Luciana Sartori - teses.usp.br · Ficha Catalográfica elaborada eletronicamente pelo autor,...
Transcript of Luciana Sartori - teses.usp.br · Ficha Catalográfica elaborada eletronicamente pelo autor,...
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
Faculdade de Ciências Farmacêuticas
Programa de Pós-Graduação em Farmácia (Fisiopatologia e Toxicologia)
Área de Análises Clínicas
Caracterização molecular de Escherichia coli produtora de β-
lactamases de amplo espectro em bovinocultura leiteira
Luciana Sartori
Tese para obtenção do Título de DOUTOR
Orientador: Prof. Dr. Nilton Lincopan
São Paulo
2018
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
Faculdade de Ciências Farmacêuticas
Programa de Pós-Graduação em Farmácia (Fisiopatologia e Toxicologia)
Área de Análises Clínicas
Caracterização molecular de Escherichia coli produtora de β-
lactamases de amplo espectro em bovinocultura leiteira
Luciana Sartori
Versão corrigida da Tese conforme resolução CoPGr 6018.
Tese para obtenção do Título de DOUTOR
Orientador: Prof. Dr. Nilton Lincopan
São Paulo
2018
Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.
Ficha Catalográfica elaborada eletronicamente pelo autor, utilizando o
programa desenvolvido pela Seção Técnica de Informática do ICMC/USP e adaptado para a Divisão de Biblioteca e Documentação do Conjunto das Químicas da USP
Bibliotecária responsável pela orientação de catalogação da publicação:
Marlene Aparecida Vieira - CRB - 8/5562
Sartori, Luciana
S251c Caracterização molecular de Escherichia coli
produtora de beta-lactamases de amplo espectro em
bovinocultura leiteira / Luciana Sartori. - São
Paulo, 2018.
64 p.
Tese (doutorado) - Faculdade de Ciências
Farmacêuticas da Universidade de São Paulo.
Departamento de Farmácia.
Orientador: Lincopan, Nilton
Coorientador: Gregory, Lilian
1. Escherichia coli. 2. ESBL. 3. CTX-M. 4.
ceftiofur. 5. gado de leite. I. T. II. Lincopan,
Nilton, orientador. III. Gregory, Lilian , coorientador.
Luciana Sartori
Caracterização molecular de Escherichia coli produtora de β-
lactamase de amplo espectro em bovinocultura leiteira
Comissão Julgadora da
Tese para obtenção do Título de DOUTOR
Prof. Dr. Nilton Erbert Lincopan Huenuman
Orientador/presidente
_________________________________________________
1o. examinador
Prof. Dr. Alessandro Conrado de Oliveira Silveira
_________________________________________________
2o. examinador
Prof. Dra. Helenice de Souza Spinosa
__________________________________________________
3o. examinador
Dra. Quézia Moura da Silva
São Paulo, 06 de setembro de 2018.
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho aos meus pais Eli e Geni, sem eles nada disso seria possível.
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, Eli e Geni, pelo amor incondicional e apoio constante às minhas decisões.
Aos meus irmãos, em especial à você Rafael, finalmente compreendi tudo o que você passou e
sempre aplaudiu minhas conquistas.
Ao meu namorado Luis, que nos momentos mais difíceis esteve ao meu lado, e escutou
pacientemente tudo sobre meu projeto.
Ao meu orientador, Prof. Nilton Lincopan pela oportunidade e ensinamentos que me
proporcionou nesses quatro anos de convivência.
Ao departamento de Análises Clínicas da Faculdade de Ciências Farmacêuticas e às agências
de fomento (Capes e Cnpq) pelo auxílio concedido durante estes quatro anos.
À minha co-orientadora, Prof. Lilian Gregory por me aceitar, pela convivência e ensinamentos
que tivemos juntas.
Ao meu amigo/irmão Mário pela ajuda na coleta das amostras e pelo companheirismo.
Aos funcionários da fazenda, pela ajuda na coleta das amostras e pela recepção sempre educada
e paciente.
Aos animais, que são a fonte da minha paixão na medicina veterinária, que me proporcionam o
brilho nos olhos em estudar e sempre pensar em trabalhar em benefício deles.
À Milena Dropa, minha conterrânea, pela ajuda inestimável na execução deste trabalho.
Ao Prof. Jorge Sampaio e ao grupo Fleury, pela disponibilidade de uso do equipamento de
MALDI-TOFF.
À Prof. Kelly Ishida pela disponibilização do programa Bionumerics.
Ao Thiago pela ajuda no preparo das bibliotecas para o sequenciamento de genoma completo.
À colega Louise pelas montagens dos genomas e ajuda nas análises de bioinformática.
Às minhas queridas amigas e companheiras de laboratório Miriam, Quézia, Lucianne, Luana,
Tatiane e Lívia pelo convívio diário, risadas, choros e ensinamentos que tivemos juntas.
Aos demais colegas de laboratório Fernanda, Daniel, Fábio, Ralf, Marcos, Maria, Carolina,
Caetano e Juan.
Ao meu querido amigo Jefferson, que a pós graduação uniu para a vida toda.
À minha amada amiga Ludmila, que me sugeriu vir a São Paulo e encarar este desafio, obrigada
pela compreensão e amizade.
Aos meu caros amigos Ricardo, Sandro, Thiago, Tatiana e Felipe que torcem por mim e
acompanharam esta jornada.
E por fim, obrigada por todos que direta ou indiretamente contribuíram para que este trabalho
se realizasse.
But I would like to sound one note of warning. Penicillin is to all intents
and purposes non-poisonous so there is no need to worry about giving
an overdose and poisoning the patient. There may be a danger,
though, in underdosage. It is not difficult to make microbes resistant
to penicillin in the laboratory by exposing them to concentrations not
sufficient to kill them, and the same thing has occasionally
happened in the body. The time may come when penicillin can be
bought by anyone in the shops. Then there is the danger that the ignorant man
may easily underdose himself and by exposing his microbes
to non-lethal quantities of the drug make them resistant.
Here is a hypothetical illustration. Mr. X. has a sore throat.
He buys some penicillin and gives himself, not enough to kill
the streptococci but enough to educate them to resist penicillin.
He then infects his wife. Mrs. X gets pneumonia and is treated with penicillin.
As the streptococci are now resistant to penicillin the treatment fails.
Mrs. X dies. Who is primarily responsible for Mrs. X’s death?
Why Mr. X whose negligent use of penicillin changed the nature of the microbe.
Moral: If you use penicillin, use enough…
Discurso de Fleming quando recebeu o Prêmio Nobel em 1945
RESUMO
SARTORI, L. Caracterização molecular de Escherichia coli produtora de β-lactamases de
amplo espectro em bovinocultura leiteira. 2018. 64f. Tese (Doutorado) – Faculdade de
Ciências Farmacêuticas (Fisiopatologia e Toxicologia)- Área de Análises Clínicas,
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2018.
O uso excessivo de antimicrobianos em medicina veterinária e humana tem contribuído para o
surgimento e seleção de bactérias multirresistentes (MR) em animais de produção, sendo que a
presença de resíduos de antibióticos em alimentos derivados constitui uma predisposição para
o estabelecimento de reações alérgicas para o consumidor, e altera as características
organolépticas dos alimentos. No Brasil, embora a presença de Escherichia coli produtora de
β-lactamase de espectro estendido (ESBL) em avicultura, bubalinocultura e suinocultura tenha
sido documentada recentemente, não há informações sobre sua prevalência em bovinocultura,
que é um setor importante do agronegócio no país. Assim, o presente estudo teve como objetivo
investigar a presença de linhagens de Escherichia coli produtoras de ESBLs na microbiota
intestinal de bovinos de leite, em uma fazenda comercial com prática de uso rotineiro de
cefalosporinas na forma terapêutica. Amostras de suabe retal foram coletadas em 95 ruminantes
(lactantes e adultos saudáveis), na presença de um regime de tratamento com ceftiofur
terapêutico, em uma fazenda no estado de São Paulo. As amostras foram triadas para a presença
de bactérias Gram-negativas produtoras de ESBL, onde os isolados positivos foram
identificados por MALDI-TOF, com posterior identificação dos genes codificando variantes
ESBL, por PCR e sequenciamento. A presença de cepas de E. coli multirresistentes (resistência
a ≥ 3 classes de antibióticos) foi confirmada em 45 ruminantes (47,3%). Adicionalmente, foram
identificadas 68 cepas de E. coli produtoras de ESBL (71,5%), sendo 7 portadoras do gene
blaCTX-M-2, 11 portadoras do gene blaCTX-M-8, e 50 portadoras do gene blaCTX-M-15. As cepas de
E. coli produtoras de CTX-M-15 foram clonalmente relacionadas por ERIC-PCR e PFGE,
confirmando-se a presença de linhagens clonais em diferentes animais, na mesma propriedade.
Quatro cepas representativas deste clone tiveram seus genomas sequenciados, demonstrando
pertencer ao complexo clonal 23 (ST90), mundialmente reportado em animais e humanos. Estes
resultados denotam uma alta prevalência de E. coli produtora de ESBL do tipo CTX-M na
microbiota intestinal do gado leiteiro, com predominância de clones de importância clínica
humana e veterinária, que hipoteticamente possuem uma genética que favorece sua adaptação
(provavelmente favorecida pela pressão seletiva de antibióticos) na interface animal-humana,
o que representa um potencial zoonótico de importância para a saúde pública.
Palavras-chaves: E. coli, ESBL, CTX-M, ceftiofur, gado de leite.
ABSTRACT
SARTORI, L. Molecular caracterization of Escherichia coli producing broad-spectrum β-
lactamases in dairy cattle. 2018. 64 f. Faculdade de Ciências Farmacêuticas (Fisiopatologia e
Toxicologia)- Área de Análises Clínicas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2018.
The excessive use of antimicrobials in veterinary medicine has contributed to the emergence
and selection of multiresistant (MR) bacteria in livestock animals, and the presence of residues
of antibiotics in food products is a predisposition for the establishment of allergic reactions to
the consumer, changing the organoleptic characteristics of food. In Brazil, although the
presence of Escherichia coli-producing extended-spectrum β-lactamase (ESBL) in poultry,
buffalo and swine farming has been documented recently, there is no information on its
prevalence in cattle breeding, which is an important sector of agribusiness in the country. Thus,
the present study aimed to investigate the presence of Escherichia coli strains producing ESBLs
in the intestinal microbiota of dairy cattle in a commercial farm with routine practice of
cephalosporins in the therapeutic form. Rectal swab samples were collected from 95 ruminants
(healthy calf and adults) in the presence of a treatment regimen with ceftiofur therapeutic, on a
farm in the state of São Paulo. The samples were screened for the presence of ESBL-producing
Gram-negative bacteria, where positive isolates were identified by MALDI-TOF, with
subsequent identification of genes encoding ESBL variants, by PCR and sequencing. The
presence of multiresistant strains of E. coli (resistance to ≥ 3 classes of antibiotics) was
confirmed in 45 ruminants (47.3%). In addition, 68 ESBL-producing E. coli strains (71.5%)
were identified, 7 of which were carriers of the blaCTX-M-2 gene, 11 carriers of the blaCTX-M-8
gene, and 50 carriers of the blaCTX-M-15. The E. coli strains producing CTX-M-15 were clonally
related by ERIC-PCR and PFGE, confirming the presence of clonal lineages in different
animals, on the same property. Four representative strains of this clone had their genomes
sequenced, demonstrating belonging to the clonal complex 23 (ST90), worldwide reported in
animals and humans. These results indicate a high prevalence of E. coli producing CTX-M
ESBL in the intestinal microbiota of dairy cattle, with a predominance of clones of human and
veterinary clinical importance, which hypothetically have a genetics that favors their adaptation
(probably favored by the selective pressure of antibiotics) at the animal-human interface, which
represents a zoonotic potential of public health importance.
Keywords: E. coli, ESBL, CTX-M, ceftiofur, dairy catlle.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Infográfico de disseminação de bactérias multirresistentes na produção leiteira ..... 17
Figura 5. Representação da molécula de ceftiofur. .................................................................. 18
Figura 2. Locais de permanência de E. coli Patogênicas em bovinos adultos ......................... 20
Figura 3. Locais de permanência de E. coli patogênicas em bezerros ..................................... 21
Figura 4. Mapa demonstrando presença de Enzimas beta-lactamases de espectro
estendido(ESBL) do tipo CTX-M em animais de produção. ................................................... 23
Figura 6. Organograma de coleta de amostras realizado na fazenda........................................ 29
Figura 7. Fotos dos antibiogramas mostrando a presença de ESBL (zona fantasma) (A),
antibiograma mostrando cepa resistente a quinolonas (B) e E-test® realizado em cepa produtora
de ESBL. ................................................................................................................................... 30
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Exemplos de E. coli ST90 na interface humana-animal identificada por país ......... 25
Tabela 2. Iniciadores para pesquisa de genes ESBL ................................................................ 32
Tabela 3. Iniciadores para identificação de genes de virulência do tipo stx ............................ 32
Tabela 4. Iniciadores para identificação do grupo filogenético de E. coli ............................... 33
Tabela 5. Perfil de resistência de isolados de E. coli produtores de ESBL isolados de fezes de
bezerros ..................................................................................................................................... 36
Tabela 6. Perfil de resistência de isolados de E. coli produtores de ESBL isolados de fezes de
vacas secas (VS) ....................................................................................................................... 37
Tabela 7. Perfil de resistência de isolados de E. coli produtores de ESBL isolados de fezes em
lactação (VL) ............................................................................................................................ 38
Tabela 8. Resultados do sequenciamento das cepas E. coli 47 VL, 13B, 34VL e 16VS ......... 43
LISTA DE ABREVIATURAS
AMC- amoxicilina/ ácido clavulânico
AMO- amoxicilina
AMI- amicacina
ATM- aztreonam
BHI- Brain Heart Infusion
bla- gene codificador de enzima β-lactamase
CAZ- ceftazidima
CFO- cefalotina
CTF- ceftiofur
CLO- cloranfenicol
CLSI- Clinical and Laboratory Standards Institute
CTX- cefotaxima
DNA- ácido desoxirribonucléico
ENO- enrofloxacino
ESBL- Extended-Spectrum β-lactamase
ETP- ertapenem
FOS- fosfomicina
GEN- gentamicina
Inc- grupo de incompatibilidade de plasmídeo
IPM- imipenem
IS- insertion sequence
LB- Luria Broth
LVX- levofloxacino
MLST- Multilocus Sequence Typing
MR- Multiresistant bacteria
NA- ácido nalidíxico
NCBI - National Center for Biotechnology Information
OFX- ofloxacino
PEF- pefloxacino
PCR- Polymerase Chain Reaction
PFGE- Pulsed Field Gel Electophoresis
ST- Sequence Type
SUT- sulfazotrim
TET- tetraciclina
TZ /TZL -ceftazidima/ ceftazidima+ácido clavulânico
WGS – Whole genome sequence
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 15
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ....................................................................................... 16
2.1 O cenário atual da bovinocultura leiteira no Brasil ....................................................... 16
2.2 A resistência antimicrobiana na bovinocultura leiteira ...................................................... 16
2.3 Utilização de cefalosporina de terceira geração (ceftiofur) em bovinos leiteiros ......... 18
2.4 Dinâmica das infecções por Escherichia coli em Bovinos Leiteiros ............................ 19
2.5 Panorama das β-lactamases de espectro estendido do tipo CTX-M no Brasil e no mundo 21
2.6 Clones de Escherichia coli em bovinos leiteiros: ST90 na interface humana-animal ....... 24
3. JUSTIFICATIVA ............................................................................................................... 26
4. OBJETIVOS ....................................................................................................................... 27
4.1 Objetivo Geral ............................................................................................................... 27
4.2 Objetivos Específicos .................................................................................................... 27
5. MATERIAL E MÉTODOS ............................................................................................... 28
5.1 Amostras ............................................................................................................................. 28
5.2 Isolamento e cultivo bacteriano ..................................................................................... 29
5.3 Antibiograma e triagem para produção de ESBL .......................................................... 29
5.4 Extração de DNA bacteriano ......................................................................................... 31
5.5 Testes genotípicos confirmatórios para ESBL .............................................................. 31
5.6 Identificação de genes de virulência .............................................................................. 32
5.7 Determinação dos grupos filogenéticos ......................................................................... 33
5.8 Avaliação da relação clonal por ERIC-PCR ................................................................. 34
5.9 Tipagem molecular por Pulsed Field Gel Electrophoresis (PFGE) das cepas de CTX-M-
15 ....................................................................................................................................... 34
5.10 Purificação e sequenciamento do DNA cromossomal de cepas representativas de E. coli
produtora de ESBL do tipo CTX-M-15 .................................................................................... 35
6. RESULTADOS ................................................................................................................... 36
6.1 Identificação dos isolados de E. coli .................................................................................. 36
6.2 Perfil de susceptibilidade aos antimicrobianos ................................................................... 36
6.3 Identificação de perfil de ESBL e genes blaCTX-M .............................................................. 39
6.4 Determinação do grupo filogenético de virulência............................................................. 39
6.5 Detecção de genes de virulência ......................................................................................... 39
6.6 Relação clonal por ERIC-PCR ........................................................................................... 40
6.7 Análise da relação clonal dos isolados de E. coli por PFGE .............................................. 41
7. DISCUSSÃO ....................................................................................................................... 44
9. REFERÊNCIAS .............................................................................................................. 52
15
1. INTRODUÇÃO
____________________________________________________________________
As infecções causadas por bactérias multirresistentes (MRs) tem sido de grande
preocupação na saúde pública mundial. Essas bactérias estão presentes tanto na microbiota
humana quanto em animais. A identificação destas bactérias em animais produtores de
alimentos tem sido um desafio, que denota um risco para a saúde humana. Embora animais
produtores de alimento (como o gado leiteiro) sejam considerados principais reservatórios de
Escherichia coli produtora de toxina Shiga (STEC), a qual causa grandes surtos de diarréias em
humanos, apresentando-se inócua para bovinos (Caratolli, 2008), sua contribuição como
reservatórios de bactérias MRs tem sido negligenciada, enquanto a utilização de
antimicrobianos nesses animais pode aumentar a pressão seletiva contribuindo, assim, para o
estabelecimento de uma microbiota MR.
