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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA MESTRADO NACIONAL PROFISSIONAL EM ENSINO DE FÍSICA
SOCIEDADE BRASILEIRA DE FÍSICA
ALEXSANDRO DE OLIVEIRA FIGUEIRÊDO
A FÍSICA BRASILEIRA NA EDUCAÇÃO BÁSICA: DISCUTINDO AS CONTRIBUIÇÕES DE CÉSAR LATTES PARA A DESCOBERTA DO MÉSON Π A PARTIR DE UMA ABORDAGEM
HISTÓRICA E CONCEITUAL
FEIRA DE SANTANA - BA 2017
ALEXSANDRO DE OLIVEIRA FIGUEIRÊDO
A FÍSICA BRASILEIRA NA EDUCAÇÃO BÁSICA: DISCUTINDO AS CONTRIBUIÇÕES DE CÉSAR LATTES PARA A DESCOBERTA DO MÉSON Π A PARTIR DE UMA ABORDAGEM
HISTÓRICA E CONCEITUAL
Dissertação de Mestrado Nacional Profissional de Ensino de Física, na Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS/BA. Pesquisa financiada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES. Área de concentração: Física na Educação Básica Orientadora: Profa Dra Indianara Silva Coorientador: Prof. Dr. Franz A. Farias
FEIRA DE SANTANA - BA 2017
ALEXSANDRO DE OLIVEIRA FIGUEIRÊDO
A FÍSICA BRASILEIRA NA EDUCAÇÃO BÁSICA: DISCUTINDO AS CONTRIBUIÇÕES DE CÉSAR LATTES PARA A DESCOBERTA DO MÉSON Π A PARTIR DE UMA ABORDAGEM
HISTÓRICA E CONCEITUAL
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ensino de
Física no Curso de Mestrado Profissional de Ensino de Física (MNPEF), como parte
dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Ensino de Física.
Aprovada em ______ de 2017.
_________________________________________________ Profª Drª Indianara Lima Silva – Orientadora
_________________________________________________ Prof.Dr. José Luís Michinel ( UEFS)
_________________________________________________ Prof.Dr. Milton Souza Ribeiro (UEFS)
_________________________________________________ Prof. Dr. Olival Freire Jr. (UFBA)
À
Minha mãe, guerreira, Maria Lúcia.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus, pela oportunidade da vida. À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pelo financiamento da pesquisa desenvolvida durante o Mestrado. A todos os professores e colegas do Mestrado Profissional de Ensino de Física da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), pela oportunidade de integrar este programa. À direção da escola onde apliquei a Sequência Didática e aos alunos que participaram desse trabalho. Aos meus orientadores, Profa Dra Indianara Lima Silva e Prof. Dr. Franz A. Farias, pela paciência, dedicação e conselhos que contribuíram para realização dessa conquista. Ao Prof. Dr. Antônio A. Neto, que se afastou da coorientação desse trabalho por conta do pós-doutorado, pelas contribuições iniciais. Ao meu filho, amigos e familiares que souberam lidar com minhas ausências durante o desenvolvimento deste trabalho. À minha esposa, pela ajuda e pelas palavras de incentivo durante a realização desse trabalho. Aos meus pais, por contribuírem para que eu chegasse até aqui; em especial, à minha mãe, pelo exemplo de garra em busca de um objetivo. Por fim, reitero os meus agradecimentos a todos e a todas que, diretamente ou indiretamente, contribuíram para a realização dessa pesquisa.
A ciência deve ser universal, sem dúvida. Porém, nós não devemos acreditar incondicionalmente nisto.
César Lattes
RESUMO
Com este estudo, pretende-se contribuir para a divulgação da Física brasileira em sala de aula. Ele consiste em uma pesquisa qualitativa que trata da inserção de tópicos de Física de Partículas através de abordagem conceitual, particularmente a primeira proposta de Yukawa para interação forte, a partir da história da descoberta do méson π com as contribuições do brasileiro César Lattes. A pesquisa consistiu na elaboração, aplicação e avaliação de uma sequência didática fundamentada na teoria de aprendizagem significativa de David Ausubel. Palavras-chave: Física de Partículas. Aprendizagem significativa. Partícula elementar. Partícula mediadora. Interação forte.
ABSTRACT
This work represents our contribution to disseminate Brazilian Physics in the classroom. It consists of a qualitative research about the insertion of topics of Particle Physics through a conceptual approach, particularly the first proposal of Yukawa for strong interaction, from the history of the discovery of the π meson with the contributions of the brazilian scientist, César Lattes. The research consisted in the elaboration, application and evaluation of a didactic sequence based on the theory of significant learning of David Ausubel. Keywords: Particle Physics. Significant learning. Elementary particle. Mediating particle. Strong interaction.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 Problematização e Questão um do Questionário inicial respondido pelo aluno 1 ..................................................................
Figura 2 Questões dois a oito do Questionário inicial respondido pelo aluno 1 .....................................................................................
Figura 3 Problematização e Questão um do Questionário inicial respondido pelo aluno 2 ..................................................................
Figura 4 Problematização e Questão um do Questionário inicial respondido pelo aluno 5 ..................................................................
Figura 5 Questões dois a oito do Questionário inicial respondido pelo aluno 5 .....................................................................................
Figura 6 Problematização e Questão um do Questionário inicial respondido pela aluna 6 ..................................................................
Figura 7 Questões dois a oito do Questionário inicial respondido pela aluna 6 .....................................................................................
Figura 8 Problematização e Questão um do Questionário inicial
respondido pela aluna 9 ..................................................................
Figura 9 Questões dois a oito do Questionário inicial respondido pela aluna 9 .....................................................................................
Figura 10 Problematização e Questão um do Questionário inicial respondido pelo aluno 10 ................................................................
Figura 11 Questões dois a oito do Questionário inicial respondido pelo aluno 10 ...................................................................................
Figura 12 Problematização e Questão um do Questionário inicial respondido pelo aluno 11 ................................................................
Figura 13 Questões dois a oito do Questionário inicial respondido pelo aluno 11 ...................................................................................
Figura 14 Problematização e Questão um do Questionário inicial respondido pelo aluno 12 ................................................................
Figura 15 Questões dois a oito do Questionário inicial respondido pelo aluno 12 ...................................................................................
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Figura 16 Problematização e Questão um do Questionário inicial respondido pela aluna 13 ................................................................
Figura 17 Questões dois a oito do Questionário inicial respondido pela aluna 13 ...................................................................................
Figura 18 Problematização e Questão um do Questionário inicial respondido pela aluna 14 ................................................................
Figura 19 Questões dois a oito do Questionário inicial respondido pela aluna 14 ...................................................................................
Figura 20 Problematização e Questão um do Questionário inicial respondido pela aluna 15 ................................................................
Figura 21 Questões dois a oito do Questionário inicial respondido pela aluna 15 ...................................................................................
Figura 22 Problematização e Questão um do Questionário inicial respondido pela aluna 18 ................................................................
Figura 23 Questões dois a oito do Questionário inicial respondido pela aluna 18 ...................................................................................
Figura 24 Problematização e Questão um do Questionário inicial respondido pela aluna 19 ................................................................
Figura 25 Questões dois a oito do Questionário inicial respondido pela aluna 19 ...................................................................................
Figura 26 Problematização e Questão um do Questionário inicial respondido pela aluna 21 ................................................................
Figura 27 Questões dois a oito do Questionário inicial respondido pela aluna 21 ...................................................................................
Figura 28 Quadro branco contendo os conceitos principais discutidos nesse encontro ...............................................................
Figura 29 Recorte da tela de vídeo exibido na aula ........................................ Figura 30 Recorte da tela do vídeo 3 exibido na aula ..................................... Figura 31 Lâmina que ilustra a troca de mésons π ........................................... Figura 32 Lâmina que ilustra a troca de méson negativo .................................. Figura 33 Lâmina que ilustra a troca do méson positivo ................................... Figura 34 Lâmina que ilustra a troca do méson neutro .....................................
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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
FMC Física Moderna e Contemporânea
MQ Mecânica Quântica
UA Unidade de Aprendizagem
CTS Ciência, Tecnologia e Sociedade
HFC História e Filosofia da Ciência
RC Radiação Cósmica
SD Sequência didática
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ..............................................................................................
1 REVISÃO DE LITERATURA ........................................................................
2 REFERENCIAL TEÓRICO: A TEORIA DA APRENDIZAGEM
SIGNIFICATIVA DE AUSUBEL ...................................................................
3 LEVANTAMENTO DOS CONHECIMENTOS PRÉVIOS .............................
4 METODOLOGIA DE APLICAÇÃO DA SD:DESCRIÇÃO E DISCUSSÃO
DO IMPACTO .............................................................................................
4.1 DISCUSSÃO DETALHADA DA SEQUÊNCIA DIDÁTICA E O SEU
IMPACTO NA SALA DE AULA ..................................................................
5 DISCUTINDO AS RESPOSTAS DOS APRENDIZES NA
AVALIAÇÃO FINAL DA SEQUÊNCIA DIDÁTICA ......................................
6 CONCLUSÃO ...............................................................................................
REFERÊNCIAS ............................................................................................
PRODUTO EDUCACIONAL .......................................................................
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INTRODUÇÃO
A Física no Ensino Médio não permite que os estudantes conheçam e/ou
compreendam as inovações tecnológicas e seus funcionamentos, e o impacto delas na
sociedade; nem tampouco as descobertas mais recentes da ciência e nem mesmo os
caminhos percorridos pelos cientistas até atingirem as suas descobertas. Essas
novidades e questões científicas interessantes chegam aos alunos, quando chegam,
através de meios de comunicação ou de revistas de divulgação científica. Entretanto, elas
não são abordadas na sala de aula, porque esse conteúdo recente, de modo geral, não
faz parte do programa que, normalmente, é direcionado para os exames de ingresso no
Ensino Superior.
Embora a atualização do currículo de Física esteja em andamento, os conteúdos
dessa disciplina são, geralmente, ensinados sem contexto, sem construção e sem relação
com o mundo que cerca os estudantes. Portanto, não possuem significados para os alunos,
não possibilitando, assim, a construção de uma atitude crítica em relação ao mundo no
qual vivem. Diante desse contexto, o presente estudo tem como tema a física brasileira na
educação básica, mais especificamente uma abordagem de tópicos de Física de
Partículas, com destaque para as contribuições de César Lattes (1924-2005) na história da
descoberta do méson π. Trata-se, de modo especial, de observamos como essa
abordagem histórica e conceitual inserindo a FMC brasileira no contexto do Ensino Médio
pode contribuir para uma aprendizagem significativa dos aprendizes.
Para o desenvolvimento desse tema, apoiamo-nos no seguinte problema de
pesquisa: de que forma a abordagem de tópicos de Física de Partículas, a partir da história
da descoberta do méson π, pode motivar o aluno para discutir física? Essa problemática
surgiu ao longo do curso de mestrado em Física, em consonância às discussões ali
empreendidas, bem como teve por norte a nossa atuação profissional e o desejo de
contribuir com possíveis mudanças na realidade escolar. Nesse sentido, estabelecemos
como objetivo geral desenvolver e aplicar uma sequência didática sobre tópicos de Física
de Partículas, particularmente interação forte, e verificar o seu impacto na educação básica
em termos de indícios de aprendizagem significativa.
Dessa forma, entendemos que um currículo que fomente um ensino mais
próximo do cotidiano do aluno seja um bom motivador para este aprendiz, assim como
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destacamos que essa situação foi um dos argumentos usados para a atualização do
currículo de Física nas escolas brasileiras. Para Terrazzan (apud OSTERMANN E
MOREIRA, 2000a), a atualização do currículo de Física é justificada pela necessidade
de formar cidadãos conscientes, participativos e atuantes no mundo criado pelo ser
humano atual e pela necessidade, cada vez maior, dos conhecimentos
contemporâneos para o entendimento desse mundo. Assim, reafirmamos a ideia de
que os estudantes devem ser sujeitos capazes de entender e participar do mundo
contemporâneo. Mas, para isso, a escola deve ensinar conteúdos mais atualizados e
não apenas os anteriores ao século XIX, pois esses estudantes estão inseridos em
uma sociedade que desfruta dos avanços da Física dos séculos XX e XXI.
A fim de minimizar o distanciamento e atualizar o currículo de Física,
pesquisadores, como Gil, Sement e Solbies (apud OSTERMANN E MOREIRA, 2000),
Terrazzan (apud OSTERMANN E MOREIRA, 2000a), Valadares e Moreira (1998),
Pinto e Zanetic (1999), Ostermann e Moreira (2000, 2001), apontam para a inserção
da FMC como necessária para uma cultura científica contemporânea. Em
consonância a essa perspectiva, Valadares e Moreira (1998, p. 121) defendem que:
É imprescindível que o estudante do segundo grau conheça os fundamentos da tecnologia atual, já que ela atua diretamente em sua vida e certamente definirá o seu futuro profissional. Daí a importância de se introduzir conceitos básicos de Física Moderna.
No Ensino Médio, a Física geralmente é apresentada como uma teoria construída
de forma linear, cumulativa e acabada. As construções e desconstruções do processo
de produção desse conhecimento e as motivações (sociais, políticas e econômicas)
que influenciam nesse processo não são contempladas no ensino da ciência. Muitos
estudantes acreditam que a Física, e a ciência em geral, é uma atividade apenas de
pessoas com inteligência superior, e que cientistas não são pessoas normais.
Essa visão empobrecida da ciência e do trabalho científico reflete o modo pelo
qual a física tem sido levada para as escolas. Deste modo, Gil, Sement e Solbies
(apud OSTERMANN E MOREIRA, 2000) acreditam que o ensino de FMC no Ensino
Médio é importante porque a introdução de conceitos atuais de Física pode contribuir
para fornecer aos alunos secundaristas uma visão mais enriquecida da ciência, a qual
deve transpor a visão linear e cumulativa, e da própria natureza do trabalho científico.
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Logo, a possibilidade da FMC contribuir para desmistificação do trabalho científico
constitui, assim, outro argumento para a inserção da FMC no currículo do Ensino
Médio, bem como justifica a temática dessa pesquisa.
De acordo com Matthews (1995, p. 172-173), portanto, a história da ciência
no ensino é relevante porque:
(1) motiva e atrai os alunos; (2) humaniza a matéria; (3) promove uma compreensão melhor dos conceitos científicos por traçar seu desenvolvimento e aperfeiçoamento [...] (5) demonstra que a ciência é mutável e instável e que, por isso, o pensamento científico atual está sujeito a transformações que (6) se opõem a ideologia cientificista; e, finalmente, (7) a história permite uma compreensão mais profícua do método científico e apresenta os padrões de mudança na metodologia vigente. (grifo do autor).
Como último exemplo dos argumentos utilizados inicialmente para defender a
inserção da FMC no ensino, Pinto e Zanetic (1999) defendem que a inserção da FMC,
uma física que surge para explicar fenômenos que a Física Clássica não consegue
dar conta, contribuiria para que os estudantes se defrontassem com uma nova visão
de mundo. Para esses autores, a construção dessa nova leitura do mundo viria do
embate entre a Física Clássica e a FMC.
Diante da relevância da FMC no ensino de física, justificamos o nosso trabalho
diante da sua finalidade de elaborar e aplicar uma sequência didática baseada em
uma abordagem contextual da Física de Partículas para o Ensino Médio, com o
enfoque nas contribuições do cientista brasileiro Cesare Mansueto Giulio Lattes, mais
conhecido como César Lattes (1924-2005), para a descoberta do méson π. Nenhum
trabalho nessa linha foi encontrado na área, conforme será destacado no Capítulo 1:
Revisão de Literatura. Trata-se, portanto, de uma proposta didática original (ainda não
explorada pela literatura em ensino de Física) que levará a física brasileira para a sala
de aula justificando, assim, a escolha do tema.
Para tanto, elaboramos a sequência didática apresentada como produto
educativo em consonância à teoria da aprendizagem de Ausubel (1980), assim como
buscamos aporte, no que tange à história das contribuições de César Lattes à Física
de Partículas, em Vieira (2012). Dessa forma, nosso estudo foi eleborar e aplicar uma
sequência didática com alunos de terceira série do Ensino Médio, visando analisar, à
posteriori, o impacto da sequência ditática na sala de aula.
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Desse modo, em consonância aos objetivos e metodologia, o presente estudo
está estruturado em cinco capítulos, além de texto introdutório, considerações finais e
produto educativo. No primeiro capítulo, intitulado Revisão de Literatura, como o nome
sugere, fizemos uma revisão de literatura em busca de contribuições que estivessem
relacionadas ao ensino de FMC, com foco na Física de Partículas, bem como à
História da Ciência brasileira, voltadas à educação básica. Por sua vez, no segundo
capítulo: Referencial teórico, discutimos as contribuições de Ausubel (1980) quanto à
teoria da aprendizagem. Igualmente, apresentamos de que forma essa teoria nos
auxiliou quanto à estruturação da sequência didática proposta. Utilizamos os Três
Momentos Pedagógicos, de Demétrio Delizoicov, como estratégia metodológica para
implementar a teoria da aprendizagem significativa
No que tange ao Levantamento dos conhecimentos prévios, terceiro capítulo,
discutimos os dados obtidos com a aplicação de um questionário, no primeiro encontro
da nossa sequência didática, tendo em vista a teoria de Ausubel (1980). Do mesmo
modo, no quarto capítulo, intitulado Descrição e discussão do impacto da sequência
didática, ampliamos a apresentação das discussões quanto à aprendizagem significativa
dos alunos a par dos dados obtidos na aplicação da sequência didática. Por sua vez, no
quinto capítulo: Discutindo as respostas dos aprendizes na avaliação final da sequência
didática, discutimos os dados referentes à avaliação final aplicada com os aprendizes,
tendo como indicadores as respostas dadas pelos aprendizes nessa atividade.
Da mesma forma, esse estudo também é composto pelo presente texto introdutório,
as Considerações Finais, nas quais analisamos o conjunto do trabalho realizado e
reafirmamos nossa ideia inicial de que o ensino de Física de Partículas no Ensino Médio,
tendo em vista as contribuições de César Lattes, pode motivar os alunos para discutir
física e, por fim, o produto educativo, no qual apresentamos de forma mais objetiva a
proposta de uma sequência didática, a qual tem por tema a Física de Partículas e as
contribuições de Lattes na história da descoberta do méson π, voltada para o Ensino
Médio. Nesse sentido, reiteramos, com esse estudo, nosso compromisso em busca de
um ensino de Física que, efetivamente, contribua de modo significativo no processo de
enculturação científica, bem como na formação de alunos críticos, cônscios e
positivamente atuantes na realidade que os cerca.
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1 REVISÃO DE LITERATURA
A presente revisão de literatura tem como objetivo verificar o estado da arte da
pesquisa em FMC no Ensino Médio, particularmente, relacionado com o tema Física
de Partículas. Para isso, selecionamos apenas os artigos que discutem a aplicação
de propostas didáticas aplicadas em sala de aula. Nesse sentido, destacamos as
contribuições de Ostermann e Moreira (2000; 2009), as quais possibilitaram uma
ampliação do olhar quanto à temática aqui investigada.
Quanto à presença da FMC no Ensino Médio, Ostermann e Moreira (2000)
apontam para a necessidade de amadurecimento da linha de pesquisa em FMC nesse
nível de ensino. Essa conclusão foi fruto de uma extensa revisão bibliográfica sobre
FMC no Ensino Médio, realizada através da consulta a diversos materiais, tais como
artigos em revistas, livros didáticos, dissertações, teses, projetos e navegações pela
internet. Essa pesquisa foi centrada nos trabalhos direcionados para o ensino da
Física, abrangendo os estudos pioneiros nessa linha, a partir do final da década de 70
até 1999. Nessa revisão, Ostermann e Moreira (2000) constataram que havia uma
concentração maior de trabalhos na linha de apresentação de um tema de FMC do
que nas linhas de concepções alternativas sobre FMC e propostas testadas em sala
de aula.
Ostermann e Moreira (2000) afirmam, ainda, que existem muitas justificativas
que apoiam a atualização curricular e uma bibliografia (menos densa que a
especializada) que apresenta temas modernos. Entretanto, eles destacam dois
desafios: aplicar todas as reflexões na sala de aula e selecionar os tópicos de FMC
que deveriam ser ensinados nas escolas. Destacamos que, quase duas décadas
depois, esses desafios continuam atuais. Na categoria Propostas testadas em sala de
aula com apresentação de resultados de aprendizagem, encontraram onze trabalhos
ao todo, sendo nove sobre Mecânica Quântica (MQ), um sobre raios cósmicos e outro
sobre armas nucleares. No período em que foi realizada essa pesquisa, nenhum
trabalho sobre a Física de Partículas foi enquadrado nessa categoria.
Pereira e Ostermann (2009) realizaram outra revisão de literatura sobre o ensino
de FMC, com 102 artigos publicados no período de 2001 a 2006, e diferenciam essa
revisão da realizada por eles anteriormente, a qual serviu como referência. Pereira e
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Ostermann (2009) destacam que o estudo realizado por eles focou a produção
acadêmica recente e envolveu apenas a consulta a revistas da área de ensino de
ciências e matemática, incluindo trabalhos realizados em todos os níveis de ensino.
No caso da primeira revisão, foi menos específico, uma vez que se refere a trabalhos
sobre a temática FMC no Ensino Médio.
Segundo Pereira e Ostermann (2009, p. 413),
Com relação às tendências no período de 2001 a 2006, pode-se afirmar que a grande maioria dos temas de pesquisa sobre o ensino de FMC refere-se à MQ. Esses trabalhos totalizam um número de 26 artigos contra 11 trabalhos sobre RE e RG e 13 trabalhos sobre outros temas (radiação, supercondutividade, física de partículas, física nuclear, armas nucleares, etc.).
Novamente, a MQ foi o tema da FMC mais explorado, como indicam Pereira e
Ostermann (2009). Nessa pesquisa, os autores criaram quatro categorias para a
apresentação dos trabalhos: propostas didáticas testadas em sala, levantamento de
concepções, bibliografia de consulta para professores e análise curricular. Então,
realizaram o levantamento dos trabalhos relacionados com a Física de Partículas
encontrados nessas categorias. Na primeira categoria, foram destacadas cinco linhas
de pesquisa: 1) estratégia para abordar FMC no Ensino Médio; 2) mudanças no ensino
de FMC em nível superior; 3) uso de tecnologias de informação e comunicação; 4)
abordagem ciência, tecnologia e sociedade; 5) articulação com a história e a filosofia
das ciências.
A Física de Partículas foi tema de uma dessas propostas na linha de
pesquisa 1:
Johansson (apud PEREIRA E OSTERMANN, 2009) ministrou, na Universidade
de Estocolmo, dois cursos para estudantes do Ensino Médio: um sobre astronomia e
outro sobre Partículas. Nesse curso, os estudantes realizaram atividades utilizando os
dados do detector Delphi, disponível na internet, para reconstruir os rastros criados
durante as colisões de partículas. Os alunos analisaram 100 eventos onde a partícula
Z0 decaía em léptons ou em quarks. Segundo Johansson (apud PEREIRA E
OSTERMANN, 2009), além de se familiarizarem com o método científico, os alunos
tiveram a chance de aprender sobre os blocos construtores básicos da natureza.
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Por sua vez, na categoria Bibliografia de consulta para professores, Pereira e
Ostermann (2009) identificaram quatro tipos de trabalhos acadêmicos: 1) textos
didáticos; 2) novos recursos didáticos; 3) novas propostas e estratégias didáticas; 4)
divulgação científica. Novamente, a Física de Partículas foi tema do tipo1:
Dunne (apud PEREIRA E OSTERMANN, 2009a) alertou para as regras de
construção dos diagramas de Feynman, afirmando que os diagramas constituem um
instrumento muito útil para representar e descrever as interações entre partículas
subatômicas. Entretanto, observa que, na apresentação desses diagramas, a
construção e o uso deles devem ser tratados de maneira consistente como mera
ilustração, como feito em textos didáticos e de instruções para professores sobre a
Física de Partículas. Após uma discussão sobre o modelo padrão, interações e as
partículas de troca, Dunne (apud PEREIRA E OSTERMANN, 2009a) apresenta uma
convenção para a construção e interpretação dos diagramas, discutindo alguns
exemplos de aplicação.
Dunne (apud PEREIRA E OSTERMANN, 2009b) apresentou as origens do
modelo de troca de píons para as forças nucleares. No decorrer da discussão, Dunne
(apud PEREIRA E OSTERMANN, 2009b) descreveu a interação através da troca de
partículas mediadoras e da crítica à analogia da bola de basquete, reinterpretando as
interações entre partículas utilizando o modelo dos quark-glúon para a estrutura dos
núcleons.
Williams (apud PEREIRA E OSTERMANN, 2009), por sua vez, apresentou uma
breve história da antimatéria. Após analisar as descobertas das principais
antipartículas, Williams (apud PEREIRA E OSTERMANN, 2009) sugeriu a introdução
do tema para estudantes mais jovens. A ideia é de ensinar a antimatéria na medida
em que se introduz o modelo do átomo, através da introdução do anti-hidrogênio,
comparando e contrastando pósitrons e antiprótons com prótons e elétrons.
Nesse sentido, outra experiência relatada foi a Daniel (apud PEREIRA E
OSTERMANN, 2009), que apresentou uma introdução à teoria quântica de campos
com a intenção de favorecer um entendimento qualitativo consistente acerca das
origens dos diagramas de Feynman como representação das interações entre
partículas. Segundo Daniel (apud PEREIRA E OSTERMANN, 2009), a combinação
de diagramas elementares para a construção de novos diagramas é a principal
característica do modelo padrão. O artigo apresentou uma discussão sobre: campos
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quânticos; partículas; modelo padrão; diagramas de Feynman; interações
eletromagnéticas; construção de diagramas a partir de processos elementares;
hierarquia dos diagramas; interação fraca; e interação forte.
Quanto ao tipo 2, Ostermann e Cavalcanti (2001) apresentaram um pôster sobre
o tópico interações fundamentais e as partículas elementares. Os assuntos abordados
foram as quatro interações fundamentais da natureza (gravitacional, eletromagnética,
nuclear forte e nuclear fraca), as propriedades da matéria (cor, carga, massa), a
classificação das partículas elementares (quarks, léptons e partículas mediadoras) e
combinações das mesmas (hádrons: bárions e mésons). O pôster, que foi
desenvolvido para facilitar a introdução desse tópico da FMC nas escolas brasileiras,
também apresenta o modelo atual do átomo, bem como alguns exemplos de leis de
conservação como o decaimento beta e a aniquilação quark-antiquark.
Em consonância e por sua vez, Pascolini e Pietroni (apud PEREIRA E
OSTERMANN, 2009) desenvolveram um projeto de ensino de Física de Partículas
baseado nos diagramas de Feynman. Um brinquedo com três elementos – elétrons,
fótons e partículas mediadoras (vértices de interação) – foi desenvolvido por Pascolini
e Pietroni (apud PEREIRA E OSTERMANN, 2009), que desconsideraram o
formalismo matemático. No nível médio, a utilização desse brinquedo tem motivado
discussões de conceitos relacionados às partículas elementares, tais como
antimatéria, leis de conservação, partículas de criação e destruição e partículas reais
e virtuais.
Igualmente, Scott (apud PEREIRA E OSTERMANN, 2009) apresentou um
simulador de detector de partículas, feito numa planilha do Excel1. O simulador possui
um modelo tridimensional e pode ser girado, o que possibilita destacar a trajetória das
partículas, como afirma Scott (apud PEREIRA E OSTERMANN, 2009). A planilha
modela as potencialidades de um detector real de partículas e pode servir como
instrumento educacional.
Quanto ao tipo 3, Van den Berg e Hoekzema (apud PEREIRA E OSTERMANN,
2009) desenvolveram uma abordagem sobre Física de Partículas baseada nas leis de
conservação, simetrias e diagramas de Feynman. As atividades das aulas eram
1 Editor de planilhas da Microsoft.
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executadas individualmente pelos alunos e posteriormente discutidas com o
professor. As aulas foram descritas por Van den Berg e Hoekzema (apud PEREIRA
E OSTERMANN, 2009), mas não foram apresentados os resultados de pesquisa.
Nenhum trabalho foi citado por Pereira e Ostermann (2009) para o tipo 4(divulgação
científica) sobre o tema Física de Partículas. Assim, no total foram encontrados nove
trabalhos sobre a Física de partículas, sendo oito, na categoria Bibliografia de consulta
para professores, e um, na categoria Propostas didáticas testadas em sala de aula. Essa
proporção para os trabalhos sobre Física de Partículas reforçam as palavras de Pereira
e Ostermann (2009, p. 414): “É possível constatar que, apesar do notável aumento
relativo de publicações sobre o ensino de FMC que apresentam resultados de pesquisa,
a maioria dos artigos ainda se refere a bibliografia de consulta para professores”.
Ostermann e Moreira apud Ostermann e Moreira (2000) realizaram um estudo
Delphi (entre físicos, pesquisadores em ensino de Física e professores de Física do
Ensino Médio) para elencar os tópicos de FMC que deveriam ser abordados no nível
médio, a fim de promover a atualização do currículo de Física neste nível. A lista final
continha dois tópicos: forças fundamentais e partículas elementares, as quais fazem
parte da presente proposta de pesquisa.
Em consonância à temática do presente estudo, Siqueira (2006), em dissertação
de mestrado2, desenvolveu uma sequência didática para um curso de Física de
Partículas, o qual foi aplicado no Ensino Médio por professores da cidade de São
Paulo e utilizando o referencial da transposição didática. De acordo com o
pesquisador, como a Física de partículas possui vários conceitos importantes que se
relacionam através de tratamentos matemáticos avançados, foi necessária uma
seleção dos conteúdos que seriam trabalhados no curso. A reestruturação do
conhecimento científico para a sala de aula realizou-se conforme prevê a
Transposição Didática validada como instrumento de análise.
Considerando o nível do tratamento matemático citado anteriormente, o foco da
pesquisa não foi a aprendizagem, mas, sim mostrar aos jovens a constituição da
matéria, de forma mais refinada, e quais as consequências que essa nova forma de
observar a matéria traria para o conhecimento Físico, bem como para uma visão de
2 SIQUEIRA. Do visível ao indivisível: uma proposta de física de partículas elementares para o ensino médio. [S.I.: s.n.], 2006.
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mundo. Portanto, o material confeccionado buscou trabalhar os aspectos mais atuais
da descrição da matéria, chegando, ao final, na descrição do Modelo Padrão das
partículas elementares e suas interações.
A fim de tratar da constituição da matéria até o modelo padrão das partículas
elementares, os recursos didáticos utilizados na construção das atividades foram os
seguintes: textos, simulações, animações e História da Ciência. Também foi proposto
o ensino de conceitos, tais como: partículas elementares, antipartículas, mensageiros
das interações, descrição do modelo padrão, tendo como preocupação a natureza da
ciência.
Segundo Siqueira (2006), a primeira sequência proposta e aplicada, que iniciava
do campo eletromagnético (mundo macroscópico) para o microscópico, foi
reestruturada iniciando das radiações (raios-X), por ser um conteúdo mais próximo do
cotidiano dos alunos. A reestruturação foi motivada por dificuldades de aplicação da
primeira sequência, especialmente na transição da Física Clássica para a Moderna.
A nova sequência proposta, por temas, foi: radiações; ordem de grandeza;
modelos atômicos e a experiência de Rutherford; a estabilidade do núcleo
(radiação e a Força Forte); Lattes e os mésons; modelo dos quarks; Neutrino e a
radiação ß; as novas leis de conservação, antimatéria e antipartículas; uma nova
concepção do campo eletromagnético; diagrama de Feynman; as partículas:
bósons e férmions. E, ao final dessa nova sequência, Siqueira (2006, p. 155) afirma
que “[...] foi possível aplicar um pouco sobre a Ciência atual, discutindo aspectos
como validação de teorias, o papel dos modelos para a Ciência e buscando alterar
um pouco a concepção estereotipada da Ciência”.
Igualmente, a Física de Partículas foi tema de dissertação de mestrado
profissional3 de Pinheiro (2011), a qual desenvolveu uma Unidade de Aprendizagem
(UA) sobre Partículas Elementares. Esta proposta foi aplicada em um período de seis
semanas, numa turma de terceira série de uma escola da rede estadual de ensino do
Rio Grande do Sul. Para tanto, as teorias da mediação de Vygotsky e da
aprendizagem significativa de Ausubel embasaram a abordagem teórica dessa UA,
3 PINHEIRO, L. A. Partículas elementares e interações fundamentais no Ensino Médio, 2011. Disponível em: <http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/49342/000836027.pdf?sequence=1>. Acesso em: 20 jun. 2015.
23
sendo composta por: um texto, de autoria da pesquisadora, que abordava o
desenvolvimento histórico do conceito de partícula elementar, analisado de acordo
com a epistemologia de Gaston Bachelard; atividades, como a elaboração e
apresentação de mapas conceituais em pequenos grupos.
Para análise dos indícios de aprendizagem, Pinheiro (2011) utilizou pré e pós
testes e três versões de mapas conceituais construídos sequencialmente. Como
organizador prévio, cumprindo seu papel, segundo Pinheiro (2011), foi utilizado o filme
O discreto charme das partículas elementares. Quanto ao material utilizado, os alunos
reclamaram do tamanho do texto que continha 180 páginas, mas, segundo Pinheiro
(2001), que se baseou nos trabalhos apresentados, todos leram. A falta de hábito de
leitura constitui uma das dificuldades a serem transpostas nas salas de aula. Para a
professora-pesquisadora, a construção do texto significou que é possível apresentar
aos estudantes um novo olhar sobre Física; tratando os temas dessa disciplina de
uma forma questionadora. Para isso, tanto a história da ciência como a epistemologia
de Gaston Bachelard foram fundamentais (PINHEIRO, 2011, p.256).
Ainda conforme essa pesquisadora, ela destaca que os mapas conceituais
proporcionaram a interação entre os alunos da construção até a apresentação dos
mesmos, resultando em trocas muito significativas e no deslocamento dos alunos da
posição de ouvintes. Os momentos de interação, que segundo Vygotsky, são
fundamentais para o desenvolvimento cognitivo, foram utilizados para investigar os
indícios de aprendizagem significativa. O tempo para que os alunos aprendessem a
elaborar mapas conceituais foi subtraído do tempo para a discussão das dúvidas
referentes ao conteúdo. Pinheiro (2011) alerta que isso não ocorreria se os alunos
passassem por um treinamento prévio. Quanto ao objetivo geral, a experiência
realizada com este grupo de alunos corrobora que é possível introduzir o tópico
Partículas Elementares e Interações Fundamentais no Ensino Médio (PINHEIRO,
2011, p. 256).
Do mesmo modo, também como fruto de uma pesquisa de mestrado, Calheiro
(2014), em sua dissertação4, utilizou a Física de Partícula como tema. Entretanto, esse
4 CALHEIRO, L. B. Inserção de tópicos de Física de Partículas de forma integrada aos conteúdos tradicionalmente abordados no Ensino Médio. Dissertação (Mestrado), Santa Maria, RS, 2014. Disponível em: <http://cascavel.cpd.ufsm.br/tede/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=6317>. Acesso em: 14 set. 2015.
24
trabalho possui uma característica que o diferencia em relação aos trabalhos de
Siqueira (2006) e Pinheiro (2011), que é a abordagem do tema integrado com
eletricidade e magnetismo. Essa pesquisa foi aplicada em uma turma do terceiro ano
do Ensino Médio de uma escola pública de Santa Maria, no Estado do Rio Grande do
Sul.
O estudo consistiu na construção, elaboração e avaliação de duas Unidades de
Ensino Potencialmente Significativas (UEPS), as quais continham várias atividades
como questionários, mapas livres e mapas conceituais. Calheiro (2014) afirmou que
as UEPS são sequências didáticas baseadas em teorias de aprendizagem,
particularmente a da aprendizagem significativa. A primeira UEPS integrou a Física
de Partícula com eletricidade, sendo aplicada no segundo trimestre de 2013 com
carga horária de 18 horas-aula. Segundo Calheiro (2014), os objetivos eram: facilitar
a compreensão dos fenômenos e conceitos de partículas elementares, carga elétrica,
processos de eletrização e força elétrica; identificar, baseando-se nas atividades da
UEPS, se ocorreu aprendizagem significativa.
A segunda UEPS, por sua vez, também teve os mesmos objetivos, porém utilizou
os conceitos básicos de interações fundamentais, campo elétrico e magnético. Ela
integrou interações fundamentais com campos elétricos e magnéticos, sendo aplicada
no terceiro trimestre do mesmo ano, com carga horária de 11 horas-aula. Assim, a
partir da aplicação das UEPS, a verificação dos indícios de aprendizagem significativa
foi executada com base na evolução das construções dos mapas e nas respostas dos
questionários. Calheiro (2014, p.120) afirma que:
Os resultados obtidos demonstraram, efetivamente, que a inserção de Tópicos de FMC integrados aos conteúdos clássicos, em específico Física de Partículas, através da metodologia das UEPS, conduziu a uma aprendizagem por parte dos alunos, pois apresentou uma física moderna, conceitual e contextualizada colaborando para uma sociedade mais informada, capaz de acompanhar os avanços da Ciência.
Ainda no âmbito das pesquisas realizadas durante o curso de mestrado, Baltazar
(2008) elaborou uma proposta de ensino da Física de Partículas, para o Ensino Médio,
25
em sua dissertação5. Apesar de esse trabalho não ter sido aplicado em sala de aula,
foi incluído nessa revisão porque, em seu desenvolvimento, teve como base teórica
as abordagens de Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS) e História e Filosofia da
Ciência (HFC), que são as abordagens escolhidas para a presente pesquisa.
Segundo Baltazar (2008), a discussão histórica e filosófica é capaz de dar
significado aos conteúdos de Física ensinados, contribuindo para que o aluno tenha
uma visão ampliada do desenvolvimento da ciência, considerando o contexto
histórico-social, fazendo-o entender como surgem os modelos e o nosso
conhecimento. Para esse autor, a Física de Partículas deve ser abordada numa
perspectiva HFC por dois motivos: primeiro porque, muitas vezes, as partículas são
previstas teoricamente (pensamento filosófico) e a comprovação experimental é
posterior; segundo porque as respostas encontradas pela Ciência para as partículas
são acompanhadas de novas perguntas, demonstrando que o conhecimento científico
é verdadeiro e provisório. Esses motivos corroboram com a proposta dessa pesquisa.
Por fim, através da revisão de literatura, observamos que a Física de Partículas
é um dos temas menos explorados da FMC. Os trabalhos sobre esse tema, que foram
aplicados em sala de aula e apresentaram resultados de pesquisa, o validaram como
constituinte necessário para a atualização curricular de Física no Ensino Médio.
Revelaram, também, o potencial da Física de Partículas para despertar a curiosidade
e interesse dos alunos em aprender, pois todos apresentaram indícios de
aprendizagem. Também é relevante destacar que nenhum trabalho analisado abordou
o tema aqui proposto, qual seja o da interação forte, ou mais especificamente, a física
de partículas e as contribuições de Lattes, a partir de uma abordagem histórica e
conceitual sobre a história da ciência.
5 BALTAZAR, W. F. Partículas elementares no ensino médio: uma abordagem a partir do LHC. Dissertação – Universidade Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro, Nilópolis, 2008. Disponível em: <http://www.ifrj.edu.br/webfm_send/3046>. Acesso em: 12 ago. 2015.
26
2 REFERENCIAL TEÓRICO: A TEORIA DA APRENDIZAGEM
SIGNIFICATIVA DE AUSUBEL
Apresentamos, nesse capítulo, os aspectos considerados mais importantes da
teoria educacional da aprendizagem significativa de David Ausubel, utilizada para a
fundamentação desse trabalho. Segundo Moreira (2014), após aposentar-se, Ausubel
retornou para a psiquiatria, depois de dedicar anos da carreira acadêmica à psicologia
educacional e ter sido professor emérito da Universidade de Columbia, em Nova York.
O professor Joseph D. Novak foi quem continuou desenvolvendo e refinando a teoria
da aprendizagem significativa de Ausubel. Por esse motivo, Moreira (2014, p. 159)
afirma que é “mais adequado falar de teoria de Ausubel e Novak”.
A estrutura cognitiva de um indivíduo que aprende significativamente, para
Ausubel (1980), é uma estrutura hierárquica contendo as ideias mais inclusivas na
parte superior e as menos inclusivas na base. Imaginando a estrutura cognitiva do
aprendiz como uma escada, os conceitos mais gerais e inclusivos, que possuem maior
poder de subordinação, ocupam os degraus de nível mais alto dessa escada. Os
conceitos mais específicos, menos inclusivos, com menor poder de subordinação,
ocupam os degraus de nível inferior, em relação aos primeiros.
Segundo esse autor, aprendizagem significativa ocorre quando o novo material
se relaciona, de forma não arbitrária e substantiva, não literal, com ideias relevantes
presentes na estrutura cognitiva do aprendiz. Nessa aprendizagem, na medida em
que os novos significados são incorporados à estrutura cognitiva, os significados das
ideias relevantes também são modificados, melhorando a capacidade de
aprendizagens futuras do aprendiz.
Nessa perspectiva, os conhecimentos prévios, entendidos enquanto ideias
relevantes para a aprendizagem significativa, podem ser compreendidos como
conceitos previamente aprendidos pelo indivíduo e que estão na sua estrutura
cognitiva. São conceitos claros, estáveis, que servem para que ocorra a aprendizagem
de novos conceitos a eles relacionados. Ausubel (1978) considera que a relação não
arbitrária e substantiva, necessária à aprendizagem significativa, ocorre quando os
novos conhecimentos são relacionados pelo aprendiz a algum dos elementos
presentes na sua estrutura cognitiva.
27
De acordo com Ausubel (1980, p.137):
Se tivéssemos que reduzir toda a psicologia educacional a um único princípio, diríamos: o fator singular mais importante que influencia a aprendizagem significativa é aquilo que o aprendiz já conhece. Descubra isto e ensine-o de acordo.
Considerando as múltiplas experiências prévias dos alunos presentes numa
classe e que os significados atribuídos a esses conceitos prévios são idiossincráticos,
descobrir os conhecimentos prévios não é uma tarefa trivial, pois é necessário algum
esforço do professor para acessar tais conhecimentos. Contudo, deve ser a primeira
atitude do professor antes de realizar o planejamento da instrução. Por exemplo, no
Brasil o conceito de trabalho é abordado na primeira ou segunda série do Ensino
Médio e é revisto no curso de eletrostática como trabalho da força elétrica.
Dessa forma, esse conceito é importante para aprendizagem significativa do
conceito de potencial elétrico. Nesse caso, O conceito de trabalho funcionará como
conhecimento prévio se ele estiver presente na estrutura cognitiva do aprendiz com
um bom nível de diferenciação, abstração e generalidade, ou seja, se este conceito
foi aprendido significativamente. Portanto, de acordo com Ausubel (1980), o professor,
para ensinar o conceito de potencial elétrico, deve verificar se os aprendizes possuem
em suas estruturas cognitivas o conceito de trabalho como a ideia relevante.
É importante destacar que a aprendizagem significativa não é o mesmo que
aprendizagem correta, necessariamente. O sujeito que aprende pode atribuir
significados errados ao novo material que lhe é apresentado, mesmo assim, pode-se
afirmar que ele aprendeu significativamente. Segundo Ausubel (1980), os significados
externados pelo aprendiz são produtos de uma aprendizagem significativa. Para ele,
Na ausência de ideias claras e estáveis que possam servir como pontos de esteio e focos organizadores para a incorporação do material novo logicamente significativo, os estudantes estão presos num pântano de confusão e têm pouca escolha além de memorizar mecanicamente as tarefas de aprendizagem para efeito dos exames (AUSUBEL, 1980, p. 160).
