Teologia I (Bibliologia e Teontologia)

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Teologia Sistemática I Só a Escritura, Só Cristo, Só a Graça, Só a Fé, Só a Deus Glória 1 Teologia eologia eologia eologia Sistemática I Bibliologia e Teontologia

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Texto selecionado e resumido de vários autores reformados

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Teologia Sistemática I

Só a Escritura, Só Cristo, Só a Graça, Só a Fé, Só a Deus Glória 1

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I. A CIÊNCIA TEOLOGICA

1.1 Conceitos a. Conceito Etimológico

O vocábulo teologia vem dois outros do língua grega, a saber: θεος (teos = Deus) + λογος (logos = palavra, discurso). Sendo assim, etimologicamente, teologia é um discurso a respeito de Deus.

Orfeu e Homero foram chamados de teólogos entre os gregos, porque seus poemas tratavam da natureza dos deuses. Aristóteles classificou as ciências sob os títulos de física (aquela que se ocupa com a natureza), matemática (aquela que se ocupa com os números e da quantidade) e teologia (aquela que se ocupa de Deus).

Os pais da igreja se referiam ao apóstolo João como “o teólogo”, porque em seu evangelho e epístolas a divindade de Cristo se tornou proeminente.

b. Conceito Técnico

A definição de teologia mais comum, especialmente em nossos dias, é de que ela é a ciência da religião. Contudo, a palavra religião é ambígua. Sua etimologia é duvidosa. Cícero faz referência a ela como relegere, revisar novamente, considerar. “Religio” é então consideração, observação devota , especialmente do que pertence ao culto e serviço devidos a Deus.

Agostinho e Lactânio derivam a palavra de religare, religar. De acordo isso, religio é a base de obrigação. É aquilo que nos liga a Deus. Subjetivamente, é a necessidade interior de união com Deus.

Esta diversidade de conceitos quanto ao que significa religião basta para provar quão completamente vaga e insatisfatória precisa ser a definição de teologia como “a ciência da religião”. Além disso, essa definição faz a teologia inteiramente independente da Bíblia. Pois como a filosofia moral é a análise de nossa natureza moral, assim a teologia se torna a análise de nossa consciência religiosa, justamente com as verdades que essa análise desenvolve. E mesmo a teologia cristã só é análise da consciência religiosa do cristão.

Temos, pois, que restringir a teologia à sua real esfera, como a ciência dos fatos da revelação divina até onde esses fatos dizem respeito à natureza de Deus e à nossa relação com Ele, como suas criaturas, como pecadores e como sujeitos da redenção.

1.2 Métodos de Estudo da Teologia

Toda ciência tem seu próprio método, determinado por sua natureza peculiar. Este métodos são os princípios que devem controlar as investigações científicas. Se uma pessoa adota um falso método, ela é semelhante a alguém que toma uma estrada errada que jamais a levará a seu destino. Os dois grandes métodos abrangentes são o a priori [que parte, em sua argumentação, da causa para o efeito] e o a posteriori [que argumenta a partir do efeito para a causa].

Os métodos que se têm aplicado ao estudo da teologia podem ser reduzidos basicamente a três categorias: a Especulativa, a Mística e a Indutiva.

a. Método Especulativo : Nesse método a especulação decide sobre toda a verdade, ou determina o que é verdadeiro a partir das leis da mente, ou dos axiomas envolvidos na constituição do princípio imaginativo dentro de nós. Neste método espera-se que o homem creia não na autoridade de Deus, mas na autoridade da razão. Toda a verdade precisa ser descoberta e estabelecida por um processo do pensamento. Caso se admita que a Bíblia contém alguma verdade, que seja só até o ponto em que ela coincide com os ensinos da filosofia.

b. Método Místico : Enquanto o processo especulativo busca inteiramente na razão a base de toda sua

investigação, argumentação e conclusões, o método místico, em direção diametralmente oposta, entende que devemos entender a Deus e os fatos a Ele atribuídos partindo dos sentimentos. Neste método presume-se que Deus, por sua comunicação imediata com a alma, se revela através das emoções e por meio ou na forma de intuições da divina verdade, independente do ensino externo de Sua Palavra; e é essa luz interior, e não as Escrituras, que devemos seguir; ou, através da consciência e sentimentos religiosos, onde, quando mais profundos e mais puros forem estes, mais clara é a percepção da verdade.

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c. Método Indutivo Bíblico : segundo esse método, para chegarmos ao verdadeiro conhecimento de Deus, é essencial que venhamos a aplicar o método de indução como aplicado às ciências naturais, ou seja:

c.1 Assim como o cientista se aproxima do estudo da natureza com determinados pressupostos, o teólogo, semelhantemente, deve iniciar seus estudo teológicos com o mesmo princípio, como por exemplo: Deus existe e Ele se manifestou em Sua Palavra.

c.2 Como o estudante da natureza passa a perceber, reunir e a combinar os fatos, da mesma forma o teólogo deve se propor a os elementos da revelação divina.

c.3 Da mesma forma como o cientista, partindo dos fatos (a posteriori), averiguados e classificados, deduz as leis pelas quais estes são determinados, o teólogo da mesma forma deve ser capaz de perceber as leis que regem os fatos da revelação divina por este mesmo processo de averiguação e classificação. Essa leis ou princípios gerais não derivam da mente e são atribuídos aos objetos externos, mas derivam e deduzem-se dos objetos e são impressos na mente.

Estes passos, portanto, devem ser aplicados à revelação divina. A Bíblia é para o teólogo o que a natureza é para o cientista. Ela é seu depósito de fatos; e o seu método de averiguar o que a Bíblia ensina é o mesmos que o filósofo natural adota para averiguar o que a natureza ensina. Ele se aproxima de sua tarefa com todos os pressupostos acima mencionados.

1.3 Áreas da Teologia Como ciência, no que concerne aos fatos da natureza, tem suas diversas áreas, como a

matemática, a química,a astronomia etc., assim a teologia, tendo os fatos da Escritura por seu tema, tem suas áreas distinta e naturais, são elas:

a. A Teologia Propriamente Dita : Inclui todo o ensino referente ao ser e os atributos de Deus; a tríplice

personalidade da Deidade; a relação de Deus com o mundo, ou os decretos e suas obras da criação e da providência.

b. A Antropologia : Inclui a origem e a natureza do homem; seu estado original e prova; sua queda; a

natureza do pecado; o efeito do primeiro pecado de Adão sobre si e sobre sua posteridade.

c. A Soteriologia : Inclui o propósito ou plano de Deus em referência a salvação do homem; a pessoa e

obra do redentor; a aplicação da redenção de Cristo ao povo de Deus, sua regeneração, justificação e santificação; e os meios de graça.

d. A Escatologia : O estudo das doutrinas que dizem respeito ao estado da alma após a morte; a

ressurreição; o segundo advento de Cristo; o juízo geral o fim do mundo;o céu e o inferno.

e. A Eclesiologia : inclui a idéia, ou natureza da igreja; seus atributos; suas prerrogativas e sua

organização.

Além desta classificação podemos nomear algumas outras que as vezes são tidas como sub tópicos da classificação supracitada, são elas.

f. Bibliologia : Estuda a Bíblia como palavra de Deus; a revelação; a inspiração, o processo de canonicidade etc.

g. Hamartologia : Estuda a natureza do pecado; sua extensão na vida dos homens etc. h. Cristologia : Faz referência a pessoa de Cristo, sua encarnação; seus atributos como ser divino,

estados de exaltação e humilhação etc. i. Pneumatologia : diz respeito a pessoa do Espírito santo como terceira pessoa da Trindade; sua

personalidade; seu ministério; seus dons concedidos aos homens, atributos divinos etc.

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II. A BIBLIOLOGIA 2.1 Conceito

É a parte da teologia que estuda a Bíblia como Palavra de Deus; suas divisões, conceitos como revelação, inspiração e iluminação; o processo e provas da inspiração das Escrituras Sagradas e o processo de canonicidade.

2.2 As Seções da Bíblia

A Bíblia divide-se comumente em oito seções, quatro no Velho Testamento e quatro no Novo Testamento.

A divisão do V.T. em quatro seções baseia-se na tradução das Escrituras Sagradas para o grego. Essa tradução, conhecida como Versão dos Setenta ou Septuaginta (LXX), segundo muitos estudiosos, iniciou-se no século III a.C. em Alexandria, no Egito, um dos grandes centros da grega, onde residiam muitos judeus da Diáspora.

A Bíblia hebraica não segue essa divisão tópica em quatro partes. Antes, emprega uma divisão em três partes. Os cinco primeiros livros de Moisés , que outorgou a Lei, aparecem em primeiro lugar; seguem-se os livros dos homens que desempenharam a função profética, e, por fim, a terceira parte contém livros escritos por homens que, segundo se cria, tinham o dom de profecia, sem serem profetas oficiais.

O N.T. faz uma possível alusão a uma divisão em três partes do Velho Testamento no texto de Lc 24:44.

A Vulgata Latina, de Jerônimo, e as Bíblias posteriores a ela seguiram o formato mais tópico das quatro partes em que se dividia a Septuaginta. Se combinarmos essa divisão com as outras partes do N.T. veremos que a revelação bíblica centraliza-se na pessoa de Cristo.

LIVROS DO ANTIGO TESTAMENTO (LXX) LIVROS DO VELHO TESTAMENTO (TM)

A Lei (Pentateuco) Poesia A Lei (Tora) Os Profetas (Nebhiin)

Gênesis

Êxodo

Levitico

Números

Deuteronômio

Jo

Salmos

Proverbios

Eclesiastes

Cantares

Gênesis

Êxodo

Levítico

Números

Deuteronômio

Profetas Anteriores

Josué

Juízes

Samuel

Reis

Profetas Posteriores

Isaías

Jeremias

Ezequiel

Os doze

História Profetas Os Escritos (Kethubhim)

Profetas Maiores Profetas Menores Livros Poéticos Cinco Rolos Livros Históricos

Josué, Juizes

Rue, I Samuel

II Samuel, I reis

II reis, I crônicas

II crônicas, Esdras

Neemias, Ester

Isaías

Jeremias

Lamentações

Ezequiel

Daniel

Oséias, Joel, Amós,

Obadias,Jonas, Miquéias,

Naum, Habacuque,

Sofonias, Ageu

Zacarias, Malaquias

Salmos

Provérbios

Cantares

Rute

Lamentações

Ester

Eclesiastes

Daniel

Esdras - Neemias

Crônicas

VELHO

TESTAMENTO

Lei

História

Poesia

Profecia

Fundamento da chegada de Cristo

Preparação para a chegada de Cristo

Anelo pela chegada de Cristo

Certeza da Chegada de Cristo

NOVO

TESTAMENTO

Evangelhos

Atos

Epístolas

Apocalipse

Manifestação de Cristo

Propagação de Cristo

Interpretação e aplicação de Cristo

Consumação em Cristo

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2.3 A Inspiração da Bíblia

A característica mais importante da Bíblia não é sua estrutura e sua forma, mas o fato de ter sido inspirada por Deus. E quando falamos de inspiração, não nos referimos a uma inspiração poética, mas de autoridade divina.

2.3.1 Definição Etimológica de Inspiração

Embora a palavra inspiração seja usada apenas uma vez no Novo testamento (II Tm 3:16) e outra no Velho Testamento (Jó 32:8), o processo pelo qual Deus transmite sua mensagem autorizada ao homem é apresentada de muitas maneiras.

Assim escreveu Paulo a Timóteo:

“Toda Escritura é divinamente inspirada [θεοπνευστος] e proveitosa para ensinar...”(II Tm 3:16).

O vocábulo grego θεοπνευστος traduzido como “divinamente inspirado” vem de dois outros vocábulos, a saber: θεος (Deus) + πνηυµα (vento, sopro, espírito), dando-nos, assim, o entendimento que a Bíblia é o registro fiel daquilo que saiu da boca de Deus, uma vez que cada palavra foi “soprada ” por Ele.

Confirmando este conceito podemos citar os seguintes textos bíblicos: I Co 2:13; II Pe 1:21; Hb 1:1; I Pe 1:11. E fazendo uma combinação das passagens, descobrimos que a Bíblia é inspirada no seguinte sentido: Homens, movidos pelo Espírito santo, escreveram palavras sopradas por Deus, as quais são fonte de autoridade para a fé e para a prática cristã.

2.3.2 Definição Teológica da Inspiração Num sentido mais amplo, a inspiração inclui o processo total pelo qual alguns homens movidos

pelo Espírito Santo, anunciaram e escreveram palavras emanadas da boca de Deus; e, por isso mesmo, palavras dotadas de autoridade divina. Esse processo total de inspiração contém três elementos essenciais, a saber:

a. Causalidade Divina : Deus é a causa e a fonte primordial da inspiração da Bíblia. O elemento divino estimulou o elemento humano, revelou-lhe certas verdades da fé, e esses homens de Deus as registraram.

b. Mediação Profética : Os profetas escreveram segundo a intenção total do coração, segundo a consciência que os movia no exercício normal de sua tarefa, com seus estilos literários e seus vocabulários individuais. As personalidades dos profetas não foram violentadas; Deus utilizou personalidades humanas para comunicar proposições divinas.

c. Autoridade Escrita : A Escritura “é divinamente inspirada e proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir em justiça”. A Bíblia é a última palavra no que concerne a assuntos doutrinários e éticos. Todas as controvérsias teológicas e morais devem ser trazidas ao tribunal da Palavra Escrita de Deus, pois ela recebeu sua autoridade do próprio Deus.

2.3.3 Distinções Importantes

2.3.3.1 A Inspiração em Contraste com a Revelação e a Iluminação

No processo de inspiração devemos diferenciar alguns conceitos afim de que tenhamos uma visão exata do que seja realmente a inspiração.

a. Revelação : ato pelo qual Deus se manifestou ao homem e deu a este o conhecimento de qual era a sua vontade (sonhos, visões, profecias, teofanias, etc).

b. Inspiração : Ato pelo qual o Espírito Santo capacitou santos homens de Deus a escreverem fielmente tudo quanto Deus quis que fosse registrado de suas revelações.

c. Iluminação : Ato pelo qual o espírito santo capacita os homens a compreenderem a verdade de Deus nas Sagradas Escrituras.

2.3.3.2 A Inspiração dos Originais, não das Cópias

Só os manuscritos originais, conhecidos como autógrafos, foram inspirados por Deus. Portanto, uma cópia ou tradução só é autorizada à medida que reproduz com exatidão os autógrafos.

De uma perspectiva técnica, só os autógrafos são inspirados; todavia, para fins práticos, a Bíblia nas línguas de nossa época, por ser transmissão exata dos originais, é a Palavra de Deus inspirada.

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2.3.3.3 Inspiração do Ensino, mas não de todo o seu conteúdo

Só o que a Bíblia ensina foi inspirado por Deus e não apresenta erro; nem tudo que está na Bíblia ficou isento de erro. Por exemplo, as Escrituras contém relatos de muitos atos maus, pecaminosos, mas de modo algum a Bíblia os elogia, tampouco os recomenda. Ao contrário, condenas essas práticas malignas. Exemplo disto é a narrativa que a Bíblia faz de algumas mentiras de Satanás (Gn 3:4). Neste contexto, a única coisa que a inspiração divina garante aqui é que se trata de um registro verdadeiro de uma mentira satânica.

2.3.4 A Natureza da Inspiração Durante a história da igreja podemos perceber basicamente três conceitos diferentes atribuídas

a Bíblia em sua relação com a doutrina da inspiração e sua extenção. Vejamos cada uma delas.

a. A Ortodoxia : Pensamento teológico compreendido entre o I século até o século XVIII da era cristã. Para a ortodoxia a Bíblia é a palavra de Deus. Em todas as suas partes e palavras ela o registro fiel da revelação divina.

b. O Modernismo : Corrente teológica do século XIX que afirma que a Bíblia contém a palavra de Deus; e, por este prisma, assevera que certas partes dela são divinas, expressão a verdade, mas outras são obviamente humanas e apresentam erros.

c. A Neo-Ordodoxia : Corrente teológica do século XX. No início deste século a reviravolta nos acontecimentos mundiais e a influência do pai dinamarquês do existencialismo, SØrem Kierkeggard, deram origem a uma nova reforma na teologia européia. Muitos estudiosos começaram a voltar-se de novo para as Escrituras, a fim de ouvir nelas a voz de Deus. Criando, assim, um novo tipo de ortodoxia, afirmavam que Deus fala aos homens mediante a Bíblia; as Escrituras tornam-se a Palavra de Deus num encontro pessoal entre Deus e o homem.

Embora, hoje, tanto o modernismo como a neo-ortodoxia sejam cor]rentes fortes no mundo acadêmico da teologia, necessário se faz que venhamos a confirmar aquela posição que sempre foi a norma fiel da igreja cristã por séculos. Isto porque a própria Bíblia, em detrimento aos conceitos dos teóricos secularizados, nos fornece um conceito exato sobre o que é a inspiração e qual a sua extensão nos escritos sagradas. Observemos cuidadosamente estes elementos.

a. A Inspiração é Verbal : é verbal no sentido em que todas as palavras contidas no Livro Sagrado são exatamente aquelas que o Espírito Santo queria que estivessem lá. Esta verdade facilmente se comprova nos textos bíblicos. Em II Tm 3:16 temos “toda a Escritura [γραφη] é inspirada por Deus”; em Ex 24:4 “Moisés escreveu todas as palavras do Senhor”; em II Sm 23:2 “o Espírito do Senhor fala por mim e a sua palavra está na minha boca, etc. No Novo Testamento Jesus usa repetidamente a expressão “está escrito” (Mt 4:4,7; Lc 24:27,44); o apóstolo Paulo testemunhou “... falamos, não como palavras de sabedoria humana, mas como as que o Espírito Santo ensina...” (I Co 2:13) e João nos adverte quanto a não “tirar quaisquer palavras do livro desta profecia” (Ap 22:19); Jesus declarou que não só as palavras,. Mas até mesmos os pequenos sinais diacríticos de uma palavra hebraica vieram de Deus. Diante destes fatos, fica bem claro que a Bíblia reivindica para si mesma toda a autoridade verbal ou escrita. Diz a Bíblia que suas palavras vieram da parte de Deus.

b. A Inspiração é Plenária : A Bíblia reivindica a inspiração divina de todas as suas partes. É a inspiração plena, total, absoluta. “Toda [πασα] Escritura é divinamente inspirada...” (II Tm 3:16) Nenhuma parte das Escrituras deixou de receber total autoridade doutrinária. Jesus e todos os autores do Novo Testamento exemplificam sua crença firme na inspiração integral e completa do Antigo Testamento, citando trechos de todas as escrituras que eram para eles autoridade, até mesmo o que apresentam ensinos fortemente polêmicos como a criação de Adão e Eva, a destruição do mundo pelo dilúvio, o milagre de Jonas, etc.

c. A Inspiração Atribui Autoridade : uma vez que em todas as suas palavras, conceitos e partes a Bíblia é a inspirada e perfeita revelação de Deus, segue-se disto, portanto, que ela também é autoritativa, única regra de fé e prática. Disse Jesus “...a Escritura não pode ser anulada...” (Jo 10:35). Em numerosas ocasiões Jesus recorreu à palavra de Deus escrita, que ele considerava árbitro definitivo em questões de fé e de prática, para purificar o templo (Mc 11:17), pôr em cheque a tradição dos fariseus (Mt 15:3,4), resolver divergências doutrinárias (Mt 22:29) e

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defender-se contra as tentações de Satanás (Mt 4:4,7,10). Por fim, o próprio Cristo disse que “é mais fácil passar o céu e a terra do que cair um til sequer da lei” (Lc 16:17). Esta sua autoridade é, também, decorrente de sua suficiência, ou seja, do fato de que tudo quanto necessitamos para sermos salvos, conhecermos a Deus e servi-lo está claramente exposto nos seus escritos. A idéia de que a Bíblia para ser a palavra de Deus tem que ser exaustiva em seu conteúdo, ou seja, falar de todos os assuntos e de forma pormenorizada, é fruto de uma compreensão errada sobre a inspiração da Bíblia e o propósito de Deus ao nos concedê-la, isto porque a inspiração significa fidelidade na escrituração da revelação e o propósito de Deus ao nos conceder uma revelação escrita foi o de nos mostrar o caminho da salvação e não falar de ciências, biologia, filosofia ou outros assuntos.

2.3.5 Evidências da Inspiração da Bíblia

a. A Reivindicação da Inspiração do V.T.

a.1 O V.T. afirma ser um documento com mensagem profética. A expressões “assim diz o Senhor” é muito comum nos escritos proféticos ( sandfkjdkfksjdnfkjasdkjfkjsdfksdnkfksd) .

a.2 As profecias escritas pelos profetas reconhecidamente inspirados eram preservados em lugar especial, sagrado. Essa coleção foi reconhecida e muito citada como Palavra de Deus (shghkjhksahdkfashkhsdsdasd).

a.3 Os outros textos, igualmente inspirados, eram postos juntos com os que já existiam em lugar sagrado (kbkajsbkfasdbkakskçasdnbçkgja).

a.4 Jesus e os autores do N.T. tinham esses escritos na mais alta conta, para eles não podiam ser revogados (çknbkdfgçkdfçgnçlkdfgçkdfshgpuiodfhklgnsdflk).

a.5 O escritores do N.T. fizeram numerosa referência aos escritos do V.T. tomando-os como inspirados e autoritativos (,mlsngnasdfçgnçkldafngçksdnfçkgnsdf).

b. A Reivindicação da Inspiração do N.T.

b.1 Os escritores neotestamentários igualam seus escritos aos escritos do V.T. (II Pe 3:15,16). b.2 Assim como Paulo chama o V.T de “Escritura” [γραφη] (II Tm 3:16), Pedro nomeia as

epístolas paulinas também de “Escrituras” [γραφας] (II Pe 3:15,16). b.3 Cada livro do N.T. contém alguma reivindicação de autoridade divina. b.4 Os cristãos da era apostólica e os que lhes sucederam logo reconheciam a origem divina

dos escritos neotestamentários, ao lado da autoridade divina do V.T. b.5 Os livros do N.T. foram colecionados, lidos publicamente e posto ao lado do livros inspirados

do V.T.

c. Evidência Interna da Inspiração da Bíblia : É a evidência que brota da Bíblia.

c.1 Evidência da autoridade que se auto-confirma : A Bíblia fala com autoridade própria, cheia de convicção. As multidões se maravilhavam com Cristo pois ele fala com autoridade (Mc 1:22). A expressão “assim diz o Senhor” ressalta a idéia de que os profetas nada falavam de si mesmos, e, sim por determinação, orientação e supervisão de Deus”. As palavras das Escrituras não precisam ser defendidas; precisam apenas ser ouvidas, para que se saiba que são a Palavra de Deus.

c.2 Evidência do testemunho do Espírito Santo : A Palavra de Deus confirma-se perante os filhos de Deus através do Espírito Santo. Este é o único que poderosa e eficazmente pode convencer os pecadores sobre a realidade da inspiração verbal e plenária da Bíblia. Ou seja, o mesmo Espírito que inspirou a Bíblia é o mesmo que ilumina os corações para que entendam, creiam e sejam salvos ( ).

c.3 Evidência da capacidade transformadora da Bíblia : Há na Bíblia, Pelo Espírito Santo, a capacidade de convencer, converte e edificar o pecador para a vida eterna. Os entristecidos recebem conforto, os pecadores são repreendidos, os negligentes são exortados pelas Escrituras. A evidência de que Deus atribui sua autoridade à Bíblia está em seu poder evangelístico e edificador.

c.4 Evidência da unidade da Bíblia : Uma evidência mais formal da inspiração da Bíblia está na sua unidade. Sendo constituída de 66 livros escritos ao longo de 1500 anos, por cerca de 40 escritores, diversas línguas, com centenas de tópicos, é muito mais que mero acidente que a

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Bíblia apresente espantosa unidade temática – Jesus Cristo; um problema – o pecado; uma solução – o salvador Jesus, unificando as páginas da Bíblia, do Gênesis ao Apocalipse.

d. Evidência Externa da Inspiração da Bíblia : É a que surge de fora da Bíblia.

d.1 Evidência Baseada na Historicidade da Bíblia : Grande parte do conteúdo bíblico é história e, portanto, passível de constatação. Os artefatos arqueológicos, os documentos escritos e nenhuma descoberta arqueológica invalidou um ensino ou relato bíblico. Grande parte da antiga crítica à Bíblia foi firmemente refutada pelas descobertas arqueológicas que demonstraram a existência da escrita no tempo de Moisés, a história e a cronologia dos reis de Israel e até mesmo a existência dos hititas, povo até pouco só mencionado na Bíblia. A Descoberta dos rolos do Mar Morto ilustra que existem milhares de manuscritos tanto do V.T. como do N.T. , o que contrasta com o punhado de originais disponíveis de muitos clássicos seculares de grande importância. Isto significa que a Bíblia é o livro do mundo antigo mais bem documentado que existe.

d.2 Evidência do Testemunho de Cristo : Se Jesus possui alguma autoridade ou integridade

como mestre religioso, podemos concluir que a Bíblia é inspirada por Deus. O Senhor Jesus ensinou que a Bíblia é a Palavra de Deus. Se alguém quiser provar ser esta assertiva falsa, deverá primeiro rejeitar a autoridade que tinha Jesus de se pronunciar sobre a questão da inspiração.

d.3 Evidência da Profecia : Até o presente momento nenhuma profecia bíblica ficou sem ser

cumprida, cada uma delas de concretizou literalmente. A época do nascimento de Jesus Cristo (Dn 9), a cidade em que ele deveria nascer (Mq 5:2) e a natureza de sua concepção e nascimento (Is 7:14). Outros livros reivindicam inspiração divina, como o Alcorão, todavia, nenhum desses livros contém predições sobre o futuro. A Bíblia, portanto, tem um forte argumento a favor de sua autoridade divina: suas profecias sempre se cumprem.

d.4 Evidência da Influência da Bíblia : Nenhum outro livro tem sido tão largamente

disseminado, nem exercido tão forte influência como a Bíblia. Esta já foi traduzida em mais de mil línguas, abrangendo 90% da população do mundo. Nenhuma obra religiosa ou de fundo moral do mundo excede a profundidade moral contida no princípio do amor cristão, e nenhum apresenta conceito espiritual mais majestoso sobre Deus. A Bíblia apresenta ao homem os mais elevados idéias que já pautaram a civilização.

d.5 Evidência da Manifesta Indestrutibilidade da Bíblia : A despeito de sua tremenda

importância, a Bíblia tem sofrido muito mais ataque perversos do que seria de esperar, em se tratando de um livro. No entanto a Bíblia tem resistido a todos os ataques. Até mesma a igreja Católica Romana tentou ocultá-la e até destruiu milhares delas, contudo a palavra de Deus foi livre dos mosteiros e masmorras e entre pela Reforma Protestante aos homens.

d.6 Evidência Oriunda da Integridade de Seus Escritores : Os escritores bíblicos não eram

meros poetas, historiadores, religiosos,etc., estes homens carregavam com sigo a idéia bem firmada que eles escreviam da parte de Deus, e, portanto, estavam disposta até morrer pela defesa da fé que expunham em seus escritos. Embora estarem distanciados até por séculos, eles sinceramente criam que Deus lhes falava e que era imperioso escrever aos homens a vontade de Deus.

