Síntese e caracterização do complexo ternário B-ciclodextrina

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ JÉSSICA LAIS GOMES HIROTA DA SILVA SÍNTESE E CARACTERIZAÇÃO DO COMPLEXO TERNÁRIO β-CICLODEXTRINA: COLECALCIFEROL:ÍONS METÁLICOS CURITIBA 2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

JÉSSICA LAIS GOMES HIROTA DA SILVA

SÍNTESE E CARACTERIZAÇÃO DO COMPLEXO TERNÁRIO β-CICLODEXTRINA: COLECALCIFEROL:ÍONS METÁLICOS

CURITIBA

2014

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JÉSSICA LAIS GOMES HIROTA DA SILVA

SÍNTESE E CARACTERIZAÇÃO DO COMPLEXO TERNÁRIO

β-CICLODEXTRINA: COLECALCIFEROL: ÍONS METÁLICOS

Dissertação de Mestrado apresentada como requisito parcial

à obtenção do grau de Mestre. Área de concentração:

Engenharia e Ciência dos Materiais, Programa de Pós-

Graduação em Engenharia e Ciências dos Materiais – PIPE.

Setor de Tecnologia, Universidade Federal do Paraná.

Orientadora: Profa. Dra. Ana Lucia Ramalho Mercê

CURITIBA

2014

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Silva, Jéssica Lais Gomes Hirota da Síntese e caracterização do complexo ternário β-Ciclodextrina: colecalciferol: íons metálicos / Jéssica Lais Gomes Hirota da Silva . – Curitiba, 2014. 77 f. : il.; tabs., grafs. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal do Paraná, Setor de Tecnologia, Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Ciência dos Materiais - PIPE. Orientadora: Ana Lucia Ramalho Mercê Bibliografia: p. 64-70

1. Ciclodextrina. 2. Vitamina D. 3. Ìons metálicos. I. Mercê, Ana Lucia Ramalho. II. Título. CDD: 547.78

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AGRADECIMENTOS

Agradeço especialmente: A minha orientadora e amiga, professora Dra. Ana Lucia Ramalho Mercê, sem ela este trabalho não teria sido realizado. Ao meu marido, companheiro, amigo, eterno namorado Cristiano Zanlorenzi que além de ter mudado o rumo da minha vida foi fundamental em todas as etapas deste trabalho. À minha família pelo apoio incondicional, especialmente ao meu pai Sérgio e minha mãe Edilza, ao meu ―paidastro‖ Marcos e minha ―mãedastra‖ Daniela, obrigada por sempre me incentivar e me apoiar, fundamental na decisão de iniciar um mestrado. Ao prof. Dr. Miguel Noseda e sua aluna Ester Mazepa, que nos deram a oportunidade de sua colaboração, para realizar as análises de Ressonância Magnética Nuclear. As minhas amigas Ana Cristina Trindade Cursino e Franciele Wolfart, pela grande ajuda na parte experimental deste trabalho e também pelas conversas e cafés. Aos professores Dr. Fernando Wypych e Dr. Carlos Yamamoto, pela disponibilidade de tempo e paciência. Muito obrigada! Aos meus colegas de laboratório, Thieme e Edgar, que de alguma forma contribuíram muito na minha vida profissional e pessoal. Enfim, agradeço a todos que estiveram comigo neste mestrado e também participaram para que este trabalho fosse concluído.

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―Nossa maior fraqueza está em desistir. A maneira mais segura de ter sucesso é sempre tentar mais uma vez.‖

(Thomas Edison)

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RESUMO

Estruturas supramoleculares binárias ou ternárias possuem diversas

finalidades, mais especificamente na área farmacêutica e da saúde. Quando os

compostos orgânicos, como compostos farmacêuticos, são encapsulados em

ciclodextrinas, eles podem exibir novas propriedades como aumento de solubilidade,

retenção e diminuição de reatividade de produtos tóxicos, fixação de substâncias

voláteis, entre outros. A encapsulação com CDs fornece às vitaminas lipossolúveis

(A, D, E, e K) um meio adequado para preservar suas propriedades durante o

armazenamento, mantendo sua eficiência biológica e limitando sua exposição a

altas temperaturas, luz ou oxigênio. A vitamina D (VD3) é menos ingerida ou

produzida no organismo humano. Sua principal função é regular a homeostase dos

íons Ca(II), Mg(II) e Zn(II), contudo, metais tóxicos como o Cd(II) e Ni(II) em excesso

no organismo podem agir como competidores por sítios em proteínas, interferindo na

ação de vitamina. A pesquisa é focada nas interações entre β-ciclodextrina com

colecalciferol (vitamina D3) e íons metálicos para que, inicialmente, se compreenda

como se dá a formação dos complexos. Para o desenvolvimento do trabalho os

complexos foram caracterizados por meio de técnicas como titulação

potenciométrica, RMN 13C e 1H, difração de raio X de pó (DRX) e espectroscopia na

região do infravermelho por transformada de Fourier (IVTF). Por meio da titulação,

obteve-se um valor de log β = 20,43 para o composto binário de β-ciclodextrina

(BCD) com a vitamina D3 (VD3). Os estudos de DRX apresentaram dois tipos

diferentes de estruturas, a formação de uma estrutura amorfa para o composto

binário de BCD:VD3 e a formação de estrutura gaiola para os complexos binários

(ΒCD:Cd (II) e ΒCD:Ni (II)) e ternários (ΒCD:VD3:Cd (II) e ΒCD:VD3:Ni (II)). Por meio

da técnica de IVTF, pode-se perceber as possíveis interações da BCD com a VD3 e

os íons metálicos. Com os deslocamentos químicos dos átomos de carbono e

hidrogênio calculados por meio da técnica de RMN, foi possível compreender o

ambiente químico desses átomos e elaborar propostas de estruturas para todos os

complexos.

Palavras-chave: β-ciclodextrina, vitamina D3, colecalciferol, compostos de inclusão,

constante de estabilidade, níquel, cádmio.

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ABSTRACT

Binary and ternary supramolecular structures have different purposes, more

specifically in the pharmaceutical and health area. When organic compounds such as

pharmaceuticals, are encapsulated in cyclodextrins, they can exhibit new properties

such as increased solubility, decreased and reactivity retention of toxic products,

fixation of volatile substances, among others. Encapsulation provides CDs with the

liposoluble vitamins (A, D, E, and K) an adequate to preserve its properties during

storage, maintaining their biological efficiency and limiting their exposure to high

temperatures, light or oxygen. Vitamin D (VD3) is less consumed or produced in the

human body. Its main function is to regulate the homeostasis of Ca(II), Mg(II) and

Zn(II), however, toxic metals such as Cd(II) and Ni(II) in excess in the organism can

act as competitors of sites in proteins, interfering with the action of vitamin. The

research is focused on the interactions between β-cyclodextrin with cholecalciferol

(vitamin D3) and metal to understand how it gives the formation of complex ions. For

the development of the work the complexes were characterized by techniques such

as potentiometric titration, 1H and 13C NMR, X-ray diffraction powder (XRD) and

infrared spectroscopy Fourier transform (FTIR). Through titration gave a value of log

β = 20.43 to the binary compound of β-cyclodextrin (BCD) and vitamin D3 (VD3). XRD

studies have presented two different types of structures, the formation of an

amorphous structure to a binary compound of BCD: VD3 and the formation of the

cage structure to the binary complexes (ΒCD Cd (II) and ΒCD: Ni (II)) and ternary

(ΒCD: VD3 Cd (II) and ΒCD: VD3: Ni (II)). By FTIR technique, one can see the

possible interactions of the BCD with VD3 and metal ions. With the chemical shifts of

carbon atoms and hydrogen calculated by the NMR technique, it was possible to

understand the chemical environment of these atoms and elaborate structures

proposed for all complexes.

Keywords: β-cyclodextrin, vitamin D3, cholecalciferol, inclusion compounds, stability

constant, nickel, cadmium.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Sistema complexo de inclusão. FONTE: SALIPIRA, 2006. ....................... 15

Figura 2 - estrutura tridimensional de (a) α-CD, (b) β-CD e (c) γ-CD mostrando as

suas dimensões aproximadas. Fonte: VENTURINI, 2008. ....................................... 16

Figura 3 - Numeração dos átomos de carbono e hidrogênio da ΒCD. Fonte:

modificado pelo autor . .............................................................................................. 17

Figura 4 - Esquema da formação da VD3. ................................................................. 20

Figura 5 - Esquema da titulação ................................................................................ 23

Figura 6 - Curva de titulação experimental da BCD livre e do composto binário

ΒCD:VD3 (BCDVITH). ............................................................................................... 36

Figura 7 - Distribuição das espécies para a ΒCD em função do pH e da % de

formação. .................................................................................................................. 37

Figura 8 - Distribuição das espécies para o composto binário ΒCD:VD3 (BCDVIT) e

da % de formação. .................................................................................................... 37

Figura 9 - Curva experimental (losangos) e curva do modelo teórico (linha contínua)

para a ΒCD. ............................................................................................................... 38

Figura 10 - Curva experimental (losangos) e curva do modelo teórico (linha contínua)

para o composto binário ΒCD:VD3. ........................................................................... 39

Figura 11 - Difratograma da ΒCD pura, MF e ΒCD:VD3 ............................................ 40

Figura 12 – Difratograma da ΒCD e dos complexos binários e ternários de Cd(II) nas

proporções 5:1 e 10:1. .............................................................................................. 42

Figura 13 - Difratograma da ΒCD e dos complexos binários e ternários de Ni (II) nas

proporções 5:1 e 10:1. .............................................................................................. 43

Figura 14 - Espectro teórico de IVTF da ΒCD e VD3 ................................................. 44

Figura 15 - Espectro de IVTF da ΒCD e do composto binário ΒCD:VD3 ................... 46

Figura 16 - Espectro (i) de IVTF dos complexos de Cd (II) ....................................... 48

Figura 17 - Espectro (ii) de IVTF dos complexos de Cd (II) ...................................... 48

Figura 18 – Espectro (i) de IVTF dos complexos de Ni (II) ........................................ 49

Figura 19 - Espectro (II) de IVTF dos complexos de Ni (II) ....................................... 49

Figura 20 – Espectro de RMN de 13C: (a) BCD; (b) MF; (c) BCD:VD3; (d) VD3 . ...... 50

Figura 21- Espectro de RMN de 13C da ΒCD e ΒCD:VD3 em ppm. .......................... 52

Figura 22 – Espectro de RMN 1H da BCD livre. Fonte: SCHNEIDER (1998)............ 52

Figura 23 – Espectro de RMN 1H da vitamina D3 livre. Fonte: WISHART, 2013 88. . 53

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Figura 24 - Espectro de RMN 1H da MF (acima) e BCD:VD3 (abaixo). ..................... 54

Figura 25 - Proposta de estrutura do composto binário BCD:VD3 ............................. 55

Figura 26 - Espectro de RMN 1H do complexo BCD:Cd na proporção 10:1 (acima) e

da proporção 5:1 (abaixo). ........................................................................................ 56

Figura 27 - Espectro de RMN 1H do complexo BCD:Ni na proporção 5:1 (acima) e da

proporção 10:1 (abaixo). ........................................................................................... 58

Figura 28 - Proposta de estrutura dos complexos binários BCD:Cd (II) e BCD:Ni (II).

.................................................................................................................................. 58

Figura 29 - Espectros de RMN 1H dos complexos ternário com cádmio, na proporção

10:1:1 (acima) e proporção 5:1:1 (meio) com a BCD:VD3 (abaixo) ........................... 60

Figura 30 - Espectros de RMN 1H dos complexos ternário com níquel, na proporção

5:1:1 (acima) e proporção 10:1:1 (meio) com a BCD:VD3 (abaixo) .......................... 61

Figura 31 - Proposta de estrutura dos complexos ternários. ..................................... 62

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Características das CDs naturais. ............................................................. 17

Tabela 2 - Complexo Fármaco:ΒCD comerciais.,, ..................................................... 18

Tabela 3 – Proporções utilizadas no trabalho ........................................................... 31

Tabela 4: Estruturas binárias e ternárias de ΒCD com VD3 e íon metálico (Cd(II) e

Ni(II)) nas proporções 5:1 e 10:1 ............................................................................... 32

Tabela 5: Logaritmos das constantes de protonação da ΒCD e da ΒCD:VD3 ........... 35

Tabela 6 - Bandas características das CDs no espectro de IVTF. ............................ 45

Tabela 7: Relação dos deslocamentos químicos dos átomos de C da BCD e

BCD:VD3 em ppm. .................................................................................................... 51

Tabela 8: Relação dos deslocamentos químicos dos átomos de H da BCD e

BCD:VD3 em ppm ...................................................................................................... 53

Tabela 9: Relação dos deslocamentos químicos dos átomos de C e H da ΒCD,

ΒCD:Cd(II) e BCD:Ni(II)............................................................................................. 57

Tabela 10: Relação dos deslocamentos químicos dos átomos de C e H dos

complexos ternários com Cd(II) e Ni(II). .................................................................... 59

Tabela 11 - Relação das variações dos deslocamentos químicos entre os compostos

ternários e binários. ................................................................................................... 60

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LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS

Δδ Variação do deslocamento químico

δ Deslocamento químico ou deformação da molécula

δL Deslocamento químico da molécula livre

δC Deslocamento químico da molécula complexada

ν Estiramento

CD/CDs Ciclodextrina/ Ciclodextrinas.

DRX Difratometria de raios-X

H Representação para o próton H+.

IARC International Agency for Research on Cancer.

IVTF Espectroscopia na região do infravermelho por transformada de

Fourier.

LEQ Laboratório de Equilíbrio Químico.

Log K Logaritmo da constante de estabilidade passo a passo.

Log β Logaritmo da constante de estabilidade global dos complexos ou

constantes de protonação dos ligantes.

M Íon metálico.

LM Espécie ligante-metal.

UV-Vis Espectroscopia na região do ultravioleta-visível.

