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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA MESTRADO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE LÍVIA CRISTINA RODRIGUES FERREIRA LINS AVALIAÇÃO DO EFEITO ANTICONVULSIVANTE DO GERANIOL E DO COMPLEXO DE INCLUSÃO GERANIOL:β- CICLODEXTRINA EM CAMUNDONGOS ARACAJU-SE 2013

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA

NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA

MESTRADO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE

LÍVIA CRISTINA RODRIGUES FERREIRA LINS

AVALIAÇÃO DO EFEITO ANTICONVULSIVANTE DO

GERANIOL E DO COMPLEXO DE INCLUSÃO GERANIOL:β-

CICLODEXTRINA EM CAMUNDONGOS

ARACAJU-SE 2013

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LÍVIA CRISTINA RODRIGUES FERREIRA LINS AVALIAÇÃO DO EFEITO ANTICONVULSIVANTE DO GERANIOL E DO

COMPLEXO DE INCLUSÃO GERANIOL:β-CICLODEXTRINA EM CAMUNDONGOS 2013

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LÍVIA CRISTINA RODRIGUES FERREIRA LINS

AVALIAÇÃO DO EFEITO ANTICONVULSIVANTE DO

GERANIOL E DO COMPLEXO DE INCLUSÃO GERANIOL:β-

CICLODEXTRINA EM CAMUNDONGOS

Dissertação apresentada ao Núcleo de Pós-Graduação em Medicina da Universidade Federal de Sergipe como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre em Ciências da Saúde. Orientador: Prof. Dr. Murilo Marchioro

ARACAJU-SE 2013

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LÍVIA CRISTINA RODRIGUES FERREIRA LINS

AVALIAÇÃO DO EFEITO ANTICONVULSIVANTE DO

GERANIOL E DO COMPLEXO DE INCLUSÃO GERANIOL:β-

CICLODEXTRINA EM CAMUNDONGOS

Dissertação apresentada ao Núcleo de Pós-Graduação em Medicina da Universidade Federal de Sergipe como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre em Ciências da Saúde.

Aprovada em: _____/_____/_____

BANCA EXAMINADORA

________________________________________ Orientador: Prof. Dr. Murilo Marchioro

________________________________________

1º Examinador: Prof. Dr. Waldecy de Lucca Júnior(UFS)

________________________________________ 2º Examinador: Prof. Dra. Carlúcia Ithamar (UEPB)

PARECER ----------------------------------------------------------------------------------------------------- ----------------------------------------------------------------------------------------------------- ----------------------------------------------------------------------------------------------------- ----------------------------------------------------------------------------------------------------- ----------------------------------------------------------------------------------------------------- ----------------------------------------------------------------------------------------------------- ----------------------------------------------------------------------------------------------------- ----------------------------------------------------------------------------------------------------- -----------------------------------------------------------------------------------------------------

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a minha avó materna, Elvira (Vovó

Eva), exemplo de dignidade e amor ( in memoriam). Aos meus

pais, Luiza e Cícero, razão de minha existência. Em especial,

a minha mãe, exemplo de mulher e pessoa, minha amiga e

companheira em todo o tempo, meu estímulo de vida.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, por me guiar nesta jornada, por me dar forças para

que eu pudesse enfrentar todos os desafios e sabedoria para buscar soluções. Por todas as

oportunidades que concedeu ao longo da minha vida.

Ao meu orientador, Prof. Dr. Murilo Marchioro, por ter me concedido esta

oportunidade. Obrigada pela confiança, paciência, dedicação e ensinamentos. Obrigada por

permitir concluir esta etapa da minha vida e por continuar me guiando na busca de mais um

sonho.

A Profa Dra Flávia Teixeira, pelos ensinamentos e atenção que sempre me

proporcionou nos momentos que a solicitei.

Ao Prof. Dr. Waldecy de Lucca Jr, que me recebeu em seu laboratório com muita

atenção e passou um pouco do seu conhecimento, sempre com muita paciência e dedicação.

Obrigada pela ajuda.

A Profª. Drª. Doralúcia Araújo e a Profª. Drª Carlúcia Ithamar do Departamento de

Fisioterapia da UEPB, pelas oportunidades e ensinamentos passados durante a graduação e

por me incentivarem a buscar a realização deste sonho.

A Profª. Cleópatra Campos, pela amizade e carinho que sempre compartilhou comigo,

pela ajuda e apoio em um dos momentos mais decisivos para minha vida.

Aos meus pais, Luiza e Cícero, meu estímulo para lutar e vencer na vida. Obrigada por

sempre estarem ao meu lado em todos os momentos da minha vida.

Ao meu namorado, Tiago Tenório, pelo amor e amizade, por todas as palavras de

incentivo e apoio, pelo companheirismo durante esta jornada, que apesar da distância física,

esteve sempre comigo em sentimento durante estes anos.

A minha madrinha Sebastiana, por ter sempre acreditado em mim e me incentivado

nos momentos mais difíceis.

A Maria das Neves, pela amizade e ensinamentos de vida, pelas palavras de apoio nos

momentos de angústia.

A Renan, Camila e Rosana, pela amizade, apoio e sentimentos compartilhados nesta

etapa de nossas vidas.

Aos colegas do Laboratório de Neurofisiologia: Márcia, Matheus, Monique, Ithamar,

Ariel, Izabela e Hugo, pela amizade e ajuda prestadas no decorrer do mestrado.

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Ao Sr. Oswaldo pelos cuidados com os animais.

A Capes, pelo incentivo científico e concessão da bolsa de estudos.

Enfim, a todos que me ajudaram de forma direta ou indireta a concluir este trabalho,

meu sincero OBRIGADA!

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“Que os vossos esforços desafiem as impossibilidades,

lembrai-vos de que as grandes coisas do homem foram

conquistadas do que parecia impossível.”

Charles Chaplin

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RESUMO

LINS, L.C.R.F.Avaliação do efeito anticonvulsivante do geraniol e do complexo de inclusão geraniol: -ciclodextrina em camundongos. Dissertação de Mestrado, Núcleo de Pós Graduação em Medicina, Mestrado em Ciências da Saúde- MPGME/UFS, 53 p, 2012. O Geraniol (GR) é um álcool monoterpeno acíclico encontrado em óleos essenciais de várias plantas aromáticas utilizadas pela medicina popular brasileira para o tratamento da epilepsia. Contudo não há estudos na literatura abordando os efeitos do GR sobre o Sistema Nervoso Central(SNC), especialmente seu potencial efeito anticonvulsivante. Este estudo buscou investigar o efeito anticonvulsivante do GR e do complexo de inclusão GR: -ciclodextrina (GR: -CD) em modelos animais de convulsão induzidos por pentilenotetrazol(PTZ) ou estricnina(EST). Inicialmente, camundongos Swiss machos foram pré-tratados, agudamente, com GR ou GR: -CD nas doses de 50, 100 e 200mg/kg, i.p., 30 minutos antes da aministração do PTZ. A latência para a primeira convulsão e a frequência de convulsões e morte foram observados durante 15 minutos após o estímulo convulsivante. Os resultados mostraram que o pré-tratamento com GR na dose de β00mg/kg e com GR: -ciclodextrina nas doses de 100 e 200mg/kg aumentaram significativamente a latência para a primeira convulsão e reduziram a porcentagem dos animais que convulsionaram. Os procedimentos foram repetidos no modelo de convulsão induzido por EST, porém apenas os efeitos do pré-tratamento com GR foram avaliados e não foram observados efeitos significativos do GR neste modelo. Os resultados demonstram que o GR possui um efeito anticonvulsivante, possivelmente mediado por mecanismos gabaérgicos, e que a encapsulação do GR em -CD potencializou este efeito, provavelmente pelo aumento da biodisponibilidade do GR.

Descritores: ciclodextrina; efeito anticonvulsivante; epilepsia; geraniol; monoterpeno.

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ABSTRACT

LINS, L.C.R.F. Evaluation of anticonvulsant effect of geraniol and inclusion complex geraniol: -cyclodextrin in mice. Dissertação de Mestrado, Núcleo de Pós Graduação em Medicina, Mestrado em Ciências da Saúde- MPGME/UFS, 53 p , 2012.

Geraniol (GR) is an acyclic monoterpene alcohol component of essential oils of several aromatic plants used by Brazilian folk medicine for the treatment of epilepsy. However, there are no studies in literature that report effects of GR on Central Nervous System, specifically its potential anticonvulsant effect. The aim of this study was to investigate the anticonvulsant effect of GR and of inclusion complex GR: -cyclodextrin (GR: -CD) in animal models of epilepsy induced by Pentilenotetrazole (PTZ) or Strychnine (STR). Initially, mice Swiss male were pretreated, acutely, with GR or GR: -CD at doses of 50, 100 or 200mg/kg, i. p., 30 minutes before of PTZ administration. The latency of first convulsion and the frequency of convulsion and death were observed for a period of 15 minutes after the administration of convulsant stimuli. The results showed that pre-treatment with GR at dose of 200mg/kg and with GR: -CD at doses of 100 and 200mg/kg significantly increased the latency of first convulsion and reduced the frequency of animals that convulsed. The procedures were repeated in STR-induced convulsion model, however only the effects of pretreatment with GR were evaluated and no significant effect of GR were observed in this model. The results indicate that GR has an anticonvulsant effect, possibly mediated by GABAergic mechanisms, and the encapsulation of GR in -CD improved this effect, probably by increase of bioavailability of GR.