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APÊNDICE - I

I. AS VERSÕES DA BÍBLIA E OS LIVROS APÓCRIFOS

a. A Septuaginta (LXX) : Foi a tradução do Velho testamento hebraico para o grego em III a.C. na cidade de Alexandria. Foi nesta tradução que pela primeira vez foram postos os livros apócrifos ao lado dos livros inspirados.

b. A Antiga Latina : Foi a tradução da Bíblia para o latim antes de 200 d.C, no norte da África. Nesta tradução fez-se uso da Septuaginta como texto base para se traduzir o V.T. ; com isto os livros apócrifos continuaram ao lado dos livros inspirados.

c. A Vulgata Latina : Foi a tradução da Bíblia para o latim por volta do ano 382 d.C. Nesta tradução Jerônimo fez uso do texto hebraico (texto massorético – TM). A controvérsia em torno da tradução do V.T. por Jerônimo com base no original hebraico reflete não só os conflitos entre cristãos e judeus, mas a crença mais problemática ainda sustentada por muitos líderes cristãos, dos quais Agostinho, segundo a qual a LXX era verdadeiramente a Palavra inspirada, inerrante, da parte de Deus, em vez de uma mera tradução não-inspirada baseada nos originais hebraicos. Jerônimo considerou que os livros apócrifos não eram de autoridade sobre a igreja, uma vez que eles não eram inspirados.

No século XVI, a igreja, tendo se afastado das Escrituras sagradas, veio a ficar comprometida com a devassidão moral, politicagem eclesiástica, paganismo e tantos outros males. A Bíblia foi retirada das mãos do povo comum e aqueles que tentavam mudar tal situação eram presos e até mortos pela própria igreja, a mando do papa.

Os desvios doutrinários a cada dia apareciam, e para fins da construção da basílica de são Pedro, ao monge Tetzel foi dada autoridade para a venda de indulgências que garantiam o perdão dos pecados passados presentes e futuros a quem comprasse tal documento. Embora tal prática seja absurda até para os católicos hoje, contudo na época tal prática era sancionada pelo papa e estava de acordo com a doutrina do purgatório, da missa de sétimo dia e da infabilidade papal, uma vez que o próprio papa havia reconhecido a existência de um lugar de purificação para aquelas almas que não iam diretamente para o céu. Tudo de acordo com algumas pouquíssimas passagens dos livros apócrifos.

É, então, neste contexto histórico que surge a Reforma Protestante proclamando “Só a Escritura” como única regra de fé e prática. Lutando contra as indulgências os reformadores asseveravam que tal prática não tinha respaldo na Palavra de Deus e que portanto deveria ser rejeitada por todo verdadeiro cristão. Tendo a igreja católica sofrido grandes baixas de membros em vários países, no Concílio de Trento declara canônicos os livros apócrifos pelos seguintes motivos:

a. Para confirmar a doutrina do purgatório, missa de sétimo dia e outras afins, que tem sua base no livro de Macabeus.

b. Para defender a autoridade papal sobre questões doutrinárias. c. Para não cair em descrédito diante da opinião pública, tendo que se retratar quanto a um

erro de doutrina e prática. d. Para continuar levantando recurso para a construção da Basílica de São Pedro e.. Para combater o avanço da Reforma Protestante.

Portanto, a acusação que os protestantes retiraram livros da Bíblia não condiz que os fatos históricos, uma vez que estes tais, aceitos tardiamente pelos católicos, só foram canonizados por motivos espúrios e não por serem verdadeiramente inspirados, pois se o fossem como são os livros da Bíblia, estes, chamados livros apócrifos, já teriam sido reconhecidos como canônicos, uma vez que por mais de um milênio e meio já se encontravam pertos dos livros universalmente reconhecidos pelo povo de Deus como inspirados.

Os livros apócrifos, embora não serem tidos como inspirados pelos protestantes, eram, contudo, reconhecidos como obras históricas e testemunhas daquele período compreendido entre Malaquias e Mateus. Eram portanto, até lidos, mas nunca usados como textos inspirados e autoritativos para de fazer doutrina alguma ou se asseverar algo sobre a prática ou crença da igreja cristã.

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II. A CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMISNTER

CAPÍTULO I – DA ESCRITURA SAGRADA

I. Ainda que a luz da natureza e as obras da providência manifestem de tal modo a bondade, a sabedoria e o poder de Deus, que os homens ficam inescusáveis, todavia não são suficientes para dar aquele conhecimento de Deus e de sua vontade, necessário à salvação; por isso foi o Senhor servido, em diversos tempos e diferentes modos, revelar-se e declarar à sua igreja aquela sua vontade; e depois, para melhor preservação e propagação da verdade, para o mais seguro estabelecimento e conforto da igreja contra a corrupção da carne e malícia de Satanás e do mundo, foi igualmente servido fazê-la escrever toda. Isto torna a Escritura Sagrada indispensável, tendo cessado aqueles antigos modos de Deus revelar a sua vontade ao seu povo.

IV. A autoridade da Escritura Sagrada, razão pela qual deve ser crida e obedecida, não depende do

testemunho de qualquer homem ou igreja, mas somente de Deus (a mesma verdade) que é seu Autor; tem, portanto, de ser recebida porque é a Palavra de Deus.

V. Pelo Testemunho da Igreja podemos ser movidos e incitados a um alto e reverente apreço pela

Escritura Sagrada; a suprema excelência do seu conteúdo, a eficácia da sua doutrina, a majestade do seu estilo, a harmonia de todas as suas partes, o escopo do seu todo (que é dar a Deus toda a glória), a plena revelação que faz do único meio de salvar-se o homem, as suas muitas outras excelências incomparáveis e completa perfeição são argumentos pelos quais abundantemente se evidencia ser ela a Palavra de Deus; contudo, a nossa plena persuasão e certeza da sua infalível verdade e divina autoridade provém da operação interna do espírito Santo que pela Palavra e com a Palavra, testifica em nossos corações.

VI. Todo conselho de Deus concernente a todas as coisas necessárias para a glória dele e para a

salvação, fé e vida do homem, ou é expressamente declarado na Escritura ou pode ser logicamente deduzido dela. À Escritura nada se acrescentará em tempo algum, nem por novas revelações do Espírito, nem por tradições dos homens; reconhecemos entretanto, ser necessária a íntima iluminação do Espírito de Deus para a salvadora compreensão das coisas reveladas na Palavra, e há algumas circunstâncias, quanto ao culto de Deus e o governo da igreja, comuns às ações e sociedades humanas, as quais têm de ser ordenadas ela luz da natureza e pela prudência cristã, segundo as regras da Palavra, que sempre devem ser observadas.

VIII. O Velho Testamento em hebraico (língua nativa do antigo povo de Deus) e o Novo testamento em

grego (a língua mais geralmente conhecida entre as nações no tempo em que ele foi escrito), sendo inspirados imediatamente por Deus, e pelo seu singular cuidado e providência conservados puros em todos os séculos, são, por isso, autênticos, e assim em todas as controvérsias religiosas a igreja deve apelar para eles como para um supremo tribunal; mas, não sendo essas línguas conhecidas por todo o povo de Deus, que tem direito e interesse nas Escrituras, e que deve, no temor de Deus, lê-las e estudá-las, esses livros têm de ser traduzidos nas línguas vulgares de todas as nações aonde chegarem, a fim de que a Palavra de Deus, permanecendo nelas abundantemente, adorem a Deus de modo aceitável e possuam a esperanças pela paciência e conforto das Escrituras.

IX. A regra infalível de interpretação da Escritura é a mesma Escritura; portanto, quando houver questão

sobre o verdadeiro e pleno sentido de qualquer texto da Escritura (sentido que não é múltiplo, mas único), esse texto pode ser estudado e compreendido por outros textos que falarem mais claramente.

X. O Juiz Supremo, pelo qual todas as controvérsias religiosas têm de ser determinadas, e por quem

serão examinados todos os decretos e concílios, todas as opiniões dos antigos escritores, toda as doutrinas de homens e opiniões particulares, o Juiz Supremo, em cuja sentença nos devemos firmas, não pode ser outro senão o Espírito Santo falando na Escritura.

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III. TEONTOLOGIA

3.1 A EXISTÊNCIA DE DEUS

a. O Lugar da Doutrina na Dogmática

As obras de dogmática ou de teologia geralmente começam com a doutrina de Deus. Há boas razões para começar com a doutrina de Deus, se partirmos da admissão de que a Teologia é o conhecimento sistematizado de Deus de quem, por meio de quem, e para quem são todas as coisas.

Efetivamente iniciamos o estudo da teologia com duas pressuposições básicas, a saber:

* Que Deus existe ; * Que Ele se revelou em sua Palavra Divina .

E por esta razão não nos é impossível começar com o estudo de Deus. Podemos dirigir-nos a Sua Revelação para aprender o que Ele revelou a respeito de Si mesmo e a respeito de Sua relação para com as Sua criaturas.

Até o começo do século XIX era quase geral a prática de começar o estudo da dogmática com a doutrina de Deus, mas ocorreu uma mudança sob a influência de Scheleiermacher que procurou salvaguardar o caráter científico da teologia com a introdução de um novo método. A consciência religiosa do homem substituiu a palavra de Deus como a fonte da teologia. A fé na Escritura como autorizada revelação de Deus foi desacreditada e a compreensão humana baseada na apreensão emocional ou racional do homem, veio a ser o padrão do pensamento religioso. A religião gradativamente tomou lugar de Deus como objeto da teologia. O homem deixou de ser ou de reconhecer o conhecimento de Deus como algo que lhe foi dado na Escritura e começou a orgulhar-se de ter a Deus como seu objeto de pesquisa.

Conseqüência natural deste sistema teológico: Deus é criado segundo a imagem e semelhança do homem.

b. Prova Bíblica da Existência de Deus

Para a teologia cristã a questão da existência de Deus não é apenas de que há alguma coisa, alguma idéia ou ideal, algum poder ou tendência com propósito, a que se possa aplicar o nome de Deus, mas que, de fato, existe um ser pessoal, auto-consciente, auto-existente, que é a origem de todas as coisas e que transcende a criação inteira, mas ao mesmo tempo é imanente em cada parte de criação.

O cristão aceita a verdade da existência de Deus pela fé. As provas se acham primeiramente na Escritura como palavra de deus inspirada, e, secundariamente na revelação de Deus na natureza.

Em nenhum livro da Bíblia algum escritor tenta provar a existência de Deus. Esta verdade, na Bíblia, é apresentada como uma fato necessário (Gn 1:1).

c. Conceitos a Respeito de Deus

c.1 ATEÍSMO - Negação da Existência de Deus

Podemos dizer que existem dois tipos de ateus: o ateu prático e o ateu teórico. Entre os ateus práticos encontramos aquelas pessoas não religiosas que, embora não afirmarem a não existência de Deus, vivem como se Deus não existisse. Já os ateus teóricos são aqueles que procuram provar que Deus não existe usando para este fim aquilo que lhes parece argumentos racionais da não existência de Deus. Os Ateus estão classificados da seguinte forma:

* Ateus Dogmáticos : São os que negam peremptoriamente a existência de um ser divino.

* Ateus Céticos : São os que tem dúvida quanto a capacidade da mente humana de determinar se há ou não um Deus.

* Ateus Críticos : São os que sustentam que não há nenhuma prova válida da existência de Deus.

c.2 Falsos Conceitos sobre Deus

Quando se debate sobre a realidade de Deus, muitos tendem a pensar que somente o ateísmo desponto como elemento nocivo a fé cristã. Entretanto, tão prejudicial à alma humana como o ateísmo ( ) são também os falsos conceito a cerca da existência de Deus. Isto porque estes, sob a aparência de verdade,

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conduzem a erros grotescos quando atribuem a Deus conceitos humanistas e puramente filosóficos. Analisemos cada um deles a baixo.

* Politeísmo : É a crença na existência de vários deuses.

* Henoteísmo : É a crença na existência de vários deuses, entretanto apenas um é escolhido como objeto se culto.

* Dualismo : É a crença na existência de dois deuses ou forças que são co-eternas, poderosas e que ao mesmo tempo se opõe.

* Deísmo : Corrente teológica que afirma a existência de um ser pessoal, criador, poderoso, sábio, etc. que, tendo criado todas as coisas, ausentou-se de sua criação e deixando-a ser dirigida tão somente pelas leis naturais nas quais ela foi posta. Este pensamento enfatiza a transcendência de Deus.

* Panteísmo : corrente filosófica que afirma que Deus é tudo e tudo é Deus.

* O Absoluta da Filosofia : alguns filósofos ao falarem a respeito da realidade ou não de um ser divino, atribuíram a este a designação de absoluto

Diante destas correntes teológico-filosóficas podemos destacar, em suma, pelo três idéias básicas a respeito de Deus, a saber:

1. Um Deus Imanente e impessoal : O teísmo sempre acreditou num Deus que é transcendente e imanente. O deísmo retirou Deus do mundo, e deu ênfase à sua transcendência em detrimento da sua imanência. Sob a influência do panteísmo, porém, o pêndulo pendeu noutra direção, pois este identificou Deus com o mundo e não reconheceu um Ser divino distinto da Sua criação e infinitamente exaltado acima dela.

2. Um Deus Finito e Pessoal : A idéia de um Deus finito ou deuses finitos não é nova; é tão antiga como politeísmo e o henoteísmo. Neste sistema encontramos o panteão grego com todos os seus deuses que tinham, via de regra, as mesmas deficiências e dificuldades dos homens.

3. Deus Como a Personificação de Uma Simples Idéia Abstrata : ficou muito em voga na moderna teologia “liberal” considerar o nome “Deus” como um simples símbolo, representando algum processo cósmico, uma vontade ou poder universal, ou um ideal elevado e abrangente. A maioria dos que rejeitam o conceito teísta de Deus ainda professa fé em Deus, mas este é um Deus de sua própria imaginação.

c.3 TEÍSMO – O Pensamento Cristão Sobre Deus

O conceito cristão sobre o ser Deus e seu modo de se relacionar com a sua criação esta esboçado no pensamento teológico denominado de teísmo. Neste, Deus é apresentado como um ser pessoal, sábio, poderoso, criador de todas as coisas, e que através de seu infinito poder e soberania, governa, dirige, dispõe, sustenta todas as coisas conforme o conselho da sua vontade. Nisto, então, percebemos que o teísmo tanto enfatiza a transcendência de Deus como a sua imanência.

d. Provas Racionais da Existência de Deus

No transcurso do tempo foram elaborados alguns argumentos em favor da existência de Deus. Alguns deles já haviam sido sugeridos por Platão e Aristóteles, e outros foram acrescentados modernamente por estudiosos da filosofia da religião. Observemos cada um deles.

d.1 Argumento Ontológico : O homem tem a idéia de um ser absolutamente perfeito. Esta existência é um atributo de perfeição; portanto, um ser absolutamente perfeito tem que existir. Kant declarou que este argumento era insustentável; todavia, Hegel o aclamou com um grande argumento.

d.2 Argumento Cosmológico : Cada coisa que existe no mundo tem que ter uma causa adequada; sendo assim, o universo tem que ter uma causa adequada, isto é, uma causa infinitamente grande.

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d.3 Argumento Teleológico : Em toda parte o mundo revela inteligência, harmonia , ordem e propósito, a assim implica a existência de um ser inteligente e com propósito, apropriado para a produção de um mundo como este

d.4 Argumento Moral : Todo ser humano possui em sua constituição íntima a idéia de certo e errado, uma personalidade ajustada aos valores morais e éticos; portanto deve existir um ser moral e eticamente bom que criou o homem com este atributo; ou seja, o reconhecimento que o homem tem do Sumo Bem e a sua busca de um ideal moral exigem a necessitam a existência de um Deus que concretize este ideal.

d.5 Argumento Histórico : Entre todos os povos e tribos da terra há um sentimento religioso que se revela em cultos exteriores. Visto ser um fenômeno universal, deve pertencer à própria natureza do homem. E se a natureza do homem leva naturalmente ao culto religioso, isto só pode achar uma explicação num ser superior que constituiu o homem um ser religioso.

3.2 A COGNOSCIBILIDADE DE DEUS

a. Deus Incompreensível e, Contudo, Cognoscível

A igreja cristã confessa, por um lado, que Deus é incompreensível, mas também, por outro lado, que Ele pode ser conhecido e que conhecê-lo é um requisito absoluto para a salvação (Jó 11:7; Is 40:18; Jo 17:3; I Jo 5:20).

Os escolásticos sustentavam que não sabemos o que Deus é em seu Ser essencial, mas podemos saber algo da Sua natureza, daquilo que Ele é para nós, como Ele se revela em seus atributos divinos.

Já os Reformadores, embora concordando em linhas gerais com os escolásticos, rejeitaram a idéia de que é possível adquirir real conhecimento de Deus pela razão humana desajudada, partindo tão somente da revelação geral. Para Calvino, Deus, nas profundezas do seu ser, é insondável. “Sua essência”, diz ele, ”é incompreensível; desse modo, Sua divindade escapa totalmente aos sentidos humanos”. Os Reformadores não negam que o homem possa aprender alguma coisa da natureza de Deus por meio da Sua obra criadora, mas sustentam que ele só pode adquirir verdadeiro conhecimento de Deus por meio da revelação especial, sob a influência iluminadora do Espírito Santo.

Sob a influência da teologia da imanência, de tendência panteísta, inspirada por Hegel e Schleiermacher, a transcendência de Deus é enfraquecida, ignorada ou explicitamente negada. Deus é colocado no nível do mundo, considerado menos incompreensível e é afirmada a realidade de se obter real conhecimento de Deus dentro do âmbito do ser do próprio homem, fora da revelação especial, uma vez que esta é negada.

Barth, como neo-ortodoxo, assinala que não podemos encontrar Deus nem na natureza, nem na história, nem na experiência humana de qualquer espécie, mas somente na revelação especial, que chega até nós na Bíblia.

b. A Negação da Cognoscibilidade de Deus

Geralmente essa negação se baseia nos supostos limites da faculdade cognitiva humana, segundo a qual a mente é incapaz de conhecer qualquer coisa que esteja além e por trás dos fenômenos naturais, e , portanto, é necessariamente ignorante quanto às coisas supersensoriais e divinas. Huxley foi o primeiro a aplicar àqueles que assumem esta posição, ele próprio incluído, o nome de “agnósticos”. Este não gostam de ser rotulados de ateus, desde que eles não negam absoluta,mente a existência de Deus, mas declaram que não sabem se Ele existe ou não e, mesmo que exista, não estão certos de terem algum genuíno conhecimento dele, e, em muitos casos, negam de fato que possam ter algum conhecimento real dele. Comte, pai do positivismo,era agnóstico em religião e, de acordo com seu pensamento, o homem nada pode conhecer, se não pelos fenômenos físicos e suas leis. Os seus sentidos sãos as fontes de todo verdadeiro pensamento, e ele nada pode conhecer, exceto os fenômenos que os seus sentidos apreendem.

c. Auto-Revelação, Requisito de Todo Conhecimento d e Deus

c.1 Deus Transmite Conhecimento de Si Próprio ao Homem

Kuyper chama a atenção para o fato de que a teologia, como conhecimento de Deus, difere num importante ponto de todos os demais tipos de conhecimento. No estudo de todas as outras ciências, o homem se coloca acima do objeto de sua investigação e ativamente extrai dele o seu conhecimento pelo método que lhe pareça mais apropriado; mas, na teologia, ele não pode colocar-se acima, e, sim , sob o

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objeto do seu conhecimento. Noutras palavras, o homem só pode verdadeiramente conhecer a Deus na medida em que Este ativamente se faz conhecido. Sem a revelação divina o homem nunca seria capaz de adquirir qualquer conhecimento legítimo de Deus. Todo o nosso conhecimento de Deus é derivado da Sua auto-revelação na natureza e na Escritura.

c.2 A Revelação Geral e a Especial :

A Bíblia atesta uma dupla revelação de Deus: uma revelação na natureza que nos cerca, na consciência humana, e no governo providencial do mundo (Sl 19:1,2; At 14:17; Rm 1:19,20); e uma revelação encarnada na Bíblia como Palavra de Deus (II Re 17:13; Sl 103:7; Jo 1:18; Hb 1:1,2).

O Dr. Warfield afirma: “ A primeira é dirigida de modo geral a todos as criaturas inteligentes, e, portanto é acessível a todos os homens; a outra dirige-se a uma classe especial de pecadores, aos quais Deus quis tornar conhecida a Sua salvação...”. A revelação geral está arraigada na criação, e é dirigida ao homem como homem. A revelação especial está arraigada no plano da redenção de Deus, e é dirigida ao homem na qualidade de pecador, e só pode ser adequadamente compreendida e assimilada somente pela fé.

Os escolásticos afirmavam que a revelação natural fornecia os dados necessários para a construção de uma teologia natural científica pela razão humana; mas, não fornecia o conhecimento dos mistérios como os da Trindade, da encarnação, e da redenção. Este conhecimento é dado pela revelação especial. É um conhecimento não demonstrável racionalmente, mas deve ser aceito pela fé.

Os Reformadores rejeitaram o dualismo dos escolásticos a afirmarem que não criam que a razão humana tenha a capacidade para elaborar um sistema científico de teologia com base na revelação natural pura e simples, isto porque, com a entrada do pecado no mundo, a escrita de Deus na natureza ficou muito obscura, e em alguns dos assuntos mais importantes assuntos, é opaca e ilegível (Rm ). Deus para remediar esta questão, em sua revelação especial, tornou a publicar as verdades da revelação natural, e, em acréscimo a isso, Ele providenciou uma cura para a cegueira espiritual do homem na obra da regeneração e santificação, incluindo iluminação espiritual, e, assim, capacitou o homem mais uma vez a obter verdadeiro conhecimento de Deus, o conhecimento que leva consigo a segurança da vida eterna.

