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Carlos Eduardo Cardoso Fedeli

Expressão de um gene codificador de cisteína proteinase de Leishmania (Leishmania) amazonensis em sistema bacteriano e

avaliação das respostas imunes induzidas pela proteína recombinante em modelo murino

Tese apresentada à Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina para a obtenção do título de Mestre em Ciências.

São Paulo 2007

Carlos Eduardo Cardoso Fedeli

Expressão de um gene codificador de cisteína proteinase de Leishmania (Leishmania) amazonensis em sistema bacteriano e

avaliação das respostas imunes induzidas pela proteína recombinante em modelo murino

Orientadora: Profa. Dra. Clara Lúcia Barbiéri Mestriner

Tese apresentada à Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina para a obtenção do título de Mestre em Ciências.

São Paulo 2007

Fedeli, Carlos Eduardo Cardoso Expressão de um gene codificador de cisteína

proteinase de Leishmania (Leishmania) amazonensis em sistema bacteriano e avaliação das respostas imunes induzidas pela proteína recombinante em modelo murino/Carlos Eduardo Cardoso Fedeli. -- São Paulo, 2007.

xv, 71f.

Tese (Mestrado) – Universidade Federal de São Paulo. Escola Paulista de Medicina. Programa de Pós-Graduação em Microbiologia e Imunologia.

Título em inglês: Expression in bacteria of a gene

encoding a cysteine proteinase from Leishmania (Leishmania) amazonensis and evaluation of the immune responses induced by the recombinant protein in a murine model.

1. Leishmania (L.) amazonensis. 2. leishmaniose cutânea.

3. cisteína proteinase. 4. resposta imune.

Trabalho realizado na Disciplina de Parasitologia do Departamento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia da Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina, com auxílios financeiros concedidos pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).

Agradecimentos

À minha orientadora Profa. Dra. Clara Lúcia Barbiéri Mestriner pelo apoio,

dedicação, paciência e por ter aberto um novo mundo para mim. Agradeço também

por transmitir seu conhecimento tornando-me um profissional melhor.

À Profa. Dra. Ieda Maria Longo Maugéri, à Juliana S. Mussalem e à Carla

Cristina Squaiella pela ajuda imprescindível nos experimentos de citometria de fluxo.

À Profa. Dra. Márcia Regina Machado dos Santos e à Luciana Girotto Gentil

pelo auxílio nos experimentos de subclonagem e expressão do gene Lacys24.

Aos amigos do laboratório Érico, Josie, Paulo, Simone e Suzana que sempre

me ajudaram na realização desse trabalho. Agradeço pelo apoio, confiança e pelas

risadas que demos juntos.

Aos meus pais Marcelo e Lígia que sempre fizeram de tudo para que eu e

meus irmãos nos tornássemos acima de tudo pessoas de bem e por sempre nos

terem incentivado ao estudo.

Aos meus queridos irmãos Marcelo, Cláudia, Teresa, Luís e Cecília que

sempre me ajudaram e me aconselharam nos momentos mais difíceis de minha

vida.

Aos meus sobrinhos Bruna, Mateo, Marcela, Alexandre, Felipe, Gabriel e

Teresa.

Ao meu avô Carlos. Aos meus avós Guilhermo, Maria e Tósca, in memorian.

Aos meus tios, Otávio, Carlito, Teresa, Vera, Mariângela, e Luís.

A todos os meus primos.

Aos meus cunhados Maurício, Shirlei e Paulinha que se tornaram meus

irmãos também.

Aos Professores da Disciplina de Parasitologia da Universidade Federal de

São Paulo, Dra. Nobuko Yoshida, Dr. Renato Arruda Mortara, Dr. José Franco da

Silveira, Dr. Maurício Martins Rodrigues e Dr. Michel P. Rabinovitch.

A todos os amigos da Disciplina de Parasitologia Fernando, Ketna, Kendi,

Solange, Miriam, Cláudio, Cecília, Emanuelle, Vanessa, Mauro, Daniele, Charles,

Silene, Renata Baida, Renata Torres, Luciana, Esteban, Roberto, Fábio, Marjorie,

Fanny, Adilson, Sandrinha, Cidinha, Dona Fátima, Mércia e Regiane.

Aos meus irmãos de escolha João, Bruno, Sandro, Alexandre, Andrey,

Juliana, Tita e Rogério, que sempre fizeram parte da minha vida.

Aos meus amigos Mônica, João e Thays por terem me deixado escrever estes

agradecimentos em horário de serviço.

À minha sogra Vera e ao meu cunhado Maurício.

Aos animais de laboratório que contribuem para o desenvolvimento da

pesquisa.

À CAPES pelo apoio financeiro para a realização desse estudo.

Para encerrar agradeço especialmente a Deus, à minha esposa Renata e ao

meu filho Pedro.

Abreviaturas

ACF Adjuvante completo de Freund

AcMo Anticorpo monoclonal

AM Amastigota

CM Controle: células + meio

DAB Diaminobenzidina

DMSO Dimetilsulfóxido

DNA Ácido desoxirribonucléico

DO Densidade óptica

EDTA Ácido etileno diamino tetracético

ELISA Ensaio imunoenzimático

g Grama

g Aceleração da gravidade (9,8 m/s2)

h Hora

IFN-γ Interferon-gama

IL-4 Interleucina-4

IL-10 Interleucina-10

IPTG Isopropil-µ-D-tiogalactopiranosídeo

kDa Kilodalton

l Litro

LB Luria Bertani

LBamp LB contendo ampicilina 100µg/mL

LPS Lipopolissacarídeo

min Minuto

M Molar

mA Miliamper

mg Miligrama

MHC Complexo principal de histocompatibilidade

ml Mililitro

mM Milimolar

mV Minivolt

ng Nanograma

OPD O-fenilenodiamina

P. acnes Propionibacterium acnes

PAGE-SDS Eletroforese em gel de poliacrilamida contendo SDS

PBS Salina em tampão fosfato 10 mM, pH 7,2

PCR Reação da polimerase em cadeia

rpm Rotações por minuto

RNA Ácido ribonucléico

SDS Dodecil sulfato de sódio

seg Segundo

TEMED N, N, N’, N’ - tetrametilenodiamina

Th1 Linfócito T helper 1

Th2 Linfócito T helper 2

TNF-α Fator de necrose tumoral-alfa

Tris Tris [hidroximetilaminometano]

U Unidade

UV Luz ultravioleta

v Volume

V Volt

µg Micrograma

µl Microlitro

µM Micromolar

Sumário

Resumo.................................................................................................................. 001

Abstract...................................................................................................................004 Introdução...............................................................................................................007 1. Aspectos gerais....................................................................................................008

2. Respostas imunes nas leishmanioses.................................................................010

3. Respostas imunes à L. (L.) amazonensis em modelo murino..............................012

4. Antígenos protetores nas leishmanioses..............................................................014

5. Cisteína proteinases de Leishmania....................................................................016

Objetivos.................................................................................................................020 Materiais e Métodos...............................................................................................022 1. Obtenção de formas amastigotas de L. (L.) amazonensis...................................023

2. Animais de experimentação.................................................................................023

3. Extração de ácidos nucléicos...............................................................................024

4. Amplificação da região codificadora do clone Lacys24 de L. (L.) amazonensis por

PCR..........................................................................................................................024

5. Bactérias e plasmídios.........................................................................................025

5.1. Bactérias.................................................................................................025

5.2. Plasmídios..............................................................................................026

6. Clonagem gene Lacys24 no vetor Topo 2.1 e subclonagem no vetor de expressão

pHIS..........................................................................................................................026

6.1. Preparação das bactérias competentes.................................................027

6.2. Transformação das bactérias competentes com o DNA plasmidial.......027

6.3. Purificação do DNA plasmidial................................................................027

7. Seqüenciamento dos clones recombinantes Topo 2.1/Lacys24......................... 028

7.1. Preparação do gel para o sistema ABI/Prisma 377................................029

8. Expressão e purificação da proteína recombinante 029

8.1. Análise de proteínas por eletroforese em gel de poliacrilamida

com SDS (PAGE-SDS)............................................................................030

9. Reatividade da proteína recombinante com anticorpos anti-cisteína proteinase.030

9.1. Produção de anticorpos policlonais anti-rLacys24.................................030

9.2. ELISA......................................................................................................031

9.3. “Western blotting”....................................................................................031

10. Avaliação da resposta imune estimulada pela rLacys24....................................032

10.1. Imunização dos animais com a rLacys24.............................................032

10.2. Análise das populações de linfócitos estimuladas pela rLacys24........032

10.3. Ensaio de citotoxicidade pelo método do cristal violeta.......................033

10.4. Ensaios por “Enzyme-linked immunospot” (ELISPOT).........................034

11. Imunização ativa.................................................................................................035

11.1. Imunização de camundongos BALB/c com a rLacys24 e desafio dos

animais com a L. (L.) amazonensis...............................................................035

11.2. Imunização de camundongos BALB/c com a rLacys24, a rLdccys1 ou os

dois antígenos recombinantes.......................................................................035

12. Análise estatística...............................................................................................036

Resultados..............................................................................................................037 1. Seqüenciamento do clone Lacys24 no vetor Topo 2.1........................................038

2. Subclonagem do gene Lacys24 de L. (L.) amazonensis em vetor de expressão e

análise da proteína recombinante............................................................................042

3. Respostas imunes celulares induzidas pela rLacys24.........................................045

4. Ensaio de citotoxicidade com linfócitos de camundongos imunizados com a

rLacys24...................................................................................................................048

5. Imunização ativa de camundongos BALB/c com a rLacys24...............................049

6. Imunização ativa com a rLacys24 e a rLdccys1 de L. (L.) chagasi......................051

Discussão................................................................................................................056 Referências Bibliográficas....................................................................................064

Resumo

Resumo

1

Resumo

O enfoque do nosso trabalho foi avaliar a antigenicidade de uma cisteína

proteinase recombinante de Leishmania (Leishmania) amazonensis e a capacidade

protetora desse antígeno contra a infecção homóloga em camundongos BALB/c.

Um fragmento de 500 pb do gene Lacys24, codificador de uma isoforma de

cisteína proteinase de L. (L.) amazonensis previamente clonado em nosso

laboratório, foi subclonado e expresso no vetor bacteriano pHis, originando uma

proteína recombinante de 24 kDa, rLacys24. Por experimentos de “Western blotting”

foi demonstrado que anticorpos produzidos contra essa proteína reconhecem uma

banda de 30 kDa do extrato de amastigotas de L. (L.) amazonensis, indicando que a

rLacys24 corresponde a uma isoforma de cisteína proteinase de 30 kDa

abundantemente expressa nesses parasitas.

A antigenicidade da rLacys24 foi avaliada pela análise das populações de

linfócitos dos camundongos BALB/c previamente imunizados com a proteína

recombinante mais Propionibacterium acnes ou adjuvante completo de Freund

(ACF) como adjuvantes. A análise por citometria de fluxo dos linfócitos provindos

dos linfonodos inguinais e poplíteos dos animais imunizados com a rLacys24 + ACF

por via subcutânea mostrou um aumento significante da expressão de linfócitos

CD8+ comparada à dos controles que receberam apenas ACF. Quanto à CD4+, não

houve diferença na expressão dessa população de linfócitos entre os controles e os

animais imunizados com a rLacys24. Por outro lado, foi baixa a expressão de

linfócitos CD4+ e CD8+ no baço dos camundongos imunizados com a rLacys24 + P.

acnes pela via intraperitoneal.

O ensaio de citotoxicidade dos linfócitos dos camundongos imunizados com a

rLacys24 + ACF foi realizado utilizando-se como células-alvo macrófagos peritoneais

de camundongos BALB/c infectados com L. (L.) amazonensis. A lise dos macrófagos

infectados na presença dos linfócitos dos animais imunizados com a rLacys24 foi

significantemente maior que a observada quando as células-alvo foram incubadas

com os linfócitos dos animais controle.

A imunização ativa dos camundongos BALB/c com a rLacys24 + ACF resultou

em pequeno, porém significante decréscimo das lesões das patas dos animais após

o desafio com a L. (L.) amazonensis, enquanto que nos animais imunizados com a

rLacys24 + P. acnes as lesões apresentaram aumento gradativo até três meses

após o desafio.

2

Resumo

3

No outro esquema de imunização avaliado, os animais foram imunizados com

a cisteína proteinase de amastigotas de L. (L.) chagasi, rLdccys, além da rLacys24,

e P. acnes como adjuvante e desafiados com a L. (L.) amazonensis. A avaliação das

respostas imunes dos animais imunizados foi realizada por citometira de fluxo e pela

detecção por ELISPOT de IFN-γ, IL-4 e IL-10 nas culturas dos linfócitos dos animais

três meses após o desafio. Em todos os animais imunizados houve predomínio da

expressão de linfócitos CD4+, enquanto que a dos linfócitos CD8+ foi baixa (em torno

de 8-10%). IFN-γ foi secretado pelos linfócitos isolados de todos os animais

estudados, não tendo havido diferenças significantes na secreção dessa linfocina

entre os animais imunizados com os antígenos recombinantes e os controles que

receberam apenas a P. acnes. Enquanto IL-10 não foi detectada nas culturas de

linfócitos de nenhum dos animais imunizados, IL-4 foi secretada pelos linfócitos de

todos os animais estudados. Entretanto, a expressão da IL-4 foi significantemente

menor nas culturas de linfócitos dos animais imunizados com os antígenos

recombinantes comparada à dos controles. Não foram observadas diferenças do

tamanho das lesões das patas dos camundongos imunizados com os antígenos

recombinantes em relação aos controles, sendo esses resultados confirmados

quando a infecção dos animais foi avaliada pelo crescimento em meio axênico dos

parasitas isolados das lesões.

Apesar da reduzida proteção conferida pela rLacys24, os dados do presente

trabalho sugerem que esse antígeno pode ser útil em novos esquemas de

imunização que induzam respostas mediadas por linfócitos CD4+ e CD8+ mais

eficazes contra a infecção pela L. (L.) amazonensis.

Abstract

4

Abstract

Our work focused on the antigenicity of a recombinant cysteine proteinase

from Leishmania (Leishmania) amazonensis and on the protective role of this antigen

in the infection of BALB/c mice with the parasite.

A 500 bp fragment from the Lacys24 gene, encoding an isoform of cysteine

proteinase from L. (L.) amazonensis previously cloned in our laboratory, was

subcloned and expressed in the pHis vector, resulting in a recombinant protein of 24

kDa, rLacys24. In Western blots of L. (L.) amazonensis extracts, antibodies directed

to the rLacys24 antigen recognized a 30 kDa band identified as an isoform of

cysteine proteinase abundantly expressed in these parasites.

