Danuza Montijo Diniz - Grupo Santa Casa BH - DANUZA... · A Gracy companheira e amiga de todas as...

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Danuza Montijo Diniz AÇÃO FARMACOLÓGICA DA TOXINA Phα1β ISOLADA DO VENENO DA ARANHA Phoneutria nigriventer EM MODELOS DE DOR VISCERAL EM CAMUNDONGOS Instituto de Ensino e Pesquisa Pós-Graduação da Santa Casa de Belo Horizonte Pós-Graduação em Medicina e Biomedicina BELO HORIZONTE 2012

Transcript of Danuza Montijo Diniz - Grupo Santa Casa BH - DANUZA... · A Gracy companheira e amiga de todas as...

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Danuza Montijo Diniz

AÇÃO FARMACOLÓGICA DA TOXINA Phα1β ISOLADA DO VENENO DA

ARANHA Phoneutria nigriventer EM MODELOS DE DOR VISCERAL EM

CAMUNDONGOS

Instituto de Ensino e Pesquisa

Pós-Graduação da Santa Casa de Belo Horizonte

Pós-Graduação em Medicina e Biomedicina

BELO HORIZONTE

2012

2

Danuza Montijo Diniz

AÇÃO FARMACOLÓGICA DA TOXINA Phα1β ISOLADA DO VENENO DA

ARANHA Phoneutria nigriventer EM MODELOS DE DOR VISCERAL EM

CAMUNDONGOS

.

Orientador: Prof. Dr. Marcus Vinícius Gomez

Co-Orientadora: Profa

Dra

Alessandra Hübner de Souza

BELO HORIZONTE 2012

Dissertação submetida ao Curso de Pós-graduação em Medicina e Biomedicina do Instituto de Ensino e Pesquisa da santa Casa de Belo Horizonte como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Ciências.

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Este trabalho foi realizado no Laboratório da pós-graduação do Instituto de

Ensino e Pesquisa da Santa Casa de Belo Horizonte com o auxílio das

seguintes instituições:

-Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)

-Coordenação de Aperfeiçoamento de Nível Superior (CAPES)

-Capes Toxinologia 1444/2011 -Capes AUXPE 2865/10 -Pronex -Fapemig

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“Sábio é aquele que conhece os limites da própria ignorânciaa”

Sócrates

5

Dedico essa tese

A minha família, principal incentivadora de meus estudos.........

Aos meus pais, Kleber e Jara, meus imãos Arabelle e Bernardo

que sempre souberam guiar meus passos e sempre me

proporcionaram plenas condições para atingir meus objetivos.

6

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por me direcionar e me capacitar a alcançar mais esta

conquista.

Aos meus Pais, pelo apoio incondicional, amor, paciência, força,

otimismo.

Aos meus irmãos, pela lição de amor, e alegria diária.

A minha avó, tios e primos pelas orações, presença, torcida e risadas,

vocês são parte da minha felicidade.

Meu tio Sinésio Bastos, seu filho Sinesinho por suas sábias palavras e

me incentivar desde o começo, a todos da casa do meu tio pelas risadas e

tardes de cafes maravilhosas....

A Gracy companheira e amiga de todas as horas aqui em BH...

Ao Felipinho pelo carinho e muita paciência comigo...

Agradeço ao meu orientador, professor Marcus Vinícius pela

oportunidade que me deu para o meu crescimento profissional, mas também

pessoal, fundamentais para o alcançar essa conquista. Sua maneira de

conduzir a pesquisa faz com que todas as pessoas ao seu redor se tornem

apaixonadas pelo mundo científico! Obrigada por tudo!

A minha grande amiga e co-orientadora Alessandra Hübner de Souza,

obrigada por acreditar em mim, pelo carinho, dedicação e incentivo sempre.

Adoro vc guria!!

Aos professores do IEP da Santa Casa pela disponibilidade e acolhida...

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A Juju (béeerra cabrita) pela amizade, carinho, paciência e

companheirismo. Pessoa que não mediu esforços para me ajudar em meus

experimentos... Adoro vc cabritinha!

Ao Célio, pela amizade sincera, pelo carinho e pela ajuda científica...

A Elizete pelo carinho, dedicação e pela ajuda científica...

A Luciene pela amizade, carinho e grande ajuda científica

Nanci exemplo de força e determinação obrigada pelo carinho e

amizade...

Fabíola exemplo de pesquisadora, obrigada pelo incentivo sempre...

Ao Xandoca pelo carinho, ensinamentos e amizade...

Ao meu grande amigo Bráulio pelos ensinamentos, amizade e me fazer

rir quando precisava mesmo que de longe...

Ao Cláudio pelo carinho e amizade...

Ao pessoal da santa Casa o Diogo, Aírton, Fabi, Níbia, Carol a todos

pelo carinho e amizade de todos os dias...

Aos meus amigos queridos de laboratório, em especial o grupo da

neurofarmacologia: Drica, Pat, Simone, Vítor, Alexandre magno (meu rei),

Jéssica, Cinthia, Lucélia, Priscila, Luíza, Gabriel, Flavinha, Daiane, Karen, Dani

a todos pelo companheirismo.

Às funcionárias: Nívea, Shirley, Zélia e as meninas da limpeza. Vocês

foram fundamentais para este trabalho.

Aos animais utilizados, meu respeito e gratidão.

Ao IEP da Santa Casa de Belo Horizonte e às entidades financiadoras

CAPES, CNPq, pelo suporte e incentivo na busca pela excelência da pesquisa

brasileira

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SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS ..................................................................................................... 6

LISTA DE ABREVIATURAS ........................................................................................... 10

Lista de Figuras .............................................................................................................. 11

Resumo ........................................................................................................................... 12

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 14

1.1 DOR E NOCICEPÇÃO ............................................................................................ 14 1.2 CLASSIFICAÇÃO DA DOR ................................................................................... 15

1.2.1 Dor visceral ................................................................................................... 17

1.3 MECANISMOS DA HIPERALGESIA VISCERAL- MECANISMOS

PERIFÉRICOS E CENTRAIS ....................................................................................... 18 1.3.1 SENSIBILIZAÇÃO CENTRAL ..................................................................................... 19

1.4 MECANISMOS NEURAIS DA DOR ...................................................................... 20

1.5 MEDIADORES QUÍMICOS NA VIA NOCICEPTIVA ......................................... 25 1.6 CANAIS DE CÁLCIO SENSÍVEIS À VOLTAGEM .............................................. 28

1.6.1 SUBUNIDADES MOLECULARES DOS CANAIS DE CÁLCIO ............. 29

1.7 CANAIS DE CÁLCIO SENSÍVEIS À VOLTAGEM (CCSV) E NOCICEPÇÃO .. 29 1.8 USO DE TOXINAS ANIMAIS COMO AGENTES TERAPÊUTICOS .................. 32

1.8.1 Phoneutria nigriventer .................................................................................. 32

2. OBJETIVOS ............................................................................................................... 37

2.1 OBJETIVO GERAL ................................................................................................. 37

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS .................................................................................... 37

3 MATERIAL E MÉTODOS ......................................................................................... 38

3.1 MATERIAIS ................................................................................................................ 38 DROGAS E TOXINAS ......................................................................................................... 38 ANIMAIS .......................................................................................................................... 38 3.2 MÉTODOS ............................................................................................................... 39

3.2.1 TESTES COMPORTAMENTAIS ................................................................ 40

4 RESULTADOS ........................................................................................................... 44

4.1 AVALIAÇÃO DO EFEITO ANTINOCICEPTIVO DA PH1 NAS CONTORÇÕES ABDOMINAIS

DE CAMUNDONGOS INDUZIDA POR ÁCIDO ÁCETICO. ........................................................ 44

4.2 AVALIAÇÃO DO EFEITO ANTINOCICEPTIVO DA MVIIA NAS CONTORÇÕES ABDOMINAIS

DE CAMUNDONGOS INDUZIDAS POR ÁCIDO ÁCETICO ....................................................... 46

4.3 EFEITO DAS TOXINAS PH1 E MVIIA NO CONTEUDO DE GLUTAMATO DO LIQUIDO

CEREBROESPINHAL DE CAMUNDONGOS SUBMETIDOS A DOR VISCERAL INDUZIDA POR

ÁCIDO ÁCETICO. ............................................................................................................... 48

4.4 EFEITO DAS TOXINAS PH1 E MVIIA NO CONTEUDO DE ROS DO LIQUIDO

CEREBROESPINHAL DE CAMUNDONGOS SUBMETIDO A DOR VISCERAL INDUZIDA POR ÁCIDO

ÁCETICO. ......................................................................................................................... 50 4.5 EFEITO DA CONCENTRAÇÃO DA CAPSAICINA INJETADA INTRACOLONICA NO

COMPORTAMENTO NOCICEPTIVO DE CAMUNDONGOS. ...................................................... 52

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4.6 EFEITO ANTINOCICEPTIVO DA PH1 NA DOR VISCERAL INDUZIDA POR INJEÇÃO

INTRACOLONICA DE CAPASAICINA. .................................................................................. 54 4.7: EFEITO ANTINOCICEPTIVO DA MVIIA NA DOR VISCERAL INDUZIDA POR INJEÇÃO

INTRACOLONICA DE CAPASAICINA. .................................................................................. 56 5 DISCUSSÃO ............................................................................................................... 58

6 CONCLUSÃO ............................................................................................................. 61

7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................ 62

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LISTA DE ABREVIATURAS

ω-ctx-MVIIA Ômega-conotoxina-MVIIA

AMPA α-amino-3-hidroxi-5-metil-4-isoxazolproprionato

Ca2+ Íons cálcio

CCSV Canais de cálcio sensíveis à voltagem

CGRP Peptídeo relacionado ao gene da calcitonina

cm Centímetros

g Gramas

GDH Glutamato desidrogenase

h Horas

i.t Administração por via intratecal

i.c Administração intracolônica

K+ Íon potássio

LCE Liquido cerebro espinhal

Na+ Íon sódio NMDA N-metil-D-aspartato PAG Substância cinzenta periaquedutal

P. nigriventer Phoneutria nigriventer

ROS Espécies reativas de oxigênio

s Segundos

SNC Sistema nervoso central

SP Substância P

Tx3-6 Toxina Tx3-6

RVM Medula rostral ventromcdial

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Lista de Figuras

Figura I: O ciclo das vesículas sinápticas

Figura II: Modelo molecular da exocitose de vesículas sinápticas

Figura III: Aranha Phoneutria nigriventer

Figura 1: Avaliação do efeito antinociceptivo da Ph1 das contorções

abdominais de camundongo induzido por ácido ácetico.