3.3 A REVELAÇÃO DO SER E DOS ATRIBUTOS DE DEUS

Os atributos de Deus são as suas qualidades essenciais nas quais o Ser de Deus é revelado e com os quais pode ser identificado.

a. O Ser de Deus

A Bíblia nunca opera com um conceito abstrato de Deus, mas sempre O descreve com o Deus Vivente, que entra em várias relações com as suas criaturas, relações que indicam vários atributos diferentes. E o consenso da opinião da igreja primitiva, durante a idade média, e no tempo da Reforma, foi que Deus, em seu ser mais recôndito, é O Incompreensível. Os escolásticos falavam de três perguntas às quais todas as especulações a respeito do Ser Divino podiam ser reduzir-se: Quem é Deus? Qual a natureza de sua constituição interna? O que é que faz que Ele seja o que Ele é? Para responder adequadamente essas perguntas teríamos que ser capazes de compreender Deus e oferecer uma explicação satisfatória do seu Ser Divino, e isto é completamente impossível. O Finito não pode compreender o infinito. Calvino também fala da essência divina como incompreensível. Ele sustenta que Deus, nas profundezas do Seu Ser, está fora de alcance. Já Tomas de Aquino afirmava que os atributos de Deus não revelam o que Deus é em Si mesmo, nas profundezas do Seu Ser, mas somente o que Ele é em relação às Suas criaturas.

Devido à estreita relação entre os atributos e a essência de Deus, pode-se dizer que o conhecimento dos atributos leva consigo o conhecimento da essência divina. Seria um erro conceber a essência de Deus como existente por Si própria e anterior aos atributos, como também seria um erro conceber os atributos como características aditivas e acidentais do Ser Divino. São eles qualidades essenciais de Deus, inerentes ao seu próprio Ser e com Ele coexistente. Estas qualidades não podem ser alteradas sem alterar o Ser essencial de Deus. E desde que são qualidades essenciais, cada um deles revela-nos alguns aspectos do Ser de Deus.

b. Os Atributos de Deus em Geral

b.1 Definição de Atributos Os atributos de Deus podem ser definidos como as perfeições que constituem qualidades do

Ser Divino na Escritura, ou que são visivelmente exercidos por Ele em sua Obras de criação, providência e redenção.

b.2 Método de Determinação dos Atributos de Deus

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Os Escolásticos afirmavam três modos pelos quais determinar os atributos de Deus: Via da Causalidade , onde subimos dos efeitos à uma causa primeira; Via da Negação , quando retiramos de nossa idéia de Deus todas as imperfeições humanas; e, Via da Eminência , quando atribuímos a Deus, em grau infinitamente perfeito, as qualidades que encontramos no homem.

Na Teologia Experimental de Macintosh o postulado praticamente necessário é que Deus é absolutamente suficiente e absolutamente confiável com referência às necessidades religiosas do homem, e que é sobre esta base que o homem pode construir a sua doutrina sobre os atributos de Deus.

Esses métodos têm seu ponto de partida na experiência humana, e não na Palavra de Deus. Deliberadamente ignoram a clara revelação que Deus nos dá de Si na Escritura e exaltam a idéia do descobrimento humano de Deus. Os que se apóiam em tais métodos fecham os olhos para a única avenida pela qual poderiam obter real conhecimento de Deus, a saber, a Sua revelação especial, evidentemente esquecidos do fato de que somente o Espírito de Deus pode sondar e revelar as profundezas de Deus, e no-las revelar. O próprio método de que se utilizam os compele a arrastar Deus para baixo, ao nível do homem, ao salientar sua imanência em detrimento de Sua transcendência. E como resultado final de sua filosofia, temos um Deus feito à imagem do homem.

A única maneira apropriada pela qual podemos obter conhecimento dos atributos divinos perfeitamente confiável é o estudo da auto-revelação de Deus na Escritura. É verdade que podemos adquirir algum conhecimento da grandeza e poder de Deus, de sua sabedoria e bondade, pelo estudo da natureza, mas para uma adequada concepção, mesmo destes atributos, será necessário voltar-nos para a Palavra de Deus. Na teologia da revelação procuramos aprender da Palavra de Deus quais são os atributos do Ser Divino. O homem não pode extrair conhecimento de Deus como o faz dos outros objetos de estudo, mas Deus transmite conhecimento de Si ao homem, conhecimento este que o homem pode somente aceitar e assimilar.

c. Os atributos Incomunicáveis

É muito comum, na teologia, falar de Deus como o Ser Absoluto, termo este mais característico da filosofia do que da própria teologia. Na metafísica a expressão “o Absoluto” é um designativo do funda,mento último de todas existência. O termo “Absoluto ” é derivado do termo latino absolutus, composto de ab (preposição de, indicando procedência) e solvere (soltar) e, assim, significa livre quanto a condição, ou livre de limitação ou restrição. De sorte que o Absoluto foi considerado como aquilo que é livre de todas as condições(Incondicionado ou Auto-existente), ou livre de todas as relações (o Irrelacionado), de todas as imperfeições (o Perfeito), ou livre de todas as diferenças ou distinções fenomenológicas, como matéria e espírito, ser e atributos, sujeito e objeto, aparência ou realidade (o Real, a Realidade última).

Quando o Absoluto é definido como a Causa primeira de todas as coisas existentes, ou como o fundamento último de toda realidade, ou como o único Ser Auto-existente, pode ser considerado idêntico ao Deus da teologia. Ele é O Infinito, que não existe em relações necessárias, porque Ele é auto-suficiente, mas ao mesmo tempo pode entrar livremente em relações com sua criação como um todo e suas criaturas.

Enquanto os atributos incomunicáveis salientam o Ser Absoluto de Deus, os atributos comunicáveis acentuam o fato de que ele entra em várias relações com as Suas criaturas.

c.1 A Existência Autônoma de Deus

Deus é auto-existente, isto é, Ele tem em Si mesmo a base de sua existência (Jo 5:26). O homem, por outro lado, não existe necessariamente, e tem a causa da sua existência fora dele próprio. Este atributo de Deus está implícito nas religiões pagãs e no Absoluto da filosofia. Esta auto-existência de Deus acha expressão no nome YAHWEH. É somente como Ser auto-existente e independente que Deus pode dar a certeza de que permanecerá eternamente o mesmo com relação ao seu povo eleito.

Ele é independente de todas as coisas e todas as coisas só existem por meio dele (Sl 94:8), Is 40:18; At 7:25); Ele é independente em seu pensamento (Rm 11:33,34), em sua vontade (Dn 4:35; Rm 9:19; Ef 1:5; Ap 4:11) em seu poder (Sl 115:3) e em seu conselho (Sl 33:11).

c.2 A Imutabilidade de Deus

É a perfeição pela qual não há mudanças em Deus, não somente em Seu Ser, mas também em Suas perfeições, em seus propósitos e em suas promessas. Esta verdade, além de ser escriturística, é comprovada pela razão que nos ensina que não é possível nenhuma mudança em Deus, visto que qualquer mudança é para melhor ou para pior.

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A imutabilidade de Deus é claramente ensinada nas Escrituras sagradas (Ex 3:14; Sl 102:26-28; Is 41:4; Is 48:12; Ml 3:6; Rm 1:23; Tg 1:17).

No entanto, há passagens bíblicas que parecem atribuir mudança em Deus (Ex 32:10-14; Jn 3:10; Pv 11:20; Sl 18:26,27). A objeção aqui presente baseia-se até certo ponto em errônea compreensão. A imutabilidade divina não deve ser entendida no sentido de imobilidade, pois na teologia fala-se de Deus como actus Purus, Deus sempre em ação. A Bíblia nos ensina que Deus entra em multiformes relações com os homens, Ele está cercado de mudanças, mudanças nas relações dos homens com Ele, mas não há nenhuma mudança em Seu Ser, em Seus atributos, em Seus propósitos, em Seus motivos de ação, nem em Sua promessas.

Se a Escritura fala do Seu arrependimento, de Sua mudança de intenção, e da alteração que faz de sua relação com os pecadores quando estes se arrependem, devemos lembrar-nos de que se trata apenas de um modo antropopático [ a antropopatia é atribuição de sentimentos humanos a Deus com o fim de, em linguagem humana, tentar melhor compreender a divindade] de falar. Na realidade a mudança não está em Deus, mas no homem e nas relações do homem com Deus.

É importante sustentar a doutrina da imutabilidade de Deus contra a doutrina pelagiana e armeniana de que Deus é sujeito a mudança, na verdade não em Seu Ser, mas em seu conhecimento e em sua vontade, de modo que Suas decisões dependem em grande medida das ações do homem.

c.3 A Infinidade de Deus

É a perfeição de Deus pela qual Ele é isento de toda e qualquer limitação em seu Ser Divino e Seus atributos. Esta infinidade não deve ser confundida como se Ele estivesse espalhado pelo universo todo, uma parte aqui, outra ali, pois Deus não tem corpo e, portanto, não tem extensão espacial. Este atributo, conseqüentemente, é uma realidade em Deus e só por Ele compreendida plenamente; e que se pode distinguir em três aspectos, vejamos.

* Sua Perfeição Absoluta : Esta é a infinidade de Deus relacionada em si mesma. O Ser e os atributos de Deus são plenamente perfeitos. Ele é tudo o que deve ser e seus atributos não carecem de acréscimos (Jó 11:7-10; Sl 145:3; Mt 5:48).

* Sua Eternidade : A eternidade é a infinidade de Deus em relação ao tempo. A forma como a Bíblia apresenta a eternidade de Deus é simplesmente a de duração pelos séculos dos séculos sem fim (Sl 90:2; Sl 102:12; Ef 3:21). Devemos lembrar, porém que ao falar como fala, a Bíblia emprega linguagem popular, e não a linguagem da filosofia. Na realidade, a eternidade no sentido estrito da palavra, está relacionada a tudo quanto transcende a todas as limitações temporais (II Pe 3:8). Nossa existência é assinalada por dias, semanas, meses e anos; não há essa divisão na vida de Deus. Ele é o eterno “Eu Sou”. A sua eternidade pode ser definida como a perfeição pela qual Ele é elevado acima de todos os limites temporais e de toda sucessão de momentos, e tem a totalidade da Sua existência num único presente indivisível.

* Sua Imensidade : É a infinidade de Deus em relação ao espaço, e pode ser definida como a perfeição do Ser divino pela qual Ele transcende todas as limitações espaciais e, contudo, está presente em todos os pontos do espaço com todo o Seu Ser. Os corpos físicos ocupam o espaço circunscritivamente, por que limitados por ele; os espíritos finitos ocupam o espaço definidamente, visto que não estão em toda a parte, e Deus ocupa os espaço repletivamente, porque ele preenche todo o espaço. Ele não esta ausente de nenhuma parte do espaço, nem tampouco está mais presente numa parte que noutra. Em certo sentido, os termos “imensidade” e “onipresença”, como são aplicados a Deus, denotam a mesma coisa.; com uma particularidade, ou seja, enquanto a imensidade aponta para o fato de que Deus transcende todo o espaço e não está sujeito às suas limitações, a onipresença denota que ele preenche todas as partes do espaço com to o Seu

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Ser. A Onipresença de Deus é revelada claramente na Bíblia. O céu e a terra não podem contê-lo ( I Re 8:27; Is 66:1; At 7:48,49) e ao mesmo tempo Ele preenche ambos e é Deus acessível (Sl 139:7-10; Jr 23:23,24; At 17:27,28).

c.4 A Unidade de Deus

Este atributo salienta a unidade e a unicidade de Deus, o fato de que Ele é numericamente um e que, como tal, Ele é único. Implica que só existe um Ser Divino, que, pela natureza do caso, só pode existir apenas um, e que todos os outros seres têm sua existência dele, por meio dEle e para Ele (I Re 8:60; I Co 8:6; I Tm 2:5; Dt 6:4).

d. Os Atributos Comunicáveis (Deus como Espírito Pessoal)

É nos atributos comunicáveis que Deus se posiciona como Ser moral, consciente, inteligente e livre, como ser pessoal no mais alto sentido da palavra.

Para provar a personalidade de Deus têm sido apresentadas provas parecidas com as citadas em prol da existência de Deus, são elas:

1. A personalidade humana requer um Deus pessoal para sua explicação: Visto que o homem é um produto pessoal, o poder que o originou também deve ser pessoal. Doutro modo, existe no efeito alguma coisa superior ao que quer que se ache na causa; e isto seria completamente impossível.

2. O mundo em geral revela os mais claros sinais de uma inteligência infinita, das emoções mais profundas e de uma vontade poderosa. Conseqüentemente, deve existir um Ser Criador do mundo que com inteligência, sensibilidade e vontade, criou todas as coisas.

3. A natureza moral e a religiosa do homem também aponta para a personalidade de Deus. A sua natureza lhe impõe um senso de obrigação de fazer o que é reto, e isto implica necessariamente a existência de um Legislador supremo. Além disso, sua natureza religiosa constantemente o incita a procurar comunhão pessoal com algum Ser superior.

Mas, conquanto todas estas considerações sejam verdadeiras e tenham valor como testemunhas, não são, contudo, as provas de que a teologia depende em sua doutrina da personalidade de Deus. Ela busca prova na revelação que Deus faz de Si na Escritura. A Escritura atesta a personalidade de Deus com quem podem conversar, confiar, amar e serem amados. E, finalmente a mais alta revelação de Deus como ser pessoal está na encarnação de Cristo (Jo 14:9). Provas mais pormenorizadas aparecerão na discussão dos atributos comunicáveis.

d.1 A Espiritualidade de Deus

A Bíblia não nos dá uma definição de Deus. O que mais se aproxima disso é a palavra dita por Jesus à mulher samaritana: “Deus é Espírito” (Jo 4:24). Pelo ensino da espiritualidade de Deus, a teologia salienta o fato de que Deus tem um Ser substancial exclusivamente seu e distinto do mundo, e que este Ser Substancial é imaterial, invisível, e sem composição nem extensão. Deste de que Ele é Espírito no sentido mais absoluto e mais puro da palavra, não há nele nenhuma composição ou partes (I Tm 1:17; I Tm 6:15,16).

É verdade que a Bíblia fala de mãos e pés, olhos e ouvidos, boca e nariz de Deus, mas ao fazê-lo, está falando antropomórfica ou figuradamente daquele que, de longe, transcende o nosso conhecimento humano.

d.2 Os Atributos Intelectuais

d.2.1O Conhecimento de Deus : É a sua perfeição pela qual Ele, de maneira única, conhece-se a Si próprio e a todas as coisas possíveis e reais num só ato eterno e simples. (I Sm 2:3; Jó 12:13; Sl 94:9; Is 29:15; Is 40:27,28). Sendo perfeito (Jó 37:16), é também simultâneo e não sucessivo, de modo que Ele vê as coisas de uma vez em sua totalidade, e não fragmentadas uma após outra. Além disso é inalterável e completo. Ele conhece o que é possível (coisas que poderiam ocorrer em certas circunstancias) e o que existe concretamente. É preciso defender esta doutrina contra Márcion e Socino e todos quantos acreditam num Deus finito e que possui conhecimento limitado. Quanto a presciência , necessário se faz que afirmemos que ela está presente na Bíblia (I Sm 23:10-13; II Re 13:19; Sl 81:14,15; Jr 2:2,3; Mt 11:21), que ela apóia-se nos decretos de

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Deus ( vsdvv ) e que a Bíblia afirma tanto a responsabilidade humana como a soberania de Deus ( bsbsbsdb ).

d.2.2 A Sabedoria de Deus : A sabedoria de Deus é a Sua infinita e perfeita inteligência

como manifestada na adaptação de meios e fins. Ela indica de que Ele sempre busca os melhores fins possíveis, e escolhe os melhores meios para a consecução dos seus propósitos (Rm 11:33; Ef 1:11; Cl 1:16; I Co 2:7; Ef 3:10).

d.2.3 A Veracidade de Deus : Este atributo de Deus pode ser melhor explicado em três

aspectos: (1) Ele é a verdade num sentido metafísico, pois só nEle a idéia de Divindade se concretiza perfeitamente, e, portanto, não há outro Deus (Sl 96:5; 97:7; 115:4-8); (2) Ele é a verdade num sentido ético, pois Ele revela-se como realmente é e Sua Relação e plenamente confiável (Nm 23:19; Rm 3:4; Hb 6:18); e, Ele é a verdade num sentido lógico, pois conhece as coisas como realmente são, conhece não somente as aparências, mas também a realidade das coisas. Assim, a verdade de Deus é o alicerce de todo verdadeiro conhecimento (Ex 34:6; Nm 23:19; Dt 32:4; Is 65:16; Jr 10:8; I Jo 5:20,21).

d.3 Os Atributos Morais

d.3.1 A Bondade de Deus : É a perfeição de Deus que o leva a tratar benevolamente e generosamente todas as sua criaturas (Sl 145:9,15,16; Mt 5:45; Lc 6:35; At 14:17). Esta bondade revela-se em palavras bíblicas como amor (nnnnns ), graça ( bdbadb ), misericórdia ( gagga ) e longanimidade ( svsdvsdv ).

d.3.2 A Santidade de Deus : A palavra hebraica para “ser santo”, qadash ( ), deriva da raiz qad ( ), que significa cortar ou separar. A mesma idéia é comunicada pelas palavras hagiazo ( ) e hagios ( ), no Novo Testamento. Disto já se vê que não é correto pensar na santidade primariamente com uma qualidade moral. Sua idéia fundamental é a de uma posição ou relação existente entre Deus e uma pessoa ou coisa. Daí poder-se fala de dois sentidos da santidade: (1) O sentido original no qual Deus é absolutamente distinto de todas as Suas criaturas, e é exaltado acima delas em majestade infinita. Assim entendida, santidade de Deus é um dos seus atributos transcendentes; (2) e o sentido ético, que o apresenta como aquele que está separado de todo mal moral, isto é, o pecado. Em virtude de sua santidade, Deus não pode ter comunhão com o pecado (Jó 34:10; Hc 1:13). Contudo, a idéia de santidade não é meramente negativa (separação do pecado); tem igualmente um conteúdo positivo, a saber, o de excelência moral, ou perfeição ética. Portanto, podemos definir a santidade como a perfeição de Deus, em virtude daqual Ele eternamente quer manter e mantém a Sua excelência moral, aborrece o pecado, e exige pureza moral em suas criaturas. Esta santidade é revelada na lei moral implantada no coração do homem e que fala por meio da consciência, na Lei revelada à nação de Israel, na pessoa de Cristo, que é chamado “o santo e o Justo” (At 3:14) e na igreja como o corpo de Cristo (Jo 17:11; I Pe 1:16; Ap 4:8).

d.3.3 A Justiça de Deus : É a perfeição de Deus pela qual Ele se mantém contra toda violação da Sua santidade e mostra, em tudo e por tudo, que Ele é santo. Esta justiça se manifesta especialmente em dar a cada homem o que lhe é devido, em tratá-lo de acordo com os seus merecimentos. Esta justiça é de duas classes: (1) Justiça Remunerativa, que se manifesta na distribuição de recompensa a homens e anjos (Dt 7:9,12,13; II Cr 6:15; Sl 58:11; Mt 25:21, Rm 2:7), não com base em méritos, mas tão somente pela graça; e, (2) Justiça Retributiva, que se relaciona com a imposição de castigos. É uma expressão da ira divina (Rm 1:32; Rm 2:9; II Ts 1:8). O propósito primordial da punição do pecado é a manutenção do direito e da justiça.

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d.4 Os Atributos de Soberania

Deus na Escritura é apresentado como o Criador e Sua vontade como a causa de todas as coisas. Ele sustenta todas as coisas e determina os fins que elas estão destinadas a cumprir, e todas as coisas dependem dele e Lhe são subservientes (Gn 14:19; Ex 18:11; Dt 10:14-17; I Cr 29:11,12; Ne 9:6; Sl 22:28; Jr 27:5; Lc 1:53; At 17:24-26; Ap 19:6). Dois atributos requerem discussão sob este título, a saber: (1) a vontade soberana de Deus, e (2) o poder soberano de Deus.

d.4.1 A Vontade Soberana de Deus : a vontade divina, na Escritura, é apresentada como a causa final de todas as coisas: a criação e preservação (Sl 135:6; Jr 18:6; Ap 4:11); o governo (Pv 21:1; Dn 4:35); a predestinação e a reprovação (Rm 9:15,16; Ef 1:11), os sofrimentos de Cristo (Lc 22:42; At 2:23), a regeneração (Tg 1:18), a santificação (Fp 2:13), os sofrimentos dos crentes (I Pe 3:17), a vida e o destino dos homens (At 18:21; Rm 15:32; Tg 4:15), e até as menores coisas da vida (Mt 10:29). A palavra vontade, no entanto, quando aplicada a Deus, nem sempre possui a mesma conotação, ela pode designar: (1) a faculdade de auto-determinação de Deus em Ele decide tomar um curso de ação, (2) um plano ou propósito, (3) o poder de executar este plano, ou (4) a regra de vida firmada para as criaturas racionais. Diz-se, também, que se a vontade decretatória de Deus determinou também a entrada do pecado no mundo, com isso Deus é o autor do pecado e realmente quer uma coisa contrária às sua perfeições morais. Para fugirem à dificuldade, os armenianos dizem que a vontade de Deus, permitindo o pecado, depende do Seu pré-conhecimento do curso que o homem escolheria. Os teólogos reformados (calvinistas), embora mantendo, com base em passagens como At 2:23 e 3:8; etc., que a vontade decretatória de Deus inclui também os atos pecaminosos do homem, sempre têm cuidado de assinalar que se deve conceber isto de modo que não se faça de Deus o autor do pecado. Insistem que a vontade Deus de Deus quanto ao pecado é de permitir o pecado, e não de efetuá-lo e que esta vontade leva consigo a certeza de que o pecado virá ocorrer

d.4.2 O Poder Soberano de Deus : A soberania de Deus acha expressão, não somente na

vontade divina, mas também na onipotência de Deus, ou em seu poder de executar a Sua vontade. Sendo assim, o seu poder soberano pode ser definido como a perfeição de Deus pela qual Ele, mediante o simples exercício da Sua vontade, pode realizar tudo quanto está presente em Sua vontade ou conselho. O poder de Deus, em seu exercício fatual, limita-se àquilo que o seu decreto eterno abrange. Mas o exercício fatual do poder de Deus não representa os seus limites. Deus poderia fazer mais que isso, se fosse esta a Sua intenção. Deve-se manter esta posição contra aqueles que, como Schleiermacher e Strauss, sustentam que o poder de Deus se limita àquilo que Ele realiza de fato. A Bíblia nos ensina por um lado, que o poder de Deus estende-se além daquilo que é realizado de fato (Gn 18:14; Jr 32:27; Zc 8:6; Mt 3:9; 26:53). Mas, por outro lado, ela indica também que há muitas coisas que Deus não pode fazer. Ele não pode mentir, pecar, mudar,e não pode negar-se a Si próprio (Nm 23:19; I Sm 15:29; II Tm 2:13; Hb 6:18). Não há poder absoluto nele divorciado de suas perfeições, em virtude do qual Ele pudesse fazer todo tipo de coisas inerentemente contraditórias entre si. A idéia da onipotência de Deus é expressa pelo nome ‘El-Shaddai; e a Bíblia fala a seu respeito em termos que não deixam dúvida, em passagens como Jó 9:12; Sl 115:3; Jr 32:17; Mt 19:26; Lc 1:37.

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3.4 A TRINDADE SANTA

1. A Doutrina da Trindade na História

Os judeus no tempo de Jesus davam muita ênfase à unidade de Deus, e esta ênfase foi trazida para dentro da igreja cristã. O resultado foi que alguns eliminaram completamente as distinções pessoais da Divindade, e que outros não fizeram plena justiça à divindade essencial da segunda pessoa e da terceira pessoas da Trindade Santa. Tertuliano foi o primeiro a empregar o termo “Trindade” e a formular a doutrina , mas a sua formulação foi deficiente, desde que envolvia uma infundada subordinação do Filho ao Pai.

Os arianos negavam a divindade do Filho e do Espírito Santo, apresentando o Filho como a primeira criatura do Pai, e o Espírito Santo como a primeira criatura do Filho.

O monarquianismo dinâmico via em Jesus apenas um homem e no Espírito Santo uma influência divina.

Já o monarquianismo modalista considerava o Pai, o Filho e o Espírito Santo meramente como três modos de manifestação assumidos sucessivamente pela Divindade.

A igreja começou a formular a sua doutrina da Trindade no século quarto. O Concílio de Nicéia (325 d.C.) declarou que o Filho é co-essencial com o Pai, enquanto que o Concílio de Constantinopla (381 d.C.) afirmou a divindade do espírito, embora não com a mesma precisão.

