e por si mesmas, sem nenhuma dependncia com a coisa da qual tm sua

origem e sua existncia. Uma vez hipostasiadas e entificadas, estas essncias

e predicados passam, ento, invertidamente, a se relacionarem entre si como

verdadeiras substncias e sujeitos autonomizados da vida humana. Nesta

inverso metafsica, o que era predicado torna-se essncia e sujeito e o que

era sujeito torna-se predicado e, assim, coisa de menor valor ontolgico.

Deste modo, Scrates, por exemplo, acreditava, na Repblica

[Livro X 596b a 599b], na anterioridade lgica e ontolgica do pensamento

em relao ao de fazer pela circunstncia de que o arteso fabricante de

camas, antes mesmo de se debruar sobre a matria da cama, antes mesmo

de apreender, de separar e de arrancar a cama com as mos do interior da

madeira, j a possua previamente apreendida e separada como ideia no

interior do intelecto.

A cama fabricada pelo arteso seria, assim, na ontologia de

Scrates, mera cpia da cama ideal, da cama cujo autor seria Deus, sendo

esta cama divina o modelo verdadeiro, fiel e perfeito da cama no divina. A

ideia de cama guardada na memria do arteso, a representao ideal da

coisa fabricada, a capacidade desta coisa permanecer separada e guardada

eternamente na memria mesmo depois da cama real se desfazer, se consumir

e desaparecer da realidade aparecia para Scrates como prova da existncia

prvia, independente, separada, real e efetiva da ideia em relao matria

fabricada que se encontrava fora da mente. A cama fabricada pelo marceneiro

aparecia, ainda, para Scrates, como ontologicamente inferior em perfeio e

realidade cama que existia previamente como ideia e concepo de Deus. O

verdadeiro da realidade aparecia, assim, para Scrates, como o

passivo e abstrato do pensamento de Deus, e no como o concreto e

ativo das mos do fabricante.

Aristteles tambm partia desta mesma circunstncia para

explicar a relao entre forma e matria na Metafsica [Livro Stimo captulos 8

a 11]. Aristteles compreendia que a matria em si e por si mesma uma

substncia inexistente e totalmente dependente da ao superior e inteligvel

da forma, que a matria no poderia, nem mesmo em pensamento, existir

separada da forma. A forma, por seu lado, por ser uma substncia imaterial,

por ser puro pensamento, poderia ser separada, ainda que apenas

mentalmente, da matria, podendo existir e ser pensada em si e por si mesma,

independentemente da matria. A partir desta separao mentalmente

possvel, Aristteles passa a conceber a separao real da forma em relao

matria ao conceber a existncia de uma entidade divina totalmente atual e

abstrata na forma de um primeiro motor imvel que move sem ser movido, de

uma entidade abstrata que pensamento de pensamento e princpio de

existncia para todas as coisas.

A metafsica e a separao entre forma e matria se completa

quando os filsofos passam a conceber entes e ideias puras, ao contrrio da

ideia de um bem fabricado, que j no possuem qualquer referente sensvel

fora do pensamento, tais como as ideias de beleza em si, bondade em si,

justia em si, ser puro, nada puro, espao puro, tempo puro, eu puro, saber

puro, essncia, substncia, alma, deus e tantas mais. A partir de ento, o

filosfico se emancipa completamente do sensvel, partindo para uma

viagem etrea alm do mundo e para a anlise metdica e detalhista de suas

prprias criaes mentais puras e abstratas, sem se preocupar com sua

existncia ou no fora do pensamento.

A partir destas duas circunstncias, sociolgica e ontolgica, os

filsofos puderam acreditar realmente que seria possvel separar o pensamento

que est na mente da realidade que est fora da mente, produzindo, assim,

uma viso de enquanto puro pensamento, enquanto pura ao de

pensar e raciocinar que se manifestava em suas prprias produes

intelectuais puras e abstratas, como na Metafsica, na Ontologia e

especialmente na Lgica. A ideia original de como a totalidade viva,

inteligvel e prtica das aes do homem, como unitrio que

simultaneamente um fazer da mente e das mos, uma ao conjunta de

distinguir, separar, juntar, enumerar, ordenar, dispor, estender e significar todos

os entes da realidade, sejam estes entes os signos abstratos da linguagem e

dos nmeros ou os demais signos da realidade, como os deuses, a justia, a

guerra, o trabalho, a pesca, o plantio, a colheita, a partilha, o consumo e a vida

como um todo.

Em terceiro lugar, o empobrecimento do rico sentido originrio do

termo pela letra dos filsofos pode ser compreendido pelo seguinte

motivo. enquanto linguagem se relaciona ideia de discurso, dilogo,

concrdia e entendimento e se ope diretamente ao termo grego hybris, que

pode ser compreendido como violncia, desmedida, excesso, desregramento,

discrdia e disputa.

