ARQUITETURA: conceitos preliminares
Antonio Castelnou
O que é Arquitetura?
Etimologicamente, a palavra ARQUITETURA
surgiu da junção dos vocábulos gregos ἀρχι-
(arché-) que significa “o que veio antes; superior” e
τέκτων (tékton) que se relaciona à “construção”,
resultando no seu conceito fundamental de ordenação
primordial do mundo.
God as Architect (1794) William Blake (1757-1827)
Desde a Antiguidade, a atividade arquitetônica relacionou-se à criação e construção universal,
o que originou seu símbolo cosmogônico:
Compasso: Plano ideal, Céu, Abóbada celeste, Construção da perfeição (círculo).
Esquadro: Plano real, Terra, Conhecimento humano, Suporte para o que o compasso cria.
Letra G: Geometria (Ciência sagrada), Ordem do Cosmos, Consciência e Razão elevada.
Cor azul: Safira (Pedra celeste), Atividades criadoras e criatividade.
Mito Universal do Deus Arquiteto
Em termos gerais, a ARQUITETURA
pode ser definida como a arte de criar espaços (abertos e fechados)
para abrigar as atividades do homem, que, por imperativos
individuais e coletivos, necessita de ambientes que envolvem aspectos funcionais, técnicos e
estéticos.
Marc-Antoine Laugier (1713-69) Essay sur l’Architecture (1753) A cabana primitiva
Pode-se considerar um ESPAÇO
ARQUITETÔNICO qualquer intervenção no
meio ambiente, seja qual for a sua escala,
tanto em nível interior como exterior, público
ou privado, que visa a organização e/ou
configuração do entorno para o ser humano, com
intenção plástica.
Urgup (Capadócia, Tuquia)
Rocamadour (Midi-Pyrénées, França)
O arquiteto é um ARTISTA SOCIAL, já que – de forma mais
restrita que na pintura e na escultura – tem sua
atividade interdependente das questões sociais,
políticas e econômicas da sociedade em que atua, além dos imperativos tecnológicos e valores
culturais de determinada época e lugar.
Oscar Niemeyer Catedral de Brasília DF (1958/70)
A principal função do ARQUITETO é realizar todo projeto ou plano de modificação da realidade
espacial com o objetivo de permitir o desempenho de
alguma função.
É, portanto uma das manifestações mais
características e mais representativas das
atividades dos homens agrupados em sociedade.
Toda obra arquitetônica expressa as características e aspirações de uma determinada comunidade –
assim como sua estrutura social, as relações entre as classes, as condições de produção e consumo no
tempo e no espaço – enfim, sua IDEOLOGIA.
Frank Lloyd Wright (1867-1959) Solomon R. Guggeheim Museum
(1943/59, N. York - EUA)
Escarpa Bandiagara (Séc. XIV, Dogon - Mali)
Por IDEOLOGIA entende-se a síntese
de todas as ideias morais, filosóficas e artísticas que são
resultantes dos princípios sociais de uma comunidade em
dado momento histórico; e que dão à arquitetura o seu
significado. Empire State Building
(1929/31, N. York - EUA) Shreve, Lamb & Har,on Architects
Componentes da Arquitetura
De acordo com um de seus primeiros teóricos, o arquiteto romano Marcus Vitruvius Pollio
(80-25 a.C.), as componentes da arquitetura são:
VENUSTAS (Dimensão Estética, Beleza)
FIRMITAS (Dimensão Técnica, Forma)
UTILITAS (Dimensão Funcional, Uso)
TRÍADE VITRUVIANA
Utilitas
A palavra FUNÇÃO deriva do latim functio/functionis, o que corresponde ao cumprimento de um encargo ou trabalho. Todo espaço arquitetônico, seja qual for, destina-se a determinado uso, sem o qual não tem a necessidade de existir.
A FUNCIONALIDADE na arquitetura relaciona-se ao conjunto de qualidades que garantem a finalidade de um espaço arquitetônico, o que
reflete os hábitos sociais, as aspirações individuais e os aspectos da vida coletiva (função utilitária).
O primeiro passo para a criação de uma obra é a elaboração de
um PROGRAMA DE NECESSIDADES, que
corresponde ao conjunto de especificações utilitárias de um
espaço arquitetônico.
É elaborado pelo arquiteto a partir do estudo e interpretação de dados coletados em contato
com o cliente, através de pesquisa em campo, entrevistas
e também da bibliografia.
Firmitas
Por TÉCNICA entende-se o conjunto de normas, regras ou procedimentos
para se fazer algo com determinada finalidade. Sua origem encontra-se no termo grego τέχνη (tehné), que significa
“arte ou modo de agir”.
Burj Khalifa Tower (2004/10, Dubai EAU)
S.O.M. – Adrian Smith (1944)
Na arquitetura, a componente técnica corresponde aos elementos – meios físicos, materiais e tecnológicos – que garantem a execução
(concretização) de uma obra e, consequentemente, a definição de sua FORMA tridimensional:
Arquitetura é sempre uma construção no espaço.
Mies van der Rohe (1886-1969) Pavilhão Alemão
(1929, Barcelona - Espanha)
Reichtag Dome (1997/99, Berlin - Alem.) Norman Foster (1935-)
Venustas
ESTÉTICA provém da palavra grega αἰσθητική (aisthesis), que significa “percepção sensorial”, o
que pode ser ampliado para a ciência das aparências
perceptíveis pelos sentidos, da sua percepção pelos
homens e da sua importância para estes
como parte de seu sistema sociocultural.
