Síntese de derivados solúveis de β escina e algumas ... · comparativo de solubilidades em...

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS Programa de Pós-Graduação em Tecnologia Bioquímico-Farmacêutica Área de Tecnologia Químico-Farmacêutica Síntese de derivados solúveis de β escina e algumas avaliações físico-químicas e biológicas Carolina de Barros Franco Araújo Dissertação para obtenção do grau de MESTRE Orientador: Prof. Dr. Bronislaw Polakiewicz São Paulo 2008

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UNIVERSIDADE DE SO PAULO FACULDADE DE CINCIAS FARMACUTICAS

Programa de Ps-Graduao em Tecnologia Bioqumico-Farmacutica rea de Tecnologia Qumico-Farmacutica

Sntese de derivados solveis de escina e algumas

avaliaes fsico-qumicas e biolgicas

Carolina de Barros Franco Arajo

Dissertao para obteno do grau de MESTRE

Orientador: Prof. Dr. Bronislaw Polakiewicz

So Paulo 2008

Carolina de Barros Franco Arajo

Sntese de derivados solveis de escina e algumas avaliaes fsico-qumicas e biolgicas

Comisso Julgadora da

Dissertao para obteno do grau de Mestre

Prof. Dr. Bronislaw Polakiewicz

orientador/presidente

____________________________ 1o. examinador

____________________________ 2o. examinador

So Paulo, ____ de ___________ de 2008.

Aos meus pais, por tudo que sou;

ao meu irmo, pela amizade

eterna; ao meu marido, pelo

carinho, pacincia e apoio

incondicionais.

AGRADECIMENTOS

Prof. Dr. Bronislaw Polakiewicz, professor e orientador, pela disponibilidade,

em todos os momentos, e pela confiana depositada.

Prof. Dr. Jayme A. A. Serti, do Laboratrio de Farmacologia e Toxicologia de

Produtos Naturais ICB/USP, pela orientao da metodologia de determinao da atividade antiinflamatria.

Profa. Dra. Marina Franco Maggi Tavares, do Depto. de Qumica Analtica

IQ/USP, por esclarecer e ensinar sobre as anlises de eletroforese.

Guiomar Wiezel, do Laboratrio de Farmacologia e Toxicologia de Produtos

Naturais ICB/USP, pela grande colaborao no trabalho com os animais.

Luiz Antnio Zanolli Filho, do Depto. de Qumica Analtica IQ/USP, pela

realizao das anlises de eletroforese.

Yukiko, por me abrir os caminhos que possibilitaram que este trabalho fosse

realizado.

Aos Funcionrios da FCF o meu agradecimento pela compreenso e

pacincia nas dificuldades encontradas. Aos colegas do Laboratrio de Tecnologia Qumico-Farmacutica (Sntese

Orgnica Aplicada), pela ajuda, sempre que precisei.

Aos amigos e familiares, pela motivao e pacincia.

A todos que, de alguma forma, contriburam para a realizao deste trabalho.

RESUMO

Araujo, Carolina de Barros Franco; Sntese de Derivados Solveis de Escina e Algumas Avaliaes Fsico-Qumicas e Biolgicas. Palavras-chave: Escina, antiinflamatrio, anidrido, solubilidade, efeitos

farmacolgicos

Escina, o principal princpio ativo das sementes da Castanha-da-ndia,

Aesculus hippocastanum (Hippocastanaceae), tem demonstrado evidncias

satisfatrias nas respostas clnicas significativas dos casos de insuficincia venosa

crnica (IVC), hemorridas e edemas ps-operatrios. (SIRTORI C.R., 2001). Suas

caractersticas fsico-qumicas e farmacolgicas permitem seu uso tanto

medicamentoso quanto cosmtico. Como produto de uso farmacutico, possui

grande utilidade e vrias apresentaes, em diferentes formas farmacuticas.

A Escina uma mistura de saponinas, substncias de elevado peso

molecular, formada por uma parte hidrofbica denominada aglicona ou sapogenina e

uma parte hidroflica constituda por um ou mais acares. (TREASE G.E. et al.,

1996). Ocorre na natureza na forma beta, que praticamente insolvel em gua e

em leo. (MARTINDALE, 2003). Por ser praticamente insolvel em gua, sua

manipulao e incorporao em formas farmacuticas lquidas e semi-slidas so

dificultadas. Alm disso, esta caracterstica pode ser responsvel por uma reduo

da sua absoro e conseqente biodisponibilidade.

O trabalho proposto foi a modificao da molcula da Escina, atravs da sua

esterificao, processo qumico que altera a estrutura molecular de uma droga, e

conseqentemente sua farmacocintica. (KOROLKOVAS A. et al., 1988). Atravs da

reao com grupamentos anidridos: ftlico e succnico, aumentamos a solubilidade

dos derivados da Escina em gua, que pde ser verificada atravs do estudo

comparativo de solubilidades em vrios solventes orgnicos, realizado entre as

molculas modificadas e a molcula original.

O resultado deste estudo de solubilidade, aliado aos testes farmacotcnicos

com bases aquosas, nos mostra uma melhora no comportamento dos produtos

desenvolvidos, quando em solventes ou bases aquosas, apresentando-se como

materiais de fcil incorporao, e formulaes finais de maior transparncia.

Atravs de anlise por eletroforese capilar micelar dos derivados

desenvolvidos, pudemos verificar a ocorrncia das reaes com os anidridos

succnico e ftlico, o que confirma a realizao da sntese proposta.

A avaliao por cromatografia em camada delgada teve como objetivo

comparar qualitativamente as molculas desenvolvidas com a molcula original.

Esta anlise confirma as alteraes na Escina de partida.

Para avaliao da eficcia farmacolgica dos produtos desenvolvidos, foi

utilizada a metodologia da dermatite induzida pelo leo de crton, que demonstra o

efeito antiinflamatrio das substncias por comparao entre pesos de orelhas de

camundongos (SERTI J.A.A., et al 1991). O experimento realizado mostrou

resultado satisfatrio quando comparados os efeitos antiinflamatrios produzidos

pelas molculas desenvolvidas e pela molcula original, chegando a apresentar

melhores resultados para os derivados ftlicos.

ABSTRACT

Araujo, Carolina de Barros Franco; Synthesis of Escin Soluble Derivatives and some Physical, Chemical and Biological Analysis.

Key words: Aescin, anti-inflammatory, anidride, solubility, pharmacological effects

Aescin, the major active from Aesculus hippocastanum (Hippocastanaceae),

the Horse-Chestnut tree, has shown satisfactory evidence for a clinically significant

activity in chronic venous insufficiency (CVI), hemorrhoids and post-operative

oedema. (SIRTORI C.R., 2001). Its physico-chemical and pharmacological

characteristics allow both cosmetic and pharmaceutical uses. As a pharmaceutical

product, it has great utility in several presentations, on various pharmaceutical forms.

The Aescin is a mixture of saponins, high molecular weight substances,

composed by a hidrophobic chain, called aglicone or sapogenin, and a hydrophilic

chain, that may contain one or more sugar molecules. (TREASE G.E. et al., 1996). It

occurs as beta form that is practically insoluble in water and oils. (MARTINDALE,

2003). For being practically insoluble in water, its handling and incorporation in liquid

and semi-solid pharmaceutical forms are very difficult. Moreover, this feature can be

responsible for a reduction in their absorption and consequent bioavailability.

The present work has the purpose of doing chemical modifications to the

Aescin molecule. The main chemical reaction used was the estherification, a

chemical process that modifies the molecular structure of a drug, and consequently

its pharmacokinetics. (KOROLKOVAS A. et al., 1988). The reaction with anhydride

groups: phtalic and succinic, increased the solubility of the derivatives, which could

be verified by a comparative study of solubility in various organic solvents, between

the derivatives and the original molecule.

The result of this study and the pharmacotecnic tests show us the improvement

of the derivatives when solved in aqueous bases, showing up an easy incorporation

material, and formulations of greater transparency.

Through micellar capillary electrophoresis analysis of the derivatives developed,

we could verify the occurrence of reactions with succinic and phtalic anhydrides,

which confirms the proposed synthesis.

A thin layer chromatography had the objective of qualitative comparison of

developed molecules and the original. This analysis confirms the changes occurred

at the Aescin.

For pharmacological effectiveness evidence, the chosen methodology was the

croton oil induced dermatitis, which demonstrates the anti-inflammatory effect of the

substances by comparing weight of a tissue, such as ear tissue, of mice. (SERTI

J.A.A. et al., 1991). The experiment conducted showed satisfactory results, when

compared the anti-inflammatory effects produced by the developed molecules and

the original molecule, presenting better results for phtalic derivatives.

SUMRIO

FOLHA DE ROSTO..................................................................................i

FOLHA DE APROVAO.......................................................................ii

DEDICATRIA.......................................................................................iii

AGRADECIMENTOS.............................................................................iv

RESUMO.................................................................................................v

ABSTRACT............................................................................................vii

SUMRIO...............................................................................................ix

LISTA DE ILUSTRAES.....................................................................xi

JUSTIFICATIVA....................................................................................xiii

1 INTRODUO......................................................................................01

1.1 Plantas Medicinais ...............................................................................01

1.1.1 Histrico................................................................................................01

1.1.2 Uso Popular..........................................................................................02

1.1.3 Utilizao Cientfica...............................................................................03

1.1.4 Modificao qumica.............................................................................05

1.2 Castanha da ndia.................................................................................08

1.3 Escina.................................................................................................11

1.3.1 Uso Cosmtico da Escina..................................................................15

1.4 Triterpenos / Saponinas........................................................................16

1.4.1 Biossntese dos Triterpenos / Saponinas..............................................18

1.4.2 Classificao.........................................................................................22

1.4.2.1 Classificao da Molcula da Escina.................................................23

1.4.3 Ocorrncia.............................................................................................24

1.4.4 Propriedades Gerais.............................................................................24

1.4.4.1 Formao de Espuma Estvel..............................................................24

1.4.4.2 Propriedades Biolgicas e Farmacolgicas..........................................24

1.5 Insuficincia Venosa Crnica (IVC)......................................................25

2 OBJETIVOS..........................................................................................28

3 MATERIAIS .E MTODOS...................................................................29

3.1 Materiais ...............................................................................................29

3.1.1 Matrias-primas, Reagentes e Solventes.............................................29

3.1.2 Equipamentos.......................................................................................29

3.1.3 Animais.................................................................................................30

4 PARTE EXPERIMENTAL.....................................................................36

4.1 Sntese Qumica dos derivados............................................................36

4.1.1 Sntese Qumica da succinil escina......................................................36

4.1.2 Sntese Qumica da ftaloil escina..........................................................36

4.2 Determinao da Solubilidade .............................................................37

4.3 Teste em Base Farmacotcnica...........................................................37

4.4 Cromatografia de Camada Delgada.....................................................37

4.5 Eletroforese Capilar..............................................................................38

4.6 Determinao da Atividade Antiinflamatria.........................................38

4.6.1 Tratamento dos Animais.......................................................................38

4.6.2 Atividade antiinflamatria......................................................................39

5 RESULTADOS......................................................................................40

5.1 Sntese Qumica dos derivados solveis da Escina .........................40

5.1.1 Sntese Qumica da succinil escina......................................................40

5.1.2 Sntese Qumica da ftaloil escina..........................................................40

5.2 Determinao da Solubilidade..............................................................41

5.3 Teste em Base Farmacotcnica...........................................................42

5.4 Cromatografia de Camada Delgada.....................................................43

5.5 Eletroforese Capilar Micelar..................................................................44

5.6 Determinao da Atividade Antiinflamatria ........................................46

6 DISCUSSO.........................................................................................47

7 CONCLUSO.......................................................................................49

7.1 Perspectivas Futuras............................................................................49

8 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS......................................................50