The antigenicity of the rLacys24 was evaluated by analysis of the T

lymphocyte profile in BALB/c mice previously immunized with this recombinant

protein plus either Propionibacterium acnes or Freund’s complete adjuvant (CFA).

Lymphocytes isolated from the popliteal and inguinal lymph nodes of animals

immunized with rLacys24 plus CFA by the subcutaneous route were analysed by

fluorescence-activated cell sorter (FACS). A significantly higher expression of CD8+

lymphocytes was observed in animals immunized with rLacys24 plus CFA compared

to the controls which received CFA alone. In contrast, a low expression of CD4+

lymphocytes was observed in these animals. On the other hand, the expression of

CD4+ and CD8+ lymphocytes there was lower in spleens from animals immunized

with rLacys24 plus P. acnes by intraperitoneal route.

The cytotoxicity of lymphocytes isolated from mice immunized with rLacys24

plus CFA was assyed by use of L. (L.) amazonensis-infected macrophages as the

target cells. The cytotoxicity of lymphocytes from rLacys24-immunized mice was

significantly higher than that observed when the target cells were incubated with

lymphocytes from control animals.

Active immunization of BALB/c mice with rLacys24 plus CFA resulted in a low

but significant decrease of foot lesions after challenge with L. (L.) amazonensis in

comparison with the lesion size in control mice. In contrast, there was a similar

increase of foot lesions among mice immunized with rLacys24 plus P. acnes or with

P. acnes alone.

In another immunization protocol, animals were immunized with a recombinant

cysteine proteinase from L. (L.) chagasi, rLdccys1, besides rLacys24, plus P. acnes

as the adjuvant. Immune responses were evaluated by FACS and ELISPOT for

detection of IFN-γ, IL-4 and IL-10 in lymphocyte cultures from animals three months

5

Abstract

6

after challenge with L. (L.) amazonensis. All of the immunized animals showed a

predominance of T CD4+ lymphocytes and a low expression of CD8+ (8-10%). IFN-γ

was secreted by lymphocytes isolated from all immunized animals and there were no

significant differences of IFN-γ secretion among animals immunized with the

recombinant antigens or with P. acnes alone. IL-10 was not detected in lymphocyte

cultures from the immunized animals. However, IL-4 expression was significantly

lower in lymphocyte cultures from animals immunized with the recombinant antigens

compared to the controls. There were no significant differences in foot lesion size

from BALB/c mice immunized with the recombinant antigens compared to the

controls; these results were confirmed by estimates of parasites isolated from the foot

lesions.

In spite of the low protection conferred by the rLacys24, our data suggest that

this recombinant antigen may be useful in new immunization schedules aiming to

elicit more efficient CD4+ and CD8+ protective responses against L. (L.) amazonensis

infection.

Introdução

7

Introdução

1. Aspectos gerais As leishmanioses compreendem um grupo de parasitoses causadas por várias

espécies de protozoários do gênero Leishmania. Estima-se que existam atualmente 12

milhões de casos de leishmanioses, com mortalidade anual de aproximadamente

60.000. Segundo a Organização Mundial de Saúde as leishmanioses ocorrem em 88

países e sua notificação é compulsória em apenas 30 deles. Anualmente surgem 2

milhões de novos casos e 350 milhões de pessoas encontram-se sob o risco de

adquirir alguma forma da doença (WHO, 2001). A coinfecção Leishmania/HIV agrava

ainda mais esse quadro, considerando-se o número de pessoas HIV positivas

(Desjeux, 2004).

O gênero Leishmania pertence à ordem Kinetoplastida, família

Trypanosomatidae, e compreende parasitas digenéticos que se desenvolvem

alternadamente em hospedeiros vertebrados mamíferos e insetos vetores. Nos

hospedeiros mamíferos, entre eles o homem, os parasitas assumem a forma

amastigota, arredondada e imóvel, que se multiplica obrigatoriamente dentro de células

do sistema monocítico fagocitário em um vacúolo parasitóforo. À medida que os

amastigotas se multiplicam por divisão binária os macrófagos se rompem liberando os

parasitas que são fogocitados por outros macrófagos. Os vetores das leishmanioses

são representados por insetos dípteros da sub-família Phlebotominae (gênero

Lutzomya nas Américas e Phlebotomus no Velho Mundo). Nos flebotomíneos os

parasitas vivem no trato digestivo onde as formas amastigotas, ingeridas durante o

repasto sangüíneo em um hospedeiro mamífero infectado, diferenciam-se em

promastigotas, formas alongadas, flageladas e móveis. Os promastigotas são

inoculados pela fêmea do vetor juntamente com a saliva na pele dos mamíferos

durante a picada, completando o ciclo. Além do homem, vários mamíferos são

suscetíveis à infecção por Leishmania. Entre esses alguns representam reservatórios

importantes das leishmanioses, principalmente os roedores silvestres, edentados (tatu,

tamanduá, preguiça), marsupiais (gambá) e canídeos. O ciclo biológico de Leishmania

está representado na Figura 1.

8

Introdução

Figura 1. Ciclo biológico de Leishmania spp. Entre os hospedeiros mamíferos

destacam-se o homem e os vários reservatórios das leishmanioses (adaptado de

Handman, 2001).

9

Introdução

Existem mais de 20 espécies de Leishmania capazes de infectar o homem e sua

diferenciação se baseia em características extrínsecas (quadro clínico da doença,

distribuição geográfica, epidemiologia) e intrínsecas (tamanho, forma e estrutura

molecular dos parasitas).

As várias formas clínicas das leishmanioses dependem da espécie do parasita,

carga genética do hospedeiro e imunidade adquirida durante o desenvolvimento da

doença. As formas cutâneas, caracterizadas por lesões de pele, são causadas por

espécies pertencentes aos complexos Leishmania (Leishmania) mexicana e

Leishmania (Viannia) braziliensis nas Américas [L. (L.) amazonensis, L. (V.) guyanensis

e L. (V.) braziliensis no Brasil] e ao complexo L. (L.) tropica no Velho Mundo [L. (L.)

tropica e L. (L.) major, entre outras]. A forma cutânea difusa, que apresenta lesões

crônicas e disseminadas, no Brasil é causada pela L. (L.) amazonensis, enquanto que

o agente da leishmaniose mucocutânea, forma invasiva e mutilante, é a L. (V.)

braziliensis em nosso país. A forma visceral, também conhecida como calazar, é

causada por espécies do complexo Leishmania (Leishmania) donovani [L. (L.)

donovani e L. (L.) infantum no Velho Mundo e L. (L.) chagasi nas Américas].

Os últimos dados epidemiológicos registrados pela Organização Mundial da

Saúde revelam que os países em que se encontram mais de 90% dos casos de

leishmanioses cutâneas são Irã, Arábia Saudita, Afeganistão, Síria, Argélia, Brasil e

Peru e que 90% dos casos de leishmaniose visceral estão concentrados em

Bangladesh, Brasil, Índia, Nepal e Sudão.

O grande número de casos existente e o fato de representarem parasitoses cuja

incidência está aumentando tornam as leishmanioses um grande desafio de saúde

pública e justificam o investimento que tem sido aplicado para o estudo dessas

parasitoses.

2. Respostas imunes nas leishmanioses

De forma geral, as respostas protetoras contra as leishmanioses estão

associadas à imunidade clássica mediada por células, enquanto que a suscetibilidade é

relacionada a uma forte resposta humoral na ausência de resposta celular. A resposta

imune nas leishmanioses é dependente da espécie do parasita e do genótipo do

hospedeiro e várias linhagens de camundongos são utilizadas nos estudos de

10

Introdução

imunidade à Leishmania. O modelo murino utilizado como o protótipo de suscetibilidade

ou resistência à Leishmania foi estabelecido com a espécie Leishmania (L.) major.

Nesse modelo, observou-se que camundongos resistentes desenvolvem resposta

mediada por linfócitos T CD4+ da subpopulação Th1, produtores de IFN-γ, IL-2 e TNF-α

(Heinzel et al, 1989; Wang et al, 1994). O IFN-γ ativa macrófagos que, por sua vez,

passam a produzir óxido nítrico (NO) e produtos reativos de oxigênio (H2O2 e O2-) que

são os principais compostos envolvidos com a morte dos amastigotas intracelulares

(Murray et al., 1982; Liew et al., 1990). Por outro lado, em camundongos suscetíveis a

resposta é mediada por linfócitos T da subpopulação Th2, produtores de IL-4, IL-5, IL-

10 e IL-13, resultando na inativação de macrófagos (Sadick et al, 1990; Chatelain et al,

1992; Kopf et al, 1996).

Em L. (L.) major, os estudos sugerem que o fenótipo de suscetibilidade, com a

geração de células de perfil Th2, não é derivado do fenômeno de produção precoce de

IL-4 em resposta a antígenos parasitários, mas sim da falha em produzir ou responder

à IL-12 (revisado por McMahon-Pratt & Alexander, 2004). Considerando o ambiente de

citocinas gerado durante a resposta imune, a IL-12 parece ser primordial na indução do

fenótipo resistente em camundongos. A depleção de IL-12, por meio de técnicas

genéticas ou de neutralização por anticorpos, mostra que os camundongos resistentes

adquirem um fenótipo suscetível, enquanto que os animais suscetíveis quando tratados

com IL-12 desenvolvem resistência à infecção por L. (L.) major. No ambiente da

resposta imune inata a IL-12, produzida principalmente por células dendríticas e às

vezes com o auxílio da IL-18, ativa células NK (“Natural Killer”) a produzirem IFN-γ que

influencia não somente a resposta inata, mas também a resposta Th1. O IFN-γ medeia

a proteção induzindo a expressão da iNOS2 (óxido nítrico sintase-2 indutível) e a

produção de NO pelos macrófagos (revisado por Scott et al., 2004).

A IL-10 produzida por linfócitos Th2 está intimamente relacionada à

suscetibilidade. Em experimentos com camundongos BALB/c suscetíveis à infecção

por L. (L.) major foi demonstrado que aqueles deficientes em IL-10 eram capazes de

controlar a doença, desenvolvendo lesões relativamente pequenas. Quando foi

estudado o mecanismo de resposta de macrófagos à infecção por L. (L.) major in vitro,

observou-se que os amastigotas opsonizados por IgG murino eram fagocitados pelos

macrófagos via receptor Fcγ com produção de grandes quantidades de IL-10, indicando

que a sobrevivência e multiplicação dos amastigotas seriam facilitadas pela

11

Introdução

desativação dos mecanismos microbicidas do macrófago sob o efeito da IL-10 (Kane &

Mosser, 2001).

Considerando que a IL-10 é tão importante quanto a IL-4, resta saber se são

apenas os linfócitos T CD4+ de perfil Th2 que estão produzindo essa citocina ou se

outras populações de linfócitos T também contribuem para essa produção, culminando

na suscetibilidade gerada em camundongos. Uma possibilidade para a fonte de IL-10

são os linfócitos T CD4+CD25+, denominados células reguladoras (Treg), que ocorrem

naturalmente em modelos suscetíveis e resistentes à infecção por L. (L.) major. Essas

células constituem 5-10% das células do sangue periférico de seres humanos e

camundongos e expressam constitutivamente a cadeia α do receptor da IL-2 (CD25).

Em camundongos BALB/c suscetíveis à infecção por L. (L.) major essas células

reguladoras agem prevenindo uma resposta exarcebada do tipo Th2, enquanto que nos

camundongos C57BL/6, resistentes, elas controlam a resposta imune protetora Th1,

permitindo a persistência parasitária e ao mesmo tempo mantendo a resposta imune

efetora de memória (Belkaid, 2003).

3. Respostas imunes à L. (L.) amazonensis em modelo murino

A L. (L.) amazonensis é responsável por uma forma cutânea de leishmaniose,

porém as respostas imunes desencadeadas contra essa espécie apresentam um

padrão bem diferente do descrito para L. (L.) major. Ao contrário dos camundongos

infectados com L. (L.) major, em que ocorre uma diferenciação polarizada a Th1 e Th2,

respectivamente, em animais resistentes e suscetíveis, os camundongos suscetíveis à

L. (L.) amazonensis não apresentam uma resposta Th2 exacerbada (Afonso e Scott,

1993; Soong et al.,1996) e são capazes de gerar respostas do tipo Th1 (Afonso e Scott,

1993; Ji et al., 2002; Soong et al., 1997). Foi também determinado que a deleção

dirigida dos genes codificadores da IL-4 ou IL-10 em camundongos C57BL/6 infectados

com L. (L.) amazonensis não afeta o desenvolvimento das lesões e as cargas

parasitárias desses animais (Jones et al., 2000, Jones et al., 2002). Recentemente, foi

observada a expressão diminuída da cadeia β2 do receptor da IL-12 dos linfócitos

CD4+ (IL-12R β2) em camundongos C3H infectados com L. (L.) amazonensis, assim

como em linfócitos CD4+ de camundongos C57BL/6 depletados de IL-4. Esses

resultados sugerem que um mecanismo independente de IL-4 é responsável pela

resposta reduzida a IL-12 e a conseqüente resposta Th1 prejudicada nos animais

12

Introdução

infectados com L. (L.) amazonensis (Jones et al., 2000). Entretanto, o tratamento dos

camundongos com IFN-γ (Barral-Neto et al., 1996) ou IL-12 (Jones et al., 2000) não

teve efeito significante sobre o curso da infecção com L. (L.) amazonensis nesses

animais. Uma vez que essas duas citocinas induzem a expressão da cadeia IL-12R β2,

esses dados sugerem que os mecanismos imunes responsáveis pela suscetibilidade

dos camundongos à L. (L.) amazonensis são complexos e requerem mais investigação.

Mais recentemente foi avaliado o possível envolvimento das células CD4+CD25+

regulatórias (Treg) na infecção e progressão da leishmaniose causada pela L. (L.)

amazonensis. Nesse estudo foi observado um aumento das células Treg juntamente

com a expressão aumentada de FoxP3, TGF-β e IL-10R nas lesões das patas e

linfonodos regionais de camundongos C57BL/6 infectados. Recipientes singênicos, nos

quais foram transferidas as células Treg de camundongos C57BL/6 infectados,

apresentaram redução significante das lesões após a infecção com L. (L.)

amazonensis. Esses resultados sugerem que as células Treg podem limitar a

progressão da doença causada por esse parasita, porém esse efeito benéfico foi

transitório e correlacionado com a ativação diminuída de células T CD4+CD25-

produtoras de IFN-γ (Ji et al., 2005). Esses dados mostram a importância de um

balanço fino entre as células Treg e as T efetoras na suscetibilidade do hospedeiro à L.

