TESE DE DOUTORADO ESTUDO DAS PROPRIEDADES … · Para a família de compostos (TR,Y)CrO3+γ, as...
-
Upload
phungquynh -
Category
Documents
-
view
218 -
download
0
Transcript of TESE DE DOUTORADO ESTUDO DAS PROPRIEDADES … · Para a família de compostos (TR,Y)CrO3+γ, as...
-
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
PR-REITORIA DE PS-GRADUAO E PESQUISA
NCLEO DE PS-GRADUAO EM FSICA
TESE DE DOUTORADO
ESTUDO DAS PROPRIEDADES ESTRUTURAIS E
MAGNTICAS DOS COMPOSTOS YFe1-xCrxO3 e
(Y,TR)CrO3+ (TR = Dy, Gd, Nd e Pr)
Fernanda Antunes Fabian
So Cristvo SE
Julho/2016
-
Fernanda Antunes Fabian
ESTUDO DAS PROPRIEDADES ESTRUTURAIS E
MAGNTICAS DOS COMPOSTOS YFe1-xCrxO3 e
(Y,TR)CrO3+ (TR = Dy, Gd, Nd e Pr)
Tese de Doutorado apresentada ao Ncleo de
Ps-Graduao em Fsica da Universidade
Federal de Sergipe para obteno do ttulo de
Doutora em Fsica.
Orientador: Prof. Dr. Cristiano Teles de Meneses
So Cristvo SE
Julho/2016
-
Ata Defesa
-
Dedico este trabalho aos meus pais,
Vicente e Marilene.
-
Agradecimentos
Agradeo a Deus acima de tudo.
Ao meu orientador, prof. Dr. Cristiano Teles de Meneses, pela orientao e apoio na
realizao deste trabalho.
Aos meus pais Vicente e Marilene, irmos Flvia e Gabriel e sobrinha Ana Clara pelo
apoio e amor incondicional.
Ao meu namorado Diego Galeano pelo companheirismo, amor e palavras de incentivo que
nunca faltaram. toda sua famlia pela torcida e apoio constante.
Ao Leonardo e Cludia pela amizade, apoio nos momentos mais difceis.
Ao Danilo Junot e toda sua famlia pela amizade e por me acolherem com tanto carinho.
Aos amigos do grupo GPMAT e NPGFI, em especial: Ivani, Thiago, Edielma, Samuel,
Erilaine, Bruno, Pablo, Karoline, Jorge Filho, Carla, Cristiane, Mayara, Jonathas, Rodrigo,
Marcos, Jos Almeida, Adriano, Claudiane, Ylla, Adelino, Silvaneide, por toda ajuda,
momentos de descontrao e principalmente pela amizade.
Aos Professores da escola, graduao e ps-graduao que contriburam para minha
formao.
Ao professor Gerivaldo pela ajuda e discusses constantes no desenvolvimento deste
trabalho.
Karoline Moura pelas medidas de calor especfico e magnetizao.
Erilaine Peixoto pelas medidas de termogravimetria.
Ao Flvio Garcia pelas medidas de magnetizao e acesso ao CBPF.
Universidade Federal de Sergipe pela infraestrutura.
Ao CNPEM pelo suporte financeiro e acesso s linhas de luz XPD, XAFS1 e DXAS.
CAPES, CNPq e FAPITEC-SE pelo suporte financeiro.
A todos que ajudaram direta e indiretamente na realizao deste trabalho, o meu
sincero agradecimento.
-
Resumo
Neste trabalho foram estudadas as propriedades estruturais e magnticas das amostras
(Y,TR)CrO3+ (TR = Dy, Gd, Nd e Pr e = 0 ou 1) e YFe1-xCrxO3 (0 x 1) sintetizadas
pelo mtodo da coprecipitao. As anlises de difrao de raios X (DRX) aliadas ao
mtodo de refinamento Rietveld confirmaram a formao das fases principais em todos os
sistemas propostos. Os resultados de absoro de raios X prximo borda (XANES)
obtidos na borda K do Cr e Fe para srie YFe1-xCrxO3 indicam um sistema de valncias
mistas de Cr2+/Cr3+ e Fe2+/Fe3+. Para a famlia de compostos (TR,Y)CrO3+, as medidas de
DRX in situ em funo da temperatura mostram uma transio de fase de (Y,TR)CrO4 com
estrutura tetragonal e grupo espacial I41/amd para a fase do tipo perovskita (Y,TR)CrO3
que possui estrutura ortorrmbica pertencente ao grupo espacial Pbnm. Estes resultados
foram tambm confirmados atravs de medidas XANES in situ em funo da temperatura
na borda K do Cr, os quais apresentam uma mudana significativa no perfil XANES e na
energia de pr e ps borda devido a mudana do estado de oxidao Cr5+ (TR,YCrO4) para
o estado de oxidao Cr3+ (TR,YCrO3). Esses resultados tambm mostram que a depender
do on Y ou TR, as temperaturas de transio de fase sofrem alteraes. As medidas de
magnetizao em funo do campo magntico e da temperatura para as amostras da srie
YFe1-xCrxO3 (0,5 x 1) apresentam ordenamento antiferromagntico acompanhado de
um ferromagnetismo fraco. Nesses resultados tambm foi observado uma forte
dependncia da TN com a concentrao de Fe na estrutura. O fenmeno de magnetizao
reversa foi observado para a amostra YFe0,5Cr0,5O3, e os resultados mostram que este
fenmeno tem forte dependncia com o campo aplicado. As medidas de magnetizao em
funo do campo magntico e da temperatura indicam um ordenamento ferromagntico
para as amostras (Y,Dy,Gd)CrO4 e antiferromagntico para (Nd,Pr)CrO4, onde as
temperatura de transio magntica ocorreram entre 6 e 22 K. J para os sistemas
(Dy,Gd,Nd,Pr)CrO3 as amostras apresentaram ordenamento antiferromagntico
predominantes, geralmente com duas transies TN1 e TN2.
-
Abstract
In this work the structural and magnetic properties of (Y,TR)CrO3+ (TR = Dy, Gd, Nd e Pr
e = 0 ou 1) and YFe1-xCrxO3 (0 x 1) samples were studied and synthesized by
coprecipitation method. The analysis of X-ray diffraction (XRD) allied to the Rietveld
refinement method confirmed the formation of all phases in the systems proposed. The
results of X ray absorption near edge (XANES) at K edge of Cr and Fe in YFe1-xCrxO3
series indicate a system mixed valences of Cr2+/Cr3+ and Fe2+/Fe3+. For the family of
compounds (Y,TR)CrO3+, XRD in situ as a function of temperature measurements were
performed and the results show a phase transition (Y,TR)CrO4 with tetragonal structure
and space group I41/amd to the phase of perovskite (Y,TR)CrO3 with orthorhombic
structure and space group Pbnm. These results were also confirmed by XANES in situ as a
function of temperature measured in K Cr edge, which show a change in the XANES
profile and pre and post edge energy due to change Cr5+ oxidation state (Y,TRCrO4) to
Cr3+ oxidation state (TR,YCrO3). These results also show that depending on the ion Y or
TR, the phase transition temperature unchanged. The magnetization measurements as a
function of magnetic field and temperature for the samples of YFe1-xCrxO3 (0,5 x 1)
(0.5 x 1) have antiferromagnetic ordering accompanied by a weak ferromagnetism.
These results were also observed a strong dependence of TN with the Fe concentration in
the structure. The reverse magnetization phenomenon was observed for the YFe0,5Cr0,5O3
sample, and the results show that this phenomenon has a strong dependence on the applied
field. The magnetization measurements as a function of magnetic field and temperature
ferromagnetic ordering to (Y, Dy, Gd)CrO4 and antiferromagnetic for (Nd,Pr)CrO4
samples, where the magnetic transition temperature occurred between 6 to 22 K. As for the
systems (Dy,Gd, Nd, Pr)CrO3 samples showed predominant antiferromagnetic ordering,
usually with two TN1 and TN2 transitions.
-
viii
Sumrio
Lista de Figuras x
Lista de Tabelas xv
1 Introduo 1
2 Fundamentao Terica 3
2.1 Magnetismo nos materiais ...................................................................................... 3
2.1.1 Paramagnetismo .............................................................................................. 5
2.1.2 Ferromagnetismo e Antiferromagnetismo ....................................................... 7
2.1.3 Interaes magnticas ...................................................................................... 9
2.2 Difrao de raios X ............................................................................................... 11
2.2.1 Refinamento Rietveld .................................................................................... 14
2.3 Absoro de raios X .............................................................................................. 17
3 Estado da Arte 20
3.1 Compostos ABO3 .................................................................................................. 20
3.2 Compostos ABO4 .................................................................................................. 23
4 Metodologia da Pesquisa 25
4.1 Preparao das Amostras ...................................................................................... 25
4.2 Medidas de difrao de raios X ............................................................................ 27
4.3 Medidas de Absoro de raios X .......................................................................... 28
4.4 Medidas Termogravimtricas ............................................................................... 29
4.5 Microscopia Eletrnica de Varredura ................................................................... 30
4.6 Medidas de Magnetizao .................................................................................... 30
5 Resultados 32
5.1 Resultados para srie YFe1-xCrxO3 ....................................................................... 32
5.2 Resultados para os compostos YCrO3+ ................................................................ 46
5.3 Resultados para os compostos TRCrO3+ ............................................................. 61
-
ix
5.3.1 Termogravimetria para os precursores TRCrO ............................................. 61
5.3.2 Difrao de raios X in situ para os compostosTRCrO3+ .............................. 62
5.3.3 Absoro de raios X in situ para os compostos TRCrO3+ ............................ 70
5.3.4 Difrao de raios X ex situ para os compostos TRCrO3+ ............................. 75
5.3.5 Caracterizao Magntica dos compostos TRCrO4 e TRCrO3 ...................... 78
6 Concluses 92
7 Sugestes para trabalhos futuros 94
Apndice I 95
Referncias 96
-
x
Lista de Figuras
Figura 2.1 Dependncia da susceptibilidade em funo da temperatura para material (a)
paramagntico, (b)ferromagntico e (c) antiferromagntico. Adaptado da ref. [16]. ........... 8
Figura 2.2 Tipos de antiferromagnetismo A, C, G e canting. Adaptado da ref. [15]. ........... 9
Figura 2.3 Esquema da dependncia do ngulo de ligao e da ocupao para a interao
de supertroca. ....................................................................................................................... 10
Figura 2.4 Representao da (I) clula unitria, (II) rede cristalina e (III) de planos
cristalogrficos. Adaptado da ref. [21]. ............................................................................... 12
Figura 2.5 Difrao de raios X por um cristal do ponto de vista de Bragg. Adaptado de
[23]. ..................................................................................................................................... 13
Figura 2.6 Esquema (a) de medida no modo de transmisso e (b) coeficiente de absoro
(E) em tono da borda de absoro. Adaptado de [28]. ...................................................... 18
Figura 3.1 Clula unitria de uma perovskita ideal cbica (a) e a mesma estrutura
visualizada a partir dos octaedros (b). Adaptado de [32]. ................................................... 20
Figura 3.2 Representao da estrutura cristalina da amostra ACrO4. Adaptado da ref. [87].
