RECEPTORES PARA IMUNOGLOBULINA G (Fc...

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RECEPTORES PARA IMUNOGLOBULINA G (FcγR) RECEPTORS FOR IMMUNOGLOBULIN G (FcyR) Cleni M. Marzocchi-Machado 1 e Yara M. Lucisano-Valim 2 1 Pós-Doutoranda. Área de Imunologia. Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto-USP. 2 Docente.Departamento de Física e Química. Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto-USP. CORRESPONDÊNCIA: Profa. Dra. Yara M. Lucisano Valim, Depto. de Física e Química da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto-USP. Via do Café s/n, Monte Alegre. CEP 14040-903 Ribeirão Preto - SP, Brasil. Fone: (0xx16) 602-4164. Fax: (0xx16) 633-2960. E-mail: [email protected] Marzocchi-Machado CM, Lucisano-Valim YM. Receptores para Imunoglobulina G (FcγR). Medicina (Ribeirão Preto) 2005; 38 (1): 82-95. Resumo: Os receptores para IgG (FcγR) fazem uma importante ligação entre as respostas imunes humoral e celular. Estes receptores medeiam várias respostas biológicas tais como: fagocitose, endocitose, captura e clearance de imunocomplexos, citotoxicidade e liberação de mediadores inflamatórios. Os FcγR humanos pertencem à superfamília das imunoglobulinas e três classes principais destes receptores são descritas, as quais apresentam várias isoformas. Estas moléculas diferem quanto à afinidade e especificidade para os isotipos de IgG, distribui- ção celular, sinalização intracelular e pesos moleculares. Além disso, o polimorfismo genético é responsável por variações entre os indivíduos. A diversidade estrutural e funcional dos FcγR faz destas moléculas importantes alvos para a imunoterapia. A ativação e desativação de células efetoras via FcγR pode ser explorada para o desenvolvimento de novas terapias para o câncer, doenças infecciosas e desordens auto-imunes. Esta revisão descreve detalhes estruturais e funcionais, relevância clínica e alguns usos terapêuticos dos FcγR. Descritores: Receptores de IgG. Imunoglobulina G. Imunoterapia. 82 1- INTRODUÇÃO As imunoglobulinas da classe G (IgG) exercem inúmeras funções biológicas importantes por interagirem com vários tipos celulares. A base desta interação é a ligação dos domínios Fc (fragmento cristalizável) da IgG com receptores específicos (FcγR: Fc gamma receptors) presentes nas membranas de células do sistema imu- ne. Assim, os FcγR são importantes mediadores da ligação entre as respostas imunes humoral e celular 1 . As interações da IgG com os FcγR podem ocorrer sob duas condições principais: o FcγR de alta afinidade pode ligar-se à IgG monomérica antes que esta tenha se ligado ao antígeno, enquanto que os FcγR de baixa afinidade ligam-se à IgG previamente complexada ao antígeno multivalente, ou seja, na for- ma de imunocomplexos (IC) 1 . A ligação da IgG aos FcγR estimula uma varie- dade de respostas biológicas, dependendo do tipo ce- lular, do tipo de receptor Fcγ e da natureza do comple- xo de IgG (Tabela I). Estas respostas incluem proces- sos diretamente relacionados com a eliminação de antígenos tais como: fagocitose, citotoxicidade celular dependente de anticorpo (ADCC: antibody- dependent cell-mediated cytotoxicity), geração de espécies reativas de oxigênio, liberação de enzimas lisossomais, clearance de IC e regulação da produ- ção de anticorpos 1 . Esta diversidade funcional dos FcγR também é atribuída ao polimorfismo genético, que introduz variações entre os indivíduos 2 , bem como à geração de formas solúveis de FcγR 3 e ao sinergismo com outros receptores 4 . Medicina (Ribeirão Preto) 2005; 38 (1): 82-95. REVISÃO

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RECEPTORES PARA IMUNOGLOBULINA G (Fc γγγγγR)

RECEPTORS FOR IMMUNOGLOBULIN G (FcyR)

Cleni M. Marzocchi-Machado1 e Yara M. Lucisano-Valim2

1Pós-Doutoranda. Área de Imunologia. Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto-USP. 2Docente.Departamento de Físicae Química. Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto-USP.CORRESPONDÊNCIA: Profa. Dra. Yara M. Lucisano Valim, Depto. de Física e Química da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de RibeirãoPreto-USP. Via do Café s/n, Monte Alegre. CEP 14040-903 Ribeirão Preto - SP, Brasil. Fone: (0xx16) 602-4164. Fax: (0xx16) 633-2960.E-mail: [email protected]

Marzocchi-Machado CM, Lucisano-Valim YM. Receptores para Imunoglobulina G (FcγR). Medicina (RibeirãoPreto) 2005; 38 (1): 82-95.

Resumo: Os receptores para IgG (FcγR) fazem uma importante ligação entre as respostasimunes humoral e celular. Estes receptores medeiam várias respostas biológicas tais como:fagocitose, endocitose, captura e clearance de imunocomplexos, citotoxicidade e liberação demediadores inflamatórios. Os FcγR humanos pertencem à superfamília das imunoglobulinas etrês classes principais destes receptores são descritas, as quais apresentam várias isoformas.Estas moléculas diferem quanto à afinidade e especificidade para os isotipos de IgG, distribui-ção celular, sinalização intracelular e pesos moleculares. Além disso, o polimorfismo genético éresponsável por variações entre os indivíduos. A diversidade estrutural e funcional dos FcγR fazdestas moléculas importantes alvos para a imunoterapia. A ativação e desativação de célulasefetoras via FcγR pode ser explorada para o desenvolvimento de novas terapias para o câncer,doenças infecciosas e desordens auto-imunes. Esta revisão descreve detalhes estruturais efuncionais, relevância clínica e alguns usos terapêuticos dos FcγR.

Descritores: Receptores de IgG. Imunoglobulina G. Imunoterapia.

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1- INTRODUÇÃO

As imunoglobulinas da classe G (IgG) exerceminúmeras funções biológicas importantes por interagiremcom vários tipos celulares. A base desta interação é aligação dos domínios Fc (fragmento cristalizável) da IgGcom receptores específicos (FcγR: Fc gamma receptors)presentes nas membranas de células do sistema imu-ne. Assim, os FcγR são importantes mediadores daligação entre as respostas imunes humoral e celular1.

As interações da IgG com os FcγR podemocorrer sob duas condições principais: o FcγR de altaafinidade pode ligar-se à IgG monomérica antes queesta tenha se ligado ao antígeno, enquanto que osFcγR de baixa afinidade ligam-se à IgG previamentecomplexada ao antígeno multivalente, ou seja, na for-

ma de imunocomplexos (IC)1.A ligação da IgG aos FcγR estimula uma varie-

dade de respostas biológicas, dependendo do tipo ce-lular, do tipo de receptor Fcγ e da natureza do comple-xo de IgG (Tabela I). Estas respostas incluem proces-sos diretamente relacionados com a eliminação deantígenos tais como: fagocitose, citotoxicidade celulardependente de anticorpo (ADCC: antibody-dependent cell-mediated cytotoxicity), geração deespécies reativas de oxigênio, liberação de enzimaslisossomais, clearance de IC e regulação da produ-ção de anticorpos1. Esta diversidade funcional dosFcγR também é atribuída ao polimorfismo genético,que introduz variações entre os indivíduos2, bem comoà geração de formas solúveis de FcγR3 e ao sinergismocom outros receptores4.