Vit Vitamina

VD3 Vitamina D3 ou Colecalciferol.

RMN 13C Ressonância magnética nuclear de carbono.

RMN 1H Ressonância magnética nuclear de hidrogênio.

ΒCD β–ciclodextrina.

ΒCD:Cd(II) Composto binário de β-ciclodextrina com cádmio.

ΒCD:Ni(II) Composto binário de β-ciclodextrina com níquel.

ΒCD:VD3 Composto binário de β-ciclodextrina com vitamina D3.

ΒCD:VD3:Cd(II) Composto ternário de β-ciclodextrina e vitamina D3 com cádmio.

ΒCD:VD3:Ni(II) Composto ternário de β-ciclodextrina e vitamina D3 com níquel.

BCD:VD3:M (II) Composto ternário de β-ciclodextrina e vitamina D3 com um íon

metálico.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 12

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................... 14

2.1 QUÍMICA SUPRAMOLECULAR E O FENÔMENO DA INCLUSÃO

MOLECULAR ......................................................................................................... 14

2.2 CICLODEXTRINAS ...................................................................................... 15

2.2.1 Histórico e estrutura das ciclodextrinas. ................................................ 15

2.3 VITAMINA D3 - COLECALCIFEROL ............................................................ 18

2.4 ÍONS METALICOS: Cd(II) E Ni(II) ................................................................ 20

2.5 CARACTERIZAÇÃO DOS COMPOSTOS DE INCLUSÃO .......................... 22

2.5.1 Titulação potenciométrica ...................................................................... 22

2.5.2 Difratometria de raio-X (DRX) ................................................................ 26

2.5.3 Espectroscopia na região do infravermelho por transformada de Fourier

(IVTF).... .............................................................................................................. 26

2.5.4 Ressonância magnética nuclear de carbono e hidrogênio (RMN 13C e 1H)......... .............................................................................................................. 27

3 OBJETIVOS ........................................................................................................ 29

3.1 OBJETIVO GERAL ...................................................................................... 29

3.2 OBJETIVO ESPECÍFICO ............................................................................. 29

4 MATERIAIS E MÉTODOS .................................................................................. 30

4.1 MATERIAIS .................................................................................................. 30

4.2 METODOLOGIA .......................................................................................... 30

4.2.1 Síntese dos compostos de inclusão ...................................................... 30

4.2.2 Caracterização dos complexos de inclusão ........................................... 32

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO .......................................................................... 35

5.1 TITULAÇÃO POTENCIOMÉTRICA ............................................................. 35

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10

5.1.1 Constantes de protonação ..................................................................... 35

5.1.2 Curva experimental e curva da simulação do modelo teórico ............... 38

5.2 DIFRATOMETRIA DE RAIO-X (DRX) .......................................................... 39

5.2.1 Difratograma de raios-X do composto binário ΒCD:VD3 ........................ 39

5.2.2 Difratograma de raios-X dos complexos binários e ternários do cádmio e

níquel..... ............................................................................................................. 41

5.3 ESPECTROSCOPIA NA REGIÃO DO INFRAVERMELHO ......................... 44

5.3.1 Espectros de IVTF do composto binário ΒCD:VD3 ................................ 44

5.3.2 Espectros de IVTF dos complexos binários e ternários do cádmio e

níquel.... .............................................................................................................. 47

5.4 RESSONÂNCIA MAGNÉTICA NUCLEAR DE CARBONO E DE

HIDROGÊNIO (RMN 13C E RMN 1H) ..................................................................... 50

5.4.1 Caracterização por RMN de 13C e 1H do composto binário BCD:VD3. .. 50

5.4.2 Caracterização por RMN de 13C e 1H dos complexos binários BCD:Cd(II)

e BCD:Ni(II) ........................................................................................................ 56

5.4.3 Caracterização por RMN de 13C e 1H dos compostos ternários

ΒCD:VD3:Cd(II) e ΒCD:VD3:Ni(II) ....................................................................... 59

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 63

7 REFERÊNCIAS .................................................................................................. 64

8 APÊNDICE..........................................................................................................71

9 ANEXO................................................................................................................74

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1 INTRODUÇÃO

A procura por novos excipientes e tecnologias, tem levado a indústria

farmacêutica e a comunidade científica à pesquisa por novas formulações que

resultem em compostos mais estáveis que melhorem os tratamentos. Neste

contexto, as ciclodextrinas na forma de complexos de inclusão têm sido um dos

principais compostos empregados dentro da área farmacêutica nestes últimos anos1.

A principal característica das ciclodextrinas é a sua estrutura espacial com

formato de cone, que devido ao grande número de hidroxilas, leva a um caráter

hidrofílico em sua parte externa e hidrofóbico na cavidade interna. Tal propriedade

permite a formação de complexos de inclusão com inúmeras moléculas, e aliada à

sua baixa toxicidade, possibilita a formulação de fármacos com maior

biodisponibilidade de princípios ativos insolúveis. O resultado disso impacta

fortemente na indústria farmacêutica, uma vez que se pode traduzir como redução

do custo de fármacos, passando a envolver uma quantidade menor de princípio ativo

em função da maior eficiência de ação das drogas. Isso representa também melhora

na qualidade de vida dos usuários de alguns desses medicamentos, através de

tratamentos menos agressivos2 e com novas possibilidades de aplicação na terapia

gênica ou no combate ao vírus HIV 3,4.

Diversas aplicações em termos de modificações das características físico-

químicas intrínsecas das moléculas ―hóspedes‖ podem ser encontradas na literatura

no que se refere à solubilidade5, estabilidade6, biodisponibilidade7, proteção contra a

oxidação, redução, racemização, isomerização, polimerização, hidrólise e/ou

decomposição do princípio ativo, assim como conversão de substâncias líquidas em

microcristalinas, redução das irritações gastrointestinais ou oculares e outros efeitos

secundários, além da prevenção a uma decomposição enzimática [8-27].

A encapsulação com as ciclodextrinas (CDs) fornece às vitaminas lipossolúveis

(A, D, E, e K) um meio adequado para preservar suas propriedades durante o

armazenamento, mantendo sua eficiência biológica e limitando sua exposição a

altas temperaturas, luz ou oxigênio. A sua utilização (oral, sistêmica, tópica,

transdérmica e local) requer diferentes tamanhos de partículas e perfis de liberação,

e a encapsulação dessas vitaminas pode levar a uma maior eficiência, permitindo

doses menores, para assim, diminuir potencialmente o aparecimento da síndrome

de hipervitaminose e efeitos colaterais. Por possuírem baixa solubilidade em água e

Page 16: Síntese e caracterização do complexo ternário B-ciclodextrina

13

em meios biológicos, alguns estudos correlacionam as vitaminas com a

ciclodextrina9,10, objetivando a síntese de compostos binários. Contudo, existem

poucos estudos dessa área usando a vitamina D (em especial a D3) como hóspede

em um composto de inclusão.

Entre as vitaminas citadas, a vitamina D (VD3) é menos ingerida ou produzida no

organismo humano. Sua carência leva a uma redução da absorção intestinal do

cálcio, gerando hipocalcemia, podendo desenvolver o raquitismo e aumentar o risco

de osteoporose. Pelo fato das suas manifestações clínicas surgirem apenas em fase

tardia, a carência da vitamina D é um problema existente, entretanto é pouco

identificado.

Pesquisas relacionadas à inclusão de complexos de VD3 não levam em conta

uma terceira espécie como íon metálico 11. Há na literatura trabalhos que

contemplam a inclusão de metais derivados em CD, porém sem qualquer molécula

orgânica 12,13,14,15.

Os metais pesados são elementos químicos altamente reativos e bio-

acumulativos, ou seja, acumulam-se com o tempo no organismo que é incapaz de

eliminá-los. Muitos metais são essenciais para o crescimento de todos os tipos de

organismos, desde as bactérias até mesmo o ser humano, mas eles são requeridos

em baixas concentrações caso contrários, podem prejudicar sistemas biológicos16.

Os metais selecionados para o estudo foram o cádmio (metal tóxico) e o níquel

(metal essencial, mas tóxico dependendo da quantidade) pelo fato deles fazerem

parte da homeostase (condição de relativa estabilidade da qual o organismo

necessita para realizar suas funções adequadamente para o equilíbrio do corpo) do

cálcio, zinco e magnésio, agindo como competidores por sítios de ligações de

proteínas e também interferindo na ação de vitamina, causando efeitos a médio e

longo prazo no organismo.

O presente trabalho, portanto, vem contribuir com o estudo dos compostos de

inclusão de Vitamina D3 (Colecalciferol) e íons metálicos (cádmio e níquel) em

ciclodextrinas, sendo caracterizados pelas técnicas de ressonância magnética

nuclear de carbono e hidrogênio (RMN de 13C e 1H), difratometria de raios-X (DRX),

titulação potenciométrica e espectroscopia na região do infravermelho por

transformada de Fourier (IVTF).

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14

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 QUÍMICA SUPRAMOLECULAR E O FENÔMENO DA INCLUSÃO

MOLECULAR

A química supramolecular foi definida por um dos seus principais

impulsionadores, Jean-Marie Lehn, como a ―química das associações moleculares e

das ligações intermoleculares‖ 17, e visa o desenvolvimento de procedimentos

adequados para a preparação de moléculas mais sofisticadas a partir de átomos

ligados covalentemente. Seu principal objetivo é, portanto, o desenvolvimento de

sistemas químicos de elevada complexidade a partir de componentes que interagem

através de forças intermoleculares18, podendo ser do tipo eletrostáticas, ligações de

hidrogênio ou interações de van der Waals. Apesar da fraca intensidade destas

forças, o fato de se estabelecer um elevado número de interações num mesmo

sistema pode originar uma alteração drástica das propriedades dos constituintes da

associação molecular 19. A ciência em geral e a química em particular constituem matéria de grande

complexidade. Neste contexto, a química supramolecular, tal qual ela é definida,

cobre uma gama muito extensa e uma elevada diversidade de sistemas

moleculares. Dentre os vários sistemas incluídos neste domínio, destacam-se os

sistemas hóspede-hospedeiro, uma vez que este trabalho é baseado em compostos

baseados nesta formulação.

Diversos compostos podem formar sistemas supramoleculares através de

processos de inclusão molecular 20,21. A molécula a ser incluída, chamada

comumente de hóspede, deve possuir um volume adequado, bem como a molécula

que irá "hospedar" que por sua vez, também precisa possuir uma estrutura

molecular adequada para formar os denominados complexos de inclusão ou

compostos de inclusão 22,23, como ilustrado na Figura 1.

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15

Figura 1 - Sistema complexo de inclusão. FONTE: SALIPIRA, 2006.24

As CDs representam uma vasta família de compostos de origem natural com

propriedades únicas para a formação de compostos de inclusão. São capazes de

formar estruturas supramoleculares binárias ou ternárias que possuem diversas

finalidades, mais especificamente na área farmacêutica e da saúde. Quando os

compostos orgânicos, como compostos farmacêuticos, são encapsulados em

ciclodextrinas, eles podem exibir novas propriedades como aumento de solubilidade 25, retenção e diminuição de reatividade de produtos tóxicos, fixação de substâncias

voláteis, entre outros 26,27,28.

2.2 CICLODEXTRINAS

2.2.1 Histórico e estrutura das ciclodextrinas.

As ciclodextrinas foram descobertas por Viliers 29 em 1891, como produtos de

degradação de derivados de amido. Schardinger 30 em 1903 foi o responsável pela

primeira descrição detalhada da preparação e isolamento destes oligossacarídeos

cíclicos. Algumas décadas depois, a estrutura química das ciclodextrinas e sua

capacidade de formar compostos de inclusão foram reportadas por Freudenberg et al 31 em 1940. Ainda nessa época, um grupo liderado por French32 pesquisou

processos de obtenção de ciclodextrina pura. Nas décadas seguintes, Cramer e

seus colaboradores estudaram sistematicamente a formação de seus complexos de

inclusão e outras propriedades da ciclodextrina, como a sua ação catalítica e

aplicabilidade na modelagem da ação enzimática 33,34.

No final de 1960, eram conhecidos os métodos de produção de CDs em

escala laboratorial, bem como as principais características estruturais, propriedades

físico-químicas e a capacidade para formarem compostos de inclusão. Já nessa

altura, as CDs eram vistas como moléculas muito promissoras, particularmente para

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16

aplicações no ramo industrial. Em 1970, após estudos toxicológicos, concluiu-se que

as CDs não apresentaram um nível de toxicidade que impedisse a sua utilização em

produtos para consumo humano.

As CDs são oligossacarídeos cíclicos, compostas por unidades de D-

glicopiranose unidas por ligações glicosídicas do tipo α-1,4, sendo por isso, também

conhecidas como cicloamilases.35 Estas estruturas são obtidas a partir da

degradação enzimática do amido por ação da glicosil-transferase de origem

bacteriana. Uma consequência estrutural dessas ligações glicosídicas α (1-4) é a

formação de uma molécula num formato semicircular tipo cone truncado (Figura 2),

garantindo a ela uma cavidade com dimensões que dependem do número de

unidades glucose, com grupos hidroxil em suas unidades de α-glucose. Os

chamados grupos hidroxilas primários (grupos hidroximetila: – CH2OH) situam-se na

abertura mais estreita deste cone, enquanto os grupos hidroxilas secundários

situam-se na abertura mais larga. Uma característica importante destes grupos

hidroxilas e seu caráter hidrofílico é promover a solubilização das CDs em meio

aquoso. As CDs obtidas com maior rendimento são comumente conhecidas como

CDs naturais e contém seis, sete ou oito unidades de glicose, sendo denominadas

de α-ciclodextrina (aCD), β-ciclodextrina (ΒCD) e γ-ciclodextrina (γCD),

respectivamente 4.

