Filo Sofia

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Filosofia Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre. Nota: Para outros significados, veja Filosofia (desambiguação) . Filosofia O pensador , de Auguste Rodin , representação clássica de um homem imerso em pensamentos. Ori gem do nom e Φιλοσοφία, grego Ori gem Grécia , séc. VII a.C., Tales de Mileto Inf luê nci as mitologia Inf lue nci ado s arte , ciência , política , direito , ética ,teologia , religião Pri Demócrito · Sócrates · Platão ·Aristóteles · Con

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Transcript of Filo Sofia

FilosofiaOrigem: Wikipdia, a enciclopdia livre.Nota:Para outros significados, vejaFilosofia (desambiguao).Filosofia

O pensador, deAuguste Rodin, representao clssica de um homem imerso em pensamentos.

Origem do nome,grego

OrigemGrcia, sc. VII a.C.,Tales de Mileto

Influnciasmitologia

Influenciadosarte,cincia,poltica,direito,tica,teologia,religio

Principais nomesDemcritoScratesPlatoAristtelesConfcioEpicuroMaquiavelBaconDescartesEspinozaHobbesLockeMontesquieuHumeRousseauVoltaireBurkeKantHegelKierkegaardSchopenhauerMillMarxNietzschePeirceHusserlentre outros

Definio o estudo de problemas fundamentais relacionados existncia, aoconhecimento, verdade, aosvaloresmoraiseestticos, mentee linguagem.

Conhecida porestimular o pensamento lgico e crtico

Pretendeconstruirconcepes abrangentes de mundo

Divide-se emFilosofia ocidental,Filosofia oriental

Ramificaesepistemologia,ontologia,tica,metafsica,filosofia social,filosofia poltica,esttica,lgica

Filosofia(dogrego, literalmente (amigo da sabedoria ou amor pelo saber12) o estudo de problemas fundamentais relacionados existncia, aoconhecimento, verdade, aosvaloresmoraiseestticos, mentee linguagem.3Ao abordar esses problemas, a filosofia se distingue damitologiae dareligiopor sua nfase emargumentosracionais; por outro lado, diferencia-se das pesquisascientficaspor geralmente no recorrer a procedimentosempricosem suas investigaes. Entre seus mtodos, esto a argumentaolgica, aanlise conceptual, asexperincias de pensamentoe outros mtodosa priori. A Filosofia o saber mais abrangente. A partir dela, so fundamentados e desenvolvidos os projetos educacionais e as pesquisas, bem como embasa-se, inclusive, a consultoria a instituies cientficas, artsticas e culturais.A filosofiaocidentalsurgiu naGrcia antiganosculo VI a.C.A partir de ento, uma sucesso de pensadores originais comoTales,Xenfanes,Pitgoras,HerclitoeProtgoras empenhou-se em responder, racionalmente, questes acerca da realidade ltima das coisas, das origens e caractersticas do verdadeiro conhecimento, da objetividade dos valores morais, da existncia e natureza dosdeuses(ou deDeus). Muitas das questes levantadas por esses antigos pensadores so, ainda, temas importantes dafilosofia contempornea.4Durante as IdadesAntigaeMedieval, a filosofia compreendia praticamente todas as reas de investigao terica. Em seu escopo figuravam desde disciplinas altamente abstratas em que se estudavam o "ser enquanto ser" e os princpios gerais doraciocnio at pesquisas sobre fenmenos mais especficos como aqueda dos corpose aclassificaodosseres vivos. Especialmente a partir dosculo XVII, vrios ramos do conhecimento comeam a se desvencilhar da filosofia e a se constituir em cincias independentes com tcnicas e mtodos prprios (priorizando, sobretudo, a observao e a experimentao).5Apesar disso, a filosofia atual ainda pode ser vista como uma disciplina que trata de questes gerais e abstratas que sejam relevantes para a fundamentao das demais cincias particulares ou demais atividades culturais. A princpio, tais questes no poderiam ser convenientemente tratadas por mtodos cientficos.6Por razes de convenincia e especializao, os problemas filosficos so agrupados em subreas temticas: entre elas as mais tradicionais so ametafsica, aepistemologia, algica, atica, aestticae afilosofia poltica.ndice[esconder] 1Histria e evoluo 2Definio de filosofia 2.1Etimologia 2.2Conceito de filosofia 3Mtodos da filosofia 4Disciplinas filosficas 5Cronologia 6Evoluo histrica 6.1Pensamento mtico e pensamento filosfico 6.2Filosofia antiga 6.2.1Babilnia 6.2.2Grcia Antiga 6.2.3Imprio Romano 6.3frica 6.4Filosofia oriental 6.4.1China 6.4.2ndia 6.5Filosofia medieval 6.5.1Europa 6.5.2Oriente Mdio 6.6Filosofia do Renascimento 6.7Filosofia moderna 6.8Filosofia do sculo XIX 6.9Filosofia do sculo XX 6.10Movimentos filosficos da atualidade 6.10.1Filosofia clnica 7Ver tambm 8Referncias 9Bibliografia sugerida 10Ligaes externasHistria e evoluoVer artigo principal:Histria da filosofiaA filosofiaocidentalsurgiu naGrcia antiganosculo VI a.C.A partir de ento, uma sucesso de pensadores originais comoTales,Xenfanes,Pitgoras,HerclitoeProtgoras empenhou-se em responder, racionalmente, questes acerca da realidade ltima das coisas, das origens e caractersticas do verdadeiro conhecimento, da objetividade dos valores morais, da existncia e natureza dosdeuses. Muitas das questes levantadas por esses antigos pensadores so ainda temas importantes dafilosofia contempornea.7Durante as IdadesAntigaeMedieval, a filosofia compreendia praticamente todas as reas de investigao terica. Em seu escopo figuravam desde disciplinas altamente abstratas em que se estudavam o "ser enquanto ser" e os princpios gerais doraciocnio at pesquisas sobre fenmenos mais especficos como aqueda dos corpose aclassificaodosseres vivos. Especialmente a partir dosculo XVII, vrios ramos do conhecimento comeam a se desvencilhar da filosofia e a se constituir em cincias independentes com tcnicas e mtodos prprios (priorizando, sobretudo, a observao e a experimentao).8Apesar disso, a filosofia atual ainda pode ser vista como uma disciplina que trata de questes gerais e abstratas que sejam relevantes para a fundamentao das demais cincias particulares ou demais atividades culturais. A princpio, tais questes no poderiam ser convenientemente tratadas por mtodos cientficos.9Por razes de convenincia e especializao, os problemas filosficos so agrupados em subreas temticas: entre elas as mais tradicionais so ametafsica, aepistemologia, algica, atica, aestticae afilosofia poltica.