Medicina (Ribeirão Preto)2005; 38 (1): 82-95. REVISÃO

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Receptores Fcγ

Os FcγR também participam da imuno-regu-lação na patogênese de reações alérgicas, auto-imu-nes e inflamatórias5. Desta forma, há um grandeinteresse científico e clínico no estudo da diversidadedas respostas geradas pela interação IgG-receptores,na expectativa de descobertas importantes sobre asuscetibilidade às doenças, a fisiopatologia das mes-mas e a intervenção terapêutica2, 5. Exemplos distoé a importância terapêutica do conhecimento sobreos FcγR para a identificação de variantes polimór-ficas favoráveis ao desenvolvimento de doenças auto-imunes; o uso de formas solúveis destes receptorespara bloquear a ativação dos FcγR na membrana

de células efetoras; o uso de gamaglobulina intra-venosa para o tratamento de várias doenças imu-nes, bem como a inibição seletiva da ativação celu-lar6.

A possibilidade de inibir os efeitos fisiopatológi-cos da ativação celular mediada pelos FcγR está sen-do considerada como uma nova estratégia para o tra-tamento de doenças relacionadas com a imunoglobu-lina da classe G6. A presente revisão irá detalhar aheterogeneidade estrutural dos FcγR, que é responsá-vel por uma ampla variedade de atividades biológi-cas1, para, então, discutir modelos de imunoterapiadirigida aos FcγR.

FcγRI

FcγRII IIa

IIb

FcγRIII IIIa

IIIb

Constitutiva

Monócitos, Macrófagos,precursores mielóidesCD34+

Monócitos, Macrófagos,Neutrófilos, Eosinófilos,Basófilos, Células deLangerhans, Plaquetas,Células endoteliais daplacenta, Linhagem decélulas megacariocíticas

Monócitos, Macrófagos,Células B,Subpopulações deCélulas T

Macrófagos, Linfócitosgrandes granulares/células NK, Células T γδ,Subpopulações demonócitos

Neutrófilos

Induzida

Neutrófilos (IFN-γ,G-CSF);

Eosinófilos (IFN-γ)

Monócitos: TGF-β

Eosinófilos: IFN-γ

Modulada

↑: G-CSF, IFN-γ,IL-10

↓: IL-4, IL-3

↓: IL-4

↑: IFN-γ, IL-3(eosinófilos somente)

↓: IL-4↑: TGF-β

↑: IFN-γ, GM-CSF,G-CSF

Fagocitose, ADCC,Endocitose,Internalização,Apresentação deantígeno, Produção desuperóxido, Liberaçãode: TNF-α, IL-1β, IL-6

IIa: Fagocitose, ADCC,Endocitose,Internalização, “Burst”respiratório, Liberaçãode: TNF-α, IL-6

IIb1: “Capping”IIb2: InternalizaçãoIIb1/2: “Down”regulação de células B

Fagocitose, ADCC,Endocitose,Internalização,Produção desuperóxido, Liberaçãode: IFN-γ, TNF-α,Indução de apoptose

Monômeros eagregados de IgG1 eIgG3 humanas

IIa-H131:Imunocomplexos deIgG3>IgG1=IgG2>>IgG4

IIa-R131:Imunocomplexos deIgG3>IgG1>>IgG2,4

Imunocomplexos deIgG1 e IgG3

Afinidade intermediáriapara IgG monomérica eImunocomplexos deIgG1 e IgG3

IIIb-NA1:Imunocomplexos deIgG3>>IgG1>>IgG2,4IIIb-NA2:Imunocomplexos deIgG3³IgG1>>IgG2,4

Tabela I: Distribuição e propriedades dos Fc γγγγγR humanos*

FcγγγγγRExpressão

Função Especificidade

* Para revisão: Gessner et al., 19987; Rouard et al., 199764.

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Marzocchi-Machado CM, Lucisano-Valim YM

2- CARACTERÍSTICAS GERAIS DOS FcγγγγγR

Os FcγR são glicoproteínas de membrana, des-critas inicialmente há mais de 30 anos, e, recentemen-te, formas solúveis destas moléculas têm sido identifi-cadas em alguns fluidos biológicos1, 3. No Homem,todos os FcγR pertencem à superfamília das imuno-globulinas e as três classes principais identificadas são:FcγRI (CD64), FcγRII (CD32) e FcγRIII (CD16),além do receptor neonatal para IgG (FcRn)1, 7, 8.

Estas classes de FcγR são codificadas por oitogenes distintos que estão localizados no cromossomo1, nas bandas 1p13 e 1q21 (FcγRI), na banda 1q22(FcγRII e FcγRIII) e no cromossomo 19 nas bandas19q13 para o FcRn1, 7. Alguns destes genes têm múl-tiplos exons e a seleção entre estes, na junção do RNA-mensageiro (RNA-m) (splicing alternativo), podegerar proteínas diferentes7. A análise da seqüência dosRNAs-m indica a possibilidade da ocorrência de vári-as isoformas das três principais classes de FcγR, noentanto, muitas delas ainda não foram demonstradasin vivo1, 7.

Quanto à sua estrutura molecular, os FcγR po-dem apresentar dois ou três domínios extracelulares(EC) semelhantes aos das imunoglobulinas (Ig-like),que são altamente conservados entre as diferentesclasses destes receptores. Além dos domínios EC, osFcγR possuem domínios transmembranas (TM) e do-mínios citoplasmáticos (C), sendo este último de es-trutura variável entre as classes de FcγR7. O sítio deligação para a IgG encontra-se no domínio EC de umacadeia de aminoácidos, denominada cadeia α, presentenos FcγR. Alguns dos FcγR são moléculas formadasapenas por esta cadeia α (receptores de cadeia úni-ca), enquanto outros são complexos de uma ou maiscadeias ( γ, β ou ζ ) associadas à cadeia α (recepto-res de cadeias múltiplas)7.

Todos os FcγR de cadeia única são receptoresde baixa afinidade. Eles compreendem as isoformas:FcγRIIb, FcγRIIa/c e FcγRIIIb. Os FcγRII apresen-tam uma cadeia α com um domínio EC, um domínioTM e um domínio C, este último com uma seqüênciade aminoácidos responsável pela transdução de sinalintracelular. Todavia, a cadeia α do FcγRIIIb não apre-senta os domínios transmembrana e citoplasmático e,então, a expressão deste receptor na membrana deneutrófilos é mediada por uma molécula âncora deglicosil fosfatidil inositol (GPI)1.

Quanto aos receptores de IgG formados porcadeias múltiplas, estes podem ser divididos em doistipos principais. O primeiro tipo é representado pelos

FcγRI e FcγRIIIa, que são compostos de uma cadeiaou subunidade α ligante de IgG, semelhante àquelapresente nos receptores de cadeia única. Nestes re-ceptores, embora esta subunidade α apresente domí-nios TM e C, neste último (o citoplasmático) não háseqüência de aminoácidos transdutora de sinal intra-celular. No entanto, as subunidades α do FcγRI e doFcγRIIIa estão associadas a uma ou duas cadeiasacessórias, que contêm tais seqüências de sinalizaçãointracelular. Estas cadeias acessórias encontram-sena membrana das células e podem variar dependendodo tipo celular onde estão expressas e, por conseguin-te, constituem as subunidades de transdução de sinalquando há ligação da IgG ao seu receptor1, 7, 9.