Os filsofos gregos compreendiam que a linguagem seria aquilo

que prprio natureza do homem, que o homem seria, sobretudo, um ser de

linguagem, um ser capaz de se relacionar entre si de maneira ordenada,

regrada e racional atravs da palavra racional e regrada do . Se

relacionar entre si atravs do , de um que somente pensado,

falado e ouvido, de um ordenado segundo as regras da gramtica, de

um medido e comum a todos os falantes de uma comunidade, era o que

haveria de propriamente humano no homem, ao contrrio da hybris, da

selvageria, da violncia e da desmedida das paixes, da guerra e dos conflitos

civis, das matanas e mortes entre si, to comuns entre as cidades gregas do

perodo clssico. Pela fora divina e ordenadora do , pela fora do

dilogo, de seus discursos, de sua concrdia, de seu entendimento, de suas

palavras e de sua educao, os filsofos acreditavam poder domesticar e

reprimir a fora violenta, selvagem e desumana da hybris grega.

A hybris seria, assim, na viso filosfica grega, aquilo que

prprio natureza dos animais e, quem sabe, dos brbaros e dos escravos do

Mediterrneo, daqueles que no possuem linguagem, mas apenas lngua e

voz, glssa e phon, como dizia Aristteles em sua Poltica referindo-se aos

brbaros.

No seria pela hybris e pela violncia, portanto, que os homens se

entenderiam entre si como homens, mas pelo , pela palavra e pelo

discurso. Para combater a violncia e a brutalidade da hybris, das paixes

desenfreadas e dos excessos do prazer, os filsofos gregos passaram, ento,

a imaginar e a descrever cidades ideais construdas e organizadas pelo ,

pelo metafsico que somente razo, pensamento e linguagem, e a

excluir destas cidades, ou da cidadania, todos aqueles que contrariassem, em

aes ou em palavras, o abstrato e metafsico da linguagem filosfica.

Segundo o princpio de identidade concebido por Parmnides, da

guerra s poderia surgir a guerra, assim como do fogo s poderia surgir o fogo,

do ser o prprio ser e do no ser o no ser. A diferena e a desigualdade

jamais poderiam vir do ser. Assim como a identidade e a igualdade jamais

poderiam vir do no ser. Assim, para combater a hybris, a violncia e a guerra

civil que tomavam conta da cidade clssica, no se poderia empregar a prpria

hybris, pois da hybris no poderia vir o .

Para combater a hybris seria necessrio ento, desenvolver sua

fora contrria, a fora do , a fora abstrata da palavra e do

entendimento, que se ope absolutamente desmedida e irracionalidade da

hybris, pois do , que dilogo, concrdia e entendimento, s poderia vir o

. O romantismo filosfico grego, em sua crena parmenideana da

identidade e em sua viso abstrata e idealizada de , tombaria, assim,

como tombou historicamente, vtima de seus prprios pressupostos idealizados

e abstratos.

6. Concluso

Com a ciso e a dissoluo da unidade originria e arcaica do

, a realidade passa a ser determinada e governada monocraticamente

por um nico fragmento particular do . Este cindido e

autonomizado se apresentar, ento, diante dos outros fragmentos, como o

absoluto e a verdadeira arkh de toda a realidade. Os demais fragmentos

sero, por sua vez, considerados como falsos representantes do e da

realidade. Na medida em que forem vistos como verdadeiros, a verdade destes

fragmentos dever sua origem ao fragmento superior e autonomizado pelo

pensamento. Com a ciso surgiro, assim, na histria da cultura, a Filosofia e a

Metafsica como cincias oficiais da realidade.

Podemos afirmar, a partir do acima desenvolvido, que a

Metafsica se sustentar sobre um conjunto de aspectos tais como:

1. A ideia de que haja na realidade um ser absolutamente

incondicionado que seja essencialmente em-si e para-si mesmo,

em oposio a outro que seja somente ser por-outro e para-outro.

2. A metafsica se sustentar na prtica da hypostasia, na

converso em absoluto daquilo que somente relativo e parte de

uma totalidade maior.

3. A concepo de uma ciso no interior do logos e de dois domnios

separados e contrapostos entre si [ser-no ser; verdade-falsidade;

aqum-alm; finito-infinito; sensvel-suprassensvel, concreto-

abstrato; ideal-material; ntico-ontolgico; essncia-fenmeno,

uno-mltiplo; identidade-diferena; movimento-repouso; visvel-

invisvel; matria e forma etc.]

4. A metafsica possuir, assim, como pressuposto, a ciso e a

oposio entre pensamento e ser, esprito e natureza, linguagem

e pensamento, trabalho material e trabalho intelectual, e tantas

outras do rico arsenal categorial da realidade e do pensamento, e

a crena que a parte relativa ao pensamento constitui, por si s e

isoladamente, toda a realidade e efetividade em si e por si

mesma, independente da existncia de todas as demais partes.

