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3º ano ENSINO MÉDIO

FILOSOFIA

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Φιλοσοφία

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SUMÁRIO

Filosofia Política: Moderna......................................................................................................................................p.03

Nicolau Maquiavel

Thomas Hobbes

Jean-Jacques Rousseau

John Locke Ética ou Filosofia Moral...........................................................................................................................................p.20

Jean Paul Sartre

Aristóteles

Immanuel Kant

Friedrich Nietzsche

Filosofia Moderna: Teoria do Conhecimento..........................................................................................................p.37

Immanuel Kant Sugestões...............................................................................................................................................................p.40

Referências.............................................................................................................................................................p.42

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Vida e obra Nicolau Maquiavel, filósofo italiano do século XV nasceu na cidade de Florença em 03 de Maio de 1469 e faleceu em 21 de Junho de 1527. Em seus 58 anos de vida, contribuiu de forma decisiva com a filosofia à partir de seus escritos polítocos. Consagrou-se pela simples manobra de escrever

sobre o Estado eo governo como realmente são e não como deveriam ser. Possuía sólida formação humanística, estudou gramática, latim e matemática (trivium) e pertenceu à escola Replublicanismo Clássico de tradição Renascentista. Seus principais interesses foram: política, História, Literatura e música. Foi influenciado por Aristóteles, Tito Lívio e Cícero dentre outros e foi infulenciador de Thomas Hobbes, Rousseau, David Hume, Spinoza, Montesquieu, Gramsci, Hegel, dentre outros. Se casou em 1501, aos 32 anos de idade com Marietta Corsini e não se sabe ao certo de teve 6 ou 7 filhos. Era o terceiro de quatro filhos de Bernardo, um advogado, e Bartolomea de Nelli que possuiam poucos recursos finaceiros. Sabê-se pouco da biografia de Maquiavel antes de entrar para a vida política. No entanto, é sabido que foi poeta, diplomata, músico italiano do Renascimento, historiador (não como qualquer outro,pois, além de se preocupar com referências precisas, deixa transparecer em suas obras históricas a defesa de algumas de suas idéias através da narração de fatos históricos), embaixador de paz ou de tratados políticos entre os estados italiano e o mais importante como Secretário da Segunda Chancelaria do Estado de Florença, cargo este, conseguido aos 29 anos de idade, quando ingressara na vida política no governo de Lourenço de Médici. Neste cargo, ele se manteve por 14 anos, tempo que aproveitou também para observar o comportamento de grandes nomes da época e retirar algumas experiências e considerações para usas obras. Em 1512, suspeito de um complô, por ser um dos responsáveis por uma política anti-Médici e grande colaborador do governo anterior, foi deposto de seu cargo de Secretário, multado e proibido de se retirar da Toscana (território florentino) durante um ano. Para piorar a sua situação, no ano seguinte dois jovens foram presos e acusados de conspirarem contra o governo. Um deles, sem querer, deixou cair uma lista com o nome de possíveis adeptos do movimento

republicano, entre os quais estava o nome de Maquiavel que foi preso e torturado. Para sua sorte, com a morte de Júlio II em 21 de Fevereiro de 1513 e a eleição de João de Médici, um florentino, como o Papa Leão X, todos os suspeitos de conspiração foram anistiados como sinal de regozijo e com eles Maquiavel, depois de passar 22 dias preso. Foi após sua libertação que escreveu suas principais obras, consegui algumas pequenas missões sem muita importância, mas jamais voltou ao seu antigo posto como desejava. Maquiavel foi autor de inúmeras obras. Escreveu tratados histórico-políticos, poemas, novelas, diálogos, peças e discursos. De seus trabalhos, muitos são poucos conhecidos, considerados até sem muita importância, outros, porém, conseguiram grande destaque no cenário mundial, tais como: „A Arte da Guerra‟ e os „Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio‟, no entanto, nenhuma obra se tornou mais conhecida do que sua célebre obra intitulada de „O Príncipe‟, completamente escrita em 1513, apesar de ter sido publicada postumamente, em 1532. Existem 2 versões para a origem do livro. A primeira é que teve origem com aunião de Juliano de Médici e do Papa Leão X, com a qual Maquiavel viu a possibilidade de um príncipe finalmente unificar a Itália e defendê-la contra os estrangeiros com pulso firme e „mãos de ferro‟. Entretanto, a obra foi dedicada à Lourenço de Médici II, mais jovem, de forma a estimulá-lo a realizar esta empreitada. A segunda versão sobre o livro, diz que ele o teria escrito em uma tentativa de obter favores dos Médici, contudo, ambas as versões não são excludentes. Ele considera de fundamental importância que se registre o que se aprendeu, pois, assim se faz ciência e os homens lendo os fatos ocorridos, não caiam novamente nos erros de seus antecessores. Seu método era empirista, pois, analisava os fatos e escrevia suas obras com base nas experiências históricas. Maquiavel viveu em uma época de intensa desordem, face à uma Itália dividida, corrompida e sujeita a invasões externas. No século XV, ele representou um marco na elaboração da moderna concepção de política, pois, não tinha dúvidas que era necessária a unificação e regeneração do país. Tais tarefas tornavam imprescindível o surgimento de um homem virtuoso, capaz de fundar um Estado forte e coeso. Era preciso, enfim, um príncipe.

Virtù e Fortuna Os conceitos de virtù e fortuna são empregados várias vézes por Maquiavel em suas obras. A atividade política, tal como se arquitetara, exigia a prática da virtù, o domínio sobre a fortuna.

FILOSOFIA POLÍTICA: MODERNA

NICOLAU MAQUIAVEL (1469-1527)

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Para os antigos, a fortuna era uma deusa romana da sorte, uma aliada potencial, cuja simpatia era importante atrair. Representava a honra, o poder, a glória, a riqueza e as coisas inevitáveis que acontecem aos seres humanos e por isso, não se pode saber a quem ela vai fazer bens ou males e ela pode tanto levar alguém ao poder como tirá-lo de lá. Para possuí-la, deve-se seduzí-la através da verdadeira virilidade e inquestionável coragem. Assim, quem possuísse virtù no mais alto grau, seria beneficiado com seus presentes. Contudo, com o triunfo do cristianismo, essa visão foi inteiramente derrotada. A deusa boa, disposta a ser seduzida, foi substituída por um „poder cego‟, inabalável, fechado a qualquer influência que distribuísse seus bens. Nessa fase, a honra, o poder e a glória não cabiam ao homem e a riqueza não significava felicidade, pois, esta não se encontrava no mundo terreno. O destino é uma força de providência divina e o homem sua vítima impotente. Maquiavel discorda com essa posição, defende o livre-arbítrio e demonstra a possibilidade da virtù conquistar a fortuna. Sendo assim, há possibilidade de

uma aliança entre virtù e fortuna, onde a fortuna não é impiedosa, mas boa, assim como pensavam os antigos, desejosa de ser conquistada por quem tem virtù. Mas afinal, para Maquiavel, o que seria virtù? Para ele, seria a capacidade de adaptação aos acontecimentos políticos que levaria à permanência no poder. A virtù seria como uma barragem que deteria os desígnos do destino. Esta virtù não é cristã, ao contrário, o homem de virtù busca e luta pela honra, poder e glória. E, o que é na visão maquiaveliana um homem virtuoso ? É aquele homem que continua encontrando seu fundamento na força, mas não apenas na força bruta, mas na sabedoria do uso da força, da violência, pois, só assim consegue conquistar o poder e se manter nele; se não for pelo amor, pelo menos pelo temor e respeito dos governados. O príncipe virtuoso deve saber agir conforme as circunstâncias. A força explica o fundamento do poder, porém, é a posse de virtù, a chave por excelência do sucesso do príncipe.

Príncipe: força e Poder O termo príncipe utilizado por Maquiavel, não se refere especificamente ao filho do rei, mas a qualquer governante, seja ele um rei, um príncipe, um imperador, um duque, conde, senhor feudal ou até mesmo um presidente como temos nos dias atuais. Em relação à obra „O Príncipe‟, está dividida em 26 capítulos. No início ele apresenta os tipos de principado existentes e expõe as características de cada um deles. À partir daí, defende a necessidade do príncipe de basear suas forças em exércitos próprios, não em mercenários e após tratar do governo propriamente dito e dos motivos por trás da fraqueza dos Estados italianos, conclui a obra fazendo uma exortação a que um novo príncipe conquiste e liberte a Itália. “O príncipe deve saber agir conforme as circunstâncias”. “Maquiavel diz que o ideal a um príncipe, é ser amado e temido, mas como é difícil uní-las, declara ser mais

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seguro ao príncipe, ser temido do que amado: „E os homens tem menos escrúpulos em ofender alguém que se faça amar do alguém que se faça temer, porque a amizade é mantida por um vínculo de reconhecimento que, por serem os homens maus, é quebrado em cada oportunidade que venha em benefício próprio, mas o temor é mantido pelo medo do castigo que nunca te abandona”. (O Príncipe) A política não se refere, portanto, às utopias (como em Platão), nem às abstrações, tais, como as normas ideais que devem orientar de antemão o „bom governante‟. Aqui, a teoria não se separa da prática e segundo nosso autor, o novo príncipe é aquele capaz de compreender o jogo, político efetivo nas suas circunstâncias concretas e de identificar as forças do conflito, a fim de agir com eficácia. Para essa atuação não ser vã, admiti-se que os valores morais que regulam as condutas individuais, não se aplicam ação política, que envolve o destino comum dos cidadãos em uma comunidade. Daí a importância de Maquiavel: separar virtudes cristãs das virtudes políticas. Nem sempre o que é virtude para o homem na sociedade, o é também para a política, tanto que ele diz que para um príncipe, há vícios que são virtudes, desde que estes sirvam para a coesão e manutenção do Estado. Se os vícios são necessários para o Estado, desde já, são válidos e inevitáveis. Portanto, enquanto as políticas antigas e medievais buscavam descrever o bom governo, ditando regras para o governante ideal, Maquiavel verifica com toda crueza, como os governantes agem de fato. Para ele, a política requer a lógica da força e é impossível governar sem fazer uso da violência.

Ética e política

Nicolau Maquiavel é o principal expoente da ética política. A ética em Maquiavel se contrapõe à ética herdada por ele da Idade Média. A ética cristã aconselha não mentir sempre e independente da situação, pois, é pecado (8º mandamento da lei de Deus: “Não levantar falso testemunho”); já na ética política, se a mentira for para proteger ou o príncipe ou o Estado, desde já esta mentira se faz justa e necessária. Para a ética cristã, as atitudes dos governantes e os Estados em si estavam subordinados a uma lei superior e a vida humana destinava-se à salvação da alma. Com Maquiavel a finalidade das ações dos governantes passa a ser a manutenção da pátria e o bem geral da comunidade. A recusa do prevalecimento dos valores morais na ação política, indica um novo conceito de ordem, a ordem mundana como projeto de Estado e não mais a ordem divina. De fato, naquele momento histórico em que se formavam as monarquias nacionais, era necessária uma teoria que justificasse o fortalecimento do Estado soberano e secular, isto é, não religioso.

Reside aí um ponto de crítica ao pensamento maquiavélico, pois, com essa justificativa, o Estado pode praticar todo tipo de violência, seja aos seus cidadãos, seja a outros Estados. Ao mesmo tempo, o julgamento posterior de uma atitude que hoje parecia boa, amanhã pode mostrá-la má. Daí surge o termo „maquiavélico‟, que ficou conhecido como esperteza (indivíduo „espertalhão‟), comportamento amoral e anti-ético. Convém, no entanto, não reduzir o pensamento maquiaveliano ao simplismo do mito do „maquiavelismo‟, pois, não se trata de justificar a violência à qualquer preço, mas reconhecer que ela é necessária em determinadas circunstâncias, como por exemplo, quando um príncipe conquista o poder ou luta para não perdê-lo. Vale ressaltar que importante não é apenas o uso da força, mas seu sábio uso. Ainda mais se considerarmos a época em que viveu Maquiavel, na expectativa da unificação da Itália, assolada por lutas internas e invasões de estrangeiros

Anarquia x Principado e República Para Maquiavel, a desordem é proveniente da imutável natureza humana e acresce um importante fator social de instabilidade: a presença inevitável em todas as sociedades de duas classes opostas. Uma, os grandes, que desejam dominar e oprimir o povo; a outra, o povo, que não quer ser dominado e nem oprimido. Nota-se que uma das forças quer dominar, enquanto a outra apenas não quer ser dominada. No entanto, se todos quisessem o domínio, a oposição seria resolvida pelo governo dos vitoriosos. Contudo, os vitoriosos não querendo o domínio, o problema político é então, encontrar mecanismos que imponham a estabilidade das relações que sustentem uma determinada correlação de forças. Maquiavel sugere que há basicamente duas respostas à anarquia, decorrente da natureza humana e do confronto entre os grupos sociais, trata-se do Principado e da República. A escolha de uma ou de outra forma institucional não depende de um mero ato de vontade ou de considerações abstratas e idealistas sobre o regime, mas da situação concreta. Assim, quando a nação encontra-se ameaçada de deterioração, quando a corrupção alastrou-se, é necessário um governo forte, que crie e coloque seus instrumentos de poder para inibir a vitalidade das forças desagregadoras e centrífugas. O príncipe é mais propriamente um fundador do Estado, um agente de transmissão numa fase em que a nação se acha ameaçada de decomposição. Nesta situação, o regime que se faz necessário é o Principado. Quando ao contrário, a sociedade já encontrou formas de equilíbrio, o poder político já cumpriu sua função regeneradora e „educadora‟, ela já está preparada para a República. Neste regime, que por vézes o pensador florentino chama de liberdade, o povo é virtuoso, as instituições são estáveis e contemplam a dinâmica das relações sociais. Os conflitos são fontes de vigor, sinal de uma cidadania ativa e portanto são desejáveis.

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1) O maquiavelismo é uma interpretação de O príncipe de Maquiavel, em particular a interpretação segundo a qual a ação política, ou seja, a ação voltada para a conquista e conservação do Estado, é uma ação que não possui um fim próprio de utilidade e não deve ser julgada por meio de critérios diferentes dos de conveniência e oportunidade.

BOBBIO, Norberto. Direito e Estado no pensamento de Emanuel Kant. Trad. de Alfredo Fait. 3.ed. Brasília: Editora da UNB, 1984, p.

14.

Com base no texto e nos conhecimentos sobre o tema, para Maquiavel o poder político é: a) independente da moral e da religião, devendo ser conduzido por critérios restritos ao âmbito político. b) independente de conveniência e oportunidade, pois es tas dizem respeito à esfera privada da vida em sociedade. c) dependente da religião, devendo ser conduzido por parâmetros ditados pela Igreja. d) dependente da ética, devendo ser orientado por princípios morais válidos universal e necessariamente. e) independente das pretensões dos governantes de realizar em os interesses do Estado.

2) (UFU-MG) O conceito de fortuna na obra O príncipe, de Maquiavel, possui significado próprio que o distingue do uso corrente que se faz dessa palavra. Com base no significado que esse conceito assume na obra maquiaveliana, marque para as alternativas abaixo (V) verdadeira, (F) falsa ou (SO) sem opção. ( ) Fortuna significa aquela parte do êxito das ações humanas que não depende exclusivamente do indivíduo, ou seja, que não é governada por ele. No entanto, é ela que proporciona a ocasião para que o indivíduo de virtú obtenha êxito em sua ação. ( ) Fortuna significa o tesouro que o governante acumula com a adoção de práticas ilícitas, graças à sua astúcia e à força das armas, com o objetivo de extrair do povo todas as riquezas que passarão a fazer parte do patrimônio do príncipe. ( ) Fortuna significa a capacidade inata que é igual em todas as criaturas e que floresce em todos os indivíduos de maneira idêntica, constituindo-se no fermento da democracia direta em que todos são governantes e governados. ( ) Fortuna significa o destino cego que se impõe a todos como um rio que arrasta, para paragens distantes, o que está à sua frente. Contudo, o príncipe deve agir tendo em conta o destino, não sendo, portanto, mero fantoche nas mãos da fortuna.

3) (UEMA/PASES) A partir da leitura da obra O príncipe, de Maquiavel, podemos afirmar que o governante de virtú é aquele que: a) não despreza totalmente as virtudes cristãs e privilegia os vícios.

b) despreza totalmente as virtudes cristãs e privilegia os vícios. c) tem na fortuna a justificativa para suas ações face ao que pretende alcançar. d) observa as circunstâncias e determina seu modo de agir. e) tem ações nas quais “os fins justificam os meios” e essa máxima explica a imagem do príncipe virtuoso. Sobre as considerações relativas ao conceito de “fortu-na” no pensamento de Maquiavel, é correto afirmar: a) É a incapacidade do homem para alterar as coisas do mundo, uma vez que essas coisas são criação de Deus e só Ele pode alterá-las. b) É uma condição econômica herdada pelo homem dos seus antepassados. c) Corresponde a um movimento irracional e, portanto, in certo, arbitrário e caprichoso. d) Pode ser pensada como uma roda imaginária que arras ta o ser humano para a razão, para a objetividade e para o conhecimento do todo. e) Trata-se de uma maneira poética de dizer que um homem não é obrigado a aceitar como destino as possibilidades econômicas que lhe são oferecidas em virtude do seu nascimento. 4) Maquiavel não foi um moralista nem procurou redefinir valores como o fizeram Spinoza, Hobbes etc. (...) ao afirmar, por exemplo, que “a um príncipe não é necessário possuir todas as qualidades, mas é necessário parecer tê-las”, ou que “as violências devem ser feitas todas ao mesmo tempo, a fim de que seu gosto, persistindo menos tempo, ofenda menos”, Maquiavel parece sugerir que a boa ação política não deve levar em conta valores que sejam incapazes de garantir o seu sucesso (...). Newton Bignotto

A partir do texto, pode-se afirmar que: ( ) Maquiavel defendia o ideal do bom governo, segundoo qual o governante exerce suas funções pautado pelos valores cristãos, tendo em vista o bem comum. ( ) a filosofia de Maquiavel caracteriza-se por ope rar uma dissociação entre ética e política. ( ) Maquiavel recusa os valores que fundamentam a ética e a moral. ( ) Maquiavel é o iniciador do movimento empirista. ( ) para Maquiavel, a política não é e não deveria ser pautada por nenhuma finalidade moral.

5) (UFU-MG) Leia o texto abaixo. Não me é desconhecido que muitos têm tido e têm a opinião de que as coisas do mundo são governadas pela fortuna e por Deus, de sorte que a prudência dos homens não pode corrigi-las, e mesmo não lhes traz remédio algum. [...] Às vezes, pensando nisso, me tenho inclinado a aceitá-la. Não obstante, e por que o nosso livre arbítrio não desapareça, penso poder ser

ATIVIDADES

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verdade que a fortuna seja árbitra de metade de nossas ações, mas que, ainda assim, ela nos deixa governar quase outra metade.

MAQUIAVEL. O príncipe. São Paulo: Abril Cultural, 1973, p. 109.

O pensamento apresentado acima abre caminho para o conceito de virtú, qualidade indispensável para o êxito do príncipe, pois a fortuna oferece as ocasiões para as ações do governante, que terá de agir com virtú. Assinale a alternativa que oferece a definição de virtú tal como Maquiavel a concebeu. a) É a violência indiscriminada e dirigida ao corpo dos cidadãos, somente o emprego da força das armas é capaz de submeter às vontades humana sob a autoridade impiedosa e avara do príncipe moderno. b) São os valores espirituais que se sobrepõem aos interesses meramente materiais. Somente a virtude da humildade permite a realização do bem comum, que é a fonte inesgotável da paz e harmonia entre súditos e governantes. b) É a prática da bondade, qualidade indispensável que permite o discernimento da idéia de bem como norteadora das ações políticas, de maneira desinteressada e sempre voltada para a realização dos princípios supremos da religião. c) É o poder, a virilidade humana, capaz de agir e dominar o curso das coisas humanas, imprimindo nos acontecimentos as mudanças necessárias à realização de grandes obras para a conquista e conservação do poder. 6) (UEL-PR) A escolha dos ministros por parte de um príncipe não é coisa de pouca importância: os ministros serão bons ou maus, de acordo com a prudência que o príncipe demonstrar. A primeira impressão que se tem de um governante e da sua inteligência é dada pelos homens que o cercam. Quando estes são eficientes e fiéis, pode-se sempre considerar o príncipe sábio, pois foi capaz de reconhecer a capacidade e manter fidelidade. Mas quando a situação é oposta, pode-se sempre dele fazer mau juízo, porque seu primeiro erro terá sido cometido ao escolher os assessores.

MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe. Trad. de Pietro Nassetti. São Paulo: Martin Claret, 2004, p. 136.

Com base no texto e nos conhecimentos sobre Maquiavel, é correto afirmar: a) As atitudes do príncipe são livres da influência dos ministros que ele escolhe para governar. b) Basta que o príncipe seja bom e virtuoso para que seu governo obtenha pleno êxito e seja reconhecido pelo povo. c) O povo distingue e julga, separadamente, as atitudes do príncipe daquelas de seus ministros. d) A escolha dos ministros é irrelevante para garantir um bom governo, desde que o príncipe tenha um projeto político perfeito. e) Um príncipe e seu governo são avaliados também pela escolha dos ministros.

7) (UFU-MG) Leia as informações abaixo.

No entendimento de Maquiavel, o fundamental não

é possuir todas as qualidades que são atribuídas ao bom governante, o mais importante para o novo príncipe é aparentar possuí-las todas. E há de se entender o seguinte: que um príncipe, e especialmente um príncipe novo, não pode observar todas as coisas a que são obrigados os homens considerados bons, sendo freqüentemente forçado, para manter o governo, a agir contra a caridade, a fé, a humanidade, a religião.

MAQUIAVEL, N. O príncipe. Trad. de Lívio Xavier. São Paulo: Nova Cultural, 1987. p. 74.

Assinale a alternativa abaixo que justifica a afirmação de Maquiavel. a) O príncipe é um homem de virtú, isto é, ele sabe se submeter aos caprichos do destino e cede ao fluxo dos acontecimentos com a esperança de alcançar os seus intentos políticos. b) O príncipe deve ter o ânimo voltado para a direção apontada pelos sinais da sorte. Procedendo assim, ele saberá aproveitar as ocasiões que se apresentam para a tomada e a conservação do poder. c) O príncipe é maquiavélico, o que importa é o poder e a fortuna do governante. Para isso, tudo é justificado mediante a força e a fraude, porque o que dá poder e fortuna é a exploração e a miséria do povo. d) A imoralidade do príncipe é a sua virtude. Somente um homem destituído de todos os valores torna-se capaz de governar de maneira insensível o corpo político, tendo por finalidade o próprio poder.