9 ANEXOS...............................................................................................55

9.1 ANEXO A - Caractersticas fsico-qumicas dos reagentes e

solventes utilizados............................................................55

9.2 ANEXO B - Currculo Lattes.................................................................66

9.3 ANEXO C - Cpia da Ficha do Aluno...................................................71

9.4 ANEXO D - Cpia do Aval do Comit de tica em

Experimentao Animal...................................................73

LISTA DE ILUSTRAES

FIGURAS

Figura 01 Estrutura qumica da Escina................................................................xiii

Figura 02 Sntese da molcula de butilescopolamina, a partir da escopolamina...05

Figura 03 Sntese da molcula de codena, a partir da morfina..............................06

Figura 04 Sntese da molcula de troxerrutina, a partir da molcula do

rutosdeo...............................................................................................07

Figura 05 Sntese da molcula de dietilestilbestrol dipropionato, a partir

do dietilestilbestrol base........................................................................07

Figura 06 rvore da Castanha da ndia (Aesculus hippocastanum L.)...................08

Figura 07 Frutos (07.01) e Sementes (07.02) da Castanha da ndia

(Aesculus hippocastanum L.)................................................................09

Figura 08 Folhas (08.01) e Casca (08.02) da Castanha da ndia

(Aesculus hippocastanum L.)................................................................10

Figura 09 Estrutura qumica da Escina................................................................12

Figura 10 Mecanismos de ao da Escina...........................................................14

Figura 11 Rota biossinttica que leva aos vrios tipos de agliconas

triterpenides........................................................................................19

Figura 12 Ncleos mais comuns das saponinas triterpnicas ...............................20

Figura 13 Estruturas moleculares de saponinas triterpnicas, derivadas dos

produtos primrios da ciclizao do esqualeno 2,3-epxido ...............21

Figura 14 Tipos de estruturas encontradas nas trs principais classes

de Saponinas........................................................................................22

Figura 15 - Saponinas monodesmosdicas e bidesmosdicas...................................22

Figura 16 Estrutura qumica da Escina................................................................23

Figura 17 Separao terica de alguns ctions......................................................32

Figura 18 Ilustrao esquemtica do princpio de separao por

eletroforese capilar................................................................................34

Figura 19 - Esquema ilustrativo da metodologia de Dermatite Induzida por leo de

Crton para anlise do efeito antiinflamatrio dos derivados solveis da

Escina.................................................................................................35

Figura 20 Esquema da sntese qumica da succinil escina.....................................40

Figura 21 Esquema da sntese qumica da ftaloil escina........................................40

Figura 22 Teste da incorporao dos derivados em bases farmacotcnicas.........42

Figura 22.1 Escina x Ftaloil Escina 1:7................................................................42

Figura 22.2 Escina x Ftaloil Escina 1:3................................................................42

Figura 22.3 Escina x Succinil Escina 1:7..............................................................42

Figura 22.4 Escina x Succinil Escina 1:3..............................................................42

Figura 23 Cromatografia dos derivados ftlico 1:3 e ftlico 1:7..............................43

Figura 24 Cromatografia dos derivados succnico 1:3 e succnico 1:7...................43

Figura 25 Provveis substituies ocorridas nas reaes de esterificao da

Escina original....................................................................................47

GRFICOS

Grfico 01 Eletroforese Capilar Molcula Original Escina..............................44

Grfico 02 Eletroforese Capilar Succinil Escina 1:3.............................................44

Grfico 03 Eletroforese Capilar Succinil Escina 1:7.............................................45

Grfico 04 Eletroforese Capilar Ftaloil Escina 1:3................................................45

Grfico 05 Resposta Inflamatria Dermatite induzida por leo de Crton

em orelha de camundongo...................................................................46

Grfico 06 Mdia e Desvio Padro encontrados na anlise de Dermatite Induzida

por leo de Crton em orelha de camundongo....................................46

TABELAS

Tabela 01 Glicotransferases triterpnicas catalisando a formao dos

3-O-monoglicosdeos............................................................................21

Tabela 02 Flebotnicos ou venotnicos mais utilizados.........................................27

Tabela 03 Estudo comparativo de solubilidade da Escina e dos

seus derivados......................................................................................41

JUSTIFICATIVA

A Escina, com sua estrutura molecular representada na Figura 01, o principal

princpio ativo da rvore da Castanha-da-ndia, o Aesculus hippocastanum

(Hippocastanaceae). Est presente principalmente nas sementes, mas tambm

pode ser encontrada em outras partes, como folhas, cascas e frutos, em menores

concentraes.

Este frmaco, foco do nosso estudo, tem demonstrado evidncias satisfatrias nas

respostas clnicas significativas dos casos de insuficincia venosa crnica (IVC),

hemorridas e edemas ps-operatrios. Em estudos controle, a Escina tem

demonstrado ser to eficaz quanto as terapias de compresso nos tratamentos

alternativos da insuficincia venosa crnica (IVC). (SIRTORI C.R., 2001)

Figura 01 Estrutura qumica da Escina Os benefcios teraputicos tm suporte em uma srie de experimentos com modelos

animais, indicativos de propriedades antiinflamatrias, venotnicas e

antiedematosas, relacionadas principalmente ao mecanismo de ao molecular do

ativo, que permite a entrada de ons aos capilares, aumentando o tnus venoso,

tanto in vivo, quanto in vitro. Outro mecanismo, a liberao de prostaglandinas

PGF2 dos capilares, antagonista do 5-HT e da histamina, que reduz o catabolismo

dos mucopolissacardeos teciduais, tem destacado os vrios mecanismos de

atuao da Escina e suas atividades teraputicas. A alta tolerncia Escina

sugere indicaes teraputicas definitivas com benefcios clnicos para pacientes

com condies clnicas que resultam em insuficincia venosa crnica (IVC),

hemorridas e formao de edemas perifricos (FERRUCCIO B. et al., 1977)

Pelo menos trs tipos de ao farmacodinmicas foram atribudas Escina:

propriedades anti-edematosas, atividade antiinflamatria e propriedades

venotnicas. Todas estas propriedades se devem a um mecanismo molecular

identificado como permeabilidade vascular seletiva, que permite uma maior

sensibilidade dos canais de clcio aos ons, resultando em um aumento do tnus

venoso e arterial. (SIRTORI C.R., 2001).

A Escina age tambm como antioxidante inibindo a colagenase e a elastase

enzimticas, tornando os tecidos e estruturas de suporte da pele mais saudveis.

Outro uso citado para a Escina, devido aos seus mecanismos, em formulaes

cosmticas para celulite.

Tais propriedades propiciam seu uso tanto medicamentoso quanto cosmtico, oral e

tpico.

A Escina uma mistura de saponinas. Ocorre na natureza na forma beta, que

praticamente insolvel em gua. (MARTINDALE, 2003). O elevado nmero de

hidroxilas leva formao de ligaes de hidrognio fortes entre grupos hidroxilas

intra- e inter-moleculares, impedindo sua solubilizao em gua.

um frmaco de grande utilidade e com vrias apresentaes, em diferentes formas

farmacuticas, como flebotnicos e estimulantes da circulao sangunea. Por ser

praticamente insolvel em gua, sua manipulao e incorporao em formas

farmacuticas lquidas e semi-slidas muito dificultada.

Alm disso, o fato da Escina ser praticamente insolvel em gua sua absoro e

biodisponibilidade podem ficar reduzidas. Um dos fatores que afetam diretamente a

absoro dos frmacos a sua solubilidade, pois h a mistura mais efetiva da

substncia na fase aquosa do stio de absoro. Frmacos em solues aquosas

so mais rapidamente absorvidas do que aquelas em solues oleosas, suspenses

ou formas farmacuticas slidas. (GILMAN A.G. et al., 2001)

A esterificao da Escina o ponto de partida para o desenvolvimento de

tecnologia para obteno de derivados da molcula com melhores aplicaes

farmacotcnicas e farmacolgicas. A esterificao de uma molcula altera sua

estrutura molecular, e conseqentemente sua farmacocintica. (KOROLKOVAS A.

et al., 1988). uma reao qumica de condensao de cidos carboxlicos com

lcoois, que resulta na formao de steres. (SOLOMONS T.W.G. et al., 2005). Tal

reao reduz o nmero de hidroxilas ligados aos acares da Escina, e, conforme

explicado anteriormente, melhora sua solubilizao em gua. Atravs da introduo

de grupamentos anidridos (ftlico e succnico), aumentamos a solubilidade das

molculas e conseqentemente sua absoro e biodisponibilidade.

Anlises instrumentais, eletroforese capilar micelar e cromatografia de camada

delgada, foram realizadas para evidenciar a sntese proposta. Para avaliao da

eficcia farmacolgica dos produtos desenvolvidos, foi utilizada a metodologia da

dermatite induzida pelo leo de crton. (SERTI J.A.A. et al., 1991), e sua

solubilidade pde ser avaliada nos testes de determinao da solubilidade e testes

em bases farmacotcnicas.

Baseado nas justificativas descritas, o trabalho realizado prope o desenvolvimento

de derivados solveis da Escina. Ao propor a modificao qumica da Escina

original, espera assim, auxiliar no aprimoramento de tcnicas de produo de

medicamentos e cosmticos que utilizam este ativo, ampliando o acesso e

facilitando o uso de seus produtos finais.

1

1 - INTRODUO

1.1 - Plantas Medicinais

1.1.1 Histrico A utilizao das plantas como medicamento provavelmente seja to antiga

quanto o aparecimento do prprio homem. A necessidade do homem em criar

medicamentos para curar ou aliviar seus males, partiu de princpios experimentais

de contato direto com a natureza.