Então, na aprendizagem mecânica, o novo material se relaciona de maneira
arbitrária e literal (não substantiva) com a estrutura cognitiva do aprendiz. Esse tipo
28
de relação ocorre quando a estrutura cognitiva não fornece ideias relevantes para
aluno porque é desorganizada, instável e ambígua. Embora seja o oposto da
aprendizagem significativa, a aprendizagem mecânica não exclui a possibilidade de o
indivíduo aprender significativamente. Para tanto, é preciso que um método de ensino
promova a organização, a clareza e a estabilidade dos conceitos presentes na
estrutura cognitiva desse sujeito antes de lhe apresentar o novo material.
A aprendizagem significativa é um processo de aquisição de novos significados
a partir dos significados potenciais presentes no material de aprendizagem
apresentado ao aprendiz. Os novos sentidos devem ser incorporados pela estrutura
cognitiva do sujeito que aprende significativamente, aumentando a disponibilidade de
significados ou ideias relevantes para aprendizagem de novas ideias. O material
conter ideias novas relacionáveis à estrutura cognitiva do aprendiz não é condição
única para que ocorra a aprendizagem efetiva, pois essa exige uma atitude do aluno
de querer relacionar as ideias potenciais do material com o que ele já sabe.
Aprender significativamente é um processo ativo, que exige esforço e
participação do sujeito que aprende, além de demandar tempo. Para adquirir os
significados potenciais novos (ideias novas), os quais foram oferecidos no material de
aprendizagem, de forma precisa e clara, o trabalho cognitivo realizado pelo aprendiz
é intenso. Ele deve julgar quais ideias presentes na sua estrutura cognitiva são mais
relacionáveis como o novo material; em seguida, executar comparação para
diferenciar essas ideias organizando-as da mais inclusiva para a menos inclusiva; a
próxima tarefa cognitiva é eliminar diferenças e conflitos entre as ideias, estabelecer
semelhanças. Através desse processamento cognitivo, o indivíduo transforma as
novas informações em um conjunto de conhecimentos que são agregados à sua
estrutura cognitiva de maneira pessoal, idiossincrática.
Dessa forma, a aprendizagem significativa pode ocorrer de três maneiras, quais
sejam, subordinação, superordenação ou combinação. Na aprendizagem significativa
subordinada, um novo conhecimento adquire significado através da interação com o
conhecimento preexistente que serve como esteio e que é mais inclusivo que o novo
conhecimento. Dessa maneira, o novo conhecimento está subordinado ao
conhecimento preexistente. Segundo Ausubel (1980), quando o novo conhecimento é
compreendido como um exemplo específico do conhecimento preexistente, ou uma
forma de sustentá-lo ou ilustrá-lo, fica caracterizada a aprendizagem significativa
29
subordinada derivativa. No entanto, quando o novo conhecimento é compreendido
como extensão ou modificação do conhecimento preexistente, denomina-se essa
aprendizagem de subordinada correlativa.
Por sua vez, a aprendizagem subordinada superordenada ocorre quando o novo
conhecimento incorpora o conhecimento preexistente com o qual interagiu na
estrutura cognitiva do aprendiz. De outra maneira, o novo conhecimento possui um
grau de diferenciação menor do que o conhecimento preexistente e sobrepõe este na
hierarquia da estrutura cognitiva. A aprendizagem superordenada ocorre no curso do
raciocínio ou quando o material apresentado é organizado indutivamente ou envolve
síntese de ideias compostas (AUSUBEL,1980, p.49).
Consonante a essa perspectiva, a aprendizagem significativa combinatória
acontece quando o novo conhecimento não possui relação de subordinação ou
superordenação com um conhecimento específico existente na estrutura cognitiva do
aprendiz. Em conformidade com Ausubel (1980), nesse tipo de aprendizagem, o novo
conhecimento se relaciona com todo o conteúdo da estrutura cognitiva, previamente
aprendido. Essa interação dinâmica entre o novo conhecimento e aquele que o
aprendiz já sabe acontece através de dois processos denominados por Ausubel
(1980) como diferenciação progressiva e reconciliação integrativa.
O primeiro consiste na diferenciação das ideias seguindo a ordem da mais geral
para a mais específica, atendendo, assim à organização da estrutura cognitiva do
sujeito que aprende significativamente. No segundo processo, reconciliação
integrativa, busca-se a síntese e a generalização das ideias (preexistentes e novas).
Para isso, as possíveis discrepâncias devem ser eliminadas, bem como as
semelhanças e as diferenças entre essas ideias devem ser estabelecidas. A
diferenciação progressiva promove a subordinação de novas ideias às preexistentes,
enquanto que a reconciliação integrativa promove a superordenação das novas ideias
às preexistentes. Dessa maneira, a estrutura cognitiva do aprendiz passa por um
processo de reorganização que potencializa sua capacidade para novas
aprendizagens.
Assim, a diferenciação progressiva e a reconciliação integrativa são processos
cognitivos. Entretanto, Ausubel (1980) recomenda que sejam utilizados também como
princípios instrucionais da disciplina para facilitar a aprendizagem significativa. Nesse
contexto, o professor deve verificar quais são as ideias mais gerais e inclusivas
30
presentes no novo conteúdo e iniciar a instrução a partir delas, facilitando a
diferenciação progressiva na estrutura cognitiva. Ele também deve eliminar possíveis
fontes de conflitos entre as ideias, contribuindo para que os alunos realizem suas
reconciliações integradoras.
Além disso, destacamos que, um atributo exemplar dos professores de formação
profissional e crítica é que tenham amplitude suficiente de conhecimento e experiência
em sua área. Tal condição é necessária para que possam estar aptos a contribuir com
seus alunos, explicando-lhes meios de formarem suas próprias reconciliações
integradoras (AUSUBEL, 1980, p. 105). Dessa forma, o professor contribui não
apenas com o avanço intelectual do estudante, mas também o instrumentaliza a uma
educação emancipadora, oferecendo-lhe elementos que lhe permitem ampliar a sua
formação crítica e consequente atuação na realidade que o cerca.
No que tange ao material didático, este deve ser elaborado a fim de facilitar a
aprendizagem significativa, seguindo os mesmos princípios da instrução e deve conter
ideias que sejam relacionáveis à estrutura cognitiva do aprendiz. Com essas
características, ele se torna potencialmente significativo. Mas, a relação entre os
significados potenciais contidos nesse material e a estrutura cognitiva do aprendiz é
realizada por decisão do estudante, conforme descrito anteriormente. Por isso,
Ausubel (1980, p. 34) afirma que:
A aprendizagem significativa pressupõe que o aluno manifeste disposição para aprender significativamente, ou seja, uma disposição para relacionar de forma não arbitrária e substantiva, o novo material à sua estrutura cognitiva e que o material seja potencialmente significativo.
A presença de conhecimentos prévios – ideias relevantes – na estrutura
cognitiva do aprendiz com um bom nível de clareza, estabilidade e diferenciação é a
garantia para que esses conhecimentos sejam usados como suporte para a
aprendizagem significativa. Quando esses conhecimentos não possuem a
estabilidade, a clareza e diferenciação em nível adequado para torná-los ideias
ancoras, Ausubel (1980) sugere que sejam utilizados organizadores prévios. Estes
são materiais (textos, vídeos simulações) utilizados antes da instrução do novo
material de aprendizagem e que apresentam de forma mais geral e inclusiva, em um
nível de abstração maior, as ideias contidas no novo material de aprendizagem.
31
Os organizadores antecipatórios ajudam o aluno a reconhecer que elementos
dos novos materiais de aprendizagem podem ser significativamente aprendidos,
relacionando-os com aspectos especificamente relevantes da estrutura cognitiva
existente (AUSUBEL, 1980, p.143).O organizador prévio (antecipatório) deve mostrar
ao aprendiz a relevância do que ele sabe para a aprendizagem do novo material e,
dessa maneira, promover nele a disposição para relacionar de maneira substantiva e
não literal o novo material de aprendizagem.
Nesse sentido, destacamos que a partir da teoria da aprendizagem de Ausubel,
organizamos a Sequência Didática aplicada, a qual foi uma sequência de aulas de
física de partículas para o Ensino Médio. Dessa forma, consideramos os três
momentos propostos por esse pesquisador e, no próximo capítulo, apresentamos a
discussão dos dados da primeira etapa da sequência didática, que foi a aplicação de
um questionário no intuito de observarmos os conhecimentos prévios dos aprendizes.
32
3 LEVANTAMENTO DOS CONHECIMENTOS PRÉVIOS
O questionário inicial, aplicado no primeiro encontro, com os aprendizes (alunos
da terceira série do Ensino Médio), realizado no dia 20 de abril de 2017, corresponde
à primeira etapa da sequência didática elaborada visando ao ensino de física de
partículas, com especial destaque para as contribuições do físico brasileiro Lattes na
história da descoberta do méson π. Esse primeiro momento teve como objetivo
efetuarmos o levantamento dos conhecimentos prévios dos aprendizes, a partir das
questões problematizadoras contidas na Atividade Primeiro Encontro (CAPÍTULO 1
DO PRODUTO EDUCACIONAL). Entre tais questões, destacamos a questão cinco
como a mais importante para essa unidade de ensino. Isso porque, para explicar
decréscimo da energia de ligação, a partir do número de massa sessenta (A>60), o
aprendiz deve conhecer as características de alcance e intensidade das interações
forte e eletromagnética e compará-las.
Era necessário saber o nível de entendimento que os aprendizes apresentavam
com relação aos conceitos de interação e sistema ligado, pois esses dois conceitos
poderiam servir como ideias relevantes no estudo da interação forte. Nesse caso, as
problematizações sete e oito tinham essa finalidade. Por sua vez, as problematizações
de um até quatro e a seis, tinham a finalidade de investigar, entre os aprendizes, a
existência de conhecimentos acerca dos conceitos de energia de ligação e interação
forte. Já a cinco foi repetida na avaliação final da unidade de ensino.
Destacamos abaixo as respostas do questionário inicial aplicado no primeiro
encontro com os aprendizes. Para tanto, optamos pela estrutura de apresentar o
conjunto das respostas de cada aprendiz dividido em dois blocos: problematização
inicial e a questão um; e as questões de dois até oito. Cada conjunto foi analisado e
as considerações a respeito estão logo após cada bloco.
Aluno 1: A resposta da problematização inicial (Figura 1) indica que o aluno
compreendeu, a partir da leitura do texto 1 (CAPÍTULO 1 DO PRODUTO
EDUCACIONAL), o papel desempenhado pelo méson π. Contudo, ele não descreve
como acontece a interação entre núcleons, indicando que não conhece a interação
forte. Na questão um, ele efetua corretamente a leitura do gráfico e associa a energia
33
de ligação à força que promove um abraço, o que não corresponde ao conceito de
energia de ligação.
Figura 1 – Problematização e Questão um do Questionário inicial respondido pelo aluno 1
Fonte: O autor.
As respostas abaixo (Figura 2) indicam que esse aprendiz não sabe os conceitos
científicos de interação e energia de ligação. Ele atribuiu o aumento dessa energia ao
aumento da quantidade de núcleons no núcleo, informação que pode ter sido retirada da
34
interpretação do gráfico que antecede as questões. Dessa forma, entendemos que esse
aprendiz não sabe os conceitos científicos de sistema ligado e interação.
Figura 2 – Questões dois a oito do Questionário inicial respondido pelo aluno 1
Fonte: O autor.
Aluno 2: Esse aprendiz deixou em branco as questões de três até oito. A
resposta da problematização inicial (Figura 3) indica que o aluno compreendeu, a
35
partir da leitura do texto 1 (CAPÍTULO 1 DO PRODUTO EDUCACIONAL), o papel
desempenhado pelo méson π. Entretanto, ele não descreveu como acontece a
interação entre núcleons, indicando que ele não conhece a interação forte. Na questão
um, ele efetuou corretamente a leitura do gráfico, exceto para o hélio-4. Além disso,
esse aprendiz explicou que a energia de ligação é a energia necessária para criar uma
ligação segundo a química. Contudo, essa afirmação não corresponde ao conceito de
energia de ligação.
Figura 3 – Problematização e Questão um do Questionário inicial respondido pelo aluno 2
Fonte: O autor.
36
Aluno 5: O aprendiz mostrou que compreendeu que uma força de atração
deveria existir para manter o núcleo coeso, na resposta da problematização inicial
(Figura 4). Ele não explicou como essa força é exercida entre prótons e nêutrons e
atribuiu ao méson a coesão do núcleo, mas não explicou a função dessa partícula. Na
questão um, ele efetuou corretamente a leitura do gráfico, entretanto, sua resposta
não corresponde ao conceito de energia de ligação.
Figura 4 – Problematização e Questão um do Questionário inicial respondido pelo aluno 5
Fonte: O autor.
37
Pelas respostas, observamos que esse aluno não sabe o conceito de interação
e sistema ligado. Na questão cinco (Figura 5), o aprendiz associou a variação da
energia de ligação à quantidade de núcleons, porém, não explicou porque essa
variação acontece.
Figura 5 – Questões dois a oito do Questionário inicial respondido pelo aluno 5
Fonte: O autor.
38
Aluna 6: Na resposta da problematização inicial (Figura 6), ela explicou que os
nêutrons não interagem eletricamente e, como os prótons se repelem, é necessário,
para justificar a coesão do núcleo, que eles ocupem determinadas posições de modo
a diminuir a repulsão. A aprendiz não explicou o que mantém os núcleons unidos,
indicando que ela não conhece a interação forte. Na questão um, ela analisou que a
energia de ligação é a energia necessária para que haja interação entre os núcleons,
o que não corresponde ao conceito dessa energia.
Figura 6 – Problematização e Questão um do Questionário inicial respondido pela aluna 6
Fonte: O autor.
39
Observamos, ainda, que a aprendiz não sabe o conceito científico de interação
e sistema ligado. Ela explicou, na questão cinco (Figura 7), que a energia de ligação
era diretamente proporcional à quantidade de massa do núcleo. Logo, à medida que
a massa do núcleo cresce, a energia de ligação aumenta e o núcleo se torna instável.
Essa explicação reforça que ela não sabe o conceito de energia de ligação.
Figura 7 – Questões dois a oito do Questionário inicial respondido pela aluna 6
Fonte: O autor.
40
Aluna 9: A aprendiz não respondeu à problematização inicial (Figura 8). Sua
resposta para a questão um demonstra que ela não sabe o conceito de energia de
ligação.
Figura 8 – Problematização e Questão um do Questionário inicial respondido pela aluna 9
Fonte: O autor.
As questões de três até seis não foram respondidas. As respostas das questões
sete e oito (Figura 9) indicam que ela não sabe os conceitos de interação e sistema
ligado. A resposta da questão dois demonstra que ela não conhece a interação forte.
41
Figura 9 – Questões dois a oito do Questionário inicial respondido pela aluna 9
Fonte: O autor.
Aluno 10: Na resposta da problematização inicial (Figura 10), o aprendiz
forneceu indício de que não conhece a interação forte. Ele explicou que a energia de
42
ligação é a energia necessária para manter os prótons e nêutrons ligados, porém,
essa resposta não é suficiente para afirmamos que ele sabe o conceito de energia de
ligação. Na questão cinco, ele afirmou que o aumento do número de massa contribui
para o aumento da energia de ligação, contudo, não explicou o que faz o valor dessa
energia diminuir. Isso corrobora com a afirmação de que não conhece os conceitos
de interação forte e energia de ligação.
Figura 10 – Problematização e Questão um do Questionário inicial respondido pelo
aluno 10
Fonte: O autor.
43
Observamos que esse aprendiz não sabe os conceitos de interação e sistema
ligado, de acordo com as respostas das questões sete e oito (Figura 11). A resposta
da questão dois reforça que ele não conhece a interação forte, visto que ele entendeu
que a classificação de prótons e nêutrons como núcleons é por conta dessas
partículas ocuparem o núcleo. Essa ideia não é absurda, entretanto, a classificação
se deve ao fato dessas partículas serem sensíveis à interação forte.
Figura 11– Questões dois a oito do Questionário inicial respondido pelo aluno 10
Fonte: O autor.
44
Aluno 11: Na resposta da problematização inicial (Figura 12), o aprendiz
forneceu indício de que não conhece a interação forte. Na questão um, efetuou a
leitura correta do gráfico, mas não respondeu a parte referente à energia de ligação.
Por sua vez, a resposta da questão cinco indica que ele não sabe o conceito de
energia de ligação.
Figura 12 – Problematização e Questão um do Questionário inicial respondido pelo
aluno 11
Fonte: O autor.
45
Observamos que o aprendiz não conhece o conceito de sistema ligado, de
acordo com resposta da questão sete (Figura 13). Por sua vez, quanto à questão oito,
ele a deixou em branco.
Figura 13 – Questões dois a oito do Questionário inicial respondido pelo aluno 11
Fonte: O autor.
46
Aluno 12: Não respondeu à problematização inicial (Figura 14). A leitura do
gráfico, na questão um, foi efetuada de maneira correta, porém, o aprendiz não
demonstrou, em sua resposta, que conhece o conceito de energia de ligação.
Figura 14 – Problematização e Questão um do Questionário inicial respondido pelo
aluno 12
Fonte: O autor.
47
As respostas das questões sete e oito (Figura 15) indicam que o aprendiz não
conhece os conceitos de interação e sistema ligado.
Figura 15 – Questões dois a oito do Questionário inicial respondido pelo aluno 12
Fonte: O autor.
48
Aluna 13: A aprendiz afirmou, na resposta da problematização inicial (Figura 16),
que os nêutrons tornam possível a união entre prótons no núcleo. A interação forte
ocorre entre os núcleons, portanto, a responsabilidade pela união não é apenas dos
nêutrons. Essa resposta indica que a aprendiz não conhece a interação forte. Ela
efetuou corretamente a leitura do gráfico e não respondeu a parte referente à energia
de ligação.
Figura 16 – Problematização e Questão um do Questionário inicial respondido pela
aluna 13
Fonte: O autor.
49
Destacamos que a aprendiz não sabe o conceito de interação e sistema ligado.
Na resposta da questão dois (Figura 17), ela explicou que prótons e nêutrons são
chamados de núcleon porque interagem da mesma forma, contudo não explicou essa
interação. Logo, não é possível afirmar que essa resposta indique conhecimento sobre
as características da interação forte.
Figura 17 – Questões dois a oito do Questionário inicial respondido pela aluna 13
Fonte: O autor.
50
Aluna 14: A aprendiz explicou, na resposta da problematização inicial (Figura
18), que a união entre prótons e nêutrons ocorre em núcleos estáveis. Essa resposta
mostra que ela não compreendeu a pergunta da problematização, além de não
conhecer a interação forte. Na questão um, ela não efetuou a leitura do gráfico e não
mostrou que conhece o conceito de energia de ligação.
Figura 18 – Problematização e Questão um do Questionário inicial respondido pela
aluna 14
Fonte: O autor.
51
As respostas das questões sete e oito (Figura 19) não indicam que a aprendiz
sabe o conceito de interação e sistema ligado. Por sua vez, as questões anteriores
não foram respondidas.
Figura 19 – Questões dois a oito do Questionário inicial respondido pela aluna 14
Fonte: O autor.
52
Aluna 15: A aprendiz explicou que, segundo seu ponto de vista, o nêutron tem o
papel de diminuir a repulsão entre os prótons para garantir a estabilidade nuclear. Em
seguida, ela fez um questionamento sobre o píon que indica que ela não conhece a
interação forte. Na questão (Figura 20), a aprendiz afirmou que não sabe o que é a
energia de ligação e explicou que percebeu que essa energia aumenta com a massa
do núcleo.
Figura 20 – Problematização e Questão um do Questionário inicial respondido pela
aluna 15
Fonte: O autor.
53
A aprendiz não sabe os conceitos de interação e sistema ligado, como indicam
as respostas das questões sete e oito (Figura 21). Por sua vez, as questões anteriores
não foram respondidas.
Figura 21 – Questões dois a oito do Questionário inicial respondido pela aluna 15
Fonte: O autor.
54
Aluna 18: A aprendiz explicou, na resposta da problematização inicial (Figura
22), que a união entre prótons e nêutrons ocorre por uma força de atração entre
partículas subatômicas. Nessa resposta não há indício de que ela conhece a interação
forte. Além disso, ela efetuou corretamente a leitura do gráfico e explicou que a
energia de ligação é a energia utilizada pelas partículas subatômicas para manter
prótons e nêutrons unidos. Contudo, essa resposta não corresponde ao conceito de
energia de ligação.
Figura 22 – Problematização e Questão um do Questionário inicial respondido pela
aluna 18
Fonte: O autor.
55
Na questão sete (Figura 23), a aprendiz explicou que o átomo é um sistema
ligado quando relacionado em cadeia, entretanto, essa resposta não corresponde ao
conceito de sistema ligado. Na questão oito (Figura 23), a aprendiz explicou que
interação é uma forma de contato com reação, mas como esse contato não existe,
ocorre apenas interação. Nessa resposta não se verifica indícios de que ela conhece
o conceito de interação.
Figura 23 – Questões dois a oito do Questionário inicial respondido pela aluna 18
Fonte: O autor.
56
Aluna 19: A aprendiz, na resposta da problematização inicial (Figura 24), explica
que os mésons π mantêm os prótons e nêutrons unidos no núcleo. Contudo, essa
resposta não indica que ela conhece a interação forte. Na questão um, parece que ela
associou energia de ligação com energia de ionização, indicando que não sabe o
conceito de energia de ligação.
Figura 24 – Problematização e Questão um do Questionário inicial respondido pela
aluna 19
Fonte: O autor.
57
As respostas das questões sete e oito (Figura 25) indicam que a aprendiz não
sabe os conceitos de interação e sistema ligado. Por sua vez, as questões de quatro
a seis não foram respondidas.
Figura 25 – Questões dois a oito do Questionário inicial respondido pela aluna 19
Fonte: O autor.
58
Aluna 21: A aprendiz explicou, na resposta da problematização inicial (Figura
26), que a união dos indivíduos ocorre quando a atração é maior do que a repulsão
entre eles. Não esclareceu quem são os indivíduos e como ocorre a atração e a
repulsão. Essa resposta não fornece indícios de que a aprendiz conhece a interação
forte. Ela nada explicou sobre energia de ligação.
Figura 26 – Problematização e Questão um do Questionário inicial respondido pela
aluna 21
Fonte: O autor.
59
Observamos que a aprendiz não sabe os conceitos de interação e sistema
ligado, como indicam as respostas das questões sete e oito (Figura 27).
Figura 27 – Questões dois a oito do Questionário inicial respondido pela aluna 21
Fonte: O autor.
60
4 METODOLOGIA DE APLICAÇÃO DA SD: DESCRIÇÃO E
DISCUSSÃO DO IMPACTO DO SEU IMPACTO.
O tema central dessa sequência didática é a interação forte, que possui como
mediador o méson π, partícula cuja existência foi prevista por Yukawa (1907-1981),
em 1935. Aproximadamente doze anos depois, esse mediador finalmente foi
detectado pelo físico brasileiro Lattes (1924-2005), o qual era integrante do grupo de
Bristol. Dessa forma, a história do méson, destacando principalmente a contribuição
de Lattes, foi levada para o Ensino Médio, sendo abordada em quatro aulas de 100
minutos, subdivididas em encontros de 50 minutos. O objetivo dessa unidade de
ensino é capacitar o aprendiz para:
• Compreender a importância do trabalho de Lattes para a ciência mundial,
particularmente para a Física de Partículas, e para o desenvolvimento da
Física Moderna no Brasil.
• Compreender a Ciência como um empreendimento humano que pode
produzir benefícios ou não para a sociedade, dependendo da forma como é
conduzida.
• Entender o que é processo de detecção de uma partícula e a participação
do brasileiro Lattes como um dos protagonistas dessa história.
• Entender a construção histórica da Física de Partículas (antecedentes do
modelo padrão), através da história do méson π.
• Diferenciar as duas detecções do píon e avaliar a importância de cada uma
para o desenvolvimento da Física de Partículas.
• Compreender que interação é uma troca de energia/momento que acontece
através da troca de partículas mediadoras.
• Descrever a interação entre núcleons utilizando os conceitos de interação e
partícula mediadora.
• Discutir os conceitos de sistema ligado, energia de ligação, massa e energia
relativísticas.
61
• Diferenciar as interações forte e eletromagnética.
• Explicar a variação da energia de ligação dos núcleos atômicos com base
nas características (intensidade e alcance) das interações forte e
eletromagnética.
A sequência didática foi estruturada de acordo com os Três Momentos
Pedagógicos, de Demétrio Delizoicov, quais sejam, problematização inicial,
organização do conhecimento e aplicação do conhecimento. A problematização
inicial, conforme indica o nome, é um problema que deve ser proposto para os
aprendizes de modo que eles possam discuti-la com o professor e demais estudantes.
Conforme Delizoicov e Angoti (1988, p. 23), a seleção dessas problematizações é
atrelada ao conteúdo que será desenvolvido na unidade de ensino. Segundo os
autores, a relação entre a problematização e o conteúdo a ser desenvolvido é
obrigatória, podendo ser direta ou indireta.
Os aprendizes devem discutir a problematização em grupos pequenos (máximo
de quatro integrantes) em um primeiro momento e, em seguida, a discussão é
realizada no grupo inteiro. O professor deve assumir a postura de mediador das
discussões, pode fornecer dicas e fazer novos questionamentos que provoquem
dúvidas nos aprendizes, o que os motivará a utilizarem o que sabem para sugerir uma
solução para o problema proposto. Nesse contato inicial, o professor não deve
fornecer a resposta, mas sim aguçar a curiosidade da turma.
O objetivo desse primeiro momento pedagógico é também possibilitar que o
docente tenha acesso aos conhecimentos prévios dos aprendizes, o que é viabilizado
à medida que os aprendizes se expressam apresentando possíveis soluções para a
problematização inicial. Esse momento também contribui para que os educandos
percebam que eles necessitam adquirir novos conhecimentos científicos.
Acreditamos, nesse sentido, que tal percepção acontece quando eles concluem que
os conhecimentos que possuem não são suficientes para compreender
cientificamente o problema inicialmente proposto.
No segundo momento pedagógico, denominado a organização do
conhecimento, o docente apresenta ao grupo os conhecimentos que ele selecionou
como importantes para que os aprendizes compreendam a problematização inicial e
62
o tema principal da unidade de ensino. Nessa etapa, com a devida orientação do
professor, serão aprofundadas as definições, conceitos, relações e leis apresentadas
na introdução do conteúdo (realizadas através de um texto, vídeo ou outro meio
organizado previamente pelo professor).
Delizoicov e Angoti (1988, p. 23) afirmam que essa etapa é importante para a
compreensão do tema central e da problematização inicial. Nela, foram trabalhados
os conteúdos específicos de acordo com os objetivos definidos e do material didático
selecionado pelo professor para implementar o curso. Esses autores não limitam a
quantidade de aulas que devem ser utilizadas para a organização do conhecimento e
sugerem que sejam usadas diversas atividades (aula expositiva, textos, formulação
de questões, trabalhos extraclasses e outros).
A aplicação do conhecimento constitui a última etapa dos três momentos
pedagógicos. Como sugere o nome, é nessa etapa que se realiza aplicação dos
conhecimentos que vêm sendo abordados na unidade de ensino para o entendimento
tanto da problematização inicial quanto de outras situações, que não se relacionem
diretamente às temáticas previamente apresentadas. Por exemplo, quando o aprendiz
compreende o que é um sistema ligado, ele é capaz de utilizar esse conceito para
identificar uma interação de atração em sistemas tais como: sistema solar, Terra-Lua,
elétron-núcleo ou prótons e nêutron no núcleo atômico.
Assim, o objetivo dessa etapa é capacitar o aprendiz para utilizar os
conhecimentos científicos, de forma rotineira e sistemática, também em situações
cotidianas, para além da compreensão e resolução dos problemas e exercícios
propostos nos materiais didáticos. Nesse sentido, acreditamos que “é o potencial
explicativo e conscientizador das teorias científicas que precisa ser explorado”
(DELIZOICOV, ANGOTI E PERNAMBUCO, 2011, p. 202).
Esta sequência didática foi desenvolvida com um grupo inicial de 21 alunos,
voluntários, matriculados na terceira série do Ensino Médio de uma escola particular
de Salvador, Bahia. Seis alunos desistiram de participar, ao longo da aplicação,
justificando incompatibilidade de suas atividades extraescolares com o horário das
aulas. O grupo final era composto de seis homens e nove mulheres, em média com
17 anos de idade, das turmas A e B da terceira série. Os alunos envolvidos na
pesquisa frequentavam o terceiro ano do Ensino Médio no turno matutino, tendo o
professor-pesquisador como um dos professores de física, e participavam da pesquisa
63
no turno vespertino. As aulas sempre iniciavam às 13 horas e 40 minutos e finalizavam
às 15 horas e 20 minutos, portanto cada aula continha dois encontros de 50 minutos.
As aulas iniciaram no dia 20 de abril de 2017 e finalizaram no dia 11 de maio de
2017, sendo a avaliação final aplicada no dia 18 de maio. Por sua vez, o processo de
seleção do grupo que participaria da pesquisa foi idealizado, organizado e executado
pelas turmas. O professor-pesquisador disponibilizou dez vagas para cada turma e,
em cada uma, os alunos realizaram um sorteio para definir os ocupantes das vagas.
O professor-pesquisador não interferiu no processo e não selecionou alunos para
participar da aplicação da sequência didática. A limitação das vagas em 20 deixou
alguns alunos descontentes com o profissional, pois a quantidade de alunos que
desejaram participar da pesquisa era superior a 20 nas duas turmas. Apresentamos
abaixo o cronograma das aulas (QUADRO 1).
Quadro 1 – Cronograma das aulas
AULAS ATIVIDADES
1ª aula
(100 minutos)
20/04/2017
✓ Apresentação do tema ao grupo.
✓ Exibição do vídeo 1: Um cientista, uma história / Episódio 12:
César Lattes.
✓ Tempo para os aprendizes responderem às questões iniciais
da atividade primeiro encontro (CAPÍTULO 1 DO PRODUTO
EDUCACIONAL).
✓ Discussão sobre as questões iniciais.
✓ Leitura compartilhada do texto 1, contido na atividade Primeiro
encontro (CAPÍTULO 1 DO PRODUTO EDUCACIONAL)
✓ Tempo reservado para os aprendizes responderem à
problematização inicial e às questões auxiliares da atividade
Primeiro encontro (CAPÍTULO 1 DO PRODUTO
EDUCACIONAL). Destacamos que esse material foi utilizado
para o levantamento dos conhecimentos prévios.
64
2ª aula
(100 minutos)
27/04/2017
✓ Tempo para os aprendizes discutirem oralmente sobre
problematização inicial da atividade do Segundo encontro
(CAPÍTULO 1 DO PRODUTO EDUCACIONAL), com o
professor mediando a discussão, sem fornecer as respostas.
✓ Discussão sobre sistema ligado, utilizando como exemplo o
caso gravitacional.
✓ Tempo para os aprendizes responderem novamente à
problematização inicial da atividade Terceiro encontro
(CAPÍTULO 3 DO PRODUTO EDUCACIONAL).
✓ Tarefa de casa: responder à problematização final da
atividade Segundo encontro (CAPÍTULO 2 DO PRODUTO
EDUCACIONAL).
✓ Entrega do material Quinto e sexto encontros (CAPÍTULO 5
DO PRODUTO EDUCACIONAL) e do artigo: Lattes: Nosso
Herói da Era Nuclear (ANEXO A), para leitura prévia, em casa.
3ª aula
(100 minutos)
04/05/2017
✓ Estava previsto no Primeiro encontro (50 minutos), discussão
das respostas da tarefa de casa, depois iniciar a solução das
questões auxiliares da atividade Terceiro encontro
(CAPÍTULO 3 DO PRODUTO EDUCACIONAL), para, em
seguida, falar sobre a relação massa-energia e abordar o
conceito de energia de ligação.
✓ Estava previsto no Segundo encontro (50 minutos), discussão
sobre a problematização inicial da atividade Quarto encontro
(CAPÍTULO 4 DO PRODUTO EDUCACIONAL) e, em
seguida, leitura compartilhada do texto 2, contido na atividade
Quarto encontro (CAPÍTULO 4 DO PRODUTO
EDUCACIONAL) para tratarmos da interação forte.
✓ O que aconteceu: a discussão sobre o trabalho de Lattes, as
duas detecções do méson π; a controvérsia dos mésons. Os
aprendizes leram o material disponibilizado na aula anterior
65
(artigo mais quinta e sexta atividades), estavam curiosos, com
várias dúvidas e solicitaram que a sequência fosse invertida.
✓ Para auxiliar nas discussões, foram exibidos os vídeos 2 e 3.
4ª aula
(100 minutos)
11/05/2017
✓ Exibição do vídeo 4, seguida de discussão sobre o conceito de
interação.
✓ Foram realizadas as atividades que estavam planejadas para
a terceira aula.
✓ A avaliação final da sequência didática estava planejada para
ser aplicada nessa aula, entretanto não aconteceu. Foi
marcada uma outra aula para a realização dessa atividade.
5ª aula
(100 minutos)
18/05/2017
✓ Avaliação final da sequência didática.
Fonte: Elaboração do autor.
4.1 DISCUSSÃO DETALHADA DA SEQUÊNCIA DIDÁTICA E O SEU
IMPACTO NA SALA DE AULA
Aula 1 (Primeiro encontro)
Nesse encontro, com duração de 100 minutos, 17 alunos estavam presentes e
três (18, 19 e 21) faltaram para ajudar um morador com dificuldades de saúde em
frente à escola. O voluntário número 20 não compareceu aos encontros. Buscávamos
realizar, nesse momento, o levantamento dos conhecimentos prévios dos aprendizes,
que poderiam ser utilizados como esteio para o estudo da interação nuclear forte,
tema principal dessa unidade de ensino. Fizemos uma curta introdução oral
explicando para o grupo que, em nossos encontros, estudaríamos a primeira versão
66
da interação nuclear forte, proposta por Yukawa, em 1935, como uma tentativa de
explicar a estabilidade do núcleo atômico.
Durante a breve exposição oral, enfatizamos para o grupo que o problema da
estabilidade nuclear permanecia sem explicação desde quando Rutherford, em 1919,
provou experimentalmente que o núcleo existia. Falamos que físicos do mundo inteiro
buscavam uma maneira de explicar a coesão do núcleo atômico e destacamos que
um brasileiro, Lattes, contribuiu de forma muito significativa para a solução desse
problema. Ele foi o cientista que descobriu o méson π. Nosso discurso gerou, de
imediato, inquietação. Alguns aprendizes sussurravam baixinho se perguntando o que
é méson π. Como é inevitável deixar de ouvir, respondemos, dizendo para terem
calma, pois estávamos no início do nosso primeiro encontro. Uma aluna disse que eu
os deixaria curiosos até o final.
Explicamos para a turma, ainda nessa introdução, que estudaríamos a história
da interação forte a partir da proposta de Yukawa e que, nessa abordagem, eles
compreenderiam a importância do trabalho de Lattes, como acontecem as
construções científicas, o que é a interação nuclear forte e como ela ocorre. Ao final
da introdução oral, fornecemos para cada aprendiz uma cópia impressa do material
de apoio (CAPÍTULO 1 DO PRODUTO EDUCACIONAL). Durante a distribuição desse
material, explicamos ao grupo que eles deveriam responder apenas as quatro
questões iniciais, utilizando para isso o que sabiam e o que entenderiam do vídeo 1:
Um cientista, uma história| Episódio 12: César Lattes6, que seria exibido em seguida,
com duração de 4min 54s. Nosso objetivo era fornecer material para provocar
discussão no grupo.
Essa discussão nos possibilitaria acesso aos conhecimentos prévios dos
aprendizes, que poderiam ser utilizados no desenvolvimento da unidade de ensino.
Para este momento, sugerimos que eles formassem duplas a fim de responderem às
quatro questões iniciais do material impresso que receberam, porém preferiram
permanecer arrumados em fila. Essa escolha prevaleceu em todos os encontros,
entretanto, a interação entre eles ocorria sempre que necessário. Acreditamos que a
6 Um cientista, uma história| Episódio 12: César Lattes. Duração: 4min 58s. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=FZGg13bQH0c>. Acesso em: 10 abr. 2017.
67
opção por não formarem duplas tenha explicação no fato desses aprendizes
pertencerem a duas turmas diferentes de terceira série do Ensino Médio (A e B).
Após a exibição do vídeo, a turma começou a responder às questões iniciais.
Solicitamos aos aprendizes que anotassem no fundo do material impresso perguntas
sobre algo que despertou a curiosidade deles ou que eles não entenderam no vídeo,
ou sobre algo relacionado ao tema que eles queriam saber. Exibimos o vídeo uma
segunda vez, a pedido deles, e reforçamos que poderíamos repeti-lo quantas vezes
eles desejassem, contudo, não foi necessária uma terceira exibição.
A turma demorou mais ou menos 15 minutos para responder as questões iniciais.
Vencida essa etapa, pedimos que voluntários fizessem a leitura de perguntas que
anotaram no fundo do material, como forma de quebrar o gelo que percebemos
aparentemente entre eles. As perguntas que surgiram, nesse momento foram (24:20
até 27:57):
1. (Aluno 4): Como o méson π une as partículas nucleares?
2. (Aluno 1): Como funciona um acelerador de partículas?
3. (Aluno 5): Qual é a forma e como se comporta o méson π?
4. (Aluna 15): O que é o méson π além de uma partícula subatômica, já que
subatômico só significa que é menor do que o átomo?
5. (Aluna 15): Como tirar foto de uma coisa menor do que o átomo?
6. (Aluna 13): Como é que se pode transportar essas partículas subatômicas
para uma chapa de foto, eu sei que elas são especiais, sim, mas como isso é possível?
7. (Aluna 3): Já que essa chapa especial existia, por que ele foi o primeiro a
pensar em realizar esse experimento?
8. (Aluno 4): Qual seria essa tal força que anularia a repulsão coulombiana?
As respostas para essas perguntas não foram fornecidas. Às vezes interferíamos
na sequência das falas para fazermos mais provocações. Por exemplo, logo após a
Aluna 15 fazer a quinta pergunta, nós devolvemos a seguinte questão: mas, será que
é foto mesmo? Isso aumentava a curiosidade deles, que podia ser percebida pelos
68
gestos feitos a cada pergunta sem resposta, pois eles esperavam respostas prontas
no momento em que as perguntas eram feitas.
Particularmente, decidimos esclarecer para a turma que Lattes não foi o primeiro
a utilizar as chapas fotográficas como detector de partículas e que eles saberiam mais
tarde quem teria sido o pioneiro. Afirmamos que o mérito de Lattes foi detectar,
utilizando essas chapas especiais, uma partícula muito importante procurada
mundialmente por vários cientistas. Fizemos esse esclarecimento logo após a
pergunta da Aluna 3.
As questões que foram verbalizadas foram muito interessantes e estavam
alinhadas com os dois conceitos principais que seriam abordados nos próximos
encontros: interação forte e partícula mediadora. A primeira, a terceira e a quarta
perguntas servem como exemplos do que afirmamos. A quantidade de perguntas que
apareceram nesse momento de socialização foi pequena quando comparada com a
quantidade de perguntas que os aprendizes anotaram no fundo do material impresso
e não socializaram com o grupo.
Verificamos, após esse encontro, que entre os dezessete aprendizes presentes,
dois não anotaram perguntas no fundo do material impresso e não verbalizaram no
grupo (os alunos 14 e 17). Listaremos, depois, algumas perguntas no final da
descrição dessa aula. Dando continuidade aos trabalhos, iniciamos a discussão do
texto de apoio para os estudantes intitulado: Como explicar a estabilidade nuclear?
(CAPÍTULO 1 DO PRODUTO EDUCACIONAL).
Esse texto problematiza a estabilidade nuclear, mostrando que nenhuma das
interações conhecidas pela Física dava conta de explicar a existência daquele caroço
duro (o núcleo) descoberto, em 1919, por Rutherford, experimentalmente. Ele sugere
que a nova interação é atrativa e possui alcance finito ao contrário das interações
gravitacional e eletromagnética. Contudo, o texto não menciona como a interação
nuclear ocorre, não diz o que é méson π e nem estabelece relação entre essa partícula
e essa interação. Nesse encontro, a leitura teve duração de oito minutos.
O texto finaliza com a seguinte frase: “Entendeu o problema que o japonês
tentava resolver?”. Então, aproveitamos a deixa do texto e reiteramos que o japonês
era Yukawa, que havia proposto a existência de uma nova partícula, o méson, com a
finalidade de explicar a estabilidade nuclear. Ao final desse breve resumo,
69
perguntamos se estava claro para eles o problema que estudaríamos a seguir, no que
eles sinalizaram que sim. Nesse momento, dissemos ao grupo que as dúvidas e/ou
perguntas que ficaram em aberto seriam respondidas no decorrer dos próximos
encontros.
Continuando, perguntamos ao grupo se havia no texto algum termo ou
expressão que eles não haviam compreendido e a Aluna 13 perguntou: (43:07 até
43:11): “O que é núcleon?”. Informamos que ela encontraria a resposta da sua
pergunta em breve. Logo depois, quando estávamos falando para a turma que a
partícula de Yukawa recebeu nomes diferentes ao longo da história, o Aluno 1
perguntou (43:55 até 44:14): “O méson serviria como se fosse o que faz um próton
abraçar outro próton [...]?”.
Entendemos que ele desejava saber se o nome méson foi atribuído à partícula
de Yukawa devido a essa função de manter os prótons abraçados. Então,
respondemos que, no vídeo, o nome méson é justificado por conta dessa função de
intermediar o abraço, contudo, durante o nosso estudo, essa versão poderia ser
discutida. O aluno sinalizou como satisfeito com a resposta fornecida.
De forma geral, notamos que os aprendizes que se manifestaram estavam
querendo saber porque a partícula foi batizada por méson e o que significava a palavra
núcleon. Optamos por não fornecer a resposta imediatamente com intenção de
fomentar a curiosidade deles. A partícula mediadora da interação forte recebeu o
nome méson pelo fato de possuir massa intermediária entre a do próton e a do elétron,
de acordo com a previsão de Yukawa de 1935.
Por sua vez, são chamadas de núcleons as partículas que interagem fortemente
e podem ser encontradas no núcleo no estado de próton ou de nêutron. Como se vê,
são respostas simples. Por esse motivo, acreditamos que eles seriam capazes de
perceberem o significado dessas classificações no decorrer dos próximos encontros.
Além disso, antes de iniciarmos a etapa de dúvidas sobre termos ou expressões do
texto lido na classe, a Aluna 15 solicitou um tempo para que a turma fizesse
individualmente outra leitura do texto e a turma sinalizou concordando com ela.
Então, concedemos à turma um tempo para que eles executassem outra leitura
e solicitamos que após esta, eles respondessem à problematização contida no
material impresso e às outras questões. Todavia, antes de eles iniciarem os trabalhos,
70
reiteramos que deveriam responder apenas com base no que sabiam e no que
entenderam do vídeo e da leitura que fizeram. Reforçamos que eles deveriam deixar
em branco as perguntas para as quais não tinham nenhuma ideia da resposta. Porém,
se tivessem uma ideia para responder, que o fizessem sem preocupação de errar ou
acertar.