Plato, 427-347 a.C.As atividades a que nos dedicamos cotidianamente pressupem a aceitao de diversas crenas e valores de que nem sempre estamos cientes. Acreditamos habitar ummundoconstitudo de diferentes objetos, de diversos tamanhos e cores. Acreditamos que esse mundo organiza-se numespaotridimensional e que otemposegue a sua marcha inexorvel numa nica direo. Acreditamos que as pessoas ao redor so em tudo semelhantes a ns, vem as mesmas coisas, tm os mesmos sentimentos e sensaes e as mesmas necessidades. Buscamos interagir com outras pessoas, e encontrar algum com quem compartilhar a vida e, talvez, constituir famlia, pois tudo nos leva a crer que essa uma das condies para a nossafelicidade. Periodicamente reclamamos de abusos na televiso, em propagandas e noticirios, na crena de que h certos valores que esto sendo transgredidos por purosensacionalismo. Em todos esses casos, nossas crenas e valores determinam nossas aes e atitudes sem que eles sequer nos passem pela cabea. Mas eles esto l, profundamente arraigados e extremamente influentes. Enquanto estamos ocupados em trabalhar, pagar as contas ou divertir-nos, no vemos necessidade de questionar essas crenas e valores. Mas nada impede que, em determinado momento, faamos uma reflexo profunda sobre o significado desses valores e crenas fundamentais e sobre a sua consistncia. nesse estado de esprito que formularemos perguntas como: O que arealidadeem si mesma?, O que h por trs daquilo que vejo, ouo e toco?, O que o espao? E o que o tempo?, Se o que aconteceu h um centsimo de segundo j passado, ser que o presente no uma fico?, Ser que tudo o que acontece sempre antecedido porcausas?, O que a felicidade? E como alcan-la?, O que o certo e o errado?, O que aliberdade?.

Paul Gauguin,De onde viemos? Quem somos? Para onde vamos?(1897/98).Essas perguntas so tipicamente filosficas e refletem algo que poderamos chamar de atitude filosfica perante o mundo e perante ns mesmos. a atitude de nos voltarmos para as nossas crenas mais fundamentais e esforar-nos por compreend-las, avali-las e justific-las. Muitas delas parecem ser to bvias que ningum em s conscincia tentaria sinceramente question-las. Poucos colocariam em questo mximas como Matar errado, Ademocracia melhor que aditadura, Aliberdade de expressoe de opinio um valor indispensvel. Mas, a atitude filosfica no reconhece domnios fechados investigao. Mesmo em relao a crenas e valores que consideramos absolutamente inegociveis, a proposta da filosofia a de submet-los ao exame crtico, racional e argumentativo, de modo que a nossa adeso seja restabelecida em novo patamar. Em outras palavras, a proposta filosfica a de que, se para sustentarmos certas crenas e valores, que sejam sustentados de maneira crtica e refletida.Muitos autores identificam essa atitude filosfica com uma espcie de habilidade ou capacidade de se admirar com as coisas, por mais prosaicas que sejam. Na base da filosofia, estaria a curiosidade tpica das crianas ou dos que no se contentam com respostas prontas.Plato, um dos pais fundadores da filosofia ocidental, afirmava que o sentimento de assombro ou admirao est na origem do pensamento filosfico:"A admirao a verdadeira caracterstica do filsofo. No tem outra origem a filosofia."Plato,Teeteto.10

Na mesma linha, afirmavaAristteles:"Os homens comeam e sempre comearam a filosofar movidos pela admirao."Aristteles,Metafsica, I 2.11

Embora essa capacidade de admirar-se com a realidade possa estar na origem do pensamento filosfico, isso no significa que tal admirao provoque apenas e to somente filosofia. O sentimento religioso, por exemplo, pode igualmente surgir dessa disposio: a aparente perfeio danatureza, as sincronias dos processos naturais, a complexidade dosseres vivospodem causar profunda impresso no indivduo e lev-lo a indagar se o responsvel por tudo isso no seria uma Inteligncia Superior. Uma paisagem que a todos parecesse comum e sem atrativos poderia atrair de modo singular o olho do artista e faz-lo criar uma obra de arte que revelasse nuances que escaparam ao olhar comum. Analogamente, embora a queda de objetos seja um fenmeno corriqueiro, se nenhum cientista tivesse considerado esse fenmeno surpreendente ou digno de nota, no saberamos nada a respeito dagravidade. Esses exemplos sugerem que, alm de certa atitude em relao nossa experincia da realidade, h um modo de interpelar a realidade e nossas crenas a seu respeito que diferenciariam essa investigao dareligio, daartee dacincia.Ao contrrio da religio, que se estabelece entre outras coisas sobre textos sagrados e sobre a tradio, a filosofia recorre apenas razopara estabelecer certas teses e refutar outras. Como j mencionado acima a filosofia no admitedogmas. No h, em princpio, crenas que no estejam sujeitas ao exame crtico da filosofia. Disso no decorre um conflito irreconcilivel entre a filosofia e a religio. H filsofos que argumentam em favor de teses caras s religies, como, por exemplo, a existncia de Deus e aimortalidadedaalma. Mas um argumento propriamente filosfico em favor da imortalidade da alma apresentar como garantias apenas as suas prprias razes: ele apelar somente ao assentimento racional, jamais fou obedincia.12Os artistas assemelham-se aos filsofos em sua tentativa de desbanalizar a nossa experincia do mundo e alcanar assim uma compreenso mais profunda de ns mesmos e das coisas que nos cercam. Mas a forma em que apresentam seus resultados bastante diferente. Os artistas recorrem percepodireta e intuio;12enquanto a filosofia tipicamente apresenta seus resultados de maneira argumentativa, lgica e abstrata.Mas, se essa insistncia na razo diferencia a filosofia da religio e da arte, o que a diferenciaria das cincias, uma vez que tambm essas privilegiam uma abordagem metdica e racional dos fenmenos? A diferena que os problemas tipicamente filosficos no podem ser resolvidos porobservaoeexperimentao.12No h experimentos e observaes empricas que possam decidir qual seria a noo de direitos humanos mais adequada do ponto de vista da razo. O mesmo vale para outras noes, tais como liberdade, justia ou falta moral. No h como resolver em laboratrio questes como: quando tem incio o ser humano?, os animais podem ser sujeitos de direitos?, em que medida oEstadopode interferir na vida dos cidados?, As entidades microscpicas postuladas pelas cincias tm o mesmo grau de realidade que os objetos da nossa experincia cotidiana (pessoas, animais, mesas, cadeiras, etc.)?. Em resumo, quando um tpico defendido ou criticado com argumentos racionais, e essa defesa ou ataque no pode contar com observaes e experimentos para a sua soluo, estamos diante de um debate filosfico.Definio de filosofiaEtimologia