(L.) amazonensis.

A participação de linfócitos CD8+ como células produtoras de IFN- γ nas

respostas imunes à infecção por L. (L.) amazonensis também foi demonstrada em

camundongos C57BL/6 (Chan, 1983). A caracterização de linhagens de linfócitos T

CD8+ específicas ao antígeno GP46/M-2, capazes de reconhecer macrófagos

infectados com L. (L.) amazonensis, demonstrou o envolvimento desses linfócitos nas

respostas a esse antígeno utilizado para a imunização protetora de camundongos CBA

contra a infecção homóloga (Champsi e McMahon-Pratt, 1988; Kima et al., 1997).

Proteção significante contra a L. (L.) amazonensis foi observada em camundongos

C57BL/6 imunizados com o antígeno P8 associado à membrana da L. (L.) pifanoi,

tendo sido demonstrada a participação de linfócitos CD4+ e CD8+ nas respostas

protetoras desses animais imunizados. Nesse trabalho foi demonstrada a produção de

perforina, além de IFN-γ, pelos linfócitos CD8+ no sítio da infecção, sendo ambas as

moléculas efetoras na proteção dos animais vacinados (Colmenares et al., 2003).

13

Introdução

4. Antígenos protetores nas leishmanioses

Vários antígenos têm sido descritos quanto à sua capacidade de induzir

respostas imunes protetoras e resultados satisfatórios de imunização com antígenos

nativos e recombinantes, assim como com os genes codificadores de alguns desses

antígenos, têm sido alcançados quando fatores tais como a dose do antígeno, a via de

imunização e os adjuvantes são bem estabelecidos.

O antígeno LACK possui um peso molecular de 36 kDa e é expresso nas formas

amastigota e promastigota, sendo altamente conservado entre as várias espécies de

Leishmania (Mougneau et al., 1995). A imunização com o DNA do LACK foi capaz de

induzir imunidade prolongada por levar à produção de IFN-γ por linfócitos T CD8+,

sendo essa imunidade abolida após o tratamento dos animais imunizados com anti-

CD8 (Gurunathan et al., 2000). A administração intranasal com o gene LACK induziu

imunidade protetora de longa duração contra a infecção por L. (L.) amazonensis em

camundongos BALB/c (Pinto et al., 2004). Mais recentemente a imunização intranasal

como gene LACK complexado a microesferas de quitosana reduziu o

desenvolvimemnto das lesões e a carga parasitária de camundongos BALB/c

desafiados com a L. (L.) amazonensis (Costa-Souza et al., 2007).

A imunização com a forma nativa ou recombinante da gp63, a metaloprotease

de superfície presente em promastigotas de todas as espécies de Leishmania, foi

capaz de conferir maior proteção contra a infecção por L. (L.) amazonensis quando

comparada à infecção por L. (L.) major (Handman, 2001) e a imunização com um

peptídeo sintético da gp63 administrado subcutaneamente foi eficaz no controle da

infecção por L. (L.) major (Spitzer et al., 1999). A imunização de camundongos BALB/c

com bacilo Calmette-Guerin (BCG) (Connel et al, 1993) ou Salmonella (AroA-) (Yang et

al, 1990) expressando a gp63 de L. (L.) major induziu proteção contra o desafio

homólogo ou na infecção por L. (L.) mexicana. Resultados semelhantes foram obtidos

com a gp63 recombinante administrada com IL-12 como adjuvante em animais

desafiados com L. (L.) mexicana (Aebischer et al, 2000). A imunização de

camundongos por injeção intramuscular de DNA da gp63 também conferiu proteção

significante contra o desafio com L. (L.) major e L. (L.) mexicana, caracterizada como

Th1 (Xu e Liew, 1995; Walker et al, 1998; Dumonteil et al, 2003; Ahmed et al, 2004).

O antígeno PSA-2 (antígeno 2 de superfície do parasita) é expresso nas várias

espécies de Leishmania, exceto na L. (V.) braziliensis. Há evidências de que a

14

Introdução

imunização com o PSA-2 de L. (L.) donovani protege camundongos contra a infecção

por L. (L.) major (Handman et al., 1995). Camundongos imunizados com o DNA

codificador do PSA-2 e desafiados com L. (L.) major desenvolvem lesões menores e

com menos parasitas quando comparadas às de camundongos não imunizados,

gerando uma população definida de células T CD4+ secretoras de citocinas do perfil

Th1 (Ahmed et al., 2004).

Antígenos nucleares têm se mostrado bastante eficazes no controle das

leishmanioses cutâneas. Vacinas de DNA utilizando genes que codificam as histonas

H2A, H2B, H3 e H4 de L. (L.) infantum contra a infecção por L. (L.) major foram

testadas. Os animais imunizados desenvolveram uma forte resposta Th1, com o

aumento da produção de IFN-γ, assim como de anticorpos do isótipo IgG2a, e tanto as

células T CD4+ como as T CD8+ contribuem para a proteção contra a L. (L.) major

(Iborra et al., 2004). Outro antígeno que gerou bons resultados de proteção foi a P4

nuclease. Camundongos da linhagem BALB/c foram imunizados com o DNA cujas

seqüências codificam a P4 nuclease + IL-12 ou HSP/70 como adjuvante e

posteriormente desafiados contra L. (L.) major e L. (L.) amazonensis. Os animais

imunizados com a P4 nuclease + IL-12 e desafiados com a L. (L.) amazonensis

apresentaram proteção, ao contrário dos animais imunizados com a P4 nuclease +

HSP/70. Por outro lado, os animais imunizados com a P4 nuclease + HSP/70

desenvolveram proteção frente ao desafio com a L. (L.) major (Campbell et al., 2003).

O antígeno A2 de L. (L.) donovani foi identificado como uma família de proteínas

específica da forma amastigota e cujos genes são conservados entre as espécies dos

complexos L. (L.) donovani e L. (L.) mexicana. Camundongos BALB/c imunizados com

a proteína A2 recombinante (rA2) ou com o gene A2 foram protegidos contra a infecção

por L. (L.) donovani (Ghosh et al., 2001; Ghosh et al., 2002). Mais recentemente foi

demonstrada também proteção significante em camundongos BALB/c contra o desafio

com L. (L.) amazonensis pela imunização desses animais com a rA2 mais rIL-12

(Coelho et al., 2003). A imunização com o complexo ligante de fucose-manose (FML)

purificado de L. (L.) donovani (uma nucleosídeo hidrolase de 36 kDa denominada

NH36) foi capaz de retardar significantemente o desenvolvimento das lesões por L. (L.)

mexicana em camundongos BALB/c (Aguilar-Be et al., 2005)

15

Introdução

5. Cisteína proteinases de Leishmania

Nos últimos anos o estudo de enzimas proteolíticas de parasitas tem aumentado

consideravelmente pelo fato de essas moléculas constituírem importantes fatores de

virulência diretamente relacionados com a interação parasita-hospedeiro e

representarem alvos promissores para a imuno e quimioterapia (McKerrow, 1989;

Selzer et al, 1999, Das et al, 2001; Sajid e McKerrow, 2002). Entre os protozoários, as

principais enzimas proteolíticas caracterizadas pertencem ao grupo das cisteína

proteinases, sendo a maioria delas membros da superfamília da papaína. Essa

superfamília, por sua vez, é subdividida em duas famílias, a das proteases do tipo

catepsina e as do tipo calpaína. As proteases do tipo catepsina são ainda sub-divididas

nas sub-famílias das catepsinas dos tipos B e L. Essas guardam grandes semelhanças

entre si e apresentam alguns motivos na seqüência de aminoácidos que as

diferenciam, sendo ambas sintetizadas como zimogênios inativos que são

posteriormente processados pela remoção da pré e pró-região para que se tornem

enzimas ativas (Eakin et al, 1992).

Em Leishmania há predominância de cisteína proteinases do tipo catepsina L

que são expressas em grande quantidade nas formas amastigotas e estão localizadas

preferencialmente em lisossomos diferenciados denominados megassomos, descritos

primeiramente em espécies do complexo L. (L.) mexicana (Pupkins et al., 1986) e mais

recentemente em L. (L.) chagasi (Alberio et al., 2004).

Em L. (L.) mexicana a maior atividade proteolítica detectada é a das cisteína

proteinases expressas pelos genes cpb, arranjados em 19 cópias repetidas em

"tandem". Os genes cpb3 a cpb18 codificam proteínas que possuem uma extensão C-

terminal (CTE), sendo expressos predominantemente nas formas amastigotas,

enquanto que a cisteína proteinase codificada pelo gene cpa não possui CTE (Mottram

et al, 1997; Brooks et al., 2000). Outras cisteína proteinases bem caracterizadas em

Leishmania são as codificadas pelos genes Lpcys1 e Lpcys2 em L. (L.) pifanoi

(Duboise et al., 1994) e as CPb e CPa de L. (L.) major (Sakanari et al., 1997). Nas

espécies visceralizantes são expressas as cisteína proteinases do tipo catepsina L de

L. (L.) chagasi codificadas pelos genes Ldccys1 e Ldccys2 e que apresentam

seqüências correspondentes em L. (L.) infantum (cpa e cpb) e L. (L.) donovani

(Lddcys1 e Lddcys2) (Omara-Opyene e Gedamu, 1997; Mundodi et al, 2002).

16

Introdução

Embora não esteja clara a função das cisteína proteinases em Leishmania, seu

papel tem sido intensamente estudado e sabe-se que elas têm grande participação na

virulência do parasita. A análise dessas enzimas em cepas avirulentas e virulentas de

promastigotas de L. (L.) amazonensis mostrou que elas são preferencialmente

expressas nas cepas virulentas (Soares et al, 2003). Camundongos suscetíveis

infectados com L. (L.) mexicana em que o gene da cisteína proteinase cpb foi

nocauteado apresentaram lesões consideravelmente menores comparadas às dos

animais infectados com parasitas selvagens e parasitas nulos para os genes cpa e cpb

foram incapazes de desenvolver lesões nesses animais. Interessantemente, a

detecção das linfocinas nesses animais mostrou que houve mudança de uma resposta

predominantemente Th2 para Th1, com produção de IFN-γ e IL-2 (Alexander et al,

1998). A análise funcional das catepsinas do tipo B de L. (L.) donovani e L. (L.) chagasi

mostrou que elas são capazes de clivar a forma latente do TGF-β1, convertendo-o à

forma ativa inibidora do macrófago (Somanna et al, 2002). Esses resultados indicam

que essas enzimas não só agem como fatores de virulência, mas também como

moduladoras da resposta imune do hospedeiro.

As cisteínas proteinases têm representado também um grande alvo para o

diagnóstico das leishmanioses visceral e cutânea e o estudo de vacinas. As CPA e

CPB de L. (L.) infantum foram utilizadas no Irã para o diagnóstico por ELISA da

leishmaniose visceral humana e canina (Rafati et al, 2003). Em relação à

antigenicidade para respostas imunes celulares foi demonstrada a capacidade de as

cisteína proteinases induzirem resposta do tipo Th1 após a morte dos amastigotas de

L. (L.) mexicana no interior de macrófagos peritoneais de camundongos e a

apresentação de epítopos dos parasitas na sua superfície (Wolfram et al, 1995).

Camundongos BALB/c imunizados com a cisteína proteinase de 24 kDa de L. (L.)

major, CPa, desenvolveram resistência à infecção homóloga. Esses camundongos

produziram altos níveis de IFN-γ, gerando uma resposta imune Th1 com conseqüente

resolução da doença (Rafati et al., 2000). Proteção duradoura contra a infecção

homóloga também foi observada em camundongos BALB/c imunizados com uma

mistura dos genes cpa e cpb de L. (L.) major, assim como com as cisteína proteinases

recombinantes (rCPb e rCPa) (Rafati et al., 2001). A análise da resposta imune nesses

animais mostrou que eles apresentaram predomínio de linfócitos Th1 com produção de

IFN-γ. Mais recentemente, a imunização de camundongos BALB/c com uma mistura

17

Introdução

dos genes cpa e cpb codificadores de cisteína proteinases de L. (L.) infantum, seguida

por um reforço com as proteínas recombinantes rCPa e rCPb juntamente com CpG

ODN e Montanide como adjuvantes, resultou em proteção contra a leishmaniose

visceral nos animais imunizados mediada por linfócitos Th1 (Rafati et al., 2006). Em

humanos foi demonstrado que as cisteínas proteinases CPa e CPb de L. (L.) major

induziram alta produção de IFN-γ e IL-2 e baixa secreção de IL-10 em culturas de

linfócitos periféricos de pacientes com leishmaniose cutânea causada por L. (V.)

guyanensis (Pascalis et al, 2003).

Nosso laboratório tem desenvolvido estudos sobre antígenos de formas

amastigotas de L. (L.) chagasi e de L. (L.) amazonensis e a capacidade de esses

antígenos desencadearem respostas imunes protetoras em modelo murino. Dentro

dessa linha, foram identificados alguns antígenos que induzem respostas

linfoproliferativas em camundongos BALB/c previamente imunizados com Leishmania.

Entre eles um, de massa molecular aparente de 30 kDa (p30) presente em amastigotas

de L. (L.) amazonensis e L. (L.) chagasi, induz preferencialmente linfócitos T CD4+ da

subpopulação Th1 e significante proteção contra a infecção homóloga (Beyrodt et al,

1997; Pinto et al, 2000). A caracterização bioquímica desse antígeno em L. (L.)

amazonensis foi feita após a sua purificação em coluna de imunoafinidade com um

anticorpo monoclonal dirigido à p30 (AcMo 2E5D3). O antígeno purificado foi submetido

à PAGE-SDS em gel copolimerizado com gelatina e utilizando-se o inibidor E-64

demonstrou-se que a p30 de L. (L.) amazonensis apresenta forte atividade de cisteína

proteinase (Beyrodt et al., 1997). Visando à clonagem do gene p30 de L. (L.)

amazonensis, foram obtidos vários clones de 500 pb e a análise da seqüência desses

clones mostrou que alguns apresentam alto grau de identidade com as seqüências de

genes de cisteína proteinases de Leishmania previamente descritos. A subclonagem

desses clones em vetor de expressão mostrou que algumas das proteínas

recombinantes geradas são capazes de desencadear respostas linfoproliferativas

parcialmente protetoras em camundongos BALB/c contra a infecção por L. (L.)

amazonensis (Beyrodt et al., 1996; Beyrodt, 1998; Oliveira, 2001). O racional do

presente trabalho foi estudar um desses clones, Lacys24, em cuja seqüência foram

identificados três prováveis epítopos de ligação ao MHC de classe II e um de classe I.