Em bovinocultura, o uso de antibacterianos tem sido direcionado principalmente para o
tratamento da mastite, a qual é uma doença infecciosa de grande preocupação na produção
leiteira. Consequentemente, esta conduta terapêutica exacerbada suporta o estabelecimento de
uma microbiota resistente, com subsequente geração de resíduos em alimentos derivados como
carne e leite (Han et al., 2017). De fato, animais em lactação tratados com antimicrobianos
devem ser ordenhados e seu leite não pode ser utilizado para o consumo humano. Porém, uma
prática comum no manejo de gado leiteiro tem sido a utilização deste leite de descarte na
alimentação de bezerros, exercendo uma pressão seletiva na microbiota destes animais em
desenvolvimento (Maynou et al., 2017).
O Brasil é um dos grandes produtores de alimentos de origem animal, e embora alguns
estudos de vigilância de bactérias resistentes aos antimicrobianos já tem sido realizados em
avicultura, suinocultura, bubalinocultura, reportando a presença de bactérias produtoras de β-
lactamases de amplo espectro (ESBLs) (Ferreira et al., 2014; Silva et al., 2016; Aizawa et
al.,2014), sua presença em bovinocultura não tem sido investigada. Assim, o presente estudo
teve como objetivo investigar a presença de linhagens de Escherichia coli produtoras de ESBLs
na microbiota intestinal de bovinos de leite, em uma fazenda comercial com prática de uso
rotineiro de cefalosporinas na forma terapêutica, elucidando a priori como a cadeia leiteira no
Brasil pode contribuir para a disseminação de MRs.
16
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
______________________________________________________________________________________
2.1 O cenário atual da bovinocultura leiteira no Brasil
O leite representa uma das grandes fontes de alimentação humana, não só pelo seu
consumo in natura, mas também pela grande variedade de produtos que podem ser feitos na
indústria e na culinária. No Brasil, o rebanho bovino compreende mais de 215 milhões de
cabeças (ANUALPEC, 2015), dentre estas 23 milhões são vacas leiteiras. A produção de leite
brasileira atingiu 35 bilhões de litros em 2016, sendo a produção média por vaca de 1.609 litros
por ano, colocando o país em quarto lugar mundial. Neste setor a região Sul possui a maior
produtividade, seguida pela região Sudeste (IBGE, 2016). Estes dados mostram a importância
deste setor no agronegócio brasileiro. Os bovinos representam 55,3% do mercado de produtos
de saúde animal, onde os antimicrobianos são 15,2% do faturamento anual das empresas
(SINDAN, 2018). O maior problema em gado de leite é o uso excessivo de antimicrobianos na
produção. A utilização se faz necessária em alguns momentos, como para o tratamento de
diarréia em bezerros e de mastites em vacas leiteiras. Atualmente tem-se demonstrado uma
grande preocupação da exposição de resíduos de antimicrobianos no leite frente à saúde do
consumidor. Por isso, práticas conscientes devem ser necessárias para evitar a utilização
excessiva na produção e diminuir ao máximo os níveis de resíduos no leite. Esta prática vem
ao encontro ao conceito de “Saúde Única”, onde se tem a preocupação de envolver todos os
ecossistemas (ambiental, humano e animal), tendo por objetivo diminuir riscos para a saúde
(OIE, 2016). No manejo de gado leiteiro temos um exemplo de ecossistema que deve trabalhar
em conjunto: o homem ordenha o leite da vaca, entrando em contato direto com este animal
que pode transmitir patógenos e vice-versa. Este animal por sua vez tem contato com o ambiente
em que vive e pode tanto espalhar quanto servir de reservatório de patógenos nocivos ao
homem. Um equilíbrio nesta cadeia se faz necessário para uma produção de leite livre de
ameaças à saúde tanto animal quanto humana.
2.2 A resistência antimicrobiana na bovinocultura leiteira
Neste contexto, também se relaciona a resistência microbiana. Na produção animal faz-
se necessário à utilização de antimicrobianos no tratamento e profilaxia de doenças infecciosas
e para o aumento da produção animal. Os antimicrobianos podem ser classificados como:
antissépticos, desinfetantes, quimioterápicos e antibióticos. Outra classificação pode ser
17
utilizada quanto a sua utilização: terapêutico (utilizados quando o animal apresenta uma doença
infecciosa), profilático (quando a utilização é feita em animais sadios para secagem do leite,
por exemplo), metafilático ( a utilização é feita em animais sadios que podem estar em contato
com animais doentes) e aditivo zootécnico/melhorador de desempenho (utilizados em animais
sadios para diminuir a competição de bactérias na microbiota intestinal e melhorar a conversão
alimentar) (Spinosa e Tárraga, 2016). O uso excessivo destes medicamentos pode contribuir
para o aumento da população de bactérias multirresistentes (MR), assim como, a disseminação
de genes de resistência. Estes genes podem ser transferidos entre bactérias que colonizam
humanos e animais. O leite pode ser consumido in natura e desta forma pode transmitir
diretamente bactérias MRs para a população, assim como o leite de descarte pode ser jogado
nos rios e contaminar fontes de água. O contato direto com os animais pode facilitar esta
transmissão e a utilização das fezes (esterco) como adubo pode disseminar bactérias MRs em
lavouras e estes alimentos contaminados podem ser consumidos pelo homem. Assim como a
população também pode contaminar rios e estes, que servem de fonte de água de consumo aos
animais, pode ser uma via de contaminação para os mesmos (Téllez et al., 2015). Esta cadeia
de disseminação pode ser visualizada na Figura 1.
Figura 1. Infográfico de disseminação de bactérias multirresistentes na produção leiteira
Fonte: Sartori, 2018
18
2.3 Utilização de cefalosporina de terceira geração (ceftiofur) em bovinos leiteiros
As cefalosporinas são antimicrobianos beta-lactâmicos originadas de um fungo
chamado Cephalosporium acremonium e sua estrutura não só se assemelha às penicilinas, como
seu mecanismo de ação, isto é, ambas impedem a síntese da parede do microrganismo. As
cefalosporinas são classificadas em quatro gerações conforme a ordem cronológica de suas
sínteses. O uso das cefalosporinas na medicina veterinária vem crescendo nos últimos anos,
embora o alto custo do tratamento seja um fator limitante (Spinosa, 2016). O aumento da
utilização deve-se a sua ampla atividade antibacteriana e baixa toxicidade. As cefalosporinas
de terceira geração possuem menor atividade contra bactérias Gram-positivas, porém maior
atividade contra bactérias Gram-negativas, sendo o antimicrobiano de escolha na maioria das
infecções em animais (Prescott, 2010). O ceftiofur, uma cefalosporina de terceira geração,
possui alta atividade antibacteriana, principalmente contra Enterobacteriaceae e outras bactérias
Gram-negativas. Por esta razão, o ceftiofur (Figura 5) vem sendo o antimicrobiano de escolha
para várias infecções em bovinos. A apresentação do ceftiofur para a utilização em bovinos
leiteiros pode ser da forma intramamária ou injetável. O tratamento com ceftiofur é
recomendado nos casos de mastites clínicas, infecções bacterianas como endometrites e
infecções sistêmicas agudas. No Brasil encontram-se disponíveis para venda 12 produtos
registrados para uso em bovinos (SIDAN, 2018).
Figura 2. Representação da molécula de ceftiofur.
Fonte: Wang et al., 2018
A presença de resíduos de ceftiofur no leite constitui uma grande preocupação para a
saúde pública. Além do risco à saúde do consumidor, a presença de resíduos de antimicrobianos
pode interferir na indústria láctea, alterando a produção de alimentos. A persistência destes
resíduos pode ser influenciada pelo agente administrado, dose e via de administração. A
19
presença do processo inflamatório na glândula mamária influencia a eliminação de resíduos
após o tratamento, sendo importante na decisão do médico veterinário em fazer cumprir o
período de descarte do leite (Spinosa, 2016). Não existem dados oficiais de uso e
comercialização do ceftiofur no país, apesar da sua grande utilização não se compara á
utilização muito maior nos Estados Unidos, onde o fator do baixo custo deste medicamento
também é levado em consideração.
2.4 Dinâmica das infecções por Escherichia coli em Bovinos Leiteiros
A bactéria mais presente em bovinos leiteiros é a Escherichia coli, tanto como
causadora de doenças como parte da microbiota residente destes animais. A colonização do
trato gastrointestinal nos mamíferos ocorre logo após o nascimento, sendo membros
importantes da microbiota ao longo da vida. Muitas linhagens de E. coli pertencem ao grupo
de baixa virulência, mas podem causar infecções oportunistas na glândula mamária e no trato
urinário dos animais. Fatores como baixa imunidade, idade e dieta podem predispor a estas
infecções (Quinn, 2005). As cepas patogênicas de E. coli podem ser classificadas de acordo
com sua patogenia como extraintestinais ou entérica. Doenças extraintestinais resultam em
infecções com cepas que causam condições invasivas, tais como septicemia (SPEC),
uropatogenia (UPEC) e podem estar relacionadas às E. coli patogênicas extraintestinais
(ExPEC). Outras cepas podem causar doenças entéricas, tais como E. coli enterotoxigênica
(ETEC), E. coli enteropatogênica (EPEC) e E. coli produtora de toxina Shiga (VTEC ou STEC)
(Markey et al., 2013).
Escherichia coli pode causar diversas enfermidades em bovinos, como mastites e
diarréias, sendo a mastite a principal delas por causar grande prejuízo econômico ao produtor
de leite. Mastite é definida como a inflamação da glândula mamária que pode ser classificada
como clínica ou subclínica; contagiosa ou ambiental, e pode ser causada por agentes físicos ou
químicos. A maioria das mastites são causadas por bactérias e a E. coli é a maior causa de
mastite ambiental. A bactéria está presente tanto no ambiente (cama e fezes) como nos animais
(doentes ou sadios) e provoca a chamada “mastite por coliformes” que pode apresentar sinais
clínicos agudos, como toxemia, ou crônicos, como aumento na contagem de células somáticas
e fibrose do quarto mamário (Markey et al., 2013). Bradley et al. (2001) sugerem em seu estudo
uma possível adaptação da bactéria E. coli no quarto mamário influenciando uma mastite
recorrente, algo que implica grandes gastos com antimicrobianos na pecuária leiteira, assim
20
como perdas na produção. A classificação adicional de E. coli MPEC (Mammary Pathogenic
E. coli) foi realizada por pesquisadores, visto sua importância em casos de mastites (Köhler e
Dobrindt, 2011). No Brasil, a frequência de mastite subclínica por E. coli é de 2,1%, apesar
disso pode causar grandes perdas econômicas (Guimarães, 2011).
Outra enfermidade de grande importância causada por E. coli é a endometrite, uma
inflamação do útero que pode ocorrer após o parto e que causa prejuízos ao animal, tanto pela
doença em si como pela administração de antimicrobianos o que resulta em descarte do leite
(Gilbert, 2013). E. coli causadoras de infecções no útero foram classificadas como EnPEC
(Endometrial Pathogenic E. coli) (Köhler e Dobrindt ,2011). A Figura 2 representa os locais
onde E. coli pode estar presente em vacas de leite e causando infecções.
Figura 3. Locais de permanência de E. coli Patogênicas em bovinos adultos
Fonte: Sartori, 2018
A diarréia por E. coli é uma das doenças mais frequentes em bezerros nos seus primeiros
dias de vida e causa grande preocupação também pelo prejuízo econômico que causa, tanto pela
administração de medicamentos, quanto pela demora na recuperação do animal, atrasando
assim seu desenvolvimento. Vários patótipos de E. coli foram associados à diarreia em bezerros,
como E. coli Enterotoxigênica (ETEC) e produtora de toxina Shiga (STEC) (Coura et al., 2014).
A diarreia em bezerros é explicada pela adesão de toxinas nos receptores no intestino, os quais
21
vão diminuindo ao longo do crescimento do animal (Markey et al., 2013). Outra enfermidade
importante é a infecção nas articulações dos joelhos, onde a via de entrada pode ser pelo
umbigo, o qual possui uma abertura pelo momento do nascimento e pode deve ser tratado até
sua completa cicatrização. A Figura 3 mostra os locais de permanência de E. coli em bezerros.
Importante descrever que o bezerro nasce com os quatro compartimentos do estômago,
mas inicialmente ele se comporta como um monogástrico e somente com seu crescimento e de
quão cedo ele entra em contato com alimentos fibrosos ocorrerá o desenvolvimento da sua
capacidade ruminal. Animais que alimentados quase que exclusivamente com leite por um
longo período podem ter este desenvolvimento atrasado e consequentemente ter impactos no
seu crescimento (Feitosa, 2008). Este conceito é importante se considerarmos o estabelecimento
da microbiota residente, a qual pode sofrer mudanças conforme o crescimento do animal.
Figura 4. Locais de permanência de E. coli patogênicas em bezerros
Fonte: Sartori, 2018
2.5 Panorama das β-lactamases de espectro estendido do tipo CTX-M no Brasil e no
mundo
O mecanismo mais importante de resistência às cefalosporinas é a produção de enzima
do tipo beta-lactamase de espectro estendido, que hidrolisa o anel beta-lactâmico desses
antimicrobianos. A grande quantidade de diferentes beta-lactamases selecionadas pelo uso
22
indiscriminado de cefalosporinas de amplo espectro, e a frequente transmissão de genes de
resistência entre as bactérias tem sido demonstrado pelo fracasso no tratamento de doenças
infecto contagiosas em animais (Prescott, 2010). Existem diversas beta-lactamases de espectro
estendido (ESBL) sendo as mais importantes as do tipo CTX-M, TEM e SHV, todas mediadas
por plasmídeos. As enzimas do tipo CTX-M têm sido descritas em todo mundo, tanto em
humanos quanto em animais (Caratolli, 2008). A primeira descrição de ESBL do tipo CTX-M
foi realizada em um isolado clínico de E. coli em Munique, Alemanha, em 1989, denominada
CTX-M-1 (Bauernfeind et al., 1990). Na América Latina, a primeira descrição de enzima do
tipo CTX-M foi em Buenos Aires em 1990, e por apresentarem algumas diferenças do primeiro
relato, foi denominada de CTX-M-2 (Bauernfeind et al.,1992).