............................................................................................................................................. 24
Figura 4.1 Diagrama de produo das amostras. ................................................................. 27
Figura 5.1 Padres de DRX da srie de amostras de YFe1-xCrxO3 calcinadas a 1200 C por
48h. A ampliao mostra o deslocamento dos picos e separao dos planos (002) e (210)
com o aumento da concentrao do Cr. As barras verticais referem-se a cif usada do
YFeO3 (ICSD 80865). ......................................................................................................... 33
Figura 5.2 Variao dos parmetros de redes a, b, c e do volume (Vol.) normalizados aos
valores dos parmetros de rede do YFeO3, para srie de amostras YFe1-xCrxO3 em funo
da concentrao de Cr.......................................................................................................... 35
Figura 5.3 Ilustrao estrutura cristalina para as amostras com concentrao x = 1 (YCrO3)
e x = 0 (YFeO3) obtidas pelo programa VESTA usando os dados do refinamento. ........... 35
Figura 5.4 Padres de DRX no modo de alta resoluo para amostras da srie YFe1-xCrxO3.
............................................................................................................................................. 37
Figura 5.5 Imagens MEV para as amostras YFe0,9Cr0,1O3 e YFe0,1Cr0,9O3 calcinadas a
1200C por 48h. ................................................................................................................... 38
Figura 5.6 (a) Espectros de absoro XANES experimental na borda K do Cr nas amostras
de YFe1-xCrxO3 sintetizadas a 1200 C por 48 h. (b) Espectros das amostras padro na
borda K do Cr. * Dados extrados da ref. [99]. ................................................................... 39
-
xi
Figura 5.7 (a) Espectros de absoro XANES, experimental na borda K do Fe nas amostras
de YFe1-xCrxO3 sintetizadas a 1200 C por 48 h. (b) Espectros das amostras padro na
borda K do Fe ...................................................................................................................... 40
Figura 5.8 Dependncia da susceptibilidade magntica () em funo da temperatura para
as amostras da srie YFe1-xCrxO3 (x = 1, 0,9, 0,7 e 0,5) obtidas sob ao de um campo
externo aplicado de 1 kOe. O inset mostra a susceptibilidade magntica em funo da
temperatura com ampliao na regio da transio magntica. .......................................... 42
Figura 5.9 Inverso da susceptibilidade (-1) e derivada da magnetizao (DM/DT) da curva
FC para as amostras da srie YFe1-xCrxO3 (x = 1, 0,9 e 0,7) obtidas sob ao de um campo
externo aplicado de 1 kOe. .................................................................................................. 42
Figura 5.10 Medidas de magnetizao em funo da temperatura no modo ZFC-FC com
diferentes campos aplicados para amostra YFe0,5Cr0,5O3. ................................................... 44
Figura 5.11 Curvas de magnetizao em funo do campo aplicado (MvsH) realizadas em
(a) 300 K e (b) 5 K na srie de amostras YFe1-xCrxO3. O detalhe da figura (a) mostra
ampliao da regio em baixo campo e o detalhe da Figura (b) mostra a medida de MvsH
para x=0,7 depois de remover a contribuio linear da magnetizao total. ....................... 45
Figura 5.12 Curvas TG e DTG para precursor YCrO com taxa de aquecimento de 10/min.
............................................................................................................................................. 46
Figura 5.13 Padres de DRX, experimentais e calculados, usando difratmetro
convencional para precursor YCrO obtidos em diferentes temperaturas. As barras verticais
correspondem as cifs usadas: YCrO4 (ISCD 007567) e YCrO3 (ISCD 109352. ................ 48
Figura 5.14 Ilustrao da estrutura cristalina das fases (a) tetragonal YCrO4 e (b)
ortorrmbica YCrO3. ........................................................................................................... 49
Figura 5.15 Padres de DRX para precursor YCrO medidas in situ em diferentes
temperaturas na linha XPD. As barras verticais corresponde as cifs usadas: YCrO4 (ISCD
007567) e YCrO3 (ISCD 109352). ...................................................................................... 50
Figura 5.16 Cintica de formao de fase na linha XPD para precursor YCrO com taxa de
7C/mim. Os * indicam a presena de picos referentes a fase de Y2O3. ............................. 51
Figura 5.17 (a) Espectros XANES e (b) derivada da absoro adquiridos para precursor
YCrO durante aquecimento de 25 at 700C, sob taxa de 10C/min. *Retirado da ref. [99].
............................................................................................................................................. 53
Figura 5.18 Espectros de XANES para precursor YCrO medidos na DXAS. .................... 54
Figura 5.19 Padres de DRX para precursor YCrO medidas ex situ calcinadas por 6 horas.
As barras verticais corresponde as cifs usadas: YCrO4 (ISCD 007567) e YCrO3 (ISCD
109352). ............................................................................................................................... 55
Figura 5.20 Medidas de magnetizao em funo da temperatura com diferentes campos
aplicados (50, 100, 500 e 5000 Oe) para amostra calcinada em 400 C por 6 h. ................ 56
-
xii
Figura 5.21 Magnetizao em funo da temperatura com campo aplicado de 100 Oe para
amostras calcinadas em (a) 400 (YCrO4) e 500 C (YCrO4) e (b) 550 (36 % de YCrO4 e 64
% de YCrO3), 600 (YCrO3) e 700 C (YCrO3). O inset das Figuras mostram a dependncia
do inversa da susceptibilidade juntamente com ajuste linear para cada amostra. ............... 57
Figura 5.22 Curvas de magnetizao em funo do campo magntico externo aplicado
obtidas a 2 K para as amostras YCrO4 e YCrO3 calcinadas de 400-700 C durante 6h. O
inset da Figura mostra a ampliao da regio de baixo campo. .......................................... 59
Figura 5.23 Curvas de magnetizao em funo do campo magntico externo aplicado
obtidas a 50 K para as amostras YCrO4 e YCrO3 calcinadas de 400-700 C durante 6h. O
inset da Figura mostra a ampliao da regio de baixo campo. .......................................... 60
Figura 5.24 Curvas de magnetizao em funo do campo magntico externo aplicado
obtidas a 200 K para as amostras YCrO3 calcinadas de 600 e 700 C durante 6h. O inset da
Figura mostra a ampliao da regio de baixo campo......................................................... 60
Figura 5.25 Curvas TG e DTG para material precursor (Dy,Gd,Nd,Pr)CrO obtidos via
coprecipitao. ..................................................................................................................... 62
Figura 5.26 Padres de DRX in situ para precursor DyCrO medidas em diferentes
temperaturas na linha XPD. As barras verticais referem-se as cifs usadas do DyCrO3
(ICSD 16505) e DyCrO4 (ICSD 67716). ............................................................................. 63
Figura 5.27 Cintica de formao de fase na linha XPD para precursor DyCrO com taxa de
7C/mim. ............................................................................................................................. 64
Figura 5.28 Padres de DRX in situ para precursor GdCrO medidas em diferentes
temperaturas na linha XPD. As barras verticais referem-se as cifs usadas do GdCrO3
(ICSD 9985) e GdCrO4 (ICSD 51903). ............................................................................... 65
Figura 5.29 Cintica de formao de fase na linha XPD para precursor GdCrO com taxa de
7C/mim. ............................................................................................................................. 66
Figura 5.30 Padres de DRX para precursor NdCrO medidas em diferentes. As barras
verticais referem-se as cifs usadas do NdCrO3 (ICSD 251098) e NdCrO4 (ICSD 90461). 67
Figura 5.31 Cintica de formao de fase na linha XPD para precursor NdCrO com taxa de
7C/mim. ............................................................................................................................. 68
Figura 5.32 Ilustrao da estrutura cristalina das fases (a) tetragonal TRCrO4 e (b)
ortorrmbica TRCrO3. Sob cada estrutura evidenciada o stios do metal de transio Cr
com valncias 3+ (octadrico) e 5+ (tetradrico). ............................................................... 70
Figura 5.33 (a) Espectros XANES e (b) derivada da absoro adquiridos para precursor
GdCrO durante aquecimento de 25 at 700C, sob taxa de 10C/min. .............................. 72
Figura 5.34 Espectros de XANES para precursor DyCrO medidos na DXAS. .................. 73
Figura 5.35 Espectros de XANES para precursor GdCrO medidos na DXAS. .................. 73
-
xiii
Figura 5.36 Espectros de XANES para precursor NdCrO medidos na DXAS. .................. 74
Figura 5.37 Espectros de XANES para precursor PrCrO medidos na DXAS. ................... 74
Figura 5.38 Padres de DRX obtidas em temperatura ambiente para precursor DyCrO
calcinadas forno tipo mufla em diferentes temperaturas por 6 h. As barras verticais
referem-se as cifs usadas do DyCrO3 (ICSD 16505) e DyCrO4 (ICSD 67716). ................. 75
Figura 5.39 Padres de DRX medidos em temperatura ambiente para precursor GdCrO
calcinadas forno tipo mufla em diferentes temperaturas por 6 h. As barras verticais
referem-se as cifs usadas do GdCrO3 (ICSD 9985) e GdCrO4 (ICSD 51903). ................... 76
Figura 5.40 Padres de DRX obtidos em temperatura ambiente para precursor NdCrO
calcinadas forno tipo mufla em diferentes temperaturas por 6 h. As barras verticais
referem-se as cifs usadas do NdCrO3 (ICSD 251098) e NdCrO4 (ICSD 90461). ............... 77
Figura 5.41 Padres de DRX medidos em temperatura ambiente para precursor PrCrO
calcinadas forno tipo mufla em diferentes temperaturas por 6 h. As barras verticais
referem-se as cifs usadas do NdCrO3 (ICSD 251098) e NdCrO4 (ICSD 90461). ............... 77
Figura 5.42 Curvas de magnetizao em funo da temperatura no modo ZFC-FC sob ao