As subunidades de transdução de sinal podemser homodímeros ou heterodímeros de cadeias deaminoácidos denominadas γ, æ, ou β8. O FcγRI é oreceptor de alta afinidade para IgG e a sua subunida-de α está associada com um homodímero de cadeiasacessórias do tipo γ. Neste receptor, a cadeia γ pare-ce contribuir tanto para melhorar a afinidade para aligação com a IgG, quanto para assegurar a expressãodo receptor na membrana celular10. Quanto aosFcγRIIIa, estes são receptores de baixa ou intermediá-ria afinidade e a subunidade α pode estar associada ahomodímeros de cadeias do tipo γ ou ς, heterodímerosγ-ζ ou ainda, a um monômero de cadeia do tipo β11.Embora o FcγRIIa foi descrito acima como receptorde cadeia única, homodímeros de subunidades γ po-dem se associar a subunidade α deste receptor emalgumas células12.

O segundo tipo de receptor de IgG formadopor mais de uma cadeia é o receptor Fc neonatal(FcRn). Este receptor tem alta afinidade para a IgG efoi descrito primeiramente em ratos e camundongosrecém-nascidos13. A estrutura molecular deste recep-tor apresenta homologia com as cadeias pesadas damolécula de classe I do complexo de histocompatibili-dade principal (CHP). Sua subunidade α tem três do-mínios EC e requer a associação com uma moléculade β2-microglobulina, tanto para ser expresso na su-perfície celular, quanto para interagir com a moléculade IgG1. A subunidade α do FcRn liga-se à IgG noseu domínio EC, mas não possui seqüência de amino-ácidos responsável pela trandução de sinal intracelu-lar no seu domínio citoplasmático. A função do FcRné mediar a transcitose da IgG e, assim, o FcRn é ex-presso na superfície apical das células, contribuindopara a absorção da imunoglobulina14.

Quanto às atividades biológicas dos FcγR, es-tas dependem do tipo do receptor e do tipo celular

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Receptores Fcγ

onde estes receptores estão expressos. Os FcγR po-dem interagir com a molécula de IgG em duas condi-ções: na forma monomérica da IgG ou quando esta seencontra complexada a antígenos multivalentes, naforma de imunocomplexos. Tal interação pode resul-tar na estimulação de respostas biológicas específicasde cada tipo celular onde o FcγR está expresso. OsFcγR são expressos em muitas células, principalmen-te de origem hematopoética, mas não são marcadoresespecíficos de um clone e uma mesma célula pode

expressar mais do que um tipo deste receptor. O re-sultado da co-expressão de FcγR, bem como de ou-tros tipos de receptores, constitui mais um fator paraa diversidade de respostas biológicas envolvendo omesmo ligante e um complexo-receptor. Assim, quan-do recrutados por ligantes multivalentes, alguns FcγRpodem atuar como co-receptores positivos e outroscomo negativos1.

A Tabela I e a Figura 1 ilustram as característi-cas da família de FcγR.

Figura 1: Representação esquemática da família de receptores humanos para Fc de Imunoglobulina G (FcγR). S-S: pontes dedissulfeto; ITAM: seqüência de ativação de imuno-receptor baseada em tirosina (Immunoreceptor tyrosine-based activationmotif); ITIM: seqüência de inibição de imuno-receptor baseada em tirosina (Immunoreceptor tyrosine-based inhibitory motif);GPI: glicosil fosfatidil inositol (glycosylphosphatidylinositol). Os domínios Ig-semelhantes (Ig-like) próximos à membrana são osdomínios ligantes de IgG. Com exceção do FcγRIIIb, todos os FcγR são moléculas transmembrana. Os produtos dos genes paracada classe de FcγR e suas subunidades individuais estão indicados como: a, b, e c; e α, β, γ, e ζ, respectivamente. Adaptadode Deo et al. (1997)6 e Gessner et al. (1998)7.

Receptores Fcγγγγ Humanos

Ia

Ib2

ITAM

I γγγγ

-S-S-

FcγγγγRI (CD64)

+ +

FcγγγγRII (CD32)

-S-S-

+ +

II γγγγ

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+ +

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IIb3IIb1

–––

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+

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+

IIIa ββββIIIa γγγγ

-S-S-

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IIIa IIIb

Âncora de GPI

FcγγγγRIII (CD16) FcRn

ββββ2 microglobulina

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Receptores Fcγγγγ Humanos

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FcγγγγRI (CD64)

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IIIa IIIb

Âncora de GPI

FcγγγγRIII (CD16) FcRn

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Receptores Fcγγγγ Humanos

Ia

Ib2

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+ +

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–––

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Receptores Fcγγγγ Humanos

Ia

Ib2

ITAM

I γγγγ

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FcγγγγRI (CD64)

+ +

FcγγγγRII (CD32)

-S-S-

+ +

II γγγγ

IIa IIc

+ +

ITIM

IIb3IIb1

–––

IIb2

Ia

Ib2

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I γγγγ

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FcγγγγRI (CD64)

+ +

Ia

Ib2

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I γγγγ

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FcγγγγRI (CD64)Ia

Ib2

Ia

Ib2

Ia

Ib2

ITAM

I γγγγ

-S-S-

ITAM

I γγγγ

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I γγγγ

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FcγγγγRI (CD64)

+ +

FcγγγγRII (CD32)

-S-S-

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II γγγγ

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+ +

ITIM

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FcγγγγRII (CD32)

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II γγγγ

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+ +

ITIM

IIb3IIb1

–––

IIb2

FcγγγγRII (CD32)

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+ +

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-S-S-

III ζζζζ

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+

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Âncora de GPI

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III ζζζζ

+

+

+

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III ζζζζ-γγγγ

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III ζζζζ-γγγγ

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+

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+

III ζζζζ-γγγγ

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++

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+++

IIIa ββββIIIa γγγγ

-S-S-

+ +

IIIa γγγγ

-S-S-

IIIa γγγγ

-S-S-

IIIa γγγγ

-S-S--S-S--S-S-

+ +++ ++

IIIa IIIb

Âncora de GPI

IIIa IIIb

Âncora de GPI

IIIaIIIa IIIb

Âncora de GPI

IIIbIIIb

Âncora de GPI

FcγγγγRIII (CD16) FcRn

ββββ2 microglobulina

FcRn

ββββ2 microglobulinaββββ2 microglobulina

ITAMαααα αααααααα αααα αααα αααα αααα

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ITAM ITAM

ITAM

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Marzocchi-Machado CM, Lucisano-Valim YM

2.1- FcγγγγγRI (CD64)

O FcγRIa (CD64) é uma glicoproteína de 72kDa constitutivamente expresso em monócitos e ma-crófagos, podendo ser induzido em neutrófilos. Estereceptor não apresenta polimorfismo em humanos.Embora existam três genes para o FcγRI, somente ogene A codifica o receptor de alta afinidade FcγRIa.A isoforma FcγRIb é de baixa afinidade e somentedetectada in vitro1.

O FcγRIa liga monômeros e agregados de IgG1e IgG3 com alta afinidade [Ka (constante de afinida-de) = 108 – 109 M-1] e a interação com IgG4 e, parti-cularmente, com IgG2 é muito fraca. A alta afinidadeé dependente do terceiro domínio EC, o qual não estápresente nas outras duas classes destes receptores9.