A evoluo da arte de curar possui numerosas etapas, porm, torna-se difcil

delimit-las com exatido, j que a medicina esteve por muito tempo associada a

prticas mgicas, msticas e ritualsticas.

A preocupao com a cura de doenas, ao longo da histria da humanidade,

sempre se fez presente.

Embora a medicina egpcia se apoiasse muito em elementos mgicos e

religiosos, sabe-se que j eram utilizados por exemplo o sene, as sementes do linho,

o rcino e muitas outras plantas.

Na cultura chinesa, clebre a obra denominada Pent-Sao constituda por

vrios livros onde existem referncias a numerosos frmacos, entre os quais a

efedra, que s entrou na teraputica dos povos de cultura ocidental, j em finais do

sculo XIX.

Os povos helnicos deram importante contribuio, ao receberem dos persas

produtos orientais, e tiveram grandes mdicos como Hipcrates, o pai da medicina

e Galeno, criador de algumas das formas farmacuticas precursoras das atuais, que

ainda hoje so usadas.

Durante a Idade Mdia h uma parada, e at mesmo um retrocesso na

evoluo da Arte de Curar. Somente alguns chamados ungentos maravilhosos

eram preparados por magos. Alguns produtos vegetais considerados mgicos

citados: a mandrgora, a arruda e at o alho.

Porm, foi neste perodo, que Paracelso (1493-1541) chamou a ateno para

o fato de que os medicamentos poderiam ser tanto teis quanto prejudiciais.

Os rabes quebraram esta estagnao teraputica. Eles dominaram o comrcio

do oceano ndico e os caminhos das ndias e da frica, e com isso, tiveram acesso a

2

muitas plantas dessas regies, tais como o ruibarbo, a cnfora, a canela, o sndalo,

a noz moscada e o cravinho.

Os europeus comearam ento suas viagens para a frica, ndia e Amricas, e,

a partir do contato com os ndios, o charlatanismo e o empirismo da medicina e da

farmcia da Idade Mdia cederam lugar experimentao, e novos frmacos foram

sendo introduzidos na teraputica.

No sculo XVI os Jesutas foram responsveis pela divulgao dos

medicamentos usados pelas populaes indgenas do Brasil. O padre Jos de

Anchieta citou a ao emtica da ipecacuanha e as propriedades anti-spticas e

cicatrizantes do blsamo copaba. Ao padre Ferno Cardim deve-se a divulgao de

outras plantas, como o jaborandi, o estramnio e o aloe. Alm destes, a casca da

quina comeou a ser utilizada no combate ao paludismo, e as folhas de coca, to

conhecidas dos incas como euforizantes e estimulantes, comearam a ter seu uso

divulgado.

No entanto, somente em finais do sculo XVIII, se comeou a isolar e

determinar a estrutura dos constituintes ativos dos produtos de origem natural

dotados de propriedades medicinais.

No final do sculo XIX a teoria chave-fechadura de Emil Fischer forneceu

explicao racional sobre o modo de ao dos frmacos, inclusive os fitoterpicos.

(CUNHA A.P.; DI STASI L.C., 1996; KOROLKOVAS A. et al., 1988) 1.1.2 - Uso Popular

Toda planta que administrada ao homem ou animal exercendo sobre eles

uma ao farmacolgica denominada de planta medicinal.

As plantas medicinais sempre foram objeto de estudo na tentativa de descobrir

novas fontes de obteno de princpios ativos. Os alquimistas, na tentativa de

descobrir o "elixir da vida eterna", contriburam e muito na evoluo da arte de curar.

No Brasil, o conhecimento das propriedades medicinais das plantas, dos

minerais e de certos produtos de origem animal uma das maiores riquezas da

cultura indgena. Uma sabedoria tradicional que passa de gerao em gerao.

Os ndios preparam seus remdios com plantas retiradas da floresta,

pedindo permisso me natureza e realizando rituais para purificao do corpo e

3

da alma, da mesma forma como os benzedores, curandeiros e xams, com o

conhecimento herdado dos magos e feiticeiros do passado.

Os ndios denominam de esprito inteligente o que hoje, graas aos estudos

farmacolgicos, sabe-se que nada mais do que o princpio ativo, produzido pelos

vegetais.

Um exemplo do uso destes remdios pelos ndios o curare, mistura de

ervas guardada em sigilo pelos ndios e usada na ponta das flechas como veneno

para imobilizar a presa. Causa paralisia dos msculos interferindo na transmisso de

impulsos nervosos entre o nervo e o msculo, impedindo a contrao muscular, e

conseqentemente provocando morte por asfixia. Por volta de 1940, seu princpio

ativo foi isolado, o d-tubocurarine, e hoje utilizado por indstrias farmacuticas na

produo de relaxantes musculares e anestsicos cirrgicos.

A evoluo e o uso de plantas medicinais pelo homem esto associados

sua evoluo antropolgica, da poca em que era um simples nmade at tornar-se

um espcime sedentrio. Com a fixao de moradia, surgiram as mais variadas

necessidades e outras se acentuaram, assim, o uso ficou comprovado atravs da

experimentao, observao e necessidade, atravs de erros e acertos.

Atravs dos dados fornecidos pela Organizao Mundial de Sade (OMS),

constata-se que o uso de plantas medicinais pela populao mundial tem sido muito

significativo nos ltimos anos, sendo que este uso tem sido incentivado pela prpria

OMS, que, em 1978, reconheceu a importncia das plantas medicinais e das

preparaes galnicas na cura de doenas, recomendando a difuso mundial do

conhecimento da fitoterapia.

(CUNHA A.P.; DI STASI L.C., 1996; SOARES B.G. et al., 2007) 1.1.3 - Utilizao Cientfica

Alm do metabolismo primrio, as plantas produzem tambm substncias

resultantes do metabolismo secundrio. Este metabolismo secundrio se diferencia

do primrio, basicamente por no apresentar reaes e produtos comuns maioria

das plantas, sendo portanto especfico de determinados grupos.

4

Os compostos secundrios podem ter utilidade para o homem, medicinal ou

txica e, para a planta, existe uma interao com o ambiente no sentido de proteo

contra predadores, auto-defesa ou como atrativo de polinizadores.

Plantas aromticas so assim denominadas pois armazenam leos essenciais

em clulas secretoras individuais ou formando estruturas como dutos ou canais,

tricomas glandulares e outras. Tais estruturas secretoras podem encontrar-se

distribudas por todo o vegetal.

Apesar de muitas plantas serem teis ao homem, existem algumas que

produzem substncias que exercem efeitos txicos e por isso so denominadas de

plantas txicas ou venenosas.

O emprego de plantas medicinais na recuperao da sade tem evoludo ao

longo dos tempos, desde as formas mais simples de tratamento local,

provavelmente utilizada pelos homens das cavernas, at as formas

tecnologicamente sofisticadas da fabricao industrial utilizada pelo homem

moderno.

As novas tendncias globais de preocupao com a biodiversidade e as idias

de desenvolvimento sustentvel trouxeram novos ares aos estudos de plantas

medicinais brasileiras, que acabaram despertando um interesse geral na fitoterapia.

A busca por novos fitoterpicos vislumbra a prospeco de potenciais produtos

naturais de uso farmacolgico.

O emprego correto das plantas para fins teraputicos requer o uso de plantas

selecionadas por sua eficcia e segurana teraputicas, cientificamente validadas

como medicinais.

Considera-se validada, a planta que respondeu positivamente aplicao de

um conjunto de ensaios capazes de comprovar a existncia da propriedade

teraputica que lhe atribuda. Este o caminho para que se possa fazer o correto

aproveitamento das plantas medicinais e seus derivados. Levando-se em conta as

plantas j validadas, temos hoje medicamentos bem difundidos, e com evidncias

clnicas positivas, como por exemplo para gastrite (espinheira santa, alcauz), dor e

reumatismo (erva baleeira, curcuma), bronquite (guaco, poejo), ansiedade e insnia

(passiflora, melissa), dor de cabea (gengibre, tanaceto) entre outros.

(CUNHA A.P.; DI STASI L.C., 1996; LORENZI H. et al. 2002)

5

1.1.4 - Modificao qumica A modificao qumica de produtos fitoterpicos uma prtica comum no

estudo da fitoteraputica. Tais procedimentos podem propiciar melhorias ao produto,

tanto farmacotcnicas quanto farmacolgicas. No aspecto farmacolgico, as

melhorias ocorrem aprimorando os efeitos teraputicos, melhorando sua

biodisponibilidade e/ou reduzindo os efeitos colaterais.

Existe ainda o aspecto econmico. A modificao molecular de frmacos

propicia a produo mais econmica de frmacos, ou ainda, frmacos mais

potentes, que, podendo ser utilizados em menores doses, se tornam mais

econmicos para o usurio final.

Alguns exemplos podem ser citados:

A escopolamina um alcalide extrado de vrias solanceas: Datura fastuosa,

D. metel, Hyoscyamus niger, Duboisia myoporoides. (KOROLKOVAS A. et al.,

1988).

A reao da escopolamina com butilbrometo, em presena de acetonitrila,

resulta na molcula de butilbrometo de escopolamina (KLEEMANN A. et al., 1978).

A reao demonstrada na Figura 02 uma adio molecular, processo de

associao molecular que consta da sntese e ensaio de anlogos mais complexos

do prottipo. A adio molecular a associao de grupamentos diferentes

mediante formao de ligaes fracas, como a atrao eletrosttica ocorrida nesta

reao (KOROLKOVAS A. et al., 1988). A adio do butilbrometo molcula

original, reduz significativamente sua toxicidade. (MERK, 2001)

Figura 02 Sntese da molcula de butilescopolamina, a partir da escopolamina

A morfina um dos alcalides isolados das sementes imaturas da papoula,

Papaver somniferum. (KOROLKOVAS A. et al., 1988).

EEssccooppoollaammiinnaa BBuuttiillbbrroommeettoo BBuuttiillbbrroommeettoo ddee eessccoollppoollaammiinnaa

AAcceettoonniittrriillaa

6

A substituio de um hidrognio na posio 3, pela reao da morfina com

cloreto de trimetilfenilamnio e metanol, em presena de hidrxido de potssio (pH

bsico), resulta na molcula da codena, conforme demonstrado na figura 03.

(KLEEMANN A. et al., 1978).

O bloqueio da hidroxila fenlica resulta na diminuio da ao depressora no

SNC e aumento da ao antitussgena e anticonvulsivante. (KOROLKOVAS A. et al.,

1988).