Key-words: anticonvulsant effect; cyclodextrin; epilepsy; geraniol; monoterpene.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CDs- ciclodextrinas

DAEs- drogas antiepilépticas

DMAPP- dimetilalil difosfato

DZP- diazepam

DXP- via da deoxyxylulose phosphat

EST- estricnina

Fig. - figura

GABA- ácido gama-amino-butírico

GPP- pirofosfato de geranil

GR- Geraniol

ILAE- International League against Epilepsy

i.p. – via intraperitoneal

IPP- isopentenil difosfato

OE- Óleo essencial

OECw- Óleo essencial de Cymbopogon winterianus

OEOb- Óleo essencial de Ocimum basilicum

OEs- Óleos Essenciais

PIC- picrotoxina

PTZ- pentilenotetrazol

rpm- rotações por minuto

SNC- Sistema Nervoso Central

VAM- via do ácido mevalônico

WHO- World Health Organization

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Unidade de isopreno ........................................................................................... 22

Figura 2. Formação de monoterpenos a partir do GPP ...................................................... 23

Figura 3. Estrutura química do geraniol ............................................................................. 24

Figura 4. Estrutura tronco-cônica das ciclodextrinas ......................................................... 27

Figura 5. Associação entre CD e a molécula hóspede ....................................................... 27

para formar o complexo de inclusão

Figura 6. Estrutura química da α, e -CDs ..................................................................... 29

Figura 7. Camundongo Swiss albino .................................................................................. 32

Figura 8. Administração de drogas via intraperitoneal ...................................................... 34

Figura 9. Efeitos do GR sobre a latência para as convulsões .............................................. 38

induzidas por PTZ

Figura 10. Efeitos do complexo de inclusão GR: -CD ..................................................... 39

sobre a latência para as convulsões induzidas por PTZ

Figura 11. Efeitos do GR sobre a latência das .................................................................... 40

convulsões induzidas por EST

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Principais modelos animais de epilepsia ..................................................................... 21

Tabela 2. Efeitos do GR sobre a incidência de convulsões ......................................................... 37

induzidas por PTZ

Tabela 3. Efeitos do complexo de inclusão GR: -CD ................................................................. 38

sobre a incidência de convulsões induzidas por PTZ

Tabela 4. Efeitos do GR sobre a incidência de ............................................................................ 40

convulsões induzidas por EST

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 13

2 REVISÃO DA LITERATURA ..................................................................................... 15

2.1. Considerações gerais sobre a Epilepsia ....................................................................... 15

2.1.1 Modelos animais de Epilepsia ................................................................................... 19

2.2 Óleos essenciais com atividade anticonvulsivante ....................................................... 21

2.3 Monoterpenos com atividade anticonvulsivante ........................................................... 23

2.3.1 Geraniol ...................................................................................................................... 24

2.4 Ciclodextrinas ................................................................................................................ 26

β.4.1 -Ciclodextrina ........................................................................................................... 29

3 OBJETIVOS ................................................................................................................... 31

4 MATERIAL E MÉTODOS ........................................................................................... 32

5 RESULTADOS ............................................................................................................... 37

6 DISCUSSÃO ................................................................................................................... 41

7 CONCLUSÃO ................................................................................................................ 44

8 PERSPECTIVAS ........................................................................................................... 45

REFERÊNCIAS ................................................................................................................ 46

ANEXO A- Declaração do CEPA .................................................................................... 53

ANEXO B- Comprovante de submissão .......................................................................... 54

do artigo científico

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1 INTRODUÇÃO

A epilepsia é um distúrbio neurológico grave, considerado uma das condições

patológicas mais sérias e prevalentes do mundo. Acomete 1% da população mundial, o que

equivale a aproximadamente 50 milhões de pessoas, entre homens e mulheres do todas as

faixas etárias e grupos étnicos (WHO, 2005). No Brasil, estima-se que cerca de 1 milhão de

pessoas são afetadas por epilepsia, das quais 380 mil não tem tratamento adequado

(NORONHA et al, 2007).

A epilepsia é definida como uma tendência para a ocorrência de crises epilépticas

espontâneas e recorrentes, resultantes de uma atividade elétrica neuronal excessiva e anormal.

As crises epilépticas podem ser caracterizados por alterações dos níveis de consciência,

distúrbios autonômicos, movimentos involuntários anormais, alterações cognitivas e

distúrbios do comportamento (FISHER, 2005). Estes sintomas, muitas vezes, provocam

impactos negativos na vida dos indivíduos acometidos por epilepsia, provocando uma

diminuição da sua qualidade de vida e exclusão social.

Estudos demonstram que o risco de desenvolvimento e a prevalência de muitas

doenças psiquiátricas e somáticas são maiores em indivíduos com epilepsia. Estima-se que a

mortalidade global destes indivíduos é duas ou três vezes superior à da população geral

(FERREIRA; TABOSA e SILVA, 2009; GAITATZIS et al, 2004).

Atualmente, os mecanismos envolvidos na fisiopatologia das crises epilépticas ainda

não estão claros e a epilepsia permanece sem cura. Por isso, as estratégias farmacológicas

convencionais são direcionadas para reduzir a frequência ou inibir a propagação das crises

epilépticas. As drogas antiepliepticas (DAEs) atuais apresentam limitada eficácia e

frequentemente causam efeitos adversos, o que compromete a adesão dos pacientes ao

tratamento. Aproximadamente 30% dos pacientes epilépticos não conseguem controlar suas

crises com as drogas clinicamente disponíveis (LOSCHER, 2002; WAHAB, 2010).

Por se tratar de uma doença crônica de alta prevalência e incidência, o tratamento da

epilpsia resulta em altos custos econômicos, diretos e indiretos, fato que se torna preocupante

em países em desenvolvimento, onde os recursos para a saúde são limitados (BEGLEY;

BEGHI, 2002).

Nos últimos anos, o maior objetivo das pesquisas relacionadas à epilepsia tem sido

desenvolver novas DAEs com maior eficácia e menor toxicidade que as drogas atualmente

disponíveis, e que tenham menor custo econômico. Sendo assim, tem-se observado um grande

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interesse dos pesquisadores nos aspectos químicos e farmacológicos de compostos extraídos

de plantas medicinais, especialmente das plantas aromáticas, as quais apresentam várias

atividades farmacológicas sobre o Sistema Nervoso Central (SNC). Estas atividades são

atribuídas, geralmente, aos Óleos Essenciais (OEs) e/ou seus constituintes químicos,

principalmente aos monoterpenos que representam os compostos predominantes na

constituição destes óleos (ALMEIDA et al., 2011).

Os monoterpenos são compostos encontrados em diversas espécies de plantas

aromáticas utilizadas pela medicina popular para o tratamento de muitas patologias que

acometem o SNC, tais como ansiedade, depressão e epilepsia. Estudos pré-clínicos têm

demonstrado a atividade anticonvulsivante de vários monoterpenos (PASSOS et al, 2009).

O Geraniol é um álcool monoterpeno presente na composição de OEs de várias plantas

aromáticas utilizadas pela medicina popular brasileira para o tratamento da epilepsia. No

entanto, até o momento, não há estudos na literatura descrevendo os efeitos do GR sobre o

SNC, especialmente demonstrando sua possível ação anticonvulsivante.

Neste contexto, o presente estudo teve como objetivo investigar o possível efeito

anticonvulsivante do Geraniol em modelos animais de convulsão e avaliar se a sua

encapsulação em -ciclodextrina alterava este efeito, baseando-se no fato que o geraniol é

uma molécula pouco solúvel em água e as ciclodextrinas são utilizadas para aumentar a

solubilidade de moléculas hidrofóbicas. Estudos comportamentais e farmacológicos deste tipo

permitirão identificar uma ação central do GR e fornecerão informações que podem contribuir

para o desenvolvimento de uma nova droga capaz de reduzir ou inibir os principais sintomas

da epilepsia.

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2 REVISÃO DA LITERATURA

2.1 Considerações gerais sobre a Epilepsia

O termo epilepsia deriva do grego epilambaneim, que significa ser tomado, ser

possuído. Os relatos mais antigos de epilepsia são observadas em um texto médico conhecido

como Sakikku (Todas as doenças), encontrado na Babilônia e escrito há mais de 3.000 anos.

Os babilônicos acreditavam que as crises epilépticas eram provocadas pela invasão do corpo

por demônios, sendo a epilepsia associada a uma doença espiritual (KINNIER WILSON;

REYNOLD, 1990).

Relatos sobre crises epilépticas são observados no Papiro de Smith, documento escrito

por volta de 1.700 a.C no Egito Antigo. Manuscritos mais recentes, como os textos bíblicos

também citam a ocorrência de manifestações semelhantes a crises convulsivas, geralmente

associadas à possessão demoníaca (GOLDENBERG, 2010; SILVA; CAVALHEIRO, 2004).

Atualmente, ainda existem crenças e mitos na sociedade de que a epilepsia é derivada

de uma possessão demoníaca e este pensamento tem contribuido para o aumento do

estigmatização dos pacientes epilépticos, excluindo estes indivíduos e seus familiares da

sociedade (MIN; SANDER, 2003).

O conceito de epilepsia como uma desordem neurológica foi definido por Hipócrates

por volta de 400 anos a.C., o qual afirmou que a epilepsia não tinha origem sobrenatural, mas

era um distúrbio do cérebro, com possível origem hereditária (MOREIRA, 2004).

Segundo a International League against Epilepsy (ILAE), a epilepsia é um distúrbio

neurológico caracterizado por uma predisposição do cérebro a gerar crises epilépticas e pelas

conseqüências neurobiológicas, cognitivas, psicossociais e sociais da condição. Não é uma

doença única mas uma variedade de desordens decorrentes de uma disfunção da atividade

elétrica do cérebro que podem resultar de diferentes causas (FISHER, 2005).