Quando a molécula de IgG liga-se ao domínioEC da subunidade á do FcγRIa, o sinal intracelular émediado pelo homodímero de cadeias γ, que está as-sociado à cadeia α na membrana celular15. Estas ca-deias do tipo γ, no homodímero, possuem uma seqüênciaestrutural nos seus domínios citoplasmáticos denomi-nada de motivo de ativação de imuno-receptor basea-do em tirosina (ITAM: Immunoreceptor Tyrosyne-based Activation Motif). Os ITAMs possuem resí-

duos de tirosina que são fosforilados por tirosinaquinases, dando início a uma cascata de eventosbioquímicos no citoplasma, que culminam na ativaçãode resposta biológica da célula específica. Desta for-ma, são os ITAMs que transmitem para o interior dacélula o sinal da ligação da IgG ao seu receptor7.

2.2- FcγγγγγRII (CD32)

O FcγRII (CD32) em humanos é uma glico-proteína de 40 kDa e é o receptor para IgG mais am-plamente distribuído entre as células. Existem trêsgenes (A, B e C) para este receptor e seis RNAs-mdiferentes (a1, a2, b1, b2, b3 e c) são transcritos. Noentanto, somente o FcγRIIa2 (solúvel), o FcγRIIa1(transmembrana) e duas isoformas do FcγRIIb (b1 eb2) têm sido demonstrados in vivo. Portanto, esta clas-se de receptor compreende duas subclasses: FcγRIIae FcγRIIb16.

O FcγRII liga IC de IgG1 e IgG3 (Ka < 107 M-1),mas interage muito fracamente com IgG4. A ligação àIgG2 depende do polimorfismo do FcγRIIa, que apre-senta duas variantes alotípicas: o FcγRIIa-R131(arginina 131) e o FcγRIIa-H131 (histidina 131) (Figu-ra 2). A substituição de um único aminoácido na posi-ção 131 do segundo domínio EC influencia a ligação

Figura 2: Representação esquemática das variantes polimórficas dos receptores humanos para Fc de Imunoglobulina G(FcγR): R/Arg (Arginina)-131; H/His (Histidina)-131; V/Val (Valina)-158; F/Fen (Fenilalanina)-158; NA: antígeno de neutrófilo(neutrophil antigen; NA1 e NA2). ITAM: seqüência de ativação de imunoreceptor baseada em tirosina (Immunoreceptortyrosine-based activation motif); GPI: glicosil fosfatidil inositol (glycosylphosphatidylinositol). Adaptado de Deo et al. (1997)6

e Gessner et al. (1998)7.

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Receptores Fcγ

da IgG ao receptor. O alótipo FcγRIIa-R131 não inte-rage, ou o faz muito fracamente, com a IgG2. Ao con-trário, o alótipo FcγRIIa-H131 é o único FcγR capazde ligar IgG2 com significativa especificidade17. Quan-to à sua estrutura molecular, este receptor é formadopor uma única cadeia α, que apresenta domínios EC,onde se liga a IgG, TM e citoplasmático. No domínioC desta cadeia α, encontram-se as seqüências trans-dutoras de sinal intracelular denominadas de ITAM1,8.

As diferenças funcionais entre as subclassesdo FcγRII estão na presença de motivos de sinaliza-ção especializados. Isto é, o FcγRIIa apresenta ummotivo ITAM, enquanto que no FcγRIb é encontradoum motivo de inibição de imuno-receptor baseado emtirosina (ITIM: Immunoreceptor Tyrosine-basedInhibitory Motif). Os resíduos de tirosina em ambosos motivos de sinalização intracelular (ITAM e ITIM)são críticos para a ativação e a inibição celular, res-pectivamente18.

2.3- FcγγγγγRIII (CD16)

Os FcγRIII (CD16) em humanos são proteínasaltamente glicosiladas e com pesos moleculares quevariam entre 50 a 80 kDa. Estes receptores ligam IgGna forma de IC, com especificidade para IgG1 e IgG3(Ka = ≤ 107 M-1) e mínima ligação para IgG4 e IgG25,7.

O FcγRIII é codificado por dois genes distintosaltamente homólogos: os genes FcγRIIIA e FcγRIIIB.O produto do gene FcγRIIIA é o FcγRIIIa, um recep-tor transmembrana em células natural killer (NK) emacrófagos, enquanto que o gene FcγRIIIB codificao FcγRIIIb, um receptor ligado por âncora de glicosilfosfatidil inositol (GPI) em neutrófilos, que é o únicoFcγR sem domínio TM19. O gene FcγRIIIB apresen-ta um polimorfismo, que determina a ocorrência dosalótipos de antígenos nos neutrófilos 1 (NA: neutrophilantigen 1) e 2 (NA2), que diferem entre si apenaspelo maior número de sítios de glicosilação em NA220

(Figura 2). Um novo alo-antígeno, chamado SH, foilocalizado no FcγRIIIb e é resultante de uma muta-ção no gene FcγRIIIB-NA2 de um única base C → Ana posição 266, que resulta na substituição de umaalanina por um ácido aspártico21. Desta forma, trêsgenes são identificados: FcγRIIIB-NA1, FcγRIIIB-NA2 e FcγRIIIB-SH22.

A expressão do FcγRIIIb é predominante noneutrófilo, com 1-3x106 moléculas/célula, comparadaao FcγRIIa com 1-2x104 moléculas/célula23. Enquan-to o FcγRIIIb ancorado por GPI na superfície celularé uma proteína monomérica, o receptor FcγRIIIa é

um complexo formado pela associação da sua cadeiaα, ligante de IgG, com dímeros das subunidadesacessórias γ, ζ e/ou β15, as quais apresentam as se-qüências ITAM, transdutoras de sinal intracelular.Assim como para o FcγRI, as cadeias γ no complexoreceptor FcγRIIIa, parecem influenciar a ligação daIgG, conferindo afinidade intermediária para estaisoforma em contraste à baixa afinidade do FcγRIIIb,que não se associa às subunidades γ7.

Embora o FcγRIIIb não possua seqüência desinalização no citoplasma, a sua interação com outrosreceptores na superfície celular é importante para umaresposta efetora completa, visto que a cooperação doFcγRIIIb com o FcγRIIa e o receptor para comple-mento tipo 3 (CR3) é necessária para a fagocitose,ADCC e degranulação eficientes24. Além disso, a co-agregação dos FcγRIIIb nos neutrófilos leva à ativa-ção celular4.

2.4- FcRn

O receptor neonatal para IgG, o FcRn, foi iso-lado pela primeira vez a partir de intestino fetal derato, o que justifica sua nomenclatura25. No entanto, oFcRn é expresso em tecidos do feto, de recém-nasci-do e de adultos humanos26. Além de mediar o trans-porte da IgG da mãe para o feto ou para o intestino dorecém-nascido, o FcRn também regula os níveisplasmáticos de IgG26, 27.

Do ponto de vista estrutural, o FcRn difere dosdemais FcγR. Ele é um heterodímero, sendo uma ca-deia do tipo α, de 41-50 kDa, com domínios trans-membrana e citoplasmático, que está associada comuma β2-microglobulina. A região extracelular da ca-deia α possui três domínios, que são homólogos à mo-lécula de classe I do CHP, no entanto, o sítio de liga-ção para a IgG no FcRn é diferente daquele onde opeptídeo liga-se ao CHP. O FcRn interage com a IgGna extremidade dos seus domínios EC α1-α2 e naporção NH2-terminal da β2-microglobulina1, 28.