Depois da Reforma não temos maior desenvolvimento da doutrina da Trindade, mas o que encontramos são algumas das errôneas formulações antigas. Os arminianos, Episcópio, Curceleu e Limborgh reavivaram a doutrina da subordinação ao atribuírem ao Pai uma certa preeminência sobre as outras pessoas da Trindade – em ordem, dignidade e poder. Outros seguiram o caminho indicado por Sabélio, ensinando uma espécie de modalismo com, por exemplo, Schleiermacher, que considerava as três pessoas simplesmente como três aspectos de Deus: o Pai é Deus como a subjacente unidade de todas as coisas, o Filho é Deus como passando a uma personalidade consciente no homem, e o Espírito Santo é Deus vivendo na igreja. Os socinianos da época da Reforma seguiram as linhas arianas, mas foram além de Ário, pois para eles Cristo era simplesmente um homem e o Espírito Santo apenas um poder ou influência.

2. Deus Como Trindade em Unidade

a. A Personalidade de Deus e a Trindade

Os atributos comunicáveis de Deus salientam a sua personalidade desde que O revelam como um ser moral bem como racional. E, visto que o homem foi criado à imagem de Deus, podemos compreender algo da vida pessoal de Deus pela observação da personalidade como a conhecemos no homem.

Contudo, precisamos ter cuidado de não estabelecer a personalidade humana como padrão pelo qual avaliar a personalidade de Deus. Pois há grande diferença entre ambas, e esta é que o homem é unipessoal, enquanto Deus é tri-pessoal. E esta existência tripessoal é uma necessidade do Ser Divino, e em nenhum sentido resulta de uma escolha feita por Deus. Ele não poderia existir em nenhuma outra forma que não a forma tri-pessoal.

b. Prova Bíblica da Doutrina da Trindade A doutrina da Trindade depende decisivamente da revelação autoritativa que Deus deu aos

homens. b.1 Provas do Velho Testamento : Alguns dos primeiros pais da igreja e alguns teólogos mais

recentes desconsideram o caráter progressivo da revelação e opinaram que a doutrina da Trindade foi revelada completamente no V.T. Por outro lado, os socinianos e os arminianos eram de opinião que não há nada desta doutrina ali. Contudo, tanto estes como aqueles estavam enganados. E V.T não contém pela revelação da existência trinitária de Deus, mas contém várias indicações dela. Ou seja, a Bíblia nunca trata desta doutrina de maneira abstrata, mas revela a subsistência trinitária, em suas várias relações, como uma realidade viva. E esta revelação vai tendo maior clareza, na medida em que a obra redentora de Deus é revelada mais claramente, como na encarnação do Filho e no derramamento do Espírito. No Velho Testamento, portanto, encontramos as seguintes passagens indicadoras da doutrina da Trindade:

* Aquelas passagens em que Deus fala de si mesmo no plural (Gn 1:26; 11:7), o que indicam distinções pessoais em Deus, embora não sugiram uma triplicidade, mas apenas uma pluralidade de pessoas;

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* As passagens que referem ao Anjo do Senhor que, por um lado, é identificado com Jeová e, por outro, distingue-se dele (Gn 16:7-13; Gn 18:1-21; 19:1-28; Ml 3:1);

* Passagens em que a Palavra e a Sabedoria de Deus são personificadas (Sl 33:4,6; Pv 8:12-31);

* Textos nos quais Deus fala e menciona o Espírito e o Messias, ou quem fala é o Messias, que menciona Deus e o Espírito (Is 48:16; Is 61:1; Is 63:9,10).

b.2 Provas do Novo Testamento : O Novo Testamento traz consigo uma revelação mais clara das distinções da Divindade, vejamos:

* Se no V.T. Jeová e apresentado como o Redentor e Salvador de seu povo (Jó

19:25; Sl 19:14; Is 41:14; Jr 14:3), no N.T. o Filho de Deus distingue-se nesta capacidade (Mt 1:21; Lc 1:76-79; Jo 4:42, etc);

* Se no V.T. é Jeová que habita em Israel e nos corações dos que O temem (Sl 74:2; Sl 135:21; Is 8:18; Ez 43:7-9), no N.T. é o Espírito santo que habita na igreja (At 2:4; Rm 8:9,11; I Co 3:16; Gl 4:6; Ef 2:22);

* Vemos o Pai de dirigindo ao Filho (Mc 1:11; Lc 3:22), o Filho comunicando-se com o Pai (Mt 11:25; Jo 11:41), e o Espírito Santo orando a Deus nos corações dos crentes (Rm 8:26).

* No batismo do Filho, o Pai fala e o Espírito Santo desce na forma de pomba (Mt 3:16,17);

* Na grande comissão Jesus menciona as três pessoas em igualdade de autoridade (Mt 28:19) e também observamos o mesmo princípio em outras passagens (I Co 12:4-6; II Co 13:13; I Pe 1:2).

c. Exposição da Doutrina da Trindade

c.1 Há no Ser Divino apenas uma essência indivisível : Deus é um em Seu ser essencial, ou

seja, em Sua natureza constitucional. Esta idéia baseia-se em passagens como Dt 6:4 e Tg 2:19.

c.2 Neste único Ser Divino há três pessoas, o Pai, o Fi lho e o Espírito santo : A experiência

indica que onde temos uma pessoa, temos também uma essência individual distinta. Mas em Deus não há três indivíduos justapostos e separados uns dos outros, mas somente auto-distinções pessoais dentro da essência divina. E estas auto-distinções do Ser Divino implicam um “eu” e “tu” no Ser de Deus, que assumem relações pessoais uns para com os outros (Mt 3:16; Jo 1:18; Jo 3:16; Jo 16:13-15).

c.3 Toda a indivisiva essência de Deus pertence a cada uma das três pessoas : Quer dizer

que a essência não é dividida entre as três pessoas, mas está com a totalidade absoluta da sua perfeição em cada uma das pessoas, de modo que têm unidade numérica de essência. Ora, se é assim, portanto, não de deve haver subordinação de uma pessoa a outra da Divindade quanto ao ser essencial, e, conclusivamente, nenhuma diferença na dignidade pessoal. A única subordinação que podemos falar é uma subordinação quanto à ordem e o relacionamento.

c.4 A subsistência e as operações das três pessoas do S er Divino são assinaladas por certa

ordem definida : Quanto a subsistência o Pai é a primeira pessoa, o Filho é a segunda, e o Espírito é a terceira. Esta ordem, contudo, não pertence a nenhuma prioridade de tempo ou de dignidade essencial, mas somente à ordem de derivação lógica. O Pai não é gerado por nenhuma das outras duas pessoas, nem delas procede; o Filho é eternamente gerado pelo Pai, e o Espírito santo procede do Pai e do Filho desde toda a eternidade. Todas as coisas provém do Pai, mediante o Filho e no Espírito Santo.

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c.5 Há certos atributos pessoais pelos quais se disting uem as três pessoas : chamam-se também de opera ad intra, porque são obras realizadas no interior do Ser Divino e não se finalizam na criatura. A geração é um ato exclusivo do Pai, a filiação pertence exclusivamente ao Filho e a processão só pode ser atribuída ao Espírito santo. As opera ad extra são aquelas atividades e efeitos pelos quais a Trindade se manifesta exteriormente. Nunca estas obras se devem exclusivamente a uma pessoa da Trindade, mas assim são expostas para mostrar aquilo que a teologia nomeou como a economia divina, por exemplo: a salvação pertence a Deus, mas é o Pai posto como o idealizador da salvação, Jesus é o Fiador da aliança da graça e o Espírito Santo aquele que aplica a obra da redenção na vida dos eleitos.

3. As Três Pessoas Consideradas Separadamente

3.1 O PAI, a Primeira Pessoa da Trindade

3.1.1 O nome “Pai” : nem sempre é aplicado com relação a Deus com o mesmo sentido na Escritura.

* Às vezes se aplica ao Deus Triúno como a origem de todas as coisas (I Co 8:6; Ef 3:15; Hb 12:9; Tg 1:17);

* Atribui-se também o nome ao Deus Triúno para expressar a relação teocrática que Ele mantém com Israel como o Seu .povo no V.T. (Dt 32:6; Is 63:16; Is 64 8; Jr 3:4);

* No N.T. o nome é geralmente empregado para designar o Deus Triúno como o Pai, no sentido ético, de todos os seus filhos espirituais (Mt 5:45; Rm 8:16; I Jo 3:1);

* O nome é aplicado à primeira pessoa da Trindade em Sua relação com a segunda pessoa (Jo 1:14,18; Jo 5:17-26; Jo 14:12,13).

3.1.2 A Propriedade Distintiva do Pai :

* Em termos negativos afirma-se que Ele não é gerado; * Em termos positivos, consiste na geração do Filho e na espiração do espírito Santo.

3.1.3 As opera ad extra do Pai : Todas as opera ad extra de Deus são do Deus Triúno, mas nalgumas destas obras o Pai está em primeira plana, vejamos:

* Planejamento da obra da redenção e eleição de Cristo (Sl 2:7-9; Is 53:10; Mt 12:32; Ef 1:3-6);

* As obras da criação e da providência, principalmente em seus estágios iniciais (I Co 8:6; Ef 2:9);

* A obra de representação da Trindade no Conselho da Redenção, como Ser santo e justo, cujo direito foi violado (Sl 2:7-9; Sl 40:6-9; Jo 6:37,38; Jo 17:4-7).

3.2 O FILHO, a Segunda Pessoa da Trindade

3.2.1 O nome Filho : A segunda pessoa da Trindade é chamada de “Filho” ou “Filho de Deus” em mais de um sentido do termo, vejamos:

* Ele é mencionado “Filho de Deus” do ponto de vista de sua pré-encarnação (Jo 1:14,18; Gl 4:4);

* Nalgumas passagens o nome indica a divindade de Cristo (Jo 5:18-25; Hb 1); * Outras passagens fazem referência à sua messianidade (II Co 11:31; Ef 1:3;); * Num sentido natalício, em vista do fato de que seu nascimento deu-se à paternidade

de Deus (Lc 1:32,35; Jo 1:13).

3.2.2 A Geração do Filho : A propriedade característica do Filho é que Ele é eternamente gerado pelo Pai e toma parte com o Pai na espiração do Espírito Santo. Não somente os nomes “Pai” e “filho” sugerem a geração deste por aquele, mas também o Filho é repetidamente chamado de “o Unigênito” (Jo 1:14,18; Jo 3:16; I Jo 4:9). Destacamos dois aspectos desta geração, vejamos:

* Esta geração é um ato necessário de Deus Pai . Orígenes considerava-a um ato

dependente da vontade do pai. Mas, Atanásio e outros perceberam claramente que

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uma geração dependente da vontade facultativa de Deus Pai tornaria contingente a existência do Filho e assim O privaria da Sua divindade.

* Este ato, além de ser necessário, é eterno . Não no sentido de algo que foi realizado em um passado remoto, mas sim um ato atemporal, um ato de um eterno presente (Mq 5:2; Jo 1; Jo 3:16; At 13:33; Cl 1:16; Hb 1:3).

3.2.3 A Divindade do Filho : A divindade do Filho foi negada na Igreja Primitiva pelos ebionitas, pelos monarquistas e pelos arianos. Nos dias da Reforma os socinianos seguiram o exemplo daqueles e falaram de Jesus como mero homem. A mesma posição foi tomada por Schleiermacher e por muitos eruditos liberais. Contudo, a Bíblia assevera a divindade de Cristo nos termos abaixo relacionados:

* Sua divindade é explicitamente asseverada em vários textos (Jo 1:1; Rm 9:5; Fp 2:6; Tt 2:13; I Jo 5:20);

* É aplicado a ele nomes divinos (Is 9:6; Is 40:3; Jr 23:5; Jl 2:32 [comp. At 2:21]); * Atribui-se a ele atos e perfeições divinas tais como:

- Existência eterna (Is 9:6; Jo 1:1,2; Ap 1:8; Ap 22:13)); - Onipresença (Mt 18:20; Mt 28:20; Jo 3:13); - Onisciência ( Jo 2:24,25; Jo 21:17; Ap 2:23); - Onipotência (Is 9:6; Fp 3:21; Ap 1:8); - Imutabilidade (Hb 1:10-12; Hb 13:8). - Perdoar pecados (Mt 9:2-7; Mc 2:7-10; Cl 3:13) - A ressurreição e o juízo (Mt 25:31,32; Jo 9:19-29; At 10:42)

3.2.4 O Lugar do Filho na Trindade Econômica : Todas as coisas provém do Pai, mediante o Filho (I Co 8:6). Se o Pai é apresentado como a causa absoluta de todas as coisas, i Filho sobressai claramente como a causa mediadora. Isto se aplica tanto as coisas naturais (Jo 1:3,10; Hb 1:2,3) como na obra da redenção (Ef 1:3-14; II Co 13:13; Ef 5:2,25).

3.3 O ESPÍRITO SANTO, A Terceira Pessoa da Trindade :

3.3.1 O Nome Aplicado à Terceira Pessoa da Trindade : O termo hebraico com o qual Ele é designado é ruah [ ], e o grego é pneuma [ ], ambos os quais, como o vocábulo latino spiritus, derivam de raízes que significam “soprar”, “respirar”. Daí, podem também ser traduzidos por “sopro” ou “fôlego” (Gn 2:7; Gn 6:17; Ez 37:5,6), ou “vento” (Gn 8:1; I Re 19:11; Jo 3:8). O V.T. geralmente emprega o termo “espírito” sem qualificativos, ou fala do “Espírito de Deus” [ ] ou “Espírito do Senhor” [ ], e utiliza a expressão “Espírito Santo” [ ] somente em Sl 51:11; Is 63:10,11. Já o N.T. esta veio a ser a designação para a terceira pessoa da Trindade ( [ ] ).

3.3.2 A Personalidade do Espírito Santo : a prova que os Espírito Santo não é uma energia ou poder impessoal de Deus, mas sim uma pessoa que compõe a Trindade encontra-se tão somente nas verdades expostas na Palavra de Deus, vejamos:

* São-lhe atribuídas características pessoais, tais como:

- Inteligência (Jo 14:26; Jo 15:26; Rm 8:16); - Vontade (At 16:7; I Co 12:11); - Sentimentos (Is 63:10; Ef 4:30); - Ele sonda, fala, testifica, ordena, revela, luta, cria, faz intercessão, vivifica

mortos, etc. (Gn 1:2; Gn 6:3; Lc 12:12; Jo 14:26; At 8:29; Rm 8:11; I Co 2:10,11)

* É apresentado como mantendo tais relações com outras pessoas, que implica em sua própria personalidade (At 15:28; Jo 16:14; Mt 28:19; II C 13:13);

* Há passagens nas quais se distingue entre o Espírito e o seu poder (Lc 1:35; Lc 4:14; At 10:38; Rm 15:13).

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3.3.3 A Divindade do Espírito Santo : A divindade do espírito pode ser atestada nas Escrituras Sagradas pelos seguintes motivos:

* São-lhe dado nomes divinos (Ex 17:7 [comp. Hb 3:7-9]; At 5:3,4; I Co 3:16; II Tm 3:16; II Pe 1:210;

* São-lhe atribuídas perfeições divinas como: - Onipresença (Sl 139:7-10); - Onisciência (Is 40:13,14 [comp. Rm 11:34]; I Co 2:10,11); - Onipotência (I Co 12:11; Rm 15:19); - Eternidade (Hb 9:14).

* Ele realiza obras divinas como: - Criação (Jó 26:13; Jó 33:4); - Renovação providencial (Sl 104:30); - Ressurreição dos mortos (Rm 8:11); - Regeneração (Jo 3:5,6; Tt 3:5).

* É-lhe prestada honra divina (Mt 28:19; Rm 9:1; II Co 13:13).

3.3.4 A Obra do Espírito santo na Economia Divina : como já foi exposto anteriormente, embora os atos da Divindade possam ser expostos de forma geral como que oriunda de Deus, a teologia, através da expressão “economia divina”, ressalta a verdade que cada uma das pessoas da Trindade possui o seu papel na manifestação graciosa da Divindade. O Espírito, portanto, deve ser visto como aquele que age, também, tanto na esfera natural como na esfera da redenção. Vejamos:

* Na esfera natural a obra do Espírito inclui: - A geração da vida (Jó 26:13; Sl 33:6; Sl 104:30); - A inspiração e qualificação dos homens (Ex 28:3; Ex 31:2,3,6; I Sm 11:6; ).

* Na esfera da redenção : - O preparo e qualificação de Cristo para a sua obra mediadora (Lc 1:35; Hb

10:5-7; Lc 3:22); - A inspiração das Sagradas Escrituras (I Co 2:13; II Pe 1:21); - A formação e o aumento da igreja (Ef 1:22,23; Ef 2:22; I Co 3:16); - O ensino e a direção da igreja (Jo 14:26; Jo 15:26; At 5:32; Hb 10:15; I Jo

2:27).

3.5. AS OBRAS DE DEUS

3.5.1 OS DECRETOS DIVINOS EM GERAL

a. A Doutrina dos Decretos na Teologia

A Teologia Reformada, calvinista, dá ênfase à soberania de Deus, em virtude da qual Ele determinou soberanamente, desde a eternidade, tudo quanto há de suceder, e executa a Sua soberana vontade em Sua criação toda, natural e espiritual, de conformidade com o Seu plano predeterminado. (Ef 1:11). Por esta razão, é simplesmente natural que, ao passar da discussão do Ser de Deus para as obras de Deus, deve-se começar com o estudo dos decretos divinos. Este é o único método teológico apropriado.

A despeito deste fato, porém, a teologia luterana é menos teológica e mais antropológica. É um fato notável que muito teólogos luteranos permaneçam silenciosos, ou quase silenciosos, a respeito da doutrina dos decretos de Deus em geral e discutem somente a doutrina da predestinação, e consideram esta como condicional, e não absoluta. Na doutrina da predestinação, a teologia luterana mostra forte afinidade com o arminianismo.

b. Nomes Bíblicos Para os Decretos Divinos

Os decretos divinos não são descritos abstratamente na Escritura, mas são colocados diante de nós em sua concretização histórica. A Escritura emprega diversos termos para o eterno decreto de Deus, vejamos.

b.1 Termos do Velho Testamento : Há alguns termos que acentuam o elemento intelectual do decreto, como ’etsah de ’ya’ats, aconselhar, dar aviso (Jó 38:2; Is 14:26; Is 46:11), sod, de yasad, sentar-se junto para deliberação [nifal] (Jr 23:18,22); e mezimmah, de

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zamam, meditar, ter em mente, propor-se a (Jr 4:28; Jr 51:12; Pb 30:12). Além destas, há termos que salientam o elemento volitivo, como chaphets, inclinação, vontade, beneplácito (Is 53:10); ratson, agradar, deleitar-se, e, assim denotar deleite, beneplácito, ou vontade soberana (Sl 51:19; Is 49:8).

b.2 Termos do Novo Testamento : No Novo testamento temos boule [βουλη], que designa o decreto em geral, indicando também o fato de que o próprio Deus se baseia num conselho e deliberação ( At 2:23; At 4:28; Hb 6:17). Outra palavra é thelema [θεληµα], que dá ênfase ao elemento volitivo (Ef 1:11). O vocábulo eudokia [ευδοκια] acentua mais particularmente a liberdade do propósito de Deus, e o prazer de que vem acompanhada, embora nem sempre esta idéia esteja presente (Mt 11:26; Lc 2:14; Ef 1:5,9).

c. A Natureza dos Decretos Divinos Pode-se definir o decreto de Deus como o Breve Catecismo de Westminster afirma, ou seja,

como “o Seu eterno propósito, segundo o conselho da Sua vontade, pelo qual, para a Sua própria glória, Ele predestinou tudo quanto acontece”.

c.1 O Decreto Divino é Somente Um : Em sua própria natureza o decreto é somente um único ato de Deus. O seu conhecimento é de todo imediato e simultâneo, e não sucessivo como o nosso, e a sua compreensão desse conhecimento é sempre completa. Não existe, pois, uma séria de decretos de Deus, mas somente um plano compreensivo, que abrange tudo o que se passa. Contudo, a nossa compreensão limitada força-nos a fazer distinção, e isto explica por que muitas vezes falamos dos decretos de Deus no plural.

c.2 A Relação do Decreto Com o Conhecimento de Deus : Há em Deus um conhecimento necessário, que inclui todas as causas e resultados possíveis. Este conhecimento fornece o material para o decreto; é a fonte perfeita da qual Deus extrai os pensamentos que ele deseja objetivar. Deste conhecimento de todas as coisas possíveis, Ele escolheu, por um ato da Sua vontade perfeita, levado por sábias considerações, o que desejava levar à realização, e assim formulou o Seu propósito eterno. Deve-se sustentar isto contra todos os que crêem numa predestinação condicional (como os semipelagianos e os armenianos), desde que eles tornam as predeterminações de Deus dependentes da Sua presciência).

c.3 O Decreto se Relaciona Tanto Com Deus Como Com o Ho mem : Os decretos referem-se primeiro às obras de Deus, aquilo que Ele mesmo decretou que realizaria na história dos homens (regeneração, santificação, milagres, a criação,etc.). Mas abrange, também, as ações das Suas criaturas livres. E o fato de estarem incluídas no decreto torna absolutamente certas as coisas que Deus decidiu; embora que, quanto aos atos pecaminosos de Suas criaturas, o decreto é geralmente denominado de permissivo.

d. As Características do Decreto Divino

d.1 É Fundamentado na Sabedoria Divina : A palavra “conselho” sugere cuidadosa consulta e deliberação. Pode conter a sugestão de uma intercomunhão entre as três pessoas da Divindade (Sl 104:24; Pv 3:19; Jr 10:12; 51:15). A sabedoria do conselho do Senhor também pode ser inferida do fato de que ele dura para sempre (Sl 33:11; Pv 19:21). [ver o atributo de sabedoria].

d.2 É Eterno : No sentido de que está inteiramente na eternidade (At 15:18; Ef 1:4; II Tm 1:9)

d.3 É Eficaz : Aquilo que Ele decretou, em sabedoria infinita e perfeita, na eternidade, certamente sucederá; nada poderá frustrar o Seu propósito (kbkbkckjckjckj).

d.4 É Imutável : O Homem pode alterar, e muitas vezes alterar os seus planos, por várias razões. Pode acontecer que, ao fazer o seu plano, lhe tenha faltado seriedade quanto ao propósito, ou lhe tenha faltado poder para levá-lo a cabo. Mas em Deus coisa alguma desse tipo é concebível. Ele não tem deficiência em conhecimento, veracidade e poder. Portanto, não tem necessidade de mudar o Seu decreto devido algum engano

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ou à ignorância, nem por falta de capacidade de executá-lo. E não mudará, porque Ele é o Deus imutável e porque é fiel e verdadeiro (Jó 23:13,14; Sl 33:11; Is 46:10; Lc 22:22; At 2:23).

d.5 É Incondicional ou Absoluto : O decreto não depende, em nenhuma das suas particularidades, pois os meios ou condições também foram determinadas no decreto. Deus não decretou simplesmente salvar os pecadores sem determinar os meios para efetuar om decreto. Os meios conducentes ao fim predeterminado também foram decretados (At 2:23; Ef 2:8; I Pe 1:2).

d.6 É Universal : O decreto inclui tudo que se passa no mundo, quer seja na esfera do físico ou na do moral, quer seja o bom ou mau (Ef 1:11). Ele inclui: (1) As boas ações dos homens [Ef 2:10]; (2) Seus atos iníquos [Pv 16:4; At 2:23]; (3) os eventos contingentes [Gn 45:8; Pv 16:33]; (4) os meios como o respectivo fim [Sl 119:89-91; II Ts 2:13; Ef 1:4]; (5) a duração de vida dos homens (Jó 14:5; Sl 39:4]; o lugar da sua habitação [At 17:26], etc.

d.7 Com Referência ao Pecado, O Decreto é Permissivo : è costume dizer que o decreto de Deus, no que diz respeito ao mal moral, é permissivo. Deve-se observar cuidadosamente, porém, que este decreto permissivo não implica em uma permissão passiva de algo que não está sob o controle da vontade divina. É um decreto que garante com absoluta certeza a realização pecaminosa do ato pecaminoso futuro, em que Deus determina (1) não impedir a autodeterminação pecaminosa do homem; e (2) regular e controlar o resultado dessa autodeterminação pecaminosa (Sl 78:29; Sl 106:15; At 14:16; At 17:30).

e. Objeções à Doutrina dos Decretos Somente a Teologia Reformada Calvinista faz plena justiça à doutrina dos decretos. Os

pelagianos e os socinianos a rejeitam, alegando que é antibíblica; os semipelagianos e arminianos não mostram para com ela quase nenhum favor: uns a ignoram completamente; outros a expõe somente para combatê-la; e ainda outros defendem apenas um decreto condicionado pela presciência de Deus. As objeções levantadas são, no essencial, sempre as mesmas. Vejamos.

e.1 Ela é Incoerente Com a Liberdade Moral do Homem : A Bíblia certamente não parte da suposição de que o decreto divino é incoerente com a livre ação do homem. Ela revela claramente que Deus decretou os atos livres do homem, mas também que os seus fautores não são menos livres e , portanto, responsáveis por seus atos (Gn 50:19,20; At 2:23; At 4:27,28). Não há nem uma só indicação na Escritura de que os escritores vêem alguma contradição quanto a esses pontos. Eles jamais procuram harmonizar ambos. O decreto não é mais incoerente com a livre ação que a presciência e, contudo, os seus oponentes, que geralmente são dos tipos semipelagianos e armenianos, professam fé na presciência divina. Por sua presciência Deus conhece desde a eternidade a futurição certa de todos os eventos. Naturalmente, o arminiano dirá que não acredita numa presciência baseada num decreto que torna certa todas as coisas , mas numa presciência de fatos e eventos contingentes, que dependem do livre arbítrio do homem e, portanto, são indeterminados. Pois bem, tal presciência das livres ações do homem é possível, se o homem, mesmo com a sua liberdade, age em harmonia com as leis divinamente estabelecidas, o que de novo introduz o elemento de certeza.

e.2 Ela Elimina Todos os Motivos Para Esforço : existem aqueles que afirmam que se todas as coisas têm que acontecer como Deus as determinou, elas não necessitam preocupar-se com o futuro e não precisam fazer nenhum esforço para obter a salvação. Geralmente estas palavras não passam de meras desculpas para a indolência e desobediência. Ora, desde que o decreto estabelece um inter-relação entre os meios e os fins, e os fins são decretados somente como resultado dos meios, o decreto incentiva o esforço , em vez de desestimulá-lo. Exemplo disto encontramos em At 27 onde é afirmado que nenhum morreria no naufrágio e ao mesmo tempo Paulo aponta todos os meios para a concretização dos decretos de Deus.