Esse estudo envolveu a subclonagem do clone Lacys24 em vetor bacteriano e a

avaliação das respostas imunes e o grau de proteção desencadeados pela proteína

18

Introdução

19

recombinante (rLacys24) em camundongos BALB/c após o desafio com L. (L.)

amazonensis.

Objetivos

20

21

Os principais objetivos do nosso trabalho podem ser assim definidos: 1) Subclonagem do gene Lacys24 codificador de uma isoforma de cisteína

proteinase de 30 kDa de amastigotas de Leishmania (Leishmania) amazonensis em

vetor de expressão bacteriano e purificação da proteína recombinante (rLacys24).

2) Determinação da antigenicidade da rLacys24 para respostas imunes celulares em

camundongos BALB/c e caracterização das populações de linfócitos envolvidas

nessas respostas.

3) Ensaios de imunização de camundongos BALB/c com a rLacys24 e avaliação das

respostas imunes e do grau de proteção gerados após a infecção dos animais pela

L. (L.) amazonensis.

Materiais e Métodos

20

Materiais e Métodos

1. Obtenção dos amastigotas de L. (L.) amazonensis

A cepa MHOM/BR/71973/M2269 de Leishmania (L.) amazonensis utilizada foi

proveniente do Instituto Evandro Chagas (Belém, PA, Brasil) e gentilmente cedida

pelo Dr. Jeffrey J. Shaw.

Amastigotas de L. (L.) amazonensis foram isolados de lesões de patas de

hamsters previamente infectados (5x107 parasitas/pata). Os granulomas obtidos

após 8 semanas de infecção foram retirados, colocados em PBS, raspados com

bisturi e o homogenado centrifugado a 2.500 x g por 10 min. O sobrenadante obtido

foi centrifugado a 1.400 x g durante 10 min e ao precipitado resultante adicionou-se

uma solução de ACK (NH4Cl 155 mM, KHCO3 10 mM, EDTA 0,1 mM) para a lise das

hemácias e após 15 min foi realizada uma nova centrifugação a 1.400 x g. Os

amastigotas foram ressuspensos em PBS e mantidos sob agitação à temperatura

ambiente durante 4 horas na presença de antibiótico. Após esse período a

suspensão foi centrifugada a 1.400 x g por 10 min, o precipitado final foi

ressuspenso em PBS e os amastigotas foram contados em câmara de Neubauer

(Barbiéri et al., 1990).

2. Animais de experimentação

Para a manutenção dos amastigotas de L. (L.) amazonensis foram utilizados

hamsters de 8 a 10 semanas de idade obtidos do Centro de Desenvolvimento de

Modelos Experimentais para Medicina e Biologia (CEDEME) da Universidade

Federal de São Paulo - Escola Paulista de Medicina.

As linhagens de camundongos isogênicos BALB/c utilizados nos

experimentos, com idade entre 6 e 8 semanas, também foram cedidos pelo

CEDEME.

Todos os procedimentos foram aprovados pelo Comitê de Ética da

Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina.

23

Materiais e Métodos

3. Extração de ácidos nucléicos

Os amastigotas de L. (L.) amazonensis (1x108) foram incubados em 150µl de

tampão de lise (Tris-HCL 50 mM, pH 8,0, EDTA 62,5 mM, pH 9,0, Triton X-100 4%)

por 5 min a 37°C e o DNA genômico extraído com 150 µl de fenol-clorofórmio (1:1

v/v). A amostra foi centrifugada a 11.000 x g por 5 min e o DNA precipitado

acrescentando-se 2 v de etanol absoluto à fase aquosa. A amostra foi novamente

centrifugada a 11.000 x g por 10 min e o precipitado lavado com etanol 70% e

ressuspenso em 50 µl de TE (Tris-HCL 10 mM, pH 8,0, EDTA 0,1 M) contendo

RNAse 0,6 µg/µl. Após incubação de 30 min a 37°C, o DNA foi precipitado com 3 v

de etanol absoluto e acetato de sódio 0,3 M, lavado com etanol 70% e ressuspenso

em 50 µl de TE (Medina-Acosta e Cross, 1993)

4. Amplificação da região codificadora do clone Lacys24 de L. (L.)

amazonensis por PCR

A região codificadora do fragmento de 500 pb do gene de cisteína proteinase

de L. (L.) amazonensis (Lacys24) foi amplificada utilizando-se “primers” baseados

nas seqüências determinadas em estudos anteriores em nosso laboratório (Beyrodt,

1998; Lasakosvitsch et al., 2003). Os “primers sense” (5’– ATG GAT GGG GAT GGA

AGG GGA ATGT–3’) e “antisense” (5’-GGG AAT TGG ATG AGT TTT TTG AGG

ATGG-3’), contendo seqüências para sítios de restrição HindIII e EcoRI, foram

utilizados para a clonagem dirigida. Para a reação foram utilizados 100 ng de DNA

genômico de L. (L.) amazonensis, 100 pmol de cada “primer”, 0,2 mM da mistura de

dNTPs, 1U de Taq DNA polimerase e tampão para PCR (Tris-HCL 10 mM, pH 9.0,

KCL 50 mM, MgCl2 2 mM) em um volume final de 50 µl. As condições de

amplificação foram: 30 ciclos a 94°C por 1min, a 51°C por 30 seg e a 72°C por 30

seg. As amostras foram analisadas em gel de agarose a 1%.

Para a preparação do gel a agarose foi fundida em tampão TBE (Tris-HCL

0,01 M, EDTA 0,02 mM, ácido bórico 0,086 M) e à mistura foi acrescentado brometo

de etídio 0,5 µg/ml. As amostras foram aplicadas no gel após serem

24

Materiais e Métodos

homogeneizadas em tampão de amostra para DNA (glicerol 5%, xileno cianol 0,04%,

azul de bromofenol 0,04%, EDTA 2mM) e a eletroforese realizada a 80 V em tampão

TBE. As bandas de DNA foram visualizadas sob luz UV e o fragmento de interesse

recortado do gel e purificado segundo o protocolo do kit Wizard (Promega).

5. Bactérias e plasmídios 5.1. Bactérias

As diferentes cepas de Escherichia coli foram crescidas e mantidas a 4°C em

placas de Petri contendo meio LB sólido (bactotriptona 1%, extrato de levedura

0,5%, NaCl 0,5%, bacto-ágar 1,5%) e as colônias isoladas foram repicadas

mensalmente. As cepas utilizadas como hospedeiras dos plasmídios foram:

E. coli DH5-α

Genótipo: F¯ φ80d/acZ∆M15 ∆(lacZYA¯ argF)U169 endA1 recA1 hdR17 (rk

¯mk+) deoR thi-1 supE44 λ¯ gyrA96 relA1 (Hanahan, 1985).

Condições de crescimento: uma colônia foi isolada da placa de Petri e

inoculada em 10 ml de meio LB líquido (bactotriptona 1%, extrato de levedura 0,5%,

NaCl 0,5%). A cultura foi incubada durante a noite a 37°C sob agitação.

Função: manutenção dos plasmídios recombinantes Topo 2.1 e pHIS.

E. coli BL21DE3

Genótipo: BF¯ dcm ompT hsdS(ra¯ ma¯) gal λ(DE3) (Stratagene)

Condições de crescimento: uma colônia foi isolada da placa de Petri e

inoculada em 10 ml de meio LB líquido. A cultura foi incubada durante a noite a 37°C

sob agitação.

Função: expressão da proteína recombinante.

25

Materiais e Métodos

5.2. Plasmídios

Topo 2.1 Genótipo: promotor tac, gene de resistência a ampicilina

Condições de crescimento: bactérias E. coli DH-α e BL21DE3 foram

transformadas com o plasmídio e plaqueadas em meio LB sólido contendo

ampicilina 100µg/ml e incubadas a 37°C duranta a noite.

Função: vetor de seqüenciamento.

pHIS paralelo 3 Genótipo: promotor T7, operador lac, 6xHis amino-terminal, sítio múltiplo de

clonagem (variação do pHIS paralelo 1).

Condições de crescimento: bactérias E. coli BL21DE3 foram transformadas

com o plasmídio e plaqueadas em meio LB sólido contendo ampicilina 100 µg/ml e

incubadas a 37°C durante a noite.

Função: vetor bacteriano de expressão induzida.

6. Clonagem do gene Lacys24 no vetor Topo 2.1 e subclonagem no vetor de expressão pHIS

O produto de PCR purificado e o plasmídio Topo 2.1 foram digeridos com as

enzimas de restrição EcoR1 e HindIII para a clonagem dirigida. A ligação foi

26

Materiais e Métodos

realizada em uma reação contendo inserto:vetor (3:1 em massa de DNA), 1 U de T4

ligase e tampão de ligação (Invitrogem) por 18 h a 22°C.

Para a subclonagem o inserto foi digerido do vetor Topo 2.1 com as mesmas

enzimas de restrição e ligado ao vetor pHIS sob as mesmas condições.

6.1. Preparação das bactérias competentes

As bactérias competentes (E. coli DH5-α e BL21D3) foram preparadas

inoculando-se uma colônia em 3 ml de meio LB durante a noite a 37°C sob agitação.

Após esse período os 3 ml da cultura foram adicionados a 247 ml de meio LB e uma

nova incubação foi realizada a 37°C até a cultura bacteriana atingir uma densidade

óptica de 0,35-06. Em seguida as células foram incubadas no gelo por 10-60

minutos e centrifugadas a 3.000 rpm por 15 min a 4°C, o meio da cultura foi

descartado e as bactérias ressuspensas em 1/3 do volume em FB (KCL 100 mM,

CaCl2 50 mM, glicerol 10% e acetato de potássio 10 mM). Após incubação no gelo

por 10-60 min as células foram centrifugadas e ressuspensas em 20 ml de FB.

6.2. Transformação das bactérias competentes com o DNA plasmidial

Para cada transformação 200 ng do DNA plasmidial e 100 µl da suspensão

das bactérias competentes foram misturados em um tubo de vidro e incubados por 1

hora no gelo. A seguir as células foram submetidas a um choque térmico de 42°C

por 3 minutos e reincubadas em gelo por 10 minutos. Em seguida adicionaram-se

400 µl de meio LB, incubando-se a 37°C por 1 hora sob agitação. Após esse período

o volume total da mistura foi semeado em placas de LB sólido contendo ampicilina

(100 µg/ml) e incubadas em estufa a 37°C durante a noite.

6.3. Purificação do DNA plasmidial

As colônias de bactérias contendo o DNA plasmidial foram isoladas da placa

de LB sólido e cultivadas em 3 ml de LB líquido contendo ampicilina 100 µg/ml por

18 h a 37°C sob agitação. Após o crescimento as células foram centrifugadas a

4.000 x g por 10 min e ressuspensas em 100 µl da solução A (Tris-HCI 25 mM,

27

Materiais e Métodos

EDTA 10 mM e glicose 50 mM) contendo 2 µg/ml de RNAse. Em seguida foram

adicionados 200 µl da solução B (NaOH 0,2 mM e SDS 1%) incubando-se por 5 min.

Após a incubação foram acrescentados 200 µl da solução C (KC2H3O2 3 M e ácido

acético glacial 6 M). As amostras foram mantidas no gelo por 25 min e centrifugadas

a 13°C a 12.000 x g por 8 min e ao sobrenadante foram acrescentados 400 µl de

isopropanol. Após outra centrifugação a 12.000 x g por 8 min, o precipitado foi

lavado com 500 µl de etanol 70% gelado e ressupenso em 25 µl de água Mili Q.

7. Seqüenciamento dos clones recombinantes Topo 2.1/Lacys24

Os plasmídios recombinantes Topo 2.1/Lacys24 foram submetidos à digestão

com as enzimas de restrição EcoRI e BamHI para verificar a presença do inserto. A

digestão foi realizada em uma reação contendo 200 ng de DNA e 10 U das

respectivas enzimas em tampão próprio a 37oC por 1 h. Após a análise das

amostras em gel de agarose 0,8% e confirmação da presença do inserto, cada clone

foi submetido a uma reação de PCR utilizando-se o "ABI Prism Big Dye Terminator

Cycle Sequencing Ready Reaction Kit". Para cada reação de seqüenciamento foram

utilizados 2 µL da solução “Big Dye terminator”, 1 µl (1,6 pmol) dos oligonucleotídeos

específicos T7: 5’ – TAA TAC GAC TCA CTA TAG GG – 3’ (senso) e U19: - GTT

TTC CCA GTC ACG AC-3’ (antisenso) e 400 ng do DNA a ser seqüenciado. As

condições de amplificação foram: 96°C por 5 min seguidos de 25 ciclos de 96°C por

20 seg, 50°C por 10 seg e 60°C por 4 min. Após esse período os tubos foram

mantidos a 4°C até o DNA ser precipitado acrescentando-se 100 µl de etanol 80%

gelado, seguindo-se uma centrifugação a 12.500 x g por 20 min a 4°C. Os

sobrenadantes foram novamente descartados e aos precipitados acrescentaram-se

200 µl de etanol 70% gelado, centrifugando-se novamente a 12.500 x g por 10 min a

4°C. Os precipitados foram secos a 37°C por 60 min. Acrescentaram-se em cada

tubo 2,5 µl de tampão de corrida (“blue dextran” 50 mg/ml/EDTA 25 mM, pH 8,0, e

formamida deioniozada na proporção de 1:5). Antes da aplicação no gel de

seqüenciamento as amostras foram fervidas por 2 min a 90°C e o seqüenciamento

foi realizado no sistema ABI prism 377 – Perkin-Elmer.

28

Materiais e Métodos

7.1. Preparação do gel para o sistema ABI/Prisma 377

Para o volume final de 25 ml de gel de poliacrilamida foram utilizados 9 g de

uréia, 2,5 ml de "Long Ranger gel solution" (FMC Bio Products), 2,5 ml de TBE 10x

e 13 ml de água Milli Q. A mistura foi mantida sob agitação por 20 min e em seguida

foram acrescentados 17,5 µl de TEMED e 125 µl de persulfato de amônio 10%. O

gel foi aplicado entre placas de vidro e a eletroforese realizada a 4.500 V por 7 h. As

seqüências foram obtidas por análise do "software" do sistema ABI/Prisma 377 e

comparadas às de genes codificadores de cisteína proteinases de outras espécies

de Leishmania utilizando o programa BLAST (http://www.ncbi.nlm.nih.gov/BLAST/).