Quanto à interação da IgG com o FcRn, umaúnica molécula da IgG liga-se a duas moléculas destereceptor e todas as subclasses de IgG ligam-se comalta afinidade (Ka = 2-5 x 107 M-1). A forma diméricado receptor aumenta a afinidade de ligação com a IgG.A interação da IgG com o FcRn é dependente do pH,sendo ótima entre pH 5,0 e 6,5 e diminuindo duas or-dens de grandeza em pH 7,0. Esta propriedade permi-te ao FcRn, no intestino de recém-nascidos, ligar-se àIgG, presente no leite materno ingerido, que se encon-tra em pH ácido. A ligação da IgG ao FcRn é seguida

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pela liberação de um sinal para a endocitose e, assim,a IgG é transportada em endossomos através do epi-télio intestinal e liberada na corrente sangüínea empH neutro1, 8, 9.

2.5- FcγγγγγR solúveis

Formas solúveis dos FcγR de baixa afinidadepodem ser encontradas nos fluidos biológicos. Estasmoléculas podem ser geradas pela clivagem enzimáti-ca dos receptores de membrana ou como produtos desplicing alternativo3.

No Homem, as formas solúveis dos FcγRIIIade células NK, FcγRIIIb de neutrófilos e FcγRIIb delinfócitos B ativados são geradas pela clivagem enzi-mática do receptor ancorado na membrana celular.Além disso, em camundongos e em humanos, umsplicing alternativo do exon que codifica o domínioTM também pode gerar FcgRII solúvel3.

Os FcγR solúveis são capazes de ligar IgG coma mesma especificidade do seu receptor correspon-dente presente na membrana celular. Uma vez que osFcγR solúveis interagem com a porção Fc da IgG, es-tas moléculas podem interferir com a resposta imunepor competir com os receptores de membrana e, en-tão, modular as funções efetoras dependentes de Fc29.

A forma solúvel de ambas as isoformas doFcγRIII tem sido detectada e quantificada nos sorosde indivíduos saudáveis3 e vários estudos têm mostra-do que os níveis séricos desta classe de receptor, es-pecialmente da isoforma FcγRIIIb, variam significati-vamente em algumas desordens imunológicas ou do-enças relacionadas30, 31.

Os FcγR solúveis também podem interagir comoutros ligantes além das imunoglobulinas3. A formasolúvel do FcγRIIIb pode se ligar aos receptores parao complemento, CR3 e CR4, e inibir a ligação de par-tículas revestidas com iC3b (fragmento inativado docomponente C3b do complemento) a estes recepto-res. Assim, o FcγRIIIb solúvel pode contribuir paramodular a ligação de agentes infecciosos opsonizadosao CR3 e ter um papel nos processos infecciosos. Alémdisso, CR3 e CR4 são receptores importantes para aadesão de neutrófilos ativados às superfícies do endo-télio vascular. Uma vez que os neutrófilos expressamaltos níveis de FcγRIIIb, estes receptores podem serliberados da membrana, quando estas células sãoativadas. O FcγRIIIb solúvel pode interferir com ainteração entre o CR3 e seus ligantes e, assim, exer-cer um controle da reação inflamatória local32.

3. SINALIZAÇÃO CELULAR MEDIADAPELOS FcγγγγγR

Os FcγR não reconhecem diretamente o antí-geno, mas funcionam como receptores de membranapara antígenos sem nenhuma especificidade pré-de-terminada. Quando se liga ao FcγR, o anticorpo con-fere ao antígeno especificidade para uma grande va-riedade de células, a maioria das quais são destituídasde estruturas de reconhecimento de antígeno8.

A sinalização mediada pelos FcγR requer a agre-gação destes receptores na superfície da célula, o quepermite o contato entre enzimas e substratos intrace-lulares. A agregação pode ocorrer sob duas condiçõesprincipais: a) os FcγR de alta afinidade podem ligarIgG monomérica antes que esta tenha se complexadocom o antígeno e b) os FcγR de baixa afinidade re-querem que a IgG tenha sido previamente complexa-da ao antígeno multivalente. No entanto, os FcγR debaixa e de alta afinidade estimulam respostas celula-res com eficiências equivalentes8. Os mecanismospelos quais os FcγR estimulam a resposta celular aosIC e o que determina a especificidade da respostacelular têm sido amplamente investigados8,9.

Para discutirmos as propriedades biológicasdos FcγR de membrana, podemos dividí-los em doisgrupos principais sob o aspecto funcional: os FcγRque induzem a ativação celular e os FcγR que não ofazem8.

O primeiro grupo de receptores possui um oumais motivos de ativação (ITAM) citoplasmáticos eincluem os receptores de cadeia única (FcγRIIa) e osde cadeias múltiplas (FcγRI e FcγRIIIa). O segundogrupo, o dos receptores sem ITAM, inclui os FcγRque não estimulam a ativação celular e podem ser di-vididos em: a) receptores de cadeia única (FcγRIIb),apresentando ITIM no seu domínio C, que inibe a ati-vação celular mediada pelos receptores com ITAM,b) o FcγRIIIb, que não possui domínio C e por si sónão é capaz de ativar a célula, mas contribui para asinalização graças à co-expressão com outros recep-tores (FcγRIIa e CR3) e c) o FcRn, que não estimulanem inibe a célula, apenas medeia a transcitose daIgG em células polarizadas1, 8.

Muitos dos FcγR compartilham motivos de ati-vação com os receptores de antígenos das células B(o BCR: B cell receptor) e das células T (o TCR: Tcell receptor) e, sob algumas circunstâncias, estimu-lam respostas celulares usando as mesmas vias detransdução de sinal dos BCR e dos TCR8.

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3.1- FcγγγγγR com ITAM

O motivo de ativação celular, ITAM, é com-posto por duas seqüências YxxL intercaladas por dozeresíduos de aminoácidos variáveis, nos receptores decadeia única33, ou por sete resíduos nas cadeias aces-sórias dos receptores de cadeias múltiplas34.

A agregação dos FcγR pela interação com seusligantes específicos desencadeia uma cascata de si-nalização citoplasmática, que se inicia pela ativaçãode tirosina quinases associadas aos domínios citoplas-máticos destes receptores ou de suas cadeias acessó-rias, que possuem os ITAMs. Os resíduos de tirosina(Y) conservados nas seqüências dos ITAMs são, en-tão, fosforilados. O recrutamento das quinases é umevento crítico para a ativação celular. O primeiro gru-po é a família src de tirosina quinases. Cada classe deFcγR ativa proteínas quinases específicas pertencen-tes a este grupo, por exemplo, as quinases: lck, lyn,hck e Fgr. O segundo grupo de quinases, que se tor-nam ativadas, é a família syk1, 8.

A fosforilação dos resíduos de tirosina nosITAMs induz outros eventos de fosforilação, que pro-movem a ativação de várias enzimas. Para os recep-tores contendo ITAM, as principais vias bioquímicasde sinalização estimuladas são aquelas relacionadas àmobilização de Ca2+ intracelular, vias que levam à ati-vação da proteína quinase C (PKC: protein kinaseC) e as vias sinalizadoras Ras e da proteína ativadapor mitógeno (MAP: mitogen-activated protein)-quinase35.