Esclarecemos para a turma, novamente, que aquelas perguntas, assim como as
anteriores, eram uma espécie de diagnóstico para conhecermos o que eles sabiam a
respeito da interação forte. Ou, que elas serviriam, também, para sabermos se eles
possuíam conhecimentos que poderiam ser relacionados com esse tema, facilitando
o entendimento por parte deles. Por conta desses motivos, eles não deveriam se
preocupar com erros ou deixar questões em branco. Acreditamos que o medo de errar
ou de mostrar que não sabe inibe os aprendizes e os leva a não exporem suas ideias
na aula. Por isso, insistimos, a fim de deixá-los à vontade para responderem as
questões ou deixá-las em branco, sem a preocupação de errar ou acertar.
O material com título de Segundo Encontro (CAPÍTULO 2 DO PRODUTO
EDUCACIONAL) estava previsto para ser entregue nessa aula. Porém, conforme
descrevemos, fomos conduzidos a modificar o planejamento. Esse material continha
duas problematizações, uma para o início dos trabalhos do próximo encontro e a outra
para ser respondida no final da aula como forma de avaliar o entendimento dos
aprendizes sobre sistemas ligados. Mantivemos a aplicação da primeira
problematização e substituímos a segunda, que foi transformada em tarefa de casa,
pela problematização do material com título de Terceiro encontro (CAPÍTULO 3 DO
PRODUTO EDUCACIONAL). Os dois materiais impressos foram entregues para a
turma no segundo encontro.
Conforme informamos que relataríamos antes, listamos as perguntas anotadas
pelos aprendizes, no fundo do material impresso utilizado nesse primeiro encontro:
1. Como o acelerador de partículas funciona? (Aluno 1)
2. De que forma o méson π mantém o núcleo de partículas positivas, prótons
unidos? (Aluno 2)
3. Quem sugeriu a existência do méson π? (Aluno 2)
4. Como funciona a detecção da partícula através da chapa fotográfica, de
forma subatômica? (Aluno 2)
71
5. Já que essa chapa especial já existia, por que ele foi o primeiro a pensar em
realizar esse experimento? (Aluna 3)
6. Por que a energia de ligação do elemento é maior ao aumentar um nêutron
do que um próton, no núcleo? (Aluna 3)
7. Como o méson π une partículas nucleares? (Aluno 4)
8. Qual seria essa tal força que anularia a repulsão coulombiana? (Aluno 4)
9. Como Yukawa deduziu que uma partícula explicaria a estabilidade nuclear?
(Aluno 4)
10. Qual é a forma e como se comporta o méson π? (Aluno 5)
11. O que são a estrutura próton e nêutron na mais profunda essência? Por que
são dois e não um no núcleo? (Tipos de partículas) (Aluno 5)
12. O que é o méson π, em relação à forma? (Aluna 6)
13. O que mudaria se ele tivesse detectado as partículas subatômicas em outro
local? (Aluna 6)
14. De forma o méson π possibilita a coexistência? (Aluna 7)
15. Ele possui alguma carga? (Aluna 7)
16. Por que é tão difícil detectar o méson π? (Aluno 8)
17. Por que o gráfico 1 sobe exponencialmente e então cai como uma função de
primeiro grau? Se o méson π atrai prótons ele descarrega? Caso não, ele
seria um gerador de energia infinita? (Aluno 8)
18. Como foi feito o experimento para a descoberta do méson π? (Aluna 9)
19. Como provar a existência de algo tão arbitrário e que não podemos nem ver?
(Aluna 9)
20. Do que constitui a energia de ligação? Formada por píons? (Aluno 10)
21. Como o méson π (píon) pode influenciar a vida ou experimentos da
sociedade atual? (Aluno 11)
22. Que tipo de interação é realizada pelo píon? (Aluno 12)
23. Como se pode transportar as partículas subatômicas das coisas
fotografadas à chapa fotográfica? (Aluna 13)
24. Como se consegue ver partículas subatômicas? (Aluna 13)
25. Como conseguem pesar os átomos? (Aluna 13)
26. O que são núcleons? (Aluna 13)
27. Núcleo pode explodir? (Aluna 15)
28. Quem teve a ideia primeiro? (Aluna 15)
72
29. Mas como o méson π conecta os prótons e os nêutrons? (Aluna 15)
30. Como se tira foto de algo menor que um átomo? Zoom? (Aluna 15)
31. O méson π é uma partícula subatômica, ok, mas isso só significa que ele é
menor que o átomo, o que afinal é o méson π?
Aula 2 (Segundo Encontro – Sistema ligado)
Essa aula aconteceu no dia 27 de abril de 2017 e teve duração de 100 minutos.
Verificamos, no primeiro encontro, quando foi realizado o levantamento dos
conhecimentos prévios, que os aprendizes não sabiam o que era energia de ligação.
Sendo esse conceito fundamental para a compreensão da interação forte,
organizamos o segundo encontro para apresentar o conceito de sistema ligado, que
é um sistema que possui energia total negativa característica de uma interação de
atração. O objetivo era fazer uma analogia do sistema ligado apresentado nesse
encontro com o núcleo atômico que é outro sistema ligado. O sistema ligado que
escolhemos foi o de um corpo sendo atraído pela Terra, um exemplo de aplicação da
interação gravitacional (Essa interação atualmente não é descrita através da troca de
partículas mediadoras).
A problematização inicial desse encontro foi a seguinte: Aqui em nosso planeta
quando lançamos uma bola para cima ela sobe poucos metros e retorna para a nossa
mão. Parece que existe algo que prende a bola ao nosso planeta. Isso acontece com
outros objetos que são atirados para alto. A primeira simulação nos mostra algo
semelhante. Entretanto, a segunda simulação mostra o corpo escapando para o
espaço. Você tem alguma ideia para explicar o primeiro e o segundo caso? Quanta
energia deve ser fornecida a um corpo a fim de que ele não retorne à Terra, como
mostrado na segunda simulação? Considere a Terra em repouso e despreze as
perdas de energia.
Em nosso planejamento, duas simulações seriam apresentadas antes da
problematização ser proposta para os aprendizes, entretanto, o computador da sala
de aula apresentou um problema, que foi solucionado dez minutos mais tarde, e não
foi possível mostrar no início da aula. Então, decidimos improvisar. Na ausência da
simulação, pegamos um objeto e começamos a arremessá-lo para cima. Em seguida,
73
perguntamos ao grupo por qual motivo o objeto estava subindo cada vez mais e eles
responderam que isso ocorria por que ele estava sendo arremessado cada vez mais
forte. Na sequência, perguntamos qual o motivo do retorno do objeto para a mão do
professor e todos responderam: gravidade.
Na impossibilidade de demonstrar o escape do campo gravitacional da Terra,
através do lançamento de um objeto na sala de aula, apelamos para a imaginação
dos aprendizes. Perguntamos ao grupo o que aconteceria com o objeto se os
arremessos fossem cada vez mais e mais fortes, eles responderam que o objeto iria
para o espaço. O problema do computador já havia sido resolvido, quando finalizamos
essa etapa. Em seguida, solicitamos à Aluna 6 que fizesse a leitura da
problematização prevista, que foi projetada para esse encontro, e iniciamos a
discussão com a turma.
O aluno 5 (0:44 até 1:26) foi primeiro a se pronunciar:
“Eu acho na verdade que ele não consegue escapar cem por cento do campo,
mas consegue escapar de uma ação significativa do campo, porque a ação do campo,
pelos meus conhecimentos prévios de Física, diminui pelo quadrado da distância entre
os corpos. Então, você poderia diminuir tanto que você não tivesse um efeito
significativo, mas [...] se você estendesse o tempo ao infinito ele iria acabar voltando”.
Percebemos uma contradição na fala do nosso aluno, porém não o corrigimos
durante a sua fala. Após ele terminar a exposição de ideias, perguntamos se ele
concordava com a possibilidade de um corpo escapar do campo gravitacional e ele
respondeu que sim. Fizemos, então, um novo questionamento: De acordo com sua
fala, entendemos que é possível o corpo atingir um lugar onde o campo gravitacional
seja bem pequeno, porém, não nulo, de maneira que seu efeito seja desprezível e o
corpo consiga escapar. Foi isso que você quis dizer? Ele respondeu que sim. A
contribuição desse aprendiz trouxe para aula a necessidade, que talvez passasse em
branco na revisão da gravitação universal com o objetivo de tratar dos sistemas
ligados, de diferenciar microgravidade de gravidade zero. Essa distinção foi realizada
no decorrer da aula.
Após essa primeira participação, reiteramos que o nosso objetivo era determinar
o valor da energia que deveria ser fornecida ao corpo para ele escapar do campo
gravitacional terrestre. O aluno 1 (3:40 até4:10) forneceu uma ideia para calcular essa
74
energia, dizendo: “A cada metro, a gravidade mantém uma força de 10N, então acho
que deveria calcular a altura até o campo gravitacional acabar, ser zero, e aí, ir
somando a altura com essa força, a cada metro vai multiplicando, multiplicando,
multiplicando até o ponto limite. Acho que seria alguma coisa assim, a mudança da
energia”.
Nessa fala percebemos um resquício do conceito de trabalho, porém, o restante
da turma não se pronunciou dando seguimento à ideia apresentada pelo colega.
Portanto, nos pareceu que o conceito de trabalho não estava adequadamente
disponível na estrutura cognitiva da turma para os nossos propósitos. Então, julgamos
que utilizar esse conceito não seria uma maneira adequada de efetuar o cálculo da
energia em questão. Demos continuidade à discussão e aguardamos o surgimento de
novas ideias.
O aluno 10 (5:17 até 5:38) disse: “Uma energia que faça o corpo acelerar mais
que dez metros por segundo ao quadrado”. Nesse momento, interrompemos sua fala
para fazer uma provocação: mas esse é o valor da aceleração da gravidade? Então,
ele retrucou: “Uma energia que cause uma aceleração que supere isso”. Em seguida,
perguntamos a ele qual era o efeito da gravidade sobre um corpo. Ele respondeu que
era uma força contrária. Fizemos outra pergunta: E quando a força é contrária, o que
acontece com a velocidade do corpo? O grupo inteiro respondeu (5:38 até 5:44): “Vai
diminuindo”. Percebemos o engajamento do grupo e demos continuidade às
provocações. E, em termos de energia, esse corpo vai perdendo qual energia? O
grupo respondeu (5:47 até 5:51): “Cinética”.
Em seguida, perguntamos ao grupo o que acontecia com a energia cinética que
estava sendo perdida e eles responderam que ela estava sendo transformada em
energia potencial. Continuamos com as provocações: e sobre essa energia potencial,
enquanto o corpo sobe, ela aumenta? O grupo respondeu que sim. Ficou claro,
naquele momento, que poderíamos utilizar a Conservação da Energia Mecânica como
esteio para o conceito de sistema ligado.
Sentimos que poderíamos seguir um pouco mais e indagamos: Alguém pode
explicar porque a energia potencial, durante a subida, aumenta? A turma ficou em
silêncio. Os alunos 4 e 5 afirmaram que, para eles, havia um limite para esse aumento.
A turma se manteve em silêncio e, de repente, o aluno 1 (8:01 até 8:12) disse: “Tem
uma fórmula para calcular a energia potencial m.g.h, então quanto maior a altura,
75
maior a energia potencial”. Essa resposta obteve aceitação da turma e, diante do
consenso do grupo, iniciamos a trilha que nos levaria ao conceito de sistema ligado.
A fim de reforçar o que havia sido discutido até aquele momento, nos dirigimos
para a turma e fizemos um pequeno resumo: então, à medida que o corpo sobe, a
gravidade provoca a diminuição da velocidade desse corpo. Em termos de energia, à
medida que um corpo sobe, ocorre perda de energia cinética e ganho de energia
potencial. E essa energia potencial aumenta enquanto o corpo sobe. Todos aqui
concordam com essa ideia? O grupo (10:00 até 10:08) respondeu que sim.
As respostas do grupo, decréscimo da energia e aumento da energia potencial,
foram anotadas no quadro branco. Era importante reforçar junto ao grupo a afirmação
do aumento da energia potencial durante a subida do corpo, pois esse fato seria
utilizado para conduzi-los ao entendimento da expressão para equação da energia
potencial
d
MmGE p
, que seria apresentada em seguida.
A expressão acima corresponde à energia mínima que deve ser fornecida a um
objeto, em repouso na superfície da Terra, para que ele escape do campo
gravitacional desse planeta. O sistema analisado é classificado como sistema ligado,
por possuir energia mecânica negativa. Isso significa que os integrantes desse
sistema (a Terra e o corpo) experimentam uma interação de atração. A condição
mínima para o corpo se libertar da influência da gravidade da terra é ele se afastar da
superfície desse planeta até outro ponto no qual sua energia mecânica seja nula, de
acordo com a conservação da energia mecânica. Para isso ocorrer, ele deve receber
energia, ou seja,
d
GMnEc
d
MmGEc
EmEm fi
0)(
Essas informações poderiam ser compreendidas se os aprendizes entendessem
o que representa o sinal negativo na expressão da energia potencial. No ensino
76
superior, sabemos que, se a força que atua sobre um corpo for da função da posição,
ela pode ser definida como o oposto da taxa de variação da energia potencial em
relação à posição. Porém, no Ensino Médio, essa abordagem não cabe. Então, para
que os aprendizes compreendessem o significado do sinal negativo na expressão
citada pensamos em uma estratégia com dois passos.
O primeiro era reescrever a expressão citada pelo aluno 1 para a energia
potencial (Ep= m.g.h, sendo m a massa do corpo e h a posição dele em relação à
superfície da Terra), utilizando como marco zero para a medida da posição do corpo
o centro da Terra, que nessa abordagem simplificada seria tratada como uma esfera
maciça, homogênea e em repouso. Para isso, era necessário que os aprendizes
recordassem da expressão para o cálculo do módulo do campo gravitacional
2r
MGg . Nessa expressão, M é a massa da Terra, G a constante da gravitação
universal e r a posição do corpo em relação ao centro da Terra. Fazendo h=r e
efetuando substituição da expressão do módulo de g na expressão da energia
potencial citada anteriormente, teríamos:
r
MmGE
rr
MGmE
r
MGg
rgmE
p
p
p
..
..
..
2
2
Percebemos que, de acordo com a expressão acima, a energia potencial está
diminuindo com o aumento de r, ou seja, à medida que o corpo se afasta da Terra, a
energia potencial diminui, tendendo para zero no infinito. O segundo passo de nossa
estratégia consistia em mostrar que esse comportamento da variação da energia
potencial estava em desacordo com a anotação realizada no quadro, embasada na
conservação da energia mecânica, que prevê o aumento da energia potencial quando
a energia cinética diminui. Isso seria realizado escrevendo a expressão da
conservação da energia mecânica no quadro e reforçando junto ao grupo que essa lei
77
é válida, nesse caso, porque os atritos foram desprezados. Dessa forma, no quadro
branco, teríamos:
EcEp
EcEcEpEp
EpEcEpEc
EmEm
iffi
ffii
fi
A partir dessa demonstração algébrica, a qual mostra que a variação da energia
potencial deve ser oposta à variação da energia cinética, o passo seguinte era dizer
para os aprendizes que, diante dessa previsão, a expressão da energia potencial
deveria sofrer um ajuste, recebendo sinal negativo, para atender à Lei da
Conservação da Energia Mecânica. Em seguida, a fim de reforçar o argumento da
correção, mostraríamos que valores negativos se aproximando de zero (-5, -4, -3...0)
estão aumentando. Outro argumento para o sinal negativo seria pensar que a energia
potencial do corpo seria negativa porque ele ocupa uma posição abaixo do nível zero
de energia potencial, que estaria no infinito (lugar muito distante). Após essa etapa,
os dois passos da estratégia pensada por nós estariam executados e poderíamos
efetuar o cálculo da energia mínima para o corpo escapar da gravidade da Terra, como
mencionado anteriormente.
Com a estratégia descrita acima em mente, nos dirigimos ao grupo e iniciamos
dizendo que o módulo da força de atração gravitacional, que eles chamavam de
gravidade, entre duas massas é inversamente proporcional ao quadrado das
distâncias, que separa os seus centros, e diretamente proporcional ao produto de suas
massas, essa é a Lei da Gravitação Universal de Newton. Essa Lei pode ser escrita
matematicamente assim, escrevemos essa expressão no quadro:
2
.
r
MmGF
78
Nessa expressão, m e M correspondem aos valores das massas do corpo e da
Terra, respectivamente; r é a distância entre os centros de massas, que pode ser
medida assim já que, nesse exemplo, são consideradas esféricas e homogêneas e G
é a constante da gravitação universal. Prosseguimos, então, com a análise da
situação de um corpo que foi lançado para cima, considerando apenas a variação da
distância r, uma vez que as massas da Terra e do corpo não mudam de valor.
Desse modo, colocamos que, enquanto o corpo sobe, a distância r aumenta,
provocando a diminuição da intensidade da atração entre eles (Terra e corpo).
Desenhamos no quadro branco (Figura 28) uma representação do que foi dito acima,
a respeito da diminuição da interação gravitacional à medida que o corpo se afasta da
Terra. Acreditamos que isso facilita a compreensão dos aprendizes em relação ao que
está sendo estudado. Essa ação ocorreu com todos os conceitos abordados nesse
encontro.
Figura 28 – Quadro branco contendo os conceitos principais discutidos nesse encontro
Fonte: O autor.
Em seguida, perguntamos se alguém recordava da expressão para o cálculo do
campo gravitacional e, nesse caso, a resposta foi o silêncio. Diante desse contexto,
pensamos uma maneira de chegarmos à expressão para calcular o módulo do campo
gravitacional a fim de seguirmos conforme planejado. Nesse momento, nos dirigimos
ao grupo e pedimos que eles observassem que na expressão da Lei da Gravitação
79
Universal existiam duas massas, então, afirmamos que isso nos indicava que a força
era o resultado da interação de dois corpos.
Em seguida, desenhamos mais uma ilustração, conforme a foto acima, e
levantamos o questionamento: e se o corpo de massa m for retirado, a força continua
existindo? Eles responderam que não. Insistimos, nesse lugar onde estava o corpo
de massa m a força não existe, mas existe algo aí? O aluno 1 (14:50 até15:05)
respondeu: “Gravidade”. A partir desse gancho, dissemos à turma que o que eles
estavam chamando de gravidade era o campo gravitacional, e que a expressão para
o cálculo do módulo desse campo poderia ser obtida a partir da expressão da Lei da
Gravitação Universal.
Na sequência, escrevemos no quadro que o módulo do campo era igual à razão
entre o módulo da força gravitacional e a massa m que interagia com esse campo.
Dessa forma, chegamos à expressão:
2r
MGg
Mostramos ao grupo que o valor do campo gravitacional tende para zero quando
o r se torna muito grande. Era importante reforçar esse fato, pois a posição onde g=0
corresponde ao ponto de escape do campo gravitacional. Comentamos, também, com
o grupo, que a expressão indicava que o campo gravitacional era gerado pela Terra,
de massa M, e que não dependia da massa m do corpo. Assim, explicamos aos
aprendizes que a interação gravitacional era o resultado da interação de um corpo de
massa m com o campo gravitacional de um planeta e que essa informação estava
contida na expressão que eles usavam para calcular a força peso (gravidade): gmP
.
. Tudo foi registrado no quadro branco (Figura 28).
Após essa rápida discussão sobre o campo gravitacional, voltamos nossa
atenção para a problematização inicial da aula, particularmente para o cálculo da
energia mínima que deveria ser fornecida ao corpo a fim de que ele escapasse do
campo gravitacional da Terra. Então, colocamos em prática a estratégia descrita
anteriormente, qual seja, reescrever a equação da energia potencial gravitacional e
80
utilizar a conservação da energia mecânica para efetuar o cálculo da energia solicitado
na problematização. O sinal negativo da energia potencial foi justificado, conforme
descrito acima, como uma correção matemática necessária para adequar o fenômeno
à conservação da energia mecânica.
Dando seguimento aos trabalhos, aplicamos a conservação da energia e
mostramos aos aprendizes que o valor mínimo de energia que deveria ser fornecido
ao corpo para ele escapar do campo gravitacional era igual à energia potencial que
esse corpo possui quando parado na superfície da Terra. Vencida essa etapa, era
chegado o momento de apresentar o conceito de sistema ligado. Para isso, nós
perguntamos ao grupo qual era o significado físico de uma energia potencial negativa.
A turma, como esperado, não soube responder. Explicamos ao grupo assim:
“Turma, preste atenção na conta que acabamos de fazer, ela foi realizada para
calcular a energia mínima necessária para o corpo escapar do campo gravitacional da
Terra. Prestem atenção na expressão: escapar. Se é necessário escapar, é porque
existe algo prendendo, segurando, vocês concordam?”. O grupo concordou, sem
dificuldades aparentes. “Essa coisa que prende um corpo ao outro é uma interação
de atração, alguns alunos sussurraram a mesma coisa. Então, o significado da energia
negativa do sistema formado pela Terra e o corpo é que eles experimentam uma
interação de atração e é, por isso que, para serem separados, precisam receber
energia. Na Física, esses sistemas são classificados como sistemas ligados.
Perguntamos se eles haviam entendido o que era um sistema ligado e responderam
que sim.
Fizemos a retomada da discussão da transformação da energia cinética, devido
à ação da gravidade, em energia potencial, durante a subida do corpo para escapar
no campo gravitacional da Terra. Em seguida, lançamos para o grupo outro
questionamento: o que é que a Terra transfere para a bola e a bola transfere a Terra?
A turma ficou em silêncio, em seguida a aluna 15 (51:22 até 51:31) respondeu:
“Energia”. Aproveitamos a resposta da aluna e explicamos para o grupo que, quando
os corpos estão interagindo, eles estão trocando energia. Ou seja, falamos de força
de atração e força de repulsão, mas os corpos que interagem não trocam forças,
trocam energia.
Esse grupo havia terminado o estudo da eletrostática, com outro professor, então
pensamos em analisar a energia potencial de dois sistemas: um formado por duas
81
cargas positivas e outro contendo uma carga positiva e outra negativa, para
reforçarmos o conceito de sistema ligado. Escrevemos a expressão da energia
potencial de duas cargas no quadro e fizemos a análise dessa expressão com o grupo.
Assim, iniciamos a análise com o sistema formado de cargas positivas. Mostramos,
através da expressão, que a energia potencial era positiva. Na sequência,
perguntamos ao grupo se aquele sistema era ligado (53:47 até 54:07) e eles
responderam que não. Em seguida, reforçamos que cargas positivas se repelem,
então, elas não precisam receber energia para se separarem.
Nesse momento, uma aluna disse (54:07 até 54:13): “Ahhhhhh!”, demonstrando
que havia entendido. Continuamos: E se uma das cargas forem negativas, o sistema
é ligado? Perguntamos ao grupo. Eles responderam (54:21 até 54:24) que é.
Reforçamos que, se as cargas se atraem, devem receber energia para serem
separadas, logo, constituem um sistema ligado. O grupo demonstrou entendimento
do conceito. Nesse momento, distribuímos para todos os aprendizes uma cópia
impressa da atividade com título de Terceiro encontro (CAPÍTULO 3 DO PRODUTO
EDUCACIONAL), contendo a problematização citada abaixo e mais seis exercícios
auxiliares, que não foram respondidos nesse encontro. Como atividade final desse
encontro, solicitamos que os aprendizes respondessem, nos quinzes minutos
restantes, por escrito, à seguinte problematização:
No primeiro encontro, foi perguntado se vocês sabiam o que era energia de
ligação e foi apresentado um gráfico que informava valores experimentais da energia
de ligação por núcleon (E/A), que corresponde à razão entre valor da energia de
ligação e quantidade de prótons e nêutrons presentes no núcleo. Pois bem, energia
de ligação é o valor de energia necessário para manter os núcleons unidos, formando
o núcleo atômico. Essa energia pode ser avaliada fornecendo-se energia ao sistema
e verificando para qual valor o núcleo atômico se desfaz. Então, pode-se afirmar que
o núcleo do átomo é um sistema ligado, como o sistema gravitacional analisado na
aula anterior? Como acontece a interação que mantém os núcleons unidos?
Nosso objetivo, com a primeira pergunta, era avaliar se o aprendiz seria capaz
de realizar, sozinho, a analogia entre o sistema analisado nesse encontro e o núcleo
do átomo, conforme mencionamos no início do relato desse encontro. O nosso
próximo passo era discutir com os aprendizes a relação massa-energia e mostrar
como ocorria a troca de energia entre os núcleons. A segunda pergunta da
82
problematização era uma provocação para nortear a nova etapa. Porém, as
discussões dos conceitos envolvidos na interação gravitacional se estenderam para
além do que foi planejado. Por esse motivo, as questões auxiliares da atividade
mencionada não foram respondidas. Adiamos essa parte da atividade para o próximo
encontro.
No final desse encontro, enquanto os aprendizes respondiam à problematização,
distribuímos cópias impressas do artigo Lattes: Nosso Herói da Era Nuclear (ANEXO
A), da atividade com título Quinto e Sexto encontros (CAPÍTULO 5 DO PRODUTO
EDUCACIONAL), que continha dez perguntas para auxiliar a compreensão do artigo,
e do texto Um intruso importante (CAPÍTULO 5 DO PRODUTO EDUCACIONAL),
contido nessa atividade. Indicamos, também, para os aprendizes, o vídeo 2: Cientistas
Brasileiros: César Lattes e José Leite Lopes7, como material de apoio para auxiliar
nas respostas das questões propostas na atividade. Essas questões seriam utilizadas
como problematizações do encontro que seria realizado quinze dias após a data da
entrega. Julgamos que essa antecedência seria necessária por conta da duração do
vídeo, que era de 50 minutos, e da extensão do material para leitura.
Aula 3 (Quinto e Sexto encontros)
Essa aula ocorreu no dia 4 de maio de 2017, com duração superior a 100
minutos, devido ao interesse demonstrado pelos aprendizes. Salientamos que,
mediante pedido da turma, o planejamento desse encontro foi alterado. Os aprendizes
efetuaram a leitura de material didático impresso entregue na aula anterior antes do
prazo que imaginamos, e estavam com a curiosidade bastante estimulada. Assim que
nos encontramos na sala de aula, eles disseram que tinham algumas perguntas que
necessitavam de respostas imediatamente. Pareceu-nos que gostaram muito do que
leram, pois estavam ansiosos para entenderem sobre alguns pontos.
Eles queriam saber sobre emulsão, detecção, esmaecimento das imagens e
outros temas mencionados no material didático que receberam. A aluna 13 nos
7 César Lattes. Exibido no programa Globo Ciência. Os trechos utilizados: 0:00 até 08:38 e 10:09 até 12:43. Duração: 19min 54s. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=i6nqu-UEalU>. Acesso em: 10 abr. 2017.
83
perguntou (5:54 até 6:09): “O que é uma emulsão? Porque eu não faço ideia do que
é, eu não entendi nada”. Nesse caso, consideramos justificada a mudança da ordem
das aulas prevista no planejamento e nos sentimos muito satisfeitos em realizá-la.
O material didático discutido nesse encontro foi o que possui o título de Quinto e
Sexto encontros (CAPÍTULO 5 DO PRODUTO EDUCACIONAL), que, no
planejamento original, seria utilizado no dia 11 de abril e as questões contidas nele
foram utilizadas como problematizações. Contudo, cabe salientar que foram os
aprendizes que determinaram as problematizações iniciais desse encontro, pois elas
foram propostas por eles com base nas dúvidas geradas devido ao estudo do material.
Diante da empolgação deles, resolvemos abrir esse encontro atendendo às demandas
que eles traziam. Eles, de fato, gostaram do material, tanto que no final da aula
pediram para ficar com ele (1:48:47 até 1:49:03). Esse material que eles gostaram e
que estava contido no material didático impresso (CAPÍTULO 5 DO PRODUTO
EDUCACIONAL) foi o texto: Um intruso importante, de minha autoria.
O trabalho de Viktor Hess, em 1912, que comprova a origem extraterrestre da
radiação cósmica e aumento da intensidade dessa radiação com a altitude, é citado
nesse texto com o objetivo de mostrar o caráter colaborativo das construções
científicas no sentido em que um desenvolvimento teórico e/ou experimental pode
servir para estudos posteriores de outros cientistas. Explicamos para a turma que
Lattes decidiu expor as emulsões fotográficas em locais altos porque já era conhecido
naquela época, graças a estudos anteriores como o de Hess, que a intensidade da
radiação cósmica aumentava com a altitude.
A controvérsia dos mésons (dúvida quanto à existência ou não de dois mésons)
é o tema principal do texto. Escolhemos esse fato histórico-científico para ilustrar como
são construídos os conhecimentos científicos. Esse episódio mostra a tentativa
frustrada de identificar o múon como partícula de Yukawa, que serve como exemplo
de desconstrução. Entretanto, a detecção desse primeiro méson mostra que existiam
partículas com massa intermediária entre as massas do elétron e do próton e fornece
credibilidade à teoria de Yukawa, o que provoca uma mobilização de vários cientistas
do mundo para a busca do píon. Tentamos, através desse texto, contribuir para que
os aprendizes entendessem que o caminho de construção da ciência não é linear.
Esses dois lados da detecção do múon (mésotron inicialmente) foram discutidos com
a turma.
84
A primeira dúvida que surgiu na turma foi a da aluna 18 e estava relacionada à
parte do texto que trata dos estudos iniciais da radiação cósmica, que foram motivados
pelo descarregamento dos eletroscópios. Uma das hipóteses para justificar esse
descarregamento, citada no texto, era que a radiação oriunda das rochas seria a
responsável pela descarga do equipamento. A aluna questionou se a palavra rocha
significava, de fato, rocha. Inicialmente, nos pareceu uma pergunta estranha, no
entanto, com a continuidade do diálogo, entendemos que a aluna estava pensando
que a palavra rocha, no contexto, não poderia ter o significado de pedra, por conta da
emissão da radiação. Para essa aluna, rocha não emitia radiação. Logo, a palavra
rocha, no texto, deveria ter outro significado que ela estava muito incomodada para
saber qual. Explicamos para ela que todo corpo aquecido podia emitir radiação,
inclusive as rochas. Portanto, a palavra rocha, no texto, significava, de fato, pedra. Ela
sinalizou dando a entender que a dúvida estava esclarecida.
A mesma aluna perguntou: “Qual a aplicação da MQ que não engloba as
dimensões nucleares?”. Solicitamos, de imediato, que ela nos fornecesse o contexto
dessa pergunta. Ela, prontamente, leu um trecho do texto que afirmava que Bohr não
acreditava que a MQ pudesse ser aplicada para o estudo do átomo. A partir dessa
leitura, feita de uma parte grifada por ela do texto, entendemos que ela queria saber
o motivo que levou Bohr a não acreditar na possibilidade da aplicação da MQ no
estudo do núcleo. Esclarecemos para ela que a MQ era uma teoria que havia sido
aplicada com muito sucesso para o estudo do átomo e que foi através dessa teoria,
que se chegou ao modelo quântico do átomo, após outras tentativas de modelos.
Contudo, essa teoria poderia falhar para o estudo de uma coisa muito menor do que
átomo. É uma hipótese que um cientista, com base em seus conhecimentos, pôde
defender. No caso de Bohr, ele se enganou. A MQ foi aplicada com sucesso no estudo
do núcleo, por Yukawa e outros. No final, perguntamos se a dúvida dela havia sido
esclarecida e a aluna sinalizou positivamente.
Em seguida, três aprendizes (13,5 e 10) fizeram perguntas. Eles queriam saber
o que era emulsão e como ela funcionava e qual era o efeito do bórax na emulsão. A
pergunta sobre o bórax foi do aluno 10. Esclarecemos para eles que as emulsões
detectavam apenas partículas que possuíam carga elétrica e, como o nêutron é
neutro, ele não poderia ser detectado. Ciente disso, Lattes resolveu colocar o bórax
para detectar os nêutrons porque ele sabia que esse material explode quando colide
85
com os nêutrons. Essa explosão libera partículas carregadas que deixam rastros na
emulsão, indicando que por ali passaram nêutrons e possibilitando o estudo dessas
partículas. Aproveitamos o momento, para comentar que o bórax revelou para Lattes
outras utilidades além da detecção dos nêutrons, após a revelação das chapas com
emulsões, expostas no Pic du Midi. Era importante provocar um clima de suspense,
para motivar mais a curiosidade. Por isso, respondemos primeiro à pergunta sobre o
bórax e utilizamos na resposta os termos detecção e emulsão. Entretanto, não demos
as respostas para as duas primeiras perguntas porque utilizaríamos um vídeo que
ajudaria os aprendizes a construírem uma resposta para, em seguida, dialogarmos.
Esclarecemos para o grupo esse planejamento.
O aluno 10 fez outra pergunta, assim que finalizamos a explicação do
planejamento da aula; ele queria saber o que era fading. Explicamos que as imagens
registradas nas emulsões passavam por um processo de esmaecimento e iam ficando
claras, até sumirem. Isso provocava a perda de informações registradas durante a
exposição. O bórax ajudou a reduzir esse enfraquecimento das imagens e, com isso,
as chapas com esse material possuíam mais registros. Esse termo aparece no outro
texto que eles receberam na aula anterior, um artigo de seis páginas cujo título é
Lattes: Nosso Herói da Era Nuclear (ANEXO A DO PRODUTO EDUCACIONAL). Essa
pergunta era mais um indício de que haviam realmente lido os dois textos. O artigo
fala sobre o trabalho de Lattes, em Bristol, a tentativa de identificar o mésotron como
píon, a técnica das emulsões nucleares, as duas detecções do píon, as contribuições
de Lattes para a ciência brasileira e sua postura enquanto cidadão.
Nesse artigo, Lattes: Nosso Herói da era Nuclear (ANEXO A DO PRODUTO
EDUCACIONAL), existe uma seção intitulada de O Portador de uma técnica. Vieira
(2012), nessa parte do texto, afirma que Lattes chegou a Berkeley, como o portador
de uma técnica desenvolvida pelo grupo Bristol que envolvia o aprimoramento das
emulsões, de métodos de revelação, de técnicas de observação e de contagem de
grãos. A aluna 18 fez a leitura dessa seção, mas não conseguiu entender qual técnica
foi levada por Lattes para os Estados Unidos da América e quis saber informações
sobre ela.
Dessa forma, explicamos que o processo de utilização da emulsão consistia em
saber o tipo de emulsão a ser empregada e o tempo de exposição. Salientamos que o
texto citava que Lattes, ao chegar em Berkeley, sugere mudança no tempo de exposição
86
e retira o excesso de papel preto. Isso indica que os cientistas de Berkeley não detinham
a técnica das emulsões que Lattes possuía. Acrescentamos ainda que a análise da
emulsão era realizada com a utilização de um microscópio para efetuar a contagem dos
grãos que ficam registrados nessa emulsão, formando o que o texto chama de traço. A
partir da medida desse traço é que se determina a energia da partícula.
Finalizamos, dizendo para a aluna, que Lattes era o portador da técnica porque
ele sabia fazer tudo o que acabamos de falar. Para corroborar nossa afirmação, citamos
que Lattes revelou, no Rio de Janeiro, uma emulsão exposta em Chacaltaya. Com esse
esclarecimento, a aluna compreendeu o que significava a expressão “portador de uma
técnica”, utilizada no texto. Destacamos, igualmente, que, antes de prosseguirmos com
a descrição desse encontro, queremos registrar que alguns aprendizes associaram a
detecção de partícula à ideia de fotografá-la, após assistirem ao vídeo utilizado no
primeiro encontro. Percebemos isso tanto nas falas quanto nas respostas escritas no
material didático. Não efetuamos a correção dessa ideia, levantamos uma dúvida, já no
primeiro encontro, dizendo: será que é uma foto mesmo?
Nossa intenção era, ao longo dos encontros, modificar essa visão de foto da
partícula para foto do rastro deixado pela partícula na emulsão. Ou seja, construir a
ideia de detecção a partir da ideia cotidiana de fotografia. Durante a explicação para
a aluna 18 sobre a técnica da qual Lattes era o portador, falamos para a turma que a
análise da emulsão que eles imaginavam como uma foto da partícula era feita através
da utilização de microscópios para efetuar a contagem dos grãos registrados na
emulsão. Agimos dessa maneira para, mais uma vez, suscitar dúvidas sobre a ideia
de foto da partícula.
Na sequência das perguntas feitas pelos aprendizes no início desse encontro,
veio o questionamento do Aluno 4 (25:48 até 26:28): “Os mésons, antes de decair,
interagem bastante. Vamos supor que o núcleo de um átomo seja criado no Big Bang
e os mésons que intermediariam essa força já não existiriam mais, pois o tempo já
teria passado bastante, correto? Então o que aconteceria com esses núcleos, quando
o méson do núcleo decaísse?”. Afirmamos que, enquanto ocorre interação no núcleo,
o méson está lá. Ele retrucou: “E quando o méson decai, o núcleo não existe mais?”.
Esclarecemos para ele que o méson que decai é o méson livre, solto. No núcleo,
o méson não decai. E ele respondeu que havia entendido. Percebemos, ao longo do
diálogo, que esse aluno estava confundindo o tempo de interação com a vida média
87
da partícula e, com a nossa ajuda, ele resolveu a confusão. Aproveitamos o momento
e prosseguimos explicando que, se os mésons existem nas interações que ocorrem
dentro do núcleo e quando esse núcleo é quebrado esses mésons são liberados,
então eles deveriam ser detectados para comprovar sua existência. Essa era a ideia
dos cientistas para detectar partículas.
A dificuldade no caso do méson é que ele se transforma em outra partícula, o
méson mi ou múon. Esse processo é chamado de decaimento e comandado por outra
interação, que não foi abordada nesses encontros. Nesse instante, alguns aprendizes
exclamaram: “Huuumm!” Eles perceberam que havíamos explicado o que era
decaimento, pergunta feita logo no início desse encontro. Salientamos para a turma,
após essa explicação, que agora precisávamos entender melhor os termos detecção
e emulsão e como acontecia a interação forte.
Provocamos novamente a turma, perguntando se teriam mais alguma pergunta.
Imediatamente, a aluna 18 perguntou o que significava feixe de 1 Mev, utilizado para
bombardear núcleos. Explicamos que feixe era feixe de partículas e que, naquela época,
era comum os cientistas utilizarem feixes de partículas alfa. Quanto ao Mev, significa
mega elétron-volt, uma unidade de medida de energia de partículas. Na sequência, a
aluna 13 (35:00 até 35:13) perguntou: “Tem uma pergunta que você fez aqui no
questionário que foi a única que não consegui responder direito [...] o que é o processo
de calibração?” Quando ela terminou a fala, o aluno 05 afirmou que era importante
entender a função da calibração e não o processo de calibrar. Nesse instante, interferimos
e reforçamos que também era importante entender como o processo de calibrar era
realizado, pois isso estava relacionado ao estudo da partícula detectada.
Depois da interrupção, a aluna 5 continuou (35:36 até 36:20):
“Mas tem mais duas coisas, esse negócio do bombardeamento me lembrou
aquele negócio da lâmina de ouro. E, outra coisa, eu fiquei imaginando como é que
seria essa emulsão, como é que ocorreria o processo. Eu posso estar errada ou certa,
mas eu queria comentar o que eu pensei. Eu imaginei como se fosse uma chapa de
raio x, aí você coloca tipo uma ‘amoeba’ por cima [...] aí você reveste essa chapa para
ela conseguir fazer as coisas especiais que ele tem que fazer. [...] eu imaginei como
se fosse raio x mesmo, [...] você coloca lá, aí fica os pontinhos brancos [...]”.
Nós complementamos a fala dela dizendo: E você estuda esses pontinhos?
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A exposição de ideias da aluna 13 foi muito interessante, porque essa aluna foi
uma das que, inicialmente, associaram a detecção à fotografia da partícula. Através
dessa fala dela, podemos perceber que há indícios de que ela iniciou o processo de
aprendizagem do conceito de detecção. Ela associou o funcionamento da emulsão
(conhecimento novo) ao funcionamento da chapa de raio x, que era o conhecimento
prévio que ela possuía em sua estrutura cognitiva. Em outra fala, ela afirmou que, na
emulsão, ficavam indícios da passagem da partícula. Isso nos indicou que as
discussões realizadas naquele encontro começavam a render bons frutos.
Estávamos nos preparando para assistir o primeiro trecho do vídeo 2 sobre
Lattes, quando fomos interrompidos pela aluna 18, dizendo (37:17 até 37:32): “[...]
acabei de descobrir uma coisa interessante: Amoeba contém bórax”. Ela pesquisou
sobre amoeba após ouvir a colega citar essa palavra em sua fala. Era chegado o
nosso momento de aprender, nós voltamos para a turma e dissemos: “Vocês podem
nos dizer o que é Amoeba?”. Eles riram muito. Questionaram: “Você não sabe o que
é Amoeba?”. Em seguida, explicaram: “É aquela geleia colorida, geleca”. Nós
exclamamos que geleca, sabíamos o que era, mas Amoeba não. Eles, então,
explicaram que Amoeba era uma marca de geleca. Nós assumimos: “Gente, dessa
não sabíamos”. Após esse momento de riso e descontração, iniciamos a projeção do
vídeo 2 (39:32 até 48:00).
Esse vídeo conta uma pouco mais sobre a personalidade de Lattes. Existe nele
um depoimento de uma das suas filhas, no qual ela conta sobre a preocupação dele
com a formação dos filhos, bem como o desprendimento que ele possuía para
contribuir com a formação de estudantes universitários sem condição de custear seus
estudos. Nesse depoimento, a sua filha cita a indicação para o Nobel e afirma que ele
foi o único cientista brasileiro a ser indicado para esse prêmio. Na sequência, o vídeo
mostra uma entrevista da Doutora em História, Ana Maria Ribeiro de Andrade, na qual
ela fala sobre as duas detecções do méson e sobre a importância dessas detecções
para a ciência e para o Brasil. Pretendíamos, com esse vídeo, motivar o grupo para
uma discussão sobre essas duas detecções a fim de que eles compreendessem a
diferença entre elas e a importância de cada uma.
Quando a projeção do vídeo 2 foi encerrada, fizemos um breve resumo,
provocando a participação deles. Vocês viram que no vídeo a historiadora cita quantas
detecções? Eles responderam: “Duas”. A primeira, vocês leram, foi onde? Eles
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responderam: “Em Chacaltaya”. Reforçamos para o grupo que essa primeira detecção
representa a detecção do méson π nos raios cósmicos, de acordo com depoimento
da historiadora. Em continuidade, explicamos que a segunda detecção ocorreu em
um acelerador de partícula em Berkeley e mostrou que essas máquinas poderiam ser
utilizadas com sucesso para o estudo da matéria. A quantidade de aceleradores no
mundo, naquela época, reduzida e essas máquinas eram utilizadas para essa função.
Foi a detecção do méson que inaugurou a era dos aceleradores no estudo das
partículas subatômicas. Nossa fala serviu para corrigir, discretamente, a afirmação da
historiadora de que a primeira detecção comprova a existência dos raios cósmicos.
Após esse breve resumo, lançamos para a turma a seguinte problematização:
Há quem afirme que a segunda detecção foi mais importante do que a primeira. O que
vocês acham? A Aluna 13 afirmou, imediatamente, que as duas eram importantes.