8) Em O príncipe, Maquiavel (1469-1527) formulou idéias e conceitos que firmaram a sua reputação de o fundador da Ciência Política moderna. Dentre elas, pode-se citar os aspectos relacionados às ações políticas dos governantes e à dominação das massas. Para ele, a política deveria ser compreendida pelo governante como uma esfera independente dos pressupostos religiosos que até então a impregnavam. Ao propor a autonomia da política (esfera da vida pública e da ação dos dirigentes políticos) sobre a ética (esfera da vida privada e da conduta moral dos indivíduos), é legítimo afirmar que Maquiavel não dei-xou, entretanto, de reconhecer e valorizar a religião como uma importante dimensão da vida em sociedade. Segundo Maquiavel, a religião dos súditos deveria ser objeto de análise atenta por parte do governante. Sobre a relação entre política e religião, de acordo com Maquiavel, é correto afirmar: a) A religião deve ser cultivada pelo governante para garantir que ele seja mais amado do que temido. b) Por se constituírem em personagens importantes na vida política de uma comunidade, os líderes religiosos devem formular as ações a serem executadas pelos príncipes. c) O sentimento religioso dos súditos é um valor moral e, portanto, deverá ser combatido pelo príncipe, uma

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vez que conduz ao fanatismo e prejudica a estabilidade do Estado. d) A religião dos súditos é sempre um instrumento útil nas mãos do príncipe, o qual deve aparentar ser virtuoso em matéria religiosa. e) O dirigente político deve se esforçar para tornar-se, também, o dirigente religioso de seu povo, rompendo, assim, com o preceito do Estado laico.

9) (UFU-MG) Portanto, um príncipe deve gastar pouco para não ser obrigado a roubar seus súditos; para poder defender-se; para não se empobrecer, tornando-se desprezível; para não ser forçado a tornar-se rapace; e pouco cuidado lhe dê a pecha de miserável; pois esse é um dos defeitos que lhe dão a possibilidade de bem governar.

MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe. São Paulo: Nova Cultural, 1987. Coleção Os pensadores. p. 66.78

10) Assinale a alternativa que interpreta corretamente o pensamento do filósofo florentino. a) O príncipe não precisa roubar os súditos, porque a ele é reservada a fortuna, toda riqueza possível de ser acumulada graças à capacidade de poupar os tesouros. Esta definição de fortuna, cunhada por Maquiavel, é típica da época em que havia o apego às riquezas materiais, especialmente, à prata e ao ouro da América. b) A visão política de Maquiavel era a mesma dos seus contemporâneos, favorável ao poder absoluto dos governantes e defensora da opressão do Estado sobre os súditos, o que resultou na manutenção do Estado feudal, caracterizado pela expropriação da sociedade, por meio de tributos elevados e injustos. c) A defesa da sobriedade administrativa do príncipe evidencia a forte ligação que unia Maquiavel à Igreja Católica, ambos imbuídos na defesa do poder divino dos soberanos. Prova disso é que, em seu livro O príncipe, Maquiavel exorta o novo príncipe a ser sempre piedoso, fiel, humano, íntegro e religioso. d) Maquiavel identifica o príncipe como o homem de ação, cujo caráter é formado pela ética que lhe permite o uso dos meios apropriados para a organização do seu Estado; o novo príncipe deve ser corajoso e inteligente, evitando a opulência e a ostentação em favor de seu poder político.

Introdução A partir do período moderno, o campo político estabelece novos paradigmas. Os filósofos políticos modernos preocupam-se em justificar e legitimar o poder do Estado mediante o sentimento de independência em relação ao papado e da critica á teoria do direito divino dos reis e além disso, toma os inúmeros movimento revolucionários europeus < na França, terminada a guerra dos trinta anos (1618 –

1648) rebenta a fronde, na Inglaterra, Tromwell, comandando a Revolução Puritana, destrona e executa o rei Carlos I (1649) > como fonte de justificativa teórica. É bom lembrar que quando nos referimos á “origem” do Estado, não se trata de uma visão histórica, cronológica como; e sim no sentido lógico, sua razão de ser. O ponto crucial não é a historia, mas a validade da ordem social e política, a base legal do Estado. Três grandes expoentes da filosofia política moderna, chamados contratualistas, serão estudados nesse capítulo.

Thomas Hobbes (1588 – 1679) século XVI – XVII

John Locke (1632 – 1704) século XVII – XVIII

Jean-Jacques Rousseau (1712 – 1778) século XVIII

(Estes, apesar de formas diferentes tratam dos

mesmos temas)

As teorias “contratualistas” representam uma busca na legitimidade do poder que os novos pensadores políticos esperam encontrar na representatividade do poder e no consenso. Essa temática já existe em Hobbes, embora a partir de outros pressupostos e com resultados e propostas diferentes daquelas dos liberais. O que há de comum entre os filósofos “contratualistas” é que eles partem da analise do homem em “estado de natureza”, isto é, antes de qualquer sociabilidade, enquanto, por hipótese, desfruta de todas as coisas, realiza os desejos e é domo de um poder ilimitado. No “Estado de natureza”, o homem tem direito a tudo: “o direito de natureza”, a que os autores geralmente chamam “jus naturale”, é a liberdade que cada homem possui de usar seu próprio poder, da maneira que quiser, para a preservação de sua própria natureza, ou seja, de sua vida; e conseqüentemente, de fazer tudo aquilo que seu próprio julgamento e razão lhe indiquem como meios adequados a esse fim. Nem sempre o Estado existiu diversas sociedades primitivas organizaram-se sem ele. Nessas sociedades não havia classes sociais e as funções políticas eram exercidas pelo conjunto de membros da comunidade. Num determinado momento da historia, com o aprofundamento da divisão social do trabalho, certas funções político-administrativas foram assumidas por um grupo separado de pessoas. Esse grupo a deter o poder de impor normas á vida coletivo. Assim, surgiu o governo e através do governo, foi se desenvolvendo o Estado. O nascimento do Estado representa o ponto de passagem das chamadas sociedades primitivas para as sociedades civilizadas. Quer dizer, o Estado surge quando a sociedade torna-se complexa: aumenta a divisão social do trabalho e surgem os conflitos de classe com a formação de grupos dominantes e grupos dominados.

CONTRATUALISTAS

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Vida e obra Thomas Hobbes, filósofo, matemático e teórico inglês dos séculos XVI – XVII. Nasceu em 5 de abril, 1588. Seu pai, o vigário de Charlton Wiltshire, foi forçado a deixar a cidade, abandonando seus três filhos aos cuidados de Francis, o irmão mais velho. O filósofo tem sua origem em uma

família pobre, contudo, conviveu com a nobreza e por isso, recebeu apoio e condições para estudar. Defendeu ferrenhamente o poder absoluto, ameaçado pelas novas tendências liberais. Hobbes teve contato com Descartes, Francis Bacon e Galileu Galilei. Preocupou-se, entre outras coisas, com o problema do conhecimento, tema básico das reflexões do século XVII, representando a tendência empirista. Thomas Hobbes defendia a idéia segundo a qual os homens só podem viver em paz se concordarem em submeter-se a um poder absoluto e centralizado. Para ele, a Igreja cristã e o Estado cristão formavam um mesmo corpo, encabeçado pelo monarca, que teria o direito de interpretar as Escrituras, decidir questões religiosas e presidir o culto. Neste sentido, critica a livre-interpretação da Bíblia na Reforma Protestante por, de certa forma, enfraquecer o monarca. É autor de Leviatã (1651) e Do cidadão (1651). Na obra Leviatã, explanou os seus pontos de vista sobre a natureza humana e sobre a necessidade de governos e sociedades. Na época de Hobbes, o absolutismo encontrava-se em vias de ser ultrapassado, e enfrentava inúmeros movimentos de oposição baseado, em idéias liberais. Se na primeira fase (Inglaterra de Isabel e França de Luis XIV) o absolutismo favorece a economia mercantilista, pois, as indústrias nascentes são protegidas pelo governo, já na segunda fase, o desenvolvimento do capitalismo comercial, repudia o intervencionismo estatal, uma vez que a burguesia ascendente agora aspira à livre economia. Hobbes faleceu em 04 de Dezembro de 1679 na Inglaterra, aos 91 anos de idade.

O Estado de Natureza e os Direitos Naturais Para Thomas Hobbes, no estado de natureza, os indivíduos viviam isolados e em luta permanente, vigorando a guerra de todos contra todos. Ora, enquanto perdurar esse estado de coisas, não haverá segurança e nem paz alguma. A situação dos homens deixados a si próprio é a anarquia, geradora de insegurança, angustia e medo. Os interesses egoístas predominam e o homem se torna um lobo par o outro homem. As disputas geram a guerra de todos contra

todos, cuja conseqüência é o prejuízo para a indústria, a agricultura a navegação, e para a ciência e o conforto dos homens. Desse autor, conhece-se a célebre frase “O homem

é Deus do homem e lobo do homem”. Para evitar a situação natural, em que os homens são preparadores entre si, o Estado torna-se meio de previdência e preservação do gênero humano e conseqüentemente de uma vida mais feliz. No estado natural, enquanto que alguns homens possam ser mais fortes ou mais inteligentes do que outros, nenhum se ergue tão acima dos demais por forma a estar além do medo de que outro homem lhe possa fazer mal. Por isso, cada um de nós tem direito a tudo, e uma vez que todas as coisas são escassas, existe uma constante guerra de todos contra todos (Bellum omnia omnes). No entanto, os homens têm um desejo, que é também em interesse próprio, de acabar com a guerra, e por isso formam sociedades entrando num contrato social.

O Contrato social De acordo com Hobbes, o homem reconhece a necessidade de renunciar seu direito a todas as coisas, contentando-se, em relação aos outros, com a mesma liberdade que aos outros homens permite em relação a si mesmo. A nova ordem é celebrada por um contrato,

THOMAS HOBBES (1588-1679)

O LOBO - Pitty

Houve um tempo em que os homens Em suas tribos eram iguais Veio a fome e então a guerra Pra alimentá-los como animais Não houve tempo em que o homem Por sobre a Terra viveu em paz Desde sempre tudo é motivo Pra jorrar sangue cada vez mais.

O homem é o lobo do homem! O homem é o lobo do homem!

Sempre em busca do próprio gozo E todo zelo ficou pra trás Nunca cede e nem esquece O que aprendeu com seus ancestrais Não perdoa e nem releva Nunca vê que já é demais.

O homem é o lobo do homem! O homem é o lobo do homem!

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um pacto, pelo quais todos abicam de sua vontade em favor de um homem ou de uma assembléia de homens, como representante de suas pessoas. O homem, não sendo sociável por natureza, o será por artifício. É o medo e o desejo de paz que o levam a fundar um estão social e a autoridade política, abdicado de seus direitos em favor do soberano. Pelo contrato, o povo é obrigado a permanecer fiel ao compromisso assumido e não pode, sob nenhum pretexto, voltar à confusão da multidão, desunida, nem transferir o poder a outro. Hobbes considera que o Estado resulta de um contrato social, contudo, contratos sem ameaça de espada são apenas palavras, impotentes para garantir a segurança aos homens. O único meio de realizar esse propósito, que consiste em defendê-los da invasão de outro Estado e defende-las de si mesmo, é conferir todo o poder e potencia de um só homem ou de uma só assembléia de homens, ou seja, reduzir todas as vontades a uma só vontade nomear um homem ou assembléia de homens para representar a pessoa de todos, assumindo tudo o que diz respeito à paz e à segurança comuns. Todos devem submeter sua vontade á vontade dele – ou deles – e os seus juízos ao juiz dele – ou deles. O resultado é a verdadeira união de todos na mesma pessoa feita por contrato de todo homem com todo homem. É como se cada um descesse a cada um: “eu autorizo e renuncio ao meu direito de me governar em favor deste homem ou dessa assembléia de homens, sob a condição de que tu renuncies ao teu direito em favor dele e que autorizes todas as suas ações da mesma maneira”. Feito isso, a multidão se une de tal maneira em uma só pessoa, que é chamado Estado. É assim que surge o que Hobbes chama “aquele grande Leviatã, ou melhor, aquele deus mortal, ao qual devemos, sob o Deus imortal, nossa paz e defesa”. Essa autoridade pode usar tanto poder e força quanto lhe pareça necessária para garantir a paz interna e a ajuda mútua contra os inimigos. Aquele que representa essa multiplicidade de vontades e exerce o poder em nome de todos é o soberano, os demais são súditos.

O Estado Civil Tanto para Hobbes, como para Locke ou para Rousseau, estabelecido o contrato social, instaura-se um estado diferente ao estado de natureza, que busca superar os conflitos anteriormente existentes. Mas há algumas divergências no modo como cada indivíduo vê o estado que resulta do pacto social, sendo que tais divergências são manifestadas inclusive na própria terminologia para cada pensador emprega para especificar suas idéias. Para Hobbes, os homens reunidos numa multidão de indivíduos, pelo pacto, passam a constituir um corpo político, uma pessoa artificial criada pela ação humana e que se chama Estado. O soberano pode ser tanto um rei, como um grupo de aristocratas ou uma assembléia de representantes, pois, o que importa é que a soberania, que pertence de modo absoluto ao

Estado, seja exercida no intuito de definir e garantir a propriedade privada, obrigando a todos os governados respeitar os direitos naturais intransferíveis da vida e da paz. O soberano detém a espada e a lei, os governados, a vida e a propriedade dos bens. Para Hobbes, o poder soberano do estado do absoluto é simbolizado pelo Leviatã, isto é, pelo mostro bíblico cruel e invencível. A transmissão do poder dos indivíduos ao soberano deve ser total, caso contrário, um pouco que seja conservado da liberdade natural do homem, instaura-se de novo a guerra. Se não há limites para a ação do governante, não é sequer possível ao súdito julgar se o soberano é justo ou injusto, tirano ou não, pois é contraditório dizer que o soberano abusa do poder, se este lhe é ilimitado. Cabe ao soberano julgar sobre o bem e o mal, sobre o justo e o injusto; ninguém pode discordar, pois, tudo que o soberano faz é resultado do investimento da autoridade e consentido pelo súdito.

O Poder do Soberano

É poder de o soberano ser juiz das opiniões e das doutrinas, conduzir a paz e regulamentar as ações de onde resulta a concórdia. É a ele que compete prescrever as regras sem as quais ninguém teria segurança na posse da propriedade, isto é as regras do meu e do teu, do bem, do mal, do legal e do ilegal, mas ações, o que se denominam leis civis. A ele comete o direito de julgar, ouvir, e decidir todas as controvérsias que surgem com respeito á lei, civil ou natural, ou com respeito aos fatos. A ele compete o direito de declarar e executar a guerra e a paz com outros Estados e tomar todas as providencias para realizá-las. A ele cabe escolher todos os conselheiros, ministros, magistrados e oficiais em função do em público, premiar os que servirem o Estado e castigar os que o desacatarem. Esses direitos constituem a própria essência do soberano e são incomunicáveis, inalienáveis e inquestionáveis.

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Parte 2: Da República

Capítulo XVII

Das Causas, Geração e Definição de um ESTADO A causa final, finalidade e desígnio dos homens

(que amam naturalmente a liberdade e o domínio sobre outros), ao introduzir aquela restrição sobre si mesmos sob a qual os vemos viver em Estados, é a precaução com a sua própria conservação e com uma vida mais satisfeita. Quer dizer, o desejo de sair daquela mísera condição de guerra, que é a consequência necessária (conforme se mostrou) das paixões naturais dos homens, quando não há um poder visível capaz de os manter em respeito e os forçar, por medo do castigo, ao cumprimento dos seus pactos e à observância das leis de natureza que foram expostas nos capítulos XIV e XV. Porque as leis de natureza (como a justiça, a equidade, a modéstia, a piedade, ou em resumo, fazer aos outros o que queremos que nos façam) por si mesmas, na ausência do temor de algum poder que as faça ser respeitadas, são contrárias às nossas paixões naturais, as quais nos fazem tender para a parcialidade, o orgulho, a vingança e coisas semelhantes. E os pactos sem a espada não passam de palavras, sem força para dar segurança a ninguém. Portanto, apesar das leis de natureza (que cada um respeita quando tem vontade de as respeitar e quando o poder fazer com segurança), se não for instituído um poder suficientemente grande para a nossa segurança, cada um confiará, e poderá legitimamente confiar, apenas na sua própria força e capacidade, como proteção contra todos os outros.(...) (HOBBES, T. Leviatã. Organizado por Richard Tuck. Tradução de João Paulo Monteiro, Maria Betariz Nizza da Silva; revisão da tradução Eunice Ostrensky. São Paulo: Martins Fontes, 2003.)

1) Por que, para Hobbes, é necessário o contrato social? 2) (UFU-MG) Segundo Hobbes (1588-1679), podemos definir estado de natureza como sendo o lugar onde:

a) todos são bons por natureza, mas a vida em sociedade os corrompe. b) os homens são bons, “bons selvagens inocentes”, viven do em estado de felicidade original. c) todos são proprietários de suas vidas, de seus corpos, de seus trabalhos, portanto, todos são proprietários. d) reina o medo entre os indivíduos, que temem a morte violenta, que vivem isolados e em luta permanente, guerra de todos contra todos.

3) (UEG-GO/SAS) O pensamento de Thomas Hobbes sobre a necessidade do Estado civil na vida do ser humano é expresso pela seguinte idéia: a) Sempre houve um Estado civil. Cabe aos homens criar um contrato social para regulamentar as atividades do próprio homem na sociedade. b) Em estado de natureza, os indivíduos vivem isolados e lutam constantemente, vigorando a guerra de todos contra todos. O contrato e o Estado civil regulam a sociedade, garantindo a sobrevivência da espécie humana. c) O Estado civil foi fundado para garantir a existência da propriedade, corrompendo assim a natureza humana. d) O homem é um animal político. Ele se organiza em so ciedade para que ela tenha a possibilidade de existência. 4) Leia o texto a seguir.

Dado que todo súdito é por instituição autor de todos os atos e decisões do soberano instituído, segue-se que nada do que este faça pode ser considerado injúria para com qualquer de seus súditos, e que nenhum deles pode acusá-lo de injustiça.

HOBBES, T. Leviatã. Tradução de João Paulo Monteiro e Maria Beatriz Nizza da Silva. São Paulo: Nova Cultural, 1988, p. 109.

Com base no texto e nos conhecimentos sobre o contratualismo de Hobbes, é correto afirmar: a) O soberano tem deveres contratuais com os seus súditos. b) O poder político tem como objetivo principal garantir a liberdade dos indivíduos. c) Antes da instituição do poder soberano, os homens viviam em paz. d) O poder soberano não deve obediência às leis da na tureza. e) Acusar o soberano de injustiça seria como acusar a si mesmo de injustiça. 5) A constituição da sociedade política pode ser entendida de várias maneiras. Hobbes, por exemplo, a concebe como: a) um fato natural, pois o homem sendo um animal político, a ele não compete fundar a sociedade, mas governá-la. b) fruto artificial de um pacto voluntário de submissão, pelo qual os indivíduos transferem o poder que possuem a um soberano. c) um fato artificial, fruto de um contrato, por meio do qual as partes contratantes se reduzem a uma só, o povo, que pode ser considerado como soberano e súdito. d) fruto do desejo natural dos homens de viverem em comum e de se ajudarem mutuamente, motivo pelo qual eles se associam e elegem um soberano para governá-los. e) um pacto natural de associação feito entre os homens, uma vez que os mais fracos e desprovidos de recursos, para sobreviverem, sentiram a necessidade

LEITURA COMPLEMENTAR:

ATIVIDADES

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de se associar aos mais fortes e submeter sua vontade ao poder e à força do soberano, em troca de segurança e proteção. 6) (ENEM) I. Para o filósofo inglês Thomas Hobbes (1588-1679), o estado de natureza é um estado de guerra universal e perpétua. Contraposto ao estado de natureza, entendido como estado de guerra, o estado de paz é a sociedade civilizada. Dentre outras tendências que dialogam com as idéias de Hobbes, destaca-se a definida pelo texto abaixo. II. Nem todas as guerras são injustas e correlativamente, nem toda paz é justa, razão pela qual a guerra nem sempre é um desvalor, e a paz nem sempre um valor.

BOBBIO, N. MATTEUCCI, N PASQUINO, G. Dicionário de Política, 5. ed. Brasília: Universidade de Brasília; São Paulo: Imprensa Oficial

do Estado, 2000.

Tropas da Aliança do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) invadiram o Iraque em 1991 e atacaram a Sérvia em 1999. Para responder aos críticos dessas ações, a OTAN usaria, possivelmente, argumentos baseados: a) na teoria da guerra perpétua de Hobbes. b) tanto na teoria de Hobbes como na tendência expressa no texto II. c) no fato de que as regiões atacadas não possuíam sociedades civilizadas. d) na teoria de que a guerra pode ser justa quando o fim é justo. e) na necessidade de pôr fim à guerra entre os dois países citados. 7) Hobbes escreve, no Leviatã, que a condição natural dos homens nada mais é do que uma simples guerra de todos contra todos, na qual todos os homens têm igual direito a todas as coisas. Com base nisso, marque para as alternativas abaixo (V) verdadeira, (F) falsa ou (SO) sem opção. ( ) A guerra não está presente no estado civil. ( ) No estado civil, permanece o direito de todos a todas as coisas. ( ) O estado de natureza tem seu fim com a guerra. ( ) A paz só é possível se os homens instaurarem o estado civil.

8) (UEL-PR) Para Hobbes , (...) o poder soberano, quer resida num homem, como numa monarquia, quer numa assembléia, como nos estados populares e aristocráticos, é o maior que é possível imaginar que os homens possam criar. E, embora seja possível imaginar muitas más conseqüências de um poder tão ilimitado, apesar disso as conseqüências da falta dele, isto é, a guerra perpétua de todos os homens com os seus vizinhos, são muito piores.

HOBBES, T. Leviatã. Tradução de João Paulo Monteiro e Maria Beatriz Nizza da Silva. São Paulo: Nova Cultural, 1988. capítulo XX, p. 127.