Figura 03 Sntese da molcula de codena, a partir da morfina

Outro exemplo que pode ser citado a troxerrutina, hemosttico derivado da

rutina, substncias do grupo da vitamina P, com atividade clssica na capilaridade e

resistncia de microvasos. (VIDAL CONDE W., 2001)

Sua sntese, a partir da molcula do rutosdeo, se d pela adio de cloroetanol

molcula original, em meio bsico. (KLEEMANN A. et al., 1978).

A modificao da molcula do rutosdeo para sntese da troxerrutina melhora

sua estabilidade fsico-qumica, uma vez que o rutosdeo se oxida facilmente em

presena de luz, e uma substncia higroscpica, caractersticas melhoradas na

molcula da troxerrutina. Alm disso, 1g do rutosdeo dissolve em 8 litros de gua,

enquanto a troxerrutina se apresenta solvel em gua. (MERK, 2001) A sntese da

troxerrutina est demonstrada na Figura 04.

MMoorrffiinnaa CCooddeennaa

CClloorreettoo ddee TTrriimmeettiillffeenniillaammnniioo

7

Figura 04 Sntese da molcula de troxerrutina, a partir da molcula do rutosdeo

Nos esterides, tambm se observa a modificao qumica de molculas. Um

exemplo a sntese do dietilestilbestrol propionato, partindo do dietilestilbestrol

base, a partir da reao deste com anidrido propinico, em presena da piridina,

conforme Figura 05. (KLEEMANN A. et al., 1978).

A carga eletrosttica de uma molcula ionizada atrai dipolos de gua e leva a

um complexo polar, relativamente solvel em gua e insolvel em lipdeos. A difuso

lipdica depende da lipossolubilidade relativamente alta, portanto, a ionizao das

molculas de frmacos pode reduzir acentuadamente sua capacidade de permear

membranas. (KATZUNG B.G, 1998).

Figura 05 Sntese da molcula de dietilestilbestrol dipropionato, a partir do dietilestilbestrol base

DDiieettiilleessttiillbbeessttrrooll ((33,,44--BBiiss-- [[44--hhiiddrrooxxii--ffeenniill]]--33--hheexxeennoo))

AAnniiddrriiddoo PPrrooppiinniiccoo

DDiieessttiilleessttiillbbeessttrrooll--ddiipprrooppiioonnaattoo

PPiirriiddiinnaa

RRuuttoossddeeoo

TTrrooxxeerrrruuttiinnaa

22--CClloorrooeettaannooll

8

1.2 - Castanha da ndia

A Castanha da ndia (Aesculus hippocastanum L.) uma planta nativa do Ir,

Norte da ndia, Sul da sia, Sudeste da Europa e Estados Unidos. tambm muito

cultivada em parques, jardins e ruas de grandes cidades. Sua rvore pode ser vista

na Figura 06. As partes da planta utilizadas na medicina so as sementes (Figura

07.02) e as cascas (Figura 08.02) de galhos jovens. A fruta da Castanha da ndia

(Figura 07.01) como uma cpsula pequena, arredondada e espinhosa, cuja casca

se torna grossa medida que ela amadurece. A fruta contm em seu interior de

duas a quatro grandes sementes. Estas sementes so arredondadas e lisas, e

possuem formato amendoado. (SIRTORI C.R., 2001)

Figura 06 rvore da Castanha da ndia (Aesculus hippocastanum L.) Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Common_Horse-chestnut

As sementes da Castanha da ndia contm uma mistura de saponinas, de onde

dois produtos cristalinos principais podem ser isolados: escina e prosapogenina.

Vrios outros produtos j foram isolados das sementes da planta: bioflavonides,

como, por exemplo, a quercetina e o campferol e seus derivados diglicosdeos, bem

como antioxidantes, proantocianidinas e as cumarinas esculina e fraxina. No

entanto, todos estes produtos podem ser encontrados em diferentes espcies de

plantas. Em 1960, Lorenz e Marek concluram que as atividades anti-edematosas,

anti-exudativas e vasoprotetoras do extrato da Castanha da ndia, se devem

exclusivamente presena da escina. (SIRTORI C.R., 2001)

9

(07.01) (07.02)

Figura 07 Frutos (07.01) e sementes (07.02) da Castanha da ndia (Aesculus hippocastanum L.) Fonte: (07.01) http://trishasointments.co.nz/ingredients.html (07.02) www.ubcbotanicalgarden.org/potd/2006/08/xanthoceras_sorbifolia_and_aesculus_hippocastanum.php

A escina responde pelo total de saponinas presentes nas sementes, na forma

de derivados triterpenides. J foi estudada a potente ao antiinflamatria da

escina isolada, principalmente nos primeiros estgios da inflamao induzida.

Modelos experimentais mostram seus efeitos inibitrios da hialuronidase, anti-

exudativo, bem como sua atividade preventiva no aparecimento de edemas.

(WOLLINA U. et al., 2006)

O contedo de escina encontrado nas sementes da Castanha da ndia,

normalmente est dividido em Escina e Escina, os quais so compostos por

mais de 30 derivados triterpnicos da protoaescigenina e do barringtogenol C. Estes

compostos so mais comumente encontrados em cotildones das sementes,

chegando a constituir 28% do peso das sementes secas. Porm, outras estruturas

da planta tambm apresentam alguma concentrao destes compostos, como

tegumento, cascas, brotos, folhas e pericarpo imaturo dos frutos. (WILKINSON J.A.

et al., 1999)

Um grande nmero de flavonides (principalmente derivados de quercetina e

do campferol) j foi isolado. A maioria destes compostos tambm encontrada nas

sementes, porm, tambm podem ser detectados no pericarpo dos frutos, cascas,

brotos e folhas. (WILKINSON J.A. et al., 1999)

Alm das estruturas j citadas, epicatequinas e traos de proantocianidinas A2

foram citadas em estudos da Castanha da ndia. Estes compostos so encontrados

basicamente nas cascas, folhas, brotos e pericarpos de frutos, alm do tegumento

das sementes. (WILKINSON J.A. et al., 1999)

As sementes da Castanha da ndia contm descritos ainda outros componentes

como gomas (4050% do peso), acares, protenas (especificamente as globulinas,

10

hipocastaninas, contendo L-lisina e L-triptofano), gorduras vegetais (em sua maioria

cidos olico, linolico, linolnico, esterico e palmtico) e purinas (adenosina,

adenina e guanina) (WILKINSON J.A. et al., 1999)

As cascas da Castanha da ndia, assim como suas sementes, possuem

descrita a presena da escina. Glicosdeos cumarnicos, incluindo a esculina,

escopolina e fraxina, e suas respectivas agliconas, esculetina, escopoletina e

fraxetina, tambm esto presentes nas cascas da Castanha da ndia, ao contrrio de

seus tecidos, onde tais compostos no so encontrados. O flavonide quercetina e

sua respectiva aglicona tambm so encontrados nas cascas da planta. Outros

compostos, incluindo alantona, esteris, leucocianidinas, leucodelfinidinas, taninos

catecis e alcanos, tambm j tm descrita sua ocorrncia nesta parte da planta.

(WILKINSON J.A. et al., 1999)

Assim como as cascas, as folhas da Castanha da ndia (Figura 08.01) possuem

glicosdeos cumarnicos, escopolina, fraxina e esculina. Uma quantidade de

glicosdeos flavonides da quercetina (quercetina, rutina, isoquercetina e quercetina-

3-arabinosideo) e os glicosdeos correspondentes do campferol, tambm foram

detectados nos tecidos das folhas da Castanha da ndia. Alm destes, a escina

tambm foi encontrada (apesar de quantidades remotas), bem como

leucoantocianinas, cis,trans-poliprenis, aminocidos, gorduras vegetais e esteris

(sitosterol, estigmasterol e campesterol). (WILKINSON J.A. et al., 1999)

(08.01) (08.02) Figura 08 Folhas (08.01) e casca (08.02) da Castanha da ndia (Aesculus hippocastanum L.) Fonte: (08.01) www.english-country-garden.com/trees/horse-chestnut.htm (08.02) www.cas.vanderbilt.edu/bioimages/image/a/aehi--br11952.htm

As propriedades da Castanha da ndia se devem principalmente aos

saponosdeos, hidroxicumarinas e derivados flavnicos que atuam sobre a

11

fragilidade capilar e como vasoconstritores perifricos. Desta forma, ativa a

circulao sangnea e favorece o retorno venoso prevenindo acidentes vasculares,

estase venosa, espasmos vasculares e tromboflebites. (GUILLAUME M. et al., 1994)

Tradicionalmente, as sementes da Castanha da ndia so utilizadas no

tratamento de varizes, hemorridas, flebites, diarria, febre e hiperplasia prosttica.

(ACCAME M.E.C, 2001)

As cumarinas, especialmente o esculetosdeo, so substncias protetores da

parede vascular. Possuem propriedades da vitamina PP, reduzindo a

permeabilidade e aumentando a resistncia dos capilares. (ACCAME M.E.C, 2001)

Os taninos (proantocianidinas) tambm possuem atividade venotnica e

protetora vascular. (ACCAME M.E.C, 2001)

A Castanha da ndia muito utilizada em associao com outros frmacos para

combater problemas de fragilidade capilar cutnea, transtornos venosos e

hemorridas. (ACCAME M.E.C, 2001)

Portanto, a Castanha da ndia est indicada em tratamento crnico da

insuficincia venosa de diversas origens, dor e sensao de pernas cansadas.

muito apropriada ao tratamento e preveno de varizes venosas e sndrome

protrombtica. (ACCAME, M.E.C, 2001)

empregada tanto via oral como tpica, e seus efeitos adversos, pouco

freqentes, so devido s saponinas. Possui ligeira atividade adstringente,

associada presena dos taninos, e pode causar ligeira irritao gstrica e alergias.

A escina compete por ligao a protenas plasmticas, podendo deslocar outros

frmacos, resultando em nefro e/ou hepatotoxicidade em pacientes com alteraes

nestes rgos. A presena das cumarinas pode potencializar a atividade de

anticoagulantes via oral. (ACCAME M.E.C, 2001)

1.3 Escina A Escina uma mistura de saponinas, substncias de elevado peso molecular,

formada por uma parte lipoflica denominada aglicona ou sapogenina e uma parte

hidroflica constituda por um ou mais acares (TREASE G.E. et al., 1996),

provenientes da semente da rvore da Castanha da ndia, Aesculus hippocastanum.

naturalmente encontrada sob a forma de Escina, que praticamente insolvel

12

em gua. (MARTINDALE, 2003). Sua estrutura molecular pode ser observada na

Figura 09.