Filsofo em Meditao, deRembrandt(detalhe).A palavra "filosofia" (dogrego) uma composio de duas palavras:philos() esophia(). A primeira uma derivao dephilia() que significa amizade, amor fraterno e respeito entre os iguais; a segunda significa sabedoria ou simplesmente saber. Filosofia significa, portanto, amizade pela sabedoria, amor e respeito pelo saber; e o filsofo, por sua vez, seria aquele que ama e busca a sabedoria, tem amizade pelo saber, deseja saber.13A tradio atribui ao filsofoPitgorasdeSamos(que viveu nosculo V a.C.) a criao da palavra. Conforme essa tradio, Pitgoras teria criado o termo para modestamente ressaltar que a sabedoria plena e perfeita seria atributo apenas dos deuses; os homens, no entanto, poderiam vener-la e am-la na qualidade de filsofos.13A palavraphilosophano simplesmente uma inveno moderna a partir de termos gregos,14mas, sim, um emprstimo tomado da prpria lngua grega. Os termos (philosophos) e (philosophein) j teriam sido empregados por algunspr-socrticos15(Herclito,PitgoraseGrgias) e pelos historiadoresHerdotoeTucdides. EmScratese Plato, acentuada a oposio entre e , em que o ltimo termo exprime certa modstia e certoceticismoem relao ao conhecimento humano.Conceito de filosofiaPara oseruditoso conceito de "filosofia" sofreu, no transcorrer da histria, vrias alteraes e restries em sua abrangncia. As concepes do que seja a filosofia e quais so os seus objetos de estudo tambm se alteram conforme a escola ou movimento filosfico. Essa variedade presente na histria da filosofia e nas escolas e correntes filosficas torna praticamente impossvel elaborar uma definio universalmente vlida de filosofia. Definir a filosofia realizar uma tarefametafilosfica. Em outras palavras, fazer uma filosofia da filosofia. O socilogo e filsofo alemoGeorg Simmelressaltou esse ponto ao dizer que um dos primeiros problemas da filosofia o de investigar e estabelecer a sua prpria natureza. Talvez a filosofia seja a nica disciplina que se volte para si mesma dessa maneira. O objeto dafsicano , certamente, a prpria cincia da fsica, mas os fenmenospticoseeltricos, entre outros. Afilologiaocupa-se de registros textuais antigos e da evoluo das lnguas, mas no se ocupa de si mesma. A filosofia, no entanto, move-se neste curioso crculo: ela determina os pressupostos de seu mtodo de pensar e os seus propsitos atravs de seus prprios mtodos de pensar e propsitos. No h como apreender o conceito de filosofia fora da filosofia; pois somente a filosofia pode determinar o que a filosofia.16Plato e Aristteles concordam em caracterizar a filosofia como uma atividade racional estimulada pelo assombro ou admirao. Mas, para Plato, o assombro provocado pela instabilidade e contradies dos seres que percebemos pelos sentidos. A filosofia, no quadro platnico, seria a tentativa de superar esse mundo de coisas efmeras e mutveis e apreender racionalmente a realidade ltima, composta porformas eternas e imutveisque, segundo Plato, s podem ser captadas pela razo. Para Aristteles, ao contrrio, no h separao entre, de um lado, um mundo apreendido pelos sentidos e, de outro lado, um mundo exclusivamente captado pela razo. A filosofia seria uma investigao das causas e princpios fundamentais de uma nica e mesma realidade. O filsofo, segundo Aristteles, conhece, na medida do possvel, todas as coisas, embora no possua a cincia de cada uma delas por si.17A filosofia almejaria o conhecimento universal, no no sentido de um acmulo enciclopdico de todos os fatos e processos que se possam investigar, mas no sentido de uma compreenso dos princpios mais fundamentais, dos quais dependeriam os objetos particulares a que se dedicam as demais cincias, artes e ofcios. Aristteles considera que a filosofia, como cincia das causas e princpios primordiais, acabaria por identificar-se com ateologia, pois Deus seria o princpio dos princpios.18As definies de filosofia elaboradas depois de Plato e Aristteles separaram a filosofia em duas partes: uma filosofia terica e uma filosofia prtica. Como reflexo da busca por salvao ou redeno pessoal, a filosofia prtica foi gradativamente se tornando um sucedneo da f religiosa e acabou por ganhar precedncia em relao parte terica da filosofia. A filosofia passa a ser concebida como uma arte de viver, que forneceria aos homens regras e prescries sobre como agir e como se portar diante das inconstncias do mundo. Essa concepo muito clara em diversas correntes da filosofia helenstica, como, por exemplo, noestoicismoe noneoplatonismo.18As definies de filosofia formuladas na Antiguidade persistiram na poca de disseminao e consolidao docristianismo, mas isso no impediu que as concepes crists exercessem influncia e moldassem novas maneiras de se entender a filosofia. As definies de filosofia elaboradas durante aIdade Mdiaforam coordenadas aos servios que o pensamento filosfico poderia prestar compreenso e sistematizao da f religiosa; e, desse modo, a filosofia passa a ser concebida como serva da teologia (ancilla theologiae).18SegundoSo Toms de Aquino, por exemplo, a filosofia pode auxiliar a teologia em trs frentes: (1) ela pode demonstrar verdades que a f j toma como estabelecidas, tais como a existncia de Deus e a imortalidade da alma; (2) pode esclarecer certas verdades da f ao traar analogias com as verdades naturais; e (3) pode ser empregada para refutar ideias que se oponham doutrina sagrada.19Os medievais tambm mantiveram a acepo de filosofia como saber prtico, como uma busca de normas ou recomendaes para se alcanar a plenitude da vida. SantoIsidoro de Sevilha, ainda no sculo VII, definia a filosofia como o conhecimento das coisas humanas e divinas combinado com uma busca pela vida moralmente boa20