Questionamos o motivo de tal afirmação e ela respondeu que as duas detecções
contribuíram para o resultado que temos agora. Depois, três alunos (02,04 e 05)
afirmaram que, para eles, a primeira detecção era mais importante, porque sem ela
não haveria a segunda. A aluna 13, então, se posicionou, afirmando que concordava
com os colegas. A aluna 21 teve um posicionamento divergente (50:22 até 50:37): “Eu
realmente acho que do jeito que a ciência evolui, de certo modo, mesmo se não
tivesse a primeira, eu acho que, de alguma forma, a gente conseguiria detectar a
segunda. Posteriormente, porque já tinha aceleradores estudando”.
Entendemos que a aluna afirmou que, mesmo sem a primeira detecção, mais
cedo ou mais tarde, algum cientista descobriria o méson em um acelerador de
partículas. Alguns colegas dela entenderam da mesma forma, mas não concordaram.
A discussão ficou interessante. Nesse contexto, a aluna 15 pediu a fala e, se voltando
para a colega, disse (53:10 até 54:14):
“Você acha que a primeira não foi tão importante, porque como eles tinham o
acelerador de partícula eles, consequentemente, acabariam descobrindo do mesmo
jeito. Mas como que eles iriam encontrar se eles nem saberiam que existia. Eles
tinham os meios, mas eles não sabiam. Se eu te disser agora [...] se tem uma coisa
agora nessa sala, um espírito, o seu estojo é um ótimo catalisador de espírito, sabia?
Você não sabe, como é que você vai saber que tem um espírito aqui? Você tem a
posse de identificar o espírito, mas como é que você vai identificar?”
Em seguida, o aluno 4 defendeu a posição da aluna 21:
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“A detecção das ondas de rádio foi meio que por acidente, se não me falha a
memória, existem várias coisas na Física que foram por acidente. Então, não
necessariamente, você vai descobrir uma coisa querendo descobrir essa coisa”.
Após a fala do aluno 4, interrompemos a discussão, a fim de fazer uma
conciliação das falas anteriores dos aprendizes 4, 13, 18 e 21. Iniciamos nossa fala
elogiando as colocações feitas pelos aprendizes. Em seguida, afirmamos que, para
um cientista perceber o que está acontecendo em um experimento, é necessário que
ele possua conhecimento e técnica para realizar a experiência. Frisamos que o
cientista tinha que ser o portador da técnica. Caso contrário, a coisa acontece e não
é percebida. No caso das emulsões, além do conhecimento e da técnica, o cientista
ainda tem que ter acuidade visual e paciência para procurar.
Dando continuidade, questionamos: De acordo com o que vocês leram, Lattes
coloca bórax nas emulsões para procurar o méson π? Eles responderam: “Não.” Nós
continuamos, ele colocou o bórax para capturar nêutrons. Mas, como ele possuía
conhecimento, tinha boa formação e era um bom físico experimental, quando ele
observou a chapa revelada, percebeu que ali tinha mais coisas do que nêutrons.
Então, não deixa de ter um pouco de acaso (sorte). O aluno 4 retrucou: “Acaso?”
Respondemos que sim. Estamos concordando com sua colocação anterior.
Terminada a nossa fala, o aluno 4 pediu para se posicionar com relação à
detecção mais importante e nós concedemos espaço. Então, ele se posicionou
afirmando que a segunda detecção, a artificial, era muito importante, porque foi um
experimento controlado e isso representava uma possibilidade de desenvolvimento
da tecnologia prática do ser humano, podendo gerar aplicações futuras em nosso
cotidiano. Quanto à afirmação da aluna 21, de que o méson seria descoberto mesmo
sem a primeira detecção, ela disse: “A gente fica na incerteza para afirmar isso.” A
aluna 21, logo em seguida, afirmou: “A penicilina foi descoberta por acaso, o cientista
que a descobriu possuía o conhecimento e a técnica, mas ele estava procurando outra
coisa”. Após essa fala da aluna 21, reforçamos para a turma que o mundo inteiro
estava procurando o méson, inclusive os americanos, que não estavam detectando o
méson no acelerador, porque não utilizavam a técnica das emulsões corretamente.
Nesse momento, a aluna 18 pediu a fala e disse:
“Em relação à qual é mais importante, eu acho que têm importâncias diferentes.
Porque, por exemplo, a primeira que foi reafirmada em Chacaltaya teve a importância
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de confirmar a existência e a teoria de que o átomo é desse jeito, não explode, não se
separa [...] a partícula tem uma lógica. A segunda, lá nos Estados Unidos, a
importância foi que dá pra gente achar de outra forma, recriar.”
Nesse momento, esclarecemos para o grupo que, para nós, as detecções tinham
importâncias distintas. Primeiramente, fizemos um resumo da história da detecção do
mésotron até a detecção artificial. Em seguida, afirmamos que a primeira representou
a validação da teoria de Yukawa, enquanto a segunda mostrou que o acelerador de
partícula seria uma máquina muito útil para a Física. Com essa fala encerramos as
discussões sobre a importância das detecções.
Dando continuidade aos trabalhos, efetuamos a projeção de outro trecho do
vídeo 2 sobre Lattes. Esse trecho (10:09 até 12:43) mostra o físico Alfredo Marques
explicando para que Lattes colocou bórax nas emulsões, como funcionava o bórax, o
que era uma emulsão e como funcionam as emulsões. Ele também mostrou fotos das
caixas com emulsões e a foto dos traços (Figura 29) deixados pelas partículas na
emulsão, conforme observamos:
Figura 29 – Recorte da tela de vídeo exibido na aula
Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=i6nqu-UEalU.
Iniciamos a projeção do vídeo e quando este atingiu o ponto mostrado na foto
acima, pausamos a exibição e esclarecemos para o grupo que, na tela de projeção,
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estava o traço deixado pelas partículas nas emulsões. A expressão de surpresa no
rosto deles, quando mostramos a foto dos traços, foi sensacional. Igualmente,
continuamos explicando para o grupo que aquela ideia inicial de foto da partícula
estava equivocada. Na realidade, o registro que ficava na emulsão era aquilo exibido
no vídeo.
Explicamos que os cientistas efetuavam a medida do traço e a contagem dos
grãos para estudar as características das partículas, como a energia, utilizando esse
registro. Ainda explicamos que o traço, e não a trajetória da partícula, era resultado
da ionização provocada pela transferência de energia da partícula para a emulsão.
Pontuamos, do mesmo modo, que esse trabalho era muito exaustivo e de longa
duração. A Aluna 13, por sua vez, ainda nos perguntou (1:12:32 até 1:12 :36): “[...] a
emulsão não estaria na chapa, a chapa é que seria a emulsão?”. Concordamos com
ela, mas explicamos que a emulsão necessitava de um suporte. Então, esse conjunto
formava a chapa. Ela sinalizou que havia entendido.
Ainda sobre as emulsões, explicamos para a turma que o auge dessa técnica se
deu com a detecção do méson π e que essa técnica foi bastante utilizada entre as
décadas de 40 e 50. Com o desenvolvimento dos aceleradores de partículas, porém,
esse método perdeu lugar de destaque na Física de Partículas. Explicamos que a
análise de dados experimentais, tanto dos aceleradores, quanto das emulsões ou, até
mesmo, em outras áreas da ciência, requerem muito esforço, paciência e dedicação
dos cientistas. A aluna 15 nos ajudou citando o imenso trabalho dos cientistas no
projeto genoma.
Exibimos, em seguida, o trecho restante (11:49 até 14:28) do mesmo vídeo
pausado. Nesse trecho, o físico Alfredo Marques explica que o méson π não chega
na superfície da Terra porque interage nuclearmente com a matéria presente na
atmosfera. Ele explica também que o méson π é produzido nas colisões da radiação
cósmica com os núcleos da atmosfera e, como é instável, decai no méson mi, que
chega à superfície da Terra porque não interage nuclearmente (fortemente). Alfredo
Marques (ano do vídeo), afirma no vídeo que “[...] sem o méson π, o núcleo do átomo
explodiria e não existiria matéria estável e não existiria mundo, nem matéria.” Durante
a explicação do físico, é exibida uma animação mostrando a colisão da Radiação
Cósmica (RC) com a atmosfera e o decaimento do méson π.
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Assim que finalizamos a exibição dessa última parte do vídeo, a aluna 15 disse
(1:28: até 1:28:38): “Eu percebi uma coisa hoje [...] que descobrimos muitas coisas
[...], mas a gente ainda não percebeu como é que o méson π une o núcleo!”.
Elogiamos a observação dela e comentamos que estávamos esperando por essa
pergunta. Em realidade, já estávamos acreditando que essa pergunta não seria feita,
entretanto, pontuamos que a responderíamos mais tarde. Desejávamos apresentar
Lattes para os aprendizes, então escolhemos esse trecho (19:49 até 20:36) do vídeo
3, Cientistas Brasileiros: César Lattes e Leite Lopes8. Nas cenas selecionadas,
aparece Lattes, já idoso, contando que ele pediu à fabricante de chapas para colocar
bórax e explicando que bórax retardava o desaparecimento da imagem das emulsões.
Mostramos desse vídeo 3 outro trecho (16:08 até 16:58), o qual que apresenta
uma animação da interação da radiação cósmica com a atmosfera, formando os
chuveiros extensos e a chegada desses nos picos mais altos na superfície da Terra.
Nossa intenção era reforçar que os mésons eram produzidos nessas colisões. Essa
animação era mais ilustrativa que a do vídeo 1. O problema foi que o vídeo 3 não
rodou na primeira tentativa. Resolvido o problema, exibimos o trecho (20:42 até 21:23)
que mostra a interação do méson com a emulsão e seu decaimento no méson mi. O
narrador do vídeo 3 explica que apenas partículas carregadas deixam rastro nas
emulsões.
A partir dessa animação, explicamos para o grupo, novamente, o funcionamento
da emulsão. Mostramos os traços deixados pelos méson π e méson mi, reforçando
que eles deixam esses traços porque são carregados. Explicamos, ainda, que a
relação entre o comprimento do traço e a energia depositada pela partícula na
emulsão era determinada em um processo chamado de calibração da emulsão.
Através da calibração, o cientista determina a energia da partícula. Conhecendo a
energia, ele determina a massa da partícula, através da relação massa-energia que
veremos mais tarde (FIGURA 30).
8 Vídeo produzido pelo Núcleo de Pesquisa em Ciências: Cientistas Brasileiros: César Lattes e José Leite Lopes. Os trechos utilizados: 19:49 até 20:36 e 20:42 até 21:23. Duração: 54min 59s. Disponível em:<https://www.youtube.com/watch?v=DB3PzzIrRTc>. Acesso em: 10 abr. 2017.
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Figura 30 – Recorte da tela do vídeo 3 exibido na aula
Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=DB3PzzIrRTc.
Terminada a explicação para o grupo, a aluna 13 nos confessou que havia
entendido que o méson mi era mais fraco do que o méson π, porque ele sai do méson
π. Em seguida, ela perguntou como era possível ele ser mais fraco e mais penetrante.
Perguntamos se o mais fraco significava menos energia, ela respondeu positivamente.
Em seguida, explicamos que o méson mi tinha menos energia porque ele era filho do
méson π, no processo de decaimento, com base na conservação da energia. E que
esse méson não interagia fortemente com a matéria, por isso ele penetrava muito mais
do que méson π.
Aula 4 (Terceiro e quarto encontros)
Esse encontro realizou-se no dia 11 de maio de 2017, com o objetivo de abordar
os conceitos de interação e partícula mediadora, particularmente, a interação forte e
o méson π, respectivamente. O intuito era que, ao final desse encontro, nossos
aprendizes compreendessem que a interação forte é uma troca de energia entre os
núcleons, a qual ocorre através da troca de mésons π, que são as partículas
mediadoras dessa interação. Para conhecermos a origem da energia trocada entre os
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núcleons era necessário estudar o conceito de energia de ligação e para isso, talvez,
fosse necessário revisar o conceito de sistema ligado, pois esse último conceito foi
estudado no dia 27 de abril de 2017.
Para os aprendizes construírem o conceito de partícula mediadora, planejamos
exibir um trecho do vídeo 4: The Standard Model Explains Force And Matter9. O trecho
utilizado foi de 2:28 até 3:00, no qual há a apresentação de duas partículas que se
repelem através da troca de partículas mediadoras. Após a exibição do vídeo, abrimos
espaço para o grupo fazer perguntas, que se tornariam problematizações para a
discussão do conceito de partícula mediadora. Evitamos desenhar bolinhas para
representar os núcleons, pois, outro objetivo nosso era que os aprendizes
compreendessem os núcleos como um aglomerado de partículas menores (mediadoras)
que podem ser intercambiadas. O vídeo exibido mostrava essa ideia.
A nossa proposta para explicar a energia de ligação foi utilizar o defeito de
massa, sem citar esse nome. Através da resolução de exercícios auxiliares do material
didático com título de Terceiro encontro (CAPÍTULO 3 DO PRODUTO
EDUCACIONAL), exercícios de 1 até 3, os aprendizes seriam induzidos a perceber
que os núcleons perdem massa para se manterem unidos, ou seja, liberam energia
para buscar a estabilidade. O exercício 4 é uma problematização que gera a
necessidade de conhecer a relação massa-energia. Fizemos uma breve explicação
sobre a relação proposta por Einstein (E=m.c2) e a aplicamos para calcular o
equivalente em energia da massa perdida pelos núcleons.
Na sequência, efetuamos o cálculo da energia de ligação por núcleon (E/A) para
o deutério e comparamos com a informação do gráfico exibido no primeiro encontro,
que fornece E/A em função do número de massa A. Através dessa comparação, os
aprendizes perceberiam que o valor da energia de ligação corresponde
aproximadamente à energia oriunda da massa perdida, chegando assim à resposta
da problematização. Antecipamos que, por conta do tempo de aula excedido, não
resolvemos o exercício 5 e a segunda parte da pergunta 6desse material. Eles foram
propostos como tarefa de casa.
9 The Standard Model Explains Force And Matter. Mostra interação através da troca de partículas. O trecho utilizado: 2:28 até 3:00. Duração: 9min 49s. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=p5QXZ0__8VU>. Acesso em: 10 abr. 2017.
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Antes de executar o nosso planejamento para esse encontro, sugerimos que os
aprendizes fizessem as perguntas oralmente para que anotássemos no quadro
branco. Todos concordaram com a sugestão e iniciamos a aula com uma seção de
perguntas. Nesse momento, nos tornamos mediadores para ajudá-los a formular a
pergunta de modo claro, pois alguns aprendizes possuem um perfil mais tímido e/ou
não conseguem se expressar bem através das palavras, o que percebemos de forma
acentuada no último encontro.
Nesse contexto, a primeira pergunta foi da aluna 18 (0:22 até 0:39): “Eu acho
que entendi o que era um sistema ligado, mas eu ainda não tenho certeza. Aí é isso
[...]”. Então, eu perguntei se a pergunta dela era, o que é sistema ligado? Ela
concordou e prosseguimos com a seção de perguntas. O aluno 2 queria saber se os
quarks seriam relacionados aos mésons π. Explicamos para ele que a teoria mesônica
era a primeira tentativa de descrever a interação forte e que a descrição dessa
interação através dos quarks foi posterior e ocorre através de uma outra teoria, a qual
foi desenvolvida a partir das limitações da teoria de Yukawa. Acrescentamos que o
méson π foi descrito, mais tarde, na teoria dos quarks, portanto se relacionavam.
Entretanto, destacamos que o foco dos nossos encontros era a primeira versão de
uma teoria da interação forte, proposta por Yukawa, e que por esse motivo não
abordaríamos nesse encontro os quarks.
O aluno 5 afirmou (2:05 até 3:48) que ele sabia que o fóton era mediador da
interação eletromagnética, porém, em relação ao méson π, ele queria saber se essa
partícula era a mediadora da interação ou se essa partícula produzia o mediador da
interação forte. Esse aluno iniciou a pergunta utilizando as expressões partícula
moderadora no lugar de partícula mediadora e partícula atuante no lugar de partícula.
Com a ajuda do aluno 2, ele corrigiu as expressões e chegou à versão final da
pergunta, citada anteriormente. A aluna 21, com a ajuda da aluna 15, queria saber o
que era o píon e qual sua função no núcleo atômico.
O aluno 1 (5:16 até 8:33) fez algumas perguntas, a saber:
“O méson π é mediador da interação entre prótons e nêutrons e entre dois
nêutrons? As intensidades dessas interações são iguais? Como ocorria o decaimento
do píon no múon? Como ocorreu o aumento da potência dos aceleradores de
partículas e como eles funcionam?”.
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Expliquei para ele que o decaimento do píon no múon era descrito por outra
interação, a qual não seria tratada naquele encontro, mas que essa pergunta era muito
interessante. As demais seriam anotadas no quadro, pois estavam mais relacionadas
com o estudo da interação forte. Nesse encontro não foi possível responder à pergunta
dele sobre os aceleradores, então recomendei um material extra para leitura e
expliquei que, parte do funcionamento dos aceleradores, seria explicada nas aulas de
eletromagnetismo.
Ao tempo que ajudávamos o aluno 1 a elaborar suas perguntas, a aluna 15 (5:47
até 6:02) justificou a pergunta do aluno 1 explicando que o texto deixa transparecer que
píon é exclusivo dos prótons e não dos nêutrons. Perguntamos se eles observaram a
palavra núcleon e eles responderam que sim. Na sequência, explicamos que essa
palavra se refere aos prótons e aos nêutrons. A aluna 15 imediatamente percebeu e
disse: “Então não são exclusivos.” Consideramos, com isso, como respondida uma das
perguntas do aluno 1. Baseado nas novas perguntas que a aluna 15 fez, pareceu-nos,
inicialmente, que o texto que ela cita na sua fala é o artigo Lattes: Nosso Herói da Era
Nuclear. Em seguida, confirmamos nossa hipótese.
A aluna 15 (9:07 até 10:00) deu sequência às perguntas do grupo: “[...] o que é
a relação alcance-energia? [...] O que é a interação forte? Porque é mencionado, mas
eu não sei o que é [...] como os mésons π são freados?”.
Decidimos responder à última pergunta, imediatamente. Explicamos que as
emulsões vinham embaladas com papel e que os mésons eram freados, ao atravessar
esse papel, porque interagiam com ele. Reforçamos que o méson interage com tudo
que é matéria (constituída de prótons e nêutrons) e relembramos que o múon era
encontrado em pontos abaixo da superfície da Terra porque não interage com a
matéria, ele não sofre interação forte. Imediatamente, a aluna 15 disse (10:47 até
10:51): “Você já respondeu o que é interação forte”.
A última pergunta foi da aluna 18 (14:55 até 15:03), que queria saber para que
serve a emulsão e como ela é constituída. Nesse instante, o aluno 1 (15:08 até 15:30)
comentou que o vídeo, que havíamos sugerido que eles assistissem, respondia às
perguntas da colega. Concordamos com ele, afirmando que, pelo visto, o pessoal não
havia assistido. O vídeo sugerido foi Cientistas Brasileiros: César Lattes e Leite Lopes,
com duração de 55 minutos, produzido pelo Núcleo de Pesquisa de Ciências,
publicado em 29 de outubro de 2012 e utilizamos um trecho dele na aula anterior. Os
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aprendizes explicaram que não haviam assistido porque o vídeo era muito extenso.
Aceitamos a explicação. Contudo, gastamos em torno de cinco minutos contando
detalhes do vídeo para incentivá-los a assisti-lo depois.
Conforme nosso planejamento, encerrada a seção de dúvidas dos aprendizes,
iniciamos a apresentação do trecho do vídeo 4 (2:28 até 3:00). Imediatamente, após
a exibição do vídeo, a aluna 15 (20:20 até20:30) perguntou: “O que são essas
coisinhas?”. O aluno 5 disse: “Partículas”. Perguntamos: “Que coisinhas?”. Ela
respondeu: “As coisas brancas”. Explicamos que as coisas em branco eram as
partículas mediadoras. A aluna 15 afirmou (20:30 até 20:38): “Que é o méson π e o
méson míon”. Sinalizamos para ela aguardar e, por ora, não comentamos nada.
Percebemos que ela havia feito a analogia do vídeo diretamente com a história do
méson. Contudo, era necessário mobilizar a turma inteira, por isso solicitamos que ela
aguardasse.
Dirigimo-nos ao grupo, em seguida, e perguntamos: Nessa interação, houve
atração ou repulsão? Eles responderam: “Repulsão”. Nós chamamos a atenção deles
para o fato de que as partículas inicialmente se aproximam, mas, em seguida, se
afastam. Então, afirmamos: isso aí é uma interação de repulsão. A fim de fazer uma
analogia, afirmamos que o vídeo mostrava uma interação entre cargas elétricas.
Imediatamente, perguntamos ao grupo: Cargas de mesmo sinal ou sinais contrários?
Eles responderam: “De mesmo sinal”. Afirmamos, em seguida, que as coisas brancas
seriam os fótons, que são as partículas mediadoras da interação eletromagnética.
Continuamos: Vamos supor que sejam elétrons, então, quando eles se aproximam,
eles trocam fótons?
Outra vez nos dirigimos ao grupo e perguntamos: “O que é fóton para a interação
eletromagnética?” O aluno 1 (21:29 até 21:33) afirmou: “Partícula mediadora”.
Imediatamente, perguntamos: “O que é esse mediador? Você já formou alguma
ideia?”. Ele respondeu: “É o que faz eles se ligarem ou não com a outra partícula”. O
aluno 5 afirmou (21:43 até 21:56): “O mediador seria a ponte entre as duas partículas”.
A palavra ponte dá ideia de ligação, a qual remete à atração. Pareceu-nos que ele
utilizou com o sentido de intercâmbio. Contudo, para não deixar essa ideia,
explicamos que essa ponte pode unir as partículas formando um sistema ligado ou
não. Perguntamos, em seguida: “O sistema mostrado no vídeo é ligado?”. Eles
responderam que “não”.
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Continuando, esclarecemos para o grupo que a interação mostrada no vídeo não
era a interação forte e sim uma interação entre cargas elétricas de mesmo sinal. Outra
vez mobilizamos o grupo, perguntando: Quando duas coisas interagem, o que é que
elas trocam mesmo? A aluna 15 respondeu, perguntando (22:26 até 22:28):
“Energia?”. Fizemos sinal positivo e continuamos: Então, o que é que os mediadores
transportam? Dois alunos responderam juntos: “Energia”. Em seguida, explicamos:
Vocês sabem que essa energia trocada pode fazer o sistema ficar ligado, quando a
energia total é negativa. Assim, perguntamos ao grupo: “Um sistema ligado dá a ideia
de uma interação que junta ou que separa?”. Eles responderam: “Junta”. Reforçamos,
afirmando que essa interação é do tipo atração.
Na sequência, a aluna 18 (23:51até 24:09) perguntou: “Eles só se aproximaram
e saíram, elas não se chocaram?”. Respondemos que as partículas não se chocam
porque se repelem. Ela fez outra afirmação: “Eu não vi elas trocarem nada”.
Repetimos o vídeo para ela. A reação dela foi (24:33 até 24:43): “Que legal, tá bom!”
Nesse momento, começamos a explicar para o grupo que as partículas estão
continuamente emitindo e absorvendo fótons. Quando essa partícula emite um fóton
e existe outra partícula vizinha, dentro do alcance da interação, esse fóton é absorvido.
Isso pode ocorrer entre prótons e/ou entre elétrons. Esse processo ocorre na interação
eletromagnética, que não é nosso foco no momento. Contudo, a forma como essa
interação acontece é semelhante à interação forte.
Nesse instante, a aluna 15 (25:51 até 25:52) nos perguntou: “Nêutrons também
podem emitir fótons?”. Respondemos que a troca de fótons acontece na interação
eletromagnética que ocorre apenas com partículas carregadas. A interação forte é a
troca de mésons π, elétron não entra na interação forte. Dirigimo-nos à aluna 15 e
perguntamos: Certo? Provocamos para ela fazer mais perguntas, entretanto, ela
sinalizou positivamente, como quem havia entendido. Então, nos dirigimos,
novamente, ao grupo: Pessoal, mostramos como a interação acontece, vocês
entenderam o papel do mediador? Sinalizaram que sim. Reforçamos que o mediador
é a partícula que transporta energia.
O aluno 5 (26:38 até 26:58), nesse momento, perguntou: “É uma dúvida que me
veio à cabeça e pode existir também na questão do píon. É sobre, no caso do elétron
ou do próton, a gente tá jogando para fora energia. Correto? Mas se o fóton é energia,
de onde vem essa energia?”. Exclamamos de alegria: Graças a Deus! Estávamos
100
esperando essa pergunta. Mas desejamos que você a faça com relação à nossa
interação. Ele disse (27:08 até 27:10): “É, foi por isso que falei sobre!”. Entendemos
que ele fez a pergunta usando a interação eletromagnética para que nós fizéssemos
a relação com a interação forte. Então, nos dirigimos ao grupo e falamos: “Estamos
tratando da interação forte que tem como mediador o méson π. Esse mediador é o
cara que transporta energia entre o que está interagindo. Mas faltava essa pergunta:
de onde vem essa energia?”.
Foi quando o aluno 1 disse (27:40 até 28:22): “Não pode ser das próprias
partículas? [...] toda partícula tem energia, certo? Nesse caso da ligação, uma
hipótese é que a energia venha da própria partícula não da mediadora [...] venha das
partículas que irão interagir”. Perguntamos: “Como?”. O aluno 1 respondeu que era a
partir do méson π. Esclarecemos para ele, em seguida, que a interação ocorre através
do méson π. Entretanto, segundo a hipótese dele, desejávamos saber como a energia
vem das partículas que vão interagir. O aluno nos respondeu: “Aí já é complicado!”. A
aluna 15 disse (29:01 até 29:04): “Os corpos já não têm energia?”. Perguntamos:
“Armazenada onde?”. E ela: “Sei lá! Rolou o Big Bang, aí já tinha energia”. Na
sequência, afirmamos que havíamos chegado no foco do assunto: descobrir de onde
vem essa energia.
Permitimos a discussão acima com o objetivo de verificar se os aprendizes
possuíam alguma informação sobre a relação massa-energia. Nas falas, percebemos
uma noção intuitiva de que a energia estava armazenada nas partículas, contudo, eles
não sabiam como. Então, avaliamos que a relação massa-energia era um novo conteúdo
para eles. Escrevemos no quadro a equação E=m.c2 e perguntamos se eles a
conheciam. Alguns responderam que sim. Então, explicamos que eles aprenderiam nos
próximos instantes o significado daquela equação.
A partir desse instante, fizemos uma revisão dos conceitos de sistema ligado,
interação forte e partícula mediadora. Iniciamos perguntando para o grupo se o núcleo
era um sistema ligado e eles responderam que sim. Fizemos outra pergunta: “Como
vimos anteriormente, a energia total do núcleo é positiva ou negativa?”. A aluna 15
respondeu, mais alto que todos: “Negativa”. A fim de reforçar, afirmamos que devido
à energia total negativa, o núcleo era classificado como um sistema ligado, portanto
os corpos que estavam interagindo sofriam atração, semelhante ao sistema
gravitacional que estudamos anteriormente.
101
Afirmamos, em seguida, que essa interação de atração presente no núcleo é a
interação forte. Portanto, o núcleo é um sistema ligado formado por prótons e
nêutrons. Consequentemente, a interação forte acontece entre dois prótons, dois
nêutrons e entre um próton e um nêutron. Por esse motivo (serem sensíveis à
interação forte, independentemente da carga elétrica), prótons e nêutrons foram
chamados de núcleons.
Dando continuidade à revisão, perguntamos ao grupo: “Como acontece a
interação forte? Lembrem do vídeo no início da aula. Então, essa interação ocorre
através de quê?”. Alguns alunos responderam juntos (33:05 até 33:11),
respectivamente, aluna 15, aluno 10 e aluno 1: “Fóton, energia, partícula mediadora”.
Reforçamos a resposta do aluno 1, afirmando que a interação ocorre através da troca
de partículas mediadoras. Logo depois, explicamos que o fóton era o mediador da
interação eletromagnética e que, na interação forte, o mecanismo era semelhante. Na
utilização de partícula mediadora, entretanto, o mediador era píon. Nesse momento,
a aluna 15, nos interrompendo, disse (33:45 até 33:50): “Então o píon, em analogia à
interação eletromagnética, seria o fóton”.
Após a fala da aluna, fizemos um resumo do que foi discutido até ali.
Começamos dizendo: “Pessoal, essas retomadas são importantes porque arrumam a
casa. Agora sabemos que o píon é o mediador da interação forte e que essa interação
ocorre entre dois prótons, dois nêutrons ou entre um próton e um nêutron. Uma
interação é uma troca de energia, então o mediador é a partícula que transporta a
energia dessa interação. Resta-nos agora saber de onde vem essa energia. Ainda
resta essa pergunta: de onde vem essa energia? Nosso foco agora é esse. Vocês
devem lembrar do primeiro encontro, quando falamos de energia de ligação. O
segredo está aí, na energia de ligação. Entretanto, para entender o conceito de
energia de ligação vocês precisavam saber o que é um sistema ligado, senão o nome
energia de ligação não teria sentido para vocês. Agora faz sentido”.
Numa tentativa de responder à pergunta citada no parágrafo anterior, a aluna 15
disse (36:27 até 36:35): “[...] mas se o píon tem carga [...] tem pelo menos sinal, tem
carga, tem energia”. Percebemos, no discurso da aluna, que ela estava confundindo
carga elétrica com a energia que estava em pauta, que não era a energia
eletromagnética. Para confirmar nossa hipótese afirmamos que não podemos confundir
carga com energia, carga é uma coisa e energia é outra. Imediatamente ela retrucou: “O
102
quê? Diferencie então”. Assim, falamos que o nêutron não possui carga elétrica e interage
fortemente. Logo, ele não tem carga elétrica, mas troca energia. Nossa intenção era que
ela percebesse que a energia que estávamos tratando naquele momento não se
relacionava com a carga elétrica. A aluna, então, disse: “Eu acho que uma coisa depende
da outra e outra independe da outra”.
A aluna não nos fez mais nenhuma pergunta adicional. Não podemos, todavia,
afirmar que ela percebeu que a energia que estávamos estudando não dependia da
carga elétrica. Começamos, então, a responder, junto com o grupo, os exercícios
contidos no material didático (CAPÍTULO 3 DO PRODUTO EDUCACIONAL). Para
respondermos tudo, gastamos aproximadamente 33 minutos (39:00 até 1:11:01).
Cabe ressaltar que o tempo não foi gasto apenas na resolução dos exercícios que
possuíam cálculos simples e que decidimos efetuá-los apenas para ilustrar os
conceitos discutidos. Utilizamos a maior parte do tempo para fazer uma revisão
buscando relacionar os conceitos estudados com base na história da física.
Num primeiro momento, após o aluno 2 fazer uma pergunta sobre decaimento
beta do trítio, reforçamos para o grupo que a história que estávamos estudando estava
relacionada com a explicação da estabilidade do núcleo e que não trataríamos do
decaimento beta naquele momento, visto que esse processo está relacionado a
núcleos instáveis. Aproveitando o momento, iniciamos a revisão. Destacamos que
nenhuma das interações conhecidas (gravitacional e eletromagnética, por exemplo)
explicavam a coesão do núcleo. Por esse motivo, Yukawa propôs a interação nuclear
forte como uma tentativa de fornecer uma explicação para a estabilidade nuclear.
Perguntamos ao grupo: “Como as interações devem possuir um mediador, qual é o
mediador da interação forte?”. Eles responderam que o mediador era o méson π.
Dando continuidade, fizemos outra pergunta para eles: “Como é que se prova
que esse modelo de interação é válido?”. O aluno 2 respondeu: “Achando o méson”.
Após essa resposta, destacamos: “Aí está a importância do trabalho de Lattes. O
mundo inteiro procurava o méson. Alguns cientistas se esforçaram para identificar o
mésotron (hoje múon) como a partícula de Yukawa. Passaram dez anos tentando, até
os italianos provarem experimentalmente que isso não era possível. Meses depois, é
Lattes quem detecta o méson π”. Outra vez, perguntamos ao grupo: “Detectar o
méson π foi importante por quais motivos? Citem dois”. O Aluno 1 citou um motivo:
”Para confirmar a tese de Yukawa” e parou.
103
Provocamos: “Recordem que foram duas detecções que nós discutimos aqui”.
Não adiantou. Então, revisamos: “lembrem que o méson π interage com a matéria
(prótons e nêutrons), a primeira detecção foi do méson oriundo dos raios cósmicos,
que possuem origem extraterrestre. A segunda detecção foi no acelerador de
partículas, em um experimento controlado, mostrando de fato que esse méson está
vinculado à matéria, descartando a possibilidade de origem extraterrestre e validando
o acelerador de partículas como uma máquina adequada para a investigação da
matéria. Isso impulsionou o investimento na construção de aceleradores cada vez
mais potentes”.
Ao fim de nossa fala, alguns alunos perguntaram se haveriam aulas extras para
estudarmos outros assuntos. Por exemplo, a aluna 18 solicitou aula sobre interação
fraca e completou (58:07 até 58:54): “Tá sendo legal!”. A aluna 21, por sua vez,
declarou (59:00 até 1:00:06):
“[...] é sério! É realmente importante, porque eu estou entendendo Física. Eu
estou achando Física interessante e eu detesto Física [...] a gente começa a entender
como a Física atua no nosso dia-a-dia. A gente começa a entender como se fosse a
aplicabilidade de Física. Eu raciocino Física como um monte de cálculo chato, que eu
não tenho saco de fazer em minha vida. Eu assistindo a aula aqui entendi muita coisa
que nunca tinha entendido antes e que me ajudou pra caramba na escola, realmente”.
Após o depoimento da aluna 21, efetuamos o cálculo do equivalente em energia
e transformamos a unidade de medida de Joule para Mev. Em seguida, dividimos essa
energia por dois, que corresponde à quantidade de núcleons do deutério, e
comparamos com gráfico da energia de ligação por núcleon (E/A) apresentado no
primeiro encontro. A reação deles foi de empolgação, demonstrando interesse pelo
assunto. Perguntamos: “Vocês perceberam de onde vem a energia de ligação?”. O
aluno 1 respondeu: “Da massa”. Reforçamos que, quando prótons e nêutrons se
juntam para formar um núcleo, parte da massa deles é convertida em energia para
mantê-los unidos. Em seguida, perguntamos: “Conseguiram entender o que é a
energia de ligação?”. Eles responderam que sim. Para reforçar, afirmamos que a
energia de ligação era a energia necessária para manter os núcleons unidos.
Dando continuidade, perguntamos ao grupo: “Como esses núcleons trocam essa
energia entre si? É através de quê?”. A aluna 15 afirmou que era através dos píons.
Prosseguimos, explicando para o grupo que essa energia trocada entre os núcleons
104
era quantizada, particulada, e que eram necessários muitos píons para dar conta
dessa energia. Nesse instante, iniciamos a outra parte da revisão dizendo: “Então, os
cientistas tiveram a ideia de que se esse píons existem na matéria, mantendo prótons
e nêutrons ligados, quando os núcleos são quebrados eles são liberados e logo podem
ser detectados. Porém, os píons brincavam com os cientistas. A brincadeira dos píons
era se transformar em múons, que não interagiam fortemente com a matéria e, por
isso, desciam como flechas até a superfície da Terra, onde eram detectados”.
Após a breve revisão acima, iniciamos a explicação sobre o alcance da interação
forte. Nosso objetivo era que os aprendizes entendessem o motivo pelo qual uma
interação tão intensa possui um alcance tão curto. Iniciamos a explicação dizendo:
“Considerem que um próton emite um píon, se não aparecer outro próton por perto
para interagir com ele, esse píon volta. Então, o próton fica o tempo todo emitindo e
absorvendo píons; o mecanismo é esse. Para ocorrer a troca de píons, é necessário
que outro próton, por exemplo, passe próximo, dentro do raio de ação da interação.
Recordem da analogia do abraço. Para abraçarmos uma pessoa ela deve estar dentro
do alcance dos nossos braços, caso contrário o abraço não acontece”. O aluno 2
exclamou: “Ahhhh!”. Continuamos a explicação, afirmando que o alcance da interação
forte possuía um alcance e que esse era muito curto, praticamente correspondia ao
diâmetro de um outro próton.
Nesse momento, a fim de reforçar a ideia do alcance curto e mobilizar o grupo,
escrevemos no quadro branco P-P-P e perguntamos para o grupo: “O próton da esquerda
vai interagir fortemente com o próton do outro extremo?”. Responderam juntos que não.
Nós reforçamos que o próton do extremo praticamente não sentia a interação com o
próton da outra extremidade, que, para trocar píons, os núcleons deveriam se aproximar
muito e que, quando a troca acontece, um tipo de núcleon pode virar outro.
Imediatamente, uma aluna exclamou baixo: “Aí meu Deus!”. Nosso objetivo, com a
afirmação anterior, foi criar um clima de suspense e expectativa no grupo.
A lâmina (Figura 31) mostra o momento antes da troca e depois da troca de um
píon entre dois núcleons; não demos ênfase a esse detalhe. Projetamos essa lâmina
no quadro e pedimos que os aprendizes observassem atentamente a nossa
explicação, então começamos: “Percebam, que após o núcleon da esquerda emitir o
méson π, passa a existir no sistema mais massa ou mais energia do que antes da
emissão. Antes da emissão, havia apenas os dois núcleons e, após a emissão, havia
105
os núcleons e o píon. Dessa maneira, esse processo representa uma violação da Lei
da Conservação da Energia, o que nunca aconteceu na Física”.
Figura 31 – Lâmina que ilustra a troca de mésons π
Fonte: EISBERG E RESNICK. Física Quântica. [S.I.]: Ed. Campus, [20--?].
A violação citada anteriormente, contudo, não acontece porque o tempo que
decorre entre a emissão e a absorção é muito curto, o méson π não fica muito
tempo sem ser absorvido. Após a emissão, rapidamente ele é absorvido. Logo, a
interação forte tem que possuir alcance curto. Esse processo obedece ao
princípio da incerteza energia-tempo que não abordaremos aqui. Entretanto, o
que ele nos diz é que, quanto mais energia a partícula porta, menos tempo de
vida ela deve ter, para não violar a Conservação da Energia. O méson é uma
partícula massiva, portadora de muita energia, então o tempo de existência dele
deveria ser bem curto.
A aluna 18, assim que terminamos a explicação acima, levantou o dedo e
declarou que não havia entendido o que era energia quantizada. Perguntamos
para ela quem estava portando a energia que os núcleons trocavam e ela
respondeu que era o méson. Nós perguntamos, novamente: “E o mesón é o
que?”. Ela nos respondeu que o méson era energia, massa. Fizemos outra
pergunta: “O méson é uma partícula?”. A aluna respondeu que sim.
106
Prosseguimos, explicando que se o méson era o portador da energia e era uma
partícula, essa energia estava toda granulada em mésons. Logo, o méson era a
menor quantidade de energia, o quantum de energia.
Imediatamente, a aluna 18 disse: “Não entendi o que é quantum”.
Explicamos para ela que quantum significava a menor quantidade de alguma
coisa. “Você já estudou eletrostática. O elétron é o quantum da carga elétrica.
Não existe carga elétrica menor do que a carga do elétron. Por exemplo, uma
carga de 5 C, que é uma carga enorme, é múltipla da carga do elétron. Não existe,
na eletrostática, carga menor que a carga do elétron, a carga é quantizada” . A
aluna, nesse momento, disse: “Entendi”. Perguntamos (1:16:45 até 1:17:01):
“Entendeu?”. Ela nos respondeu que sim. Com o objetivo de reforçar, afirmamos
que o méson mi era o quantum de energia, um pacotinho de energia. Então a
energia não é contínua, mas sim granulada, quantizada.
Em seguida, a aluna 15 nos perguntou (1:17:03 até 1:17:12): “Por que o
núcleon fica absorvendo e mandando para fora o méson π?”. Respondemos para
a aluna que era um modelo de interação. Uma vez que a interação ocorre através
da troca de partículas, quem vai interagir deve ficar emitindo e absorvendo
partículas o tempo todo. Se não aparecer ninguém para interagir, ele fica o tempo
todo assim, manda e volta, afinal a energia dele é constante. A aluna nos
perguntou se havia algum gatilho para a emissão de partículas, explicamos que
não, que era da natureza das partículas.
No vídeo 4, exibido no início da aula, o que aparece interagindo não são
bolinhas. Aqui, quando falamos do nêutron, ele não é bolinha, ele é considerado
um aglomerado de partículas (energia). Ela disse: “Tá”. E, em seguida, fez outra
pergunta: “Existe gasto de energia para rolar essa absorção?”. Esclarecemos
para a aluna que os núcleons que interagem trocam píons, liberam e absorvem,
quando emite, perde energia, e quando absorve, ganha energia; dessa maneira,
ocorre uma compensação. Ela disse: “Tá, tá, acho que entendi!”.
O aluno 2 nos perguntou como era possível existir núcleos com mais de dois
núcleons, considerando que os núcleons ligados não emitem mais píons.
Percebemos que, para esse aluno, a ideia do núcleon como um aglomerado de
partícula estava obscura. Pareceu-nos que ele havia entendido que troca de píons
ocorria apenas em uma direção, então o núcleon não interagiria com outros que
107
se aproximassem por outras direções. Com essa hipótese em mente, explicamos
para ele que, quando dois núcleons estão ligados e outro núcleon se aproxima,
pelo outro lado, a troca de píons também acontece. Ele, então, reagiu
positivamente dizendo (1:18:55 até 1:19:56): “Ah, ele mete as caras! Saquei!”.
Após esclarecermos a dúvida do aluno 2, falamos para o grupo que o que
explicaríamos a seguir, talvez, provocasse uma mudança na ideia que eles
possuíam sobre o núcleo do átomo. Eles fizeram silêncio. Projetamos as lâminas
abaixo (FIGURAS 32, 33, 34) no quadro e começamos a explicar os tipos de píons
(positivo, negativo e sem carga) necessários para dar conta das interações entre
os núcleons. Durante a explicação, nós reforçávamos a ideia de emissão e
absorção de partículas. A seguir, apresentamos as imagens com a sequência de
lâminas que utilizamos em nossa sequência didática:
Figura 32 – Lâmina que ilustra a troca de méson negativo
Fonte: EISBERG E RESNICK. Física Quântica. [S.I.]: Ed. Campus, [20--?].
108
Figura 33 – Lâmina que ilustra a troca do méson positivo
Fonte: EISBERG E RESNICK. Física Quântica. [S.I.]: Ed. Campus, [20--?].
Figura 34 – Lâmina que ilustra a troca do méson neutro
Fonte: EISBERG E RESNICK. Física Quântica. [S.I.]: Ed. Campus, [20--?].
Perguntamos ao grupo se eles recordavam de impulso e momento linear, eles
sinalizaram que sim. Seguimos, explicando que o impulso resultante era igual à
variação da quantidade de movimento (momento), então, quando o momento varia,
isso simula o impulso de uma força. Se pensarmos em uma bola de futebol, o
109
momento é igual ao produto massa X velocidade, todavia, o momento de partícula não
é calculado dessa maneira. Mas a partícula tem energia e momento.
A porta da sala está aberta. Se a bola bate na porta, ela pode fechar? Eles
responderam que sim. Em seguida, explicamos ao grupo que, durante o choque da
bola com a porta, ocorreu transferência de energia (pois a porta se moveu) e de
momento e que afirmar que houve transferência de momento era semelhante.