Figura 2 - estrutura tridimensional de (a) α-CD, (b) β-CD e (c) γ-CD mostrando as suas dimensões aproximadas. Fonte: VENTURINI, 2008. 36

Page 20: Síntese e caracterização do complexo ternário B-ciclodextrina

17

Todas as unidades de glicose das CDs se apresentam na conformação de

cadeira o que resulta em posições muito específicas para o grupo hidroxila. Como

pode ser observado na Figura 3, as hidroxilas secundárias, (ligados aos átomos de

carbono 2 (C2) e carbono 3 (C3), estão viradas para o exterior da CD e as hidroxilas

primárias (átomo de carbono 6 (C6)) estão viradas para o interior da cavidade 37.

C4

C3

C2

C1

OC5

H4

H2

H3 O

H5

C6

OH

H1HO

H6

OH

n=7

Figura 3 - Numeração dos átomos de carbono e hidrogênio da ΒCD. Fonte: modificado pelo autor 38.

Tabela 1: Características das CDs naturais.39

aCD BCD γCD Número de unidades de glicose 6 7 8

Massa molecular (g/mol) 973 1135 1297

Diâmetro interno da cavidade (nm) 0,45-0,57 0,62-0,78 0,79-0,95

Diâmetro externo da cavidade (nm) 1,37 1,53 1,69

Altura da cavidade (nm) 7,9 7,9 7,9 Volume da cavidade (mL/moL) 174 262 472

Solubilidade em água (25 ºC) g/100 mL 14,5 1,85 23,2

pKa (25 ºC) 12,33 12,2 12,08

O alinhamento dos grupos hidroxila torna a CD mais ou menos solúvel em

água. Como pode ser visto na Tabela 1, na ΒCD, cada hidroxila secundária está

envolvida numa ligação de hidrogênio com a hidroxila seguinte, havendo menos

disponibilidade para formar pontes de hidrogênio com a própria água, portanto, esta

é a menos solúvel das CDs. Comparado com as outras CDs, a ΒCD apresenta maior

rigidez, facilidade para obtenção de cristais e também maior abundância no

mercado. Na área farmacêutica, este excipiente funcional tem sido explorado

Page 21: Síntese e caracterização do complexo ternário B-ciclodextrina

18

principalmente no incremento da biodisponibilidade 20, solubilidade 1,6, estabilidade

de medicamentos e na redução de seus efeitos colaterais. Alguns fármacos com

solubilidades aquosas bastante reduzidas demonstram maior capacidade de

melhora da solubilidade, por exemplo, o taxol, apresenta um incremento na sua

solubilidade aquosa de até 100.000 vezes quando encapsulados com derivados

metilados de ΒCD 1.Também se pode destacar sua utilização para mascarar odores

e sabores desagradáveis de certos fármacos, para reduzir ou eliminar irritações

oculares ou gastrointestinais, na prevenção de interações e incompatibilidades e na

conversão de fármacos líquidos em produtos sólidos.

Essas características aliada ao fato de ser a CD mais usada para inclusão de

fármacos (alguns exemplos são apresentados na Tabela 2), fez da ΒCD a

hospedeira utilizada neste trabalho.

Tabela 2 - Complexo Fármaco:ΒCD comerciais.1,40,81

Complexo Nome Comercial

Indicação Administração Companhia/País

PGE2/ ΒCD Prostarmon E Inibidor de parto Cápsula sublingual

Ono (Japão)

Piroxicam/ ΒCD Cicladol/ Brexin

Anti-inflamatório/Analgésico

Tablete ou sache

Masterpharma/Chiesi (Itália)

Iodo/ ΒCD Mena-Gargle Infecção na garganta Gargarejo Kyushin (Japão) Dexametasona, Glyteer/ ΒCD

Glymesason Anti-inflamatório/Analgésico

Pomada Fujinaga (Japão)

Cloranfenicol/ ΒCD metilada

Clorocil Antibiótico Colírio Oftalder (Portugal)

Piroxicam/ ΒCD Flogene Anti-inflamatório/Analgésico

Líquido Aché (Brasil)

Nicotina/ ΒCD Nicorette Dependência em Nicotina Tablete sublingual

Pharmacia Upjohn (Suécia)

Omeprazol/ ΒCD Omebeta Antiulceroso Tablete Betapharm (Alemanha)

2.3 VITAMINA D3 - COLECALCIFEROL

Vitaminas são compostos orgânicos, que não podem ser sintetizados pelo

organismo e são encontradas em pequenas quantidades na maioria dos alimentos.

São substâncias extremamente frágeis, perdem sua ação biológica na presença de

calor, ácidos, luz e certos metais. Suas principais propriedades envolvem dois

mecanismos importantes: o de coenzima (substância necessária para o

Page 22: Síntese e caracterização do complexo ternário B-ciclodextrina

19

funcionamento de certas enzimas que catalisam reações no organismo) e o de

antioxidante (substâncias que neutralizam radicais livres) 41.

A vitamina D é um hormônio esteroidal, que interage com ossos, glândulas

paratireóides, rins e intestinos, cuja principal função consiste na regulação da

homeostase do cálcio, formação e reabsorção óssea. Devido ao papel dessa

vitamina no metabolismo do cálcio, ela tem sido utilizada na prevenção e tratamento

da osteoporose e osteomalácia 16.

É possível adquirir tal vitamina por meio da alimentação, sendo que o

ergocalciferol (vitamina D2) a partir de fontes vegetais, e, o colecalciferol (ou VD3) a

partir de fontes animais como peixes, óleos de peixe e gema de ovo. Portanto, é

importante possuir uma alimentação balanceada a fim de adquirir as quantidades

necessárias diárias dessas vitaminas que é de 400 a 600 IU (10 a 15µg) por dia,

dependendo da faixa etária 42.

Além do seu papel na homeostase do cálcio, vários estudos relatam que a

forma ativa da vitamina D apresenta atividade biológica e efeitos mais complexos em

relação ao organismo, que contribuem para prevenção, tratamento e aumento da

imunidade contra algumas doenças, principalmente as autoimunes 43. A sua

carência, por outro lado, gera doenças como o raquitismo e a osteoporose. Contudo,

evidências recentes correlacionam níveis insuficientes de VD3 com um risco

aumentado de desenvolvimento de outras patologias não ósseas: doenças

cardiovasculares, hipertensão, neoplasias, diabetes, esclerose múltipla, demência,

artrite reumatóide, doenças infecciosas 42.

Como demonstrado na Figura 4 a formação da VD3 no organismo ocorre

através da exposição à luz utravioleta (UV) ou luz solar sobre o 7-deidrocolesterol

(que resulta do colesterol) presente na pele, gerando a pró-VD3 que, por abertura do

anel B na ligação C9-C10 e ao sofrer uma isomerização, origina a VD3. A VD3 não é

biologicamente ativa, mas enzimas do fígado e dos rins convertem-na em 1,25-

diidroxicolecalciferol, hormônio que regula a absorção do cálcio no intestino e o seu

nível nos rins e ossos44.

Page 23: Síntese e caracterização do complexo ternário B-ciclodextrina

20

Figura 4 - Esquema da formação da VD3.

2.4 ÍONS METALICOS: Cd(II) E Ni(II)

Os metais desempenham funções importantes no metabolismo dos seres vivos.

Suas propriedades demonstram-se fundamentais na manutenção da estrutura

tridimensional de biomoléculas essenciais ao metabolismo celular. No entanto,

enquanto alguns metais são necessários em quantidades mínimas para os seres

vivos, outros não apresentam função biológica relevante, podendo causar danos ao

metabolismo 45.

A toxicologia é a ciência que estuda os efeitos nocivos das interações das

substâncias com os seres vivos 46. Com o estudo da toxicologia, constatou-se que

cada metal pode vir a apresentar um efeito toxicológico específico sobre

determinado ser vivo. Além disso, outros fatores, como biodisponibilidade e espécie

química, influenciam na toxidade de um elemento químico 45.

Os efeitos tóxicos dos metais sempre foram considerados como eventos de

curto prazo, agudos e evidentes, como anúria e diarréia sanguinolenta, decorrentes

da ingestão de mercúrio. Geralmente esses efeitos são difíceis de serem

distinguidos e perdem em especificidade, pois podem ser provocados por outras

substâncias tóxicas ou por interações entre esses agentes químicos. A manifestação

dos efeitos tóxicos está associada à dose e pode distribuir-se por todo o organismo,

Page 24: Síntese e caracterização do complexo ternário B-ciclodextrina

21

afetando vários órgãos, alterando os processos bioquímicos, organelas e

membranas celulares47.

O cádmio é um metal pesado que não possui função biológica sendo altamente

tóxico a plantas e animais, é um elemento de vida biológica longa (10 a 30 anos) e

de lenta excreção pelo organismo humano. Industrialmente é utilizado em

galvanoplastia, fabricação de ligas, baterias de Ni-Cd, tubos de TV, pigmentos,

esmaltes e tinturas têxteis, fotografia, lasers, entre outros. Na agricultura, a fonte de

contaminação são os fertilizantes fosfatados, os quais interferem no pH do solo,

aumentando sua disponibilidade 48 e, consequentemente, a concentração do metal

nos produtos agrícolas. A toxicidade deste metal pode ser resultado da sua

habilidade de formar complexos, gerando um aumento do processo oxidativo, além

de competir com zinco por sítios de ligação em proteínas e se liga de forma

inespecífica ao DNA, causando quebras simples de cadeia 49.

De acordo com a Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC), o

cádmio e seus compostos são considerados cancerígenos para o ser humano

(Grupo 1), com base em evidências de tumores pulmonares em trabalhadores e

animais expostos por via aérea 50.

O níquel, por outro lado, tem funções biológicas no organismo e sua deficiência

leva a alterações, por exemplo, no desenvolvimento do fígado, no crescimento, no

comportamento/humor das pessoas, à redução da absorção de Ferro a nível

intestinal como de outros minerais, como zinco e o cobre, além de alterar o

metabolismo dos aminoácidos e dos carboidratos. Está, igualmente, envolvido na

fixação do CO2 ao propionil-CoA para formar D-metilmamalonil-CoA. Todos estes

fatos revelam que o Ni(II) é importante para o bom funcionamento do organismo,

contudo, continua não haver muita informação sobre os verdadeiros efeitos

benéficos deste, quer no homem como em outros organismos.

Esse metal também é um agente sensibilizante causando dermatites de contato

nas pessoas mais sensíveis, podem ser carcinogênicos em concentrações muito

altas e também podem surgir problemas de fertilidade e no desenvolvimento do feto

(más formações a nível ocular, quistos pulmonares, hidronefroses e deformações

nos ossos). A exposição iatrogênica desse metal resulta de implantes e próteses

feitos a partir de ligas com níquel, de fluidos intravenosos ou de diálise (100μg por

tratamento) e das radiografias de contraste 51.

Page 25: Síntese e caracterização do complexo ternário B-ciclodextrina

22

A Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC) classifica o níquel

metálico e ligas como possíveis cancerígenos para o ser humano (Grupo 2B) e os

compostos de níquel como cancerígenos (Grupo 1) 52.

2.5 CARACTERIZAÇÃO DOS COMPOSTOS DE INCLUSÃO

Para avaliar a formação de complexos de inclusão com as ciclodextrinas

utilizou-se um conjunto de técnicas que evidenciam esta complexação tanto em

meio liquido como no estado sólido. As técnicas utilizadas foram a análise térmica,

espectroscopia no infravermelho, difração de raios-X, ressonância magnética

nuclear de 13C e titulação potenciométrica.

2.5.1 Titulação potenciométrica

A técnica de titulação é geralmente acompanhada de bruscas variações de

concentração das substâncias iônicas envolvidas, que ocorrem em torno do ponto

de equivalência. Neste sentido, a técnica de titulação potenciométrica consiste em

seguir a variação da concentração de certa espécie iônica com o auxílio de um

eletrodo indicador adequado, enquanto é adicionada uma solução titulante, sendo o

ponto final acusado pela variação brusca de potencial da célula galvânica na qual o

eletrodo está submerso. Dessa maneira, o equipamento necessário para a

realização da titulação potenciométrica é formado por um eletrodo indicador e um

eletrodo de referência, submerso em uma solução apropriada. Não requer medidas

absolutas de força eletromotriz (f.e.m.), bastando uma medida relativa no curso da

titulação, sendo necessário apenas que o potencial do eletrodo de referência se

mantenha constante, possibilitando uma considerável simplificação do equipamento

necessário à titulação (Figura 5).

Page 26: Síntese e caracterização do complexo ternário B-ciclodextrina

23

Figura 5 - Esquema da titulação

Por ser bastante sensível, essa técnica pode ser facilmente utilizada em

soluções relativamente diluídas. No caso de soluções coradas ou turvas, que

geralmente impossibilitam o uso da técnica visual, a potenciometria não apresenta

maiores dificuldades. Também pode ser usada em reações sem indicadores

apropriados, bem como para determinar sucessivamente vários componentes e em

meios não aquosos, dependendo dos eletrodos utilizados, além de ser facilmente

adaptável a instrumentos automáticos 55.

A titulação potenciométrica é uma importante ferramenta para estudar soluções

de bases de Lewis, ligantes potenciais (dentre eles alguns polissacarídeos, pois

permite a obtenção das constantes de protonação dos ligantes), ácidos de Lewis

(íons metálicos), e a partir destes e de outros dados, é possível determinar as

constantes de formação dos complexos ligante-metal e a distribuição das espécies

em função de diferentes valores de pH utilizando-se programas de computador

adequados.

Os resultados obtidos das titulações potenciométricas podem ser

representados graficamente, no qual se relacionam a variação de pH com o número

de milimoles de KOH dividido pelo número de milimoles do ligante que é

representado pela letra a.