8. Expressão e purificação da proteína recombinante

As colônias de bactérias contendo o plasmídio recombinante pHIS/Lacys24

foram isoladas da placa de LB sólido e cultivadas em 3 ml de LB líquido contendo

ampicilina 100 µg/ml por 18 h a 37ºC sob agitação. Após o crescimento, as bactérias

foram transferidas para 25 ml do mesmo meio e novamente crescidas durante a

noite a 37ºC. Para a expressão da proteína recombinante, a 500 ml de meio LBamp

foram acrescentados 25 ml da cultura de bactérias. A suspensão foi mantida sob

agitação a 37oC até a DO600nm= 0,6 e a expressão da proteína foi induzida com IPTG

0,2 mM durante 3 h nas mesmas condições. Após a incubação as bactérias foram

centrifugadas a 4.000 x g por 10 min e ressuspensas em 20 ml de tampão de

sonicação (NaH2PO4 0,1 M, Tris-HCl 10 mM, pH 8,0, PMSF 2 mM, iodoacetamida 2

mM) contendo 0,75 mg/ml de lisozima. A amostra foi mantida sob agitação por 30

min à temperatura ambiente, sonicada em 3 ciclos de 30 segundos e centrifugada a

12.000 x g por 30 min. O precipitado foi ressuspenso e lavado 3 vezes com 20 ml de

CHAPS 1% em Tris-HCl 10 mM, pH 8,0, e solubilizado com 20 ml de tampão de

solubilização (uréia 8 M em NaH2PO4 0,1 M, Tris-HCl 10 mM, pH 8,0).

Para a purificação da proteína recombinante, 5 ml de resina contendo níquel

(Ni-NTA Superflow agarose matrix - QIAGEN) foram acrescentados à suspensão de

bactérias solubilizada como descrito, mantendo-se sob agitação por 1 h. A mistura

foi transferida para coluna de vidro (Bio-Rad) e a resina lavada com 50 ml de tampão

de lavagem (NaH2PO4 0,1 M, Tris-HCl 10 mM, uréia 4 M, pH 6,3). A proteína

29

Materiais e Métodos

recombinante ligada à resina foi eluída com 20 ml de tampão de eluição (NaH2PO4

0,1 M, Tris-HCl 10 mM, uréia 4 M, imidazol 0,1 M, pH 6,3) e coletada em frações de

2 ml. As frações foram analisadas em gel de poliacrilamida a 12% e aquelas que

continham a proteína recombinante, visualizada no gel com massa molecular

aparente de 24 kDa, foram misturadas e dialisadas por 36 h a 4oC contra Tris-HCl 10

mM, pH 8,0, contendo uréia 0,5 M (Skeiky et al, 2002).

8.1. Análise de proteínas por eletroforese em gel de poliacrilamida com SDS (PAGE-SDS)

A análise eletroforética de proteínas foi feita em gel de poliacrilamida a 12%

utilizando-se o sistema Mini-Protean III (Bio-Rad). Os extratos dos amastigotas de L.

(L.) amazonensis e das bactérias recombinantes foram homogeneizados em tampão

de amostra e fervidos por 5 min. O equivalente a 25 µg de proteínas totais de cada

extrato foi adicionado por canal do gel e a corrida realizada a 200 V por 45 min. Após

a corrida os géis foram corados por 30 min com azul de Coomassie R-250 0,1% em

metanol:ácido acético:água (5:4:1) (v/v/v) e descorados com solução de

metanol:ácido acético:água (5:4:1) (v/v/v).

9. Reatividade da proteína recombinante com anticorpos anti-cisteína proteinase 9.1. Produção de anticorpos policlonais anti-rLacys24

Para a produção de anticorpos policlonais, camundongos BALB/c foram

imunizados com 25 µg da proteína recombinante rLacys24 emulsificada em

adjuvante completo de Freund (ACF) 1:1 por via intraperitonial. Após uma semana

os animais receberam duas doses de 25 µg do antígeno, com um intervalo de uma

semana entre as doses, com adjuvante incompleto de Freund por via intraperitoneal.

Uma semana após a terceira dose o sangue dos animais foi coletado e o título de

anticorpos do soro foi testado por ELISA. Os animais que apresentaram títulos altos

de anticorpos foram submetidos à punção cardíaca para a coleta do sangue e os

soros foram misturados, divididos em alíquotas e armazenados a –20ºC.

30

Materiais e Métodos

9.2. ELISA

Uma placa de 96 poços (high binding Costar) foi sensibilizada com 100

ng/poço da rLacys24 diluída em tampão Na2CO3/NaHCO3 0,05 M, pH 9,6. A placa foi

incubada durante a noite a 4°C, bloqueda com PBS Molico 5% por 1 h à temperatura

ambiente e os soros foram testados em diluições seriadas de 1:50 a 1:3.200 em PBS

Molico 5%. A placa foi incubada por 1h à temperatura ambiente, lavada 3 vezes com

PBS-Tween 20 0,05% e incubada novamente com anticorpo anti-IgG de

camundongo conjugado com peroxidase (Bio-Rad) 1:500 por 1 h à temperatura

ambiente. Após 3 lavagens a reação foi revelada adicionando-se 100 µl/poço de

tampão de revelação (Na2HPO4 0,05 M, ácido cítrico 0,05 M, pH 4,5) contendo

ortofenilenodiamina (OPD) 0,5 mg/ml e H2O2 0,03% por 15 min. A reação foi

interrompida adicionando-se 50 µl por poço de H2SO4 4 N e a absorbância medida a

492 nm em microleitor de ELISA Labsystem Multiskan MS.

9.3. “Western blotting’’

Os experimentos de “Western Blotting’’ foram feitos como descrito por Towbin

et al (1979). Extratos de amastigotas de L. (L.) amazonensis foram submetidos à

PAGE-SDS como descrito anteriormente. Após a separação eletroforética as

proteínas foram transferidas para a membrana de nitrocelulose (NC) (Hybond ECLTM

Pharmacia) por eletroforese a 250 mA por 2 h no sistema “Mini Trans-Blot” (Bio-Rad)

em tampão de transferência (Tris-HCl 2,5 mM, glicina 0,192 M, metanol 20%). A

visualização das proteínas e marcadores de massa molecular foi feita por coloração

da NC com Ponceau-S 0,1% em ácido acético 10% e descoloração em água. Em

seguida as membranas foram bloqueadas com PBS-Molico 5% por 1 h e incubadas

com o anticorpo monoclonal anti-cisteína proteinase de L. (L.) amazonensis (AcMo

2E5D3) (1:100) ou com o anticorpo policlonal anti-rLacys24 (1:100). Após 2 horas de

incubação com os anticorpos, as membranas foram lavadas com PBS-Tween 0,05%

e incubadas por 1 h com anticorpo anti-IgG de camundongo conjugado com

peroxidase (Bio-Rad) (1:500). Após a lavagem das membranas, ela foram reveladas

com diaminobenzidina (DAB) 0,15 mg/ml e H2O2 0,005% em PBS.

31

Materiais e Métodos

10. Avaliação da resposta imune estimulada pela rLacys24 10.1. Imunização dos animais com a rLacys24 Camundongos BALB/c, com 6-8 semanas de idade, foram imunizados com 25

µg da rLacys24. Os adjuvantes testados foram Propionibacterium acnes (suspensão

de bactérias autoclavadas correspondente a 150 µg de proteína por dose) ou

adjuvante completo de Freund (ACF) na proporção 1:1. Quando ACF foi utilizado a

via de imunização foi a subcutânea na pata dos animais. Com a P. acnes os animais

foram imunizados pela via intraperitoneal, recebendo 4 doses semanais da rLacys24

mais P. acnes.

10.2. Análise das populações de linfócitos estimuladas pela rLacys24

As populações celulares estimuladas após a imunização dos camundongos

BALB/c com a rLacys24 foram analisadas por citometria de fluxo. Foram utilizados

os anticorpos monoclonais anti-CD3 conjugado à aloficocianina (APC) (Pharmingen),

anti-CD4 conjugado à ficoeritrina (PE) (Pharmingen) e anti-CD-8 conjugado à

proteína clorofila peridinina (PerCP) (Pharmingen). Para as marcações foram

utilizados 1x106 linfócitos por tubo obtidos dos linfonodos inguinais e poplíteos dos

camundongos BALB/c imunizados com a rLacys24 mais ACF e 1x106 esplenócitos

dos camundongos imunizados com a rLacys24 mais P. acnes. Os linfócitos foram

fixados em 500 µl de paraformaldeído 1% em PBS por 30 minutos a 4ºC, lavados

duas vezes com 500 µl de PBS e ressuspensos em 100 µl de PBS. A cada tubo foi

acrescentado 1 µl do anticorpo de interesse, incubando-se as células por 1 hora a

4ºC, protegidas da luz. Em seguida as células foram lavadas duas vezes com 500 µl

de PBS e novamente fixadas com 500 µl de paraformaldeído 1% em PBS por 30

minutos a 4ºC. Após mais duas lavagens com 500 µl de PBS, as células foram

ressuspensas em 1 ml de PBS e a fluorescência foi analisada por citometria de fluxo

(FACSCAN – Cell Sorter Becton Dickinson).

32

Materiais e Métodos

10.3. Ensaio de citotoxicidade pelo método do cristal violeta

Nesses ensaios foram utilizadas como células-alvo macrófagos peritoneais de

camundongos BALB/c infectados com L. (L.) amazonensis. Para a cultura de

macrófagos as células foram isoladas de camundongos BALB/c após lavado do

peritônio com PBS. A amostra foi diluída em solução de cristal violeta 1 mg/ml em

ácido acético 30% para a contagem diferencial de células e os macrófagos foram

cultivados em placas de 96 orifícios à concentração de 1x105 por orifício, mantidas

por 30 min à temperatura ambiente, lavadas com PBS para a retirada das células

não aderentes e incubadas em meio RPMI (Gibco) com soro fetal bovino 10% em

estufa a 37oC com 5% de CO2 por 24 horas. A seguir os macrófagos foram

infectados na proporção de 2:1 (amastigota:macrófago) durante 72 horas em estufa

contendo 5% de CO2 a 37ºC. Os linfócitos isolados dos linfonodos inguinais e

poplíteos dos camundongos BALB/c previamente imunizados com a rLacys24 mais

ACF foram adicionados às placas contendo os macrófagos infectados com L. (L.)

amazonensis na proporção de 200 linfócitos:1 macrófago. As células foram

incubadas por 4 horas em estufa contendo 5% de CO2 a 37ºC. A seguir as células

foram lavadas 4 vezes com PBS, fixadas por 10 minutos com metanol 100%,

lavadas com PBS e coradas com uma solução de cristal violeta a 0,2% em etanol

2% por 30 minutos. Após 3 lavagens com PBS, procedeu-se à eluição adicionando-

se 150 µl de metanol 50% por orifício e após 10 minutos foi feita a leitura a 540 nm

em microleitor de ELISA Labsystem Multiskan MS. Os controles do ensaio foram:

lise total dos macrófagos infectados com água ou HCl 0,1 N; macrófagos infectados

sem incubação com os linfócitos (controle); macrófagos infectados incubados com

os linfócitos dos animais imunizados apenas com ACF; coloração dos orifícios

vazios, sem células para avaliar o possível ”background” da placa.

A porcentagem de lise foi determinada pela seguinte fórmula:

% de lise= (absorbância do controle – absorbância do grupo experimental)/absorbância do controle X 100

33

Materiais e Métodos

10.4. Ensaios por “Enzyme-linked immunospot” (ELISPOT)

A técnica é baseada no ensaio de ELISA de captura e detecta e enumera os

linfócitos secretores de uma determinada linfocina pela utilização dos anticorpos de

captura e detecção e revelação pela reação enzimática (Czerkinsky et al., 1983). Ela

foi utilizada para avaliar a secreção de IFN-γ, IL-4 e IL-10 pelos linfócitos dos

camundongos BALB/c imunizados com a rLacys24 ou rLdccys1 ou ambos os

antígenos mais P. acnes e desafiados com a L. (L.) amazonensis.

Foram utilizados os kits para ELISPOT da BD Biosciences. Placas de 96

poços próprias para ELISPOT estéreis foram incubadas com o anticorpo monoclonal

anti-IFN-γ ou anti-IL-4 ou anti-IL-10 à concentração de 5 µg/ml em PBS estéril e

incubadas durante a noite a 4ºC. A seguir as placas foram lavadas com 200 µl por

poço de RPMI + soro fetal bovino 10% (R10) estéril e mantidas nesse meio por 2

horas à temperatura ambiente. A seguir o meio foi descartado e adicionaram-se os

linfócitos isolados dos linfonodos inguinais e poplíteos dos camundongos BALB/c

imunizados e desafiados. Foram utilizados 5x105 linfócitos por poço em meio

completo (RPMI 1649 contendo NaHCO3 20 mM, HEPES 10 mM, penicilina 100

U/ml, estreptomicina 100 µg/ml, L-glutamina 2 mM, β-mercaptoetanol 50 µM,

piruvato de sódio 5 mM, mistura de aminoácidos não essenciais (Sigma) 100 µM e

soro humano normal 2% previamente inativado por 1 h a 56oC) na presença de cada

antígeno recombinante ou de ambos à concentração de 2,5 µg/ml ou do extrato total

de amastigotas de L. (L.) amazonensis (AM) (correspondente a 1x107

amastigotas/poço), incubando-se as placas em estufa a 37ºC contendo 5% de CO2

durante 3 dias. A seguir as células foram aspiradas, os poços foram lavados 2 vezes

com água destilada e 3 vezes com PBS contendo Tween 20 0,05% (tampão de

lavagem), adicionando-se os anticorpos de detecção anti-IFN-γ ou anti-IL-4 ou anti-

IL-10 biotinilado à concentração de 2 µg/ml. Após 2 horas à temperatura ambiente,

os anticorpos foram descartados e os poços lavados 3 vezes com tampão de

lavagem, adicionou-se o conjugado enzimático (estreptoavidina-peroxidase) 2,5

µg/ml em PBS + 10% de soro fetal bovino, incubando-se por 1 hora à temperatura

ambiente. A seguir os poços foram lavados com PBS e adicionou-se a solução do

substrato (3-amino-9-etilcarbazol 0,33 mg/ml + dimetilformamida 3% + H2O2 0,015%

em tampão acetato de sódio 0,1 M, pH 5,0), incubando-se por 5 a 30 minutos à

34

Materiais e Métodos

temperatura ambiente. Em seguida interrompia-se a reação adicionando-se água

destilada aos poços. Após a secagem, os “spots” foram enumerados por contagem

em microscópio estereoscópico. Os resultados são expressos como o número de

“spots”/106 linfócitos. 11. Imunização ativa

11.1. Imunização de camundongos BALB/c com a rLacys24 e desafio dos animais com a L. (L.) amazonensis

Os animais foram imunizados com 25 µg da rLacys24 e P. acnes ou ACF

como adjuvantes, conforme descrito no item 10.1. Duas semanas após a imunização

os animais foram desafiados pela inoculação nas patas de 2,5x105 amastigotas de L.