Com base na citação e nos conhecimentos sobre a filosofia política de Hobbes, assinale a alternativa correta. a) Os Estados populares se equiparam ao estado natural, pois neles reinam as confusões das assembléias. b) Nos Estados aristocráticos, o poder é limitado devido à ausência de um monarca. c) O poder soberano traz más conseqüências, justificando se assim a resistência dos súditos. d) As vantagens do estado civil são expressivamente superiores às imagináveis vantagens de um estado de natureza. e) As conseqüências do poder soberano são indesejáveis, pois é possível a sociabilidade sem Estado. 9) (UFU-MG/PAIES) Leia a citação abaixo e assinale se as proposições são verdadeiras (V) ou falsas (F), conforme o texto.

Do mesmo modo que tantas outras coisas, a natureza (a arte mediante a qual Deus fez e governa o mundo) é imitada pela arte dos homens também nisto: que lhe é possível fazer um animal artificial. Pois vendo que a vida não é mais do que um movimento dos membros, cujo início ocorre em alguma parte principal interna, por que não poderíamos dizer que todos os autômatos (máquinas que se movem a si mesmas por meio de molas, tal como um relógio) possuem uma vida artificial? Pois o que é o coração, senão uma mola; e os nervos, senão outras tantas cordas; e as juntas, senão outras tantas rodas, imprimindo movimento ao corpo inteiro, tal como foi projetado pelo Artífice? E a arte vai mais longe ainda, imitando aquela criatura racional, a mais excelente obra da natureza, o homem. Porque pela arte é criado aquele grande Leviatã a que se chama Estado, que não é senão um homem artificial, embora de maior estatura e força do que o homem natural, para cuja proteção e defesa foi projetado.

Hobbes, T. Leviatã, Abril Cultural, Coleção Os pensadores, p. 78.

( ) O Estado surge de um contrato, revelando uma visão individualista do homem, pois o indivíduo preexiste ao Estado, e a este cabe garantir os interesses dos indivíduos, sua conservação e sua propriedade. ( )O Estado somente pode ser descrito a partir de ele-mentos que compõem a máquina (molas, cordas, rodas), porque ele é uma construção humana. Logo, o Estado é pensado metaforicamente a partir da máquina. ( )A finalidade da construção do Estado é a proteção e defesa do homem natural. ( ) O Estado é um homem artificial porque foi elaborado por Deus à semelhança do homem.

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( ) O Estado e o relógio possuem uma vida artificial porque ambos movimentam os elementos que os compõem.

10) A idéia de que o Estado, a sociedade civil, precisamente enquanto contraposta ao insociável estado de natureza, é algo construído pelo homem, uma artefato (máquina), é o fundamento da teoria política de Hobbes. BOBBIO, Norberto. Thomas Hobbes. Rio de Janeiro: Ed. Campus, 1991, p. 33.

A partir da afirmação acima e de acordo com o pensa-mento de Hobbes, assinale a alternativa correta. a) O Estado não é associado a um artefato, porque ele é construído pelos homens. b) No fundamento da política, as condições natural e civil estão integralmente associadas. c) O que sustenta o convívio social é construído pelo homem. d) Na teoria política de Hobbes, o Estado está condiciona do à natureza ***************************************************************

Estabeleçam uma possível conexão entre o enredo do filme Ensaio sobre a cegueira e a noção de estado de natureza segundo Thomas Hobbes.

Vida e obra John Locke, filósofo inglês do século XVII, nasceu em Wrington em 1632. Para ele não existe poder inato ou de origem divina, como defende Hobbes e os adeptos do absolutismo monárquico. Preocupa-se em proteger a

liberdade do cidadão. Foi um filósofo do predecessor Iluminismo tinha como noção de governo o

consentimento dos governados diante da autoridade constituída, e, o respeito ao direito natural do homem, de vida, liberdade e propriedade. Defendia que o poder social deveria nascer de um pacto entre as pessoas. Por sua vez, a lei deveria ser a expressão das normas estabelecidas pela própria comunidade, que através do mutuo consentimento dos indivíduos, escolheria as forma de governo que julgasse mais conveniente ao bem comum. Para ele, o principio em que se aplica a todos os Estados é o de que o governo só pode existir com o consentimento dos indivíduos dos governados, e o governo que já perdeu a confiança do povo não tem o direito de governá-lo, tendo o povo o direito de substituí-lo por um ao qual confie. Em política, sua obra mais influente foi o tratado de duas partes, "Sobre o governo civil ". A primeira parte descreve a condição corrente do governo civil, enquanto que a segunda parte descreve sua justificação para o governo e seus ideais para as suas operações. Ele advogava que todos os homens são iguais e que a cada deverá ser permitido agir livremente desde que não prejudique nenhum outro. Com este fundamento, ele continuou, fazendo a justificação clássica da propriedade privada ao declarar que o mundo natural é a propriedade comum de todos os homens, mas que qualquer indivíduo pode apropriar-se de uma parte dele ao misturar o seu trabalho com os recursos naturais. Dentre outras obras importantes se destavcam também o Ensaio sobre o Intelecto Humano (1690); e os Pensamentos sobre a Educação (1693). Locke é considerado o protagonista do empirismo, a teoria normalmente chamada da "Tabula rasa" (ardósia em branco). Esta teoria afirma que todas as pessoas começam por não saber absolutamente nada e que aprendem pela experiência, pela tentativa e erro.

O Estado de Natureza Assim como Hobbes, Locke considera que apenas o pacto torna legitimo o poder do Estado. Mas, diferentemente de seu antecessor, não vê no estado de natureza uma situação de guerra e egoísmo, ao contrario, os homens são livres, iguais e independentes. O que os faz abandonar essa situação delegando poder a outrem? Pra Locke, no estado natural cada um é “juiz em causa própria”; portanto, os riscos das paixões e parcialidade são muito grandes e podem desestabilizar as relações entre os homens. Por isso, visando a segurança e tranqüilidade necessárias as gozo da propriedade, as pessoas consentem em instituir o corpo político.

O Contrato social O pacto crucial do pensamento lockeano é que os direitos naturais do homem não desaparecem em conseqüência do consentimento do que autoriza o corpo político reger os cidadãos, mas esses direitos subsistem para limitar o poder do soberano e em

JOHN LOCKE (1632-1704)

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ultima instancia, justificar direito a insurreição (retirar o governo do poder). Considera o legislativo o poder supremo, ao qual deve se subordinar tanto o executivo quanto o poder federativo (encarregado das relações exteriores). O executivo deve providenciar a execução das leis feitas, encargos que inclui o poder judiciário. Considera, portanto a constituição mista, a melhor constituição para uma comunidade livre. Melhor que a democracia, a oligarquia e a monarquia, pois, nenhuma dessas satisfaz plenamente. Essa constituição mista, a monarquia constitucional ou limitada é a qual o povo elege a assembléia legislativa e lhe outorga o poder de decidir como a força do Estado será empregada para a preservação da comunidade e dos seus membros

O Estado e o Povo Locke acredita que a comunidade política só é possível quando o poder do governo é limitado, e a soberania tiver por depositário ultimo o povo como um todo. O governo é o instrumento que assegura a vida e a propriedade, o bem-estar dos governados sem escravizá-los, pois o governo não é o mestre nem acima do povo, mas é um com o povo. A finalidade de Estado é agir como mediador dos conflitos entre os diversos grupos sociais, conflitos estes, que são inevitáveis entre os homens. O papel do Estado é promover a conciliação dos grupos sociais, amortecendo os choques dos setores divergentes para evitar a desagregação da sociedade e preservar os interesses do bem comum. Pelo contrato social, realiza-se entre os membros da coletividade a imposição da confiança em um ou mais indivíduos para que exerçam o poder; o Estado assim constituído exerce o poder político que consiste no direito de formular leis - desde pequenas penas até a pena de morte – para regulamentar e preservar a propriedade, de empregar a força da comunidade na execução dessas leis, de defender o Estado contra os inimigos, e tudo isto só para o bem publico, pois, a esses direitos o individuo renuncia ao entrar na coletividade ou ao optar por permanecer nela. Em troca promete ao Estado obediência e apoio, reconhecendo sua responsabilidade e sues deveres.

As Responsabilidades do Monarca Mesmo dotado de poderes executivos, judiciários e federais, o mesmo deve responder pelo exercício desses poderes á assembléia legislativa, ou seja, não exerce um poder absoluto. A assembléia por sua vez, deve responder ao povo e por ele ser demitido. O povo abre mão da soberania que tinha em prol da assembléia, que o exerce enquanto estiver em sessão. O monarca oficial executivo principal participa da soberania e poder: convocar e dissolver a assembléia legislativa; agir conforme o seu discernimento para o bem público, sem a prescrição da lei e às vezes contra

ela. Contudo, não pode: interferir no seu funcionamento e liberdade; modificar o sistema de eleger a assembléia legislativa sem o consentimento do povo se tornar um tirano; entregar o povo á dominação de um poder estrangeiro e se negligenciar seus deveres executivos a ponto de provocar a anarquia. Caso qualquer um desses fatores ocorra, como citado anteriormente, o povo tem direito de destituí-lo.

O Conceito de Propriedade Locke usa um conceito de propriedade num sentido muito amplo: “Tudo o que pertence” a cada individuo, ou seja, sua vida, sua liberdade e seus bens. Existe em Locke certo “individualismo possessivo”, pelo qual “a essência humana é ser livre da dependência das vontades alheias e a liberdade existe como exercício de posse”. Assim, a primeira coisa que o homem possui é o seu corpo, todo homem é proprietário de si mesmo e de suas capacidades. O trabalho de seu corpo propriamente é dele; portanto, o trabalho dá inicio ao direito de propriedade em sentido estrito (bens patrimoniais). Isso significa que, na vida, de seu corpo, de seu trabalho. Porem afirma que apenas os homens se fortuna devem governar. Ressalta-se aí o elitismo presente na raiz do liberalismo, já que a igualdade defendida é de natureza abstrata, geral e puramente formal; não há igualdade real, uma vez que só os proprietários têm plena cidadania. 25. Quer consideremos a razão natural – que nos diz que os homens, uma vez nascidos, têm direito à as preservação e, portanto, à comida, bebida e a tudo quanto a natureza lhes fornece para sua subsistência – ou a revelação – que nos relata as concessões que Deus fez do mundo para Adão, Noé e seus filhos –, é perfeitamente claro que Deus, como diz o rei Davi (Sl 115, 61) deu a terra aos filhos dos homens, deu-a para a humanidade em comum. Supondo-se isso, porém, parece ser da maior dificuldade, para alguns entender como pode alguém chegar a ter a propriedade de alguma coisa. Não me contentarei em responder que, se é difícil conceber a propriedade com base na suposição de que Deus deu o mundo a Adão e à sua descendência em comum, é impossível que qualquer homem, a não ser um monarca universal, tenha qualquer propriedade baseando-se na suposição de que Deus tenha dado o mundo a Adão e seus herdeiros e sucessores, excluindo-se todo o resto de sua descendência. Contudo, esforçar-me-ei por mostrar de que maneira os homens podem vir a ter a uma propriedade em diversas partes daquilo que Deus deu em comum à humanidade, e isso sem nenhum pacto expresso por parte de todos os membros da comunidade. 26. Deus, que deu o mundo aos homens em comum, deu-lhe também a razão, a fim de que dela

LEITURA COMPLEMENTAR:

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fizessem uso para maior benefício e conveniência da vida. A Terra, e tudo quanto nela há, é dada aos homens para o sustento e o conforto de sua existência. E embora todos os frutos que ela naturalmente produz e os animais que alimenta pertençam à humanidade em comum, produzidos que são pela mão espontânea da natureza, e ninguém tenha originalmente um domínio particular sobre eles à exclusão de todo o resto da humanidade, por assim estarem todos em seu estado natural, é, contudo, necessário, por terem sido essas coisas dadas para uso dos homens, haver um meio de apropriar parte delas de um modo ou de outro para que possam ser de alguma utilidade ou benefício para qualquer homem em particular. O fruto ou caça que alimenta o índio selvagem, que desconhece o que seja um lote e é ainda possuidor em comum, deve ser dele, e de tal modo dele, ou seja, parte dele, que outro não tenha direito algum a tais alimentos, para que lhe possam ser de qualquer utilidade no sustento de sua vida. 1) Estabeleça a relação entre o Estado e a propriedade privada, segundo John Locke.

2) Quando é possível aos governados se sublevarem con tra o governo, segundo Locke?

3) (ENEM) O texto abaixo, de John Locke (1632-1704), revela algumas características de uma determinada corrente de pensamento.

Se o homem no estado de natureza é tão livre, conforme dissemos, se é senhor absoluto da sua própria pessoa e posses, igual ao maior e a ninguém sujeito, por que abrirá ele mão dessa liberdade, por que abandonará o seu império e sujeitar-se-á ao domínio e controle de qualquer outro poder? Ao que é óbvio responder que, embora no estado de natureza tenha tal direito, a utilização do mesmo é muito incerta e está constantemente exposto à invasão de terceiros porque, sendo todos senhores tanto quanto ele, todo homem igual a ele e, na maior parte, pouco observadores da eqüidade e da justiça, o proveito da propriedade que possui nesse esta do é muito inseguro e muito arriscado. Estas circunstâncias obrigam-no a abandonar uma condição que, embora livre, está cheia de temores e perigos constantes; e não é sem razão que procura de boa vontade juntar-se em sociedade com outros que estão já unidos, ou pretendem unir-se, para a mútua conservação da vida, da liberdade e dos bens a que chamo de propriedade.

Coleção Os pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1991.

Analisando o texto, podemos concluir que se trata de um pensamento:

a) do liberalismo. b) do socialismo utópico. c) do absolutismo monárquico. d) do socialismo científico. e) do anarquismo. 4) (UFU-MG/PAIES) O filósofo inglês John Locke (1632-1704) escreveu, entre outras obras, Ensaio sobre o intelecto humano e Segundo tratado sobre o governo (ambas publicadas em 1690). Esse autor envolveu-se nas disputas políticas inglesas e, por causa disso, teve de sair da Inglaterra algumas vezes. Esteve na Holanda, onde apoiou Guilherme de Orange quando esse foi chamado de volta ao trono inglês em 1689 e, por essa razão, viveu a feliz coincidência entre suas idéias e a política concreta na Inglaterra, pois havia vencido a tese da monarquia parlamentarista.

Sobre o pensamento político de John Locke,

marque para as alternativas abaixo (V) verdadeira, (F) falsa .

( )John Locke pode ser considerado um dos mais severoscríticos do direito divino dos reis, ou seja, para ele o poder dos reis não é derivado diretamente da vontade de Deus. ( ) John Locke considera que todos temos, por natu-reza, direito à propriedade e à defesa de sua posse. Tais idéias nos permitem classificá-lo como um dos fundadores do liberalismo. ( ) Apesar de ser um defensor do constitucionalismo, John Locke acredita que os reis estão acima das leis, podendo ou não obedecê-las conforme lhes pareça melhor. ( ) Para John Locke, a propriedade privada era o grande mal da sociedade inglesa; sua obra propõe, portanto, que se determine o fim do direito a esse tipo de propriedade.

5) O filósofo John Locke era filho de um puritano que lutou ao lado de Oliver Cromwell. A maioria de suas obras foi escrita no contexto da discussão política em torno da Revolução Gloriosa. Para Locke: a) O estado de natureza seria o estado de guerra de todos contra todos. Não existiria propriedade, justiça ou injustiça, somente a guerra; e a forma de o homem livrar-se desses males seria a organização de comunidades submetidas a uma autoridade de poder ilimitado. b) O governante deveria, em caso de necessidade, agir de má-fé ou com crueldade para se manter no poder. Isso não significaria deformação moral, mas estratégia de governo, pois o importante seriam os resultados obtidos. Só um líder que utilizasse a força como princípio, em momentos conturbados, poderia manter seu governo. c) O estado de natureza seria o estado de liberdade, no qual os homens viveriam sem qualquer tipo de poder. O governo seria um remédio contra os males gerados pelo fato de, em estado de natureza, cada

ATIVIDADES

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homem ser juiz em causa própria e atacar as propriedades de outrem. d) o “homem nasce livre, e por toda parte está em cadeias”. Era preciso lutar pela liberdade, parte da natureza humana, pois renunciar à liberdade seria renunciar a ser homem. A base da prática política seria um contrato em que caberia à sociedade escolher seu governo. e) o absolutismo seria a forma de governo mais adequada às necessidades do homem. A defesa dessa forma de governo se dá pelo fato de o monarca possuir o direito natural, dado por Deus, de governar os homens em defesa de um bem comum. 6) (UEL-PR) Se todos os homens são, como se tem dito, livres, iguais e independentes por natureza, ninguém pode ser retirado deste estado e se sujeitar ao poder político de outro sem o seu próprio consentimento. A única maneira pela qual alguém se despoja de sua liberdade natural e se coloca dentro das limitações da sociedade civil é através do acordo com outros homens para se associarem e se unirem em uma comunidade para uma vida confortável, segura e pacífica uns com os outros, desfrutando com segurança de suas propriedades e melhor protegidos contra aqueles que não são daquela comunidade.

LOCKE, John. Segundo tratado sobre o governo civil. Trad. de Magda Lopes e Marisa Lobo da Costa. Petrópolis: Vozes, 1994.

p.139.

Com base no texto e nos conhecimentos sobre o contrato social em Locke, considere as afirmativas a seguir. I. O direito à liberdade e à propriedade são dependentes da instituição do poder político. II. O poder político tem limites, sendo legítima a resistência aos atos do governo se estes violarem as condições do pacto político.

III. Todos os homens nascem sob um governo e, por isso, devem a ele submeter-se ilimitadamente.

IV. Se o homem é naturalmente livre, a sua subordinação a qualquer poder dependerá sempre de seu consentimento.

Estão corretas apenas as afirmativas: a) I e II. b) I e III. c) II e IV. d) I, III e IV. e) II, III e IV . 7) (UFU-MG) Partindo do modelo de comunidade origi-nária, John Locke descreve os pressupostos de sua teoria da propriedade. É um dever do homem se conservar e, portanto, preservar a sua vida. Esta tese pressupõe que todos os indivíduos racionais são proprietários de sua própria pessoa e, em conseqüência disso, do trabalho de suas mãos, da energia gasta no processo de apropriação e transformação dos recursos naturais. Mais

exatamente, o fundamento irredutível da propriedade é a propriedade de si mesmo, de sua própria pessoa, e do trabalho que essa pessoa realiza.Em conformidade com o pensamento de Locke, assinale a alternativa correta. a) A propriedade determina o início das desigualdades morais entre os homens e o declínIo da civilização. b) O pacto social institui o direito de propriedade nas sociedades que já estão politicamente constituídas. c) A propriedade é fruto do esforço humano e deve garantir a liberdade dos indivíduos. d) O detentor da soberania absoluta é responsável pela distribuição do direito à propriedade aos cidadãos de um determinado corpo político. 8) (UFJF-MG) O motivo que leva os homens a entrarem em sociedade é a preservação da propriedade; e o objetivo para o qual escolhem e autorizam um poder legislativo é tornar possível a existência de leis e regras estabelecidas como guarda e proteção às propriedades de todos os membros da sociedade, a fim de limitar o poder e moderar o domínio de cada parte e de cada membro da comunidade; pois não se poderá nunca supor seja vontade da sociedade que o legislativo possua o poder de destruir o que todos intentam assegurar-se entrando em sociedade e para o que o povo se submeteu a legisladores por ele mesmo criados. Sempre que os legisladores tentam tirar e destruir a propriedade do povo, ou reduzi-lo à escravidão sob poder arbitrário, entra em estado de guerra com ele, que fica assim absolvido de qualquer obediência mas, abandonado ao refúgio comum que Deus providenciou para todos os homens contra a força e violência. Sempre que, portanto, o legislativo transgredir esta regra fundamental da sociedade, e por ambição, temor, loucura ou corrupção, procurar apoderar-se ou entregar às mãos de terceiros, o poder absoluto sobre a vida, liberdade e propriedade do povo perde, por esta infração ao encargo, o poder que o povo lhe entregou para fins completamente diferentes, fazendo-o voltar ao povo, que tem o direito de retomar a liberdade originária e, pela instituição de novo legislativo, conforme achar conveniente, prover à própria segurança e garantia, o que constitui o objetivo da sociedade. LOCKE, John. Segundo tratado sobre o governo. In: Os pensadores. Tradução de E. Jacy Monteiro. 3. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1983,

p. 121.

Analise as afirmativas abaixo:

I. A presença da propriedade originou a organização da sociedade. II. O Poder Legislativo pode tirar e destruir a propriedade. III. O Legislativo perde o poder quando transgride as regras da sociedade. IV. O Poder Legislativo cria leis e regras para proteger as propriedades.

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V. O Poder Legislativo tem poder absoluto sobre a vida, liberdade e propriedade. Estão corretas as afirmativas: a) I,II e V. b) II, IV e V. c) I, II e IV. d) II, III e IV.

9) Leia com atenção o texto de Locke abaixo.

Para bem compreender o poder político e derivá-lo de sua origem, devemos considerar em que estado todos os homens se acham naturalmente, sendo este um estado de perfeita liberdade para ordenar-lhe as ações e regular-lhes as posses e as pessoas conforme acharam conveniente, dentro dos limites da lei da natureza, sem permissão ou depender da vontade de qualquer outro homem.

LOCKE, J. Segundo tratado sobre o governo. São Paulo: Abril Cultural. 1978, p. 35.

Assinale a alternativa correta, de acordo com o pensa-mento de Locke. a) A condição natural do homem é estar sob a dependência da vontade de outro homem. b) Locke separa a origem do Estado da condição natural do homem. c) Locke concilia a liberdade dos homens com os limites da lei de natureza, que não dependem da vontade dos homens. d) A origem do poder político está desvinculada do que é conveniente aos homens.

21) (...) é preciso que examinemos a condição natural dos homens, ou seja, um estado em que eles sejam absolutamente livres para decidir suas ações, dispor de seus bens e de suas pessoas como bem entenderem, dentro dos limites do direito natural, sem pedir autorização de nenhum outro homem nem depender de sua vontade.

LOCKE, John. Segundo tratado sobre o governo civil. Trad. Magda Lopes e Marisa Lobo da Costa. 2. ed.