Frontispcio daInstauratio Magna, deFrancis Bacon, 1620. Na parte inferior est escrito:Multi pertransibunt et augebitur scientia(Muitos passaro, e o conhecimento aumentar). As colunas representam as limitaes da filosofia antiga e medieval.Tanto na Idade Mdia como em qualquer outra poca da histria ocidental, a compreenso do que a filosofia reflete uma preocupao com questes essenciais para a vida humana em seus mltiplos aspectos. As concepes de filosofia doRenascimentoe daIdade Modernano so excees. Tambm a as noes do que seja a filosofia sintetizam as tentativas de oferecer respostas substantivas aos problemas mais inquietantes da poca. O advento da era moderna fez ruir as prprias bases da sabedoria tradicional; e imps aos intelectuais a tarefa de encontrar novas formas de conhecimento que pudessem restabelecer a confiana no intelecto e na razo. ParaFrancis Bacon- um dos primeiros filsofos modernos - a filosofia no deveria se contentar com uma atitude meramente contemplativa, como queriam os antigos e medievais; ao contrrio, deveria buscar o conhecimento das essncias das coisas a fim de obter o controle sobre os fenmenos naturais e, portanto, submeter a natureza aos desgnios humanos.21ParaDescartes, a filosofia, na qualidade demetafsica, a investigao das causas primeiras, dos princpios fundamentais. Esses princpios devem ser claros e evidentes, e devem formar uma base segura a partir da qual se possam derivar as outras formas de conhecimento. nesse sentido, entendendo-se a filosofia como o conjunto de todos os saberes e a metafsica como a investigao das primeiras causas, que se deve ler a famosa metfora de Descartes: Assim, a Filosofia uma rvore, cujas razes so a Metafsica, o tronco a Fsica, e os ramos que saem do tronco so todas as outras cincias.22Aps Descartes, a filosofia assume uma postura crtica em relao a suas prprias aspiraes e contedos. Osempiristasbritnicos, influenciados pelas novas aquisies da cincia moderna, dedicaram-se a situar a investigao filosfica nos limites do que pode ser avaliado pela experincia. Segundo a orientao empirista, argumentos tradicionais da filosofia, como as demonstraes da existncia de Deus, da imortalidade da alma e de essncias imutveis seriam invlidos, uma vez que as ideias com que operam no so adequadamente derivadas da experincia. De maneira anloga,Kant, ao elaborar sua doutrina dafilosofia transcendental, rejeita a possibilidade de tratamento cientfico de muitos dos problemas da filosofia tradicional, uma vez que a adequada soluo deles demandaria recursos que ultrapassam as capacidades do intelecto humano.O empirismo britnico e o idealismo de Kant acentuam uma caracterstica frequentemente destacada na filosofia: a de ser um "pensar sobre o pensamento"23ou um "conhecer o conhecimento".24Essa concepo reflexiva da filosofia, do pensamento que se volta para si mesmo, influenciar vrios autores e escolas filosficas, tanto do sculo XIX como do sculo XX. Afenomenologia, por exemplo, considerar a filosofia como um empreendimento eminentemente reflexivo. SegundoEdmund Husserl- o fundador da fenomenologia - a filosofia uma cincia rigorosa dos fenmenos tal como nos aparecem, ou seja, tal como a nossa conscincia deles. Para descrev-los, o filsofo deve pr entre parnteses todas as suas pressuposies e preconceitos (at mesmo acertezade que os objetos existem) e restringir-se apenas aos contedos da conscincia.Com avirada lingusticado incio do sculo XX, muitos filsofos passam a considerar a filosofia como uma anlise de conceitos. ParaWittgenstein, os problemas filosficos tradicionais so todos resultantes de confuses lingusticas; e a tarefa do filsofo seria a de esclarecer o modo como os conceitos so empregados a fim de explicitar tais confuses. Numa abordagem mais positiva sobre a atividade filosfica,Strawsonconsidera que a filosofia anloga gramtica: assim como os estudiosos da gramtica explicitam as regras que os falantes inconscientemente empregam, a filosofia explicitaria conceitos-chave que, na construo de nossas concepes e argumentos, adotamos sem ter plena conscincia de suas implicaes e relaes.25A lista de concepes da filosofia propostas ao longo de sua histria pode ser estendida indefinidamente. Sua variedade to grande que dificilmente se pode encontrar um elemento que perpasse todas as concepes em todas as pocas. Mas no se pode esquecer que as antigas concepes de filosofia tornaram-se algo obsoleto frente ao avano de outras disciplinas que antes se abrigavam sombra, excessivamente vasta, da filosofia. As concepes de autores antigos e medievais, e mesmo de alguns modernos, consideravam indiscriminadamente como filosficas investigaes que hoje denominamos simplesmente de cientficas. Assuntos como as leis do movimento, a estrutura da matria e o funcionamento dos processos psicolgicos que hoje consideramos como temas da fsica, da qumica e da psicologia, respectivamente eram todos reunidos na noo defilosofia natural. Aps arevoluo cientficado sculo XVII, as investigaes da filosofia natural foram gradualmente se desvencilhando da filosofia e se constituram em domnios especficos e independentes de pesquisa. De certa forma, os problemas clssicos da filosofia formam hoje um conjunto de assuntos elusivos que no se dobraram metodologia indutiva e experimental das cincias.26Mas isso no implica dizer que a filosofia atual seja mero resduo do processo de crescimento e consolidao da cincia moderna. Dizer isso seria esquecer o aspecto profundamente dinmico e reflexivo da filosofia. A reflexo filosfica no algo que ocorra num limbo intelectual: ela acompanha de perto a evoluo das cincias, da poltica, da religio e das artes.18Essa evoluo tende a apresentar novos problemas e desafios que, por escaparem ao estrito domnio da disciplina em que surgiram, podem ser chamados de "filosficos".Talvez no haja uma resposta categrica pergunta O que filosofia?.18Os filsofos divergem entre si sobre o que fazem, os problemas filosficos ramificam-se indefinidamente e os mtodos variam conforme a concepo do que seja o trabalho filosfico. Talvez a afirmao de Simmel de que s possvel entender a filosofia no mbito da filosofia possa ser tomada como uma advertncia quando contrastada com o amplo espectro de conceitos sobre a sua natureza: ao adotarumadas diferentes orientaes filosficas, tratamos dedeterminadosproblemas e adotamosdeterminadosmtodos para tentar esclarec-los; mas, dado que houtrasconcepes, conforme outros mtodos e conforme outras finalidades, devemos modestamente reconhecer que essas concepes alternativas tm o mesmo direito de ostentar o ttulo de filosofia que a nossa concepo.Mtodos da filosofia