Imediatamente, o aluno 1 disse: “Transmitiu a força”. Sinalizamos positivamente para
ele e continuamos explicando que, quando ocorre a troca de mésons, ocorre a troca
de energia e de momento. A transferência de momento é que simula a força que
mantém os núcleons unidos. O nêutron não tem carga elétrica líquida, mas o próton
possui carga elétrica, os mésons carregados existem para dar conta da conservação
da carga elétrica.
Em nosso planejamento, havia previsão de efetuarmos a leitura do texto contido
no material didático de título Quarto encontro (CAPÍTULO 4 DO PRODUTO
EDUCACIONAL) e discutimos as questões/problematizações dele. Entretanto, devido
às mudanças de planejamento que ocorreram durante a aplicação da sequência de
ensino, nós resolvemos utilizar o material como tarefa de casa. Entretanto, cabe
ressaltar que as discussões que ocorreram nessa aula abordaram todo o conteúdo do
material citado.
Dessa forma, nossa atividade ocorreu em cinco encontros, nos quais pudemos
discutir, de forma mais específica, os conceitos de interação forte e partícula
mediadora. Destacamos que, a nosso ver, os encontros foram produtivos e, a
considerar as respostas que recebemos dos alunos, observamos que houve indício
de aprendizagem desses conceitos.
110
5 DISCUTINDO AS RESPOSTAS DOS APRENDIZES NA AVALIAÇÃO
FINAL DA SEQUÊNCIA DIDÁTICA
A avaliação final da unidade de ensino foi realizada uma semana após o último
encontro com o grupo, no dia 18 de maio de 2017, e teve duração de cem minutos.
Selecionamos seis questões (2, 4, 8, 9, 11 e 12) dessa atividade para avaliarmos o
nível de entendimento dos aprendizes em relação aos conceitos interação forte e
partícula mediadora. Para cada questão selecionada, sugerimos uma resposta que
aparece com o nome de resposta esperada, em seguida transcrevemos as respostas
dos aprendizes. Abaixo dessas respostas, fizemos, quando necessário, comentários
sobre a resposta do aprendiz. No final do conjunto de respostas, inserimos o
comentário final que é a nossa impressão sobre o nível de entendimento apresentado
pela turma, considerando o conjunto das respostas.
Questão 2: Na questão anterior, você identificou o méson π como partícula
mediadora de uma interação. Explique o que significa para você as expressões
partícula mediadora e interação.
Resposta esperada: A interação entre duas partículas é uma troca de energia (e
momento) que ocorre mediante troca de partículas mediadoras. Essas partículas são
pacotes de energia que determinam a intensidade e o alcance de uma interação.
Quanto maior a quantidade de energia (massa) dessa mediadora, menor é o alcance
da interação.
Respostas dos aprendizes:
Aluno 1: “Partícula mediadora seria o que faz as partículas se ligarem, no caso
do méson, seria a partícula a qual faz se tornar possível a interação forte entre os
nucleons10. Interação seria, nesse caso, o contato se ligar, poderia ser o sinônimo
para tal palavra”.
Comentário: No questionário inicial, esse aluno afirmou que interação significava
para ele o contato, a forma como as partículas se envolvem. O conceito de interação
ainda está associado a contato e ligação como no primeiro encontro. Não mostrou
10 Destacamos que, conforme o material aplicado em sala, o qual trazia a escrita de núcleon, em inglês nucleon, os discentes escreveram obedecendo a essa escrita.
111
evolução com relação ao conceito de partícula mediadora, limitando-se a explicar que
o mediador propicia a interação. Explicação essa que foi dada no primeiro vídeo e no
primeiro texto dessa unidade de ensino.
Aluno 2: “Partícula mediadora é aquela partícula que tem o trabalho de realizar
a detecção de outra partícula e realizar a interação. Interação é uma força, em suma,
ocorrida entre dois corpos. Na realidade, eu sei que é um conjunto de fatores, mas eu
só consigo ver a força”.
Comentário: O Aluno 2 deixou em branco a questão sobre interação no
questionário inicial. A partícula mediadora não detecta outra para interagir. Ela é
intercambiada quando a interação ocorre. Ele não compreendeu que a troca de
energia/momento é que simula o efeito de atração (força), visto que, no sentido
newtoniano, toque não existe entre partículas.
Aluno 5: “Interação é a expressão usada para descrever um fenômeno de
influência, de ligação, seria o estado das entidades em análise. Na Física, duas
partículas interagem por intermédio de uma terceira, a partícula mediadora”.
Comentário: No questionário inicial, esse afirmou que interação significava
interferência, existência, de algo (partícula) a outro algo (outra partícula). Para esse
aluno, coisas que interagem são coisas que existem, o que não está errado.
Entretanto, essa ideia não corresponde ao conceito de interação na Física. A partícula
mediadora, para ele, é a mediadora da interação, o que não indica mudança do
conceito inicial fornecido nos textos de apoio.
Aluna 6: “Partícula mediadora carrega o significado de ser um intermédio, um
facilitador para que as interações aconteçam. E as interações trazem o sentido de
relação entre duas partículas, sendo essa interação algo que as mantém conectadas”.
Comentário: semelhante aos alunos 1 e 5, essa aluna mostra que entendeu o
papel exercido pela partícula mediadora na interação, mas não mostrou evidência de
ter compreendido para além disso. No questionário inicial, afirmou que interação era
a relação que existe entre dois corpos, podendo haver alguma mudança na sua forma
ou composição. Julgamos essa noção intuitiva muito interessante, pois a interação
forte pode permutar o estado dos núcleons. Entretanto, na resposta acima, ela
associou interação apenas a ligação/conexão. Esperávamos mais.
112
Aluna 9: “Partícula mediadora pode ser compreendida pela partícula responsável
de ser o elo, ponte, entre duas outras partículas que não conseguem estar em contato,
interagindo, espontaneamente, ou seja, sem a presença de algo que as una”.
Comentário: Essa aluna não escreveu diretamente sobre interação. Como os colegas
anteriores, ela compreendeu o papel da partícula mediadora. Sua resposta indica uma
compreensão da ideia de interação sem haver contato. No questionário inicial, ela afirmou
que interação é o que acontece durante o contato de substâncias, partículas e corpos. Isso
mostra um indício de mudança do conceito de interação, uma ampliação desse conceito,
ou seja, um indício da aprendizagem do conceito de interação.
Aluno 10: “Partícula mediadora é uma partícula que participa de interações,
mediando a troca de energia entre os átomos, resumindo como uma ponte. Interação
é uma troca de energia entre átomos, podendo ser de interação, de atração ou
repulsão”.
Comentário: No questionário inicial, esse aluno afirmou que interação é a ação
positiva ou negativa entre corpos. Agora, ele associou interação à troca de energia
que pode resultar em atração ou repulsão. E mostrou que compreendeu o papel da
partícula mediadora como portadora da energia intercambiada na interação. Nesse
caso, podemos afirmar que há indício de aprendizagem do conceito de interação.
Aluno 11: “Sendo o méson π uma partícula mediadora, ela media. Isso significa
que ela faz um intermédio entre as relações ocorridas no nucleons”.
Comentário: Esse aluno, no questionário inicial, deixou em branco a pergunta
sobre interação. Em sua resposta, percebemos uma tradução do significado da
palavra mediar relações. Não há indicativo em sua resposta de que relação possa ter
o sentido de interação, no sentido físico, como troca de energia. Ele não associa
relação como troca de partículas mediadora. Não podemos, portanto, afirmar que há
indício de aprendizagem do conceito de interação. Contudo, é importante destacar
que a questão, mesmo não sendo respondida de acordo com o discutido em sala de
aula, não ficou sem resposta.
Aluno 12: “O méson π, como partícula mediadora, permite a interação entre os
nucleons por meio da troca de energia, que é a emissão e captação do méson”.
Comentário: No questionário inicial, esse aluno afirmou que interação significava
uma ação que resulta em uma reação com os núcleos. Na resposta acima, ele indica
113
que entendeu a interação como troca de energia e que essa energia é transportada
pelo méson π. Então, o conceito de interação desse aluno sofreu ampliação, para
além da ação e reação. Nesse caso, podemos afirmar que existe indício de
aprendizagem do conceito de interação e partícula mediadora.
Aluna 13: “Partícula mediadora é uma partícula com o valor de massa entre o
valor de um próton e de um elétron e a qual é uma energia liberada pelos nucleons, e
que atua na interação dos mesmos. Interação é a ligação entre corpos, a junção
desses, visando à estabilidade (nesse caso, os corpos são os nucleons)”.
Comentário: A resposta da aluna indica o entendimento de interação como troca
de energia através de partículas mediadoras e que essas são pacotes de energia
trocados. No questionário inicial, a aluna afirmou que interação é o poder e a força de
partículas/corpos se juntarem e agirem umas nas outras. Na resposta acima, ela
descreve como o poder e força de se juntarem são exercidos entre as partículas. Isso
pode ser entendido como ampliação/mudança do conceito de interação, indicando um
indício de aprendizagem do conceito de interação e de partícula mediadora. Tudo se
passa como se, para essa aluna, interação sempre seja de atração. Talvez isso tenha
explicação no fato da interação abordada nessa unidade de ensino ser de atração,
dentro dos limites da teoria de Yukawa.
Aluna 14: “Esse conhecimento/explicação eu não consigo formar e passar para
o papel”.
Aluna15: “O píon está para a interação forte assim como fóton está para a
interação eletromagnética. Ou seja, é o transporte de energia quantizada (mediador).
Interação, no conceito físico, é qualquer reação (atração ou repulsão) consequente de
energia”.
Comentário: Essa aluna afirmou no questionário inicial que interação é quando algo
exerce influência sobre outro algo. Na resposta acima, a aluna mostra que compreendeu
partícula mediadora como um pacote de energia e associa interação a energia, embora
ela não cite explicitamente a troca de mediadores entre núcleons. Podemos afirmar que
houve mudança no conceito de interação, logo, há indício de aprendizagem.
Aluna 18: “Partícula mediadora, como o próprio nome infere, é uma partícula
capaz de mediar, fazer uma ponte entre os nucleons, possibilitando a interação,
compartilhamento de energia a fim de garantir a estabilidade”.
114
Comentário: A aluna afirma que interação é compartilhamento de energia, mas
não explicita que isso ocorre através da troca de mediadores, embora indique em sua
resposta que entendeu mediador como portador de energia. No questionário inicial, a
aluna afirmou que interação é uma forma de contato com reação, contudo, como as
coisas realmente não se tocam, ocorre apenas a interação. Essa resposta é confusa,
nada afirma sobre o que é interação, entretanto, indica que, para haver interação, não
é necessário o contato. Podemos dizer que conceito intuitivo de interação dessa aluna
foi ampliado, indicando um indício de aprendizagem.
Aluna 19: “Partícula mediadora, é aquela que media uma interação, trocando
energia e mantendo, no caso do méson, o núcleo atômico estável. Interação é quando
dois corpos, interagem trocando energia, como os nucleons, por exemplo”.
Comentário: Essa aluna, no questionário inicial, afirmou que interação significa
relacionar-se, nesse caso representa a relação entre partículas, o modo como elas
agem entre si no núcleo. A resposta acima indica que a aluna entendeu a interação
como uma troca de energia entre as partículas do núcleo e a função da partícula
mediadora. Ela não afirmou de forma direta que a troca de energia acontece através
das partículas mediadoras. Percebemos, contudo, uma evolução no conceito de
interação que constitui um indício de aprendizagem.
Aluna 21: “Partícula mediadora: responsável por dar energia ajudando
(mediando) a interação11”.
Comentário: A aluna 21 escreveu no questionário inicial que interação é quando
dois corpos trocam informações entre si, relacionando-se. A resposta indica que o
conceito de interação não evoluiu para relação de troca de energia, permanecendo
em nível do senso comum. A ideia de partícula mediadora como fornecedora de
energia à interação está equivocada.
Comentário final: O conjunto das respostas à questão 2 nos fornece indícios de
que a maioria dos aprendizes compreendeu fisicamente os conceitos de partícula
mediadora e interação. Percebemos que alguns aprendizes se limitaram a traduzir o
significado de mediar em suas respostas, entretanto, nas respostas das questões 4 e
8 demonstraram um nível de compreensão mais evidente. Talvez a maneira como a
11 Interação: uma relação de codependência de moléculas (partículas) para criar algo, novo.
115
questão 2 foi escrita tenha dado margem para respostas que fogem do conceito
científico, o que não era nossa intenção.
Questão 4: A interação nuclear forte, dentro dos limites da teoria de Yukawa, é
uma interação de atração ou repulsão? Você sabe dizer que função desempenha a
interação nuclear forte no núcleo atômico?
Resposta esperada: Atração. Essa interação de atração entre os núcleons é
mais intensa, dentro do seu alcance, do que a repulsão entre os prótons e por esse
motivo mantém o núcleo estável.
Respostas dos aprendizes:
Aluno 1: “Atração. A interação nuclear forte é responsável por manter o núcleo
coeso, unido, sem fazer com que as partículas positivas presentes no núcleo se
afastem, destruindo, assim, o núcleo”.
Aluno 2: “Atração. No núcleo atômico é usada para mantê-lo estável”.
Aluno 5: “A interação nuclear forte tem ação atrativa e desempenha a destacada
função de manter o núcleo coeso, unido, já que as partículas formadoras do mesmo,
tendem a se repelirem ou serem inertes fora de campo de ação da força nuclear forte”.
Aluna 6: “Dentro dos limites da teoria de Yukawa, a interação forte é uma
interação de atração. Essa interação, dentro do núcleo, desempenha a função de
manter os prótons e nêutrons unidos, mantendo o núcleo coeso”.
Aluna 9: “A interação nuclear forte é uma interação de atração e é responsável
por promover a estabilidade do núcleo atômico”.
Aluno 10: “É uma interação de atração. Interação forte é uma maneira de manter
o núcleo atômico em equilíbrio, através da troca de energia entre nucleons”.
Aluno 11: “A interação forte é uma interação de atração. A interação nuclear forte
desempenha uma função de unir as partículas nucleares presentes no núcleo atômico,
fazendo com que exista”.
Aluno 12: “A atração nuclear forte é uma interação de atração entre os nucleons,
que permite que os nucleons permaneçam ligados”.
Aluna 13: “A interação nuclear forte é uma interação de atração. Essa interação
nuclear forte permite que o núcleo atômico não exploda, ou seja, não se separe por causa
116
da interação eletromagnética de cargas iguais (prótons). Assim, ela supera a interação
eletromagnética, e permite a junção e ligação das partículas com estabilidade”.
Aluna 14: “É uma interação de repulsão. Não sei não...”.
Aluna 15: “Atração, pois é um sistema ligado. Ocorre uma dependência a custo
da estabilidade nuclear, impedindo que os nucleons interajam com os elétrons e que
o núcleo consequentemente exploda”.
Aluna 18: “Dentro dos limites da teoria de Yukawa, a interação forte é uma
interação de atração com função de manter o núcleo atômico unido”.
Aluna 19: “Atração. A função da interação nuclear forte é manter prótons e
nêutrons unidos no núcleo, com a mediação do méson, trocando energia e mantendo
o núcleo estável. Próton-próton; nêutron-nêutron e nêutron-próton”.
Aluna 21: “Dentro da teoria de Yukawa, a interação nuclear forte é uma interação
de atração, tendo a função de manter o núcleo atômico unido”.
Comentário final: As respostas da maioria dos aprendizes estavam de acordo
com a resposta esperada para a questão 4. Nessa perspectiva, as alunas 13 e 19
forneceram respostas que demonstram que elas conseguiram estabelecer uma
relação entre interação e partícula mediadora. A aluna 15, por sua vez, na sua
resposta, fez uma analogia com o sistema ligado, estudado no segundo encontro, para
justificar a característica de atração da interação forte, indicando que o segundo
encontro, quando ocorreu a discussão sobre sistema ligado, funcionou como um
organizador prévio para ela. O restante da resposta dessa aluna foi confuso, não
compreendemos a relação de dependência que ela tentou explicar. O conjunto das
respostas para a questão 4 indica que a maioria dos aprendizes compreendeu a
função da interação forte no núcleo atômico.
A problematização inicial do primeiro encontro foi: o Hélio-3 e o Hélio-4 são
átomos que possuem núcleos estáveis, ou seja, seus núcleos possuem prótons e os
nêutrons firmemente ligados de alguma maneira, apesar da força de repulsão entre
os prótons, que tende a desfazer o núcleo. Dessa forma, esses núcleos não se
desintegram e se apresentam como caroços duros, extremamente pequenos,
considerando as dimensões atômicas, que contém quase toda a massa desses
átomos. Como você explicaria, utilizando os seus conhecimentos, essa união intensa
entre prótons e nêutrons no núcleo atômico? Considerando o conjunto das respostas
117
das questões dois e quatro, afirmamos que a maioria dos aprendizes seriam capazes
de responder a essa problematização utilizando os conceitos de interação forte e
partícula mediadora.
Questão 8: De acordo com a teoria de Yukawa, a interação nuclear forte possui
um curto alcance. O raio de alcance dessa interação é da ordem do tamanho de um
próton ou de nêutron. Portanto, para interagirem de maneira forte, prótons e nêutrons
devem estar próximos, o que significa que a distância entre eles não deve ser superior
ao tamanho de um deles. Agora, imagine dois nêutrons próximos e explique com suas
palavras como você entende a interação que ocorre entre eles.
Resposta esperada: A interação entre dois nêutrons próximos no núcleo atômico
é de atração, interação forte, e ocorre mediante a troca de mésons neutros que são
os mediadores dessa interação. Os nêutrons não possuem carga elétrica, logo não se
repelem como os prótons.
Respostas dos aprendizes:
Aluno 1: “As partículas precisam estar muito próximas para que, a partir do
méson, os nucleons se liguem, à medida que os nucleons se unem, mais partículas
interagem”.
Aluno 2: “Não existe repulsão eletrostática, então, eu imagino que eles emitam
seus píons no espaço e quando se aproximam, se ligam. Vale lembrar que esses
píons são nêutrons”.
Aluno 5: “Suponhamos que eles estão em trajetória a colidirem. Seus campos
nucleares fortes interceptam-se concomitantemente, estabelecendo um sistema ligado.
Os nêutrons, individualmente, estão sempre a emitir e absorver de si mesmo, méson π,
isso constitui o raio de influência do sistema. A rápida permutação de píons origina a força
nuclear que chamamos de forte. Assim, os nêutrons se mantêm unidos”.
Aluna 6: “A interação entre dois nêutrons ocorre através do méson π neutro, que
os mantém na forma de nêutron, porém, fornecendo a atração entre eles através da
interação forte”.
Comentário: A aluna demonstrou nessa resposta indícios de uma melhor
compreensão dos conceitos de interação e partícula mediadora do que na resposta
da questão 2.
118
Aluna 9: “Interação que ocorre entre eles é uma interação onde um dos nêutrons
libera energia e o outro absorve ela, e vice-versa”.
Aluno 10: “Ocorre uma interação nuclear forte entre eles, através da troca de
energia mediada por píons”.
Aluno 11: “A interação entre nêutrons pode ser compreendida de forma que eles
têm carga neutra. Ou seja, a interação entre os nêutrons é nula”.
Comentário: A resposta fornecida nessa questão entra em contradição com a
resposta que esse aluno forneceu para a questão 4. Acreditamos que ele confundiu
as interações e respondeu considerando a interação entre cargas elétricas, contudo,
não podemos confirmar essa hipótese.
Aluno 12: “A interação entre dois nêutrons ocorre por meio da emissão de um
méson pelo nêutron, que é captado por outro nêutron”.
Aluna 13: “Os nêutrons não podem interagir eletromagneticamente, por não
possuírem cargas, mas são capazes de realizarem a interação nuclear forte. Essa ocorre
pela energia (partícula mediadora com massa chamada méson π) eliminada pelos
nêutrons, a qual possui carga e curto alcance, e isso permite a atração desses nêutrons”.
Comentário: O méson trocado na interação entre nêutrons não possui carga
elétrica, A aluna cometeu esse equívoco na sua resposta. Contudo, demonstrou que
compreendeu como ocorre a interação entre nêutrons.
Aluna 14: “Nêutrons têm carga nula, então, sua interação de repulsão é forte em
relação à carga de atração”.
Comentário: A aluna não compreendeu como dois nêutrons interagem. Essa
aluna demonstrou dificuldades de compreensão desde a primeira questão analisada
aqui, logo, era esperada essa resposta. Talvez ela necessite de um tempo maior para
compreender os conceitos abordados nessa sequência e/ou de um acompanhamento
individualizado.
Aluna 15: “Dois nêutrons em um núcleo interagem entre si à curta distância,
interação essa que consiste no compartilhamento de energia quantizada via píons
como mediadores. Muito provavelmente, píons nêutrons”.
Comentário: Essa resposta nos fornece indícios de que essa aluna compreendeu
o conceito de interação, o que não havia sido evidenciado na resposta da questão 2.
119
Nessa resposta, há indício de compreensão do conceito de partícula mediadora e da
forma como os nêutrons interagem.
Aluna 18: “A interação entre nêutron-nêutron ocorre da mesma maneira que
entre próton-próton, ambos liberam massa em forma de energia, o méson π. Contudo,
a diferença está na carga, a carga da ligação entre nêutrons é nula, igual à ligação
entre prótons. Isso ocorre a fim de manter a conservação da energia”.
Comentário: A resposta dessa aluna indica que ela compreendeu como ocorre a
interação entre nêutrons. Todavia, a comparação das cargas de ligação do nêutron e
do próton ficou confusa. Acreditamos que, quando ela citou a conservação da energia,
queria se referir à conservação da carga elétrica, considerando o que ela escreveu na
resposta, mas não podemos afirmar.
Aluna 19: “A interação forte entre dois nêutrons ocorre com a mediação do
méson nêutron, que mantém eles unidos”.
Aluna 21: “A interação que ocorre entre eles é forte, pois devido à proximidade
entre eles, no momento em que o primeiro envia uma partícula mediadora para o
outro, já recebem outra em troca, tendo em vista que se não houver a troca o primeiro
envia e recebe a própria partícula”.
Comentário: A resposta da aluna 21, nessa questão, indica que ela compreendeu
os conceitos de interação, partícula mediadora e o processo de troca. Na resposta da
questão 2, por sua vez, ela não demonstrou esse entendimento.
Comentário final: A maioria dos aprendizes demonstrou indícios de
aprendizagem do conceito de interação forte e partícula mediadora, abordados na
questão 2, uma vez que utilizaram esses conceitos para responder à questão 8. Essa
questão é diferente de todas as questões propostas para os aprendizes no
desenvolvimento dessa sequência didática, como tentativa de não induzir os
aprendizes a fornecerem respostas memorizadas. Outra forma de contribuir para
amenizar as respostas memorizadas foi a aplicação dessa avaliação oito dias após o
último encontro com os estudantes. Considerando os fatores questão nova e tempo
de aplicação da avaliação, acreditamos que as respostas dos aprendizes 6,13 e 15
são exemplos que demonstram indícios de aprendizagem dos conceitos de interação
forte e partícula mediadora.
120
Questão 9: Quando dois prótons estão próximos, como ocorre no núcleo
atômico, existe entre eles interações de atração e de repulsão. Essa afirmativa é
verdadeira ou falsa? Explique.
Resposta esperada: Verdadeira. Os prótons se repelem devido à interação
eletromagnética e atraem-se por conta da interação forte.
Respostas dos aprendizes:
Aluno 1: “Verdadeira, se a distância for maior que duas vezes o diâmetro da
partícula, a força eletromagnética irá ponderar e as interações serão de repulsão”.
Comentário: O aprendiz considerou a afirmativa como verdadeira, entretanto não
explicou que, estando próximos, os prótons se atraem mediante a interação forte. Ele
raciocinou como se os prótons estivessem afastados, entretanto, a questão afirma que
os prótons estão próximos, por isso forneceu a resposta incompleta.
Aluno 2: “Verdadeira. Ocorre atração, por conta da interação forte e repulsão por
conta da interação eletromagnética”.
Aluno 5: “A afirmativa é verdadeira, pois entre dois prótons unidos, ou perto
suficiente, há duas interações, dois sistemas de interação, um ligado e outro não, de
modo a haver atração e repulsão. Estes são a interação eletromagnética e a nuclear
forte, repulsão e atração respectivamente”.
Comentário: Esse aprendiz utilizou o conceito de sistema ligado para explicar a
interação de atração e caracterizou o sistema repulsivo como um sistema não ligado,
diferenciando-o do primeiro. O conceito de sistema ligado foi discutido no segundo
encontro, 20 dias antes dessa avaliação. Nessa resposta, existe indício de
aprendizagem do conceito de sistema ligado.
Aluna 6: “Essa afirmativa é verdadeira, pois, quando dois prótons estão
próximos, eles sofrem repulsão quando a interação é eletromagnética. Entretanto,
existe outra interação, que é a interação forte, sendo essa, de forma redundante, mais
forte do que aquela, fazendo com que os dois prótons fiquem atraídos dentro do
núcleo”.
Aluna 9: “Verdadeira. Ocorre interações de repulsão por conta do mesmo sinal da
carga elétrica, e de atração através dos mésons π, para manter o núcleo coeso e estável”.
121
Aluno 10: “É verdadeira. À medida que há repulsão devido à carga elétrica,
também há atração devido à interação forte”.
Aluno 11: “A afirmativa é falsa. Pela carga dos prótons serem iguais, a relação
entre eles é de separação/repulsão”.
Comentário: Quando dois prótons estão próximos, de acordo com texto da
questão, existe a atração eles devido à interação forte. Esse aluno não considerou a
existência dessa interação.
Aluno 12: “Essa afirmativa é verdadeira, pois quando um nêutron emite um
méson negativo, tornando-se próton, um outro próton irá capturar o méson, então, por
um curto período de tempo, há dois prótons se atraindo pela interação forte e
repelindo-se pela carga elétrica”.
Comentário: Nessa resposta, o aprendiz consegue diferenciar as interações
eletromagnética e forte, demonstra que compreendeu o mecanismo através do qual
acontece a interação forte e o conceito de partícula mediadora. Todavia, a interação
entre dois prótons ocorre mediante a troca de mésons neutros e não mésons
negativos como ele afirmou.
Aluna 13: “Essa afirmativa é verdadeira. Entre dois prótons existe a interação de
repulsão, por meio de interações eletromagnéticas: sendo duas cargas elétricas, de
mesmo sinal, elas se repelem. No entanto, esses prótons também têm a interação forte,
a qual faz eles se atraírem, mediada pelas partículas mésons (negativas)”.
Comentário: A aluna demonstrou que compreendeu a existência das interações
entre prótons e como a interação forte acontece. Todavia, o méson envolvido na
interação entre prótons é neutro.
Aluna 14: “A afirmativa é verdadeira, mas não sei explicar”.
Aluna 15: “Verdadeira. A interação eletromagnética ainda é válida, ou seja,
ocorre repulsão entre partículas de mesma carga, entretanto, em comparação à
interação forte, é superada. Interação forte é muito maior do que a interação
eletromagnética”.
Aluna 18: “A afirmativa é verdadeira, no momento da interação forte dos prótons
ocorre atração, logo após essa interação, ocorre repulsão”.
122
Comentário: Na concepção dessa aprendiz, parece que as interações não são
simultâneas. Contudo, essa aluna demonstrou que compreendeu que, entre prótons,
existem duas interações, a forte e a eletromagnética.
Aluna 19: “Verdadeira, existe interação de repulsão por conta das cargas
elétricas. E também há interação de atração, pois, para se manterem unidos no
núcleo, é necessária a interação forte com a mediação do méson”.
Aluna 21: “Essa afirmativa é verdadeira, tendo em vista que, por serem iguais,
eles possuem a tendência de se repelir, porém, no núcleo”.
Comentário: A aluna não completou a resposta.
Comentário final: A maioria dos aprendizes, exceto 1, 11 e 14, demonstraram,
nas respostas, que diferenciam a interação forte e a interação eletromagnética, o que
contribuiu para o aumento do grau de estabilidade desses conceitos, favorecendo a
aprendizagem de novas interações.
Questão 11: Observe, atentamente, no gráfico, que os valores das energias de
ligação aumentam junto com a quantidade de núcleons até as proximidades do
número de massa (A) igual a 60. Vê-se que a partir desse valor (A=60) a curva sofre
uma suave queda, indicando um decréscimo do valor da energia de ligação daí em
diante. Considerando a interação nuclear forte estudada nas aulas e a interação
elétrica de repulsão entre os prótons, que conclusão você poderia retirar desse
decréscimo da energia de ligação?
Resposta esperada: O alcance da interação forte é da ordem do diâmetro de um
núcleon, assim a interação forte é intensa entre núcleons que estejam a essa
distância. Em um átomo grande (A>60), a separação entre alguns núcleons se torna
maior do que o alcance da força nuclear, em algumas regiões desse átomo,
diminuindo a intensidade dessa interação. Nessas regiões, a repulsão
eletromagnética se torna mais intensa do que a interação forte, o que promove a
redução da energia de ligação.
Respostas dos aprendizes:
Aluno 1: “Isso se deve ao caso do alcance do méson a partir do Fe-56, o núcleo
fica tão grande que os mésons não conseguem achar outras partículas no seu alcance
para se ligar, tornando o núcleo estável”.
123
Comentário: O aluno mostrou, em sua resposta, indício de que compreendeu a
relação entre a diminuição da energia de ligação e o curto alcance da interação forte.
Entretanto, não citou a influência da interação eletromagnética para a redução da
energia de ligação. Logo, essa resposta ficou incompleta.
Aluno 2: “A interação forte tem curto alcance e a eletrostática, comparada à
última, tem alcance maior. À medida que o núcleo aumenta, a distância entre alguns
nucleons aumenta e a força eletrostática passa a prevalecer em alguns pontos
diminuindo a energia de ligação”.
Aluno 5: “A energia de ligação ou a energia que deve ser introduzida a fim de
libertar, quebrar, a ligação (atração) entre os corpos envolvidos, cresce na medida em
que mais nucleons são introduzidos. Por outro lado, cada nucleon interage de forma
limitada fortemente, o número de ligações fortes por nucleon máximo é limitado;
enquanto a interação eletromagnética não, assim, há um acúmulo de forças elétricas
em detrimento a uma constantibilidade da forte. Desequilibrando o núcleo, pois
aquelas são repulsivas”.
Comentário: O aluno demonstra, em sua resposta, embora confusa, que
compreendeu que a interação forte possui curto alcance e que pode ser superada pela
interação elétrica em núcleos grandes, o que contribui para diminuição da energia de
ligação, tornando o núcleo menos estável.
Aluna 6: “A interação forte entre os nucleons possui um curto alcance, ou seja,
a partir do momento em que a quantidade de nucleons vai aumentando, a distância
entre eles é maior, fazendo com que a interação forte não possa mais ocorrer, sendo
necessário que os nucleons diminuam para que a interação aconteça”.
Comentário: O aumento da quantidade de núcleons reduz a intensidade da
interação forte em algumas regiões do núcleo, visto que, nesses locais, a repulsão
eletromagnética toma-se mais intensa, promovendo, assim, a divisão do núcleo.
Nesse caso, ocorre redução do tamanho do núcleo e não dos núcleons. A aluna não
comentou sobre a influência da interação eletromagnética, tão pouco sobre o valor da
energia de ligação, entretanto, demonstrou compreensão da relação entre o alcance
da interação e tamanho dos núcleos.
Aluna 9: “A energia de ligação vai crescendo com o aumento do número de
massa, porém, ao chegar a certo ponto, essa energia começa a decair, pois, devido
124
ao curto alcance da interação forte, se houver muitos nucleons, o núcleo cresce muito
e muitos nucleons não vão conseguir interagir com muitos outros”.
Comentário: O aluno, em sua resposta, demonstra indício de compreensão
sobre a relação entre o alcance da interação forte e o valor da energia de ligação.
Contudo, ele não menciona a influência da interação eletromagnética na queda da
energia de ligação.
Aluno 10: “A medida que o número atômico ultrapassa A=60, os núcleos ficam
muito cheios de nucleons, aumentando a proximidade entre os nucleons, aumentando
a atração e, portanto, diminuindo a energia de ligação necessária”.
Comentário: À medida que a quantidade de núcleons aumenta, a distância entre
eles aumenta e a atração, devido à interação forte, reduz. Essa redução contribui para
a diminuição da energia de ligação. O Aluno afirmou que o crescimento do núcleo
contribui para a aproximação entre os núcleons, em verdade, ocorre o contrário. Ele
demonstrou uma compreensão inversa da relação entre atração e energia de ligação.
Aluno 11: “O decréscimo da energia de ligação faz com que o núcleo se torne
menos estável. Conclui-se que uma energia de ligação menos estável torna as
partículas do núcleo menos unidas”.
Comentário: O aluno associou corretamente o valor da energia de ligação à
estabilidade nuclear. Ele afirma que as partículas do núcleo estão menos unidas
quando a energia de ligação é menos estável, contudo, a expressão correta seria
menor. Ele não explica o que provoca a diminuição da energia de ligação.
Aluno 12: “A partir de um número de massa igual a 60, o núcleo atômico se torna
muito grande e o raio de alcance da interação forte chega a um número relativo menor
de nucleons”.
Comentário: o aluno inicia sua resposta relacionando o alcance da interação forte
com o tamanho do núcleo atômico, corretamente. Entretanto, não estabelece relação
com a energia de ligação, nem menciona a influência da interação eletromagnética.
Aluna 13: “O decréscimo na energia de ligação ocorre devido ao aumento do
número de massa do núcleo (nucleons). A energia, por ter um curto alcance, não
conseguiria englobar, atrair e interagir os nucleons que estivessem mais longe. Assim,
essa interação forte nuclear, com o aumento dos nucleons, começaria a se tornar
125
pouco significativa com a existência de uma maior interação eletromagnética de
repulsões (por terem cargas iguais, os prótons se repeliriam)”.
Comentário: Na segunda linha, a aluna usou a palavra energia no lugar da
palavra interação, talvez, por engano, uma vez que, na terceira linha, surge a palavra
interação. Ela explica corretamente a diminuição da energia de ligação considerando
as interações forte e eletromagnética.
Aluna 14: Não respondeu.
Aluna 15: “A relação massa x estabilidade nuclear é explicada pela necessidade
de uma curta distância para que esta ocorra e, quanto maior a massa, ou seja, o
número de nucleons, maior o núcleo e maior o espaçamento nele. Logo, a interação
torna-se mais fraca e a instabilidade do núcleo maior, tornando os núcleos de maior
massa, mais radioativos e prováveis de fissão”.
Comentário: A interação eletromagnética não é citada nessa resposta. A aluna
afirma que, em um núcleo maior, uma interação reduz a intensidade, mas ela não
menciona que interação é essa. Não podemos afirmar que ela se refere à interação
forte, embora pareça.
Aluna 18: “O decréscimo da energia de ligação ocorre, pois, com o grande
aumento da massa, a energia é mais compartilhada e, consequentemente, diminui”.
Comentário: Nessa resposta, a aprendiz não conseguiu relacionar o decréscimo
da energia de ligação com as interações forte e eletromagnética.
Aluna 19: “A energia de ligação sofre um decréscimo, pois, como a interação
forte entre nêutrons e prótons é de curto alcance, quando aumenta a quantidade de
partículas, aquelas que estão no centro interagem menos com as das extremidades.
Consequentemente, a interação é quebrada”.
Comentário: A aluna não cita a influência da interação eletromagnética na
diminuição do valor da energia de ligação, entretanto, explica corretamente a
influência da interação forte na redução da energia de ligação.
Aluna 21: Não respondeu.
Comentário final: Para explicar a diminuição da energia de ligação com o
aumento do número de massa, o aprendiz deve conhecer e relacionar as
características (intensidade, alcance, dependência do número de massa e da carga
126
elétrica) das interações forte e eletromagnética. Logo, essa questão envolve um nível
de compressão mais alto do que as anteriores. Os aprendizes 2, 5,13,15 e 19
conseguiram responder essa questão fazendo a comparação da influência de cada
interação no núcleo do átomo. Os aprendizes 1 e 9 focaram suas respostas apenas
na interação forte. Duas aprendizes não responderam 14 e 21 e os demais
(6,10,11,14,18) não responderam de maneira satisfatória.
A questão 11 é semelhante à questão 5 do questionário inicial, através da qual
fizemos o levantamento dos conhecimentos prévios. Assim, constatamos nesse
levantamento que nenhum aprendiz era capaz de relacionar a diminuição da energia
de ligação com a ação das interações forte e eletromagnética. Agora, na resposta da
questão 11, cinco aprendizes conseguiram estabelecer essa relação indicando que
50 por cento da turma conseguiu atingir um nível de compreensão mais apurado com
relação à interação forte e energia de ligação.
Questão 12: Na Física de Partículas e em outras áreas da Física a palavra
interação é utilizada com muita frequência. Nesse contexto, em que visualizamos o
gráfico da energia de ligação, que conexão existe entre energia de ligação e
interação?
Resposta esperada: A energia de ligação é a energia trocada entre os núcleons,
quanto maior a energia de ligação, mais intensa é a interação entre os prótons e
nêutrons.
Respostas dos aprendizes:
Aluno 1: “Quanto maior a energia de ligação, maior a interação entre os nucleons”.
Aluno 2: “Uma interação só ocorre quando há energia negativa. A energia de ligação
é a energia necessária, para cada nucleon, para atrair ou destruir o núcleo, em módulo.
Nesse caso, a energia de ligação é a necessária para manter o núcleo unido”.
Comentário: Esse aprendiz afirmou que uma interação só ocorre quando existe
energia negativa, referindo-se a um sistema ligado e, consequentemente, interação
de atração. Entretanto, existem interações de repulsão, como entre dois prótons, que
não formam um sistema ligado. Não ficou clara a relação entre energia de ligação e
interação na resposta desse aprendiz.
127
Aluno 5: “Em Física, uma interação é caracterizada por um sistema ligado ou
não, atrativo ou repulsivo, respectivamente. No sistema ligado, entre dois entes em
interação, a energia que é investida nas partículas mediadoras é a energia de ligação,
a mesma necessária para quebrar a ligação entre ambos. Logo, em suma, numa
interação ligada, há a presença de energia de ligação, que nada mais é do que a
ligação em si representada de forma universal”.
Aluna 6: “A conexão entre energia de ligação e interação segue uma proporção
direta, ou seja, quanto maior a energia de ligação, maior a interação entre os
nucleons”.
Aluna 9: “Quanto maior a energia de ligação, mais fortemente ocorrerá a
interação e, consequentemente, maior a estabilidade do núcleo atômico”.
Aluno 10: “A interação entre nucleons ocorre devido à energia de ligação,
mantendo-os unidos e o núcleo coeso”.
Aluno 11: “A conexão existente entre energia de ligação e interação é que,
quanto mais interação existente no nêutron, mais estável se torne este e mais energia
de ligação ele terá”.
Aluno 12: “A interação, nesse contexto, se trata da emissão e captura de mésons
pelos nucleons. Conforme o tamanho do núcleo atômico aumenta, essa interação
diminui (a partir do número de massa 60), e assim, o núcleo fica menos estável e a
energia de ligação por nucleon se torna menor”.
Aluna 13: “A energia de ligação é a energia liberada pelos nucleons, a qual é
responsável pela ligação, junção entre esses. Ou seja, essa energia de ligação é a
necessária e a responsável pela interação dos nucleons”.
Aluna 14: “Dificuldade para essa resposta”.
Aluna 15: “Energia de ligação remete ao sistema ligado e a interação forte, assim
como a gravitação, é um sistema ligado. A energia de ligação representa a energia
potencial negativa e a necessidade de energia extra para sair deste sistema”.
Aluna 18: “A interação ocorre devido à energia de ligação”.
Aluna 19: “A conexão é que a energia de ligação é a quantidade de energia que
existe no núcleo que mantém a interação entre prótons e nêutrons (interação forte).
128
Logo, para haver uma quebra, é necessário fornecer uma energia maior do que a
energia de ligação”.
Aluna 21: “A energia de ligação pode ser considerada o valor energético dado
para a ligação ser desfeita quebrando assim a interação”.
Comentário: Exceto os aprendizes 2,14,11 e 21, a maioria demonstrou, nas
respostas, que relaciona energia de ligação com interação. As melhores respostas,
mais completas, foram as dos aprendizes 5,12,13 e19. O conjunto dessas respostas
demonstra que a maioria dos aprendizes compreendeu a relação entre interação e
energia de ligação.
129
6 CONCLUSÃO
Após realizarmos análise das respostas dos aprendizes para as questões 2, 4,
8, 9, 11 e 12, verificamos que a maioria apresentou indícios de aprendizagem dos
conceitos de interação, particularmente a interação forte, e partícula mediadora,
representado nessa sequência didática pelo méson π. O objetivo geral desse trabalho
foi desenvolver e aplicar uma sequência didática sobre tópicos de Física de Partículas,
particularmente interação forte, e verificar o seu impacto na educação básica em
termos de indícios de aprendizagem significativa. Dessa forma, considerando o
avanço conceitual dos estudantes, podemos dizer que nosso objetivo foi atingido.
A pergunta que motivou nossa pesquisa foi: de que forma a abordagem de
tópicos de Física de Partículas, a partir da história da descoberta do méson π,
possibilita a aprendizagem significativa dos estudantes? Não podemos afirmar que os
aprendizes aprenderam significativamente os conceitos de interação forte e partícula
mediadora, entretanto, é possível observarmos indícios de aprendizagem significativa
com base nas respostas fornecidas por eles, pois elas representam como eles
entenderam os conceitos abordados.
A história da ciência teve um papel fundamental no desenvolvimento dessa
sequência didática, sendo a responsável por despertar a curiosidade dos aprendizes
pelo tema proposto, motivando-os a querer aprender. Segundo Ausubel (1980), a
motivação do aprendiz, a sua predisposição, é fundamental para que ele aprenda
sobre algo, bem como a elaboração de um material potencialmente significativo.
Os textos utilizados na sequência didática dentro de uma sequência lógica
contavam, aos poucos, sobre a história da proposta de Yukawa para resolver o problema
da estabilidade nuclear. O texto Como explicar a estabilidade nuclear? (CAPÍTULO 1 DO
PRODUTO EDUCACIONAL) problematiza a estabilidade nuclear, mostrando que
nenhuma interação conhecida, até 1935, dava conta de explicá-la e que, por esse motivo,
Yukawa propôs o méson π. Todavia, esse texto não respondia à pergunta que a maioria
dos aprendizes fizeram, a saber: o que é méson π? Ao mesmo tempo, ele fez o grupo
perceber que lhes faltava conhecimento para entender o que era e qual a função da
partícula proposta por Yukawa.
130
O texto Um intruso importante (CAPÍTULO 5 DO PRODUTO EDUCACIONAL)
conta a história da controvérsia dos dois mésons até a detecção do verdadeiro méson
π. Nesse texto, os aprendizes obtiveram uma nova visão sobre como é o processo de
construção de uma teoria científica e o trabalho dos cientistas, particularmente o de
Lattes. Podemos avaliar isso nas discussões que ocorreram na terceira aula, que foi
antecipada a pedido deles, após a leitura desse texto. Novamente, o texto Um intruso
importante não respondia o que era o méson π e a interação forte e esse suspense
motivou os aprendizes até a última aula, quando finalmente eles construíram uma
resposta para essas perguntas. A história da ciência foi, de fato, o grande agente
motivador dos aprendizes. O comentário da aluna 13 corrobora nossa afirmação:
“O assunto não é difícil, mesmo que abstrato, pois envolve muita história e é bem
explicado para seguirmos a linha de pensamento e descobrimento deles. Foi possível
entender Física Nuclear Forte, a história dela e dos cientistas. Mas gostaria de ter um
tempo melhor para compreender totalmente a parte da física e as das contas, além de
poder entender e conhecer outras partes da física moderna. Sim, pois envolveu muita
história e questionamento sobre as experiências, e não apenas a resolução de
questões/problemas que envolvem fórmulas e muita matemática. A matemática é
mínima, mas o conhecimento sobre o mundo é mais interessante e intrigante”.