Petrópolis: Vozes, 1994, p. 83. Com base no texto e nos conhecimentos sobre o estado de natureza em Locke, é correto afirmar: a) Os homens desconhecem a noção de justiça, pelo fato de inexistir um direito natural que assegure a idéia do “meu” e do “teu”. b) É constituído pela inimizade, maldade, violência e destruição mútua, características inerentes ao ser humano. c) Baseia-se em atos de agressão física, o que gera insegu rança coletiva na manutenção dos direitos privados. d) Pauta-se pela tripartição dos poderes como forma de manter a coesão natural e respeitosa entre as pessoas.

e) Constitui-se de uma relativa paz, que inclui a boa vontade, a preservação e a assistência mútua.

Vida e obra Jean-Jacques Rousseau, filósofo Genebrino do

século XVIII, nascido em 28 de Julho de 1712, foi também escritor, teórico político e um compositor musical autodidata. não chegou a conhecer a própria mãe, que faleceu após o trabalho de parto. Era filho do relojoeiro calvinista Isaak Rousseau que morreu

quando o filósofo tinha 10 anos, de modo que ele teve uma juventude agitada. O menino Jean-Jacques aprendeu a ler e a escrever ainda muito novo. Mais tarde, fora aluno do Pastor Lambercier, de rígida disciplina moral e religiosa. Precisou trabalhar desde cedo e sentira o que significava ser maltratado, explorado. Na adolescência, encontrando os portões da cidade fechados, quando voltava de uma de suas saídas, opta por vagar pelo mundo. Acaba tendo como amante uma rica senhora e, sob seus cuidados, acaba estudando música e filosofia. Após o relacionamento com a amante, vai para Paris e inova muitas coisas no campo da música, tendo muitas oportunidades e escrevendo muitas e famosas obras. Rousseau tem 5 filhos com sua amante de Paris, porém, acaba por colocar seus cinco filhos em um orfanato. Uma ironia, já que anos depois escreve um livro sobre como deve-se educar um filho. O que escreve como peça mestra do Emílio, a Profissão de Fé do Vigário Saboiano, acarretar-lhe-á perseguições e retaliações tanto em Paris como em Genebra. Chega a ter obras queimadas. Rousseau rejeita a religião revelada e é fortemente censurado. Era adepto de uma religião natural, em que o ser humano poderia encontrar Deus em seu próprio coração. Entretanto, seu romance A Nova Heloísa mostra-o como defensor da moral e da justiça divina. Politicamente, expõe suas idéias em Do Contrato Social. Procura um Estado social legítimo, próximo da vontade geral e distante da corrupção. A soberania do poder, para ele, deve estar nas mãos do povo, através do corpo político dos cidadãos. Além de ser uma das figuras mais marcantes do iluminismo francês, é também um precursor do Romantismo. Rousseau foi uma das principais inspirações ideológicas da segunda fase da Revolução Francesa - a última das revoluções modernas, e que deu início a um longo período de terror e instabilidade política, que acabaria por levar à ditadura de Napoleão. O Contrato Social, de sua autoria, inspirou muitos dos revolucionários e regimes nacionalistas e opressivos subseqüentes a esse período, um pouco por toda a Europa continental. Inspirados nas idéias de

JEAN-JACQUES ROUSSEAU (1712-1778)

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Rousseau, os revolucionários defendiam o princípio da soberania popular e da igualdade de direitos. A contestação da sociedade tal como estava organizada foi tema do ensaio Discurso sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade entre os Homens (1755), em que se vê a desigualdade e a injustiça como frutos da competição e da hierarquia mal constituida. Rousseau é associado frequentemente às ideias anticapitalistas e considerado um antecessor do socialismo e comunismo. Foi um dos primeiros autores modernos a atacar a propriedade privada. Rousseau questionou a suposição de que a maioria está sempre correta e argumentou que o objetivo do governo deveria ser assegurar a liberdade, igualdade e justiça para todos, independentemente da vontade da maioria. O filósofo conta-se entre aqueles autores que mitificaram um passado fraternal e feliz de todos os Homens, face a um presente desordenado e desigual do século XVIII. O ideal romântico de um "regresso ao passado" está patente no espírito de Rousseau e até os dias de hoje, ele ainda é um provocador, que leva muitos a acreditarem na bondade natural do ser humano e de como a sociedade acaba destruindo essa bondade. E, por muitos, não é esquecido por sua forte crítica à propriedade privada, como causa da miséria entre as pessoas. A função principal de sua filosofia é libertar o homem. Após toda uma produção intelectual, suas fugas às perseguições e uma vida de aventuras e de errância, Rousseau termina por falecer em 02 de Julho de 1778, na França aos 66 anos de idade, após ter deixado sua grande contribuição para a moderna filosofia.

O estado de natureza e os direitos naturais Para Rousseau no “estado de natureza” os indivíduos vivam isolados pelas florestas sobrevivendo com o que a natureza lhes dava, desconhecendo lutas e comunicando-se com uma linguagem primitiva e harmoniosa. Segundo suas idéias, a população tem que tomar cuidado ao transformar seus direitos naturais em direitos civis, afinal "o homem nasce bom e a sociedade o corrompe". Esse estado de felicidade original (bom selvagem inocente) termina quando alguém diz: “É meu!” A divisão entre o meu e o teu, a propriedade privada, dá origem ao Estado de Sociedade que corresponde ao Estado de Natureza hobbesiano, o homem, produto da propriedade privada geradora de desigualdade torna-se odioso e violento. É por isso que Rousseau considera como direitos naturais apenas a vida e a liberdade e não a propriedade privada.

O contrato civil

Para fazer cessar esse estado de vida ameaçador, os humanos decidem passar à sociedade civil, isto é, ao Estado Civil, com a criação do poder político e as leis, através da instituição de um Contrato Social, pelos

quais os indivíduos renunciam à liberdade natural e à posse natural de bens, riquezas e armas e concordam em transferir a um terceiro – o soberano – o poder para criar e aplicar as leis. O Contrato Social funda a soberania. Para Rousseau, encontrar uma forma de associação que defenda e proteja a pessoa e os bens de cada associação com toda a força comum, e pela qual cada um, unindo-se a todos, só obedece, contudo, a si mesmo, permanecendo assim tão livre quando antes. Esse, o problema fundamental cuja solução o contrato social oferece.

O poder do soberano: o soberano é o povo

Mesmo quando cada associado se aliena totalmente em favor da comunidade, nada perde de fato, pois, enquanto povo incorporado, mantém a soberania. Ou seja, soberano é, para Rousseau, o corpo coletivo que expressa, através da lei, a vontade geral. A soberania do povo, manifestada pelo legislativo, é inalienável, ou seja, não pode ser representada. A democracia em Rousseau considera que toda lei não-ratificada pelo povo em pessoa é nula. Para Rousseau, os indivíduos naturais são pessoas morais, que, pelo pacto, criam a vontade geral como corpo moral coletivo ou Estado. Para Rousseau, o soberano é o povo, entendido como vontade geral, pessoa moral coletiva e corpo político de cidadãos. O governante não é, portanto, o soberano, mas ele é representante de soberania popular. Os indivíduos aceitam perder a liberdade natural, aceitam perder a posse natural para ganhar a individualidade civil, isto é, a cidadania. São cidadãos do estado e súditos das leis. O mesmo homem, enquanto faz a lei, é um cidadão e, enquanto se submete a ela e a obedece é um súdito. Por isso, Rousseau é defensor da democracia popular, pois, não considera correto um soberano com poderes ilimitados ou grupos que defendem apenas interesses particulares, mas acredita e confia a soberania ao povo, único capaz de governar de maneira justa uma sociedade.

Vontade Geral

Só a vontade geral pode dirigir as forças do Estado, pois sua finalidade é o bem comum. Ela – vontade geral – é a manifestação dos anseios de uma coletividade, ou seja uma convenção que foi estabelecida, não entre superior e inferior, e sim entre o corpo e cada um de seus membros. Nesse sentido, nenhum dos associados pode quebrar aquilo que foi decidido em assembléia, pois obedecer à vontade geral, e respeitar a si mesmo, sua própria vontade como cidadão, cujo interesse deve ser o bem comum.

LEITURA COMPLEMENTAR:

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DISCURSO SOBRE A ORIGEM E OS FUNDAMENTOS DA

DESIGUALDADE ENTRE OS HOMENS

Segunda parte

O verdadeiro fundador da sociedade civil foi o primeiro que, tendo cercado um terreno, se lembrou de dizer: Isto é meu, e encontrou pessoas bastantes simples para o acreditar, foi o verdadeiro fundador da sociedade civil. Quantos crimes, guerras, assassínios, misérias e horrores não teria poupado ao gênero humano aquele que, arrancando as estacas ou tapando os buracos, tivesse gritado aos seus semelhantes: “Livrai-vos de escutar esse impostor; estareis perdidos se esquecerdes que os frutos são de todos, e a terra de ninguém !” (...) (ROUSSEAU, 2000, p.87)

Enquanto os homens se contentaram com as suas

cabanas rústicas, enquanto se limitaram a coser suas roupas de peles com espinhos ou arestas de pau, a se enfeitarem com plumas e conchas, a pintar o corpo de diversas cores, a aperfeiçoar ou embelezar os seus arcos e flechas, a talhar com pedras cortantes algumas canoas de pesca ou grosseiros instrumentos de música; em uma palavra, enquanto se aplicaram exclusivamente a obras que um só podia fazer, e a artes que não necessitavam o concurso de muitas mãos, viveram livres, sãos, bons e felizes ,tanto quanto podiam ser pela sua natureza, e continuaram a gozar entre si das doçuras de uma convivência independente. Mas, desde o instante que um homem teve necessidade do socorro de outro; desde que perceberam que era útil a um só ter provisões para dois, a igualdade desapareceu, a propriedade se introduziu, o trabalho tornou-se necessário e as vastas florestas se transformaram em campos risonhos que foi preciso regar com o suor dos homens, e nos quais, em breve, se viram germinar a escravidão e a miséria, a crescer com as colheitas. (...) (ROUSSEAU, 2000, p.87)

1) Está em conformidade com a filosofia de Jean-Jacques Rousseau: a) O contrato surge de uma visão individualista do homem: o indivíduo preexiste ao Estado e o pacto visa garantir os interesses e a propriedade dos indivíduos. b) Não existe democracia mas um governo absoluto que não pode ser contestado. c) São os interesses privados que expressam a vontade geral e que, através do contrato, criam o Estado. d) “A essência humana é ser livre da dependência das vontades alheias, e a liberdade existe como exercício de posse”. e) Soberano é o corpo coletivo que expressa através da lei, a vontade geral.

2) De acordo com a filosofia política de Rousseau, marque a alternativa INCORRETA: A) Afirmou a seguinte frase: “O homem nasce, vive e morre na escravidão: ao nascer casem-no numa malha: na sua morte pregam-no num caixão; enquanto tem figura humana é encadeado pelas nossas instituições”. B) Seu aspecto filosófico é inovador, na medida em que distingue os conceitos de soberano e governo, atribuindo ao povo a soberania invalievável. C) Vivendo sadio, bons e felizes enquanto cuidam de sua própria sobrevivência, os homens não possuem o sentimento de egoísmo nem de corrupção D) O contrato social, para ser legítimo, deve se originar do consentimento individual e dispare entre os homens. E) O contrato não faz o povo perder a soberania, porque o Estado não é criado separado do povo. 3) Assinale de acordo com a filosofia de Jean-Jacques Rousseau, grande filósofo francês do século XVIII, a única alternativa CORRETA: a) No contrato social, Rousseau desenvolveu a sua teoria sobre a origem e sobre a constituição da Familia. b) Os homens foram induzidos a sair desta condição infeliz pelo desejo, pela necessidade e pelo temor. c) Reunido-se, os homens se dedicaram à criação daquilo que é chamado civilização e que não é senão o progressivo desenvolvimento dos valores primitivos. d) A humanidade ainda pode redimir-se; para isso é necessário reformulá-la, organizá-la em Estado segundo a natureza e,pela educação, pela vida moral, pelo trabalho, recuperar a verdadeira civilização. 4) Defina Vontade Geral segundo Rousseau.

5) De acordo com as teorias filosóficas de Rousseau defina Vontade de Todos. 6) (UFU-97) “O verdadeiro fundador da sociedade civil foi o primeiro que, tendo cercado um terreno, lembrou-se de dizer isto é meu e encontrou pessoas suficientemente simples para acreditá-lo. Quantos crimes, guerras, assassinos, misérias e horrores não pouparia ao gênero humano aquele que, arrancando as estacas ou se esquecerdes que os frutos são de todos e que a terra não pertence a ninguém!" (Jean-Jacques Rousseau, Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens, Abril cultural)

Discuta as conseqüências da instituição da sociedade civil de acordo com Rousseau, a partir do estado de natureza e de propriedade.

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Assista o filme Na natureza Selvagem e associe o enredo do filme a concepção de estado de natureza segundo Jean-Jacques Rousseau.

Introdução

Quando pensamos em ética, quase que imediatamente vem em nossa mente o termo moral, contudo, é necessário sabermos que são, apesar de próximos, distintos. Vejamos. Ética: Atitude reflexiva a cerca de nossa moral; “o bem pensar sobre o reto agir”, ou seja, o pensamento consistente sobre a correção de nossas ações. A essa correção chamamos de moralidade. A ética é uma ciência da práxis humana, isto é, um saber que tem por objeto a ação. Cria o objeto (a ação) e difere, portanto, da física e da metafísica, que são ciências teoréticas, ciências que não criam seus objetos, mas apenas os contemplam. “Ter uma moralidade implica, no mínimo, reconhecer princípios que se aplicam imparcialmente à própria conduta, como também às dos outros, e, mais ainda, princípios que podem ser uma restrição ou limitação à busca dos próprios interesses. (...) Um homem cujos juízos morais coincidem sempre com seus próprios interesses, estaria sujeito a suspeita de não ter, afinal, nenhuma moralidade”.

Moral: é o conjunto de regras de condutas baseadas nas noções de bem e de mal inseridas em uma sociedade e válidas para uma coletividade.

As diversas éticas: É comum ouvirmos falar em ética. Virou moda até. Fala-se de ética médica, ética docente, ética profissional, ética política, dentre outras. E na realidade existem várias mesmo. Vejamos algumas. A Teleológica: (Aristóteles) afirma ter um fim (téleos) pelo qual a ação moral é orientada. A Universalista: (Kant) defende a existência de um princípio geral, válidos para todos. A Contratualista: (Hobbes) defende que os princípios da ação devem ser avaliados por um contrato entre as partes interessadas. A Política: (Maquiavel) possui uma ética e lei própria, totalmente diferente da ética cristã.

“Sou responsável por meus atos, assim como sou responsável por meus filhos”.

A Felicidade: o supremo bem Foi o primeiro a escrever uma obra exclusivamente dedicada a questões éticas. A ele são atribuídos quatro tratados, onde o mais completo é um composto de dez livros, A Ética a Nicômaco, (em homenagem a seu pai Nicômaco), que parte de uma concepção de bem como fim último de todas as coisas. O conhecimento desse bem seria manifesto pela ação política. Qual é o bem que o ser humano busca para sua realização segundo Aristóteles? A resposta é a vida ideal como vivência das virtudes na pólis, junto com os outros (relação entre os indivíduos dentro da comunidade

FILOSOFIA MORAL OU ÉTICA

ARISTÓTELES de EStagira (384-322 a.C)

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política, pois, somente na cidade os homens podem alcançar o bem propriamente humano) e essa vivência é a felicidade. O grau máximo de felicidade é a beatitude. Alcançar o bem é o objetivo das ações humanas. O fim supremo da existência humana é a felicidade. Tudo aquilo que se busca, se busca por um fim, para se conseguir algo. A felicidade, no entanto, é um fim em si mesma. Qual seria, então, a ciência cujo objeto de estudo é o Sumo Bem, o bem comum? Para Aristóteles é a Política, (“a arte mestra”), assim como para o corpo humano é a Medicina e para as edificações é a Arquitetura. A investigação ética, segundo Aristóteles, tenta mostrar o bem relativo á consciência política, a saber, a FELICIDADE (eudaimonia). Para tanto, seria necessário que os cidadãos agissem por meio de um princípio racional e não por paixões. A HONRA era a finalidade da vida política e sua busca se daria por causa da virtude. Aristóteles supôs ser esta a razão pela qual o homem vive em sociedade. Para o estagirita, o homem virtuoso encontra prazer em seus próprios atos. A aristotélica propõe que a conduta humana numa comunidade, seja conduzida por leis que promovam a realização desse bem supremo que é a felicidade de poder contemplar a verdade e possuir sabedoria. A ética aristotélica se mantinha dentro de uma perspectiva onista, ou seja, concebida e aplicada a uma única noção de mundo, numa política exercida por homens reais, de carne e osso. A honra, a riqueza, o prazer, e a inteligência, por exemplo, são buscados como meios para outros fins. Já a ética é procurada por si mesma, por isso, é um bem mais perfeito do que os outros. O sujeito ético ou moral não se submete aos acasos da sorte, à vontade e aos desejos de um outro, à tirania das paixões; mas obedece apenas a sua consciência (que conhece o bem e as virtudes) e a sua vontade racional (que conhece os meios adequados para chegar aos fins morais).

A essência da vida ética A essência da vida ética é à busca de bem e da felicidade. A primeira tarefa da ética é a educação de nosso caráter ou de nossa natureza para seguirmos a orientação da razão. A ética, portanto, era concebida como educação do caráter do sujeito moral para dominar racionalmente impulsos, apetites e desejos para orientar a vontade rumo ao bem e à felicidade e para formá-lo como membro da coletividade sociopolítica, sua finalidade era a harmonia entre o caráter do sujeito virtuoso e os valores coletivos, que também deveriam ser virtuosos. Conhecemos duas espécies de virtudes, as intelectuais e as morais.

Virtudes Intelectuais: é o resultado do ensino

e por isso precisam de tempo e experiência. Exemplo: aprender tocar lira.

Virtudes Morais: adquiridas em resultado do

hábito e exercício e não surgem em nós por natureza. Exemplo: praticar atos justos para se tornar alguém justo. É pelos atos que praticamos nas relações entre os homens, que nos tornamos justos ou injustos. Por isso, se faz necessário estar atento para as qualidades de nossos atos: tudo depende deles, desde a nossa juventude, existe a necessidade de habituarmos a praticar atos virtuosos.

A Responsabilidade (O ato e o caráter) O princípio da responsabilidade baseia-se em duas pressuposições. A primeira é que a realidade é contingente (o futuro não está definido). A segunda é que a realidade depende do indivíduo que age (o individuo é autor de seus atos quando o ato depende dele). Aristóteles afirma que o caráter é resultado de nossos atos e não recebe suas determinações da natureza, da educação, da idade e da condição social, mas é produto da série de meus atos. Passo a ser declarado autor de meu caráter assim como o sou de meus atos. “Sou responsável por meus atos, assim como sou responsável por meus filhos”. Vícius e virtudes não são simples traços psicológicos adquiridos, mas tem significado moral, porque pertencem ao campo daquilo que depende de nós. Na dupla afirmação da realidade, sobre o ato e o caráter, o homem será declarado responsável por seus atos e pela construção de seu caráter. Parece que o elemento para distinguir o jovem do adulto é que o primeiro age para formar o seu caráter, enquanto que o segundo age a partir do seu caráter, com a intenção de realizar seu fim, ser feliz. Contudo, na medida em que os fins visados dependem do caráter, as decisões do adulto parecem inteiramente determinadas pelo condicionamento educativo que teve na infância. Isso não significa que o caráter do jovem, formado pelos hábitos impostos pelo educador, não é ainda virtuoso ou vicioso. A virtude e o vício só se desenvolvem através dos atos de que só o adulto é capaz, porque se realizam principalmente no quadro da vida cívica ou militar. A passagem da infância para a vida adulta é fundamental na formação do caráter, pois, é pela doçura ou pela rebelião que o jovem adquire boas ou más disposições em face das paixões, mas é por suas decisões que o adulto adquire vício ou virtude, isto é, um caráter moral. Na opinião de Aristóteles, pelo mesmo motivo, cada caráter determina ou causa paixões diferentes e está mais propenso a determinados vícios e a determinadas

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virtudes. No entanto, em todos eles, o vício é sempre excesso ou falta entre dois extremos opostos. Dizer que o vício é excesso ou falta significa dizer que ele é a falta de medida ou de moderação. Podemos então seguir Aristóteles dizendo:

A causa material da ação é o ethos.

A causa formal, a natureza racional do agente.

A causa eficiente, a educação.

A causa final, o bem. A unidade das quatro causas é a virtude. Portanto, a virtude é a medida entre os extremos contrários, a moderação entre dois extremos, o justo-meio, nem excesso e nem falta.