de um campo magntico externo de 100 Oe para a amostra DyCrO4 calcinadas em 500 C
durante 6 horas. O inset da figura mostra a derivada da curva FC (DM/DT). .................... 80
Figura 5.43 Curvas de magnetizao em funo da temperatura no modo ZFC-FC sob ao
de um campo externo de 100 Oe para amostra GdCrO4 calcinada em 500 C durante 6h. O
detalhe mostra a derivada da curva FC em funo da temperatura (DM/DT). ................... 80
Figura 5.44 Curva de magnetizao em funo da temperatura no modo FC sob ao de um
campo magntico externo de 100 Oe para a amostra NdCrO4 calcinada em 600 C durante
6h. O detalhe mostra a derivada da curva FC em funo da temperatura (DM/DT). .......... 81
Figura 5.45 Curvas de magnetizao em funo da temperatura no modo FC sob ao de
um campo externo de 100 Oe para a amostra PrCrO4 calcinada em 600 C durante 6h. O
inset da Fig. mostra a derivada da curva FC em funo da temperatura (DM/DT). ........... 82
Figura 5.46 Curvas de magnetizao em funo da temperatura no modo ZFC-FC sob ao
de um campo magntico externo de 100 Oe para a amostra DyCrO3 calcinadas em 700 C
durante 6h. O detalhe da figura mostra derivada da curva FC (DM/DT). ........................... 83
Figura 5.47 Curvas de magnetizao em funo da temperatura no modo ZFC-FC sob ao
de um campo externo de 100 Oe para a amostra GdCrO3 calcinada a 700 C durante 6h. O
detalhe mostra a derivada da curva FC em funo da temperatura (DM/DT). ................... 83
Figura 5.48 Curvas de magnetizao em funo da temperatura no modo FC sob ao de
um campo externo de 100 Oe para as amostra NdCrO3 calcinadas em 700 C durante 6h. 84
Figura 5.49 Curvas de magnetizao em funo da temperatura no modo FC sob ao de
um campo externo de 100 Oe para a amostra PrCrO3 calcinada em 700 C durante 6h. O
detalhe mostra a derivada da curva FC em funo da temperatura (DM/DT). ................... 84
-
xiv
Figura 5.50 Dependncia da TN1 e raio inico com o elemento terra rara para as amostras
RTCrO3. Os dados foram retiradas da Tabela anterior 5.15. As linhas so guias para os
olhos. ................................................................................................................................... 86
Figura 5.51 Curvas de magnetizao em funo do campo aplicado (MvsH) obtidas a 5 e
100 K para amostras DyCrO4 e DyCrO3 calcinadas a 500 e 700 C por 6h,
respectivamente. O inset das figuras mostram a ampliao da regio de baixo campo. ..... 87
Figura 5.52 Curvas de magnetizao em funo do campo aplicado (MvsH) obtidas a 5, 50
e 200 K para amostras GdCrO4 e GdCrO3 calcinadas a 500 e 700 C por 6h,
respectivamente. O inset das figuras mostram a ampliao da regio de baixo campo. ..... 88
Figura 5.53 Curvas de magnetizao em funo do campo aplicado (MvsH) obtidas a 5 e
100 K (inset) para as amostras NdCrO4 e NdCrO3 calcinadas a 600 e 700 C por 6h,
respectivamente. O inset das figuras mostram a ampliao da regio de baixo campo. ..... 89
Figura 5.54 Curvas de magnetizao em funo do campo aplicado (MvsH) obtidas a 5 e
100 K (inset) para amostras PrCrO4 e PrCrO3 calcinadas a 600 e 700 C por 6h,
respectivamente. .................................................................................................................. 90
-
xv
Lista de Tabelas
Tabela 2.1 Configuraes eletrnicas dos ons terras raras trivalentes no estado
fundamental, raio inico, momento de spin (S), momento angular orbital (L) e momento
angular total (J). Retirado da Ref. [17]. ................................................................................ 7
Tabela 4.1 Amostras preparadas neste trabalho na forma ex situ usando forno tipo mufla. 27
Tabela 5.1 Parmetros de rede (a, b e c) e volume (Vol.) para srie de YFe1-xCrxO3 obtidos
do refinamento dos dados de DRX medidos a temperatura ambiente. ................................ 36
Tabela 5.2 Parmetros de rede (a, b e c) e volume (Vol.) da srie YFe1-xCrxO3 extrados do
refinamento dos dados de DRX utilizando radiao sincrotron, com diferentes temperatura
de medida. ............................................................................................................................ 37
Tabela 5.3 Parmetros de rede (a,b e c) e volume (Vol.) para as amostras YCrO3+ obtidas
via refinamento Rietveld dos dados de DRX in situ obtidos a partir de um difratmetro
convencional. ....................................................................................................................... 48
Tabela 5.4 Parmetros de rede (a, b e c) e volume (Vol.) para as amostras YCrO3+ obtidas
via refinamento Rietveld dos dados de DRX convencional in situ obtidos na linha XPD. 50
Tabela 5.5 Parmetros de rede (a, b e c) e volume (Vol.) para as amostras YCrO3+ obtidas
via refinamento Rietveld dos dados de DRX convencional ex situ. .................................... 55
Tabela 5.6 Momento magntico observado (exp) e calculado (theo), constante de Curie-
Weiss (CW), temperatura de Curie (TC) e Nel (TN) para precursor YCrO calcinado em
diferentes temperaturas (T) durante 6 horas. ....................................................................... 58
Tabela 5.7 Parmetros de rede (a, b e c) e volume (Vol.) extrados do refinamento dos
dados de DRX in situ do precursor DyCrO medidos na linha XPD.................................... 63
Tabela 5.8 Parmetros de rede (a, b e c) e volume (Vol.) extrados do refinamento dos
dados de DRX in situ do precursor GdCrO medidos na linha XPD.................................... 65
Tabela 5.9 Parmetros de rede (a, b e c) e volume (Vol.) extrados do refinamento dos
dados de DRX in situ do precursor NdCrO medidos na linha XPD.................................... 67
Tabela 5.10 Temperaturas de formao das fases TRCrO4 e TRCrO3 obtidos das medidas
DRX in situ na linha XPD nos modos XPDn (com patamares de T) e XPDk (cintica). ... 69
Tabela 5.11 Parmetros de rede (a, b e c) e volume (Vol.) extrados do refinamento dos
dados de DRX do precursor DyCrO medido no forno tipo mufla em diferentes
temperaturas por 6 h. ........................................................................................................... 76
Tabela 5.12 Parmetros de rede (a, b e c) e volume (Vol.) extrados do refinamento dos
dados de DRX do precursor GdCrO medido no forno tipo mufla em diferentes
temperaturas por 6 h. ........................................................................................................... 76
-
xvi
Tabela 5.13 Parmetros de rede (a, b e c) e volume (Vol.) extrados do refinamento dos
dados de DRX do precursor NdCrO medido no forno tipo mufla em diferentes
temperaturas por 6 h. ........................................................................................................... 77
Tabela 5.14 Parmetros de rede (a, b e c) e volume (Vol.) extrados do refinamento dos
dados de DRX do precursor PrCrO medido no forno tipo mufla em diferentes temperaturas
por 6 h. ................................................................................................................................. 78
Tabela 5.15 Momento magntico observado (exp) e terico (the), Constante de Weiss
(CW), Temperatura de Curie e Nel (TC,N) para as amostras TRCrO3+. ........................... 85
-
1 Introduo
Os xidos envolvendo elementos terras raras e metais de transio tm sido alvo de
muitos estudos devido s propriedades fsicas e qumicas neles encontradas. Esses estudos
vm sendo realizados com intuito de compreender e controlar os mecanismos que regem,
principalmente, as propriedades estruturais, eltricas e magnticas [1,2]. Dois tipos desses
materiais, que h muito tempo tem sido objeto de tais estudos, so aqueles que apresentam
estruturas do tipo perovskita (ABO3) e de zircnia (ABO4).
Os xidos com estrutura do tipo perovskita ABO3 (onde A3+ podem ser elementos
terras raras, metais alcalinos ou metais alcalinos terrosos e B3+ geralmente so os metais de
transio), geralmente, podem apresentar interessantes propriedades, como a
Magnetorresistncia colossal, supercondutividade, multiferroeletricidade, transio metal-
isolante, dentre outras [1,3]. Alm disso, alguns compostos que apresentam esta estrutura
mostram um potencial de aplicao em memrias ferroeltricas, condensadores
multicamadas de cermica, transdutores, sensores e memrias de mltiplos dispositivos de
spintrnica controladas por campo eltrico e magntico [47]. Do ponto de vista estrutural,
uma das vantagens de estudar os compostos perovskitas a grande flexibilidade de
acomodar diferentes tomos nos stios A e B, podendo envolver um ou mais ctions em
diferentes estados de oxidao. Como consequncia a isso, a substituio destes stios com
diferentes ctions podem induzir mudanas nas propriedades fsica e gerar uma variedade
de fenmenos [7,8]. Por outro lado, apesar dos xidos perovskitas YCrO3 e YFeO3, objeto
de parte do nosso estudo, na forma pura serem bastante estudados, poucos trabalhos tm
tratado da substituio do stio B com esses metais de transio. Assim, se faz necessrio
um estudo mais detalhado das propriedades desses compostos, bem como o entendimento
dos mecanismos de formao da fase e das propriedades estruturais e magnticas.
Para os xidos do tipo zircnia, com frmula geral ABO4, em que o stio do ction
A3+ pode ser ocupado por elementos terras raras, trio e escndio. J stio do ction B5+
geralmente so ocupados pelos tomos de V ou Cr. Do ponto de vista de aplicao, esses
materiais podem ser utilizados no desenvolvimento de dispositivos eletrnicos e detectores
de cintilao estado slido [9,10]. No entanto, no caso especfico dos compostos ACrO4
no h uma quantidade significativa de trabalhos acerca das propriedades fsicas e
-
1 Introduo
2
qumicas desta famlia, devido dificuldade de preparao de amostras puras, alm da
instabilidade de manter o cromo no estado pentavalente [11,12]. Trabalhos recentes
mostram que esta famlia de compostos apresentam sensibilidade as condies externas, e
alguns relatam uma transio da fase estrutural do tipo zircnia para a scheelite, que induz
a mudana nas propriedades estruturais e magnticas [2,1113].