A disseminação de enzimas CTX-M já supera o número de outros tipos de enzimas
ESBL no mundo (D’Andrea et al., 2013). Isto vem ocorrendo não somente no ambiente
hospitalar, mas também atinge animais de companhia, animais de produção, animais selvagens,
meio ambiente e o solo através das fezes dos animais de produção (Conte et al., 2017; Ewers et
al., 2012; Guenther et al., 2011; Trott, 2013; Graham et al.,2016). Atualmente são conhecidas
172 variantes de CTX-M, divididas em cinco grupos: CTX-M-1, CTX-M-2, CTX-M-8, CTX-
M-9 e CTX-M-25 (Lahey, 2016). Frequentemente as variantes CTX-M-14 (pertencente ao
grupo 9) e CTX-M-15 (grupo 1) são encontradas em animais e humanos (Lahlaqui et al.,2014).
O uso de antimicrobianos e fatores de risco (como idade dos animais, estado imune e
doenças infecciosas) em diferentes áreas geográficas tem contribuído para disseminação destas
enzimas. Dentre os diversos tipos de CTX-M, o CTX-M-15 tem sido demonstrado como um
dos mais importantes, disseminados tanto no homem, animais e no ambiente (Cantón et al.,
2012).
A primeira descrição da enzima CTX-M-15 foi realizada em um isolado de E. coli num
paciente no hospital de Nova Déli, Índia (Karim et al., 2001). A partir desta descrição, vários
estudos demonstraram a disseminação do gene blaCTX-M-15 em vários países, tanto em humanos
quanto em animais (Mushtaq et al., 2003; Livermore et al., 2005; Garcia-Fernández et al.,2008).
A incidência em animais foi descrita em animais de companhia (cães e gatos), animais de
produção (frangos, suínos e bovinos) e animais selvagens, evidenciando a transmissão de genes
de resistência entre espécies (Ewers et al., 2010; Harada et al.,2012; Trott, 2013). No Brasil, a
descrição do gene blaCTX-M-15 foi realizada em suínos e equinos (Silva et al., 2016; Leigue et
al., 2016), enquanto o gene blaCTX-M-2 foi descrito em frangos e o gene blaCTX-M-8 foi descrito
em búfalos (Silva et al., 2013; Aizawa et al., 2014).
23
A primeira descrição no Brasil de enzima produtora de ESBL foi realizada em 1997
(Gales et al., 1997). No ano de 2000 foi identificada a variante CTX-M-2 e a variante CTX-M-
8, pela primeira vez, em diferentes enterobactérias isoladas em diferentes hospitais (Bonnet et
al., 2000). As ESBLs da família CTX-M são as mais frequentemente identificadas no Brasil,
onde CTX-M-2 e CTX-M-15, são as variantes mais detectadas no sudeste do país (Rocha et al.,
2016).
A Figura 4 foi baseada nos seguintes trabalhos: Rio Grande do Sul (Fernades et al.,
2009); Santa Catarina (Silva et al., 2013); Paraná (Silva et al., 2016; Cunha et al., 2017); Minas
Gerais (Hoepers et al., 2018; Silva et al., 2016); Rio de Janeiro (Botelho et al., 2015); e São
Paulo (Leigue et al.,2015; Sartori et al., 2017; Ferreira et al., 2014; Aizawa et al., 2014).
Figura 5. Mapa demonstrando presença de Enzimas beta-lactamases de espectro
estendido(ESBL) do tipo CTX-M em animais de produção.
Fonte: Sartori, 2018
A morbidade e a mortalidade associadas a surtos de doenças gastrintestinais são
causadas pela E. coli produtora de toxina Shiga (STEC). O trato gastrointestinal de ruminantes
tem sido relatado como o principal reservatório de STEC (Paton & Paton, 1998). As principais
toxinas do tipo Shiga são classificadas em subtipos stx-1 e stx-2. A presença destas toxinas tem
24
sido associada a doenças severas em humanos. No Brasil, a presença de genes de virulência foi
confirmada em amostras de carne bovina, humanos e fezes de bovinos de leite (Cergolle-
Novella et al., 2006).
2.6 Clones de Escherichia coli em bovinos leiteiros: ST90 na interface humana-animal
A técnica de Multi Locus Sequence Typing (MLST) usa sequências de nucleotídeos de
fragmentos internos de genes selecionados como unidades de comparação e assim, os dados de
sequência são facilmente comparados e altamente reproduzíveis (Enright e Spratt, 1999). O
MLST utiliza uma variação de sequências de genes conservados já conhecidos nas espécies
bacterianas. No caso da E. coli são os alelos adk, fumC, gyrB, icd, mdh, pura e recA. Além
disso, o formato digital de dados de MLST auxiliou o estabelecimento de bancos de dados
globais, contribuindo para a compreensão da distribuição clonal de agentes infecciosos. Os
programas mais utilizados são os que usam a variação genética em genes conservados. O MLST
é uma ferramenta de longo prazo para a vigilância de MRs (Maiden et al., 1998). Além disso,
esta ferramenta tem sido utilizada para estudo epidemiológicos e identificação de surtos
atribuídos à E. coli patogênicas (Eichhorn et al., 2015). A sequência de cada isolado
éidentificada conforme gerado a partir das sequências de cada gene analisado e denomina-se
Sequence Type (ST).
Os Sequence Types (ST) são agrupados em Complexos Clonais (CC), definido como
um cluster de STs primários posicionado em um diagrama, em que todos os STs estão ligados
como variantes de um locus único (Han et al., 2017). O MSLT já demonstrou linhagens
internacionais de grande importância como o ST10 e o ST131. A relação de clones específicos
com variantes de CTX-M pode explicar a disseminação destes genes, uma vez que estudos
utilizando a técnica de MLST tem demonstrado que estas enzimas são frequentemente
relacionadas a poucos tipos de STs, como por exemplo, CTX-M-15 relacionada ao ST131
(Mathers et al., 2015).
Os STs mais frequentemente encontrados em amostras de origem animal são os STs 10,
648, 23, 58 e 361(Poirel et al., 2018). No Brasil já foram relatados os seguintes STs em animais
de produção: ST224, ST2179, ST2308 em búfalos (Aizawa et al.,2014); ST93, ST155 e ST2309
em frangos (Ferreira et al., 2014); ST2179 em cavalos (Leigue et al., 2015) e ST90 em vacas
de leite (Sartori et al., 2017). Em bovinos os STs descritos são os ST10 e ST38 (Lifshitz et al.,
2018), ST1817 (Shridhar et al., 2018) e ST410 (Ali et al., 2017). O ST90 tem sido descrito em
25
várias amostras, conforme Tabela1 abaixo, pesquisada na plataforma Warwick
(http://mlst.warwick.ac.uk/mlst/dbs/Ecoli/GetTableInfo_html).
Tabela 1. Exemplos de E. coli ST90 na interface humana-animal identificada por país
ANO ISOLAMENTO ANO PUBLICAÇÃO FONTE PAÍS
1975 2016 Suíno EUA 1975 2015 Suíno EUA 1982 2016 Suíno EUA 1983 2016 Suíno EUA 1985 2015 Suíno EUA 1998 2015 Suíno Canadá 2000 2016 Suíno EUA 2005 2015 Suíno Alemanha 2002 2015 Humano Espanha 2005 2015 Humano Brasil 2007 2015 Humano Canadá 2009 2015 Humano Espanha 2016 2016 Humano Reino Unido 2010 2016 Humano Reino Unido 2014 2016 Humano Alemanha 2016 2016 Humano Reino Unido 1989 2016 Equino EUA 2016 2017 Cão China 2006 2015 Bovino Egito
Fonte: Sartori, 2018
No Brasil não existem estudos mostrando a prevalência de bactérias MRs em bovinos
de leite, e poucos trabalhos no mundo também são insuficientes para mostrar a distribuição
destas bactérias nesta cadeia produtiva. Faz-se necessário uma elucidação das linhagens
encontradas em bovinos para podermos mapear a disseminação de E. coli nesses animais.
26
3. JUSTIFICATIVA
_____________________________________________________________________
O aumento da prevalência da resistência aos antimicrobianos é uma preocupação
mundial. Nos animais produtores de alimentos esta preocupação deve ser redobrada, visto que
atingem a saúde humana que é o consumidor final. Resíduos de antibióticos podem influenciar
o preparo dos produtos e causar graves alergias aos consumidores. No Brasil, o uso
indiscriminado de antimicrobianos tanto na medicina humana quanto na veterinária, tem
contribuído para a disseminação de cepas MRs, que caracteriza um sério problema de saúde
contribuindo para a falha nos tratamentos. No manejo de bovinos de leite, após um período de
produção de leite que dura em média 9 meses, recomenda-se um período de descanso do animal
na ordenha, chamado de período seco. Assim se busca preservar a glândula mamária enquanto
a vaca está gestante e prepará-la para uma nova lactação. Neste momento a vaca pode estar
sendo um reservatório de bactérias MRs, podendo disseminar estas bactérias assim que começar
a ser ordenhada novamente. O uso de leite de descarte, ou seja, leite com resíduos de
antimicrobianos, na alimentação de bezerros, pode contribuir para que estes animais alberguem
uma microbiota resistente por um longo período de tempo e se tornem disseminadores destas
bactérias. Estudos que demonstram a presença de genes de resistência em animais de produção
tem sido realizado, mas ainda não foi realizado um estudo em bovinos de leite, sendo este uma
grande parcela do agronegócio brasileiro. O monitoramento destes grupos de manejo (bezerros
lactantes, vacas em lactação e vacas secas) é importante para entender a sobrevivência e a
disseminação de bactérias no ambiente. Estes dados só reforçam a importância da realização,
em nosso país, de estudos de identificação e monitoramento dessas cepas resistentes em
amostras de bovinos leiteiros, que até o momento, não parece ter sido realizado por nenhum
grupo de pesquisa brasileira. Ainda, a caracterização molecular destes mecanismos de
resistência e o entendimento das formas de disseminação são de fundamental relevância, pois
estes dados visam auxiliar no estabelecimento de condutas terapêuticas apropriadas, permitindo
implementações de estratégias de controle na transmissão destes agentes, além de prevenir ou
controlar uma possível fonte de disseminação para os seres humanos e até em perdas
econômicas.
27
4. OBJETIVOS
_______________________________________________________________________
4.1 Objetivo Geral
O presente estudo teve como objetivo investigar a presença de linhagens de Escherichia
coli produtoras de ESBLs na microbiota intestinal de bovinos de leite, em uma fazenda
comercial com prática de uso rotineiro de cefalosporinas na forma terapêutica.
4.2 Objetivos Específicos
4.2.1. Avaliar a presença de E. coli resistente a cefalosporinas de amplo espectro na
microbiota intestinal de vacas em lactação, vacas secas, e bezerros alimentados com leite de
descarte.
4.2.2. Investigar a presença de E. coli resistente a cefalosporinas de amplo espectro em
amostras coletadas de água de bebedouro e de camas de bovinos de leite.
4.2.3. Determinar o perfil de suscetibilidade aos antibacterianos de uso veterinário e
humano, nos isolados de E. coli.
4.2.4. Identificar a produção de ESBL em isolados de E. coli resistente às cefalosporinas
de amplo espectro.
4.2.5. Identificar os genes responsáveis pela produção de ESBL (blaESBL variantes) em
isolados de E. coli.
4.2.6. Identificar Escherichia coli produtora de toxina shiga entre isolados produtores
de ESBL.
4.2.7. Determinar os grupos filogenéticos de virulência dentre os isolados de E. coli
produtores de ESBL.
4.2.8. Avaliar a relação clonal entre isolados de E. coli produtores de ESBL.
4.2.9. Caracterizar o genoma de linhagens clonais predominantes de E. coli produtoras
de ESBL.
28
5. MATERIAL E MÉTODOS
_______________________________________________________________________
5.1 Amostras
As amostras foram coletadas no período de novembro de 2014 a janeiro de 2015 em
uma fazenda comercial de exploração leiteira localizada na cidade de Bragança-SP. Esta
fazenda possui um plantel de boa qualidade genética, com vacas da raça Holandesa. Atualmente
possui 300 vacas em lactação e uma ordenha mecânica diária em três horários. O leite
ordenhado é direcionado automaticamente ao resfriador e conservado até a coleta para o
laticínio. O manejo de vacas em lactação doentes que estão em tratamento é de separar o animal,
medica-lo conforme a necessidade (intramamário ou sistêmico) e descartar o leite ordenhado.
Este leite de descarte é armazenado e enviado ao galpão dos bezerros e utilizado em sua
alimentação.
Foram selecionados 30 bezerros lactantes (n= 30) com idade de 3 dias a 3 meses que se
alimentavam de leite de descarte proveniente de vacas em tratamento com ceftiofur. Trinta
vacas secas (n= 30), ou seja, fora do período de lactação, foram selecionadas para este estudo.
Trinta e cinco vacas em lactação (n= 35) também foram selecionadas, as quais já tinham sido
tratadas com ceftiofur e estavam fora do período de carência. No momento da coleta todos os
animais estavam sadios. Amostras de fezes de todos os animais (n= 95) foram coletadas através
de swab retal, amostras de leite individuais das vacas em lactação foram coletadas em tubos
cônicos do tipo Falcon® estéril, bem como foi coletada uma amostra do tanque de leite de
descarte fornecido aos bezerros. O leite foi transportado em isopor com gelo até o laboratório
e mantido refrigerado até ser semeado no dia seguinte. Amostras das camas de areia (n=3) das
vacas foram coletadas através de swab estéril. Amostras da água destes bebedouros (n=3) foram
coletadas em tubos cônicos do tipo Falcon® estéril. A coleta está representada no organograma
da Figura 6 abaixo. O estudo foi aprovado pelo comitê de ética em pesquisa da FCF-USP
(CEUA514) (ANEXO I).
29
Figura 6. Organograma de coleta de amostras realizado na fazenda
Fonte: Sartori, 2018
5.2 Isolamento e cultivo bacteriano
As amostras de fezes, das camas (swabs) e as amostras de leite foram cultivadas em
placas de Ágar MacConkey suplementadas com ceftiofur (1mg/mL) para uma pré-seleção de
cepas potencialmente produtoras de ESBL, sendo incubadas a 35°C por 24 horas. As amostras
de água foram filtradas através de um microfiltro (0,45 µm) e este foi depositado em placas de
Ágar MacConkey suplementadas com ceftiofur e incubadas a 35°C por 24 horas. As colônias
selecionadas foram cultivadas em caldo Mueller Hinton (MH) para caracterizar o perfil de
susceptibilidade aos antimicrobianos de uso humano e animal. A identificação dos isolados foi
realizada pela técnica de MALDI TOFF (Matrix-assisted laser desorption ionization time-of-
flight), utilizando o aparelho MALDI Biotyper (Bruker Daltonik) e o software MALDI
Biotyper OC versão 3.1.66.
5.3 Antibiograma e triagem para produção de ESBL
A triagem fenotípica para avaliar a produção de ESBL foi determinada pelo método de
disco aproximação (Jarlier et al., 1988). Para a confirmação de fenótipo de ESBL foi realizada
a metodologia por disco aproximação ou dupla difusão em disco (Kirby-Bauer) preconizada
pelo CLSI (CSLI, 2013). Foram selecionadas colônias bacterianas isoladas puras que cresceram
no meio seletivo e foram suspendidas em 3ml de caldo MH, a fim de se obter um inóculo
ajustado em espectofotômetro na escala 0,5 de MacFarland (108 UFC/mL). Após o ajuste da
turvação do inóculo, foi introduzido um swab estéril no tubo, que foi pressionado nas paredes
a fim de remover o excesso de líquido e, em seguida foi semeado em uma placa de Muller-
30
Hinton. Após 3 a 5 minutos em temperatura ambiente para diminuição da umidade da placa, os
discos foram colocados sobre a superfície do meio de cultura com auxílio de uma pinça estéril.
