Caracterização de uma proteína quinase do fator de início...

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Leonardo da Silva Augusto Caracterização de uma proteína quinase do fator de início de tradução, eIF2α, regulada por heme e envolvida no controle do crescimento e diferenciação de Trypanosoma cruzi São Paulo 2014 Tese apresentada à Universidade Federal de São Paulo Escola Paulista de Medicina, para obtenção do Título de Doutor em Ciências.

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Leonardo da Silva Augusto

Caracterização de uma proteína quinase do fator de

início de tradução, eIF2α, regulada por heme e

envolvida no controle do crescimento e diferenciação

de Trypanosoma cruzi

São Paulo

2014

Tese apresentada à Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina, para obtenção do Título de Doutor em Ciências.

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Leonardo da Silva Augusto

Caracterização de uma proteína quinase do fator

de início de tradução, eIF2α, regulada por heme e

envolvida no controle do crescimento e diferenciação

de Trypanosoma cruzi

Orientador: Prof. Dr. Sergio Schenkman

São Paulo

2014

Tese apresentada à Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina, para obtenção do Título de Doutor em Ciências.

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Augusto, Leonardo da Silva

CARACTERIZAÇÃO DE UMA PROTEÍNA QUINASE DO FATOR

DE INÍCIO DE TRADUÇÃO, eIF2α, REGULADA POR HEME NO

CONTROLE DO CRESCIMENTO E DIFERENCIAÇÃO Trypanosoma

cruzi.

Leonardo da Silva Augusto- São Paulo, 2014.

xvii,222f.

Tese (Doutorado) Universidade Federal de São Paulo. Escola

Paulista de Medicina.

Programa de Pós-graduação em Microbiologia, Imunologia e

Parasitologia.

Título em ingles: CHARACTERIZATION OF AN HEME

REGULATED PROTEIN KINASE OF THE TRANSLATION INITIATION

FACTOR, eIF2 α, INVOLVED IN THE CONTROL OF GROWTH AND

DIFFERENTIATION OF Trypanosoma cruzi

1. Trypanosoma cruzi; 2. eIF2α; 3. eIF2α quinase; 4. heme; 5.

ROS.

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Trabalho realizado na

Disciplina de Biologia Celular, do

Departamento de Microbiologia,

Imunologia e Parasitologia, da

Universidade Federal de São

Paulo - Escola Paulista de

Medicina, com auxílio financeiro

concedido pela Fundação de

Amparo à Pesquisa do Estado de

São Paulo (FAPESP).

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“CADA SONHO QUE VOCÊ DEIXA PARA TRÁS, É UM FUTURO QUE

DEIXA DE EXISTIR”.

(STEVE JOBS)

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A minha família que sempre apoiou meus sonhos.

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Agradecimentos

Aos meus pais Sandra e Ricardo e meu irmão Felipe, por tudo! Nem vou

começar a descrever tudo que fizeram e fazem por mim. Vocês sabem que essa

tese não aconteceria se não fosse por vocês.

A Tatiana Mordente pela amizade, companheirismo, por sempre ter

paciência comigo. Muito obrigado por estar do meu lado nos momentos difíceis

e principalmente nos momentos felizes, você é muito especial, sempre que

precisar estarei aqui para ajudar e te apoiar.

Ao meu orientador, Dr. Sergio Schenkman, sem palavras para

demonstrar o quanto sou grato de trabalhar com ele, vejo ele como um espelho

e o considero como um pai científico. Sempre estarei disposto a trabalhar ao

seu lado e mergulhar em projetos mirabolantes que fascinam. Queria agradecer

imensamente pela oportunidade de trabalhar em seu laboratório, pelos

ensinamentos, pela paciência e muita paciência, e pela extrema confiança

depositada. Trabalhar com ciência nunca foi tarefa fácil, mas facilita poder

contar com um excelente cientista ao nosso lado.

A Prof.ª Ana Claudia Torrecilhas pela confiança e pela indicação, se não

fosse ela não estaria aqui, muito obrigado por confiar na minha capacidade e

sempre me dar força para seguir em frente.

A Prof.ª Beatriz Castilho por sempre estar disposta a me ajudar com

experimentos relacionados à tradução e pelo ensinamento.

Ao Victor Nussenzweig pelas sugestões no trabalho e na vida.

Ao Nilmar por ser meu amigo e sempre me dar força, e por me encorajar

a terminar o trabalho, e por acreditar “cola na minha que você passa de ano”.

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Ao Thiago por me ajudar nos experimentos com microscópios, e pelas

conversas.

Ao Min Zhang pelos ensinamentos com as quinases e pelos momentos

engraçados.

A Renata Tonelli pelos primeiros ensinamentos no laboratório do Sergio

Schenkman.

A Mariana pela paciência e apoio na reta final.

Ao Fabricio pela paciência e longas conversas, pelos conselhos e por me

ensinar sempre o lado bom das coisas.

Ao Vinicius apesar de recém-chegado, pelas críticas e sugestões no

trabalho.

A Ana Luiza por estar disposta a me aturar, e me ensinar a ser ‘chefe’.

Ao Bruno Pascoalino por ter paciência e me ensinar como realmente se

faz Biomol.

A Teresa de Jesus por me ajudar sempre no começo da tese e confiar

em mim.

A Sheila Nardelli por me ajudar e sempre estar disposta a dar boas

risadas.

Ao Antônio pelas discussões de experimentos, apoio... e pelas histórias

incríveis que você contava diariamente... elas realmente animam meu dia.

A Claudeci pela ajuda em tudo, seja para comprar, fazer solução, ou ligar

insistentemente para os vendedores quando a gente precisa MUITO daquele

reagente. Obrigada pela amizade e pelo companheirismo, além de ter paciência

com minhas brincadeiras.

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Ao Claudio pela ajuda nas culturas, infecções, soluções, por estar sempre

disposto a ajudar e pela paciência (e que paciência!!!!).

A Prof.ª Nobuko Yoshida por estar sempre com o laboratório sempre de

portas abertas.

Aos membros do laboratório da Nobuko Yoshida, Maeda, Marina, Evelyn,

Silene, Cidinha e Cristian, por sempre estarem dispostos a ajudarem, pelas

discussões científicas e por sempre ter paciência com minhas danças e

brincadeiras.

A Gaby pela amizade, pelas longas conversas e sempre me apoiar.

Aos alunos do 7 andar pela ajuda e disponibilidade.

A todos os alunos, técnicos e colaboradores que passaram pelo

laboratório ao longo desses anos. Obrigada por tornarem momentos

simplesmente inesquecíveis!

Aos secretários, Márcia, Cristiane, Marcelo e Mércia pela ajuda

fundamental e pela amizade.

Aos professores da Disciplina de Biologia Celular, pelos ensinamentos,

pelo coleguismo e por estarem sempre prontos a ajudar no que for necessário.

Aos técnicos da disciplina, Luisão, Maria, Rose e Américo, por tudo que

vocês fazem diariamente por nós.

A todos os amigos do departamento de Microbiologia, Imunologia e

Parasitologia, professores, alunos, técnicos e secretários. Obrigada pela

contribuição e apoio nessa jornada.

A FAPESP pelo apoio financeiro.

A todos vocês, MUITO OBRIGADO!

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Lista de Abreviaturas

AMP- Ampicilina.

ATF4- Fator de ativação de transcrição 4.

ATP- Trifosfato de adenosina.

BSA- Albumina sérica.

C-terminal- Porção carboxi-terminal.

DAPI- 4,6-diamino-2-fenilindol.

DNA- Ácido desoxiribonucléico.

dNTPs- Trifosfato de desoxiribonucleotídeos.

ds-RNA- dulpa fita de ácido ribonucléico.

DTT- Ditiotreitol.

eEF2- Fator de elongação 2 de eucariotos.

eIF2- Fator de início de tradução 2 de eucariotos.

eIF2B- Fator de início de tradução 2B de eucariotos.

GDP- Difosfato de guanidina.

GST- Glutationa S-transferase.

GTP- Trifosfato de guanosina.

H2O2- Peróxido de hidrogênio.

H3- Histona H3.

H4- Histona H4.

HSP70- Proteína de choque térmico 70.

IPTG- Isopropil beta-D-1-tiogalactopiranosídeo.

LIT- Meio de infusão de fígado e triptose.

Mb- Mega bases.

mRNA- Ácido ribonucleico mensageiro.

N-terminal- Porção amino terminal.

ORF- Fase de leitura aberta.

PBS- Tampão fosfato-salina.

PCR- Reação em cadeia da Polimerase.

RNA- Ácido ribonucleico.

ROS- Espécies reativas de oxigênio.

SFB- Soro fetal bovino.

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TAU- Urina artificial de triatomíneo.

TAU3AG – TAU contendo 3 aminoácidos e glicose

TCEB- Tampão de eletroporação de T. cruzi.

tRNA- Ácido ribonucleico transportador.

tRNAmet - Ácido ribonucleico transportador carregado com

metionina.

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INDICE

1 Introdução .................................................................................................... 16

1.1 Trypanosoma cruzi .............................................................................. 16

1.1.1 Controle da expressão gênica em Trypanosoma cruzi .................... 20

1.2 Síntese proteica ................................................................................... 21

1.2.1 Iniciação .......................................................................................... 22

1.2.2 Elongação ....................................................................................... 23

1.2.3 Terminação ..................................................................................... 24

1.3 Mecanismos de regulação da tradução ............................................... 25

1.4 Proteínas quinases de eIF2 ............................................................... 28

1.5 Fatores de início da tradução em Trypanosoma ................................. 30

1.6 Proteínas quinases de eIF2 em Trypanosoma .................................... 34

1.7 Aquisição de nutrientes pelo T. cruzi ................................................... 36

1.8 Reservossomos e estoque de nutrientes ............................................. 37

2 OBJETIVOS ................................................................................................. 40

3 Materiais e Métodos ..................................................................................... 41

3.1 Trypanosoma cruzi .............................................................................. 41

3.2 Oligonucleotídeos, plasmídeos e anticorpos ....................................... 42

3.3 Western Blot ........................................................................................ 44

3.4 Imunofluorescência .............................................................................. 44

3.5 Geração de parasitas superexpressores de eIF2α .............................. 45

3.6 Geração de nocautes da TcK2 ............................................................ 47

3.7 Etiqueta ............................................................................................... 48

3.8 Construções de plasmídeos para reinserção do gene da TcK2 .......... 48

3.9 Transfecção de T. cruzi ....................................................................... 49

3.10 Ensaios de invasão ........................................................................ 49

3.11 Ensaio de quinase .......................................................................... 50

3.12 Detecção de espécies reativas de oxigênio, H2O2 e peroxidases .. 52

3.13 Atividade de superóxido dismutase (SOD) ..................................... 53

3.14 Análise dos níveis de heme intracelulares e incorporação de

análogos de heme ............................................................................... 53

3.15 Análises estatísticas ....................................................................... 54

4 Resultados ................................................................................................... 55

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4.1 TceIF2α ............................................................................................... 55

4.1.1 TceIF2α pode ser fosforilada em dois resíduos in vitro pela TcK2. 55

4.1.2 Papel da Ser43 e Thr 169 nos parasitas ......................................... 56

4.1.3 A superexpressão da eIF2, controla o crescimento e a formação de

formas infectivas ...................................................................................... 57

4.1.4 Fosforilação da Serina 43 em resposta a estresse oxidativo .......... 60

4.2 TcK2 .................................................................................................... 62

4.2.1 Caracterização da quinase K2 em T. cruzi ...................................... 62

4.2.2 TcK2 está presente na fração de membrana .................................. 64

4.2.3 TcK2 tem capacidade de se fosforilar e promover a fosforilação de

TceIF2α in vitro ....................................................................................... 66

4.2.4 TcK2 apresenta localização diferente da homóloga de Leishmania sp

67

4.2.5 A TcK2 é expressa em estados diferentes nos estágios de T. cruzi 69

4.2.6 TcK2 responde a carência de heme ................................................ 70

4.2.7 O heme se liga ao domínio quinase da TcK2 .................................. 75

4.2.8 Obtenção de nocautes para TcK2 ................................................... 79

4.2.9 A ausência da quinase afeta o crescimento e diferenciação ........... 82

4.2.10 Ascorbato reverte o fenótipo dos parasitas nocautes ...................... 83

4.2.11 TcK2KO apresentam reservossomos menos elétron densos .......... 87

4.2.12 Ausência da quinase TcK2 causa um desequilíbrio celular através da

geração de ROS ...................................................................................... 88

4.2.13 Reintrodução da TcK2 selvagem mas não da TcK2 inativa reverte as

alterações observadas no nocaute .......................................................... 93

5 Discussão................................................................................................... 100

6 REFERÊNCIAS .......................................................................................... 117

Abstract .......................................................................................................... 126

Author Summary ............................................................................................ 127

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Resumo

Variações ambientais causam uma menor síntese proteica em

detrimento da tradução de determinadas proteínas pela fosforilação da

subunidade α do fator de início de tradução (eIF2α) de eucariotos. Este

mecanismo parece ser também essencial na alternância dos estágios de

desenvolvimento de protozoários parasitas nos seus hospedeiros. Assim, nesta

tese, investigamos o papel da fosforilação de eIF2α na biologia do

Trypanosoma cruzi, o protozoário causador da doença de Chagas. Mostramos

que esta fosforilação é essencial para a geração de formas infectivas.

Diferentemente dos demais eucariotos, o eIF2α de tripanossomas tem um

domínio N-terminal a mais que é fosforilado na serina 43, além do sítio

canônico de fosforilação da treonina 169, equivalente a serina 51 de outros

organismos. A fosforilação de ambos os resíduos está envolvida no

desencadeamento da diferenciação de T. cruzi. Também estudamos uma das

três proteínas quinases de eIF2α preditas no genoma de tripanossomas.

Mostramos que a proteína quinase 2, denominada TcK2, está inserida em

membranas do compartimento endosomal de formas proliferativas do T. cruzi,

onde são estocadas proteínas, lipídeos e heme. O heme se liga a TcK2

causando sua inibição e permitindo a proliferação. Na ausência de heme a

TcK2 é ativada levando a uma parada na síntese proteica e formação de

formas infectivas. A deleção gênica da TcK2 impede a diferenciação e leva os

parasitas a não estocar o heme nos endossomos e sim no citosol, causando a

um aumento dos H2O2 devido a uma inibição dos níveis de peroxidase e

ativação de superóxido dismutase, que resulta em um aumento de espécies

reativas de oxigênio gerando danos aos parasitas. Concluímos que a TcK2 tem

um papel fundamental no desenvolvimento do T. cruzi através do controle da

síntese proteica e do balanço redox em função das quantidades de heme

disponíveis no parasita.

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Summary

Environmental variations cause a decrease in protein synthesis at the

expense of the translation of certain proteins by the phosphorylation of the α

subunit of translation initiation factor (eIF2α) of eukaryotes. This mechanism

also seems to be essential to the alternation of developmental stages of

protozoan parasites on their hosts. Therefore, in this thesis, we investigated the

role of eIF2α phosphorylation in the biology of the Trypanosoma cruzi, the

protozoan that causes Chagas’ disease. We showed that this phosphorylation is

essential for the generation of infective forms. Unlike other eukaryotes, the

eIF2α of Trypanosoma have an N-terminal domain that is phosphorylated at the

serine 43, besides the canonical site of phosphorylation of threonine 169,

equivalent to the serine 51 of other organisms. Phosphorylation of both residues

is involved in triggering the differentiation of T. cruzi. In addition, we study one

of the three eIF2α kinases foretold in the genome of trypanosomes. We showed

that the protein kinase 2, called TcK2, is inserted into the endosomal

compartment membranes of proliferative forms of T. cruzi, where are stored

proteins, lipids and heme. The heme binds to TcK2 causing its inhibition and

enabling proliferation. In the absence of the heme TcK2 is activated leading to a

halt in protein synthesis and formation of infective forms. TcK2 gene deletion

prevented differentiation, and heme was not retained in the endosomes. The

parasite showed increased levels of H2O2 due to the inhibition of peroxidase

and activation of superoxide dismutase activities, which results in an increase of

reactive oxygen species causing damage to parasites. We concluded that TcK2

plays a key role in the development of T. cruzi through the control of protein

synthesis and of the redox balance based on the quantities of heme available

for the parasite.

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1 INTRODUÇÃO

1.1 Trypanosoma cruzi

A Tripanosomíase Americana, conhecida popularmente como Doença

de Chagas, é uma importante endemia que é causada pelo Trypanosoma cruzi

(Pereira e Navarro, 2013). A doença de Chagas acomete cerca de 10 milhões

de pessoas em todo mundo. O T. cruzi é um protozoário flagelado, descrito há

mais de um século pelo brasileiro Carlos Chagas, pertencente à ordem

Kinetoplastida, família Trypanosomatidae (Brener, 1973).

O T. cruzi apresenta um ciclo de vida em que o protozoário infecta dois

hospedeiros, sendo um invertebrado (insetos triatomíneos), e outro, um

mamífero (incluindo o ser humano). São descritas quatro formas principais do

protozoário ao longo do ciclo biológico, sendo duas formas presentes no

hospedeiro invertebrado e duas formas presentes no hospedeiro vertebrado.

As duas formas que são encontradas no hospedeiro invertebrado são

denominadas de epimastigotas e tripomastigotas-metacíclicos. As formas

encontradas no hospedeiro vertebrado são amastigotas e tripomastigotas

sanguíneos. Os tripomastigotas não proliferam, mas podem infectar células de

mamífero, enquanto os amastigotas e epimastigotas se reproduzem por fissão

binária (Brener, 1973).

Os triatomíneos infectados eliminam fezes contendo tripomastigotas

metacíclicos quando se alimentam (Figura 1). Quando as fezes contaminadas

atingem mucosas dos olhos, boca, tubo digestivo ou ferimentos, os parasitas ali

depositados são capazes de invadir as células. O processo de invasão é ativo

levando a formação de um vacúolo parasitóforo na célula hospedeira.

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Figura 1. Esquema do ciclo biológico do Trypanosoma cruzi. Formas tripomastigotas metacíclicos

invadem o hospedeiro mamífero através do contato com mucosas (1). Formas infectivas invadem células onde se transformam na forma replicativa denominada amastigota (2). Formas amastigotas multiplicam por fissão binária (3) e diferenciam-se em formas tripomastigotas (4). Após a picada em um hospedeiro mamífero o inseto pode ingerir formas tripomastigotas (5) que se diferenciam em formas epimastigotas no estômago do inseto (6) e multiplicam-se (7). No final do intestino as formas epimastigotas diferenciam-se em tripomastigotas-metacíclicos (8). Adaptado (www.dpd.cdc.gov.dpdx).

Após algumas horas o vacúolo parasitóforo é degradado liberando

parasitas no citosol da célula hospedeira que se diferenciam na forma

amastigota. Esta forma se multiplica, por fissão binária, até a célula hospedeira

ficar repleta de parasitas quando os amastigotas se transformam em

tripomastigotas com o rompimento da célula. Os tripomastigotas liberados

podem invadir novas células adjacentes ou se difundir pelo hospedeiro através

da corrente sanguínea. Eventualmente, em um novo repasto sanguíneo, os

parasitas podem ser ingeridos por insetos triatomíneos. Uma vez ingeridos pelo

inseto, o protozoário se diferencia na forma epimastigota, que se multiplica por

fissão binária no estômago do inseto. Após a multiplicação os epimastigotas

aderem-se às células do epitélio digestivo do inseto e acabam se diferenciando

na forma metacíclica, que pode ser eliminada com as fezes do vetor reiniciando

o ciclo do parasita (de Souza, 1984).

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Na natureza, a aquisição da infecção pelo mamífero parece ocorrer

predominantemente por via oral através da ingestão de formas infectivas

presentes em alimentos contaminados com fezes dos insetos transmissores

(Pereira e Navarro, 2013). Além da transmissão através das fezes do inseto,

seres humanos podem infectar-se através de transfusão sanguínea,

transmissão congênita, transplantes de órgãos e acidentes laboratoriais (Figura

2).

Figura 2. Esquema de aquisição da doença. O ser humano pode ser contaminado por meio de acidentes

laboratoriais, transfusão sanguínea, transplante de órgãos e por transmissão congênita.

A infecção humana pode gerar uma fase aguda, seguido de um longo

período assintomático (Andrade, 1991). A fase aguda é marcada por um

número elevado de parasitas na corrente sanguínea enquanto que a

quantidade de parasitas é muito baixa no período assintomático e durante a

fase crônica onde os sintomas da doença de Chagas se manifestam (Coura e

Borges-Pereira, 2010).

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Os sintomas na fase crônica aparecem em cerca de 30% dos pacientes

infectados levando a lesões cardíacas ou ao desenvolvimento de síndromes

com aumento do esôfago ou do cólon (Coura e Borges-Pereira, 2011; Rassi et

al., 2010). O tratamento é feito por meio de medicamentos como Benzimidazole

e Nifurtimox (Urbina e Docampo, 2003), e grandes esforços vem sendo feitos

para o desenvolvimento de novas drogas, algumas já em testes avançados

(Benaim e Paniz Mondolfi, 2012; Botoni et al., 2013; Genovesio et al., 2011).

Não é possível eliminar a infecção em todos os indivíduos, principalmente

aqueles na fase crônica, dado a existência de linhagens resistentes do parasita

e/ou problemas de toxicidade das drogas disponíveis (Coura e Borges-Pereira,

2011; Linetzky et al., 2012; Requena-Mendez et al., 2013). Durante a fase

crônica se supõe que existam ninhos de amastigotas que apresentam uma taxa

de multiplicação baixa, assim dificultando a ação de drogas no metabolismo do

parasita (Coura e Borges-Pereira, 2011; Gutierrez et al., 2009; Marin-Neto et

al., 2007). Existem ainda trabalhos que propõe que os sintomas da doença

estejam desvinculados da presença de parasitas e tenham um caráter de

autoagressão dado a alterações do sistema imune ou ainda a alterações

genéticas do hospedeiro (Cunha-Neto et al., 2011; Girones et al., 2005; Leon e

Engman, 2001; Teixeira et al., 2011).