De forma simplificada, neste trabalho propomos o estudo sobre caracterizao
estrutural e magntica da srie de compostos YFe1-xCrxO3 (0 x 1), YCrO3+ e TRCrO3+
(TR = Dy, Gd, Nd e Pr) obtidos a partir do mtodo de coprecipitao. Neste sentido, o
trabalho se estende ao estudo estrutural da formao e transio de fase dos precursores
obtidos na sntese por coprecipitao, usando medidas in situ e ex situ de difrao e
absoro de raios X para a famlia YCrO3+ e TRCrO3+ (TR = Dy, Gd, Nd e Pr). A tcnica
de absoro de raios X prximo borda de absoro (X-Ray Absorption Near Edge
Structure, XANES) por ser seletiva e muito aplicada na caracterizao de materiais, foi
utilizada em medidas na borda K do Cr e Fe. Tambm foi feito estudo das propriedades
magnticas das amostras atravs das medidas de magnetizao iniciais. No caso do sistema
YFe1-xCrxO3 (0 x 1) foi estudado o efeito nas propriedades magnticas devido a
substituio do stio do Fe com Cr.
Esta tese est organizada em seis captulos. O primeiro captulo apresenta uma
introduo do trabalho. O segundo captulo apresenta uma breve reviso sobre os aspectos
tericos das tcnicas empregadas e das propriedades estruturais e magnticas dos sistemas
estudados. O captulo trs apresenta o estado da arte com a reviso dos principais
resultados publicados na literatura sobre os compostos que foram estudados. O captulo
quatro descreve o mtodo de preparao das amostras e as tcnicas utilizadas no trabalho.
O captulo cinco relata os resultados e discusses acerca da preparao e das propriedades
estruturais, morfolgicas e magnticas das amostras estudadas. O captulo seis so feitas as
concluses e perspectivas, abordando as contribuies deste trabalho considerando os
objetivos propostos, e quais foram alcanados com o presente estudo. A ltima parte
apresenta as referncias consultadas durante o desenvolvimento do trabalho.
-
2 Fundamentao Terica
Neste captulo ser descrito brevemente alguns conceitos importantes para o entendimento
das propriedades fsicas dos sistemas estudados. Primeiramente descreveremos as
propriedades magnticas da matria e as principais interaes microscpicas magnticas.
Tambm ser tratado dos conceitos que envolvem difrao e absoro de raios X.
2.1 Magnetismo nos materiais
O magnetismo dos materiais tem sua origem na estrutura eletrnica dos tomos. O
momento magntico atmico surge devido s contribuies do momento angular orbital
(L) e o momento eletrnico do spin (S). O momento angular orbital est associado ao
movimento do eltron em torno do ncleo e o spin o momento intrnseco do eltron. A
resultante (L+S) se acopla pela interao spin-rbita, resultando num momento angular
total J. Os tomos que possuem as camadas eletrnicas completamente preenchidas a soma
total dos momentos dos eltrons nula, implicando assim na ausncia de propriedades
magnticas. Porm aqueles que possuem camadas semipreenchidas, como por exemplo, a
camada 3d no grupo dos metais de transio e a 4f nos terras raras, verifica-se que a soma
total dos momentos no nula. Outra exemplo no caso dos metais que possuem eltrons
desemparelhados na banda de conduo tambm apresentam propriedades magnticas [14].
A resposta magntica dos materiais quando submetidos a um campo magntico
externo determinado pela estrutura eletrnica do tomo que compe o material [14]. A
energia de interao (E) entre o campo magntico externo (H) e os momentos magnticos
atmicos () dada por:
= (2.1)
Podemos relacionar diretamente o campo magntico induzido B, com o campo
magntico aplicado e com a magnetizao do material (M), atravs da relao:
= 0( + ) (2.2)
-
2 Fundamentao Terica
4
Com unidade do SI Weber/m2 ou Tesla (1T= 104 G) [15]. Quando o material submetido a
um campo magntico, os momentos magnticos presentes no material tendem a se alinhar
na direo do campo magntico externo, gerando assim uma magnetizao coletiva no
material, e a razo entre essa resposta magntica e o volume do material chamada de
magnetizao ( = / ). Na maioria dos materiais magnticos, a magnetizao
proporcional ao campo magntico externo e sendo representada matematicamente por:
= (2.3)
= lim0
(2.4)
onde a susceptibilidade magntica. A definio exata da susceptibilidade magntica
dada pela equao 2.4. A partir da equao 2.2 podemos definir:
= 0 (1 + ) (2.5)
A susceptibilidade magntica a resposta de um material a aplicao de um campo
magntico externo e a anlise do sinal e magnitude dessa grandeza permite classificar os
materiais magnticos em diamagnetismo, paramagnetismo, ferromagnetismo,
antiferromagnetismo e ferrimagnetismo. Esses so os comportamentos magnticos mais
comuns que os materiais podem apresentar [14,15].
Dentre as propriedades destacadas o diamagnetismo o tipo de magnetismo mas
comum e observado em todos os materiais. Neste caso a susceptibilidade apresenta um
valor muito baixo, negativo e independe da temperatura. Todas as substncias apresentam
este tipo de comportamento, porm na maioria das vezes sua contribuio desprezada por
ser muito pequena, principalmente em materiais com momentos magnticos permanentes.
No nosso trabalho no ser descrito com mais detalhes, porm vale salientar a importncia
desta propriedade em materiais supercondutores, onde observado um comportamento
diamagntico perfeito, ou seja, expulsam todas as linhas de campo de dentro do material
abaixo de uma temperatura crtica [16]. A seguir ser tratado dos principais tipos de
comportamento magnticos.
-
2 Fundamentao Terica
5
2.1.1 Paramagnetismo
O paramagnetismo caracterizado por uma susceptibilidade magntica positiva e
pequena, da ordem de 10-3 a 10-5 emu, que diminui com o aumento da temperatura. Estes
materiais no apresentam resposta magntica a campo nulo. O estado paramagntico pode
ser explicado atravs de um sistema fsico composto de N partculas idnticas e separadas
por uma distncia que garante a no interao magntica dos momentos. Neste caso,
apenas na presena de um campo magntico externo H os momentos magnticos tendem
a se alinharem na direo do campo [16]. Neste caso a energia associada interao entre
o momento magntico e o campo magntico externo pode ser expressa como
= (2.6)
sendo que gJ o fator de Land, B o momento magneton de Bohr (B =eh/2m), H o
campo magntico externo na direo z e mJ o nmero quntico associado ao momento
angular total [17]. O fator de Lande um fator giromagntico que acopla a contribuio
orbital e spin, definido como:
= 3
2+
(+1)(+1)
2(+1) (2.7)
A magnetizao pode ser encontrada a partir da mdia estatstica do momento magnticos
na direo z ( = ) pelo nmero de tomos por volume (N/V). Quando
somamos a magnetizao de todos os estados possveis, temos que:
=
() ( 2.8)
() =2+1
2coth (
(2+1)
2)
1
2coth (
1
2) (2.9)
Onde
a magnetizao de saturao. BJ(a) conhecida como funo de Brillouin
e = /. No limite de altas temperaturas, a energia trmica do sistema supera a
energia de interao entre os momentos de dipolos e campo magntico externo. Logo, a
magnetizao do sistema pode ser expressa como [17]:
-
2 Fundamentao Terica
6
=
(+1)
3 (2.10)
A susceptibilidade magntica pode ser encontrada tomando como base a equao 2.3. Logo
a susceptibilidade magntica do composto paramagntico obedece lei de Curie e
representada matematicamente por:
=
=
22 (+1)
3=
(2.11)
onde C a constante de Curie [16]. O inverso da susceptibilidade varia linearmente com o
aumento da temperatura, sendo 1/C a inclinao da reta. O momento magntico pode ser
expresso como o momento efetivo (eff):
= ( + 1) (2.12)
A partir da equao 2.11 podemos definir o momento efetivo em termos da constante de
Curie:
= 3
2 (2.13)
Para determinarmos momento angular de spin (S), o momento angular orbital (L) e
o momento angular total (J) consideramos o nmero de eltrons que esto nas camadas
incompletas do tomo e aplicamos as trs regras de Hund, que so: (i) Os eltrons ocupam
os estados de modo que o valor do spin total S o maior valor permitido, sem violar o
princpio de excluso de Pauli; (ii) O valor do momento angular orbital total L o maior
valor compatvel com o valor de S obtido na primeira regra; (iii) O valor do momento
angular total J igual |LS| se menos da metade da camada estiver ocupada e igual a L + S
se mais da metade da camada estiver ocupada. Quando exatamente metade da camada est
ocupada, a aplicao das duas primeiras regras levam a L = 0 e, portanto J = S, que o
caso para Gd3+. Para os ons lantandeos: J = L S, quando o nmero de eltrons 4f for
menor que 7 (ex.: Nd3+ e Pr3+); J = L + S, quando o nmero de eltrons 4f for superior a 7
(ex.: Dy3+).
Na Tabela 2.1 so apresentados os valores do raio inico dos ctions com coordenao
6 e dos momentos S, L e J para os ons estudados neste trabalho. Para os metais de
transio os valores do momento total J (camadas 3d) se devem apenas ao momento de
spin S e L= 0. Isso ocorre porque para ons 3d a interao do campo cristalino muito mais
forte do que a interao spin-rbita, resultando no congelamento (quenched) do
-
2 Fundamentao Terica
7
momento angular orbital, para uma simetria octadrica. Para ons 4f, os orbitais so muito
menos distantes do ncleo e se encontram sob as camadas 5s e 5p de modo que os termos
de campo de cristalino so menos intensos e a terceira regra de Hund obedecida [17].
Tabela 2.1 Configuraes eletrnicas dos ons terras raras trivalentes no estado fundamental, raio inico,
momento de spin (S), momento angular orbital (L) e momento angular total (J). Retirado da Ref. [17].
on Raio Inico ()* Conf. eletrnica L S J
Cr3+ 0,615 [Ar]3d 3 3 3/2 3/2
Cr5+ 0,345 [Ar]3d 1 1/2 1/2 1/2
Fe3+ 0,645 [Ar]3d 5 0 5/2 5/2
Y3+ 0,960 [Kr]3d 0 0 0 0
Dy3+ 1,027 [Xe]4f 9 5 5/2 15/2
Gd3+ 1,053 [Xe]4f 7 0 7/2 7/2
Nd3+ 1,109 [Xe]4f 3 6 3/2 9/2
Pr3+ 1,126 [Xe]4f 2 5 1 4
*Ref. [18].
2.1.2 Ferromagnetismo e Antiferromagnetismo
Considerando que os momentos de um material esto prximos ao ponto que haja
interao, ocorrer o alinhamento entre eles. As formas mais comuns de alinhamento dos
momentos magnticos so paralelo e antiparalelo. Esse alinhamento paralelo/antiparalelo
tende a diminuir com o aumento da temperatura at um certo ponto chamado de
temperatura de transio magntica (TN ou TC) onde o material perde o ordenamento e
passa para o estado paramagntico. Quando este alinhamento paralelo entre si, at
mesmo na ausncia de um campo magntico externo, o material denominado
ferromagntico (FM).
