USO DE OPIOIDES PELA VIA EPIDURAL EM CÃES E...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIS
ESCOLA DE VETERINRIA E ZOOTECNIA
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM CINCIA ANIMAL
Disciplina: SEMINRIOS APLICADOS
USO DE OPIOIDES PELA VIA EPIDURAL EM CES E GATOS
Louise Pereira Mortate Orientador: Juan Carlos Duque Moreno
GOINIA 2013
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LOUISE PEREIRA MORTATE USO DE OPIOIDES PELA VIA EPIDURAL EM CES E GATOS
Seminrio apresentado junto Disciplina de Seminrios Aplicados do Programa de Ps-Graduao em Cincia Animal da Escola de Veterinria e Zootecnia da Universidade Federal de Gois. Nvel: Mestrado
rea de Concentrao: Patologia, Clnica e Cirurgia Animal
Orientador: Prof. Dr. Juan Carlos Duque Moreno - UFG
Comit de Orientao: Profa. Dra. Celina Tie Nishimori Duque - UFG
Prof. Dr. Luiz Augusto de Souza - UFG
GOINIA 2013
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SUMRIO 1INTRODUO 01 2 REVISO DE LITERATURA 03 2.1 Indicaes do uso dos opioides pela via epidural 03 2.2 Receptores opiodes e classificao dos frmacos opioides 04 2.3 Fisiologia da dor aguda 06 2.3.1 Dor somtica 06
2.3.2 Dor visceral 09
2.4 Mecanismo de ao dos opioides 09 2.5 Farmacocintica dos opioides administrados pela via epidural 10 2.6 Tcnica da injeo epidural 11 2.7. Principais opioides utilizados pela via epidural 12 2.7.1 Morfina 12
2.7.2 Butorfanol 12
2.7.3 Metadona 13
2.7.4 Buprenorfina 14
2.7.5 Tramadol 15
2.7.6 Fentanil 16
2.7.7 Sufentanil 17
2.8 Associao dos opioides a outras classes de frmacos 18 2.8.1 Anestsicos locais 18
2.8.2 Agonistas de receptores adrenrgicos -2 19
2.8.3 Dissociativos 20
2.9 Efeitos adversos 21 2.9.1 Depresso Respiratria 21
2.9.2 Reteno urinria 23
2.9.3 Prurido 25
2.9.4 Vmito 26
2.9.5 Mioclonia 26
2.9.6 Disforia 27
3 Consideraes Finais 28 4 Referencias 30
1 INTRODUO
A partir da semente da papoula extrado um liquido leitoso, do qual
obtido o pio. Em 1806, um farmacutico alemo chamado Friedrich Wilhelm
Adam Sertrner isolou a morfina, que recebeu esse nome em homenagem a
Morfeu, o deus do sono. Desde ento, os opioides so utilizados na medicina e na
medicina veterinria para o controle da dor (SCHUMACHER, 2006). Os opioides
so substncias com propriedades analgsicas utilizados no controle da dor
aguda e crnica (LUMB & JONES, 2007). O termo opioide usado para todos
os frmacos naturais, semissintticos ou sintticos com propriedades similares s
da morfina, incluindo os peptdeos endgenos. Enquanto que o termo opiaceo
utilizado para designar os derivados do pio, incluindo a morfina, os derivados
semissintticos e a codena (FANTONI, 2012).
A anestesia epidural consiste na deposio de frmacos com
propriedades anestsicas locais no espao epidural, que se localiza entre a dura-
mter e o canal vertebral (KLAUMANN & OTERO, 2013). A presena intensa de
receptores opioides na substancia gelatinosa no corno dorsal da medula espinhal
sugeriu que a administrao de doses pequenas de opioides no espao epidural
produz analgesia, o que posteriormente foi comprovado (YAKSH & RUDY, 1976).
A administrao de opioides via epidural induz analgesia mais profunda
e prolongada, com doses baixas e sedao menos intensa, em comparao com
a via parenteral. Diferentemente dos anestsicos locais, a administrao epidural
de opioides para o tratamento da dor bloqueia os impulsos nociceptivos sem
afetar as atividades motora e autonmicas geradas na medula espinhal,
fornecendo analgesia sem produzir hipotenso, ou convulses (COUSINS &
MATHER, 1984; FANTONI, 2012). As indicaes para administrao de opioides
pela via epidural so o fornecimento de analgesia nos perodos trans e
perioperatrio, alm do controle da dor aguda e crnica por perodos prolongados,
pelo uso de cateteres epidurais (FANTONI, 2012).
Quando a dor no manejada de forma adequada, o paciente pode
apresentar arritmias cardacas, hipercapnia, aumento do catabolismo proteico,
atraso na cicatrizao de feridas e prolongamento da hospitalizao (MATHEWS,
2000); isso demonstra claramente a importncia do controle da dor, na qual os
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opioides tem papel primordial. Dentro deste contexto a via epidural um item
auxiliar, j que promove analgesia sem os efeitos colaterais tpicos da
administrao dos opioides pela via parenteral, que por muitas vezes, so motivos
da suspenso dos frmacos analgsicos, comprometendo a recuperao do
paciente.