A prevenção da doença de Chagas tem sido feita através da eliminação

do inseto triatomíneo com o uso de inseticidas e melhora nas condições de

habitação, impedindo o contato dos insetos transmissores com o homem

(Pereira e Navarro, 2013). O sucesso no combate à doença de Chagas

também tem sido obtido com testes em bancos de sangue evitando a

transmissão por transfusão sanguínea. Contudo, surtos de transmissão oral, a

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falta de controle em bancos de sangue em muitos países e a presença de

vetores transmissores próximos aos domicílios mantém a transmissão ativa

(Rassi et al., 2010). Desta forma, a existência de indivíduos assintomáticos que

poderão desenvolver a doença, cuja origem da patologia é ainda controversa,

bem como a disponibilidade de poucas drogas para o tratamento, ainda

justificam estudos sobre esta doença.

1.1.1 Controle da expressão gênica em Trypanosoma cruzi

O genoma dos Tripanossomatídeos apresenta aproximadamente 67 Mb,

que codifica 22.500 proteínas, sendo parte destas proteínas de superfície que

auxiliam na invasão e escape do parasita nos seus hospedeiros (El Sayed et

al., 2005). A transcrição gênica é policistrônica e os RNA mensageiros (mRNA)

são gerados a partir de um pré-mRNA pela poliadenilação na porção 3’ do

transcrito e pela inserção de uma sequência líder a cada sequência de leitura

para proteínas na região 5’ em um processo denominado de “trans-splicing”

(Clayton e Shapira, 2007). Estes processos são necessários para o transporte

do mRNA para o citosol e sua tradução (De Gaudenzi et al., 2011; Teixeira e

DaRocha, 2003). As regiões codificadoras estão dispostas em longos trechos

do cromossomo na mesma fita de DNA e a transcrição é iniciada geralmente

em regiões onde as fases abertas de leitura são divergentes (Martinez-Calvillo

et al., 2010). Nestas regiões há um acúmulo de histonas H3 e H4 acetiladas

que provavelmente permitem a ligação de fatores de início da transcrição

(Cribb et al., 2009; Siegel et al., 2009; Wright et al., 2010). Portanto, não há um

controle de expressão para transcrição a nível de cada mensageiro.

Desta forma os níveis de mRNA presentes nas células acabam sendo

regulados pelo seu processamento, transporte para o citosol e sua

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estabilização ou degradação (De Gaudenzi et al., 2011). A degradação pode

ocorrer quando não há tradução e é mediada por proteínas que reconhecem

especificamente os diferentes tipos de mRNA a serem expressos numa dada

condição ou estágio de cada parasita (Clayton e Shapira, 2007). Também se

propõe que uma parte dos mRNAs de Trypanosoma que não são traduzidos

podem se acumular em estruturas denominadas grânulos de estresse

(Cassola, 2011). Estas estruturas se formam rapidamente quando as condições

ambientais são modificadas e poderiam levar o parasita a um novo padrão de

expressão gênica para cada condição. Estes grânulos de estresse acumulam

mRNAs, fatores de iniciação, proteínas ligantes de RNA e remodeladoras da

estrutura do mRNA (Dupe et al., 2014; Kramer et al., 2008; Mani et al., 2011),

porém ainda não se conhece de que forma poderia ocorrer um acúmulo

diferencial a cada nova situação.

1.2 Síntese proteica

A síntese proteica em eucariotos é um processo celular na qual os

mRNA são decodificados e traduzidos para a formação de uma sequência

polipeptídica, resultando em uma proteína. A tradução é dividida em etapas:

iniciação, elongação, terminação e reciclagem dos fatores envolvidos. Estes

processos ocorrem nos ribossomos e são mediados por fatores que controlam

e regulam cada uma destas etapas que em procariotos e eucariotos recebem a

denominação de (p) e (e) respectivamente, além do nome da etapa em letras

maiúsculas I, E, ou T, para iniciação, elongação e terminação,

respectivamente.

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1.2.1 Iniciação

No início da tradução há a formação de um complexo ternário (Figura 3).

Este complexo ternário é constituído pelo fator eIF2, uma molécula de GTP e o

tRNAmet iniciador aminoacilado (Hinnebusch e Lorsch, 2012). O complexo

ternário interage com a subunidade 40S do ribossomo mediado pelos fatores

eIF3, eIF1A e eIF5, formando o complexo pré-iniciador, 43S. O complexo 43S

se associa então a um complexo formado pelo mRNA e a proteínas que se

ligam a poliadenosina (PABP) e ao eIF4E que se liga a modificação de metil-7-

guanosina (m7G) da extremidade 5’ do mRNA agrupadas pelo fator eIF4G.

Com isto, passa a ocorrer a varredura da fita do mRNA até o códon de

iniciação (AUG), quando se forma o complexo 48S. No momento em que o

tRNAmet se pareia com o códon de iniciação no sítio P do ribossomo o GTP

ligado ao fator eIF2 é hidrolisado à GDP pelo eIF5B, desencadeando a

dissociação do fator eIF2 e a ligação da subunidade ribossomal 60S ao

complexo. Com a ligação da subunidade 60S do ribossomo, os fatores de

iniciação (eIF1, 3, 4B, 4F e 5) se associam e o complexo 80S se forma,

permitindo ocorrer o processo de elongação.

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Figura 3. Esquema ilustrativo do inicio da tradução de eucariotos. Adaptado: (Klann e Dever, 2004)

1.2.2 Elongação

O ribossomo apresenta três sítios de ligação ao tRNA. Os sítios P

(Peptidil), A (Aminoacil) e E (saída) (Figura 4). O começo da elongação é

definido quando o tRNA aminoacilado está presente no sítio A pareando com o

Complexo

ternário

Complexo

pré-iniciador

Complexo

pré-iniciador

Ribossomo

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códon do mRNA, o que causa mudança de conformação do eEF1,

desencadeando hidrólise e liberação do GTP associado ao complexo (Gorgoni

et al., 2014). A próxima etapa da elongação é a translocação do tRNA do sítio

A para o sítio P do ribossomo, deixando o sítio A vazio para o pareamento de

um novo tRNA com o códon subsequente. Para que o pareamento do próximo

códon ocorra, o ribossomo se desloca três bases do mRNA. Neste momento o

sítio A e P estão carregados propiciando a formação da ligação peptídica entre

os dois aminoácidos, catalisado pela peptidil-transferase. Este processo ocorre

enquanto o ribossomo se desloca pela fita de mRNA até o próximo códon,

desencadeando a translocação do tRNA presente no sítio P para o sítio E

acoplado a defosforilação do fator eEF2.

1.2.3 Terminação

Este processo acontece quando o ribossomo e os fatores de terminação

estão pareados com códon de terminação (STOP códon) no sítio A, causando

a dissociação da cadeia polipeptídica dos ribossomos. Existem alguns fatores

de liberação que se ligam ao sítio A do ribossomo e que auxiliam na

Figura 4. Esquema do processo de elongação de eucariotos. Adaptado; (Van Dyke et al., 2009).

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dissociação da proteína dos ribossomos (Powell, 2010). Para que um novo

ciclo se inicie é necessária à reciclagem dos fatores associados à tradução.

1.3 Mecanismos de regulação da tradução

A regulação da tradução acontece principalmente durante o processo de

iniciação. Ela ocorre pela disponibilidade e ação dos fatores envolvidos através

de modificações pós-traducionais. Uma das principais formas de controle do

início da tradução decorre da fosforilação do fator de iniciação eIF2 presente no

complexo pré-iniciador. Isto porque, para que haja formação do complexo de

iniciação, o eIF2 deve conter uma molécula de GTP (Shin et al., 2011). Como o

GTP é hidrolisado quando o complexo de iniciação se dissocia após o encontro

com o códon AUG, o eIF2 contendo moléculas de GDP se acumula. Para que

um novo ciclo de tradução ocorra, faz-se necessário a conversão do GDP em

GTP. Esta conversão GDP/GTP é catalisada pelo fator de troca de guanosina

denominado eIF2B, sendo esta conversão inibida quando a subunidade α do

eIF2 é fosforilada, diminuindo assim a disponibilidade de eIF2 para o início da

tradução (Gordiyenko et al., 2013).

O eIF2 é uma proteína que apresenta subunidades denominadas α, β e

γ. A subunidade γ, é responsável pela ligação da proteína ao ribossomo, além

de permitir a ligação do tRNA (Figura 5). Em Saccharomyces cerevisiae, a

subunidade γ, apresenta uma região N-terminal extra em relação aos demais

organismos, sendo essa porção extra de 80 aminoácidos, responsável pela

regulação da atividade da fosfatase que defosforila o eIF2 (Rojas et al., 2014).

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Figura 5. Estrutura das subunidades do fator eIF2. A seta indica a posição do sítio de fosforilação da

subunidade α (Gordiyenko et al., 2013).

A subunidade α é substrato de proteínas quinases que são ativadas em

condições de estresse celular. Estas quinases fosforilam um resíduo de serina

que inibe a troca de GDP/GTP. A inibição ocorre pela mudança de

conformação no complexo eIF2 e neste caso a subunidade do fator eIF2 liga-se

à subunidade delta do fator eIF2B e não à subunidade épsilon (Gordiyenko et

al., 2013) (Figura 6).

Figura 6. Esquema da interação entre o fator eIF2 e o fator eIF2B. A. O modelo exemplifica as

interações e entre subunidades (linha tracejada em vermelho) e resíduos (linha tracejada em verde e laranja). B. Esquema da interação entre eIF2 e eIF2B baseado no modelo homólogo, exemplificando os

passos da interação (1-2) a subunidade ε-cat do eIF2B promove a liberação de GDP associado a eIF2γ, e a mudança na estrutura (3), permitindo a transferência do GTP (4), e subsequentemente a liberação do eIF2 (5) .

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A fosforilação do eIF2α e a diminuição da disponibilidade do complexo

ternário levam à inibição da tradução da maioria dos mRNAs.

Consequentemente mRNAs contendo diversos códons de iniciação são assim

preferencialmente traduzidos por aumentar o tempo de residência do complexo

de iniciação (Palam et al., 2011). Entre as proteínas traduzidas nestas

condições estão fatores de transcrição de genes responsáveis para reverter o

estado de estresse em que a célula se encontra. Por exemplo, em mamíferos,

após a fosforilação do eIF2α, a tradução da proteína ATF4 é aumentada

(Rzymski et al., 2009). O mesmo ocorre em leveduras, para a proteína GCN4

(Castilho et al., 2014). O mRNA que codifica o GCN4 apresenta anteriormente

à sua sequência codificadora (ORF) quatro pequenas ORFs, denominadas

“upstream ORF” (uORF). Estas uORFs evitam que haja iniciação da tradução

da ORF principal de GCN4 em condições normais (Hinnebusch, 2005). Quando

o eIF2α é fosforilado, a quantidade de complexos ternários diminui e a tradução

das uORF1 se torna mais lenta devido à demora na formação do complexo

43S. Isso faz com que o complexo 43S forme-se preferencialmente na uORF4

e na ORF principal da GCN4.

O aumento da quantidade de ATF4 leva a transcrição de genes

específicos. Exemplos são as proteínas CHOP e GADD34. A proteína CHOP

causa diminuição da quantidade de Bcl-2, uma proteína anti-apoptótica da

mitocôndria (Palam et al., 2011). Assim, se o estresse perdurar, a célula pode

entrar em apoptose. A GAAD34, por sua vez, é uma subunidade regulatória de

uma fosfatase que especificamente remove a fosforilação de eIF2, revertendo

o efeito do estresse. Além de GAAD34, células de mamíferos expressam

constitutivamente as subunidades regulatórias de fosfatases denominada

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CReP que também mantem baixo os níveis de eIF2α fosforilado (Kloft et al.,

2012). Já em leveduras a proteína fosfatase responsável pela ligação na

subunidade γ e defosforilação da subunidade α, é uma PP1/GLC7. Isso

acontece em S. cerevisiae devido à presença da região extra na porção N-

terminal da proteína como mencionado acima. As demais leveduras não

apresentam essa extensão, sugerindo haver um mecanismo variável na

regulação da atividade da fosfatase de eIF2 (Rojas et al., 2014).

A iniciação também pode ser controlada pela disponibilidade de

proteínas ligantes do “cap” do mRNA mensageiro (eIF4E) evitando a formação

do complexo de iniciação (Dhalia et al., 2005). Em mamíferos a proteína de

ligação a eIF4E, denominada 4EBP, inibe a formação do complexo. A proteína

4EBP pode ser fosforilada por uma proteína quinase denomina de TOR

derivado do inglês “Target of Rapamycin”. Rapamicina é uma droga

imunossupressora que inibe a ação desta enzima, parando a tradução

(Abraham, 2002; Wullschleger et al., 2006). A quinase TOR é ativada quando

há disponibilidade de aminoácidos na célula, fosforilando a 4EBP, suprimindo o

seu papel inibidor e permitindo haver tradução e crescimento celular (Wang e

Proud, 2009). Este mecanismo é encontrado em metazoários e garante que a

síntese proteica só ocorra se houver disponibilidade de nutrientes.

1.4 Proteínas quinases de eIF2

Em leveduras apenas uma quinase é capaz de fosforilar eIF2α na serina

51. Ela foi identificada pelo fato de mutantes sem a proteína (Δgcn2) não

responderem a estresse de aminoácidos e por possuir domínios ligantes de

RNA de dupla fita (HisRS) capazes de interagir com tRNAs. É por isto chamada

em inglês “general control non-derepressible 2 (GCN2) (Wek et al., 1990). Esta

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proteína tem como característica apresentar um domínio característico de

histidil-tRNA sintetase (HisRS) na região C-terminal, além de um domínio na

região N-terminal, denominado RWD derivado de “RING finger-containing

proteins, WD-repeat-containing proteins, and yeast (DEAD (DEXD)-like

helicases).” Ela possui também um domínio pseudo-quinase na região N-

terminal da proteína, além do domínio quinase na região central da proteína. A

quinase é ativada em situações de carência de aminoácidos. Esta carência

causa um acúmulo de tRNAs não carregados que se ligam ao domínio HisRS,

resultando na dimerização da quinase e sua ativação com consequente

fosforilação do fator eIF2α (Dever e Hinnebusch, 2005). O estado inibido

decorre da interação do domínio pseudo-quinase com o domínio quinase. Além

da presença de tRNAs não carregados, em S. cerevisiae, a quinase é também

ativada por radiação ultravioleta (UV) (Hinnebusch, 2005).

Em mamíferos, quatro diferentes proteínas quinases são capazes de

fosforilar eIF2α especificamente na serina 51 que está envolvida na ligação de

eIF2B. Além de um homólogo à GCN2, outras três quinases foram

identificadas. Uma delas é chamada de HRI, de “Heme Responsive

Inactivator”. Ela é ativada quando a quantidade de heme citosólico é diminuída

em eritroblastos (Chen e London, 1995). Na região N-terminal e C-terminal da

HRI há sítios de ligação de heme, sendo que somente a ligação no sítio da

região C-terminal é reversível. Em condições de carência de heme, o sítio do

C-terminal fica livre provocando a dimerização da quinase e consequentemente

sua autofosforilação na treonina 485 e ativação da quinase. Há estudos que

apontam a ativação da quinase em ambientes de estresse osmótico ou

oxidativo, independentemente da presença de heme (Han et al., 2001).

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Outra proteína quinase capaz de fosforilar eIF2 é a PKR (Protein

Kinase R). Esta enzima é ativada pela ligação de RNAs de dupla fita (ds-RNA)

em dois domínios possibilitando a dimerização da quinase e autofosforilação

quando há infecções virais. A parada na tradução é um mecanismo de inibição

da tradução de mensagens do vírus. O domínio quinase na PKR está presente

na região C-terminal (Garcia et al., 2007).

A quarta quinase presente em mamíferos é denominada PERK (Protein

kinase R (PKR)-like Endoplasmic Reticulum Kinase). Esta quinase está

localizada na membrana do retículo endoplasmático, com a porção C-terminal

no citosol da célula e a região N-terminal no lúmen do retículo endoplasmático

(Chakrabarti et al., 2011). A PERK está associada à proteína de ligação a

imunoglobulina (BiP), uma proteína chaperona que auxilia no dobramento de

proteínas presentes no retículo endoplasmático. BiP inibe a ativação da

quinase em condições normais. Em condições de estresse de retículo

endoplasmático causado pela não formação de pontes bissulfeto devido a um

estado mais redutor, há o acúmulo de proteínas mal dobradas e desta forma a

BiP dissocia-se de PERK, para atuar como chaperona. A dissociação de BiP

causa a dimerização da PERK, sua autofosforilação e consequentemente sua

ativação (Chakrabarti et al., 2011).

1.5 Fatores de início da tradução em Trypanosoma

As proteínas envolvidas na regulação da síntese proteica apresentam

grande conservação ao longo da evolução. Homólogos de eIF4A, eIF4E, eIF4G

e subunidades de eIF4F, responsáveis por facilitar o recrutamento da

subunidade menor do ribossomo e o mRNA estão presentes em Leishmania e

Trypanosoma (Tabela I). No entanto, existem quatro homólogos de eIF4E em

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Leishmania e Trypanosoma brucei, todos com característica de se ligar ao cap

do mRNA (Freire et al., 2011). Cinco homólogos de eIF4G foram detectados,

sendo o eIF4G3 e eIF4G4 responsáveis pela associação com eIF4E, que

também apresenta dois homólogos nestes organismos. Além disso, os eIF4E

tem uma extensão na região N-terminal (Freire et al., 2011). Com isso foram

encontrados dois complexos eIF4E4/eIF4G3/eIF4AI e eIF4E3/eIF4G4/eIF4AI

nos tripanossomatídeos (Freire et al., 2011).

O fator eIF2 apresenta três subunidades, como nos demais organismos,

com as subunidades β e γ altamente conservadas. Isto é compatível com o fato

de se encontrar no genoma as principais subunidades do fator eIF2B

responsável pela troca de GDP/GTP associado ao eIF2γ, ambos conservados

nos tripanossomatídeos. A subunidade α do fator eIF2, no entanto, apresenta

uma região N-terminal extra em relação à subunidade de mamíferos e S.

cerevisiae. O alinhamento dos diferentes eIF2α mostrou que o sítio de

fosforilação na serina 51 em mamíferos corresponde a treonina 169 em T. cruzi

(Tonelli et al., 2011). A fosforilação desta treonina já foi demonstrada em

Leishmania e T. brucei (Cloutier et al., 2012; Kramer et al., 2008; Tonelli et al.,

2011).

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Figura 7 Alinhamento da sequência de aminoácidos da subunidade α do fator eIF2. Estão presentes no

alinhamento as sequências de aminoácidos das proteínas de Kinetoplastida, de T. gondii, P. falciparum,

H. sapiens, M. musculus e S. cerevisiae, respectivamente. Em preto indicamos a sequência de

aminoácidos semelhantes entre todos os organismos do alinhamento. Em cinza aminoácidos

semelhantes em alguns organismos.

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Contudo, a análise da região N-terminal extra, sugere a presença de

uma sequência com características similares à encontrada próxima a serina 51

que é fosforilada em mamíferos com os aminoácidos LSRR conservados,

sugerindo assim, a existência de outro possível sítio de fosforilação na serina

43 em T. cruzi e T. brucei, mas não em outros protozoários da ordem

kinetoplastida. Talvez no gênero Trypanosoma a subunidade α apresente uma

segunda função ou uma resposta diferenciada em relação aos níveis de

fosforilação dos dois sítios presentes.

Figura 8 Alinhamento da região N-terminal da subunidade α do fator eIF2. Estão presentes no

alinhamento a sequência de aminoácidos de kinetoplastideos, T. gondii, P. falciparum, H. sapiens, M.

musculus e S. cerevisiae respectivamente. Em preto indicamos as sequências de aminoácidos

semelhantes entre todos os organismos do alinhamento. Em cinza aminoácidos semelhantes em

alguns organismos.

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Tabela I. Genes relacionados ao início da tradução em T. cruzi

Gene TriTrypDB kDa (T. cruzi) Cromossomo kDa Mamífero

kDa S cerevisiae

eIF2α TcCLB.508153.730 50 36 38 36

eIF2γ TcCLB.503819.30 53 41 52 53

eIF2β TcCLB.507063.20 38 28 38 38

eIF4E1 TcCLB.506127.170 28 39 25 25

eIF4E2 TcCLB.511353.40 26 40

eIF4E3 TcCLB.511353.40 28 40

eIF4E4 TcCLB.421959.10 36 32

eIF4A1 TcCLB.510155.180 49 32 45 37

eIF4G1 TcCLB.506739.10 120 3 190

eIF4G2 TcCLB.508277.340 113 7 80 110

eIF4G3 TcCLB.508837.130 68 25 160 65

eIF4G4 TcCLB.508837.130 69 25

eIF4G5 TcCLB.508989.90 84 12

eIF1A TcCLB.511367.360 49 5 17

1.6 Proteínas quinases de eIF2 em Trypanosoma

Em tripanossomatídeos existem três quinases com características de

fosforilar eIF2α, semelhantes respectivamente à GCN2, PERK, e HRI. Elas

foram denominadas respectivamente de K1, K2 e K3. No entanto, a K2 de T.

brucei tem uma localização diferente na célula, próxima a bolsa flagelar e não

no retículo endoplasmático (Moraes et al., 2007). Já a proteína quinase

homóloga à PERK de Leishmania infantum está localizada no retículo

endoplasmático e apresenta um papel chave na diferenciação para formas

amastigotas do parasita (Cloutier et al., 2012). O papel desta enzima está

relacionado à sua capacidade de promover a fosforilação de eIF2α, que é

necessário para a diferenciação do parasita. Isto é compatível com nossos

resultados, onde mostramos que formas epimastigotas de T. cruzi que

superexpressam eIF2α contendo uma mutação no sítio de fosforilação

apresentam diminuição na diferenciação para tripomastigotas-metacíclicos

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(Tonelli et al., 2011). No entanto, apesar de estar localizada no retículo

endoplasmático, a LinPERK não responde a estresse causado por um agente

redutor, o ditiotreitol (DTT), um típico ativador das PERKs de mamíferos (Chow

et al., 2011). Estes fatos demonstram que em tripanossomatídeos as proteínas

quinases de eIF2α devem ter se especializado para permitir que cada parasita

reconheça estímulos diferentes, já que durante o ciclo de vida passam por

ambientes distintos. Recentemente a TbK3 foi caracterizada por meio de

ensaio de imunoprecipitação, evidenciando sua associação com TRF4, um

proteína que está associada à TATA-binding protein na região do SL em T.

brucei. A TbK3 está associada ao retículo endoplasmático e em situações onde

o pH é alterado a proteína vai para o núcleo e regula a fosforilação da TRF4

(Hope et al., 2014).