(L.) amazonensis. A infecção foi avaliada pela medida semanal das patas com

paquímetro até 3 meses após o desafio.

11.2. Imunização de camundongos BALB/c com a rLacys24, a rLdccys1 ou os dois antígenos recombinantes

Nesses experimentos os camundongos BALB/c foram imunizados com 25 µg

da rLacys24, 25 µg da rLdccys1 ou 25 µg da rLacys24 + 25 µg da rLdccys1 e P.

acnes como adjuvante (correspondente a 150 µg de proteína por dose) por via

subcutânea na base da cauda. Os animais receberam 4 doses, com intervalo de

uma semana entre cada uma, e 14 dias após a última dose foram desafiados com

2,5x105 amastigotas de L. (L.) amazonensis na pata traseira direita. O grupo controle

foi imunizado apenas com 4 doses da P. acnes. Após 3 meses do desafio, foram

avaliadas as populações de linfócitos dos animais por citometria de fluxo e a

produção de IFN-γ, IL-4 e IL-10 por ELISPOT, como descrito nos itens 10.2 e 10.4,

respectivamente. A infecção dos animais foi avaliada pela medida semanal das

patas com paquímetro até três meses após o desafio. Após os três meses de

infecção e o sacrifício dos animais, os amastigotas das lesões foram isolados e

cultivados a 23 ºC durante 7 dias em meio 199 (Sigma) contendo 10% de soro fetal

bovino previamente inativado por 1 hora a 56 ºC. A contagem dos promastigotas

35

Materiais e Métodos

36

resultantes da diferenciação dos amastigotas nesse meio foi o outro parâmetro

utilizado para a avaliação da carga parasitária dos animais.

12. Análise estatística

A significância dos resultados foi avaliada pela análise estatística de todos os

experimentos pelos testes ANOVA e Turkey HSD disponíveis na URL

(http://faculty.vassar.Edu/lowry/VassarStats.html).

Resultados

37

Resultados

1. Seqüenciamento do clone Lacys24 no vetor Topo 2.1

Visando à clonagem de um fragmento de 500 pb de amastigotas de L. (L.)

amazonensis, Lacys24, que foi previamente demonstrado apresentar alta identidade

com a de genes codificadores de cisteína proteinases de Leishmania descritos, o clone

Lacys24 foi amplificado por PCR utilizando-se DNA genômico de amastigotas de L. (L.)

amazonensis e “primers” contendo seqüências para sítios de restrição HindIII e EcoRI

construídos a partir da seqüência desse clone obtida em estudos anteriores em nosso

laboratório. Dessa amplificação foram obtidos vários fragmentos de 500 pb (Figura 2).

Esse fragmento de 500 pb foi clonado em vetor Topo 2.1 e três dos clones obtidos

foram submetidos à digestão enzimática por HindIII e EcoRI e separação eletroforética

(Figura 3). Os três clones que liberaram o inserto de 500 pb foram amplificados por

PCR e seqüenciados. A Figura 4 mostra a análise comparativa da seqüência de

nucleotídeos de um desses clones (clone 2) com a do clone Lacys24 que foi

anteriormente clonado em pMOS em nosso laboratório e que apresenta alto grau de

identidade com as seqüências de genes codificadores de cisteína proteinases

previamente descritas no gênero Leishmania (Oliveira, 2001). A comparação da

seqüência do clone 2 com a do Lacys24 mostrou um alto grau de similaridade entre

essas seqüências, havendo diferenças apenas em 3 bases no final do inserto (Figura

4).

Na Figura 5 são mostrados os possíveis epítopos de linfócitos T na seqüência

de aminoácidos do clone Lacys24 (Oliveira, 2001). Essa análise foi feita utilizando o

banco de dados para motivos de ligação ao MHC obtido via Internet. Foram analisados

os motivos de ligação específica ao MHC de classe I para o haplótipo H-2d expresso

nos camundongos BALB/c empregados em nossos estudos. Como mostra a Figura 5,

um provável motivo de ligação ao MHC classe I está presente no clone Lacys24. Os

motivos de ligação ao MHC de classe II desse clone foram analisados pelo programa

“Dnastar-Protean” em conjunto com os métodos AMPHI (Margalit et al., 1987) e

Motivos de MHC (Sette et al., 1989). Os epítopos determinados pelo programa AMPHI

apresentam-se como motivos de ligação ao MHC de classe II para os haplótipos IAd e

IEd. Foram localizadas três regiões que representam prováveis epítopos de linfócitos T

CD4+.

38

Resultados

500 pb

1 2 3 4 5 6

500 pb

1 2 3 4 5 6

Figura 2. Perfil eletroforético em gel de agarose dos clones de 500 pb amplificados por

PCR (3, 4 e 5). Fragmentos γDNA/Hind III e φX174 RF DNA/Hae III foram utilizados

como marcadores de massa molecular e são mostrados nas canaletas 1 e 2. Controle

da reação de PCR (em ausência do DNA genômico) (6).

39

Resultados

vetor

inserto500 pb

vetor

inserto500 pb

1 2 3 4

vetor

inserto500 pb

vetor

inserto500 pb

1 2 3 4

Figura 3. Perfil eletroforético em gel de agarose dos clones Topo 2.1/Lacys24 após

digestão com as enzimas EcoR1/BamH1. Fragmentos λ HindIII foram utilizados como

marcadores de massa molecular (canaleta 1), clone 1 (canaleta 2), clone 2 (canaleta

3), clone 3 (canaleta 4).

Figura 4. Comparação das seqüências dos clones 2 e Lacys24 utilizando o programa

GeneDoc. As áreas destacadas indicam resíduos de nucleotídeos idênticos.

40

Resultados

Figura 5. Identificação dos prováveis epítopos de células T e motivos de ligação ao

MHC do clone pMOS/Lacys24. As regiões destacadas representam os epítopos para

célula T identificados pelo padrão de anfipaticidade da molécula. Os motivos de ligação

ao MHC de classe I e II estão destacados em vermelho e azul, respectivamente

(adaptado de Oliveira, 2001).

41

Resultados

2. Subclonagem do clone Lacys24 de L. (L.) amazonensis em vetor de expressão e análise da proteína recombinante

Para a obtenção da proteína recombinante o fragmento de 500 pb do clone

Lacys24 foi digerido do plasmídio Topo 2.1 nos sítios de restrição EcoRI/HindIII e

subclonado no vetor de expressão pHIS paralelo 3 em fase com 6 resíduos de histidina

na porção N-terminal da proteína. A expressão do clone Lacys24 em bactérias

competentes BL21DE3 transformadas com o plasmídio Lacys24/pHIS resultou em uma

proteína recombinante de aproximadamente 24 kDa que foi denominada rLacys24. A

sonicação das bactérias seguida de centrifugação mostrou que a rLacys24 estava

contida em corpúsculos de inclusão insolúveis. Assim, a proteína recombinante foi

solubilizada em uréia 8 M e purificada por cromatografia de afinidade em coluna de

níquel. A expressão e purificação da rLacys24 foram avaliadas por PAGE-SDS (Figura

6).

42

Resultados

24 kDa

9467

45

30

20

14

kDa A B

24 kDa

9467

45

30

20

14

kDa A B

Figura 6. Análise por PAGE-SDS da proteína recombinante (rLacys24) resultante da

expressão do clone Lacys24 de L. (L.) amazonensis. Os extratos de E. coli BL21DE3

transformada com o plasmídio Lacys24/pHIS foram solubilizados com uréia 8 M, a

rLacys24 foi purificada em coluna de níquel e submetida à PAGE-SDS 12% e

coloração com azul de Coomassie. A – Padrão de massa molecular em kilodaltons

(kDa); B – rLacys24.

43

Resultados

Para verificar se a proteína rLacys24 corresponde a uma das isoformas de

cisteína proteinase de 30 kDa abundantemente expressas em amastigotas de L. (L.)

amazonensis, a rLacys24 foi utilizada para a imunização de camundongos BALB/c e

obtenção de soro policlonal monoespecífico contra a proteína recombinante (anti-

rLacys24). O extrato de amastigotas de L. (L.) amazonensis foi submetido à PAGE-

SDS e ”Western blotting”, utilizando-se o anticorpo monoclonal 2E5D3 produzido contra

uma das isoformas de 30 kDa de L. (L.) amazonensis e o soro policlonal anti-rLacys24.

A Figura 7 mostra que, semelhante à reatividade observada com o anticorpo

monoclonal, o soro anti-rLacys24 reagiu com uma proteína de 30 kDa do extrato do

parasita.

A B C DA B C D

Figura 7: Análise por “Western blotting” da rLacys24. Os extratos de amastigotas de L.

(L.) amazonensis foram submetidos à PAGE-SDS, transferidos para membrana de

nitrocelulose e incubados com soro de camundongo normal (B), o AcMo 2E5D3 (C) e

soro de camundongo anti-rLacys24 (D). O padrão de massa molecular aparente está

representado em kilodaltons (kDa) em A.

44

Resultados

3. Respostas imunes celulares induzidas pela rLacys24

Após a obtenção e purificação da proteína recombinante, foi determinada a

capacidade de a rLacys24 induzir respostas imunes celulares em camundongos

BALB/c. Assim, os animais foram primeiramente imunizados com a rLacys24 e ACF.

Quinze dias após a imunização subcutânea com 25 µg da rLacys24 mais ACF, os

linfonodos poplíteos e inguinais desses animais foram isolados para a análise das

populações de linfócitos T por citometria de fluxo. Os resultados dessa análise são

mostrados na Figura 8. Pode-se observar que nos animais controle imunizados apenas

com ACF a população dos linfócitos T CD4+ e T CD8+ foi de 25% e 11%,

respectivamente, enquanto que os camundongos imunizados com a rLacys24

apresentaram 23% de linfócitos T CD4+ e aumento significante da expressão de T

CD8+ (19%).

A resposta imune desencadeada pela rLacys24 foi também testada utilizando-se

outro adjuvante, P. acnes, para a imunização dos animais. Nesses experimentos os

camundongos receberam 4 doses da P. acnes mais rLacys24 por via intraperitoneal,

com intervalo de 1 semana entre as doses, e 14 dias após a última imunização foi

avaliado o perfil da resposta imune celular por citometria de fluxo. Os resultados

desses experimentos são mostrados na Figura 9. Como pode ser observado, os

animais do grupo controle imunizados apenas com a P. acnes apresentaram 14% e

5,8% de linfócitos CD4+ e CD8+, respectivamente, e nos imunizados com a rLacys24

essas porcentagens foram 15% de CD4+ e 5,5% de CD8+.

45

Resultados

A BC

D4

25%

CD

8

11%

CD

4

23%

CD

819%

A BC

D4

25%

CD

4

25%

CD

4

25%

CD

8

11%

CD

8

11%

CD

8

11%

CD

4

23%

CD

4

23%

CD

4

23%

CD

4

23%

CD

819%

CD

819%

Figura 8: Análise das populações de linfócitos T isolados dos linfonodos poplíteos e

inguinais de camundongos BALB/c imunizados por via subcutânea na pata com ACF

(A) e ACF+rLacys24 (B). Os linfócitos foram isolados, marcados com os anticorpos

monoclonais anti-CD4 e anti-CD8 e analisados por citometria de fluxo. Os resultados

expressam a porcentagem de células positivas no quadrante superior direito.

46

Resultados

CD

8

5,8%

14%

CD

4C

D8

5,8%

CD

8

5,8%

14%

CD

4A

CD

4

15%

CD

8

5,5%

CD

4

15%

CD

8

5,5%

CD

8

5,5%

B

CD

4

15%

CD

8

5,5%

CD

8

5,5%

CD

4

15%

CD

8

5,5%

CD

8

5,5%

BC

D8

5,8%

14%

CD

4C

D8

5,8%

CD

8

5,8%

14%

CD

4A

CD

8

5,8%

14%

CD

4C

D8

5,8%

CD

8

5,8%

14%

CD

4A

CD

4

15%

CD

8

5,5%

CD

4

15%

CD

8

5,5%

CD

8

5,5%

B

CD

4

15%

CD

8

5,5%

CD

8

5,5%

CD

4

15%

CD

8

5,5%

CD

8

5,5%

B

Figura 9: Análise das populações de linfócitos T isolados do baço de camundongos

BALB/c imunizados por via intraperitoneal com P. acnes (A) e P. acnes+rLacys24 (B).

Os linfócitos foram isolados, marcados com os anticorpos monoclonais anti-CD4 e anti-

CD8 e analisados por citometria de fluxo. Os resultados expressam a porcentagem de

células positivas no quadrante superior direito.

47

Resultados

4. Ensaio de citotoxicidade com linfócitos de camundongos imunizados com a rLacys24

Levando-se em conta o aumento da população de linfócitos T CD8+ nos

linfonodos inguinais e poplíteos dos camundongos BALB/c imunizados com a rLacys24

mais ACF previamente observado (Figura 8), foi realizado o ensaio de citotoxicidade

desses linfócitos. Nesse ensaio foram utilizados macrófagos peritoneais de

camundongos BALB/c infectados com L. (L.) amazonensis como células alvo. A

avaliação da lise foi feita pela coloração com cristal violeta, como descrito em Materiais

e Métodos (item 10.3). Os resultados desses experimentos são apresentados na Figura

10, podendo-se observar que a porcentagem de lise dos macrófagos infectados com L.

(L.) amazonensis foi de 24,8% em presença dos linfócitos isolados dos animais

controle e de 54,7% com os linfócitos dos camundongos imunizados com a rLacys24.

0

25

50

75

100

LIS

E (%

) *

0

25

50

75

100

LIS

E (%

)

0

25

50

75

100

LIS

E (%

) *

ACF

ACF + rLacys24

Lise total

0

25

50

75

100

LIS

E (%

) *

0

25

50

75

100

LIS

E (%

)

0

25

50

75

100

LIS

E (%

) *

ACF

ACF + rLacys24

Lise total

0

25

50

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100

LIS

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) *

0

25

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100

LIS

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0

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50

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100

LIS

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ACF

ACF + rLacys24

Lise total

0

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50

75

100

LIS

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) *

0

25

50

75

100

LIS

E (%

)

0

25

50

75

100

LIS

E (%

) *

ACF

ACF + rLacys24

Lise total

Figura 10: Ensaio de citotoxicidade dos linfócitos de camundongos BALB/c imunizados

com ACF + rLacys24 pela coloração com cristal violeta. As células-alvo foram

macrófagos peritoneais de camundongos BALB/c infectados com L. (L.) amazonensis e

a proporção linfócito:célula-alvo foi de 200:1.