A disposição dos discos foi realizada a fim de se observar a chamada “zona fantasma”, que é a
demonstração do sinergismo entre os discos de amoxacilina/ácido clavulânico e ceftazidima,
indicando uma bactéria produtora de ESBL. As placas foram incubadas a 35-37°C por 16-18
horas. Após o período de incubação foi realizada a medição do diâmetro dos halos de inibição
de crescimento, conforme Figura 7A. Os seguintes antimicrobianos foram utilizados: cefoxitina
(CFO), fosfomicina (FOS) (critério adaptado), amoxacilina (AMO), amoxacilina+ácido
clavulânico (AMC), cefotaxima (CTX), ceftazidima (CAZ), ceftriaxona (CRO), cefepima
(CPM), ciprofloxacino (CIP), sulfametoxazol/trimetoprim (SUT), gentamicina (GEN),
ertapenem (ETP), imipenem (IPM), amicacina (AMI), tigeciclina (TIG), ofloxacino (OFX),
moxifloxacino (MFX), ácido nalidíxico (NAL), levofloxacino (LVX), pefloxacino (PEF). As
quinolonas foram testadas separadamente (Figura 7B). Adicionalmente um novo inócuo das
cepas resistentes foi preparado em caldo MH em escala 0,5 de MacFarland e estriadas em placas
de Muller-Hinton onde foram utilizadas fitas E-test® (Biomerieux) contendo
ceftazidima/ceftazidima+ácido clavulânico (TZ/TZL), formuladas para confirmar a presença
de enzimas produtoras de ESBL e para determinar a concentração inibitória mínima (CIM). As
placas foram incubadas por 24 horas a 35°C. A CIM foi interpretada como o ponto de
intersecção entre a elipse de inibição com a borda da fita de E-test® (Figura 7C).
Figura 7. Fotos dos antibiogramas mostrando a presença de ESBL (zona fantasma) (A),
antibiograma mostrando cepa resistente a quinolonas (B) e E-test® realizado em cepa
produtora de ESBL.
Fonte: Sartori, 2018
31
5.4 Extração de DNA bacteriano
O DNA bacteriano foi extraído através do método de fervura descrito por Chapman e
colaboradores (2001), o qual consiste em utilizar 1,5mL de cultura em meio LB com incubação
de 18 a 24 horas. O volume foi acondicionado em um microtubo e foi centrifugado a 3500 rpm
por 3 minutos em Centrífuga Eppendorf®. Depois de descartado o sobrenadante, foram
adicionados 100 µL de água Milli-Q estéril e a solução foi homogeneizada, fervida por 10 min
para posterior incubação em banho frio (gelo) por 5 min. Após serem centrifugados a 9000
rpm por 15 min, 100 µL do sobrenadante foram transferidos para um microtubo estéril, sendo
armazenado a -20ºC.
5.5 Testes genotípicos confirmatórios para ESBL
A identificação dos genes codificadores de ESBLs blaCTX-M (incluindo blaCTX-M-2,
blaCTX-M-8 e blaCTX-M-15) foi realizada pela reação em cadeia da polimerase em cadeia (PCR).
Foram utilizados os iniciadores descritos na Tabela 2. A amplificação dos genes alvo foi
realizada em reações de 25 μL contendo 100 ng de DNA; tampão de PCR 10X [Tris-HCl (pH
8,4), 50 mM de KCl] (Fermentas, USA), 1,5 mM de MgCl2 (Fermentas); 200 μM de cada
dNTP (Fermentas); 25 pmol de cada iniciador e 1 U de Taq DNA polimerase (Fermentas). As
condições de amplificação foram as seguintes: 1) desnaturação inicial a 94 ºC, por 5 minutos;
2) desnaturação a 94 ºC, por 1 minuto; 3) anelamento com temperatura específica para cada
iniciador, por 1 minuto; 4) extensão a 72 ºC, por 1 minuto; 5) repetição das etapas 2, 3 e 4, por
29 vezes; 6) extensão final a 72 ºC, por 5 minutos. Posteriormente, os produtos da PCR foram
analisados por eletroforese em gel de agarose a 1%. Foi utilizado um marcador de peso
molecular de DNA 100 bp Plus (Thermo Fisher Scientific) e corado com Gel Red Nucleic Acid
Stain (Biotium), visualizado em UV (312nm) com auxílio de um transiluminador (Spectroline).
Foram utilizados também, controles positivos e negativos para cada gene, a fim de validar as
reações de PCR.
32
Tabela 2. Iniciadores para pesquisa de genes ESBL
Gene alvo (ESBL) Sequência 5’-3’ Pb* T (°C)** Referência
blaCTX-M F5’-GCTTTGCGATGTGCAG-3’
R5’-ACCCGCATATGCTTGTG-3’
544 56 Edelstein et al.,
2003
blaCTX-M-2 F5’-GCGACCTGGTTAACTACAATC-3’
R5’-CGGTAGTATTGCCCTTAAGCC-3’
351 55 Tollentino, et al.,
2011
blaCTX-M-8 F5’-CTGGAGAAAAGCAGCGGGGG-3’
R5’- ACCCAGGATGTGGGTAGCCC-3’
320 55 Bonnet et al, 2000
blaCTX-M-15 F5’-CACACGTGGAATTTAGGGACT-3’
R5’- GCCGTCTAAGGCGATAAACA-3’
550 56 Muzaheed et al.,
2008
*Pb: pares de base; T**: temperatura de anelamento
5.6 Identificação de genes de virulência
Para identificação de genes de virulência foram utilizados os primers para identificação
de sxt-1 e sxt-2, descritos na Tabela 3, e o seguinte ciclo: desnaturação inicial de 94°C por 10
segundos, seguido por 30 ciclos de desnaturação de 94°C por um segundo cada, anelamento de
52°C por um segundo, extensão de 72°C por 8 segundos, e extensão final de 72°C por 16
segundos. O produto da PCR foi visualizado em gel de agarose 1,5% corado com Gel Red
Nucleic Acid Stain (Biotium) e visualizado em UV (312nm) com auxílio de transiluminador
(Spectroline).
Tabela 3. Iniciadores para identificação de genes de virulência do tipo stx
Gene Sequência 5’-3’ Pb* T (°C)** Referência
sxt-1 F5’-CGCTGAATGTCATTCGCTCTGC-3’
R5’-CGTGGTATAGCTACT GTCACC-3’
302 55 Blanco et al.,
1996
sxt-2 F5’-CTTCGGTATCCTATTCCCGG-3’
R5’-CTGCTGTGACAGTGACAAAACGC-3’
516 55 Blanco et al.,
1996
*Pb: pares de bases; **T: temperatura de anelamento.
33
5.7 Determinação dos grupos filogenéticos
A determinação dos grupos filogenéticos das cepas de E. coli produtoras de ESBL foi
realizada através de PCR, conforme metodologia descrita por Clermont et al. (2013) e
representada na Figura 8. Os primers de anelamento estão descritos na Tabela 4.
Tabela 4. Iniciadores para identificação do grupo filogenético de E. coli
Gene Sequência 5’-3’ Pb* T (°C)** Referência
chuA F5´-ACGAACCAACGGTCAGGAT-3´
R5´-TGCCGCCAGTACCAAAGACA-3´
279 57 Clermont et
al., 2013
yjaA F5´-TGAAGTGTCAGGAGACGCTG-3’
R5´-ATGGAGAATGCGTTCCTCAAC-3´
211 55 Clermont et
al., 2013
TspE4C2 F5´-GAGTAATGTCGGGGCATTCA-3´
R5´-CGCGCCAACAAAGTATTACG-3´
152 55 Clermont et
al.,2013
*Pb: pares de base; T**: temperatura de anelamento.
Figura 8. Árvore de classificação filogenética que diferencia grupos filogenéticos de virulência
de E. coli.
Fonte: Clermont et al., 2013
34
5.8 Avaliação da relação clonal por ERIC-PCR
A relação clonal entre as cepas de E. coli produtoras de ESBL foi determinada por
ERIC-PCR. Esta tipagem é baseada na amplificação de fragmentos de DNA conservados em
Enterobactérias. O único primer utilizado foi ERIC-2 (5’-
AAGTAAGTGACTGGGGTGAGCG-3’) (Sneath, 1973) e o seguinte ciclo: desnaturação
inicial de 94°C por 10 segundos, seguido por 30 ciclos de desnaturação de 94°C por um segundo
cada, anelamento de 52°C por um segundo, extensão de 72°C por 8 segundos, e extensão final
de 72°C por 16 segundos. O produto da PCR foi visualizado em gel de agarose 1,5% corado
com Gel Red Nucleic Acid Stain (Biotium) e visualizado em UV (312nm) com auxílio de
transiluminador (Spectroline) e analisado pelo software Bionumerics (Applied Maths, Kortrij,
Belgium), cepas com pelo menos 90% de similaridade foram considerados clones. Para análise
do perfil ERIC foi construído um dendrograma com auxílio do software Bionumerics
(tolerância 2%, otimização 1%).
5.9 Tipagem molecular por Pulsed Field Gel Electrophoresis (PFGE) das cepas de
CTX-M-15
A avaliação de clonalidade genética das cepas foi realizada por PFGE. Uma colônia
pura isolada foi colocada em 15 mL de caldo Luria (0,5% NaCl), por 18-24h a 37°C.
Posteriormente as células foram ressuspensas em 1 mL de solução tampão TE I (Tris-HCl
10mM, pH 7,5; EDTA 1mM, pH 8,0), transferidas para microtubos tipo Eppendorf® e foram
centrifugados a 12.000 RPM por cinco minutos a 24°C. Depois foram acrescentadas 400µL de
TE I, e desta suspensão, 80µL foram adicionados a 320µL de agarose de baixo ponto de fusão
a 1%, a 55-60°C. Os moldes para confecção dos plugs foram preenchidos e incubados por 15
minutos a 4°C para solidificar. Os plugs foram retirados dos moldes e colocados em 5mL de
uma solução de lise (EDTA 50mM, pH 8,0; Tris-HCl 50mM, pH 7,5; SDS 1%, Sarkosyl 1%,
proteinase K 0,1mg/mL e enzima de restrição Xbal) em tubos tipo Falcon®, e incubados por
2h a 55°C. Após a incubação, duas lavagens dos plugs foram realizadas em 10mL de água Milli
Q® e 4 lavagens em 10mL de TE I com intervalos de 15 min a 55°C. Os plugs foram
transferidos para um microtubo e estocados em 1mL de TE I a 4°C até o momento do uso. Os
plugs e os marcadores de peso molecular foram acondicionados em gel de agarose 1% em
solução tampão e submetidos á eletroforese em campo pulsado (Chef Mapper Bio-Rad
Laboratories, Hercules, CA), voltagem de 6V/cm, a 14°C por 22h, com intervalos de pulsos de
1s a 40s. O gel de PFGE foi corado em brometo de etídeo 1µg/ml durante 1h e visualizado em
35
luz ultravioleta. Para análise do perfil PFGE foi construído um dendrograma no software
Bionumerics ( tolerância 2%, otimização 1%).
5.10 Purificação e sequenciamento do DNA cromossomal de cepas representativas
de E. coli produtora de ESBL do tipo CTX-M-15
O DNA total genômico das cepas de E. coli (47VL, 13B, 34VL e 16VS) foram
sequenciados usando a plataforma MiSeq (Illumina, Inc., San Diego, CA). O DNA foi extraído
usando um kit de purificação (PureLink™ Quick Gel Extraction and PCR Purification Combo
Kit Life Technologies, Carlsbad, CA), de acordo com o protocolo recomendado pelo fabricante.
A qualidade e quantidade do DNA genômico foi determinada por eletroforese em Gel Agar e
usando um fluorômetro (Qubit® 2.0 fluorometer, Life Technologies). Uma biblioteca de 300-
bp foi construída para o Illumina paired-end sequencing, usando um kit (Paired-End DNA
Sample Prep Kit, Illumina Inc., Cambridge, UK), de acordo com as instruções do fabricante. A
montagem da sequência de DNA foi realizada usando a plataforma A5-Miseq (Coil et al.,
2015). Os contigs foram curados manualmente usando a ferramenta Geneious v.R9 (Biomatters
Ltd, New Zealand). A sequência do genoma foi anotada no NCBI Prokaryotic Genome
Annotation Pipeline v.3.2 com as identificações: LYPE01000000 (cepa 47VL), PRJNA374675
(cepa 13B), PRJNA374699 (cepa 34VL) e PRJNA473553 (cepa 16VS)
(http://www.ncbi.nlm.nih.gov/genome/annotation_prok/). Os genes de resistência, assim como
genes de virulência, grupos de incompatibilidade de plasmídeos, sorotipo e MLST foram
avaliados a plataforma disponível o pelo Center for Genomic Epidemiology
(https://cge.cbs.dtu.dk/services), com 99,5% de limite para identificação de genes. Genes
codificando resistência para metais pesados e desinfetantes foram identificados por análises in
silico.
36
6. RESULTADOS
_______________________________________________________________________
6.1 Identificação dos isolados de E. coli
Dentre as amostras de leite provenientes de vacas em lactação (n= 35), não foi observado
crescimento de colônias bacterianas em meio seletivo (MacConkey suplementado com
ceftiofur), assim como nas amostras de água de bebedouro (n=3) e da cama dos animais (n=3).
No entanto, observou-se que 95 amostras fecais coletadas dos animais (100%) apresentaram
crescimento positivo em ágar MacConkey suplementado com ceftiofur. Todas as culturas
positivas foram identificadas como E. coli.
6.2 Perfil de susceptibilidade aos antimicrobianos
Nas 95 amostras estudadas, 80 isolados de E. coli (84,2%) apresentaram resistência a
uma ou mais classes de antimicrobiano, além do ceftiofur. Foram identificados 45 isolados
(47,3%) com perfil de multirresistência (MR), ou seja, resistência a três ou mais classes de
antimicrobianos.
A Tabela 5 mostra as cepas isoladas de bezerros sadios com perfil de resistência a mais
de um antimicrobiano e presença do gene blaCTX-M-8 e blaCTX-M-15. Foram encontradas 4 cepas
pertencendo ao gene blaCTX-M-8 e quatro pertencentes ao blaCTX-M-15. Os isolados mostram um
perfil de multirresistência, ou seja, são resistentes a mais de três classes de antimicrobianos.
A Tabela 6 mostra os isolados de vacas secas, os quais apresentaram também um perfil
de multirresistência a vários antimicrobianos, sendo 15 isolados positivos para o gene blaCTX-
M-15.
A Tabela 7 mostra os isolados de vacas em lactação, onde além de perfil
multirresistente, foi confirmada a presença dos genes blaCTX-M-2 em dois isolados, o gene
blaCTX-M-8 em cinco isolados e o gene blaCTX-M-15 em 31 isolados.