Com esta reviso de literatura objetiva-se abordar a farmacocintica e
farmacodinmica dos principais opioides utilizados pela via epidural em ces e
gatos nos perodos trans e perioperatrio para o controle da dor aguda, bem
como seus efeitos desejveis e indesejveis. Nesta reviso no ser abordado o
uso dos opioides por via epidural no controle da dor crnica, pois a patogenia
dessa doena e a abordagem teraputica a estes pacientes so diferentes.
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2 REVISO DE LITERATURA 2.1 Indicaes do uso dos opioides pela via epidural
As indicaes para administrao de opioides pela via epidural so o
fornecimento de analgesia nos perodos trans e ps-operatrio e, atravs da
colocao de cateter epidural, o alvio de dores agudas e crnicas por perodos
prolongados (FANTONI, 2012). A dor aguda um sinal relacionado com alguma
doena, j a dor crnica uma doena propriamente dita, sendo nociva e
independente do estimulo que a gerou (FANTONI & MASTROCINQUE, 2002).
H recomendaes para o uso dos opioides pela via epidural no
perodo perioperatrio de intervenes cirrgicas que podem ocasionar dor
intensa e prolongada como, por exemplo, cirurgias abdominais, torcicas,
genitourinrias, ortopdicas, em pacientes com alto risco cirrgico, obesos,
portadores de insuficincia respiratria e idosos (McMURPHY, 1993)
O trauma cirrgico ou acidental induz liberao de mediadores
qumicos inflamatrios que diminuem o limiar das fibras aferentes, levando ao
aparecimento da sensibilizao perifrica (hiperalgesia) e central (alodinia).
(VALADO et al., 2002). A hiperalgesia o aumento da resposta a um estmulo
nocivo e pode ser primria, quando a hiperalgesia se localiza na regio da leso,
e secundria quando a hiperalgesia se localiza na regio que circunda a leso. O
termo alodinia definido como a dor que surge como resultado de estimulao
no nociva sobre a pele normal (FANTONI & MASTROCINQUE, 2002). A reduo
das alteraes ocasionadas pela sensibilizao central devido aos estmulos
nociceptivos durante a dor aguda previne o desenvolvimento da dor crnica, cujo
tratamento mais laborioso e desafiador se comparado dor aguda (OTERO,
2005).
Por causa da ao analgsica dos opioides, h diminuio da dose dos
anestsicos gerais intravenosos e reduo da concentrao alveolar mnima
(CAM) dos anestsicos inalatrios necessrios para manter a anestesia,
reduzindo assim os efeitos indesejados dos anestsicos gerais, tais como
depresso respiratria e hipotenso (CAMPAGNOL et al., 2012). A CAM
definida como a concentrao de um anestsico inalatrio, em uma atmosfera,
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necessria para abolir movimentos em resposta a um estimulo nocivo em metade
dos pacientes testados (OLIVA, 2002). A associao de tcnicas e frmacos em
doses baixas com a finalidade de reduzir seus efeitos adversos baseada na
teoria da anestesia multimodal, desejvel para um procedimento anestsico
seguro e que garanta qualidade analgsica para o paciente (POSSO &
ASHMAWI, 2012).
2.2 Receptores opioides e classificao dos frmacos opioides
O efeito dos opioides mediado por sua ligao a receptores
especficos encontrados no sistema nervoso central, mimetizando os efeitos
decorrentes da ligao dos peptdeos endgenos (FANTONI & GODOI, 2012).
Existem pelo menos trs tipos de receptores opioides, os receptores mi
ou mu (), kappa () e delta (). Os receptores so divididos nos subtipos 1, 2
e 3, sendo distribudos ao longo de toda a medula espinhal e so os principais
responsveis pela analgesia quando se utiliza frmacos opioides (VALADO et
al., 2002; FANTONI & GODOI, 2012). Os receptores so divididos em pelo
menos quatro subtipos: 1a, 1b, 2 e 3 , e se localizam no segmento lombo-sacral
da medula espinhal (VALADO et al., 2002; FANTONI & GODOI, 2012). Os
receptores so divididos em dois subtipos, 1 e 2, porem os seus efeitos no
so totalmente compreendidos (FANTONI & GODOI, 2012). Esses receptores tem
sua distribuio restrita aos segmentos cervicais (VALADO et al., 2002).
Foi caracterizado recentemente um quarto tipo de receptor opioide, o
receptor para nociceptina, que produz um efeito anti-opioide, ou seja, pr-
nociceptivo, ao contrario dos outros receptores opioides (FANTONI & GODOI,
2012).
Os receptores e so responsveis pela inibio dose dependente
das respostas aos estmulos termocutneos e os receptores esto relacionados
potente supresso da resposta aos estmulos qumicos viscerais, mas no
interferem na nocicepo somtica (VALADO et al., 2002).
Existem diferenas na farmacodinmica dos opioides para os
receptores no sistema nervoso central (SNC) entre as espcies animais, mas, de
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forma geral, a analgesia espinhal mediada pela ativao dos receptores 1, 2,
e (VALADO et al., 2002).
Os opioides se classificam em agonistas puros, agonistas parciais,