Figura 09 Estrutura qumica da Escina

Tem sido usada na preveno e tratamento de vrios distrbios vasculares

perifricos. (SIRTORI C.R., 2001; MATSUDA, H. et al. 1997; FERRUCCIO B. et al.,

1977)

Mostrou evidncia satisfatria e atividade clnica significativa na Insuficincia

Venosa Crnica (IVC), hemorrida e edema ps-operatrio. Em estudo controle, a

Escina foi efetiva em terapia de compresso, como terapia alternativa a

medicamentos na IVC. Os benefcios teraputicos tm suporte em investigaes

experimentais em animais, indicando claro efeito anti-edematoso, antiinflamatrio e

venotnico, relacionado principalmente ao seu mecanismo de ao molecular,

permitindo ampla entrada de ons nos capilares, aumentando a tenso venosa, tanto

in vivo quanto in vitro. (FERRUCCIO B. et al., 1977).

Pelo menos trs tipos de ao farmacodinmicas foram atribudas Escina:

propriedades anti-edematosas, atividade antiinflamatria e propriedades

venotnicas. Todas estas propriedades se devem a um mecanismo molecular

identificado como permeabilidade vascular seletiva, que permite uma maior

sensibilidade dos canais de clcio aos ons, resultando em um aumento do tnus

venoso e arterial. (SIRTORI C.R., 2001)

Outro mecanismo relacionado seria a liberao de prostaglandinas (produtos

endgenos, do metabolismo do cido araquidnico, com potente ao

13

vasodilatadora e anti-agregante plaquetria) (ARAJO M., 2003) das veias,

antagonistas de 5-HT e histamina.

A excelente tolerabilidade da Escina indica que este tratamento traz

benefcios claros a pacientes com condies que resultem em IVC, hemorridas ou

edemas perifricos. (SIRTORI C.R., 2001)

A Escina um flebotnico fitoterpico tanto por via sistmica (oral-parenteral)

como tpica. Por sua ao sobre veias e capilares, diminui a hiper-permeabilidade

vascular, melhorando a hemodinmica, a linfocinese e reduzindo o edema dos

membros inferiores em pacientes com varizes ou submetidos a cirurgia. Atua

diminuindo o nmero e o dimetro dos poros na parede dos vasos capilares, com

ao normalizadora sobre a permeabilidade capilar, inibindo a transudao, o que

evita a formao de processos exsudativos; agindo seletivamente sobre os mesmos

processos, quando j formados, caracterizando assim, poderosa ao

antiinflamatria e anti-edematosa. (GUILLAUME M. et al., 1994)

Qualquer leso no endotlio resulta em ativao da fosfolipase A2, responsvel

pela liberao de precursores dos mediadores inflamatrios, levando adeso de

neutrfilos ao local. A Escina inibe o aumento da atividade da fosfolipase A2 nas

clulas endoteliais hipo-oxigenadas bem como a adeso de leuccitos ao endotlio

hipo-oxigenado. (WETZEL D. et al., 2002)

A Escina tambm reduz a atividade das enzimas lisossomais atravs da

estabilizao das membranas dos lisossomas, limitando a liberao destas enzimas,

o que permite a estabilizao da matriz de proteoglicanos, alterada nos processos

varicosos. Atravs deste mecanismo, o edema reduzido ao reduzir-se a filtrao

transcapilar de gua e protenas. Por outro lado, a Escina capaz de melhorar o

tnus venoso melhorando o retorno sanguneo ao corao, efeito que poderia estar

relacionado ao aumento da sntese de PGF2 com a ativao de receptores alfa

adrenrgicos. (ACCAME M.E.C., 2001)

Sua ao tambm pode ser notada nas veias do plexo hemorroidrio. O

mecanismo de ao tambm a venoconstrio por reduo da permeabilidade

capilar.

As hemorridas so tambm varizes, porm em localizao muito mais

delicada (e dolorosa) que as dos membros inferiores. Tambm podem ser tratadas

com a Escina.

14

A Figura 10 mostra esquematicamente os principais mecanismos de ao da

Escina.

Figura 10 Mecanismos de ao da Escina. (SIRTORI C.R., 2001) Tambm possui mecanismo de ao anti-radical, inibindo peroxidao lipdica

in vitro. In vivo, limita a ao oxidativa de radicais oxigenados livres em clulas e

tecidos. (GUILLAUME M. et al., 1994)

Esta ao se deve inibio do aumento dos nveis sricos de glicose, que

provoca uma reao enzimtica, glicose-oxidase, que induz edema e inflamao.

(YOSHIKAWA M. et al., 1998)

Existe ainda a indicao da Escina em escleroterapia. A escleroterapia

continua sendo um procedimento muito realizado pelos cirurgies vasculares

brasileiros. Porm, este procedimento pode acarretar vrias complicaes:

hiperpigmentaes, aparecimento de telangiectasias secundrias mais finas que as

originais, edema temporrio, flebite tromboflebite, trombose venosa profunda,

entre outras. H vrias formas de se evitar a formao de microtrombos na

escleroterapia. Dentre elas podemos citar o uso de vasoconstritores tpicos pr-

HHiippxxiiaa endotelial

AATTPP

lliibbeerraaoo ddee ffoossffoolliippaassee AA22 pprroossttaaggllaannddiinnaass lliibbeerraaoo ddoo ffaattoorr aattiivvaaddoorr ddee ppllaaqquueettaass (FAP)

RREESSPPOOSSTTAA IINNFFLLAAMMAATTRRIIAA

eesscciinnaa EEddeemmaa AAddeessoo ddee nneeuuttrrffiillooss

AAttiivvaaoo ddee NNeeuuttrrffiillooss

IInniibbiioo ddaa AAddeessoo ddee nneeuuttrrffiillooss

fflluuxxoo ssaanngguunneeoo

LLiibbeerraaoo ddee eellaassttaassee ee oouuttrraass eennzziimmaass LLiibbeerraaoo ddoo ffaattoorr ddee ccrreesscciimmeennttoo ddee ffiibbrroobbllaassttooss

HHIIPPXXIIAA

DDaannoo ppaarreeddee vveennoossaa DDiillaattaaoo ddaa vveeiiaa

SSeennssiibbiilliizzaaoo ddooss ccaannaaiiss iinniiccooss AAuummeennttoo ddaa tteennssoo ee vveeddaaoo vveennoossaa // ccaappiillaarr

LLiibbeerraaoo ddee PPGGFF22

eesscciinnaa iinniibbiioo ddaa eellaassttaassee ee oouuttrraass eennzziimmaass

15

escleroterapia, compostos, por exemplo, por digitoxina 0,05%, benzopirona 2% e

Escina 0,5%. (CORREIA M.E. et al., 2003)

A utilizao da Escina pode ser por via oral, retal, tpica e intravenosa. Usada

por via oral, as doses usuais so de 60mg a 180mg por dia. Em terapias crnicas

mantm-se uma dose de 60mg por dia. Topicamente, aplica-se nas regies afetadas

de duas a trs vezes ao dia, em solues de 0,2% a 1% (MARTINDALE, 2003).

A especialidade farmacutica que contm a Escina o Reparil, que estimula

a circulao local, impedindo a formao de cogulos. O salicilato de dietilamina,

penetrando no tecido, complementa a ao antiinflamatria, exercendo efeito

analgsico local. O Reparil age rapidamente e elimina os sintomas de tenso, rubor,

calor e dor. (DEF, 2004/2005)

De um modo geral, Reparil muito bem tolerado; entretanto, nas lceras

varicosas e eczemas recomenda-se aplicar exclusivamente ao redor da leso.

Mesmo tendo uma mnima absoro sistmica, Reparil deve ser usado com cuidado

em lactantes e lactentes, alm de pacientes com problemas renais e hepticos.

(DEF, 2004/2005)

1.3.1 - Uso Cosmtico da Escina A Escina possui a capacidade de diminuir a tenso superficial e formar

emulses O/A. Sua capacidade foi comparada com o decagliceril-monolaurilester -

DGML, porm no mostrou-se to eficiente quanto este. A Escina foi considerada

um emulsionante auxiliar. (PEKDEMIR T. et al., 1999).

usada na produo de produtos cosmticos e para cuidados da pele de alta

qualidade (COSTANTINI A., 1999)

A Escina age tambm como antioxidante inibindo a colagenase e a elastase

enzimticas, tornando os tecidos e estruturas de suporte da pele mais saudveis.

Outro uso citado para a Escina, devido aos seus mecanismos, em

formulaes cosmticas para celulite.

Existem trs plantas que so as mais utilizadas no tratamento da celulite: Ivy

(Hedera helix), Castanha da ndia (Aesculus hippocastanum) and Gilbarbeira

(Ruscus aculeatus). (DWECK A.C., 2000)

16

Saponinas esteroidais, triterpenos e sapogeninas de origem fitoterpica

(Hedera helix, Aesculus hippocastanum, Ruscus aculeatus) so amplamente

utilizados por serem eficazes no tratamento e/ou preveno da panniculopatia

edemato-fibrosclertica (chamada celulite). At agora no foram elucidados os

mecanismos pelos quais estes compostos so ativos. Avaliam-se os efeitos

inibitrios destes constituintes fitoterpicos na atividade da elastase e da

hialuronidase, sistemas enzimticos envolvidos no retorno dos principais

componentes da substncia amorfa perivascular. A Hedera helix contm

sapogeninas que somente inibem de forma no-competitiva a atividade da

hialuronidase de maneira dose-dependente; ambas as saponinas Hederacoside C e

-Hederin so inibidores muito fracos. Os constituintes do Aesculus hippocastanum

mostram bons efeitos inibitrios sobre a hialuronidase, e esta atividade est ligada

principalmente saponina presente na Escina. Ao contrrio, as ruscogeninas do

Ruscus aculeatus se mostraram ineficazes na atividade inibidora da hialuronidase,

com notvel atividade anti-elastase. Os estudos destes compostos fornecem

explicao bioqumica para a eficcia destes extratos no tratamento do liposclerose.

Uma vez que se recupera a integridade do cido hialurnico e da elastina (e de suas

interaes funcionais com os proteoglicanos) pode-se reconstruir a matriz

extracelular na qual o sistema microvascular do tecido adiposo est inserido.

(DWECK A.C., 2000)

1.4 - Triterpenos / Saponinas

Uma das caractersticas dos seres vivos a presena de atividade

metablica. O metabolismo nada mais do que o conjunto de reaes qumicas que

ocorrem no interior das clulas. No caso das clulas vegetais, o metabolismo

costuma ser dividido em primrio e secundrio.

Entende-se por metabolismo primrio o conjunto de processos metablicos

que desempenham uma funo essencial no vegetal, tais como a fotossntese, a

respirao e o transporte de solutos. Os compostos envolvidos no metabolismo

primrio possuem uma distribuio universal nas plantas.