Figura 2: Avaliação do efeito antinociceptivo da MVIIA das contorções

abdominais de camundongo induzido por ácido ácetico

Figura 3: Efeito das toxinas Ph1 e MVIIA no conteudo de glutamato do

liquido cerebroespinhal de camundongo submetido a dor visceral induzido por

ácido ácetico.

Figura 4: Efeito das toxinas Ph1 e MVIIA no conteudo de ROS do liquido

cerebroespinhal de camundongo submetido a dor visceral induzido por ácido

ácetico.

Figura 5: Efeito da concentração da capsaicina injetada intracolonica no

comportamento nociceptivo de camundongo.

Figura 6: Efeito antinociceptivo da Ph1 na dor visceral induzida por injeção

intracolonica de capasaicina.

Figura 7: Efeito antinociceptivo da MVIIA na dor visceral induzida por injeção

intracolonica de capasaicina.

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Resumo

Os medicamentos utilizados atualmente no tratamento da dor estão

frequentemente associados a efeitos colaterais graves e desenvolvimento

rápido de tolerância e assim, existe a necessidade de novos fármacos mais

seletivos. O bloqueio de canais de cálcio sensíveis à voltagem (CCSVs) no

corno dorsal da medula espinhal tem se mostrado um alvo promissor, pois a

redução dos níveis de cálcio intracelular é um dos mecanismos de modulação

da informação nociceptiva. O veneno da aranha brasileira Phoneutria

nigriventer contém uma variedade de substâncias com ação

predominantemente neurotóxica, dentre elas a fração Phα1β foi recentemente

descrita como uma potente bloqueadora da neurotransmissão de canais de

cálcio sensíveis a voltagem tipo N. O objetivo deste estudo foi avaliar a

possível atividade antinociceptiva da toxina Tx3-6, purificada do veneno da

aranha Phoneutria nigriventer, uma vez que já foi estabelecida sua afinidade

por CCSVs do tipo-N,-P/Q e –R e comparar sua ação com as ω-conotoxina

MVIIA. O influxo de cálcio através de CCSVs media a informação nociceptiva

no corno dorsal da medula. A administração dos bloqueadores de CCSVs, tais

como a ω-conotoxina-MVIIA (ω-CTx-MVIIA), tem efeito analgésico e estreita

janela terapêutica apresentando muitos efeitos adversos. As toxinas foram

administrada por via intratecal e apresentaram efeito antinociceptivo nos

modelos de dor visceral. A Phα1β mostrou grande eficácia e uma analgesia

longa e demorada em um modelo de dor visceral, quando comparada com a ω-

CTx-MVIIA. Além do mais, a ação analgésica de ambas toxinas estão

relacionadas coma inibição da liberação de neurotransmissores pró-

13

nociceptivos evocados por cálcio, como o glutamato ocorrendo uma diminuição

da liberação de glutamato presente no Líquido cerebro espinhal (LCE). Assim,

o presente estudo demonstrou que a toxina Phα1β apresentou efeitos

analgésicos em modelos de dor visceral, sugerindo que esta toxina pode ter

potencial para ser usada como uma droga para o controle da dor visceral.

14

1 INTRODUÇÃO

1.1 DOR E NOCICEPÇÃO

Dor é uma qualidade sensorial complexa, puramente subjetiva, difícil de

ser definida, descrita ou interpretada. Segundo o Comitê de Taxonomia da

Associação Internacional para o Estudo da Dor, a dor pode ser conceituada

como uma sensação e experiência sensorial desagradável associada a um

dano tecidual atual ou potencial, ou descrita como tal dano (Merskey & Bogduk,

1994; Millan, 1997).

A dor é extensivamente influenciada por ansiedade, depressão,

expectativa e outras variáveis psicológicas. É uma experiência multifacetada,

um entrelaçamento das características físicas dos estímulos com as funções

motivacionais, afetivas e cognitivas do indivíduo. A dor desempenha o papel

de alerta, comunicando ao indivíduo que algo está errado, podendo gerar

estresse acentuado e incapacidade física. É sem sombra de dúvida, a maior

causa de afastamento do trabalho, gerando um enorme ônus para a nação

(Bruno, 2001).

As sensações dolorosas induzem respostas urgentes de seu alívio e nos

animais provocam comportamentos como massagear ou lamber a área lesada.

A dor manifesta-se com intensidade diferente entre os indivíduos, variando de

acordo com o sexo, idade, estado de humor (Ganong, 1988; Agnati et al., 1991;

Faucett & Levine, 1991; Berkley, 1999; Chapman & Gavrin, 1999; Turk &

Okifuji, 1999; Fillingen & Ness, 2000; Sharp, 2001).

A dor, além de uma sensação, é uma experiência. Isto é importante

porque as sensações possuem vias neuroanatômicas, com receptores

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específicos que permitem a detecção e medida de um estímulo. Já as

experiências incorporam componentes sensoriais com influências pessoais e

ambientais importantes. No entanto, clínica e experimentalmente se faz

necessária a distinção entre a dor percebida e a resposta ao dano tecidual ou

nocicepção (Kandel et al., 2003). Assim, o termo nocicepção refere-se somente

à percepção do sinal no sistema nervoso central evocado pela ativação de

receptores sensoriais especializados (nociceptores), provenientes de um tecido

danificado (Fürst, 1999).

Os animais não são capazes de verbalizar os componentes subjetivos

da dor, ou seja, neles não se avalia dor mas nocicepção. Sendo assim, termos

como dor e analgesia são mais adotados para humanos e nocicepção e

antinocicepção para animais (Jones, 1992).

1.2 CLASSIFICAÇÃO DA DOR

A dor pode ser considerada como um sintoma ou manifestação de uma

doença ou afecção orgânica, mas também pode vir a constituir um quadro

clínico mais complexo. Existem muitas maneiras de se classificar a dor.

Considerando a duração da sua manifestação, ela pode se apresentar nas

formas transitória, aguda e crônica. Na dor transitória, a ativação dos

nociceptores acontece na ausência de qualquer dano tecidual, e contribui para

proteger o organismo de potenciais danos físicos causados pelo ambiente ou

por estresse de tecidos corporais. Contudo, a dor aguda, é uma resposta

causada por uma lesão de tecido com conseqüente ativação dos nociceptores

no local da lesão, se caracteriza por ser de curta duração, desaparecendo até

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mesmo antes da cura do dano tecidual. Além disso, a dor aguda é geralmente

de fácil identificação e tratamento, possuindo também caráter protetor

(LOESER & MELZACK, 1999; BRENNAN et al., 2007). Já a dor crônica, é

causada por uma lesão tecidual ou doença, e geralmente ultrapassa o tempo

de recuperação do organismo, ou seja, este tipo de dor pode não desaparecer

mesmo quando o trauma inicial (lesão) foi resolvido. A dor crônica se estende

por meses ou anos, é de difícil identificação, sendo uma patologia que

geralmente necessita de tratamento complexo (BRENNAN et al., 2007;

TRACEY & MANTYH, 2007). Por fim, a dor crônica é causada por uma lesão

tecidual ou doença que geralmente ultrapassa o tempo de recuperação do

organismo, ou seja, este tipo de dor não desaparece mesmo quando o trauma

inicial (lesão) foi resolvido, sendo um importante fator de incapacidade e

sofrimento (Lotsch e Geisslinger, 2001; Loeser e Melzack, 1999). Não é apenas

a duração que distingue a dor aguda da dor crônica, mas a capacidade do

organismo de reparar o sítio da lesão e restaurar os disparos aferentes e o

processamento central normal (Loeser, 2000). Pode-se destacar ainda

alterações adaptativas como a neuroplasticidade em vários níveis do sistema

nervoso tais como sensibilização, desinibição dos neurônios inibitórios do corno

dorsal, reorganização do circuito neuronal do corno dorsal e alterações na

facilitação e inibição descendente da dor. Tendo em vista que estes eventos

são dependentes da intensidade e da duração do estímulo, quanto mais

persistente for o processo doloroso, mais difícil se torna o tratamento do quadro

patológico (Besson, 1999; Woolf e Salter, 2000; Zimmermann, 2001; Wang e

Wang, 2003).

17

1.2.1 Dor visceral

Dor visceral é a forma mais comum de dor para qual os pacientes

muitas vezes procuram atendimento médico. A grande variedade de dores

viscerais incluem cirurgias abdominais, pancreatites, dismenorréia, dores do

parto e desordens funcionais como síndrome do intestino irritado e dispepsia.

Apesar dos consideráveis avanços no conhecimento sobre os mecanismos

básicos subjacentes à dor visceral e hiperalgesia visceral, não há novas

terapias eficazes para a dor abdominal.