Discusso noite adentro, deWilliam Blades: o debate franco de ideias, conforme os padres da argumentao lgica, uma das caractersticas centrais da atividade filosfica.Os trabalhos filosficos so realizados mediante tcnicas e procedimentos que integram os cnones do pensamento racional. Tradicionalmente, a filosofia destaca e privilegia a argumentao lgica, em linguagem natural ou em linguagem simblica, como a ferramenta por excelncia da apresentao e discusso de teorias filosficas. A argumentao lgica est associada a dois elementos importantes: a articulao rigorosa dos conceitos e a correta concatenao daspremissaseconcluses, de modo que essas ltimas sejam derivaes incontestveis das primeiras. Toda a ideia filosfica relevante inevitavelmente submetida a escrutnio crtico; e a presena de falhas na argumentao (falcias,sofismas, etc.) frequentemente o primeiro alvo das crticas. Desse modo, o destino de uma tese qualquer que no esteja amparada por argumentos slidos e convincentes ser, frequentemente, severamente rejeitada por parte da comunidade filosfica. Embora a reflexo sobre os princpios e mtodos da lgica s tenha sido realizada pela primeira vez por Aristteles, a nfase na argumentao lgica e na crtica solidez dos argumentos uma caracterstica que acompanha a filosofia desde os seus primrdios. A prpria ruptura entre o pensamento mtico-religioso e o pensamento racional assinalada pela adoo de uma postura argumentativa e crtica em relao s explicaes tradicionais. QuandoAnaximandrorejeitou as explicaes de seu mestre TalesdeMileto e props concepes alternativas sobre a natureza e estrutura do cosmos, o pensamento humano dava seus primeiro passos em direo ao debate franco, pblico e aberto de ideias, orientado apenas por critrios racionais de correo, como forma destacada de se aperfeioar o conhecimento; e abandonava, assim, as narrativas tradicionais sobre a origem e composio do universo, apoiadas na autoridade inquestionvel da tradio ou em ensinamentos esotricos.27Mas no se podem restringir os mtodos da filosofia apenas nfase geral na argumentao lgica e na crtica sistemtica s teorias apresentadas. Nas grandes tradies da histria da filosofia, podem ser identificadas duas orientaes bem abrangentes, cujos objetivos e tcnicas tendem a diferir radicalmente: existem as escolas que privilegiam uma abordagemanalticados problemas filosficos e aquelas que optam por uma abordagem predominantementesintticaousinptica.3A orientao analtica exemplificada nos trabalhos filosficos que se dedicam decomposio de um conceito em suas partes constituintes e ao exame criterioso das relaes lgicas e conceptuais explicitadas pela anlise. O exemplo clssico a anlise do conceito deconhecimento. A reflexo sobre a natureza do conhecimento levou os filsofos a decompor a noo de conhecimento em trs noes associadas:crena,verdadeejustificao. Para que algo seja conhecimento imprescindvel que seja antes uma crena em outras palavras, o conhecimento umaespciediferenciada do gnero mais abrangente da crena. A pergunta bvia que essa primeira constatao sugere : o que diferencia, ento, o conhecimento das demais formas de crena? Nesse ponto, o exame do conceito conduz a duas noes distintas. Em primeiro lugar, noo de verdade. Intuitivamente separamos as crenas falsas das verdadeiras. por isso que mantemos a crena de que Papai Noel existe num patamar diferente da crena de que a Lua gira em torno da Terra quem sustenta a primeira, tem apenas uma crena; quem sustenta a ltima, provavelmente sabe algo sobre o sistema solar, pois exprime uma crena verdadeira. Mas, para que seja promovida condio de conhecimento, a crena precisa de algo mais: ela precisa ser apoiada por alguma espcie de justificao. Alm de sustentar uma crena verdadeira, o sujeito deve ser capaz de apresentar os meios ou as fontes, consideradas universalmente legtimas, que lhe propiciaram chegar crena em questo. Feito esse exame, a concluso a clebre frmula:o conhecimento crena verdadeira justificada.28Nesse e em muitos outros casos envolvendo noes filosoficamente relevantes, o trabalho de anlise capaz de explicitar pressupostos importantes implicitamente presentes no uso dos conceitos.A outra orientao a sinttica percorre o caminho oposto ao da anlise. Os adeptos dessa orientao buscam elaborar uma sntese de vrias noes relevantes e apresent-las como um todo harmnico.3s vezes chamada de filosofia especulativa, essa orientao filosfica pretende revelar princpios universais que possam reunir organicamente vrios elementos dspares, que aparentemente no guardam relaes relevantes entre si.29Um caso paradigmtico dessa orientao a filosofia hegeliana, cujo fito integrar numa dinmicapantestaa evoluo das mais diversas formas de manifestao daculturahumana artes, leis, governos, religies, cincias e filosofias.Desde o surgimento da cincia moderna, vrios filsofos buscaram separar a investigao filosfica da investigao cientfica por meio de uma caracterizao dos mtodos peculiares filosofia. Como as cincias especiais privilegiam a investigao emprica, especialmente por adoo de mtodos experimentais, defendeu-se que a adoo de mtodosa priori(isto , de mtodos queantecedema investigao emprica ou so delaindependentes) seria o trao definidor do trabalho filosfico. Nos casos da argumentao lgica, da anlise conceptual e da sntese compreensiva no h necessidade de observao dos fenmenos para que se decida se uma concluso ou no logicamente correta, se um conceito est sendo ou no corretamente empregado ou se uma viso sinptica ou no incoerente. Isso no implica um divrcio entre a cincia e a filosofia. Ao contrrio, implica que os filsofos esto aptos a analisar os conceitos e argumentos das cincias especiais, e,nessedomnio, podem prestar um servio relevante ao aperfeioamento das teorias cientficas.