Em contrapartida, o metabolismo secundrio origina compostos que no

possuem uma distribuio universal, pois no so necessrios para todas as

17

plantas. Embora o metabolismo secundrio nem sempre seja necessrio para que

uma planta complete seu ciclo de vida, ele desempenha um papel importante na

interao das plantas com o meio ambiente. Um dos principais componentes do

meio externo cuja interao mediada por compostos do metabolismo secundrio

so os fatores biticos. Desse modo, produtos secundrios possuem um papel

contra a herbivoria, ataque de patgenos, competio entre plantas e atrao de

organismos benficos como polinizadores, dispersores de semente e

microorganismos simbiontes. Produtos secundrios tambm possuem ao

protetora em relao a estresses abiticos, como aqueles associados a mudanas

de temperatura, contedo de gua, nveis de luz, exposio a UV e deficincia de

nutrientes minerais (PERES L.E.P.).

Existem trs grandes grupos de metablitos secundrios: terpenos,

compostos fenlicos e alcalides.

Entre os terpenos est uma importante classe de substncias tanto para

vegetais quanto para animais. Trata-se dos esterides, os quais so componentes

dos lipdios de membrana e precursores de hormnios esterides em mamferos

(testosterona, progesterona), plantas (brassinoesterides) e insetos (ecdiesterides).

Uma outra classe importante de terpenos so as saponinas. Nas plantas, as

saponinas desempenham um importante papel na defesa contra insetos e

microorganismos. A produo industrial de hormnios animais a partir de saponinas

vegetais causou uma significativa mudana no comportamento da sociedade

contempornea, pois foi a base da produo dos anticoncepcionais (PERES L.E.P.)

As saponinas (do latim sapone, sabo), fazem parte do grupo dos terpenos,

mais especificamente dos triterpenos. So substncias de elevado peso molecular,

formadas por uma parte hidrofbica, denominada aglicona ou sapogenina, e uma

parte hidroflica, constituda por um ou mais acares. Possuem a propriedade de

reduzir a tenso superficial da gua, devido ao seu comportamento anfiflico,

formando espuma, caracterizando a sua ao como detergente e emulsificante.

Plantas contendo saponinas foram empregadas ao longo dos anos em vrias partes

do mundo como sabo; na Europa, as razes de Saponacea officinalis

(Caryophyllaceae) e na Amrica do Sul, a Quillaja saponaria (Rosaceae) (TREASE

G.E. et al., 1996).

Sua elucidao estrutural, bem como seu isolamento, so complexos, devido a

vrios motivos, dentre eles a dificuldade de se determinar os carbonos das ligaes

18

interglicosdicas, ou pela formao de misturas complexas com estruturas formadas

por aucares e agliconas diversas, ou se a cadeia de acar linear ou ramificada

(SIMES C.M.O. et al., 2003).

As saponinas so de grande emprego farmacutico como adjuvante de

formulaes, componentes ativos em extratos vegetais e matria-prima para sntese

de esterides (TREASE G.E. et al., 1996)

1.4.1- Biossntese dos Triterpenos / Saponinas

Os terpenos so montados atravs da justaposio sucessiva de unidades de

cinco carbonos denominado isopentenilpirofosfato (IPP). O IPP derivado do cido

mevalnico ou mevalonato e d origem a todos os outros terpenos. Vale lembrar

que, enquanto os monoterpenos (C10), sesquiterpenos (C15) e diterpenos (C20) so

montados pela adio de uma molcula C5 de cada vez, os triterpenos (C30) so o

resultado da juno de duas molculas C15 (FPP), e os tetraterpenos de duas

molculas C20 (GGPP).

As saponinas, de acordo com o ncleo fundamental da aglicona, denominam-

se esteroidais ou triterpnicas. Possuem carter cido, bsico ou neutro. So

consideradas cidas quando possuem a presena de um grupamento carboxila na

aglicona ou na cadeia de acares. As bsicas decorrem da presena de um

nitrognio, em geral sob forma de uma amina secundria ou terciria, como nos

glicosdeos nitrogenados esteroidais. (SIMES C.M.O. et al., 2003).

As saponinas triterpnicas e as esteroidais so formadas de seis unidades

isoprnicas, e tm origem biossinttica comum, derivada do esqualeno. Enquanto

triterpenos verdadeiros possuem 30 tomos de carbono, os esterides possuem

apenas 27 tomos de carbono, em virtude da quebra oxidativa de trs grupamentos

metila do intermedirio C30. (HOSTETTMANN K. et al.,1995).

A molcula de esqualeno oxidada por uma esqualeno-oxidase (esqualeno-

monooxigenase) e se transforma em esqualeno-2,3-epxido. Este ltimo composto

ento transformado pela famlia das 2,3-oxidosqualeno-ciclases (triterpeno-sintases)

em triterpenos tetra ou pentacclicos, precursores imediatos das saponinas

esteroidais, alcalides triterpnicos e triterpenos verdadeiros. (Figura 11).

(KALINOWSKA M. et al., 2005).

19

Figura 11 Rota biossinttica que leva aos vrios tipos de agliconas triterpenides: SQM esqualeno monooxidase; CS cicloartenol sintetase; -AS -amirin sintetase; -AS -amirin sintetase; LS lupeol sintetase; DS damaradienol sintetase; IS isomultiflorenol sintetase. (KALINOWSKA M. et al., 2005)

Para sntese das saponinas triterpnicas verdadeiras C30, o esqualeno 2,3-

epxido ciclizado e se transforma em um dos vrios compostos penta ou

tetracclicos, como o -amirin, -amirin, lupeol, isomultiflorenol ou damaradienol.

(Figura 11) (KALINOWSKA M. et al., 2005)

Os triterpenos pentacclicos podem ser divididos em trs grupos principais: -

amirin (ursanos), que apresentam uma metila em C20 e outra em C19, -amirin

(oleanos), que apresentam duas metilas em C20, e lupeol, que diferem das anteriores

na estereoqumica dos anis D/E, que trans, alm do quinto anel possuir cinco

carbonos, no sendo hexagonal como as outras duas saponinas triterpnicas.

(Figura 12) (SIMES C.M.O. et al., 2003)

AAcceettaattoo

MMeevvaalloonnaattoo

IIssooppeenntteenniill ppiirrooffoossffaattoo

EEssqquuaalleennoo

((33SS))22,,33--OOxxiiddooeessqquuaalleennoo

CCiiccllooaarrtteennooll

CCoolleesstteerrooll

2266--AAmmiinnooccoolleesstteerrooll

2266--HHiiddrrooxxiiccoolleesstteerrooll

AAllccaalliiddee eesstteerrooiiddaall

SSaappoonniinnaa eesstteerrooiiddaall

IIssoommuullttiiff lloorreennooll

LLuuppeeooll

--AAmmiirriinn

--AAmmiirriinn

DDaammaarraaddiieennooll

oouuttrraass ssaappoonniinnaass ttrriitteerrppnniiccaass

20

Dentre as saponinas tetracclicas incluem-se aquelas que com ncleo

damarano e isomultiflorano, e so de distribuio mais restrita. As de ncleo

damarano podem ser encontradas no Panax ginseng. (SIMES C.M.O. et al., 2003)

Figura 12 Ncleos mais comuns das saponinas triterpnicas (SIMES C.M.O. et al., 2003)

A presena das triterpeno-sintetases pode ser vista em funes catalticas e

fermentativas das plantas, confirmadas por estudos de enzimologia. Alguns

exemplos so: -amirin sintetase do Panax ginseng (KUSHIRO T. et al., 1998), -

amirin sintetase da ervilha de jardim, Pisum sativum (MORITA M. et al., 2000), lupeol

sintetase do Taraxacum officinale (SHIBUYA M. et al., 1999) ou isomultiflorenol

sintetase do Luffa cylindrica (HAYASHI H. et al., 2001).

Reaes subseqentes nos produtos primrios da ciclizao, ou seja, o -

amirin, -amirin, lupeol, isomultiflorenol e dammaradienol, conduzem produo de

uma grande variedade das agliconas das saponinas triterpnicas presentes nas

plantas. (KALINOWSKA M. et al., 2005)

Uma grande variedade de saponinas triterpnicas tem sido isolada, e diferem

na estrutura tanto da aglicona quanto do carboidrato, contendo, muitas vezes, dez

ou mais unidades de monosacardeos, quase sempre na forma de cadeias

21

ramificadas. Algumas saponinas triterpnicas so bi- ou tridesmosdicas, i.e. contm,

alm da molcula de acar geralmente ligada ao grupamento C3 hidroxila da

aglicona, uma ou duas molculas adicionais de carboidratos, ligadas aos

grupamentos hidroxila ou carboxila, localizados em alguma outra posio.

(KALINOWSKA M. et al., 2005)

Acredita-se que a cadeia de acar seja sintetizada por adies seqenciais

de monosacardeos aglicona. Existem apenas algumas citaes da ocorrncia de

glicotransferases especficas (GTases), catalisando a formao de derivados de

monosacardeos de vrias agliconas triterpnicas (Tabela 01, Figura 13).

(KALINOWSKA M. et al., 2005)

Espcie Acar Receptor Acar Doador Calendula officinalis cido Oleanico UDPGlcUA Pisum sativum -amirin UDPGlc Glycyrrhiza glabra cido 24-Hidroxi-

glicirretinico UDPGlcUA

Gypsophila paniculata cido -Glicirrhetinico UDPGlcUA Glycine max Soiasapogenoles UDPGlcUA

Tabela 01 Glicotransferases triterpnicas catalisando a formao dos 3-O-monoglicosdeos. (KALINOWSKA M. et al., 2005)

Figura 13 Estruturas moleculares de saponinas triterpnicas, derivadas dos produtos primrios da ciclizao do esqualeno 2,3-epxido (KALINOWSKA M. et al., 2005)

22

1.4.2 - Classificao As saponinas so classificadas de acordo com o ncleo fundamental da

aglicona, sendo denominadas desta forma como saponinas esteroidais, triterpnicas

ou alcalides esteroidais (Figura 14) (HOSTETTMANN K. et al., 1995)

Da mesma forma, o nmero de cadeia de aucares ligados aglicona, permite

a classificao como monodesmosdicas, quando possuem uma cadeia de acar

ligada ao C-3 e bidesmosdica, quando duas cadeias de acar esto ligadas a

sapogenina, geralmente uma ligao ter em C-3 e uma ligao ster em C-28

(Figura 15) (SIMES C.M.O. et al., 2003; HOSTETTMANN K. et al., 1995). As

saponinas tridesmosdicas possuem trs ligaes de cadeias de acar, porm so

raramente encontradas (HOSTETTMANN K. et al., 1995)

A cadeia de acar pode apresentar-se linear ou ramificada. Os

monossacardeos comumente encontrados so D- glicose, D- galactose, L-ramnose,

L-arabinose, D-xilose, D-frutose os cidos glicurnico e galacturnico. Os

monossacardeos podem ocorrer na forma de piranose ou furanose. As ligaes

entre os acares podem ser ou (SIMES, C.M.O. et al., 2003.)