A justa medida, o justo-meio e o meio-termo Há uma medida para todas as ações humanas, que é o justo-meio. A felicidade é definida como atividade da alma, dirigida pela virtude perfeita; é excelente e divina, mas não é presente dos deuses, pois, é adquirida pelo hábito e através de muita prática das virtudes. As virtudes morais consistem em ser um meio entre dois extremos viciosos. Em toda quantidade é possível distinguir o excesso, o pouco e uma medida, que é o meio-termo; quando se trata de coisas, o meio-termo é aquele ponto que se encontra em igual distância entre dois extremos, mas quando se trata do homem, o meio-termo é aquilo que não peca nem por excesso e nem por falta ou defeito, e esta medida muda muito e não é única para todos os homens. Como é difícil estabelecer o justo-meio em cada caso particular, deve-se deixar esta definição a uma pessoa sensata, que decida retamente; mas há casos em que não cabe estabelecer nenhuma medida, assim como em excesso não existe medida. Aristóteles analisa três formas através das quais se poderiam afirmar ser possível alcançar a felicidade: uma vida de prazeres ou gozos, uma vida com honra ou política e uma vida como filósofo (contemplação). Aristóteles descarta as duas primeiras, uma vida de prazeres ou gozos é totalmente contrária à virtude, pois, premia o excesso, também descarta a honra como felicidade, pois, esta não é coisa interior, mas sim uma coisa conferida à pessoa por terceiros. Toda ação tende para um fim e temos virtude porque agimos corretamente. Não deve ser em falta nem em excesso, tudo no meio termo, ou moderadamente. Aristóteles fala do homem ideal, que não se preocupa em demasiado, mas dá a vida nas grandes crises. Não tem maldade, não gosta de falar, enfim é pouco vaidoso. Na Ética a Nicômaco, Aristóteles fornece a seguinte relação de vício e virtude:

A mansidão é o ponto médio entre a iracúndia e a impassibilidade;

A coragem é o ponto médio entre a temeridade e a covardia;

A verecúndia é o ponto médio entre a imprudência e a timidez;

A temperança é o ponto médio entre a intemperança e a insensibilidade;

A indignação é o ponto médio entre inveja e o excesso oposto que não tem nome;

A justiça (a virtude ética mais importante) é o ponto médio entre o ganho e a perda;

A liberalidade é o ponto médio entre prodigalidade e a avareza;

A veracidade é o ponto médio entre pretensão e o autodesprezo;

A amabilidade é o ponto médio entre a hostilidade e a adulação;

A seriedade é o ponto médio entre a complacência e a soberba;

A magnanimidade é o ponto médio entre a vaidade e a estreiteza da alma. Nessas ações, a virtude ética é a justa medida em que a razão impõe a sentimentos, ações ou atitudes, que sem o devido controle, tendem para o excesso. A virtude não é uma inclinação, mas uma disposição. É um hábito adquirido ou uma disposição constante e permanente para agir racionalmente em conformidade com uma medida humana, determinada pelo homem prudente. A tarefa da ética é orientar-nos para a aquisição desse hábito, tornando-nos virtuosos e, se possível, prudentes. A virtude é ação, atividade da vontade que delibera e escolhe segundo orientação da razão, a qual determina os fins racionais de uma escolha, com vista ao bem do agente, isto é, sua felicidade. Aristóteles diz que não nascemos bons, mas nos tornamos bons com atos bons, pois, atualizam nossa potencialidade para a razão e para a felicidade. É porque a virtude é a medida ou o justo meio e a prudência é a condição e coroamento de todas as virtudes.

Ética a Nicômaco,

Livro II Capítulos 8-9

8. Em relação ao meio-termo, em alguns casos é a

falta e em outros é o excesso que está mais afastado; por exemplo, não é a temeridade, que é o excesso, mas a covardia, que é a falta, que é mais oposta à coragem, e não é a insensibilidade, que é uma falta, mas a concupiscência, que é um excesso, que é mais oposta à moderação. Isto acontece por duas razões; uma delas tem origem na própria coisa, pois por estar um extremo mais próximo ao meio-termo e ser mais parecido com ele, opomos ao intermediário não o extremo, mas o seu contrário. Por exemplo, como se considera a temeridade mais parecida com a coragem, e a covardia mais diferente, opomos esta última à

LEITURA COMPLEMENTAR:

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Φιλοσοφία

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coragem, pois as coisas mais afastadas são tidas como mais contrárias a ele; a outra razão tem origem em nós mesmos, pois as coisas para as quais nos inclinamos mais naturalmente parecem mais contrárias ao meio-termo. Por exemplo, tendemos mais naturalmente para os prazeres, e por isso somos levados mais facilmente para a concupiscência do que para a moderação. Chamamos, portanto, contrárias ao meio-termo as coisas para as quais nos sentimos mais inclinados; logo, a concupiscência, que é um excesso, é mais contrária à moderação.

9. Já explicamos suficientemente, então, que a excelência moral [areté ethiké, virtude] é um meio-termo e em que sentido ela o é, e que ela é um meio-termo entre duas formas de deficiência moral, uma pressupondo o excesso e outra pressupondo a falta, e que a excelência moral é assim porque sua característica é visar às situações intermediárias nas emoções [páthoi] e nas ações. Por isso, ser bom não é um intento fácil, pois em tudo não é um intento fácil determinar o meio – por exemplo, determinar o meio de um círculo não é para qualquer pessoa, mas para as que sabem; da mesma forma, todos podem encolerizar-se, pois isso é fácil, ou dar ou gastar dinheiro; mas proceder assim em relação à pessoa certa até o ponto certo, no momento certo, pelo motivo certo e da maneira certa não é para qualquer um, nem é fácil; portanto, agir bem é raro, louvável e nobilitante. Quem visa ao meio-termo deve primeiro evitar o extremo mais contrário a ele, de conformidade com a advertência de Calipso: “Mantém a nau distante desta espuma e turbilhão.”

De dois extremos, com efeito, um induz mais ao erro e o outro menos; logo, já que atingir o meio-termo é extremamente difícil, a melhor entre as alternativas restantes, como se costuma dizer, é escolher o menor dos males, e a melhor maneira de atingir esse objetivo é a que descrevemos. Mas devemos estar atentos aos erros para os quais nós mesmos nos inclinamos mais facilmente, pois algumas pessoas tendem para uns e outras para outros; descobri-lo-emos mediante a observação do prazer ou do sofrimento que experimentamos; isto feito, devemos dirigir-nos resolutamente para o extremo oposto, pois chegaremos à situação intermediária afastando-nos tanto quanto possível do erro, como se faz para acertar a madeira empenada.

Em tudo devemos precaver-nos, principalmente contra o que é agradável e contra o prazer, pois não somos juízes imparciais diante deste. Devemos sentir-nos em relação ao prazer da mesma forma que os anciãos do povo se sentiram diante de Helena, e repetir em todas as circunstâncias as suas palavras, pois se o afastamos de nós é menos provável que erremos. Em resumo, é agindo desta maneira que seremos mais capazes de atingir o meio-termo.

Mas sem dúvida isto é difícil, especialmente nos casos particulares, porquanto não é fácil determinar de que maneira, e com quem e por que motivos, e por quanto tempo devemos encolerizar-nos; às vezes nós

mesmos louvamos as pessoas que cedem e as chamamos de amáveis, mas às vezes louvamos aquelas que se encolerizam e as chamamos de viris. Entretanto, as pessoas que se desviam um pouco da excelência não são censuradas, quer o façam no sentido do mais, quer o façam no sentido do menos; censuramos apenas as pessoas que se desviam consideravelmente, pois estas não passarão despercebidas. Mas não é fácil determinar racionalmente até onde e em que medida uma pessoa pode desviar-se antes de tornar-se censurável (de fato, nada que é percebido pelos sentidos é fácil de definir); tais coias dependem de circunstâncias específicas, e a decisão depende da percepção. Isto é bastante para determinar que a situação intermediária deve ser louvada em todas as circunstâncias, mas que às vezes devemos inclinar-nos no sentido do excesso, e às vezes no sentido da falta, pois assim atingiremos mais facilmente o meio-termo e o que é certo. (ARISTÓTELES.

Ética a Nicômaco. Livro II, c.8- 9)

QUADRO DAS VIRTUDES MORAIS

Sentimento ou paixão

(por natureza)

Situação em que o

sentimento ou a paixão

são sucitados

Vício (excesso) (por deliberação e por escolha)

Vício (falta) (por

deliberação e por escolha)

Virtude (justo meio) (por

deliberação e por escolha)

Prazeres Tocar, ter

ingerir. Libertinagem Insensibilidade Temperança

Medo Perigo, dor Covardia Temeridade Coragem

Confiança Perigo, dor Temeridade Covardia Coragem

Riqueza Dinheiro,

bens Prodigalidade Avareza Liberalidade

Fama Opinião alheia

Vaidade Humildade Magnificência

Honra Opinião alheia

Vulgaridade Vileza Respeito próprio

Cólera Relação com os outros

Irascibilidade Indiferença Gentileza

Convívio Relação com os outros

Zombaria Grosseria Agudeza de

espírito

Conceder prazer

Relação com os outros

Condescência Tédio Amizade

Vergonha Relação de

si com outros

Sem-vergonhice

Timidez Modéstia

Sobre a boa sorte de alguém

Relação dos outros

consigo Inveja Malevolência

Justa apreciação

Sobre a má sorte de alguém

Relação dos outros

consigo Malevolência Inveja

Justa indignação

CHAUÍ, Marilena de Souza. Introdução à história da filosofia: dos pré-socráticos a Aristóteles, vol. 01. São Paulo: Brasiliense, 1994.

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1) (UFU-MG/PAIES) Leia com atenção o texto abaixo.

“Aristóteles acrescenta à consciência moral, trazida

por Sócrates, a vontade guiada pela razão como o outro elemento fundamental da vida ética”. CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 1995, p. 341.

Com relação ao pensamento ético de Aristóteles, mar-que para as alternativas abaixo (V) verdadeira, (F) falsa. ( ) A virtude que melhor expressa o modo como a vontade pode ser guiada pela razão é a pr udência. ( ) O fundamento da prudência é a ideia suprema do bem, que somente pode ser alcançada no mundo suprassensível. ( ) O homem prudente jamais faz escolhas ao conduzir suas ações, pois age somente em conformidade com as leis da natureza. ( ) A vontade guiada pela razão deve escolher sempre a posição que melhor expresse o meio-termo entre dois extremos. 2) O que é o “meio-termo” proposto por Aristóteles?

3) (...) uma pessoa age injustamente ou justamente sempre que pratica tais atos voluntariamente; quando os pratica involuntariamente, ela não age injustamente nem justamente, a não ser de maneira acidental. O que determina se um ato é ou não é um ato de injustiça (ou de justiça) é sua voluntariedade ou involuntariedade; quando ele é voluntário, o agente é censurado, e somente neste caso se trata de um ato de injustiça, de tal forma que haverá atos que são injustos mas não chegam a ser atos de injustiça se a voluntariedade também não estiver presente.

ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Nova Cultural, 1996, p. 207.

Com base no texto e nos conhecimentos sobre a concepção de justiça em Aristóteles, é correto afirmar:

a) Um ato de justiça depende da consciência do agente e de ter sido praticado voluntariamente. b) A noção de justo desconsidera a discriminação de atos voluntários e involuntários quanto ao reconhecimento de mérito. c) A justiça é uma noção de virtude inata ao ser humano, a qual independe da voluntariedade do agente. d) O ato voluntário desobriga o agente de imputabilidade, devido à carência de critérios para distinguir a justiça da injustiça. e) Quando um homem delibera prejudicar outro, a

injustiça está circunscrita ao ato e, portanto, exclui o

agente.

4) Para Aristóteles, a questão da ética se mistura com a:

a) maiêutica. b) “sombra” da caverna. c) política. d) estética. e) ideia de Deus. 5) Estabeleça a diferença entre virtudes intelectuais e virtudes morais 6) Discorra a respeito da noção de responsabilidade segundo Aristóteles

Vida e Obra

Immanuel Kant, filósofo alemão, crítico do século XVIII, nascido em Königsberg (atual Kaliningrado), na altura pertencente à Prússia, grande cidade universitária

da Alemanha e também centro comercial muito ativo para onde afluíam homens de nacionalidade diversa, em 22 de Abril de 1724, teve uma vida longa e tranqüila, dedicada ao ensino e à investigação filosófica. Considerado o último grande filósofo dos principais da era moderna, um representante do iluminismo e indiscutivelmente um de seus pensadores mais influentes. Kant teve um grande impacto no Romantismo alemão e nas filosofias idealistas do século XIX, tendo esta sua faceta idealista sido um ponto de partida para Hegel. Homem metódico e de hábitos arraigados, lecionou durante quarenta anos na universidade de Königsberg, apenas deixando o magistério por problemas de saúde. Foi o quarto dos nove filhos de Johann Georg Kant, um artesão fabricante de correias (componente das carroças de então) e de sua mulher Regina. Nascido numa família protestante, teve uma educação austera numa escola pietista, que frequentou graças à intervenção de um pastor. Passou grande parte da juventude como estudante, sólido mas não espetacular, preferindo o bilhar ao estudo. Tinha a convicção curiosa de que uma pessoa não podia ter uma direcção firme na vida enquanto não atingisse os 39 anos. Com essa idade, era apenas um metafísico menor numa universidade prussiana, mas foi então que uma breve crise existencial o assomou. Pode argumentar-se que teve influência na sua posterior direção. Kant foi um respeitado e competente professor universitário durante quase toda a sua vida, mas nada do que fez antes dos 50 anos lhe garantiria qualquer reputação histórica. Kant nunca deixou a Prússia e raramente saiu da sua cidade natal. Apesar da reputação que ganhou, era considerado uma pessoa muito sociável: recebia convidados para jantar com

ATIVIDADES

IMMANUEL KANT (1724-1804)

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regularidade, insistindo que a companhia era boa para a sua constituição física. O empirismo, sobretudo de Hume, terá influência fundamental no pensamento de Kant, que diz: “Hume despertou-me de meu sonho dogmático”. Pode-se considerar a obra Kantiana do período critico, em parte pelo menos como uma tentativa de responder às críticas do empirismo ao racionalismo e, ao mesmo tempo, de conciliar a ambas as posições: Kant tenta encontrar uma solução que supere a dicotomia representada pelo ceticismo empírico e pelo racionalismo. Basicamente a evolução filosófica de Kant é assinalada por dois períodos. No primeiro período, dito pré-crítico, voltou sua atenção para os problemas do Ser, da filosofia da natureza e da religião, da lógica e da ética. Ele esteve convencido que a filosofia poderia ser alçada à condição de ciência especulativa teórica, ou seja, poderia ser fundamentada sem o auxílio dos dados da experiência sensível. Por volta de 1770, com 46 anos, Kant leu a obra do filósofo escocês David Hume e começa a partir daí o segundo período, conhecido como crítico (ponto culminante de sua trajetória filosófica), pois, confiava no poder da razão, confiança esta reforçada pelas descobertas científicas da época. Buscou apoiar essa crença num fundamento sólido e tomou para si, a tarefa de eliminar dúvidas sobre os objetos do conhecimento. Questiona se é possível uma “razão pura” independente da experiência. Diante da questão “qual é o verdadeiro valor dos nossos conhecimentos e o que é conhecimento?”, Kant coloca a razão num tribunal para julgar o que pode ser conhecido legitimamente e que tipo de conhecimento não tem fundamento. Com isso, tenta superar a dicotomia racionalismo-empirismo. Uma curiosidade: Conta-se que Kant era um homem tão metódico que quando caminhando pelas ruas de sua cidade natal, passava na frente das casas, seus moradores acertavam seus relógios por ele, pois, sabiam que eram às 15h30min. Acordava sempre às 5h da manhã e se deitava às 22h e percorria sempre o mesmo itinerário de sua casa até a Universidade. Duas circunstâncias fizeram-no perder a hora: a publicação do Contrato Social de Rosseau, em 1762, e a notícia da vitória francesa em Valmy, em 1792. Com problemas de saúde, morre aos 80 anos, em 12 de Fevereiro de 1804, sem nunca ter se afastado das imediações de sua cidade natal.

Obras: Kant sentiu-se profundamente perturbado, achava o argumento de Hume irrefutável, mas as suas conclusões inaceitáveis. Durante 10 anos não publicou nada e, então, em 1781 publicou o massivo "Crítica da Razão Pura", um dos livros mais influentes da filosofia moderna. Neste livro, ele desenvolveu a sua noção de um argumento transcendental para mostrar que, em suma, apesar de não podermos saber necessariamente verdades sobre o mundo "como ele é em si", estamos forçados a percepcionar e a pensar acerca do mundo

de certas formas: podemos saber com certeza um grande número de coisas sobre "o mundo como ele nos aparece": por exemplo, que cada evento estará causalmente conectado com outros, que aparições no espaço e no tempo obedecem a leis da geometria, da aritmética, etc. Nos cerca de vinte anos seguintes, até à sua morte em 1804, a produção de Kant foi incessante. O seu edifício da filosofia crítica foi completado com a "Crítica da Razão Prática", que lidava com a moralidade de forma similar ao modo que a primeira "crítica" lidava com o conhecimento; e a "Crítica do Julgamento", que lidava com os vários usos dos nossos poderes mentais que nem conferem conhecimento factual nem nos obrigam a agir: o julgamento estético (Do Belo e Sublime) e julgamento teleológico (Construção de Coisas Como Tendo "Fins"). Como Kant os entendeu, o julgamento estético e teleológico conectam os nossos julgamentos morais e empíricos um ao outro, unificando o seu sistema. Uma de suas obras, em particular, atinge hoje em dia grande destaque entre os estudiosos da filosofia moral. "A Fundamentação da Metafísica dos Costumes" é considerada por muitos filosofos a mais importante obra já escrita sobre a moral. É nesta obra que o filosofo delimita as funções da ação moralmente fundamentada e apresenta conceitos como o Imperativo Categórico e a Boa Vontade. Aparte isto, Kant escreveu alguns ensaios medianamente populares sobre história, política e a aplicação da filosofia à vida. Quando morreu, estava a trabalhar numa projetada "quarta crítica", tendo chegado à conclusão de que o sistema estava incompleto; este manuscrito foi então publicado como Opus Postumum.

Introdução “Age de tal modo que a máxima da tua ação se possa tornar um princípio de uma legislação universal”. (Kant) A ética kantiana é conhecida como Universalista, pois, Kant defende um princípio moral universal, ou seja, válido para todos. Também é conhecida como Normativa, pois, devem-se seguir as normas ou ordens da razão.

Kant sustenta que há uma lei moral objetiva. Ela é conhecida por nós pela razão e jamais pela experiência. Essa lei nos obriga a agir ou a nos abster de agir, simplesmente em razão de que a ação é exigida pela lei, ou proibida por ela. Trata dos seguintes temas: dever e inclinação; autonomia e esclarecimento. Vejamos.

Dever Dever é uma ação conforme uma ordem racional, uma norma ou lei da razão. Necessidade prática de cumprir uma ação universal incondicional, ou seja, válida para todas as pessoas, sem exceção, em todos

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os tempos e lugares. Necessidade de cumprir uma ação exclusivamente e unicamente por respeito à lei, independente da religião (Deus), da felicidade do indivíduo ou bem-estar da sociedade. Kant rejeita essas idéias, porque elas fazem a moralidade depender de algo exterior a ela mesma. Ele rejeita igualmente a idéia de que a moralidade é apenas o desenvolvimento natural de certos sentimentos que pertencem à nossa natureza humana. Isso não seria compatível com seu caráter intrinsecamente racional.

Kant distingue duas funções do dever. A primeira é a ação conforme o dever, conforme a lei, ligada à ação legal. Esta se dá quando uma ação tem como fim o interesse particular. Por exemplo, o comerciante que atende honestamente aos clientes, age em conformidade com o dever, se este tem por intenção bem definida apenas manter sua clientela. Do mesmo modo, a pessoa que leva uma vida feliz e se esforça em conservar a sua vida, age conforme o dever, mas não age por dever. A segunda é a ação por dever, por respeito à lei, ligada à ação moral. Esta se dá quando uma ação não tem como fim um interesse particular, mas é uma ação boa em si mesma. Pode ser que daí se originou o dito popular: “fazer o bem sem olhar a quem”. Diferentemente do exemplo acima, quem se esforça por conservar uma vida a que já não tem amor, este sim age por dever. Assim também, quando alguém ajuda outra pessoa sem esperar nenhuma recompensa em troca age por dever. Devido a não existir uma unanimidade de ações, ou seja, pelo fato de cada um agir como melhor lhe aprouver, uns por dever e outros apenas conforme o dever surge em Kant o termo Boa Vontade: vontade de agir somente por dever. Conhecida também como Vontade Santa: vontade que está necessariamente de acordo com a razão, só podendo escolher aquilo que é racional. “Não é possível conceber coisa alguma no mundo, ou mesmo fora do mundo, que sem restrição possa ser considerada boa, a não ser uma só: uma boa vontade”. É importante relembrar que a ética (moral) na razão para Kant é independente da religião e da comunidade. Ela deve ser boa em si mesma, para tanto, ele nos traz a noção de Imperativos.

Imperativos

Como vimos acima, Kant sustenta que há uma lei moral objetiva. Ela é conhecida por nós somente pela razão e jamais pela experiência. Essa lei nos obriga a agir ou a nos abster de agir, simplesmente em razão de que a ação é exigida pela lei, ou proibida por ela. Essa lei é um imperativo: termo criado por Kant, talvez por analogia ao termo bíblico “mandamento”. É uma norma ou ordem da razão para que o indivíduo pratique ações racionais. A norma da razão é para o homem uma ordem e tem um caráter co-ativo, regulando a vontade humana para agir nas coisas boas e também nas coisas necessárias. Essas ações podem ser boas, como por exemplo, se a pessoa a quem for ajudar for bonita ou agradável; ou apenas necessárias, como por exemplo, coletar o lixo. Kant define um imperativo como toda “proposição que expressa uma possível ação livre, por meio da qual se concretize um determinado fim”. Ele faz uma distinção entre os imperativos. Eles podem ser hipotéticos ou categóricos, porém, a distinção depende de a relação da lei com a vontade ser dirigida ou não para realizar um fim. Imperativo Hipotético (ação conforme o dever): se caracteriza se a ação (ordenada) for boa simplesmente como meio para algum outro fim. Comanda uma ação que é apenas relativamente boa. Como por exemplo, ajudar em um acidente de veículos, apenas se o acidentado for bonito (a) ou rico (a). Imperativo categórico (ação por dever): se caracteriza se a ação (ordenada) é representada como boa em si mesma, objetivamente necessária, são aquelas da moralidade. Nem sua autoridade, nem seu poder de nos motivar são derivados de outra parte que se não dela mesma. Um exemplo dela é ajudar alguém independentemente de qualquer recompensa. A lei da razão assume a forma de uma ordem racional, para impedir que a ação humana aja segundo sua inclinação sensível. Para a filosofia moral de Kant existe uma oposição entre agir por dever e por inclinação. Para ele, o dever “orgulhosamente rejeita todo o parentesco com as inclinações”. (Crítica da Razão Pura)

Inclinação A inclinação está fundada na liberdade do mundo sensível. É a dependência da faculdade de apetições das sensações, a qual, em conseqüência, indica sempre uma necessidade. Os objetos da inclinação têm um valor moral condicionado, ou seja, não são desejados “por si mesmos”, mas tão somente porque concorrem para satisfazer fins fora deles, a saber, as necessidades da inclinação. Isso os torna indignos de servirem como princípios de juízo moral, pois, não podem ser universalizados.

Autonomia

“Uma ação cumprida por Dever tem seu valor moral, não no fim que deve ser alcançado por ela, mas na máxima que a determina; sem relação com nenhum objeto de desejar”.