A dor visceral é mediada por fibras aferentes do sistema nervoso

autônomo, cujos receptores se localizam na parede das vísceras ocas e na

cápsula dos órgãos parenquimatosos. É originada quando se aumenta a

tensão da parede da víscera, seja por distensão, inflamação, isquemia ou

contração exagerada da musculatura. É uma sensação dolorosa profunda, e

mal localizada, de início gradual e de longa duração. É sentida na linha

mediana do abdome devido à inervação sensorial ser bilateral; fazem exceção

as vísceras duplas como rins e ureteres, anexos uterinos onde a dor tende a

ser do lado afetado, pois nestas as vias nervosas são unilaterais.

A sensação de dor é projetada em diferentes níveis de parede

abdominal, desde o epigástrio até o hipogástrio, na dependência da origem

embriológica da víscera afetada (intestino primitivo superior no epigástrio,

médio no mesogástrio ou inferior no hipogástrio). A dor visceral pode se

associar a hiperestesia cutânea e a hiperestesia muscular.

As vísceras raramente são expostas a estímulos externos mas são

alvos comuns de diversas doenças. A sensibilidade do tecido visceral a

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estímulos térmicos, químicos e mecânicos difere significativamente. As

vísceras parecem mais sensíveis à distensão de órgãos cavitários de parede

muscular, sem dano tecidual, isquemia, e inflamação. A área sobre a qual o

estímulo acontece pode ser uma determinante crucial no desenvolvimento dos

tipos de dor. Os receptores mecânicos ou mecanorreceptores existentes na

musculatura lisa de todas as vísceras ocas são do tipo Aδ e C, e respondem a

estímulos mecânicos leves, tensão aplicada ao peritônio, contração e distensão

da musculatura lisa. O trato gastrintestinal possui receptores químicos e

mecânicos de adaptação lenta e rápida que são classificados em dois grupos:

o grupo de receptores de alto limiar para estímulos mecânicos leves, e o grupo

de baixo limiar para estímulos mecânicos que responde a estímulos agressivos

e não agressivos. O primeiro grupo é encontrado no esôfago, sistema biliar,

intestino delgado e cólon e o segundo, apenas, no esôfago e cólon. A relação

entre a intensidade do estímulo e a atividade nervosa é somente evocada após

a estimulação nociva. (LAMONT e TRANQUILLI, 2000; KRAYCHETE e

GUIMARÃES, 2003).

1.3 MECANISMOS DA HIPERALGESIA VISCERAL- MECANISMOS PERIFÉRICOS E CENTRAIS

Sensibilização Periférica dos Neurônios Aferentes dos Intestinos. Existe

uma grande quantidade de mediadores periféricos (bradicinina, citocinas,

prostaglandinas, serotonina, ATP, prótons H+) que agem diretamente nos

receptores nociceptivos gastrintestinais e inicia a transmissão dolorosa. Podem

ativar imunócitos locais ou outras células, como mastócitos e varicosidades

simpáticas, que liberam interleucinas e substâncias adrenérgicas, perpetuando

19

e facilitando, assim, a hiperexcitabilidade neuronal. Na sensibilização periférica

ocorre, então, redução da intensidade dos estímulos necessários para iniciar a

despolarização neuronal e aumento do número ou da amplitude de descarga

neuronal, em resposta a certos estímulos químicos ou mecânicos.

1.3.1 Sensibilização Central

A sensibilização central é um processo resultante da atividade

sustentada que acontece na fibra aferente primária, após a sensibilização

periférica, favorecendo a liberação de neurotransmissores excitatórios. Estes

aumentam a 4-eficácia da transmissão sináptica entre os neurônios aferentes

primários e os do corno dorsal, envolvendo, portanto, receptores pré e pós-

sinápticos específicos.

Embora o mecanismo de sensibilização visceral central não seja

totalmente conhecido, acredita-se que alguns mediadores como a substância

P, CGRP, aspartato, glutamato, neurocininas, somatostatina e VIP estejam

envolvidos no desenvolvimento e manutenção da sensibilização central

induzida pela inflamação. A ação desses neuromediadores em receptores

específicos ionotrópicos (AMPA, cainato) e metabotrópicos (NMDA) ativa

segundos mensageiros (cAMP, PKC, fosfatidilinositol, fosfolipase C) para

abertura de canais de cálcio e entrada dessas substâncias para o interior das

membranas celulares. Ocorre então produção de outros mediadores (óxido

nítrico e metabólitos do ácido araquidônico) e formação de oncogenes (cfos,

fos B, C jun, jun B e D), que provavelmente alteram a transmissão do potencial

de ação e ultra-estrutura dos nervos e suas sinápses, sensibilização medular e

fenômeno de wind up (aumento da duração da resposta de certos neurônios).

20

Acredita-se, também, que as conexões entre estruturas espinhais e

supraespinhais, as chamadas projeções supraespinhais, estejam envolvidas no

processo de sensibilização central para hiperalgesia viscera

1.4 MECANISMOS NEURAIS DA DOR

A transmissão da dor envolve uma interação complexa de estruturas

periféricas e centrais desde a pele, vísceras e outros tecidos até o córtex

cerebral. Um nervo periférico consiste em axônios de três diferentes tipos de

neurônios: sensoriais primários, motores e pós-ganglionares simpáticos. As

terminações livres de fibras aferentes primárias sensíveis a estímulos nocivos

são chamados de nociceptores (ou receptores da dor) (MILLAN, 1999).

A sensibilização dos nociceptores se deve a diferentes estímulos, tais

como mudança de temperatura (estímulo nocivo térmico), diferença osmótica

ou distensão tecidual (estímulo nocivo mecânico), hipóxia ou lesão tecidual

seguida de inflamação (estímulo nocivo químico). (Julius e Basbaum, 2001).

Esses estímulos nocivos ativam fibras aferentes sensoriais delgadas do tipo C

e A. Além destas, outro tipo de fibra que pode estar envolvida na transmissão

do estímulo sensorial são as fibras do tipo A, que normalmente respondem a

estímulos inócuos aplicados à pele, porém em condições especiais são

capazes de conduzir rapidamente o estímulo doloroso (30-100 m/s). As fibras

A são mielinizadas e de grande diâmetro. Já as fibras do tipo A, de condução

intermediária (12 a 30 m/s), são pobremente mielinizadas, enquanto as fibras

do tipo C são não mielinizadas e transmitem o estímulo nociceptivo de forma

mais lenta (0,5 a 2,0m/s) (Figura I) (JULIUS & BASBAUM, 2001).

21

As fibras aferentes primárias C e A transmitem a informação nociceptiva

da periferia até o corno dorsal da medula espinhal, e suas terminações

encontram-se principalmente nas lâminas I (zona marginal) e lâmina II

(substância gelatinosa). No corno dorsal da medula espinhal neurônios de

primeira ordem fazem sinapse com neurônios de segunda ordem, que

compreendem as vias ascendentes. Assim esses neurônios recebem seus

sinais sensoriais pela liberação de glutamato e SP dos neurônios aferentes

primários; além disso, este processo excitatório também envolve canais de

cálcio, sendo os principais reguladores da liberação de neurotransmissores

(Hill, 2001).

Figura I: Representação esquemática dos diferentes tipos de neurônio

sensoriais primários responsáveis pela condução do sinal nociceptivo da

periferia ao SNC (Adaptado a partir de Julius e Basbaum, 2001).

22

Os neurônios de segunda ordem cruzam a medula espinhal para ascender

ao trato espinotalâmico, projetando seus corpos celulares ao tálamo. No

tálamo, neurônios de terceira ordem emitem axônios através da cápsula interna

do córtex somatosensor, onde a somatização do estímulo nocivo ocorre, ou

emitem axônios ao giro cingulado anterior responsável pelo componente

emocional da dor (Russo e Brose, 1998).

O tálamo e o córtex são regiões finais da projeção das vias de

nocicepção. O tálamo é um dos responsáveis por informar que existe sensação

nociceptiva, e o córtex é responsável pela discriminação do tipo de sensação

nociceptiva e por identificar, de forma pouco fiel, de onde provém (Guyton,

1992).

Além dessa modulação ascendente, existe uma modulação descendente

da nocicepção (Figura II). Existem casos em que pessoas sujeitas a ferimentos

dolorosos, aparentemente, não sentem dor. As vias descendentes originam-se

no tronco cerebral e outras estruturas como hipotálamo, córtex, tálamo, núcleo

magno da rafe (NMR), substância cinzenta periaquedutal (PAG) e estruturas

adjacentes da medula rostroventromedial (RVM), que exercem importante

papel na integração e modulação das mensagens nociceptivas no corno dorsal

da medula espinhal (MILLAN, 2002; VANEGAS & SCHAIBLE, 2004). Os

mecanismos descendentes modulam a resposta nociceptiva por exercer suas

ações em nociceptores presentes nas fibras aferentes primárias, bem como em

neurônios intrínsecos do corno dorsal, como interneurônios excitatórios,

interneurônios inibitórios e neurônios de projeção (MILLAN, 2002). Uma das

descobertas mais interessantes a respeito do circuito modulatório da dor é que

este pode tanto facilitar quanto inibir a transmissão nociceptiva (JULIUS &

23

BASBAUM, 1999; PORRECA et al., 2002). Por exemplo, na RVM (medula

rostral ventromcdial) estão presentes dois tipos de neurônios, as chamadas

células “liga” (on) e as células “desliga “(off), as quais estão envolvidas na

modulação nociceptiva. É proposto que as células “liga” (on) medeiam a

facilitação da condução de estímulos nociceptivos quando ativadas, e as

células “desliga” (off) medeiam a inibição da transmissão nociceptiva,

provocada pela estimulação da substância cinzenta periaquedutal (PAG). De

maneira geral, a substância cinzenta periaquedutal deve excitar as células off e

inibir as células on na medula rostroventromedial (FIELDS et al., 2006). Logo, o

balanço entre a ativação dessas duas subpopulações de neurônios determina a

resposta a um estímulo nociceptivo periférico. No entanto, em situações de dor

persistente, alterações na neuroplasticidade podem resultar em uma

estimulação facilitatória sustentada, o que ocasiona respostas persistentes e

exageradas à dor (REN & DUBNER, 2002; PORRECA et al., 2002).