Figura 14 Tipos de estruturas encontradas nas trs principais classes de Saponinas

TTrriitteerrppeennooss

EEsstteerriiddeess AAllccaalliiddeess EEsstteerrooiiddaaiiss

23

Figura 15 - Saponinas monodesmosdicas e bidesmosdicas

1.4.2.1 - Classificao da Molcula da Escina Dentro desta classificao, a Escina, como pode ser visto na Figura 16, de

acordo com o ncleo fundamental da aglicona, uma saponina triterpnica. J

quanto ao nmero de cadeia de aucares ligados aglicona, a Escina se classifica

como monodesmosdica. A cadeia de acar ligada ao C-3 apresenta-se ramificada,

e os monossacardeos encontrados so duas molculas de D-glicose e uma

molcula de cido glicurnico. Os monossacardeos ocorrem na forma de piranose,

e as ligaes entre os acares esto na forma .

Figura 16 Estrutura qumica da Escina

MMoonnooddeessmmoossddiiccooss BBiiddeessmmoossddiiccooss

24

1.4.3- Ocorrncia

As saponinas esteroidais so encontradas em monocotiledneas

principalmente nas famlias Liliaceae, Agavaceae, Dioscoreaceae; j as triterpnicas

nas dicotiledneas pertencentes s famlias Sapindaceae, Hippocastanaceae,

Sapotaceae, Polygalaceae, Caryophyllaceae, Primulaceae e Araliaceae. As

saponinas pertencentes ao grupo dos alcalides esteroidais so encontradas

principalmente na famlia Solanaceae. (SIMES C.M.O. et al., 2003; BRUNETON J.,

1999.)

1.4.4 - Propriedades Gerais 1.4.4.1 - Formao de Espuma Estvel

Devido sua constituio estrutural, formada por uma parte hidroflica e outra

parte lipoflica, as saponinas possuem a propriedade de formar espuma persistente

e abundante mesmo sob ao de cidos minerais diludos, o que no ocorre com os

sabes comuns. (SIMES C.M.O. et al., 2003.)

1.4.4.2 - Propriedades Biolgicas e Farmacolgicas Diversas atividades biolgicas foram associadas s saponinas, algumas

atribudas ao comportamento anfiflico de sua molcula como atividade ictiotxica,

hemoltica e de formar complexos com esteris. Outras atividades foram observadas

ao longo de novas pesquisas (SIMES C.M.O. et al., 2003.). Dentre elas podemos

ressaltar as atividades antimicrobiana, hipocolesterolemiante, antitumoral,

moluscicida, pesticida, espermicida, inseticida, anti-helmntica, expectorante,

diurtica, antiinflamatria, analgsica, antilcera, entre outras (HOSTETTMANN K. et

al., 1995).

A ao hemoltica ocorre devido diminuio da tenso superficial entre a fase

aquosa e lipdica da membrana do eritrcito, ocasionando a ruptura da membrana.

Quanto ao ictiotxica, pode ser demonstrada atravs de morte de peixes,

25

resultante dos danos causados nas brnquias, onde ocorre a regulao do balano

inico e presso osmtica (HOSTETTMANN K. et al., 1995).

1.5 - Insuficincia Venosa Crnica (IVC) A insuficincia venosa crnica (IVC) uma doena com importantes

implicaes scio-econmicas. Os problemas crnicos venosos so um problema

mdico muito freqente, que acontecem com diferentes graus de severidade, e em

uma alta porcentagem da populao adulta. Esta elevada incidncia constitui um

problema importante da sade pblica. Os sintomas (dor, incmodos inespecficos,

inchaos, peso nas pernas e cimbras) e os sinais (edema) da IVC so bem

conhecidos, e afetam de 5-10% da populao. As mudanas crnicas da macro e da

microcirculao, que aparecem nestes pacientes causam a manifestao mais grave

da IVC: a lcera venosa, que afeta 1% da populao. Alm disso, esta doena

tambm influi na qualidade de vida dos pacientes afetados. Do ponto de vista

fisiopatolgico, o refluxo venoso superficial ou profundo pode provocar hipertenso

venosa, associada a uma deteriorao das vlvulas venosas. Tudo isso parece

desempenhar papel essencial na evoluo da IVC. (LOZANO F. et al. 2001)

A IVC refere-se a um conjunto de alteraes fsicas como edema,

hiperpigmentao, a erisipela e a lipodermatoesclerose, que ocorrem na pele e no

subcutneo, principalmente nos membros inferiores, decorrentes da hipertenso

venosa de longa durao, causada por insuficincia valvar e/ou obstruo venosa.

(YAMADA B.F.A. et al.)

Estas alteraes de fluxo sangneo causam extravasamento de fluidos e

acmulo peri-capilar de depsitos de fibrina (manguitos de fibrina) que alteram o

metabolismo entre os compartimentos extra e intravascular. Os capilares encontram-

se dilatados, alongados, tortuosos e com as paredes afiladas, e o endotlio

apresenta superfcie irregular e alargamento dos espaos interendoteliais. Pelo

prolongado e aumentado extravasamento ocorre alargamento dos espaos peri-

capilares. A estes processos segue-se a formao de tecido de granulao,

proliferao de capilares e fibroblastos e, finalmente, cicatrizao da ferida por

formao de tecido cicatricial. Clinicamente este processo leva a

lipodermatoesclerose, atrofia e na forma mais grave, e ulceraes, nas quais os

26

mecanismos compensatrios no so suficientemente capazes de reparar a leso.

(BARROS Jr.N., 2003)

Existem dois objetivos a serem alcanados no tratamento clnico das lceras de

estase a melhora da drenagem venosa e o uso de curativos adequados,

concomitantemente. Um no ser eficaz sem o outro. Vrios tipos de tratamento so

conhecidos, sendo o mais racional e simples a higienizao da lcera e o repouso

prolongado, com elevao dos membros para corrigir a hipertenso venosa,

minimizando temporariamente a estase. (FIGUEIREDO M., 2003)

Flebotnicos ou venotnicos so drogas que agem promovendo a

venoconstrio. Entre os mais conhecidos temos os derivados sintticos da

diidroergocristina, os derivados da rutina e os derivados da Castanha da ndia.

(ARAJO M., 2003)

Os derivados sintticos da diidroergocristina promovem o aumento do tnus da

parede venosa com conseqente acelerao do esvaziamento venoso. A

associao de heparina ao mesilato de diidroergotamina tem sido utilizada,

demonstrando ser mais eficaz que a heparina isoladamente na preveno da estase

venosa, importante fator predisponente trombose venosa profunda dos membros

inferiores. Os efeitos colaterais, especialmente a vasoconstrio arterial que ocorrem

na intoxicao (ergotismo), limitam o seu uso clnico. Pode ocorrer isquemia

intestinal e perifrica. (ARAJO M., 2003)

Os derivados da rutina so derivados da flavona extrados de plantas como

Ruta graveolens (arruda comum), Fagopyrun esculentum (trigo sarraceno), Sophora

japonicae, folhas de vrias espcies de Eucalyptus. Quimicamente a 3,3,4,5,7-

pentahidroxiflavona-3-ramnoglicosdeo. A rutina aumenta o tnus venoso, e acredita-

se que tenha associado a uma ao impermeabilizante capilar, semelhante

vitamina P, devido inibio da hialuronidase. Tal ao impediria a passagem de

protenas que contribuiriam para a formao do edema. A troxerrutina uma mistura

que contm trihidroxietil-rutosdeo, e tambm mono, di, tetrahidroxietil-rutosdeo.

muito usada em preparaes comerciais. Oxerutina um termo usado para

designar cinco tipos de diferentes o-(b-hidroxietil) rutosdeos com no menos que

45% de troxerrutina. (ARAJO M., 2003)

Os derivados da Castanha da ndia so conhecidos h muito tempo, e

utilizados em grande nmero de preparaes farmacuticas comerciais. Origina-se

da planta Aesculus hippocastanum que contm vrios princpios ativos como

27

esculosdeo (esculina: 6-b-d-glucopiranosixolixi-7-hidroxicumarina), escina (mistura

de saponinas) e a esculetina. Glicosdeos da flavona so tambm encontrados.

Algumas espcies podem ser venenosas. Sua ao se faz notadamente nas veias

do plexo hemorroidrio, mas tambm ocorre nas veias dos membros inferiores. O

princpio tambm a venoconstrio. Atribui-se tambm um efeito de reduo da

permeabilidade capilar. uma opo segura e efetiva para o tratamento em curto

prazo da IVC. A utilizao pode ser por via oral, retal, tpica e intravenosa.

(ARAJO M., 2003)

Os flebotnicos ou venotnicos mais utilizados esto demonstrados na Tabela

02.

Grupo qumico Componente ativo

Flavonides (g g-benzopironas)

Rutina Troxerrutina Hesperidina

Cumarinas (a a-benzopironas)

Cumarina (benzopirona) Derivados

Saponinas Escina

Produtos Naturais

Derivados do ergot Diidroergotamina Diidroergocristina Diidroergocripitina

Produtos Sintticos ---------

Diosmina Tribenosido Dobesilato de clcio

Tabela 02 Flebotnicos ou venotnicos mais utilizados. (ARAJO M., 2003)

28

2 - OBJETIVOS

Em funo do exposto, o objetivo do trabalho o desenvolvimento de derivados da

Escina, de maneira a obter molculas mais solveis em gua, mantendo algumas

propriedades teraputicas e farmacolgicas originais.

O desenvolvimento de tais derivados ser realizado atravs de reaes de

esterificao com anidridos, em diferentes propores, e de natureza randmica.

Aps a modificao qumica os derivados sero comparados molcula original por

cromatografia de camada delgada em papel cromatogrficos, e identificados por

eletroforese capilar.

As anlises fsico-qumicas sero baseadas em testes de solubilidade, e testes de

incorporao em bases farmacotcnicas aquosas.

Para comprovao da atividade farmacolgica dos derivados com a molcula

original, ser realizado teste in vivo utilizando a metodologia da dermatite induzida

pelo leo de crton, segundo Serti et al., e comparados os resultados das

amostras.