Avaliamos que, para os aprendizes compreenderem a interação forte e o
conceito de partícula mediadora, eles necessitavam conhecer o que era um sistema
ligado, interação e como ocorriam as trocas de energia durante a interação das
partículas. Para que eles entendessem o que era um sistema ligado e interação,
realizamos uma discussão, na segunda aula, utilizando, como exemplo, a interação
gravitacional entre o planeta Terra e uma bola.
Nesse sentido, os aprendizes demonstraram, nas discussões prévias dessa aula,
que possuíam conhecimentos sobre a energia mecânica. Então, essa aula funcionou
como uma ponte entre o que eles conheciam e o que necessitavam conhecer, para
entender os conceitos que seriam estudados como na sequência didática e isso foi
verificado nas respostas dos aprendizes. Essa é uma das funções de um organizador
prévio, considerando o nosso teórico de aprendizagem, Ausubel (1980).
A fim de que os aprendizes compreendessem como ocorre a troca de energia
entre as partículas e o papel da partícula mediadora, utilizamos o vídeo 4, que mostra
duas partículas interagindo através da emissão e absorção de partículas mediadoras.
131
O papel de organizador prévio desse vídeo 4 foi cumprido, como podemos avaliar com
base nas respostas fornecidas pelos aprendizes. Nas discussões prévias que
ocorreram na segunda aula, percebemos que os aprendizes apresentavam o conceito
de energia, particularmente energia mecânica, em um bom nível de compreensão.
Então, decidimos ensinar o conceito de interação forte e partícula mediadora a partir
do que eles sabiam. Seguindo, dessa maneira, o que Ausubel (1980) recomenda,
descobrir o que o aprendiz sabe e desenvolver a instrução a partir desse
conhecimento.
Os alunos 10 e 12 não concordaram com a opinião da aluna 13 em relação ao
pouco uso da matemática. Após eles entregarem a avaliação, explicaram que
gostariam que a matemática fosse mais utilizada nos desenvolvimentos dos conceitos
de interação forte e partícula mediadora, como aconteceu na segunda aula. Por esse
motivo, eles avaliaram a abordagem como abstrata. Explicamos que a matemática
envolvida nesse conteúdo estava muito acima daquela conhecida no Ensino Médio,
por esse motivo foi realizada uma abordagem mais conceitual para o conteúdo. Com
relação ao tempo reservado para as aulas, eles não concordaram. Seguem os
comentários dos alunos 10 e 12, respectivamente:
“Adorei participar da pesquisa, porém senti falta de uma abordagem mais
objetiva. A teorização é divertida, mas na hora da relação senti dificuldade de fixar. A
realização de ‘problemas’, tarefas mais objetivas ajudaria na fixação do aluno. Fora
isso achei o assunto bem tranquilo, e o tempo de aula suficiente, porém, com uma
maior objetividade em função do subjetivo” e “Não achei o assunto difícil, porém achei
que o assunto foi abordado de forma muito abstrata em um espaço de tempo muito
curto.”
As alunas 15 e 21 não concordaram com a opinião dos alunos 10 e 12. Aliás,
apenas esses dois alunos sentiram falta de uma abordagem fazendo uso da linguagem
matemática. Seguem os depoimentos das alunas 15 e 21, respectivamente:
“Eu sou uma aluna que com sorte pode ser considerada mediana em física, mas
isso porque a forma com que ela nos é ensinada é distante da realidade e
extremamente desinteressante, principalmente para quem tem dificuldade com
matemática. Eu posso considerar que aprendi o assunto, mas que principalmente
gostei dele. O assunto de Física Nuclear abre nossos olhos para conhecimentos que
nunca imaginamos e por ser tão lógico e teórico não assusta o aluno, nem cria a
132
antipatia, mostrando que a física as vezes pode ser interessante. Amei participar
(inclusive ensinei às minhas colegas), gostaria de mais aulas e não considero o
assunto difícil. Como dica diria que a matemática nesse assunto é pouco benéfica ao
aluno [...]”.
“Pelo meu ponto de vista, o assunto não é difícil. Porém, dever-se-ia ter mais
aulas para discutir esse conteúdo, tendo em vista que é um conteúdo prazeroso de
ser estudado, pois abre precedente para uma discussão mais ampla e até
interdisciplinar, sendo trabalhado de forma maravilhosa que acaba por desconstruir
de certa forma a ideia de uma física cheia de cálculos e tediosa. Levando em
consideração que detesto física e graças a esse assunto repensei minha opinião.”
A maioria dos aprendizes reclamaram do tempo e sugeriram mais aulas para a
abordagem do conteúdo, como pode ser verificado no apêndice G do Produto
Educacional, que contém todos os comentários. Concordamos com essa maioria,
realmente, se tivéssemos mais aulas, as discussões teriam sido mais longas e com
mais oportunidades de retomadas para melhor amenizar as dúvidas, que por ventura
persistissem. A aluna 15 talvez fosse contemplada, caso o tempo destinado à
sequência didática fosse maior. Essa aluna comentou (APÊNDICE G DO PRODUTO
EDUCACIONAL) que sentiu dificuldade no conteúdo porque demora para entender
um determinado assunto e o tempo das aulas foi curto.
Nessa sequência didática, estudamos a primeira versão da interação forte proposta
por Yukawa, que utilizou a troca de um píon para explicar a estabilidade nuclear. Como
toda teoria cientifica possui caráter provisório, planejamos mostrar aos aprendizes as
modificações da teoria mesônica, entretanto, devido ao pouco tempo, não foi possível
executar. Comentamos que a teoria sofreu modificações e que foi substituída pela
Cromodinâmica Quântica, que utiliza os quarks para explicar a interação forte.
Acreditamos que, talvez, mais três aulas de 100 minutos resolvessem o problema do
tempo.
O tema escolhido para essa sequência didática foi motivador e promoveu o
envolvimento e a curiosidade dos aprendizes, facilitando tanto a instrução quanto a
aprendizagem. Conforme verificamos na revisão de literatura realizada antes da proposta
de criação e desenvolvimento dessa sequência didática, os temas referentes à FMC são
motivadores e instigam a curiosidade dos aprendizes. Os comentários dos aprendizes 1,
2 e 9 sobre a sequência didática confirmam a afirmação anterior: “Assunto lindo. Entendi
133
mais que os assuntos dados na escola que envolve física clássica”; “Eu gostei bastante
das aulas e consegui entender. Inclusive, achei mais interessante do que os assuntos
abordados no colégio”.
“Foi uma boa experiência participar da pesquisa, pois mudou minha concepção
sobre prótons e nêutrons e sobre a estabilidade. Achei o assunto complicado no início,
mas fui me interessando cada vez mais ao longo dos encontros. Gostaria de mais
algumas aulas para deixar totalmente claro algumas dúvidas.”
Nos comentários dos aprendizes, podemos verificar que eles gostaram da maneira
como as aulas foram ministradas, ou seja, da abordagem escolhida para permear toda a
sequência didática. Essa satisfação aconteceu porque eles perceberam os
conhecimentos que lhes faltavam e queriam ir em buscar deles, mediante a participação
nas discussões. Nestas, os aprendizes tinham espaço para opinar e ouvir as opiniões
dos colegas, construídas a partir dos textos e dos vídeos, e com a mediação do professor
corrigir os equívocos que, por ventura, julgassem ter cometido. Destacamos, nesse caso,
que conseguir aprender o que se deseja é fonte de muita satisfação.
Defendemos, desse modo, que a abordagem de tais conteúdos de física nas
escolas também pode ser interessante, em geral. Contudo, atualmente o ensino da física
escolar está voltado para os exames de acesso ao Ensino Superior, e acaba não
contemplando estudos sobre a física de partículas, por exemplo. É necessário que esses
exames apresentem conteúdos novos de FMC, de modo que possam fazer parte da
agenda escolar do EM. Essa mudança provocaria uma metamorfose profunda no ensino
da física do Ensino Médio. Por conta da obrigação de cumprir os conteúdos que serão
abordados nos exames, não existe espaço para o professor trabalhar conteúdos de FMC
nas turmas, infelizmente. Aqui na Bahia, se o conteúdo não cair no Enem ou nos exames
das faculdades particulares, não é para ser abordado na aula.
Essa opinião não é reducionista. O problema do ensino de física no Brasil envolve
vários outros fatores, quais sejam, formação docente, remuneração, condição de
trabalho. Não é nossa intenção discuti-los nesse espaço. Acreditamos que apenas
políticas públicas destinadas a melhorar a qualidade do ensino nesse país possam mudar
a realidade dos fatores citados anteriormente. Todavia, uma mudança dos exames
promoveria uma mudança do ensino nas escolas.
134
REFERÊNCIAS
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VÍDEOS
Vídeo 1 Um cientista, uma história| Episódio 12: César Lattes. Duração: 4min 58s. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=FZGg13bQH0c>. Acesso em: 10 abr. 2017.
138
Vídeo 2 César Lattes. Exibido no programa Globo Ciência. Os trechos utilizados: 0:00 até 08:38 e 10:09 até 12:43. Duração: 19min 54s. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=i6nqu-UEalU>. Acesso em: 10 abr. 2017.
Vídeo 3 Cientistas Brasileiros: César Lattes e José Leite Lopes. Os trechos utilizados: 19:49 até 20:36 e 20:42 até 21:23. Duração: 54min 59s. Disponível em:<https://www.youtube.com/watch?v=DB3PzzIrRTc>. Acesso em: 10 abr. 2017.
Vídeo 4 The Standard Model Explains Force And Matter. Mostra interação através da troca de partículas. O trecho utilizado: 2:28 até 3:00. Duração: 9min 49s. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=p5QXZ0__8VU>. Acesso em: 10 abr. 2017.
139
PRODUTO EDUCACIONAL
A FÍSICA BRASILEIRA NA EDUCAÇÃO BÁSICA: DISCUTINDO AS CONTRIBUIÇÕES DE CÉSAR LATTES PARA A DESCOBERTA DO MÉSON Π A PARTIR DE UMA ABORDAGEM
HISTÓRICA E CONCEITUAL
ALEXSANDRO OLIVEIRA FIGUEIRÊDO
FEIRA DE SANTANA - BA
2017
140
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ........................................................................................
1 PROPOSTA DIDÁTICA: PRIMEIRO ENCONTRO .................................
1.1 QUESTÕES INICIAIS ..............................................................................
1.1.1 Texto 1: Como explicar a estabilidade nuclear? ......................................
1.1.2 Problematização inicial ............................................................................
1.1.3 Questionário inicial ..................................................................................
2 SEGUNDO ENCONTRO: ENERGIA POTENCIAL E INTERAÇÃO GRAVITACIONAL (SISTEMA LIGADO) ................................................
2.1 PROBLEMATIZAÇÃO INICIAL ...............................................................
3 TERCEIRO ENCONTRO: EQUIVALÊNCIA MASSA-ENERGIA ...........
3.1 PROBLEMATIZAÇÃO INICIAL ...............................................................
3.2 EXERCÍCIOS AUXILIARES ....................................................................
4 QUARTO ENCONTRO: YUKAWA-LATTES ..........................................
4.1 PROBLEMATIZAÇÃO INICIAL ...............................................................
4.2 TEXTO 2: SEGUINDO UM MODELO DE INTERAÇÃO .........................
5 QUINTO E SEXTO ENCONTROS: A CONTROVÉRSIA DOS MÉSONS E LATTES ...............................................................................
5.1 TEXTO 3: UM INTRUSO IMPORTANTE ................................................
REFERÊNCIAS .......................................................................................
APÊNDICE A – Atividade Primeiro Encontro ...........................................
APÊNDICE B – Atividade Segundo Encontro: Energia Potencial e Interação Gravitacional ..................................................
APÊNDICE C – Atividade Terceiro Encontro: Equivalência massa-energia ...........................................................................
APÊNDICE D – Atividade Quarto Encontro: Yukawa-Lattes ...................
APÊNDICE E – Atividade Quinto e Sexto Encontros: a Controvérsia dos Mésons e Lattes ......................................................
APÊNDICE F – Atividade Avaliativa Final ...............................................
APÊNDICE G – Comentários dos Aprendizes ........................................
ANEXO A – Lattes: Nosso Herói da Era Nuclear ....................................
141
146
146
148
150
151
153
154
165
167
168
170
171
176
178
178
184
186
190
191
193
195
201
204
207
141
INTRODUÇÃO
O t
ema central dessa sequência didática é a interação forte, a qual possui como
mediador o méson π, partícula cuja existência foi prevista por Hideki Yukawa (1907-
1981), em 1935. Aproximadamente doze anos depois, esse mediador finalmente foi
detectado pelo brasileiro César Lattes (1924-2005), que era integrante do grupo de
Bristol. A história do méson, destacando a contribuição de Lattes, e uma parte da
Física envolvida nesse acontecimento histórico/científico, adaptada para o Ensino
Médio, foram abordadas em quatro aulas de 100 minutos, subdivididas em encontros
de 50 minutos. Nesse sentido, o objetivo dessa unidade de ensino é capacitar o
aprendiz para:
• Compreender a importância do trabalho de Lattes para a ciência mundial,
particularmente para a Física de Partículas, e para o desenvolvimento da
Física Moderna no Brasil;
• Compreender a Ciência enquanto empreendimento humano que pode
produzir benefícios ou não para a sociedade, dependendo da forma como é
conduzida;
• Entender o que é processo de detecção de uma partícula e a participação
do brasileiro Lattes como um dos protagonistas dessa história;
• Entender a construção histórica da Física de Partículas (antecedentes do
modelo padrão), através da história do méson π;
• Diferenciar as duas detecções do píon e avaliar a importância de cada uma
para o desenvolvimento da Física de Partículas;
• Compreender que interação é uma troca de energia/momento que acontece
através da troca de partículas mediadoras;
• Descrever a interação entre núcleons utilizando os conceitos de interação e
partícula mediadora;
142
• Discutir os conceitos de sistema ligado, energia de ligação, massa e energia
relativísticas;
• Diferenciar as interações forte e eletromagnética;
• Explicar a variação da energia de ligação dos núcleos atômicos com base
nas características (intensidade e alcance) das interações forte e
eletromagnética.
Desse modo, a sequência didática foi estruturada de acordo com os Três
Momentos Pedagógicos, de Demétrio Delizoicov, quais sejam, problematização
inicial, organização do conhecimento e aplicação do conhecimento. A
problematização inicial, conforme indica o nome, é um problema que deve ser
proposto para os aprendizes a fim de que eles apresentem sugestões de solução.
Conforme Delizoicov e Angoti (1988, p. 23), a seleção dessas problematizações é
atrelada ao conteúdo que será desenvolvido na unidade de ensino. Conforme estes
pesquisadores, a relação entre a problematização e o conteúdo a ser desenvolvido é
obrigatória, podendo ser direta ou indireta.
Os aprendizes devem discutir as sugestões de solução da problematização em
grupos pequenos (máximo de quatro integrantes) em um primeiro momento e, em
seguida, a discussão é realizada no grupo inteiro. O professor deve assumir a postura
de coordenador das discussões, pode fornecer dicas e fazer novos questionamentos
que provoquem dúvidas nos aprendizes, o que os motivará a utilizarem o que sabem
para sugerir uma solução para o problema proposto. Nesse contato inicial, o professor
não deve fornecer a resposta, mas sim aguçar a curiosidade da turma.
O objetivo desse primeiro momento pedagógico é possibilitar que o docente
tenha acesso aos conhecimentos prévios dos aprendizes, o que é viabilizado à
medida que os aprendizes se expressam apresentando possíveis soluções para a
problematização inicial. Esse momento também contribui para que os educandos
percebam que eles necessitam adquirir novos conhecimentos científicos.
Acreditamos, nesse sentido, que tal percepção acontece quando eles concluem que
os conhecimentos que possuem não são suficientes para compreender
cientificamente o problema inicialmente proposto.
143
No segundo momento pedagógico, denominado a organização do
conhecimento, o docente apresenta ao grupo os conhecimentos que ele selecionou
como importantes para que os aprendizes compreendam a problematização inicial e
o tema principal da unidade de ensino. Nessa etapa, com a devida orientação do
professor, serão aprofundadas as definições, conceitos, relações e leis apresentadas
na introdução do conteúdo (realizadas através de um texto, vídeo ou outro meio
organizado previamente pelo professor).
Delizoicov e Angoti (1988, p. 23) afirmam que essa etapa é importante para a
compreensão do tema central e da problematização inicial. Nela, são trabalhados os
conteúdos específicos de acordo com os objetivos definidos e do material didático
selecionado pelo professor para implementar o curso. Esses autores não limitam a
quantidade de aulas que devem ser utilizadas para a organização do conhecimento e
sugerem que sejam usadas diversas atividades (aula expositiva, textos, formulação
de questões, trabalhos extraclasses e outros).
Por sua vez, a aplicação do conhecimento constitui a última etapa dos três
momentos pedagógicos. Como sugere o nome, é nessa etapa que se realiza a aplicação
dos conhecimentos que vêm sendo abordados na unidade de ensino para o
entendimento tanto da problematização inicial quanto de outras situações, ainda que não
estejam diretamente relacionadas ao problema inicialmente proposto. Por exemplo,
quando o aprendiz compreende o que é um sistema ligado, ele é capaz de utilizar esse
conceito para identificar uma interação de atração em sistemas, tais como: sistema solar,
Terra-Lua, elétron-núcleo ou prótons e nêutron no núcleo atômico.
O objetivo dessa etapa é tornar o aprendiz capaz para utilizar os conhecimentos
científicos, de forma rotineira e sistemática, também em situações cotidianas, para
além do entendimento e resolução dos problemas e exercícios propostos nos
materiais didáticos. Destacamos que, nesse caso, “é o potencial explicativo e
conscientizador das teorias científicas que precisa ser explorado” (DELIZOICOV,
ANGOTI E PERNAMBUCO, 2011, p. 202).
Dessa forma, no intuito de atendermos aos objetivos propostos nessa sequência
didática, apresentamos, a seguir, o cronograma das aulas (QUADRO 1) de modo
simplificado, com a descrição detalhada de cada aula.
144
Quadro 1 – Cronograma das aulas
AULAS ATIVIDADES
1ª aula
Dois encontros
de 50 minutos
1º encontro
✓ Apresentação do tema ao grupo.
✓ Exibição do vídeo 1: Um cientista, uma história| Episódio 12:
César Lattes.
✓ Tempo para os aprendizes responderem às questões iniciais
da atividade Primeiro Encontro (APÊNDICE A).
✓ Discussão sobre as questões iniciais.
✓ Leitura compartilhada do texto 1: Como explicar a estabilidade
nuclear?, contido na atividade Primeiro Encontro (APÊNDICE A).
✓ Tempo reservado para os aprendizes responderem à
avaliação dos conhecimentos prévios (problematização inicial
e o questionário inicial) da atividade Primeiro Encontro
(APÊNDICE A).
2º encontro
✓ Tempo para os aprendizes discutirem, oralmente, sobre a
problematização inicial da atividade Segundo Encontro
(APÊNDICE B), com o professor mediando a discussão, sem
fornecer as respostas.
✓ Discussão sobre sistema ligado, utilizando, como exemplo, o
caso gravitacional.
✓ Tempo para os aprendizes responderem novamente à
problematização final da atividade Segundo Encontro
(APÊNDICE B).
2ª aula 3º encontro
✓ Leitura da problematização inicial.
145
Dois encontros
de 50 minutos
✓ Reservar um tempo para os estudantes responderem a
problematização inicial.
✓ Socialização das respostas da problematização inicial com a
turma.
✓ Discussão sobre a relação massa-energia e energia de
ligação.
4º encontro
✓ Leitura mediada da problematização inicial.
✓ Reservar um tempo para os estudantes responderem a
problematização.
✓ Exibição do vídeo 2: The Standard Model Explains Force
(trecho de 2:28 até 3:00).
✓ Leitura de texto: Seguindo um modelo de interação
(APÊNDICE D).
✓ Discussão sobre o conceito de interação e interação forte
✓ Entrega do material Atividade Quinto e Sexto Encontros
(APÊNDICE E) e do artigo Lattes: Nosso Herói da Era Nuclear
(ANEXO A), para leitura prévia, em casa.
3ª aula
Dois encontros
de 50 minutos
5º encontro
✓ As questões do material Atividade Quinto e Sexto Encontros
(APÊNDICE E) são as problematizações iniciais desse
encontro.
✓ Discussão sobre o trabalho de César Lattes, as duas
detecções do méson π; a controvérsia dos mésons.
✓ Exibição do vídeo 3: Cientistas Brasileiros: César Lattes e
José Leite Lopes para auxiliar nas discussões. Os trechos
utilizados: 19:49 até 20:36 e 20:42 até 21:23. Duração: 54min
59s.
6º encontro
✓ Avaliação final da sequência didática.
Fonte: Elaboração do autor.
146
1 PROPOSTA DIDÁTICA: PRIMEIRO ENCONTRO
Para iniciar esse encontro, o professor pode perguntar ao grupo se eles sabem
o que é o curriculum Lattes e, em sendo negativa a resposta do grupo, o docente pode
solicitar que alguém pesquise o significado na internet e transmita para o grupo. Outra
opção é o professor dizer o significado dessa expressão, que é um banco de dados
onde são registradas detalhadamente as informações referentes à carreira acadêmica
de estudantes e pesquisadores no Brasil.
De uma maneira ou da outra, o passo seguinte para despertar a curiosidade é
perguntar para o grupo por que o nome dessa plataforma se chama Lattes.
Possivelmente, o grupo não saberá o motivo da nomeação e, então, esse fato será
utilizado como disparador para exibição do vídeo 1: Um cientista, uma história|
Episódio 12: César Lattes12, com duração de 4min 54s.
A curiosidade do grupo pode e deve ser estimulada novamente, motivando os
estudantes em relação aos temas que serão abordados nas aulas seguintes. Para
tanto, propõe-se que eles discutam oralmente, após assistirem ao vídeo, as
problematizações abaixo:
1.1 QUESTÕES INICIAIS
1. Por que Lattes utilizou chapas fotográficas especiais (emulsões nucleares)
para detectar os traços das partículas subatômicas?
2. No vídeo 1, há a afirmação de que Lattes combinou com um italiano e um
inglês um experimento que consistia em escalar montanhas para detectar
partículas subatômicas produzidas no choque dos raios cósmicos com átomos
existentes na atmosfera. Mas por que Lattes queria detectar partículas
subatômicas? Por qual razão ele decidiu escalar montanhas?
12 Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=FZGg13bQH0c.
147
3. O que é o méson π citado no vídeo 1? Qual função ele desempenha no núcleo
atômico?
4. Lattes ficou famoso por ter detectado o méson π, mas quem sugeriu a
existência dessa partícula?
Nesse contexto, o professor deve assumir a postura de mediador e instigador da
discussão, ouvir e registrar no quadro a resposta consensual do grupo para cada
resposta, mas não deve fornecer as respostas. Posteriormente, essas perguntas podem
ser propostas novamente para o grupo, que deve respondê-las de outra forma.
A etapa seguinte, após a discussão do vídeo 1, é a leitura compartilhada do texto
1: Como explicar a estabilidade nuclear? (APÊNDICE A). Antes da leitura, a turma
deve ser separada em duplas e será distribuída para cada aluno uma cópia da
Atividade Primeiro Encontro (APÊNDICE A). Esse texto objetiva chamar a atenção
dos alunos para o problema da estabilidade do núcleo atômico, que não havia sido
resolvido pela ciência até o início da década de trinta, uma vez que as interações
conhecidas não eram suficientes para explicar esse fato. Por meio dessa leitura,
pretendemos que os aprendizes percebam que a detecção do méson π foi o final de
uma história que teve início em 1935.
Após a leitura, cada dupla deve responder, por escrito, a problematização inicial
sobre a estabilidade nuclear e o questionário inicial, que estão logo após o texto 1:
Como explicar a estabilidade nuclear? (APÊNDICE A). Esse conjunto de questões é
utilizado para o levantamento dos conhecimentos prévios dos estudantes. Entretanto,
destacamos que cada aluno da dupla deve responder individualmente à atividade,
ainda que a discussão seja conjunta, visto que as duplas constituem o primeiro núcleo
de discussão para os aprendizes sobre o tema abordado.
O professor deve mediar a execução dessa atividade sem fornecer as respostas
e fomentar, a partir da estruturação delas por escrito, para que sejam discutidas no
grande grupo. Esse momento servirá para o professor verificar se o grupo possui os
conhecimentos prévios, tais como interação, energia de ligação, equivalência massa-
energia e potencial, os quais são necessários à aprendizagem do conceito de
interação forte e de partícula mediadora, que constituem o foco principal da presente
unidade de ensino.
148
O méson π, por sua vez, será apresentado nessa sequência de ensino como
sendo a partícula mediadora da interação forte, portanto, a discussão será
diferenciada em relação ao que, de modo geral, ocorre no Ensino Médio. Nesse nível
de ensino, as interações normalmente são citadas e identificam-se os fenômenos aos
quais estão relacionadas. Não é comum, nesse nível de ensino, tratar as interações
como troca de partículas mediadoras, por isso espera-se que aprendizes não
possuam os conceitos de partícula mediadora e interação, como desejado para essa
abordagem.
Com relação aos conceitos de energia de ligação, equivalência massa-energia
e potencial, os aprendizes podem apresentar noções preliminares fornecidas nas
séries anteriores, nas disciplinas de física e química. Assim, diante desse quadro, é
provável que as duplas deixem em branco a maioria das questões e/ou forneçam
respostas incompletas a algumas delas.
1.1.1 Texto 1: Como Explicar a Estabilidade Nuclear?
O méson π (hoje conhecido como píon) é uma partícula que foi proposta, em
1935, pelo japonês Yukawa (1907-1981) e detectado pelo brasileiro Lattes (1924-
2005) duas vezes. A primeira detecção de mésons π, oriundos dos raios cósmicos, foi
em 1947, no monte Chacaltaya (5000m de altitude) na Bolívia. Em 1948, ocorreu a
segunda detecção de píons, produzidos artificialmente no acelerador de partículas
sincro-ciclotron da Universidade da Califórnia, envolvendo a cooperação de Lattes
com Eugene Gardner (1901-1986), em Berkeley, nos Estados Unidos da América.
Mas o píon foi proposto pelo japonês para quê? Após mais algumas linhas, você vai
entender o problema enfrentado por Yukawa e por vários outros cientistas da época,
que o conduziu ao píon.
O núcleo do átomo é um caroço de matéria duro, dez mil vezes menor do que o
átomo, que teve sua existência comprovada experimentalmente, em 1909, por Ernest
Rutherford (1871-1937). Em 1932, James Chadwick descobre os nêutrons que
passam a compor o núcleo atômico juntamente com os prótons. Os prótons possuem
carga elétrica positiva e se repelem. Os nêutrons não possuem carga elétrica, portanto
não podem se atrair eletricamente para equilibrar a repulsão dos prótons.Então,
149
devido à força de repulsão os prótons se afastariam e núcleo não existiria. Mas
Rutherford mostrou que o caroço duro existe! E agora?!
A interação eletromagnética não serviu para explicar a existência do núcleo
atômico. Será que a interação gravitacional daria conta de explicar a existência desse
caroço duro? Vejamos, a massa de repouso de um próton é mp= 1,672085×10-27 kg e
a massa do nêutron mn=1,674376×10-27 kg. Elas são massas extremamente
pequenas. A interação gravitacional é uma atração entre massas e como os núcleons
possuem massa, eles se atraem. Então, essa atração poderia contrabalancear a
repulsão entre os prótons e a existência do núcleo atômico estaria explicada, certo?
Certo. Mas essa história não acaba assim!
O efeito da interação gravitacional é significativo quando, pelo menos uma das
massas, envolvidas na interação, é grande. Por exemplo, a queda de um lápis
abandonado de nossa mão é justificada devido à interação gravitacional dele com o
planeta Terra. O efeito dessa interação é percebido porque a massa do nosso planeta
é grande, mesmo sendo reduzida a massa do outro corpo (o lápis). Então, como as
massas dos núcleons são muito pequenas, a interação gravitacional não tem
intensidade suficiente para superar a força de repulsão entre os prótons e mantê-los
unidos aos nêutrons, formando o núcleo atômico. Essa interação também não serve
para explicar a existência do núcleo.
A interação entre prótons e nêutrons no núcleo atômico não é como um abraço
entre duas pessoas. Entretanto, utilizando a cena de um abraço, podemos compreender
mais as interações no núcleo. Então, imagine essa cena entre duas pessoas. Existem
aquelas que não gostam de abraço e tentam afastar quem ameaça abraçá-las, e, nesse
caso, se essa atitude prevalecer, o abraço não acontece. A atitude de afastar o outro é
semelhante à repulsão que acontece entre dois prótons.
No núcleo atômico, todavia, os núcleons são mantidos unidos independentemente
da repulsão entre os prótons. Isso significa que deve existir entre eles uma interação
atrativa, que supera a repulsão coulombiana. Comparando com a cena de um abraço, a
interação entre dois prótons no núcleo seria semelhante ao encontro entre uma pessoa
que gosta muito de abraçar e outra que detesta abraço. A interação atrativa é
representada pela primeira pessoa e a interação repulsiva pela segunda. O abraço
acontece porque aquela que gosta de abraçar agarra a outra com a maior intensidade
possível e supera a tentativa de afastamento.
150
Do mesmo modo, um abraço só pode ocorrer quando a distância entre as
pessoas é, no mínimo, igual ao comprimento dos braços de uma delas. Então, nessa
perspectiva, a distância entre os núcleons é um fator importante para que eles fiquem
grudadinhos no núcleo? E as interações entre dois nêutrons e entre um nêutron e um
próton, como seriam explicadas utilizando a analogia do abraço? Qual é a interação
atrativa, equivalente à força da pessoa que gosta de abraçar, necessária para manter
os núcleons unidos? A interação gravitacional não serve como candidata para esse
posto. Vê-se que nenhuma das interações mencionadas, a gravitacional e a
eletromagnética, justifica a existência de núcleos atômicos estáveis, ou seja, núcleos
nos quais prótons e nêutrons se mantêm unidos formando um caroço duro e coeso,
mesmo havendo a repulsão elétrica entre os prótons.
Nesse caso, a interação entre duas pessoas em um abraço é simples de ser
explicada, pois se utiliza a força muscular. Acontece que núcleos estáveis, tais como
o Deutério, o Hélio-3, o Hélio-4 e o Ferro-56, existem na natureza, mas a ciência não
tinha explicação para esse fato. Em outras palavras, a interação necessária para
manter o núcleo atômico coeso não era conhecida, todavia os núcleos existiam.
Entendeu o problema que o japonês tentava resolver?
1.1.2 Problematização inicial
O Hélio-3 e o Hélio-4 são átomos que possuem núcleos estáveis, ou seja, seus
núcleos possuem prótons e os nêutrons firmemente ligados de alguma maneira,
apesar da força de repulsão entre os prótons, o que tende a desfazer o núcleo. Dessa
forma, esses núcleos não se desintegram e se apresentam como caroços duros,
extremamente pequenos, considerando as dimensões atômicas, que contêm quase
toda a massa desses átomos. Como você explicaria, utilizando os seus
conhecimentos, essa união intensa entre prótons e nêutrons no núcleo atômico?
151
1.1.3 Questionário inicial
A análise do gráfico 1 pode contribuir para a construção de uma resposta da
problematização acima. Este gráfico mostra o comportamento da energia de ligação
por núcleon (E/A) em função da quantidade de núcleons (prótons e nêutrons)
presentes no núcleo dos elementos. Destacamos, nesse caso, que o gráfico
apresenta informações experimentais.
Gráfico 1 – Variação da energia de ligação por núcleon (E/A) em função da quantidade
de núcleons
Fonte: http://coral.ufsm.br/gef/Cadernos/FisiNuc.pdf
Informação importante para a análise do gráfico 1: o núcleo do Deutério ( H2
1 )
possui um próton e um nêutron; o Hélio-3 ( He3
2 ) possui no núcleo dois prótons e um
nêutron e o Hélio-4 ( He4
2 ) possui no núcleo dois prótons e dois nêutrons.
152
Observe-o com atenção e responda às perguntas que seguem:
1. Qual é o valor aproximado das energias de ligação do 2H, 3He e do 4He, em
Mev? Explique, com suas palavras, o que é energia de ligação.
2. Os prótons e os nêutrons são tratados como núcleons. No texto 1: Como
Explicar a Estabilidade Nuclear? (APÊNDICE A), essa nomenclatura é
utilizada, como se eles não fossem distintos. O que você entende sobre isso?
3. Verifique no gráfico 1 que ocorre um grande aumento da energia de ligação
do Hélio-4 e do Hélio-3 em relação ao Deutério. Como você entende esse
aumento?
4. Os cientistas buscavam uma explicação para a estabilidade do núcleo
atômico, o gráfico 1 mostra os valores da energia de ligação por núcleon de
alguns elementos químicos. Você consegue estabelecer alguma relação entre
energia de ligação e a estabilidade nuclear? Com base na sua relação, qual é
o elemento mais estável mostrado no gráfico 1?
5. Observe, atentamente, no gráfico 1, que os valores das energias de ligação
aumentam junto com a quantidade de núcleons até as proximidades do
número de massa (A) igual a 60. Vê-se que, a partir desse valor (A=60), a
curva sofre uma suave queda, indicando um decréscimo do valor da energia
de ligação daí em diante. Você tem alguma ideia que possa explicar esse
fato? Será que esse fato está relacionado à característica de uma possível
interação desconhecida?
6. No texto 1: Como Explicar a Estabilidade Nuclear? (APÊNDICE A), há a
afirmativa de que as interações eletromagnética e gravitacional não
conseguem justificar a estabilidade nuclear. No entanto, o gráfico 1 mostra
alguns elementos que possuem núcleos estáveis e entre eles o Deutério.
Então, o que mantém um próton ligado com um nêutron no núcleo do
Deutério?
7. Um átomo é um sistema ligado. O que você entende sobre essa afirmação?
8. Na Física de Partículas e em outras áreas da Física, a palavra interação é
utilizada com muita frequência. Nesse contexto, o que significa interação para
você?
153
2 SEGUNDO ENCONTRO: ENERGIA POTENCIAL E INTERAÇÃO
GRAVITACIONAL (SISTEMA LIGADO)
O foco dessa aula é a interação gravitacional, que será utilizada para uma
analogia com a interação nuclear forte, o que deve corroborar para a melhor
compreensão dos trabalhos de Yukawa e Lattes. Nessa perspectiva, o movimento
ascendente de um corpo, sujeito apenas à interação gravitacional, será analisado
através da conservação da energia mecânica. Assim, o objetivo desse estudo é que
o aprendiz compreenda a relação entre a interação gravitacional e a variação da
energia potencial, visto que acreditamos que isso contribua para que o aprendiz
entenda interação como uma troca de energia entre os corpos que interagem.
O conceito de sistema ligado também será apresentado nesse encontro com o
objetivo de se fazer uma analogia com energia de ligação. O sistema estudado aqui é um
caso da interação gravitacional, sistema planeta-corpo, que possui energia mecânica
negativa, quando o corpo está na superfície do planeta, constituindo um exemplo de
sistema ligado por conta da atração gravitacional. A energia que une o sistema corpo-
planeta pode ser avaliada pela quantidade de energia cinética que deve ser fornecida ao
corpo para liberá-lo da atração gravitacional do planeta. Acreditamos que a compreensão
do conceito de sistema ligado contribua para que o aprendiz entenda o conceito de
energia de ligação, que é a energia necessária manter os núcleons unidos e pode ser
medida através da quantidade de energia fornecida para separá-los.
A aula será dialogada, estando a turma organizada em duplas desde início.
Primeiramente, serão exibidas, no projetor multimídia, duas simulações para a
turma13. A primeira mostra o retorno de um corpo lançado da superfície do planeta; já
a segunda, por sua vez, apresenta a condição para que um corpo escape da atração
gravitacional do planeta. Em seguida, o professor deve solicitar que os alunos
discutam as perguntas abaixo, as quais podem ser exibidas no projetor multimídia.
13 Gravity_veloity1 e gravity_veloity2, disponíveis para download em: <http://www.animations.physics.unsw.edu.au/mechanics/chapter11_gravity.html>.
154
2.1 PROBLEMATIZAÇÃO INICIAL
Aqui em nosso planeta, quando lançamos uma bola para cima, ela sobe poucos
metros e retorna para a nossa mão. Parece que existe algo que prende a bola ao nosso
planeta. Isso acontece com outros objetos que são atirados para alto. A primeira
simulação mostra-nos algo semelhante. Entretanto, a segunda simulação mostra o
corpo escapando para o espaço. Você tem alguma ideia para explicar o primeiro e o
segundo caso? Quanta energia deve ser fornecida para um corpo a fim de que ele não
retorne para a Terra, como mostrado na segunda simulação? Nesse caso, para
solucionar, considere a terra em repouso e despreze as perdas de energia.
Possivelmente, a resposta dada pelos estudantes para a primeira pergunta será
que a bola retorna por que a gravidade a puxa para baixo. Assim, em continuidade,
após a provocação inicial com as perguntas, o professor iniciará a aula dialogada
sugerida a seguir.
Sugestão de fala para o professor: Turma, faremos uma análise da situação de
um corpo sendo lançado para cima a partir do nosso planeta, como mostra as
simulações, e, por esse motivo, utilizarei a palavra corpo no lugar de bola. O caso
particular da bola será retomado no final. Então, vamos adiante. A interação
gravitacional é uma força de atração entre duas massas. Foi Isaac quem determinou
a lei de força que mostra como essa interação acontece. Segundo Newton, a
intensidade da atração entre essas massas é inversamente proporcional ao quadrado
das distâncias, que separa os seus centros, e diretamente proporcional ao produto de
suas massas. Essa lei pode ser escrita matematicamente assim:
2
.
r
MmGF
Nessa expressão, m e M correspondem aos valores das massas do corpo e da
Terra, respectivamente; r é a distância entre os centros de massas, que pode ser
medida assim, já que, nesse exemplo, são consideradas esféricas e homogêneas e
G=6,67×10-11 N.m2/kg2 é a constante da gravitação universal. Para analisar a situação
155
de um corpo que foi lançado para cima, vamos considerar apenas a variação da
distância r, uma vez que as massas da Terra e do corpo não mudam de valor. Então,
analisando essa expressão, vê-se que enquanto o corpo sobe, a distância r aumenta
e isso provoca a diminuição da intensidade da atração entre eles (Terra e corpo).
Nesse contexto, a expressão da Lei da Gravitação Universal e as figuras
(FIGURA 1) que representam o corpo sendo lançado para cima devem ser colocadas
no quadro branco para facilitar que os aprendizes acompanhem a fala do professor,
como mostra a figura 1.
Figura 1 – Variação da intensidade da força com a distância
Fonte: O autor.
Sugestão de fala para o professor: Turma, na expressão da Lei da Gravitação
Universal, se passarmos a massa m para o outro lado, conseguimos a expressão para
calcular o valor do campo gravitacional (FIGURA 2), que vocês normalmente chamam
de aceleração da gravidade. Vejam como fica:
156
Figura 2 – Expressão do módulo do campo gravitacional para pontos externos do
planeta
Fonte: O autor.
Percebam que o valor do campo gravitacional não depende da massa m do
corpo, isso significa que esse campo gravitacional é produzido apenas pela massa da
Terra, por isso ele é uma grandeza física associada à massa do nosso planeta. Sendo
uma propriedade da massa, o corpo também produz campo gravitacional, mas esse
é muito pequeno se comparado com o da Terra. Nessa expressão, a distância r é
medida do centro da Terra até o ponto externo, onde se deseja calcular o valor do
campo gravitacional.
Após mostrar a expressão para o cálculo do campo gravitacional, o professor
deve provocar a turma perguntando a que distância do centro da Terra o valor do
campo gravitacional é nulo. Essa pergunta é importante porque promove a discussão
e a participação da turma na aula. O professor, como mediador, deve aproveitar esse
momento para induzir a ideia de que, para distâncias muito grandes, o campo
gravitacional do nosso planeta é praticamente nulo. Isso significa que, para essas
distâncias, nosso planeta não interage mais com outros corpos. Portanto, para esses
comprimentos, os corpos ficam livres da ação do planeta Terra sobre eles, ou seja,
escapam do campo gravitacional da Terra.
Sugestão de fala para o professor: Turma, a energia armazenada entre corpos
que interagem é conhecida como energia potencial. Nesse momento, estamos
analisando a interação entre a bola e o nosso planeta. Para esse exemplo (FIGURA
3), que se trata de uma interação gravitacional, a expressão da energia potencial é
r M
Ponto externo
157
Ep= m.g.h. Nessa expressão, m é a massa da bola, g é o valor do campo gravitacional
da Terra e h é a distância do centro da Terra até a bola. Lembrem que, anteriormente,
utilizamos a letra r para representá-la.
Figura 3 – Valor do campo gravitacional para pontos muito afastados
Fonte: O autor.
Vamos substituir a expressão do campo gravitacional mostrada anteriormente
nessa expressão da energia potencial. Em seguida, analisaremos a expressão
resultante para verificar o que ela nos mostra. Como dito antes, considere h=r e
vejamos o resultado:
Observem que, na expressão, aparecem as duas massas, m e M, indicando que
a energia potencial é do sistema, formado por essas massas, que interage. Outra
informação que pode ser retirada dessa expressão é que, para distâncias muito
grandes, a energia potencial desse sistema, como ocorreu com g, torna-se
aproximadamente nula (Ep=0). Atentem para um detalhe importante, em pontos
r
M
Ponto muito afastado, onde g
é aproximadamente zero
r
MmGE
rr
MGmE
r
MGg
rgmE
p
p
p
..
..
..
2
2
158
muitos afastados da Terra, vimos que 𝑔 ≈ 0 e a expressão da energia potencial nos
informam que essa energia também é nula nesse local.
Dessa forma, isso indica que, na região na qual a bola ou qualquer corpo fica
livre da ação do nosso planeta (não interage com nosso planeta), a energia potencial
é zero. Turma, de acordo com a análise realizada até aqui, parece que, enquanto o
corpo se afasta do nosso planeta, a atração e a energia potencial tendem para zero,
vocês concordam com essa afirmação? Então, a interação gravitacional e a energia
potencial estão diminuindo, será que é isso mesmo pessoal?
As perguntas no final da exposição do professor são para motivar a participação
do grupo. A primeira pergunta deve ter adesão da maioria do grupo, caso contrário é
importante fazer uma retomada de poucos minutos para assegurar que o grupo
compreenda a variação da interação gravitacional e da energia potencial gravitacional
com a distância. Essa compreensão é fundamental para o próximo passo. A segunda
pergunta deve produzir dúvidas no grupo e gerar discussão na turma, pois alguns
aprendizes podem afirmar que, se o valor está indo para zero, está diminuindo. O
professor deve responder para o grupo que essa dúvida será esclarecida mais
adiante.