48

Resultados

5. Imunização ativa de camundongos BALB/c com a rLacys24

Uma parte do grupo de camundongos imunizados com a rLacys24 e ACF ou P. acnes

como adjuvante foi desafiada com 2,5x105 amastigotas de L. (L.) amazonensis. O

desenvolvimento das lesões foi acompanhado até 3 meses após a infecção pela

medida do diâmetro das patas dos animais. As Figuras 11 e 12 ilustram os resultados

desses experimentos, podendo-se observar que os camundongos imunizados com a

rLacys24 e ACF apresentaram lesões menores que as dos controles, sendo

significante a diferença do tamanho das lesões nesses animais (Figura 11). Por outro

lado, os camundongos imunizados com a proteína recombinante não apresentaram

diferenças do diâmetro das lesões comparados aos controles quando P. acnes foi

utilizado como adjuvante (Figura 12).

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 1423456789

10PBS

SEMANAS APÓS A INFECÇÃO

DIÂ

MET

RO

DA

S P

ATA

S (m

m)

* #

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 111 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 1423456789

10PBS

SEMANAS APÓS A INFECÇÃO

DIÂ

MET

RO

DA

S P

ATA

S (m

m)

* #

ACF + rLacys24ACF

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 111 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 1423456789

10PBS

SEMANAS APÓS A INFECÇÃO

DIÂ

MET

RO

DA

S P

ATA

S (m

m)

* #

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 111 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 1423456789

10PBS

SEMANAS APÓS A INFECÇÃO

DIÂ

MET

RO

DA

S P

ATA

S (m

m)

* #

ACF + rLacys24ACF

Figura 11: Avaliação do grau de infecção de camundongos BALB/c imunizados com

ACF e rLacys24 por via subcutânea e desafiados com 2,5x105 amastigotas de L. (L.)

amazonensis. O diâmetro das patas foi avaliado durante as 13 semanas subseqüentes

à infecção. Os valores representam a média de 6 camundongos por grupo. * P< 0,05

em relação ao grupo que recebeu PBS; # P< 0,05 em relação ao grupo imunizado com

ACF.

49

Resultados

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 112

3

4

5

6

7

8

9PBSP. acnesP. acnes + rLacys24

SEMANAS APÓS A INFECÇÃO

DIÂ

MET

RO

DA

S PA

TAS

(mm

)

Figura 12: Avaliação do grau de infecção de camundongos BALB/c imunizados com P.

acnes e rLacys24 por via intraperitoneal e desafiados com 2,5x105 amastigotas de L.

(L.) amazonensis. O diâmetro das patas foi avaliado durante as 10 semanas

subseqüentes à infecção. Os valores representam a média de 7 camundongos por

grupo.

50

Resultados

6. Imunização ativa com a rLacys24 e a rLdccys1 de L. (L.) chagasi

Os experimentos de imunização com a rLacys24 que resultaram em decréscimo

da infecção homóloga quando se utilizou ACF como adjuvante (Fig. 11) levaram-nos a

testar outro antígeno nos experimentos de imunização ativa, visando a um maior grau

de proteção. Assim, a rLdccys1, uma cisteína proteinase recombinante de L. (L.)

chagasi, foi também utilizada para a imunização dos animais. Essa alternativa baseou-

se nos dados anteriores de nosso laboratório que mostraram que a rLdccys1 é capaz

de induzir respostas medidas por linfócitos CD4+ Th1 e alto grau de proteção de

camundongos BALB/c e hamsters contra a infecção por L. (L.) chagasi (Ferreira, 2006).

Nesses experimentos camundongos BALB/c foram imunizados com 4 doses de

rLdccys1 e P. acnes como adjuvante por via subcutânea e 14 dias após a última dose

foram desafiados com 2,5x105 amastigotas de L. (L.) amazonensis. Um grupo de

animais foi imunizado com a rLacys24, outro com a rLdccys1 e outro com a rLdccys1

mais a rLacys24, além do grupo controle que recebeu apenas o adjuvante. A carga

parasitária desses animais foi acompanhada pela medida das lesões das patas durante

3 meses após o desafio com L. (L.) amazonensis e por cultivo dos parasitas isolados

dos linfonodos inguinais e poplíteos em meio axênico após o sacrifício dos animais. A

resposta imune desses animais foi avaliada pela análise das populações de linfócitos

inguinais e poplíteos por citometria de fluxo e pela secreção de linfocinas por ELISPOT

nas culturas desses linfócitos reestimulados in vitro com os antígenos utilizados para a

imunização. As Figuras 13 e 14 representam os resultados desses experimentos.

Pode-se observar que as respostas imunes dos animais foi predominantemente CD4+ e

não houve diferença significante da porcentagem dessas células entre os grupos

estudados. A expressão de linfócitos CD8+ foi baixa em todos os grupos (em torno de

8-10%), porém houve um aumento significante da porcentagem dessas células nos

animais imunizados com os antígenos comparada à apresentada pelo grupo controle

(Figura 13). Na Figura 14 são mostrados os resultados de análise das linfocinas pelos

ensaios de ELISPOT. Em todos os grupos estudados houve produção de IFN-γ, não

tendo havido diferenças significantes de secreção dessa linfocina pelos linfócitos dos

animais controle, imunizados apenas com P. acnes, ou mesmo pelos linfócitos

reestimulados in vitro pelos antígenos recombinantes utilizados (Figura 14A). Em

relação à IL-4, pôde-se observar a produção significante dessa linfocina pelos linfócitos

de todos os animais. Entretanto, o nível secretado pelos linfócitos dos animais

51

Resultados

imunizados com os antígenos recombinantes foi significantemente mais baixo que o

dos animais controle, sendo esse decréscimo mais acentuado nos camundongos

imunizados com a rLdccys1 (Figura 14B). A IL-10 também foi analisada, porém não foi

detectada nas culturas de linfócitos de nenhum dos grupos de animais estudados.

A análise da infecção dos animais durante 3 meses após o desafio com a L. (L.)

amazonensis mostrou que não houve diferença significante do tamanho das lesões das

patas dos animais imunizados com os antígenos recombinantes em relação aos

controles (Figura 15 A). Também não foram observadas diferenças em nenhum dos

grupos estudados quando se avaliou a infecção dos animais pelo número de parasitas

presentes nos linfonodos inguinais e poplíteos (Figura 15B).

52

Resultados

CD3

CD

4

CD3

CD

8

26%

0,22%

CD

4

CD3

CD

8

CD3

39,5%

10%

CD

4

CD3

CD

8

CD3

35%

7,6%

A B C

CD3

CD

8

CD3

CD

4

9%

31%

D

CD3

CD

4

CD3

CD

8

26%

0,22%

CD

4

CD3

CD

8

CD3

39,5%

10%

CD

4

CD3

CD

8

CD3

35%

7,6%

A B C

CD3

CD

8

CD3

CD

4

9%

31%

D

Figura 13: Análise das populações de linfócitos T isolados dos linfonodos inguinais e

poplíteos de camundongos BALB/c imunizados com a rLacys24 + P. acnes (B),

rLdccys1 + P. acnes (C), rLacys24 + rLdccys1 + P. acnes (D), somente com P. acnes

(A) e desafiados com L. (L.) chagasi. Os linfócitos foram isolados, marcados com os

anticorpos monoclonais anti-CD4 e anti-CD8 e analisados por citometria de fluxo. Os

resultados expressam a porcentagem de células positivas no quadrante superior

direito.

53

Resultados

0

25

50

750

25

50

75

P. acnes +

rLacys24P. acnes

+rLdccys1

P. acnes+

rLacys24+ rLdccys1

P. acnes

Núm

ero

desp

ots/

1x10

6lin

fóci

tos

A

B

MCrLacys24rLdccys1rLacys24 + rLdccys1AM

MCrLacys24rLdccys1rLacys24 + rLdccys1AM

*

##

0

25

50

750

25

50

75

P. acnes +

rLacys24P. acnes

+rLdccys1

P. acnes+

rLacys24+ rLdccys1

P. acnes

Núm

ero

desp

ots/

1x10

6lin

fóci

tos

A

B

MCrLacys24rLdccys1rLacys24 + rLdccys1AM

MCrLacys24rLdccys1rLacys24 + rLdccys1AM

*

##

Figura 14: Produção de IFN-γ e IL-4 avaliada por ELISPOT. Os camundongos BALB/c

(6 animais por grupo) foram imunizados com os antígenos indicados e desafiados com

2,5x105 amastigotas de L. (L.) amazonensis. Três meses após o desafio, foram

isolados os linfonodos inguinais e poplíteos e os linfócitos foram cultivados em

presença dos antígenos indicados à direita em placas sensibilizadas com os anticorpos

anti-IFN-γ (A) ou anti-IL-4 (B). O controle foi feito pela incubação dos linfócitos em meio

completo sem antígeno (MC). Os dados referem-se aos spots de triplicatas contados

em microscópio estereoscópico e são representativos de um experimento de dois que

apresentaram resultados semelhantes. *P < 0,001 em relação aos outros grupos. #P< 0,01 em relação ao controle.

54

Resultados

55

A B

Semanas após a infecção

Tam

anho

das

pat

as (m

m)

0 2 4 6 8 10 12 140

5

10

15

20 P. acnesP. acnes + rLacys24P. acnes + rLdccys1P. acnes

+ rLacys24 + rLdccys1

Semanas após a infecção

Tam

anho

das

pat

as (m

m)

0 2 4 6 8 10 12 140

5

10

15

20 P. acnesP. acnes + rLacys24P. acnes + rLdccys1P. acnes

+ rLacys24 + rLdccys1

Núm

ero

depr

omas

tigot

as/m

l(1

x107 )

0.0

0.5

1.0

1.5

P. acnes P. acnes +

rLdccys1P. acnes

+ rLacys24

P. acnes +

rLacys24+

rLdccys1

Núm

ero

depr

omas

tigot

as/m

l(1

x107 )

0.0

0.5

1.0

1.5

P. acnes P. acnes +

rLdccys1P. acnes

+ rLacys24

P. acnes +

rLacys24+

rLdccys1

Figura 15: Avaliação da infecção dos camundongos BALB/c imunizados com a P.

acnes e os antígenos recombinantes e desafiados com L. (L.) amazonensis. As lesões

foram avaliadas pela medida do diâmetro das patas (A) e pela contagem dos

promastigotas resultantes da diferenciação e crescimento dos parasitas isolados dos

linfonodos poplíteos e cultivados por 5 dias em meio axênico (B). Os antígenos

utilizados para a imunização dos animais estão indicados na Figura A. Em A os valores

representam a média de 7 camundongos por grupo e em B está representado o

crescimento dos promastigotas a partir do cultivo do “pool” dos parasitas de 7

camundongos de cada grupo.

Discussão

56

Discussão

A abordagem do presente trabalho foi avaliar a capacidade de uma cisteína

proteinase recombinante de L. (L.) amazonensis induzir respostas imunes protetoras

contra a infecção homóloga em modelo murino. A maior parte dos estudos de

cisteína proteinases de Leishmania enfoca a participação dessas enzimas como

fatores de virulência desses protozoários aos macrófagos e na sobrevivência e

crescimento desses parasitas nos hospedeiros vertebrados (Mottram et al., 1996;

Mottram et al., 1998). Por outro lado, são bem mais escassos os trabalhos que

analisam a implicação de cisteína proteinases de Leishmania em respostas imunes

celulares. Enquanto duas cisteína proteinases caracterizadas em amastigotas de L.

(L.) infantum, CPA e CPB, foram utilizadas para a imunização protetora de

camundongos BALB/c e cães contra a leishmaniose visceral (Rafati et al., 2000;

Rafati et al., 2005), a utilização de cisteína proteinases das espécies cutâneas de

Leishmania como imunógenos tem sido pouco explorada. Demonstrou-se que a CPa

de L. (L.) major induziu a produção de IFN-γ e proteção de camundongos BALB/c

contra a infecção homóloga (Rafati et al., 2000) e mais recentemente proteção

duradoura foi observada pela imunização dos camundongos com a mistura dos

genes cpa e cpb, assim como com as cisteína proteinases recombinantes (rCPa e

rCPb) (Rafati et al., 2006). No modelo L. (L.) amazonensis não existem relatos da

literatura sobre a utilização de cisteína proteinases na indução de respostas imunes,

tendo sido pioneiro o trabalho em que a forma nativa de uma cisteína proteinase de

30 kDa de amastigotas de L. (L. ) amazonensis conferiu imunidade protetora em

camundongos BALB/c contra o desafio homólogo (Beyrodt et al., 1997).

No presente trabalho inicialmente um fragmento de 500 pb, codificador de

cisteína proteinase de amastigotas de L. (L.) amazonensis originado previamente em

nosso laboratório, foi subclonado em vetor de expressão bacteriano. Esse clone,

denominado Lacys24 e anteriormente clonado no vetor pMOS, apresentou

identidade superior a 90% com os genes codificadores de cisteína proteinases de L.

(L.) pifanoi e L. (L.) mexicana denominados, respectivamente, Lpcys1 e Lcpa,

enquanto que um menor grau de identidade, porém significante, com os genes

Ldccys2 de L. (L.) chagasi e cpa de L. (L.) major (Oliveira, 2001). A análise

comparativa da seqüência de nucleotídeos do clone Lacys24 anteriormente obtido

com a seqüência de um dos três clones resultantes da amplificação do Lacys24 por

PCR, realizada no presente trabalho, mostrou um alto grau de similaridade entre

essas seqüências (Figura 4). A localização dos prováveis epítopos de células T do

57

Discussão

clone Lacys24 pelo programa AMPHI mostrou três motivos de ligação ao MHC de

classe II e um ao MHC de classe I na seqüência desse clone (Figura 5). Esses

resultados indicam a possibilidade de participação de linfócitos T CD4+ e CD8+ nas

respostas induzidas pela proteína codificada pelo clone Lacys24, levando-nos a

subcloná-lo no vetor de expressão bacteriano pHIS paralelo 3. A expressão do clone

Lacys24 nesse vetor originou uma proteína de tamanho esperado de 24 kDa

(rLacys24) cuja pureza foi demonstrada por PAGE-SDS após a passagem do extrato

bacteriano em coluna de níquel (Figura 6). Por “Western blotting” verificou-se que o

soro policlonal de camundongo anti-rLacys24 reagiu com uma proteína de 30 kDa do

extrato de amastigotas de L. (L.) amazonensis (Figura 7). Esse resultado indica que

a rLacys24 corresponde a uma das isoformas de cisteína proteinase de 30 kDa

abundantemente expressas em amastigotas de L. (L.) amazonensis. Por outro lado,

a rLacys24 não foi reconhecida pelo anticorpo monoclonal 2E5D3 produzido contra

uma isoforma de 30 kDa de amastigotas de L. (L.) amazonensis (Beyrodt et al.,

1997). A não reatividade da rLacys24 com esse anticorpo pode indicar que o clone

Lacys24 codifica uma isoforma diferente da reativa com o MoAc 2E5D3. A outra

possibilidade é que o epítopo reconhecido por esse anticorpo pode ser codificado

por uma região do gene não presente no fragmento de 500 pb amplificado para a

obtenção do clone Lacys24, pois a clonagem e análise da seqüência completa do

gene Lacys24 mostrou que ele apresenta 1,08 kb (Lasakosvitsch et al., 2003).