Kant deduzindo coisas que no so passveis de ser experienciadas - Trabalho artstico de Friedrich Hagermann, 1801.

Odilema do bonde umexperimento mentalpara ilustrar e colocar prova distintas teorias ticasAlm das orientaes metodolgicas acima explicadas, h outras duas estratgias que podem ser caracterizados como mtodosa priori. Os experimentos mentais e osargumentos transcendentais. Umexperimento mental(s vezes tambm chamado de "experincia de pensamento") a elaborao de uma situao puramente hipottica geralmente impossvel de ser construda na prtica por meio da qual o filsofo testa os limites de determinados pressupostos ou conceitos. Oexperimento mentalmais famoso da histria da filosofia a hiptese do Gnio Maligno concebida por Descartes: ao imaginar um deus onipotente que se dedica a ludibri-lo, Descartes leva oceticismoao seu extremo a fim de identificar uma certeza inabalvel capaz de superar at mesmo a hiptese do Gnio Maligno. (Essa hiptese recebeu uma roupagem moderna na elaborao de outroexperimento mental ocrebro numa cuba).30O outro mtodo o dos argumentos transcendentais foi concebido por Kant, e consiste em tomar como dados os fatos da experincia, e deduzir coisas que no so passveis de ser experienciadas, mas que constituem a prpria condio de possibilidade daqueles fatos. Com essa espcie de argumento, Kant concluiu, por exemplo, que a forma pura do espao uma das condies necessrias pressupostas pela experincia dos objetos externos, pois sem ela tal experincia seria impossvel.31Embora o emprego da lgica formal, da anlise conceptual e dos experimentos mentais sejam constantes na filosofia contempornea, predomina hoje, sobretudo na tradio analtica, a orientao que se convencionou chamar denaturalismo filosfico. Essa orientao tem suas origens nos trabalhos do filsofo americanoWillard Van Orman Quine(1908-2000) que criticam a distino entre questes conceptuais e empricas. Os adeptos do naturalismo rejeitam a suposio de que a filosofia se diferencie das cincias por um conjunto de mtodos prprios: os problemas filosficos e os cientficos pertencem a uma nica e mesma esfera e, portanto, os mtodos cientficos, historicamente bem-sucedidos, devem tambm ser aplicados problemtica filosfica.Disciplinas filosficasVer pgina:reas da filosofiaA filosofia geralmente dividida em reas de investigao especfica. Em cada rea, a pesquisa filosfica dedica-se elucidao de problemas prprios, embora sejam muito comuns as interconexes. As reas tradicionais da filosofia so as seguintes: Metafsica: ocupa-se da elaborao de teorias sobre a realidade e sobre natureza fundamental de todas as coisas. O objetivo da metafsica fornecer uma viso abrangente do mundo uma viso sinptica que rena em si os diversos aspectos da realidade. Uma das subreas da metafsica aontologia(literalmente, a cincia do "ser"), cujo tema principal a elaborao de escalas de realidade. Nesse sentido, a ontologia buscaria identificar as entidades bsicas ou elementares da realidade e mostrar como essas se relacionam com os demais objetos ou indivduos - de existncia dependente ou derivada.32 Epistemologiaouteoria do conhecimento: a rea da filosofia que estuda a natureza doconhecimento, sua origem e seus limites. Dessa forma, entre as questes tpicas da epistemologia esto: O que diferencia o conhecimento de outras formas de crena?, O que podemos conhecer?, Como chegamos a ter conhecimento de algo?.32 Lgica: a rea que trata das estruturas formais do raciocnio perfeito ou seja, daqueles raciocnios cuja concluso preserva a verdade das premissas. Na lgica so estudados, portanto, os mtodos e princpios que permitem distinguir os raciocnios corretos dos raciocnios incorretos.33 ticaoufilosofia moral: a rea da filosofia que trata das distines entre o certo e o errado, entre o bem e o mal. Procura identificar os meios mais adequados para aprimorar a vida moral e para alcanar uma vida moralmente boa. Tambm no campo da tica do-se as discusses a respeito dos princpios e das regras morais que norteiam a vida em sociedade, e sobre quais seriam as justificativas racionais para adotar essas regras e princpios.32 Filosofia poltica: o ramo da filosofia que investiga os fundamentos da organizao sociopoltica e do Estado. So tradicionais nessa rea, as hipteses sobre ocontrato originalque teria dado incio vida em sociedade, institudo ogoverno, os deveres e os direitos doscidados. Muitas dessas situaes hipotticas so elaboradas no intuito de recomendar mudanas ou reformas polticas aptas a aproximar as sociedades concretas de um determinado ideal poltico.32 Estticaoufilosofia da arte: entre as investigaes dessa rea, encontram-se aquelas sobre a natureza da arte e da experincia esttica, sobre como a experincia esttica se diferencia de outras formas de experincia, e sobre o prprio conceito debelo.32 Metafilosofia: a "filosofia da filosofia". Procura determinar, entre outras coisas, o que , suas limitaes e o objetivo da filosofia enquanto ramo do saber humano.CronologiaVer pgina:Anexo:Cronologia da filosofiaEvoluo histricaPensamento mtico e pensamento filosficoComo em muitas outras sociedades antigas, asnarrativas mticasdesempenhavam uma funo central na sociedade grega. Alm de estabelecer marcos importantes na vida social, os mitos gregos promoviam uma concepo de mundo de natureza religiosa que propiciava respostas s principais indagaes existenciais que desde sempre inquietaram o esprito humano. Os eventos histricos, os fenmenos naturais e os principais eventos da vida humana (nascimento, casamento, doena e morte) eram entrelaados s histrias tradicionais sobre conflitos entredeuses, intercmbios entre deuses e homens e feitos memorveis desemideuses.Originalmente, a palavra gregamythossignificava simplesmente palavra ou fala;34mas o termo remetia tambm noo de uma palavra proferida com autoridade.35As histrias picas deHomero, permeadas de intervenes sobrenaturais, ou a teogonia deHesodoerammythosno sentido de serem anncios revestidos de autoridade, dignos de crdito e reverncia. Gradualmente, o termo foi assumindo outro sentido e j poca de Plato e Aristteles omythosera empregado para caracterizar histrias fictcias ou absurdas que se afastariam dologos- isto , do discurso racional.36Aristteles, por exemplo, considerava a filosofia como um empreendimento intelectual completamente distinto das elaboraes mitolgicas. NaMetafsica, ao tratar do problema da incorruptibilidade, Aristteles menciona Hesodo e, logo em seguida, descarta peremptoriamente suas opinies, pois, segundo ele, no precisamos perder tempo investigando seriamente as sutilezas dos criadores de mitos.37Pode-se dizer que a filosofia surge como uma espcie de rompimento com a viso mtica do mundo. Enquanto os mitos se organizavam em narraes, imagens e seres particulares, a filosofia inaugurava o discurso argumentativo, abstrato e universal. Alm disso, ao contrrio dos autores de mitos, os filsofos gregos tentaram com afinco elaborar concepes de mundo que fossem isentas de contradies e imperfeies lgicas.Desse modo, no sem razo que muitos autores enfatizam o carter de ruptura e divergncias ao comparar o advento da filosofia com a tradio mtica daGrcia antiga. Mas, embora sejam inegveis as diferenas, mais recentemente vrios estudiosos tm apontado os pontos de continuidade e semelhana entre as primeiras elucubraes filosficas dos gregos e as suas concepes mitolgicas.38Para esses autores, as peculiaridades da tradio mtica grega favoreceram o surgimento da filosofia grega e os primeiros filsofos empenharam-se numa espcie dessacralizao e despersonalizao das narrativas tradicionais sobre o surgimento e organizao do cosmos.Filosofia antigaVer artigo principal:Filosofia antigaeFilosofia clssicaBabilniaVer artigo principal:Filosofia babilnicaGrcia AntigaVer artigos principais:Pr-socrticoseFilosofia da Grcia AntigaVer pgina:Lista de filsofos platnicos antigosA filosofia antiga teve incio no sculo VI a.C. e se estendeu at a decadncia do imprio romano no sculo V d.C. Pode-se dividi-la em quatro perodos: (1) o perodo dospr-socrticos; (2) um perodo humanista, em queScratese ossofistastrouxeram as questes morais para o centro do debate filosfico; (3) o perodo ureo da filosofia emAtenas, em que despontaram Plato e Aristteles; (4) e o perodohelenstico. s vezes se distingue um quinto perodo, que compreende os primeiros filsofos cristos e os neoplatonistas.39Os dois autores mais importantes da filosofia antiga em termos de influncia posterior foram Plato e Aristteles.Os primeiros filsofos gregos, geralmente chamados de pr-socrticos, dedicaram-se a especulaes sobre a constituio e a origem do mundo. O principal intuito desses filsofos era descobrir um elemento primordial, eterno e imutvel que fosse a matria bsica de todas as coisas. Essa substncia imutvel era chamada dephysis(palavra grega cuja traduo literal seria natureza, mas que na concepo dos primeiros filsofos compreendia a totalidade dos seres, inclusive entidades divinas),40e, por essa razo, os primeiros filsofos tambm foram conhecidos como osphysiologoi(literalmente fisilogos, isto , os filsofos que se dedicavam ao estudo daphysis).41A questo da essncia material imutvel foi a primeira feio assumida por uma inquietao que percorreu praticamente toda a filosofia grega. Essa inquietao pode ser traduzida na seguinte pergunta: existe uma realidade imutvel por trs das mudanas caticas dos fenmenos naturais? J os prprios pr-socrticos propuseram respostas extremas a essa pergunta.ParmnidesdeEleiadefendeu que a perene mutao das coisas no passa de uma iluso dos sentidos, pois a razo revelaria que o Ser nico, imutvel e eterno.42Herclitodefeso, por outro lado, defendeu uma posio diametralmente oposta: a prpria essncia das coisas mudana, e seriam vos os esforos para buscar uma realidade imutvel.43Tais especulaes, que combinavam a oposio entre realidade e aparncia com a busca de uma matria primordial, culminaram na filosofiaatomistadeLeucipoeDemcrito. Para esses filsofos a substncia de todas as coisas seriam partculas minsculas e invisveis os tomos em perene movimentao no vcuo. E os fenmenos que testemunhamos cotidianamente so resultado da combinao, separao e recombinao desses tomos.A teoria de Demcrito representou o pice da filosofia daphysis, mas tambm o seu esgotamento. As transformaes sociopolticas, especialmente em Atenas, j impunham novas demandas aos sbios da poca. Ademocracia ateniensesolicitava novas habilidades intelectuais, sobretudo a capacidade de persuadir. nesse momento que se destacam os filsofos que se dedicam justamente a ensinar aretricae as tcnicas de persuaso os sofistas. O ofcio dessa nova espcie de filsofos trazia como pressuposto a ideia de que no h verdades absolutas. O importante seria dominar as tcnicas da boa argumentao, pois, dominando essas tcnicas, o indivduo poderia defender qualquer opinio, sem se preocupar com a questo de sua veracidade. De fato, para os sofistas, a busca da verdade era uma pretenso intil. A verdade seria apenas uma questo de aceitao coletiva de uma crena, e, a princpio, no haveria nada que impedisse que o que hoje tomado como verdade, amanh fosse considerado uma tolice.44O contraponto a esserelativismodos sofistas foi Scrates. Embora partilhasse com os sofistas certa indiferena em relao aos valores tradicionais, Scrates dedicou-se busca de valores perenes. Scrates no deixou nenhum registro escrito de suas ideias. Tudo o que sabemos dele chegou-nos atravs do testemunho de seus discpulos e contemporneos. Segundo dizem, Scrates teria defendido que a virtude conhecimento e as faltas morais provm da ignorncia.45O indivduo que adquirisse o conhecimento perfeito seria inevitavelmente bom e feliz. Por outro lado, essa busca simultnea do conhecimento e da bondade deve comear pelo exame profundo de si mesmo e das crenas e valores aceitos acriticamente. Segundo contam, Scrates foi um inquiridor implacvel e fez fama por sua habilidade de levar exasperao os seus antagonistas. Ao concidado que se dizia justo, Scrates perguntava O que a justia?, e depois se dedicava a demolir todas as tentativas de responder pergunta.