A epilepsia afeta aproximadamente 50 milhões de pessoas em todo o mundo, o

equivalente a 1% da população mundial. Sua prevalência na populaçaõ em geral é estimada

entre 5 e 10 casos por 1.000 pessoas. Aproximadamente 80% dos indivíduos acometidos por

esta patologia estão nos países em desenvolvimento, onde em algumas áreas 80 a 90% dos

individuos não recebem nenhum tipo de tratamento (BELL; SANDER, 2001; WHO, 2005).

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A incidência global da epilepsia é de aproximadamente 50 casos por 100.000 pessoas

por ano nos países desenvolvidos, enquanto que nos países em desenvolvimento varia de 100

a 190 casos por 100.000 pessoas por ano. A incidência é maior em pessoas com menos de 2

anos de idade e naquelas com mais de 65 anos (BELL; SANDER, 2001; GOLDENBERG,

2010).

Nas últimas décadas, tem-se observado nos países industrializados uma diminuição da

incidência de epilepsia nas crianças e um aumento simultâneo nos idosos. As causas para

estas mudanças ainda não são totalmente esclarecidas. No entanto, a redução da incidência

nas crianças pode ser explicada pela adoção de estilos de vida mais saudáveis pelas gestantes,

melhora dos serviços pré-natais e dos programas de imunização o que leva a uma redução

dos fatores de risco associados a lesões SNC. Nos idosos, o aumento da incidência pode estar

relacionado ao aumento da sobrevivência após doenças cerebrovasculares, consideradas o

fator de risco mais comum para epilepsia em pessoas com mais de 60 anos de idade

(SANDER, 2003)

No Brasil, poucos estudos epidemiológicos sobre a epilepsia foram desenvolvidos. É

definido como epilepsia ativa, a ocorrência de pelo menos uma crise epiléptica durante os dois

anos anteriores à pesquisa, e epilepsia inativa quando o indivíduo permance livre de crises

durante este período. Em 1986, Marino e colaboradores realizaram um estudo na cidade de

São Paulo, onde verificaram uma taxa de prevalência de epilepsia de 11,9/1000, não tendo

sido diferenciados as formas de epilepsia ativa e inativa. Fernandes e colaboradores (1992)

encontraram uma prevalência de 16,5/1000 para epilepsia ativa e 20,3/1000 para epilepsia

inativa em Porto Alegre. No estudo realizado por Borges e seus colaboradores (2004) na

cidade de São José do Rio Preto, a prevalência de epilepsia foi de 18,6/1000, sendo de

8,2/1000 para a epilepsia ativa.

A prevalência de epilepsia observada no Brasil é semelhante com a de outros países da

América Latina, tais como a Bolívia que apresentou uma prevalência estimada em 12,3/1000

(NICOLETTI et al, 2005) e o Equador com prevalência entre 12,2 e 19,5/1000 (PLACENCIA

et al, 1992).

De acordo com o Ministério da Saúde, a epilepsia está entre as principais causas de

hospitalização no Brasil, e foi responsável por mais de 40 mil hospitalizações por ano no

início da década de 90. Doenças parasitárias como a neurocisticercose, lesões cerebrais

perinatais e tramautismo craniano estão entre os principais fatores de risco que levam a

epilepsia (LI et al, 2007).

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A disfunção neurológica aguda da epilepsia é denominada de crise epiléptica, a qual é

resultante de uma atividade elétrica anormal excessiva e hiperssincrônica de neurônios no

cérebro que está associada a um desequilíbrio entre eventos excitatórios e inibitórios, movido

em direção à excitação. A crise epiléptica pode manifestar-se através de alterações sensoriais,

motoras, vegetativas, emocionais ou cognitivas, o que vai depender da área cerebral envolvida

(COMISSION, 1989; FISHER, 2005; GOLDENBERG, 2010).

No entanto, o evento mais dramático de alguns tipos de epilepsia é a convulsão, que

consiste em um episódio de contração muscular anormal e excessiva, usualmente bilateral,

que pode ser mantida ou interrompida, e está associado à atividade hiperssincrônica e

repetitiva de um grupo de neurônios localizados no cérebro (BLUME et al, 2001).

Em 1981, a ILAE propôs uma classificação para as epilepsias baseada nas

características clínicas e eletroencefalográficas (EEG) de suas crises epilépticas. Esta

classificação dividiu as crises em três grupos: parcial (focal), generalizada e não classificável

(COMISSION, 1981).

As crises parciais tem início em apenas um hemisfério cerebral, e são divididas em

parcial simples ( sem alteração da consciência ou memória), parcial complexa (com alteração

da consciência e memória) e generalizada secundária (iniciam como crise parcial e evolui para

crise generalizada) (FISHER, 2010).

As crises epilépticas generalizadas atingem os dois hemisférios cerebrais

simultaneamente e são divididas em crises de ausência (Petit Mal), tônica, clônica,

mioclonica, atonica e tonico-clônica(Grand Mal) (COMISSION, 1981).

Crises de ausência consistem em breves episódios de comprometimento da

consciência, que duram cerca de 10 a 30 segundos, acompanhados por alterações motoras

discretas como tremores palpebrais. Crises tônicas caracterizam-se por uma contração

muscular mantida por alguns segundos que pode estar ou não acompanhada por perda da

consciência. Crises clonicas são caracterizadas pela ocorrência de contração muscular seguida

de relaxamento, originando abalos musculares sucessivos. As crises mioclônicas consistem

em contrações muculares súbitas muitos breves que se assemelham a choques. As crises

atonicas são caracterizadas por perda ou redução súbita do tônus mucular postural. E as crises

tonico-clônica iniciam com perda súbita de consciência e atividade tônica seguido de

atividade clônica dos membros (FISHER, 2010; YACUBIAN, 2002).

Uma crise epiléptica pertence ao grupo das crises não classificáveis quando uma

descrição adequada não é disponível (COMISSION, 1981).

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As crises epilépticas parciais representam aproximadamente 60% de todas as

epilepsias, as crises parciais complexas representam 40% e as parciais simples os 20%

restantes. A epilepsia do lobo temporal é o tipo de mais comum de epilepsia focal que atinge

os adultos, sendo responsável por 40% de todos os tipos de epilepsia nesta população,

podendo se manisfestar como parcial complexa ou parcial simples. As crises generalizadas

representam aproximadamente 40% de todas as epilepsias, 20% são crises tonico-clônicas,

10% crises de ausência e os outros tipos correspondem aos 10% restantes (FISHER, 2010;

LOSCHER, 1998; TEIXEIRA; SALGADO, 2004).

As epilepsias podem ser classificadas em três categorias de acordo com sua etiologia:

sintomática, idiopática e criptogênica. A epilepsia é do tipo sintomática quando resulta de

uma lesão cerebral identificada; idiopática quando a causa não é conhecida, geralmente

associada a fatores genéticos; e criptogência quando suspeita-se da causa mas esta não é

identificada através dos exames clínico e complementares disponíveis (COMISSION, 1989).

A identificação do tipo específico da crise epiléptica é muito importante, porque os

mecanismos envolvidos na sua gênese variam entre os diferentes tipos de crise, e esta

classificação permite focar a abordagem de diagnóstico em uma fator etiológico particular.

Desta forma, uma classificação correta do tipo de crise permite a seleção da terapia

medicamentosa adequada, além de fornecer informações essenciais para o prognóstico do

paciente (GOLDENBERG,2010; PERUCCA, 2005).

Apesar dos avanços na pesquisa sobre os aspectos da etiologia e fisiopatologia da

epilepsia, ainda não se conhece os mecanismos específicos que produzem as crises

epilépticas. Na ausência do conhecimento destes mecanismos, o tratamento farmacológico

para a epilepsia está voltado para o controle dos sintomas, ou seja, a prevenção ou supressão

das crises epilépticas (LOSCHER, 2002).

A administração crônica de drogas antiepilépticas ou anticonvulsivantes (DAEs)

ainda é o tratamento de escolha para a epilepsia. Atualmente, existem vários tipos DAEs,

incluindo as drogas de primeira geração (fenitoína, carbamazepina, fenobarbital , ácido

valpróico e diazepam) e as de segunda geração (lamotrigina, vigabatrina, gabapentina,

topiramato e levetiracetam). As DAEs de primeira geração produzem mais efeitos adversos

quando comparadas as drogas de segunda geração, no entanto, estas últimas são mais caras

que as primeiras, o que limita o seu uso pela população com baixo poder econômico

(GOLDENBERG, 2010; WAHAB, 2010).

Os principais objetivos da terapia com DAEs são: eliminar ou reduzir ao máximo as

crises epilépticas, evitar os efeitos adversos associados ao tratamento a longo-prazo, ajudar os

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pacientes a manter ou restabelecer suas atividades psicossociais e vocacionais, e

proporcionar-lhes um estilo de vida normal (GOLDEMBERG, 2010).

Embora os mecanismos de ação das diversas DAEs não estejam totalmente elucidados,

a maioria das drogas clinicamente eficazes atuam através dos seguintes mecanismos: bloqueio

dos canais de sódio dependentes de voltagem, aumento da neurotransmissão inibitória

mediada pelo GABA ou redução da neurotransmissão excitatória mediada pelo glutamato

(PERUCCA, 2005).

Infelizmente, as DAEs atualmente disponíveis apresentam eficácia limitada e o seu

uso acarreta um risco aproximado de 30% para o desenvolvimento de efeitos adversos após o

início do tratamento. Frequentemente produzem efeitos adversos tais como sedação, fadiga,

ataxia, problemas cognitivos, hepatoxicidade, teratogênese, pancreatite e distúrbios

psiquiátricos, os quais são uma barreira para o tratamento da epilepsia, pois consistem em um

dos principais motivos que levam os pacientes a abandonarem a terapia medicamentosa

(GOLDEMBERG, 2010; WAHAB, 2010).