Além da modulação descendente da informação nociceptiva envolver

uma série de estruturas cerebrais, como mencionado anteriormente, os

sistemas de neurotransmissores também estão envolvidos nesta conexão. Os

neurotransmissores envolvidos serotonina, noradrenalina e opióides

endógenos, parecem inibir a excitação de neurônios de segunda ordem na

presença de estímulo nocivo (FURST 1999; FIELDS, 2006).

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Figura 2- Mecanismo de transmissão e percepção da dor. Diagrama

esquemático mostrando o corno dorsal da medula espinhal que recebem as

informações sensórias oriundas dos terminais periféricos de fibras nervosas

nociceptivas ascendentes (cor vermelha) e fibras descendentes (cor azul).

Figura II- Mecanismo de transmissão e percepção da dor. Diagrama

esquemático mostrando o corno dorsal da medula espinhal que recebe as

informações sensórias oriundas dos terminais periféricos de fibras nervosas

nociceptivas ascendentes (cor vermelha) e fibras descendentes (cor azul).

Fonte: http:/www.coventrypainclinic.org.uk/aboutpain-painmechanisms.htm

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1.5 MEDIADORES QUÍMICOS NA VIA NOCICEPTIVA

A atividade dos nociceptores é mediada pela ação de substâncias

algogênicas que são liberadas e/ou sintetizadas em elevada concentração no

ambiente tecidual na decorrência de processos inflamatórios (Cotran et al.,

1994). Substâncias endógenas como prostaglandinas, neuropeptídeos, cininas,

aminoácidos excitatórios, entre outros, são produzidas e/ou liberadas pelo

tecido lesionado e estimulam os receptores presentes na membrana dos

neurônios. Além disso, os mediadores inflamatórios liberados facilitam a

neurotransmissão e sensibilizam o nociceptor (Björkman, 1995).

Existem várias fontes importantes de mediadores químicos que

participam da resposta dolorosa, entre as quais se destacam os tecidos

lesionados e adjacentes, sistema vascular, células do sistema imunológico,

nervos simpáticos e sensoriais, entre outros. Assim, há liberação local de

diversos mediadores químicos celulares resultantes de lesão tecidual que são

capazes de desencadear uma reação inflamatória local, atraindo macrófagos e

linfócitos. Essas células liberam mediadores inflamatórios como: cininas

(bradicina e calidina); produtos das células imunes (citocinas, como as

interleucinas e o fator de necrose tumoral); aminas (serotonina, histamina) e

prostanóides. Desta forma, a injúria celular e a reação inflamatória que advém

de tal injúria expõe as fibras aferentes primárias (FaPs) a um grande número

de substâncias capazes de estimular o nociceptor. O aferente primário

transmite o impulso nociceptivo a neurônios específicos para nocicepção (EN)

ou a neurônios que também transmitem outras sensações (WDR) no corno

dorsal da medula (Millan, 1997, 1999; Calixto et al., 2000, 2001).

26

A transferência sináptica de informação nociceptiva é comandada pela

liberação de neurotransmissores, como glutamato que está presente em todos

os tipos de aferentes primários. O glutamato, aminoácido excitatório é

encontrado em proporções consideráveis na medula espinhal, originado de

fibras aferentes primárias mielinizadas e não-mielinizadas, em adição a

interneurônios intrínsecos e projeção de neurônios (Battaglia & Rustioni, 1988).

O glutamato e alguns neuropeptídeos são liberados juntos de terminais

aferentes primários e têm ações fisiológicas distintas nos neurônios pós-

sinápticos, atuando coordenadamente para regular as propriedades desses

neurônios (Kandel et al., 2000).

As ações do glutamato é mediada principalmente por receptores

ionotrópicos NMDA e não-NMDA. Os receptores não-NMDA consistem de dois

receptores, AMPA e cainato (Dickenson, 1995). A transmissão de fibras C,

depois de estímulos agudos mecânicos ou térmicos, parece envolver

receptores AMPA para produzir excitações curtas e constantes. Os estímulos

são mantidos e/ou sua freqüência é aumentada pela liberação de

transmissores que contribuem para a transmissão nociceptiva quando o

receptor NMDA é ativado, aumentando resposta de hiperalgesia (Dickenson,

1995). Uma ação excitatória direta do glutamato nas fibras aferentes primárias,

é consistente com a evidência que a ativação dos receptores NMDA causa a

liberação de substância P por seus terminais centrais (Liu et al., 1994). Essa

ação do NMDA pode ser mediada pelo óxido nítrico (NO) dos terminais das

fibras aferentes primárias (Sorkin, 1993), e o NO poderia também interferir nas

ações periféricas mediadas pelas FaPs (Jackson et al., 1995).

27

O glutamato induz também a liberação de SP (substancia P) das FaPs

(definir) de terminais simpáticos, de tal forma que este peptídeo também pode

estar envolvido na nocicepção induzida por glutamato. Da mesma forma que o

glutamato, a SP pode ativar as FAPs em vários tecidos (Inoeu et al., 1995;

Carlton et al., 1996) e, conseqüentemente, causar dor (Edvinsson et al., 1997).

O controle inibitório descendente da transmissão da dor também envolve

neurotransmissores serotonina, noradrenalina, entre outros e opioides

endogenos que parecem inibir a excitação dos neurônios do corno dorsal da

medula na presença do estímulo nocivo (Russo & Brose, 1998; Furst, 1998).

Assim, os sinais dolorosos podem ser suprimidos antes de chegar ao cérebro.

O sistema descendente inibitório estimula neurônios medulares a secretar

opióides endógenos, que causam a inibição pré-sináptica e pós-sináptica das

fibras C e A (Besson, 1999), portanto, o mecanismo pelo qual provocam essa

analgesia descendente envolve a liberação de opióides na medula espinhal.

Provavelmente, o mecanismo que produz essa analgesia é através do bloqueio

de canais de Ca²+. Como o aumento da concentração do Ca²+ intracelular é o

mecanismo de ação do neurotransmissor glutamato, o bloqueio dos canais de

Ca²+ resultaria em inibição pré-sináptica (Kuraishi et al.,1985)

Estudos farmacológicos, eletrofisiológicos e anatômicos contribuiram

para o descobrimento de múltiplos mediadores químicos envolvidos na dor,

facilitando o entendimento dos mecanismos de ação dos neurotransmissores e

das drogas envolvidas na modulação central e periférica da dor (Levine e

Taiwo, 1994; Wood e Docherty, 1997; Millan, 1999).

Com o objetivo de encontrar drogas eficazes, com baixos efeitos

colaterais, muitos trabalhos de pesquisa estudam os mecanismos celulares e

28

moleculares envolvidos na origem da dor. De fato, atualmente, não existe

tratamento satisfatório e nem medidas adequadas e específicas para o controle

da dor (Kingery, 1997; Woolf e Mannion, 1999; Mendell e Sahenk, 2003).

Cresce o interesse pelo esclarecimento da possível participação de canais

de cálcio na dor neuropática. O íon cálcio entra nas terminações nervosas

através de canais de cálcio e regulam muitas funções, incluindo proteínas

relacionadas ao crescimento.

1.6 CANAIS DE CÁLCIO SENSÍVEIS À VOLTAGEM

Os canais de cálcio sensíveis à voltagem (CCSV) foram primeiramente

identificados em músculo de crustáceo por Paul Fatt e Bernard Katz (1953).

Estes canais exercem papel importante em vários eventos fisiológicos (Caterall,

1995; Dunlap e cols., 1995). Transcrição gênica, contração muscular, liberação

de neurotransmissores e regulação da excitabilidade neuronal são todas

respostas celulares mediadas por Ca2+ (Doering e Zamponi, 2003; Klugbauer e

cols., 2003). Além do envolvimento em eventos fisiológicos, os canais de Ca2+

também estão envolvidos em numerosas doenças, tais como, epilepsia,

hipertensão, isquemia e alguns tipos de arritmias (Jen, 1999; Dworakowska e

Dolowy, 2000; Snutch e cols., 2001).

29

1.6.1 SUBUNIDADES MOLECULARES DOS CANAIS DE CÁLCIO

Os canais de Ca2+ são membros de uma superfamília de canais

catiônicos sensíveis à voltagem (Richards e cols., 2004). Eles são proteínas

complexas compostas por 4 ou 5 diferentes subunidades: α1, β1, α2-δ e γ ver

figura 3). A subunidade α1 é a maior das subunidades com peso molecular de

190-250 kDa (revisto por Herlitze e cols., 2003). Ela incorpora o poro condutor,

o sensor de voltagem, o aparato de gating e os sítios de regulação do canal por

segundos messageiros, drogas e toxinas. A subunidade α1 é estruturalmente

organizada em 4 domínios homólogos (domínio I a IV), cada um contendo 6

segmentos transmembrana (S1-S6). A alça do poro entre os segmentos S5 e

S6 de cada domínio determina a condutância iônica e a seletividade. Assim,

mudanças em 3 aminoácidos na alça do poro entre os domínios I, III e IV

convertem um canal seletivo à sódio para um canal seletivo à cálcio (Herlitze e

cols., 2003; Klugbauer e cols., 2003). As subunidades acessórias ou

auxiliares não formam poros, mas são capazes de modificar várias

propriedades do canal formado pela subunidade 1.