Também em outros parasitas protozoários estas proteínas quinases tem

papel no controle da tradução. Por exemplo, em plasmódio, o protozoário

causador da malária humana, nocautes para quinase denominada eIK2 deixam

de fosforilar eIF2α, levando a uma perda de infectividade do protozoário (Zhang

et al., 2010; Zhang et al., 2013). Esta seria uma forma de resposta ao

mecanismo de estresse necessário para a diferenciação do parasita na

glândula salivar do mosquito. Outra proteína quinase que responde a carência

de aminoácidos é a PfeIK1 (Fennell et al., 2009). Recentemente foi descrita

uma quinase de Plasmódio que seria ortóloga a PKR de mamíferos. Ela foi

denominada PK4 e tem como principal função fosforilar a serina 59 do fator

eIF2α do parasita, levando a uma parada na síntese de proteínas no estágio

esquizonte e, portanto, controlar o ciclo eritrocitário do protozoário (Zhang et

al., 2012). Taquizoítos de Toxoplasma gondii expressam uma proteína quinase

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de eIF2α denominada TgIF2K-A que é similar à PERK. Esta quinase se localiza

no retículo endoplasmático e está associada à BiP/GRP78, sendo capaz de

responder ao tratamento de tunicamicina e levando a célula a ter altos níveis

de fosforilação de eIF2α. A fosforilação de eIF2 neste organismo causa a

formação de bradizoítos que são formas latentes deste parasita (Narasimhan et

al., 2008). Outra quinase presente em T. gondii é a TgeIF2-B que apresenta um

mecanismo de ativação identificado apenas em T. gondii (Park et al., 2013).

Além dessas quinases são descritas TgIF2K-C e TgIF2K-D. TgIF2K-D é

homóloga a GCN2 e é importante na manutenção do parasita no ambiente

extracelular durante o ciclo de vida (Joyce et al., 2010). Não está bem clara a

função da TgIF2K-C, e sugere-se que seja uma segunda quinase do tipo GCN2

(Konrad et al., 2011).

1.7 Aquisição de nutrientes pelo T. cruzi

Ao longo do seu ciclo de vida, o T. cruzi enfrenta mudanças ambientais

com grandes diferenças na disponibilidade de nutrientes. Por exemplo, no tubo

digestivo do inseto vetor o parasita encontra um ambiente rico em nutrientes

derivados do sangue do hospedeiro mamífero. Isso faz com que o parasita se

multiplique e acumule nutrientes. Com o decorrer do tempo, a quantidade de

nutrientes no tubo digestivo diminui porque o inseto só se alimentará

novamente quando todo o conteúdo intestinal se esgotar (Lara et al., 2007).

Esta diminuição de nutrientes é apontada como o que causa a diferenciação

para formas infectivas que serão eliminadas com as fezes dos insetos

(Contreras et al., 1985).

A obtenção de nutrientes pode ocorrer através da incorporação através

do citóstoma, uma abertura na região anterior deste Trypanosoma (Cupello et

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al., 2011) ou de endocitose através da bolsa flagelar presente em todos os

Kinetoplastida (Lara et al., 2007). Proteínas adicionadas no meio de cultura de

epimastigotas entram no parasita através do citóstoma e se acumulam em

endossomos secundários denominados reservossomos. Além disto, este

compartimento é importante para o acúmulo de nutrientes como colesterol, que

é internalizado e estocado nos reservossomos formando inclusões lipídicas,

estimulando a proliferação de epimastigotas (Pereira et al., 2011).

Por outro lado, são descritos diversos transportadores de membrana

responsáveis pela incorporação de aminoácidos, bases nitrogenadas e

açúcares nos tripanossomatídeos (Lara et al., 2007). Por exemplo, a forma

amastigota intracelular apresenta altos níveis de transportadores de prolina que

leva ao acúmulo e uso deste aminoácido neste estágio (Tonelli et al., 2004). Já

a glicose é absorvida preferencialmente por transportadores mais expressos

nas formas proliferativas epimastigotas (Silber et al., 2009).

Dentre os nutrientes necessários para o desenvolvimento do T. cruzi

está a molécula de heme que não é sintetizada pelo protozoário (Cupello et al.,

2014). O heme é importante para a formação de diversos complexos

enzimáticos essenciais a suas vias metabólicas (Nogueira et al., 2011). Entre

eles se encontram os diversos citocromos que atuam na cadeia respiratória e

enzimas do metabolismo de óxido-redução como as peroxidases.

1.8 Reservossomos e estoque de nutrientes

Reservossomos são organelas elétron densas e presentes na região

posterior da forma epimastigota do T. cruzi (Figura 9). Estas organelas são

locais de acúmulo de macromoléculas e já foi demonstrado que contém

lipídios, heme além de hidrolases digestivas (Cunha-e-Silva et al., 2006;

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Pereira et al., 2011; Sant'Anna et al., 2009; Sant'Anna et al., 2008; Yoshida,

2008). Uma enzima abundante e presente nos reservossomos é a cruzipaína,

uma cisteína protease que participa de processos catabólicos na forma

epimastigota (Yoshida, 2008).

Figura 9. Esquema da forma epimastigota de Trypanosoma cruzi. A imagem ilustra principais organelas

da parasita (Souza, 2008).

Durante a diferenciação para a forma metacíclica os reservossomos

desaparecem e a cruzipaína passa a ser secretada, participando nos

processos de invasão celular por formas tripomastigotas (Yoshida e Cortez,

2008). Como a diferenciação ocorre quando os epimastigotas são colocados

em ambientes com poucos nutrientes, sugere-se que os reservossomos sejam

consumidos em processos autofágicos e que estes eventos estejam

associados com a diferenciação (Alvarez et al., 2008). Desta forma, é possível

que exista uma relação entre a síntese proteica e a degradação dos

reservossomos e que a presença das quinases de eIF2α esteja envolvida

nestes processos. Não existem, contudo muitos trabalhos sobre o envolvimento

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de eIF2α nas vias de endocitose. Alguns trabalhos mostram que esta proteína

teria um papel no tráfego de vesículas de células após a infecção com

Staphylococcus aureus (Kloft et al., 2012).

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2 OBJETIVOS

Baseado no exposto acima fica evidente que as alterações ambientais

podem estar causando sinais que levam o T. cruzi a um novo programa de

expressão gênica e consequentemente sua diferenciação. Assim, a nossa

hipótese é de que haja alteração da tradução e possivelmente alguns mRNA

sejam traduzidos preferencialmente como consequência da disponibilidade de

nutrientes e/ou da presença de fatores ambientais específicos. Para

demonstrar a validade desta hipótese, nesta tese procuramos verificar se a

fosforilação de eIF2 de T. cruzi tem um papel neste processo e quais os sinais

e quais as proteínas quinases estão envolvidas. Com o objetivo de responder

estas questões procuramos mais especificamente:

1. Avaliar o papel da fosforilação de eIF2α no crescimento e na

diferenciação da forma epimastigota na forma tripomastigota

metacíclica.

2. Verificar o papel da serina 43 de eIF2α em T. cruzi.

3. Caracterizar o papel da proteína quinase K2 de T. cruzi.

4. Identificar os sinais que induzem a ativação da K2 de T. cruzi.

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41

3 MATERIAIS E MÉTODOS

3.1 Trypanosoma cruzi

A forma epimastigota do T. cruzi (cepa Y) foi cultivada à 28ºC em meio

de infusão de fígado e triptose (LIT) (Camargo, 1964) acrescido de 10% de

soro fetal bovino (SFB) e 10 mg/mL de hemina. Para diferenciação em

tripomastigotas-metacíclicos, os epimastigotas em fase exponencial de

crescimento (1 x 107/mL) foram coletados e centrifugados a 2.000 g por 10 min

e ressuspensos na concentração de 5 x 108 parasitas/mL em meio

mimetizando a composição da urina do inseto vetor (TAU) (Contreras et al.,

1985). O meio TAU continha 190 mM NaCl, 17 mM KCl, 2 mM MgCl2, 2 mM

CaCl2, 8 mM tampão fosfato, pH 6,0. Após 2 h à 28ºC, os parasitas foram

diluídos em meio TAU suplementado com 2,5% de bicarbonato de sódio, 500

U/mL de penicilina, 10 mM prolina, 50 mM ácido glutâmico, 2 mM ácido

aspártico, 10 mM glicose e incubados à 28ºC por 96 h (Contreras et al., 1985).

Após 96 h os tripomastigotas metacíclicos foram purificados por colunas de

DEAE-celulose como descrito em (Stiles e Kierszenbaum, 1986).

As formas tripomastigotas sanguíneas foram obtidas a partir de células

LLCMK2 (ATTC-CCL5) e cultivadas em meio de Eagles modificado por

Dulbecco contendo 1 g/L de glicose (DMEM) e 10% de SFB, à 37oC em

atmosfera de 5% de CO2. Os tripomastigotas eram recolhidos do meio de

cultura 5 dias após a infecção das células. Amastigotas intracelulares foram

obtidos 72 h após infecção, através da lise de células LLCMK2 como descrita

anteriormente (Marques et al., 2011).

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3.2 Oligonucleotídeos, plasmídeos e anticorpos

Os oligonucleotídeos, plasmídeos e anticorpos utilizados neste trabalho

estão listados na tabela II, III e IV.

Tabela II . Oligonucleotídeos utilizados neste trabalho

Oligo Sequência Função eif2FX 5’ TCTAGAATGTCGTACTACCATCACC Amplifica o TceIF2α na direção sense

com o sítio XbaI

eif2 RBg 5’ GCAACGTGACATACAATGGATCTCACC Amplifica o TceIF2α na direção anti-sense

eifSA 5’ CGTCATCCAACCCTCGCGCGGAGAAAACTCACC Amplifica o TceIF2α na direção sense inserindo uma mutação no códon que codifica a serina 43

eif2RH 5’ AAGCTTTCAATCTGTCTCATCATC Amplifica o TceIF2α na direção anti-sense com o sítio HindIII

5k2fowApaI 5’ GGGCCCACACGGAAGCGAGCAAACAC Amplifica a região 5’ UTR da TcK2 na direção sense com o sítio ApaI

5revXbaI 5’ AGATCTTTAGGGAAAAATGCCACAG Amplifica a região 5’ UTR da TcK2 na direção anti-sense com o sítio XbaI

3'K2fowSal 5’ GTCGACTCAAAACACATGACGCGC Amplifica a região 3’ UTR da TcK2 na direção sense com o sítio SalI

3K2RevSac 5’ GAGCTCTTCCATTGGTGTCCATC Amplifica a região 3’ UTR da TcK2 na direção anti-sense com o sítio SacI

5K2fow 5’ GGGCCCACACGGAAGCGAGCAAACAC Amplifica TcK2 na direção sense

G418Rev 5’ AAGCTTGAAGAACTCGTCAAGAAGGCGATA Amplifica gene de geneticina na direção anti-sense

HigroR 5’ CAGCTGGATAAGGAAACGGG Amplifica gene de higromicina na direção anti-sense

BlastRev 5’ CAGGTCGCTATGTTCAGTCCAC Amplifica gene de blasticidina na direção anti-sense

5’ GAATTCCCAGCAGTTCCA AAAGCCCGA Amplifica a região do domínio quinase na TcK2 na direção sense

5’ CTCGAGTCGACCCGGCTGTCGCAGGGCTTTAACGA

Amplifica a região do domínio quinase na TcK2 na direção anti-sense

K2TcXbaFor 5’ TCTAGAATCTGCCTCCAGTGATGG Amplifica a região c-terminal da TcK2 na direção sense com sítio XbaI

K2TcNotRev 5’ GGCCGCTTACGATTTTTTCTC Amplifica a região c-terminal da TcK2 na direção anti-sense com sítio NotI

K2TcBam 5’ GGATCCTGTGTTTTGAGTAAACTC Amplifica a região c-terminal da TcK2 na direção sense inserindo um sítio BamHI

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K2TcNotFor 5’ GCGGCCGCATAAATTGCGCG Amplifica a região c-terminal da TcK2 na direção anti-sense inserindo um sítio NotI

TceiF2-K2mut_rev

5’ CATCTGCTATACGAATAGCCGCGACGGCGTAGG Amplifica a região C-terminal da TcK2 para obtenção da mutação K695A na direção anti-sense.

Tck2mut_fow 5’ CCTACGCCGTCGCGGCTATTCGTATACCAGATG Amplifica a região C-terminal da TcK2 para obtenção da mutação K695A na direção sense.

Tck2XBAfow 5’ GCTCTAGATGCCGGATGCCTCTATTCG Amplifica a região a TcK2 para obtenção na direção sense, inserindo um sítio XbaI.

TcK2XhoIrev 5’ GCCTCGAGTCATGTGTTTTGAGGTAAAC Amplifica a região a TcK2 para obtenção na direção sense, inserindo um sítio XhoI.

Tabela III - Plasmídeos utilizados e produzidos nesta tese

Plasmídeo Gene clonado Origem p33 TceIF2α - Wt

- Ser43Ala - Thr169Ala - Ser43ala/Thr169Ala (2Mut)

(Ramirez et al., 2000)

pDEST-17-G TceIF2α – Wt pET14b TceIF2α - Ser43Ala

- Thr169Ala - Ser43ala/Thr169Ala (2Mut)

pGEMTeasy-G418 TcK2KO pROCK TcK2 full e TcK2 Mut K695A

Tabela IV – Anticorpos utilizados nesta tese.

Anticorpo Diluição IF Diluição WB Procedência

HA 1:1000 1:1000 Covance (anticorpo monoclonal HA.11

Clone 16B12)

Histag 1:500 Roche (anticorpo monoclonal)

Tubulina 1:50000 Produzido durante o doutorado por

Leonardo Augusto

Cruzipaína 1:5000 (Monteiro et al., 2001) (Anticorpo produzido

em coelho doado pelo Prof. Dr. Julio

Scharfstein)

HSP70 1:20000 (McDowell et al., 1998) (anticorpo

produzido em coelho)

BiP 1:5000 (Bangs et al., 1993) (anticorpo

produzido em coelho)

2KD 1:1500 Produzido pela Dr. Teresa de Jesus

mAb 5D10 1:200 Monoclonal produzido pela Dr. Teresa

de Jesus

mAb 2C2 1:1000 (Andrews et al., 1987) (anticorpo

monoclonal produzido no laboratório)

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3.3 Western Blot

Para os Western Blot os parasitas eram coletados por centrifugação a

2000 g por 5 min, ressuspensos em PBS, e centrifugados uma vez mais. Os

precipitados contendo os parasitas foram lisados em tampão de amostra para

gel de poliacrilamida e SDS (SDS-PAGE) e submetidos à eletroforese no

sistema MiniProtean III da BioRad (Laemmli, 1970). Após a eletroforese, as

proteínas foram transferidas para membrana de nitrocelulose por 2 h a 90 V no

sistema de transferência úmido BioRad utilizando tampão 2,5 mM Tris base e

19,2 mM de glicina contendo 20% de Metanol. As membranas foram

bloqueadas por 1 h com PBS contendo 5% de leite em pó desnatado (Molico,

Nestle) contendo 0,1% de Tween-20 e, em seguida, incubadas com anticorpo

primário diluído em PBS contendo 0,1% de Tween-20 por 1 h. As membranas

foram lavadas 3 vezes com PBS contendo 0,1% de Tween-20 por 15 min cada

lavagem e então incubadas por 1 h com o anticorpo secundário conjugado com

peroxidase (Invitrogen) diluído a 1:10000 em PBS. As membranas foram

lavadas 3 vezes com PBS contendo 0,1% de Tween-20, cada uma por 10 min,

e incubadas por 3 min com solução para ECL (Millipore). Por fim esta

membrana foi exposta a um sistema de aquisição de imagens (Li-COR

Odyssey).

3.4 Imunofluorescência

Para os ensaios de imunofluorescência, os parasitas foram recolhidos

por centrifugação a 2000 g por 5 a 10 min, lavados em PBS, e ressuspensos

em PBS para a concentração de 5 x 106/mL. Esta suspensão de parasitas era

adicionada sobre lâminas de vidro e assim mantida por 5 min a temperatura

ambiente. O excesso de solução era removido e os parasitas aderidos ao vidro

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fixados com paraformaldeído a 4% em PBS por 20 min, seguido de tratamento

por 5 min com PBS contendo Triton-X100 a 0,1% para permeabilização. As

lâminas eram então lavadas com PBS e incubadas durante 30 min em PBS

contendo albumina de soro bovino (BSA) a 2%. As lâminas eram depois

incubadas com os anticorpos primários por 1 h à temperatura ambiente. Os

anticorpos eram removidos e as lâminas lavadas três vezes com PBS, e

novamente incubadas com anticorpo secundário anti-IgG de coelho, ou de

camundongo conjugados a Alexa-fluor 488 ou 594 (Invitrogen, diluídos a

1:1000 em PBS). Na solução contendo o conjugado eram adicionados 10 μM

de DAPI para coloração de núcleo e cinetoplastos. Essa etapa era feita em

temperatura ambiente e no escuro. As lâminas eram depois lavadas em PBS

sucessivas vezes e montadas com Prolong Gold (Invitrogen). Os parasitas

marcados foram visualizados em microscópio de fluorescência Olympus BX-61.

Imagens eram adquiridas a cada 0,2 m no eixo Z usando uma objetiva de

100X, abertura numérica de 1,40, com o software Cell^M (Olympus Europe) e

posteriormente desconvoluídas usando o software Autoquant X 2.2 (Media

Cybernetics).

3.5 Geração de parasitas superexpressores de eIF2α

O DNA plasmidial pDESTeIF2α-6xHistag, foi utilizado como molde para

amplificar o gene de eIF2α por reação de polimerase em cadeia (PCR). Foram

feitas três construções inseridas no plasmídeo p33 todas contendo uma cauda

de histidina. Uma delas continha o gene original, outra a serina 43 substituída

por uma alanina (eIF2α S43A), outra a treonina 169 substituída por uma

alanina (eIF2α T169A). Uma quarta tinha a substituição da serina 43 e treonina

169 por alaninas (eIF2α 2MUT) (Figura 8). Inicialmente, o gene para expressar

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a proteína mutada na serina 43 foi gerado a partir de dois fragmentos de PCR.

O primeiro fragmento com 788 pares de base (pb) foi obtido utilizando os

oligonucleotídeos eif2FX e eif2 RBg. O segundo fragmento com 1146 pb foi

obtido utilizando os oligonucleotídeos eifSA e eif2RH. Os dois fragmentos de

PCR foram purificados com PureLink Quick Gel Extraction Kit (Invitrogen) e

fundidos em uma nova reação de PCR utilizando os iniciadores externos de

ambas as reações anteriores (eif2FX e eif2RH). Para construção do gene para

a proteína com a substituição da treonina 169 por uma alanina, o mesmo

procedimento descrito acima foi feito com os oligonucleotídeos eif2FX e eif2

RBg para o primeiro fragmento e eifTA169 e eif2RH para o segundo fragmento.

Os fragmentos foram igualmente unidos por PCR com os oligonucleotídeos

Eif2FX e eif2RH. Para a obtenção da proteína com dupla mutação, na serina

43 e treonina 169 por alanina, utilizamos como molde a construção eIF2

S43A, repetindo o processo utilizado para gerar a mutação para a treonina 169.

Os PCRs foram feitos com Platinum® Taq DNA Polymerase High Fidelity

(Invitrogen). Os produtos finais dos PCR foram clonados no vetor pGEM®-T

easy (Promega) e utilizados para transformar E. coli DH5. As colônias

selecionadas em meio Luria Brentani (LB) em 2% ágar contendo 50 g/mL de

ampicilina foram inoculadas em 3 mL de meio LB líquido contendo 50 g/mL de

ampicilina e os plasmídeos purificados por lise alcalina (Sambrook et al., 1989).

Os DNAs plasmidiais foram analisados por digestão com enzimas de restrição

e aqueles com o padrão de digestão esperado foram sequenciados com

iniciadores internos do vetor pGEM. Os padrões de digestão foram analisados

por eletroforese em gel de agarose 0,8% contendo brometo de etídeo 0,001%

em tampão Tris-acetato-EDTA (TAE). O sequenciamento para confirmação das

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sequencias foi feito com 100 ng do DNA plasmidial, 10 pmoles dos primers

sense e anti-sense no equipamento Applied Biosystems 3730xl DNA Analyzer.

Os fragmentos contendo as sequências esperadas foram clonados no vetor

p33 nos sítios de restrição XbaI e HindIII. Como os genes foram amplificados a

partir do eIF2 contendo cauda de histidina na região N-terminal, os mutantes

também conservaram esta etiqueta no N-terminal. Os plasmídeos obtidos de

cada um dos mutantes foram preparados em maior quantidade utilizando-se o

sistema de purificação QIAprep Spin MIniprep Kit (Qiagen) para ser inserido em

epimastigotas de T. cruzi, como descrito mais adiante.