5. A concepo da ideia de verdadeiro e de essncia e de que o

verdadeiro ser a essncia, o invisvel e fundamental da coisa e o

no verdadeiro ser o fenmeno, o visvel e no fundamental da

coisa.

6. Concepo da ideia de superior e inferior e na eleio de um dos

polos da ciso como polo superior e o outro como inferior

segundo a essncia. O superior ser aquele que existe

absolutamente em-si e para si. O inferior ser aquele que existe

somente por-outro e para-outro. O superior ser o essencial,

efetivo, real e verdadeiro. O inferior ser o no essencial, no

efetivo, no real e no verdadeiro. O superior ser associado ao

pensamento e s coisas pensadas e criadas pelo pensamento

aos conceitos e categorias. O inferior ser associado ao mundo

da vida cotidiana e material, ao mundo dos sentidos e da paixo.

7. Concepo da ideia de anterioridade e posterioridade no universo

do logos: o anterior ser associado ao superior e o posterior ao

inferior. Concepo da ideia de absoluto: aquilo que era s uma

caracterstica, um aspecto, um elemento, uma parte, um

predicado da realidade passar condio de sujeito e os demais

elementos condio de sujeitados. O polo superior passar a

existir como absoluto e o superior como sua cpia ou

manifestao.

8. Autonomizao do ente superior: uma vez criado, o absoluto

ganhar independncia e autonomia em relao ao que no

absoluto. O verdadeiro e essencial da realidade ser visto como o

absoluto.

9. Inverso entre essencial e no essencial: o essencial ser visto

como no essencial; o verdadeiro como no verdadeiro; o efetivo

como no efetivo; o real como no real. O que particular tornar-

se- geral e o que geral particular. O que resultado aparecer

como princpio.

10. Esprito de negao e renncia ao mundo diversificado da

vida, da paixo e dos sentidos; esprito de negao e condenao

do finito em nome do infinito e do sensvel em nome do

suprassensvel; esprito insacivel pela ideia de igualdade;

esprito de indiferena e de negao diante do mundo; esprito de

ascese e projeo do aqum para o mundo do alm.

11. Surgimento da contradio entre os polos extremos e a

necessidade racional de um terceiro termo intermedirio que os

reunifique, ou inversamente, a necessidade de se escamotear as

contradies expulsando-as para fora do pensamento.

12. Mtodo da remisso e da busca dos fundamentos e da

arch. Arch aquele fundamento oculto aos sentidos humanos

que d sentido e racionalidade ao mundo e coisa investigada

que se esconde para alm de toda capacidade sensvel do

homem. O que no possuir arch no possuir racionalidade e

realidade, no sendo, por isso, capaz de ser pensado e conhecido

pelo intelecto humano.

13. Mtodo da reduo e da simplificao: o mltiplo e a

pluralidade devem ser simplificados e reduzidos a uma mesma

coisa nica e igual; este nico e igual ser a verdade da

multiplicidade e da pluralidade.

A Metafsica se construir, assim, atribuindo aos aspectos

supostamente superiores do , os aspectos do pensamento, do espiritual,

do infinito e do suprassensvel, a qualidade de ser em-si e por-si, a qualidade

de ser absoluto, em oposio aos aspectos supostamente inferiores, os

aspectos da matria, do finito e do sensvel, que sero vistos como

dependentes e carentes de realidade em-si e por si-mesmos, sem perceber o

carter contraditrio desta mesma atribuio, pois, como pode algo existir

absolutamente ao lado do que no absolutamente sem deixar de ser

absolutamente? Como poder o infinito existir absolutamente ao lado do finito

sem deixar de ser infinito? Como poder a unidade existir absolutamente ao

lado da multiplicidade sem deixar de ser unidade? Como poder o

absolutamente espiritual existir enquanto tal ao lado do material sem deixar de

ser absolutamente? Como poder o absolutamente pensado existir enquanto

tal ao lado do no pensado sem deixar de ser absolutamente? Enfim: como

poder o absoluto existir enquanto tal ao lado do no absoluto sem deixar de

ser absoluto?

A Metafsica no consegue perceber que o abstrato, o infinito e o

suprassensvel representados pelo pensamento e pelo espiritual no passam

de meras qualidades abstradas do , no passam da negao da

materialidade, da finitude, da sensibilidade e da concretude presentes no

interior do prprio , que o abstrato, o infinito, o pensamento, o espiritual e

o suprassensvel so, por isso, qualidades e entidades to negativas quanto as

qualidades e as entidades que pretende combater e condenar ao mundo da

no existncia e da no essencialidade. A mesma Metafsica deixa

transparecer em sua prpria linguagem que ao se referir ao abstrato, ao infinito,

ao pensamento, ao esprito e ao suprassensvel, se refere, inconscientemente,

ao que a negao abstrata do concreto, do finito, da matria, do corpo e do

sensvel.

7. Referncias bibliogrficas

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