A Morte de Scrates,Jacques-Louis David,1787.A atitude de Scrates acabou por lhe custar a vida. Seus adversrios conseguiram lev-lo a julgamento por impiedade e corrupo de jovens. Scrates foi condenado morte mais especificamente, a envenenar-se comcicuta. Segundo o relato de Plato, o seu mais famoso discpulo, Scrates cumpriu a sentena com absoluta serenidade e destemor.Coube a Plato levar adiante os ensinamentos do mestre e super-los. Plato realiza a primeira grande sntese da filosofia grega. Em seusdilogos, combinam-se as antigas questes dos pr-socrticos com as urgentes questes morais e polticas, o discurso racional com a intuio mstica, a elucubrao lgica com a obra potica, os mitos com a cincia.Segundo Plato, os nossos sentidos s nos permitem perceber uma natureza catica, em que as mudanas e a diversidade aparentam no obedecer a nenhum princpio regulador; mas a razo, ao contrrio, capaz de ir alm dessas aparncias e captar as formas imutveis que so as causas e modelos de tudo o que existe. Ageometriafornece um bom exemplo. Ao demonstrar seus teoremas os gemetras empregam figuras imperfeitas. Por mais acurado que seja ocompasso, os desenhos decrculossempre contero irregularidades e imperfeies. As figuras sensveis do crculo esto sempre aqum de seu modelo e esse modelo a prpria ideia de crculo, concebvel apenas pela razo. O mesmo ocorre com os demais seres: os cavalos que vemos so todos diferentes entre si, mas h um princpio unificador a ideia de cavalo que nos faz chamar a todos de cavalos. Com os valores, no seria diferente. As diferentes opinies sobre questes morais e estticas devem-se a uma viso empobrecida das coisas. Os que empreenderem uma busca sincera alcanaro a concepo do Belo em si mesmo e do Bem em si mesmo.Ao contrrio do que o termo ideias possa sugerir, Plato no as considera como meras construes psicolgicas; ao contrrio, ele lhes atribui realidade objetiva. As ideias constituem um mundo suprassensvel ou seja, uma dimenso que no podemos ver e tocar, mas que podemos captar como os olhos da razo. Essa a famosa teoria das ideias de Plato. Ele a ilustra numa alegoria igualmente clebre aalegoria da caverna.Plato nos convida a imaginar uma caverna em que se acham vrios prisioneiros. Eles esto amarrados de tal maneira que s podem ver a parede do fundo da caverna. s costas dos prisioneiros h um muro da altura de um homem. Por trs desse muro, transitam vrias pessoas carregando esttuas de diversas formas todas elas so rplicas de coisas que vemos cotidianamente (rvores, pssaros, casas etc.). H tambm uma grande fogueira, atrs desse muro e dos carregadores. A luz da fogueira faz com que as sombras das esttuas sejam projetadas sobre o fundo da parede. Os barulhos e falas dos carregadores reverberam no fundo da caverna, dando aos prisioneiros a impresso de que so oriundos das sombras que eles veem. Nessa situao imaginria, os prisioneiros pensariam que as sombras e os ecos constituem tudo o que existe. Como nunca puderam ver nada alm das sombras projetadas na parede da caverna, acreditam que apenas as sombras so reais.Aps apresentar esse cenrio, Plato sugere que, se um desses prisioneiros conseguisse se libertar, veria, com surpresa, que as esttuas que sempre estiveram atrs dos prisioneiros so mais reais do que aquelas sombras. Ao sair da caverna, a luz o ofuscaria; mas, aps se acostumar com a claridade, veria que as coisas da superfcie so ainda mais reais do que as esttuas. Esse prisioneiro que se liberta o filsofo, e a sua jornada em direo superfcie representa a o percurso da razo em sua lenta ascenso ao conhecimento perfeito.