As proteínas syk ativam a fosfolipase C γ(PLCγ), a qual gera metabólitos que ativam a PKC eo ciclo do fosfato inositol. O trifosfato inositol (IP3:inositol phosphate 3) estimula a mobilização de Ca2+

dos estoques celulares, por se ligar aos receptores paraIP3 no retículo endoplasmático. Acredita-se que esteaumento transitório na concentração de cálcio intra-celular abra os canais de Ca2+ da membrana plasmá-tica, mantendo um nível elevado de Ca2+ intracelular,o que é uma característica constante da ativação ce-lular mediada pelos FcγR com ITAM. A ativação dasquinases syk também leva à fosforilação de fosfatidilinositol 3 quinases, as quais associadas com syk sãoessenciais para a fagocitose1, 8.

A ativação de fosfolipases promove a hidrólisedos fosfolipídeos de membrana, gerando uma varie-dade de lipídeos bioativos, como por exemplo, odiacilglicerol, que é capaz de ativar a PKC associadaà membrana plasmática. Esta PKC, por sua vez,

fosforila o componente citosólico da NADPH (Nico-tinamida Adenina Dinucleotídeo Fosfato, forma redu-zida)-oxidase, uma cadeia transmembrana transpor-tadora de elétrons essencial para a função bactericidados fagócitos36.

A ação coordenada destas cascatas enzimáticasleva à ativação de fatores de transcrição, que indu-zem a expressão de genes cujos produtos são neces-sários para a ativação funcional das células. Os prin-cipais fatores de transcrição ativados em resposta àestimulação dos FcγR são os fatores nucleares decélulas T ativadas (NFAT: nuclear factors ofactivated T cells)37 e o fator nuclear kappa B (NFkB:nuclear factor k B)38. Quando ocorre a ativação ce-lular, em resposta à interação de um ligante com seureceptor na superfície da célula, os NFAT são ativados.Por ação da fosfatase calcineurina dependente docomplexo cálcio-calmodulina, os NFAT são transpor-tados para o núcleo, onde irão atuar para aumentar aexpressão gênica na célula ativada39, o que leva aorearranjo do citoesqueleto-actina, internalização daspartículas e liberação de mediadores.

Os ITAMs presentes em diferentes tipos decadeias nos receptores para imunoglobulinas não pos-suem as mesmas propriedades estimulatórias. Istosugere que em receptores de cadeias múltiplas, o sig-nificado biológico da presença de várias subunidadescom ITAM deva ser a cooperação para gerar sinaismais eficientes8.

3.1.1- Respostas biológicas estimuladas pelosFcγγγγγR com ITAM

Os ITAMs estimulam ou contribuem para esti-mular três atividades biológicas: ativação celular,endocitose e fagocitose. As respostas biológicas sãoprincipalmente determinadas pelo tipo celular onde oFcγR encontra-se expresso. Diferentes receptores comITAM estimulam as mesmas respostas, quando ex-pressos nas mesmas células. Ao contrário, o mesmoreceptor, quando expresso em células diferentes, esti-mula respostas específicas de cada tipo celular1, 7, 9.

Como ilustrado na Tabela I, os FcγR podem in-duzir diferentes respostas biológicas. Nas células NK,o FcγRIIIa medeia a morte de células alvos, revestidaspor IgG, pelo mecanismo de ADCC. A ADCC tam-bém pode ser mediada pelo FcγRI em macrófagos emonócitos. Estes receptores estimulam a produção desuperóxido e secreção de citocinas por estas células.O FcγRIIa estimula o burst ou explosão respiratóriaem neutrófilos e liberação de mediadores pelas pla-

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quetas. Além da ativação celular, os FcγR com ITAMinduzem a internalização dos seus ligantes, que po-dem ser IC solúveis, os quais são endocitados por to-dos os tipos celulares, ou podem ser IC particulados,internalizados somente por células fagocíticas8.

Embora a associação das diversidades estrutu-ral e de distribuição celular dosFcγR assegure a estesreceptores uma ampla variedade de respostas biológi-cas, receptores diferentes podem compartilhar carac-terísticas comuns. Os FcγR associados com cadeias γ(FcγRI e FcγRIIIa), bem como o FcγRIIa, recrutamas mesmas quinases após a sua agregação. Além dis-so, tanto para os receptores FcγRI e FcγRIIIa, quantopara os FcγRIIa, a fagocitose e a endocitose são de-pendentes da presença de ITAM. No entanto, estasduas funções efetoras são independentes da proprie-dade de ativação celular do ITAM1, 7, 8, 9.

3.2- FcγγγγγR sem ITAM

FcγγγγγRIIb - O FcγRIIb apresenta um motivode inibição celular (ITIM) no seu domínio citoplas-mático e é considerado um co-receptor negativo detodos os receptores com ITAM. O ITIM tem comocaracterística uma seqüência de treze aa(AENTI TYSLL KHP), contendo um resíduo detirosina (Y) conservado. Em outros receptores, taiscomo o receptor de inibição de células NK (KIR:killer-cell inhibitory receptor), pode ocorrer resídu-os conservados de isoleucina (I ) ou de valina (V) adois resíduos da porção N-terminal da tirosina (Y)conservada (AENTI/V TYSLLKHP), o que propõeuma estrutura mínima para os ITIMs (I/V xYxxL/V )40.Esta seqüência de aa no ITIM é necessária para ainibição da ativação da célula B pelo FcγRIIb40 e de-termina a habilidade deste receptor para mediar aendocitose de IC solúveis. Em humanos, o FcgRIIb2não estimula a fagocitose18, enquanto o FcγRIIb1 éincapaz de mediar a endocitose41.

O FcγRIIb pode inibir a ativação celular de-pendente do receptor de antígeno da célula B (BCR)e de todos os FcR, incluindo os FcR para IgG, IgE eIgA, quando co-expresso com estes receptores. Emcélulas B, a co-agregação do FcγRIIb com recepto-res de ativação contendo ITAM capacita uma proteí-na da família de tirosina quinases src a fosforilar nãosomente o ITAM, mas também o ITIM. O ITIMfosforilado recruta a fosfatase 1 inositol fosfato quecontém um domínio 2 de homologia src (SHIP-1: src-homology 2 domain-containing inositol phosphate5-phosphatase 1), que inibe as vias estimuladas pe-

los receptores com ITAM, a via moduladora de Ca2+

e a via sinalizadora Ras. Como conseqüência, a ativa-ção de enzimas dependentes de Ca2+, como a calci-neurina, que promove a translocação do NFAT para onúcleo, é inibida, bem como os eventos dependentesda MAP-quinase. Os substratos da via da MAP-quinase são fatores de transcrição que cooperam como NFAT para induzir a transcrição de genes de citoci-nas39 entre outras funções.

A relevância biológica da inibição celular medi-ada pelo FcγRIIb é o controle da produção de anticor-pos pelas células B42. Alguns experimentos tambémtêm mostrado que anticorpos IgG podem regular ne-gativamente a ativação de mastócitos, pela co-agre-gação dos FcγRIIb e FcεRI (receptor de alta afinida-de para IgE)43. A propriedade imuno-regulatória daIgG conferida pelo FcγRIIb completa as habilidadesdesta classe de imunoglobulina para influenciar todosos estágios da resposta imune8.

FcγRIIIb- Embora os FcγRIIIb sejam incapa-zes de estimular a ativação celular por si só, estesreceptores são importantes para a fagocitose edegranulação eficientes. A ativação simultânea doFcγRIIIb e CR3 leva ao burst respiratório em neutró-filos, devido à fosforilação do domínio C do FcγRIIa eao cross-linking do CR3, que induz a associação doFcγRIIa com o citoesqueleto4. Alguns estudos suge-rem que em neutrófilos o FcγRIIIb seria importantepara o acúmulo de IC na membrana para ativar oFcγRIIa e para o aumento do influxo de cálcio, en-quanto que o FcγRIIa seria o responsável pelo poten-cial de membrana e geração de superóxido44.