A primeira explicao do ferromagnetismo foi dada por Pierre Weiss, que props a
existncia de um campo interno ou campo molecular, = que proporcional a
magnetizao do material, sendo intitulada de teoria de campo mdio [15]. Quando
aplicamos um campo magntico externo, o campo total presente neste material dado pela
soma das contribuies dos campos externo e interno, ou seja:
= + (2.14)
-
2 Fundamentao Terica
8
onde a constante de campo molecular de Weiss. A susceptibilidade na regio de alta
temperatura ser dada pela lei mais geral de Curie, a chamada Lei de Curie-Weiss:
=
(2.15)
Em que CW conhecido como temperatura de Curie-Weiss [17]. O desvio da lei de Curie
se deve a contribuio do campo cristalino e tambm as interaes de troca entre os ons
magnticos.
Quando cw > 0 temos uma interao ferromagntica e quando cw < 0 temos uma
interao antiferromagntica. Uma maneira de determinar o valor desta constante
fazendo a extrapolao do inverso da curva de susceptibilidade, como pode ser observado
na Figura 2.1. Sendo que a interseco no eixo da temperatura no ser na origem, como
no paramagnetismo ideal, mas sim em cw.
Figura 2.1 Dependncia da susceptibilidade em funo da temperatura para material (a) paramagntico,
(b)ferromagntico e (c) antiferromagntico. Adaptado da ref. [16].
No caso antiferromagntico (AFM), os momentos se alinham antiparalelamente
abaixo de uma temperatura caracterstica denominada temperatura de Nel (TN). Neste tipo
de ordenamento magntico, ocorre a formao de duas ou mais redes, cada uma apresenta
uma magnetizao em uma dada direo. A interao entre os momentos, que pertencem a
subredes diferentes, favorece o ordenamento antiparalelo e a soma vetorial dos momentos
resultantes gera uma magnetizao nula abaixo de TN. Os materiais ferrimagnticos so
constitudos de ons ordenados antiparalelamente que apresentam uma magnetizao no
nula, porque possuem momentos magnticos com intensidades diferentes.
Materiais antiferromagnticos podem apresentar diferentes disposies dos ons na
subrede e as interaes podem gerar diferentes formas de antiferromagnetismo, sendo os
tipos mais comuns A, C e G, como ilustrado na Figura 2.2 [14]. O acoplamento dos
momentos magnticos nas subredes em alguns materiais predominantemente
-
2 Fundamentao Terica
9
antiferromagnticos podem no ser exatamente antiparalelo, ou seja, formam um ngulo
diferente de zero originando uma magnetizao no nula [17]. Nestes casos ocorre o
aparecimento de uma componente denominada ferromagntica fraca, que pode ser
observada em medidas de magnetizao em funo do campo devido a um pequeno lao de
histerese na regio de baixo campo.
Figura 2.2 Tipos de antiferromagnetismo A, C, G e canting. Adaptado da ref. [15].
2.1.3 Interaes magnticas
Os mecanismos microscpicos que governam as propriedades magnticas da
matria, em particular de xidos de metais de transio, sero descritos a seguir. A
primeira aproximao para entender o magnetismo em slidos seria pela interao dipolar.
Porm, as energias no seriam suficientes para se obter ordenamentos magnticos
observados experimentalmente. Isso faz com que o mecanismo de interao de troca seja
responsvel pelo ordenamento magntico. A interao de troca se origina de um termo
quntico da interao eletrostticas entre os eltrons dos ons vizinhos e do princpio de
excluso de Pauli. As interaes de troca mais conhecidas so troca direta, supertroca,
dupla troca e RKKY (metais) [17].
Para os eltrons em tomos magnticos vizinhos que interagem sem a necessidade
de um on intermedirio, essa interao chamada de troca direta. Em geral, essas
interaes podem ser descritas pela Hamiltoniano de Heisenberg, como:
= (2.16)
-
2 Fundamentao Terica
10
onde Jij a integral de troca e Si o momento magntico do on localizado no stio i
enquanto Sj o momento magntico do on localizado no stio j. Quando Jij> 0 a interao
ferromagntica e quando Jij
-
2 Fundamentao Terica
11
Como vimos, o alinhamento espontneo dos momentos magnticos atmicas em
um material impulsionado por interaes de troca que operam em distncias
interatmicas. Porm, algumas interaes magnticas causam, ou so causadas por uma
toro de arranjos de tomos. O fenmeno do ferromagnetismo fraco (WF) observado nos
materiais antiferromagnticos explicado pela interao antissimtrica Dzyaloshinski-
Moriya (DM) [19]. O WF produzido perpendicular ao eixo de rotao do
antiferromagntico e a interao DM pode ser expressa como:
= (2.17)
Onde Dij vetor D-M e Si,Sj so os momentos magnticos dos ons vizinhos i e j. O
produto do vetor e dos spins leva a uma energia de spin dependente da rotao, que
favorece um alinhamento ortogonal, produzindo uma pequena toro, ou canting, dos
momentos atmicas (ver Figura 2.2) [17].
2.2 Difrao de raios X
A difrao de raios X (DRX) uma das tcnicas mais utilizadas na caracterizao
estrutural de materiais cristalinos. Esta aplicada em vrias reas de conhecimento, tais
como qumica, fsica, geologia, engenharia de materiais, entre outras [20]. Neste trabalho
essa tcnica foi utilizadas para identificar as fases das amostras policristalinas e outras
informaes estruturais, que sero descritas no decorrer desta seo.
Os slidos podem ser divididos em materiais cristalinos e amorfos. Um material
cristalino apresenta o arranjo dos tomos formado por uma rede de clulas unitrias
empilhadas ordenadamente em trs dimenses, idnticas entre si e com longo alcance. A
ausncia do arranjo cristalino de longo alcance caracteriza os chamados slidos amorfos
(Ex. plstico, vidro). A clula unitria representa a menor estrutura que o cristal pode ter e
os seis parmetros de rede que definem a clula unitria so: a, b e c (que indicam o
comprimento dos trs eixos), e os ngulos interaxiais , e , que so os trs ngulos
existentes em um vrtice da clula. A Figura 2.4 (I e II) representam a rede cristalina e a
-
2 Fundamentao Terica
12
clula unitria. Existem sete tipos de sistemas cristalinos: cbica, tetragonal, ortorrmbica,
rombodrica (trigonal), hexagonal, monoclnica e triclnica. Os trs itens que definem uma
estrutura cristalina so o grupo espacial (a partir do qual o sistema cristalino, a classe do
cristal e os elementos de simetria podem ser deduzidos), as dimenses da clula unitria e
as coordenadas atmicas.
A regularidade da estrutura cristalina forma planos de tomos, que so os conjuntos
de planos que interceptam os pontos da rede, e a distncia entre dois planos vizinhos
chamada de distncia interplanar. Para representao dos planos cristalinos so utilizados
os chamados ndices de Miller [21]. Esses ndices correspondem ao inverso do valor no
espao recproco em que o plano corta os eixos no espao real. So os planos cristalinos
que emitem os sinais na tcnica de difrao de raios x. A Figura 2.4 (III) ilustra os planos
cristalinos (100) e (110).
Figura 2.4 Representao da (I) clula unitria, (II) rede cristalina e (III) de planos cristalogrficos. Adaptado
da ref. [21].
Os raios X (RX) so ondas eletromagnticas com comprimento de onda da ordem
de 10-10 a 10-8 m que podem ser gerados usando tubos de raios catdicos (TRC) ou fontes
sincrotron [22]. Os TRC tambm so chamados de fontes convencionais, e neste caso os
raios X so produzidos pela coliso de eltrons (gerados por emisso terminica de um
filamento de tungstnio) com um material alvo que ir emitir ftons de RX com espectro
contnuo e caracterstico. Em fontes sincrotron eltrons e psitrons so acelerados em
velocidades relativsticas em uma rbita circular mantida por campos magnticos. Na
regio do dipolo magntico, o feixe de espectro contnuo obtido com o desvio da
trajetria dos eltrons. A energia do feixe de alta entidade selecionada com auxlio de
cristais monocromadores. A vantagem das fontes sincrotron o feixe de raios X com alta
intensidade (cerca de 105 mais intenso que as fontes convencionais) e uma radiao
-
2 Fundamentao Terica
13
altamente polarizada com largo range de energia. Essas caractersticas fazem com os
experimentos usando este tipo de fonte tenham maior preciso comparadas com
experimentos obtidos com fontes convencionais.
O fenmeno da difrao de raios X possvel devido a radiao eletromagntica
apresentar comprimento de onda da ordem das distncias interatmicas, fazendo com que
os feixe de RX seja difratado pelos planos dos cristais com arranjo peridico [21]. W. H.
Bragg desenvolveu uma teoria simples para descrever o fenmeno de difrao de raios X
em cristais. Esta teoria explica que quando um feixe de raios X monocromtico com
comprimento de onda , incide sobre o cristal em um ngulo em relao aos planos (hkl)
separados por uma distncia interplanar dhkl, as ondas espalhadas sofrero interferncia
construtiva se a diferena de caminho entre os raios X incidente e refletido for um nmero
inteiro vezes o comprimento de onda. Ou seja, ab + bc = n, seguindo a Figura 2.5. Logo,
n = 2dhklsen (2.18)
Essa relao conhecida como lei de Bragg. Quando o feixe incidido em vrios ngulos,
o resultado final um conjuntos de pontos em que a amostra pode difratar
construtivamente, formando um grfico de intensidades em funo do ngulo de
espalhamento 2 (ngulo entre a onda incidente e a onda espalhada) chamado padro de
difrao.
Figura 2.5 Difrao de raios X por um cristal do ponto de vista de Bragg. Adaptado de [23].
O feixe de raios X ao ser difratado por uma amostra carrega informaes sobre o
arranjo atmico e geometria cristalina do material. De maneira geral, as amostras ao serem
analisadas por difrao de raios X podem estar na forma de monocristais ou policristais.
No caso do nosso trabalho as amostras so policristalinas. Pra este tipo de amostra so
-
2 Fundamentao Terica
14
realizadas medidas de DRX do p fino que formado de vrios cristalitos orientados
aleatoriamente. Neste caso, quando uma radiao monocromtica incide no p, formado
um padro de crculos concntricos. E a altura, largura e as posies dessas reflexes
podem ser usados para determinar de forma precisa a estrutura do material. Para anlise
das medidas de difrao e extrao dos parmetros estruturais das amostras envolvidas
neste trabalho foi empregado o mtodo de refinamento Rietveld, descrito no prximo
subcaptulo.