A antigenicidade da rLacys24 foi primeiramente avaliada pela sua capacidade

de induzir respostas proliferativas de linfócitos CD4+ e CD8+ em camundongos

BALB/c utilizando-se ACF ou P. acnes como adjuvantes para a imunização dos

animais com a proteína recombinante. Os resultados desses experimentos

permitiram concluir que a imunização subcutânea com a rLacys24 + ACF levou ao

aumento da população T CD8+, enquanto que não houve diferença na expressão

dos linfócitos T CD4+ nesses animais comparada à dos controles imunizados apenas

com o adjuvante (Figura 8). Por outro lado, a imunização com a rLacys24 + P. acnes

por via intraperitoneal não levou ao aumento da expressão de CD4+ ou CD8+ no

baço dos camundongos imunizados (Figura 9).

O aumento da população de linfócitos T CD8+ nos linfonodos poplíteos e

inguinais dos camundongos BALB/c levou-nos a testar a possível atividade citotóxica

desses linfócitos sobre macrófagos infectados com L. (L.) amazonensis. Observou-

se que a atividade citotóxica dos linfócitos dos animais imunizados com a rLacys24

58

Discussão

foi significantemente maior que a exercida pelos linfócitos dos controles que

receberam apenas o ACF (Figura 10). Esses resultados mostram que os linfócitos T

CD8+ induzidos pela rLacys24 reconhecem epítopos dos antígenos de L. (L.)

amazonensis naturalmente processados e apresentados pelos macrófagos

infectados. Apesar de escassos, alguns exemplos de parasitas que residem em

compartimentos vacuolares de macrófagos e são capazes de acessar a via classe I

de apresentação aos linfócitos têm sido mostrados com Chlamydia trachomatis e

Toxoplasma gondii (Beatty and Stephens, 1994; Denkers et al., 1993). Com

Leishmania foi demonstrado que macrófagos infectados com L. (L.) major, L. (L.)

infantum e L. (L.) amazonensis podem apresentar antígenos dos parasitas via MHC

classe I aos linfócitos CD8+ (Conceição-Silva et al., 1994; Pinelli et al., 1995, 1995;

Kima et al., 1997).

O possível poder protetor induzido nos camundongos BALB/c contra a

infecção homóloga foi analisado pelo desafio com L. (L.) amazonensis dos animais

imunizados com a rLacys24 juntamente com ACF ou P. acnes. Os resultados desses

experimentos mostraram que enquanto os animais imunizados com a rLacys24 + P.

acnes não apresentaram diferenças no diâmetro das lesões das patas durante a

infecção com L. (L.) amazonensis, as lesões dos camundongos imunizados com a

rLacys24 +ACF foram menores que as dos controles que receberam apenas o ACF

(Figura 11). Esses resultados sugerem que a proteção parcial contra a L. (L.)

amazonensis exibida por esses animais pode estar relacionada à atividade citotóxica

dos linfócitos CD8+ observada in vitro pela lise dos macrófagos infectados com L.

(L.) amazonensis (Figura 10). Embora a maior parte dos trabalhos de imunização

contra o desafio com L. (L.) amazonensis mostre o envolvimento de linfócitos CD4+

Th1 produtores de IFN-γ na proteção dos animais imunizados (Campbell et al., 2003;

Coelho et al., 2003; Campbell et al., 2004; Pinto et al., 2004; Aguilar-Be et al., 2005;

Vasquez e Soong, 2006), a participação de linfócitos T CD8+ com produção de

perforina, além de IFN-γ, foi demonstrada em camundongos BALB/c imunizados com

o antígeno P8 de L. (L.) pifanoi e protegidos contra o desafio com L. (L.)

amazonensis (Colmenares et al., 2003).

Os resultados de proteção parcial dos camundongos pela rLacys24

encorajaram-nos a testar outro antígeno, a cisteína proteinase recombinante de

amastigotas de L. (L.) chagasi, rLdccys1, visando à maior proteção dos animais

contra o desafio com a L. (L.) amazonensis. Nesses experimentos a P. acnes foi

59

Discussão

utilizada como adjuvante para a imunização e o desafio com a L. (L.) amazonensis.

Os animais imunizados com a rLacys24, a rLdccys1 ou os dois antígenos

recombinantes associados, não apresentaram diferenças do tamanho das lesões

comparados aos controles que receberam apenas o adjuvante (Figura 15A). Esses

resultados foram confirmados pelo outro parâmetro utilizado para a avaliação da

infecção, o crescimento dos promastigotas resultantes da diferenciação dos

amastigotas isolados das lesões em meio axênico (Figura 15B).

A análise das respostas imunes por citometria de fluxo mostrou o predomínio

de linfócitos CD4+ nos animais imunizados com os antígenos recombinantes e

desafiados (Figura 13) e não houve diferença significante da porcentagem dessas

células nos controles que receberam apenas a P. acnes. Resultados semelhantes

também foram observados em relação à produção de IFN-γ, pois houve secreção

dessa linfocina pelos linfócitos de todos os animais analisados (Figura 14). Não

houve também diferenças quanto à secreção de IFN-γ quando os linfócitos foram

reestimulados ou não in vitro com os antígenos recombinantes. Isso provavelmente

se deve à forte estimulação antigênica dos animais pela L. (L.) amazonensis, pois a

análise das respostas imunes foi feita três meses após o desafio e, como foi

observado, o número de parasitas nas lesões das patas era muito grande. É

importante lembrar também que nas infecções de camundongos pela L. (L.)

amazonensis existe uma infiltração muito grande de parasitas nos linfonodos

regionais.

Os resultados de indução de respostas imunes mediadas por linfócitos CD4+

com a produção de IFN-γ nos controles que receberam apenas o adjuvante

corroboram os dados da literatura que mostram que a P. acnes, empregada no

tratamento de pacientes com imunossupressão, induz a síntese de citocinas pró-

inflamatórias, como IL-1α, IL-6, TNF-α e principalmente IL-12 e IL-18 que levam à

liberação de IFN-γ (Bomford, 1980; Matsui et al., 1997). P. acnes foi utilizada como

adjuvante na imunização gênica de camundongos BALB/c contra a infecção com

Trypanosoma cruzi, induzindo forte resposta mediada por linfócitos CD4+ Th1 e

significante redução da parasitemia dos animais imunizados (Mussalem et al., 2006).

Na leishmaniose experimental, a P. acnes foi utilizada em experimentos de

imunização com vários antígenos de Leishmania em animais suscetíveis, resultando

em imunidade protetora (Scott et al., 1987; Jaffe et al., 1990; White and McMahon-

60

Discussão

Pratt, 1990; Scott et al., 1990; Soong et al., 1995; Ghosh et al., 2002; Colmenares et

al., 2003). Em nosso laboratório, utilizou-se a P. acnes como adjuvante para a

imunização de camundongos BALB/c com uma cisteína proteinase nativa e

recombinante de L. (L.) chagasi (rLdccys1) que resultou em forte proteção contra o

desafio homólogo mediada por respostas Th1 (Pinto et al, 2000; Ferreira, 2006;

Ferreira et al., 2007). No presente trabalho, não houve aumento das respostas

imunes induzidas pelos antígenos recombinantes nos animais imunizados em

relação às desencadeadas pela P. acnes. Quanto à rLdccys1, esses resultados

diferem dos observados quando esse antígeno foi utilizado para a imunização dos

camundongos BALB/c e desafio com a L. (L.) chagasi. Vários fatores devem ser

considerados que levaram à discrepância das respostas imunes à rLddcys1

observada. Um deles é a via de imunização, pois nos experimentos com a L. (L.)

chagasi os camundongos foram imunizados pela via intraperitoneal. No presente

trabalho a via subcutânea foi a escolhida visando privilegiar a resposta nos

linfonodos regionais, já que o desafio foi com uma espécie cutânea de Leishmania.

O outro fator, e provavelmente o mais relevante, refere-se à suscetibilidade dos

camundongos BALB/c às duas espécies de Leishmania utilizadas. Enquanto nesses

animais a infecção pela L. (L.) chagasi evolui para uma doença subclínica, há

progressão acentuada das lesões cutâneas pela L. (L.) amazonensis, com uma

infiltração muito grande de amastigotas nessas lesões.

A única diferença entre as respostas imunes dos controles e as dos animais

imunizados com os antígenos recombinantes foi a produção de IL-4. Essa linfocina

foi detectada nas culturas de linfócitos de todos os animais, porém a sua secreção

foi significantemente menor nos camundongos imunizados com os antígenos, sendo

a menor expressão observada nas culturas dos linfócitos dos camundongos

imunizados com a rLdccys1 (Figura 14B). Com base nesses achados, poderia ser

aventado que no grupo que recebeu apenas a P. acnes a IL-4 estaria exercendo um

controle negativo sobre a possível ação leishmanicida dos macrófagos por IFN-γ.

Entretanto, nos animais imunizados com a rLacys24 ou a rLdccys1 a secreção de IL-

4 foi significantemente reduzida e esses animais também não apresentaram

diferenças do tamanho das lesões. Esses resultados corroboram as evidências da

literatura que demonstraram que as lesões crônicas características da infecção por

L. (L.) amazonensis em animais suscetíveis são independentes da expressão de IL-4

(Afonso & Scott, 1993; Jones et al., 2000). Em nossos experimentos foi também

61

Discussão

avaliada a secreção de IL-10, porém essa linfocina não foi detectada nas culturas

dos linfócitos. Assim como a IL-4, a IL-10 não pode ser correlacionada com a

persistência da infecção pela L. (L.) amazonensis nos animais imunizados, tendo

sido observado que não há cura das lesões em camundongos C57BL/6 deficientes

em IL-10 (Jones et al., 2002). Todos esses achados indicam que, como algumas

evidências apontam, enquanto a dicotomia Th1/Th2 é correlacionada com a

suscetibilidade/resistência à L. (L.) major em modelo murino, a suscetibilidade à L.

(L.) amazonensis não está associada a respostas polarizadas para Th2 (Afonso and

Scott, 1993; Soong et al., 1997). Além disso, a resistência não pode ser

correlacionada ao predomínio de respostas Th1, pois embora a ativação dos

macrófagos por IFN-γ exerça um efeito leishmanicida sobre a L. (L.) amazonensis,

esse efeito pode ser modulado pela inibição da síntese de óxido nítrico pelos

amastigotas nos macrófagos infectados (Balestieri et al., 2002). Apesar de esses

autores terem observado que a ativação por IFN-γ é capaz de reverter essa inibição,

parece ocorrer também uma modulação negativa do efeito leishmanicida do óxido

nítrico pela L. (L.) amazonensis nos macrófagos infectados. Isso pode ser observado

quando macrófagos infectados são ativados com IFN-γ e LPS com produção de

níveis significantes de óxido nítrico que, no entanto, é acompanhada pela destruição

de apenas 20-25% dos amastigotas intracelulares (comunicação pessoal).

Outro fator importante a ser considerado na infecção por L. (L.) amazonensis

é a forma do parasita utilizada para o desafio dos animais. A indução de respostas

mediadas por Th1 pela transferência endovenosa de uma linhagem celular secretora

de IFN-γ e TNF-α não foi capaz de controlar a infecção de camundongos C57BL/6

por amastigotas de L. (L.) amazonensis, enquanto que reduziu mais de 1.0000

vezes a carga parasitária dos animais desafiados com as formas promastigotas.

Ensaios com macrófagos infectados in vitro com L. (L.) amazonensis e ativados com

IFN-γ corroboraram esses achados, pois a atividade leishmanicida dos macrófagos

tratados foi observada somente quando eles eram infectados com os promastigotas

(Qi et al., 2004). Em nossos ensaios os animais foram desafiados com amastigotas

recém-isolados das lesões e isso pode ter limitado a resolução da infecção nos

animais imunizados mesmo na presença de IFN-γ. Isso indica que novos esquemas

de imunização com a rLacys24 e a rLdccys1 devem ser testados visando à indução

62

Discussão

63

de outros fatores que possam exercer uma ação sinergística com o IFN-γ que

resultem em um efeito leishmanicida mais eficaz.

É importante ressaltar ainda que nos animais imunizados com os antígenos

recombinantes não houve expressão significante de linfócitos CD8+ (Figura 13) que,

como foi mostrado nesse trabalho (Figuras 8, 10 e 11) e apoiado por alguns dados

da literatura (Colmenares et al., 2003), exercem um papel importante na redução da

carga parasitária dos animais infectados com L. (L.) amazonesnis.

Um outro ponto a ser considerado é que o efeito protetor parcial obtido pela

imunização com a rLacys24 e ACF como adjuvante mostrada no presente trabalho

foi menor do que o previamente obtido pela imunização com a cisteína proteinase de

30 kDa nativa de L. (L.) amazonensis (Beyrodt et al., 1997). Essa diferença pode

estar relacionada ao próprio antígeno utilizado, pois como anteriormente

especificado, as cisteína proteinases de 30 kDa dos amastigotas de L. (L.)

amazonensis são expressas como isoformas e muito provavelmente a Lacys24

representa uma isoforma diferente da anteriormente utilizada para a imunização dos

animais.

Em conclusão, apesar da reduzida proteção conferida pela rLacys24

observada no presente trabalho, os dados obtidos sugerem que esse antígeno pode

ser utilizado em novas estratégias de imunização que induzam respostas mediadas

por linfócitos CD4+ e CD8+ mais eficazes contra a infecção pela L. (L.) amazonensis.

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