1.7 CANAIS DE CÁLCIO SENSÍVEIS À VOLTAGEM (CCSV) E NOCICEPÇÃO

Entre outros fatores a regulação da liberação de neurotransmissores

rege o desenvolvimento de agentes terapêuticos direcionados contra subtipos

específicos de canais de Ca2+ sensíveis à voltagem. A liberação de

neurotransmissores no SNC depende de múltiplos subtipos de canais de Ca2+ e

30

a complementaridade de ação desses canais varia de uma população de

sinapses para a outra (Wheeler et al., 1994).

A diversidade de genes que codificam canais de Ca2+ gera diferentes

subtipos de canais com diferentes funções fisiológicas. Isso sugere a

possibilidade de uso de antagonistas subtipo-específicos para esses canais,

como novos agentes no tratamento para algumas neuropatologias (Miljanich

and Ramachandran, 1995). Em estudos com humanos avalia-se o efeito

desses agentes na prevenção da degeneração neuronal oriúnda de traumas

cerebrais isquêmicos e na persistência da dor.

Vários autores relatam o envolvimento dos íons cálcio na regulação de

diferentes processos biológicos como a excitabilidade das membranas,

nocicepção e antinocicepção (Zamponi & Snutch, 1998. Substâncias que

modulam a ação destes canais têm sido investigadas no estudo da nocicepção

e antinocicepção. Os canais de cálcio do tipo L e N estão diretamente

implicados na liberação de neurotransmissores e de neuromoduladores, como

o CGRP (Calcitonin gene related peptide), nos neurônios sensoriais da medula

espinhal. O bloqueio dos canais de cálcio sensíveis à voltagem do tipo N e P/Q,

mas não do tipo L, reduz os sinais comportamentais da dor de origem

neuropática em modelos animais de lesão nervosa, porém, a ausência de

antagonistas seletivos para os diferentes tipos de canais de Ca2+ torna difícil o

entendimento de suas ações nos processos de dor crônica (Matthews e

Dickenson, 2001; Sekizawa et al., 2000; Dogrul et al, 2003). Os canais do tipo

N estão presentes no terminal pré-sináptico de neurônios nociceptivos no corno

dorsal da medula espinhal, onde regulam a liberação de neurotransmissores

pró-nociceptivos como o glutamato e a substância P (WEN et al., 2005).

31

Experimentos realizados com antagonistas de CCVS indicam que os

canais dos tipos L, N, P/Q e T estão envolvidos na nocicepção (PRADO, 2001).

Atualmente, cresce o interesse pelo esclarecimento da participação dos canais

de cálcio nos processos de dor crônica. O íon Ca2+ entra nas terminações

nervosas através de canais e regula muitas funções, incluindo proteínas

relacionadas ao crescimento.

Pesquisas da última década descrevem o papel de inibidores de canal de

cálcio tipo N para o desenvolvimento de novas drogas analgésicas. (Altier and

Zamponi, 2004). Demonstrou-se que bloqueadores de CCSV tipo N, como as

-conotoxinas, previnem ou atenuam a dor. A -conotoxina- MVIIA (-Ctx-

MVIIA), obtida do Conus Magnus, é inibidora seletiva de CCSV tipo N, foi a

primeira toxina a ser aprovada pelo FDA para o tratamento de dor crônica

intratável. Prialt® é o nome comercial da -Ctx-MVIIA (também conhecida como

ziconotida e SNX-111), teve seu uso clínico aprovado em Dezembro de 2004

nos Estados Unidos e em Fevereiro de 2005 na Europa (Hogg, 2006). A

ziconotida produz antinocicepção em modelos de dor aguda e crônica em

animais quando administrada por via intratecal (i.t) (Malmberg and Yaksh,

1994; Malmberg and Yaksh, 1995; Bowersox et al., 1996). Entretanto, a

administração i.t de ziconotida causa efeitos adversos (Penn and Paice, 2000).

Devido a isso, há a necessidade de investigar outros inibidores de CCSV para

o tratamento da dor com menores efeitos adversos.

32

1.8 USO DE TOXINAS ANIMAIS COMO AGENTES TERAPÊUTICOS

Estudos indicam que peptideos naturais de venenos de diferentes

espécies de animais teriam aplicações terapeuticas. Além de possíveis alvos

terapêuticos, esses peptídeos são usados como ferramentas farmacológicas e

dessa forma modulam ou auto- regulam os canais iônicos (Rajendra, 2004).

O veneno do caramujo marinho Conus magnus contém uma mistura

diversa de agentes farmacologicamente ativos que exercem suas funções em

receptores e canais iônicos (Jones e cols., 2000). Entre eles a conotoxina SNX-

111, bloqueadora dos canais de cálcio do tipo N, apresenta propriedades

analgésicas e neuroprotetoras atribuídas à inibição da liberação de

neurotransmissores e a supressão de conseqüências secundárias do influxo

excessivo de cálcio. O análogo sintético dessa toxina, a Ziconotida, apresentou

eficácia na dor neuropática e isquemia cerebral(Bowersox e cols., 1998). O

análogo sintético dessa toxina, a Ziconotida, apresentou eficácia na dor

neuropática e isquemia cerebral (Bowersox e cols., 1998).

1.8.1 Phoneutria nigriventer

A aranha Phoneutria nigriventer tem ocorrência desde o sul do Rio de

Janeiro até o Uruguai. É a aranha mais comumente envolvida em

envenenamento humano no Brasil (Eickstedt, 1983 e Lucas, 1988), é muito

agressiva e é conhecida como aranha armadeira pela posição que toma ao se

sentir ameaçada, possui hábitos noturnos e permanece refugiada durante o

dia. Não constrói teia e seu sucesso como predadora pode ser explicado pela

potência das diversas toxinas presentes em seu veneno (Gomez e cols., 2002).

33

Acidentes com picadas da aranha P. nigriventer causam severa dor e

sintomas tóxicos tais como, cãimbras, tremores, convulsão tônica, paralisia

espástica, priapismo, arritmias, distúrbios visuais e sudorese (Lucas, 1998).

Esses sintomas são mais severos em crianças e a intoxicação pode levar a

morte se não tratada.

Baseado nos sintomas observados em humanos e nos resultados de

injeções intracérebro-ventriculares em animais experimentais, viu-se que o

veneno de Phoneutria é, sobretudo, neurotóxico. Parte do efeito neurotóxico do

veneno parece estar relacionado à sua ação sobre canais de Na+ regulados por

voltagem (Araujo et al., 1993; Romano-Silva et al., 1993). Entretanto, outras

atividades farmacológicas, relacionadas à ação em canais iônicos, podem ser

encontradas em todo o veneno. Essa observação pode ser mais facilmente

comprovada pelo fracionamento do veneno, em que se separa as frações com

ações farmacológicas distintas.

1.9 AÇÕES DAS TOXINAS PURIFICADAS DO VENENO DA PHONEUTRIA

NIGRIVENTER

As toxinas obtidas do veneno da aranha Phoneutria nigriventer têm sido

extensivamente investigadas e cerca de 17 peptídeos com atividade tóxica já

foram descritos na literatura (revisado por Gomez e cols., 2002). As toxinas são

basicamente polipetídeos com peso molecular entre 3500 e 9000 muitos deles

interagindo com canais iônicos. Assim, algumas classes de toxinas podem

afetar o funcionamento de canais de sódio (Na+), cálcio (Ca2+), potássio (K+),

34

dentre outros (Grishin, 1999). A caracterização bioquímica e farmacológica de

neurotoxinas do veneno desta aranha é ferramenta de investigação das

funções dos canais iônicos em níveis moleculares e celulares (Diniz e cols.,

1990; Araújo e cols., 1993; Romano-Silva e cols., 1993; Cassola e cols., 1998).

Investiga-se o veneno de P. nigriventer por sua habilidade em alterar grande

número de sistemas fisiológicos, em particular os relacionados a dor e a

inflamação (Costa e cols., 2002).

Um dos efeitos principais do veneno de P. nigriventer é a sua ação sobre

os diferentes subtipos de canais de Ca2+. Trabalhos publicados descrevem a

ação de algumas toxinas de P. nigriventer na inibição das correntes de Ca2+

(Cassola e cols., 1998; Leão e cols., 2000) ou no bloqueio do influxo deste íon

em terminais nervosos (Prado e cols., 1996; Guatimosim e cols., 1997; Miranda

e cols., 1998). A outra fração tóxica, PhTx3, administrada i.c.v. em ratos

causou paralisia flácida (Rezende Junior et al., 1991), possivelmente em

consequência da ação inibitória sobre a liberação de neurotransmissores

(Gomez et al., 1995; Prado et al., 1996). Seis diferentes toxinas (Tx3-1 a 6)

foram purificadas a partir da fração PhTx3 (Cordeiro Mdo et al., 1993) e pelo

menos 3 delas (Tx3-3, Tx3-4 e Tx3-6) bloquearam o influxo de Ca2+ induzido

por KCl em terminais nervosos (Prado et al., 1996; Guatimosim et al., 1997;

Miranda et al., 1998), sugerindo que essas toxinas bloqueiam canais de Ca2+ e

são, portanto, novas ω-conotoxinas. Além de ter toxinas que interagem com

canais de Na+ e Ca2+, uma das toxinas da Phoneutria, a toxina PhTx3-1 é uma

bloqueadora potente e seletiva de canais de K+ Tipo-A, aumentando a

frequência de oscilações de Ca2+ em células GH3 (Kushmerick et al., 1999).

35

Outra toxina, a toxina PhTx3-2, é capaz de bloquear, ainda que parcialmente,

canais de Ca2+ Tipo-L (Kalapothakis et al., 1998).