𝑎 =𝑚𝑚𝑜𝑙 𝑑𝑒 𝐾𝑂𝐻 𝑎𝑑𝑖𝑐𝑖𝑜𝑛𝑎𝑑𝑜

𝑚𝑚𝑜𝑙 𝑑𝑒 𝑙𝑖𝑔𝑎𝑛𝑡𝑒 (1)

Page 27: Síntese e caracterização do complexo ternário B-ciclodextrina

24

No presente trabalho foi utilizada a titulação potenciométrica de neutralização,

caracterizada pela adição de base a uma solução ácida. Devido à necessidade de

adição de ácido forte antes do início de todas as titulações, a quantidade de KOH

consumida pelo ácido forte deve ser subtraída do total de base utilizada, nas curvas

a região a<0 representa o consumo do ácido inorgânico pela base. A obtenção

desses parâmetros auxilia a verificação da ocorrência e a estabilidade dos

complexos sintetizados neste estudo, na qual a titulação é realizada acompanhando

a variação do pH com adição do hóspede a uma solução de BCD, ou, com adição de

acido ou base a uma solução contendo o complexo ciclodextrina-vitamina.

O parâmetro para caracterizar os complexos metálicos é a constante de

estabilidade. A coleta de dados para o cálculo das constantes de estabilidade pode

ser realizada por titulação potenciométrica 53 e também por espectroscopia UV- Vis e

RMN 54.

2.5.1.1 Constante de estabilidade global

A constante de estabilidade global é representada pelo símbolo β, denominada

como a constante de equilíbrio para a formação de complexos a partir dos

reagentes, podendo ser expressa como um produto das constantes passo a passo

(k). Cada constante de estabilidade pode ser definida por uma equação de equilíbrio,

conforme equações a seguir 55:

𝑀 + 𝐿 ⇄ 𝑀𝐿 𝑘1 =[𝑀𝐿]

𝑀 [𝐿] (2)

𝑀𝐿 + 𝐿 ⇄ 𝑀𝐿2 𝑘2 = 𝑀𝐿2

𝑀𝐿 [𝐿] (3)

𝑀 + 2𝐿 ⇄ 𝑀𝐿2 𝛽2 = 𝑘1. 𝑘2 (4)

𝑙𝑜𝑔 𝛽2 = 𝑙𝑜𝑔𝑘1 + 𝑙𝑜𝑔𝑘2 (5)

Page 28: Síntese e caracterização do complexo ternário B-ciclodextrina

25

Essa constante k é a medida da estabilidade termodinâmica dos complexos e

a relação dos parâmetros termodinâmicos e k pode ser expressa pelas equações (5)

e (6) que se relacionam pela equação (7) 54.

𝛥𝐺 = −𝑅𝑇 𝑙𝑛𝑘 (6)

𝛥𝐺 = 𝛥𝐻 − 𝑇𝛥𝑆 (7)

ln 𝑘 = −𝛥𝐻𝑅 .

1𝑇 +

𝛥𝑆𝑅 (8)

As constantes de estabilidade são importantes para compreender o equilíbrio

em solução e fundamentais para o trabalho em química industrial, estudos

ambientais, química medicinal, analítica e oceanografia 56.

As medições potenciométricas são muito usadas para entender os

complexos de inclusão de produtos farmacêuticos inclusos em CDs57,58,59,60.

Diversos trabalhos que utilizam a titulação potenciométrica como caracterização de

compostos supramoleculares como a ΒCD61, phenothiazina62 e galactana 53. Para a

VD3, as constantes de estabilidade dos compostos formados entre a VD3 e Mn (II),

Fe (II), Fe (III) e Zn (II) foram publicadas por MERCE et al. 64 e apresentaram a

seguinte ordem de estabilidade para a espécie ligante-metal (LM): Fe (III)>Fe (II)

≥Zn (II)>Mn (II). Outras constantes de VD3 com Al (III), Cd (II), Gd (III) e Pb (II)

também foram publicadas pelos mesmos autores e apresentaram a seguinte ordem

de estabilidade para a espécie LM: Al (II)>Gd (III)>Pb (II)>Cd (II) 65.

As constantes de estabilidade de vários complexos binários de VD3 já foram

determinadas e publicadas por MERCE et al. e demonstraram que a inclusão de

complexos metálicos de VD3 deve permitir que elas sejam mais estáveis em meio

aquoso 63,64,65. Contudo, foram encontrados na literatura somente alguns trabalhos

que relatam a síntese de complexos ternários associados à BCD, uma molécula

orgânica e um íon metálico 66,67,68,69. A formação do complexo ternário de BCD com

VD3 e um íon metálico foi relatada em dois trabalhos publicados por MERCE et al.,

utilizando os íons Cu(II), Co(II), Zn(II) 61 e Al(III) 62.

Page 29: Síntese e caracterização do complexo ternário B-ciclodextrina

26

2.5.2 Difratometria de raio-X (DRX)

A difratometria de raios-X é considerada uma técnica amplamente empregada

para a determinação de estrutura de compostos cristalinos. Para isto, emprega-se o

método de monocristal, que pode permitir até a determinação do modo de inclusão.

No entanto, tal método exige monocristais de alta qualidade, e sua obtenção em

sistemas contendo ciclodextrinas é muito difícil.70 O emprego desta técnica se

baseia na comparação dos difratogramas das substâncias puras e do complexo. A

observação de um difratograma com características de material amorfo, sem picos

bem definidos, pode ser indicativa da ocorrência de inclusão.

Compostos de inclusão de ΒCD com convidados pequenos, como metanol e

etanol, cristalizam em geral com a estrutura gaiola tipo herringbone, mesma

estrutura assumida pela ΒCD ―vazia‖. Em se tratando de convidados maiores, o

padrão de cristalização mais comum é a estrutura canal HH, formando-se dímeros

estabilizados por pontes de hidrogênio 71.

2.5.3 Espectroscopia na região do infravermelho por transformada de Fourier (IVTF)

A espectroscopia baseia-se no estudo da interação da radiação

eletromagnética com a matéria. A radiação eletromagnética interage com a matéria

em três processos distintos: absorção, emissão e espalhamento de radiação. A

espectroscopia vibracional engloba duas técnicas: absorção no infravermelho (IR) e

o espalhamento Raman 72. Moléculas simples ou macromoléculas são constituídas

de átomos e formam estruturas tridimensionais, com distancias de ligações químicas

e ângulos de ligações definidas, apresentando uma determinada simetria molecular.

Qualquer diferença nessas ligações como estiramento, deformação angular ou

torção, pode ser representada no espectro de infravermelho, técnica usada nesse

trabalho.

A literatura básica sobre compostos de inclusão de ΒCD não indica a

espectroscopia vibracional – em especial a espectroscopia de infravermelho – como

uma das ferramentas mais úteis no seu estudo. Uma vez que não há ligações

formais entre ΒCD e o convidado, apenas interações fracas como ligações de

hidrogênio e forças de van der Waals. Deste modo, não são esperadas grandes

modificações no espectro do composto de inclusão (tais como deslocamento e

Page 30: Síntese e caracterização do complexo ternário B-ciclodextrina

27

desdobramentos de bandas) se comparado a ΒCD. Além disso, a fração do hóspede

contida no complexo é baixa e bandas que poderiam ser atribuídas a vibrações do

hóspede são facilmente mascaradas por bandas da ΒCD.

Apesar desses aspectos limitantes, a IVTF é relatada na literatura como uma

ferramenta que auxiliou a provar a existência de um composto de inclusão 73. A

análise é feita por comparação dos espectros dos compostos de inclusão, nas

misturas mecânicas e dos convidados livres com os da ΒCD.

2.5.4 Ressonância magnética nuclear de carbono e hidrogênio (RMN 13C e 1H)

A Ressonância Magnética Nuclear é uma forma de espectrometria de

absorção, na qual sob condições apropriadas, uma amostra pode absorver radiação

eletromagnética em uma freqüência referente às características estruturais da

amostra. A absorção é em função de determinados núcleos da molécula, desses

núcleos, os que apresentam número de spin igual ou maior que um possuem uma

distribuição de carga não esférica. Sendo assim, o número de spin determina o

número de orientações diferentes que um núcleo pode ter quando está em um

campo magnético uniforme. Com isso, os núcleos mais amplamente utilizados na

espectrometria de RMN são o 1H e o 13C. O espectro é registrado como uma série

de picos cujas áreas são proporcionais ao número de núcleos que eles representam,

como por exemplo, de hidrogênios 74.

É uma técnica que vem sendo bastante utilizada para determinar a formação

dos complexos de inclusão, uma vez que esta possui a vantagem de elucidar a

estrutura do complexo identificando a parte da molécula hospedeira que esta

incluída na cavidade da CD 75

O fenômeno de complexação altera a distribuição de densidade de carga sobre

os grupos funcionais envolvidos e, consequentemente, altera o momento magnético

nuclear resultante sobre estes grupos, levando a variações de deslocamento

químico nos espectros dos compostos de inclusão em relação à moléculas livres.

Entretanto, os efeitos de deslocamentos químicos, após a inclusão na cavidade da

CD, são limitados a poucos décimos de ppm, visto que nos complexos formados

ocorrem apenas interações intermoleculares fracas que não alteram

consideravelmente a polaridade dos complexos finais.70

Page 31: Síntese e caracterização do complexo ternário B-ciclodextrina

28

A variação do deslocamento químico (∆𝛿) é calculado através da equação a

seguir:

∆𝛿 = 𝛿𝐿 − 𝛿𝐶 (9)

Na qual 𝛿𝐿 e 𝛿𝐶 são os deslocamentos químicos de um átomo de carbono/

hidrogênio específico da molécula livre e complexada, respectivamente.

Com esta técnica, portanto, a interação da vitamina com a ciclodextrina pode

ser evidenciada. A formação do complexo de inclusão pode ser comprovada através

das mudanças das transições químicas da vitamina e das ciclodextrinas no espectro

de RMN.

Page 32: Síntese e caracterização do complexo ternário B-ciclodextrina

29

3 OBJETIVOS

3.1 OBJETIVO GERAL

Sintetizar e caracterizar os compostos e complexos binários e ternários

envolvendo ΒCD, VD3 e íons metálicos Ni(II) e Cd(II) para aplicações na área

farmacêutica e biomédica.

3.2 OBJETIVO ESPECÍFICO

x Verificar a ocorrência e a estabilidade do composto binário com VD3 e do

composto binário com cádmio e níquel por meio de cálculos das suas

constantes de equilíbrio e a especiação segundo a variação de pH, utilizando

a técnica analítica de titulação potenciométrica.

x Verificar a ocorrência e a estabilidade do complexo ternário na presença dos

íons metálicos por meio de cálculos das suas constantes de equilíbrio e a

especiação segundo a variação de pH, utilizando a técnica analítica de

titulação potenciométrica.

x Com base nas técnicas espectroscópicas de RMN 13C e 1H, comparar os

complexos formados e caracterizar esses complexos em estado sólido, por

meio de DRX e por IVTF.

Page 33: Síntese e caracterização do complexo ternário B-ciclodextrina

30

4 MATERIAIS E MÉTODOS

Foi utilizada a metodologia proposta por MERCÊ et al. 61,62 para a síntese dos

compostos de inclusão, tanto as estruturas binárias quanto as ternárias. Tanto os

reagentes quanto os materiais necessários para a síntese e caracterização foram

obtidos de fontes comerciais, grau p.a. e sem purificação prévia.

As soluções contendo íons metálicos de Cd(II) e Ni(II) foram preparadas a partir de

seus sais e padronizadas com EDTA, em triplicata.

4.1 MATERIAIS

Ácido clorídrico 37% (Merck), hidróxido de potássio (Nuclear), cloreto de

potássio (Synth), nitrogênio gasoso (comercial, 96%, White Martins), cloreto de

cádmio (Carlo Erba), cloreto de níquel (Vetec) , β-ciclodextrina 98% (Sigma-Aldrich),

Vitamina D3 - Cholecalciferol (Acros), etanol absoluto p.a. (Merck), Glove

AtmosbagTM (AL-211 - Aldrich), gás argônio (comercial, 98%, White Martins), rota-

evaporador com vácuo (Fisatom).

4.2 METODOLOGIA

4.2.1 Síntese dos compostos de inclusão

Para a síntese dos compostos de inclusão preparou-se uma solução aquosa

de ΒCD no qual foi adicionada uma massa de VD3 dissolvida em etanol e/ou a

solução contendo os íons metálicos, dependendo se quer a formação de estrutura

binária ou ternária. As soluções de Cd(II) e Ni(II) possuem 0,011 mol/L e 0,010

mol/L, respectivamente. Para ajustar o pH da solução, usou-se uma solução de

ácido clorídrico de 0,02 mol/L ou KOH 0,1 mol/L. O sólido (produto) foi raspado do

balão e guardado em epperdorfs num recipiente protegido da luz e umidade.

Para cada proporção usou-se quantidades de matérias diferentes, como

mostrado na Tabela 3:

Page 34: Síntese e caracterização do complexo ternário B-ciclodextrina

31

Tabela 3 – Proporções utilizadas no trabalho

Proporção (5:1) Proporção (10:1) ΒCD 0,20 mmol 0,20 mmol

VD3 0,04 mmol 0,02 mmol

Cd(II) 0,04 mmol 0,02 mmol

Ni(II) 0,04 mmol 0,02 mmol

4.2.1.1 Metodologia para obtenção do composto binário ΒCD:VD3

Em atmosfera inerte, usando-se a glove e atmosfera de argônio, 0,04 mmol

de VD3 foram dissolvidos em 20 mL de etanol absoluto. Esta solução foi adicionada

a uma solução com 0,2 mmol de ΒCD previamente dissolvidos por 12 horas de

reação em 20 mL de água. O pH foi ajustado entre 4,5 e 5,5,76 e deixados sob

agitação magnética por 4 horas. Depois, a solução foi transferida ao rota-evaporador

até obter o sólido seco.

4.2.1.2 Metodologia para a mistura física (MF)

As misturas físicas da VD3 e da BCD foram preparadas na proporção molar

de 1:1, sendo os dois materiais misturados no estado sólido, sem trituração.