Além dos efeitos adversos, muitas pessoas acometidas por epilepsia enfrentam

também o fenômeno da farmacorresistência e são refratários as DAEs. Pelo menos 30% dos

pacientes não tem controle de suas crises apesar de uma terapia medicamentosa adequada. A

probabilidade de recorrência das crises epilépticas pode variar entre os pacientes e depende do

tipo de crise e da existência de outras patologias associadas (LOSCHER; SCHIMIDT, 2002;

WAHAB, 2010).

Desta forma, estudos tem sido conduzidos com o objetivo de desenvolver novas

drogas com alta eficácia anticonvulsivante, menor toxicidade e melhor segurança, capazes de

proporcionar uma melhor qualidade de vida as pessoas acometidas por epilepsia (LOSCHER,

2002). Nos últimos anos, tem se observado um aumento do número de estudos que utilizam

modelos animais de convulsão na busca de novos compostos com potencial efeito

anticonvulsivante.

2.1.1 Modelos animais de Epilepsia e Convulsão

A avaliação do potencial anticonvulsivante de um composto não pode ser realizado

diretamente na clínica. A descoberta e o desenvolvimento de novas drogas dependem muito

dos estudos pré-clínicos que utilizam modelos animais para avaliar a eficácia e a segurança

das drogas antes de testá-la em humanos (FISHER, 1989; LOSCHER, 2011).

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20

A maioria dos modelos animais utilizados na investigação da epilepsia são modelos de

convulsão em vez de modelos de epilepsia. Isto pode ser explicado pelo fato que a epilepsia é

caracterizada por crises epilépticas espontâneas e recorrentes, e alguns testes induzem apenas

uma crise convulsiva aguda após a aplicação de um estímulo químico ou elétrico em animais

normais não-epilépticos, portanto não podem representar um modelo de epilepsia. Por outro

lado, existem modelos verdadeiros de epilepsia, os quais utilizam animais geneticamente

modificados com crises epilépticas espontaneas e recorrentes, que reproduzem alterações mais

estreitamente relacionadas a epilepsia humana do que os modelos que induzem apenas uma

crise aguda. Estes modelos experimentais podem resultar em crises convulsivas agudas ou

crises convulsivas recorrentes, sendo classificados em modelos agudos e crônicos,

respectivamente (LOSCHER, 2011).

O melhor modelo experimental é aquele capaz de reproduzir com fidelidade o

fenêomeno a ser estudado. Um modelo animal é considerado ideal para se estudar a epilepsia

quando o mesmo representa características fenomenológicas e patofisiológicas semelhantes a

epilepsia humana, isto é, demonstrar presença de atividade epileptiforme nos registros

eletroencefalográficos e reproduzir clinicamente uma atividade semelhante àquelas

observadas durante uma crise epiléptica humana (MELLO et al, 1986).

Os modelos animais de epilepsia e de convulsão tem contribuido bastante para o

conhecimento dos mecanismos envolvidos na fisiopatologia da epilepsia bem como para o

desenvolvimento de novas DAEs. Com exceção dos brometos e do fenobarbital, os efeitos

anticonvulsivantes de todas as DAEs de primeira e segunda geração foram determinados

inicialmente em modelos animais. Atualmente, estes modelos ainda são o pré-requisito mais

importante para a pesquisa pré-clínica e o desenvolvimento de novas DAEs (LOSCHER,

2002).

A descoberta de novas DAEs exige uma triagem de um grande número de compostos,

desta forma, os modelos animais devem ser de fácil execução, com tempo e custos mínimos, e

devem apresentar uma previsão da atividade clínica (LOSCHER, 2011).

Conhecendo a heterogeineidade da epilepsia humana, a complexidade dos fenótipos

das crises epilépticas e dos mecanismos envolvidos, supõe-se que apenas um modelo é

insuficiente para a investigação do potencial terapêutico de uma DAE. Desta forma, podemos

supor a explicação para a variedade de modelos experimentais utilizados para estudar tal

fenômeno (SMITH et al, 2007). Diante de tal variedade, a escolha do modelo a ser utilizado

depende dos objetivos da pesquisa. Na tabela 1, estão descritos alguns dos modelos

experimentais e suas relações com os tipos de epilepsia humana.

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Tabela 1. Principais modelos animais de epilepsia.

MODELO EXPERIMENTAL TIPO DE EPILEPSIA SITUAÇÃO

Estimulação química

Estricnina (1900) Crises com foco cortical Agudo

Pentilenotetrazol (1960) Pequeno mal e crises generalizadas Agudo

Picrotoxina (1960) Epilepsias do lobo temporal Agudo e crônico

Bicuculina (1970) Epilepsia de longa duração Agudo e crônico

Pilocarpina (1983) Epilepsia do lobo temporal Agudo e Crônico

Estimulação elétrica

Eletrochoque (1870) Epilepsia focal Agudo

Abrasamento (1969) Crises parciais e generalizadas,

pequeno mal e auras Agudo e crônico

Modelos genéticos

Crise audiogênica em camundongo (1924)

Crises tônico-clônicas Agudo

Fotossensibilidade genética (1966)

Crises centro-encefálicas Agudo

Entre parênteses, o ano em que o modelo foi desenvolvido. Fonte: Adaptado de Queiroz et al (2002) e Turski et al (1983).

2.2 Óleos essenciais com atividade anticonvulsivante

O desenvolvimento de novas drogas é caro e arriscado, por isso, pesquisadores e a

indústria farmacêutica tem buscado na natureza compostos com potencial terapêutico. O

Brasil é um país com uma imensa biodiversidade e com uma localização geográfica

privilegiada, e constitui um importante celeiro para a busca de novas substâncias de interesse

biológico (PINTO et al, 2002).

Diversas plantas são reconhecidas por atuarem sobre o SNC e tem sido utilizadas

pelos humanos desde os tempo primitivos para o tratamento e cura de doenças que acometem

o SNC. A história das plantas medicinais utilizadas para tratar as convulsões é coincidente

com a história da medicina bem como com a própria história da civilização. As plantas com

atividade anticonvulsivante são aquelas capazes de controlar as convulsões decorrentes de

várias condições, inclusive da epilepsia ( CARLINI, 2003; CHAUHAN et al, 1988).

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O grupo das plantas aromáticas destaca-se entre as plantas medicinais e são

amplamente estudadas devido a seu grande potencial terapêutico, inclusive pelo seu potencial

anticonvulsivante. O uso farmacológico destas plantas são atribuídos principalmente a

presença de OEs, os quais consistem em uma mistura complexa de compostos naturais

voláteis, formados pelo metabolismo secundário de plantas aromáticas, que podem ser

extraídos de várias partes da planta. São caracterizados por um forte odor e conhecidos por

suas propriedades terapêuticas (ALMEIDA et al 2003, 2011; BAKKALI et al 2008).

Algumas plantas aromáticas tem sido utilizadas pela medicina popular para o

tratamento da epilepsia e isto tem conduzido o desenvolvimento de vários estudos

farmacológicos que buscam avaliar a propriedade anticonvulsivante dos seus OEs

(ALMEIDA et al, 2011).

Estudos pré-clínicos demonstraram que os OEs de Laurus nobilis (SAYYAH et al,

2002), Ocimum basilicum (OLIVEIRA et al, 2009), Myristica fragrans (WAHAB et al,

2009), Cymbopogon citratus (BLANCO et al, 2009; SILVA et al, 2010), Cymbopogon

winterianus (QUINTANS-JÚNIOR et al, 2008; SILVA et al, 2010), Bunium persicum

(MANDEGARY et al, 2012) exibiram atividade anticonvulsivante em diferentes modelos

animais de epilepsia.

O efeito anticonvulsivante dos OEs pode ser atribuído a variedade dos compostos

químicos que os constituem, principalmente aos terpenos, seus constituintes majoritários

(ALMEIDA et al, 2011).

Os terpenos são substâncias derivadas de unidades de isopreno (C5), uma molécula de

hidrocarboneto simples (Fig.1). O termo “terpeno” refere-se geralmente a uma substância

composta apenas de hidrogênio e carbono, enquanto que o termo “terpenóide” refere-se ao

terpeno que foi modificado, por exemplo, pela adição de oxigênio. Os terpenos são

classificados de acordo com a quantidade de unidades de isopreno (C5)n que os compõe em:

hemiterpenos (C5), monoterpenos (C10), sesquiterpenos (C15), diterpenos (C20) e triterpernos

(C30) ( ZWENGER; BASU, 2008).

Figura 1. Unidade de isopreno Fonte: Dewick, 2002

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Na medicina popular, plantas contendo derivados terpênicos têm sido usadas devido a

suas propriedades sedativas, ansiolíticas e anticonvulsivantes. Os OEs extraídos destas plantas

são constituídos basicamente de monoterpenos, o que nos sugere que seus efeitos

farmacológicos podem ser atribuídos principalmente a esta classe de terpenos (SOUZA et al,

2006).

2.3 Monoterpenos com atividade anticonvulsivante

Monoterpenos (C10) são substâncias compostas por duas unidades de isopreno. A

biossíntese dos monoterpenos deriva da combinação de dimetilalil difosfato (DMAPP) e

isopentenil difosfato (IPP), via enzima prenil transferase, formando uma molécula de

pirofosfato de geranil (GPP). A DMAPP e IPP são as unidades de isopreno bioquimicamente

ativas e podem ser derivadas de duas vias, da via do ácido mevalônico - VAM ou da via

deoxyxylulose phosphate – DXP (DEWICK, 2002). O GPP uma vez formado, pode sofrer

modificações em sua estrutura e originar vários monoterpenos com cadeia linear encontrados

nos OEs (Fig.2) , sendo então considerado como precursor dos monoterpenos (DEWICK,

2002).