3.6 Geração de nocautes da TcK2

As construções dos cassetes para o preparo de parasitas nocautes para

proteína quinase de eIF2α K2 (TcCLB.506559.129), foram realizadas a partir

da clonagem dos genes de resistência à geneticina, higromicina ou blasticidina,

flanqueados pelas regiões 5’ e 3’ não traduzidas da K2 (respectivamente,

5’UTR e 3’UTR). O vector pGEM-T easy contendo o gene de resistência a

geneticina flanqueado pelos sítios XbaI e SalI utilizado para clonagem do

cassete foi cedido pelo Prof. Dr. Carlos Renato Machado da Universidade

Federal de Minas Gerais, Brasil. A região 5’UTR foi amplificada utilizando como

molde o DNA genômico de formas epimastigotas cepa Y. Os oligonucleotídeos

utilizados foram 5k2fowApaI e 5revXbaI. A região 3’UTR foi amplificada

utilizando oligonucleotídeos 3'K2fowSal e 3K2RevSac. Estas regiões UTR

foram clonadas entre o gene de resistência de geneticina. Para substituir a

segunda cópia do gene da Tc-K2 o gene de resistência foi a higromicina ou a

blasticidina, também inseridas no vetor pGEM-T flanqueada pelos sítios XbaI e

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SalI. Os plasmídeos obtidos foram confirmados pelo padrão de restrição e

utilizados para transfecção após serem linearizados com a enzima SalI.

Após a seleção com os respectivos antibióticos, os parasitas foram

clonados por diluição limitante. A substituição do gene da proteína quinase K2

pelo gene de resistência em cada etapa foi confirmada por PCR, utilizando

oligonucleotídeos que amplificam a região do domínio quinase da proteína e

que amplifiquem a região 5’UTR e um fragmento corresponde ao gene de

resistência. Para isto foram utilizados os iniciadores 5K2fow para região 5’UTR

e G418Rev para G418, o primer HigroR e BlastRev para Blast, e para o

domínio TcK2-KD-pGEX5X-1(F) e TcK2-KD-pGEX5X-1(R).

3.7 Etiqueta

Para a obtenção de parasitas contendo uma etiqueta endógena de HA

na proteína quinase K2, foi preparado um plasmídeo derivado do pTEX (Kelly

(Kelly et al., 1992), contendo uma sequência de nucleotídeos para expressar o

epítopo do gene do vírus da hemaglutinina (HA) entre os sítios BamHI e XhoI.

Em paralelo, a sequência correspondente a TcK2 foi amplificada utilizando

oligonucleotídeos K2TcXbaFor / K2TcNotR e K2TcNotFor (5’-

GCGGCCGCATAAATTGCGCG) / K2TcBam e clonados sequencialmente no

plasmídeos pTEX-HA para introduzir um sítio de NotI permitindo assim

linearizar e transfectar os parasitas. Os plasmídeos foram confirmados por

análise de restrição e sequenciamento.

3.8 Construções de plasmídeos para reinserção do gene da TcK2

Para a obtenção de parasitas superexpressores da TcK2 o gene da K2

foi clonado no plasmídeo pROCK entre os sítios XbaI e XhoI. Para obtenção da

proteína quinase mutada no sítio de ativação, foram desenhados dois pares de

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oligos Tck2mut_fow e TceiF2-K2mut_rev (Tabela II), com substituição de um

nucleotídeo para alteração da lisina 695 por uma alanina. O primeiro ciclo de

PCR foi feito para a obtenção da mutação, um segundo PCR foi realizado para

a obtenção da proteína inteira com iniciadores que flanqueavam o gene TcK2

(Tck2XBA_fow e TcK2XhoIrev). Os plasmídeos foram confirmados por análise

de restrição e sequenciamento.

3.9 Transfecção de T. cruzi

Culturas de epimastigotas de T. cruzi em fase exponencial de

crescimento (1 x 107/mL) foram centrifugadas por 10 min a 2000 g, lavadas

uma vez com tampão de eletroporação TCEB (NaCl 137 mM, HEPES 21 mM

pH 7, KCl 5 mM, Na2HPO4 5,5 mM e glicose 0,77 mM) (Ramirez et al., 2000) e

cada 5 x 106 parasitas ressuspensos em 200 µL de TCEB. A esses 200 µL de

suspensão eram adicionados 40 μg dos plasmídeos a serem transfectados em

uma cubeta de eletroporação de 4 mm, mantida no gelo, e a mistura submetida

ao programa T. cruzi U033 do eletroporador Amaxa (Lonza). Após o pulso, as

células eram diluídas em meio LIT contendo 10% de soro fetal bovino. Dois

dias depois eram adicionados à cultura, 200 g/ml de geneticina G418, 200

g/mL de higromicina B, ou 5 g/mL de blasticidina para a seleção conforme o

caso. Para aumentar a eficiência de seleção os parasitas eram mantidos em

LIT contendo 20% de SFB.

3.10 Ensaios de invasão

Os ensaios de invasão celular foram realizados em placas de 24 poços

contendo lamínulas de vidro circular de 13 mm de diâmetro. Em cada poço

eram adicionadas 2 × 104 células LLCMK2 em 1 mL de meio DMEM com 10%

SFB e os experimentos realizados 24 h após. Para os ensaios de invasão, o

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meio era removido de cada poço e 2 x 105 parasitas em 0,5 mL de meio DMEM

contendo 10% de SFB eram adicionados às células. Duas horas após, os

parasitas eram removidos, os poços lavados com PBS e as lamínulas fixadas

pela adição de 4% de paraformaldeído em PBS à temperatura ambiente por 20

min. Em seguida as lamínulas eram lavadas e montadas em reagente “Prolong

Gold” contendo antibranqueador (Invitrogen) na presença de DAPI. As

preparações eram observadas em microscópio Olympus (BX-61). Nos

experimentos em que se mediu a quantidade de parasitas internalizados e

aderidos às células, as lamínulas foram processadas por imunofluorescência

como descrito acima utilizando um anticorpo que reconhece a proteína de

superfície de formas amastigotas, o Anticorpo monoclonal 2C2 (Andrews et al.,

1987). O número de parasitas internalizados era contado examinando-se 500

células.

3.11 Ensaio de quinase

Para realizar os ensaios de quinase utilizamos como substrato as

proteínas recombinantes dos genes de eIF2α do T. cruzi (TcCLB.508153.730)

expressas em E. coli. O correspondente ao fator eIF2α original foi também

derivado do gene clonado no plasmídeo pDEST-17 nos sítios XbaI e HindIII

com uma etiqueta de seis histidinas (Tonelli et al., 2011). Também foram

utilizados os genes mutados preparados para a superexpressar a proteína em

T. cruzi descrito acima. Os genes mutados foram obtidos dos respectivos

plasmídeos p33 e clonados nos sítios XbaI e HindIII do plasmídeo pET14b

(Novagen). A enzima foi preparada somente com a parte do gene que codifica

o domínio quinase da TcK2 amplificada por PCR usando os iniciadores TcK2-

KD-pGEX5X-1(F) e TcK2-KD-pGEX5X-1(R) e clonado entre os sítios EcoRI e

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XhoI do plasmídeo pGEX5X-1 (GE), para gerar uma fusão com a proteína

glutationa S-transferase (GST).

As proteínas que apresentavam histidina como “tag” foram expressas

em E. coli BL21DE3. Clones de bactéria que apresentavam o plasmídeo

pDEST-eIF2α ou pET14b com os genes de eIF2 mutado, foram utilizados

para o crescimento de um pré-inoculo em 5 mL de meio LB contendo 100

g/mL de ampicilina (LB/Amp) mantidos por 16 h à 37ºC. As culturas eram

então diluídas em 500 mL de LB/Amp e incubadas por aproximadamente 4 h a

37oC, quando atingiam uma densidade que correspondia 0,6 unidades de

absorbância a 550 nm. Neste momento, as bactérias eram colocadas em gelo

por 30 min e posteriormente incubadas com 0,5 mM de isopropil β-D-1-

tiogalactopiranosideo (IPTG), sob agitação, à 25ºC por 16 h. Após o

crescimento e a indução da expressão, as bactérias eram centrifugadas a 5000

g por 15 min, o precipitado ressuspenso em 25 mL do tampão A (50 mM Tris-

HCl pH 8, 0,3 M de NaCl e 0,1 mM de PMSF) e submetido à lise por duas

passagens em French Press (pressão de 2000 psi). Os lisados eram

posteriormente centrifugados a 15000 g por 20 min e os sobrenadantes

coletados e aplicados em uma coluna de níquel-agarose (Qiagem) pré-

equilibrada com o tampão A. A coluna era lavada com tampão A contendo de

50 mM de imidazol e a proteína ligada na coluna eluída com tampão A

contendo 500 mM de imidazol (pH 6).

O domínio quinase da TcK2 recombinante foi expresso pelo plasmídeo

pGEX-5X-1 em E. coli DE3 BL21 como descrito acima. A proteína

recombinante foi purificada em coluna de GST-Sepharose (GE) pré-equilibrada

em PBS e eluída no mesmo tampão contendo 0,1 M glutationa e

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52

posteriormente dialisadas em tampão quinase 1X (20 mM Tris-HCl pH 7,5, 50

mM NaCl) por 18 h a 4oC.

O ensaio de quinase foi realizado na presença de 5 µg/mL de eIF2α, 1

µg/mL de TcK2, 10 mM MgCl2, 10 µCi de [γ32 P] ATP (3000 Ci/mMol, Perkin

Elmer), 0,5 mM ATP e tampão quinase 1X, à 37ºC por 1 h. Ao final da reação

foi adicionado tampão de amostra para SDS-PAGE e as amostras submetidas

a eletroforese. Após a corrida, os géis foram corados com Coomassie R-250,

descorados, secos a vácuo e expostos a um écran para ser revelado no

aparelho de fosfor-imagem Typhon 9200 (GE).

3.12 Detecção de espécies reativas de oxigênio, H2O2 e peroxidases

O equivalente a 2 x 107 parasitas era coletado por centrifugação, e os

parasitas ressuspensos em 1 mL de PBS contendo 5 µM de CellRox

(Invitrogen). Após 30 min de incubação os parasitas eram centrifugados e

fixados com 4% de paraformaldeído por 20 min. Depois de fixados, os

parasitas eram ressuspensos em 1 mL de PBS e analisados em citômetro de

fluxo FACS Accuri C6 (BD Biosciences). A quantidade de ROS foi determinada

pela fluorescência relativa no canal FL-4, após a contagem de 10000 eventos.

Como controle, utilizamos parasitas não marcados. A fluorescência basal foi

subtraída da fluorescência das amostras tratadas.

Para detecção dos níveis de peróxido de hidrogênio, 2 x 107 parasitas

em 1 mL de meio LIT, foram incubados com 1 U de peroxidase na presença de

2 µM Amplex Red (Invitrogen) por 30 min. Os parasitas eram centrifugados e o

sobrenadante utilizado para medir a fluorescência, com excitação 530 nm e

emissão 590 nm no leitor de placa SpectraMax M3 (Molecular Devices). A

atividade total de peroxidase foi medida utilizando o sobrenadante do lisado de

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53

2 X 107 parasitas/mL em 50 µL de tampão contendo 50 mM NaCl, 20 mM Tris-

HCl (pH 7,4) e 1% Triton-X100. A atividade foi determinada após a incubação

por 30 min do sobrenadante com 2 µM Amplex Red (Invitrogen) e 2 mM H2O2.

A quantificação de fluorescência foi realizada no leitor SpectraMax M3

(Molecular Devices) com emissão 530 nm e excitação 590 nm. Foram

realizadas três triplicatas biológicas e técnicas para cada parâmetro.

3.13 Atividade de superóxido dismutase (SOD)

O equivalente a 1 x 107 parasitas era coletado por centrifugação e o

precipitado formado ressuspenso em 200 µL de tampão SOD (50 mM fosfato

de potássio e 0,1 mM EDTA, pH 7,4). Os parasitas eram submetidos à

sonicação em um aparelho da Active Motif, com três ciclos de 20 s cada. As

reações foram feitas a 25ºC em placa de 96 poços, contendo em cada reação

25 µL do lisado de parasitas, 10 mg/mL β-nicotinamida adenina dinucleotídeo

(NADH2) (Sigma) e 28 mg/mL azul de nitrotetrazólio (NBT) (Sigma). Para iniciar

a reação foram adicionados 25 µl de 3,3 mM fenazina de metilsulfato (Sigma).

A atividade de SOD foi determinada pela redução do azul de nitrotetrazólio, na

cinética de absorbância a 560 nm, como descrito por Ewing e Janero (1995).

3.14 Análise dos níveis de heme intracelulares e incorporação de

análogos de heme

Utilizou-se o método descrito por Miguel et al. (2013). Para isto, 2 x 107

células foram coletadas e lavadas em PBS. O precipitado foi ressuspenso em

10 mM Tris-HCl pH 7,4 contendo um coquetel de inibidores de proteases

(cOmplete Protease “Inhibitor Cocktail Tablets”). As células foram lisadas por

três ciclos de congelamento e descongelamento. O material insolúvel foi

removido após centrifugação a 10.000 g por 15 min, e 840 µl foram transferidos

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54

para um tubo novo contendo 1 M de NaOH e 200 µl de pirimidina. Os níveis de

heme foram determinados após a adição de 2 mg de ditionato de sódio e leitura

a 450 nm no leitor Spectra Max M3.

A incorporação de análogo fluorescente de heme, Zn (II) Mesoporfirina

IX (Frontier Scientific), foi realizada com a incubação de 10 M de porfirina em

PBS contendo 2 x 107 parasitas por 5 min, seguida da adição de heme como

um competidor. Após 30 min as células foram lavadas com PBS gelado e

lisadas em PBS contendo 0,5% de Triton-X100. A fluorescência da porfirina foi

analisada em excitação de 405 nm e emissão de 578 nm no leitor Spectra Max

M3.

3.15 Análises estatísticas

Os experimentos foram realizados em triplicatas biológicas e os dados

apresentados correspondem a média e desvio padrão. Estes valores foram

utilizados para estimar a significância estatística utilizando o teste t de Student

feitas através do programa Prism 6 (Graphpad).

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55

4 RESULTADOS

4.1 TceIF2α

4.1.1 TceIF2α pode ser fosforilada em dois resíduos in vitro pela TcK2

Verificamos que eIF2α é codificado por apenas uma ORF (TriTrypDB,

TcCLB.508153.730) predizendo uma proteína com aproximadamente 50 kDa.

Esta proteína tem uma região N-terminal extra (Figura 7) de tal forma que a

fosforilação na serina 51 passa a corresponder a treonina 169 em

tripanossomatídeos. Como já mencionado na introdução, a região extra N-

terminal possui um motivo LSRR compatível com um possível resíduo (serina

43), que poderia ser fosforilado pelas proteínas quinases de eIF2 (Figura 8).

Para verificar se este segundo sítio de fosforilação poderia ser um

substrato para as proteínas quinases de eIF2 de T. cruzi, nós geramos

proteínas recombinantes correspondentes a TceIF2α com os sítios de

fosforilação preservados (WT), ou mutados na serina 43 (S43A) ou treonina

169 (T169A), ou com ambas as mutações na mesma proteína (S43A/T169A). A

substituição pela alanina, evita a fosforilação. As proteínas recombinantes

apresentavam uma cauda de seis histidinas na região N-terminal (His6x-eIF2α),

facilitando sua purificação em coluna de níquel-agarose.

Além dos substratos descritos acima produzimos a proteína

recombinante correspondente ao domínio quinase de uma das proteínas

quinases de eIF2α presentes em T. cruzi, a TcK2. O domínio quinase estava

em fusão com C-terminal da glutationa S-transferase (GST) para a sua

purificação em coluna de glutationa-Sepharose, além de permitir a sua

ativação, uma vez que a proteína GST tende a se dimerizar. As proteínas

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56

foram purificadas e usadas para realização de um ensaio de atividade de

proteína quinase in vitro. Como podemos verificar na Figura 10, quando

incubamos a proteína His6x-eIF2α com a quinase GST-TcK2 na presença de

ATP [γ-32P], detectamos que houve fosforilação das proteínas sem mutações

(WT), e das eIF2 mutadas em um sítio (S43A ou T169A). Contudo, não foi

possível detectar a fosforilação na proteína com a mutação nos dois possíveis

sítios de fosforilação. Estes dados indicam que eIF2 de T. cruzi pode ser

fosforilada in vitro pela TcK2 nos dois sítios de fosforilação.

4.1.2 Papel da Ser43 e Thr 169 nos parasitas

Havíamos verificado que a mutação na treonina 169 (Thr 169) inibia a

diferenciação de epimastigotas em metacíclicos, possivelmente por evitar a

parada na tradução quando as células eram incubadas em um meio carente

em nutrientes (Tonelli et al., 2011). Para verificar se a serina 43 (Ser43) teria

também um papel neste processo geramos parasitas superexpressores de

Comassie

eIF2α

TcK2-GST

eIF2α

Figura 10. TceIF2α apresenta um sítio adicional de fosforilação. Ensaios de quinase utilizando 0,1

μg do domínio quinase da TcK2 em fusão com GST (TcK2-GST) e como substrato 1 μg de eIF2α recombinante na forma selvagem (WT) ou mutada na serina 43 (S43A), na treonina 169 (T169A) ou com a dupla mutação (S43A/T169A) na presença de [γ32P]-ATP. Após incubação de 1 h a 37oC as amostras foram fracionadas em SDS-PAGE, coradas com azul de Coomassie e expostas a filme de Raios X. O painel superior mostra a autorradiografia e a parte inferior o gel corado com Coomassie R250. Os símbolos (+) indicam as canaletas contendo TcK2-GST e os símbolos ( -) as canaletas incubadas sem TcK2-GST.

50 kDa

50 kDa

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57

TceIF2α selvagem (WT), mutado na serina 43 (S43A) ou na treonina 169

(T169A), ou duplo mutado na Serina 43 e Treonina 169 (S43A/T169A).

Na Figura 11, observamos que havia a superexpressão da TceIF2α

detectada por anticorpos que reconheciam a cauda de histidina presente nas

proteínas superexpressas, mas não nos parasitas não transfectados (Y). A

superexpressão foi confirmada também quando utilizamos o anticorpo anti-

eIF2α total, que reconheceu tanto a proteína endógena como a superexpressa,

esta última presente em maior quantidade que a proteína endógena, levando-

se em conta que a carga no gel medida pela reatividade do anticorpo anti β-

tubulina foi semelhante nos diferentes parasitas (Figura 11).

4.1.3 A superexpressão da eIF2, controla o crescimento e a formação de

formas infectivas

Quando analisamos o crescimento dos parasitas contendo os diferentes

genes de eIF2α, verificamos que a taxa de crescimento foi menor nos parasitas

contendo a mutação na T169A e o duplo mutante (S43A/T169A) comparado

Anti-histag

Anti-eIF2α

Anti-β-tubulina

Y WT S43A T169AS43A/

T169A

Figura 11. Expressão da TceIF2α nas diferentes linhagens de T. cruzi. Western blot com de

amostras de parasitas não transfectados (Y), ou de superexpressores da TceIF2α WT, S43A, T169 e S43A/T169A. O painel superior mostra o Western blot com anticorpo anti-6Xhis. O segundo painel mostra o Western blot com anticorpo anti-eIF2α, demonstrando a superexpressão da proteína nos diferentes parasitas. O painel inferior mostra o western blot com anticorpo anti-β-tubulina. As diluições dos anticorpos estão na tabela IV.

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58

com os demais parasitas (Figura 12). Esse resultado nos sugeriu que o sítio de

fosforilação na treonina 169 seria importante para o controle do crescimento de

formas epimastigotas de T. cruzi em condições normais.

Como já observado em L. infantum, P. falciparum e T. gondii a

fosforilação de eIF2 é uma etapa importante para o desenvolvimento do ciclo

de vida do parasita (Cloutier et al., 2012; Zhang et al., 2013), controlando a

permanência no ambiente extracelular e o processo de diferenciação para

formas infectivas (Joyce et al., 2010). Com base nisso, analisamos os fenótipos

dos parasitas superexpressores com relação a capacidade de diferenciação na

forma infectiva, tripomastigota-metacíclica. Para isso submetemos os parasitas

a metaciclogênese (diferenciação in vitro) (Contreras et al., 1985). Após 96

horas, observamos que a diferenciação dos parasitas superexpressores de

TceIF2α mutado nos sítios de fosforilação (S43A, T169A e S43A/T169A) foi

Figura 12. Taxa de crescimento dos parasitas superexpressores de TceIF2α. Gráfico mostrando o

crescimento relativo (média ± desvio padrão, n = 3) dos parasitas superexpressores de TceIF2α. Parasitas não transfectados (Y), superexpressores de eIF2α WT, S43A, T169A e S43A/T169A. O símbolo (*) indica p < 0,05 calculado a partir do teste t de Student.

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59

menor que a dos parasitas não transfectados (Y) (Figura 13). Por outro lado os

parasitas superexpressores da proteína selvagem (WT) apresentaram uma

taxa de diferenciação maior que os demais parasitas, indicando que a

fosforilação de ambos os resíduos é importante para a diferenciação.

Também analisamos a capacidade de invasão celular desses parasitas.

Verificamos que mesmo utilizando a mesma quantidade de parasitas

adicionados às células, houve uma menor invasão das células de mamífero no

caso de tripomastigotas-metacíclicos superexpressores de eIF2α mutado

quando comparado ao selvagem ou aos parasita não transfectados (Figura

14). Estes dados apontam que além de ser necessários para a diferenciação,

Y WT S43A T169A S43A

T169A

30

20

10

0

Meta

cyclic

s (%

)M

eta

cíc

lico

s(%

)

Figura 13. Taxa de diferenciação de epimastigotas em metacíclicas é afetada por mutações nos sítios de fosforilação de eIF2. O gráfico mostra a porcentagem média ± desvio padrão de metacíclicos

obtidos após 96 h de incubação em meio TAU-3AG a partir de epimastigotas não transfectados (Y), ou de superexpressores de TceIF2α WT, S43A, T169A ou S43A/T169A (n = 3). O símbolo * indica valores de p < 0,05 e ** de p < 0,001 relativos ao valor de Y e calculados a partir do teste t de Student.

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60

os parasitas que se diferenciam tem um fenótipo alterado quanto a sua

infectividade.