4.2.1.3 Metodologia para o complexo binário ΒCD:M(II)

Para a estrutura binária com íon metálico, 0,2 mmol da ΒCD foram dissolvidos

por 12 horas em 20 mL de H2O, foi adicionado 4 mL ou 2 mL do íon metálico de uma

solução padronizada. O pH da dessa solução foi controlado para ficar entre 4,5 e

5,5, e deixado sob agitação magnética por 4 horas. Após esse período de reação (4

horas) as soluções foram transferidas ao rota-evaporador até obter o sólido seco.

4.2.1.4 Metodologia para o complexo ternário ΒCD:VD3 :M(II)

Em atmosfera inerte, usando a glove e gás argônio, 0,016 g de VD3 foram

dissolvidos em 20 mL de etanol absoluto. Esta solução foi adicionada a uma solução

com 0,227 g de ΒCD previamente dissolvidos em 20 mL de água. A esta solução já

com VD3 e ΒCD, 4 ou 2 mL do íon metálico de uma solução padronizada foram

Page 35: Síntese e caracterização do complexo ternário B-ciclodextrina

32

adicionados lentamente. O pH dessa solução foi controlado para ficar entre 4,5 e

5,5, deixados sob agitação magnética por 4 horas. Após o período de reação (4

horas) as soluções foram transferidas ao rota-evaporador até obter o sólido. As

proporções dos compostos, tanto os binários quanto os ternários, estão resumidos

na Tabela 4:

Tabela 4: Estruturas binárias e ternárias de ΒCD com VD3 e íon metálico (Cd(II) e Ni(II)) nas proporções 5:1 e 10:1

Estruturas binárias Estruturas ternárias VD3 ΒCD:VD3 (5:1) -

Cd(II) ΒCD:Cd(II) (5:1) ΒCD:VD3:Cd(II) (5:1)

ΒCD:Cd(II) (10:1) ΒCD:VD3:Cd(II) (10:1)

Ni(II) ΒCD:Ni(II) (5:1) ΒCD:VD3:Ni(II) (5:1)

ΒCD:Ni(II) (10:1) ΒCD:VD3:Ni(II) (10:1)

4.2.2 Caracterização dos complexos de inclusão

4.2.2.1 Titulação potenciométrica

Para se determinar a concentração ideal, foram realizadas titulações de 0,1

mmol, 0,07 mmol, 0,05 mmol e 0,03 mmol de cada composto incluso em dois

diferentes sistemas: 100% água deionizada e água (70%)/ etanol (30%), variando as

proporções M:L de Cd(II) e Ni(II) em 1:1e 2:1. Contudo, a solubilização foi melhor

para a quantidade de matéria de 0,03 mmol dos compostos no sistema com 100%

de água deionizada. Portanto, os estudos de titulação potenciométrica empregaram

0,03 mmol da ΒCD ou da estrutura binária ΒCD:VD3 e soluções dos metais

selecionados na proporção 1:1 (M:L), I= 0,100 mol/L, KCl, T= 25,0 ± 0,1 oC, com

adição de 5 mL de ácido inorgânico, para que a faixa de pH estudada varie entre 2,0

e 11,0 77.

Na estrutura da ΒCD existem 70 átomos de hidrogênio, dos quais apenas os

ligados a átomos de oxigênio que estão ligados ao carbono C2,C3 e C6 da ΒCD 78

são considerados ácidos. Contudo nesse trabalho foi considerado que apenas os

átomos de hidrogênio da hidroxila do C6 são susceptíveis a desprotonação.

As soluções das estruturas binárias e ternárias foram tituladas, em triplicata,

com KOH aquoso (padronizado com biftalato de potássio) em bureta de pistão

Page 36: Síntese e caracterização do complexo ternário B-ciclodextrina

33

modelo Titronic universal do fabricante Schott, em ambiente inerte (nitrogênio).

Utilizou-se eletrodo de H+ e Ag/AgCl modelo 9157BNMD com pHmetro Orion Star. A

calibração do eletrodo foi feita com padrões de pH 4, 7 e 10 a cada análise.

O tratamento dos dados potenciométricos foi realizado pelo programa

Hyperquad 2008. Durante o refinamento dos dados a constante de dissociação da

água foi mantida fixa em log β = 13,78.79 O programa Hyss foi utilizado para calcular

e visualizar a distribuição das espécies presentes no equilíbrio estudado,

importando-se os dados gerados no programa Hyperquad. Nos diagramas de

especiação os valores apresentados no eixo y são de 100% em relação à

concentração total do metal no equilíbrio, sendo representadas curvas de máximos

percentuais proporcionais à concentração de metal utilizado para a formação das

espécies no meio aquoso.80

4.2.2.2 Difratometria de raios-X (DRX)

Os difratogramas foram obtidos em um difratômetro de raios-X Shimadzu

modelo XDR-7000, empregando-se o método pó, radiação Cu-Kα (1,5418 Å). A

região estudada foi de 2θ = 55° a 2θ = 5°, com o aparelho nas condições de corrente

de 40 kV e voltagem de 20 mA.

4.2.2.3 Espectroscopia na região do infravermelho (IVTF)

Os compostos de inclusão também foram caracterizados por espectroscopia na

região do infravermelho com transformada de Fourier [Equipamento BOMEM

(Departamento de Química - UFPR)] na faixa espectral de 4000-400 cm-1 com 64

scans.min-1 e resolução de 4 cm-1. Para análise dos produtos sólidos foram

utilizadas pastilhas de KBr. Cerca de 200 mg de KBr para 2 mg da amostra.

4.2.2.4 Ressonância magnética nuclear de carbono e hidrogênio (RMN 13C e 1H)

As analises por RMN de 13C foram realizadas à temperatura ambiente com

um espectrômetro Bruker AVANCE 600 (Departamento de Bioquímica – UFPR),

operando a 14,1 Tesla, observando o núcleo de carbono a 150 MHz, equipado com

uma sonda multinuclear de observação direta de 5 mm. Para isso, for dissolvida

certa quantidade de cada amostra em dimetilsulfóxido deuterado e as soluções

Page 37: Síntese e caracterização do complexo ternário B-ciclodextrina

34

foram transferidas para tubos de 5 mm de diâmetro. Os deslocamentos químicos

foram expressos em ppm, em relação ao sinal do TMS em 0,0 ppm, como referência

interna.

Page 38: Síntese e caracterização do complexo ternário B-ciclodextrina

35

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

As propriedades físico-químicas da CD e dos hóspedes variam frequentemente

com a formação de complexos de inclusão em solução aquosa. Assim, podem ser

usados diversos métodos experimentais para detecção e caracterização dos

complexos.81 Para verificar o potencial de inclusão dos produtos obtidos, foram

utilizadas técnicas usadas na literatura para esse objetivo61,62,64.

A numeração dos átomos de carbono da unidade glicosídica da ΒCD foi

utilizada como ilustrado na Figura 3.

5.1 TITULAÇÃO POTENCIOMÉTRICA

5.1.1 Constantes de protonação

As constantes de protonação (log β) do ΒCDH (ΒCD protonada) e do

composto binário ΒCD:VD3H protonado e suas constantes de equilíbrio estão

representados na Tabela 5. Não foram encontradas referências para as constantes

de protonação (log β) da ΒCD para o mesmo sistema trabalhado. Foi usado o valor

de log β da VD3 pura igual a 12,4 63,64,65. De acordo com a Equação 5, o log β

experimental será igual ao log k experimental, uma vez que há somente a formação

de uma constante.

Tabela 5: Logaritmos das constantes de protonação da ΒCD e da ΒCD:VD3

Equilíbrio log β experimental log k experimental

ΒCDH β=[βCDH]

βCD . [𝐻] 10,16 ± 0,04 10,16 ± 0,04

ΒCDVD3H β= βCDVD3H

βCDVD3 . H 20,43 ± 0,04 20,43 ± 0,04

Ao somar os valores do log β da ΒCD (log β = 10,16) com da VD3 (log β =

12,4) será obtido um valor de log β = 22,56. Esse valor é superior ao encontrado

experimentalmente, log β da BCDVD3 = 20,43, portanto, pode-se dizer que a BCD e

a VD3 estão formando uma nova estrutura, o composto de inclusão.

Os valores obtidos para log β da ΒCD são referentes a um sítio de

protonação, da hidroxila ligada ao carbono C6. A curva da ΒCD pura, Figura 6,

mostra que a desprotonação ocorreu para a>0.

Page 39: Síntese e caracterização do complexo ternário B-ciclodextrina

36

Com o composto binário ΒCD:VD3 (Figura 6), contudo, a desprotonação

começa a partir de a>1. O valor obtido de log β é menor que a soma dos dois

compostos, uma vez que a inclusão alterou estruturalmente a ΒCD.

Figura 6 - Curva de titulação experimental da BCD livre e do composto binário ΒCD:VD3 (BCDVITH).

A distribuição das espécies para a ΒCD em função do pH é mostrada na

Figura 7. Pode-se observar que a desprotonação da ΒCD ocorre a partir do pH 10,

após isso aumenta a concentração de ΒCD desprotonada. Com o composto binário

ΒCD:VD3 é observado o oposto (Figura 8), a desprotonação da ΒCD ocorre a partir

do pH 3,0 e começa a formação de 100% do composto binário ΒCD:VD3. Estes

resultados atestam que houve uma mudança na estrutura da ΒCD, caracterizando a

formação do composto de inclusão.

0 2 42

4

6

8

10

12

BCDVITH BCD

pH

a(mmol KOH/mmol ligante)

Page 40: Síntese e caracterização do complexo ternário B-ciclodextrina

37

Figura 7 - Distribuição das espécies para a ΒCD em função do pH e da % de formação.

Figura 8 - Distribuição das espécies para o composto binário ΒCD:VD3 (BCDVIT) e da % de formação.

Page 41: Síntese e caracterização do complexo ternário B-ciclodextrina

38

5.1.2 Curva experimental e curva da simulação do modelo teórico

Nas figuras abaixo (Figura 9 e Figura 10) estão representadas as curvas de

titulação experimental (losangos) e calculado (linha contínua ao fundo) da ΒCD e do

composto binário ΒCD:VD3, respectivamente. A curva da simulação do modelo

teórico é calculada a partir das propostas das possíveis espécies presentes no

equilíbrio.

É possível notar um ajuste razoável para as curvas da ΒCD pura pelo fato

desta não ser totalmente solúvel no sistema com H2O. Portanto, é necessário ajustar

o sistema usado para a titulação, uma vez que também não foi possível obter dados

para os complexos binários com cádmio e níquel, e, também, para o complexo

ternário devido à baixa solubilidade da BCD em água e nas proporções testadas. A

curva do composto binário ΒCD:VD3, entretanto, apresentou um bom ajuste,

mostrando que a presença da VD3 na cavidade da BCD promoveu uma camada de

solvatação para estabilizar o composto.

Figura 9 - Curva experimental (losangos) e curva do modelo teórico (linha contínua) para a ΒCD.

Page 42: Síntese e caracterização do complexo ternário B-ciclodextrina

39

Figura 10 - Curva experimental (losangos) e curva do modelo teórico (linha contínua) para o composto binário ΒCD:VD3.

5.2 DIFRATOMETRIA DE RAIO-X (DRX)

5.2.1 Difratograma de raios-X do composto binário ΒCD:VD3

As análises por difratometria de raios-X mostraram características

significativas nas amostras. A ΒCD apresentou um perfil cristalino com picos

característicos em 2θ de 9; 12,5; 27,5; 32 e 35,2 como pode ser visto na Figura 11.

Não foi possível obter o difratograma da VD3 pura devido à sua alta reatividade com

o oxigênio.

Ao comparar o difratograma da ΒCD com a mistura física (MF) nota-se que

ambos apresentam os mesmos picos mas com redução de intensidade em relação

aos mesmos assinalados no difratograma da BCD. Contudo, para o composto

binário ΒCD:VD3 o mesmo não ocorre, ao se comparar o difratograma do composto

binário com os outros citados nota-se uma redução de simetria cristalina

(característica de um material amorfo), apresentando somente o pico 12,5 da BCD.

Page 43: Síntese e caracterização do complexo ternário B-ciclodextrina

40

5 10 15 20 25 30 35 40

Inte

nsid

ade

(u.a

)

2T��Graus)

BCD:VD3

MF

BCD

Figura 11 - Difratograma da ΒCD pura, MF e ΒCD:VD3

Page 44: Síntese e caracterização do complexo ternário B-ciclodextrina

41

Os produtos de inclusão, além da redução da cristalinidade, apresentam uma

alteração em seu perfil se comparado à ΒCD. Esta alteração se dá tanto por

supressão de grande parte dos picos quanto por pequeno deslocamento de alguns

deles. As alterações estruturais decorrentes da inclusão são nítidas, embora o

sistema hospedeiro seja relativamente rígido, e o diâmetro da cavidade interna da

ΒCD não se altere com o fenômeno.82 Conclui-se, portanto, frente aos resultados

obtidos, que as diferenças estruturais entre a nova fase cristalina estabelecida e a

ΒCD pura estejam relacionadas a uma diferença na disposição das unidades

cíclicas, provavelmente decorrente das interações intermoleculares induzidas pela

presença do hóspede na cavidade.

5.2.2 Difratograma de raios-X dos complexos binários e ternários do cádmio e níquel.

Na Figura 12, comparando-se os difratogramas dos complexos binários e

ternários de cádmio com o difratogramas da ΒCD pura, BCD:VD3 e da MF, pode-se

perceber uma diminuição das intensidades dos picos tanto dos complexos binários

quanto dos ternários. Portanto, pode-se dizer que esses complexos cristalizam com

a estrutura gaiola, mesma estrutura assumida pela ΒCD ―vazia‖. O mesmo ocorre

com os complexos binários e ternários de níquel (Figura 13) que também cristalizam

formando a estrutura gaiola que ocorre quando as intensidades dos picos mudam,

mas sua cristalinidade é a mesma, apresentando o mesmo empacotamento que a

BCD hidratada.

.