Andrea Palladio (1508-80) Villa Capra – La Rotonda (1566/69, Vicenza - Itália)
Villa Savoye (1928/29, Poissy - França) Le Corbusier (1887-1965)
Toda obra arquitetônica é composta por ELEMENTOS VISUAIS – linhas, planos,
volumes, cores, tons, texturas, etc. – , os quais são portadores de mensagens estéticas e, portanto, vem carregados de significados.
A partir de princípios compositivos, estes elementos são organizados conforme os
objetivos de cada arquiteto e de acordo com seus critérios de projetação. Para isso, são
empregados vários métodos, cujas categorias ou opções controlam os resultados estéticos
de uma obra de arquitetura.
Estética do Objeto
Refere-se à descrição dos sinais e das
características dos objetos (obras artísticas
e arquitetônicas), através da expressão
objetiva sobre os mesmos. Nas artes
visuais, relaciona-se à PLÁSTICA.
Estética do Valor
Corresponde à importância ou valor dado pelo espectador
aos objetos em relação aos conceitos
subjetivos de valores e de acordo com o sistema de normas
socioculturais. Liga-se à ideia de BELEZA.
E o Urbanismo?
Denomina-se URBANISMO o conjunto de medidas arquitetônicas
– funcionais, técnicas e estéticas – , que incidem
sobre a cidade (urbe), incluindo determinações
administrativas, econômicas e sociais que visam o desenvolvimento
racional e humano dos centros urbanos.
Avenida Paulista (São Paulo SP)
O PLANEJAMENTO URBANO tem por
finalidade melhorar tanto as funções como as relações
entre os habitantes das cidades, através da
adequação das vias de tráfego, saneamento e
limpeza, criação de espaços verdes, sinalização e
orientação, e preservação do patrimônio cultural.
Lúcio Costa (1902-98) Plano Piloto de Brasília DF (1957)
Nova York (EUA)
O ano de 2007 foi um momento singular da
história do planeta: pela primeira vez, a população
urbana superou a rural.
São muitas as implicações que esse fenômeno vem
trazendo para todo o mundo, como problemas de poluição, transporte,
abastecimento, saneamento, falta de moradia e violência
crescente.
2007
Shanghai (china)
O número de pessoas que vivem em cidades cresceu em ritmo acelerado desde a II Guerra Mundial
(1939/45) e deve aumentar ainda mais nas próximas décadas, tornando o URBANISTA fundamental.
No Brasil, o Art. 182 da Constituição Federal de 1988 estabelece que toda cidade com mais de
20.000 habitantes deve ter obrigatoriamente um PLANO DIRETOR – instrumento básico da
Política Nacional Urbana realizado por urbanistas.
Problema de Transporte e Circulação
Problema de Habitação e Saneamento
Quem é o Arquiteto?
No Brasil, o ARQUITETO E URBANISTA é o
profissional que concebe, planeja, projeta e coordena
a construção e reforma de quaisquer edificações, envolvendo desde praças
e jardins até bairros e cidades, abrangendo o projeto de habitações, edifícios comerciais,
institucionais e industriais. El Arquitecto (1915)
Diego Rivera (1886-1957)
De acordo com o gosto, o estilo de vida e as
necessidades da comunidade, o arquiteto resolve problemas
de abrigo, trabalho, circulação, arborização e comunicação
visual dos lugares.
Além disso, elabora o desenho de objetos, móveis,
equipamentos industriais e letreiros publicitários.
Palais de Versailles (1664/80, França)
Abrão Assad (1940-) Jardim Botânico
(1991, Curitiba PR)
Cadeira Barcelona (1929)
Entre suas diversas áreas de atuação, podem ser destacadas: a planificação regional e territorial, o desenho urbano, o paisagismo, o projeto de
edificações, a arquitetura de interiores, a cenografia, o patrimônio e o design industrial.
Chaise Longue LC-4 (1928/29) Le Corbusier (1887-1965)
Cenário
Patrimônio
Interiores
Áreas de atuação profissional
(Macro-escala)
PLANIFICAÇÃO URBANA
REGIONAL E
TERRITORIAL
URBANA
E RURAL PAISAGEM
Áreas
Zonas
Territórios
Cidades
Bairros
Quadras e Ruas
Parques
Praças
Jardins
Áreas de atuação profissional
(Micro-escala)
PROJETO ARQUITETÔNICO
PROJETO DE
EDIFICAÇÕES
PROJETO DE
INTERIORES
DESIGN
INDUSTRIAL
Obras
Residenciais,
Comerciais e
Institucionais
Conforto
Decoração
Identidade
Visual
Objetos
Sistemas
Equipamentos
Industriais
Áreas de atuação profissional
(Campos afins)
CRIAÇÃO E PLANEJAMENTO
PATRIMÔNIO
HISTÓRICO
ENSINO E
PESQUISA
OUTRAS
ÁREAS
Inventário
Fiscalização
Revitalização
Cenografia
Estilismo
Publicidade
Educação
Materiais
Técnicas
Leitura Complementar
Apostila – Capítulos 01 e 02.
COLIN, S. Uma introdução à arquitetura. Rio de Janeiro: Uapê, 2000.
ZALZELL, W. R. Arquitetura. São Paulo: Melhoramentos: EdUSP, 1969;
LEMOS, C. A. C. O que é arquitetura. 7. ed. São Paulo: Brasiliense, Col. Primeiros Passos, n. 16, 1994.
SNYDER, J.; CATANESE, A. Introdução à arquitetura. Rio de Janeiro: Campus, 1984.
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