AEscola de Atenas, deRafael, representa os mais importantes filsofos, matemticos e cientistas da Antiguidade.Aristteles, discpulo de Plato e preceptor deAlexandre, o Grande, rejeitou a teoria das ideias. Para ele, a hiptese de uma realidade separada e independente, constituda apenas por entidades inteligveis, era uma duplicao do mundo absolutamente desnecessria.46Na viso de Aristteles, a essncia de uma coisa no consiste numa ideia suplementar e separada, mas numa forma que lhe imanente. Essa forma imanente o que d organizao e estrutura matria, e propicia, no caso dos organismos vivos, o seu desenvolvimento conforme a sua essncia. Aristteles tambm divergiu de Plato sobre o valor da experincia na aquisio do conhecimento. Enquanto na filosofia platnica, h uma perene desconfiana em relao ao saber derivado dos sentidos, na filosofia aristotlica o conhecimento adquirido pela viso, audio, tato etc. considerado como o ponto de partida do empreendimento cientfico.Aristteles foi um pesquisador infatigvel, e seus interesses abarcavam praticamente todas as reas do conhecimento. Foi o fundador dabiologia; e o criador da lgica como disciplina. Fez contribuies originais e duradouras em metafsica e teologia, tica e poltica, psicologia e esttica. Alm de ter contribudo nas mais diversas disciplinas, Aristteles realizou a primeira grande sistematizao das cincias, organizando-as conforme seus mtodos e abrangncia. Em cada uma das disciplinas que criou, ou ajudou a criar, Aristteles cunhou uma terminologia que at hoje est presente no vocabulrio cientfico e filosfico: como exemplos, podem-se mencionar as palavras substncia, categoria, energia, princpio e forma.47Na transio dosculo IVpara osculo III a.C., durante o perodo helenstico, formam-se duas escolas filosficas cujos ensinamentos representam uma clara mudana de nfase em relao Academia de Platoe escola peripatticade Aristteles. Sua preocupao principalmente a redeno pessoal. Tanto paraEpicuro(ca.341-270 a.C.) e seus seguidores como paraZenodeCtioe demais estoicos o principal objetivo da filosofia deveria ser a obteno da serenidade de esprito. As duas escolas tambm se assemelham na crena de que esse objetivo passa por uma espcie de harmonizao entre o indivduo e a natureza, mas divergem quanto forma de se realizar essa harmonizao. Para Epicuro, a sintonia com a natureza supe a aceitao das necessidades e desejos naturais e dos prazeres sensoriais. Dessa forma, ele preconiza a fruio moderada dos prazeres e a comedida gratificao dos desejos.48Os estoicos, por outro lado, sustentavam a crena de que o cosmos e os seres humanos partilhavam do mesmologosdivino. O ideal filosfico de vida seria, na concepo dos estoicos, a adeso necessidade racional da natureza e o desenvolvimento de uma absoluta imperturbabilidade (ataraxia) em relao aos fatos e eventos do mundo.49AAntiguidade tardiaviu