2.2.1 Refinamento Rietveld
O mtodo de refinamento desenvolvido por Hugo Rietveld para caracterizao
estrutural de materiais cristalinos na forma p mundialmente utilizado. Este mtodo pode
ser aplicado para difrao de nutrons e eltrons, usando radiao monocromtica [24]. O
mtodo de Rietveld faz uso do mtodo matemtico estatstico, chamado de mnimos
quadrados para estimar um padro tericos dos picos de difrao, at que esse padro
sejam muito prximo do padro de difrao experimental. A expresso utilizada para
descrever o refinamento dada pela equao 2.19, em que o objetivo a minimizao do
resduo Sy, dado por:
= =1 ( ) (2.19)
onde wi o peso ou desvio de cada ponto medido dado por wi=1/yi, sendo yi a intensidade
no i-simo ponto medido e yci a intensidade no i-simo ponto calculado. Para realizar o
refinamento Rietveld necessrio seguir um modelo estrutural inicial da fase identificada.
No refinamento os parmetros usados para refinar so: parmetros estruturais
(parmetros de rede, posies atmicas, fator de escala, parmetros trmicos), parmetros
do perfil das reflexes, parmetros assimetria, orientao preferencial, entre outros. Esses
parmetros permitem calcular, atravs de um algoritmo, um padro adequado fase que se
pretende estudar. O clculo das intensidades (yci) que melhor se ajuste ao padro observado
dado pela equao [25]:
-
2 Fundamentao Terica
15
= ||2(2 2) A + (2.20)
onde ybi a intensidade da radiao de fundo (background) do i-simo ponto, St o fator
de escala, k o ndice de Miller para reflexo de Bragg; LPk representa a funo
polarizao de Lorentz e multiplicidade; a funo do perfil de reflexo; Pk a funo
de orientao preferencial; Fk o fator de estrutura para a k-sima reflexo de Bragg; A
um fator de absoro e Sr o fator de rugosidade.
Os parmetros expressos na Equao 2.20 so parmetros variveis e que sero
refinados. O fator de escala (St) a constante que ajusta a intensidade em relao altura
dos picos. A aproximao correta do fator de escala fundamental na anlise quantitativa
de fases cristalinas na amostra. O fator de estrutura (Fk) a combinao dos fatores de fase,
espalhamento atmico e Debye-Waller. O fator de fase um fator exponencial que define a
mudana de amplitude do feixe difratado devido a diferena das interferncias das ondas
em funo das posies dos tomos. O fator de espalhamento atmico a ampliao
normalizada do nmero de eltrons para um determinado ngulo. A intensidade dos feixes
espalhados a soma do espalhamento de todos eltrons da clula unitria, ou seja,
proporcional ao nmero atmico dos tomos que constituem a amostra. O fator de Debye-
Waller um fator de correo trmico (Mn), que est relacionado ao movimento de
vibrao dos tomos da clula unitria em torno de uma posio de equilbrio. A
combinao destes fatores resultam no fator de estrutura (Fk), dado por:
= =1 2(+ + )2 (2.21)
onde fn o fator de espalhamento para o tomo n; N a multiplicidade de ocupao do
stio, h, k, l so os ndices de Miller e xn, yn, zn so as coordenadas de posio do ensimo
tomo.
A amplitude total do feixe difratado a soma das contribuies de cada clula
unitria nas direes de difrao permitidas pela geometria da rede. A intensidade medida
proporcional ao quadrado do fator de estrutura vezes seu complexo conjugado. O clculo
da intensidade total do feixe difratado alm do fator de estrutura, deve incluir correes em
funo do aparato experimental e da amostra analisada. Outro parmetro importante no
refinamento a funo matemtica que descreve o perfil das reflexes de Bragg. Existem
vrias funes que descrevem os picos de DRX, dentre elas: Gaussiana, Lorentziana,
-
2 Fundamentao Terica
16
Voigt, Pseudo-Voigt e Pearson VII. No caso de amostras que apresentam picos
assimtricos, as funes Voigt e pseudo-Voigt so as que melhor se ajustam. Essas duas
funes so resultado de uma soma das funes gaussiana e lorentziana, ambas
normalizadas [26]. Encontrar uma funo que define da melhor forma os picos de
fundamental importncia, pois os picos carregam as informaes de altura dos picos de
reflexo, posies dos picos, largura, forma do decaimento das curvas dos perfis de
reflexo e a rea integrada, que so as mais importantes contidas em um padro de
difrao.
A qualidade do refinamento SGof (Goodness of fit) ou S feito pela razo do Rwp
com o valor do erro esperado Rexp. O resduo Rwp atribui o erro associado a cada
intensidade uma funo de nmero de contagens, usando o fator de ponderao wi. O erro
esperado (Rexp) obtido do erro estatstico associado s intensidades medidas [26].
= ()
() (2.22)
= ()
(2.23)
=
=
()
() (2.24)
Sendo yi e yci as intensidades observadas e calculadas no i-simo ponto do padro e wi o
valor ponderado das intensidades, N o nmero de observaes e P o nmero de
parmetros a serem refinados.
O programa usado para o refinamento Rietveld precisa de um arquivo de entrada
que contm todos os dados da estrutura de um material similar ao da amostra em estudo,
como os dados de simetria do grupo espacial, posies atmicas, posies de ocupao,
parmetros de rede. Os parmetros instrumentais refinados consiste do deslocamento da
amostra com relao ao plano do cristal, background e orientao preferencial. Esses
fatores esto relacionados diretamente com o posicionamento da amostra no equipamento,
a funo perfil que est sendo utilizada no refinamento e as condies de preparao da
amostra. Os parmetros estruturais refinados das fases contidas na amostra so as posies
atmicas, parmetros de rede, parmetros trmicos (isotrpico e anisotrpico), fator de
ocupao do tomo no seu respectivo stio e os parmetros da funo perfil usada.
-
2 Fundamentao Terica
17
2.3 Absoro de raios X
Atualmente, a absoro de raios X (XAS) uma tcnica bem estabelecida e muito
utilizada no estudo da estrutura eletrnica e atmica local de slidos, lquidos e gases em
uma ampla gama de condies externas definidos pela temperatura, presso, etc. Os
primeiros estudos experimentais de absoro de raios X foram iniciados com a descoberta
dos raios X. Mas, s foi estabelecida com a criao dos laboratrios de radiao sincrotron
[27]. Sabe-se que a radiao eletromagntica ao incidir na matria pode ser absorvida ou
espalhada pelos tomos devido a diversos processos, entre eles espalhamento coerente e
incoerente, efeito fotoeltrico e produo de pares.
No espalhamento coerente o fton espalhado com energia igual do feixe
incidente, e no incoerente o fton espalhado tem energia menor que a do fton incidente.
Esses so os chamados efeitos Rayleigh e Compton, respetivamente. O efeito fotoeltrico
ocorre quando um fton de um feixe de raios X colidem com os eltrons de uma camada
interna e totalmente absorvido. Fazendo com que este eltron seja arrancado de um nvel
ligado para um estados desocupado, criando assim um fotoeltron. Este fotoeltron possui
uma energia igual diferena entre a energia do fton incidente e a sua energia de ligao
inicial. Aps ejetado, o fotoeltron percorre uma pequena distncia e rapidamente
absorvido. A produo de pares consiste na coliso de um fton de alta energia com o
campo nuclear, resultando na gerao de um par eltron-psitron. Cada um desses
processos possui uma probabilidade de ocorrer que depende do elemento absorvedor e da
energia do fton incidente, denominada seo de choque. Na absoro de raios X utiliza-se
a regio do espectro eletromagntico com energias onde o processo mais comum o efeito
fotoeltrico.
O feixe de raios X com intensidade (I0) ndice em um material absorvedor de
espessura x e sofre atenuao, a intensidade final observada (I) ser:
= 0 (2.25)
onde (E) o coeficiente de absoro e a quantidade bsica medida em XAS. Este
coeficiente descreve quo fortemente os raios X so absorvidos em funo da energia
incidente e depende da densidade, nmero atmico e da estrutura local do material
absorvedor. Os principais modos de medidas de absoro so transmisso e fluorescncia.
-
2 Fundamentao Terica
18
O modo de fluorescncia muito usado quando se tem amostras diludas. No modo de
transmisso a intensidade medida antes (I0) e depois (I) da interao com a amostra. A
Figura 2.6 (a) ilustra como realizado um experimento de absoro de raios X usando o
modo de transmisso.
Figura 2.6 Esquema (a) de medida no modo de transmisso e (b) coeficiente de absoro (E) em tono da
borda de absoro. Adaptado de [28].
O espectro XAS pode ser dividida em trs regies: pr-borda, borda e regio ps
borda de absoro, como ilustrado na Figura 2.6 (b). A primeira regio chamada de pr-
borda, onde as intensidades de absoro geralmente no so considerveis. Mas, para
borda K de elementos metais de transio, nesta regio pode ocorrer transies fracas de
1s3d, devido para estados desocupados deste elementos, e para os metais de transio
com simetria tetradrica possvel observar transies intensas na regio de pr borda,
devido esta simetria favorecer a hibridizao entre estados 2p do oxignio e 3d do MT
[29].
Na regio da borda de absoro ocorre o aumento abrupto da absoro. Isso
acontece quando a energia do fton incidente suficiente para excitar um eltron dos
nveis mais internos do tomo (1s4p) para uma camada mais energtica. Cada material
possui uma energia especfica da borda de absoro. A terceira regio corresponde a
absoro de energias maiores que a energia de ligao, ocorrendo transies para o estado
do contnuo, e o excesso de energia carregado pelo fotoeltron na forma de energia
cintica. Esta terceira regio subdividida nas regies de XANES e EXAFS.
A regio de XANES (X-Ray Absorption Near-edge Structure) a regio muito
prxima da borda de absoro, at aproximadamente 50 eV. Nessa regio so observadas
oscilaes intensas do coeficiente de absoro, que so explicadas pelos mltiplos
espalhamentos que dependem da geometria tridimensional do cristal e transies para
nveis desocupados. Estes fatores tornam essa regio sensvel s ligaes qumica
-
2 Fundamentao Terica
19
exibindo, por exemplo, traos caractersticos para estado de oxidao do tomo de
absorvedor e um meio de distinguir entre diferentes coordenao [30]. Clculos tericos da
estrutura fina nesta regio so complexas e a preciso de tais simulaes ainda limitada,
embora progressos significativos tem sido feito nos ltimos anos [30]. Portanto, nesta
regio geralmente feita uma anlise qualitativa dos espectros, com auxlio de espectros
conhecidos, e possvel quantificar as razes pelas quais estes padres esto presentes na
amostra usando uma combinao linear.