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e.3 Ela Faz de Deus o Autor do Pecado : Contudo, a Bíblia afirma categoricamente que Deus não é autor do pecado (Sl 92:15; Ec 7:29; Tg 1:13; I Jo 1:5). E esta acusação não é verdadeira; o decreto simplesmente faz de Deus o autor de seres morais livres, e estes é que são os autores próprios do pecado. Ele dá a certeza ao acontecimento desses atos, mas não decreta acionar efetivamente esses maus desejos ou más escolhas no homem. O decreto concernente ao pecado é um decreto efetivo mas permissivo, ou seja, um decreto para permitir a sua causa eficiente. O Seu decreto para permitir o pecado, embora assegure a entrada do pecado no mundo, não significa que Ele tem prazer nele; significa somente que Ele considerou sábio, com o propósito da Sua auto-revelação, permitir o mal moral, por mais detestável que seja à sua natureza.

3.5.2 A PREDESTINAÇÃO

A predestinação às vezes é empregada simplesmente como sinônimo da palavra geral “decreto”. Noutros casos serve para designar o propósito de Deus com respeito a todas as Suas criaturas morais. Mais freqüentemente, porém, denota “o conselho de Deus concernente aos homens decaídos , incluindo a eleição soberana de uns e a justa reprovação dos restantes”.

a. A Doutrina da Predestinação na História

Os primeiros pais da igreja não tinham uma clara concepção do assunto e, em geral, a consideravam como a presciência de Deus com referência aos atos humanos, baseado na qual Ele determina o seu destino futuro.

Segundo Pelágio, “a predeterminação da salvação ou condenação, funda-se na presciência”, ou seja, ela não é absoluta e, sim, condicional.

A princípio, o próprio Agostinho estava inclinado a esta maneira de ver, mas uma profunda reflexão sobre o caráter soberano do beneplácito de Deus levou-o a ver que a predestinação não dependia de modo algum da presciência divina das ações humanas, mas, antes, era a base da presciência de Deus, e, por isso ele ensinava a dupla predestinação.

Os semipelagianos também criam em uma predestinação baseada na presciência. Nos fins da Idade Média, ficou evidente que a Igreja Católica admitiria ampla latitude quanto à

doutrina da predestinação. Quanto os seus mestres sustentavam que Deus queria a salvação de todos os homens, e não apenas dos eleitos, podiam igualmente, com Tomaz de Aquino, mover-se na direção do agostinianismo, quanto a predestinação absoluta, ou, com Molina, seguir o curso do semipelagianismo.

Todos os reformadores do século dezesseis defenderam a mais estrita doutrina da predestinação. Lutero aceitava a a doutrina da predestinação, se bem que com a convicção de que Deus queria que todos os homens fossem salvos o levou a enfraquecer um tanto a doutrina da predestinação nos último anos de sua existência. Calvino sustentou a doutrina agostiniana da predestinação dupla e absoluta.

Nas igrejas do tipo arminiano, a doutrina da predestinação foi suplantada pela doutrina da predestinação condicional.

b. Termos Bíblicos Para a Predestinação

b.1 A Palavra Hebraica yada’ e as Palavras Gregas ginoskein e proginoskein: a palavra yada’ pode significar simplesmente “conhecer” ou “tomar conhecimento” de alguém ou de alguma coisa, mas também pode ser empregada no sentido mais denso de “tomar conhecimento de alguém com amoroso cuidado”, ou “fazer de alguém objeto de amoroso cuidado ou de amor eletivo” (Gn 18:19; Am 3:2; Os 13:5). O sentido das palavras proginoskein e prognosis do Novo Testamento não é determinado pelo uso que delas é feito no grego clássico, mas pelo sentido especial de yada’. Elas não indicam simplesmente previsão ou presciência intelectual, a mera obtenção do conhecimento de alguma coisa de antemão, mas sim, um conhecimento seletivo que toma em consideração alguém favorecendo-o, e o faz objeto de amor, e, assim, aproxima-se da idéia de predeterminação (At 2:23 e 28; Rm 8:29; Rm 11:2 e I Pe 1:2).

b.2 A Palavra Hebraica bachar e as Palavras Gregas eklegethai e ekloge: A ênfase desta palavra recai no elemento de escolha ou seleção do decreto de Deus concernente ao destino eterno dos pecadores, escolha acompanhada por seu beneplácito. Geralmente refere-se a uma eleição anterior e eterna (Rm 9:11; Rm 11:5; Ef 1:4; II Ts 2:13)

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b.3 As Palavras Gregas proorizein e proorismos: Estes vocábulos sempre se referem à predestinação absoluta, tanto para um fim bom ou mau (At 4:28; Ef 1:5). Contudo, o fim a que se referem não é o fim último, mas um meio para o fim último (At 4:28; Rm 8:29; I Co 2:7; Ef 1:5,11).

b.4 As Palavras Gregas protithenai e prothesis: Neste vocábulo temos a idéia de que Deus põe diante de si um plano definido ao qual se apega firmemente. Refere-se claramente ao propósito de Deus, de predestinar certos homens para a salvação (Rm 8:29; Rm 9:11; Ef 1:9,11; II Tm 1:9).

c. O Autor e os Objetos da Predestinação

c.1 O Autor : Na economia da salvação a eleição eterna é atribuída ao Pai (Jo 17:6,9; Rm 8:29; Ef 1:4; I Pe 1:2).

c.2 Os Objetos da Predestinação : Em distinção do decreto geral de Deus, a predestinação só diz respeito à suas criaturas racionais, isto é:

* Todos Os Homens : não meramente como grupos, mas como indivíduos (At 4:28; Rm 8:29,30, Rm 9:11-13; Ef 1:5,11).

* Os Anjos : A Bíblia não somente fala de anjos santos (Mc 8:38; Lc 9:26) e de anjos ímpios, que não conservaram o seu estado original (II Pe 2:4; Jd 6); mas também faz explícita menção de anjos eleitos II Tm 5:21, implicando com isso que também há anjos eleitos. Isto significa que Deus, por razões para Ele suficientes, decretou dar a um certo número de anjos, em acréscimo à graça de que foram dotados pela criação e que incluía uma grande capacidade para permanecerem santos, a graça especial da perseverança; e privar destas os demais. Há dois pontos de diferença entre a predestinação dos homens e a dos anjos: (1) Enquanto se pode pensar na predestinação dos homens como infralapsária, a dos anjos só pode ser entendida como supralapsária, uma vez que Deus não os escolheu dentro de certo número de anjos caídos; (2) Os anjos não foram eleitos ou predestinados em Cristo como Mediador, mas sim, como chefe, isto é, para estarem em relação ministerial (de serviço) com Ele.

* Cristo Como Mediador : Cristo foi objeto da predestinação no sentido de que ele foi escolhido como Mediador da aliança do Pacto da Graça desde toda a eternidade ( abkABC).

d. Partes da Predestinação

A predestinação incluem partes, a saber, eleição e reprovação, a predeterminação dos bons como dos maus para o seu fim definitivo e para certos fins próximos, que servem de instrumentos para o cumprimento do seu destino final.

d.1 A Eleição : a Bíblia fala de eleição em mais de um sentido. Há (1) a eleição de Israel como povo, para privilégios e serviços especiais (Dt 4:37; Os 13:5); (2) a eleição de indivíduos para algum ofício ou para a realização de algum serviço especial (Ex 3; I Sm 10:24; Jo 6:70); (3) eleição de indivíduos parta serem filhos de Deus (Mt 22:14; Rm 11:5; Ef 1:4; II Pe 1:10). Esta última é a eleição aqui considerada como parte da predestinação. Pode-se, assim,definir a predestinação como o ato eterno de Deus pelo qual Ele, em seu soberano beneplácito, e sem levar em conta nenhum mérito previsto nos homens, escolhe um certo número deles para receberam a graça especial e a salvação eterna. Mais resumidamente, pode-se dizer que a eleição é o propósito de Deus, de salvar certos membros da raça humana, em Jesus Cristo e por meio dele.

i. Características da Eleição : As características da eleição e as dos decretos em geral são idênticas, vejamos:

* Ela é Uma Expressão da Vontade Soberana de Deus : Deus Pai soberanamente

escolheu salvar os homens (Rm ) e valendo-se de sua total soberania e livre vontade estabeleceu em Cristo a salvação dos pecadores (E 1:1-5). E ao dizer-se que o

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decreto da eleição se origina no beneplácito divino exclui-se também a idéia de que ela é determinada por alguma coisa existente no homem como a fé ou as obras previstas (Rm 9:11; II Tm 1:9).

* Ela é Imutável : Portanto, Torna Segura a Salvação dos Eleitos. É propósito de Deus que

certos homens creiam e perseveram até o fim, e Ele assegura este resultado pela obra objetiva de Cristo e pelas operações subjetivas do Espírito santo (Rm 8:29,30; Rm 11:29; II Tm 2:19)

* Ela é Eterna : Ele escolheu os homens, para serem salvos, desde toda a eternidade (Ef

1:1-5; Rm 8:29,30). * Ela é Incondicional : Isto é, não depende de modo algum da fé ou das obras humanas

previstas (como ensinam os arminianos), mas exclusivamente da vontade soberana de Deus que é o originador da fé e das boas obras (Rm 9:11; At 13:48; II T 1:9; I Pe 1:2).

* Ela é Irresistível : Isto não significa que o pecador não se oporá ao chamado de Deus, mas sim que a sua oposição não prevalecerá, a graça divina triunfará sobre a lei do pecado e morte (Sl 110:3; Fp 2:13; Rm ).

* Ela não merece a acusação de Injustiça : Só podemos falar de injustiça quando uma

parte pode reivindicar algo de outra. Se Deus devesse o perdão do pecado e a vida eterna a todos dos homens, seria, de fato, injustiça se Ele salvasse apenas um número limitado deles. Mas o pecador não tem nenhum direito ou alegação que possa apresentar quanto às bênçãos decorrentes da eleição divina. De fato, ele perdeu o direito a essas bênçãos. Não somente não tem direito de pedir contas a Deus de eleger uns e omitir outros, como também devemos admitir que Ele seria perfeitamente justo, se não salvasse ninguém (Mt 20:14,15; Rm 9:14,15).

ii. O Propósito da Eleição : O propósito da eleição é duplo:

* O propósito próximo é a salvação dos eleitos (Rm 11:7-11; II Ts 1:13). * O objetivo final é a glória de Deus. A manifestação da sua soberana graça na salvação

dos pecadores eleitos e a demonstração de sua inviolável justiça na condenação dos pecadores impenitentes (Ef 1:6,12,14).

d.2 A Reprovação

i. A Reprovação na História : Agostinho ensinou a doutrina da reprovação, bem como a da eleição. Em geral os católicos romanos, e a grande maioria dos teólogos luteranos, arminianos e metodistas, rejeita, esta doutrina em sua forma absoluta. Estes quando falam em reprovação, limitam-se a afirmar em uma reprovação baseada na presciência. Calvino tinha consciência da seriedade desta doutrina, pois fala dela como um ‘decreto horribile” (decreto terrível). Não obstante, não se sentiu com liberdade para negar o que ele considerava uma importante verdade da Escritura.

ii. Exposição da Doutrina : pode-se definir a reprovação como o decreto eterno de Deus pelo qual

Ele determinou deixar de aplicar a um certo número de homens as operações da sua graça especial, e puni-los por seus pecados, para a manifestação da sua justiça. Segundo a descrição mais comum na teologia reformada calvinista, o decreto da reprovação compreende dois elementos, a saber: (1) A Preterição : Consiste no ato soberano de Deus em determinar deixar de lado alguns homens (Rm 1:24-26) e (2) A Condenação : Consiste na ação justa e santa do Deus soberano em determinar a punição dos que são deixados de lado (Rm 11:18). Contudo, devemos notar diversos pontos de distinção entre os dois elementos do decreto da reprovação:

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* A preterição é um ato soberano no qual os deméritos do homem não entram em consideração, ao passo que a pré-condenação é um ato judicial que impõe castigo.

* O motivo da preterição é desconhecido para o homem. O pecado não pode ser pois

todos são pecadores. Já o motivo da condenação é o pecado. * A preterição é puramente passiva, um simples ato de deixar de lado, sem nenhuma ação

exercida no homem. Mas a condenação é eficiente e positiva.

iii. Prova da Doutrina da Reprovação : O decreto da eleição implica inevitavelmente o decreto da reprovação. Se o Deus de toda sabedoria, de posse de conhecimento infinito, se propôs eternamente a salvar, então, ipso facto, também se propôs eternamente a deixar de salvar outros (Mt 11:25,26; At 14:48; Rm 9:13,17,18,21; Rn 11:7; Jd 4; I Pe 2:8).

d.3 Observação Final : Devemos estar vigilantes contra a idéia de que, como a eleição e a reprovação determinam com certeza absoluta o fim para o qual o homem é predestinado e os meios pelos quais esse fim é atingido, também implica que, tanto no caso da reprovação como no da eleição, Deus faz acontecer, por sua eficiência pessoal e direta, tudo quanto Ele decretou. Significa que, conquanto se possa dizer que Deus é o Autor da regeneração, da vocação eficaz, da fé, da justificação e da santificação dos eleitos e, portanto, mediante a sua ação direta sobre eles, leva a eleição deles à realização concreta, não se pode dizer que Ele é também, o autor da queda, da condição iníqua e dos atos pecaminosos dos reprovados, agindo diretamente sobre eles, e, portanto, sendo responsável direto por isso tudo, efetuando a concretização da reprovação deles. Sem dúvida nenhuma, o decreto de Deus deu certeza à entrada do pecado no mundo, mas Ele não predestinou alguns para o pecado, como predestinou outros para a santidade.

A posição que Calvino toma sobre este ponto é claramente indicada nos seguintes pronunciamentos: “Embora a vontade de Deus seja suprema e a primeira causa de todas as coisas, e Deus mantenha o diabo e todos os ímpios sujeitos à Sua vontade, não obstante, Deus não pode ser denominado causa do pecado, nem autor do mal, e nem está exposto a nenhuma culpa”. “Embora o diabo e os reprovados sejam servos e instrumentos de Deus para a execução das sua decisões secretas, não obstante, de maneira incompreensível, Deus de tal modo age neles e por meio deles que não contrai nenhuma mancha da perversão deles, porque utiliza a malícia deles de tal maneira justa e reta, para um bom fim, apesar de muitas vezes estar oculta aos nossos olhos essa maneira”. “Agem com ignorância e calúnia os que dizem que, as coisas sucedem pela vontade e ordenação de Deus, Ele é o autor do pecado; porque não fazem distinção entre a depravação dos homens e os desígnios ocultos de Deus”.

e. Teorias Concernentes a Predestinação

No transcurso histórico do pensamento reformado calvinista sobre a predestinação apareceram três correntes doutrinárias decorrentes da questão sobre a ordem dos decretos divino. Estes correntes foram conhecidas como: Supralapsarianismo, Infralapsarianismo e Universalismo Hipotético.

e.1 Supralapsarianismo :

Este termo vem de dois outros: supra [acima] + lapsus [queda]. Defende que devemos entender a predestinação como um processo de planejamento que passa do fim para os meios como em retrocesso. Se o fim de tudo, dizem eles, é a glória de Deus, foi isto a primeira coisa a ocorrer na mente divina. Deus decidiu para a manifestação de sua própria glória, salvar alguns e condenar outros, como revelação respectivamente de sua misericórdia e de sua justiça. Então decidiu criar os homens, permitir a queda, e enviar Cristo para salvar os eleitos. Neste esquema, Deus a tratar a queda apenas como um meio para alcançar um fim. A mais citada referências da Escritura por parte dos supralapsários é Rm 9.

e.2 Infralapsarianismo :

Este termo vem de dois outros: infra [sob, abaixo] + lapsus [queda]]. Defende que a eleição divina de algumas pessoas para a salvação e a rejeição de outras para a condenação ocorreram na mente de

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Deus após haver Ele contemplado todo gênero humano caído e perdido. A ordem, portanto, dos decretos seria a seguinte: (1) criar; (2) permitir a queda; (3) Eleger alguns, do meio da assa perdida, para a salvação, e deixar o restante para sofrer o justo castigo de seus pecados; (4) prover um meio de salvação para os eleitos.

Os infralapsários recorrem mais particularmente às passagens da Escritura nas quais os objetos da eleição aparecem numa condição de pecado, em estreita relação com Cristo e como objetos da misericórdia e da graça de Deus (Mt 11:25,26; Jo 15:19; Rm 8:28,30; Rm 9:15,16; Ef 1:4-12; II Tm 1:9).

e.3 Universalismo Hipotético

Este sistema teológico foi concebido por alguns teólogos presbiterianos franceses de Saumur, cerca de 1630-50. Nesse esquema apresentaram Deus como primeiramente (em ordem, não no tempo) a intentar a criação do homem. Segundo, a colocá-lo sob um pacto de obras e a permitir sua queda. Terceiro, a enviar Cristo para prover e oferecer satisfação por todos. Mas – quarto – prevendo que todos com certeza a rejeitariam por causa da total depravação deles, em sua soberana misericórdia escolheu alguns do meio da massa dos rebeldes, chamando esses escolhidos por uma vocação eficaz.

Supuseram esses teólogos que tal teoria removeria as dificuldades concernentes ao alcance do sacrifício de Cristo, e também conciliaria as passagens bíblicas, que declaram a compaixão universal de Deus pelos pecadores, com a reprovação dos não eleitos.

e.4 Quadro Comparativo

SUPRALAPSARIANISMO

INFRALAPSARIANISMO

UNIVERSALISMO HIPOTÉTICO

Decreto de salvar uns e reprovar outros, a fim de revelar sua misericórdia e sua justiça.

Decreto de criar todas as coisas

Decreto de criar todas as coisas

Decreto de criar os eleitos e os reprovados

Decreto de permitir a queda

Decreto de permitir a queda

Decreto para permitir a queda

Decreto eleger alguns, do meio da massa de pessoas perdidas, para a salvação, e deixar o restante para sofrer o justo castigo de seus pecados

Decreto de prover e oferecer um meio de salvação para todos

O R D E M

D O S

D E C R E T O S

Decreto de provê salvação para os eleitos.

O decreto de prover um meio de salvação para os eleitos

Prevendo que todos com certeza o rejeitariam por causa da total depravação deles, em sua soberana misericórdia escolheu alguns

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APÊNDICE – II

CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER CAPÍTULO III – DOS DECRETOS DE DEUS I. Desde toda a eternidade e pelo mui sábio e santo conselho de sua própria vontade, Deus livremente e

inalteravelmente tudo quanto acontece, porém de modo que nem Deus é o autor do pecado, nem é violentada a vontade da criatura, nem é tirada a liberdade ou a contingência das causas secundárias antes estabelecidas.

II. Ainda que Deus sabe tudo quanto pode ou há de acontecer em todas as circunstâncias imagináveis, ele

não declara coisa alguma por havê-la previsto como futura, ou como coisa que havia de acontecer em tais e tais condições.

III. Pelo decreto de Deus e para a manifestação da sua glória, alguns homens e anjos são predestinados

para a vida eterna e outros preordenados para a morte eterna. IV. Esses homens e anjos, assim predestinados e preordenados, são particular e inalteravelmente

designados; e o seu número é tão certo, que não pode ser nem aumentado nem diminuído. V. Segundo o seu eterno e imutável propósito, e segundo o seu santo conselho e beneplácito de sua

vontade, antes que fosse o mundo criado, Deus escolheu em Cristo, para a glória eterna, os homens que são predestinados para a vida; para o louvor da sua gloriosa graça, ele os escolheu de sua mera e livre graça e amor, e não por previsão de fé, ou de boas obras e perseverança nelas, ou de qualquer outra coisa na criatura que a isso o movesse, como condição ou causa.

VI. Assim como Deus destinou os eleitos para a glória, assim também, pelo eterno e mui livre propósito de

sua vontade, preordenou todos os meios conducentes a esse fim; os que, portanto, são eleitos, acham-se caídos em Adão, são remidos por Cristo, são eficazmente chamados para a fé em Cristo, pelo seu espírito que opera no tempo devido, são justificados, adotados, santificados e guardados pelo seu poder, por meio da fé salvadora. Além dos eleitos não há nenhum outro que seja remido por Cristo, eficazmente chamado, justificado, adotado, santificado e salvo.

VII. Segundo o inescrutável conselho de sua própria vontade, pela qual ele concede ou recusa misericórdia,

como lhe apraz, para a glória de seu soberano poder sobre as suas criaturas, para louvor de sua gloriosa justiça, o resto dos homens foi Deus servido não contemplar e ordená-los para a desonra e ira por causa de seus pecados.

VIII. A doutrina deste alto mistério de predestinação deve ser tratada com especial prudência e cuidado, a

fim de que os homens, atendendo à vontade de Deus, revelada em sua Palavra, e prestando obediência a ela, possam, pela evidência de sua vocação eficaz, certificar-se de sua eterna eleição. Assim, a todos os que sinceramente obedecem ao Evangelho, esta doutrina fornece motivo de louvor, reverência e admiração para com Deus, bem como de humildade, diligência e abundante consolação.

APÊNDICE III

I. INTRODUÇÃO

Dentre as doutrinas contidas na Bíblia, a predestinação é uma das mais difíceis de serem abordadas. Creio que poderíamos identificar três razões para essa dificuldade:

1. Rejeição em função de nossa natureza pecaminosa – Nossa natureza, influenciada pelo pecado, traz uma tendência de rejeição da exaltação do Deus Soberano, ao mesmo tempo em que passa a considerar o homem superior àquilo que ele realmente é. Nesse sentido, tendemos nos apresentar numa posição de autonomia e superioridade, contrariando o que a Palavra de Deus

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nos revela sobre o nosso ser. As pessoas fazem um grande esforço para se desvincularem da esfera de autoridade divina, e para tirarem Deus da regência de suas vidas e do seu destino.

2. Distorção , por insuficiência de base bíblica – Às vezes, a doutrina é apresentada, ou absorvida com um exame superficial da base bíblica. Se todos os ângulos não forem estudados, ou se recorrermos mais ao “eu acho”, “eu penso”, do que a uma aceitação sem preconceitos do que a Bíblia revela, sobre as ações e planos do Deus soberano, saímos com uma idéia distorcida dessa doutrina.