Figura 2. Formação de monoterpenos a partir do GPP.

Fonte: Dewick, 2002.

Geranial (óleo de limão) Citronelal (óleo de citronela)

Citronelol (óleo de rosa) Geraniol (óleo de gerânio)

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Os monoterpenos representam aproximadamente 90% das moléculas que constituem

os OEs e possuem uma grande variedade estrutural, compreendendo compostos de diferentes

funções como hidrocarbonetos, alcóois, aldeídos ou estérs (BAKKALI et al, 2008). Os

monoterpenos apresentam várias atividades farmacológicas sobre o SNC, tais como

ansiolítica, antinociceptiva, sedativa e anticonvulsivante (PASSOS et al, 2009).

Nos últimos anos, estudos pré-clínicos, utilizando diferentes modelos animais de

epilepsia, têm demonstrado a atividade anticonvulsivante de vários monoterpenos: o linalol

(ELISABETSKY et al, 1995), citronelol (SOUSA et al, 2006), (+)-carvona (SOUSA et al,

β007), α, -epoxy-carvona (ALMEIDA et al, 2008) , citronelal (MELO et al, 2011), carvacrol,

borneol e citral (QUINTANS-JÚNIOR et al, 2010) . Estes resultados demonstram que os

monoterpenos podem ser moléculas candidatas para serem utilizadas no desenvolvimento de

novas DAEs.

2.3.1 Geraniol

O geraniol (GR) é um álcool monoterpeno acíclico (Fig.3), com fórmula molecular

C10H18O, também conhecido como 3,7-dimethyl-2,6-octadien-1-ol. É derivado do GPP

(Fig.2), cuja biossíntese pode ser realizada através da VAM ou DXP (CHEN; VILJOEN,

2010).

Figura 3.Estrutura química do geraniol. Fonte: Dewick, 2002.

O GR é um monoterpeno constituinte dos OEs de várias plantas, dentre as quais

podem ser citadas Cymbopogon winterianus (QUINTANS-JÚNIOR et al., 2008; SILVA et

al., 2010), Cymbopogon martinii (SCHERER et al, 2009), Ocimum basilicum (OLIVEIRA et

al, 2009) e Rosa damascena (RAKHSHANDAH; HOSSEINI, 2006).

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O GR aparece como um óleo amarelo pálido, insolúvel em água e solúvel na maior

parte dos solventes orgânicos. Está presente nas flores de muitas espécies e em tecidos

vegetativos de muitas ervas, frequentemente co-existindo com o geranial e o neral, que são

produtos de sua oxidação (CHEN; VILJOEN, 2010). Apresenta um odor agradável de rosa, o

que justifica seu amplo uso na preparação de perfumes, shampoos, sabonetes, bem como na

preparação de produtos não-cosméticos como detergentes e produtos de limpeza

(LAPCZYNSKI et al, 2008). Além de sua utilização na preparação de fragrâncias, estudos

tem demonstrado que o GR exibe várias propriedades farmacológicas e bioquímicas.

Pesquisas tem evidenciado que o GR é um eficaz repelente de insetos e um potente

agente antimicrobiano, além de exercer atividades anti-oxidante, anti-inflamatória e atividade

antitumoral em alguns modelos animais de cancer (pancreas, fígado, melanoma, cólon).

Também é utilizado como potencializador natural para melhorar a penetração na pele do

diclofenaco de sódio, 5-fluorouracil e da sulfadiazina (CHEN; VILJOEN, 2010).

Efeitos cardiovasculares também são atribuídos ao GR. Um estudo de Menezes e

colaboradores (2010) evidenciou um efeito cardiovascular do OE de Cymbopogon

winterianus (OECw), cuja análise cromatográfica demonstrou a presença de 40,6% de GR.

Quando administrado por via intravenosa, o OECw induziu um efeito hipotensor associado a

um efeito de vasorrelaxamento que não foi alterado pela administração de L-NAME e

indometacina. Estes resultados estão de acordo com o estudo de Azarmi e colaboradores

(2009), no qual foi investigado o efeito vascular do GR na artéria aorta isolada de ratos e

observou-se um efeito relaxante que não foi alterado pela administração de L-NAME e

indometacina, sugerindo uma atividade relaxante independente dos mediadores do endotélio.

Até o momento, não há estudos na literatura relatando os efeitos do GR sobre o SNC,

porém alguns trabalhos tem demonstrado que OEs que apresentam o GR como um dos seus

principais constituintes exercem atividade sobre este sistema, incluindo a atividade

anticonvulsivante.

Um estudo realizado com o OE extraído das folhas do Ocimum basilicum(OEOb)

identificou o GR (12,95%) como um dos principais constituintes do óleo. Os resultados

demonstraram que administração i.p. aguda deste OE promoveu um aumento do tempo de

sono induzido pelo tiopental sódico e da latência das convulsões induzidas por PTZ e PIC,

mas não pela EST. Portanto, estes dados sugerem que o OECb, que contem GR, possui

propriedade depressiva sobre o SNC e efeito anticonvulsivante em roedores (OLIVEIRA et

al., 2009).

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Em 2008, Quintans-Júnior e colaboradores avaliaram o efeito do OE extraído das

folhas Cymbopogon winterianus Jowitt (Poaceae)- OECw sobre o SNC e seu possível efeito

anticonvulsivante. A análise fitoquímica do OECw demonstrou que o GR foi o constituinte

majoritário, perfazendo uma porcentagem de 40,6% da composição do óleo. Os resultados

comportamentais demonstraram que a administração i.p. aguda do OECw promoveu uma

atividade depressiva sobre o SNC e foi capaz de aumentar a latência das convulsões induzidas

pelo PTZ, PIC e EST, sugerindo uma atividade anticonvulsivante, a qual pode ser mediada

por mais de um mecanismo de neurotransmissão, possivelmente mecanismos gabaergicos e

glicinérgicos.

Em um estudo realizado por Silva e colaboradores (2010), o GR também apareceu

como um dos contituintes majoritários do OECw, representando 19,03% da composição do

óleo. Os dados deste estudo evidenciaram que a administração i.p. deste OECw resultou em

um efeito anticonvulsivante nos modelos de convulsão induzida por PTZ, EST e pilocarpina.

Portanto, os resultados destes estudos justificam o uso de infusões de Cymbopogon

winterianus pela medicina popular para o tratamento da epilepsia.

2.4 Ciclodextrinas

As ciclodextrinas (CDs) são oligossacarídeos cíclicos, compostos por unidades de D-

glicopiranose unidas através de ligações glicosídicas α -1,4, que são derivados da degradação

do amido através da ação enzimática da ciclodextrina glicosil transferase (CGTase). Esta

enzima pode ser produzida pelos microorganismos Bacillus macerans, Bacillus circulans e

também pelo Klebsiella pneumoniae (SALTÃO; VEIGA, 2001).

As CDs foram descritas primeiramente em 1891 por Villiers e caracterizadas como

oligossacarídeos cíclicos por Schandinger em 1904. São moléculas cristalinas, homogêneas,

não-higroscóspicas e se caracterizam por uma conformação espacial do tipo tronco-cônica

(Fig.4). Os grupos hidroxílicos orientam-se para o exterior do cone conferindo-lhe um caráter

externo hidrofílico, onde as hidroxilas secundárias estão posicionadas na extremidade mais

larga e as hidroxilas primárias na extremidade mais estreita do cone. A cavidade central da

CD apresenta um caráter hidrofóbico devido a presença de esqueletos de carbono e oxigênios

etéreos (SALTÃO;VEIGA, 2001; SÁ BARRETO; CUNHA-FILHO, 2008).

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Figura 4: Estrutura tronco-cônica das ciclodextrinas. Fonte: Sá Barreto & Cunha-Filho, 2008

A conformação estrutural das CDs é responsável por sua solubilidade aquosa e pela

capacidade de encapsular moléculas hidrofóbicas no interior de sua cavidade. A incorporação

de moléculas hóspedes na cavidade da CD, formando um complexo de inclusão, tem sido a

base para sua aplicação farmacêutica (DAVIS; BREWSTER, 2004).

A CDs são capazes de formar complexo de inclusão com uma grande variedade de

compostos, propriedade que depende de alguns fatores. O requisito mínimo é estérico, é

necessário que o tamanho e morfologia da molécula hóspede seja compatível com a cavidade

da CD, ainda que parcialmente, para que possa se adaptar no interior da cavidade (Fig.5). A

polaridade, solubilidade aquosa e capacidade de ionização da molécula hóspede também

interferem na formação do complexo (DELL VALLE, 2004; SÁ BARRETO; CUNHA-

FILHO, 2008).

Figura 5. Associação entre CD e a molécula hóspede para formar o complexo de inclusão.

Fonte: Davis & Brewster, 2004.

CD Molécula hóspede

Complexo de inclusão- 1:1

CD Molécula hóspede

Complexo de inclusão- 1:2

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A forças motrizes que favorecem a formação e aumentam a estabilidade do complexo

de inclusão incluem ligações de hidrogênio, interações eletrostáticas de Vander Walls e

interações hidrofóbicas, bem como a liberação de energia resultante da substituição das

moléculas de água com elevada entalpia por moléculas hóspedes de menor entalpia (LYRA et

al, 2010).

A interação da CD com a molécula hóspede altera significativamente algumas

propriedades físico-químicas desta última. Estas alterações incluem modificações na

reatividade química do substrato, fixação de substâncias muito voláteis, aumento da

solubilidade de compostos, estabilização de substâncias sensíveis à luz, calor e oxidação,

proteção da degradação de substâncias por microorganismos, entre outras (VENTURINI et al,

2008).