O clima de suspense gerado pela dúvida em aberto é propício para o professor
iniciar a análise da situação do corpo lançado a partir da superfície do nosso planeta,
utilizando a Lei da Conservação da Energia Mecânica. Essa é a última etapa do
encontro que busca mostrar para o grupo que a energia mecânica do corpo na
superfície da Terra é negativa, ou seja, o sistema Terra-corpo é ligado. Nesse caso,
para arrancar o corpo da influência gravitacional da Terra temos que fornecer energia
para ele. É através do conceito de sistema ligado que faremos a analogia entre o
sistema gravitacional e o sistema nuclear.
O docente, nesse momento da aula, deve ressaltar que o referencial zero para
a medida da distância foi adotado no centro do nosso planeta e, nesse caso, isso é
possível porque, nesse exemplo, os corpos são tratados como esféricos e
homogêneos e suas massas se comportam como se estivessem concentradas nos
seus centros. Além disso, o educador deve escrever as expressões das energias
mecânica e cinética no quadro e revisar para o grupo o significado de cada uma delas.
Essas observações devem ser feitas enquanto o professor faz representação da
159
situação que será analisada no quadro, como mostra a figura 4. Concluída a revisão
dos tópicos essenciais, é chegado o momento de iniciar a análise do movimento do
corpo a partir do lançamento. O professor deve começar essa etapa pela Lei de
Conservação da Energia Mecânica.
Figura 4 – Representação do sistema antes do lançamento
Fonte: O autor.
Sugestão de Fala para o professor: Turma, para simplificar ainda mais o nosso
estudo, vamos considerar que não existe atrito atuando em nosso sistema. A
consequência imediata dessa condição especial é que nesse sistema não ocorrerá
perda da energia mecânica. Isso quer dizer que, se a energia cinética do corpo
aumentar, a energia potencial gravitacional dele deve diminuir. Então, a energia
cinética apenas pode se transformar em energia potencial e vice-versa. Dessa
maneira, a energia mecânica do corpo, que é soma das energias cinética e potencial,
permanece sempre com o mesmo valor (Emi=Emf). O fato do valor da energia
mecânica ser negativa nos possibilita executar a comparação entre as posições
sucessivas ocupadas pelo corpo durante o movimento, sempre duas a duas. Vamos
ver como isso funciona! Para iniciar o movimento de subida, o corpo deve possuir
velocidade inicial não nula, isso significa que ele tem que receber energia cinética.
Logo, a energia mecânica inicial desse corpo, na posição A, será igual à soma das
160
energias cinética e potencial. Antes do lançamento, a energia mecânica era apenas a
potencial.
O professor, durante seu discurso, deve iniciar a construção de outra
representação no quadro, incluindo nesta a primeira observação em relação à energia
mecânica inicial do corpo a expressão Emi=Emf, como mostra a figura 5.
Figura 5 – Condição do sistema antes do lançamento
Fonte: O autor.
Sugestão de Fala para o professor: Turma, durante a subida, o que acontece
com os valores da velocidade e distância r do corpo em relação ao centro da Terra?
Provavelmente, a turma dirá que a distância r aumenta e que o valor da
velocidade diminui.
Sugestão de Fala para o professor: Então, de acordo com o que vocês estão
afirmando, o valor da energia cinética deve diminuir. E quanto ao valor da energia
potencial, que é inversamente proporcional à distância?
Existem duas possibilidades nesse caso. Uma parte do grupo pode afirmar que,
se a energia cinética está diminuindo, a energia potencial deve aumentar. A outra
parte, fazendo a análise da expressão da energia potencial, pode afirmar que, se a
distância aumenta, a energia potencial deve diminuir. O professor deve concordar com
os dois grupos, se existirem. Isso vai provocar aquele clima de suspense e prender a
atenção do grupo.
R
M
0
No instante do lançamento a energia
mecânica é Emi = Ec + Ep(EC=0)
A
Emi=Emf
A energia mecânica
tem valor constante
em sistemas sem
atrito.
161
Sugestão de Fala para o professor: A Lei da Conservação da Energia Mecânica
é uma parte da Lei da Conservação da Energia, que é mais ampla e nunca foi
quebrada. O que quero dizer com isso é que temos que preservar essa lei em nossa
análise. Sabemos que, enquanto a distância r aumenta, o valor da energia potencial
diminui, se tornando praticamente zero para r muito grande, e isso é verdade. Também
sabemos que, em sistemas sem atritos, quando o valor da energia cinética diminui, o
valor da energia potencial tem que aumentar para manter a soma constante, que é o
valor da energia mecânica. Isso também é verdade. Então, teremos que conciliar
essas duas verdades.
O professor deve representar a subida do corpo no quadro e registrar nele as
observações importantes, complementando as informações como mostra a figura 6.
Figura 6– Evolução do sistema até o ponto onde g é aproximadamente zero
Fonte: O autor.
Sugestão de fala para o professor: Vimos que, segundo a Lei da conservação da
Energia Mecânica, a energia potencial do corpo deve aumentar. Observem que o valor
dessa energia está indo para zero à medida que o corpo se afasta do planeta. Uma
grandeza pode aumentar indo para zero? Claro que sim. Basta, para isso, que o valor
dessa grandeza seja negativo. Segundo a matemática, quanto mais próximo de zero
um número negativo estiver, maior ele será em relação ao seu antecessor. Então, temos
No instante do lançamento a energia
mecânica é Emi = Ec + Ep
Nessa posição (E) o valor da
energia potencial é zero, pois r é
muito grande (infinito)
R
M
0
A
B
E
r=R
C D
Quando a energia cinética diminui a energia
potencial aumenta, de acordo com a Lei da
conservação da energia Mecânica
A energia mecânica
tem valor constante
em sistemas sem
atrito.
Emi=Emf
162
que colocar na expressão da energia potencial um sinal negativo. Fazendo isso,
conseguiremos conciliar as duas verdades que pareciam inconsistentes. Não é mágica,
é a Física conversando com a matemática. Vamos colocar no quadro a expressão da
energia potencial com o sinal corrigido.
r
MmGEP
.
Após escrever a expressão da energia potencial no quadro, o professor deve
analisar a posição E, que corresponde à distância r muito grande (tendendo a infinito).
Sabemos que, nessa posição, o corpo possui energia potencial zero. Na análise, o
professor deve considerar duas hipóteses, quais sejam, o corpo pode atingir a posição
E com velocidade nula ou com velocidade não nula. Dessa maneira, a energia
mecânica do corpo nessa posição pode ser zero ou diferente de zero,
respectivamente. A primeira hipótese é a que responde à problematização inicial
dessa aula. Aproveitando a representação feita no quadro, ele pode fazer uma análise,
como sugerido nas próximas linhas.
Sugestão de fala para o professor: Antes do lançamento, o corpo em repouso
possui apenas energia potencial negativa, correspondente à distância r = R (posição
A). No instante do lançamento, o corpo recebe energia cinética e começa a subir.
Nesse percurso, a energia cinética vai diminuindo e se transformando em energia
potencial (devido ao trabalho da força gravitacional – comentário opcional). Seguindo
esse raciocínio, percebemos que, enquanto o corpo se afasta do planeta, a velocidade
dele vai diminuindo e a distância r aumentando. Se esse corpo se afastar muito do
planeta (r tendendo para infinito), a interação gravitacional se anula, como visto antes.
Como se sabe, a energia potencial depende inversamente da distância r e a interação
gravitacional depende do inverso do quadrado de r, portanto, a posição na qual a
interação se anula é a mesma onde a energia potencial gravitacional zera. É nessa
posição que o corpo tem a possibilidade de escapar para o espaço.
A condição mínima para um corpo escapar da interação gravitacional de um
planeta é possuir energia mecânica nula no instante do lançamento. Entretanto, é o
valor da energia cinética recebida, nesse instante, que determina se o corpo escapa
163
ou não. Se o valor da energia cinética recebida for igual ao valor da energia potencial
negativa na posição A (perceba -8+8=0), a energia mecânica do corpo nessa posição
A será nula, no instante do lançamento. Nesse caso, o corpo alcançará a posição E,
também, com energia mecânica zero, conforme a Lei de Conservação da energia
Mecânica. Isso acontece porque durante a subida toda a energia cinética recebida
será transformada em energia potencial. Por isso, esse corpo chega à posição E com
energia cinética e energia potencial zero. Como dito anteriormente, a posição na qual
o corpo tem a possibilidade de escapar para o espaço é aquela em que a interação
gravitacional e a energia potencial se anulam. Nesse caso, esta posição é a E.
O corpo não escapa da interação gravitacional se o valor da energia cinética
fornecida, no instante do lançamento, for menor do que o valor da energia potencial
negativa na posição A (observe, -8+4). Pois, nesse caso, a energia mecânica do corpo
será negativa e a condição mínima para que o escape aconteça é que o valor da
mecânica seja zero no instante do lançamento. Na Física, os sistemas que possuem
energia mecânica negativa (Em<0) são conhecidos como sistemas ligados. O sistema
planeta-corpo é um sistema ligado, por isso se deve fornecer energia para separá-los.
Se a energia cinética fornecida não for suficiente, a separação não acontece. Agora,
vocês possuem mais informações para formular uma resposta para a problematização
inicial.
Nesse contexto, o professor deve reservar um tempo para os aprendizes
responderem novamente por escrito à problematização inicial. Caso isso não seja
possível, a resposta por escrito pode ser proposta como tarefa de casa, que deve ser
entregue na aula seguinte. Essas respostas servirão como parâmetro para avaliar o
nível de entendimento dos conceitos trabalhados nessa aula e que serão utilizados
para a analogia com o caso da interação nuclear forte.
Para reforçar a relação entre a variação da energia potencial e a interação
gravitacional, o professor pode utilizar o gráfico 2, seja desenhando no quadro ou
projetando. No gráfico 2, tanto a energia potencial quanto a força aparecem com sinais
negativos. O docente pode justificar o sinal da energia dizendo que o sistema é ligado,
como foi explicado na discussão realizada no decorrer da aula. No entanto, para que
o sistema seja desse tipo, pressupõe-se que a interação é atrativa, por isso o sinal da
força no gráfico 2 também aparece negativo. Destacamos que, nesse caso, o sinal é
o mesmo, mas o significado é diferente.
164
Gráfico 2 – Variação da interação gravitacional e da energia potencial em função da
distância
Fonte: http://educativa.catedu.es/44700165/aula/archivos/repositorio/3000/3225/html
/31_energa_potencial_gravitatoria.html.
Após justificar os sinais, o professor pode, com o dedo, acompanhar a curva do
gráfico da energia e mostrar a região na qual os valores da energia potencial tendem
para o zero. Como esses valores são negativos e estão se aproximando do zero, isso
indica que essa energia está aumentando. Em seguida, ele deve apontar para o
gráfico da força e mostrar que, na mesma região, a força está diminuindo.
A interação gravitacional é função da posição, portanto, ela pode ser definida como
o oposto da derivada da energia potencial em relação à posição: F= - dU (x) /dx. Dessa
maneira, fica simples compreender os sinais, pois, na região em que a derivada for
positiva (indicando que a energia potencial aumenta), a força será negativa, significando
que ela é de atração. Entretanto, essa linguagem não é adequada para o Ensino Médio.
Por isso, fizemos a opção pela justificativa acima.
165
3 TERCEIRO ENCONTRO: EQUIVALÊNCIA MASSA-ENERGIA
Esse encontro destina-se a apresentar o conceito de energia de ligação, que é
o valor de energia que deve ser fornecida ao núcleo do átomo, para separá-lo em seus
constituintes, e a relação massa-energia. A definição da energia de ligação será
fornecida, primeiramente, no enunciado da problematização inicial. A relação massa-
energia, por sua vez, será apresentada ao longo da discussão das respostas dos
exercícios auxiliares, que serão utilizados para construir a ideia de uma nova
interação, necessária para explicar a estabilidade do núcleo atômico. Para auxiliar
essa construção, será feita uma analogia com o caso gravitacional.
A turma receberá uma cópia do material para essa aula, contendo a
problematização e os exercícios auxiliares. O grupo deve ser arrumado em duplas
pelos motivos já explicados anteriormente. A aula terá início com a leitura da
problematização inicial mediada pelo professor. Após a leitura, as duplas terão cinco
minutos para responderem à problematização por escrito. Ao final desse tempo, será
feita a socialização das respostas no grupo. O docente fará a mediação dessa
discussão, realizada com base nas respostas, como sugerido a seguir.
Esperamos que uma parte da turma, ou, até mesmo, todos, responda que o núcleo
atômico é um sistema ligado. O professor deve explorar essa resposta para desencadear
a ideia da necessidade de uma nova interação e, com isso, a busca de uma expressão
para a energia potencial. Acompanhe, conosco, como se dá esse processo.
Sugestão de Fala para o professor: Concordo com vocês, se temos que fornecer
energia para separar os núcleons, o núcleo é um sistema ligado. Os valores fornecidos
são experimentais, ou seja, foram medidos. Essa energia pode ser calculada como
feito no caso gravitacional? O que deveríamos conhecer para realizar essa conta?
Observem que a lei da interação é conhecida (Lei da Gravitação Universal) e a energia
potencial pode ser determinada sem maiores dificuldades. Sabe-se que o contrário é
verdade, que o conhecimento da energia potencial em função da posição pode ser
utilizado para determinar a lei de força da interação, em função da posição. Entretanto,
no caso da interação nuclear, não eram conhecidas nem a lei de força, nem a forma
da energia potencial.
166
Vamos para a segunda pergunta, uma resposta possível para essa pergunta é
que a origem da energia seja a massa dos núcleons. O professor pode eliminar essa
resposta pedindo que os alunos retornem ao texto 1: Como explicar a estabilidade
nuclear? para verificarem que a interação gravitacional não é responsável por essa
união. Outra resposta possível é que a origem da energia seja elétrica. O professor
pode intervir novamente, mencionando que o núcleo do Deutério possui um próton e
um nêutron e que esses não interagem eletricamente. Eliminando essas duas
interações, o docente pode fazer outra provocação.
Sugestão de Fala para o professor: Turma, as interações conhecidas não servem
para explicar a união dos núcleons. Entretanto, onde existe energia, existe interação
(força). Que interação é essa? Vocês percebem a dificuldade para justificar a união
desses caras? Vamos para a última pergunta.
Acreditamos que a última pergunta não seja respondida por nenhuma dupla. A
resposta seria: “através da troca de partículas mediadoras”, entretanto, nesse
momento da aula, essa resposta ainda não será fornecida. Em seguida, o professor
deve pedir que as duplas tentem responder às três primeiras questões auxiliares, que
são diretas e servirão para introduzir a relação massa-energia, sem aprofundar sua
discussão. Para tanto, após a correção das questões, o professor pode provocar o
grupo da seguinte forma:
Sugestão de Fala para o professor: Turma, a massa perdida foi para onde, se
transformou em alguma coisa?
Eles podem responder: “Sei não professor, sumiu”, “Para que saber isso?”. O
professor, então, fará uma breve exposição sobre a relação entre as grandezas massa
e energia.
Sugestão de Fala para o professor: Pessoal, a massa perdida se transformou
em energia e uma parte dessa energia fica armazenada na ligação dos núcleons. A
outra parte é perdida sob a forma de radiação eletromagnética. Observem que foi dito
que a massa se transformou em energia, isso quer dizer que, para uma certa
quantidade de massa, existe uma quantidade equivalente de energia. Entretanto, a
massa é uma grandeza física e a energia é outra grandeza física.
A equivalência entre a massa e a energia foi proposta por Einstein (1879-1955),
em 1905. Essa relação é representada matematicamente de acordo com a famosa
167
equação E=m.c2, na qual, E representa o valor a energia, m é o valor da massa e c é
o valor da velocidade da luz no vácuo. Observem que, nessa equação, a constante é
o termo c2, logo as variáveis são E e m. A razão E/m é igual a uma constante c2, então,
a massa e a energia são diretamente proporcionais.
Sabemos que, na matéria, prótons, nêutrons e elétrons não estão parados.
Apesar disso, vamos imaginar que um próton esteja em repouso. Nessa condição, a
energia de movimento dele (energia cinética) é nula, contudo, como esse próton
possui massa, existe nele uma reserva de energia E = mprótonc2. Então, turma, um
próton em repouso não possui energia total igual a zero.
Nesse sentido, destacamos que estamos estudando os acontecimentos
relacionados com a busca da explicação da estabilidade do núcleo atômico, a partir
do início da década de trinta, nesse período essa relação já era bem conhecida pelos
físicos.
Em seguida, o professor deve solicitar que os estudantes respondam às
questões de 4 até 6, por escrito. As respostas serão entregues ao professor que, em
seguida, deve discutir com o grupo cada questão. Terminada a discussão dessas
questões, o professor solicitará que as duplas respondam novamente à
problematização inicial.
3.1 PROBLEMATIZAÇÃO INICIAL
No primeiro encontro, foi perguntado se vocês sabiam o que era energia de ligação
e foi apresentado o gráfico 1, o qual informava valores experimentais da energia de
ligação por núcleon (E/A), que corresponde à razão entre valor da energia de ligação e
quantidade de prótons e nêutrons presentes no núcleo. Pois bem, energia de ligação é o
valor de energia necessário para manter os núcleons unidos formando o núcleo atômico.
Essa energia pode ser avaliada fornecendo-se energia ao sistema e verificando para qual
valor o núcleo atômico se desfaz. Então, podemos afirmar que o núcleo do átomo é um
sistema ligado, como o sistema gravitacional analisado na aula anterior? Como acontece
a interação que mantém os núcleons unidos?
168
3.2 EXERCÍCIOS AUXILIARES
A tabela 1 mostra informações relacionadas a alguns núcleos atômicos. As
questões que seguem necessitam dos dados fornecidos pela tabela 1 para serem
respondidas. Esses exercícios ajudam você a entender melhor a relação massa-
energia e o conceito de energia de ligação. Para tanto, você deve analisar
atentamente as informações contidas na tabela, antes de responder às questões.
Tabela 1 – Informações atômicas e nucleares de alguns elementos
Fonte: RANDALL, D. Knight. Física: Uma Abordagem Estratégica, v. 4, apêndice C,
[S.I.: s.n.], 2009.
Informações importantes: considere a unidade de massa atômica (u) =
1,6605×10-27kg; a velocidade da luz é c 3.108 m/s.
1. Qual é o valor, em quilogramas, das massas do próton e do nêutron
separados?
2. Qual é o valor, em quilogramas, da massa do Deutério?
3. Considerando que o Deutério é formado por um próton e um nêutron ligados,
calcule a variação de massa Δm= md - mnp, na qual md é a massa deutério e
169
mnp é soma das massas do próton e do nêutron. Ocorreu ganho ou perda de
massa?
4. A energia de ligação corresponde exatamente ao valor da energia equivalente
à massa que foi perdida na formação do deutério?
5. Considere um nêutron em movimento, oriundo da radiação cósmica, com
velocidade igual a 90% da velocidade da luz c. A energia total desse nêutron
corresponde apenas ao valor de sua energia cinética?
6. Encontre a razão E/A para o deutério e compare com o valor fornecido no
gráfico da primeira aula (GRÁFICO 1). Eles são próximos? Por que os valores
do gráfico 1 são positivos?
170
4 QUARTO ENCONTRO: YUKAWA-LATTES
Nos dois encontros anteriores, foram apresentados os conceitos de sistema
ligado, energia de ligação e a relação massa-energia, necessários para o
entendimento do conceito de interação como troca de energia. Contudo, na teoria
quântica de campos, as interações ocorrem através da troca de partículas
mediadoras, que são os quanta de energia trocada entre as partículas que interagem,
esse novo conceito será apresentado nessa aula.
Nesse encontro, será feita uma analogia entre a interação gravitacional
(particularmente a relação da energia potencial e interação gravitacional) e a nova
interação a nuclear forte. Pretendemos que, através dessa analogia, o aprendiz
consiga compreender a construção do modelo teórico para a interação nuclear forte,
que foi realizada primeiramente por Yukawa. Outra analogia a ser realizada será entre
a interação eletromagnética e a nuclear forte para introduzir o conceito de partícula
mediadora. Para tanto, utilizaremos um vídeo que mostra duas cargas elétricas
interagindo através da troca de partículas.
Na Física, existe um elo muito forte entre a Física teórica e a Física experimental,
uma retroalimenta a outra. O experimento valida o modelo teórico e vice-versa. Mas,
nem sempre foi assim. A busca pela partícula mediadora da interação nuclear forte,
que explicaria a estabilidade atômica, foi a responsável pela aproximação desses dois
ramos. Entre a proposta e a detecção da partícula mediadora foram doze anos. Nesse
ínterim, surgiu a importância do trabalho do físico experimental Lattes, o qual detectou
a partícula proposta pelo teórico Yukawa.
Enfatizar a importância da contribuição de Lattes é outro objetivo desse encontro
e o foco principal do quinto e sexto encontros. Nesse intuito, no final dessa aula, os
aprendizes receberão uma cópia da Atividade Quinto e Sexto Encontro (APÊNDICE
E) e do artigo Lattes: Nosso Herói da Era Nuclear (ANEXO A), com dez perguntas
abertas, que deverão ser respondidas em casa. O professor realizará com a turma a
discussão dessas respostas nos dois encontros seguintes.
171
4.1 PROBLEMATIZAÇÃO INICIAL
A energia de ligação é uma grandeza cujo valor nos possibilita avaliar a coesão
entre os núcleons, assim, quanto maior esse valor, mais intensa é a interação entre
eles. Entretanto, como foi visto, quando a quantidade de núcleons aumenta acima de
certo valor (A=60), ocorre um decréscimo no valor da energia de ligação, indicando
que a ligação entre prótons e nêutrons se torna mais frágil nessa faixa de valores de
A. Entender esse fato era um desafio para os físicos, que estava relacionado com
outro desafio, o de explicar a estabilidade do núcleo atômico.
Entender e explicar a interação entre os núcleons era essencial para
compreender a estabilidade nuclear e as variações do valor da energia de ligação.
Yukawa e Lattes, com contribuições diferentes, entre muitos cientistas que se
dedicaram a essa tarefa, se destacaram. Se você estivesse no lugar de Yukawa, como
você imaginaria que acontece a interação entre os núcleons? O alcance da interação
entre os núcleons extrapola as dimensões do núcleo? A ideia de Yukawa foi original
ou ele se baseou em outro modelo de interação existente na época?
Cada dupla receberá uma Atividade Quarto Encontro (APÊNDICE D) contendo
o texto 2: Seguindo um modelo de interação e a problematização inicial. Primeiro, será
feita a leitura da problematização inicial, mediada pelo professor, a fim de esclarecer
dúvidas sobre o texto. Posteriormente, será dado um tempo de dez minutos para que
as duplas tentem responder às perguntas da problematização, por escrito. O professor
deve estimular, através de dicas, que os aprendizes formulem hipóteses para a
interação e registrá-las.
Esperamos que, para a primeira pergunta, eles consigam idealizar a força
nuclear como uma força atrativa. A característica de curto alcance será menos
provável de surgir no grupo. O mesmo esperamos quanto ao conceito de interação
através da troca de mediadores. Então, após os dez minutos citados anteriormente, o
professor pode fornecer mais uma dica através da exibição, no projetor multimídia, do
vídeo 2: The Standard Model Explains Force And Matter14, trecho de 2:28 até 3:00.
Para este momento, apresentamos a sugestão a seguir.
14 Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=p5QXZ0__8VU.
172
Sugestão de Fala para o professor: Turma, vou mostrar para vocês um trecho
de um vídeo, bem curtinho. Se vocês prestarem bastante atenção nos detalhes sutis
das imagens desse vídeo, ele contribuirá para que vocês compreendam como as
partículas interagem.
Após a exibição do vídeo, o professor pode gerar discussão no grupo com
perguntas do tipo:
Sugestão de Fala para o professor: Pessoal, como uma partícula percebeu a
presença da outra? As partículas possuem cargas elétricas de mesmo sinal ou sinal
oposto? E agora, alguém tem condição de dizer como idealizaria a interação entre os
núcleons?
Esperamos que, pelo menos, uma parte do grupo responda que a interação
ocorre através da troca de partículas. Em seguida, o professor fará uma leitura
mediada do texto 2: Seguindo um modelo de interação (APÊNDICE D) com a turma.
Considerando a heterogeneidade do grupo, é possível que alguns aprendizes não
tenham conhecimento sobre o princípio de exclusão de Pauli. Nesse caso, o professor
pode esclarecer o que significa esse princípio da seguinte maneira:
Sugestão de Fala para o professor: Turma, o estudo das interações é feito
através de estatística, devido à grande quantidade de partículas que participam de
uma interação e à impossibilidade de localizar essas partículas. Para efetuar um
estudo dessa natureza, os físicos se norteiam nos princípios de Pauli-Dirac ou de
Bose-Einstein. O primeiro limita em duas a quantidade de partículas que ocupam o
mesmo nível de energia, já o segundo permite que mais partículas estejam no mesmo
nível de energia. As partículas que obedecem ao princípio de Pauli são conhecidas
como férmions e, por sua vez, aquelas que obedecem a Bose-Einstein são os bósons.
Por exemplo, turma, a partícula mediadora da interação nuclear, proposta por
Yukawa, é um bóson. Mas essa classificação das partículas é posterior ao trabalho
de Yukawa e não será abordada aqui.
Para explicar a característica de curto alcance da interação nuclear, o professor
deve recorrer ao gráfico 1, que fornece o valor da energia de ligação por núcleon (E/A)
em função do número de massa atômica (A) do primeiro encontro, o qual deve ser
desenhado ou projetado no quadro a fim de que os aprendizes acompanhem a
explicação. O docente deve retirar do gráfico 1 três exemplos de núcleos, quais sejam,
173
o ferro-56, o zinco-73 e o tálio-181, para montar no quadro branco um quadro
comparativo (QUADRO 2), como mostrado abaixo.
Quadro 2 – Quantidade de prótons e nêutrons de alguns núcleos atômicos
Nome Quant. de prótons
Quant. de nêutrons
Oxigênio-16 8 8
Ferro-56 26 30
Zinco-73 30 43
Tálio-181 81 100
Fonte: Elaboração do autor.
Com base no quadro 2, o professor pode explicar o curto alcance da seguinte forma:
Sugestão de Fala para o professor: Turma, entre os prótons ocorre que tipo de
interação eletromagnética atração ou repulsão?
Esperamos, nesse contexto, que os aprendizes respondam repulsão.
Sugestão de Fala para o professor: Imaginem que os prótons e nêutrons dos
núcleos estejam arrumados como nessas imagens projetadas (FIGURAS 7 E 8).
Figura 7 – Núcleo pequeno Figura 8 – Núcleo grande
Fonte: Fig. 7: http://pt.slideshare.net/arianabordolina/power-point-estrucura-atmica/5
Fig. 8: http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/quimica/a-descoberta-terceira-particula-subatomica-neutron.htm
174
Sugestão de fala do Professor: Observem que, no núcleo que contém quatro
núcleons, todos são vizinhos imediatos, ou seja, a distância entre eles é a mesma. No
núcleo maior, os núcleons não estão igualmente distanciados. Observem que a
distância entre o próton da esquerda e nêutron da direita corresponde ao diâmetro do
próton que está no centro da figura 7. A repulsão entre prótons possui grande alcance,
dessa maneira, no núcleo atômico, os prótons, afastados ou não, continuam se
repelindo. A interação nuclear deve equilibrar a repulsão para manter o núcleo coeso.
Então, interação nuclear deve ser de atração ou repulsão? A intensidade dessa
interação depende da distância entre os núcleons? Observem, no texto 2: Seguindo
um modelo de interação (APÊNDICE D) o gráfico da energia potencial em função da
distância para explicar suas respostas.
O esperado é que os aprendizes respondam atração. A observação do gráfico
da energia potencial em função da distância contido no texto 2: Seguindo um modelo
de interação (APÊNDICE D), é sugerida com intenção de que os aprendizes façam
analogia com o caso gravitacional. Para induzir a analogia, o professor pode perguntar
se eles já viram outro gráfico semelhante. Em seguida, deve mostrar a região na qual
o potencial aumenta tendendo para zero e perguntar se eles recordam que, no caso
gravitacional, isso indicava uma força de atração.
Sugestão de Fala para o professor: Pessoal, sendo a interação nuclear uma
atração entre os núcleons, a lógica nos diz que, quanto maior a quantidade de prótons
e nêutrons, maior será a coesão do núcleo. Se o núcleo é mais coeso, isso quer dizer
que fica mais difícil separar os núcleons, ou seja, a energia de ligação aumenta. Isso
acontece até a quantidade de 60 núcleons, aproximadamente. Entretanto, o gráfico nos
mostra que, para elementos com maior quantidade de núcleons, esse raciocínio não
funciona, pois, a energia de ligação diminui. Quanto menor a energia de ligação, menos
estável se torna o núcleo. Dessa forma, entre os elementos listados na tabela, qual
possui menor energia de ligação? Verifique, comparando o quadro 2 e o gráfico 1.
Possivelmente, os discentes responderão que é o tálio o elemento menos
estável. Entretanto, alguns podem responder que o oxigênio e o tálio possuem o
mesmo valor de energia de ligação por núcleon e que os dois seriam os menos
estáveis. Essa coincidência de valores pode contribuir para construção da ideia sobre
o curto alcance da interação nuclear. Nesse sentido, a postura do professor deve ser
a de questionar a turma, conforme sugerimos abaixo.
175
Sugestão de Fala para o professor: O oxigênio possui 16 núcleons, o tálio possui
181 e ambos possuem o mesmo valor de energia de ligação. Será que esse fato está
relacionado a mais uma característica particular da interação nuclear? Em qual desses
núcleos a repulsão entre os prótons está prevalecendo? Por que isso acontece?
Após a realização dos questionamentos contidos na sugestão de fala para o
professor, ele pode desenhar no quadro três bolinhas, representando dois prótons e
um nêutron, e explicar, como sugerido abaixo (FIGURA 9).
Figura 9 – Interação entre núcleons
Fonte: O autor.
Sugestão de Fala para o professor: O gráfico 1 mostra que a energia de ligação
aumenta até o número de massa 60, indicando que nessa região a interação nuclear
supera a repulsão entre os prótons. Para núcleos maiores, o gráfico 1 mostra o
decréscimo do valor da energia de ligação, o que significa que, nessa região, a
repulsão entre prótons começa a prevalecer diante da interação nuclear.
Nessa perspectiva, a interação nuclear possui intensidade maior do que a repulsão
entre os prótons quando os núcleons são vizinhos. A intensidade da atração entre
núcleons é nula quando a distância entre eles é maior que o diâmetro de um deles. Na
figura acima, entre cada próton e nêutron central existe a interação nuclear e ela é mais
intensa que a repulsão entre os prótons. Entretanto, a interação nuclear entre os prótons
dos extremos é praticamente nula. Observamos, assim, que a interação nuclear possui
um raio de ação muito curto, equivalente ao diâmetro de um núcleon.
Para núcleos grandes como zinco-73 e o tálio-181, a interação nuclear tem
intensidade suficiente para manter unidos os núcleons vizinhos, superando a repulsão
entre os prótons nessa vizinhança. Entretanto, ela não consegue manter a mesma coesão
das vizinhanças imediatas no núcleo como um todo, devido ao seu curto alcance.
+ + Próton~Nêutron~Próton
176
No tálio, a repulsão entre os 81 prótons supera a atração entre os 181 núcleons
devido ao curto alcance de interação nuclear, que não consegue manter todos unidos
com a mesma intensidade. É por isso que, mesmo contendo mais núcleons, o tálio
possui a mesma energia de ligação do oxigênio.
4.2 TEXTO 2: SEGUINDO UM MODELO DE INTERAÇÃO
O vídeo 2: The Standard Model Explains Force And Matter15 mostra a repulsão
entre duas cargas de mesmo sinal. Note que uma carga percebe a presença da outra
mediante a troca de partículas mediadoras. Observe que a quantidade de partículas
trocadas fica maior quando as cargas se aproximam e diminui quando elas se
afastam. A interação mostrada é a eletromagnética e a partícula mediadora é o fóton,
que possui as seguintes características:
I. Não obedece ao princípio da exclusão de Pauli, porque os fótons são bósons
e, sendo assim, podem ocupar o mesmo nível de energia.
II. Não possui massa de repouso, pois que a interação eletromagnética possui
alcance infinito.
III. Não possui carga elétrica.
Yukawa, inspirado nesse modelo de interação, procurava uma partícula que
atendesse aos requisitos para ser mediadora da interação forte e resolver o problema
da estabilidade nuclear. As evidências experimentais e a fundamentação teórica dada
pela Mecânica Quântica conduziram Yukawa a eleger as seguintes características
para a partícula mediadora da interação forte:
I. Como o fóton da interação eletromagnética, o quantum da interação forte
pode acumular vários no mesmo estado de energia.
II. Devem possuir massa de repouso não nula, uma vez que a interação forte
possui curto alcance.
III. Ela deve possuir carga elétrica positiva, negativa e neutra para dar conta das
interações próton-próton, próton-nêutron e nêutron-nêutron.
15 Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=p5QXZ0__8VU.
177
Após um árduo trabalho teórico para descrever como as interações deveriam
ocorrer a fim de obedecer tudo que era conhecido pela ciência na época, Yukawa
determinou o potencial para interação entre os núcleons, conforme mostrado no
gráfico 3. A partir desse potencial, ele calculou a massa da partícula mediadora,
encontrando um valor de próximo de duzentas vezes a massa do elétron ( em200 ),
que era um valor intermediário entre os valores das massas do elétron e próton e, por
isso, essa partícula foi batizada de méson. A proposta de Yukawa para a interação
forte foi divulgada em 1935, mas só foi confirmada em 1947, após o méson ter sido
detectado por Lattes.
Gráfico 3 – Potencial de Yukawa (Energia Potencial em função da distância)
Fonte: http://physicsdatabase.group.shef.ac.uk/phy303/phy3032.html
Questões para serem discutidas com a turma após a leitura do texto 2: Seguindo
um modelo de interação (APÊNDICE D):
1. Quantos tipos de mésons deveriam existir, de acordo com o modelo proposto
por Yukawa? Cada tipo era responsável por qual interação entre os núcleons?
2. Considerando a equivalência entre massa e energia vista anteriormente,
explique porque Yukawa direcionou seus esforços para determinar
teoricamente a massa do méson.
3. Como ocorre a interação entre os núcleons considerando os diferentes tipos
de mésons?
178
5 QUINTO E SEXTO ENCONTROS: A CONTROVÉRSIA DOS MÉSONS
E LATTES
As problematizações desses dois encontros são as dez questões da tarefa de
casa ao final do quarto encontro. A discussão das questões de um até cinco será
realizada no quinto encontro e as demais no encontro seguinte. Além de destacar a
contribuição de Lattes para a ciência mundial com a detecção do píon, esses dois
encontros objetivam, através da história, mostrar como a ciência é construída através
de caminhos não lineares e que, por isso, seus conceitos e teorias estão sujeitos a
mudanças.
O professor iniciará a aula com uma provocação para turma: no último encontro,
vimos que Lattes detectou a partícula prevista por Yukawa. Mas, será que Lattes
estava procurando o píon ou tinha em mente a resolução de outro problema? Em
seguida será apresentado com projetor multimídia o primeiro trecho do vídeo 3:
Cientistas Brasileiros: César Lattes e José Leite Lopes16.
5.1 TEXTO 3: UM INTRUSO IMPORTANTE
Yukawa construiu um modelo teórico para a interação nuclear (forte), segundo o
qual a partícula mediadora dessa interação teria uma massa intermediária entre a do
elétron e a do próton, por isso foi batizada de méson (do grego, médio, intermediário).
Mas, para a proposta de Yukawa ser validada cientificamente, era preciso detectar essa
partícula. Era muito importante para a Física que a teoria do méson fosse aceita
cientificamente porque, através dela, a estabilidade do núcleo atômico teria uma
explicação. Então, como procurar essa partícula? Ou, onde procurar?
Na ciência, as construções são realizadas, peça por peça, como se os cientistas
estivessem montando um quebra-cabeça e a Física não foge à regra. A Física de
partículas ainda é um quebra-cabeça incompleto, mas a montagem de algumas peças
proporcionou avanços incríveis no estudo da constituição da matéria. O sucesso do
16 Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=DB3PzzIrRTc.
179
modelo de Yukawa, indiretamente, está ligado a um outro problema, mais antigo, que
é o descarregamento dos eletroscópios isolados do ambiente. Foi a busca da
explicação desse fato que desencadeou o estudo da radiação cósmica de maneira
mais intensa a partir da década 1910, segundo Vieira (2012). A interseção entre a
proposta de Yukawa e o estudo da radiação cósmica ocorreu de forma inesperada e
simbiótica, como veremos adiante. Antes de seguir, temos que saber o que é um
eletroscópio.
Os eletroscópios são instrumentos que permitem verificar se um corpo possui ou
não carga elétrica. Um tipo simples desse instrumento é o eletroscópio de folhas, que
pode ser construído em casa. Ele utiliza uma garrafa como suporte, uma bolinha
forrada de papel alumínio, uma haste metálica conectada à bolinha e na outra ponta
dessa haste é colocada uma tira fina de papel alumínio, como mostra a figura 10.
Inicialmente, a bolinha está neutra e as folhas metálicas estão fechadas. Quando um
corpo carregado toca a bolinha, ela adquire carga elétrica que é conduzida pela haste
metálica fazendo as folhas metálicas abrirem. Logo, se o corpo não estivesse
carregado, as folhas continuariam fechadas.
Figura 10 – Eletroscópio de folhas
Fonte: http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=10495
Agora que já se sabe o que é um eletroscópio, o próximo passo é entender o
problema do seu descarregamento. Então, imagine que esse instrumento carregado
180
fosse colocado em um local, em tese, completamente isolado de qualquer influência
do ambiente. A lógica leva a crer, nesse caso, que o equipamento permanece
carregado, ou seja, as folhas permanecem abertas. Entretanto, o que se verifica é o
fechamento das folhas, isto é, o eletroscópio descarrega. Segundo Marques (2012),
os cientistas tentaram explicar o descarregamento através de duas hipóteses, quais
sejam, que ele seria provocado pela radiação natural emitida por rochas vizinhas do
instrumento, ou pela injeção de íons em altitudes baixas provocada por turbulências
elétricas nas camadas mais altas da atmosfera. Nenhuma delas funcionou!
O problema era explicar a origem da radiação que descarregava esses
instrumentos. Pois bem, a origem dessa radiação é extraterrestre e quem descobriu isso,
em 1912, foi Viktor Hess, que realizou voos de balão transportando um eletrômetro um
aparelho capaz de medir correntes elétricas (fluxo de cargas elétricas). Hess verificou
também que a intensidade dessas correntes (radiação) aumentava com a altitude. O
sucesso do trabalho desse pesquisador promoveu a continuidade dos estudos dessa
radiação nos anos seguintes e o desenvolvimento de outros instrumentos. Segundo
Marques (2012), no início dos anos 1930, a composição da radiação cósmica era
considerada como sendo de prótons e elétrons.
Como dito anteriormente, existe uma relação indireta da proposta de Yukawa
com o estudo da radiação cósmica. Então, onde está a relação? Conforme Vieira
(2012), Yukawa se desinteressou pelo assunto e procurou outros temas para estudo
após propor a teoria do méson, em 1935. Entretanto, ele o retomou, quando foi
descoberta uma partícula com características semelhantes ao méson na radiação
cósmica, em 1937. Você entendeu a relação? Marques (2012) afirma que a teoria do
méson, principalmente por conta do idioma, não teve repercussão no ocidente e que
essa teoria recebeu críticas fortes de físicos como Niels Bohr, que não acreditava que
a Mecânica Quântica pudesse ser aplicada nas dimensões nucleares.
A partícula encontrada na radiação cósmica, com massa intermediária entre a
do próton e a do elétron, recebeu o nome de mésotron, em 1939, por influência de
Millikan, de acordo com Vieira (2012). O mésotron foi detectado, em 1936, por Carl
Anderson e Seth Neddermeyer e por J.C. Street e E.C. Stevenson, em 1937. Esses
últimos foram capazes de estimar a massa do mésotron em torno de 170 vezes a
massa do elétron. A estimativa de Yukawa para massa do méson era em torno de 200
vezes a massa do elétron. Marques (2012) afirma que a diferença entre as massas
181
constituía um problema menor, pois essas estimativas não eram precisas porque se
baseavam em poucos dados experimentais.
Minimizado o problema das discrepâncias das massas, as tentativas de
identificar o mésotron como a partícula mediadora da interação nuclear (partícula de
Yukawa) continuaram e outra discrepância surgiu. O mésotron era detectado a nível
do mar e em túneis subterrâneos, segundo Marques (2012), o que conferia a essa
partícula um grande poder de penetração. Mas essa característica era incompatível
com a teoria de Bethe e Heitler, segundo a qual elétrons com mais de 100 Mev
deveriam perder sua energia na forma de fótons ao atravessar a matéria, conforme
Vieira (2012). A partícula de Yukawa possuía massa superior a 100 Mev, então, não
deveria ser detectada em túneis subterrâneos. Vieira (2012) afirma que essa
incompatibilidade, no início da década de 1940, levantou suspeitas em relação ao
mésotron ser a partícula de Yukawa.
O intervalo de tempo para uma partícula sofrer decaimento é conhecido como
vida-média. A vida-média do mésotron constituía mais um ponto de discordância
para identificá-lo como a partícula de Yukawa. Conforme Bassalo (2012), Yukawa e
colaboradores calcularam, em 1937/1938, a vida-média do méson em torno de
1,3×10-7s. Entretanto, segundo Bassalo (2012), os físicos experimentais Bruno Rossi
(1905-1993), em 1939, e Franco Rasetti (1902-2001), em 1941, analisando dados
experimentais, estimaram a vida-média dessa partícula em torno de 10-6s e 2×10-6s,
respectivamente. Vê-se que o poder de penetração, a massa e a vida-média
corroboravam para desbancar o mésotron como candidato à partícula de Yukawa
(méson), o que ocorreu alguns anos mais tarde.
Ainda conforme Bassalo (2012), em 1947, os físicos Italianos Marcelo Conversi
(1917-1998), Etorre Pancini (1915-1981) e Oreste Piccione (1915-2002) realizaram
experiências e observaram que os mésotrons decaíam normalmente quando eram
detidos por absorvedores de carbono, visto que eles não eram absorvidos. Isso
indicava que eles não sofriam a interação nuclear (forte) com a matéria. Esses
experimentos puseram fim às tentativas de identificar o mésotron como a partícula
proposta por Yukawa. Então, sendo assim, existiam dois mésons, o de Anderson e o
de Yukawa? A resposta é sim. Mas faltava encontrar o segundo.
A detecção do mésotron ocorreu em 1937e, em 1947, foi descartada a hipótese
dessa partícula ser a mediadora da interação nuclear. Então, durante dez anos, os
182
cientistas não sabiam se existiam um ou dois mésons. Bassalo (2012) afirma que a
existência de dois mésons foi proposta antes dos experimentos dos italianos por
Sakata e Inoe em duas versões, uma em japonês, em 1942, e a outra em inglês, em
1946. Vieira (2012) afirma que a segunda guerra dificultou a comunicação dessas
ideias e que os físicos Marshak e Bethe também formularam uma teoria de dois
mésons, após os experimentos de Conversi-Pancini-Piccione.
Shoichi Sakata (1911-1970) e Takesi Inoe, que propuseram uma teoria de dois
mésons, participavam de um grupo de físicos japoneses que acreditavam na hipótese
de Yukawa e trabalharam com ele, a partir de 1935 e por toda a década de 1940,
desenvolvendo trabalhos que buscavam explicar a produção dos mésons nos raios
cósmicos, segundo Bassalo (2012).