4.1.4 Fosforilação da Serina 43 em resposta a estresse oxidativo

Mostramos que os tripanossomatídeos apresentam dois prováveis sítios

de fosforilação de TceIF2α, enquanto os demais organismos possuem apenas

um sítio. Com base nesta informação e sabendo que a fosforilação de eIF2α

ocorre em resposta a algum estresse sofrido pela célula, submetemos os

parasitas a diferentes tipos de estresse. Com tratamento por 1 h na presença

de 100 M de H2O2, verificamos que havia formação de espécies reativas de

D

0

20

40

60

Y WT S43A T169A S43A

T169A

Infe

ction o

fce

lls (

%)

lula

sin

fecta

da

s(%

)

Figura 14. Taxa de infecção celular dos parasitas superexpressores de eIF2α. O gráfico indica da

porcentagem (média ± desvio padrão) do número de células LLC-MK2 infectadas com os parasitas não transfectados (Y) ou superexpressores de TceIF2α WT, S43A, T169A e S43A/T169, após 24 horas da invasão (n=3). Os símbolos * indicam valores de p < 0,05 em relação a Y e WT, calculado pelo teste t de Student.

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61

oxigênio (ROS) maior nos parasitas superexpressores da proteína mutada na

serina 43 (S43A) em relação aos demais (Figura 15).

Em contrapartida os parasitas T169A apresentaram menor produção de

ROS. Quando acompanhamos o crescimento dos parasitas na presença de

H2O2, observamos que os parasitas superexpressores de eIF2α selvagem e

mutado na treonina 169 apresentavam maior resistência ao tratamento com

H2O2 em relação aos parasitas não transfectados (Y) ou aos superexpressores

das outras mutações, S43A e S43A/T169A (Figura 16). Estes resultados

sugerem que a fosforilação da serina 43 seja mais importante para a resposta

ao estresse oxidativo em formas epimastigotas de T. cruzi, e que os dois sítios

teriam funções diferentes nos parasitas.

Figura 15. Formação de ROS nos parasitas superexpressores de TceIF2α. Parasitas não

transfectados (Y), ou superexpressores de eIF2α WT, S43A, T169A e S43A/T169A não tratados (barras brancas) ou tratados com H2O2 (barras pretas) por 1 hora. O ROS foi medido com o kit CellROX® Deep Red Reagent Invitrogen, como descrito em métodos. Os valores são médias ± desvio padrão de 3 experimentos. Os números acima das barra representam a porcentagem de diferença entre as amostras não tratadas e tratadas.

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Experimentos estão sendo planejados para verificar se a fosforilação da

serina 43 estaria envolvida no controle da síntese proteica como verificamos

para a treonina 169 (Tonelli et al., 2011). Para isto analisaremos os perfis

polissomais dos diferentes mutantes na presença de estresses como o

carenciamento nutricional e presença de H2O2.

4.2 TcK2

4.2.1 Caracterização da quinase K2 em T. cruzi

Nesta segunda parte deste trabalho focamos os nossos estudos na

caracterização de uma das quinases presente em T. cruzi. Como já

mencionado, os tripanossomatídeos apresentam em seu genoma três ORFs

que codificam diferentes quinases de TceIF2α. Inicialmente o objetivo era a

caracterização das três quinases presentes no parasita e procuramos obter

parasitas nocautes para as três quinases. Obtivemos parasitas simples nocaute

para a TcK1 e duplo nocaute para TcK2. O nocaute para a TcK3 não foi obtido

até o presente momento, sugerindo que o gene da TcK3 possa ser essencial

Figura 16. Efeito da H2O2 no crescimento de parasitas expressando eIF2α selvagem e mutado nos sítios de fosforilação. Parasitas não transfectados (Y), ou superexpressores de eIF2α WT, S43A, T169A

e S43A/T169A foram cultivados por 4 dias na presença das concentrações de H2O2 indicadas no gráfico. Após este período os parasitas foram contados em câmera de Neubauer. Os números correspondem a média ± desvio padrão (n =3).

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em epimastigotas. Como em nosso laboratório já existiam anticorpos para

TcK2, começamos caracterizando esta quinase.

A homóloga de T. brucei, a TbK2, havia sido parcialmente caracterizada

pelo nosso grupo em colaboração com o grupo da Dra. Beatriz A. Castilho

(Moraes et al., 2007). Em ambos tripanossomatídeos a K2, apresenta um

domínio transmembranar próximo à região N-terminal, e um domínio quinase

na região C-terminal da proteína (Figura 17). A presença do domínio

transmembranar indicaria que esta quinase seria similar às proteínas quinases

PERK de mamíferos. A PERK é uma quinase que responde a estresse de

retículo endoplasmático, por estar localizada neste compartimento celular

(Chakrabarti et al., 2011).

Para caracterizar a TcK2, utilizamos anticorpos gerados pela imunização

com fragmentos desta proteína expressos na forma de proteína recombinante.

Utilizamos dois anticorpos que reconhecem a TcK2; um dos anticorpos foi

obtido do soro de coelho imunizado com o domínio quinase (TcK2KD) e outro,

um anticorpo monoclonal gerado a partir do baço de camundongos imunizados

com porção N-terminal da proteína (mAb5D10). Quando utilizamos estes

Figura 17. TcK2 tem um arranjo topológico similar a PERK. Esquema representativo da quinase TcK2

de T. cruzi e PERK de mamíferos (MmPERK). SS: peptídeo sinal, TMD: Domínio transmembrana, KD: domínio quinase. 5D10 indica a região utilizada para a obtenção do anticorpo monoclonal.

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anticorpos em Western Blot contendo um extrato total de epimastigotas,

percebemos que ambos reconheceram duas bandas acima de 120 kDa,

correspondentes ao tamanho esperado da quinase TcK2 (Figura 18). Podemos

observar que outras bandas foram reconhecidas, porém com menor afinidade.

A partir de então resolvemos utilizar o anticorpo Tck2KD em ensaio de Western

Blot.

4.2.2 TcK2 está presente na fração de membrana

Por apresentar um domínio transmembranar, era esperado que a TcK2

não esteja na fração solúvel, correspondente ao citosol, e sim associada às

membranas do parasita. Para confirmar esta hipótese, desenhamos ensaios de

fracionamento celular separando frações de proteínas citossólicas, das

proteínas associadas à membrana. Como podemos ver na figura 19, a TcK2

estava presente na fração de extraída com detergentes, claramente distinta da

proteína Hsp70 que é solúvel, sugerindo que a quinase é uma proteína de

membrana em epimastigotas do T. cruzi. Este dado é compatível com a

Figura 18. Validação de dois anticorpos contra TcK2. Western blot com um extrato total

correspondente a 1 x 107 epimastigotas de T. cruzi utilizando o anticorpo que reconhece o domínio

quinase da TcK2 (KD), ou o anticorpo monoclonal 5D10 que reconhece a porção N-terminal da quinase TcK2. À direita está representado a posição de migração dos padrões de massa molecular em kDa.

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proteína ortóloga de L. infantum (LinPERK), que apresenta um domínio

transmembranar e é homóloga a proteína quinase de eIF2α encontrada no

retículo endoplasmático de mamíferos (PERK) (Chow et al., 2011).

Experimentos de fracionamento diferencial com digitonina confirmaram

esta hipótese e mostraram que também nas formas tripomastigotas, a TcK2

está nas membranas, apesar de ser solubilizada em menores quantidades de

detergente (Figura 20). Estes dados sugerem que a TcK2 pode estar associada

à membrana de alguma organela do parasita, não sendo solúvel no citosol, e

que o tipo de organela pode ser diferente nas diversas formas do parasita.

Figura 19. A quinase TcK2 está presente na fração de membrana das formas epimastigotas.

Western blot do sobrenadante de epimastigotas submetidos a congelamento/degelamento para obter a fração solúvel (ou citossólica); da fração solúvel em detergente não iônico que corresponde a fração de proteínas associadas às membranas e o precipitado (pellet) após a extração com detergentes utilizando anti-TcK2 (KD) ou anti-Hsp70.

Figura 20. A quinase TcK2 está presente na fração de membrana das formas epimastigotas. Western

blot das frações obtidas a partir da lise do parasita por digitonina utilizando anti-TcK2 (KD), anti-Hsp70 ou anti-BiP. (B) Formas tripomastigotas sanguíneas foram submetidas a lise por digitonina.

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66

4.2.3 TcK2 tem capacidade de se fosforilar e promover a fosforilação de

TceIF2α in vitro

Como já mostramos anteriormente, ensaios de quinase foram feitos com

o domínio quinase de TcK2 ligado à GST e a TceIF2α contendo uma cauda de

histidina (His6x-eIF2α). A fosforilação só ocorreu quando incubamos TceIF2α

com γ-ATP-[32P] na presença de GST-TcK2 (Figura 21). Também verificamos

que a quinase foi capaz de se autofosforilar, uma vez que detectamos

marcação de uma banda superior no gel que correspondia ao tamanho da

proteína recombinante TcK2KD. Esta autofosforilação é típica de quinases de

eIF2α, decorrente de sua dimerização por GST (Chakrabarti et al., 2011; Dever

e Hinnebusch, 2005; Dey et al., 2005; Garcia et al., 2007).

A existência de formas fosforiladas da TcK2 pode ser inferida em formas

epimastigotas do T. cruzi quando verificamos que em extratos de parasitas

tratados com fosfatase alcalina (CIAP) havia uma diminuição na intensidade da

banda superior no Western blot em relação à banda de maior migração no gel

(Figura 22a). Para confirmar que a banda superior no Western blot seria uma

forma fosforilada da TcK2, nós cultivamos epimastigotas na presença de

Figura 21. TcK2 é capaz de fosforilar TceIF2α e se autofosforilar in vitro. Ensaio de quinase in vitro

utilizando proteína recombinante da quinase TcK2-GST e 6xhis-TceIF2α, como controle utilizamos a proteína GST purificada, incubadas 1 hora na presença de [γ

32P]-ATP. O painel superior é uma

autorradiografia contendo uma banda referente a fosforilação do TceIF2α (banda inferior) e uma banda superior referente a fosforilação da TcK2. O painel inferior mostra o gel corado com Azul de Coomassie com a banda de 6xhis-TceIF2α como normalizador.

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67

caliculina A, um inibidor de fosfatase de proteínas. Notamos neste caso um

acúmulo da banda superior nas células tratadas (Figura 22b). Estes dados

sugerem que a TcK2 seria uma quinase de eIF2α, e apresentaria a capacidade

de se autofosforilar in vitro, podendo esta fosforilação justificar a existência das

duas bandas observadas por Western Blot. O fato de não obtermos total

defosforilação com o tratamento com fosfatase, ou só a forma de menor

migração após o tratamento com caliculina A poderia indicar que diversas

fosforilações ou outras modificações pós-traducionais estivessem ocorrendo na

TcK2, como por exemplo glicosilação. Ensaios para detectar este tipo de

modificação foram realizados, mas sem sucesso. Além disso, a quinase TcK2

pode ter sido modificada por palmitoilação, já que sua homóloga em T. brucei

apresenta essa modificação (Emmer et al., 2011).

4.2.4 TcK2 apresenta localização diferente da homóloga de Leishmania sp

Para verificar a localização da quinase K2 em T. cruzi realizamos

ensaios de imunofluorescência. A partir destes ensaios pudemos observar que

Figura 22. TcK2 é fosforilada in vivo. Western blot com extratos de epimastigotas tratados por 1 hora

na ausência (-) ou presença (+) de CIAP ou obtidos de parasitas incubados por 6 hora na ausência (-) ou presença (+) de 10 nM de caliculina A. O painel superior é um Western blot representativo de três experimentos independentes que permitiram gerar relações entre TcK2 de menor / a TcK2 de maior migração no gel. Os símbolos * indicam que as diferenças são estatisticamente significativas (p < 0,005).

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68

a TcK2 está presente em compartimentos endossomais, não se colocalizando

com marcador de retículo endoplasmático (BiP), em epimastigotas (Figura 23).

O mesmo ocorre com a marcação dos amastigotas, porém as estruturas

observadas foram menores quando comparado aos epimastigotas. Nas formas

infectivas (tripomastigotas metacíclicos e sanguíneos), a TcK2 apresentou-se

igualmente em pequenas vesículas espalhadas pelo citosol, com alguma

colocalização com a proteína BiP. Em todos os estágios, porém, fica evidente

não ter uma localização no retículo endoplasmático.

Para confirmar se a localização celular observada da TcK2 de fato

correspondia à enzima, inserimos por recombinação homóloga no próprio gene

da TcK2 um segmento de DNA codificando o epítopo da proteína

hemaglutinina do vírus da influenza humana (HA) na sua região C-terminal. A

construção para recombinação foi feita para selecionarmos eventos de

inserção através da expressão do gene de resistência a geneticina (G418).

DAPI BiP TcK2 DIC Merge

TR

IPO

AM

AM

ETA

EP

I

Figura 23. A marcação de TcK2 não se localiza nos sítios marcados com a proteína BiP. A figura

mostra o imagens deconvoluídas de Imunofluorescência de formas epimastigotas (Epi), tripomastigotas metacíclicas (Meta), amastigotas (Ama) e tripomastigotas derivado de células de mamífero (Trypo), utilizando anticorpos anti-TcK2 (vermelho) ou anti-BiP (verde). Os núcleo e cinetoplasto foram corados com DAPI e estão mostrados em azul. As imagens de contraste diferencial de interferência (DIC) e a sobreposição das imunofluorescências (Merge) estão também apresentadas. Barras = 5 µm.

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69

Realizamos assim, ensaios de imunofluorescência utilizando anticorpos que

detectam a proteína endógena (mAb5D10) e a etiqueta HA e, que havia um

alto grau de colocalização das duas marcações nos parasitas selecionados

confirmando a localização da TcK2 (Figura 24).

4.2.5 A TcK2 é expressa em estados diferentes nos estágios de T. cruzi

Ensaios de RT-PCR, nos permitiram demonstrar a presença de mRNA

da TcK2 em todas as fases do ciclo de vida do T. cruzi (Figura 25).

Figura 24. TcK2 está localizada no reservossomos. Imunofluorescência de Epimastigotas não

transfectados (WT) ou de parasitas contendo “tag” endógeno do epítopo HA no C-terminal da TcK2, utilizando anticorpos anti-TcK2 (verde) e anti-HA (vermelho). O núcleo e cinetoplasto estão em azul (DAPI) e à direita estão as imagens de DIC sobrepostas às fluorescências. Barras = 5 µm.

TcK2

Tubulina

Exp

ressã

ore

lativa

AMA TRIPO EPI META

Figura 25. TcK2 é transcrita em todas as formas do parasita. RT-PCR das formas replicativas

epimastigotas (EPI) e amastigotas (AMA), e formas infectivas (tripomastigotas-metacíclicos (META) e sanguínea (TRYPO). Os painéis mostram géis de agarose corados com brometo de etídeo de amostras de RNA total dos diferentes estágios de T. cruzi submetidas a RT-PCR utilizando oligonucleotídeos para amplificar a porção 5’ do mRNA da TcK2 (painel superior), ou oligonucleotídeos para amplificar a porção 5’ do mRNA de α-tubulina. O gráfico é relação entre a intensidade da banda da TcK2 e da α-tubulina.

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70

A expressão da proteína também foi verificada em extratos de parasitas

das formas infectivas e não-infectivas por Western Blot (Figura 26). Contudo, o

que nos chamou atenção foi que a relação entre a banda de menor e maior

migração TcK2 era diferente em cada estágio. Este fato indicaria que em

formas infectivas a TcK2 poderia estar mais fosforilada, o que seria compatível

com um estado ativado nestas formas e uma menor taxa de tradução destas

formas (Ferreira et al., 2008). Assim, quando ativa, a TcK2 poderia fosforilar

mais o eIF2α, o que causaria uma diminuição ou alteração de seletividade da

tradução. É interessante notar que a fosforilação da TcK2 durante a formação

de formas infectivas também foi evidenciada em análises de fosfoproteômica,

onde a TcK2 foi detectada fosforilada, após 96 h de estresse nutricional

(Marchini et al., 2011).

4.2.6 TcK2 responde a carência de heme

As quatro quinases presentes em mamíferos são ativadas em resposta a

diferentes tipos de estresse. Sabendo que a TcK2 estaria mais fosforilada

TcK2[P]

TcK2

Tubulina

EPI META AMA TRIPO

Figura 26. A TcK2 é expressa em todas as formas do parasita mas apresenta diferenças de migração. Western blot de extratos das diferentes formas do T. cruzi utilizando anti-TcK2 e anti-α-

tubulina, No painel superior o anticorpo anti-TcK2 detecta duas bandas uma de menor migração (TcK2[P]

) e outra de maior migração (TcK2). Gráfico representa a média ± desvio padrão da relação entre TcK2

[P]/

TcK2 de três experimentos independentes.

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71

durante a formação de formas infectivas, e que durante este processo o que

ocorre é a diminuição de nutrientes presentes na parte terminal do tubo

digestivo do inseto, desenhamos experimentos para investigar que tipo de

estresse estaria causando a ativação da quinase. Como as formas

proliferativas requerem heme para proliferação e as infectivas não proliferam e

sobrevivem a condições que não contém heme, tentamos verificar se havia

diferença de migração da TcK2 no gel em epimastigotas mantidos em meios

com diferentes quantidades de heme. Cultivamos os parasitas nas seguintes

condições: sem acrescentar hemina ao meio LIT, em meio LIT com adição de

10 µg/mL, ou 30 µg/mL de hemina. Em nosso laboratório mantemos

rotineiramente os parasitas em meio LIT contendo 10 µg/mL de hemina. Na

presença de maiores concentrações de hemina, os parasitas cresceram mais

(Figura 27), confirmando trabalhos da literatura que mostram que a hemina

estimula o crescimento dos parasitas por meio da ativação da CAMKII

(Nogueira et al., 2011).

Pa

rasita

s/m

L (

x1

06)

Tempo (h)

Figura 27. Efeito da adição de hemina no crescimento de epimastigotas. A figura mostra a média ±

desvio padrão (n = 3) do número de epimastigotas mantidos em meio de cultivo sem suplementação (), ou suplementado com 10 (p) ou com 30 μg/mL hemina.

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72

Sem adição de hemina, a marcação por imunofluorescência da TcK2 foi

detectada espalhada pelo citosol; ao contrário do que ocorreu no meio LIT com

10 µg/mL (Figura 28). Esta mudança de localização também foi observada para

a cruzipaína, uma proteína encontrada no interior dos reservossomos (Cunha-

e-Silva et al., 2006; Sant'Anna et al., 2008), sugerindo que estas organelas ou

não estariam sendo formadas, ou estaria “vazias” na ausência de hemina.

Para distinguir entre estas duas hipóteses, observamos os parasitas

cultivados com ou sem adição de hemina por microscopia eletrônica de

transmissão. Como está ilustrado na figura 29, os parasitas cultivados na

presença de hemina apresentaram organelas elétron-densas na região

posterior, destacado por setas. Estas organelas podem ser consideradas

marcações típicas de reservossomos, presentes nas formas epimastigotas de

T. cruzi. Por outro lado, parasitas cultivados em meio LIT sem adição de

hemina apresentaram na região posterior organelas elétron-luzentes. Neste

caso os reservossomos estariam presentes, porém com conteúdo alterado e

+ H

em

ina

-H

em

ina

Figura 28. TcK2 se espalha pelo citosol em meio sem adição de hemina. Imunofluorescência de

epimastigotas de T. cruzi mantidos em meio LIT sem adição de hemina (-Hemina) ou meio contendo 10 µg de hemina por mL, utilizando anticorpos anti-TcK2 (verde) ou anti-cruzipaína (vermelho). A figura mostra a marcação do núcleo e cinetoplasto em azul (DAPI), a mistura dos canais verde e vermelho (Merge) e as imagens correspondentes de DIC indicando o campo selecionado em pontilhado para as imunofluorescências. Barras = 5 µm.

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73

formando corpos multivesiculares, típicos de vacúolos autofágicos. Inferimos

que nestas condições, os reservossomos não estariam mais estocando heme

em seu interior e a TcK2 poderia estar sendo ativada devido à ausência de

algum nutriente.

Quando analisamos por Western blot os extratos dos parasitas

cultivados na presença ou ausência de hemina, observamos que no segundo

caso os parasitas apresentavam predominância da TcK2 na forma de menor

migração, possivelmente mais fosforilada e similar a que era observada nas

formas tripomastigotas (Figura 30).

+ Hemina - Hemina

Figura 29. Parasitas cultivados na ausência de hemina apresentam estruturas vacuolares eletronluzentes enquanto que na presença de hemina estas estruturas são eletrondensas. Micrografia eletrônica das formas epimastigotas de T. cruzi mantidas em meio de cultivo suplementado com hemina (+ Hemina) ou sem suplementação (- Hemina). As setas indicam vesículas na região posterior do parasita denominada reservossomos. Barras = 2 μm.

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Para confirmar se a TcK2 estaria de fato sendo ativada pela ausência de

heme, incubamos os parasitas em solução salina tamponada (PBS) por 6

horas. Após este período de incubação verificamos que a forma de menor

migração da quinase passava a predominar (Figura 31), sugerindo que a

enzima poderia estar sendo fosforilada. Quando a incubação em PBS foi feita

na presença de hemina, o aumento da forma de menor migração foi inibida.

Estes resultados sugeriram que o heme teria a capacidade de inibir a

autofosforilação da quinase e que o fator responsável pela sua ativação seria a

ausência de heme como o que acontece para a HRI de mamíferos (Chen,

2007). Porém a HRI, diferentemente da TcK2, está no citosol.

+ Hemina - Hemina

+ Hemina - Hemina

Figura 30. Parasitas cultivados na ausência de hemina apresentam uma diminuição da TcK2 não fosforilada. Western blot com extrato de parasitas cultivados em meio LIT com suplementação de 10

µg/mL (+ Hemina) ou sem suplementação de hemina (-Hemina) , utilizando anticorpo anti-TcK2 e anti-β-tubulina. O gráfico mostra a relação entre a banda de menor e maior migração no gel. O símbolo (*) indica diferença estatisticamente significativa (p < 0,005) entre os valores, baseado no teste t de Student.

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75

4.2.7 O heme se liga ao domínio quinase da TcK2

A quinase HRI apresenta dois sítios de ligação à heme, um sítio

reversível e um irreversível. Quando a quantidade de heme diminui no interior

da célula, o heme dissocia-se da quinase favorecendo a sua ativação (Chen e

London, 1995). Assim, investigamos se a TcK2 apresentaria sítios putativos de

ligação à heme. Através do software BindHeme (Liu e Hu, 2011), estimamos

que inúmeros resíduos da TcK2 apresentariam afinidade de ligação ao heme,

principalmente no domínio quinase, onde haveria duas sequências de

aminoácidos com alta afinidade de ligação (Figura 32).