Page 45: Síntese e caracterização do complexo ternário B-ciclodextrina

42

5 10 15 20 25 30 35

2T��Graus)

MF

BCD

BCD:VIT

BCD:Cd (5:1)

BCD:Cd (10:1)

Inte

nsid

ade

(u.a

)

BCD:Vit:Cd (5:1)

BCD:Vit:Cd (10:1)

Figura 12 – Difratograma da ΒCD e dos complexos binários e ternários de Cd(II) nas proporções 5:1 e 10:1.

Page 46: Síntese e caracterização do complexo ternário B-ciclodextrina

43

5 10 15 20 25 30 35

Inte

nsid

ade

(u.a

)

2T��Graus)

MF

BCD

BCD:Vit

BCD:Ni (5:1)

BCD:Ni (10:1)

BCD:Vit:Ni (5:1)

BCD:Vit:Ni (10:1)

Figura 13 - Difratograma da ΒCD e dos complexos binários e ternários de Ni (II) nas proporções 5:1 e 10:1.

Page 47: Síntese e caracterização do complexo ternário B-ciclodextrina

44

5.3 ESPECTROSCOPIA NA REGIÃO DO INFRAVERMELHO

5.3.1 Espectros de IVTF do composto binário ΒCD:VD3

O fato da VD3 ser altamente reativa com o oxigênio não se permitiu obter um

espectro da vitamina pura, portanto, o espectro experimental foi comparado com

espectros teóricos, calculados a partir de suas geometrias otimizadas utilizando o

funcional B3LYP e função de base 6-31g (Figura 14).

4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500

Tra

nsm

itânc

ia (

%)

Numero de onda (cm-1)

VD3

BCD

Figura 14 - Espectro teórico de IVTF da ΒCD e VD3

Nota-se que as bandas de ambos componentes são similares, e as vibrações

da VD3 serão consideravelmente superpostas pelas bandas da ΒCD, inclusive na

amostra MF, como pode ser visto na Figura 15. Portanto, para caracterizar um

composto de inclusão, deve-se ater a diferenças no espectro de IVTF como

pequenos deslocamentos ou mesmo o alargamento de bandas. Na Tabela 6 são

mostradas as bandas características da BCD.

Page 48: Síntese e caracterização do complexo ternário B-ciclodextrina

45

Tabela 6 - Bandas características das CDs no espectro de IVTF.

Comprimento de onda Atribuições*

δ = deformação; ν = estiramento

3341 cm-1 ν (O-H)

2970 e 2930 cm-1 ν (C-H)

1650 cm-1 δ angular de (O-H)

1458 cm-1 δ (C-H) de CH2 e CH3

1377 cm-1 δ (C-H) de CH3

1334 cm-1 Acoplamento δ(C-C-H), δ(C-O-H), δ(H-C-H)

1261 cm-1 Acoplamento δ(O-C-H), δ(C-O-H), δ(C-C-H)

1155 e 1080 cm-1 Acoplamento ν(C-O), ν(C-C), δ(C-O-H)

1031 cm-1 Acoplamento ν(C-C), δ(O-C-H), δ(C-C-O)

948 cm-1 Vibrações no esqueleto envolvendo as ligações α-1,4

850 cm-1 Acoplamento δ(C-C-H), ν(C-O)

* Fonte: EGYED, 1990.83

Pode-se observar na Figura 15 uma banda alargada em 3341 cm-1

característica do estiramento dos grupos hidroxilas com ligações de hidrogênio

intramoleculares. A banda em 2930 cm-1 é atribuída à vibração do estiramento

assimétrico e simétrico dos grupos metilênicos da ΒCD. A banda 1650 cm-1 é

referente à água de hidratação da ΒCD. As bandas em 1458 cm-1 e 1334 cm-1 são

de deformação angular no plano de alcoóis primários e secundários,

respectivamente. A banda referente à deformação axial assimétrica C-O-C é a 1155

cm-1, que é observada para a maioria dos sacarídeos e é atribuída à vibração do

anel da piranose e ao estiramento assimétrico das ligações glicosídicas. Na região

entre 1334 cm-1 e 850 cm-1 nota-se a presença de varias bandas atribuídas as

ligações α- 1,4 dos anéis glucopiranosídicos que compõem a ΒCD 83.

Page 49: Síntese e caracterização do complexo ternário B-ciclodextrina

46

4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500

Tra

nsm

itânc

ia (

%)

Numero de onda (cm-1)

MF BCD:VD

3

BCD

Figura 15 - Espectro de IVTF da ΒCD e do composto binário ΒCD:VD3

Como visto na Figura 15, o espectro para o complexo de inclusão é similar a

ΒCD indicando a formação do complexo de inclusão, um fenômeno observado por Li

et al.84 Além disso, a diminuição do alargamento da ampla banda dos grupos

hidroxilas (3379 cm-1) é uma boa indicação da formação do complexo de inclusão,

uma vez que foi alterado o ambiente químico dessas moléculas. O espectro da MF

deixa isso bem claro, uma vez que a banda 3379 cm-1 é bem diferente da BCD:VD3 e

da BCD livre. Este é um fenômeno comum observado por muitos

pesquisadores73,84,85.

Page 50: Síntese e caracterização do complexo ternário B-ciclodextrina

47

5.3.2 Espectros de IVTF dos complexos binários e ternários do cádmio e níquel.

Para melhor visualização, os espectros de IVFT foram divididos em duas

partes na qual (i) mostra a região espectral de 4000 a 2500 cm-1 e (ii) mostra a

região espectral de 1600 a 400 cm-1.

O complexo ternário BCD:VD3:Cd(II) (5:1:1) sofreu em relação à BCD a maior

alteração nessas bandas, em contrapartida, o complexo ternário na proporção

10:1:1, apresentou uma menor alteração (Figura 16). Na Figura 17 nota-se que

existe a diminuição do alargamento da banda 1650 cm-1 e também pequenos

deslocamentos em relação à mesma banda em BCD, em todos os complexos de Cd

(II) indicando fortemente a existência de uma interação com a BCD. O mesmo ocorre

para a banda 1458 cm-1 que é referente a deformação angular da hidroxila primaria

da BCD.

O complexo binário BCD:Ni(II) (5:1) apresentou um alargamento maior que a

BCD livre (Figura 18), mas apresentou uma diminuição na banda 1650 cm-1 (Figura

19) indicando que houve uma interação com a BCD. Todos os outros complexos

com Ni (II) apresentaram características semelhantes ao complexo com Cd (II)

indicando a formação de um complexo semelhante para ambos os íons metálicos.

Page 51: Síntese e caracterização do complexo ternário B-ciclodextrina

48

3500 3000 2500

0

30

60

90

2930

3341

Tran

smitâ

ncia

(%)

Numero de onda (cm-1)

BCD BCD:VD

3:Cd2+(10:1:1)

BCD:VD3:Cd2+(5:1:1)

BCD:Cd2+(10:1) BCD:Cd2+(5:1) BCD:VD

3

Figura 16 - Espectro (i) de IVTF dos complexos de Cd (II)

1600 1400 1200 1000 800 600 400

BCD:

VD3

Numero de onda (cm-1)

1636

1637

1633

1635

1639

BCD:

Cd2+

(5:1)

BCD:

Cd2+

(10:1)

BCD:

VD3:C

d2+(5:

1:1)

1416

1419

1421

1650

BCD:

VD3:C

d2+(10

:1:1)

1417

1415

1458

BCD

Figura 17 - Espectro (ii) de IVTF dos complexos de Cd (II)

Page 52: Síntese e caracterização do complexo ternário B-ciclodextrina

49

3500 3000 2500

0

40

80

120

2930

3341

Tran

smitâ

ncia

(%)

Numero de onda (cm�-1)

BCD:VD3:Ni (10:1)

BCD:VD3:Ni (5:1)

BCD:VD3

BCD:Ni (10:1) BCD:Ni (5:1) BCD

Figura 18 – Espectro (i) de IVTF dos complexos de Ni (II)

1600 1400 1200 1000 800 600 400

1635

BCD:

Ni (5

:1)

Numero de onda (cm�-1)

1645BC

D:Ni

(10:1

)

1411

1418

1417

1637

BCD:

VD3

1646BC

D:VD

3:Ni (5

:1)

1413

1415

1458

1648 B

CD:V

D 3:Ni (1

0:1)

1650

BCD

1650

Figura 19 - Espectro (II) de IVTF dos complexos de Ni (II)

Page 53: Síntese e caracterização do complexo ternário B-ciclodextrina

50

5.4 RESSONÂNCIA MAGNÉTICA NUCLEAR DE CARBONO E DE HIDROGÊNIO

(RMN 13C E RMN 1H)

5.4.1 Caracterização por RMN de 13C e 1H do composto binário BCD:VD3.

Como parâmetro para evidenciar os compostos de inclusão por RMN 13C,

foram usados os desvios para a VD3 previamente relatados por BERMAM et al.86 e

MERCÊ et al.76, assim como os espectros de RMN de 13C (Figura 20) obtidos nos

trabalhos anteriores do LEQ 76. A fim de evidenciar os compostos de inclusão por

RMN 1H, foram usados os desvios de BCD previamente relatados por SCHNEIDER

et al. 87 já os desvios para a VD3 foram retirados do banco de dados HMDB 88.

Ao observar a Figura 20, nota-se que os desvios químicos da BCD e da VD3

não são coincidentes. Quando existe uma mistura física da BCD e VD3 todos os

sinais característicos dos dois compostos, estão presentes no espectro. Quando a

BCD e VD3 são submetidos a uma reação de inclusão, os deslocamentos referentes

à VD3 não estão presentes ou mesmo aparecem apenas alguns traços que,

provavelmente, se referem à parte da vitamina que está fora da cavidade da BCD 89.

A figura também se encontra no ANEXO para melhor visualização.

Figura 20 – Espectro de RMN de 13C: (a) BCD; (b) MF; (c) BCD:VD3; (d) VD3 61.

Page 54: Síntese e caracterização do complexo ternário B-ciclodextrina

51

Usando-se a técnica de RMN 13C é possível determinar os deslocamentos do

conjunto binário BCD:VD3 e todos os sinais relativos à BCD estão ligeiramente

deslocados, como visto na Tabela 7 (-0,016 a -0,021 ppm), e não aparece sinais

relativos à VD3, como pode ser notado na Figura 21. Conseqüentemente, pode-se

dizer, que a VD3 está encapsulada na cavidade da ΒCD, uma vez que não há

alterações significativas em ambos os espectros. Nota-se também que a Δδ do

composto está negativa, sugerindo uma proteção por parte desses átomos de C.

Tabela 7: Relação dos deslocamentos químicos dos átomos de C da BCD e BCD:VD3 em ppm.

C1 C2 C3 C4 C5 C6

ΒCD 102,20 72,65 73,29 82,07 72,30 60,27

ΒCD:VD3 102,41 72,84 73,48 82,23 72,49 60,45

Δδ -0,21 -0,19 -0,19 -0,16 -0,19 -0,18

Na Figura 21 estão apresentados os espectros de RMN de 13C do composto

binário ΒCD:VD3 e da ΒCD, comparativamente, obtidos neste trabalho. Este último é

análogo ao espectro característico da ΒCD exibindo ressonâncias múltiplas para

cada tipo de átomo de carbono: C1 (101,5-103,8 ppm), C4 (78,5-83,7 ppm), C2,3,5

(71.3-75.9 ppm) e C6 (59.3-63.4 ppm). A vasta gama de desvios químicos de cada

átomo está relacionada com as diversas orientações ligeiramente distintas de cada

unidade de glicose no macrociclo βCD, isto é, com diferentes ângulos de torção em

torno das ligações glicosídicas α-(1,4) para C1 e C4, e com orientações diferenciadas

dos grupos de hidroxilas primárias (O6―H) para C6.90

Page 55: Síntese e caracterização do complexo ternário B-ciclodextrina

52

Figura 21- Espectro de RMN de 13C da ΒCD e ΒCD:VD3 em ppm.

O espectro de teórico de RMN 1H da BCD (Figura 22) possui seis prótons

identificáveis: H1, H2, H4 e H6 localizados externamente e H3 e H5 na cavidade da

CD. Observa-se um duplo dubleto em δ 5,60 - 5,75 ppm referente às hidroxilas

secundárias dos carbonos 2 e 3 da CD, e, em δ 4,40 ppm, um tripleto relativo à

hidroxila primária no carbono 6. Os sinais entre δ 3,25 – 3,70 são atribuídos à

estrutura do anel da BCD87.

Figura 22 – Espectro de RMN 1H da BCD livre. Fonte: SCHNEIDER (1998)87

Em relação ao espectro teórico de RMN 1H da VD3 pura é possível notar um

grupo de sinais entre δ 0,54 e 3,95 ppm são referentes aos átomos de hidrogênio

102.215

82.072

73.29472.654

72.302

60.271

BCD

ppm (t1)60708090100

102.406

82.227

73.47972.842

72.489

60.447

BCD:Vit

Page 56: Síntese e caracterização do complexo ternário B-ciclodextrina

53

ligados a átomos de carbono alifático da vitamina, mostradas na cor verde na Figura

23. Na cor azul, estão representados os átomos de hidrogênio referente aos sinais

entre δ 4,9 e 6,24 ppm. No espectro de RMN 1H do conjunto binário BCD:VD3, todos

os sinais relativos à BCD estão deslocados, como visto na Tabela 8 (-0,02 a -0,104

ppm) e observa-se uma variação significativa no deslocamento químicos dos sinais

de ressonância atribuídos aos átomos de hidrogênio H3 , H5 e H6. A variação nos

deslocamentos químicos dos sinais de hidrogênio induzidos pela complexação do

tipo hóspede-hospedeiro é uma característica importante na avaliação da formação

do composto de inclusão indicando a inclusão total ou parcial do hóspede.

Figura 23 – Espectro de RMN 1H da vitamina D3 livre. Fonte: WISHART, 2013 88.