29

3 MATERIAIS E MTODOS

3.1 Materiais 3.1.1- Matrias-primas, Reagentes e Solventes

- Escina lote 28074/M4 fornecedor Deg, com teor de 98,27%

- Solventes: Etanol, metanol, clorofrmio, ter, leo de soja, acetona, hexano,

metoxipolietilenogicol, glicerina e tolueno

- Anidrido Succnico de procedncia Labsynth

- Anidrido Ftlico de procedncia Labsynth

- Dimetilformamida de procedncia Labsynth

- Tetraborato de sdio de procedncia Labsynth

- Dodecilsulfato de sdio (SDS) de procedncia Labsynth

- Cromatofolhas de alumnio (slica gel TCL 20 x 20 cm, 60 F254 da Merck)

- leo de Crton de procedncia Labsynth

- Etilacetato de procedncia Labsynth

- Iodo de procedncia Labsynth

3.1.2 - Equipamentos - Balana Analtica precisa 205A SCS

- Balana Semi-analtica Marte LC1

- Evaporador rotativo 802A Fisatom

- Bomba de vcuo

- Agitador mecnico

- Equipamento de Eletroforese Capilar: modelo HP3D CE Agilent Technologies

- Slica fundida (50m de dimetro interno x 48,5cm de comprimento total,

40cm at o detector)

- Vidraria procedente do Laboratrio de Sntese Orgnica Aplicada do

Departamento de Tecnologia Bioqumico-Farmacutica da Faculdade de Cincias

Farmacuticas da Universidade de So Paulo

30

3.1.3 Ensaio Biolgico

Os animais utilizados para o estudo in vivo foram 144 camundongos da

espcie Balb C, machos, pesando entre 20-30g.

3.2 - Mtodos 3.2.1 - Sntese Qumica dos derivados solveis da Escina

Os derivados foram obtidos por reao de esterificao da molcula original

Escina com anidrido succnico e anidrido ftlico, separadamente, em propores de

1:3 e 1:7 cada uma das amostras, seguindo o modelo utilizado por Alluis et al.

A esterificao uma reao qumica de condensao de cidos carboxlicos

com lcoois, que resulta na formao de steres. (SOLOMONS T.W.G. et al., 2005).

Para a sntese dos derivados solveis da Escina, escolhemos a reao com

anidridos de cidos carboxlicos. o melhor mtodo para formao de steres, pois

evita a utilizao de cidos fortes como catalisadores. (SOLOMONS T.W.G. et al.,

2005).

3.2.2 - Determinao da Solubilidade

A solubilidade de uma substncia pura em dado solvente, temperatura

constante, parmetro caracterstico da substncia , podendo servir para fins de

identificao e avaliao do seu grau de pureza (FARMACOPIA BRASILEIRA IV,

1988).

A solubilidade tambm determina seu grau de polaridade, que define sua

afinidade aos tecidos orgnicos, bem como aos principais solventes utilizados na

farmacotcnica.

Segundo a metodologia farmacopica, as indicaes de solubilidade referem-

se temperatura de 25C, e para que uma substncia seja considerada solvel em

determinado solvente, deve ser avaliada em proporo de 1:10 a 1:30.

(FARMACOPIA BRASILEIRA IV, 1988)

31

3.2.3 - Testes em Base Farmacotcnica

A incorporao dos derivados e da molcula original em bases

farmacotcnicas serve como referncia da solubilidade das molculas, j que a base

utilizada foi um gel aquoso e transparente, o gel de carbopol.

Quando comparados molcula original incorporada, os produtos finais dos

derivados evidenciam a sua solubilidade, atravs da transparncia do gel obtido. 3.2.4 - Cromatografia de Camada Delgada

A cromatografia um processo de separao, purificao ou identificao

qualitativa de substncias, baseada no princpio de distribuio diferencial em fases.

O grau de separao determinado pelas diferenas nos coeficientes de

distribuio. A distribuio pode ocorrer por partio, devido diferena de

solubilidade relativa dos componentes em solventes imiscveis ou por adsoro

seletiva dos componentes da mistura lquida ou gasosa em superfcie de fase slida.

(SOARES B.G. et al., 1988)

Para nosso trabalho, foi utilizada a cromatografia de camada delgada , exemplo

de cromatografia em fase slida. (SOARES B.G. et al., 1988)

Esta metodologia utiliza uma camada fina e uniforme de slido, na forma de

cromatofolhas de alumnio. A amostra a ser analisada aplicada na base da

cromatofolha, e esta, colocada verticalmente em recipiente contendo uma pequena

camada de solvente. (SOARES B.G. et al., 1988)

O solvente ascende por capilaridade, carreando a amostra. A relao entre as

velocidades do movimento da amostra e a frente do solvente, chamada de Rf,

razo entre a distncia percorrida pela amostra a partir do ponto de aplicao at o

meio da mancha, e a distncia percorrida pelo solvente, a partir do ponto de

aplicao da amostra at a frente do solvente. Os valores de Rf so importantes no

estudo comparativo da amostra com a substncia padro. (SOARES B.G. et al.,

1988)

32

3.2.5 - Eletroforese Capilar Eletroforese Capilar uma tcnica amplamente utilizada, que d respostas de

alta resoluo na separao e quantificao de ons orgnicos e inorgnicos.

Este procedimento se baseia no movimento dos ons sob influncia de uma

voltagem aplicada sobre a amostra. O grau de migrao, ou mobilidade das

molculas, ou da soluo ionizada, determinado pelo tamanho da molcula, ou o

nmero de cargas que ela carrega.

A mobilidade determinada pela razo entre carga / massa, e segue a frmula:

onde E mobilidade

q nmero de cargas

viscosidade da soluo

r raio do on

A velocidade eletrofortica est relacionada mobilidade dos ons e voltagem

aplicada:

onde v velocidade dos ons

E mobilidade

E voltagem aplicada

Figura 17 Separao terica de alguns ctions

A aplicao de uma voltagem no capilar preenchido de eletrlitos causa o fluxo

da soluo, atravs do capilar. Este fluxo impulsiona os ons at o detector, e este

movimento se deve ionizao da slica do capilar quando em contato com a

soluo tampo. Frente a altos pHs, os grupamentos silanis da slica se dissociam

RReessppoossttaa ddoo ddeetteeccttoorr

TTeemmppoo

E = (q / 6) r

v = E . E

33

resultando em uma superfcie carregada negativamente. Para manter a neutralidade,

os ctions se aproximam da superfcie. Quando a voltagem aplicada, estes ctions

migram para o catodo.

A maior vantagem do mtodo proposto o custo reduzido, e a simplicidade da

preparao das amostras (apenas uma diluio), alm de possuir maior resoluo e

resultado em menor tempo, se comparado cromatografia lquida de alta

performance convencional.

Porm, apenas solues inicas ou carregadas podem ser separadas pela

eletroforese capilar, e isso uma limitao do mtodo.

O desenvolvimento da cromatografia eletrocintica solucionou este problema,

pois segue os princpios da cromatografia, atravs da utilizao de solues que

contm carregadores de ons. Com isso, essa metodologia pode separar tanto

amostras neutras quanto carregadas.

O uso de solues micelares de ons surfactantes popularizou o uso da tcnica

para a separao de molculas pequenas e neutras.

(CAPILLARY ELECTROPHORESIS GUIDE BOOK, 1996)

3.2.5.1 - Eletroforese Capilar Micelar Princpio da separao

Um capilar, ou slica fundida, preenchido com uma soluo inica surfactante,

cuja concentrao seja superior concentrao micelar crtica (CMC), para que haja

a formao das micelas.

O uso de um surfactante aninico, como o dodecilsulfato de sdio, forma

micelas carregadas negativamente, e fora a migrao da micela para o eletrodo

positivo, por eletroforese. O fluxo eletroosmtico migra para o plo negativo, devido

carga da superfcie do capilar.

O fluxo eletroosmtico maior que a migrao das micelas, em condies

neutras ou bsicas, portanto, micelas aninicas formadas pelo dodecilsulfato de

sdio migram para o eletrodo negativo, mais lentamente.

34

Figura 18 Ilustrao esquemtica do princpio de separao por eletroforese capilar.

(CAPILLARY ELECTROPHORESIS GUIDE BOOK, 1996)

3.2.6 - Anlise do efeito antiinflamatrio dos derivados solveis da Escina

A metodologia utilizada foi o mtodo experimental de Dermatite induzida pelo

leo de Crton, conforme demonstrado na Figura 19. Nesta metodologia a resposta

inflamatria avaliada pela diferena de peso das duas amostras retiradas das

orelhas, e ento calculado o percentual de inibio da irritao causada pelo leo de

crton. (SERTI J.A.A. et al., 1991)

O leo de crton um irritante vascular que provoca infiltrao leucocitria de

polimorfonucleares causando edemas intercelulares. (MONTELLO M.S.A.G., 2002)

Os animais recebem na orelha direita a soluo indutora de inflamao,

soluo de leo de crton. Aps 30 minutos, a mesma orelha recebe a amostra do

produto a ser avaliado. Um dos grupos recebe uma soluo da molcula original (

Escina), e um grupo controle no recebe nenhuma amostra. A orelha esquerda

recebe apenas o solvente utilizado. Aps seis horas, os animais so sacrificados, e

um fragmento de orelha de 6mm retirado de ambas as orelhas de cada animal,

utilizando-se um instrumento cirrgico utilizado em cirurgias de catarata. O peso dos

fragmentos de orelha retirados indica o processo inflamatrio inibido pela amostra

testada. O clculo feito pela diferena de pesos entre as amostras de orelha, ou

seja, quanto maior a diferena de peso entra as orelhas direita e esquerda de cada

animal, maior o processo inflamatrio. (SERTI J.A.A. et al., 1991)

SSuurrffaaccttaannttee ((pplloo nneeggaattiivvoo)) FFlluuxxoo EElleettrroooossmmttiiccoo

EElleettrrooffoorreessee SSoolluuttoo

35

O mecanismo pelo qual a Escina produz seu efeito antiinflamatrio no foi

investigado, mas a farmacologia citada para a dermatite provocada pelo leo de

crton indica, geralmente, uma sensibilidade aos inibidores da ciclooxigenase.

(BERKENKOPF J. et al., 1985)

Figura 19 - Esquema ilustrativo da metodologia de Dermatite Induzida por leo de Crton para anlise do efeito antiinflamatrio dos derivados solveis da Escina

OD

leo de crton200l em 20l de DMF / gua (7:3)

30 min

2% de cada derivado, diludo em acetona

OD

* grupo controle sem amostra

OE

solvente

6H

OEOD

OD = orelha direitaOE = orelha esquerda

peso (edema)

6mm 6mm

OD OE- =

OD

leo de crton200l em 20l de DMF / gua (7:3)

30 min

2% de cada derivado, diludo em acetona

OD

* grupo controle sem amostra

OE

solvente

OD

leo de crton200l em 20l de DMF / gua (7:3)

30 min

2% de cada derivado, diludo em acetona

OD

* grupo controle sem amostra

OE

solvente

6H

OEOD

OD = orelha direitaOE = orelha esquerda

peso (edema)

6mm