A regio de EXAFS (Extended X-ray Absorption Fine Structure) os ftons de raios X
de alta energia incidem nos tomos do material absorvedor promovendo os fotoeltrons a
um estado livre ou continuo. Esta regio no depende da ligao qumica, e sim do arranjo
atmico em torno do tomo absorvedor. A funo de onda do fotoeltron espalha-se, que
por sua vez acaba sendo retroespalhada pelos tomos vizinhos, no chamado espalhamento
simples. Esta interferncia entre a funo de onda do fotoeltron e a parte retroespalhada
gera variaes no coeficiente de absoro do material. Este contm informaes sobre
desordem, s distncias inicas e a quantidade de tomos vizinhos em relao a tomo
absorvedor [31].
-
3 Estado da Arte
Neste captulo ser apresentado uma reviso da literatura a respeito das propriedades
conhecidas dos compostos perovskitas e zircnia estudados neste trabalho.
3.1 Compostos ABO3
Uma famlia de compostos estudados neste trabalho so os xidos perovskitas, que
so uma classe importante de compostos com vasta aplicao tecnolgica [3,32]. A famlia
mais geral das perovskitas apresenta estequiometria ABO3, onde A um elemento com
raio inico grande, comumente os elementos terras raras, metais alcalinos ou metais
alcalinos terrosos. J o ction B apresenta um raio inico pequeno, constitudo na maioria
por metais de transio. Uma perovskita ideal apresenta estrutura cristalogrfica cbica,
como ilustra a Figura 3.1, onde os ctions A so coordenados por 12 tomos de oxignio e
os ctions B por seis tomos de oxignio.
Figura 3.1 Clula unitria de uma perovskita ideal cbica (a) e a mesma estrutura visualizada a partir dos
octaedros (b). Adaptado de [32].
A maioria dos compostos perovskitas no apresentam simetria cbica ideal em
temperatura ambiente, isso devido a distores ou deslocamentos dos tomos que levam a
mudanas na simetria desses compostos. As distores geralmente esto associadas a
desigualdade nos tamanhos dos raios inicos dos elementos envolvidos ou deformaes
dos octaedros. Para perovskitas distorcidas, utiliza-se certa tolerncia de ocupao do
tomo, que Goldschmidt definiu por um fator de tolerncia [33].
-
3 Estado da Arte
21
As propriedades funcionais encontradas nestes compostos podem estar relacionadas
com sua estrutura cristalina e com a flexibilidade de composio catinica e de oxignio.
Em materiais perovskitas, a substituio parcial do stios A e B podem induzir a uma
variedade de fenmenos interessantes, j observados por alguns autores [34]. No entanto,
os mecanismos causadores destes fenmenos ainda so fonte de estudo para que se chegue
a uma melhor compreenso da sua natureza.
Os xidos perovskitas com frmula A(Fe,Cr)O3 so amplamente estudados, isso
devido a propriedades magnticas e eltricas apresentadas e por serem fortes candidatos a
serem utilizados no desenvolvimento de dispositivos de gravao magntica, sensores e
eletrodos condutores. Esses resultados so fortemente dependentes do on MT inserido na
estrutura [32,35]. No caso de estruturas do tipo ACrO3, ou seja, o on inserido o cromo,
elas so chamadas de ortocromitas. Esta uma interessante classe de composto por
apresentar uma grande variedade de propriedades fsicas e qumicas, dependendo do on
introduzido no stio A [3640].
Quando o on A o Y, Dy, Gd, Nd e Pr, esses materiais geralmente apresenta uma
estrutura perovskita distorcida ortorrmbica e ordenamento antiferromagntico
predominante [4044]. O Y3+ no magntico, por isso a TN em torno de 140 K devido
somente as interaes dos ons Cr3+-O-Cr3+ [45]. Os ons trivalentes Gd, Dy, Nd e Pr
apresentam um comportamento magntico complexo, com diferentes temperaturas de
transio. Nestes compostos podem ocorrer interaes do tipo A3+-O-Cr3+, A3+-O-A3+ e
Cr3+-O-Cr3+. Quando a amostra resfriada de temperatura ambiente, a subrede do Cr a
primeira a se ordenar com a temperatura (TN1), pois so interaes mais fortes e
predominantes. Em temperaturas abaixo de 15 K so observadas transies associadas as
interaes entre os ons terras raras [40,46].
As propriedades magnticas dos compostos RFeO3 (R= terra rara ou trio)
continuam sendo muito estudadas devido as promissoras aplicaes [47]. Para o composto
YFeO3, a estrutura ortorrmbica geralmente obtida com grupo espacial Pnma,
apresentando um ordenamento antiferromagntico abaixo de 640 K [48,49] . Os compostos
A(Cr,Fe)O3 apresentam ordenamento antiferromagntico tipo G, juntamente com
ferromagnetismo fraco (WF) abaixo de TN. A componente ferromagntica fraca
evidenciada nos dados de magnetizao em funo do campo na regio de baixo campos
nas medidas feitas abaixo de TN1. O WF ocorre devido esses materiais apresentarem um
-
3 Estado da Arte
22
antiferromagnetismo no colinear, chamado de canting, que a inclinao dos momentos
magnticos, e d origem a interao Dzyaloshinsky Moriya (DM) [46,5052].
Trabalhos tm tratado do efeito da substituio com diferentes ctions nos stios A
e B das perovskitas ABO3 [5356], com intuito de modificar as propriedades magnticas.
O primeiro estudo realizado no sistema YFe1-xCrxO3 foi reportado por Wold e Croft em
1959, [57]. Ainda hoje, trabalhos tem sido realizados sobre investigao das propriedades
magnticas desta mesma srie [5864]. Isso porque neste compostos a substituio de Cr e
Fe induz anomalias no momento magntico que dependem da temperatura e concentrao.
E ainda afirmaram que a regio mais complexa seria na concentrao intermediria dos
ons de metais de transio envolvidos. As amostras foram identificadas com estrutura
ortorrmbica (Pbnm) e apresentaram uma reduo dos parmetros de rede com o aumento
de Cr, que foi associado a diferena de raios inicos do Fe3+ por Cr3+ (0,645 e 0,615 ,
respectivamente). Um dos efeitos incomuns que esses compostos apresentam o fenmeno
da magnetizao reversa (MR). Este fenmeno a mudana do sinal da magnetizao
espontnea abaixo de uma determinada temperatura, chamada temperatura de
compensao (Tcomp), onde abaixo desta temperatura a magnetizao negativa [64].
O fenmeno da magnetizao reversa tem atrado muita ateno nos ltimos anos
devido as interessantes propriedades fsicas fundamentais e o potencial de aplicaes
[6568]. Este fenmeno foi relatado para alguns compostos ferrimagnticos e explicado
devido a diferente dependncia da temperatura da magnetizao das subredes em torno de
um metal de transio de diferentes stios cristalogrficos, como nos compostos spinel,
garnets [6972]. Para ferromagnetos do tipo SmAl2, esse fenmeno tem sido explicado
devido ao grande momento orbital do on terra rara que se alinha antiparalelamente ao
momento de spin [73]. Em compostos perovskitas com antiferrromagnetos canting tem
sido observado o fenmeno da MR em vrios compostos [66,67,7476]. Nestes trabalhos
a magnetizao reversa tratada devido ao acoplamento antiferromagntico entre os
momentos dos ons terras raras e do metais de transio, e competio entre anisotropia
magntica e interao D-M.
Nos compostos perovskitas onde feita a substituio parcial dos ons dos stios A
e B, como em La1-x/2Bix/2Fe0.5Cr0.5O3 e BiFe0.5Mn0.5O3, o fenmeno da MR tem sido
associado a ocupao aleatria dos ons no sitio B desta estrutura [64,77,78]. No caso da
srie YFe1-xCrxO3, foi previsto teoricamente que o estado ferrimagntico resulta em um
acoplamento de momentos ferromagnticos fraco entre FeOFe e CrOCr e que a
-
3 Estado da Arte
23
interao FeOCr poderia gera o efeito da MR neste sistemas [58]. Alguns trabalhos tem
relatado o fenmeno da magnetizao reversa para concentraes intermediarias do
composto YFe1-xCrxO3 [7982]. Nesses trabalhos tem-se assumido que os ons de Fe3+ e
Cr3+ esta distribudos aleatoriamente no stio B. Onde os mecanismos que do origem ao
canting dos momentos AFM so a anisotropia magntica single-ion e a interao
antisimtrica D-M. De modo que h uma concorrncia desses efeitos, que se torna mais
pronunciado quando se tem x = 0,5. Os momentos lquidos produzidos por estes dois ons
so em sentido oposto e tm dependncia com a temperatura. De modo que quando a
temperatura diminui a magnetizao negativa ocorre, apenas em campos baixos. Se o
campo aplicado suficientemente grande, a anisotropia magntica superado pela energia
induzida pelo campo, o momento magntico resultante orientado paralelamente direo
de campo, e a magnetizao negativa desaparece. Recentemente, medidas de absoro de
raios X na regio de XANES tem evidenciado a existncia de valncias mistas neste
composto [82].
3.2 Compostos ABO4
Outro material que vem sendo estudado neste trabalho so os compostos com a
frmula geral ABO4, onde A pode ser ocupado por elementos de terras-raras, trio e
escndio. O stio B incluem uma variedade de ons, como P, As, Ce e V [83,84] . Esses
compostos so isoestruturais ao ZrSiO4, por isso so denominados tipo zircnia, e alguns
trabalhos sugerem potencial para aplicaes tecnolgicas, como no desenvolvimento de
dispositivos eletrnicos, detectores de cintilao do estado slido [9,10]. Para compostos
ACrO4 onde A apresenta raio inico grande, como Pr e La, os compostos podem apresentar
estrutura monoclnica com grupo espacial P21/n [85,86]. Na maioria dos casos os
compostos ACrO4 apresentam, a presso e temperatura ambiente, uma estrutura tipo
zircnia tetragonal com grupo espacial I41/amd [11]. Trabalhos tem relatado uma transio
estrutural da estrutura tipo zircnia (I41/amd) para estrutura scheelite (I41/a) sob certas
presses e temperatura [2,11,12]. Na estrutura tetragonal com grupo espacial I41/amd o
ction A coordenado por oito ons de oxignio (AO8) e o cromo coordenado por quatro
oxignios (CrO4), como mostra a Figura 3.2.