Das toxinas bloqueadoras de canais de Ca2+, isoladas do pool PhTx3, a

toxina PhTx3-3 foi uma das primeiras a ser estudada. Dados farmacológicos

iniciais sugeriram que essa toxina inibe a liberação de aceltilcolina em fatias de

córtex e em neurônios do plexo mientérico, mas essa ação não possuia um

efeito aditivo com a ω-agatoxina IVA na inibição da liberação de ACh (Gomez

et al., 1995). Além disso, a PhTx3-3 é bloqueadora eficaz da liberação de

glutamato (Prado et al., 1996). Através do uso dos marcadores fluorescentes

Fura2-AM e FM1-43 em sinaptosomas cérebro-corticais, para monitorar

medidas de Ca2+ interno e de liberação de vesículas, respectivamente,

observou-se que a PhTx3-3 inibe com alta potência (IC50 0,9nM) canais de Ca2+

que regulam a entrada de Ca2+ em sinaptosomas e também bloqueia a

exocitose de vesículas sinápticas, sendo que esse efeito se dá em canais de

Ca2+ que também são inibidos pela ω-agatoxina IVA (Guatimosim et al., 1997).

Análises de mais dados demonstraram que a PhTx3.4 bloqueia canais

de cálcio subtipo N (Cassola et al.,1998; Dos Santos et.al, 2002) e P/Q (Dos

Santos e cols., 2002). Esta toxina parece ligar-se em vários sítios de ligação,

sendo parcialmente deslocada pelas ω-conotoxinas GVIA e/ou MVIIC (Dos

Santos e cols., 2002). A toxina PhTx3-4 possui um intrigante mecanismo de

ação, uma vez que essa toxina também diminui a liberação de glutamato

dependente e independente de Ca2+ em teminações nervosas de ratos (Reis e

cols., 1999) e atuan sobre certas condições neuropatológicas como na

isquemia in vitro. Os resultados (Pinheiro et al., 2006) apontam para novas

toxinas eficazes no controle da degeneração neuronal após insultos isquêmicos

36

vinda de diversos estímulos nóxicos. Também foi investigado a interação entre

a toxina Phα1β (PhTx3-6) e os vários canais de Ca2+, determinando a potência,

seletividade e o possível mecanismo de ação da toxina, estudado em sistemas

heterólogos que expressavam canais de Ca2+ recombinantes.

A Phα1β inibe de maneira reverssível as correntes dos canais de calcio

dos subtipos L-, N-, P/Q- e R- em ordem de potência N> R> P/Q>L e valores de

IC50 = 122nM; 136nM; 263 nM e 607 nM, respectivamente. Seu efeito parece

atuar como uma -conotoxina (Vieira et al, 2005). Como é demonstrado que os

bloqueadores do subtipo N têm utilidade farmacológica no tratamento da dor, a

toxina Phα1β possui potencial analgésico interessante.

37

2. OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

Investigar a ação antinociceptiva espinhal da

toxina Ph1 em camundongos utilizando modelos de dor visceral periferica.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

1) Avaliar o efeito dose-dependente da administração intratecal das toxinas

Ph1 e -Ctx-MVIIA sobre a nocicepção química utilizando o modelo de

contorções abdominais induzidas por ácido acético;

2) Avaliar o efeito dose-dependente da administração intratecal das toxinas

Ph1 e -Ctx-MVIIA sobre a nocicepção química usando o modelo de

contorçoes abdominais induzidas por capsaicina ( intracolônico).

3) Avaliar o efeito do tratamento com Ph1 e MVIIA sobre os niveis de

glutamato e ROS do liquido cerebro espinhal de camundongos

submetidos a dor visceral induzida por acido ácetico intraperitonial.

38

3 MATERIAL E MÉTODOS

3.1 Materiais

Drogas e Toxinas

A toxina Ph1 purificada do veneno da aranha Phoneutria nigrivienter

foi purificada nos laboratórios da FUNED em colaboração com a Dra. Marta N.

Cordeiro. A ω-conotoxina MVIIA (-Ctx-MVIIA) foi obtida da Latoxan (Valence,

França). As soluções estoque das drogas foram preparadas utilizando solução

de PBS q.s.p. em tubos plásticos (eppendorf) siliconizados e foram mantidas a

-20ºC, bem como diluídas para a concentração desejada imediatamente antes

do uso. Capsaicina (8-methyl N-vanilil-6-noneamida, Sigma, EUA) foi dissolvida

em veículo composto por etanol (10%), Tween 80 (10%) e PBS q.s.p. Ácido

acético glacial 100% (Merck, EUA) foi dissolvido em PBS q.s.p. para a

concentração final de 0,6%.

Animais

Foram utilizados camundongos Swiss (20-25g) adultos, machos

provenientes do Biotério Central da Universidade Federal de Minas Gerais.

Esses animais foram mantidos em ciclo 12 h luz/escuro com temperatura

ambiente constante em 22±1ºC e com livre acesso à água e comida. Este

trabalho foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética do IEP/ Santa Casa de

Belo Horizonte numero 179 e os experimentos foram realizados em

concordância com as recomendações dos cuidados com animais em

experimentação (Zimmermann,1983).

39

3.2 MÉTODOS

Administração Intratecal (i.t)

As injeções i.t foram realizadas de acordo com o método descrito por

Hylden e Wilcox (1980) para camundongos. Brevemente, um volume de 5 L

para camundongos foi administrado com uma microseringa Hamilton, enquanto

o animal foi gentilmente imobilizado para ser mantido na posição necessária

para administração intratecal entre as vértebras L5-L6. A perfuração da dura foi

indicada comportamentalmente por um rápido movimento da cauda.

Administração intracolônica (i.c.)

A administração i.c. foi realizada conforme descrito por Laird et al. (2001)

em camundongos. O volume de 25 µL foi administrado pela introdução de uma

cânula com a extremidade arredondada (0.61 mm de diâmetro externo e 4 cm

de comprimento com quatro orifícios distais para melhor dispersão da

substância) no cólon descendente a 3.5 cm do ânus. Foi realizado um

treinamento do examinador para garantir que o volume seria injetado na área

de interesse sem lesionar o animal. Também, Azul de Evans foi injetado i.c. e ,

em seguida, o animal foi sacrificado e dissecado, confirmando que o volume foi

administrado no cólon descendente.

40

3.2.1 TESTES COMPORTAMENTAIS

Teste das contorções abdominais induzidas por ácido acético:

o teste de contorção abdominal em camundongos é um método muito

utilizado para se avaliar a atividade analgésica de substâncias contra dor

visceral de origem inflamatória, onde o ácido acético na concentração de 0,6%

(v/v), induz lesão no abdômen do camundongo, suficiente para provocar os

espasmos traduzidos como contorção (Koster & Anderson, 1959).

Para avaliar se a Ph1 e -Ctx-MVIIA previnem o aparecimentodas

contorções e da nocicepção, os Camundongos receberam administração

intratecal de Ph1 (10-200 pmol/sítio), -Ctx-MVIIA (1-100 pmol/sítio) ou

veículo (PBS, 5L/sítio). Após 2 horas os animais receberam uma injeção

intraperitoneal de ácido acético 0,6% (v/v; 0.1ml/10g peso corporal). Após a

injeção do ácido acético os camundongos foram colocados em caixas de

acrilico individuais, e o número de contorções abdominais foi quantificado

cumulativamente durante um período de 30 min. As contorções abdominais

consistem na contração da musculatura abdominal juntamente com a extensão

de uma das patas posteriores de acordo com o método descrito anteriormente

(Collier et al., 1968; Santos et al., 1999 a; Le Bars et al., 2001).

41

Mensuração do comportamento nociceptivo relacionado a dor visceral

por estimulação química do cólon

Para avaliar outro modelo de dor visceral os Camundongos receberam

administração intratecal de Ph1 (10-200 pmol/sítio), -Ctx-MVIIA (1-100

pmol/sítio) ou veículo (PBS, 5L/sítio). Após 2 horas os animais foram

submetidos à administração intracolônica de 25L de capsaicina 0,3% e, em

seguida os camundongos foram colocados em caixas de acrilico individuais, e

o comportamento nociceptivo foi observado, diretamente, por um período de 30

min. Foi considerado como comportamento relacionado a nocicepção as

seguintes posturas: 1) lambidas do abdômen (o comportamento de lambedura,

neste modelo foi definida com o camundongo fazendo uma flexão para a frente,

trazendo o focinho mais perto do abdômen e lambendo esta região), 2)

estiramento do abdômen, 3) esmagamento do abdômen contra o fundo da

caixa e 4) retrações abdominais (Laird et al., 2001)

Dosagem de Glutamato no Líquido cerebroespinhal

Para avaliar se a Ph1 é capaz de inibir a liberação de glutamato após

o estímulo nociceptivo já instalado, camundongos receberam por via intratecal

Ph1 (100 pmol/sítio), -Ctx-MVIIA (30 pmol/sítio) ou veículo (PBS, 5

L/sítio) 2 horas antes da administração i.p de acido acetico 0,6% (v/v;

0.1ml/10g peso corporal). Após 30 minutos o animal foi sacrificado com

halotano e em seguida seu líquido cerebroespinhal foi retirado com uma

punção na cisterna magna. Os níveis de glutamato foram dosados

enzimaticamente a partir do aumento da fluorescência devido à produção de

42

NADPH+ na presença de glutamato desidrogenase (GDH) e NADP+, de acordo

com metodo descrito por (Nicholls et al., 1987). Incialmente adicionou-se

NADP+ (1.0 mM) e 50 U de GDH pelo menos 10 minutos antes da adição das

amostras de liquido cerebro espinhal (LCE). A excitação foi fixada em 360 nm e

a emissao em 450 nm utilizando um espectroflurimetro marca Shimadzu,

modelo RF-5301.