Tabela 8: Relação dos deslocamentos químicos dos átomos de H da BCD e BCD:VD3 em ppm

H1 H2 H3 H4 H5 H6

ΒCD 4,82 3,29 3,64 3,34 3,59 3,64

ΒCD:VD3 4,848 3,31 3,744 3,353 3,651 3,744

Δδ -0,028 -0,02 -0,104 -0,013 -0,061 -0,104

Page 57: Síntese e caracterização do complexo ternário B-ciclodextrina

54

Na Figura 24, ao se comparar o espectro da BCD:VD3 com a da MF, nota-se

que no espectro da MF existe a diminuição de intensidade de vários picos na região

entre 0,54 e 3,95 ppm e também a supressão de alguns picos da VD3 como o H8

(5,03 ppm) e também dos picos referentes às hidroxilas OH-2 (6,21 ppm), OH-3

(5,99 ppm) e OH-6 (4,14 ppm) da VD3, confirmando a inclusão da VD3 na cavidade

da BCD e afirmando a existência de ligações de hidrogênio entre as próprias

ciclodextrinas.

Figura 24 - Espectro de RMN 1H da MF (acima) e BCD:VD3 (abaixo).

Paralelamente, foi realizado um trabalho de modelagem molecular que

consistiu na otimização da geometria da BCD e da VD3 (paralelamente), de forma a

obter a geometria de estado fundamental de ambas. Sequencialmente, foi otimizada

a geometria do composto de inclusão, na qual a VD3 é inserida na cavidade da BCD

de forma arbitraria. Salienta-se que as geometrias otimizadas localizam-se no

estado fundamental, tendo em vista que não foram observadas frequências

vibracionais negativas nos cálculos. A estrutura proposta é apresentada na Figura

25.

BCDVIT

MF

ppm (t1)1.02.03.04.05.06.0

Page 58: Síntese e caracterização do complexo ternário B-ciclodextrina

55

BCD:VD3

Figura 25 - Proposta de estrutura do composto binário BCD:VD3

BCD VD3

Page 59: Síntese e caracterização do complexo ternário B-ciclodextrina

56

5.4.2 Caracterização por RMN de 13C e 1H dos complexos binários BCD:Cd(II) e BCD:Ni(II)

No espectro de RMN de 13C dos complexos BCD:Cd(II), tanto na proporção

5:1 como na 10:1, existem deslocamentos químicos positivos em todos os átomos

de carbono (Tabela 9) indicando uma alteração conformacional desblindada, dentre

eles. O sinal do átomo C4 é o mais deslocado com relação ao mesmo átomo de

carbono da BCD assim como o deslocamento do C6 também é significativo. Todavia,

no RMN 1H, os átomos de H apresentaram Δδ negativos caracterizando um efeito de

blindagem dos complexos. Nota-se também que a Δδ dos H3 e H6 mostram proteção

por parte desses átomos, que ocorrem devido ao efeito indutivo causado pela

complexação do Cd(II) com a BCD.

No espectro de RMN de 1H (Figura 26) pode-se notar um alargamento do pico

da hidroxila OH-2 e OH-3, fator que indica uma alteração na estrutura da CD, e,

também a supressão da hidroxila OH-6, indicando uma interação do Cd(II) com

esses átomos de oxigênio. Os espectros do RMN 13C desse complexo encontra-se

no item APENDICE.

Figura 26 - Espectro de RMN 1H do complexo BCD:Cd na proporção 10:1 (acima) e da proporção 5:1 (abaixo).

BCDCd ( 10:1)

ppm (t1)3.504.004.505.005.506.00

BCDCd ( 5:1)

Page 60: Síntese e caracterização do complexo ternário B-ciclodextrina

57

Tabela 9: Relação dos deslocamentos químicos dos átomos de C e H da ΒCD, ΒCD:Cd(II) e BCD:Ni(II).

Complexos C1 H1 C2 H2 C3 H3 C4 H4 C5 H5 C6 H6

ΒCD 102,22 4,82 72,65 3,29 73,29 3,64 82,07 3,34 72,30 3,59 60,27 3,64

BCD:Cd(II) (5:1) 102,18 4,85 72,61 3,31 73,27 3,70 81,79 3,35 72,25 3,61 60,16 3,74

Δδ (BCD)* 0,04 -0,03 0,05 -0,02 0,02 -0,06 0,28 -0,01 0,05 -0,02 0,11 -0,10 BCD:Cd(II)

(10:1) 102,20 4,84 72,65 3,30 73,29 3,70 81,94 3,35 72,29 3,61 60,23 3,75

Δδ (BCD)* 0,02 -0,02 0,01 -0,01 0,01 -0,06 0,13 -0,01 0,01 -0,02 0,04 -0,11

BCD:Ni(II) (5:1) 102,13 4,85 72,23 3,33 73,23 3,70 81,73 3,35 72,21 3,63 60,12 3,73

Δδ (BCD)* 0,08 -0,02 0,42 -0,04 0,06 -0,06 0,34 -0,01 0,09 -0,04 0,15 -0,09 BCD:Ni(II)

(10:1) 102,20 4,85 72,60 3,35 73,30 3,67 81,79 3,35 72,28 3,60 60,20 3,67

Δδ (BCD)* 0,02 -0,03 0,05 -0,06 -0,01 -0,03 0,28 -0,01 0,02 -0,01 0,07 -0,03

Em relação aos complexos binários com Ni(II), no RMN de 1H também

existem Δδ negativos em todos os átomos de hidrogênio (Tabela 9), que caracteriza

um efeito de blindagem. Os hidrogênios H3 e H6 apresentaram um maior Δδ dos

mostrando também uma blindagem por parte desses átomos, que ocorrem devido

ao efeito indutivo causado pela complexação do Ni(II) com a BCD.

No espectro de RMN de 13C desses complexos percebe-se que além dos

deslocamentos do C4 e do C6, existe também um deslocamento significativo no C2 e

somente na proporção 5:1 com Δδ (5:1) = 0,42 ppm. Esses resultados indicam uma

grande alteração conformacional que o íon Ni (II) causa na estrutura da BCD. Os

espectros do RMN 13C desse complexo estão no ítem APENDICE.

Na Figura 27 é possível verificar a supressão do pico da hidroxila OH-6 no

complexo da proporção 5:1 e também um alargamento do pico da hidroxila OH-2 e

OH-3, contudo, o mesmo não ocorre na proporção 10:1, na qual nota-se uma

proteção na hidroxila OH-6. Estes dados apontam que há possivelmente dois sítios

distintos de complexação diferentes conforme a quantidade de BCD no sistema.

Esses dados não são consistentes com nenhuma proposta de conformação

estimada, tornando necessária uma abordagem mais aprofundada através da

técnica HSQC, na qual poderá ser conclusiva para avaliação desses resultados.

Page 61: Síntese e caracterização do complexo ternário B-ciclodextrina

58

Figura 27 - Espectro de RMN 1H do complexo BCD:Ni na proporção 5:1 (acima) e da proporção 10:1 (abaixo).

Na Figura 28 é demonstrada a proposta de estrutura dos complexos binários

de BCD com os íons metálicos Cd (II) e Ni (II), levando em consideração os dados

obtidos até o momento, ambos os íons metálicos estariam ligados ao oxigênio ligado

ao C6 da BCD. Os metais foram coordenados de maneira arbitrária, e suas

geometrias moleculares não foram otimizadas até o termino do trabalho, sendo os

resultados apresentados destes meramente ilustrativos.

Figura 28 - Proposta de estrutura dos complexos binários BCD:Cd (II) e BCD:Ni (II).

BCDNi ( 5:1)

ppm (t1)3.504.004.505.005.506.00

BCDNi ( 10:1)

Page 62: Síntese e caracterização do complexo ternário B-ciclodextrina

59

5.4.3 Caracterização por RMN de 13C e 1H dos compostos ternários ΒCD:VD3:Cd(II) e ΒCD:VD3:Ni(II)

Os dados de deslocamentos químicos dos complexos ternários com Cd(II) e

Ni(II) são apresentados na Tabela 10, e uma relação de diferenças entre os

deslocamentos químicos dos complexos ternários BCD:VD3:M (II) e seus formas

binárias correspondentes BCD:VD3 são listadas na Tabela 11.

Tabela 10: Relação dos deslocamentos químicos dos átomos de C e H dos complexos ternários com Cd(II) e Ni(II).

Complexos C1 H1 C2 H2 C3 H3 C4 H4 C5 H5 C6 H6

ΒCD:VD3:Cd(II) (5:1:1) 102,16 4,86 72,60 3,36 73,27 3,67 81,77 3,35 72,25 3,60 60,15 3,60

ΒCD:VD3:Cd(II) (10:1:1) 102,20 4,85 72,62 3,33 73,28 3,70 81,87 3,32 72,27 3,65 60,19 3,73

ΒCD:VD3:Ni(II) (5:1:1) 102,04 4,84 72,46 3,32 73,14 3,72 81,62 3,32 72,12 3,57 60,02 3,72

ΒCD:VD3Ni(II) (10:1:1) 102,01 4,83 72,45 3,29 73,12 3,74 81,62 3,34 72,11 3,61 60,01 3,70

Na Tabela 11 são apresentadas os deslocamentos químicos dos complexos

ternários, bem como a diferença destes com os deslocamentos químicos da

ΒCD:VD3. Ao se comparar os deslocamentos químicos do complexo ΒCD:VD3:Cd(II)

(5:1:1) com os deslocamentos do composto binário ΒCD:VD3, nota-se um

deslocamento significativo para todos os átomos de carbono (de -0,21 ppm a -0,46

ppm), sendo que o maior deslocamento é referente aos carbonos C4 (-0,46 ppm) e

C6 (-0,30 ppm). Para o complexo ΒCD:VD3:Cd(II) (10:1:1), existe as mesmas

variações mas com intensidade menor se comparado com o mesmo complexo de

proporção (5:1). Através do RMN 1H nota-se que existe um efeito de desblindamento

do H2, 0,05 ppm para ΒCD:VD3:Cd(II) (5:1:1) e 0,03 ppm para ΒCD:VD3:Cd(II)

(10:1:1).

Page 63: Síntese e caracterização do complexo ternário B-ciclodextrina

60

Tabela 11 - Relação das variações dos deslocamentos químicos entre os compostos ternários e binários.

Complexos C1 H1 C2 H2 C3 H3 C4 H4 C5 H5 C6 H6

ΒCD:VD3:Cd (5:1:1)

Δδ (BCD:VD3)* -0,25 0,01 -0,24 0,05 -0,21 -0,07 -0,46 0,00 -0,24 -0,05 -0,30 -0,14

ΒCD:VD3:Cd (10:1:1)

Δδ (BCD:VD3) 0,00 0,01 -0,03 0,03 -0,01 0,00 -0,07 -0,03 -0,02 0,04 -0,04 -0,02

ΒCD:VD3:Ni (II) (5:1:1)

Δδ (BCD:VD3) -0,37 -0,01 -0,38 0,01 -0,34 -0,02 -0,61 -0,03 -0,37 -0,08 -0,43 -0,02

ΒCD:VD3Ni (II) (10:1:1)

Δδ (BCD:VD3) -0,40 -0,02 -0,39 -0,02 -0,36 0,00 -0,61 -0,01 -0,38 -0,04 -0,44 -0,04

*Δδ (BCD:VD3) são os deslocamentos químicos do complexo ternário BCD:VD3:M (II) menos o binários BCD:VD3.

Esses dados, quando confrontados com os o espectro de RMN 1H (Figura

29), na qual pode-se verificar a supressão da hidroxila OH-2 o que indica a ligação

do Cd(II) com esse átomo de oxigênio. Nota-se também um pico na região entre 4 e

5 ppm referente a H8 da VD3. Portanto, o complexo ternário formado de

ΒCD:VD3:Cd(II) terá a VD3 inclusa na cavidade e o íon Cd(II) se complexará,

provavelmente, no lado de fora da BCD.

Figura 29 - Espectros de RMN 1H dos complexos ternário com cádmio, na proporção 10:1:1 (acima) e proporção 5:1:1 (meio) com a BCD:VD3 (abaixo)

BCDVitCd ( 10:1:1)

BCDVitCd ( 5:1:1)

ppm (t1)1.02.03.04.05.06.0

BCDVit

Page 64: Síntese e caracterização do complexo ternário B-ciclodextrina

61

Observando os dados da Tabela 11, os complexos ΒCD:VD3:Ni(II) (5:1:1) e

ΒCD:VD3:Ni(II) (10:1:1) apresentaram o mesmo comportamento em relação as

variações de deslocamentos químicos. A comparação dos deslocamentos dos

complexos ternários com ΒCD:VD3, indica a formação do complexo ternário de Ni(II).

Adicionalmente, observou-se que o Δδ de C4 e C6 (-0,61 e -0,44 ppm

respectivamente), dos compostos ternários de Ni(II) foram razoavelmente diferentes

aos outros átomos de carbono do composto binário com VD3 indicando que há

mudança conformacional na estrutura. No espectro de RMN 1H (Figura 30) dos

complexos ternários de níquel nota-se a semelhança entre as proporções, com

exceção do complexo ΒCD:VD3:Ni(II) (5:1:1), na qual aparece um pico referente ao

H10 da VD3. Como todos os sinais das hidroxilas da BCD aparecem suprimidas e os

deslocamentos químicos dos H estão semelhantes, não há como pressupor uma

estrutura para este complexo ternário. Os espectros de RMN 13C desses complexos

estão no item APENDICE.