Tabela 5. Perfil de resistência de isolados de E. coli produtores de ESBL isolados de fezes de
bezerros
Isolado Perfil de Resistência*
Fenótipo
ESBL
CIM
TZ/TZL
blaCTM-
M Filogrupo
8B GEN, CFO, AMI, SUT, CIP, MFX, PEF, LVX, OFX Positivo 4/0,125 15 A
9B GEN, CFO, AMI, SUT, CIP, MFX, PEF, LVX, OFX Positivo 4/0,125 15 A
13B NAL, CIP, SUT,GEN, CTX, CPM,CAZ, MFX, PEF, LVX, OFX Positivo 4/0,125 15 B1
16B CTX, NAL,AMI,GEN,MFX, PEF, LVX, OFX Positivo 4/0,125 8 A
37
18B NAL, CIP, SUT,CFO, AMI,GEN, CTX, CAZ, MFX, PEF, LVX,
OFX
Positivo 4/0,125 8 A
19B CTX, NAL, CIP,AMI, GEN, AMC, CRO, CPM, MFX, PEF,
LVX, OFX
Positivo 4/0,125 8 A
20B NAL, SUT,AMI, GEN, CTX, CPM, MFX, LVX, PEF, OFX Positivo 4/0,125 8 D
29B AMC, CTX, NAL, CFO, CIP,SUT, CPM, IPM, MFX, LVX,
PEF, OFX
Positivo 4/0,125 15 A
*CIP(Cirpofloxacino), GEN (Gentamicina), CFO(Cefoxitina), AMI (Amicacina), SUT (Sulfametoxazol+trimetoprim), MFX (Moxifloxacino),
PEF (Pefloxacino), LVX (Levofloxacino), OFX (Ofloxacino), NAL (Ácido Nalidíxico), CPM (Cefepima), CRO (Cefotriaxona), CTX
(Cefotaxima), CAZ (Ceftazidima), AMC ( Amoxicilina+clavulanato).
Tabela 6. Perfil de resistência de isolados de E. coli produtores de ESBL isolados de fezes de
vacas secas (VS)
Isolado Perfil de Resistência*
Fenótipo
ESBL
CIM
TZ/TZL
blaCTM-
M Filogrupo
1VS NAL, CIP,SUT, CTX, AMC, CPM, CAZ, CRO, LVX, MFX,
OFX, PEF
Positivo 8/0,25 15 B1
2VS NAL, SUT, GEN, CIP, AMC, CAZ, CRO, LVX, MFX, OFX,
PEF
Positivo 8/0,25 15 B1
3VS NAL, CIP,SUT, CFO, FOS, ETP, AMC, LVX, MFX, PEF, OFX Positivo 0,5/0,19 15 B1
14VS NAL, CIP,CFO, FOS, ETP, IPM, CTX, AMC, CPM, CRO, LVX,
MFX, OFX, PEF
Positivo 0,5/0,94 15 B1
15VS NAL, SUT,PEF, LVX, MFX, OFX Positivo 0,5/0,064 15 B1
16VS NAL, CIP, SUT, AMC, LVX, MFX, PEF, OFX Positivo 0,5/0,125 15 B1
17VS NAL, SUT, CFO, FOS, CIP, ETP, CTX, AMC, CRO, LVX,
MFX, OFX, PEF
Positivo 0,5/0,125 15 B1
18VS FOS, CFO, NAL,LVX, MFX, OFX, PEF Positivo 0,5/0,125 15 B1
19VS NAL, SUT, GEN, CIP, ETP, CTX, AMC, COM, CAZ, CRO,
LVX, MFX, PEF, OFX
Positivo 0,5/0,094 15 B1
20VS FOS, AMC, LVX, MFX, PEF, OFX Positivo 0,5/0,94 15 B1
21VS NAL,LVX, MFX, OFX, PEF Positivo 0,5/0,94 15 B1
22VS SUT, CIP, AMC, LVX, MFX, OFX, PEF Positivo 0,5/0,94 15 B1
23VS CFO, FOS, LVX, MFX, OFX, PEF Positivo 0,5/0,94 15 B1
24VS LVX, MFX, OFX, PEF Positivo 0,5/0,94 15 B1
25VS LVX, MFX, OFX, PEF Positivo 0,5/0,94 15 B1
*CIP(Ciprofloxacino), GEN (Gentamicina), CFO(Cefoxitina), AMI (Amicacina), SUT (Sulfamatoxazol+trimetoprim), MFX (Moxifloxacino),
PEF (Pefloxacino), LVX (Levofloxacino), OFX (Ofloxacino), NAL (Ácido Nalidíxico), CPM ( Cefepima), CRO (Cefotriaxona), CTX
(Cefotaxima), CAZ (Ceftazidima), AMC ( Amoxicilina+clavulanato), IPM (Imipenem), ETP (Ertapenem), FOS (Fosfomicina).
38
Tabela 7. Perfil de resistência de isolados de E. coli produtores de ESBL isolados de fezes em
lactação (VL)
Isolado Perfil de Resistência*
Fenótipo
ESBL
blaCTX-M Filogrupo
26VL CTX, LVX, MFX, OFX, PEF Positivo 15 A
27VL GEN, SUT, ETP, CIP, CTX, CRO, NAL, LVX, MFX, OFX,PEF Positivo 15 A
28VL CTX, LVX, MFX, OFX, PEF Positivo 15 A
29VL GEN, SUT, ETP, CIP, CTX, CRO, NAL, LVX, OFX, MFX, PEF Positivo 15 A
30VL GEN, SUT, ETP, CIP, AMC, CTX, CRO,NAL, LVX, MFX, OFX, PEF Positivo 8,15 A
34VL GEN, SUT, ETP, CIP, CTX, CPM, CRO, NAL, LVX, MFX, PEF, OFX Positivo 15 A
36VL GEN, SUT, ETP, CIP, CTX, CRO, NAL, LVX, MFX, PEF, OFX Positivo 8,15 A
38VL GEN, SUT, ETP, CIP,CTX, CPM, CRO, NAL, LVX, MFX, PEF, OFX Positivo 8, 15 A
39VL GEN, DUT, ETP, CIP, CTX, CRO, NAL, LVX, PEF, MFX, OFX Positivo 15 A
40VL GEN, SUT, ETP, CIP, AMC, NAL, LVX, MFX, PEF, OFX Positivo 15 A
41VL GEN, SUT, ETP, CIP, CTX, COM, CAZ, CRO, NAL, LVX, OFX, PEF,
MFX
Positivo 15 A
42VL GEN, SUT, ETP, CIP, CTX, COM, CAZ, CRO, NAL, LVX, MFX, PEF,
OFX
Positivo 15 A
43VL GEN, SUT, ETP, CIP, CTX, CRO, NAL, LVX, MFX, PEF, OFX Positivo 15 A
47VL GEN, SUT,CIP, ETP, CTX, CPM, CAZ, CRO, LVX, MFX, PEF, OFX,
NAL
Positivo 15 B1
53VL CTX, GEN, SUT, CIP, COM, CAZ, CRO, LVX, MFX, OFX, PEF Positivo 15 A
54VL CAZ, LVX, MFX, OFX, PEF Positivo 15 A
57VL GEN, SUT, IPM, CIP, NAL, LVX, MFX, PEF, OFX Positivo 15 A
58VL GEN, SUT, CIP, CTX, CRO, NAL, LVX, PEF, OFX, MFX Positivo 15 A
61VL GEN, CTX, CRO, NAL, MFX, LVX, OFX, PEF Positivo 8,15 A
65VL GEN, CTX, CRO, NAL, MFX, OFX, LVX, PEF Positivo 15 A
66VL GEN, SUT, CIP, CTX, CRO, NAL, LVX, MFX, OFX, PEF Positivo 15 A
67VL CTX, CRO, NAL, MFX, PEF, OFX, LVX Positivo 15 A
68VL CRO, CTX, LVX, MFX, OFX, PEF Positivo 15 A
69VL CTX, CRO, CAZ, NAL, LVX, MFX, OFX, PEF Positivo 15 A
71VL GEN, SUT, CIP, NAL, LVX, OFX, PEF, MFX Positivo 8,15 B1
72VL GEN, SUT, CIP, NAL,LVX, MFX, OFX, PEF Positivo 2,15 A
73VL AMC, CRO, NAL, LVX, PEF, OFX, MFX Positivo 15 A
75VL CRO, CTX, CAZ, LVX, MFX, OFX, PEF Positivo 15 A
76VL AMC, NAL, LVX, OFX, MFX, PEF Positivo 15 A
77VL LVX, NAL, MFX, OFX, PEF Positivo 15 A
79VL CTX, CRO. CAZ, NAL, LVX, MFX, OFX, PEF Positivo 2,15 A
*CIP(Ciprofloxacino), GEN (Gentamicina), CFO(Cefoxitina), AMI (Amicacina), SUT (Sulfametoxazol+trimetoprim), MFX (Moxifloxacino),
PEF (Pefloxacino), LVX (Levofloxacino), OFX (Ofloxacino), NAL (Ácido Nalidíxico), CPM ( Cefepima), CRO (Cefotriaxona), CTX
(Cefotaxima), CAZ (Ceftazidima), AMC ( Amoxicilina+clavulanato), IPM (Imipenem), ETP (Ertapenem), FOS (Fosfomicina).
39
6.3 Identificação de perfil de ESBL e genes blaCTX-M
A produção de ESBL foi confirmada em 68 isolados de E. coli (71,5 %), os quais foram
testados genotipicamente por PCR para confirmação de genes codificadores de ESBL do tipo
CTX-M. Todos os isolados foram positivos para blaCTX-M (6 isolados blaCTX-M-2, 10 blaCTX-M-8
e 50 blaCTX-M-15). A Figura 9 demonstra a separação de cada lote na fazenda, o número de
amostras e o resultado do perfil de enzimas encontrado.
Figura 9. Esquema representativo da fazenda leiteira onde foram coletadas as amostras
Fonte: Sartori, 2018
6.4 Determinação do grupo filogenético de virulência
Dentre as 68 cepas de E. coli produtoras de ESBL, 49 foram classificadas dentro do
grupo de baixa virulência A (72,1%) e 18 (26,5%) dentro do grupo B1, sendo que 1 cepa foi
classificada como pertencente ao grupo de alta virulência D (1,5%).
6.5 Detecção de genes de virulência
Na análise de virulência para os genes stx-1 e stx-2, todos os isolados foram negativos.
40
6.6 Relação clonal por ERIC-PCR
Através da análise do ERIC-PCR pode-se observar variabilidade clonal, sendo que
houve 100% de similaridade entre as cepas 19B e 20B (produtoras de CTX-M-8) dos isolados
de bezerros (Figura 10). O dendrograma foi construído com auxílio do software Bionumerics
(tolerância 2%, otimização 1%).
Figura 10. Dendrograma, construído a partir da análise de ERIC-PCR, das cepas de E. coli
isoladas de bezerros.
Isolados de E. coli recuperados de amostras coletadas de vacas em lactação, e
submetidas a ERIC-PCR, foram agrupadas em diferentes clusters, sendo que as cepas 34VL e
40VL possuem 95,7% de similaridade; as cepas 29VL e 30VL 97,7% de similaridade; e, as
cepas 26VL e 27VL, 97,7% de similaridade (Figura 11). Adicionalmente, foi possível observar
um cluster predominante que com 82,4% de similaridade, agrupou 21 cepas de E. coli
produtoras de CTX-M-15.
88.9
71.8
63.5
83.3
80.0
67.4
48.0
27.2
ERIC Bezerros
10
0
80
60
40
ERIC Bezerros
29/#1
8
13
9
19
20
16
6
18
10
41
6.7 Análise da relação clonal dos isolados de E. coli por PFGE
Na análise do PFGE, demonstrado na Figura 12, podem-se observar isolados
geneticamente relacionados. Utilizando um critério de agrupamento baseado em 90% de
similaridade é possível definir 6 clusters, com predomínio dos clusters definidos como A e B,
agrupando 18 e 17 isolados de E. coli produtora de CTX-M-15, respectivamente.
92.3
94.1
74.1
94.1
83.8
79.4
69.5
95.7
93.8
95.2
88.2
94.7
91.5
84.1
97.7
89.3
95.2
87.9
84.1
82.4
95.7
87.3
79.4
90.0
73.0
60.4
47.1
66.7
82.4
51.3
42.2
ERIC Bezerros
10
0
90
80
70
60
50
ERIC Bezerros
47
50
52
53
51
55
59
57
58
34
40
36
33
39
73
69
71
67
68
26
27
29
30
32
41
74
75
31
66
65
42
43
44
46
60
61
63
38
72
62
76
77
78
79
Figura 11. Dendrograma, construído a partir da análise de ERIC-PCR, das cepas de E.
coli isoladas de vacas em lactação
42
Figura 12. Dendrograma construído a partir da análise de PFGE.
A
B
43
6.7 Análise do sequenciamento de quatro cepas representativas de E. coli
Os resultados dos genes de resistência encontrados no sequenciamento das cepas de E.
coli (47VL, 13B, 34VL e 16VS), representativas no PFGE estão descritos na Tabela 8 a seguir.
Os resultados mostram que as cepas pertencem ao ST90 do CC23, mesmo sendo isolados de
animais diferentes e alojados em locais distintos da fazenda.
Tabela 8. Resultados do sequenciamento das cepas E. coli 47 VL, 13B, 34VL e 16VS
Características
E. coli produtora de CTX-M-15
47 VL 13B 34VL 16VS
Fonte Vaca leiteira Bezerro Vaca leiteira Vaca seca
Amostra Suabe fecal Suabe fecal Suabe fecal Suabe fecal
Serotipo O8:H9 O8:H9 O8:H9 O8:H9
Genoma (bp) 5,162,368 5,227,130 6,212,766 4,991,545
GC content (%) 50.6 50.7 48,8 50,6
tRNA 81 89 89 47
rRNA 23 20 20 3
No code RNA 16 9 9 9
Números de CDS 4,992 7,769 7,291 5,205
CRISP R 2 2 2 2
ST/CC 90/23 90/23 90/23 90/23
Lineage AxB1 AxB1 AxB1 AxB1
cgMLST 51329 51330 51329 51329
rMLST 29301 29301 29301 29301
wgMLST 54404 54405 61711 61712
Genes de resistência a:
Aminoglicosídeos
aac(3)-IId, aadA5,
aph(3')-Ia, strA,
strB
aac(3)-IId, aadA5,
strA, strB
aac(3)-IId, aadA5,
aph(3')-Ia, strA, strB
aph(3')-Ia, aadA5,
aac(3)-IId, aph(3')-Ib,
aph(6)-Id
β-lactâmicos blaCTX-M-15, blaTEM-
1B blaCTX-M-15, blaTEM-1B blaCTX-M-15, blaTEM-1B
blaCTX-M-15, blaTEM-1B
Macrolideos mph(A) mph(A) mph(A) mph(A)
Quinolonas gyrA mutations
(C248T, C255T,
G259A, C273T,
T300C)
gyrA mutations
(C248T, C255T,
G259A, C273T,
T300C)
QnrB 19, gyr A
mutations (S83L,
D87N)
gyrA mutations (S83L
and D87N), parC
Sulfonamidas sul2, sul1 sul2, sul1 sul2, sul1 sul2, sul1
Tetraciclinas tetB tetA, tetB tetB tetB
Trimetoprim dfrA17 dfrA8, dfrA17 dfrA17 dfrA17
Plasmídeos IncY, IncFIA,
IncQ1, IncFIB IncQ1
IncY, IncFIA, IncQ1,
IncFII, Inc
FIB(AP001918)
IncFIA, Inc
FIB(AP001918),
IncQ1, IncY, IncFII
(pAMA1167- NDM-
5)
44
7. DISCUSSÃO
_____________________________________________________________________
Animais de produção são considerados um dos principais reservatórios de E. coli
causadoras de infecções entéricas em humanos. Estes patógenos considerados zoonóticos
podem ser transmitidos através de alimentos contaminados. Além do risco da contaminação
para o homem, a presença de linhagens de E. coli resistente às cefalosporinas de amplo espectro
pode contribuir para o fracasso terapêutico dos animais infectados, com o subsequente aumento
do índice de morbidade e mortalidade, principalmente em crias (Caratolli, 2008).
Os ruminantes, em particular, possuem uma interação diferenciada da sua microbiota
intestinal, que é extremamente influenciada pela sua dieta. De fato, o trato intestinal de bovinos
é muito diferente dos monogástricos, tendo uma relação simbiótica única entre sua microbiota
residente e bactérias patogênicas (Téllez et al.,2015).