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Para Kant, a Autonomia se caracteriza por dois fatores. O primeiro é a independência da vontade em relação a todo desejo ou objeto de desejo (liberdade no sentido negativo). Para simplificar, voltemos ao termo imperativo que é uma analogia ao termo bíblico mandamento. Na tradição bíblica, nos é apresentado no vigésimo capitulo do livro do Êxodo, dez mandamentos, ordens, leis que o povo de Deus deve seguir para se orientar na vida cristã. Dentre os dez mandamentos, algumas ordens são para o povo fazer algo (guardar domingos e festas de guarda, honrar pai e mãe, etc.) e outras são para não fazerem algo (não cobiçar a mulher do próximo, não falar o santo nome de Deus em vão, etc.). Nesse primeiro fator da autonomia, somos independentes de nossa vontade, assumindo nossa liberdade no sentido negativo, ou seja, de não fazermos algo, como, não matar, não cometer adultério, não levantar falso testemunho e outros. O segundo fator é a capacidade de determinar-se em conformidade com uma lei própria, que é a da razão (liberdade no sentido positivo). Nesse caso, é fazer algo seguindo a lei da razão, mandamento, ordens, como por exemplo, amar a Deus sobre todas as coisas.

Esclarecimento

Resposta à pergunta: que é “Esclarecimento”? (“Aufklãrung” - 5 de dezembro de 1783, p.516. Textos Seletos, Petrópolis: Vozes, 1985)

Esclarecimento [Aufklãrung] é a saída do homem de sua menoridade, da qual ele próprio é culpado. A menoridade é a incapacidade de fazer uso de seu entendimento sem a direção de outro indivíduo. O homem é o próprio culpado dessa menoridade se a causa dela não se encontra na falta de entendimento, mas na falta de decisão e coragem de servir-se de si mesmo sem a direção de outrem. Sapere aude! “Tem

coragem de fazer uso de teu próprio entendimento” tal é o lema do esclarecimento [Aufklãrung]. A preguiça e a covardia são as causas pelas qual uma tão grande parte dos homens, depois que a natureza de há muito os libertou de uma direção estranha (naturaliter maiorennes), continuem, no entanto de bom grado menor durante toda a vida. São também as causas que explicam por que é tão fácil que os outros se constituam em tutores deles. É tão cômodo ser menor. Se tenho um livro que faz as vezes de meu entendimento, um diretor espiritual que por mim tem consciência, um médico que por mim decide a respeito de minha dieta etc., então não preciso de esforçar-me eu mesmo. Não tenho necessidade de pensar, quando posso simplesmente pagar, outros se encarregarão em meu lugar dos negócios desagradáveis. (...) É difícil, portanto, para um homem em particular desvencilhar-se da menoridade que para ele se tornou quase uma natureza. Chegou mesmo a criar amor a ela, sendo por ora realmente incapaz de utilizar seu próprio entendimento, porque nunca o deixaram fazer a tentativa de assim proceder. Preceitos e fórmulas, estes instrumentos mecânicos do uso racional, ou antes, do abuso, de seus dons naturais, são os grilhões de uma perpétua menoridade. Quem deles se livrasse só seria capaz de dar um salto inseguro mesmo sobre o mais estreito fosso, porque não está habituado a este movimento livre. Por isso, são muito poucos aqueles que conseguiram, pela transformação do próprio espírito, emergir da menoridade e empreender então uma marcha segura. (...) Para este esclarecimento, porém, nada mais se exige senão liberdade.

1) O que é, segundo Kant, um imperativo categórico?

2) Uma pessoa vê-se forçada pela necessidade a pedir dinheiro emprestado. Sabe muito bem que não poderá pagar, mas vê também que não lhe emprestarão nada se não prometer firmemente pagar em prazo determinado. Sente a tentação de fazer a promessa; mas tem consciência para perguntar a si mesma: Não é proibido e contrário ao dever livrar-se de apuros desta maneira? Admitindo que se decida a fazê-lo, sua máxima de ação seria: Quando julgo estar em apuros de dinheiro, vou pedi-lo emprestado e prometo pagá-lo, embora saiba que tal nunca sucederá. Este princípio do amor de si mesmo ou da própria conveniência pode talvez estar de acordo com todo meu bem-estar futuro; mas agora a questão é de saber se é justo.(...). Vejo imediatamente que ele nunca poderia valer como lei universal da natureza e concordar consigo mesmo, mas que, pelo contrário, ele se contradiria necessariamente.

KANT, I. Fundamentação da metafísica dos costumes. São Paulo: Abril Cultural, 1980, p.130.

ATIVIDADES

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De acordo com o texto, no que diz respeito ao dever

necessário para com os outros, uma promessa mentirosa deve ser entendida como uma ação:

a) ética, pois foi praticada por dever, na medida em que visa a um fim justo, no caso, o bem-estar da pessoa que fez a promessa, considerando-se que os fins justificam os meios. b) contrária ao dever, pois a pessoa pratica um ato de violência, aproveitando-se da boa-fé do outro, mas perfeitamente justificável na medida em que obedece a uma regra pragmática, a de que a mentira pode ser justificada em determinadas situações. c) de acordo com o dever, pois, embora a pessoa que fez a promessa tenha agido por interesse, não se pode dizer que ela seja desonesta e injusta, porquanto queria apenas suprir suas necessidades. d) correta e justa, conforme ao dever, pois foi motivada por uma situação de extrema dificuldade e pode ser justificada do ponto de vista da máxima moral. e) contrária ao dever, pois foi motivada por fins

egoístas e desrespeita a máxima moral segundo a qual

o motivo do agir deve tornar-se uma lei universal.

3) Segundo Kant, qual é a resposta à pergunta “O que

é o esclarecimento”?

4) Explique por que podemos afirmar que a proposta

ética de Kant pode ser considerada universalista.

5) Defina a noção de dever segundo Kant,

posteriormente, diferencie suas funções.

6) O que é imperativo categórico e hipotético.

Proponha exemplos para cada um deles.

7) UFU ANO 2007 - 1 Leia com atenção o texto abaixo. Um menino, a pedido de sua mãe, foi de manhã à padaria para comprar pães de queijo. Como estivesse em dificuldades financeiras, o comerciante cobrou-lhe trinta centavos a mais pela mercadoria, considerando que este dinheiro por certo não faria falta a uma criança de aparência tão saudável. No início da noite, o pai do menino voltou à padaria para comprar leite, e equivocou-se ao pagar o comerciante, dando-lhe cinqüenta centavos a mais. O comerciante, no entanto, prontamente, restituiu ao freguês os cinqüenta centavos pagos a mais, considerando que o pai do menino era fiscal da prefeitura e que, em qualquer caso, seria conveniente manter boas relações com as autoridades locais. Em conformidade com o pensamento kantiano, responda as três questões que se seguem.

A) Por que a primeira atitude do comerciante (em relação ao menino) é contrária ao dever e imoral? B) Por que a segunda atitude do comerciante (em relação ao pai do menino) é conforme ao dever, mas mesmo assim é imoral? C) De acordo com o pensamento de Kant, cite, para o caso 1 (relativo ao menino) e para o caso 2 (relativo ao pai do menino), uma regra que o comerciante poderia ter seguido para agir moralmente.

Vida e Obra Friedrich Wilhelm Nietzsche, filósofo Alemão, nasceu a 15 de outubro de 1844 em Röcken, localidade próxima a Leipzig. Karl Ludwig, seu pai, pessoa culta e delicada, e seus dois avós eram pastores protestantes; o próprio Nietzsche pensou em seguir a

mesma carreira. Naumburg, pequena cidade às margens do Saale, onde Nietzsche cresceu, em companhia da mãe, duas tias e da avó. Criança feliz, aluno modelo, dócil e leal, seus colegas de escola o chamavam "pequeno pastor"; com eles criou uma pequena sociedade artística e literária, para a qual compôs melodias e escreveu seus primeiros versos. Em 1858, Nietzsche obteve uma bolsa de estudos na então famosa escola de Pforta, onde haviam estudado o poeta Novalis o filósofo Fichte (1762-1814). Datam dessa época suas leituras de Schiller (1759-1805), Hölderlin (1770-1843) e Byron (1788-1824); sob essa influência e a de alguns professores, Nietzsche começou a afastar-se do cristianismo. Excelente aluno em grego e brilhante em estudos bíblicos, alemão e latim, seus autores favoritos, entre os clássicos, foram Platão (428-348 a.C.) e Ésquilo (525-456 a.C.). Durante o último ano em Pforta, escreveu um trabalho sobre o poeta Teógnis (séc. VI a.C.). Partiu em seguida para Bonn, onde se dedicou aos estudos de teologia e filosofia, mas, influenciado por seu professor predileto, Ritschl, desistiu desses estudos e passou a residir em Leipzig, dedicando-se à filologia. Ritschl considerava a filologia não apenas história das formas literárias, mas estudos das instituições e do pensamento. Nietzsche seguiu-lhe as pegadas e realizou investigações originais sobre Diógenes Laércio (séc. III), Hesíodo (séc. VIII a.C.) e Homero. A partir desses trabalhos foi nomeado, em 1869, professor de filologia em Basiléia, onde permaneceu por dez anos. A filosofia somente passou a interessá-lo a partir da leitura de O Mundo como Vontade e Representação, de Schopenhauer (1788-1860). Nietzsche foi atraído pelo ateísmo de Schopenhauer, assim como pela posição essencial que a experiência

FRIEDRICH NIETZSCHE (1844-1900)

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estética ocupa em sua filosofia, sobretudo pelo significado metafísico que atribui à música. Em 1867, Nietzsche foi chamado para prestar o serviço militar, mas um acidente em exercício de montaria livrou-o dessa obrigação. Voltou então aos estudos na cidade de Leipzig. Nessa época teve início sua amizade com Richard Wagner (1813-1883), que tinha quase 55 anos e vivia então com Cosima, filha de Liszt (1811-1886). Nietzsche encantou-se com a música de Wagner e com seu drama musical, principalmente com Tristão e Isolda e com Os Mestres Cantores. A casa de campo de Tribschen, às margens do lago de Lucerna, onde Wagner morava, tornou-se para Nietzsche lugar d "refúgio e consolação". Na mesma época, apaixonou-se por Cosima, que viria a ser, em obra posterior, a "sonhada Ariane". Em cartas ao amigo Erwin Rohde, escrevia: "Minha Itália chama-se Tribschen e sinto-me ali como em minha própria casa". Na universidade, passou a tratar das relações entre a música e a tragédia grega, esboçando seu livro O Nascimento da Tragédia no Espírito da Música.

Dionisíaco e Apolíneo

Há diversos deuses apresentados pela mitologia grega, o “principal” deles é Zeus que seria o “deus dos deuses” para os gregos antigos. Apollo e Dioniso, dois desses deuses da mitologia grega são tratados por Nietzsch de uma maneira bastante interessante e que contribui de maneira “espetacular” para a compreensão de sua obra, especialmente e especificamente citados em “O nascimento da tragédia” (1872). A arte grega tem origem além do homem e representa “forças” que estão presentes no Mundo. Um dos aspectos importantes para a compreensão da “explanação” que segue, é entendermos que os deuses gregos, diferentemente do Deus da tradição judaica-cristã, são imanentes à Natureza, eles não estão fora dela; esses deuses têm um grau de pertencimento intrínseco e nascem junto com o “cosmos” diferentemente do Deus Judaico-cristão que está fora do universo e o cria para o homem. Portanto a Physis (“física”) grega, tem um sentido bem diferenciado de como é considerada a nossa natureza desde o período da modernidade em diante (século XV); a physis grega era qualitativa e não quantitativa como é estudada a “nossa natureza” , podemos dizê-la como aquilo que se mostra, o que aparece, o que brilha. O Thauma, o espanto, a perplexidade, admiração, estarrecimento, maravilhamento, estranhamento, que aparece na Natureza é um dos aspectos que nos seus primórdios levaram os homens à filosofia inicial e assim os primeiros filósofos são tratados como os filósofos da natureza ou physis. A physis e a filosofia são instâncias em que o thauma aparece. (1) Uma das questões aos olhos de Nietzsche é que a Arte Apolínea surge da “alegre, necessidade da imagem”. Mas a imitação da natureza pelos gregos era

totalmente diferente da imitação dessa natureza pelos modernos. Com os modernos a natureza se torna objeto. Nos gregos e por exemplo em Heráclito se dizia que a physis ama se ocultar. Apolíneo-dionisíaco é uma expressão relativa ao que vem dos deuses: Apolo e Dioniso – expressão popularizada e tratada por Nietzsche como um contraste no livro „O nascimento da tragédia”, entre o espírito da ordem, da racionalidade e da harmonia intelectual, representado por Apolo, e o espírito da vontade de viver espontânea e extasiada, representado por Dioniso. Conforme diz Blackburn no verbete apolíneo/dionisíaco. Um quadro das distinções corriqueiramente apresentadas entre Apolo e Dioniso, embora não retratem “verdadeiramente” suas essências, podem ser descritas da maneira que segue.

- Apolo:Bela Aparência; Sonho; Forma (limite);

Princípio de individuação; Resplandecente; Ordem; Serenidade; etc.

- Dioniso: Música; Embriaguez; Uno Primordial (não há

forma, sem limite); Indiferenciação; Essência; Desmedida; Domínio Subterrâneo; etc.

O homem constitui um elo com o mundo. Não deveríamos nos afastar dessa realidade que era vivenciada na época antiga. “O Nascimento da tragédia” apresentado por Nietzsche, parece prever o que ocorreria com o homem 1 século depois desse livro ser publicado, hoje o homem evita toda a finitude e a “realidade” que é mostrada na tragédia grega. O homem dos nossos dias não aceita sofrer, não enfrentar a dor, não aceita a angústia, procura afastar-se de “todo mal” através de medicamentos e mais “medicamentos”, foge de tudo e de todos, utiliza-se de um movimento desenfreado, da agitação, das “atividades”, evita a solidão, não dá tempo para si próprio, tem medo do “real;” e o pior é que a “normalidade” da sociedade é uma loucura assustadora. A propósito: Quem é “louco”? Quem é “sano”? Outra questão está ligada ao conhecimento, há uma diferenciação entre o conhecimento trágico (dos pré-socráticos) e o conhecimento racional (em Sócrates). No “conhecimento” racional valoriza-se a causalidade e o efeito, a causa e efeito não apareciam nos pré-

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socráticos como aparecem na contemporaneidade, mas eram imanentes, eram intrínsecas à natureza. O conhecimento racional vai se colocar acima da Arte e da Vida, e pior, começa a julgá-las. A partir de Sócrates e de Eurípides a instância mais importante passa a ser o “conhecimento” e não mais a “arte”. Platão depois, vai dizer que a “arte” é apenas uma cópia da cópia (nosso mundo) de um “original” que estaria no mundo das ideias (o mundo supra-sensível). Com todo esse processo perdemos algo especial que vinha dos gregos originais, entre essas perdas estão o sentido de pertencimento e Valor absoluto da natureza, Conforme comenta Brockelman: O que perdemos, portanto, foi a habilidade de ver nossa vida como parte de uma ordem e uma realidade mais amplas, para além de nossos transitórios desejos e sonhos diários. Ao ver a natureza e todo o universo como uma “matéria” posta aqui para nossa transformação e uso infinitamente produtivos, reduzimos a realidade a um mero valor extrínseco para nós; ela não é mais vivenciada como intrinsecamente valiosa em si. Por conseqüência, perdemos todo senso de pertencer a um drama e a uma realidade mais vastos e significativos. (2001, p.23).

Moral nietzscheana Dentre as diversas morais existentes, entre as mais finas e as mais grosseiras, Nietzsche reúne seus traços mais comuns e chega a, pelo menos, dois tipos básicos e uma diferença fundamental. Em Além do bem e do mal, obra escrita antes de a Genealogia, Nietzsche diz que "[...] Há uma moral dos senhores e uma moral de escravos [...]” ressaltando que em todas as culturas, sejam elas consideradas superiores e outras inferiores, percebe-se tentativas de mediação entre esses dois tipos distintos. O que não as isenta, também, de gerar, com freqüência, diversas confusões e incompreensões mutuas. Na condição de que há duas fontes para o nascimento dos valores morais, um deles tem que prevalecer e estabelecer-se sobre a outra. Dentre as muitas diferenças que separam a moral de senhores da moral de escravos, uma das mais importantes relaciona-se à afirmação da diferença. A moral de senhores tem como base o sentimento de distância e superioridade para, assim, fazer as avaliações. Em contrapartida, a moral de escravos baseia suas avaliações na igualdade e na fraqueza. Isso desemboca num antagonismo, separando as duas morais e, também, explicando a relação entre senhor e escravo. O primeiro toma o segundo como desprezível, considerando-o covarde, medroso, mesquinho. Por outro lado, o escravo rebaixa-se a si mesmo, desconfia do senhor e se deixa maltratar. O fundamento da moral de escravo se dá no medo. Ele teme os que apresentam força e potência que sejam diferentes à sua. Diante desse temor, cria-se uma moral em defesa da coletividade. Por não possuir impulsos que possam colocá-lo acima da coletividade, o escravo opta por uma moral generalizada e não

particularizada ou individualizada. A generalização que o escravo faz é uma reação de medo diante do que lhe é diferente. A moral de escravo torna-se uma moral de autodefesa e suas avaliações são sua evidente característica. A avaliação dessa moral estabelece que o bom é o que favorece a coletividade. O mau, em contrapartida, é aquilo que ameaça essa coletividade. Já o homem nobre, junto com sua moral, consegue elevar o tipo de homem que é fazendo deste homem o criador dos valores. Isso o distingue dos demais, evidenciando o tipo de avaliações que estabelece sobre a vida e sobre si mesmo. O nobre acredita poder ser o responsável pelas bases às quais os valores se estabelecem, "[...] ele julga: 'o que me é prejudicial é prejudicial em si', sabe-se como o único que empresta honra às coisas, que cria valores". Os conhecimentos que faz de si são honrados, ou seja, o nobre constrói uma moral da glorificação de si mesmo, que consegue com prazer exercer com vigor e dureza consigo e venerando tudo o que é rigoroso e duro. Mas a moral de escravo tende a se rebelar. Essa rebelião começa quando o ressentimento desse tipo de moral torna-se criador e gerador de valores. Na Genealogia, Nietzsche escreve que "[...] toda moral nobre nasce de um triunfante Sim a si mesmo, já de início a moral escrava diz Não a um 'fora', um 'outro', um 'não eu' – e este Não é seu ato criador". A inversão que estabelece valores é algo próprio do ressentimento. A moral escrava, para nascer, pede um oposto, uma exterioridade, requer estímulos exteriores para agir em absoluto, o que torna sua ação uma reação. Nietzsche escreve que esse contrário sucede no modo de valoração do nobre, agindo e crescendo com espontaneidade, buscando seu oposto para apenas dizer sim a si mesmo com maior júbilo e gratidão. Desse modo, o conceito negativo de o baixo, comum, ruim é apenas imagem de contraste em relação ao conceito positivo dos nobres, bons e felizes. O homem, naturalmente, seja nobre ou escravo, avalia e confere sentido às coisas, pois é vontade de potência. O escravo, por seu lado, inverte, sem querer dizer que não realize uma avaliação, mas que não se torna criação. É uma inversão, uma transformação, uma transmutação dos valores. Ao transmutar, ou inverter, os valores de sua moral de escravo, ele estabelece sua moral como dada, como algo efetivo, além de qualquer reflexão. O objetivo de absolutizar sua moral está no fato de o escravo ter como pano de fundo aquela autodefesa citada anteriormente, que visa dissimular o medo através da universalização de seus próprios preceitos. Dessa forma, toda interpretação moral será vista como a moral única e de validade incondicional, o que torna os preceitos dessa moral intocados e inquestionáveis. Em contrapartida, é uma moral que disfarça a antipatia da vida e que tem como mote uma vida degenerada em que a diferença e a afirmação são substituídas pela igualdade e pela negação. O escravo, por ser considerado um desprezível, avalia sua realidade a partir de seu tipo de vida decadente. Para Nietzsche, remover a máscara é

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algo necessário e se faz pela identificação da moral que prescreve um valor como valor. Com esse desmascaramento é possível de se determinar qual o valor dos valores. É o absolutizar dos valores e considerá-los como supremos, supervalorizando-os acima de qualquer outra perspectiva ou interpretação contrária. Em Nietzsche notamos a percepção que tinha de que, mesmo que todos os valores e ideais considerados supremos anteriormente na história humana tenham se desvalorizado, a vida do homem continua. É certo que não vivemos sem referencial: precisamos de valores que sejam ponto de referência para nossas ações, afinal, não vivemos sozinhos, não vivemos isolados, por mais individualista que esta nossa sociedade queira se proclamar. Os valores, contudo, não se constituem num algo-em-si. São pontos de vista, são aquilo que, conforme uma perspectiva, colocam-se como preservação e progresso da vida. Quando Nietzsche diz que Deus está morto, retira da sociedade toda e qualquer base de valoração. É necessário buscar, então, um novo parâmetro para os valores. Caso contrário, as pessoas vão se tornando cada vez mais materialistas, individualistas, mercantilistas. Não somos máquinas, tampouco somos meras mercadorias. A dignidade humana cada dia mais vem perdendo seu espaço e significado em nossas sociedades, em nossas vidas, em nossas relações. Com sua obra, Nietzsche não só demonstra um gênio perturbado com as relações dos homens, mas também nos perturba, levando-nos a questionar os laços relacionais que todos temos. O intuito de a Genealogia da moral é o de despertar no leitor uma reflexão e uma ação mais consciente da realidade. Os valores necessitam ser repensados.