3. Diluição , para facilidade de compreensão – Muitas vezes, temos a idéia de que a veracidade ou não de uma doutrina está baseada na nossa capacidade de compreensão total da mesma, esquecendo-nos de que nossa compreensão é finita, imperfeita e limitada. A diluição, ao nível de nossa capacidade, traz uma série de problemas secundários que tornam a doutrina, no cômputo final, diferente da apresentação bíblica e de impossível aceitação, mediante um estudo sério da questão.

Quando estudarmos a predestinação teremos, portanto, de estar cientes das dificuldades do estudo mas, se tivermos seriedade e humildade para aprender o que Deus nos revelar em sua palavra, devemos ter a disposição de considerar:

1. Os dados bíblicos – examinarmos o maior número possível de passagens.

2. A necessidade de não rejeitar os conceitos bíblicos simplesmente porque estes podem fugir à nossa compreensão, ou experiência, mas deixá-los permanecer em toda a sua objetividade e lógica transcendental, gradativamente, pela ação do Espírito, penetrando em nossas convicções.

3. O testemunho histórico da Igreja – ele não determina doutrina, mas o seu estudo é relevante para vermos como Deus tem guiado a sua igreja, e para discernirmos a diferença entre inovações – ventos de doutrina e as doutrinas verdadeiras provadas no cadinho do tempo e da história eclesiástica.

4. O fato de que, quanto mais aprendermos e exaltarmos a pessoa de Deus, mais cresceremos espiritualmente e mais chegaremos perto de nossa finalidade que é a de glorificarmos a ele, em todas as nossas ações.

II. O PLANO DE DEUS

No seu relacionamento com o homem, Deus tem um PLANO, que é mais do que um mero MAPA, constituído de caminhos alternativos, para se chegar a dois destinos finais. A Bíblia nos diz que Deus tem um plano – este plano é:

2.1 Eterno . Is 46.9 e 10, diz: “ Lembrai-vos das coisas passadas da antiguidade: que eu sou Deus, e não há outro, eu sou Deus, e não há outro semelhante a mim; que desde o princípio anuncio o que há de acontecer e desde a antigüidade, as coisas que ainda não sucederam; que digo: o meu conselho permanecerá de pé, farei toda a minha vontade” (veja também: 2Tm 1.9; Sl 33.11; Is 37.26; Jr 31.3; Mt 25.34; 1 Pe 1.20; Sl 139.16; 2 Ts 2.13; At 15.17,18).

2.2 Imutável . Tg 1.17-18, diz: “ Toda boa dádiva e todo dom perfeito são lá do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não pode existir variação ou sombra de muda nça ...” (veja também: Is 14.24,27; Is 46.10,11; Nm 23.19; Ml 3.6).

2.3 Inclui os atos futuros dos homens . Isso pode ser visto em todas as profecias da Bíblia, mas considere, especialmente, Mt 20.18 e 19: “Eis que subimos para Jerusalém, e o Filho do Homem será entregue aos principais sacerdotes e aos escribas. Eles o condenarão à morte . E o entregarão aos gentios para ser escarnecido, açoitado e crucificado; mas, ao terceiro dia, ressurgirá”; e Lc 22.22:

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“Porque o Filho do Homem, na verdade, vai segundo o que está determinado , mas ai daquele por intermédio de quem ele está sendo traído” (veja também: Dn 2.28 e Jo 6.64).

2.4 Inclui os eventos não importantes, ou ocasionais . Como lemos em Pv 16.33: “A sorte se lança no regaço, mas do SENHOR procede toda decisão” (veja também: Jn 1.7; At 1.24,26; Mc 14.30; 1 Rs 22.28-34).

2.5 Especifica a certeza e a inevitabilidade dos evento s. Já vimos isso em Lc 22.22, acima, e o mesmo conceito está presente em Jo 8.20: “... ninguém o prendeu, porque não era ainda chegada a sua hora ” (veja também: Gn 41.32; Hq 2.3; Mt 24.36; Lc 21.24; Jr 15.2; Jó 14.5; Jr 27.7).

2.6 Até os atos pecaminosos do homem estão incluídos (sem que Deus seja o autor de pecado). Lemos em Gn 45.8, que as ações malévolas dos irmãos de José faziam parte do plano de Deus: “Assim, não fostes vós que me enviastes para cá, e sim Deus , que me pôs por pai de Faraó, e senhor de toda a sua casa, e como governador em toda a terra do Egito”. Deus, entretanto, não é o autor do pecado, como nos ensina Tg 1.13 e Dt 32.4: “Eis a Rocha! Suas obras são perfeitas, porque todos os seus caminhos são juízo; Deus é fidelidade, e não há nele injustiça; é justo e reto” (veja também: Sl 5.4; Tg 1.13; Gn 50.20; Mt 21.42; At 3.17-18; Am 3.6).

III. O LIVRE ARBÍTRIO E A LIBERDADE

O nosso conceito de liberdade e de livre arbítrio é muitas vezes identificado com a execução de ações erráticas, aleatórias, sem nenhum enquadramento em um modelo comportamental ou sem nenhuma ligação com a natureza e características intrínsecas das pessoas. Será que é mesmo assim? Vamos repensar um pouco os nossos conceitos, partindo de um exame da doutrina bíblica sobre a pessoa de Deus:

3.1 DEUS é livre ?

1. Certamente que sim!—Ele é livre em um grau muito mais alto do que qualquer outro ser. Veja a Sua liberdade expressa no Sl 115.3: “ No céu está o nosso Deus e tudo faz como lhe agrada ” ; e em 1 Co 12.11: “Mas um só e o mesmo Espírito realiza todas estas coisas, distribuindo-as, como lhe apraz , a cada um...”.

2. Isto significa que suas ações são incertas? Que ele pode mudar como um pêndulo? Pode ele quebrar o concerto com o Seu povo? Não! Por que não? Existe alguma compulsão EXTERNA obrigando-o a isto?

3. Certamente que não! Não existe nenhum agente ou força externa exercendo pressão ou autoridade sobre Deus, que é Soberano e está acima de tudo e todos.

4. ENTRETANTO, é impossível para Deus mentir! Tito 1.2 fala do “... Deus que não pode mentir... ”. Por que? Porque isto seria contrário à sua natureza e aos seus atributos! O Breve Catecismo de Westminster, responde a pergunta 4 (“Quem é Deus?”) com uma descrição dos atributos de Deus:

Deus é Espírito: Infinito Ser, Sabedoria, Eterno Poder, Justiça, Imutável em sua Bondade e Verdade.

5. Portanto, nunca, na menor de Suas ações, Ele se desviará daquele padrão de perfeição que Sua própria natureza determina.

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3.2 E O HOMEM, ELE É LIVRE?

1. SIM, o homem é livre no sentido de que suas escolhas não são determinadas, em linhas gerais, por nenhuma compulsão externa. Podemos dizer que ele tem LIVRE AGÊNCIA.

2. ENTRETANTO, suas ações são determinadas pela natureza de seu próprio caráter, e nós sabemos que esta natureza é só pecado (Rm. 3.10-23). Neste sentido, ele não tem LIVRE ARBÍTRIO de escolher o bem, pois é escravo do pecado. Este “livre arbítrio” foi perdido com a queda, em Adão.

3. Mesmo não possuindo “livre arbítrio”, definido como a possibilidade de escolha do bem, a “liberdade” que possui, definida como livre agência , não é incompatível com o enquadramento do Homem nos planos divinos. Deus, soberanamente, executa os seus desígnios ATRAVÉS da vontade das suas criaturas (veja os seguintes trechos: Fp 2.13; Pv 20.24; 2 Co 3.5; Jr 10.23; Rm 9.16 e Tg 4.13-15).

* Talvez não compreendamos COMO Deus faz isso – como Ele preserva a livre agência, mas executa com precisão os Seus planos. Mas a aceitação dos pontos 2 e 3, acima, é a chave para entendermos melhor a doutrina da soberania de Deus e a própria predestinação. Não é negando a existência do plano de Deus, nem diminuindo a sua soberania, que retratamos a realidade expressa na Bíblia sobre essas questões. Não possuímos “livre arbítrio”, mas Deus é infinitamente soberano e onipotente para executar seus planos, sem violação da LIVRE AGÊNCIA que nos concedeu.

IV. DEUS REALMENTE DETERMINA AS AÇÕES DO HOMEM?

Cremos que sim. Na execução do seu plano soberano ele determina “tudo que acontece”, mas muitos têm dificuldade na aceitação deste fato. Na realidade, temos apenas duas posições possíveis, ou Deus determina as ações do Homem, ou Ele não determina estas e o homem é completamente autônomo.

Concordamos que este é um ponto de difícil compreensão. Alguns tentam contornar este problema dizendo que Deus não determina, na realidade, mas como Ele tudo conhece de antemão, Ele “determinaria”, ou “predestinaria”, as coisas que Ele sabe que irão acontecer . Ou seja, a sua determinação é dependente do Seu conhecimento prévio, de sua onisciência. Com isso, procura-se deixar as pessoas “livres”.

Será que é mesmo assim e que esta posição resolve o problema? Cremos que não! Querer resolver o problema da “liberdade humana” ancorando a soberania de Deus e a sua predestinação na onisciência dele, traz uma solução apenas aparente mas não real. A Confissão de Fé de Westminster, em seu Cap. III, seção 2, diz que Deus “... não decreta coisa alguma por havê-la previsto como futura”.

Vejamos a posição contrária: se ele determina, simplesmente porque conhece de antemão (como, por exemplo, falando-se das profecias registrada na Palavra de Deus), na hora em que ele houvesse determinado, essas situações se tornariam fixas e imutáveis. Dificilmente um cristão dirá que Deus não é soberano, ou que ele não cumpre o que profetizou. Sendo Ele soberano as coisas serão cumpridas, como previamente registradas. Como fica, então, a defesa da liberdade irrestrita das pessoas, do “livre arbítrio”, neste sentido? E se os homens, segundo esse conceito, que são os agentes diretos do cumprimento das determinações que Deus colocou no seu plano (apenas “porque Ele já conhecia”), na última hora resolverem “mudar de idéia”, como fica esse plano de Deus? Deus também ficará mudando, à mercê das determinações do homem, e até quando?

Vemos que procurar escapar à imensa evidência bíblica que ensina a irrestrita soberania de Deus, o seu plano sábio e sua onipotência no cumprir tudo que antes predeterminou, com o sofisma de que Deus realmente não determina, mas apenas conhece previamente, não traz qualquer pretensa “liberdade” ao homem, a não ser que se pretenda reduzir o poder de Deus. A seguir, temos um diagrama com as diferentes alternativas, posições e algumas referências bíblicas, mostrando como podemos organizar os dados das Escrituras e, até onde levam alguns pensamentos e deduções:

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V. A PREDESTINAÇÃO

Dentro do contexto bíblico, que estamos estudando, a Predestinação é simplesmente um ponto específico deste plano de Deus. O nosso Deus é soberano e não existe uma área sequer do universo, da nossa vida e existência, que não esteja sob esta soberania e regência, inclusive a questão da salvação de almas.

5.1 Definição : Poderíamos definir a Predestinação como sendo: O aspecto da pré-ordenação de Deus, através do qual a salvação do crente é considerada efetuada de acordo com a vontade de Deus, que o chamou e o elegeu em Cristo, para a vida eterna, sendo a sua aceitação VOLUNTÁRIA, da pessoa e do sacrifício de Cristo, uma CONSEQUÊNCIA desta eleição e do trabalho do Espírito Santo, que efetiva esta eleição, tocando em seu coração e abrindo-lhe os olhos para as coisas espirituais.

5.2 A Fonte da Predestinação : É a Soberana Vontade de Deus. No capítulo 6 do Evangelho de João, temos três versículos pertinentes: 37 – “Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim; e o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora”; 44 – “Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia”; e 65 – “E prosseguiu: Por causa disto, é que vos tenho dito: ninguém poderá vir a mim, se, pelo Pai, não lhe for concedido” (veja também – Ef 1.4, 5 e 11; Rm 9.11, 16).

5.3 A Causa da Predestinação : É a misericórdia infinita de Deus e a manifestação de sua glória. Rm 9.23 diz – “... a fim de que também desse a conhecer as riquezas da sua glória em vasos de misericórdia, que para glória preparou de antemão ” (veja também – Rm 11.33; Ef 1.6 e Jo 3.16).

5.4 Os Objetos da Predestinação : Pessoas pecadoras. Note Jo 1.12 e 13 – “ Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que crêem no seu nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne , nem da vontade do homem, mas de Deus” (veja também esses versos, todos em João – 5.21; 6.65; 10.26 e 27; 12.37-41; 15.16; 17.6-8).

5.5 Os Meios para a concretização da Predestinação :

1. O chamado externo – Mt 22.14 “ Porque muitos são chamados , mas poucos, escolhidos” .

2. A resposta ao chamado interno (crença) – At 13.48 “... e creram todos os que haviam sido destinados para a vida eterna”.

VI. A DOUTRINA DA PREDESTINAÇÃO, NA HISTÓRIA

Vamos dar uma olhada “relâmpago” na acolhida, exposição e reflexos das doutrinas relacionadas com a Soberania de Deus, com Seus decretos e, especialmente, com a Predestinação através da história:

6.1 Entre os Judeus : Os Judeus aceitavam normalmente a idéia de Deus, expressa no Antigo Testamento, que o apresenta como estando em controle de tudo e de todos, dirigindo os passos e os destinos dos homens, como indica Pv 16.33 – “ A sorte se lança no regaço, mas do SENHOR procede toda decisão” (veja também – Am 3.5 e 6; Is 45.7 e Jo 9.2).

6.2 Na História da Igreja Neo-testamentária :

1. Ensinada por Jesus – Jo 5.21; 6.65; 10.27; 15.16.

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2. Explanada por Paulo – Rm 9.1-16; Ef 1.4,5-11.

3. Registrada por João, Lucas e outros: Jo 1.12,13; At 13.48

4. Aceita pelos Patriarcas da Igreja, como por exemplo: Policarpo, Irineu e Eusébio.

5. Contestada pelos ramos heréticos da Igreja, dos quais o maior expoente, nos primeiros séculos, foi PELÁGIO, que defendia o livre arbítrio irrestrito, em oposição a AGOSTINHO, que defendeu e enalteceu a Soberania de Deus em todas as esferas, principalmente na salvação de almas.

6. Esquecida pela Igreja Católica, na medida em que ela foi se formando entrelaçada ao Estado, após a regência do Imperador Constantino. Este esquecimento foi paralelo ao de outras doutrinas cardeais da Bíblia, que foram sufocadas e suplantadas pelas tradições e conveniências da Igreja, concretizando-se no humanismo pragmático de Tomás de Aquino.

7.Reaparecida em todos os movimentos Pré-reforma que desabrocharam na Idade Média, sendo uma constante, paralelamente às outras doutrinas chaves da Bíblia, entre os Valdenses (seguidores de Waldo), os Hussitas (seguidores de João Huss) os Lolardos (seguidores de Wyclif), etc.

8.Revivida por Lutero, na Reforma do Século XVI, que despertando para as doutrinas fundamentais que haviam sido mumificadas pela Igreja Católica, a defende e a proclama, principalmente em seu livro: “De Servo Arbitrio” (A Prisão do Arbítrio), escrito em resposta a Erasmo de Roterdã.

9.Constante em todos os movimentos Pós-reforma, como por exemplo nos escritos e tratados de Melânchton, Zuínglio, João Knox, etc.

10.Sistematizada, em seus ensinamentos, por João Calvino, que reapresenta e sistematiza a posição de Paulo e de Agostinho em seu tratado “Institutas da Religião Cristã”, e em outros livros e comentários bíblicos que escreveu, fundamentando a posição da Igreja Protestante contra os Arminianos.

11.Atacada apenas, nesta ocasião, por Jacobus Armínius e seus seguidores, que assumiram a posição de Pelágio (vide item 5, acima), levando ao posicionamento contrário, oficial, conhecido como os cânones de Dort (Dordrecht) – que resume a doutrina reformada sobre a soberania de Deus na salvação , refletindo, igualmente a interpretação bíblica dessas doutrinas contidas no Catecismo de Heildelberg e na Confissão de Fé Belga.

12. Constituída no posicionamento oficial de quase todas as denominações que se afirmaram após a Reforma:

PRESBITERIANOS : A apresentam na Confissão de Fé de Westminster, principalmente nos capítulos V, VIII, IX, X, XI e em várias perguntas e respostas dos Catecismos (Breve e Maior).

BATISTAS : Estes adotaram a Confissão de Fé de Londres (1689, na Inglaterra e 1742 nos Estados Unidos), que é semelhante em tudo à de Westminster, exceto na forma prescrita para o batismo.

CONGREGACIONAIS : Na sua doutrina soteriológica se assemelhavam aos Presbiterianos. Alguns puritanos (caracterizados pela convicção plena da soberania de Deus) eram presbiterianos, outros (como Roger Williams, na América) eram batistas, mas muitos eram congregacionais, como Jonathan Edwards.

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ANGLICANOS : Na primeira reestruturação desta Igreja, sob Edward VI, quando foram escritos os 42 Artigos de Fé, a soberania de Deus e a posição Calvinista, sobre a salvação, foi retratada e defendida.

13.Presente nas mensagens dos grandes pregadores dos séculos 17 a 19, tais como:

CHARLES SPURGEON : O grande pastor batista, que muito escreveu sobre eleição e soberania de Deus.

JOÃO WESLEY : O reavivalista, compositor de hinos e iniciador do Metodismo, de quem seu irmão Charles Wesley mais tarde se separou, adotando posição Arminiana adversa.

J. EDWARDS e GEORGE WHITEFIELD , nos EE UU, e muitos outros de tradição puritana.

14. Considerada como o esteio da Igreja e da Nação Holandesa, durante séculos (na forma mais abrangente da Soberania de Deus – pois penetrou a vida plena da nação, inclusive na política), o que pode ser constatado nos movimentos missionários e de catequização deflagrados pelos holandeses nos séculos 16 e 17 e, mais contemporaneamente, nas vidas e escritos de KUYPER, BAVINCK e outros ilustres homens de Deus, daquele país.

15. Considerada a mola mestra dos movimentos missionários desencadeados pela Igreja Norte Americana, pois constituía a doutrina explanada pelos grandes doutores, tais como Charles Hodge, Benjamin Warfield, Dabney e tantos outros. Neste sentido, esteve presente no Brasil desde o início da Igreja Presbiteriana, pois era a doutrina dos antigos missionários (a começar com Simonton – discípulo de Hodge) e dos primeiros pastores formados por estes, tais como o Dr. Antônio Almeida e muitos outros.

16. Infelizmente, esquecida e relegada a segundo plano por quase todo o mundo evangélico contemporâneo, mais preocupado que está com os “modismos” da época, em vez de concentração nas raízes sólidas da doutrina bíblica e na aplicação destas às pessoas, em todas as suas atividades. Este esquecimento foi provavelmente causado pelo advento do Dispensacionalismo, há cerca de 150 anos, que, popularizado pela Bíblia de Scofield, tomou conta da mensagem e da teologia da maioria das denominações, até da Igreja Presbiteriana, no maior reavivamento de Pelagianismo e Arminianismo desde a aparição destas correntes.

17. Necessária no ensinamento das Igrejas, que deveriam rever os seus Padrões de Doutrina, achegando-se cada vez mais à Palavra, para que a posição de Deus venha a ser exaltada, e para que o Evangelho puro possa ser pregado, para a glória do Seu Nome.

Acreditamos, portanto, que a Doutrina da Predestinação é bíblica; harmoniza-se com o todo da revelação da pessoa de Deus, conforme as Escrituras; e tem sido sustentada pelo testemunho dos segmentos fiéis da igreja de Cristo. Em artigo próximo, examinaremos algumas objeções contra a doutrina da predestinação e concluiremos este estudo

APÊNDICE IV

I. INTRODUÇÃO Em artigo anterior, analisamos as bases bíblicas à doutrina da predestinação, bem como, as

dificuldades encontradas na sua compreensão. Avaliamos as situações antibíblicas e ilógicas encontradas pelas posições que rejeitam tal ensinamento. Verificamos que Deus possui realmente um plano maravilhoso, que é mais do que alternativas de reação ao desenrolar da história. É um plano singular que abrange, inclusive, o plano de salvação do Seu Povo.

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Passeando rapidamente pela história da Igreja, verificamos o testemunho abundante ao longo dos séculos e, os servos do Senhor que habilmente defenderam e ensinaram a importância crucial da Soberania divina, como chave para compreensão do nosso papel, como peregrinos aqui na terra, servos do Deus Altíssimo.

Fazendo distinção entre “livre arbítrio” e “livre agência”, procuramos mostrar como Deus executa os Seus planos através de nossas vontades, ou seja de nossa “livre agência”. Igualmente, verificamos como as pessoas são escravas de sua natureza, incapazes de “escolher” o bem, a não ser pela ação e intervenção direta da maravilhosa graça de Deus, pela atuação do Seu Santo Espírito, em nossas vidas.

Apesar da abundante evidência bíblica, a rejeição natural das doutrinas relacionadas com a soberania de Deus é algo muito forte e presente em amplo segmento do mundo evangélico contemporâneo. Numa era onde se procura o fortalecimento da autonomia do homem, onde se multiplicam as igrejas-entretenimento, onde se procura agradar para conquistar, onde está perdida a finalidade principal de todos nós – a glorificação de Deus – são levantadas muitas objeções a qualquer ensinamento que coloque o homem em seu devido lugar – como incapaz de reger o seu destino em um mundo regido pelo Deus soberano.

Neste artigo, queremos abordar algumas dessas objeções, apresentando respostas bíblicas a cada uma delas, culminando com uma dedutiva conclusão.

II. Cinco Objeções Comumente Levantadas Contra a Do utrina da Predestinação e aos Decretos de Deus, com Respectivas Respostas.

2.1 “A Predestinação é incoerente com o livre arbítrio do homem e com a responsabilidade moral deste, para com as suas ações.”

RESPOSTA — Realmente, a Bíblia não apresenta o homem como sendo um autômato, um robô. De uma certa forma, ele cumpre livremente suas ações, não se esquecendo de que, como pecador, ele está escravizado à sua natureza pecaminosa. Entretanto, ele não é forçado a cometer o pecado. Ele comete porque se deleita nele, porque segue sua própria natureza. O outro lado da questão, é que ele só pode “escolher” o bem verdadeiro, quando possibilitado pelo Espírito Santo. Ocorre que, mesmo considerando o fato de que nenhuma força compulsória age sobre o homem, isto não significa que Deus não tenha um plano e que Ele seja impotente para realizar este plano, a não ser que o homem concorde com Ele. NÃO! A soberania e onipotência de Deus são manifestadas na maneira como Ele opera: trabalhando através da vontade do homem, e não contra ela. É assim que temos essa verdade expressa em Fl 2.12-13: “De sorte que, meus amados, do modo como sempre obedecestes, não como na minha presença somente, mas muito mais agora na minha ausência, efetuai a vossa salvação com temor e tremor; porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar , segundo a sua boa vontade”. Vejamos alguns exemplos bíblicos, sobre a maneira como Deus opera a sua vontade através da livre agência das pessoas:

1. José no Egito : Seus irmãos agiram livremente, sem nada que os compelisse a praticar o mal cometido. Entretanto, estavam cumprindo o plano predeterminado de Deus. É importantíssimo notarmos que todos eles foram responsáveis por suas ações diante de Deus. Considere as seguintes referências, no livro de Gênesis:

42.21 – Os irmãos sabiam de sua culpa : “Então disseram uns aos outros: Nós, na verdade, somos culpados no tocante a nosso irmão, porquanto vimos a angústia da sua alma, quando nos rogava, e não o quisemos atender; é por isso que vem sobre nós esta angústia”.

45:5 – José tinha consciência de que Deus agia soberanamen te sobre todos os incidentes : “Agora, pois, não vos entristeçais, nem vos aborreçais por me haverdes vendido para cá; porque para preservar vida é que Deus me enviou adiante de vós”.

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45:8 – A causa final era Deus : “Assim não fostes vós que me enviastes para cá, senão Deus , que me tem posto por pai de Faraó, e por senhor de toda a sua casa, e como governador sobre toda a terra do Egito”.

50:20 – O Plano soberano de Deus contemplava o bem, como re sultado final : “Vós, na verdade, intentastes o mal contra mim; Deus, porém, o intentou para o bem , para fazer o que se vê neste dia, isto é, conservar muita gente com vida”.