Na indústria farmacêutica, as CDs são utilizadas devido a sua capacidade de aumentar

a solubilidade aquosa e biodisponibilidade de fármacos pouco solúveis ou insolúveis em água,

melhorar a estabilidade das moléculas hóspedes, prolongar a liberação de substâncias ativas e

reduzir a toxicidade de algumas drogas (LOFTSSON ; DUCHÊNE, 2007; RASHED et al,

2008). A inclusão de substâncias tóxicas em CDs pode proteger a mucosa gástrica e reduzir

lesões na pele após a administração de substâncias por via oral ou tópica, respectivamente

(DELL VALLE, 2004).

As CDs funcionam como verdadeiros carreadores, promovendo a liberação de

fármacos nas membranas biológicas. As CDs mantêm as moléculas hidrofóbicas da droga em

sua cavidade e as entrega para a superfície da membrana biológica onde o complexo é

desfeito. A superfície da membrana lipofílica tem baixa afinidade pela superfície hidrofílica

das moléculas de CDs e isto faz com que elas permaneçam no exterior da membrana

biológica. Portanto, as CDs promovem um aumento da penetração de drogas através das

membranas biológicas pelo aumento da disponibilidade destas drogas na superfície da

membrana (DEL VALLE, 2004).

As CDs naturais mais comuns são as α, e -CDs que possuem seis, sete e oito

unidades de D-glicopiranose, respectivamente (Fig.6). A altura da cavidade das CD é a

mesma para os três tipos, enquanto que o número de unidades de D-glicopiranose determina o

diâmetro interno da cavidade e o volume da CD. Portanto, a α-CD é tipicamente usada para

complexar pequenas moléculas com baixo peso molecular (iodo, moléculas alifáticas, p-

nitrofenol,cloranfenicol, mentol, cânfora), a -CD para complexar moléculas de tamanho

médio (complexos aromáticos e heterocíclicos) e a -CD para acomodar moléculas grandes

como esteróides (DELL VALE, 2004; WOUESSIDJEWE; DUCHÊNE, 1994).

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Fig.6. Estrutura química da α, e -CDs Fonte: Szejtli, 2004.

2.4.1 β-Ciclodextrina

Entre as três CDs naturais, a -CD é a mais utilizada na indústria farmacêutica para a

complexação de várias classes de fármacos. Nos últimos anos, o mercado mundial da -CD

tem aumentado e um crescente desenvolvimento de complexos de inclusão entre a -CD e

algumas drogas tem sido observado, tornando esta CD um importante excipiente farmacêutico

(LOFTSSON; MASSON, 2001; WOUESSIDJEWE; DUCHÊNE, 1994).

A -CD é a mais utilizada devido a sua acessibilidade e capacidade de complexação

Em geral, a toxicidade da -CD administrada por via oral é quase nula, devido a ausência de

sua absorção pelo trato gastrointestinal. Em alguns países, é considerada um excipiente

farmacêutico não tóxico para uso oral. Alguns derivados da -CD como a hidroxipropil- -

CD(HP -CD) e a maltosil- -CD parecem ser susceptíveis para administração parenteral,

bem como para a administração oral, devido a ausência de toxicidade observada em estudos

com animais (LOFTSSON; MASSON, 2001).

Outras propriedades da -CD incluem: sua capacidade de se ligar ao colesterol; é

menos irritante que a α-CD após injeção intramuscular; é metabolizada pelas bactérias do

cólon e do cecum não sendo metabolizadas no trato intestinal superior; e atualmente é a CD

mais comum empregada nas formulações farmacêuticas e, provavelmente, a melhor estudada

em humanos (DEL VALLE, 2004).

Pesquisadores da Universidade Federal de Sergipe-UFS têm desenvolvido estudos

com o objetivo de produzir novas formulações com -CD e substâncias isoladas de plantas

medicinais para o tratamento de diferentes patologias. Recentemente, em 2011, o professor

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Dr. Márcio Viana e seus colaboradores aprovaram uma patente sobre Complexos de Inclusão

de Geraniol e beta-Ciclodextrina, Método de Obtenção e Atividade Antihipertensiva do

Geraniol e Seus Complexos, que tem como objetivo desenvolver uma nova formulação para o

tratamento da hipertensão. Um estudo realizado pelo mesmo grupo, foi recentemente

publicado e descreveu a caracterização físico-química do complexo de inclusão entre -CD e

GR (MENEZES et al, 2012).

Dados parciais sobre o efeito do complexo de inclusão entre -CD e GR sobre o SNC,

foram apresentados no IV Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e

Inovação Tecnológica e resultou no Prêmio em Desenvolvimento Tecnológico na área da

saúde. Sendo assim, podemos observar que os estudos desenvolvidos com a -CD estão

proporcionando resultados promissores, que podem em um futuro próximo, contribuir para a

produção de novas formulações terapêuticas.

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3 OBJETIVOS

3.1 Objetivo Geral

Contribuir para o conhecimento dos efeitos farmacológicos do GR sobre o SNC, e

desta forma, fornecer subsídios científicos para a utilização do GR no desenvolvimento

de uma nova droga anticonvulsivante.

3.2 Objetivos Específicos

Investigar o efeito anticonvulsivante do GR em modelos animais de convulsão;

Identificar os mecanismos envolvidos na ação do GR sobre o SNC, avaliando a sua

ação sobre o sistema gabaérgico;

Avaliar se a encapsulação do GR em -ciclodextrina altera o efeito farmacológico

deste monoterpeno.

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4 MATERIAL E MÉTODOS

4.1 Animais

Foram utilizados camundongos Swiss machos (Fig.7), pesando entre 25-35g, com 2-3

meses de idade, provenientes do Biotério Central da Universidade Federal de Sergipe (UFS).

Os animais foram alojados no Biotério Setorial do Departamento de Fisiologia da UFS, em

gaiolas de propileno de tamanho 30cm x 40cm x 17cm com assoalho coberto por serragem,

sob condições controladas de luz (fase claro/escuro de 12 horas) e temperatura (22ºC ±2ºC),

com livre acesso a comida (Purina) e água, por um período de três dias antes dos

procedimentos experimentais.

Figura 7. Camundongo Swiss albino Fonte: http: // pt.photo.com

4.2 Drogas

As drogas utilizadas nos experimentos foram: pentilenotetrazol, estricnina, geraniol

98% (GR, lote 9446LJ-498) e -ciclodextrina compradas na Sigma Chemical Company (St

Louis,MO,USA), monoleato de polioxietilenossorbitano (Tween 80) e diazepam(DZP)

compradas na Synth (Brasil) e Roche (Brasil), respectivamente.

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33

4.3 Obtenção e caracterização do complexo de inclusão GR: β-CD

A preparação do complexo de inclusão GR: -CD foi realizada no Laboratório de

Ensaios Farmacêuticos e Toxicidade - LeFT da UFS, sob supervisão do Professor Doutor

Adriano Antunes de Souza Araujo. Foi utilizado o método de suspensão, realizado através da

adição de água a um béquer contendo 1.135g de -CD e 154mg de GR, na razão molar 1:1.

Esta mistura foi submetida à agitação magnética em 400 rpm, por 36 horas (Quimis Q

261A21, Brazil). Em seguida, a mistura foi aquecida a 70° C por duas horas no mesmo

dispositivo, transferidas para um almofariz de ágata e secas em um dissecador com pressão

reduzida (MENEZES et al, 2012).

A comprovação da formação e caracterização do complexo de inclusão GR: -CD

foram demonstradas no estudo de Menezes et al (2012) através dos métodos calorimetria

exploratória diferencial, termogravimetria/termogravimetria derivada, análise de Karl Fisher,

microscopia eletrônica de varredura e espectroscopia de infravermelho por transformada de

Fourier.

4.4 Procedimentos Gerais

As sessões experimentais foram realizadas entre 8:00 e 13:00 horas. Na noite anterior

aos experimentos, os animais foram levados ao Laboratório de Neurofisiologia da UFS, onde

permaneceram em jejum, sendo mantida apenas água ad libitum, até o final dos

procedimentos. Todos os experimentos foram realizados em um sala isolada com som

atenuado, controle de temperatura, luminosidade e exaustão de ar, na qual nenhuma outra

atividade estava sendo realizada no momento das avaliações comportamentais. Todos os

animais foram aclimatados antes dos experimentos e cada animal foi avaliado apenas uma

vez.

O GR foi dissolvido em solução salina 0,9% e 2 gotas de monoleato de

polioxietilenossorbitano (Tween 80® a 0, 2%, Synth, Brasil). O complexo de inclusão GR:

-CD foi dissolvido em solução salina 0,9%. O DZP foi utilizado como controle positivo e a

solução salina 0,9% (com ou sem Tween 80® a 0, 2%) como controle negativo. Todas as

drogas foram administradas por via i.p. a um volume final de 0,1ml/10g de peso corporal do

animal (Fig.8).

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Os procedimentos experimentais utilizados seguiram os princípios éticos estabelecidos

pelo Sociedade Brasileira de Ciência em Animais de Laboratório (SBCAL) e foram

aprovados pelo Comité de Ética em Pesquisa Animal da UFS (CEPA/UFS) sob número de

protocolo 84/2011 (Anexo A).

Figura 8. Administração de drogas via intraperitoneal Fonte: http://www.ahwla.org.uk

4.5 Avaliação da atividade anticonvulsivante

4.5.1 Modelo de convulsão induzida por PTZ

O modelo de convulsão induzida por PTZ é um dos modelos mais utilizados na

pesquisa por novas DAEs. O PTZ é um agente convulsivante quando administrado por via

parenteral. Inicialmente produz convulsões mioclonicas, que se tornam sustentadas e podem

evoluir para crises convulsivas tonico-clonicas (FISHER, 1989). O mecanismo de ação do

PTZ está associado ao bloqueio seletivo do canal de cloreto ligado ao receptor GABAA, o que

impede a neurotransmissão inibitória mediada pelo GABA e resulta em uma atividade elétrica

excessiva e consequente convulsão (ABBASI et al, 2012).