-
3 Estado da Arte
24
Figura 3.2 Representao da estrutura cristalina da amostra ACrO4. Adaptado da ref. [87].
O grande interesse nestes compostos se deve a presena de diferentes tipos de ons
magnticos, A3+ e Cr5+, onde os fenmenos magnticos observados neste compostos se
devem as interaes entre os eltrons 3d e 4f [9]. As transies observadas nestes
compostos ACrO4 geralmente so muito baixas, abaixo de 30 K [88]. No caso de YCrO4 as
propriedades magnticas so definidas pelos ons de Cr5+, j que o Y3+ diamagntico.
Para os compostos onde A so os ons Y, Dy e Gd, as propriedades magnticas relatadas na
literatura mostram um comportamento ferromagntico com temperatura de transio
magntica (Tc) entre 9 e 22 K [11,86,88] . J para os compostos onde A so Nd e Pr
apresentam ordenamento antiferromagntico [85,86,89] . Os mtodos de sntese relatados
para estes compostos geralmente so mtodo precursor, reao estado slido, onde se usam
condies com alto controle da oxidao, temperatura e tempo de sntese. A complexidade
relatada em se trabalhar com os compostos ACrO4, se deve a dificuldade de preparao de
amostras puras, devido falta de instabilidade do ons Cr5+ com a temperatura de sntese
[90]. J que em 700C a fase j se decompe em uma estrutura tipo perovskitas ABO3.
-
4 Metodologia da Pesquisa
Neste captulo ser apresentado o mtodo de preparao das amostras obtidas neste
trabalho de tese. Ser descrito conceitos bsicos necessrios para o entendimento das
tcnicas, seguido das condies experimentais utilizadas nas medidas.
4.1 Preparao das Amostras
Os xidos perovskitas e do tipo zircnia tem sido preparados por diversos mtodos
de sntese [3,7,32,90]. No caso dos compostos tipo zircnia estudados neste trabalho
(Y,TR)CrO3+, existe uma grande instabilidade na valncia do Cr tornando difcil o uso de
mtodos "convencionais" de preparao de compostos. Portanto, a busca por mtodos de
sntese com maior eficincia e que sejam de baixo custo e de fcil manipulao
necessria.
A rota de sntese escolhida para preparao das amostras foi o mtodo qumico da
coprecipitao. Este mtodo de preparao de amostras muito utilizado devido sua
eficincia na obteno de xidos metlicos tanto na forma bulk como nanoestruturada. Os
compostos obtidos por este mtodo apresentam uma mistura mais eficiente dos ctions
metlicos. Isto faz com que as amostras obtidas por esse mtodo apresentem maior
homogeneidade, menor temperatura e tempo de sntese, e alguns casos minimiza a
ocorrncia de fases esprias.
O mtodo da coprecipitao consiste na precipitao simultnea de dois ou mais
ons metlicos em soluo, geralmente aquosa [91]. Os conceitos que explicam esse
mtodo de sntese so descritos no trabalho de Courty et al [92]. Neste mtodo para a
formao do precipitado, necessria a supersaturao da soluo. Isto pode ser feito com
aumento da temperatura da soluo, pela evaporao do solvente, ou quimicamente com
modificao do pH. As caractersticas morfolgicas e estruturais das amostras obtidas por
coprecipitao dependem de muitos parmetros, sendo o mais importante a supersaturao,
que influencia diretamente nos processos de nucleao e crescimento das partculas. Claro
que os ons usados na sntese influenciam no processo, assim como os procedimentos
experimentais adotados na sntese. Quando o procedimento de supersaturao de uma
-
4 Metodologia da Pesquisa
26
soluo com dois ou mais ons metlicos (IM), envolve a adio de uma soluo base de
hidrxidos (OH), teremos a seguinte reao:
Nesse caso, os ons metlicos esto hidrolisados formando um precipitado, em geral
para composio com mais do que um metal, que ainda no formam fases cristalinas.
Devido a isso, o precipitado submetido a tratamentos trmicos para obteno da fase
desejada. Neste trabalho por conveno os precursores foram chamados de (Y,TR)CrO,
onde TR = Dy, Gd, Nd e Pr. Os sistemas de amostras policristalinas obtidas neste trabalho
foram preparados pelo mtodo da coprecipitao seguindo os procedimentos da ref. [93].
Para obteno das sries de amostras foram usados os sais de partida em quantidades
estequiomtricas. Os reagentes da marca Sigma-Aldrich utilizados na preparao das
amostras deste trabalho foram:
Cr,Fe(NO3)39H2O (99%)
Y,(Pr, Nd, Gd)(NO3)36H2O (99,8%)
Dy(NO3)3xH2O (99,9%)
Os sais de partida foram dissolvidos em quantidades estequiomtricas em 20 ml de
gua destilada temperatura e presso ambiente. Essa soluo foi agitada usando um
agitador magntico, e em intervalos de 5 min foram adicionados 5 ml de soluo de
hidrxido de sdio (NaOH), com concentrao de 1 mol/L de gua destilada, para
controlar o pH, at atingir um valor de 13. A escolha do valor deste pH para garantir que
todos os metais envolvidos na soluo estivessem hidrolisados. O precipitado obtido foi
coletado utilizando uma centrfuga com velocidade de 3000 rpm. Foram realizadas trs
lavagens no percursor com gua destilada, para remoo do NaNO3. Aps a lavagem o
precipitado foi submetido ao processo de secagem 50 C durante 5 dias. O precipitado
seco foi submetido ao processo de macerao para obteno do p precursor. O
fluxograma abaixo ilustra os processos envolvidos na sntese por coprecipitao.
-
4 Metodologia da Pesquisa
27
Figura 4.1 Diagrama de produo das amostras.
Neste trabalho foram utilizadas tcnicas de caracterizao in situ e ex situ. Para as
medidas in situ, foi utilizado o material precursor e o processo de calcinao foi realizada
juntamente com a coleta da medida de difrao ou absoro de raios X. Para obteno das
amostras ex situ, o precipitado (precursor) foi calcinado em temperaturas especificas para
cada amostra em um forno do tipo mufla. A Tabela 4.1 a seguir mostra as amostras ex situ
obtidas neste trabalho:
Tabela 4.1 Amostras preparadas neste trabalho na forma ex situ usando forno tipo mufla.
Amostra Temperatura (C) Durao (horas)
YCr1-xFexO3 1200 48
YCrO4 400 e 500 6
DyCrO4 500 6
(Gd, Nd, Pr)CrO4 500 e 600 6
YCrO3 600 e 700 6
(Dy, Nd, Pr)CrO3 700 6
GdCrO3 650 e 700 6
4.2 Medidas de difrao de raios X
Neste trabalho s medidas de difrao de raios X foram realizadas utilizando fonte
convencional e sncrotron de raios X. Essas medidas foram feitas em dois conjuntos
experimentais: in situ e ex situ. Nas medidas in situ a coleta dos padres de DRX feita
-
4 Metodologia da Pesquisa
28
simultaneamente com a calcinao do precursor. Nas medidas ex situ os precursores foram
calcinadas em um forno tipo mufla e depois foi feita a medida de DRX na amostra j
formada. As medidas de DRX usando fonte convencional de RX foi utilizado um
difratmetro com geometria Bragg-Bretano de marca Panalytical com radiao K1 e K2
do cobre (1,54056 e 1,54439 , respectivamente). Os dados foram coletados no modo
continuo com passo de 0,01 e intervalo angular de 15 a 80. Neste equipamento as
medidas in situ foram realizadas utilizando um forno acoplado ao difratmetro de raios X
(Empyrean, PANalytical).
Experimentos de difrao de raios X com alta resoluo e em alta e baixa
temperatura tambm foram realizados. Essas medidas foram realizadas no Laboratrio
Nacional de luz Sncroton (LNLS), na linha de luz de difrao de p (D10B-XPD). As
medidas em alta temperatura foram feitas acoplando um forno a linhas, e em baixa
temperatura (20 K) usando um criostato acoplado. Para a srie de amostras YFe1-xCrxO3
preparadas ex situ, as medidas foram realizadas no intervalo angular foi de 20 a 80 com
passo de 0,01 /min usando o comprimento de onda utilizado dois de 1,76 , afim de
reduzir os efeitos de fluorescncia do Fe. J para as medidas in situ feitas nos materiais
precursores foi utilizado um comprimento de onda de 1,55 (7999,64 eV). Essas ltimas
medidas foram realizadas de duas formas. A primeira consistiu em medidas tomadas em
diferentes patamares de temperatura obedecendo a uma taxa de aquecimento de 10C/min
em intervalos angulares fixos de 15 a 70. J a segunda, so medidas de cintica e foram
realizadas a cada 1 minuto usando uma taxa de 7C/min e coletadas num intervalo de 20 a
38. A identificao das fases cristalinas foi feita comparando o padro de difrao das
amostras (dados experimentais) com dados conhecidos da literatura. Para identificao das
fases cristalinas foram utilizados os programas X'Pert HighScore Plus da Panalytical e o
banco de dados PDF2 da ICDD (International Centre for Diffraction Data). Para analisar
as medidas de difrao e extrair as informaes da estrutura cristalina das amostras
envolvidas neste trabalho foi empregado o mtodo de refinamento Rietveld, implementado
no programa livre DBWSTools2.3, como descritos em [25,94].
4.3 Medidas de Absoro de raios X
As medidas de absoro de raios X apresentadas neste trabalho foram realizadas
nas linhas de luz de raios X D04B-XAFS1 e D06A-DXAS do Laboratrio Nacional de Luz
-
4 Metodologia da Pesquisa
29
Sncrotron (LNLS), localizada em Campinas-SP. A linhas XAFS1 utilizada para
experimentos convencionais de absoro de raios-X, pois possibilita um alcance em
energia relativamente grande (acima de 1000 eV ps borda). A linha DXAS apresenta uma
geometria de ptica dispersiva e destinada, especialmente, para experimentos in situ. Ela
se restringe a um pequeno alcance em energia (aproximadamente 250 eV ps borda), por
isso mais indicada para experimentos na regio XANES. A principal vantagem da linha
DXAS se deve ao fato de ser possvel obter vrios espectros de absoro de raios-X em
alguns segundos. Isso capacita a linha a ser utilizada em experimentos in situ para
caracterizao de vrios materiais, principalmente em estudos que envolvem,
eletroqumica, catlise, transies de fases, dicrosmo circular magntico, e tambm
adaptada para estudos em altas presses.
Para a srie de amostras YCr1-xFex