2. Faraó: Agiu injustamente contra o povo de Deus e por causa disto foi castigado e responsabilizado por Deus. Entretanto, agiu sempre livre e voluntariamente, apesar de estar cumprindo os propósitos de Deus. Aprendemos isso na leitura dos seguintes versos:

Ex 9.16 – Faraó agia livremente, externando a sua obstinação despótica e pecaminosa, mas cumpria o propósito de Deus: “... mas, na verdade, para isso te hei mantido com vida , para te mostrar o meu poder, e para que o meu nome seja anunciado em toda a terra”.

Ex 10.1-2 – Deus endureceu o coração de Faraó : “Depois disse o Senhor a Moisés: vai a Faraó; porque tenho endurecido o seu coração, e o coração de seus servos, para manifestar estes meus sinais no meio deles, e para que contes aos teus filhos, e aos filhos de teus filhos, as coisas que fiz no Egito, e os meus sinais que operei entre eles; para que vós saibais que eu sou o Senhor”.

Rm 9.17 – Paulo utiliza o incidente para demonstrar a soberan ia de Deus : “Pois diz a Escritura a Faraó: Para isto mesmo te levantei: para em ti mostrar o meu poder, e para que seja anunciado o meu nome em toda a terra”.

3. O Rei Ciro : Agiu livremente ordenando a reconstrução do Templo, em Jerusalém. Não sabia que Deus trabalhava por intermédio de sua livre agência e que estava cumprindo os desígnios de Deus.

Ed 1.1-3 – Vemos Deus em controle da história e o Rei em suas mãos : “No primeiro ano de Ciro, rei da Pérsia, para que se cumprisse a palavra do Senhor proferida pela boca de Jeremias, despertou o Senhor o espírito de Ciro, rei da Pérsia, de modo que ele fez proclamar por todo o seu reino, de viva voz e também por escrito, este decreto. Assim diz Ciro, rei da Pérsia: O Senhor Deus do céu me deu todos os reinos da terra, e me encarregou de lhe edificar uma casa em Jerusalém, que é em Judá. Quem há entre vós de todo o seu povo (seja seu Deus com ele) suba para Jerusalém, que é em Judá, e edifique a casa do Senhor, Deus de Israel; ele é o Deus que habita em Jerusalém”.

Pv 21.1 – Este verso indica o governo soberano e incontestáve l de Deus : “Como corrente de águas é o coração do rei na mão do Senhor; ele o inclina para onde quer”.

4. A Crucificação de Cristo : Era um evento CERTO, INEVITAVEL e planejado (Atos 4.27,28 – “Porque verdadeiramente se ajuntaram, nesta cidade, contra o teu santo Servo Jesus, ao qual ungiste, não só Herodes, mas também Pôncio Pilatos com os gentios e os povos de Israel; para fazerem tudo o que a tua mão e o teu conselho predeterminaram que se fizesse”). Entretanto, nem por isto os Judeus foram forçados a crucificar a Cristo. Judas cumpriu LIVREMENTE, como fruto de sua própria ganância e impiedade, o propósito de Deus, mas não foi inocentado pelo fato de estar “apenas” cumprindo os Decretos de Deus. Os Judeus seguiram, também, suas próprias inclinações malévolas, mas cumpriam, mesmo assim, a predeterminação de Deus. Note que Pedro não os inocentou por isto. Muito pelo contrário! Foram responsabilizados pelos seus atos, em Atos 2.23 (“...a este, que foi entregue pelo determinado conselho e presciência de Deus, vós matastes, crucificando-o pelas mãos de iníquos”). Essa responsabilização ocorre na mesma passagem em que a Soberania de Deus é apontada como estando por trás de todos os eventos.

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5. Dois exemplos adicionais , de como Deus pode cumprir os seus propósitos e planos, mesmo assim preservando a responsabilidade humana:

Ap 17.17 – Deus coloca nos corações a execução de suas intençõ es: “Porque Deus lhes pôs nos corações o executarem o intento dele, chegarem a um acordo, e entregarem à besta o seu reino, até que se cumpram as palavras de Deus”.

2 Sm 17.14 – Absalão segue um conselho, mas sem saber cumpre os desígnios de Deus : “Então Absalão e todos os homens e Israel disseram: Melhor é o conselho de Husai, o arquita, do que o conselho de Aitofel: Porque assim o Senhor o ordenara , para aniquilar o bom conselho de Aitofel, a fim de trazer o mal sobre Absalão”.

2.2 “Se tudo que acontece é pré-ordenado, como lemos, n a Bíblia, que Deus ‘se arrepende’?” — Por exemplo, em Gn 6.6 (“...arrependeu-se o Senhor de h aver feito o homem na terra ...”) ou Joel 12.13(“...se arrepende do mal”)

RESPOSTA — A expressão “arrependimento”, utilizada na Bíblia com relação a Deus, indica uma mudança em um curso de ação ou em um relacionamento da parte de Deus, da forma em que estava sendo encaminhado até a ocasião da mudança. Não tem, esta expressão, as mesmas conotações deste sentimento no homem. Na linguagem teológica, dá-se o nome a estas expressões de ANTROPOMORFISMO, ou seja, a utilização de linguagem e formas humanas para expressar qualidade, ações ou características de Deus, em um sentido figurado (Ex.: Gn 18.20,21; 22.12; Jr 7.13; Lu 20.13).

No caso da passagem de Joel, o contexto está descrevendo Deus como misericordioso, compassivo, tardio em irar-se, grande em benignidade e nem sempre executa o julgamento que seria o curso natural (“se arrepende do mal”). O julgamento é iminente. Ele é apropriado. Ele é justo. Ele procede do Deus todo poderoso. Ele é mortal. Mas ele é executado pelo justo juiz que detém o poder e a prerrogativa de sustá-lo.

O termo “arrependimento”, portanto, utilizado com relação a Deus, não tem o mesmo significado de quando ele é utilizado com relação às pessoas. A dissociação é estabelecida por Números 23.19: “Deus não é homem, para que minta; nem filho do homem, para que se arrependa. Porventura, tendo ele dito, não o fará? ou, havendo falado, não o cumprirá?” Os homens, os filhos dos homens, mentem – dizem uma coisa e fazem outra; ou se arrependem – (o mesmo sentido) dizem que farão uma coisa e fazem outra; Deus é diferente. Ele é veraz.

Da mesma forma, 1 Sm 29.15, diz: “Também aquele que é a Força de Israel não mente nem se arrepende, por quanto não é homem para que se arrependa”. Deus é perfeito. Ele é soberano. Ele diz e faz; ele fala e cumpre; ele tem um plano e executa. Quando A Palavra, portanto, diz que ele se arrepende; não é arrependimento no significado do termo para descrever ações dos filhos dos homens. A utilização da expressão, para descrever ação humana, abriga, muitas vezes, o conceito de “remorso”.

“Arrepender-se”, no que diz respeito a Deus, significa aparente mudança de curso de ação; significa colocar em prática as prerrogativas de perdão, de retenção de julgamento. Significa a expectativa de que o julgamento, mesmo justo e devido, não fosse executado

Em todo e qualquer caso mesmo o “arrependimento”, a mudança do curso de ação, estava contemplada em seus planos insondáveis e maravilhosos.

3. “Se existe um plano predeterminado por Deus para tu do, como é que a Sua vontade e a Sua missão é muitas vezes derrotada, como por exemplo e m Mateus 23.37?”

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RESPOSTA — Os Plano de Deus não são frustrados. Temos que discernir entre a VONTADE PRECEPTIVA de Deus e a Sua VONTADE DECRETIVA. Esta última, é o Seu desejo refletido em Seus Decretos, que serão certamente cumpridos (Is 46.10 – “O meu conselho subsistirá, e farei toda a minha vontade”.). A primeira (preceptiva) representa os Preceitos de Deus, Seus PADRÕES de conduta. Apesar dele ser onipotente e ter poderes para executar tudo, Ele não desejou decretar tudo que está contido em Sua Vontade Preceptiva. Um exemplo disto é II Pedro 3.9, onde Pedro expressa a Vontade Preceptiva de Deus e indica que Ele “…quer que todos venham a arrepender-se…” Ele certamente teria poderes para executar este desejo, mas sabemos por outras passagens bíblicas que “poucos são os escolhidos”, demonstrando que Deus não decretou tudo que é sua vontade COMO PRECEITO.

Verifique a situação apresentada em Mateus 23.37 (“Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas, apedrejas os que a ti são enviados! quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas, e não o quiseste!”), comparando-a com Isaías 65.2 (“Estendi as minhas mãos o dia todo a um povo rebelde, que anda por um caminho que não é bom, após os seus próprios pensamentos”). Vemos que apesar do desejo de Deus ser o recebimento de Jerusalém em seu seio, o seu plano já previa a pregação e a rejeição por um povo rebelde. Este povo, mesmo estando incluso neste plano, rejeitou a Cristo VOLUNTARIAMENTE.

Uma analogia humana, logicamente imperfeita como toda tentativa de exemplo humano, pode ilustrar esta dualidade de vontades. Referimo-nos a um juiz reto que não tem vontade alguma em uma sentença qualquer, mas justamente por ser reto decreta condenar alguém, quando tal condenação é cabível, e assim o faz.

4. “Se a doutrina da Predestinação é verdade, como pod e a Bíblia efetivar uma oferta sincera de salvação a todos, e como podemos nós, também, ofere cê-la a todos os homens?”

RESPOSTA — Temos que nos lembrar que não sabemos quais são os Predestinados. Nossa missão não é a de Pesquisadores de Predestinados, mas a de DECLARADORES DA VERDADE. A conversão e a chamada eficaz pertencem ao Espírito Santo. Deus nos conclama a declarar a verdade a todos. Mesmo que houvesse a certeza da rejeição, não estaria eliminada a necessidade da pregação. Isaías 1.18-19 (“Vinde, pois, e arrazoemos, diz o Senhor: ainda que os vossos pecados são como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que são vermelhos como o carmesim, tornar-se-ão como a lã; Se quiserdes, e me ouvirdes, comereis o bem desta terra”) é um exemplo da chamada universal ao arrependimento. Temos também Isaías 6.9-13, onde Deus manda Isaías realizar o chamado amplo, mas, ao mesmo tempo, já revela ao pregador que haverá uma rejeição operada pelo próprio Deus. Isaías chega quase ao desespero: “Então disse eu: Até quando, Senhor?” Em essência, Deus responde: cumpra sua missão, até que meus propósitos sejam cumpridos.

Situação semelhante temos em Ezequiel 3.4-14, onde Deus comissiona o profeta a realizar a oferta de salvação “quer ouçam, quer deixem de ouvir”. Ocorre que Deus já havia registrado que a casa de Israel não iria querer ouvir. Mesmo assim, permanecia a obrigação do profeta de ir e pregar. Com sentimentos semelhantes aos de Isaías, o profeta registra: “e eu me fui, amargurado, na indignação do meu espírito; e a mão do Senhor era forte sobre mim”.

A oferta de salvação não somente é veraz como sincera. Ela pode ser assim apresentada pelos profetas e pelo próprio Cristo com a consciência de que a concretização da salvação estava incrustada nos planos eternos e soberanos de Deus.

De qualquer forma, a mesma objeção poderia ser apresentada aos que dizem que Deus apenas CONHECE os que acreditarão nele, mas que não determina os que serão salvos: se Ele conhece aquele que acreditará, como pode oferecer o Evangelho ao que não acreditará, sabendo que isto somente aumentará a sua condenação? A Oferta é sincera, porque ela representa a verdade — “quem crer será salvo!” Agora, nós sabemos, sempre a posteriori, e

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nunca antecipadamente (como Jesus o sabia), que “os que creram” foram os predestinados , como nos ensina Atos 13.48 (“...e creram todos quantos haviam sido destinados para a vida eterna”.).

5. “A Predestinação apresenta um Deus que faz acepção de pessoas!”

RESPOSTA — Acepção de pessoa significa aceitação ou rejeição baseada em qualidades ou em um potencial intrínseco de uma pessoa, que venha a motivar esta aceitação ou rejeição. A Predestinação bíblica é INCONDICIONAL, isto é, não é baseada em nada existente NO HOMEM, mas unicamente nos propósitos insondáveis de Deus. Deus não é parcial, mas sim SOBERANO. Suas dádivas são fruto da Graça (Rm. 9.15-18, Mt 20.13-15). De qualquer forma, qualquer sistema teológico apresenta esta dificuldade, pois têm todos a mesma oportunidade? Não. As pessoas nascem em locais e circunstâncias diferentes, uns com mais oportunidades do que outros.

CONCLUSÃO

A doutrina da Predestinação é reconhecidamente uma doutrina difícil, mas não deve ser negligenciada nos nossos estudos e exposição pois ela apenas enaltece a Deus. Ela apresenta a Deus em toda a Soberania que lhe é na Bíblia atribuída. Muitas vezes, a rejeitamos porque “achamos” que ela pode desencorajar a pregação do evangelho. Nestes casos, devemos deixar a Bíblia falar por si -- se ela nos revela um Deus que predestina, devemos aceitar esta revelação, independentemente de nossas projeções pragmáticas sobre o que pode ou não acontecer. Deus é maior que as nossas precauções e temores. Suas verdades não podem ser diminuídas sob pena de distorcermos a mensagem que devemos proclamar a um ponto em que ficam totalmente irreconhecíveis. Mesmo que não entendamos todos os pontos, devemos aceitar a majestade e soberania de Deus da forma que a Sua Palavra nos revela!

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4.3 A PROVIDÊNCIA DIVINA A pesar de não se achar o termo “providência” na Escritura, a doutrina, não obstante é

eminentemente escriturística. A palavra é derivada do termo latino providentia, que corresponde ao grego προνοια [pronoia]. Estas palavras significam primariamente presciência ou previsão, mas gradativamente adquiriram outros sentidos. Previsão é, de um lado, associada a planos para o futuro, e, de outro, à realização concreta desses planos. Assim a palavra “providência veio a significar a provisão que Deus faz para os fins do seu governo, bem como a preservação e governo de todas as suas criaturas.

a. A História da Doutrina da Providência

Desde o início da filosofia a questão sobre a criação de todas as coisas e a sua manutenção tomou tempo de reflexão dos filósofos. Os epicureus, baseados na teoria das leis atômicas, criam que o mundo era governado pelo acaso. Já os estóicos, asseveravam que o destino era que governava o destino dos homens.

Os ”pais da igreja” não apresentam idéias definidas sobre o assunto. Mas, em muitos dos seus escrito, em oposição à doutrina estóica do destino e em seu desejo de proteger a santidade de Deus, às vezes exageravam na ênfase ao livre arbítrio do homem, e nesse ponto manifestavam a tendência de negar o absoluto governo providencial de Deus em relação às ações pecaminosas.

Agostinho tomou a dianteira no desenvolvimento desta doutrina. Contra as doutrinas do destino e do acaso, ele dava ênfase ao fato de que todas as coisas são preservadas e governadas pela soberana, sábia e bondosa vontade de Deus, mas afirmava o domínio de Deus igualmente sobre o bem e sobre o mal que há no mundo. Ele, em seus escritos, tanto salvaguardava a santidade de Deus como mantinha a responsabilidade do homem.

Durante a Idade Média o conceito predominante era agostiniano, que sujeitava tudo à vontade de Deus. Contudo, havia idéias divergentes. O pelagianismo limitava a providência à vida natural, e excluía a vida ética e moral. Os semipelagianos seguiam a mesma direção, embora que muitos não iam igualmente longe. Os escolásticos consideravam a conservação feita por Deus como uma continuação da sua atividade criadora, enquanto outros faziam real distinção entre ambas. Em Tomaz de Aquino a doutrina da providência divina segue em geral a de Agostinho, e sustenta que a vontade de Deus, como determinada pelas suas perfeições, preserva e governa todas as coisas.

Em geral os reformadores subscreveram a doutrina agostiniana da providência, embora que diferissem em alguns pormenores.

Os socinianos e arminianos, embora não no mesmo grau, limitavam a providência de Deus salientando o poder independente do homem de tomar a iniciativa na ação e, assim, controlar a sua vida. Neste sentido, o domínio do mundo realmente foi tirado das mãos de Deus e dado às mãos dos homens.

Nos séculos dezoito e dezenove a providência foi virtualmente eliminada por um deísmo que descrevia Deus como tendo-se afastado do mundo após a obra da criação; e por um panteísmo que identificava Deus com o mundo, sem fazer nenhuma distinção entre estes.

b. A Idéia da Providência

pode-se definir a providência como o permanente exercício da energia divina pelo qual o Criador preserva todas as suas criaturas, opera em tudo que se passa no mundo e dirige todas as coisas para o seu determinado fim. Calvino, o Catecismo de Heidelberg e alguns dos dogmáticos recentes (Dabney, os Hodge, Shedd) falam de dois elementos apenas, a saber, da preservação e governo. Não quer dizer, porém, que eles queiram excluir o elemento da concorrência, mas somente que o consideram incluído nos outros dois, indicando a maneira ela qual Deus preserva e governa o mundo.

c. Conceito errôneo Concernente à Natureza da Provi dência

Segundo o deísmo, o interesse de Deus pelo mundo não é universal, especial e perpétuo, mas somente de natureza geral. Isto quer dizer que Ele infundiu em todas as sua criaturas leis inalteráveis e deixou que cumprissem o seu destino pelos seus próprios poderes inerentes. Hoje, segundo os deístas, Ele exerce apenas uma supervisão geral, não dos elementos específicos que aparecem em cena, mas da leis gerais que Ele estabeleceu. O mundo, portanto é uma simples máquina que Deus acionou, e de modo nenhum uma nave que ele pilota dia após dia. Esta doutrina deísta da providência é característica do pelagianismo, foi adotada por vários teólogos católicos, esposada pelos socinianos, foi um dos erros fundamentais dos arminianos e recebeu garbosas vestes filosóficas das mãos dos deístas do século dezoito.

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d. Objetos da Providência

A Bíblia nos ensina claramente sobre o governo providencial de Deus sobre todas as coisas, vejamos:

* Sobre o universo em geral (Sl 103:19; Dn 5:35; Ef 1:11); * Sobre o mundo físico (II Cr 7:12,13; Jó 37:5,10; Sl 104:14; Sl 135:6; Mt 5:45); * Sobre a criação inferior (II Re 2:23,24; Sl 104:21,28; Mt 6:26; Mt 10:29); * Sobre os negócios das nações (II Cr 14:6,12; 24:24;Jó 12:33; Sl 22:28; Sl 66:7; At17:26); * Sobre o nascimento dos homens e sua sorte na vida (I Sm 16:1; Sl 139:16; Is 45:5; Gl 1:15); * Sobre as vitórias e fracassos dos homens (Sl 75:6,7; Lc 1:52); * Sobre as coisas aparentemente acidentais e insignificantes (II Cr 18:22, 33,34; Pv 16:33; Mt

10:30); * Na proteção dos justos (Sl 4:8; Sl 5:12; Dn 3:22-25; Rm 8:28; ); * No suprimento das necessidades do povo de Deus (Gn 22:8,14; Dt 8:3; Fp 4:19); * Nas respostas à oração ( I Sm 1:19; Is 20:5,6; II Cr 33:13; Mt 7:7; Lc 18:7,8); * No desmascaramento e castigo dos ímpios (II Cr 25:19,20; Sl 7:12,13; Sl 11:6).

e. Elementos da providência

e.1 A Preservação Podemos conceituar a preservação como a obra contínua de Deus pela qual Ele mantém as coisas

que criou, juntamente com as propriedades e poderes de que as dotou. Esta doutrina parte do pressuposto de que todas as substâncias criadas, quer espirituais quer materiais, têm existência real e permanente, distinta da existência de Deus, e só possuem propriedades ativas e passivas derivadas de Deus; e seus poderes ativos têm uma eficiência real como causas secundárias, de modo que podem produzir os efeitos que lhes são próprios. Assim a doutrina protege-se do panteísmo que nega a existência distinta do mundo e faz de Deus a único agente do universo. Mas não considera essas substâncias criadas como auto-existentes, desde que a auto-existência é propriedade exclusiva de Deus, e todas as criaturas têm o fundamento da sua existência continuada nele, e não em si mesmo.

i. Prova Direta A divina preservação de todas as coisas é clara e explicitamente ensinada em diversas

passagens da Escritura: Dt 33:12; I Sm 2:9; Ne 9:6; Sl 107:9; Mt 10:29; At 7:28; Cl 1:17; Hb 1:3. Além destes texto existem aqueles outros que falam do Senhor preservando o seu povo: Gn

28:15; Ex 14:29,30; Dt 1:30,31; II Cr 20:15-17; Jó 1:10; Sl 31:20; Is 40:11; Jr 30:7-11; Dn 12:1; Lc 21:18; Ap 3:10.

ii. Prova por Dedução A idéia da preservação divina infere-se da doutrina da soberania de Deus. Esta só se pode

conceber como absoluta; não seria absoluta, porém, se existisse ou acontecesse alguma coisa independente da sua vontade. De fato, somente aquele que criou todo o mundo pela palavra do seu poder, pode sustentá-lo por sua onipotência.

e.2 A Concorrência

Podemos definir a concorrência como a cooperação do poder divino com todos os poderes subordinados, em harmonia com as leis pré-estabelec idas de sua operação, fazendo-as agir, e agir precisamente como agem.

Este conceito é claramente exposto na Bíblia na medida em que esta ensina que a providência de Deus pertence, não somente a existência, mas também às ações ou operações da criatura. A verdade geral de que os homens não agem independentemente, mas são governados pela vontade de Deus, transparece em diversas passagens da Escritura.

* Em Gn 45:5 diz José que foi Deus , e não seus irmãos, que o enviara para o Egito; * Em Ex 4:11 e 12 diz o Senhor que Ele será com a boca de Moisés e lhe ensinará o que dizer; * Em Js 11:6 Ele dá a Josué a certeza de que i livrará dos inimigos de Israel;

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* Provérbios 21:1 ensina que “assim é o coração do rei na mão do Senhor; este, segundo o seu querer, o inclina”;

* Em Ed 6:22 diz que o Senhor tinha mudado “o coração do rei da Assíria” para com Israel. * Em Dt 8:18 traz-se à memória de Israel o fato de que foi Jeová que lhe deu capacidade para

conseguir riqueza. * Em II Sm 16:11 Jeová mandou Simei amaldiçoar a Davi; * Em Is 10:5 Deus chama à Assíria “cetro da minha ira”, “instrumento do meu furor”; * Em I Re 22:20-23 Ele pôs um espírito mentiroso na boca dos profetas de Acabe. i. A Concorrência e o Pecado : Os pelagianos, os semipelagianos e os arminianos levantam

séria objeção a esta doutrina da providência. Sustentam eles que uma concorrência prévia, que não seja meramente geral, mas que predetermine o homem a ações específicas, faz de Deus o autor do pecado. Os teólogos reformados calvinistas estão bem cientes da dificuldade que aqui se apresenta, mas não se sentem livres para iludi-la negando o absoluto domínio de Deus sobre as livres ações das suas criaturas morais, visto que a Escritura o ensina claramente (Gn 45:5; Gn 50:19,20; Ex 10:1,20; Is 10:5-7; At 2:23; At 4:27,28).

Os calvinistas afirmam e ensinam:

* Que os atos pecaminosos estão sob o governo divino e ocorrem de acordo com a

predestinação e o propósito de Deus, mas somente pela permissão divina, de modo que Ele não leva eficientemente os homens a pecarem [Gn 45:5; Gn 50:20 Ex 14:17; Is 66:4; Rm 9:22; II Ts 2:11].

* Que Deus muitas vezes reprime as obras pecaminosas do pecador (Gn 3:6; Jó 1:12; Jó 2:6;

Sl 76:10; Is 10:15; At 7:51. * Que Deus, no interesse do seu propósito, dirige o mal para o bem (Gn 50:20; Sl 76:10; At

3:13).

e.3 O Governo Pode-se definir o governo divino como a contínua atividade de Deus pela qual Ele rege todas as

coisas teleologicamente a fim de garantir a realização do propósito divino. Este governo não é uma simples parte da providência divina, mas, como no caso da preservação e da concorrência, é toda ela, mas agora considerada sob o ponto de vista do fim para o qual Deus guia todas as coisas da criação, a saber, a glória do seu nome.

Este governo é adaptado à natureza das criaturas criadas e que Ele governa. No mundo físico Ele estabeleceu as leis naturais da natureza, e é por meio dessas leis que Ele exerce o governo do universo físico. No mundo mental Ele exerce o seu governo mediatamente, por meio das propriedades e leis da mente, e imediatamente, pela direta operação do Espírito Santo. No governo e domínio dos agentes morais Ele faz uso de toda classe de influência moral, como as circunstâncias, os motivos, a instrução, a persuasão e o exemplo, mas age diretamente, pela operação pessoal do Espírito Santo no intelecto, na vontade e no coração.