TcK2[P]

TcK2

Tubulina

LIT PBS PBS+Hemina

LIT PBS PBS+Hemina

TcK

2[P

] /TcK

2

Figura 31. Parasitas mantidos em PBS tem um aumento da banda de menor migração que é inibidor pela adição de hemina. Western blot de extratos de duas culturas de epimastigotas cultivados

em meio LIT (LIT) ou incubados por 6 horas com PBS ou PBS contendo 30 µg/mL de hemina. Os blots foram revelados com anti-TcK2 e anti-β-tubulina. O gráfico mostra a relação entre TcK2

[P]/Tck2 do

experimento feito em triplicata. Os símbolos (*) indicam diferenças significativas relativas ao LIT (p < 0,005) determinada pelo teste t de Student.

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76

Para confirmar se existiria ligação de heme ao domínio quinase da TcK2,

incubamos o heme com a proteína recombinante GST-TcK2 purificada. No

espectro de absorção de luz notamos a formação de um pico típico para

interação de heme com proteínas após 410 nm (banda de Soret), não

observado para a proteína GST ou na quinase sem adição de heme (Figura

33).

Utilizamos diferentes concentrações de heme e verificamos que a

ligação é saturável, apresentando uma constante de associação da ordem de

10 M (Figura 34). Esses dados comprovam que o heme se liga à quinase

Sítios de ligação a heme

Figura 32. TcK2 apresenta sítio putativos de ligação a heme. Esquema da TcK2, abaixo no gráfico

os picos em preto representam os aminoácidos que apresentam afinidade para ligação de heme. A sequência da quinase foi analisada com base no software BindHeme (Liu R and Hu J., 2011). As setas indicam os possíveis locus de ligação a heme dentro do domínio quinase.

Absorb

ância

Comprimento de onda (nm)

Figura 33. Espectro da absorção de luz indica que a GST-TcK2 liga-se ao heme. Os espectros foram

obtidos a 25oC em uma solução de PBS contendo quando indicado 10 ug/mL de heme, na presença ou

ausência de 10 ug/ml de GST (glutationa-S-tranferase) ou 10 ug/mL de TcK2 incubado com heme e TcK2. A ligação do heme à proteína é detectada por um pico em aproximadamente 410 nm, denominado banda de Soret.

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77

TcK2 no seu domínio quinase, mas até o presente momento não comprovamos

se também haveria a ligação de heme na região N-terminal da quinase,

possivelmente localizada no lúmen dos reservossomos.

Em seguida realizamos os ensaios de quinase in vitro na presença de

heme e análogos de heme para verificar se a ligação era capaz de inibir a

atividade da TcK2. De fato, o heme inibiu a fosforilação de eIF2 (Figura 35).

Mais importante, os análogos de heme, formados pelo anel porfirínico

sem o ferro, ou com outros metais não inibiram a atividade nas concentrações

utilizadas mostrando que o efeito era específico para o heme (Figura 36). Estes

Absorb

ãncia

rela

tiva

(420

/38

0n

m)

[hemina] (μM)

Figura 34. Curva de ligação da TcK-GST a heme. A figura mostra a diferença de absorção a 420 nm

em função da concentração de heme incubado com GST-TcK2a 10 µg/mL a 25oC em PBS. A linha foi

gerada pela predição de um sítio de ligação utilizando o software Prisma 6, gerando uma Kd de 10 µM.

Protoporfirina

Figura 35. Heme inibe a atividade da TcK2 in vitro. Ensaio de quinase in vitro utilizando como substrato

a proteína recombinante His6X-TceIF2α (1 μg) e onde indicado o equivalente a 0,2 μg da GST-TcK2 em 50 uL de tampão e 1 nCi de [

32P]-γ-ATP na ausência ou presença de 1 μg de heme (Fe-Protoporfirina), ou

de seus análogos: Protoporfirina (Proto), Mesoporfirina (Meso) e Sn (V)-protoporfirina (Sn (V)). O painel superior é uma autorradiografia, mostrando a fosforilação do TceIF2α. O painel inferior é o gel de Coomassie com a banda de 6xHis-TceIF2α.

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resultados sugerem que a TcK2 liga-se ao heme na região do domínio quinase

e esta ligação inibe sua atividade, e consequentemente a fosforilação de eIF2α.

Já havíamos mostrado que a parada no início da tradução causada pela

fosforilação de eIF2 é um das etapas necessárias para a diferenciação dos

parasitas de epimastigotas para tripomastigotas metacíclicos (Tonelli et al.,

2011). Uma vez que TcK2 foi inibida pelo heme, e poderia ser uma das

quinases que estariam fosforilando o eIF2, submetemos os parasitas à

diferenciação na presença de heme e seus análogos. Como pode ser visto na

figura 37, apenas a presença de heme, e não os seus análogos, inibiu a

formação de tripomastigotas-metacíclicos, sugerindo que a ligação específica

do heme à TcK2 e inibição de sua ativação estaria de fato inibindo a

diferenciação em T. cruzi.

A

C

B

D

Figura 36. Estrutura do heme e seus análogos. (A) Fe-protoporfirina. (B) Protoporfirina. (C) Mesoporfirina e (D) Estanho protoporfirina.

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79

4.2.8 Obtenção de nocautes para TcK2

Para entender melhor o papel da quinase na resposta ao heme no T.

cruzi, nós geramos primeiramente parasita simples-nocautes, onde

substituímos o gene da TcK2 pelo gene de resistência a geneticina (-/+).

Posterirormente, nós substituímos o segundo alelo do gene da TcK2 pelos

genes de resistência a higromicina, ou a blasticidina, e obtivemos duas

linhagens de duplos nocautes (-/-; geneticina/higromicina, ou

geneticina/blasticidina) (Figura 37a). Os clones resistentes a estes antibióticos

mostraram ter perdido o gene da TcK2, que não pode ser amplificado por PCR

utilizando iniciadores que amplificam o domínio quinase da TcK2. Só obtivemos

amplificação nos parasitas selvagens, nos nocautes parciais (+/-), mas não nos

duplo nocautes (Figura 38b). Quando utilizamos iniciadores que amplificam

parte da região 5’UTR e o início da região que codifica os genes de resistência

(blasticidina ou higromicina) foi possível observar uma banda com

Me

tacíc

licos

(%)

Figura 37. Heme inibe a formação de metacíclicos. Os valores correspondem à porcentagem de

metacíclicos ± desvio padrão (n = 3) após 96 horas de incubação dos parasitas em meio TAU3AAG na ausência (Cont) ou presença de 10 μg/mL de heme ou seus análogos. O símbolo (*) indica diferença significativa ( p < 0,001), baseado no teste t de Student.

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aproximadamente 500 pares de base nos parasitas nocautes (TcK2KO blast e

higro), mas não nos parasitas selvagens (WT) (Figura 38b), demonstrando

sucesso na obtenção do parasita nocaute para TcK2.

A partir da confirmação de que havíamos removido o gene, os parasitas

foram utilizados em experimentos de Western blot e imunofluorescência para

demonstrar a ausência da expressão da TcK2. No Western blot, nós

verificamos expressão da quinase TcK2 nos parasitas selvagens, mas não nos

parasitas nocautes para TcK2 (Figura 39).

Figura 38. Obtenção dos parasitas nocautes para TcK2. (A) Esquema da estratégia de obtenção dos

parasitas nocautes pela substituição do gene da TcK2 por um gene de resistência (geneticina e blasticidina ou higromicina). (B) Eletroforese em gel de agarose dos produtos de PCR para confirmação da substituição gênica. No gel da esquerda foram usados os oligonucleotídeos indicados pelas setas da esquerda na parte A da figura, e indicam a inserção dos genes de neomicina (Neo) e Higromicina (Hygro). O gel da direita mostra a eliminação do gene da TcK2 usando os oligonucleotídeos indicados à direita da parte A da figura. As seguintes amostras de DNA foram usadas no gel: WT, parasita selvagem; -/+, parasita simples nocaute onde ocorreu a substituição de uma cópia do gene da TcK2 pelo gene de geneticina e -/-, parasitas nocautes derivados da substituição da segunda cópia do gene da TcK2 pelo gene de higromicina. À esquerda está mostrado o tamanho dos fragmentos obtidos.

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Da mesma forma só foi possível detectar a expressão da TcK2 nos

parasitas selvagens (WT), na imunofluorescência (Figura 40). Mesmo com a

ausência da TcK2 nos nocautes (TcK2KO) houve a formação de

reservossomos, observado pela marcação da região posterior do parasita com

cruzipaína, indicando que a quinase não é essencial no processo de formação

desta estrutura.

TcK2

Tubulina

Figura 39. Confirmação do nocaute de TcK2 por Western blot. Western blot com extrato contendo o

equivalente a 2 x 107 parasitas selvagens (WT), nocaute parcial (-/+) ou nocautes das duas cópias do

gene (-/-), utilizando anticorpos anti-TcK2 e anti-tubulina como normalizador.

Figura 40. Confirmação do nocaute de TcK2 por imunofluorescência. Imunofluorescência de

parasitas selvagens (WT) e parasitas nocautes (TcK2KO), utilizando anticorpos anti-cruzipaína (vermelho) ou anti-TcK2 (verde). As imagens também mostram a coloração por DAPI como marcador de núcleo e cinetoplasto, e DIC das região utilizadas (linhas pontilhadas) para as fluorescências. Barra = 5 µm.

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82

4.2.9 A ausência da quinase afeta o crescimento e diferenciação

Parasitas selvagens, nocautes parciais e nocautes completos da TcK2

foram submetidos à diferenciação em meio TAU para obtermos

tripomastigotas-metacíclicos. Como podemos observar na figura 41, parasitas

simples nocautes e duplo nocaute para TcK2 apresentaram uma taxa de

diferenciação inferior a dos parasitas selvagens provavelmente porque havia

menor fosforilação de eIF2 induzida pelo estresse de acordo com os nossos

dados mostrando o papel de eIF2 neste processo (Tonelli et al., 2011).

No entanto, além de afetar a diferenciação, os parasitas nocautes

completos, mas não os nocautes parciais para quinase TcK2 apresentaram um

atraso no crescimento em relação aos parasitas selvagens (Figura 42). Este

fenótipo não era esperado, pois seria de se esperar que o parasita não

estivesse respondendo a estresse durante o crescimento.

Meta

cíc

licos

(%)

Células

Figura 41. A ausência da TcK2 inibe a formação de metacíclicos. Porcentagem de metacíclicos

obtidos após 96 h de incubação de epimastigotas selvagens (WT), simples nocaute (-/+) ou nocaute (-/-) da TcK2, mantidos em meio TAU3AAG. Os valores são média ± desvio padrão de triplicatas. Os símbolos (*) indicam diferenças significativas (p < 0,001) em relação ao WT, baseado no teste t de Student.

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83

4.2.10 Ascorbato reverte o fenótipo dos parasitas nocautes

Inúmeras tentativas para reverter o fenótipo dos nocautes de TcK2 foram

feitos para compensar a existência de um possível estresse em condições

consideradas normais. Por exemplo, os parasitas nocautes foram cultivados na

presença de excesso de heme, mas sem sucesso. Assim, cultivamos os

parasitas na presença de antioxidantes, como ascorbato e N-acetil-cisteína

(NAC), já que espécies reativas de oxigênio são normalmente produzidas pelo

parasita em crescimento e o nocaute poderia ser mais sensível a estas

espécies (Souza et al., 2009). De fato, a adição de 10 µM a 1 mM de ascorbato

reverteu o crescimento (Figura 43a). No entanto, a reversão, com 1 mM

ocorreu somente no início do crescimento durante os 3 primeiros dias de

tratamento e não houve reversão com 10 mM. Esses dados sugerem que a

falta da quinase TcK2 estaria causando um desequilíbrio oxidativo, que poderia

ser revertido pela presença do ascorbato, mas não de NAC. Quando o

ascorbato foi removido, o crescimento dos parasitas nocautes se manteve por

Para

sitas

/mL (

x10

6)

Tempo (dias)

Figura 42. A falta da TcK2 impede o crescimento de epimastigotas. Curva de crescimento de

epimastigotas selvagens (WT), simples nocautes (-/+) e nocaute da TcK2(-/-) mantidos em meio LIT. Os valores correspondem a média ± desvio padrão de triplicatas e os símbolos (*) indicam diferenças significativas (p < 0,001), estimadas pelo teste t de Student.

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84

até 7 dias e após este período o parasita nocaute voltou a crescer lentamente

(Figura 43b).

Como o fenótipo de reversão persistia por 7 dias, submetemos os

parasitas pré-tratados com ascorbato à metaciclogênese na presença ou na

ausência de ascorbato. Como pode ser visto na Figura 44, houve uma reversão

parcial na diferenciação dos parasitas nocautes, sugerindo que a ausência da

TcK2 afeta outras vias que levam a diferenciação.

Pa

rasita

s/m

L (

x1

06)

Tempo (dias) Tempo (dias)

Figura 43. Ascorbato reverte o crescimento dos parasitas nocautes. (A) Curva de crescimento de

epimastigotas de T. cruzi selvagens (WT) ( ) ou do nocaute da TcK2 (-/-) cultivados em meio LIT (=) ou

acrescido de 10 µM (q), 1 mM (p), ou 10 mM (n) de ascorbato, ou 5 mM de N-acetil-cisteína (NAC, u) a

28oC. (B) Formas epimastigotas WT ( ) ou nocaute da TcK2 mantidas em meio LIT sem (=) ou com

ascorbato (u) foram colocadas novamente em meio LIT sem ascorbato e incubadas pelos dias indicados. A Seta indica o dia em que as células foram diluídas 10X. Os valores são média ± desvio padrão de experimentos feitos em triplicata.

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85

Como mesmo assim obtivemos os tripomastigotas-metacíclicos,

utilizamos estes parasitas em ensaios de infecção da linhagem celular

LLCMK2, e notamos que os parasitas nocautes apresentavam baixa

capacidade de infecção quando comparado com parasitas selvagens. Por outro

lado, parasitas nocautes cultivados na presença de ascorbato apresentaram

infecção superior que os parasitas selvagens submetidos ao mesmo

tratamento, demonstrando que o balaço oxidativo é essencial para obter

sucesso na infecção por T. cruzi (Figura 45).

Meta

cíc

licos

(%)

Figura 44. O ascorbato reverte parcialmente a formação de metacíclicos nos parasitas nocautes para TcK2. Os epimastigotas foram cultivados em meio LIT por 4 dias na presença (barra preta) ou

ausência (barra branca) de ascorbato (10 µM) antes de ser induzidos a se diferenciar em metacíclicas. A figura mostra o número relativo ± desvio padrão (n = 3) de metacíclicos após 96 horas em meio TAU3AAG. Um asterisco indica diferenças estatisticamente significativas entre os selvagens (WT) e os mutantes nocaute (null) e o asterisco duplo entre o null com ou sem ascorbato. Em ambos os casos o valor de p < 0,001 baseado no teste t de Student.

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86

Notamos também que os parasitas nocautes apresentaram a

capacidade de se diferenciar em amastigota no interior das células. No entanto

estas formas amastigotas apresentaram uma taxa de multiplicação muito baixa,

praticamente nula, mesmo quando os parasitas nocautes eram previamente

cultivados em ascorbato (Figura 46). Este conjunto de dados nos sugeriu que

a ausência da quinase TcK2 seria importante para o crescimento de

epimastigotas e diferenciação em tripomastigotas-metacíclicos, para a invasão

celular pelos metacíclicos e para a proliferação de amastigotas. Por outro lado

a TcK2 não seria requerida para a formação de amastigotas a partir dos

tripomastigotas-metacíclicos.

Céula

sin

fecta

das

(%)

Figura 45. Parasitas nocautes apresentam deficiência na infecção que além de ser revertida é aumentada por ascorbato. A figura mostra a porcentagem ± desvio padrão (n = 3) de células LLC-MK

2 infectadas após 24 horas depois de uma infecção de duas horas com o

mesmo número de parasitas selvagens e nocautes obtidos de culturas diferenciadas de epimastigotas selvagens (WT) ou nocautes para TcK2 (null) pré-incubados (barras pretas) ou não (barras brancas) com 10 µM de ascorbato. Um asterisco indica diferenças estatisticamente significativas entre os selvagens e os mutantes nocaute (null) e o asterisco duplo entre o null com ou sem ascorbato. Em ambos os casos estas diferenças tem um valor de p < 0,001

baseado no teste t de Student.

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87

4.2.11 TcK2KO apresentam reservossomos menos elétron densos

Como a ausência da quinase TcK2 não interferiu na formação dos

reservossomos, como demostrado na figura 40, nós procuramos verificar a

ultraestrutura destas células. Assim, os parasitas nocautes foram cultivados na

presença ou ausência de ascorbato e processados para microscopia de

transmissão. Ficou nítido que os parasitas nocautes apresentavam estruturas

compatíveis com o tamanho e localização dos reservossomos, mas estes

estavam muito mais elétronluzentes que as estruturas encontradas nos

parasitas selvagens (Figura 47). Além disso, na ausência da quinase,

observamos a presença de corpos multivesiculares nos reservossomos. Estas

alterações, no entanto, não foram revertidas quando os parasitas eram

crescidos na presença de ascorbato, indicando mais uma vez que a TcK2 não

atuaria na formação dos reservossomos. Aparentemente, havia um menor

Pa

rasita

sin

tra

ce

lula

res/

ula

sin

fecta

da

s

Figura 46. Ausência da TcK2 inibe a multiplicação intracelular. A figura mostra o número de

amastigotas por célula LLC-MK2 ± desvio padrão (n = 3) ao longo do tempo. As células foram infectadas por duas horas na presença de 1 x 10

6 metacíclicos por ml obtidos como indicado no topo da figura,

lavadas e incubadas em meio de cultura DMEM contendo 10% de soro fetal bovino.

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88

acúmulo de moléculas eletrondensas, possivelmente heme nos reservossomos

na ausência da quinase.

4.2.12 Ausência da quinase TcK2 causa um desequilíbrio celular através da

geração de ROS

Para entender como o ascorbato estaria revertendo o efeito da falta da

TcK2, analisamos as células nocautes em relação ao acúmulo de espécies

ativas de oxigênio (ROS). Primeiramente como a TcK2 é uma quinase que

responde a heme, analisamos a quantidade de heme citossólico nos parasitas

selvagens e nocautes. Notamos assim, um aumento nos níveis de heme

Figura 47. Os parasitas nocautes para TcK2 apresentam corpos multivesiculares ao invés de estruturas eletrondensas. Micrografias eletrônicas de epimastigotas selvagens (WT), nocautes (TcK2-

null) ou nocautes cultivados com 10 µM de ascorbato. As setas indicam organelas endossomais denominadas reservossomos. Barra = 2 µm.

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89

intracelulares, apoiando a ideia de que a ausência de quinase impediria a

estocagem de heme no interior dos reservossomos (Figura 48).

Uma vez que os nossos dados indicavam que a estocagem de heme nos

reservossomos estaria sendo prejudicada na ausência da TcK2, analisamos a

internalização de heme nos parasitas através da incorporação de análogos

fluorescentes. A incorporação do heme apresentou-se maior parasitas

nocautes (Figura 49). Esta incorporação do análogo foi específica, uma vez

que era diminuída na presença de heme tanto nos parasitas selvagens como

nos nocautes. Desta forma, a ausência da TcK2 estaria impedindo a

internalização do heme nos reservossomos e permitindo seu acúmulo no

citosol dos parasitas.

Hem

e(n

mol/10

8célu

las)

Figura 48. Parasitas nocautes acumulam heme na fração solúvel das células, e este acúmulo não é revertido por ascorbato. A figura mostra a quantidade de heme liberado após lise branda por

epimastigotas selvagens (WT) ou nocautes para TcK2 (null), mantidos em meio LIT na ausência (barras brancas) ou na presença de ascorbato (barras pretas). Os valores foram obtidos como descrito na seção de Materiais e Métodos e correspondem a média de triplicatas ± desvio padrão. O asterisco sobre as barras indica diferença estatisticamente significativa ( p < 0,005) entre os parasitas WT e nocaute.

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90

O heme se complexa e atua como cofator essencial de citocromos e

peroxidase. Por outro lado, o heme é utilizado para obtenção de ferro que é

um cofator da superóxido dismutase. O excesso de heme e consequentemente

de ferro poderia assim estar alterando os níveis de superóxido dismutase e

peroxidases, o que causaria alterações no balanço redox de nos níveis de

espécies reativas de oxigênio no parasita (Mittra e Andrews, 2013; Mittra et al.,

2013). De fato, a ausência da quinase TcK2 causou uma diminuição da

atividade de peroxidases do T. cruzi (Figura 50).

Zn

(II)

Me

so

po

rfirin

aIX

in

co

rpo

raçã

o

(flu

ore

scê

ncia

rela

tiva

)

Figura 49. Ausência da TcK2 não afeta a incorporação do análogo de heme, que é inibido pelo heme. As barras mostram o valor médio ± desvio padrão da fluorescência relativa de Zn(II) Mesoporfirina

IX (análogo de heme) incorporada nos parasitas selvagens (WT) e nocautes para TcK2 (null) realizados em triplicatas na ausência (barras brancas) ou na presença de heme (10 µg/mL, barras pretas) utilizado como competidor. O asterisco sobre a barra indica diferença estatisticamente significativa (p < 0,005) entre os parasitas WT e nocaute ou no nocaute na ausência e presença de heme (p < 0,005 em ambos os casos).

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91

Também causou um aumento na atividade da Fe-superóxido dismutase

(Fe-SOD) (Figura 51) quando comparado com a atividade dos parasitas

selvagens.

Ativid

ad

ed

e p

ero

xid

ase

(mU

/10

7cé

lula

s)

Figura 50. Parasitas nocautes apresentam menor atividade específica de peroxidase. Os valores

das barras indicam as atividades específicas de peroxidase medidas em triplicata na fração solúvel de epimastigotas selvagens (WT) ou nocautes para TcK2 (null). A barra com asterisco indica diferença significativa (p<0,005) entre as duas linhagens.