O Além-do-Homem (Super Homem)

Em Ecce Homo, Nietzsche assimila Zaratustra a Dioniso, concebendo o primeiro como o triunfo da afirmação da vontade de potência e o segundo como símbolo do mundo como vontade, como um deus artista, totalmente irresponsável, amoral e superior ao lógico. Por outro lado, a arte trágica é concebida por Nietzsche como oposta à decadência e enraizada na antinomia entre a vontade de potência, aberta para o futuro, e o "eterno retorno", que faz do futuro numa repetição; esta, no entanto, não significa uma volta do mesmo nem uma volta ao mesmo; o eterno retorno nietzschiano é essencialmente seletivo. Em dois momentos de Assim falou Zaratustra (Zaratustra doente e Zaratustra convalescente), o eterno retorno causa ao personagem-título, primeiramente, uma repulsa e um medo intoleráveis que desaparecem por ocasião de sua cura, pois o que o tornava doente era a idéia de que o eterno retorno estava ligado, apesar de tudo, a um ciclo, e que ele faria tudo voltar, mesmo o homem, o "homem pequeno". O grande desgosto do homem, diz Zaratustra, aí está o que me sufocou e que me tinha entrado na garganta e também o que me tinha profetizado o adivinho: tudo é igual. E o eterno retorno, mesmo do mais pequeno, aí está a causa de meu cansaço e de toda a existência. Dessa forma, se Zaratustra se cura é porque compreende que o eterno retorno abrange o desigual e a seleção. Para Dioniso, o sofrimento, a morte e o declínio são apenas a outra face da alegria, da ressurreição e da volta. Por isso, "os homens não têm de fugir à vida como os pessimistas", diz Nietzsche, "mas, como alegres convivas de um banquete que desejam suas taças novamente cheias, dirão à vida: uma vez mais". Para Nietzsche, portanto, o verdadeiro oposto a Dioniso não é mais Sócrates, mas o Crucificado. Em outros termos, a verdadeira oposição é a que contrapõe, de um lado, o testemunho contra a vida e o empreendimento de vingança que consiste em negar a vida; de outro, a afirmação do devir e do múltiplo, mesmo na dilaceração dos membros dispersos de Dioniso. Com essa concepção, Nietzsche responde ao pessimismo de Schopenhauer: em lugar do desespero de uma vida para a qual tudo se tornou vão, o homem descobre no eterno retorno a plenitude de uma existência ritmada pela alternância da criação e da destruição, da alegria e do sofrimento, do bem e do mal. O eterno retorno, e apenas ele, oferece, diz Nietzsche, uma "saída fora da mentira de dois mil anos", e a transmutação dos valores traz consigo o novo homem que se situa além do próprio homem. Esse super-homem nietzschiano não é um ser, cuja vontade "deseje dominar". Se se interpreta vontade de potência, diz Nietzsche, como desejo de dominar, faz-se dela algo dependente dos valores estabelecidos. Com isso, desconhece-se a natureza da vontade de potência como princípio plástico de todas as avaliações e como força criadora de novos valores. Vontade de potência, diz Nietzsche, significa "criar", "dar" e "avaliar".

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Nesse sentido, a vontade de potência do super-homem nietzschiano o situa muito além do bem e do mal e o faz desprender-se de todos os produtos de uma cultura decadente. A moral do além-do-homem, que vive esse constante perigo e fazendo de sua vida uma permanente luta, é a moral oposta à do escravo e à do rebanho. Oposta, portanto, à moral da compaixão, da piedade, da doçura feminina e cristã. Assim, para Nietzsche, bondade, objetividade, humildade, piedade, amor ao próximo, constituem valores inferiores, impondo-se sua substituição pela virtù dos renascentistas italianos, pelo orgulho, pelo risco, pela personalidade criadora, pelo amor ao distante. O forte é aquele em que a transmutação dos valores faz triunfar o afirmativo na vontade de potência. O negativo subsiste nela apenas como agressividade própria à afirmação, como a crítica total que acompanha a criação; assim, Zaratustra, o profeta do além-do-homem, é a pura afirmação, que leva a negação a seu último grau, fazendo dela uma ação, uma instância a serviço daquele que cria, que afirma. Compreende-se, assim, porque Nietzsche desacredita das doutrinas igualitárias, que lhe parecem "imorais", pois impossibilitam que se pense a diferença entre os valores dos "senhores e dos escravos". Nietzsche recusa o socialismo, mas em Vontade de Potência exorta os operários a reagirem "como soldados".

1) UFU 2010 - 2 Friedrich Nietzsche (1844 – 1900) opõe à moral tradicional, herdeira do pensamento socrático-platônico e da religião judaica-cristã, a transvaloração de todos os valores. Conforme Aranha e Arruda (2000): “Ao fazer a crítica da moral tradicional, Nietzsche preconiza a „transvaloração de todos os valores‟. Denuncia a falsa moral, „decadente‟, „de rebanho‟, „de escravos‟, cujos valores seriam a bondade, a humildade, a piedade e o amor ao próximo”. Desta forma, opõe a moral do escravo à moral do senhor, a nova moral. (ARANHA, M. L. de A. e MARTINS, M. H. P. Filosofando:

introdução à filosofia. São Paulo: Moderna, 2000, p. 286.)

Assinale a alternativa que contenha a descrição da “moral do senhor” para Nietzsche. A) É caracterizada pelo ódio aos instintos; negação da alegria. B) É negativa, baseada na negação dos instintos vitais. C) É transcendental; seus valores estão no além-mundo. D) É positiva, baseada no sim à vida. 2) UFU 2009 - 2 Leia atentamente o texto a seguir.

“O cristianismo, por sua vez, esmagou e alquebrou completamente o homem, e o mergulhou como que em um profundo lamaçal: então, no sentimento de total abjeção, fazia brilhar de repente o esplendor de uma piedade divina, de tal modo que o surpreendido, atendido pela graça, lançava um grito de embevecimento e por um instante acreditava carregar o céu inteiro em si.” NIETZSCHE, F. Humano, demasiado humano. Col. Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1987. p. 59.

Com base no texto de Nietzsche, responda as seguintes questões: A) O cristianismo pode ser considerado “moral do escravo” ou “moral do senhor”? B) Selecione uma frase do texto que apresenta a característica fundamental do cristianismo para Nietzsche. C) Com base na frase selecionada, explique se, para Nietzsche, o cristianismo é uma doutrina que nega ou que valoriza a força, a saúde e a vida. 3) Com base nos seus conhecimentos a respeito da filosofia de Nietzsche, comente a influência das narrativas mitológicas e as teorias do filósofo Alemão. 4) De acordo com as teorias de Friedrich Nietzsche discorra: a) Noção de Super-Homem b) Vontade de Potência

c) Apolíneo e Dionisíaco

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Assista o filme Clube da Luta e estabeleça uma possível relação entre a proposta filosófica de Friedrich Nietzsche e o enredo do filme

ATIVIDADES

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Vida e obras Jean-Paul Sartre nasceu em Paris, a 21 de junho de 1905, filho único, não chegou a conhecer o pai que morreu em 1906. Viveu a primeira infância com a mãe e os avós maternos em Maudon, Interior da França.

Segundo suas memórias, esse foi um período feliz, em que começou a ensaiar os primeiros passos na literatura, ainda menino, escrevia histórias de capa-espada para a mãe. Filósofo francês, pertencente à linha existencialista, ou seja, que defendem que no homem, a existência precede a essência; engajado, ateu, adepto das idéias marxistas, e foi um filósofo contemporâneo com grande notoriedade e fama internacional. Além de filósofo, foi romancista e teatrólogo e escreveu romances, peças de teatro, roteiros para cinema e textos de intervenção política. Sua produção intelectual foi fortemente marcada pela Segunda Guerra Mundial e pela ocupação nazista da França. Podemos dizer que há um Sartre de antes da guerra e outro do pós-guerra, tal o impacto da resistência Francesa sobre sua concepção política de engajamento. Ele foi, nesse século, o exemplo mais brilhante do intelectual engajado, isto é, do “homem de letras” que não se furta a usar sua autoridade intelectual como instrumento para agir sobre seu tempo. Engajamento significa a necessidade de o pensador estar voltado para a análise da situação concreta em que vive tornando-se solidário nos acontecimentos sociais e políticos de seu tempo. Pelo engajamento, a liberdade deixa de ser apenas imaginária e passa a estar situada e comprometida na ação. Lecionou em Liceus (escolas) e nunca almejou uma carreira universitária. Ao lado de Simone de Beauvoir, também filósofa existencialista e sua companheira de toda a vida, Sartre participou da vida política não só da França, mas mundial. Apesar de marxista, nunca deixou de criticar o autoritarismo, sobretudo quando as forças soviéticas invadiram a Tchecoslováquia. Saía à rua em protestos e, com a imunidade que lhe conferia a sua figura de cidadão do mundo, vendia nas esquinas (uma prática proibida) La Cause du Peuple (A Causa do Povo) Jornal maoísta, sem que ninguém ousasse prendê-lo. Em 1964, toma conhecimento de que pretendem conceder-lhe o Prêmio Nobel de Literatura. Escreve uma carta ao comitê em Estocolmo, informando que recusará o prêmio. Ainda assim, este lhe é concedido, mas Sartre mantém a recusa. Afirma que a outorga da distinção tem sido política, privilegiando escritores do Ocidente ou aqueles que, do bloco socialista, se

rebelaram. Segundo ele, o escritor não deve deixar-se transformar em instituição. Essa rejeição – Única no gênero – provoca discussão na mídia francesa e mundial aproxima novamente Sartre do grande público. Escreveu grandes obras como O ser e o nada (sua principal em 1943), A Náusea (um romance de 1938), O existencialismo é um humanismo (colocando o como centro do objeto de estudo), O idiota da família (sua última grande obra, sobre o escritor francês Flaubert, onde coloca em questão o homem singular), A cerimônia do adeus (poucos anos antes de sua morte, narrados por Simone de Beauvoir), As palavras (um pequeno livro de memórias de sua infância, publicado em 1963, que talvez o mais belo e o mais bem escrito de seus livros), dentre outros. Em 1973 fica completamente cego, o que o impedia de fazer o que mais gostava – escrever - e vítima de complicações renais, morre em Abril de 1980 aos 75 anos de idade. Seu enterro foi acompanhado por cerca de cinqüenta mil pessoas, que provavelmente se formaram à luz do mito Sartre.

Essência e Existência O existencialismo forjou uma das expressões mais conhecidas do vocabulário filosófico: “A existência precede a essência”. O que ela significa? Se pensarmos nos objetos que conhecemos, concluiremos que antes de existirem efetivamente, eles são concebidos segundo uma “receita” de como produzi-los, e têm uma finalidade preestabelecida (por exemplo, antes de se fazer um corta-papel, há uma concepção e uma técnica de como fazê-lo, e ele é feito com uma finalidade precisa que está na mente do fabricante antes que exista de fato como cortador de papel). Ou seja, antes de o corta-papel ser esse objeto que posso manipular, havia o projeto dele: sabíamos como produzi-lo e como utilizá-lo. Nesse caso, podemos dizer que a essência precede a existência.

JEAN-PAUL SARTRE (1905-1980)

PAPO DE SURDO E MUDO O Rappa

o nascimento de uma alma

é coisa demorada não é partido ou jazz em que se improvise não é casa moldada laje que suba fácil

a natureza da gente não tem disse me disse

(...)

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Ora, para o existencialismo esse raciocínio não pode ser aplicado aos seres humanos. Para compreendermos a razão disso, é preciso saber que o existencialismo sartriano é ateu. Assim, se não há um Deus criador, se não há um Deus para conceber o homem e para lhe dar uma finalidade prévia (tal como o artesão faz com o corta-papel), um Deus que construiria o homem à sua imagem e semelhança, então o homem simplesmente existe, e a sua “essência” será apenas aquilo que ele fizer de si mesmo, aquilo que ele se quiser. Por isso especifica que, ao contrário das coisas e animais, no homem a existência precede a essência, e isso “significa que o homem primeiramente existe, se descobre, surge no mundo; e que só depois se define. O homem, tal como o concebe o existencialista, se não é definível, é porque primeiramente não é nada. Só depois será alguma coisa e tal como a si próprio se fizer. Assim, não há natureza humana, visto que não há Deus para concebê-la. O homem é não apenas como ele se concebe, mas como ele quer ser, como ele se concebe depois da existência, como ele se deseja após este impulso para a existência; o homem não é mais do que ele faz. Tal é o primeiro princípio do conhecimento.” (J. P. Sartre, O existencialismo é um Humanismo). Isso significa que o homem é antes de tudo livre não há destino, vontade de Deus. Em todas as suas ações, o homem só pode contar consigo mesmo. Ora, isso implica uma nova responsabilidade. Não podemos mais aderir ao bem porque essa é a vontade de Deus e porque temos medo da punição divina. Ou seja, a moral tradicional, baseada nos valores cristãos, não serve para essa filosofia. Assim, o existencialismo filosófico chega à necessidade de se fundar uma nova moral, uma moral laica, sem Deus. O próprio filósofo procura lembrar que sua doutrina “não pode ajudar” aquelas pessoas ávidas de escândalo e agitação, que, ao contrário, o existencialismo. Sendo assim, o que tornou Sartre tão famoso, conhecido de um público que pouca ou nenhuma intimidade tinha com a filosofia? Qual é a diferença entre o homem e as coisas? É que só o homem é livre. O homem nada mais é do que o seu projeto. A palavra projeto significa, etimologicamente: “ser lançado adiante”, assim como sufixo ex da palavra existir significa “fora”. Ora, só o homem existe (existe) porque o existir do homem é um “para-si”, ou seja, sendo consciente, o homem é um “ser-para-si”, pois a consciência é auto-reflexiva, pensava sobre si mesma, é capaz de pôr-se “fora” de si. Portanto, a consciência do homem o distingue das coisas e dos animais, que são “em si”, como não são conscientes de si, também não são capazes de se colocar “do lado de fora” para se auto-examinarem. O que acontece ao homem quando se percebe “para-si”, aberto à possibilidade de construir ele próprio a sua existência? Descobre que, não havendo essência ou modelo para lhe orientar o caminho, seu futuro se encontra disponível e aberto, estando, portanto irremediavelmente “condenado a ser livre”. É

o próprio Sartre que cita a frase de Dostoiévski em Os irmãos Karamazov: “Se Deus não existe, então tudo é permitido”, para relembrar que os valores não são dados nem por Deus nem pela tradição: só ao próprio homem cabe inventá-los. Enfim, o existencialismo é uma moral da ação, porque considera que a única coisa que define o homem é o seu ato. Ato livre por excelência, mesmo que o homem sempre esteja situado em determinado tempo ou lugar. Não importa o que as circunstâncias fazem do homem, “mas o que ele faz do que fizeram dele”.

Homem x Coisas/animais

Coisas (‘em-si): não são livres, mas determinadas e

definidas (fechadas e, si mesmas).

Homem (‘para-si’): é indeterminado e indefinido. É

livre para fazer escolhas (criar essências e valores), pelas quais é responsável: a liberdade é o valor fundamental para a condição humana.

Liberdade e angústia

De todas as suas ações, apenas uma lhe é negada: a recusa de sua liberdade. Quando reconhece a dimensão de sua liberdade, se angustia. Angústia: tomada de consciência da liberdade. Suas ações sob sua total responsabilidade.

A má fé: a via do fingimento.

O homem não é “em - si”, ele é “para-si”, que a rigor não é nada, pois se a consciência não tem conteúdo, não é nada, não é coisa alguma. Mas esse vazio é justamente a liberdade fundamental do “para-si”, que, movendo-se através das possibilidades, poderá criar-lhe um conteúdo. Eis que o homem, ao experimentar a liberdade de ao sentir-se como um vazio, vive a angústia, fogem dela. A má fé é atitude característica do homem que finge escolher, sem na verdade escolher. Imagina que seu destino está traçado, que os valores são dados; aceitando as verdades exteriores, “mente” para si mesmo, simulando ser ele próprio o autor dos seus próprios atos já que aceitou sem críticas os valores dados. Não se trata propriamente de uma mentira, pois esta supõe os outros para quem mentimos, enquanto a má fé se caracteriza pelo fato de o indivíduo dissimular para si mesmo com o objetivo de evitar fazer uma escolha da qual possa se responsabilizar. O homem que recusa a si mesmo aquilo que fundamentalmente o caracteriza como homem, ou seja, a liberdade torna-se “safado”, “sujo”, pois nesse processo recusa a dimensão do “para-si” e torna-se “em-si”, semelhante às coisas. Perde a transcendência e reduz-se à facticidade.

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Sartre chama tal comportamento de espírito de seriedade. O homem sério é aquele que recusa a liberdade para viver o conformismo e a respeitabilidade da ordem estabelecida e da tradição. Esse processo é exemplificado no conto A infância de um chefe. A fim de ilustrar o comportamento de má fé, Sartre descreve o garçom cuja função exige que ele aja não como um “ser-para-si”, mas como um “ser-para-outro”, comporta-se como deve se comportar um garçom, de tal forma que ele se vê com os olhos dos outros. È assim que Sartre o descreve em O ser e o nada: Consideremos esse garçom de café. Tem um gesto vivo e apurado, preciso e rápido; dirige-se aos consumidores num passo demasiado vivo, inclina-se com demasiado zelo, sua voz e seus olhos experimentam um interesse demasiado cheio de solicitude para o pedido do freguês (...) Ele representa, brinca. Mas representa o quê? Não é preciso observá-lo muito tempo para perceber: ele representa ser garçom de café. Outro tipo de má fé da mulher que, estando com um homem, deixa-se "seduzir" por ele, dissimulando para si mesma, desde o início, o caráter sexual do encontro.

A responsabilidade; a relação com o outro e os outros.

Tais colocações a respeito do existencialismo poderiam fazer supor que se trata de um pensamento que depende o individualismo, em que cada um estaria preocupado com a própria liberdade e ação. Contra esse mal-entendido, Sartre adverte: “Mas se verdadeiramente a existência precede a essência, o homem é responsável por aquilo que é. Assim, o primeiro esforço do existencialismo é o de pôr todo homem no domínio do que ele é e lhe atribuir a total responsabilidade da sua existência. E quando dizemos que o homem é responsável por si próprio, não queremos dizer que o homem é responsável pela sua restrita individualidade, mas que é responsável por todos os homens. (...), com efeito, não há dos nossos atos um sequer que, ao criar o homem que desejamos ser, não crie ao mesmo tempo uma imagem do homem como julgamos que deve-ser. Escolher ser isto ou aquilo é afirmar ao mesmo tempo o valor do que escolhemos, porque nunca podemos escolher o mal, o que escolhemos é sempre o bem, e nada pode ser bom para nós sem que o seja para todos. Se a existência, por outro lado, precede a essência e se quisermos existir, ao mesmo tempo em que contribuímos a nossa imagem é válida para todos e para toda a nossa época. Assim, a nossa responsabilidade é muito maior do que poderíamos supor, porque ela envolve toda a humanidade”. Poderíamos até relacionar essa teoria sartriana com um dito popular que diz: “a minha liberdade termina onde começa a do outro”, pois, independente da liberdade que tenho, devo ter a responsabilidade de garantir também a liberdade das outras pessoas.

Se o homem é livre, é conseqüentemente responsável por tudo aquilo que escolhe e faz.

O absurdo: a morte O cristão encara a morte como o início de uma nova vida, onde passa o que é velho e tudo se faz novo na vida eterna. Ao vê-lo, caí como morto aos seus pés. Ele, porém, pôs sobre mim sua mão direita e disse: “Não temas! Eu sou o Primeiro e o Último, e o que vive. Pois estive morto, e eis-me de novo vivo pelos séculos dos séculos; tenho as chaves da morte e da região dos mortos (...)”. (Apocalipse 1,17-18). E ainda: Vi então, um novo céu e uma nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra desapareceram e o mar já não existia. Eu vi descer do céu, de junto de Deus, a Cidade Santa, a nova Jerusalém, como uma esposa ornada para o esposo. Ao mesmo tempo, ouvi do trono uma grande voz que dizia: “Eis aqui o tabernáculo de Deus com os homens. Habitará com eles e serão o seu povo, e Deus mesmo estará com eles. Enxugará toda a lágrima de seus olhos e já não haverá morte, nem luto, nem grito, nem dor, porque passou a primeira condição”. (Apocalipse 21,1-4). Alguns aceitam o fracasso de seus projetos, imaginando ter uma recompensa após a morte. Como por exemplo, se não são aprovados em alguma prova, ganham um salário ruim em seus empregos, abdicam de suas vidas em prol de cuidar de um parente enfermo ou outros fatores. Chegam até mesmo se sentirem confortados com a situação, pois, “bem aventurado os que choram, porque serão consolados”. (Mateus 5,4). Sartre também discute a questão da morte. Diferentemente de Heidegger, que concebe a morte como aquilo que confere significativo à vida, Sartre acha que ela lhe retira qualquer sentido. A morte é a “nadificação” dos nossos projetos, ou seja, a certeza de que um nada total nos espera. O conceito de náusea, usado no romance de mesmo nome, refere-se justamente ao sentimento experimentado diante do real, quando se toma consciência de que ele é desprovido de razão de ser, absurdo. Roquetin, a personagem principal do romance, numa célebre passagem, ao olhar as raízes de um castanheiro, tem a impressão de existir à maneira de uma coisa, de um objeto, de “estar-ai”, como as coisas são. Tudo lhe surge como pura contingência, gratuitamente, sem sentido. Por isso, Sartre conclui pelo absurdo da morte e, simultaneamente, da vida, que é uma “paixão inútil”: Se nós temos de morrer, a nossa vida não tem sentido, porque os seus problemas não recebem qualquer solução e porque até a significação dos problemas permanece indeterminada. É um absurdo saber, que quando morro, morre comigo os meus projetos.

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A existência precede a essência

Quando concebemos um Deus criador, esse Deus identificamo-lo quase sempre com um artíficie duma doutrina como a de Descartes ou a de Leibniz, admitimos sempre que a vontade segue mais ou

menos a inteligência ou pelo menos a acompanha, e que Deus, quando cria, sabe perfeitamente o que cria. Assim o conceito do homem, no espírito de Deus, é assimilável ao conceito de um corta-papel no espírito do industrial; e Deus produz o homem segundo técnicas e uma concepção, exatamente como o artífice fabrica um corta-papel segundo uma definição e uma técnica. Assim o homem individual realiza um certo conceito que está na inteligência divina. No século XVIII, para o ateísmo dos filósofos, suprime-se a noção de Deus, mas não a ideia de que a essência precede a existência. Tal ideia encontramo-la nós um pouco em todo o lado: encontramo-la em Diderot, em Voltaire e até mesmo num Kant. O homem possui um natureza humana; esta natureza, que é o conceito humano, encontra-se em todos os homens, o que significa que cada homem é um exemplo particular de um conceito universal – o homem; para Kant resulta de tal universalidade que o homem da selva, o homem, o homem primitivo, como o burguês, estão adstritos à mesma definição e possuem as mesmas qualidades de base. Assim, pois, ainda ai, a essência do homem precede essa existência histórica que encontramos na natureza. (...)