FcRn- Assim como outros FcγR, o FcRn apósa agregação libera um sinal endocítico de naturezadesconhecida. A expressão do FcRn no pólo apicaldas células intestinais contribui para a absorção daIgG. Este receptor também foi encontrado em hepa-tócitos de ratos, onde eles ligam a IgG da bile45 e emsinciotiotrofoblasto de placenta de humanos, onde elesprovavelmente permitem a endocitose da IgG e suatranscitose para os tecidos fetais por um gradiente depH46. Além disso, o FcRn protege a IgG plasmáticado catabolismo26.

4- RELEVÂNCIA DO POLIMORFISMO DOSFcγγγγγR

FcγRI - Embora o FcγRIa não seja polimórfico,uma única família foi identificada na Bélgica com al-guns indivíduos deficientes da expressão deste recep-

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Receptores Fcγ

tor. Neste caso, a ausência do receptor está relacio-nada a uma diferença de um único nucleotídeo e es-ses indivíduos eram aparentemente saudáveis e nãoapresentavam desordens auto-imunes, infecciosas ouinflamatórias47.

FcγRII – O polimorfismo do FcγRIIa (CD32)é o melhor estudado e aparentemente de maior inte-resse e implicações clínicas. A variação alélica repre-sentada pela mutação de um único aa na posição 131(arginina ou histidina) do segundo domínio EC é críti-ca para a ligação da IgG2. Outro aa polimórfico estálocalizado na posição 27 (glutamina ou triptofano), masparece não afetar a ligação da IgG48. O alótipoFcγRIIa-H131 é o único capaz de ligar IgG2 eficien-temente, o que confere a este alótipo um importantepapel na imunidade mediada por IgG2. Esta subclassede IgG é essencial para a defesa contra bactériasencapsuladas, tais como Neisseria meningitidis eHaemophilus influenzae5.

Os neutrófilos de indivíduos homozigotos paraFcγRIIa-H/H131 fagocitam bactérias opsonizadas porIgG2 significativamente melhor do que as célulasFcγRIIa-R/R13149. Uma vez que a IgG2 é um ativadorfraco do sistema complemento, o polimorfismo doFcγRIIa pode ser mais crítico para os mecanismos dedefesa contra patógenos encapsulados, quando os níveisde IgG2 estão relativamente baixos, como por exem-plo em crianças50. Esta importância do polimorfismodo FcγRIIa é reforçada pelos estudos epidemiológi-cos, que mostram uma baixa incidência de infecçõespor bactérias encapsuladas na população japonesa, ondeo alótipo FcγRIIa-H/H131 é predominante51.

Clinicamente, o interesse para o estudo dosFcγR tem origem nos mecanismos de clearance deIC. A ineficiência destes mecanismos pode levar àdeposição de IC em órgão vulneráveis52. Um exem-plo clássico de doença auto-imune mediada por IC é olúpus eritematoso sistêmico (LES). A disfunção dosFcγR correlaciona-se com a atividade da doença,nefrite e com os níveis séricos de IC53, 54, 55. Umaassociação significativa entre o alótipo FcγRIIa-R/R131 e nefrite lúpica já foi descrita56. Algumas mani-festações do LES, tais como anemia hemolítica auto-imune e hipocomplementemia pronunciada, foram ob-servadas com maior freqüência em pacientes com oalótipo FcγRIIa-R/R1312.

O polimorfismo do FcγRIIa também pode serconsiderado um fator de risco para a trombocitopeniainduzida por heparina (TIH). A TIH é caracterizadapela ativação de plaquetas mediada por FcγRIIa na

presença de soro do paciente e heparina. A freqüên-cia do alótipo FcγRIIa-H/H131 foi significativamentemaior em pacientes com TIH (34,4 %) comparadacom os pacientes não trombocitopênicos57.

A subclasse FcγRIIb exibe uma heterogenei-dade genética baseada na diferença de um aa na po-sição 11 do domínio C, onde uma tirosina é substituídapor um ácido aspártico, modificando as característi-cas de internalização do receptor58.

FcγγγγγRIII – Um polimorfismo trialélico doFcγRIIIa ocorre por substituição do nucleotídeo naposição 230, que resulta na presença de leucina, histi-dina ou arginina na posição 48 do primeiro domínioEC do receptor. Tal polimorfismo resulta em diferen-ças nas características para a ligação da IgG59. Outrasubstituição de nucleotídeo na posição 559 do geneFcγRIIIA codifica para uma valina ou fenilalanina naposição 158 do receptor60 (Figura 2). Algumas varia-ções nos níveis de expressão do FcγRIIIa em célulasNK em humanos sugerem outro polimorfismo do re-ceptor com diferenças para a ADCC e para a ligaçãoda IgG monomérica. No entanto, estas variações ain-da não foram associadas com seqüelas clinicamenteevidentes61.

O FcγRIIIb é expresso somente em neutrófilose apresenta um polimorfismo de três alo-antígenosNA1, NA2, e SH. Este polimorfismo, bem como adeficiência deste receptor, têm sido associados comneutropenia neonatal, quando mães são alo-imuniza-das em gestações anteriores, passando anticorpos IgGanti-FcγRIIIb para o feto FcγRIIIb (+) 21, 62.

Os alótipos NA1 e NA2 diferem entre si emvários aa, com mutações nas posições 65 e 82, resul-tando em dois sítios extras de glicosilação (seis ao in-vés de quatro) no FcγRIIIb-NA2 (Figura 2). Os neu-trófilos de indivíduos com o alótipo FcγRIIIb-NA2 sãomenos eficientes para fagocitar eritrócitos sensibiliza-dos com IgG1 e IgG3, bem como bactérias opsonizadascom IgG1, quando comparados com os neutrófilos deindivíduos do alótipo FcγRIIIb-NA1. No entanto, es-tes alótipos não apresentam diferenças quanto àfagocitose mediada por IgG220, 50.

A expressão do FcγRIIIb é pronunciadamentereduzida em pacientes com hemoglobinúria paroxísticanoturna, cujo defeito primário é a deficiência de sínte-se da molécula de GPI, que é necessária para ancoraro receptor na membrana19.

Quanto à relevância clínica do polimorfismo doFcγRIIIb, há uma associação altamente significativaentre o fenótipo combinado FcγRIIa-R/R131 e

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FcγRIIIb-NA2/NA2 e infecções meningocócicas empacientes com deficiência de componentes da via ter-minal do sistema complemento63.

5- FcγγγγγR COMO ALVOS PARA A IMUNOTE-RAPIA

Os FcγR são moléculas importantes para esti-mular respostas inflamatórias, citotóxicas, de hipersen-sibilidade, endocíticas e fagocíticas das células efetorasdo sistema imune. Além disso, a fagocitose mediadapelos FcγR nas células, tais como macrófagos e célu-las dendríticas, pode levar à apresentação de antígenoe amplificação da resposta imune. A ativação e regu-lação destas funções mediadas pelos FcγR estão en-volvidas na fisiopatologia de várias doenças. Assim,os FcγR têm sido explorados como alvos para o de-senvolvimento de novas terapias para o câncer, doen-ças infecciosas e desordens auto-imunes6,64.