Ativid

ade

Fe

SO

D

(U/1

07

lula

s)

Figura 51. Ausência da TcK2 aumenta a atividade da Fe-superóxido dismutase. Os valores das

barras indicam as atividades específicas de Fe-SOD medidas em triplicata em lisados de epimastigotas selvagens (WT) ou nocautes para TcK2 (null). A barra com asterisco indica diferença significativa (p < 0,005) entre as duas linhagens.

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92

Estas alterações poderiam levar a um aumento dos níveis de H2O2, o

que de fato ocorreu (Figura 52). É importante notar que estes efeitos não foram

modificados pela presença de ascorbato.

Já os níveis de ROS se mostraram elevados nos parasitas nocautes, e

puderam ser revertidos na presença de ascorbato (Figura 53). Portanto, a

redução do crescimento dos parasitas nocautes para TcK2 estaria

correlacionada com o aumento dos níveis de ROS, provavelmente produzidas

pelos níveis aumentados de H2O2, o qual pode reagir com o ferro ou o cobre

livre para gerar radicais hidroxilo, causando danos parasita.

Figura 52. Na ausência da TcK2 ocorre um aumento dos níveis de H2O2 liberados pelas células. Os

valores representam os níveis de H2O2 em pmol epimastigotas selvagens (WT) ou nocautes (null), mantidas na ausência (barras brancas) ou na presença de 10 μM de ascorbato (barras pretas). A barra com asterisco indica diferença significativa (p < 0,005).

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93

4.2.13 Reintrodução da TcK2 selvagem mas não da TcK2 inativa reverte as

alterações observadas no nocaute

Como quatro linhagens independentes foram geradas, duas por

substituição do gene pelos genes que codificam para resistência à geneticina e

higromicina e duas pelos genes de geneticina e blasticidina, nós tínhamos

confidência que os efeitos observados no nocaute eram devidos a falta da

TcK2. Mas, não era possível excluir a possibilidade que tivéssemos eliminado

em todas elas outra proteína que estaria causando os efeitos observados. Além

disso, até este momento, não podíamos saber se o efeito do nocaute se dava

pela ausência da atividade ou pela simples falta da proteína na célula. Para

distinguir entre estas duas possibilidades e excluir que a substituição gênica

Nív

eis

de

RO

S

(Ce

llRO

X)

(x1

0-3

)

Figura 53. Os níveis de espécies ativas de oxigênio nos parasitas nocautes são mais elevados. A

figura mostra os níveis (média ± desvio padrão, n = 3) de ROS intracelular de parasitas selvagens (WT) ou nocautes para TcK2 (null) mantidas na ausência (barras brancas) ou na presença de 10 μM de ascorbato (barras pretas) utilizando o Kit Cell ROX (Invitrogen). A barra com asterisco indica diferença significativa (p < 0,005).

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94

tenha produzido algum artefato, reintroduzimos o gene da TcK2 nos parasitas

nocautes.

Foram feitas duas construções no vetor pROCK que se integra no lócus

do gene de tubulina. Uma das construções possuía o gene selvagem e a outra

o gene codificando para a TcK2 com uma mutação que por similaridade

causava a inativação da quinase (K695A) conforme esquematizado na figura

54.

Observamos que os parasitas nocautes transfectados com ambos os

gene da TcK2 expressavam quantidades semelhantes de proteína detectada

por Western Blot, o que não ocorria no nocaute. Além disso apenas o parasita

selvagem e o Addback da proteína selvagem mostraram um aumento de

intensidade na marcação da banda de menor migração no gel quando

cultivados em PBS (Figura 55).

K695A

TcK2

5’ 3’

Figura 54. Esquema mostrando a mutação na lisina 695 para inativação da quinase. As setas indicam a posição dos iniciadores utilizados para construção dos mutantes.

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95

É interessante notar que a banda superior nos parasitas TcK2KO+K2

Mut (inativa) estava presente, mas em menor intensidade, e não aumentado

quando o heme foi retirado do meio.

Os parasitas TcK2KO+K2 Mut (inativa) e TcK2KO+K2 Full apresentaram

fenótipos distintos. Enquanto os parasitas contendo a proteína mutada

apresentavam menor capacidade de diferenciação, como os nocautes, os

parasitas com a enzima selvagem reintroduzida se comportaram como os

parasitas selvagens (Figura 56).

Controle PBS

Figura 55. A TcK2 selvagem e mutada é reexpressa nos parasitas nocautes em quantidades semelhantes aos parasitas selvagens. Western blot de extratos de epimastigotas selvagens (WT),

nocaute (-/-), ou de parasitas nocautes que expressam a TcK2 selvagem (Addback WT) ou TcK2 inativa (Addback KD),cultivados em LIT (Controle) e em PBS por 6h. O painel superior mostra a reatividade com anticorpo anti-TcK2 e o painel inferior com anti-tubulina.

* *Me

tacíc

lico

s(%

)

Figura 56. A re-expressão da TcK2 ativa, mas não a inativa, restaura a capacidade de formação de metacíclicos. A figura mostra a porcentagem de metacíclicos ± desvio padrão (n = 3) obtidos de

epimastigotas selvagens (WT), nocautes (-/-), ou dos nocautes transfectados com a quinase ativa (Addback Wt) ou inativa (Addback KD).

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96

O mesmo foi verificado para o crescimento (Figura 57).

Mesmo com a diferença entre os fenótipos, ambas as linhagens de

parasitas apresentaram marcação da TcK2 nos reservossomos. Em ambos os

casos a TcK2 apresentou-se colocalizada com a cruzipaína, um marcador

típico de reservossomos (Figura 58).

Para

sitas/m

L (

10

6)

Tempo (h)

Figura 57. A inserção da proteína quinase ativa nos parasitas nocautes restaura o crescimento.

Curva de crescimento dos parasitas selvagens (WT), parasitas nocautes (-/-), ou parasitas nocautes transformados com a TcK2 inteira (Addback Wt) ou a TcK2 inativa (Addback KD). Os experimentos foram feitos em triplicata e os números apresentados correspondem a média ± desvio padrão.

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97

Os parasitas TcK2KO+K2 Full também tiveram os níveis de ROS

similares aos níveis encontrados nos parasitas selvagens, enquanto os

parasitas TcK2KO+K2 Mut (inativa) apresentam níveis de ROS semelhantes ao

Figura 58. A TcK2 expressa nos parasitas nocautes apresenta localização semelhante à dos parasitas selvagens. Imunofluorescência de parasitas selvagens (WT) ou parasitas nocautes que

expressam o gene completo da TcK2 (Addback Wt) ou da gene mutado na lisina 695 para alanina, que inativa a TcK2 (Addback KD), utilizando anticorpos anti-TcK2 (verde) ou anti-cruzipaína (vermelho). As células também foram marcadas com DAPI (azul) para indicar o núcleo e cinetoplasto que está sobreposto à imagem de DIC. Barras = 5 µm.

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98

dos parasitas nocautes (Figura 59). Estes resultados indicaram claramente que

o efeito da falta da TcK2 se deve a sua atividade enzimática.

Para provar que a banda fosforilada da TcK2 é um sinal de ativação da

quinase, realizamos ensaio de quinase in vitro. Para isso cultivamos os

parasitas por 6 horas no meio LIT ou em PBS. Os parasitas foram lisados e

imunoprecipitados com o anticorpo que reconhece o domínio quinase da TcK2.

O imunoprecipitado foi incubado com o proteína recombinante do eIF2α. Como

podemos verificar na figura 60, apenas os parasitas selvagens mantidos em

PBS tem a capacidade de fosforilar o substrato, sugerindo que o estresse por 6

horas em PBS, a quinase esta mais ativa e é capaz de fosforilar a subunidade

α do fator eIF2.

Nív

eis

de

RO

S

(Ce

llRO

X)

(x1

0-3

)

* *

Figura 59. Parasitas nocautes que expressam a quinase ativa apresentam níveis de ROS semelhantes ao dos parasitas selvagens. A figura mostra os níveis de ROS ± desvio padrão (n = 3) de

epimastigotas selvagens (WT), nocautes (-/-), na ausência (barras brancas) ou presença de 10 μM de ascorbato (barras pretas), ou dos nocautes transfectados (barras cinzas) com a quinase ativa (Addback Wt) ou inativa (Addback KD).

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99

Figura 60. Parasitas selvagens cultivados em PBS por 6 horas apresentam a capacidade de fosforilar o fator eIF2α. (+/+) selvagens, (-/-) nocautes para TcK2.

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100

5 DISCUSSÃO

Nesta tese evidenciamos o papel da fosforilação da subunidade alfa do

fator de início de tradução 2 no crescimento do T. cruzi e na sua diferenciação

em tripomastigotas metacíclicos em resposta a estresses nutricionais e

oxidativos. Demonstramos que além da treonina 169, já descrita como o

aminoácido que é fosforilado (Tonelli et al., 2011), a serina 43, localizada no

domínio amino terminal adicional do eIF2 e tem um papel chave no processo

de diferenciação, relacionado ao controle de estresse oxidativo. Além disso,

caracterizamos uma das quinases envolvidas nestas fosforilações. Esta

quinase atua como sensor da quantidade de heme entre o citosol e o interior de

endossomos(reservossomos), regulando o início da tradução. Sua ausência

causa uma menor captação de heme no interior dos reservossomos e este se

acumula no citosol. Este acúmulo, desregulado, leva a aumento dos níveis de

H2O2 com consequente formação de espécies reativas de oxigênio.

A fosforilação de eIF2α é um dos processos que controlam o início da

tradução em diversos organismos. Em vários protozoários a fosforilação de

eIF2 é também uma das principais etapas de controle do ciclo biológico, onde

ocorrem alterações morfológicas, estruturais e bioquímicas das células (Zhang

et al., 2013). Já foi mostrado que a parada da síntese proteica como

consequência da fosforilação de eIF2 decorrente de estresse nutricional é

relevante para a diferenciação de Leishmania sp (Cloutier et al., 2012), T.

gondii, Plasmodium sp (Chow et al., 2011; Zhang et al., 2010; Zhang et al.,

2012). Propõe-se que esta parada na síntese proteica seja importante na

formação de formas latentes destes parasitas, ou que genes específicos sejam

ativados como consequência da expressão de proteínas a resposta ao

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101

estresse. Contudo, diferentemente do que ocorre em leveduras, ou em

mamíferos, onde determinados genes são preferencialmente traduzidos

causando uma série de eventos na célula (Palam et al., 2011), não está claro

em nenhum dos parasitas já estudados, quais genes são expressos e como

ocorrem as transformações celulares. Os nossos resultados ainda não

respondem estas questões, mas avançam no entendimento das respostas

decorrentes da ativação das proteínas quinases que levam a fosforilação de

eIF2 do T. cruzi como discutiremos a seguir.

A subunidade alpha do eIF2 de T. cruzi, apresenta sequência e tamanho

distinto da proteína de mamíferos e levedura, sendo semelhante somente entre

os Kinetoplastida. A principal diferença é a presença de uma porção extra na

região N-terminal da proteína. É interessante também notar que somente nas

espécies do gênero Trypanosoma há um possível sítio de fosforilação nesta

região, correspondente à serina 43 (Ser43) do T. cruzi. Este sítio é flanqueado

por aminoácidos similares aos encontrados no entorno do sítio de fosforilação

de eIF2 de leveduras ou de mamíferos (Figura 7 e 8). A serina 43 é sempre

substituída por alanina em Leishmania e diversos outros Kinetoplastida.

Nesta tese mostramos que a fosforilação na serina 43 TceIF2α ocorre in

vitro, quando verificamos que somente o duplo mutante para a serina 43 e

treonina 169 que não foi fosforilado. Além disto, verificamos que a

superexpressão, três vezes maior do mutante na serina 43 em relação à

proteína endógena, desencadeou uma significativa diminuição na formação de

tripomastigotas metacíclicos e na diminuição da invasão celular, mostrando que

este sítio tem de fato um papel importante. A presença de dois sítios de

fosforilação em eIF2 de T. cruzi pode ser importante para responder a

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102

diferentes tipos de estresse. Os nossos resultados sugeriram que a fosforilação

na serina 43, por exemplo, estaria mais associada à resposta a estresse

oxidativo, uma vez que os parasitas superexpressando eIF2 mutado neste

sítio não se tornam mais resistentes a água oxigenada. É preciso, contudo

ainda demonstrar se a mutação na serina 43 pode previnir ou não o

desaparecimento de polissomos após algum tipo de estresse, como é o caso

dos mutantes na treonina 169 (Tonelli et al., 2011), para concluirmos que este

segundo sítio afeta o início da tradução. O fato de que a fosforilação de eIF2

pode ser induzida em diversas condições, talvez em mais de um sítio, é

apoiado pelo fato de que em experimentos com T. brucei submetidos a choque

térmico, ainda ocorre parada na síntese proteica mesmo em parasitas mutados

na treonina 169 (Kramer et al., 2008), sugerindo que a parada na tradução em

algumas condições poderia requerer também a fosforilação na serina 43.

A presença de um domínio adicional na região N-terminal pode ter sido

um ganho de função durante a evolução e que no caso do gênero

Trypanosoma houve manutenção do sítio extra de fosforilação, enquanto que

este se perdeu nas outras espécies. Inicialmente, o prolongamento da região

N-terminal através de uma duplicação gênica poderia, por outro lado, ter

ocorrido com uma função distinta como é o caso da extensão da região N-

terminal da subunidade γ do mesmo complexo eIF2, que apresenta uma função

de ligação e ativação da fosfatase, responsável por defosforilar do eIF2α em S.

cerevisiae, função que foi perdida nas demais leveduras (Rojas et al., 2014). É

importante salientar que tentamos por diversas vezes superexpressar no T.

cruzi uma forma deletada da porção N-terminal do eIF2, sem sucesso. Em

todos os casos, nunca foi possível obter parasitas resistentes às drogas de

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103

seleção, o que poderia sugerir que a falta da região extra N-terminal é

essencial para o funcionamento do complexo. A utilização de um sistema

induzível de expressão poderá no futuro nos ajudar a determinar se a remoção

do N-terminal extra do eIF2 é viável ou não. Existem trabalhos ainda não

pulicados que descrevem duas isoformas de eIF2α em peixes, porém sem

função definida para cada isoforma, sugerindo também haver dupla fosforilação

nestes organismos (Translational Control Meeting. Cold Spring Harbor 2012

pag183).

Outro aspecto importante relacionado à fosforilação de eIF2 em

Trypanosoma é que a sequência que as quinases reconhecem na maioria dos

eucariotos apresenta uma serina flanqueada por uma leucina e duas argininas

(LSRR). Essa sequência é diferente em tripanossomatídeos (VTRR) (Tonelli et

al., 2011). Isto provavelmente não altera a estrutura do sítio, pois ambos os

aminoácidos apresentam uma cadeia apolar e estrutura similar, mas indica que

há diferenças no sítio de reconhecimento das quinases, compatível com o fato

que in vitro o eIF2 de T. brucei não é fosforilada pela quinase PKR, somente

pela K2 deste organismo (Moraes et al., 2007). Desta forma, não se pode

excluir a possibilidade do sítio presente na região N-terminal possa ser

fosforilado especificamente por uma das quinases (K1, K2 ou K3) ou mesmo

por outras proteínas quinases dos parasitas. Além disso, é possível que a

fosforilação da serina 43 seja dependente de uma e da treonina 169 de outra

quinase.

O fenótipo de diminuição na formação de tripomastigotas-metacíclicos e

na taxa de infecção celular, encontrado nos parasitas superexpressores de

eIF2α corrobora com dados da literatura que demonstraram a importância do

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104

controle da tradução na manutenção de parasitas no ambiente intracelular ou

extracelulares nos diferentes hospedeiros (Cloutier et al., 2012; Joyce et al.,

2010). Especialmente em L. infantum a regulação através da fosforilação do

fator eIF2α e ativação da quinase LinPERK (Chow et al., 2011; Cloutier et al.,

2012), regula a diferenciação para formas infectivas, como o que vimos em

nosso trabalho.

Por outro lado, a resposta ao estresse oxidativo por meio da fosforilação

de eIF2 ocorre quando células de mamífero são tratadas com arsenito. O

arsenito ativa a HRI (quinase de eIF2α, que responde a heme) em resposta a

formação de ROS promovendo a diminuição na tradução (Proud, 2005). Os

nossos resultados mostram que os superexpressores de eIF2 selvagem ou

mutado na treonina 169 são mais resistentes ao tratamento com H2O2, isso

poderia ser explicado pelo fato que um excesso de sítios a serem fosforilado

diminuiria a parada do crescimento pela não inibição da tradução nestes casos.

Portanto, uma caracterização dos sinais que levam a fosforilação de cada um

dos resíduos de eIF2, dos efeito destas fosforilações no início da tradução e

das proteínas quinases envolvidas é necessária para uma melhor

compreensão destes processos.

Nesta tese tínhamos como metas ainda averiguar o papel de cada uma

das quinases do T. cruzi. Decidimos incialmente caracterizar a TcK2 pelo fato

desta enzima apresentar características e localização celular diferente em T.

brucei quando comparada a outros eucariotos (Moraes et al., 2007). Além

disso, só foi possível obter nocautes completos da TcK2. Obtivemos nocautes

parciais da TcK1, que serão futuramente estudados, mas não conseguimos

selecionar parasitas nem com somente uma das cópias eliminadas da TcK3.

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105

Os nossos resultados mostraram que a TcK2 apresenta-se associada a

membranas e está localizada em vesículas endossomais, chamadas

reservossomos nas formas epimastigotas. Isto porque a marcação obtida foi

idêntica à marcação com cruzipaína. O fato de que a enzima só pode ser

solubilizada dos parasitas na presença de detergentes indicou que ela está

provavelmente inserida na membrana desta organela provavelmente com o

domínio quinase voltado para o citosol, uma vez que se espera que o eIF2

seja citossólico. Neste caso, o N-terminal da quinase estaria localizado no

lúmen dos reservossomos. A localização da enzima nos reservossomos na

forma epimastigota foi evidenciada pela sua distribuição na região posterior do

parasita e pela sua colocalização com a cruzipaína presente nestas organelas.

Esta localização foi confirmada, pois a mesma localização foi obtida com a

enzima contendo epitopo para HA e pelo fato de que a fluorescência

desapareceu nos parasitas nocautes.

Vale ressaltar que a localização da TcK2 é de alguma forma similar a da

TbK2 de T. brucei, que está na região da bolsa flagelar, e que em

determinadas condições se espalha pelo lisossomo dos parasitas (Moraes et

al., 2007). Ambas estão assim, localizadas nas vias relacionadas aos

processos endocíticos destes parasitas, diferentemente da localização da

PERK de mamíferos (Chakrabarti et al., 2011) e também da LinPERK de

Leishmania sp (Chow et al., 2011). Estas últimas se localizam no retículo

endoplasmático. Curiosamente, a quinase LinPERK não responde a estresse

causado pelo DTT, apesar de responder a tapsigargina (Chow et al., 2011) o

que é típico para PERK. Como a tapsigargina causa liberação de Ca2+ do

retículo endoplasmático, a ativação da LinPERK poderia ocorrer por alterações

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106

celulares, e não pelo dobramento incompleto de proteínas e exposição

cisteínas livres como é o caso da PERK. Desta forma, fica evidente que as

quinases de kinetoplastida podem ter um mecanismo de ativação distinto da

quinase PERK e dependente do tipo de vida e da forma como os nutrientes são

captados em cada protozoário.

Por isto foi importante neste trabalho demostramos o papel da TcK2 in vitro

e sua ativação através da autofosforilação. A ativação das quinases geralmente

acontece a partir da autofosforilação. Isso provavelmente também acontece

com a TcK2, já que podemos verificar uma banda marcada na posição de

migração da proteína recombinante quando ela foi incubada com -[32P]-ATP.

Esta ativação ocorreu porque a quinase foi expressa em fusão com a GST que

promove a formação de dímeros, mecanismo usual de ativação de quinases.

Além disto, mostramos que a quinase no parasita encontra-se parcialmente

ativada. Isto porque ela é detectada como duas bandas em Western Blot e a

banda de menor migração é convertida na de maior migração por tratamento

com a fosfatase (CIAP), enquanto que o efeito oposto é visto após incubarmos

o parasita com um inibidor de fosfatase. Mais ainda, detectamos uma

distribuição de bandas alterada em parasitas submetidos a estresse nutricional,

com uma diminuição da banda de maior migração, compatível com ativação da

quinase por fosforilação. Além disso, podemos notar uma distribuição das duas

bandas de modo diferencial durante os distintos estágios do parasita, sugerindo

que a quinase possa estar em diferentes estados de ativação ao longo do seu

ciclo de vida. Isto estaria de acordo com uma diminuição no nível de tradução

nas formas infectivas, tripomastigotas metacíclicos e sanguíneos, que

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107

apresentam menor tradução em relação a formas epimastigotas e amastigotas

(de Godoy et al., 2012).

Os nossos resultados mostraram que tanto mRNA, como a proteína

estão presentes em todas as fases do ciclo de vida do parasita. No entanto

existem claramente diferenças na sua localização. A TcK2 está nos

reservossomos de formas epimastigotas e em vesículas grandes nas formas

amastigotas. Já nas formas infectivas, a quinase foi detectada em estruturas

menores, possivelmente vesículas espalhadas ao longo do citosol. Em todos

os casos, a sobreposição da marcação com o retículo endoplasmático foi

mínima, o que sugere que a quinase esteja associada com vesículas

endossomais e tenha tamanhos e comportamentos diferentes de acordo com o

estágio do parasita. Isto está de acordo com o que foi proposto para o T. cruzi,

onde o fluxo de nutrientes é alterado dependendo das condições nutricionais e

do metabolismo dos diferentes estágios do parasita (Teixeira et al., 2012). Os

epimastigotas proliferam dentro do tubo digestivo do inseto vetor adquirem

nutrientes principalmente através do citóstoma. Estes nutrientes derivam do

sangue em digestão e se acumulam nos reservossomos. Nos amastigotas,

aparentemente não há acúmulo de reservas e o parasita deve consumir

rapidamente os nutrientes obtidos do citosol da célula hospedeira. Já nas

formas tripomastigotas, o fluxo seria revertido e o parasita deve suprir a sua

membrana plasmática de proteínas para a invasão (Teixeira et al., 2012).