A extensão deste governo é universal (Sl 22:28,29; Sl 103:17-19; Dn 4:34,35; I Tm 6:15). É realmente a execução do seu propósito eterno, abrangendo todas as suas obras, desde o princípio, tudo que foi, é e será para sempre. Mas, embora geral, desce também a particularidades. As coisas de maior significação ( (Mt 10:29-31), aquilo que é aparentemente acidental (Pv 16:33), as boas ações dos homens (Fp 2:13), como também as suas más ações (At 14:16). Tudo está sob o governo e a direção de Deus. Deus é o Rei de Israel (Is 33:22), mas Ele também domina entre as nações (Sl 47:9) Nada escapa ao Seu governo.

f. O Pensamento do Dr. Chafer Sobre a Providência D ivina

Segundo o Dr. Chafer a providência de Deus é quádrupla, vejamos:

f.1 Providência Preventiva : Nesta, Deus usa os pais, os governos, as leis, os costumes, a opinião pública, sua Palavra, seu Espírito e a consciência como meios de impedir providencialmente o mal (Gn 20:6; Sl 19:13).

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f.2 Providência Permissiva : É aquela que abrange tudo aquilo que Deus não restringe (Dt 8:2; II

Cr 32:31; Os 4:17; Rm 1:24,28). f.3 Providência Diretiva : É aquela por cuja ação Deus dirige os movimentos dos homens e

muitas vezes sem que eles tenham consciência dessa direção (Gn 50:20; Sl 76:10; Is 10:5; Jo 13:27; At 4:28).

f.4 Providência Determinativa : É aquela por cujo exercício Deus decide e executa todas as

coisas conforme o conselho de sua vontade (I Cr 14:14,15).

APÊNDICE - III

Confissão de Fé de Westminster CAPÍTULO V – DA PROVIDÊNCIA i. pela sua muito sábia providência, segundo a sua infalível presciência e o livre e imutável conselho da sua própria vontade, deus, o grande criador de todas as coisas, para o louvor da glória da sua sabedoria, poder, justiça, bondade e misericórdia, sustenta, dirige, dispõe e governa todas as suas criaturas, todas as ações e todas as coisas, desde a maior até a menor. ref.nee, 9:6; sal. 145:14-16; dan. 4:34-35; sal. 135:6; mat. 10:29-31; prov. 15:3; ii cron. 16:9; at.15:18; ef. 1:11; sal. 33:10-11; ef. 3:10; rom. 9:17; gen. 45:5. ii. posto que, em relação à presciência e ao decreto de deus, que é a causa primária, todas as coisas acontecem imutável e infalivelmente, contudo, pela mesma providência, deus ordena que elas sucedam conforme a natureza das causas secundárias, necessárias, livre ou contingentemente. ref.jer. 32:19; at. 2:13; gen. 8:22; jer. 31:35; isa.10:6-7. iii. na sua providência ordinária deus emprega meios; todavia, ele é livre para operar sem eles, sobre eles ou contra eles, segundo o seu arbítrio. ref.at. 27:24, 31; isa. 55:10-11; os.1:7; rom. 4:20-21; dan.3:27; joão 11:34-45; rom. 1:4. iv. a onipotência, a sabedoria inescrutável e a infinita bondade de deus, de tal maneira se manifestam na sua providência, que esta se estende até a primeira queda e a todos os outros pecados dos anjos e dos homens, e isto não por uma mera permissão, mas por uma permissão tal que, para os seus próprios e santos desígnios, sábia e poderosamente os limita, e regula e governa em uma múltipla dispensarão mas essa permissão é tal, que a pecaminosidade dessas transgressões procede tão somente da criatura e não de deus, que, sendo santíssimo e ustíssimo, não pode ser o autor do pecado nem pode aprová-lo. ref. isa. 45:7; rom. 11:32-34; at. 4:27-28; sal. 76:10; ii reis 19:28; at.14:16; gen. 50:20; isa. 10:12; i joão 2:16; sal. 50:21; tiago 1:17. v. mui sábio, justo e gracioso deus muitas vezes deixa por algum tempo seus filhos entregues a muitas tentações e à corrupção dos seus próprios corações, para castigá-los pelos seus pecados anteriores ou fazer-lhes conhecer o poder oculto da corrupção e dolo dos seus corações, a fim de que eles sejam humilhados; para animá-los a dependerem mais intima e constantemente do apoio dele e torná-los mais vigilantes contra todas as futuras ocasiões de pecar, para vários outros fins justos e santos. ref.ii cron. 32:25-26, 31; ii sam. 24:1, 25; luc. 22:31-32; ii cor. 12:7-9.

vi. quanto àqueles homens malvados e ímpios que deus, como justo juiz, cega e endurece em razão de pecados anteriores, ele somente lhes recusa a graça pela qual poderiam ser iluminados em seus entendimentos e movidos em seus corações, mas às vezes tira os dons que já possuíam, e os expõe a objetos que a sua corrupção torna ocasiões de pecado; além disso os entrega às suas próprias paixões,

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às tentações do mundo e ao poder de sataná5: assim acontece que eles se endurecem sob as influências dos meios que deus emprega para o abrandamento dos outros.

ref. rom. 1:24-25, 28 e 11:7; deut. 29:4; mar. 4:11-12; mat. 13:12 e 25:29; ii reis 8:12-13; sal.81:11-12; i cor. 2:11; ii cor. 11:3; exo. 8:15, 32; ii cor. 2:15-16; isa. 8:14. vii. como a providência de deus se estende, em geral, a todos os crentes, também de um modo muito especial ele cuida da igreja e tudo dispõe a bem dela. ref. amós 9:8-9; mat. 16:18; rom. 8-28; i tim. 4: 10.

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Atividades

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Curso de Preparação de Discipuladores Disciplina: Bibliologia e Teontologia Professor: Rev. Israel Serique dos Santos Aluno: ______________________________________________ Data: _____ / _____ /_______ 1. Relacione a 2ª coluna de acordo com a 1ª

2. Responda as seguintes questões a. qual a origem da palavra “teologia” e o que significa etimologicamente? b. Que conceito você daria para a teologia? c. Lendo os textos de I Co 2:13; II Pe 1:21; Hb 1:1; I Pe 1:11, em que sentido podemos dizer que a Bíblia é

inspirada por Deus?

1. Antropologia 2. Soteriologia 3. Escatologia 4. Eclesiologia 5. Bibliologia 6. Hamartologia 7. Cristologia 8. Pneumatologia

( ) O estudo das doutrinas que dizem respeito ao estado da alma após a morte; a ressurreição; o segundo advento de Cristo; o juízo geral o fim do mundo;o céu e o inferno

( ) Estuda a natureza do pecado; sua extensão na vida dos homens etc. ( ) inclui a idéia, ou natureza da igreja; seus atributos; suas prerrogativas e sua

organização. ( ) Estuda a Bíblia como palavra de Deus; a revelação; a inspiração, o processo

de canonicidade etc. ( ) Faz referência a pessoa de Cristo, sua encarnação; seus atributos como ser

divino, estados de exaltação e humilhação etc. ( ) Inclui a origem e a natureza do homem; seu estado original e prova; sua queda;

a natureza do pecado; o efeito do primeiro pecado de Adão sobre si e sobre sua posteridade.

( ) diz respeito a pessoa do Espírito santo como terceira pessoa da Trindade; sua personalidade; seu ministério; seus dons concedidos aos homens, atributos divinos etc.

( ) Inclui o propósito ou plano de Deus em referência a salvação do homem; a pessoa e obra do redentor; a aplicação da redenção de Cristo ao povo de Deus, sua regeneração, justificação e santificação; e os meios de graça.

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3. Complete as lacunas usando os seguintes termos: Causalidade Divina, Mediação Profética, Autoridade Escrita, Revelação, Inspiração, Iluminação, Ortodoxia, Modernismo, Neo-Ordodoxia.

a. __________________________Ato pelo qual o Espírito Santo capacitou santos homens de Deus a

escreverem fielmente tudo quanto Deus quis que fosse registrado de suas revelações

b. ___________________Corrente teológica do século XX. que afirmavam que Deus fala aos homens mediante a Bíblia; as Escrituras tornam-se a Palavra de Deus num encontro pessoal entre Deus e o homem.

c. _____________________________A Escritura “é divinamente inspirada e proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir em justiça”. A Bíblia é a última palavra no que concerne a assuntos doutrinários e éticos. Todas as controvérsias teológicas e morais devem ser trazidas ao tribunal da Palavra Escrita de Deus, pois ela recebeu sua autoridade do próprio Deus.

d. ___________________Corrente teológica do século XIX que afirma que a Bíblia contém a palavra de Deus; e, por este prisma, assevera que certas partes dela são divinas, expressão a verdade, mas outras são obviamente humanas e apresentam erros.

e. .___________________________Deus é a causa e a fonte primordial da inspiração da Bíblia. O elemento divino estimulou o elemento humano, revelou-lhe certas verdades da fé, e esses homens de Deus as registraram.

f. .______________________Ato pelo qual o espírito santo capacita os homens a compreenderem a verdade de Deus nas Sagradas Escrituras.

g. _______________________Pensamento teológico que a firma que a Bíblia é a palavra de Deus. Em todas

as suas partes e palavras ela o registro fiel da revelação divina.

h. _________________________ato pelo qual Deus se manifestou ao homem e deu a este o conhecimento de qual era a sua vontade (sonhos, visões, profecias, teofanias, etc).

i. ____________________________Os profetas escreveram segundo a intenção total do coração, segundo a consciência que os movia no exercício normal de sua tarefa, com seus estilos literários e seus vocabulários individuais. As personalidades dos profetas não foram violentadas; Deus utilizou personalidades humanas para comunicar proposições divinas

4. Responda a. O que a teologia calvinista quer dizer quando afirma que a inspiração é verbal? b. O que a teologia calvinista quer dizer quando afirma que a inspiração é plenária? c. O que a teologia calvinista quer dizer quando afirma que a inspiração atribui autoridade ?

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5. Responda a. Que elementos podemos citar como evidências da inspiração do Velho Testamento? b. Que elementos podemos citar como evidências da inspiração do Novo Testamento? c. Quais as evidências internas da inspiração bíblica d. Quais as evidências externas da inspiração bíblica?

6. Faça uma relato resumido de como os livros apócrifos vieram a ser postos oficialmente como livros inspirados, junto com as Escrituras.

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7. Lendo a confissão de Fé de Westeminster responda:

II. Ainda que a luz da natureza e as obras da providência manifestem de tal modo a bondade, a sabedoria e o poder de Deus, que os homens ficam inescusáveis, todavia não são suficientes para dar aquele conhecimento de Deus e de sua vontade, necessário à salvação; por isso foi o Senhor servido, em diversos tempos e diferentes modos, revelar-se e declarar à sua igreja aquela sua vontade; e depois, para melhor preservação e propagação da verdade, para o mais seguro estabelecimento e conforto da igreja contra a corrupção da carne e malícia de Satanás e do mundo, foi igualmente servido fazê-la escrever toda. Isto torna a Escritura Sagrada indispensável, tendo cessado aqueles antigos modos de Deus revelar a sua vontade ao seu povo.

a. Que conhecimento de Deus a natureza não expõe e que só podemos aprender nas Sagradas Escrituras? b. Por que Deus deu ao seu povo uma Palavra escrita? c. O que ocorreu quando a revelação escrita foi completada?

IV. A autoridade da Escritura Sagrada, razão pela qual deve ser crida e obedecida, não depende do testemunho de qualquer homem ou igreja, mas somente de Deus (a mesma verdade) que é seu Autor; tem, portanto, de ser recebida porque é a Palavra de Deus.

a. De quem depende a autoridade da Escritura? b. Por que a Escritura deve ser recebida?

V. Pelo Testemunho da Igreja podemos ser movidos e incitados a um alto e reverente apreço pela Escritura Sagrada; a suprema excelência do seu conteúdo, a eficácia da sua doutrina, a majestade do seu estilo, a harmonia de todas as suas partes, o escopo do seu todo (que é dar a Deus toda a glória), a plena revelação que faz do único meio de salvar-se o homem, as suas muitas outras excelências incomparáveis e completa perfeição são argumentos pelos quais abundantemente se evidencia ser ela a Palavra de Deus; contudo, a nossa plena persuasão e certeza da sua infalível verdade e divina autoridade provém da operação interna do Espírito Santo que pela Palavra e com a Palavra, testifica em nossos corações.

a. Pelo testemunho da igreja ao que podemos ser levados em relação a Bíblia e por que? b. Quem persuade o pecador a crer que a Bíblia é infalível e autoritativa sobre todas as coisas e como isto

ocorre?

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VI. Todo conselho de Deus concernente a todas as coisas necessárias para a glória dele e para a salvação, fé e vida do homem, ou é expressamente declarado na Escritura ou pode ser logicamente deduzido dela. À Escritura nada se acrescentará em tempo algum, nem por novas revelações do Espírito, nem por tradições dos homens; reconhecemos entretanto, ser necessária a íntima iluminação do Espírito de Deus para a salvadora compreensão das coisas reveladas na Palavra, e há algumas circunstâncias, quanto ao culto de Deus e o governo da igreja, comuns às ações e sociedades humanas, as quais têm de ser ordenadas pela luz da natureza e pela prudência cristã, segundo as regras da Palavra, que sempre devem ser observadas.

a. Por que à Escritura Sagrada nada se acrescentará em tempo algum? b. O que é necessário para a salvadora compreenção das coisas reveladas na Palavra de Deus? IX. A regra infalível de interpretação da Escritura é a mesma Escritura; portanto, quando houver questão

sobre o verdadeiro e pleno sentido de qualquer texto da Escritura (sentido que não é múltiplo, mas único), esse texto pode ser estudado e compreendido por outros textos que falarem mais claramente.

a. Qual a regra infalível de interpretação bíblica? b. Quantos sentidos tem o texto bíblico? c. Como determinados textos obscuros devem ser estudados?

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TEONTOLOGIA 1. Quais as duas pressuposições básicas da teologia? 2. O que ocorreu com a teologia a partir de Scheleiermacher ? 3. Enumere a 2ª coluna de acordo com a primeira

4. Qual a diferença entre os escolásticos e os reformadores quanto a possibilidade de se ter verdadeiro conhecimento de Deus?

5. Qual a posição dos “agnósticos” quanto a questão da existência de Deus? 6. Quais os argumentos a favor da existência de Deus?

1. Ateus Dogmáticos

2. Ateus Céticos

3. Ateus Críticos

4. Politeísmo

5. Henoteísmo

6. Dualismo

7. Deísmo

8. Panteísmo

9. O Absoluta da Filosofia

( ) Corrente teológica que afirma a existência de um ser pessoal, criador, poderoso, sábio, etc. que, tendo criado todas as coisas, ausentou-se de sua criação e deixando-a ser dirigida tão somente pelas leis naturais nas quais ela foi posta. Este pensamento enfatiza a transcendência de Deus. ( ) São os que sustentam que não há nenhuma prova válida da existência de Deus. ( ) É a crença na existência de vários deuses, entretanto apenas um é escolhido como objeto se culto. ( ) alguns filósofos ao falarem a respeito da realidade ou não de um ser divino, atribuíram a este a designação de absoluto. ( ) É a crença na existência de dois deuses ou forças que são co-eternas, poderosas e que ao mesmo tempo se opõe. ( ) São os que negam peremptoriamente a existência de um ser divino. ( ) corrente filosófica que afirma que Deus é tudo e tudo é Deus. ( ) É a crença na existência de vários deuses. ( ) São os que tem dúvida quanto a capacidade da mente humana de determinar se há ou não um Deus.

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7. Segundo Kuyper, quando um homem pode ter real conhecimento de Deus? 8. O que são os atributos divinos? 9. Quais são os atributos incomunicáveis de Deus e o que representam? 10. Quais são os atributos comunicáveis de Deus e o que representam? 11. Como podemos relacionar os atributos de Deus com a expressão “uma vez salvo, salvo para sempre”? 12. Complete as lacunas com as seguintes palavras: co-essencial, monarquianismo dinâmico, arianos,

monarquianismo modalista, Nicéia, Tertuliano, Constantinopla. a. __________________ foi o primeiro a empregar o termo “Trindade” e a formular a doutrina , mas a

sua formulação foi deficiente, desde que envolvia uma infundada subordinação do Filho ao Pai. b. Os ________________ negavam a divindade do Filho e do Espírito Santo, apresentando o Filho

como a primeira criatura do Pai, e o Espírito Santo como a primeira criatura do Filho.

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c. O _______________________________ via em Jesus apenas um homem e no Espírito Santo uma influência divina.

d. O ______________________________ considerava o Pai, o Filho e o Espírito Santo meramente como três modos de manifestação assumidos sucessivamente pela Divindade.

e. A igreja começou a formular a sua doutrina da Trindade no século quarto. O Concílio de _______________ no ano de 325 d.C declarou que o Filho é _____________________com o Pai, enquanto que o Concílio de _______________________, em 381 d.C., afirmou a divindade do Espírito Santo.

13. O que diz a doutrina cristã da Trindade? 14. Como podemos provar a divindade de Jesus? 15. Como podemos provar a divindade do Espírito Santo? 16. Qual a obra do Espírito Santo na esfera natural e na esfera da redenção? 17. O que ensina a doutrina dos decretos de Deus?

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18. Segundo as características do decreto divino, relacione a 2ª coluna de acordo com a 1ª

19. O que diz a doutrina da predestinação 20. Quanto a predestinação cite:

a. Seu autor:___________________________

b. Objetos:________________________, ___________________________ e______________________ c. As características: c. Os propósitos:

21. O que diz a doutrina da reprovação? 22. O que diz a doutrina da providência divina?

1. É fundamentado na sabedoria divina 2. É eterno 3. É eficaz 4. É imutável 5. É incondicional ou absoluto 6. É universal 7. Com referência ao pecado, o decreto é permissivo

( ) O decreto não depende, em nenhuma das suas particularidades, pois os meios ou condições também foram determinadas no decreto. Deus não decretou simplesmente salvar os pecadores sem determinar os meios para efetuar o decreto. Os meios conducentes ao fim predeterminado também foram decretados (At 2:23; Ef 2:8; I Pe 1:2). ( ) Aquilo que Ele decretou, em sabedoria infinita e perfeita, na eternidade, certamente sucederá; nada poderá frustrar o Seu propósito (Jó 42). ( ) O Homem pode alterar, e muitas vezes alterar os seus planos, por várias razões. Pode acontecer que, ao fazer o seu plano, lhe tenha faltado seriedade quanto ao propósito, ou lhe tenha faltado poder para levá-lo a cabo. Mas em Deus coisa alguma desse tipo é concebível. Ele não tem deficiência em conhecimento, veracidade e poder. Portanto, não tem necessidade de mudar o Seu decreto devido algum engano ou à ignorância, nem por falta de capacidade de executá-lo. E não mudará, porque Ele é o Deus imutável e porque é fiel e verdadeiro (Jó 23:13,14; Sl 33:11; Is 46:10; Lc 22:22; At 2:23). ( ) Deus sempre está no controle de todas as coisas, e , em relação ao pecado Ele decidiu: (1) não impedir a autodeterminação pecaminosa do homem; e (2) regular e controlar o resultado dessa autodeterminação pecaminosa (Sl 78:29; Sl 106:15; At 14:16; At 17:30). ( ) A palavra “conselho” sugere cuidadosa consulta e deliberação. Pode conter a sugestão de uma intercomunhão entre as três pessoas da Divindade (Sl 104:24; Pv 3:19; Jr 10:12; 51:15). A sabedoria do conselho do Senhor também pode ser inferida do fato de que ele dura para sempre (Sl 33:11; Pv 19:21). [ver o atributo de sabedoria]. ( ) Isto quer dizer que tudo foi decretado antes de todas as coisas serem criadas (At 15:18; Ef 1:4; II Tm 1:9). ( ) O decreto inclui tudo que se passa no mundo, quer seja na esfera do físico ou na do moral, quer seja o bom ou mau (Ef 1:11). Ele inclui: (1) As boas ações dos homens [Ef 2:10]; (2) Seus atos iníquos [Pv 16:4; At 2:23]; (3) os eventos contingentes [Gn 45:8; Pv 16:33]; (4) os meios como o respectivo fim [Sl 119:89-91; II Ts 2:13; Ef 1:4]; (5) a duração de vida dos homens (Jó 14:5; Sl 39:4]; o lugar da sua habitação [At 17:26], etc.

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23.Quanto a doutrina da providência, enumere a 2ª coluna de acordo com a primeira

24. Enumere a 2ª coluna de acordo com a 1ª, seguindo o pensamento do Dr. Chafer Sobre a Providência

Divina

1. Agostinho 2. pelagianismo 3. Tomaz de Aquino 4. pais da igreja 5. Os escolásticos 6. epicureus 7. Os socinianos e arminianos, 8. estóico 8. deísmo

( ) baseados na teoria das leis atômicas, criam que o mundo era governado pelo acaso. ( ) asseveravam que o destino era que governava o destino dos homens. ( ) não apresentam idéias definidas sobre o assunto. Mas, em muitos dos seus escrito, em oposição à doutrina estóica do destino e em seu desejo de proteger a santidade de Deus, às vezes exageravam na ênfase ao livre arbítrio do homem, e nesse ponto manifestavam a tendência de negar o absoluto governo providencial de Deus em relação às ações pecaminosas. ( ) tomou a dianteira no desenvolvimento desta doutrina. Contra as doutrinas do destino e do acaso, ele dava ênfase ao fato de que todas as coisas são preservadas e governadas pela soberana, sábia e bondosa vontade de Deus, mas afirmava o domínio de Deus igualmente sobre o bem e sobre o mal que há no mundo. Ele, em seus escritos, tanto salvaguardava a santidade de Deus como mantinha a responsabilidade do homem. ( ) limitava a providência à vida natural, e excluía a vida ética e moral. ( ) consideravam a conservação feita por Deus como uma continuação da sua atividade criadora, enquanto outros faziam real distinção entre ambas. ( ) Por ele, a doutrina da providência divina segue em geral a de Agostinho, e sustenta que a vontade de Deus, como determinada pelas suas perfeições, preserva e governa todas as coisas. ( ) embora não no mesmo grau, limitavam a providência de Deus salientando o poder independente do homem de tomar a iniciativa na ação e, assim, controlar a sua vida. Neste sentido, o domínio do mundo realmente foi tirado das mãos de Deus e dado às mãos dos homens. ( ) descrevia Deus como tendo-se afastado do mundo após a obra da criação; e por um panteísmo que identificava Deus com o mundo, sem fazer nenhuma distinção entre estes.

1. Providência Diretiva 2. Providência determinativa 3. Providência Preventiva 4. Providência Permissiva

( ) Nesta, Deus usa os pais, os governos, as leis, os costumes, a opinião pública, sua Palavra, seu Espírito e a consciência como meios de impedir providencialmente o mal (Gn 20:6; Sl 19:13).

( ) É aquela que abrange tudo aquilo que Deus não restringe (Dt 8:2; II Cr 32:31;

Os 4:17; Rm 1:24,28). ( ) É aquela por cuja ação Deus dirige os movimentos dos homens e muitas vezes

sem que eles tenham consciência dessa direção (Gn 50:20; Sl 76:10; Is 10:5; Jo 13:27; At 4:28).

( ) É aquela por cujo exercício Deus decide e executa todas as coisas conforme o

conselho de sua vontade (I Cr 14:14,15).

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25. Quais as três verdades que os calvinistas afirmam a respeito da concorrência divina e o pecado? 25. Cite textos bíblicos que falem sobre:

a. A inspiração das Escrituras: ____________________________________________________________ b. A inerrância das Escrituras: ____________________________________________________________ c. A perfeição das Escrituras: ____________________________________________________________ d. O cuidado por não darmos ouvidos à supostas novas revelações: _____________________________ e. Que podemos obter conhecimento de Deus: ______________________________________________ f. Que somente Deus pode dar conhecimento real de si ao homem: _____________________________ g. Os atributos de Deus: Existência Autônoma: _________________________________________________________________ Imutabilidade: _______________________________________________________________________ Eternidade: _________________________________________________________________________ Sabedoria: __________________________________________________________________________ Veracidade: _________________________________________________________________________ Bondade: ___________________________________________________________________________ Santidade:___________________________________________________________________________ Justiça: _____________________________________________________________________________ Vontade: ___________________________________________________________________________ Soberania: __________________________________________________________________________

h. A divindade de Jesus: _______________________________________________________________ i. A divindade do Espírito Santo: _________________________________________________________ j. Predestinação: _____________________________________________________________________