Seiffert e colaboradores (2013) propuseram duas estratégias de sobrevivência utilizadas
por bactérias resistentes que chegam a constituir a microbiota intestinal de bovinos: i) seleção
decorrente da pressão continua do uso de antimicrobianos; e ii) auto-inoculação e disseminação
dinâmica de bactérias resistentes pela contaminação cruzada entre os animais, através das fezes.
Adicionalmente, estes mecanismos poderiam contribuir para a contaminação ambiental nos
diferentes lugares de uma mesma propriedade, assim como para a contaminação acidental de
seres humanos em contato com estes animais.
Com relação ao uso profilático e/ou terapêutico de antibacterianos, outro fator
importantes de ser considerado no estabelecimento da microbiota resistentes é que o uso
sistêmico destes compostos possui maior impacto na pressão seletiva do que o uso local (ex.
uso intramamário), sendo que diferentes populações bacterianas nos diferentes locais do corpo
do animal são expostas após uso sistêmico, aumentando o risco de seleção de bactérias
resistentes nos diferentes tratos e tecidos do animal (Seiffert et al.,2013).
O ceftiofur é uma das cefalosporinas de escolha terapêutica na medicina veterinária,
para diversas infecções em bovinos de leite. Com relação a isto, Dolejska e colaboradores
(2011), comparando uma fazenda com uso convencional do antimicrobiano com outra fazenda
orgânica que não fazia uso do mesmo medicamento, relataram uma correlação estatística
45
significante entre uso de cefalosporinas de amplo espectro e a prevalência de E. coli produtora
de blaCTX-M-1.
Na propriedade utilizada como modelo, no presente estudo, o uso de ceftiofur tem sido
recorrente, como informado pelo profissional veterinário, sendo utilizado tanto na via
intramamária quanto sistêmica. Nesta condição de uso, o período de descarte é respeitado como
indicado na bula, ou seja, o leite ordenhado das vacas em tratamento é separado do leite para
consumo humano. Portanto, no período da coleta todas as vacas em lactação estavam fora do
período de descarte.
Baseado em modelos matemáticos, alguns estudos têm sugerido que em uma fazenda
onde existe uma circulação dinâmica de isolados entre o gado e o ambiente, cepas de E. coli
resistentes podem persistir na microbiota comensal de bovinos devido à pressão do ceftiofur,
tornando-se prevalentes através da transmissão vertical/horizontal de plasmídeos ou pela
ingestão de isolados de E. coli resistentes (Volkova et al., 2012).
Embora, alguns trabalhos têm demonstrado a presença de bactérias carregando genes de
resistência às cefalosporinas de amplo espectro aos antibióticos em bezerros alimentados com
leite de descarte (Brunton et al., 2014; Pereira et al., 2014), este tipo de associação não tem sido
investigada no Brasil. Brunton e colaboradores (2014) no Reino Unido demonstraram o impacto
do fornecimento de leite de descarte com resíduos de antibióticos para bezerros, onde em uma
fazenda estudada, 82,8% dos bezerros foram colonizados por cepas de E. coli portadoras de
genes blaCTX-M. Este mesmo estudo demonstrou que os genes de resistência encontrados podem
ser menos prevalentes conforme a idade dos animais vai aumentando. Isto pode ser respondido
pelo aumento da área física onde os animais permanecem em função do período de crescimento
(i.e., primeiramente em baias individuais quando jovens, e depois em piquetes mais extensos
quando adultos), dificultando a transmissibilidade dos genes de resistência quando as áreas
físicas são mais extensas e propiciam um distanciamento entre os animais.
Com relação ao estado de portador, Lowrance e colaboradores (2007) demonstraram
que a administração de uma única dose de ceftiofur favoreceu a colonização intestinal
transitória por E. coli MR em novilhos, sendo que a presença destas bactérias MRs foi negativa
após duas semanas do uso do antibiótico.
Outro estudo feito por Roesch e colaboradores (2006) demonstrou que a prevalência de
patógenos resistentes a antibióticos em úberes de vacas criadas em fazendas orgânicas (onde o
46
uso de antibióticos é restrito), não difere da prevalência encontrada em úberes de vacas criadas
no sistema convencional, suportando a necessidade de estudos adicionais para determinar os
fatores de riscos entre o uso de antibióticos e a presença de bactérias resistentes, em bovinos de
leite.
Quanto à resistência a antimicrobianos, tem sido demonstrado que 30% dos isolados de
E. coli em bezerros apresentam resistência ao ceftiofur (Pereira et al., 2011). Em nosso estudo
a investigação foi direcionada para isolar seletivamente cepas resistentes a este antimicrobiano,
porém, outra informação importante de destacar é a identificação da alta resistência para
gentamicina (39,7%) entre isolados de E. coli resistentes ao ceftiofur. A gentamicina é um
antimicrobiano do tipo aminoglicosídeo de uso tópico muito utilizado em casos de mastite em
bovinos de leite (Freitas et al., 2018). Adicionalmente, a alta resistência a quinolonas e
tetraciclinas, encontrada em este estudo, confirma um perfil de multirresistência (Magiorakos
et al., 2012), que denota o uso de outros antibióticos, muito provavelmente associados ao
ceftiofur, o que tem contribuído com a aquisição de outros genes de resistência que poderiam
ser mobilizados por um mesmo ou diferentes plasmídeos.
A investigação molecular foi direcionada especificamente para a identificação de genes
que conferiram resistência para cefalosporinas de amplo espectro, uma vez que este tipo de
antibiótico é praticamente a última alternativa de tratamento em medicina veterinária, onde a
produção de ESBL é uma urgência clínica e epidemiológica. Assim, a análise molecular dos
isolados resistentes a ceftiofur revelou a presença de genes ESBL em 68 cepas (71,57%) do
total de amostras, sendo que a prevalência de genes que codificaram para ESBL foi blaCTX-M-15
> blaCTX-M-8 > blaCTX-M-2. Dentre os escassos trabalhos que tem investigado a prevalência de
ESBLs em bovinocultura, um estudo desenvolvido na Alemanha por Eller e colaboradores
(2014) reportou uma alta prevalência de blaCTX-M-8, enquanto este trabalho detectou uma maior
prevalência de blaCTX-M-15. Interessantemente, o nosso resultado é condizente com o reportado
em medicina humana, onde nos últimos anos a prevalência de CTX-M-15 tem aumentado entre
produtores de ESBL (Rocha et al., 2016).
Na análise do ERIC-PCR pode-se observar que os isolados 19B e 20B são
geneticamente idênticos, mas pertencem a animais diferentes que estavam alojados em baias
diferentes, comprovando a disseminação de E. coli resistente nestes animais. Os genes
encontrados em bezerros são semelhantes aos encontrados nas vacas em lactação (CTX-M-8 e
CTX-M-15), mostrando uma possível transferência através do leite descartado.
47
Baseado no WGS, no resultado da resistência à quinolonas podemos observar que clones
circulantes possuem genes de resistência (mutação de gyrA e QnrB), também tem sido relatados
em humanos destacando a presença na interface humana-animal (Qiu et al., 2018). Apesar da
presença do plasmídeo IncQ1 nas cepas sequenciadas, o qual tem sido identificado como
elemento mobilizável, não foi elucidado qual plasmídeo carrega o gene blaCTX-M-15 nas amostras
estudadas, sendo relacionado a presença de ESBL. Neste aspecto, a utilização de
antimicrobianos pode influenciar a transferência de genes de resistência a bactérias residentes
na microbiota intestinal, sendo de grande importância principalmente em animais de produção,
onde a suplementação de antimicrobianos faz parte do manejo alimentar, aumentando assim o
risco de disseminação de bactérias MRs (Zeng e Lin, 2017).
A caracterização de linhagens patogênicas é fundamental para fins epidemiológicos,
sendo o PFGE uma das técnicas mais aceitas e utilizadas. Esta informação é válida para
entendermos a distribuição de cepas em uma população. Neste estudo, o PGFE mostrou
linhagens bacterianas adaptadas e colonizando diferentes animais agrupados dentro de um
mesmo cluster, suportando uma origem clonal, onde linhagens predominantes têm adaptação
em bovinos. Na análise do MLST, foi demonstrada que quatro cepas representativas do clusters
relacionados pelo PFGE (cepas 47VL, 34VL, 13B e 16VS) pertenceram ao complexo clonal 23
(ST90), anteriormente identificado em pacientes humanos na Ásia e Europa, e associado aos
genes blaNDM e blaCTX-M (Diab et al., 2009; Oteo et al., 2016). Adicionalmente, foram
identificadas cepas de E. coli produtoras de CTX-M-15 pertencentes ao ST90 em amostras de
animais selvagens na Suécia (Bonnedahl et al., 2010). O complexo clonal 23 também foi
reportado recentemente em amostras de alimentos de origem animal e amostras animais na
Alemanha (Irrgang et al, 2017). De fato, O ST90 agrupa linhagens patogênicas de E. coli
responsáveis por infecções em humanos e animais (incluindo de produção, suínos e bovinos),
como reportado em bancos de dados internacionais de E. coli
(http://mlst.warwick.ac.uk/mlst/dbs/Ecoli/GetTableInfo_html).
Com relação à possível fonte de contaminação, no presente estudo investigamos a água
de bebedouro e ambientes de descanso dos animais colonizados, porém, não foram obtidos
resultados positivos. Uma possível hipótese da origem da resistência a ceftiofur mediada por
CTX-M, não descarta a possibilidade de uma origem humana, uma vez que os genótipos de
ESBL encontrados, assim como as linhagens identificadas, já têm sido reportados em seres
humanos. Neste ponto, existe a possibilidade que os próprios funcionários poderiam ser
responsáveis pela fonte de aquisição e/ou disseminação destas bactérias e/ou seus genes de
48
resistência. Por outro lado, outras fontes ambientais antropogênicamente contaminadas
poderiam ser uma potencial fonte de contaminação e disseminação, como é o caso de ambientes
aquáticos impactados que são utilizados para abastecimento de águas de bebida. De fato, no
Brasil, tem sido documentada a contaminação de diversos ambientes aquáticos por bacterias
produtoras de beta-lactamases, incluindo ESBL e carbapenemases (Nascimento et al, 2017;
Fernandes et al., 2017; Sellera et al., 2018).
Em todo este cenário, o leite de descarte pode ser considerado um fator de pressão de
seleção, contribuindo para o aparecimento de bacterias MRs em bezerros. O leite contendo
resíduos de antimicrobianos contribui para o aumento de genes de resistência a beta-lactâmicos,
sulfonamidas e aminoglicosídeos, contudo esses genes alguns destes genes já são considerados
comuns em bactérias isoladas do gado de leite, sugerindo que outros fatores além da ingestão
de leite de descarte podem contribuir para sua prevalência (Maynow et al., 2017b).
A ingestão de leite contendo resíduos de antimicrobianos pode contribuir para a
modificação da microbiota de bezerros, mesmo em níveis baixos de concentração (VanVleck
Pereira et al., 2016), enquanto que na colonização, bactérias MRs podem estar presentes nas
mucosas nasais e retais de bezerros alimentados com leite de descarte, contribuindo para
disseminação das mesmas no ambiente (Maynow et al., 2017a).
Apesar de todas as cepas terem sido negativas para os genes de virulência, o que
demonstra uma origem comensal, o perfil MDR causa grande preocupação, principalmente em
bovinos de leite que são frequentemente expostos a antimicrobianos devido à incidência de
mastite nesses animais. Os grupos filogenéticos de virulência de E. coli mais encontrados neste
estudo foram os grupos A e B1, demonstrando serem cepas de baixa virulência, confirmando
uma origem commensal.
Uma resposta efetiva ao combate às MRs é necessária, e para isso deve-se monitorar a
presença dessas bactérias em gado de leite e formular programas multidisciplinares de
vigilância, como já ocorrem em outros países. Além disso, requer investimentos na pesquisa
para encontrar alternativas seguras e econômicas e estratégias inovadoras paralelas ao
desenvolvimento de novos antibióticos (Sharma et al., 2018). Outra estratégia que pode ser
adotada seria um programa de redução de uso de antimicrobianos, como o existente na
Dinamarca, onde o consumo destes produtos diminuiu 10% entre os anos de 2013 e 2016
(DANMAP, 2018).
49
No Brasil se faz necessário mais estudos sobre a disseminação de bactérias MRs em
bovinos de leite. Algumas limitações em nosso estudo podem ser enumeradas, tais como a
realização de uma única coleta que somente mostra um período de colonização e não identifica
se esta microbiota é transitória ou permanente, ou quanto tempo dura a colonização.
Independente disto fica evidente que as linhagens encontradas podem chegar a serem parte da
microbiota de bovinos nas diferentes faixas etárias e categoria animal (vaca em lactação ou
vaca seca). Outra limitação foi à falta de identificação da possível fonte de origem de linhagens
de E. coli produtoras de CTX-M, visto que não foram encontradas bactérias resistentes nas
amostras ambientais (cama e bebedouro), mas nosso estudo se mostrou como um piloto para a
elaboração de projetos futuros que visem elucidar a origem e disseminação de bactérias
multirresistentes em bovinos de leite.
50
8. CONCLUSÕES
_____________________________________________________________________
A partir dos resultados obtidos, concluímos que as cepas apresentando resistência a
diversos antimicrobianos estão disseminadas em ruminantes produtores de leite, e o
fornecimento de leite de descarte a ruminantes jovens poderia influenciar na persistência dessas
cepas resistentes. Apesar de encontrarmos cepas resistentes nos animais, não foram encontradas
cepas resistentes em amostras ambientais (cama e bebedouro), o que poderia ser explicado pela
adaptação das cepas de E. coli na microbiota de ruminantes, visto que nenhum animal estudado
estava com doença clínica. O tratamento com antibióticos para doenças infecciosas em bovinos
de leite, principalmente a mastite, poderia contribuir para a persistência de bactérias resistentes,
pois o produtor precisa de uma solução imediata para que o animal continue produzindo leite e
não tenha tanto prejuízo com a infecção. Todas as vacas tiveram um tratamento com ceftiofur
em algum momento da vida (sistêmico ou intramamário), mas devido ao manejo dos animais,
no momento da coleta nenhum animal estava em tratamento. A população estudada mostrou
um perfil de MRs que podem estar adaptadas à sua microbiota, e também mostrou clones
representativos de CTX-M-15 circulando na propriedade em animais de diferentes idades.
Apesar de pertencerem ao mesmo ST (90), as amostras foram negativas aos genes de virulência
(stx-1 e stx-2), e todos os animais apresentavam-se sadios. Foi demonstrado que a maioria das
cepas pertenciam ao grupo A e B1 de baixa virulência. Entretanto o perfil MRs mostra
preocupação pelo potencial de disseminação no leite e no ambiente.
Os resultados das cepas sequenciadas demonstram que as diferentes categorias animais
(vaca de leite, vaca seca e bezerros) compartilham de genes de resistência. A utilização empírica
de cefalosporinas pode contribuir para o aumento destes genes. Um exemplo é que a amostra
coletada de bezerro (13B) demonstra possuir mais genes de resistência em comparação às
outras, visto que este animal recebeu uma pressão seletiva de antimicrobianos, principalmente
o ceftiofur, através da ingestão do leite de descarte o que o deixa em desvantagem em um
possível tratamento para doenças infecciosas. Este estudo modifica a nossa visão quanto à
disseminação dessas cepas, que estão sendo cada vez mais detectadas em animais de produção
e meio ambiente, e pode contribuir para conscientizar sobre a necessidade da elaboração de um
programa de vigilância e de utilização consciente de antibióticos em bovinocultura, como já
ocorre em alguns países. Esses fatos alarmam a saúde pública e também o agronegócio, pois
além de dificultar o tratamento de infecções, a presença de resíduos de antibióticos interfere na
produção de lácteos, chegando ao consumidor final.
51
E finalmente, deve-se conscientizar não somente a população, mas também os
profissionais veterinários quanto ao uso consciente desses fármacos em ruminantes,
desenvolver novas estratégias de vigilância com a finalidade de monitorar a prevalência dessas
bactérias e tomar medidas profiláticas para evitar futuros problemas de saúde para o Brasil e
para o mundo.