Avaliação de ROS do líquido cerebroespinhal após indução da dor viceral

Para verificar se o efeito antinociceptivo da Ph1 está relacionado com

uma redução de ROS das amostras de líquido cerebroespinhal, camundongos

receberam por via intratecal Ph1 (100 pmol/sítio), -Ctx-MVIIA (30

pmol/sítio) ou veículo (PBS, 5 L/sítio) 2 horas antes da administração i.p de

acido acetico 0,6% (v/v; 0.1ml/10g body weight). Após 20 minutos o animal foi

sacrificado com halotano e em seguida seu líquido cerebroespinhal foi retirado

com uma punção na cisterna magna. Para avaliar a variação de fluorescência

em função do tempo decorrente da oxidação da diclorofluoresceína cuja

fluorescência aumenta em virtude da presença de espécies reativas de

oxigênio (ROS). Aproximadamente 20 µL de líquido cerebroespinhal eram

retirados por animal. Após retirado o líquido cerebroespinhal era centrifugado a

10000 rpm por 1 minuto e o sobrenadante era coletado e utilizado para os

testes de ROS. O método para dosagem de ROS foi baseado em Loechutinati

e cols (2011), com pequenas adaptações. Basicamente, 5uL da amostra de

líquido cerebroespinhal eram adicionados a 2 mL de solução PBS (Phosphate

Saline Buffer), transferidos para cubeta de acrílico e levados para leitura de

fluorescência ao longo do tempo em espectrofluorímetro marca Shimadzu,

43

modelo RF-5301 (Excitação 502nm, emissão 523nm), com frequência de

leitura de 1 leitura por segundo. Após estabelecer a linha de base era

adicionado Diclorofluoresceína (concentração final de 100nM). Os níveis de

fluorescência desse composto são elevados devida a sua oxidação, causada

principalmente pelas espécies reatívas de oxigênio da amostra. A fluorescência

foi registrada continuamente por 8 minutos após adição da diclorofluoresceína.

Os níveis de fluorescência dos 2 últimos segundos da amostra de líquido

cerebroespinhal vindo do grupo de animais que recebeu ácido acético

intraperitoneal e PBS intratecal, foram considerados como 100% de produção

de ROS, enquanto que o basal de produção de ROS, aqui considerado como

0%, foi o final da leitura de fluorescência do líquido cerebroespinhal no grupo

de animais que recebeu PBS intraperitoneal. A comparação estatística dos

grupos foi feita pelo teste ANOVA 1 via seguido do teste de Tukey.

44

4 RESULTADOS

4.1 Avaliação do efeito antinociceptivo da Ph1 nas contorções abdominais de camundongos induzidas por ácido ácetico intraperitonial

A figura 1 mostra que o efeito inibitório da toxina Ph1 nas contorções

abdominais em camundongos induzidas por ácido acético é dependente da

concentração. Desse modo, nas concentrações de 10, 30, 100 e 300 pmol a

toxina Ph1 inibiu em torno de 31, 61, 69 e 84%, respectivamente, as

contorções abdominais induzidas pelo acido acético injetado intraperitonial. A

dose inibitoria 50% foi 12 (5 a 27). A inibição máxima foi de 84,2 6.3 na

concentração de 300 pmol. Na concentração de 10 pmol o efeito inibitório da

toxina não foi estatisticamente significante P > 0.05.

45

PBS 10 30 10

030

0

0

5

10

15

20

25

****

***

PBS

Ph1

Phpmolsítio)

Núm

ero

de C

onto

rções

abdom

inais

Figura 1. Efeito antinociceptivo da Ph1 nas contorções abdominais de camundongos induzidas por ácido ácetico intraperitonial. Camundogos de 25 a 30 gr foram injetados intraperitonial com ácido ácetico 0,6% (0,1ml/10g peso corporal). A toxina foi injetada intratecal 2 horas antes do ácido. Resultados das contorções abdominais medidas 30 min após injeção de acido acético representam a média ± erro padrão de 11a 16 animais.*** p< 0,001 e ** p< 0,01 representam o nível de significância quando comparado aos animais tratados com PBS (5μL/sítio). (ANOVA de uma via seguida pelo teste de Dunnett`s multiple comparation). DI50=12 (5 a 27). Imax: 84,2% ± 6,3.

46

4.2 Avaliação do efeito antinociceptivo da MVIIA das contorções abdominais de camundongo induzido por ácido ácetico

A figura 2 mostra que o efeito inibitório da toxina -conotoxina MVIIA nas

contorções abdominais em camundongos induzidas por acido acético é

tambem dependente da concentração. Nas concentrações 1,0, 10, 30 e 100

pmol a toxina -conotoxina MVIIA inibiu em torno de 36, 29, 64,5 e 81,5,

respectivamente ác. acé, as contorções abdominais, induzidas por tico. A dose

inibitoria 50% foi de 11 (3,5 a 35) e a inibição máxima 81.5 9,3. Não foi

estatisticamente sigficante as inibições com as concentrações de 1 e 10 pmol

de -conotoxina MVIIA.

47

PBS 1 10 30

100

0

5

10

15

20

25

*

**

PBS

MVIIA

MVIIApmolsítio)

Núm

ero

de C

onto

rções

abdom

inais

Figura 2. Efeito antinociceptivo da MVIIA nas contorções abdominais de camundongos induzidas por ácido ácetico. Camundogos de 25 a 30 gr foram injetados intraperitonial com ácido ácetico 0,6% (0,1ml/10g peso corporal). A toxina foi injetada intratecal 2horas antes do ácido.. Resultados das contorções abdominais medidas até 30 min após injeção de acido acético representam a média ± erro padrão de 9 a 14 animais. ** p< 0,01 e * p< 0,05 representam o nível de significância quando comparado aos animais tratados com PBS (5μL/sítio) (ANOVA de uma via seguida pelo teste de Dunnett`s multiple comparation). DI50=11 (3,5 a 35). Imax: 81,5% ± 9,3

48

4.3 Efeito das toxinas Ph1 e MVIIA no conteudo de glutamato do liquido cerebroespinhal de camundongos submetidos a dor visceral induzidas pela injeção intraperitonial de ácido ácetico.

A figura 3 mostra o efeito das toxinas Ph1 (100 pmol) e -conotoxina

MVIIA (30 pmol) nos niveis de glutamato do liquido cerebroespinhal de

camundongos submetidos a dor visceral induzida por ácido acético. Ambas

toxinas diminuiram a liberação de glutamato com Imax de 31,25% 2,7 para a

Ph1 e 38,1% 3,7 para a -conotoxina MVIIA, P < 0,05.

49

PBS Ph1 MVIIA

0

50

100

150

**

PBS

Ph1(100pmol/síto)

MVIIA (30 pmol/sítio)

Dosagem ex- vivo de glutamato no líquor em camundongo submetidoa nocicepção visceral induzida por ácido ácetico

Au

me

nto

do

nív

el d

e G

luta

mato

no

LC

E (%

do

co

ntr

ole

)

Figura 3. Efeito das toxinas Ph1 e MVIIA no conteudo de glutamato do liquido cerebroespinhal de camundongos submetidos a dor visceral induzida pela injeção intraperitonial de ácido ácetico 0,6% (0,1ml/10g peso corporal). Resultados representam a média ± erro padrão de 8 a 9 animais. * p< 0,05 representam o nível de significância quando comparado aos animais tratados com PBS (5μL/sítio). (ANOVA de uma via seguida pelo teste de Dunnett`s

multiple comparation). Ph1=Imax 31,25% ± 2,71. N= 8 a 9; MVIIA= Imax 38,12% ± 3,70

50

4.4 Efeito das toxinas Ph1 e MVIIA no conteudo de ROS do liquido cerebroespinhal de camundongo submetido a dor visceral induzido por ácido ácetico.

A figura 4 mostra o efeito das toxinas Ph1 (100 pmol) e -conotoxina

MVIIA (30 pmol) nos niveis de ROS do liquido cerebroespinhal de

camundongos submetidos a dor visceral induzida por ácido acético,

evidenciando que ambas as toxinas , Ph1 e -conotoxina MVIIA reduzem

em 22,6% 2.9 e 35,7% 9,0 a concentração de ROS, P < 0.05.

51

PBS 1

Ph M

VIIA

0

50

100

150

* **

PBS

Ph1 (100pmol /sítio)

MVIIA (30 pmol/sítio)

ROS DE NOCICEPÇÃO VISCERAL

INDUZIDAS POR ÁCIDO ACÉTICO

2hrs apos a administracao das Toxinas%

do

máxim

o d

e R

OS

Figura 4. Efeito das toxinas Ph1 e MVIIA no conteudo de ROS do liquido cerebroespinhal de camundongos submetidos a dor visceral induzido por ácido ácetico 0,6% (0,1ml/10g peso corporal). Resultados são expressos em % do controle em ausencia das toxinas e representam a média ± erro padrão de 3 a 4 animais. ** p< 0,01 e * p< 0,05 representam o nível de significância quando comparado aos animais tratados com PBS (5μL/sítio). (ANOVA de uma via seguida pelo teste de Dunnett`s multiple comparation). Pha1b= Imax: 22,60% ± 2,95. N= 3 a 4; MVIIA= Imax: 35,72% ± 9,00. N= 3 a 4

52

4.5 Efeito da concentração da capsaicina injetada intracolonica no comportamento nociceptivo de camundongo.

Recentemente, Laird et al. 2001 desenvolveram novo metodo de dor

visceral usando administração de capsaicina no colon de ratos. Resolvemos

testar esse metodo em nossos experimentos. A figura 5 refere-se à

administração intracolonica (intcol) de capsaicina nas concentrações de 0,01,

0.03, 0,1 e 1,0%. Nestas concentrações a capsaicina aumentou a hiperalgesia

dos camundongos em 33, 93, 166, 246 e 350%, respectivamente. Observamos

assim uma relação direta entre o aumento da concentração de capsaicina e do

comportamento nociceptivo dos animais. Nesse outro modelo de dor visceral

resolvemos testar o efeito antinociceptivo da Ph1 e -conotoxina MVIIA.