O existencialismo ateu, que eu represento, é mais coerente. Declara ele que, se Deus não existe, há pelo menos um ser no qual a existência precede a essência, um ser que existe antes de poder ser definido por qualquer conceito, e que este ser é o homem ou, como diz Heidegger, a realidade humana. Que significará aqui o dizer-se que a existência precede a essência? Significa que o homem primeiramente existe, se descobre, surge no mundo; e que só depois se define. O homem, tal como o concebe o existencialista, se não é definível, é porque primeiramente não é nada. Só depois será alguma coisa e tal como a si próprio se fizer. Assim, não há natureza humana, visto que não há Deus para concebê-la. O homem é não apenas como ele se concebe, mas como ele quer ser, como ele se concebe depois da existência, como ele se deseja após este impulso para a existência; o homem não é mais do que ele faz. Tal é o primeiro princípio do existencialismo. É também a isso que se chama subjetividade, e o que nos censuram sob este mesmo nome. Mas que queremos dizer nós com isso, senão que o homem tem uma dignidade maior do que uma pedra ou uma mesa? Porque o que nós queremos dizer é que o homem primeiro existe, ou seja, que o homem, antes de mais nada, é o que se lança para um futuro, e o que é consciente de se projetar no

futuro. (...) Mas se verdadeiramente a existência precede a essência, o homem é responsável por aquilo que é. Assim, o primeiro esforço do existencialismo é o de pôr todo homem no domínio do que ele é e de lhe atribuir a total responsabilidade da sua existência. E, quando dizemos que o homem é responsável por si próprio, não queremos dizer que o homem é responsável pela sua restrita individualidade, mas que é responsável por todos os homens. (SARTRE, Jean-Paul, O existencialismo é um

Humanismo. Col. Os pensadores. São Paulo, Abril Cultural,

1973. P.11-12).

1) Entre os tipos de existencialismo, destacamos:

a) o cristão e o humanista. b) o ateu e o idealista. c) o pernóstico e o humanista. d) o semita e o kantiano. e) o ariano e o cristão.

2) Assinale a alternativa que contenha a palavra final da seguinte frase: “Em Sartre, o existencialismo é um _________”. a) racionalismo. b) criticismo. c) idealismo. d) empirismo. e) humanismo.

3) Por que Sartre nega a existência de Deus?

4) O que é a má-fé para Sartre?

5) Assinale (V) ou (F) para as seguintes proposições do pensamento de Jean-Paul Sartre. ( ) Se o homem é livre e consciente, deve ser responsável

por suas escolhas e atitudes. ( ) A “má-fé” é a demonstração de que o homem quer ser e

também não quer ser o que ele é. Ele finge escolher sem, na verdade, escolher. Ele não quer se angustiar, mas não consegue. ( ) O homem é responsável por seus atos e jamais deve

considerar a liberdade de outrem, porque o outro nunca é livre. ( ) Para Sartre, a existência precede a essência.

6) (...) não encontramos, já prontos, valores ou ordens que possam legitimar a nossa conduta. Assim, não teremos nem atrás de nós, nem na nossa frente, no reino luminoso dos valores, nenhuma justificativa e nenhuma desculpa. Estamos sós, sem desculpas. É o que posso expressar dizendo que o homem está condenado a ser livre. Condenado, porque não se criou a si mesmo, e como, no entanto, é livre, uma vez que foi lançado no mundo, é responsável por tudo o que faz.

SARTRE, Jean-PauL. O existencialismo é um humanismo. 3. ed. São Paulo: Nova Cultural, 1987, p. 9.

Tomando o texto acima como referência, assinale a al-ternativa correta.

LEITURA COMPLEMENTAR:

ATIVIDADES

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a) Sartre afirma que o homem está condenado a ser livre e que, por esta razão, deve ser responsável por tudo o que acontece ao seu redor. b) Sartre considera que o homem não é responsável por seus atos, “porque não se criou a si mesmo”, sendo, por esta razão, totalmente livre. c) Ao dizer que “(...) não encontramos, já prontos, valores ou ordens que possam legitimar a nossa conduta”, Sartre defende que o existencialismo não admite qualquer valor, nem a liberdade. d) O existencialismo de Sartre defende a tese da absoluta responsabilidade do homem em relação aos atos que pratica, porque sua moral parte do princípio de uma liberdade perente e comprometida com o bem comum.

7) Por que, para Sartre, a liberdade gera angústia?

8) Explique por que Sartre considera que a existência precede a essência.

9) Segundo a filosofia de Sartre, estabeleça a distinção entre os homens e as coisas.

10) De acordo com a filosofia de Sartre estabeleça a relação entre liberdade e responsabilidade.

Introdução: Criticismo Kantiano Kant é considerado um autor crítico por ser o autor das grandes obras Crítica da Razão Pura, Crítica da Razão Prática e Crítica do Julgamento, acima citadas e por fazer uma síntese aperfeiçoada dos pensamentos de René Descartes (principal expoente do racionalismo) e de David Hume (principal expoente do empirismo). Para superar essa contradição, Kant explica que o conhecimento é constituído de matéria e forma. A matéria dos nossos conhecimentos são as próprias coisas e a forma somos nós mesmos. Para conhecer as coisas, precisamos ter delas uma experiência sensível, mas essa experiência não será nada se não for organizada por formas da nossa sensibilidade, as quais são a priori, ou seja, anteriores a qualquer experiência e condição da própria experiência. Assim, para conhecermos as coisas, temos de organizá-las a partir da forma a priori de espaço e tempo. Para Kant o espaço e o tempo não existem como realidade externa, são antes, formas que o sujeito põe nas coisas. Portanto, o nosso conhecimento experimental é um composto do que recebemos por impressões e do que nossa própria faculdade de conhecer de si mesma, tira por ocasião de tais impressões.

Revolução Copernicana Como vimos Kant ofereceu respostas aos problemas do inatismo/racionalismo e do empirismo. Essa solução ficou conhecida por “Revolução Copernicana em Filosofia”. Mas qual a relação entre Kant e o que fizera Copérnico quase dois séculos antes? Vejamos inicialmente e resumidamente o que foi a Revolução Copernicana na astronomia para em seguida vermos e que foi ela na filosofia. A tradição Antiga e Medieval considerava que o mundo possuía limites (finito), sendo formado por um conjunto de sete esferas concêntricas em cujo centro estava a Terra, imóvel. À volta da Terra giravam as esferas nas quais estavam presos os planetas (o Sol e a Lua eram considerados planetas). Em grego, Terra se diz gaia ou geia e como ela se encontrava no centro do universo, o sistema era chamado de geocêntrico e o mundo era explicado pelo geocentrismo. Por vezes, ocorriam alguns fatores que essa teoria não conseguia explicar. Copérnico demonstrou através de cinco fatores que o sistema geocêntrico era falso, criando assim a Revolução Copernicana. Vejamos:

O mundo não é finito, mas ao contrário, o universo é infinito;

Os astros não estão presos em esferas, mas fazem um movimento cuja forma é a de uma elipse;

TEORIA DO CONHECIMENTO

IMMANUEL KANT (1727-1804)

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O centro do universo não é a Terra e sim o Sol;

O sol não é um planeta e sim uma estrela e a Terra, como os outros planetas, gira ao redor dele e;

O Sol também se move, mas não em volta da Terra. Em grego, Sol se diz helios e por isso o sistema de Copérnico é chamado de heliocêntrica e sua explicação de heliocentrismo, pois, o Sol está no centro do nosso sistema planetário e tudo se move ao seu redor. Espelhando-se em Copérnico, Kant também inicia uma revolução, contudo, na Filosofia e ficou conhecida como Revolução Copernicana em Filosofia. Esse processo consiste na analise dos limites de nossa capacidade conhecer, pois ele concebia a filosofia como uma crítica do conhecimento a pesquisar a natureza e os limites da faculdade de o homem. Nessa perspectiva, em vez de colocar no centro a realidade objetiva ou os objetos do conhecimento, dizendo que são racionais e que podem ser conhecidos tais como são em si mesmos, comecemos colocando no centro a própria razão. Não é a razão a Luz Natural? Não é ela o Sol que ilumina todas as coisa em torno do qual tudo gira? Comecemos, portanto, pela Luz Natural no centro do conhecimento e indaguemos: O que é ela? O que ela pode conhecer? Quais são as condições para que haja conhecimento verdadeiro? Quais são os limites que o conhecimento humano não pode transpor? Como a razão e a experiência se relacionam? (CHAUÍ, 1997, p. 77)

A razão é uma estrutura vazia, forma pura, sem conteúdos e universal (a mesma para todos os seres humanos em todos os tempos e lugares) e é também inata (não é adquirida através da experiência) e por isso a razão é do ponto de vista do conhecimento, anterior à experiência (a priori). Porém, os conteúdos que a razão conhece e nos quais ela pensa, esses sim, dependem da experiência. Assim, a experiência fornece a matéria (os conteúdos) do conhecimento para a razão que por sua vez fornece a forma (universal e necessária) do conhecimento. A matéria do conhecimento é chamada por Kant de a posteriori, por ser concebida após a experiência sensível. Para Kant, sem o conhecimento racional não há nem Filosofia e nem ciência. Só há conhecimento quando a experiência oferece conteúdo à sensibilidade e ao entendimento. Conhecimento é a síntese que a razão realiza entre uma forma universal inata e um conteúdo particular oferecido pela experiência. Essa síntese é chamada por Kant de subsunção.

Filosofia transcendental O pensamento kantiano é conhecido como idealismo transcendental. Não possui nenhum objeto específico de estudo, é o próprio intelecto, a própria razão que gera o conhecimento. Não podemos confundir transcendente com transcendental. Transcendente é o que está fora de qualquer possibilidade de experiência sensível.

Transcendental (é o que nos interessa) é o tipo de experiência do a priori, ou seja, os conceitos produzidos pela razão. “Chamo transcendental não propriamente o conhecimento dos objetos, mas em geral, a maneira que temos de conhecê-los a priori”. O sujeito constrói o conhecimento e dá significado e sentido à realidade a partir de categorias subjetivas a priori (idealismo); o conhecimento não está voltado para os objetos, mas para o modo de conhecê-los apriorísticamente (transcendental). Kant afirma que nós percebemos a realidade a partir das formas a priori da sensibilidade: o espaço e o tempo. Com isso ele quer dizer que a nossa capacidade de representar as coisas se dá sempre no espaço e no tempo. As noções de espaço e tempo são “instituições puras”, pois, existem como representações básicas na nossa sensibilidade.

Fenômeno e Coisa em Si Kant afirma que possuímos duas formas de conhecimento: puro (a priori) e empírico (a posteriori). O conhecimento empírico é produzido pelo trabalho conjunto entre duas faculdades de conhecimento: entendimento e sensibilidade. A sensibilidade é a capacidade de obter representações por objetos. Pela sensibilidade nos são dados objetos e apenas ela nos fornece intuições. Pelo entendimento, os objetos são pensados e dele se originam conceitos. A intuição produzida pela sensibilidade nos permite conhecer a matéria (a única coisa que podemos conhecer através de suas representações materiais, que Kant chamou de “fenômeno”). Fenômeno é a matéria, “o que aparece”, é toda manifestação material dos corpos naturais, é o fato observável. Podemos conhecer apenas os fenômenos e eles só existem na medida em que “aparecem” para nós e de certa forma participamos da sua construção. Podemos citar o exemplo da chuva. Sinto cair em mim água através da minha sensibilidade e meu entendimento me faz acelerar o passo para que essa água não estrague minha roupa ou meu penteado. Esse exemplo pode ser citado como fenômeno, pois, a chuva se apresentou de fato para mim. Coisa em si ou noumeno é a forma e não é dada nem pela sensibilidade e nem pelo entendimento, mas é conceituada pela razão. Não é possível conhecer as coisas tais como são em si. Podemos citar um outro exemplo também relacionado com a chuva. Conhecemos o que é a chuva convencional (de água) e conhecemos também o significado de bênçãos. Se unirmos chuva e bênçãos, teremos a chuva de bênçãos, que materialmente não existe, não podemos senti-la, mas a nossa razão a construiu para fazer uma referência a obter sucesso em uma determinada ação ou projeto. Digo a alguém que vai fazer prova de vestibular: “caia sobre você uma chuva de bênçãos na hora da prova”.

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Todo conhecimento para Kant é constituído pela forma (a priori) do espírito e pela matéria (a posteriori) fornecida pela experiência sensível.

Juízos Kant tomou para si o encargo de reconstruir a ciência sobre novos alicerces, pois, os antigos foram abalados pelo ceticismo de alguns filósofos que o precederam (principalmente Descartes), que negavam a existência de juízos necessários e universais. Para a doutrina kantiana, não existe um mundo independente do sujeito cognoscente, ou seja, do indivíduo que conhece. O que existe, só existe relativamente a um sujeito que o capta. Para ele, o conhecimento só se expressa em forma de juízos. Mas afinal o que é um juízo? Quando estabelecemos uma afirmação ou negação entre duas idéias, estamos emitindo um juízo. Nos juízos se apresenta um vinculo entre dois termos: o sujeito (do qual se afirma ou se nega algo) e o predicado (que é aquilo que se afirma ou nega do sujeito). Os juízos se dividem em dois, analítico e sintético e se subdividem em mais dois, sintético a priori e sintético a posteriori. O juízo analítico é aquele em que o predicado já está contido no sujeito, ou seja, basta analisarmos o sujeito para deduzirmos o predicado. Exemplo: “o quadrado tem quatro lados iguais”. Analisando o sujeito (quadrado), concluímos necessariamente o predicado (tem quatro lados iguais). Ele serve apenas para tornar mais claro, para explicitar aquilo que já se conhece do sujeito. Não dependendo da experiência sensorial, o juízo analítico universal e necessário. Mas, a rigor é pouco útil, no sentido de que não conduz a novos conhecimentos. O juízo sintético é aquele em que o predicado não está contido no sujeito. Nesses juízos, acrescenta-se ao sujeito algo de novo, que é o predicado. Assim, os juízos sintéticos enriquecem nossas informações e ampliam o conhecimento. Exemplo: “os corpos se movimentam”. Por mais que analisemos o conceito corpos (sujeito), jamais extrairemos a informação representada pelo predicado (se movimentam). Isso porque os corpos podem não se movimentar e outras coisas também podem se movimentarem. Por depender da experiência sensorial, o juízo sintético, apesar de acrescentar novas informações ao sujeito, não é universal. Por isso, Kant não pôde encerrar aqui sua missão de reconstruir a ciência sobre novos alicerces, chegando ao conhecimento verdadeiro das coisas através dos juízos. A intenção era obter um juízo que fosse universal, assim como os analíticos, mas que ao mesmo tempo acrescentasse novas informações ao sujeito, assim como os sintéticos. Daí surge então mais duas subdivisões: os sintéticos a priori e os sintéticos a posteriori. Vejamos como são. Juízo sintético a posteriori é aquele em que o predicado completa o sujeito, mas só se sabe o complemente após a experiência. Exemplo: “a régua mede 15 cm”. Sabe-se que o sujeito (régua) possui um

comprimento (mede 15 cm), contudo, só se sabe o tamanho real após a experiência ou da informação dada, pois, assim como mede 15 cm, poderia ter uma outra medida qualquer. Juízo sintético a priori é o mais importante para Kant por dois motivos: a) Não estando limitado pela experiência é universal e necessário e b) Seu predicado acrescenta novas informações ao sujeito, possibilitando uma ampliação do conhecimento. Exemplo: “a reta é o caminho mais curto entre dois pontos”. Aprendemos na escola que a reta é o caminho entre dois pontos, mas a expressão (mais curto) é noção de espaço e está inserido em nós, pois, mesmo uma criança bem pequena ou alguém que nunca freqüentou escola, possui essa noção, o que reforça a afirmativa de que para ser uma reta, além de ser o caminho entre dois pontos, também tem que ser o caminho mais curto. Segundo Kant, a matemática e a física são disciplinas científicas por trabalharem com juízos sintéticos a priori. Esses juízos se fundamentam nos dados captados pelos sentidos e na organização mental desses dados, seguindo certas categorias apriorísticas do nosso entendimento.

1) São perguntas que podem resumir a preocupação filosófica de Kant, exceto:

a) O que se pode conhecer? b) Como agir? c) O que é maiêutica? d) O que esperar? e) O que é o homem?

2) Por que Kant critica a metafísica produzida até a época dele?

3) Qual é a relação entre a filosofia kantiana e as noções de “espaço” e “tempo”?

4) Por que a filosofia de Kant é conhecida como criti-cismo?

5) (UFU-MG) Assinale (V) ou (F) para as seguintes proposições, que se referem ao conceito de experiência elaborado por Immanuel Kant.

( ) O intelecto procura entender como as coisas são em si, porque os fenômenos são justamente a parte a priori da experiência. ( ) Kant define o mundo fenomenal a partir do tempo e do espaço enquanto formas puras da sensibilidade. ( ) As categorias com que o intelecto opera são todas extraídas da experiência.

ATIVIDADES

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( ) O conhecimento produzido pelas ciências é univer-sal porque independe da estrutura da experiência. ( ) Kant define a possibilidade da experiência a partir das categorias e das formas puras da sensibilidade.

NA NET

http://alrocha-antenacultural.com.br/

http://www.paralerepensar.com.br/

http://www.mundodosfilosofos.com.br/

http://www.indekx.com/

http://www.mundojovem.com.br/

NO RÁDIO

Society – Eddie Vedder

Carta aos missionários – Uns e outros

SUGESTÕES

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Φιλοσοφία

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O quadro abaixo apresenta a história da filosofia de maneira bastante simplificada, com o objeto de que vocês possam localizar com facilidade em que período da história da filosofia se localiza o pensador que estamos estudando ou algum outro pensador que seja do seu interesse. Assim, as características de cada etapa da história da filosofia que constam na última coluna do quadro abaixo devem ser tomadas apenas como indicações e não dão conta de toda complexidade de um período da história do pensamento humano.

Etapas Datas Aprox. Principais Autores e Escolas Algumas Características

Filosofia Antiga

séc.VI a.C.

/

séc. II - III d. C.

Tales, Anaximandro,

Pitágoras, Demócrito,

Heráclito, Parmênides,

sofistas, Sócrates, Platão,

Aristóteles, estóicos,

epicuristas, céticos, Cícero,

Sêneca, Plotino

- Diálogo com o mito

- Tentativa de compreender

(lógos, noêin) o princípio

(arché) do real (ón), da

natureza (physis)

- Questionamento do ser do

homem (ánthropos)

Filosofia Medieval

séc. II - III

/

séc. XV

Clemente, Orígenes,

Gregório de Nissa,

Agostinho, Anselmo de

Aosta, Pedro Abelardo,

Alberto Magno, Tomás de

Aquino, Boaventura, Duns

Scoto, Guilherme de

Ockham

- Busca da conciliação entre

as verdades da fé e as

verdades da razão (ratio)

- Teocentrismo

Filosofia Moderna

séc. XVI

/

séc. XVIII

Bacon, Descartes, Leibniz,

Spinosa, Pascal, Hobbes,

Locke, Hume, Montesquieu,

Rousseau, Voltaire, Kant

- Distanciamento ente fé e

razão

- Rejeição do passado

- Desenvolvimento da crítica

- Confiança na razão

Filosofia Contemporânea

séc. XIX

/

Hoje

Fichte, Schelling, Hegel,

Marx, Kierkegaard, Comte,

Schopenhauer, Nietzsche,

Bergson, Husserl, Scheler,

Jaspers, Heidegger, Sartre,

Frege, Russel, Foucault,

Deleuze, Lukács, Escola de

Frankfurt

- Pluralismo de idéias

- Historicidade

- Fenomenologia

- Questionamento da

existência

- Filosofia (analítica) da

linguagem

- Pós-modernidade

QUADRO DA HISTÓRIA DA FILOSOFIA

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Edições Didáticas do Sistema COC de ensino. 1º Ano do Ensino Médio. Ribeirão Preto.

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda & MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: introdução à

filosofia. São Paulo: Moderna, 2006

ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Tradução: Leonel Vallandro e Gerd Bornheim da versão inglesa de

W. D. Ross. SP: Nova Cultural, 1987. (Coleção Os Pensadores).

ARISTÓTELES. Política.

CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 1997.

COTRIM, Gilberto. Filosofia temática. São Paulo: Saraiva, 2008.

DIMENSTEIN, Gilberto. Dez lições de filosofia. São Paulo: FTD, 2008.

HOBBES, T. Leviatã. Organizado por Richard Tuck. Tradução de João Paulo Monteiro, Maria Betariz

Nizza da Silva; revisão da tradução Eunice Ostrensky. São Paulo: Martins Fontes, 2003

INCONTRI, Dora; BIGHETO, Alessandro Cesar. Filosofia: Construindo o Pensar. São Paulo: Escala,

2008.

MARX, Karl. Contribuição à Crítica da Economia Política. São Paulo: Martins Fontes, 1977.

MARX, Karl & ENGELS, Friedrich. A Ideologia Alemã. São Paulo: Ciências Humanas, 1979.

MARX, Karl. O Capital. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1980.

ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os

homens. São Paulo: Abril Cultural, 1978. [OS PENSADORES]

ROUSSEAU, Jean-Jacques. O Contrato Social. São Paulo: Abril Cultural, 1978. [OS PENSADORES]

NIETZSCHE, Friedrich. Crepúsculo dos ídolos ou como se filosofa com um martelo. Tradução,

apresentação e notas de Renato Zwick. Porto Alegre, RS: L&PM, 2009. (Coleção L&PM Pocket, v.799)

___________________. Humano, demasiado humano. Um livro para espíritos livres.

___________________. Obras incompletas. Seleção de textos de Gerárd Lebrun; tradução e notas de

Rubens Rodrigues Torres Filho; posfácio de Antônio Cândido de Mello e Souza. 2 ed. São Paulo: Abril

Cultural, 1978. (Coleção Os Pensadores)

___________________. Assim falou Zaratustra. Um livro para todos e para ninguém. Tradução de

Mário da Silva. São Paulo: Círculo do Livro, [s.d.].

SARTRE, Jean-Paul. O existencialismo é um humanismo. São Paulo: Abril Cultural, 1978. (Coleção Os

Pensadores)

_________________. O ser e o nada.

REFERÊNCIAS