Figura 30 - Espectros de RMN 1H dos complexos ternário com níquel, na proporção 5:1:1 (acima) e proporção 10:1:1 (meio) com a BCD:VD3 (abaixo)

Já era esperado um deslocamento uniforme nos compostos de inclusão, uma

vez que ao entrar na cavidade da ΒCD a vitamina altera conformacionalmente toda a

estrutura. Os deslocamentos químicos dos complexos binários com cádmio e níquel

mostraram uma diferença em apenas alguns átomos de carbono, isso se deve ao

BCDVitNi ( 5:1:1)

BCDVitNi ( 10:1:1)

ppm (t1)1.02.03.04.05.0

BCDVit

Page 65: Síntese e caracterização do complexo ternário B-ciclodextrina

62

fato do íon metálico não entrar na cavidade da ΒCD, se ligando, provavelmente na

parte externa. Ao se comparar os deslocamentos químicos dos complexos ternários

com a ΒCD:VD3 nota-se que existe um aumento significativo do deslocamento

químico em C4 e C6, comprovando que houve uma inclusão na cavidade da ΒCD. Os

deslocamentos dos átomos de hidrogênio para o complexo ΒCD:VD3:Cd(II) sugere

prováveis sítios de ligação, auxiliando a comprovar a estrutura ternária. Mesmo

assim, existe a necessidade de uma técnica mais completa, como HSQC, para

sugerir a estrutura do ΒCD:VD3:Ni(II).

Na Figura 31 é demonstrada a proposta de estrutura dos complexos ternários

de BCD coma VD3 e os íons metálicos Cd (II) e Ni (II), levando em consideração os

dados obtidos até o momento nos quais indicam a inclusão da VD3 na cavidade da

BCD e os íons metálicos ligados ao oxigênio ligado ao C6 da BCD. A geometria dos

complexos ternários, devido ao grande grau de liberdade que há para a

coordenação dos metais analisadas nesses complexos, foram coordenados de

maneira arbitraria, e suas geometrias moleculares não foram otimizadas até o

termino do trabalho, sendo os resultados apresentados destes meramente

ilustrativos.

Figura 31 - Proposta de estrutura dos complexos ternários.

Page 66: Síntese e caracterização do complexo ternário B-ciclodextrina

63

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho objetivou a síntese de complexos ternários de ΒCD com VD3 e

íons metálicos, os quais têm como principais aplicações as áreas farmacêutica e

biomédica. Para atestar a formação de tais complexos, foram utilizadas

metodologias e técnicas relatadas na literatura.

Pela técnica de RMN 13C e 1H foi possível detectar a formação do composto

binário BCD:VD3 e dos complexos BCD:Cd(II) e BCD:Ni(II) nas duas diferentes

proporções. A comparação entre os deslocamentos químicos dos complexos

ternários e binários foi conclusiva ao comprovar que existe a formação dos

complexos ternários BCD:VD3:Cd(II) e BCD:VD3:Ni(II), em ambas proporções.

Por meio dos resultados obtidos pela técnica do DRX, foi detectada a presença

de um material amorfo no espectro do composto binário ΒCD:VD3 caracterizando a

inclusão da VD3 na ΒCD. Em relação aos complexos binários e ternários, observou-

se que as cristalinidades foram similares à da ΒCD, indicando que ocorreu a

formação de estruturas gaiolas, geralmente formadas pela inclusão de um hóspede

pequeno. O estudo feito pelo IVTF auxiliou a confirmar a formação desses

complexos.

Os diagramas de especiação obtidos por meio da titulação potenciométrica

mostram que houve a formação do composto binário ΒCD:VD3. Contudo, devido ao

pouco ajuste ao método por conta da solubilidade da BCD em H2O, será necessário

ajustar a metodologia para caracterizar os complexos binários e ternários em outro

solvente.

Page 67: Síntese e caracterização do complexo ternário B-ciclodextrina

64

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48 PIERANGELI, M. A. P. et al. Adsorção e dessorção de cádmio, cobre e chumbo por amostras de Latossolos prétratadas com fósforo. Rev. Bras. Ciênc. Solo, v. 28 (2), pp. 377-384, 2004. 49 MCMURRAY, C. e TAINER, J. A. Cancer, cadmium and genome integrity. Nat. Genet., 34 (3), p. 239, 2003. 50 IARC. Cadmium and cadmium compounds. Disponível em: <http://www.iarc.fr>. Acesso em 22/04/2014.

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52 IARC. Nickel and nickel compounds. Disponível em: <http://www.iarc.fr>. Acesso em 22/04/2014. 53 MERCÊ, A.L.R. et al. Complexes of arabinogalactan of Pereskia aculeata and Co2+, Cu2+ ,Mn2+, and Ni2+,Bioresource Technology,76, 29-37, 2001. 54 HIROSE, Keiji. A Practical Guide for the Determination of Binding Constants. J. Incl. Phen. and Macroc. Chem, 39, 193–209, 2001. 55 SKOOG, Douglas A. et al. Fundamentos de química analítica. São Paulo: Thomson Learning: 2006. 56 IUPAC. Stability Constants Database. Disponível em: <http://www.iupac.org/index.php?id=410>. Acesso em 07 nov.2013.

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Page 71: Síntese e caracterização do complexo ternário B-ciclodextrina

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Page 72: Síntese e caracterização do complexo ternário B-ciclodextrina

69

71 RAMNIK, S. et al. Caracterization of Cyclodextrin Inclusion Complexes – A review. J. Pharm. Sci. and Tech. v.2 (3), p.171-183, 2010. 72 KAWANO, Yoshio. Espectroscopia vibracional de absorção no infravermelho in: CANEVAROLO, Sebastião. Técnicas de caracterização de polímeros. São Paulo, Artliber, 2004. 73 JIAO, H.; GOH, S.H.; VALIYAVEETTIL, S. Inclusion complexes of poly(neopentyl glycol sebacate) with cyclodextrins. Macromolecules, v.34, p.8138–8142, 2011. 74 SILVERSTEIN, R. M., BASSLER, G. C. e MORRILL, T. C. Identificação Espectrométrica de Compostos Orgânicos. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. 1994. 75 SAMBASEVAM, K. P. Synthesis and Characterization of the Inclusion Complex of β-cyclodextrin and Azomethine. Int. J. Mol. Sci. v.14, p.3671-3682, 2013. 76 PAVIA, D. L. et al. Introdução à espectroscopia. Tradução da 4ª edição norte-americana. São Paulo: Cengage Learning, 2010. 77 MARTELL, A.E. Motekaitis, R.J. The Determination and Use of Stability Constants, 2 nd ed., VCH, N.Y., 1992. 78 NORKUS, E. Metal íon complexes with native cyclodextrins. An overview. J. Incl. Phen. and Macroc. Chem, v.65, p. 237-248, 2009. 79 BAES, Jr., C.F.; MESMER, R.E. The Hydrolysis of Cations, N.Y., Wiley & Sons,1976. 80 HYPERQUAD. Hyperquad Definitions and Explanations. Disponível em: http://www.hyperquad.co.uk/documents/HQfaq.pdf. Acesso em: 30 abr.2014. 81 LOFTSSON, T.; MÁSSON, M. e BREWSTER, M. E. J. Pharm. Sci. v.93, p.1091 – 1099, 2004. 82 SAENGER, W. Inclusion Compounds. Academic Press, London, v.2, cap.8, 1984. 83 EGYED, O. Spectroscopic studies on β-cyclodextrin. Vibrational Spectroscopy, 1,p.225-227, 1990. 84 LI, N. et al. Complex formation of ionic liquid surfactant and β-cyclodextrin. Colloids Surf. A, 292, 196–201, 2007. 85 LI, W. et al. Spectroscopic and theoretical study on inclusion complexation of beta-cyclodextrin with permethrin. J. Mol. Struct. 981, 194–203, 2010. 86 BERMAN, E., Luz, Z., MAZUR, Y., SHEVES, M.: Conformational analysis of vitamin D and analogs. 1. Carbon-13 and próton nuclear magnetic resonance study. J. Org. Chem. 42, 3325–3330, 1977.

Page 73: Síntese e caracterização do complexo ternário B-ciclodextrina

70

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Page 74: Síntese e caracterização do complexo ternário B-ciclodextrina

71

APÊNDICE

Figura 1- RMN De 13C da ΒCD E ΒCD:Cd (II) nas proporções 5:1 e 10:1, em ppm.

Figura 2 - RMN de 13C Da ΒCD E ΒCD:Ni (II) nas proporções 5:1 e 10:1, em ppm.

BCD:Cd ( II) ( 5:1)

BCD:Cd( II) ( 10:1)

ppm (t1)60708090100

BCD

BCD:Ni( II) ( 5:1)

BCD:Ni ( II) ( 10:1)

ppm (t1)60708090100

BCD

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72

Figura 3 - RMN de 13C da ΒCD e ΒCD:VD3, e do composto ternário ΒCD:VD3:Cd(II) nas proporções 5:1:1 e 10:1:1, ppm.

Figura 4 - RMN de 13C da ΒCD e ΒCD:VD3, e do composto ternário ΒCD:VD3:Cd(II) nas proporções 5:1:1 e 10:1:1, ppm.

BCD

BCD:Vit

BCD:Vit:Cd( II) ( 5:1:1)

ppm (t1)60708090100BCD:Vit:Cd( II) ( 10:1:1)

BCD

BCD:VIT

BCD:Vit:Ni( II) ( 10:1:1)

ppm (t1)60708090100

BCD:Vit:Ni( II) ( 5:1:1)

Page 76: Síntese e caracterização do complexo ternário B-ciclodextrina

73

Figu

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- Es

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ro d

e RM

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13C

: (a)

BCD

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MF;

(c) B

CD:V

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d) V

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tigo

de M

ERCE

et a

l.

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74

ANEXO

O Hyperquad 2000 é apropriado para o trabalho em computadores com

o sistema operacional Windows xp ou em outras versões de windows menos

avançadas, não sendo adequado para o W indows vista ou outros sistemas

mais sofisticados.

É um programa computacional empregado no cálculo das constantes

de estabilidade dos modelos fornecidos, podendo ser aproveitado para

quaisquer reagentes fornecendo um grande número de constantes e

podendo-se usar diferentes tipos de dados, como pH, f.e.m. E absorvância.

Em comparação aos demais programas de cálculos de constante de

estabilidade existentes, este programa possui a facilidade de em apenas

um pacote realizar quase todos os processos por meio dos dados de

equilíbrio em solução que eram feitos manualmente outrora, sendo sua

maior distinção, o fato de juntamente com os dados potenciométricos

poderem ser incluídos os dados espectrométricos.

O programa realiza o refinamento estatístico de constantes a partir

de um sistema proposto com espécies que se julga existir, calculando-se o

balanço de massa, visto que o balanço de carga não é levado em

consideração para simplificação dos cálculos, gerando-se assim valores de

constantes com desvios padrões aceitáveis para as espécies fornecidas no

sistema proposto. No modelo pode-se ignorar ou supor constantes o valor de

determinadas espécies, almejando-se um sistema que represente da melhor

forma possível o equilíbrio químico estabelecido.

Inicialmente, fornece-se ao sistema proposto a quantidade total do

volume de solução, os valores de ph obtidos a cada incremento de base, a

concentração inicial de todos os reagentes, a temperatura e os erros

pertinentes ao método.

Na titulação potenciométrica usou-se um eletrodo de vidro combinado

para as medições de pH, estudando-se o equilíbrio existente entre o íon

metálico, o ligante e as espécies complexadas formadas, estas formam-se

quando os íons H+ presentes nos ligantes são retirados pelos íons OH-,

Page 78: Síntese e caracterização do complexo ternário B-ciclodextrina

75

permitindo que estes sítios de coordenação fiquem “livres” para a formação de

complexo com os íons metálicos.

Para o ligante, as constantes estequiométricas de formação global

calculadas correspondem à equação que se segue:

Porém, a determinação das constantes de dissociação parcial do ligante

hnl é necessária para o cálculo das prováveis espécies presentes no sistema,

sendo os equilíbrios químicos envolvidos, supondo-se um ligante h3l:

As constantes de formação (log β) podem ser associadas aos pka do

ligante representando os valores de ph onde são encontradas as espécies

protonadas e dissociadas:

Pk1 = log β3 – log β2 log β1 = pk3

Pk2 = log β2 – log β1 log β2 = pk2 + pk3

Pk3 = log β1 log β3 = pk1 + pk2 + pk3

Nos cálculos das constantes de formação dos complexos, além das

prováveis espécies existentes, reputam-se nos cálculos as espécies

hidrolisadas do íon metálico, as espécies dos equilíbrios do ligante e da

ionização água, que no estudo em questão foi de -13,76.

Para os complexos, as constantes estequiométricas usadas e calculadas

correspondem às equações que se seguem:

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76

Para a formação de espécies polinucleares, as constantes de formação

global são usadas:

Os quais:

M = íon metálico

L = ligantes

H+ = próton

OH- = hidroxila

Page 80: Síntese e caracterização do complexo ternário B-ciclodextrina

77

O hyss 2006 é relatado, em comparação a outros programas para

especiação, como um dos mais simples, em especial, devido sua interface com o

sistema operacional windows em computadores pessoais, possuindo inclusive

dispositivo gratuito para download em internet. Tem ainda a vantagem de poder

ser usado em diferentes tipos de sistemas, já que não há limites para número de

reagentes e complexos formados.

É utilizado para a validação das curvas de titulação da seguinte forma: as

constantes encontradas a partir dos cálculos do hyperquad 2000 são lançadas

neste programa juntamente aos dados sobre o experimento, como volume final e

concentrações das soluções usadas. Desta maneira, o programa fornece uma curva

teórica experimental para o sistema fornecido, a partir dos pontos de titulação

obtidos, plota-se assim um gráfico comparativo, entre a curva de titulação obtida

experimentalmente e à teórica.

O hyss 2006 serve também para fornecer as curvas de distribuição de

espécies em função do pH, permitindo uma melhor análise do sistema na faixa de

ph em interesse.

Referências:

Alderighi, l. Et al. Hyperquad simulation and speciation (hyss): a utility program for

the investigation of equilibria involving soluble and partially soluble

species, coordination chemistry reviews,184, 311-318, 1999.

Puc-rio. Capítulo 5: programas computacionais. Disponível em: http://www2.dbd.puc-

rio.br/pergamum/tesesabertas/0710743_2011_cap_5.pdf. Acesso dia 05/05/2014.