Esse grupo era composto por: Shoichi Sakata, Daiske Okayama, Zaimoku Hai, Minoru Kobayasi, Fumiko e Yasutaka Tanikawa, Mituo Taketani, Satio Hayakawa (1923-1992), Gentaro Araki, Tatuoki Miyazima, Takesi Inoue, Shuichi Kusaka e Sin-Itiro Tomonaga (1906-1979; PNF, 1965) (BASSALO, 2012, p. 82).
O méson de Anderson (mésotron) foi mais uma peça no quebra-cabeça que os
físicos tentavam montar. Infelizmente, para alguns cientistas que tentaram identificá-
lo como o méson de Yukawa, ele não era o mediador da interação entre os núcleons.
Entretanto, em um quebra-cabeça, toda peça tem sua importância e o mésotron foi o
responsável por dar credibilidade à teoria do méson, reanimando os cientistas que
tentavam explicar a estabilidade do núcleo atômico desde 1932 e acabou provocando
uma avalanche de trabalhos sobre a teoria mesônica, como Bassalo (2012, p. 82-83)
afirma:
Assim, de meados de 1930 até meados de 1940, foram produzidos vários artigos por esses especialistas, tais como: Christian Müller (1904-1980), Léon Rosenfeld (1904-1974), Joseph Maria Jauch, John G. Wilson, Hartland S. Snyder, Robert Serber (1909- 1997), Robert F. Christy, Herbert Frõlich, L. e G. Nordheim, Pierre Victor Auger (1899- 1993), Bernhard Gross (1905-2002). Roland Maze, Robert Chaminade, Fermi, Wentzel, Kemmer, Blackett, Occhialini, bem como os brasileiros Mário Schenberg (1914-1990), José Leite Lopes (1918-2006) e Joaquim Costa Ribeiro (1906-1960).
183
Entre esses cientistas, existiam teóricos e experimentais. Aliás, outra
contribuição da descoberta do mésotron, segundo Vieira (2012), foi promover a
aproximação entre os físicos teóricos da física nuclear e os físicos experimentais que
estudavam os raios cósmicos. Dessa forma, os físicos teóricos começaram a criar
modelos baseados em dados experimentais.
184
REFERÊNCIAS
BASSALO, J. M. F. Partículas Elementares: do Átomo Grego à Supercorda. In: CARUSO, F.; SANTORO, A. (Ed.). Do Átomo Grego à Física das Interações Fundamentais. São Paulo: Livraria da Física, 2012. p.82-84. (Série LISHEP; 1).
MARQUES, A. O píon. In: CARUSO, F.; OGURI, V.; SANTORO, A. (Ed.). Partículas elementares: 100 Anos de descoberta. São Paulo: Livraria da Física, 2012. p. 147-151. (Série LISHEP; 3).
VIEIRA, C. L. Um mundo inteiramente novo se revelou: uma história da técnica das emulsões nucleares. São Paulo: Livraria da Física, CBPF, 2012. (Coleção Tópicos em Física).
VÍDEOS:
Vídeo 1 Um cientista, uma história| Episódio 12: César Lattes. Duração: 4min 58s. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=FZGg13bQH0c>. Acesso em: 10 abr. 2017.
Vídeo 2 The Standard Model Explains Force And Matter. Mostra interação através da troca de partículas. O trecho utilizado: 2:28 até 3:00. Duração: 9min 49s. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=p5QXZ0__8VU>. Acesso em: 10 abr. 2017.
Vídeo 3 Cientistas Brasileiros: César Lattes e José Leite Lopes. Os trechos utilizados: 19:49 até 20:36 e 20:42 até 21:23. Duração: 54min 59s. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=DB3PzzIrRTc>. Acesso em: 10 abr. 2017.
SUGESTÃO: Na aplicação da sequência foi utilizado mais um vídeo:
Vídeo extra César Lattes. Exibido no programa Globo Ciência. Os trechos utilizados: 0:00 até 08:38 e 10:09 até 12:43. Duração: 19min 54s. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=i6nqu-UEalU>. Acesso em: 10 abr. 2017.
185
APÊNDICES
186
APÊNDICE A – Atividade Primeiro Encontro
QUESTÕES INICIAIS
Problematizações para serem discutidas após o vídeo 1: Um cientista, uma história| Episódio 12: César Lattes, com duração de 4min 54s.
1. Por que Lattes utilizou chapas fotográficas especiais (emulsões nucleares) para detectar os traços das partículas subatômicas?
2. O vídeo afirma que Lattes combinou com um italiano e um inglês um experimento que consistia em escalar montanhas para detectar partículas subatômicas produzidas no choque dos raios cósmicos com átomos existentes na atmosfera. Mas por que Lattes queria detectar partículas subatômicas? Por qual razão ele decidiu escalar montanhas?
3. O que é o méson π citado no vídeo? Qual função ele desempenha no núcleo atômico?
4. Lattes ficou famoso por ter detectado o méson π, mas quem sugeriu a existência dessa partícula? Qual a relevância desse feito que contribuiu para a fama internacional de Lattes?
TEXTO 1: COMO EXPLICAR A ESTABILIDADE NUCLEAR?
O méson π (hoje conhecido como píon) é uma partícula que foi proposta, em 1935, pelo japonês Hideki Yukawa (1907-1981) e detectado pelo brasileiro César Lattes (1924-2005) duas vezes. A primeira detecção de mésons π, oriundos dos raios cósmicos, foi em 1947, no monte Chacaltaya (5 000 m de altitude) na Bolívia. Em 1948, ocorreu a segunda detecção de píons, produzidos artificialmente no acelerador de partículas sincro-ciclotron da Universidade da Califórnia, envolvendo a cooperação de Lattes com Eugene Gardner (1901-1986), em Berkeley, nos Estados Unidos da América. Mas o píon foi proposto pelo japonês para que? Após mais algumas linhas você vai entender o problema enfrentado por Yukawae por vários outros cientistas da época, que o conduziu ao píon.
O núcleo do átomo é um caroço de matéria duro, dez mil vezes menor do que o átomo, que teve sua existência comprovada experimentalmente, em 1909, por Ernest Rutherford (1871-1937). Em 1932, James Chadwick descobre os nêutrons que passam a compor o núcleo atômico juntamente com os prótons. Os prótons possuem carga elétrica positiva e se repelem. Os nêutrons não possuem carga elétrica, portanto
187
não podem se atrair eletricamente para equilibrar a repulsão dos prótons.Então, devido à força de repulsão os prótons se afastariam e núcleo não existiria. Mas Rutherford mostrou que o caroço duro existe! E agora?!
A interação eletromagnética não serviu para explicar a existência do núcleo atômico. Será que a interação gravitacional daria conta de explicar a existência desse caroço duro? Vejamos, a massa de repouso de um próton é mp= 1,672085×10-27 kg e a massa do nêutron mn=1,674376×10-27 kg. Elas são massas extremamente pequenas. A interação gravitacional é uma atração entre massas e como os núcleons possuem massa, eles se atraem. Então, essa atração poderia contrabalancear a repulsão entre os prótons e a existência do núcleo atômico estaria explicada, certo? Certo. Mas essa história não acaba assim!
O efeito da interação gravitacional é significativo quando pelo menos uma das massas envolvidas na interação é grande. Por exemplo, a queda de um lápis abandonado de nossa mão é justificada devido à interação gravitacional dele com o planeta Terra. O efeito dessa interação é percebido porque a massa do nosso planeta é grande, mesmo sendo reduzida a massa do outro corpo (o lápis). Então, como as massas dos núcleons são muito pequenas, a interação gravitacional não tem intensidade suficiente para superar a força de repulsão entre os prótons e mantê-los unidos aos nêutrons, formando o núcleo atômico. Essa interação também não serve para explicar a existência do núcleo.
A interação entre prótons e nêutrons no núcleo atômico não é como um abraço entre duas pessoas. Entretanto, utilizando a cena de um abraço podemos compreender mais as interações no núcleo. Então, imagine a cena de um abraço entre duas pessoas. Existem pessoas que não gostam de abraço e tentam afastar aqueles que ameaçam abraçá-las, se essa atitude prevalecer o abraço não acontece. A atitude de afastar o outro é semelhante a repulsão que acontece entre dois prótons.
Todavia, no núcleo atômico os núcleons são mantidos unidos independentemente da repulsão entre os prótons. Isso significa que deve existir entre eles uma interação atrativa, que supera a repulsão coulombiana. Comparando com a cena de um abraço, a interação entre dois prótons no núcleo seria semelhante ao encontro entre uma pessoa que gosta muito de abraçar e outra que detesta abraço. A interação atrativa é representada pela primeira pessoa e a interação repulsiva pela segunda pessoa. O abraço acontece porque a pessoa que gosta de abraçar agarra a outra com a maior intensidade possível e supera a tentativa da outra de afastá-la.
Um abraço só pode ocorrer quando a distância entre as pessoas é no mínimo igual ao comprimento dos braços de uma delas. Então, a distância entre os núcleons é um fator importante para que eles fiquem grudadinhos no núcleo? E as interações entre dois nêutrons e entre um nêutron e um próton, como seriam explicadas utilizando a analogia do abraço? Qual é a interação atrativa, equivalente à força da pessoa que gosta de abraçar, necessária para manter os núcleons unidos? A interação gravitacional não serve como candidata para esse posto. Vê-se que nenhuma das interações mencionadas anteriormente, a gravitacional e a eletromagnética, justificam a existência de núcleos atômicos estáveis, ou seja, núcleos nos quais prótons e nêutrons se mantêm unidos formando um caroço duro e coeso, mesmo havendo a repulsão elétrica entre os prótons.
A interação entre duas pessoas em um abraço é simples de ser explicada utilizando a força muscular. Acontece que núcleos estáveis tais como o deutério, o Hélio-3, o Hélio-4 e o Ferro-56, existem na natureza, mas a ciência não tinha
188
explicação para esse fato. Em outras palavras, a interação necessária para manter o núcleo atômico coeso não era conhecida, todavia os núcleos existiam. Entendeu o problema que o japonês tentava resolver?
AVALIAÇÃO DOS CONHECIMENTOS PRÉVIOS
PROBLEMATIZAÇÃO INICIAL
O Hélio-3 e o Hélio-4 são átomos que possuem núcleos estáveis, ou seja, seus núcleos possuem prótons e os nêutrons firmemente ligados de alguma maneira, apesar da força de repulsão entre os prótons, que tende a desfazer o núcleo. Dessa forma, esses núcleos não se desintegram e se apresentam como caroços duros, extremamente pequenos, considerando as dimensões atômicas, que contém quase toda a massa desses átomos. Como você explicaria, utilizando os seus conhecimentos, essa união intensa entre prótons e nêutrons no núcleo atômico?
QUESTIONÁRIO INICIAL
A análise do gráfico abaixo pode contribuir para a construção de uma resposta da problematização acima. Esse gráfico mostra o comportamento da energia de ligação por núcleon (E/A) em função da quantidade de núcleons (prótons e nêutrons) presentes no núcleo dos elementos. São informações experimentais.
Fonte: http://coral.ufsm.br/gef/Cadernos/FisiNuc.pdf
189
Informação importante para a análise do gráfico: o núcleo do deutério ( H2
1 )
possui um próton e um nêutron; o Hélio-3 ( He3
2 ) possui no núcleo dois prótons e um
nêutron e o hélio-4 ( He4
2 ) possui no núcleo dois prótons e dois nêutrons.
Observe-o com atenção e responda as perguntas que seguem:
1. Qual é o valor aproximado das energias de ligação do 2H, 3He e do 4He, em Mev? Explique com suas palavras, o que é energia de ligação?
2. Os prótons e os nêutrons são tratados como núcleons, no texto 1 essa nomenclatura é utilizada, como se eles não fossem distintos. O que você entende sobre isso?
3. Verifique no gráfico que ocorre um grande aumento da energia de ligação do Hélio-4 e do Hélio-3 em relação ao deutério. Como você entende esse aumento?
4. Os cientistas buscavam uma explicação para a estabilidade do núcleo atômico, o gráfico acima mostra os valores da energia de ligação por núcleon de alguns elementos químicos. Você consegue estabelecer alguma relação entre energia de ligação e a estabilidade nuclear? Com base na sua relação, qual é o elemento mais estável mostrado no gráfico?
5. Observe, atentamente, no gráfico que os valores das energias de ligação aumentam junto com a quantidade de núcleons até as proximidades do número de massa (A) igual a 60. Vê-se que a partir desse valor (A=60) a curva sofre uma suave queda, indicando um decréscimo do valor da energia ligação daí em diante. Você tem alguma ideia que possa explicar esse fato? Será que esse fato está relacionado à característica de uma possível interação desconhecida?
6. O texto 1, lido anteriormente, afirma que as interações eletromagnética e gravitacional não conseguem justificar a estabilidade nuclear. No entanto, o gráfico mostra alguns elementos que possuem núcleos estáveis e entre eles o deutério. Então, o que mantém um próton ligado com um nêutron no núcleo do deutério?
7. Um átomo é um sistema ligado. O que você entende sobre essa afirmação?
8. Na Física de Partículas e em outras áreas da Física a palavra interação é utilizada com muita frequência. Nesse contexto, o que significa interação para você?
190
APÊNDICE B – Atividade Segundo Encontro: Energia Potencial e
Interação Gravitacional
SIMULAÇÕES
Foram usadas as simulações: gravity_velocity1 e gravity_velocity2, disponíveis em: <http://www.animations.physics.unsw.edu.au/mechanics/chapter11_gravity.html>.
PROBLEMATIZAÇÃO INICIAL
Aqui em nosso planeta quando lançamos uma bola para cima ela sobe poucos metros e retorna para a nossa mão. Parece que existe algo que prende a bola ao nosso planeta. Isso acontece com outros objetos que são atirados para alto. A primeira simulação mostra-nos algo semelhante. Entretanto, a segunda simulação mostra o corpo escapando para o espaço. Você tem alguma ideia para explicar o primeiro e o segundo caso? Quanta energia deve ser fornecida a um corpo a fim de que ele não retorne à Terra, como mostrado na segunda simulação? Considere a terra em repouso e despreze as perdas de energia.
PROBLEMATIZAÇÃO FINAL
O átomo é um sistema ligado. O que entende sobre essa afirmação? E o sistema Terra-corpo estudado nessa aula é um sistema ligado? Existe semelhança entre o átomo e esse sistema?
191
APÊNDICE C – Atividade Terceiro Encontro: Equivalência Massa-
Energia
PROBLEMATIZAÇÃO INICIAL
No primeiro encontro foi perguntado se vocês sabiam o era energia de ligação e foi apresentado um gráfico que informava valores experimentais da energia de ligação por núcleon (E/A), que corresponde à razão entre valor da energia de ligação e quantidade de prótons e nêutrons presentes no núcleo. Pois bem, energia de ligação é o valor de energia necessário para manter os núcleons unidos formando o núcleo atômico. Essa energia pode ser avaliada fornecendo-se energia ao sistema e verificando para qual valor o núcleo atômico se desfaz. Então, pode-se afirmar que o núcleo do átomo é um sistema ligado, como o sistema gravitacional analisado na aula anterior? Como acontece a interação que mantem os núcleons unidos?
EXERCÍCIOS AUXILIARES
A tabela abaixo mostra informações relacionadas a alguns núcleos atômicos. As questões que seguem necessitam dos dados fornecidos por essa tabela para serem respondidas. Esses exercícios ajudam você a entender melhor a relação massa-energia e o conceito de energia de ligação. Para tanto, você deve analisar atentamente as informações contidas na tabela, antes de responder as questões.
Fonte: RANDALL, D. Knight. Física: Uma Abordagem Estratégica, vol. 4, apêndice C, [S.I.: s.n.], 2009.
Informações importantes: considere a unidade de massa atômica (u) = 1,6605×10-27kg; a velocidade da luz é c 3.108 m/s.
192
1. Qual é o valor, em quilogramas, das massas do próton e do nêutron separados?
2. Qual é o valor, em quilogramas, da massa do deutério?
3. Considerando que o deutério é formado por um próton e um nêutron ligados, calcule a variação de massa Δm= md - mnp, onde md é a massa deutério e mnp é soma das massas do próton e do nêutron. Ocorreu ganho ou perda de massa?
4. A energia de ligação corresponde exatamente ao valor da energia equivalente a massa que foi perdida na formação do deutério?
5. Considere um nêutron em movimento, oriundo da radiação cósmica, com velocidade igual a 90% da velocidade da luz c. A energia total desse nêutron corresponde apenas ao valor de sua energia cinética?
6. Encontre a razão E/A para o deutério e compare com o valor fornecido no gráfico da primeira aula, eles são próximos? Por que os valores do gráfico são positivos?
193
APÊNDICE D – Atividade Quarto Encontro: Yukawa-Lattes
PROBLEMATIZAÇÃO INICIAL
A energia de ligação é uma grandeza cujo valor nos possibilita avaliar a coesão entre os núcleons, quanto maior esse valor mais intenso é a interação entre eles. Entretanto, como foi visto, quando a quantidade de núcleons aumenta acima de certo valor (A=60) ocorre um decréscimo no valor da energia de ligação, indicando que a ligação entre prótons e nêutrons se torna mais frágil nessa faixa de valores de A. Entender esse fato era um desafio para os físicos, que estava relacionado com outro desafio, qual seja, explicar a estabilidade do núcleo atômico.
Entender e explicar a interação entre os núcleons era essencial para compreender a estabilidade nuclear e as variações do valor da energia de ligação. Yukawa e Lattes, com contribuições diferentes, entre muitos cientistas que se dedicaram a essa tarefa, se destacaram. Se você estivesse no lugar de Yukawa, como você imaginaria que acontece a interação entre os núcleons? O alcance da interação entre os núcleons extrapola as dimensões do núcleo? A ideia de Yukawa foi original ou ele se baseou em outro modelo de interação existente na época?
TEXTO 2: SEGUINDO UM MODELO DE INTERAÇÃO
O vídeo 2: The Standard Model Explains Force And Matter mostra a repulsão entre duas cargas de mesmo sinal. Note que uma carga percebe a presença da outra mediante a troca de partículas mediadoras. Observe que a quantidade de partículas trocadas fica maior quando as cargas se aproximam e diminui quando elas se afastam. A interação mostrada é a eletromagnética e a partícula mediadora é o fóton, que possui as seguintes características:
I. Não obedece ao princípio da exclusão de Pauli, porque os fótons são bósons e sendo assim vários podem ocupar podem ocupar o mesmo nível de energia.
II. Não possui massa de repouso, pois que a interação eletromagnética possui alcance infinito.
III. Não possui carga elétrica. Yukawa, inspirado nesse modelo de interação, procurava uma partícula que
atendesse aos requisitos para ser mediadora da interação forte e resolver o problema da estabilidade nuclear. As evidências experimentais e a fundamentação teórica dada pela Mecânica Quântica conduziram Yukawa a eleger as seguintes características para a partícula mediadora da interação forte:
I. Como o fóton da interação eletromagnética, quantum da interação forte pode acumular vários no mesmo estado de energia.
II. Devem possuir massa de repouso não nula, uma vez que a interação forte possui curto alcance.
III. Ela deve possuir carga elétrica positiva, negativa e neutra para dá conta das interações próton-próton, próton-nêutron e nêutron-nêutron.
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Após um árduo trabalho teórico para descrever como as interações deveriam ocorrer a fim de obedecer tudo que era conhecido pela ciência na época, Yukawa determinou o potencial para interação entre os núcleons, mostrado no gráfico abaixo.
Fonte: http://physicsdatabase.group.shef.ac.uk/phy303/phy3032.html.
A partir desse potencial ele calculou a massa da partícula mediadora,
encontrando um valor de próximo de duzentas vezes a massa do elétron ( em200 ),
que era um valor intermediário entre os valores das massas do elétron e próton e por isso essa partícula foi batizada de méson. A proposta de Yukawa para a interação forte foi divulgada em 1935, mas só foi confirmada em 1947, após o méson ter sido detectado pelo brasileiro César Lattes.
QUESTÕES PARA SEREM DISCUTIDAS COM A TURMA
APÓS A LEITURA DO TEXTO 2: SEGUINDO UM MODELO DE INTERAÇÃO
1. Quantos tipos de mésons deveriam existir, de acordo com modelo proposto por Yukawa? Cada tipo era responsável por qual interação entre os núcleons?
2. Considerando a equivalência entre massa e energia vista anteriormente, explique porque Yukawa direcionou seus esforços para determinar teoricamente a massa do méson.
3. Como ocorre a interação entre os núcleons considerando os diferentes tipos de mésons?
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APÊNDICE E – Atividade Quinto e Sexto Encontros: a Controvérsia dos
Mésons e Lattes
ORIENTAÇÃO PRÉVIA
Antes de responder as questões, leiam os textos e assistam ao vídeo 3: Cientistas Brasileiros: César Lattes e José Leite Lopes.
TEXTO 3: UM INTRUSO IMPORTANTE
Hideki Yukawa (1907-1981) construiu um modelo teórico para a interação nuclear (forte), segundo o qual a partícula mediadora dessa interação teria uma massa intermediária entre a do elétron e a do próton, por isso foi batizada de méson (do grego, médio, intermediário). Mas para a proposta de Yukawa ser validada cientificamente era preciso detectar essa partícula. Era muito importante para a Física que a teoria do méson fosse aceita cientificamente porque através dela a estabilidade do núcleo atômico teria uma explicação. Então, como procurar essa partícula? Ou, onde procurar?
Na ciência as construções são realizadas, peça por peça, como se os cientistas estivessem montando um quebra-cabeças e a Física não foge à regra. A Física de partículas ainda é um quebra-cabeças incompleto, mas a montagem de algumas peças proporcionou avanços incríveis no estudo da constituição da matéria. O sucesso do modelo de Yukawa, indiretamente, está ligado a um outro problema, mais antigo, que é o descarregamento dos eletroscópios isolados do ambiente. Foi a busca da explicação desse fato que desencadeou o estudo da radiação cósmica de maneira mais intensa a partir da década 1910, segundo Vieira (2012). A interseção entre a proposta de Yukawa e o estudo da radiação cósmica ocorreu de forma inesperada e simbiótica, como veremos a diante. Antes de seguir temos que saber o que é um eletroscópio.
Os eletroscópios são instrumentos que permitem verificar se um corpo possui ou não carga elétrica. Um tipo simples desse instrumento é o eletroscópio de folhas, que pode ser construído em casa. Ele utiliza uma garrafa como suporte, uma bolinha forrada de papel alumínio, uma haste metálica conectada à bolinha e na outra ponta dessa haste é colocada uma tira fina de papel alumínio, como mostra a figura a seguir. Inicialmente a bolinha está neutra e as folhas metálicas estão fechadas. Quando um corpo carregado toca a bolinha, ela adquire carga elétrica que é conduzida pela haste metálica fazendo as folhas metálicas abrirem. Logo, se o corpo não estivesse carregado as folhas continuariam fechadas.
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Fonte: http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=10495
Agora que já se sabe o que é um eletroscópio, o próximo passo é entender o problema do seu descarregamento. Então, imagine que esse instrumento carregado fosse colocado em um local, em tese, completamente isolado de qualquer influência do ambiente. A lógica leva a crer, nesse caso, que o equipamento permanece carregado, ou seja, as folhas permanecem abertas. Entretanto, o que se verifica é o fechamento das folhas, ou seja, o eletroscópio descarrega. Segundo Marques (2012), os cientistas tentaram explicar o descarregamento através de duas hipóteses, quais sejam, que ele seria provocado pela radiação natural emitida por rochas vizinhas do instrumento, ou pela injeção de íons em altitudes baixas provocada por turbulências elétricas nas camadas mais altas da atmosfera. Nenhuma delas funcionou!
O problema era explicar a origem da radiação que descarregava esses instrumentos. Pois bem, a origem dessa radiação é extraterrestre e quem descobriu isso, em 1912, foi Viktor Hess que realizou voos de balão transportando um eletrômetro, que é um aparelho capaz de medir correntes elétricas (fluxo de cargas elétricas). Hess verificou também que a intensidade dessas correntes (radiação) aumentava com a altitude. O sucesso do trabalho de Hess promoveu a continuidade dos estudos dessa radiação nos anos seguintes e o desenvolvimento de outros instrumentos. Segundo Marques (2012), no início dos anos 1930 a composição da radiação cósmica era considerada como sendo de prótons e elétrons.
Como dito anteriormente existe uma relação indireta da proposta de Yukawa com o estudo da radiação cósmica. Então, onde está a relação? Conforme Vieira (2012), Yukawa se desinteressou pelo assunto e procurou outros temas para estudo após propor a teoria do méson, em 1935. Entretanto ele o retomou, quando foi descoberta uma partícula com características semelhantes ao méson na radiação cósmica, em 1937. Você entendeu a relação? Marques (2012) afirma que a teoria do méson, principalmente por conta do idioma não teve repercussão no ocidente e que essa teoria recebeu críticas fortes de físicos como Niels Bohr, que não acreditava que a Mecânica Quântica pudesse ser aplicada nas dimensões nucleares.
A partícula encontrada na radiação cósmica, com massa intermediária entre a do próton e a do elétron recebeu o nome de mésotron, em 1939, por influência de Millikan, de acordo Vieira (2012). O mésotron foi detectado, em 1936, por Carl Anderson e Seth Neddermeyer e por J. C. Street e E. C. Stevenson, em 1937. Esses últimos foram capazes de estimar a massa do mésotron em torno de 170 vezes a massa do elétron. A estimativa de Yukawa para massa do méson era em torno de 200
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vezes a massa do elétron. Marques (2012) afirma que a diferença entre as massas constituía um problema menor, pois essas estimativas não eram precisas porque baseavam-se em poucos dados experimentais.
Minimizado o problema das discrepâncias das massas, as tentativas de identificar o mésotron como a partícula mediadora da interação nuclear (partícula de Yukawa) continuaram e outra discrepância surgiu. O mésotron era detectado a nível do mar e em túneis subterrâneos, segundo Marques (2012), isso conferia a essa partícula um grande poder de penetração. Mas essa característica era incompatível com a teoria de Bethe e Heitler, segundo a qual elétrons com mais de 100 Mev deveriam perder sua energia na forma de fótons ao atravessar a matéria, conforme Vieira (2012). A partícula de Yukawa possuía massa superior a 100 Mev, então não deveria ser detectada em túneis subterrâneos. Vieira (2012) afirma que essa incompatibilidade, no início da década de 1940, levantou suspeitas em relação ao mésotron ser a partícula de Yukawa.
O intervalo de tempo para uma partícula sofrer decaimento é conhecido como vida-média. A vida-média do mésotron constituía mais um ponto de discordância para identifica-lo como a partícula de Yukawa. Conforme Bassalo (2012), Yukawa e colaboradores calcularam, em 1937/1938, a vida-média do méson em torno de 1,3×10-7s. Entretanto, segundo Bassalo (2012), os físicos experimentais Bruno Rossi (1905-1993), em 1939, e Franco Rasetti (1902-2001), em 1941, analisando dados experimentais estimaram a vida-média dessa partícula em torno de 10-6s e 2×10-6s, respectivamente. Vê-se que o poder de penetração, a massa e a vida-média corroboravam para desbancar o mésotron como candidato à partícula de Yukawa (méson), o que ocorreu alguns anos mais tarde.
Segundo Bassalo (2012), em 1947, os físicos italianos Marcelo Conversi (1917-1998), Etorre Pancini (1915-1981) e Oreste Piccione (1915-2002) realizaram experiências e observaram que os mesotrons decaíam normalmente quando eram detidos por absorvedores de carbono, eles não eram absorvidos. Isso indicava que eles não sofriam a interação nuclear (forte) com a matéria. Esses experimentos puseram fim às tentativas de identificar o mésotron como a partícula proposta por Yukawa. Então, existiam dois mésons o de Anderson e o de Yukawa? A resposta é sim. Mas faltava encontrar o segundo.
A detecção do mésotron ocorreu em 1937 e, em 1947, foi descartada a hipótese dessa partícula ser a mediadora da interação nuclear. Então, durante dez anos, os cientistas não sabiam se existiam um ou dois mésons. Bassalo (2012) afirma que a existência de dois mésons foi proposta, antes dos experimentos dos italianos, por Sakata e Inoe em duas versões: uma em japonês e a outra em inglês, em 1942 e 1946, respectivamente. Vieira (2012) afirma que a segunda guerra dificultou a comunicação dessas ideais e que os físicos Marshak e Bethe também formularam uma teoria de dois mésons, após os experimentos de Conversi-Pancini-Piccione.
Shoichi Sakata (1911-1970) e Takesi Inoe, que propuseram uma teoria de dois mésons, participavam de um grupo de físicos japoneses que acreditavam na hipótese de Yukawa e trabalharam com ele, a partir de 1935 e por toda a década de 1940, desenvolvendo trabalhos que buscavam explicar a produção dos mésons nos raios cósmicos, segundo Bassalo (2012).
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Esse grupo era composto por:Shoichi Sakata, Daiske Okayama, Zaimoku Hai, Minoru Kobayasi, Fumiko e Yasutaka Tanikawa, Mituo Taketani, Satio Hayakawa (1923-1992), Gentaro Araki, Tatuoki Miyazima, Takesi Inoue, Shuichi Kusaka e Sin-Itiro Tomonaga (1906-1979; PNF, 1965) (BASSALO, 2012, p. 82).
O méson de Anderson (mésotron) foi mais uma peça no quebra-cabeças que os físicos tentavam montar. Infelizmente, para alguns cientistas que tentaram identifica-lo como o méson de Yukawa, ele não era o mediador da interação entre os núcleons. Entretanto, em um quebra-cabeças toda peça tem sua importância e o mésotron foi o responsável por dar credibilidade a teoria do méson, reanimando os cientistas que tentavam explicar a estabilidade do núcleo atômico desde 1932 e acabou provocando uma avalanche de trabalhos sobre a teoria mesônica, como Bassalo (2012, p. 82-83) afirma:
Assim, de meados de 1930 até meados de 1940, foram produzidos vários artigos por esses especialistas, tais como: Christian Müller (1904-1980), Léon Rosenfeld (1904-1974), Joseph Maria Jauch, John G. Wilson, Hartland S. Snyder, Robert Serber (1909- 1997), Robert F. Christy, Herbert Frõlich, L. e G. Nordheim, Pierre Victor Auger (1899- 1993), Bernhard Gross (1905-2002). Roland Maze, Robert Chaminade, Fermi, Wentzel, Kemmer, Blackett, Occhialini, bem como os brasileiros Mário Schenberg (1914-1990), José Leite Lopes (1918-2006) e Joaquim Costa Ribeiro (1906-1960) (BASSALO, 2012, p. 82-83).
Entre esses cientistas existiam teóricos e experimentais. Aliás, outra contribuição da descoberta do mésotron, segundo Vieira (2012), foi promover a aproximação entre os físicos teóricos da física nuclear e os físicos experimentais que estudavam os raios cómicos. Os físicos teóricos começaram a criar modelos baseados em dados experimentais.
REFERÊNCIAS
BASSALO, J. M. F. Partículas Elementares: do Átomo Grego à Supercorda. In: CARUSO, F.; SANTORO, A. (Ed.). Do Átomo Grego à Física das Interações Fundamentais. São Paulo: Livraria da Física, 2012. p. 82-84. (Série LISHEP; 1).
MARQUES, A. O píon. In: CARUSO, F.; OGURI, V.; SANTORO, A. (Ed.). Partículas elementares: Cemanos de descoberta. São Paulo: Livraria da Física, 2012. p.147-151. (Série LISHEP; 3).
VIEIRA, C. L. Um mundo inteiramente novo se revelou: uma história da técnica das emulsões nucleares. São Paulo: Livraria da Física, CBPF, 2012. (Coleção Tópicos em Física).
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QUESTÕES NORTEADORAS PARA A DISCUSSÃO DO TEXTO 3: UM INTRUSO
IMPORTANTE E DO ARTIGO LATTES: NOSSO HERÓI DA ERA NUCLEAR
1. Qual a contribuição que o trabalho de Victor Hess forneceu para a detecção do méson de Yukawa?
2. O que são raios cómicos e qual a sua origem?
3. Quais foram as tarefas desenvolvidas por Lattes no laboratório H. H. Wills, em Bristol?
4. Cite uma limitação da técnica das emulsões nucleares (emulsões fotográficas) em que o bórax ajudou a resolver?
5. O que você entendeu sobre o processo de calibração uma emulsão fotográfica e qual a importância dessa calibração para o processo de detecção de partículas?
6. Por qual motivo Lattes solicitou à Ilford, fabricante de emulsões fotográficas, que acrescentasse bórax em algumas emulsões? Qual mudança essa modificação da composição das emulsões provocou na linha de pesquisa do grupo de Bristol?
7. Quais foram as recomendações feitas por Lattes a Gardner, em Berkeley, que favoreceram a detecção artificial do méson π (o píon)?
8. A ciência brasileira obteve quais contribuições por conta do prestígio internacional de Lattes obtido com a detecção do píon?
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9. Os raios cósmicos podem atingir energias milhões de vezes superiores àquelas produzidas nos aceleradores de partículas, utilizados para o estudo dos fragmentos resultantes das colisões entre partículas realizadas nessas máquinas. O estudo dos raios cómicos possui a mesma finalidade. Os aceleradores são construídos para reproduzir, por exemplo, as colisões/condições encontradas nos raios cósmicos. São máquinas caras e de alta tecnologia, que tomaram o lugar de destaque nas pesquisas em Física de Partículas, antes ocupado pelo estudo dos raios cósmicos, a partir da década de 1950. Qual a vantagem que os aceleradores de partículas oferecem aos cientistas quando comparado com os raios cósmicos? O trabalho de Lattes contribuiu para essa posição de destaque dos aceleradores diante dos raios cósmicos?
10. Na sua opinião, Lattes na história da detecção do píon foi coadjuvante ou protagonista? Explique.
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APÊNDICE F – Atividade Avaliativa Final
Coloque aqui seu número ( )
Chegamos ao fim de nossa unidade de ensino. Responda as questões com tranquilidade. Utilize o que você entendeu como base para as respostas.
1. O méson π (ou píon) é, segundo a teoria proposta por Hideki Yukawa em 1935, a partícula mediadora de qual interação?
( ) gravitacional ( ) forte ( ) eletromagnética ( ) fraca
2. Na questão anterior você identificou o méson π como partícula mediadora de uma interação. Explique o significa para você as expressões partícula mediadora e interação.
3. Que partículas que você tem conhecimento são sensíveis à ação da interação nuclear forte ou, de outra maneira, partículas que interagem fortemente?
( ) nêutron ( ) próton ( ) elétron ( ) mésotron ( ) fóton
4. A interação nuclear forte, dentro dos limites da teoria de Hideki Yukawa, é uma interação de atração ou repulsão? Você sabe dizer que função desempenha a interação nuclear forte no núcleo atômico?
5. O méson π era procurado por muitos cientistas no mundo inteiro. Porém, foi o brasileiro César Lattes que detectou essa partícula duas vezes e se tornou conhecido mundialmente. A primeira detecção foi, no monte Chacaltaya, na Bolívia, de mésons π oriundos da radiação cósmica. A segunda detecção foi de mésons produzidos no acelerador de partículas, em Berkeley. Você sabe dizer por que a detecção do méson π era tão importante para a ciência mundial?
6. As duas detecções realizadas por Lattes foram importantes para a Física. Você sabe dizer com suas palavras a importância de cada detecção para a Física?
7. Hideki Yukawa era físico teórico, e César Lattes um físico experimental. Com base na história da descoberta do méson π, você considera que uma atividade seja mais importante que a outra ou ambas são importantes? Explique sua resposta.
8. De acordo a teoria de Hideki Yukawa, a interação nuclear forte possui um curto alcance. O raio de alcance dessa interação é da ordem do tamanho de um próton ou de nêutron. Portanto, para interagirem de maneira forte, prótons e nêutrons devem estar próximos, o que significa que a distância entre eles não deve ser
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superior ao tamanho de um deles. Agora, imagine dois nêutrons próximos e explique com suas palavras como você entende a interação que ocorre entre eles.
9. Quando dois prótons estão próximos, como ocorre no núcleo atômico, existe entre eles interações de atração e de repulsão. Essa afirmativa é verdadeira ou falsa? Explique.
O gráfico abaixo mostra o comportamento da energia de ligação por núcleon (E/A) em função da quantidade de núcleons (prótons e nêutrons) presentes no núcleo dos elementos. São informações experimentais. Algumas informações importantes
para a análise do gráfico são: o núcleo do deutério ( H2
1) possui um próton e um
nêutron; o de Hélio-3 ( He3
2 ) possui no núcleo dois prótons e um nêutron e de hélio-4
( He4
2 ) possui no núcleo dois prótons e dois nêutrons.
10. Entre os núcleos mostrados no gráfico, qual você sugere que seja mais estável? Explique o motivo da sua escolha.
11. Observe, atentamente, no gráfico, que os valores das energias de ligação
aumentam junto com a quantidade de núcleons até as proximidades do número de massa (A) igual a 60. Vê-se que a partir desse valor (A=60) a curva sofre uma suave queda, indicando um decréscimo do valor da energia ligação daí em diante. Considerando a interação nuclear forte estudada nas aulas e a interação elétrica
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de repulsão entre os prótons, que conclusão você poderia retirar desse decréscimo da energia de ligação?
12. Na Física de Partículas e em outras áreas da Física a palavra interação é utilizada com muita frequência. Nesse contexto, em que visualizamos o gráfico da energia de ligação, que conexão existe entre energia de ligação e interação?
13. Esse espaço está reservado para você expressar, caso queira, a sua opinião a respeito da experiência de participar dessa pesquisa. Você achou o assunto difícil? Você entende que o tempo foi adequado para as aulas do tema de Física Nuclear Forte? Você gostou da forma como o assunto foi abordado? Agradecemos seus comentários!
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APÊNDICE G – Comentários dos Aprendizes
Aluno 1: Assunto lindo. Entendi mais que os assuntos dados na escola que envolve física clássica.
Aluno 2: O assunto no início pareceu confuso, mas com o ensino e o método utilizados se tornou mais interessante e compreensível. O tempo foi adequado já que foi apenas para uma introdução dos conceitos básicos. Espero um dia poder entender mais sobre quark, antiquark e isospin. Relaxe, isso eu vi na internet.
Aluno 5: Achei o assunto simples, não por ser, mas por assim ser trazido, de forma a instigar a curiosidade e de forma didática. O tempo foi suficiente, mas creio que o ideal é levemente maior, uma ideia nunca vista instiga dúvidas e demanda tempo para amadurecer; talvez se sutilmente introduzido a ideia antes do estudo propriamente dito, o resultado poderia ser mais eficientemente adquirido. Adorei a forma.
Aluno 6: O assunto é interessante e desperta muitas dúvidas sobre todo o processo, porém, não é difícil, mas sim, instigante. O tempo foi adequado para as aulas, sendo o assunto bem contemplado, entretanto, gostaria que houvessem mais aulas, para podermos discutir sobre detalhes e as outras dúvidas que surgem sobre o tema. A forma como o assunto foi abordado foi muito boa, além de nos ajudar a ver a física de outra forma.
Aluna 9: Foi uma boa experiência participar da pesquisa pois mudou minha concepção sobre prótons e nêutrons e sobre a estabilidade. Achei o assunto complicado no início, mas fui me interessando cada vez mais ao longo dos encontros. Gostaria de mais algumas aulas para deixar totalmente claro algumas dúvidas.
Aluno 10: Adorei participar da pesquisa, porém senti falta de uma abordagem mais objetiva. A teorização é divertida, mas na hora da relação senti dificuldade de fixar. A realização de “problemas”, tarefas mais objetivas ajudaria na fixação do aluno. Fora isso achei o assunto bem tranquilo, e o tempo de aula suficiente, porém, com uma maior objetividade em função do subjetivo.
Aluno 11: Primeiramente o assunto de física nuclear foi difícil. Porém o segundo encontro e a maneira que o assunto foi abordado fez com que o assunto fosse ficando compreensivo e fácil. Toda a história do assunto despertou curiosidade para o entendimento do assunto, auxiliando até em outras matérias como química. O tempo para o estudo foi médio, creio, mas aulas seriam necessárias para que o entendimento e a curiosidade que o assunto trouxe fosse eliminada.
Aluno 12: Não achei o assunto difícil, porém achei que o assunto foi abordado de forma muito abstrata em um espaço de tempo muito curto.
Aluna 13: O assunto não é difícil, mesmo que abstrato, pois envolve muita história e é bem explicado para seguirmos a linha de pensamento e descobrimento deles. Foi possível entender Física Nuclear Forte, a história dela e dos cientistas. Mas gostaria de ter um tempo melhor para compreender totalmente a parte da física a as
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das contas, além de poder entender e conhecer outras partes da física moderna. Sim, pois envolveu muita história e questionamento sobre as experiências, e não apenas a resolução de questões/problemas que envolvem fórmulas e muita matemática. A matemática é mínima, mas o conhecimento sobre o mundo é mais interessante e intrigante.
Aluna 14: Achei o assunto muito difícil, poderia ter tido mais tempo, a forma como foi abordado foi muito boa, poderia ter tido mais aulas, para aprofundar mais. Tive muita dificuldade, vou precisar saber mais, e tirar mais dúvidas, ainda mão consegui compreender o assunto, mas como tenho certa dificuldade para aprender algo “rápido”, gostaria de ter mais aulas, me interessei pelo assunto.
Aluna 15: Eu sou uma aluna que com sorte pode ser considerada mediana em física, mas isso porque a forma com que ela nos é ensinada é distante da realidade e extremamente desinteressante, principalmente para quem dificuldade com matemática. Eu posso considerar que aprendi o assunto, mas que principalmente gostei dele. O assunto de Física Nuclear abre nossos olhos para conhecimentos que nunca imaginamos e por ser tão lógico e teórico não assusta o aluno, nem cria a antipatia, mostrando que a física as vezes pode ser interessante. Amei participar (inclusive ensinei às minhas colegas), gostaria de mais aulas e não considero o assunto difícil. Como dica diria que a matemática nesse assunto é pouco benéfica ao aluno e à ilusão histórica meramente introdutória, pois o que gerou, mas encanto não foi o fato de Cézar Lattes ser humilde e sim nossas descobertas e interesses pela física em si.
Aluna 18: O assunto é relativamente confuso, o tempo foi adequado e eu gostei do assunto abordado. Ter aula não obrigatória, onde pode-se escrever o que realmente sabe, sem pressão e classificação é muito produtivo e divertido, faz o tema parecer interessante. Ao tornar a aula obrigatória se tornará um assunto chato e maçante- principalmente, dependendo da abordagem, mas continua sendo um conteúdo relevante e que esclarece dúvidas básicas. Por que o núcleo se mantém unido?
Aluna19: Eu gostei bastante das aulas e consegui entender. Inclusive, achei mais interessante do que os assuntos abordados no colégio.
Aluna 21: Pelo meu ponto de vista, o assunto não é difícil. Porém, dever-se-ia ter mais aulas para discutir esse conteúdo, tendo em vista que é um conteúdo prazeroso de ser estudado, pois abri precedente para uma discussão mais ampla e até interdisciplinar, sendo trabalhado de forma maravilhosa que acaba por desconstruir de certa forma a ideia de uma física cheia de cálculos e tediosa. Levando em consideração que detesto física e graças a esse assunto repensei minha opinião.
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ANEXO
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ANEXO A – Lattes: Nosso Herói da Era Nuclear
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