Neste estudo, o PTZ foi administrado por via i.p. na dose de 60 mg/kg para induzir

convulsões em camundongos (QUINTANS-JÚNIOR et al, 2008). Inicialmente, os animais

foram divididos aleatoriamente em cinco grupos ( 8-12 animais por grupo). O grupo controle

negativo recebeu veículo (salina 0,9% com 2 gotas de Tween 80® a 0, 2%), o grupo

controle positivo recebeu DZP (2mg/kg), enquanto que os outros grupos receberam GR nas

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doses de 50, 100 ou 200mg/kg, por via i.p. Em seguida, os animais foram recolocados em

suas gaiolas de origem e após 30 minutos da administração do GR, DZP ou salina, os animais

receberam uma injeção i.p. de PTZ.

O mesmo procedimento foi adotado para avaliar o efeito anticonvulsivante do

complexo de inclusão GR: -CD. Os animais foram divididos aleatoriamente em 4 grupos (8-

12 animais por grupo), e receberam uma injeção i.p. do complexo de inclusão GR: -CD nas

doses de 50, 100 ou 200mg/kg ou salina (controle), 30 minutos antes da administração do

PTZ.

Logo após a administração do PTZ, os animais foram colocados em caixas individuais

e observados durante 15 minutos. A latência para a primeira convulsão, o número de animais

que convulsionaram e o número de animais que morreram foram anotados (OLIVEIRA et al,

2009; MELO et al, 2011). A capacidade do GR ou do complexo de inclusão GR: -CD de

prevenir ou retardar o início das convulsões foi utilizada como indicador de atividade

anticonvulsivante. Camundongos que não apresentaram convulsões tonico-clonicas durante os

15 minutos de observação após a administração do PTZ foram considerados protegidos

(VASCONCELOS et al, 2007; QUINTANS-JÚNIOR et al, 2008).

4.5.2 Modelo de convulsão induzida por EST

A EST é um alcalóide natural que atua como antagonista competitivo dos receptores

de glicina, resultando em um aumento da excitabilitadade pós-sináptica e da atividade

contínua dos neurônios da medula espinhal e tronco encéfálico (WEB; LYNCH , 2007).O

modelo de convulsão induzida por EST é um dos modelos animais mais utilizados na

investigação do potencial anticonvulsivante de novas drogas e nos fornece informações de

que a droga testada possui atividade anticonvulsivante mediada por um mecanismo diferente

daquele observado no modelo de convulsão induzido por PTZ (FISHER, 1989).

A administração i.p. de EST promove uma redução dos efeitos inibitórios da glicina

sobre o SNC e resulta em convulsões intensas que geralmente levam a morte dos animais.

Neste estudo, a EST foi administrada i.p. na dose de 3mg/kg para induzir convulsões nos

camundongos (OLIVEIRA et al, 2009).

Os animais foram divididos aleatoriamente em quatro grupos (6 animais por grupo),

nos quais foram pré-tratados com GR nas doses de 50, 100 ou 200mg/kg ou salina (grupo

controle) 30 minutos antes da administração i.p. de EST. Após a injeção de EST, eles foram

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colocados em caixas individuais e observados por 15 minutos. A latência para a primeira

convulsão, o número de animais que convulsionaram e o número de animais que morreram

foram anotados. O número de animais que sobreviveram mais de 10 minutos após a injeção

de EST serviu como critério de proteção (QUINTANS-JÚNIOR et al, 2008).

4.6 Análise estatística

Os dados obtidos das latências para a primeira convulsão foram analisados pelo teste

de Kolmogorov-Smirnov para distribuição normal e pelo teste de Bartlett para

homogeineidade de variâncias. Em seguida, foram avaliados por meio da Análise de

Variância (ANOVA) seguido pelo pós teste de Tukey para comparações múltiplas. Os dados

foram representados como média ± Erro Padrão da Média(EPM). A incidência (%) de

convulsões clônicas ou tônico-clônicas bem como a taxa de mortalidade foram avaliadas pelo

Teste Exato de Fisher. A análise estatística dos dados foi realizada pelo software Graph Pad

Prism versão 4.0 e diferenças foram consideradas estatisticamente significativas quando

p<0,05.

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5 RESULTADOS

5.1 Efeitos do GR no modelo de convulsão induzido por PTZ

Como pode ser observado na Tabela 2, o PTZ na dose administrada (60mg/kg, i.p.) foi

capaz de provocar convulsões em 100% dos animais do grupo controle e o pré-tratamento

com o GR na dose de 200 mg/kg reduziu significativamente o número de animais que

convulsionaram (p<0,01). A dose de PTZ administrada não foi capaz de promover alterações

significativas na porcentagem de mortalidade entre os grupos.

Tabela 2. Efeitos do GR sobre a incidência das convulsões induzidas por PTZ .

Tratamento Dose(mg/kg) (%)Convulsão (%)Mortalidade

Salina - 100 18

DZP 2 0b 0

GR 50 100 0

GR 100 75 0

GR 200 50a 0

n=8- 12, por grupo Diferença estatisticamente significativas ap<0,01 e bp<0,001(Teste Exato de Fisher) em relação ao grupo controle.

Na figura 9, observamos que o GR na dose de 200mg/kg (i.p.) aumentou

significativamente ( 645,2 ± 96,27; q=7,793; p<0.001) a latência para as convulsões tonico-

clônicas induzidas por PTZ em comparação com o grupo controle (115,4 ± 13,46), no qual foi

administrado apenas o veículo. O pré-tratamento que o DZP-2mg/kg (900±0,0; q=10,37;

p<0,001), utilizado como controle positivo, protegeu completamente os animais das

convulsões induzidas por PTZ (Tabela 2).

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Salina GR50 GR100 GR200 DZP0

100

200

300

400

500

600

700

800

900

***

***

Latê

ncia

(s)

Figura 9. Efeitos do GR sobre a latência para a primeira convulsão induzida por PTZ (60mg/kg). Os dados estão expressos como média ± EPM (n=8-12 por grupo). Diferença estatisticamente significativa ***p<0,001 (ANOVA seguido pelo pós teste de Tukey) em relação ao grupo controle.

5.2 Efeitos do complexo de inclusão GR:β-CD no modelo de convulsão induzido por PTZ

Como pode ser observado na Tabela 3, a administração do PTZ (60mg/kg, i.p.)

induziu convulsões tonico-clônicas em 100% dos animais do grupo controle. O pré-

tratamento com o complexo de inclusão GR: -CD nas doses de 100mg/kg (p<0,05) e

200mg/kg (p<0,01) reduziu significativamente a porcentagem dos animais que

convulsionaram.

Tabela 3. Efeitos do complexo de inclusão GR: -CD sobre a incidência das convulsões induzidas por PTZ.

Tratamento Dose(mg/kg) (%)Convulsão (%)Mortalidade

Salina - 100 16.6

DZP 2 0a 0

GR: -CD 50 100 0

GR: -CD 100 66,6c 0

GR: -CD 200 50b 0

n=8-12, por grupo Diferença estatisticamente significativa ap<0.001,bp<0,01 e cp<0,05 (Teste Exato de Fisher) em relação ao grupo controle.

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Na figura 10, observamos um aumento significativo da latência para as convulsões

tonico-clônicas induzidas por PTZ quando foi administrado o complexo de inclusão GR: -CD

nas doses de 100 ( 477,3±97,92; q=5,344; p<0,01) e 200mg/kg (608,8±97,25; q=7,279;

p<0,001) em comparação com o grupo controle, no qual foi administrado apenas salina

(113,8±10,52). O DZP-2mg/kg (900±0,0; q=10,34; p<0,001), utilizado como controle

positivo, protegeu todos os animais das convulsões induzidas por PTZ (Tabela 3).

Salina GR:CD50 GR:CD100GR:CD200 DZP0

100

200

300

400

500

600

700

800

900

**

***

***

Latê

ncia

(s)

Figura 10. Efeitos do complexo de inclusão GR: -CD sobre a latência para a primeira convulsão induzida por PTZ (60mg/kg). Os dados estão expressos como média±EPM (n=8-12 por grupo). Diferenças estatisticamente significativas **p<0,01 e ***p<0,001 (ANOVA seguido pelo pós teste de Tukey) em relação ao grupo controle.

5.3 Efeitos do GR no modelo de convulsão induzida por EST

Como pode ser observado na Tabela 4, a administração de EST (3mg/kg, i.p.) induziu

convulsões e morte em 100% dos animais do grupo controle. O pré-tratamento com o GR (50,

100 e 200mg/kg, i.p.) não alterou a porcentagem de convulsões e mortalidade, como também

não modificou (p>0,05) a latência para a primeira convulsão induzida por EST quando

comparado ao grupo controle (Fig.11). Desta forma, pode-se observar que o GR não

promoveu resultado significativo no modelo de convulsão induzido por EST.

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Tabela 4. Efeitos do GR sobre a incidência das convulsões induzidas por EST.

Tratamento Dose(mg/kg) (%)Convulsão Mortalidade (%)

Salina - 100 100

GR 50 100 100

GR 100 100 100

GR 200 100 100

n=6, por grupo

Saline GR50 GR100 GR2000

100

200

Latê

ncia

(s)

Figura 11. Efeitos do GR sobre a latência das convulsões induzidas por EST (3mg/kg Os dados estão expressos como média±EPM (n=6 por grupo).