52
9. REFERÊNCIAS
_____________________________________________________________________
AIZAWA, J, NEUWIRT, N., BARBATO, L., NEVES, P.R., LEIGUE, L., PADILHA, J., de
CASTRO, A. F. P., GREGORY, L. and LINCOPAN, N. Identification of fluoroquinolone-
resistant extended-spectrum b-lactamase (CTX-M-8)-producing Escherichia coli ST224,
ST2179 and ST2308 in buffalo (Bubalus bubalis). J Antimicrob Chemother, june 13, 2014
ALI, T., RAHMAN, S.U., ZHANG, L., SHAHID, M., HAN, D., GAO, J., ZHANG, S.,
RUEGG, P.L., SADDIQUE, U., HAN, B. Characteristics and genetic diversity of multi-drug
resistantextended-spectrum beta-lactamase (ESBL)-producing Escherichia coli isolated from
bovine mastitis. Oncotarget. 2017 Oct 4;8(52):90144-90163.
ALVES, T.D.S., LARA, G.H.B., MALUTA, R.P., RIBEIRO, M.G., LEITE, D.D.S. Carrier
flies ofmultidrug-resistant Escherichia coli as potential dissemination agent in dairyfarm
environment. Sci Total Environ. 2018 Aug 15;633:1345-1351.
ANUALPEC. Anuário estatístico da pecuária de corte. São Paulo: FNP Consultoria e Comércio
Ltda., 2015
BAUERFEIND, A., SCHWEIGHART, S., GRIMM, H. A new plasmidic cefotaximase in a
clinical isolate of Escherichia coli. Infection, v.18, n.5, p.294-298, 1990.
BAUERFEIND, A. et al. A new plasmidic cefotaximase from patients infected with Salmonella
typhimurium. Infection, v.20, n.3, p.158-163, 1992.
BLANCO, J.E., BLANCO, M., MORA, A., PRADO, C., RÍO, M., FERNÁNDEZ, L.,
FERNÁNDEZ, M.J., SÁINZ, V., BLANCO, J. Detection of enterohaemorrhagic Escherichia
coli O157:H7 in minced beef using immunomagnetic separation. Microbiologia. 1996.
BRADLEY, A.J., GREEN, M.J. Adaptation of Escherichia coli to the Bovine Mammary
Gland. Journal of Clinical Microbiology. 2001;39(5):1845-1849. doi:10.1128/JCM.39.5.1845-
1849.2001.
BRUNTON, L. A.; REEVES, H. E.; SNOW, L. C.; JONES, J. R. A longitudinal field trial
assesing the impact of feeding waste milk containing antibiotic residues on the prevalence of
ESBL-producing Escherichia coli in calves. Preventive Veterinary Medicine, 2014.
BONNET, R., SAMPAIO, J.L., LABIA, R., DE CHAMPS, C., SIROT, D., CHANAL, C.,
SIROT, J. A novel CTX-M beta-lactamase (CTX-M-8) in cefotaxime-resistant
Enterobacteriaceae isolated in Brazil. Antimicrob Agents Chemother. 2000 Jul;44(7):1936-42
BONNEDAHL, J., DROBNI, P., JOHANSSON, A., HERNANDEZ, J., MELHUS, A.,
STEDT, J., OLSEN, B., and DROBNI, M. (2010). Characterization, and comparison, of human
clinical and black-headed gull (Larus ridibundus) extended-spectrum betalactamase-producing
bacterial isolates from Kalmar, on the southeast coast of Sweden. J. Antimicrob. Chemother.
65, 1939–1944
BOTELHO, L.A., KRAYCHETE, G.B., COSTA E SILVA, J.L., REGIS, D.V., PICÃO, R.C.,
MOREIRA, B.M., BONELLI, R.R. Widespread distribution of CTX-M and plasmid-mediated
53
AmpCβ-lactamases in Escherichia coli from Brazilian chicken meat. Mem Inst OswaldoCruz.
2015 Apr;110(2):249-54.
CANTÓN R, GONZÁLEZ-ALBA JM, GALÁN JC. CTX-M Enzymes: Origin and Diffusion.
Front Microbiol. 2012 Apr 2; 3:110.
CARATTOLI, A. Animal reservoirs for extended spectrum beta-lactamase producers. Clin
Microbiol Infect. 2008 Jan; 14 Suppl 1:117-23. Review. Erratum in: Clin Microbiol Infect. 2008
May;14 Suppl 5:21-4.
CERGOLE-NOVELLA, MC; NISHIMURA, LS; IRINO, K; VAZ, TM; DE CASTRO, AF;
LEOMIL, L; GUTH, BE. Stx genotypes and antimicrobial resistance profiles of Shiga toxin-
producing Escherichia coli strains isolated from human infections, cattle and foods in Brazil.
FEMS Microbiol Lett. 2006 Jun; 259(2):234-9.
CHAPMAN P.A.; ELLIN, M.; ASHTON, R.; SHAFIQUE, W. Comparison of culture, PCR
and immunoassays for detecting Escherichia coli O157 following enrichment culture and
immunomagnetic separation performed on naturally contaminated rae meat products. Int. J.
Food Microbiol. V. 68, p. 11-20, 2001.
CLERMONT, O.; JOHNSON, J. R.; MENARD, M. DENAMUR, E. Determination of
Escherichia coli O types by allele-specific polymerase chain reaction: application to the O types
involved in human septicemia. Diag Microbiol Infec Dis, 2006.v.57, p. 129-136.
CLERMONT, O., GORDON, D., DENAMUR, E. Guide to the various phylogenetic
classification schemes for Escherichia coli and the correspondence among schemes.
Microbiology 2015;161:980–8.
CLINICAL AND LABORATORY STANDARDS INSTITUTE (2013). Performance
Standards for antimicrobial disk susceptibility tests, 8th ed. (document M2-A8, v. 23,n.1).
COURA, F.M., LAGE, A.P., HEINEMANN, M.B. Patotipos de Escherichia coli causadores
de diarreia em bezerros: uma atualização. Pesqui Vet Bras (2014) 34:811–818.
COIL, D.; JOSPIN, G.; DARLING, A.E.; A5-miseq: an updated pipeline to assemble microbial
genomes from Illumina MiSeq data Bioinformatics, 31 (2015), pp. 587–589.
CUNHA, M.P., LINCOPAN, N., CERDEIRA, L., ESPOSITO, F., DROPA, M., FRANCO,
L.S., MORENO, A.M.,KNÖBl, T. Coexistence of CTX-M-2, CTX-M-55, CMY-2, FosA3, and
QnrB19 inExtraintestinal Pathogenic Escherichia coli from Poultry in Brazil.
AntimicrobAgents Chemother. 2017 Mar 24;61(4).
D'ANDREA, M.M., ARENA, F., PALLECCHI, L., ROSSOLINI, G.M. CTX-M-type β-
lactamases: a successful story of antibiotic resistance. Int J Med Microbiol. 2013 Aug;303(6-
7):305-17.Epub 2013 Mar 13. Review.
DANMAP- The Danish Integrated Antimicrobial Resistance Monitoring and Research
Programme (http://www.danmap.org). Acesso em 24/07/2018.
54
DIAB, M; HAMZE, M; MADEC, JY; HAENNI, M. High prevalence of non-ST131CTX-M-
15-producing Escherichia coli in healthy cattle in Lebanon. Microb Drug Resist. 2016 Jun 15.
DOLEJSKA, M.; JURCICKOVA, Z.; LITERAK, I.; POKLUDOVA, L.; BURES, J.; HERA,
A.; KOHOUTOVA,L.; SMOLA, J.; CIZEK, A. IncN plasmids carrying bla CTX-M-1 in
Escherichia coli isolates on a dairy farm. Vet Microbiol. 2011 May 5;149(3-4):513-6.
EICHHORN, I., HEIDEMANNS, K., SEMMLER, T., KINNEMANN, B., MELLMANN, A.,
HARMSEN, D., et al. Highly virulent non-O157 enterohemorrhagic Escherichia coli (EHEC)
serotypes reflect similar phylogenetic lineages, providing new insights into the evolution of
EHEC. Appl Environ Microbiol 2015;81:7041–7.
EDELSTEIN, M., PIMKIN, M., PALAGIN, I., EDELSTEIN, I., STRATCHOUNSKI, L.
Prevalence and molecular epidemiology of CTX-M extended-spectrum beta-lactamase-
producing Escherichia coli and Klebsiella pneumoniae in Russian hospitals. Antimicrob Agents
Chemother. 2003 Dec;47(12):3724-32.
ELLER, C., LEISTNER, R., GUERRA, B., FISCHER, J., WENDT, C., RABSCH,
W.,WERNER, G., PFEIFER, Y. Emergence of extended-spectrum β-lactamase (ESBL) CTX-
M-8 in Germany, 2014, J Antimicrob Chemother.
ENRIGHT, M.C., SPRATT, B.G. Multilocus Sequence Typing. Trends in Microbiology, v.7,
issue 12, p.482-487, December-1999.
EWERS C, GROBBEL M, STAMM I, KOPP PA, DIEHL I, SEMMLER T, FRUTH A,
BEUTLICH J, GUERRA B, WIELER LH, GUENTHER S. Emergence of human pandemic
O25:H4-ST131 CTX-M-15 extended-spectrum-beta-lactamase-producing Escherichia coli
among companion animals. J Antimicrob Chemother. 2010 Apr;65(4):651-60.
EWERS, C., BETHE, A., SEMMLER, T., GUENTHER, S., WIELER, L.H. Extended-
spectrum β-lactamase-producing and AmpC-producing Escherichia coli from livestock and
companion animals, and their putative impact on public health: a global perspective. Clin
Microbiol Infect. 2012 Jul;18(7):646-55.
FERNANDES, S.A., PATERSON, D.L., GHILARDI-RODRIGUES, A.C., ADAMS-
HADUCH, J.M., TAVECHIO, A.T., DOI, Y. CTX-M-2-producing Salmonella Typhimurium
isolated from pediatric patients and poultry in Brazil. Microb Drug Resist. 2009 Dec;15(4):317-
21.
FERNANDES, M.R., SELLERA, F.P., ESPOSITO, F., SABINO, C.P., CERDEIRA, L.,
LINCOPAN, N. Colistin-Resistant mcr-1-Positive Escherichia coli on Public Beaches, na
Infectious Threat Emerging in Recreational Waters. Antimicrob Agents Chemother. 2017 Jun
27;61(7).
FEITOSA, L.F.F. Semiologia Veterinária, A Arte do Diagnóstico. Ed. Rocca. São Paulo, 2008.
FERREIRA, J.C., PENHA FILHO, R.A., ANDRADE, L.N., BERCHIERI, A. J.R., DARINI,
A.L. Detection of chromosomal bla(CTX-M-2) in diverse Escherichia coli isolates from
healthy broiler chickens. Clin Microbiol Infect. 2014 Oct;20(10):O623-6.
55
FREITAS, C.H., MENDES, J.F., VILLARREAL, P.V., SANTOS, P.R., GONÇALVES, C.L.,
GONZALES, H.L., NASCENTE, P.S. Identification and antimicrobial suceptibility profile of
bactéria causing bovine mastitis from dairy farms in Pelotas, Rio Grande do Sul. Braz J Biol.
2018 Nov;78(4):661-666.
GALES, A.C. et al. Antimicrobial susceptibility of Klebsiella pneumoniae producing extended-
spectrum beta-lactamase (ESBL) isolated in hospitals in Brazil. Brazilian Journal of Infection
Diseases, v. 1, n. 4, p. 196-203, 1997.
GARCÍA-FERNÁNDEZ A, CHIARETTO G, BERTINI A, VILLA L, FORTINI D, RICCI A,
CARATTOLI A. Multilocus sequence typing of IncI1 plasmids carrying extended-spectrum
beta-lactamases in Escherichia coli and Salmonella of human and animal origin. J Antimicrob
Chemother. 2008 Jun;61(6):1229-33.
GILBERT. R.O. Postpartum uterine infection and impacts on herd fertility. Rev. Bras. Reprod.
Anim. Belo Horizonte, v.37, n.2, p. 198-199, abr/jun. 2013.
GRAHAM, D.W., KNAPP, C.W., CHRISTENSEN, B.T., MCCLUSKEY, S., DOLFING, J.
Appearance of β-lactam Resistance Genes in Agricultural Soils and Clinical Isolates over the
20th Century. Sci Rep. 2016 Feb 16;6:21550.
GUENTHER, S., EWERS, C., WIELER, L.H. Extended-Spectrum Beta-Lactamases Producing
E. coli in Wildlife, yet Another Form of Environmental Pollution? Front Microbiol. 2011 Dec
19; 2:246.
GUIMARÃES, F.F. Perfil de sensibilidade microbiana, pesquisa de gene mecA de resistência
à meticilina e detecção molecular de genes codificadores de enterotoxinas, em espécies de
estafilococos coagulase positive e negative, isoladas de mastites bovinas. 2011. 147p.
Dissertação (Mestrado)- Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Campus de Botucatu,
Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho”. Botucatu, São Paulo.
HAN, R., LI, S., WANG, J., YU, Z., WANG, J., ZHENG, N. Elimination kinetics of ceftiofur
hydrochloride in milk after an 8-day extended intramammary administration in healthy and
infected cows. PLoS ONE 12(11): e0187261. (2017).
HARADA K, NAKAI Y, KATAOKA Y. Mechanisms of resistance to cephalosporin and
emergence of O25b-ST131 clone harboring CTX-M-27 β-lactamase in extraintestinal
pathogenic Escherichia coli from dogs and cats in Japan. Microbiol Immunol. 2012
Jul;56(7):480-5.
HOEPERS, P.G., SILVA, P.L., ROSSI, D.A., VALADARES JÚNIOR, E.C., FERREIRA,
B.C., ZUFFO, J.P., KOERICH, P.K., FONSECA, B.B. The association between extended
spectrum beta lactamase (ESBL) and ampicillin C (AmpC) beta-lactamase genes with
multidrug resistance in Escherichia coli isolates recovered from turkeys in Brazil. Br Poult Sci.
2018, May 8.
IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Agropecuário 2016. Rio de Janeiro-
RJ.(https://ww2.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/agropecuaria/producaoagropecuaria)
Acesso em 17/04/2018.
56
IRRGANG, A., FALGENHAUER, L., FISCHER, J., GHOSH, H., GUIRAL, E., GUERRA,
B., SCHMOGER, S., IMIRZALIOGLU, C., CHAKRABORTY, T., HAMMERL, J.A.,
KÄSBOHRER, A. CTX-M-15-Producing E. coli Isolates from Food Products in Germany Are
Mainly Associated with na IncF-Type Plasmid and Belong to Two Predominant Clonal E. coli
Lineages. Front Microbiol. 2017 Nov 21; 8:2318
KARIM A, POIREL L, NAGARAJAN S, NORDMANN P. Plasmid-mediated extended-
spectrum beta-lactamase (CTX-M-3 like) from India and gene association with insertion
sequence ISEcp1. FEMS Microbiol Lett. 2001 Jul 24;201(2):237-41.
KÖHLER, C.D., DOBRINDT, U. What defines extraintestinal pathogenic Escherichia coli? Int
J Med Microbiol. 2011 Dec;301(8):642-7. Epub 2011 Oct 5. Review.
LAHEY. CTX-M-type β-lactamases 2016. Disponível em
http://www.lahey.org/studies.asp#table1. Acesso em 25/06/18.
LAHLAQUI, H., BEN HAJ KHALIFA, A., BEN MOUSSA, M. Epidemiology of
Enterobacteriaceae producing CTX-M type extended spectrum β-lactamase (ESBL). Medicine
et Maladies Infectieuses, v.44, n.9, p.400-404, 2014.
LEIGUE L, WARTH JF, MELO LC, SILVA KC, MOURA RA, BARBATO L, SILVA LC,
SANTOS AC, SILVA RM, LINCOPAN N. MDR ST2179-CTX-M-15 Escherichia coli co-
producing RmtD and AAC(6')-Ib-cr in a horse with extraintestinal infection, Brazil. J
Antimicrob Chemother. 2015 Apr;70(4):1263-5.