Um dos nutrientes que devem ser adquiridos do hospedeiro é o heme,

uma vez que o T. cruzi, como outros Tripanossomatídeos, não é capaz de

sintetizar esta molécula (Cupello et al., 2014). Existem evidências de que o

heme seja incorporado no T. cruzi através de receptores ABC (Cupello et al.,

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2011). Uma vez no citosol do parasita, o excesso de heme seria transportado

para os reservossomos, que aparecem tanto mais eletrondensos quanto maior

o conteúdo de heme do meio de cultura (Cunha-e-Silva et al., 2006). Ainda não

se sabe como o heme é transportado para os reservossomos e se poderia

também ser incorporado diretamente via o citóstoma e a rede de endossomos

(Cupello et al., 2014), uma vez que não estão descritos transportadores de

específicos de heme em T. cruzi presente na membrana dos reservossomos.

Verificamos que quando cultivávamos formas epimastigotas em meio LIT sem

a adição de hemina, a quinase TcK2 que estava presente nos reservossomos,

espalhava-se pelo citosol e ficava mais fosforilada. Além disso, quando

analisamos o conteúdo dos reservossomos por microscopia eletrônica,

parasitas mantidos em meio sem a adição de hemina apresentavam organelas

eletronluzentes, apoiando a ideia de que o heme é estocado neste

compartimento. Como verificamos que o heme estimula a proliferação celular,

possivelmente através da ativação de CamKII do parasita (Nogueira et al.,

2011), pressupomos que haja uma inter-relação entre o crescimento celular e o

controle da síntese proteica por meio da regulação da TcK2, uma vez que a

TcK2 apresentou a banda superior predominante nos parasitas cultivados em

meio LIT sem a adição de hemina. Esta possibilidade foi confirmada quando

verificamos que a banda de maior migração da quinase era menos alterada se

adicionávamos heme aos parasitas mantidos em PBS. Tal resultado nos

indicou haver uma associação da fosforilação e possível ativação em resposta

a heme.

Através de uma análise de bioinformática, verificamos que a TcK2

apresentaria sítios putativos de ligação a heme. Mais importante, mostramos

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que a atividade da quinase foi inibida in vitro na presença de heme. Os nossos

resultados de espectroscopia diferencial também mostraram que a parte da

TcK2 contendo o domínio quinase liga-se com alta afinidade ao heme,

apresentando uma constante de dissociação de 10 M. Isto nos sugeriu que a

TcK2 teria um comportamento semelhante a quinase HRI e não à PERK,

mesmo apresentando a região transmembranar e estando presente no

compartimento endossomal. A quinase HRI apresenta dois sítios de ligação à

heme, um na região N-terminal e um na região C-terminal, sendo o sítio

próximo a região C-terminal de associação reversível em relação à ligação ao

heme (Han et al., 2001). A ligação neste segundo sítio é que inibe a HRI. Desta

forma, uma melhor caracterização da ligação de heme não só ao domínio

catalítico, mas também a região N-terminal da TcK2, possivelmente inserida

dentro do endossomo, identificando os sítios envolvidos, poderá ajudar a

compreender melhor como ocorre esta inibição e qual é o papel do heme na

enzima no parasita.

Em nosso trabalho mostramos que o heme inibiu a formação de

tripomastigotas metacíclicos e que esta inibição pode ter relação com a inibição

da atividade da TcK2. Não podemos, contudo, descartar que a presença do

heme iniba a diferenciação in vitro também atuando em outros processos

metabólicos do parasita.

Em Leishmania sp foi verificado que a aquisição de heme depende de

uma proteína denominada LHR1 (Leishmania Heme Response 1) presente em

formas promastigotas. LHR1 é uma proteína essencial para o desenvolvimento

deste parasita. Este transportador localiza-se na membrana plasmática e em

membranas do compartimento endossomal ácido (Miguel et al., 2013).

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Parasitas com uma cópia a menos de LHR1 diferenciam-se em formas

amastigotas, porém não desenvolvem a infecção intracelular (Miguel et al.,

2013). Além de transportadores de heme, em Leishmania sp foram descritas

proteínas de membranas responsáveis pela absorção de ferro pela sua

redução através da proteína LFR1 e absorção do vacúolo parasitóforo para o

citosol do parasita via a proteína LIT1 (Flannery et al., 2011; Jacques et al.,

2010). Parasitas com nocautes gênicos para LFR1 ou LIT1 são deficientes na

formação de formas infectivas (Huynh e Andrews, 2008). Já em T. brucei está

descrito um transportador de haptoglobina-hemoglobina que está localizado na

região da bolsa flagelar, onde ocorre endocitose e que poderia transportar

heme (Higgins et al., 2013). Transportadores semelhantes poderiam existir em

T. cruzi e deverão no futuro ser caracterizados.

O heme e o ferro estão associados com o desenvolvimento da fase

intracelular em Leishmania sp. Estes parasitas utilizam o Fe2+ para o

metabolismo da mitocôndria e no lisossomo (Huynh e Andrews, 2008). No

citosol o Fe2+ é um cofator para superóxido dismutase, responsável pela

transformação do radical superóxido (O2-) em peróxido de hidrogênio e

oxigênio utilizando um próton (H+). Desta forma, é também esperado que a

adição de heme possa ter inúmeros efeitos no T. cruzi.

Para entender a relação entre a presença de heme e TcK2, geramos

parasitas nocautes para esta enzima. Uma vez que a fosforilação de eIF2 é

importante para diferenciação, como esperado, os parasitas nocaute parcial e

total tiveram uma taxa de diferenciação progressivamente menor que a dos

controles.

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No entanto, as linhagens sem a presença da TcK2 apresentaram uma

diminuição no crescimento em relação aos parasitas selvagens. Isto pode ser

explicado devido ao acúmulo de heme no citosol que desencadearia um

desequilíbrio oxidativo celular, através do aumento de ROS e de níveis de

H2O2. Observamos que a adição de ascorbato em baixas concentrações (10

M) restaurava o crescimento do parasita, e que este efeito perdurava por

alguns dias se o ascorbato fosse removido, sugerindo que o ascorbato

eliminava momentaneamente um componente do meio extracelular. Esta ideia

é apoiada por informações do Dr. Martin Taylor da London School of Tropical

Medicine and Hygiene que nos comunicou que nunca conseguiu detectar

incorporação de ascorbato em T. brucei ou T. cruzi. O fato de não ocorrer

reversão do crescimento em concentrações maiores de ascorbato seria então

compatível com um efeito duplo, oxidante e antioxidante, desta molécula em

função da sua concentração (Lane e Richardson, 2014).

Adicionalmente, os nossos resultados sugeriram que o alvo do ascorbato

era a redução de Fe2+ para Fe3+ inibindo a reação de Fenton do primeiro com

H2O2. Nesta reação são gerados radicais superóxido (OH) que reagem

fortemente com diversas moléculas biológicas, causando danos, por exemplo,

nas ligações duplas presentes nos fosfolipídios das membranas e promovendo

um aumento de sua permeabilidade e dissipação de gradientes de potencial

necessários para o funcionamento adequado das células (Akanni et al., 2014).

Constatamos que de fato nos nocautes da TcK2 havia um aumento dos

níveis de heme nas células, aparentemente na fração citossólica. Também

verificamos haver um aumento da incorporação de um análogo de heme. Como

nas imagens de microscopia eletrônica dos parasitas nocautes, os

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compartimentos endossomais apareceram menos densos, concluímos que o

heme se acumularia no citosol na falta da TcK2. Isto poderia estar acontecendo

ou porque a TcK2 estaria diretamente envolvida na atividade de um

transportador, como por exemplo o LHR1 (cujo homólogo existe no genoma de

T. cruzi), ou indiretamente através da diminuição de sua tradução, ou de outros

fatores, quando o eIF2 é menos fosforilado. É possível que algumas

proteínas, talvez contendo pequenas fases de leitura sejam menos traduzidas

quando eIF2 não é fosforilado (Palam et al., 2011), e este seria o caso dos

transportadores de heme para os reservossomos.

Em paralelo, detectamos um grande aumento nos níveis de atividade de

superóxido dismutase e de H2O2 nos nocautes, este último como consequência

da diminuição da atividade de peroxidase nas células. Isto faria com que

peróxido fosse liberado pelo parasita causando danos no parasita, inibindo o

crescimento. A H2O2 no meio de cultura reagiria com o Fe2+ através da reação

de Fenton. Esta ideia é apoiada pelos resultados de que nos parasitas

nocautes tratados com ascorbato não houver alteração do conteúdo dos

reservossomos observado por microscopia de transmissão, e nem houve

reversão dos níveis de H2O2, mas sim, ocorreu a diminuição dos níveis de

espécies reativas de oxigênio (ROS) totais.

Não temos ainda uma explicação do porque ocorrem as alterações nos

níveis de SOD e peroxidase no nocaute. Uma explicação plausível é de que o

nível de tradução destas enzimas sejam controladas diretamente pela

fosforilação de eIF2. Outra possibilidade é de que a quinase tenha outro

substrato além do eIF2 que possa regular outras vias de sinalização na célula.

Em outros organismos existem trabalhos que sugerem que a quinases de

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eIF2 possam fosforilar outros substratos (Cullinan et al., 2003), porém esta é

uma possibilidade que requer uma demonstração mais sólida. Em todo caso,

em kinetoplastida esta possibilidade não pode ser descartada. Outra

possibilidade é de que a presença de heme afete diretamente as peroxidases e

SOD, além dos sistemas de detoxificação de espécies reativas por meio das

redutases, particularmente da via de tripanotiona redutase. Não há no genoma

uma ORF que codifique para a enzima heme oxigenase, responsável por

degradar a hemina liberando o ferro, mas este pode acontecer por outras vias

ou enzimas ainda não caracterizadas (Cupello et al., 2014). Se este processo

ocorrer, como seria esperado para o aproveitamento do ferro, é possível que o

excesso de heme leve a um excesso de ferro no citosol, causando aumento na

atividade das SODs do T. cruzi que dependem somente deste metal para sua

atividade, ao contrário de outros eucariotos (Miller, 2012). Por outro lado, o

heme é requerido para a atividade da heme peroxidase presente em

Trypanosoma (Cupello et al., 2014) e a sua presença em excesso poderia de

alguma forma causar inibição desta enzima.

A produção de ROS nem sempre está associada a um ambiente de

estresse em T. cruzi. Epimastigotas crescem em ambiente com grande

quantidade de heme, como já mencionado acima, produzindo níveis de ROS

intracelulares elevados. Diversos trabalhos vêm mostrando que formas

epimastigotas cultivadas em meios com quantidade de heme crescente se

multiplicam mais, devido ao aumento de ROS intracelular, e esta reposta é

mediada por outra quinase, a CamKII (Nogueira et al., 2011). Como o parasita

não sintetiza heme e requer ferro para o crescimento, a incorporação destas

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114

moléculas deve ser feita ao mesmo tempo em que ocorre o controle dos níveis

de espécies reativas.

Para melhor entender o mecanismo da TcK2 nas formas epimastigotas no

controle do balanço de heme e consequentemente no equilíbrio do ROS

intracelular, nós re-expressamos a quinase selvagem (WT) e a quinase inativa

(KD) nos nocautes. Ambas as linhagens apresentaram as duas bandas no

Western Blot e localização da proteína nos reservossomos. É importante

salientar que nos re-expressores da quinase inativa, a banda superior foi

sempre menos intensa e não aumentava em condições de carenciamento para

heme. Este resultado poderia ser explicado se outras enzimas fossem capazes

de fosforilar a TcK2, e apoiariam a ideia de que mesmo fosforilada, a TcK2

mutada não seria capaz de fosforilar eIF2 transduzindo a resposta de

estresse. Adicionalmente, estes resultados poderiam indicar que a banda

superior da quinase corresponde também a outro tipo de modificação como

glicosilação ou palmitoilação. Para averiguar esta possibilidade, tratamos

extratos de parasitas com endonuclease H, e não verificamos alteração de

bandas. Mais importante, contudo, foi o fato de que a reinserção da proteína

selvagem nos parasitas nocautes reverteu os diferentes fenótipos, enquanto

que o mesmo não foi observado para a enzima mutada, comprovando que a

atividade da TcK2 é relevante para o controle do heme citosol/reservossomo, e

consequentemente para o controle do equilíbrio do estado oxidativo do

parasita.

Na figura 59 está esquematizado como a TcK2 atuaria dentro do parasita.

Os níveis de heme adquirido pelas células causariam a manutenção dos

parasitas no estado proliferativo através do controle da síntese proteica. O

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excesso de heme seria estocado nos reservossomos e utilizado de forma

regulada. Em baixos níveis de heme, a TcK2 estaria atividade e possibilitando

a expressão seletiva de genes envolvidos na invasão celular e na capacidade

do parasita de lidar com agentes oxidantes. Na falta da quinase, este balanço

seria perdido, com um acúmulo de heme no citosol.

Em conclusão, os dados obtidos nesta tese evidenciam um papel

importante da quinase TcK2 no equilíbrio do heme desencadeando um papel

também no controle dos níveis de ROS. O que chama mais atenção que isso

acontece em formas epimastigotas, formas replicativas presentes no inseto. Já

formas replicativas presentes no hospedeiro mamífero a TcK2 desempenha

uma papel no desenvolvimento da infecção intracelular, como mostrado

parasitas nocautes apresentam a capacidade de invasão, porém perder a

capacidade de multiplicação intracelular. Sugerindo que o acúmulo de heme ou

a presença, é importante para o desenvolvimento da infecção, como acontece

em Leishmania sp. A incorporação de heme por formas amastigotas seria

necessária para a infecção e a formação de formas tripomastigotas

sanguíneas. Trabalhos recentes sugerem que o estresse oxidativo sofrido

pelos parasitas durante a invasão auxiliaria na infecção, provavelmente a TcK2

pode estar relacionada com este controle e sua ausência nas formas

amastigotas desequilibraria o ambiente tornando inviável a progressão da

doença. Sugerindo que a TcK2 teria uma função importante no controle da

homeostase celular, sendo um possível alvo de drogas para o tratamento da

doença de Chagas.

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Figura 59. Esquema da função da TcK2 no T.cruzi.

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117

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125

Anexo I

A membrane bound eIF2 alpha kinase located in

endosomes is regulated by heme and controls

differentiation and ROS levels in Trypanosoma cruzi

Leonardo da Silva Augusto1, Nilmar Silvio Moretti1, Thiago

Cesar Prata Ramos1, Teresa Cristina Leandro de Jesus1#a,

Min Zhang2, Beatriz A. Castilho1, Sergio Schenkman1*

1Departamento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia, Escola Paulista de

Medicina, Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, São Paulo, Brazil,

2Department of Pathology, New York University School of Medicine, New York,

New York, United States of America.

#aCurrent address: Instituto de Física de São Carlos (IFSC). Universidade de

São Paulo. São Carlos, SP, Brazil

* Corresponding author

Email: [email protected]

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ABSTRACT

Regulation of translation initiation has been described as a critical step in the

control of growth and differentiation of several protozoan parasites in response

to environmental changes. This occurs by activation of protein kinases that are

similar to the ones found in higher eukaryotes, which phosphorylate the alpha

subunit of translation initiation factor 2 (eIF2α), decreasing general translation

and favoring the expression of stress remedial response genes. However, very

little is known about the signals that activate eIF2 kinases in protozoan

parasites. Here, we have characterized an eIF2 kinase of Trypanosoma cruzi

(TcK2), the agent of Chagas’ disease, as a transmembrane protein located in

organelles that accumulate nutrients in proliferating parasite forms. We found

that the absence of heme causes TcK2 changes that results in the

differentiation of proliferative epimastigote forms to infective metacyclic-

trypomastigotes. Heme binds specifically to the catalytic domain of the kinase

and inhibits its activity. Parasite lines lacking TcK2 lose the differentiation

capacity and display growth deficiency by the accumulation of hydrogen

peroxide that drive the generation of reactive oxygen species. We provided

evidence that the augmented level of hydrogen peroxide occurs because of

heme accumulation in the cell, not in the reserve organelles. This apparently

causes an increase of superoxide dismutase activity and decrease of peroxide

activity in the parasite. These alterations could be restored by the re-expression

of the wild type but not by a TcK2 dead mutant. These findings indicate that

heme is a key factor for growth control and differentiation through regulation of

an unusual type of eIF2 kinase in T. cruzi.

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AUTHOR SUMMARY

Trypanosoma cruzi proliferates as epimastigotes in the midgut of the insect

vector filled with blood meal. There, it accumulates nutrients in specific

organelles called reservosomes. The parasite moves towards the hindgut and

when the blood is completely digested, reservosomes are consumed. At this

moment, the insect is ready for a new feeding cycle that promotes the release

of infective metacyclic-trypomastigote forms. We have previously found that

such differentiation involves protein synthesis arrest through the

phosphorylation of the eukaryotic translation initiation factor 2α (eIF2α). Now,

we show that one of the kinases that phosphorylate eIF2α is localized in the

reservosome. The kinase TcK2 binds and is specifically inhibited by heme

derived from blood hemoglobin. We also found that heme inhibits differentiation,

suggesting that it is an important signal for differentiation. By generating

knockouts of TcK2, we observed an increased accumulation of heme in the

cytosol, which induced cellular damage by affecting the reactive oxygen

metabolism in the parasite. We concluded that this eIF2 kinase TcK2 senses

cytosolic heme obtained from the blood meal, promoting its storage in the

reservosomes. When heme levels are decreased in the cytosol, the TcK2

activation causes protein synthesis arrest followed by the induction of the

differentiation of proliferative epimastigote forms to infective metacyclic-

trypomastigotes

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Anexo II

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Anexo III

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Anexo IV

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Anexo V

Characterization of Trypanosoma cruzi sirtuins as

possible drug targets for Chagas Disease

Nilmar Silvio Morettia, Leonardo da Silva Augustoa, Tatiana

Mordente Clementea, Raysa Paes Pinto Antunesa, Nobuko

Yoshidaa, Ana Claudia Torrecilhasb, Maria Isabel Nogueira

Canoc and Sergio Schenkmana*

aDepartamento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia,

Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal de São

Paulo, São Paulo, SP, Brazil

bDepartamento de Ciências Biológicas, Campus Diadema, Universidade

Federal de São Paulo, Diadema, SP, Brazil

cDepartamento de Genética, Instituto de Biociências, Universidade

Estadual Paulista (UNESP), Botucatu, São Paulo, Brazil

Running title: Sirtuins as drug target for Chagas Disease

*Address correspondence to Sergio Schenkman,

[email protected].

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132

Lysine acetylation has emerged as a major post-translational

modification involved in diverse cellular functions in higher eukaryotes. The

protein acetylation is regulated through the activities of lysine acetyltransferases

and lysine deacetylases. Amongst the deacetylases, the Sirtuins are NAD+-

dependent histone deacetylases involved in different cellular events, such as

gene silencing, DNA damage repair, and metabolic processes. Here we

investigated the protein acetylation of Trypanosoma cruzi, the agent of Chagas

disease, during parasite proliferation and differentiation and the involvement of

sirtuins in these phenomena. Several changes in the acetylation were observed

during parasite growth and metacyclogenesis, suggesting a role of this

modification in these processes. Using specific antibodies or cell lines

overexpressing tagged version of TcSir2rp1 and TcSir2rp3, the two putative T.

cruzi sirtuins, we found that TcSir2rp1 is localized in the cytosol and TcSir2rp3

in the mitochondrion. Both proteins were able to modify the acetylation levels of

specific proteins as measured by immunoblotting with antibodies against acetyl-

lysine, but generated antagonistic effects on parasite development. TcSir2rp1

overexpression acts impairing parasite growth and differentiation, whereas

TcSir2rp3 improves both. We further investigated the effect of salermide, a

specific sirtuin inhibitor that has been tested to treatment of some tumors in vitro

and in vivo. Treatment of parasites with salermide during in vitro infection

prevented the growth and the initial multiplication after mammalian cell invasion

by T. cruzi. Also, in vivo infection was partially controlled after salermide

treatment. Our findings prompted the use of sirtuins as drug targets for Chagas

disease treatment.

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Anexo VI

Ikaros is a guardian of the ‘B-side’ of murine B-1 cells

Vivian Cristina de Oliveira 1, Nilmar Silvo Moretti 2, Leonardo da Silva Augusto 2,

José Daniel Lopes1, Sergio Schenkman 2, Mario Mariano1,3, Ana Flavia Popi 1 1 Disciplina de Imunologia, Departamento de Microbiologia, Imunologia e

Parasitologia, Universidade Federal de São Paulo; 2 Disciplina de Biologia Celular, Departamento de Microbiologia,

Imunologia e Parasitologia, Universidade Federal de São Paulo 3 Universidade Paulista (UNIP)

Running title: Ikaros mantains B cell program in B-1 cells

Key words: Ikaros, B-1 cells, PU.1

ABSTRACT

Ikaros, Aiolos and Helios are zinc finger transcription factors that are

important regulators of the hematopoietic system. Several studies have

suggested the role of Ikaros in the development, maturation, activation and

differentiation of lymphocytes. To elucidate this mechanism, it is important to

understand how this transcription factor works in the dichotomy of the

hematopoietic system, a topic that remains uncertain. Herein, we investigated

the Ikaros role in the control of lymphomyeloid phenotype of B-1 lymphocytes.

We found that Ikaros is highly expressed in B-1 cells, as well as its target

genes. Moreover, Ikaros positively regulates the expression of Flt3, Gfi e Il7r,

while down-regulates PU.1. Furthermore, Ikaros silencing favors the

differentiation of B-1 cells into phagocytes. Taken together, these data pointed

to the relevance of Ikaros in the maintenance of promiscuous gene profile of B-

1 cells. It could be suggested that Ikaros function as a guardian of B-1 lymphoid

pattern, and that its absence directs the differentiation of B-1 cells into

phagocytes.