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DISCUSSÃO

O GR é um monoterpeno álcool prevalente nos OEs de Cymbopogon winterianus-

OECw (QUINTANS-JÚNIOR et al., 2008; SILVA et al., 2010) e Ocimum basilicum-OEOb

(OLIVEIRA et al, 2009), plantas aromáticas utilizadas pela medicina popular para tratamento

da epilepsia.

No entanto, não existem relatos na literatura sobre a eficácia terapêutica do GR no que

concerne ao SNC, principalmente em relação a atividade anticonvulsivante. Diante deste

contexto, o presente estudo buscou avaliar o efeito anticonvulsivante do GR nos modelos de

convulsão induzidos por PTZ e EST, ambos modelos animais clássicos muito utilizados para

o screening de novas drogas com potencial anticonvulsivante.

Nossos resultados demonstraram que o GR na dose de 200mg/kg (i.p.) aumentou

significativamente a latência para as convulsões tônico-clônicas induzidas por PTZ (Fig.9) e

reduziu a porcentagem de animais que convulsionaram, protegendo 50% dos animais das

convulsões (Tabela 2), o que indica um efeito anticonvulsivante do GR no modelo de

convulsão induzido por PTZ. Neste modelo, utilizamos o DZP como droga padrão, o qual

protegeu completamente os animais das convulsões.

Outros monoterpenos como S-(+)-carvona (SOUZA et al, 2007), citronelol (SOUSA et

al, 2006), citronelal (MELO et al, 2011), carvacrol, borneol e citral (QUINTANS-JÚNIOR et

al, 2010) e linalol (ELISABETSKY et al, 1995, 1999), similarmente ao GR, também

demonstraram atividade anticonvulsivante no modelo de convulsão induzido por PTZ.

A indução de convulsões pelo PTZ é atribuída principalmente a inibição dos canais de

íons cloreto associados aos receptores GABAA, o que resulta em uma redução da atividade

inibitória do GABA e desencadeia crises convulsivas generalizadas dos tipos mioclônicas e

tônico-clônicas. O GABA é o principal neurotransmissor inibitório do SNC, e acredita-se que

o comprometimento de sua neurotransmissão está criticamente envolvida na patogênese de

alguns tipos de epilepsia (FISHER, 1989; LOSCHER; SCHMIDIT, 2002).

Drogas que aumentam a neurotransmissão inibitória mediada pelo GABA são capazes

de bloquear ou atenuar as convulsões induzidas por PTZ e, portanto, são consideradas drogas

anticonvulsivantes, a exemplo dos benzodiazepínicos e barbitúricos, como o diazepam e o

fenobarbital, respectivamente (GOLDENBERG, 2010; SMITH, 2007). Neste estudo, pode-se

observar que o GR promoveu uma redução da incidência de convulsões induzidas pelo PTZ e

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aumentou a latência para o ínicio das convulsões, indicando um efeito anticonvulsivante que,

provavelmente, pode ter sido causado pela ativação de mecanismos gabaérgicos.

De acordo com Web e Lynch (2007), a glicina juntamente com o GABA é responsável

por mediar a neurotransmissão inibitória rápida no SNC. A EST é um antagonista competitivo

do receptor de glicina que promove uma redução dos efeitos inibitórios da glicina sobre o

SNC, aumentando a excitabilidade pós-sináptica e a atividade nos neurônios do corno dorsal

da medula espinhal e tronco encefálico, resultando em convulsões intensas que geralmente

levam a morte dos animais. Uma droga agonista do receptor de glicina é potencialmente capaz

de bloquear o efeito convulsivante da EST (MCGARAUGHTY; HENRY, 1998).

Nossos resultados demonstraram que o GR não promoveu efeitos significativos no

modelo de convulsão induzido por EST, pois não foi capaz de prevenir as convulsões nem a

mortalidade nos animais tratados (Tabela 4), como também não alterou a latência das

convulsões induzidas por EST (Fig.11). Portanto, é possível sugerir que o GR não atua sobre

os receptores de glicina, e consequentemente, a neurotransmissão glicinérgica não está

envolvida no mecanismo de ação deste monoterpeno.

De acordo com Lpczynsk et al (2008), o GR é praticamente insolúvel em água e esta

propriedade física pode comprometer sua ação farmacológica. A solubilidade é um dos

parâmetros essenciais para alcançar uma concentração desejada da droga na circulação

sistêmica capaz de produzir um efeito farmacológico (ZAHEER et al, 2011).

Sistemas de formulações tradicionais para drogas insolúveis geralmente envolvem

uma combinação de solventes orgânicos, surfactantes, e condições de pH extremo, que

frequentemente causam irritação ou outras reações adversas. As ciclodextrinas (CDs) não são

irritantes, consideradas substâncias não tóxicas e oferecem várias vantagens que podem ser

exploradas para melhorar a formulação e a eficácia terapêutica de drogas hidrofóbicas (DEL

VALLE, 2004).

As CDs tem sido muito utilizadas pela indútria farmacêutica como excipiente na

formulação de drogas, devido a sua capacidade de aumentar a solubilidade, dissolução,

biodisponibilidade e estabilidade de fármacos poucos solúveis em água (HADARUGA et al.,

2012; MARRETO et al., 2008;RASHEED et al, 2008; SERAFINI et al., 2012).

A -CD é a mais utilizada para a formação de complexo de inclusão com diferentes

classes de drogas. Neste trabalho, buscamos investigar se o complexo de inclusão GR: -CD

era capaz de potencializar o efeito anticonvulsivante do GR, baseando-se no fato que este

monoterpeno apresenta baixa solubilidade aquosa.

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O complexo de inclusão GR: -CD utilizado neste estudo foi o mesmo descrito no

trabalho de Menezes e colaboradores (2012), no qual foram demonstradas, através de

diferentes técnicas, algumas características físico-químicas do complexo que indicaram a

encapsulação do GR pela -CD. A análise térmica das partículas de GR/ -CD revelou

claramente a formação do complexo, demonstrada pela diferença nas curvas da calorimetria

diferencial exploratória ( differential scanning calorimetry-DSC).

Nossos resultados demonstraram que o complexo de inclusão GR: -CD foi capaz de

melhorar a eficácia do GR no modelo de convulsão induzido por PTZ, uma vez que o GR

complexado nas doses de 100 e 200mg/kg (Fig.10) apresentou um efeito anticonvulsivante ao

promover um aumento na latência para as convulsões induzidas por PTZ e reduzir o número

de animais que convulsionaram, quando comparado ao GR puro que apresentou efeito

anticonvulsivante apenas na dose mais alta de 200mg/kg. Estes resultados, nos permite sugerir

que a -CD, possivelmente, aumentou a biodisponibilidade do GR.

As CDs não são hidrolisadas pela -amilase, uma vez que não possuem grupos finais

livres suscetíveis a ação desta enzima, o que resulta em uma diminuição da velocidade de

degradação da molécula encapsulada. Desta forma, o complexo de inclusão promove um

aumento da biodisponibilidade das drogas, permitindo uma redução da concentração da droga

administrada, e consequentemente, uma diminuição dos efeitos colaterais e uma melhora do

seu efeito farmacológico ( DEL VALLE, 2004; SALTÃO; VEIGA, 2001).

Os resultados deste estudo permitem-nos sugerir que o GR puro ou encapsulado em -

CD apresenta efeito anticonvulsivante e pode ser um composto candidato a ser utilizado

futuramente para o desenvolvimento de uma nova droga direcionada ao tratamento da

epilepsia.

Desta forma, a busca de compostos com potencial anticonvulsivante derivados de

plantas medicinais e o estudo do seu mecanismo de ação, associados a técnicas de formulação

de drogas que aprimorem as características benéficas destes compostos, poderão contribuir

para o desenvolvimento de novas estratégias terapêuticas para o tratamento da epilepsia, mais

eficazes e seguras que as terapias atuais.

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7 CONCLUSÃO

O GR apresentou um efeito anticonvulsivante no modelo de convulsão induzido por

PTZ, indicando que este efeito pode estar relacionado direta ou indiretamente ao sistema

gabaérgico. Além disto, a encapsulação do GR em -CD promoveu uma melhora de sua

biodisponibilidade, sendo este efeito sugerido por uma redução da concentração de GR

necessária para provocar o efeito anticonvulsivante.

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8 PERSPECTIVAS

Os resultados obtidos neste estudo servirão de base para a realização de trabalhos

futuros sobre os efeitos do GR no SNC. A próxima etapa a ser cumprida, é avaliar in vivo a

participação do receptor GABAA no efeito anticonvulsivante do GR. Ainda em relação ao

SNC, pretendemos investigar o efeito do GR sobre a atividade eletroencefalográfica e a

excitabilidade do hipocampo de ratos.

Além disso, outras vias de administração devem ser exploradas, bem como outros

ensaios farmacológicos que permitam avaliar outros efeitos GR sobre o SNC, a exemplo dos

efeitos ansiolítico e antidepressivo, baseando-se no fato que patologias como a ansiedade e

depressão são muito comuns em pacientes epilépticos. Testes toxicológicos agudos e crônicos

com o GR também devem ser realizados, a fim de fornecer subsídios que garatam a segurança

de seu uso.

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REFERÊNCIAS

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ALMEIDA, R. N. et al. Anticonvulsant effect of a natural compound α- - epoxy-carvone and its action on the nerve excitability. Neuroscience Letters, v. 443, p. 51–55, 2008. ALMEIDA, R.N. et al. Essential Oils and Their Constituents: Anticonvulsant Activity. Molecules, v.16, p. 2726-2742, 2011. AZARMI, Y.A., MOHAMMADI, A., BABAEI, H., Role of endothelium on relaxant effect of geraniol in isolated rat aorta. Pharmaceutical Science Winter, v. 14, p. 311– 319, 2009.

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ANEXO A- Declaração do CEPA

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ANEXO B- Comprovante de submissão do artigo científico