LIFSHITZ, Z., STURLESI, N., PARIZADE, M., BLUM, S.E., GORDON, M., TARAN, D.,
ADLER, A. Distinctiveness and Similarities Between Extended-Spectrum β-Lactamase-
Producing Escherichia coli Isolated from Cattle and the Community in Israel. Microb Drug
Resist. 2018 Jul/Aug; 24(6):868-875.
LIVERMORE DM, HAWKEY, P.M. CTX-M: changing the face of ESBLs in the UK. J
Antimicrob Chemother. 2005 Sep;56(3):451-4.
LOWRANCE TC, LONERAGAN GH, KUNZE DJ, PLATT TM, IVES SE, SCOTT HM,
NORBY B, ECHEVERRY A, BRASHEARS MM. Changes in antimicrobial susceptibility in
a population of Escherichia coli isolated from feedlot cattle administered ceftiofur crystalline-
free acid. Am J Vet Res. 2007 May; 68(5):501-7.
MAIDEN, M.C., BYGRAVES, J.A., FEIL, E., MORELLI, G., RUSSELL, J.E., URWIN, R.,
ZHANG, Q., ZHOU, J., ZURTH, K., CAUGANT, D.A., FEAVERS, I.M., ACHTMAN, M.,
SPRATT, B.G. Multilocus sequence typing: a portable approach to the identification of clones
within populations of pathogenic microorganisms. Proc Natl Acad Sci U S A. 1998 Mar
17;95(6):3140-5.
MAGIORAKOS, A.P., SRINIVASAN, A., CAREY, R.B., CARMELI, Y., FALAGAS, M.E.,
GISKE, C.G., HARBARTH, S., HINDLER, J.F., KAHLMETER, G., OLSSON-LILJEQUIST,
B., PATERSON, D.L., RICE, L.B., STELLING, J., STRUELENS, M.J., VATOPOULOS, A.,
WEBER, J.T., MONNET, D.L. Multidrug-resistant, extensively drug-resistant and pandrug-
resistant bacteria: an international expert proposal for interim standard definitions for acquired
resistance. Clin Microbiol Infect. 2012 Mar;18(3):268-81.
57
MAYNOU, G., BACH, A., TERRÉ, M. Feeding of waste milk to Holstein calves affects
antimicrobial resistance of Escherichia coli and Pasteurella multocida isolated from fecal and
nasal swabs. J Dairy Sci. 2017 Apr;100(4):2682-2694. Epub 2017a Feb 16
MAYNOU, G., MIGURA-GARCIA, L., CHESTER-JONES, H., ZIEGLER, D., BACH, A.,
TERRÉ, M. Effects of feeding pasteurized waste milk to dairy calves on phenotypes and
genotypes of antimicrobial resistance in fecal Escherichia coli isolates before and after
weaning. J Dairy Sci. 2017 Oct;100(10):7967-7979. Epub 2017b Jul 26.
MARKEY, B., LEONARD, F., ARCHAMBAULT, M., CULLINANE, A., MAGUIRE, D.
Clinical Veterinary Microbiology. Second Edition. Mosby Elsevier, 2013.
MATHERS, A.J., PEIRANO, G., PITOUT, J.D. The role of epidemic resistance plasmids and
international high-risk clones in the spread of multidrug-resistant Enterobacteriaceae. Clin
Microbiol Rev. 2015 Jul; 28(3):565-91. Review.
MUSHTAQ S, WOODFORD N, POTZ N, LIVERMORE, DM. Detection of CTX-M-15
extended-spectrum beta-lactamase in the United Kingdom. J Antimicrob Chemother. 2003 Sep;
52(3):528-9.
MUZAHEED, DOI. Y., ADAMS-HADUCH, J.M., ENDIMIANI, A., SIDJABAT, H.E.,
GADDAD, S.M., PATERSON, D.L. High prevalence of CTX-M-15-producing Klebsiella
pneumoniae among inpatients and outpatients with urinary tract infection in Southern India. J
Antimicrob Chemother. 2008 Jun;61(6):1393-4.
NASCIMENTO, T., CANTAMESSA, R., MELO, L., FERNANDES, M.R., FRAGA, E.,
DROPA, M., SATO, M.I.Z., CERDEIRA, L., LINCOPAN, N. International high-risk clones
of Klebsiella pneumonia KPC-2/CC258 and Escherichia coli CTX-M-15/CC10 in urban lake
waters. Sci Total Environ. 2017 Nov 15;598:910-915.
OTEO, J; DIESTRA, K; JUAN, C; BAUTISTA, V; NOVAIS, A; PÉREZ-VÁZQUEZ, M;
MOYÁ, B; MIRÓ, E; COQUE, TM; OLIVER, A; CANTÓN, R; NAVARRO, F; CAMPOS, J;
Spanish Network in Infectious Pathology Project (REIPI).Extended-spectrum beta-lactamase-
producing Escherichia coli in Spain belong to a large variety of multilocus sequence typing
types, including ST10 complex/A, ST23 complex/A and ST131/B2. Int J Antimicrob Agents.
2009 Aug;34(2):173-6.
PEREIRA, R. V. V., SANTOS, T. M. A., BICALHO, M. L., CAIXETA, L. S., MACHADO,
V. S. , BICALHO, R. C. Antimicrobial resistance and prevalence of virulence factor genes in
fecal Escherichia coli of Holstein calves fed milk with and without antimicrobials, 2011, J.
Dairy Sci. 94 :4556–4565.
PEREIRA, R. V. V., SILER, J.D., BICALHO, R.C., WARNIK, L.D. In Vivo selection of
resistant E.coli after ingestion of milk with added drug residues, 2014. PLoS ONE 9 (12):
e115223.
POIREL, L., KÄMPFER, P., NORDMANN, P. Chromosome-encoded Ambler class A beta-
lactamase of Kluyvera georgiana, a probable progenitor of a subgroup of CTX-M extended-
spectrum beta-lactamases. Antimicrob Agents Chemother. 2002 Dec;46(12):4038-40.
58
POIREL, L., MADEC, J.Y., LUPO, A., SCHINK, A.K., KIEFFER, N., NORDMANN, P.,
SCHWARZ, S. Antimicrobial Resistance in Escherichia coli. Microbiol Spectr. 2018 Jul;6(4).
PRESCOTT, J.F. Antibióticos Betalactâmicos: Cefalosporinas. In: Terapia Antimicrobiana em
Medicina Veterinária. 4 ed. Ed. Rocca, 2010.
QIU, H., GONG, J., BUTAYE, P., LU, G., HUANG, K., ZHU, G., ZHANG, J., HATHCOCK,
T., CHENG, D., WANG, C. CRISPR/Cas9/sgRNA-mediated targeted gene modification
confirms the cause-effect relationship between gyrA mutation and quinolone resistance in
Escherichia coli. FEMS Microbiol Lett. 2018 Jul 1;365(13).
QUINN, P. J. Microbiologia Veterinária e Doenças Infecciosas. Porto Alegre: Artmed, 2005.
p.470.
ROCHA, FR; PINTO, VP; BARBOSA, FC. The Spread of CTX-M-Type Extended-Spectrum
β-Lactamases in Brazil: A Systematic Review. Microb Drug Resist. 2016 Jun; 22(4):301-11.
ROESCH, M., RERRETEN, V., DOHERR, M.G. Comparison of Antibiotic Resistance of
Udder Pathogens in Dairy Cows Kept on Organic and on Conventional Farms. Journal of Dairy
Science, 2006; 89:989-997.
SARTORI, L., FERNANDES, M.R., IENNE, S., DE SOUZA T.A., GREGORY, L.,
CERDEIRA, L., LINCOPAN, N. Draft genome sequences of two fluoroquinolone-resistant
CTX-M-15-producing Escherichia coli ST90 (ST23 complex) isolated from a calf and a dairy
cow in South America. J Glob Antimicrob Resist. 2017 Dec;11:145-147.
SEIFFERT, S.N.; HILTY, M.; PERRETEN, V.; ENDIMIANI, A. Extended-spectrum
cephalosporin-resistant Gram-negative organisms in livestock: an emerging problem for human
health? Drug Resist Updat. 2013 Feb-Apr;16(1-2):22-45.
SELLERA, F.P., FERNANDES, M.R., MOURA, Q., CARVALHO, M.P.N., LINCOPAN, N.
Extended-spectrum-β-lactamase (CTX-M)-producing Escherichia coli in wild fishes from a
polluted area in the Atlantic Coast of South America. Marine Pollution Bulletin 135, July 2018.
SHARMA, C., ROKANA, N., CHANDRA, M., SINGH, B.P., GULHANE, R.D.,
GILL, J.P.S., RAY, P., PUNIYA, A.K. and PANWAR, H. Antimicrobial Resistance: Its
Surveillance, Impact, and Alternative Management Strategies in Dairy Animals. Front. Vet.
Sci. 4:237(2018).
SHRIDHAR, P.B., PATEL, I.R., GANGIREDLA, J., NOLL, L.W., SHI, X., BAI, J., ELKINS,
C.A.,STROCKBINE, N.A., NAGARAJA, T.G. Genetic Analysis of Virulence Potential of
Escherichia coli O104 Serotypes Isolated From Cattle Feces Using Whole Genome
Sequencing. Front Microbiol. 2018 Mar 1;9:341.
SIDAN- Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde
Animal.http://www.sindan.org.br/sd/base.aspx?controle=8. Acesso em 02/07/18.
59
SILVA, K.C., LINCOPAN, N. Epidemiologia das betalactamases de espectro estendido no
Brasil: impacto clínico e implicações para o agronegócio. J Bras Patol Med Lab • v. 48 • n. 2 •
p. 91-99 • abril 2012.
SILVA, K. C., FONTES, L. C., MORENO, A. M., ASTOFI-FERREIRA, C. S., FERREIRA,
A. J. P., LINCOPAN, N. Emergence of Extended-Spectrum- -Lactamase CTX-M-2-Producing
Salmonella enterica Serovars Schwarzengrund and Agona in Poultry Farms. Antimicrobial
Agents and Chemotherapy p. 3458 –3459 July 2013 Volume 57 Number 7.
SILVA, K.C., MORENO, M., CABRERA, C., SPIRA, B., CERDEIRA, L., LINCOPAN, N.,
MORENO, A.M. First Characterization of CTX-M-15-Producing Escherichia coli Strains
Belonging to Sequence Type (ST) 410, ST224, and ST1284 from Commercial Swine in South
America. Antimicrob Agents Chemother. 2016 Mar 25;60(4):2505-8.
SPINOSA E TÉRRAGA- Considerações Gerais sobre Antimicrobianos-Cap.33 in- SPINOSA,
H. S. Farmacologia aplicada a Medicina Veterinária. 6 Edição, Rio de Janeiro-RJ. Guanabara
Koogan, 2016. 950p.
SPINOSA, H. S. Farmacologia aplicada a Medicina Veterinária. 6 Edição, Rio de Janeiro-RJ.
Guanabara Koogan, 2016. 950p.
TÉLLEZ, G., LAUKOVÁ, A.,LATORRE, J.D., HERNANDEZ-VELASCO, X., HARGIS,
B.M., CALLAWAY, T. Food-producing animals and their health in relation to human health.
Microb Ecol Health Dis. 2015 Feb 2; 26:25876.
TOLLENTINO, F.M., POLOTTO, M., NOGUEIRA, M.L., LINCOPAN, N., NEVES, P.,
MAMIZUKA, E.M., REMELI, G.A., DE ALMEIDA, M.T., RÚBIO, F.G., NOGUEIRA, M.C.
High prevalence of bla(CTX-M) extended spectrum beta-lactamase genes in Klebsiella
pneumoniae isolates from a tertiary care hospital: first report of bla(SHV-12), bla(SHV-31),
bla(SHV-38), and bla(CTX-M-15) in Brazil. Microb Drug Resist. 2011 Mar;17(1):7-16.
TROTT, D. β-lactam resistance in gram-negative pathogens isolated from animals. Curr Pharm
Des. 2013; 19(2):239-49.
VAN VLECK PEREIRA, R., LIMA, S., SILER, J.D., FODITSCH, C., WARNICK, L.D.,
BICALHO, R.C. Ingestion of Milk Containing Very Low Concentration of Antimicrobials:
Longitudinal Effect on Fecal Microbiota Composition in Preweaned Calves. PLoS One. 2016
Jan 25;11(1):2016.
VOLKOVA VV, LANZAS C, LU Z, GRÖHN YT. Mathematical model of plasmid-mediated
resistance to ceftiofur in commensal enteric Escherichia coli of cattle. PLoS One.
2012;7(5):e36738.
WANG, J., PENG, H., KONG, J., ZHAO, T., ZHANG, S., CAO, X. Pharmacokinetic profile
of Ceftiofur Hydrochloride Injection in lactating Holstein dairy cows. J Vet Pharmacol Ther.
2018 Apr;41(2):301-306.
ZENG, X., LIN, J. Factors influencing horizontal gene transfer in the intestine. Anim Health
Res Rev. 2017 Dec;18(2):153-159.
60
61
ANEXO I
62
ANEXO II
Publicações:
SARTORI, L.; FERNANDES, MIRIAM R ; Ienne, S. ; SOUZA, T. A. ; GREGORY, L. ;
CERDEIRA, L. ; LINCOPAN, N. . Draft genome sequences of two fluoroquinolone-resistant
CTX-M-15-producing Escherichia coli ST90 (ST23 complex) isolated from calve and dairy
cow in South America. JOURNAL OF ANTIMICROBIAL CHEMOTHERAPY, v. 11, p. 145-
147, 2017
FERNANDES, MIRIAM R ; MOURA, QUEZIA ; SARTORI, LUCIANA ; SILVA, KETRIN
C ; CUNHA, MARCOS PV ; ESPOSITO, FERNANDA ; LOPES, RALF ; OTUTUMI,
LUCIANA K ; GONÇALVES, DANIELA D ; DROPA, MILENA ; MATTÉ, MARIA H ;
MONTE, DANIEL FM ; LANDGRAF, MARIZA ; FRANCISCO, GABRIELA R ; BUENO,
MARIA FC ; DE OLIVEIRA GARCIA, DOROTI ; KNÖBL, TEREZINHA ; MORENO,
ANDREA M ; LINCOPAN, NILTON . Silent dissemination of colistin-resistant in South
America could contribute to the global spread of the gene. Euro Surveillance, v. 21, p. 30214,
2016.
FERNANDES, MIRIAM R. ; MCCULLOCH, JOHN A. ; VIANELLO, MARCO A. ;
MOURA, QUÉZIA ; PÉREZ-CHAPARRO, PAULA J. ; ESPOSITO, FERNANDA ;
SARTORI, LUCIANA ; DROPA, MILENA ; MATTÉ, MARIA H. ; LIRA, DÉBORA P. A. ;
MAMIZUKA, ELSA M. ; LINCOPAN, NILTON . First Report of the Globally Disseminated
IncX4 Plasmid Carrying the Gene in a Colistin-Resistant ST101 isolated from a Human
Infection in Brazil. Antimicrobial Agents and Chemotherapy (Print), v. 60, p. AAC.01325-16,
2016
SELLERA, FÁBIO P. ; FERNANDES, MIRIAM R. ; SARTORI, LUCIANA ; CARVALHO,
MARCELO P. N. ; ESPOSITO, FERNANDA ; NASCIMENTO, CRISTIANE L. ; DUTRA,
GUSTAVO H. P. ; MAMIZUKA, ELSA M. ; PÉREZ-CHAPARRO, PAULA J. ;
MCCULLOCH, JOHN A. ; LINCOPAN, NILTON . Escherichia coli carrying IncX4 plasmid-
mediated mcr-1 and bla CTX-M genes in infected migratory Magellanic penguins ( Spheniscus
magellanicus ). Journal of Antimicrobial Chemotherapy (Print), v. 12, p. dkw543, 2016.