53

NOCICEPÇÃO VISCERAL INDUZIDA POR CAPSAICINA

Veí

culo

0.01

0.03 0.

10.

31.

0

0

10

20

30

40Veículo

% p/v capsaicina

*

***

***

% p/v capsaicina

Co

mp

ort

am

en

tos n

ocic

ep

tivo

s

reg

istr

ad

os

Figura 5. Efeito da concentração da capsaicina injetada intracolonica no

comportamento nociceptivo de camundongo. Resultados *** p< 0,001 e ** p<

0,01 representam o nível de significância quando comparado aos animais

tratados com veículo. (ANOVA de uma via seguida pelo teste de Dunnett`s

multiple comparation).

54

4.6 Efeito antinociceptivo da Ph1 na dor visceral induzida por injeção intracolonica de capasaicina.

A figura 6 mostra curva de concentração do efeito da toxina Ph1 no

modelo de dor visceral induzido pela capsaicina intracolônica. Observou-se que

nas concentrações de 10, 30, 100 e 300 nmol/site a Ph1 causou inibição do

efeito nociceptivo em 25, 39, 49 e 54% respectivamente. Somente na

concentração de 300 nmol a toxinou inibiu significativamente a nocicepção

induzida pela aplicação intracolônica da capsaicina, P < 0.05. A Imax foi igual

a54,4 7,2.

55

NOCICEPÇÃO VISCERAL INDUZIDA POR CAPSAICINA INTRACOLONICA

2hrs apos a administracao da Ph1

PBS 10 30 100 300

0

10

20

30

40

Ph1 (pmol/sítio)

*

PBS

Ph1

Co

mp

ort

am

en

tos

reg

istr

ad

os

Figura 6. Efeito antinociceptivo da Ph1 na dor visceral induzida por injeção

intracolonica de capasaicina 0,3%. Camundogos de 25 a 30 gr foi injetado

intracolonico capsaicina. A toxina foi injetada intratecal 2horas antes do ácido.

Resultados representam a média ± erro padrão de 4 a 6 animais.*p<0,05

representam o nível de significância quando comparado aos animais tratados

com PBS (5μL/sítio). (ANOVA de uma via seguida pelo teste de Dunnett`s

multiple comparation). N=4-6. Imax= 54,47% (7,259)

56

4.7: Efeito antinociceptivo da MVIIA na dor visceral induzida por injeção intracolonica de capasaicina.

A figura 7 mostra o efeito da concentração da -conotoxina MVIIA na

nocicepção induzida pela aplicação intracolôncia da capsaicina. Apesar de em

algumas concentrações a toxina causou maior efeito inibitório os resultados

não foram significativos P > 0,05 impossibilitanto o calculo da IC50. Os dados

do experimento impossibilitaram o calculo da IC50

57

NOCICEPÇÃO VISCERAL INDUZIDA POR CAPSAICINA INTRACOLONICA2hrs apos a administracao da MVIIA

PBS 1 10 30 100

0

10

20

30

40

MVIIA (pmol/sítio)

PBS

MVIIA

Co

mp

ort

am

en

tos

reg

istr

ad

os

Figura 7. Efeito antinociceptivo da MVIIA na dor visceral induzida por injeção

intracolonica de capasaicina 0,3%. Camundogos de 25 a 30 gr foram injetados

intracolonico capsaicina. A toxina foi injetada intratecal 2horas antes do ácido.

Resultados representam a média ± erro padrão de 4 a 6 animais. (ANOVA de

uma via seguida pelo teste de Dunnett`s multiple comparation).

58

5 DISCUSSÃO

Em animais várias substâncias algogenicas como acido acético,

capsaicina, mostarda, ciclofosfamida aplicadas em estruturas viscerais

provocam provocar dor. Estas substâncias algogenicas são capazes de induzir

a dor, bem como a reação inflamatória em neuronios aferentes viscerais ou

neurónios centrais. Na busca de novos substâncias naturais, que possuam

propriedade antinociceptiva visceral, foram utilizados os modelos de dor

visceral induzida por administração intraperitoneal de ácido acético ou injeção

intracolónica de capsaicina. A atividade antinociceptiva das toxinas Phα1β e ω-

conotoxina MVIIA foi avaliada nos dois modelos acima. O modelo químico de

nocicepção de contorções abdominais em camundongos baseia-se na

contagem das contorções da parede abdominal seguidas de torção do tronco e

extensão dos membros posteriores, como resposta reflexa à peritonite

produzidas pela injeção intraperitoneal de ácido acético (Whittle, 1964).

O processo inflamatório é deflagrado por um agente agressor ou

flogístico que provoca lesão tecidual. Esta lesão induz liberação de histamina

dos grânulos localizados nos mastócitos (células teciduais), a qual é

responsável pela gênese do processo inflamatório, que culmina com a

liberação de prostaglandina, o agente causador da dor inflamatória (Goodman

et al., 1996). Assim sendo, o teste de contorção abdominal em camundongos é

um método muito utilizado para se avaliar a atividade analgésica de

substâncias contra dor de origem inflamatória visceral, onde o ácido acético na

concentração de 0,6% (v/v), induz lesão no abdômen do camundongo, o que é

suficiente para provocar os espasmos traduzidos como contorção (Koster &

Anderson, 1959).O teste das contorções abdominais induzidas pelo ácido

59

acético é descrito como um modelo para avaliar a dor visceral de origem

inflamatória, com pouca especificidade, mas boa sensibilidade, podendo ser

considerado uma ferramenta para avaliação da atividade analgésica e

antiinflamatória de novos produtos (Le Bars et al., 2001).

Recentemente, Feng et al. (2003) demonstraram que a injeção intraperitoneal

de ácido acético induz aumento da concentração de glutamato e aspartato no

liquido cerebroespinhal. Nossos resultados confirmam o aumento de glutamato

na dor visceral induzida por acido acético ( FIG. 4) e a diminuição da liberação

deste neurotransmissor quando as toxinas Phα1β e ω-conotoxina MVIIA foram

aplicadas intratecal antes da indução das contorções abdominais. O

mecanismo de ação das toxinas envolve inibição dos canais de calcio. Nesse

particular a Phα1β tem ação nos canais tipo L, P/Q e maior atividade no

canal de calcio N (Vieira et al., 2005) enquanto a ω-conotoxina MVIIA inibe

especificamente o canal de calcio do tipo N. A inibição das toxinas na dor

visceral induzidas por injeção intraperitonial de ac. acético e intracolônica por

capsaicina foi dose dependente e tiveram praticamente o mesmo efeito

inibitório. Além de inibir a nocicepção as toxinas foram tambem eficazes em

inibir o conteudo de ROS do liquido cerebro espinhal de animais submetidos a

dor visceral induzida por ac. acético. Nesse metodo o ác. acético induz

processo inflamatório e com o aumento do processo inflamatorio e da dor

ocorre o aumento de ROS. Radicais livres, ROS estão implicados no

desenvolvimento de dor persistente resultante de injuria ou de insulto

inflamatório (Gao et al., 2007). Agentes que reduzem ROS tem ação em reduzir

a hiperalgesia (Yowtak et al., 2011). Nossos resultados confirmam que as

60

toxinas com sua ação antinociceptiva na dor visceral induzem diminuição de

ROS do liquido cerebroespinhal.

Com o objetivo de melhor caracterizar a atividade antinociceptiva

envolvida na dor visceral, foi utilizado o teste da capsaicina administrada

intracolônica em camundongos. Esse modelo químico de nocicepção fornece

uma resposta mais específica da dor visceral do que aquele induzida pela

injeção intraperitonial de ácido acético (Shibata, 1989). Além disso o modelo de

dor visceral induzido pela administração intracolônica da capsaicina é

considerado atualmente o modelo que mais se aproxima da dor clínica (Tjolsen

& Hole, 1997). Nossos resultados demonstram a atividade antinociceptiva da

toxina Phα1β inibindo a dor visceral, induzida pela administração intracolônica

da capsaicina. Os resultado com ω-conotoxina MVIIA mostram que a inibição

induzida pela mesma não foi estatisticamente significante, talvez pela grande

variação no grupo, tornando-se necessário aumentar o número de amostras do

efeito da ω-conotoxina MVIIA. Finalmente os dados assim obtidos confirmam o

potencial terapeutico antinociceptivo da Phα1β.

61

6 CONCLUSÃO

Diante dos nossos resultados é possível concluir que:

A Phα1β produz efeito antinociceptivo em modelos de dor visceral

induzido por ácido acético 0,6% intraperitonial e capsaicina 0,3% intracolônical

nas doses testadas (30, 100 e 300 pmol/sítio).;

A ω-CTx-MVIIA produz efeito antinociceptivo em modelos de dor visceral

induzido por ácido acético 0,6% intraperitonial e capsaicina 0,3% intracolônical

nas doses testadas (30 e 100 pmol/sítio) porém ja nas doses de 30 pmol/site ja

apresentava toxicidade nos animais;

O efeito antinociceptivo da Phα1β esta relacionado com a depleção nos

níveis de glutamato liberado, isso ocorre através da redução do influxo de

cálcio devido ao bloqueio dos CCSV do tipo N presentes no corno dorsal da

medula, pela Ph1 .

Alem de apresentar efeito antinoceceptivo no teste de contorção abdominal

induzida por acido acético a Ph1 e a A ω-CTx-MVIIA. Também reduzem a

liberação de ROS no liquido cerebroespinhal.

62

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