O determinante do sucesso dos anticorpos con-vencionais para dirigir a ADCC contra tumores é asua habilidade para ligar e estimular eficientemen-te o FcγR. Diante disto, para sobrepor as limitaçõesdos FcγR de humanos para ligar os monoclonaismurinos, os domínios constantes destes anticorpos têmsido substituídos por domínios constantes de anticor-pos de humanos. Estes anticorpos quiméricos combi-nam a especificidade dos anticorpos murinos com asregiões Fc dos anticorpos de humanos. Esta novamolécula tem uma habilidade maior para mediar a liseda célula tumoral por ADCC e para fixar complemen-to65. Além destes anticorpos quiméricos, anticorposbi-específicos (Ac-bi) têm sido desenvolvidos paramelhorar o recrutamento de células efetoras e a ati-vação mediada pelos FcγR no sítio de localização dotumor. Estes Ac-bi também são moléculas quiméricase possuem duas especificidades diferentes, uma paraum antígeno tumoral e outra para o FcγR na célulaefetora66.

Os FcγR de interesse para mediar a citotoxici-dade contra tumores são os FcγRI e FcγRIIIa. O FcγRIé expresso somente em célula efetora citotóxica e ésempre capaz de estimular atividade citotóxica. Noentanto, em condições fisiológicas normais este re-ceptor é saturado com a IgG sérica. O uso de Ac-bipode estimular este receptor mais eficientemente parainduzir a ADCC, fagocitose e outras funções. Os Ac-bi dirigidos para o FcγRI e para alguns antígenostumorais têm sido desenvolvidos e se ligam ao FcγRfora do domínio ligante de Fc6, 64.

O FcγRIIIa é uma molécula importante para

estimular a ADCC em células NK e também é funci-onal em macrófagos. Os Ac-bi dirigidos para este re-ceptor e para antígenos tumorais têm sido testadosem estudos in vitro, demonstrando eficiência paradestruir as células tumorais6.

Alguns Ac-bi dirigidos para os FcγRI eFcγRIIIa já estão sendo usados em testes clínicos so-zinhos ou combinados com citocinas que podem au-mentar sua eficácia. Nestes testes, após a adminis-tração dos Ac-bi, observou-se um desaparecimentotransitório das células efetoras FcγRI (+) da circula-ção e aumentos significativos dos níveis séricos decitocinas inflamatórias. As células efetoras revestidascom Ac-bi infiltraram o tumor, causando inflamaçãolocal, regressão da massa tumoral, diminuição dos ní-veis de antígenos tumorais na circulação e melhora dasintomatologia67, 68. Estes resultados apontam para opotencial promissor do uso de Ac-bi dirigidos para osFcγR no tratamento do câncer.

Os FcγR também são moléculas importantespara mediar a captura e destruição de vírus, bactériase uma variedade de parasitas. A importância dos FcγRnos mecanismos de defesa contra estes patógenos éenfatizada pela suscetibilidade a doenças infecciosasobservada em indivíduos que expressam variáveisalotípicas destes receptores. Os indivíduos que apre-sentam o alótipo FcγRIIa-R131 nos neutrófilos são maissuscetíveis à infecções por bactérias encapsuladas49.As formas alotípicas do FcγRIIIb (NA1 versus NA2)também apresentam diferenças quanto à ligação e àfagocitose e podem ter relevância clínica para a sus-cetibilidade à doenças infecciosas20.

Em algumas circunstâncias a interação de anti-corpos com os FcγR pode contribuir para a infecçãode células que possuem estes receptores. Este fenô-meno é conhecido como aumento da infecção depen-dente de anticorpo (ADE: antibody-dependentenhancement) e é sugerido que ocorra em algumasinfecções virais, tais como a do vírus da dengue e a dovírus da imunodeficiência humana (HIV: humanimmunodeficiency virus). O ADE tem sido relacio-nado com baixas concentrações de anticorposneutralizantes, que pela interação com os FcγR, seri-am capazes de estabilizar o vírus na superfície da cé-lula, facilitando a ligação do vírus com um receptorespecífico para efetuar a infecção. No caso da den-gue, o bloqueio do sítio de ligação da IgG no FcγRIIpoderia reduzir a infecção. Na infecção pelo HIV, éproposto que este vírus, quando altamente opsonizadocom anticorpos, faça interações multivalentes de altaafinidade com os FcγR, o que estimula a endocitose e

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Receptores Fcγ

a degradação intracelular do complexo vírus-anticorpo.Ao contrário, os níveis baixos de anticorpos permitemo ADE facilitando a interação do vírus com a molécu-la CD4. Assim, a interação do HIV, altamenteopsonizado por anticorpos, com os FcγR através deAc-bi pode reduzir a infectividade viral por mecanis-mos citotóxicos mediados por estes receptores69.

Nas desordens auto-imunes, os FcγR estão en-volvidos na destruição de células normais opsonizadascom auto-anticorpos ou no clearance ineficiente deimunocomplexos. A ineficiência para remover IC so-lúveis descrita no LES leva à deposição destes com-plexos nos tecidos, estimulando inflamação e destrui-ção tecidual, que é característica da reação de hiper-sensibilidade do tipo III. Os FcγR também medeiam adestruição de eritrócitos ou plaquetas autólogas napresença de auto-anticorpos para estas células, o quepode resultar em anemia hemolítica auto-imune(AHAI) ou púrpura trombocitopênica idiopática (PTI),respectivamente. Ambas condições são característi-

cas de reações de hipersensibilidade do tipo II. Estasobservações sugerem que terapias dirigidas para osFcγR possam ser desenvolvidas para tratar desordensauto-imunes mediadas por reações de hipersensibili-dade dos tipos II e III. O tratamento da PTI com imu-noglobulina intravenosa suporta a idéia de que o blo-queio do FcγR seja um mecanismo relevante de ação64.

Estes estudos estabelecem o papel pleiotrópicodos FcγR em várias doenças e identifica os Ac-bi diri-gidos para estes receptores como uma abordagem te-rapêutica promissora. Novas técnicas que afetam di-retamente a cascata de sinalização intracelular dosFcγR e moléculas multiespecíficas, que podem simul-taneamente ativar ou regular várias classes de FcγR,podem oferecer opções terapêuticas adicionais.

AGRADECIMENTOS

Este estudo teve o apoio financeiro da FAPESP,processos 96/09626-2 e 03/05366-1.

Marzocchi-Machado CM, Lucisano-Valim YM. Receptors for Immunoglobulin G (FcγR). Medicina (RibeirãoPreto) 2005; 38 (1): 82-95.

Abstract: Receptors for immunoglobulin G (FcγR) provide an important link between thehumoral and cellular branches of the immune response. These receptors can trigger a variety ofbiological responses such as phagocytosis, endocytosis, capture and clearance of immunecomplexes, antibody-dependent cell citotoxicity and release of inflammatory mediators. HumanFcγR belong to the Ig superfamily and three classes of these receptors are distinguished specifyingmany receptor isoforms. These molecules differ in affinity and specificity for IgG isotypes, celldistribution patterns, intracellular signal delivery and molecular weights. Moreover, the geneticpolymorphism introduces variations among individuals. The structural and functional diversitymakes these receptors potential targets for immunotherapy. Activation and deactivation of effectorcells via FcγR can be exploited to develop novel therapies for cancer, infectious diseases andautoimmune disorders. This review describes structural and functional details, clinical relevanceand some therapeutic use of the FcγR molecules.

keywords: FcγR. IgG. Immunotherapy.

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