Propagação Meios anisotrópicos · P e o vector campo eléctrico E pode ser escrita como PE= ......
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1
PROPAGAÇÃO EM MEIOS ANISOTRÓPICOS
1. O Tensor Permitividade Eléctrica
Em meios lineares o vector deslocamento eléctrico D e o vector campo eléctrico E
estão relacionados através da equação:
= εD E (1.1)
em que ε é a permitividade eléctrica que, para meios isotrópicos é uma grandeza escalar e,.
para meios anisotrópicos, é um tensor. De igual modo a relação entre o vector da polarização
P e o vector campo eléctrico E pode ser escrita como
0= ε χP E (1.2)
com 0ε a permitividade eléctrica do vazio e χ a susceptibilidade eléctrica, também
representada por um tensor para meios anisotrópicos. É de realçar que quando ε ou χ são
escalares os vectores D, E e P têm a mesma direcção, enquanto que se forem tensores os
vectores D, E e P possuem em geral direcções diferentes.
O tensor ε pode ser escrito com generalidade como:
0 xx xy xz
yx yy yz
zx zy zz
⎡ ⎤ε = ε ε ε ε⎢ ⎥ε ε ε⎢ ⎥⎢ ⎥ε ε ε⎣ ⎦
(1.3)
em que os elementos ijε da matriz são números adimensionais. Quando tomam valores reais o
tensor é simétrico, isto é,
2
ij jiε = ε (1.4)
e terá, em geral, seis elementos independentes. Para meios sem perdas, mas em que os
elementos do tensor são números complexos ter-se-á
*ij jiε = ε (1.5)
em que *jiε é o complexo conjugado de jiε . A conservação de energia obriga a que o tensor
seja hermitiano.
O tensor pode ser escrito na sua forma mais simples quando está diagonalizado. Ao
sistema de eixos que permite representar o tensor ε na forma diagonal designa-se por sistema
de eixos principal.
Num sistema de eixos principal os meios isotrópicos são caracterizados por um tensor
ε com os três elementos da diagonal iguais, os meios uniaxiais com dois elementos da
diagonal iguais e os meios biaxiais com os três elementos da diagonal diferentes.
Meios isotrópicos 0
0 00 00 0
ε⎡ ⎤⎢ ⎥→ ε = ε ε⎢ ⎥⎢ ⎥ε⎣ ⎦
(1.6)
Meios uniaxiais 0
0 00 00 0
x
x
z
ε⎡ ⎤⎢ ⎥→ ε = ε ε⎢ ⎥⎢ ⎥ε⎣ ⎦
(1.7)
Meios biaxiais 0
0 00 0
0 0
x
y
z
⎡ ⎤ε⎢ ⎥
→ ε = ε ε⎢ ⎥⎢ ⎥ε⎣ ⎦
(1.8)
O meio uniaxial designa-se por uniaxial positivo se z xε > ε e uniaxial negativo se
z xε < ε . Ao eixo dos z é usual chamar-se eixo óptico.
Na Tabela 1.1 indica-se, para alguns materiais, o sistema cristalográfico e tipo de
anisotropia correspondente.
3
Tabela 1.1 –Relação entre o sistema cristalográfico e o tipo de anisotropia para vários materiais.
Sistema Cristalográfico Anisotropia Materiais
Cúbico Isotrópico (*) CdTe, NaCl, GaAs, diamante ( C ),
fluorite…
Trigonal, Tetragonal, Hexagonal Uniaxial
Quartzo (SiO2), ZnS, BeO, gelo,
LiNbO3, BaTiO3, Calcite (CaCO3),
ADP, KDP…
Monoclínico, Triclínico, Ortorrômbico Biaxial Giz, feldspato, mica, topázio,
YAlO3, SbSI, NaNO2…
(*) O conceito de isotropia só se aplica correctamente a materiais com simetria esférica.
2. Propagação em Meios Anisotrópicos
A propagação da luz em meios anisotrópicos tem como ponto de partida as equações
de Maxwell que, para este caso, se escrevem como:
rott
∂=
∂DH (1.9)
rott
∂= −
∂BE (1.10)
e
0= μB H (1.11)
partindo do princípio que os meios não exibem propriedades magnéticas.
Considerando que as ondas são planas, podem-se escrever E, H e D na forma:
( ){ }0Real j te − ⋅ +ω= k rE E (1.12)
( ){ }0Real j te − ⋅ +ω= k rH H (1.13)
( ){ }0Real j te − ⋅ +ω= k rD D (1.14)
4
Substituindo (1.12), (1.13) e (1.14) em (1.9) e (1.10) obtém-se, em termos das
amplitudes complexas:
rot j= − ×E k E (1.15)
rot j= − ×H k H (1.16)
jt
∂≡ ω
∂H H (1.17)
jt
∂≡ ω
∂D D (1.18)
Sendo
0rot j= − ωμE H (1.19)
e atendendo a (1.15) ter-se-á:
ω = ×B k E (1.20)
Por sua vez
rot j= ωH D (1.21)
portanto
−ω = ×D k H (1.22)
De (1.20) e (1.22) conclui-se que os vectores D, H e k são perpendicular entre si.
Como se admite uma situação geral, os vectores D e E não têm necessariamente a mesma
direcção, mas devem estar contidos no plano definido por D e k. Por sua vez o vector de
Poynting S, definido como
= ×S E H (1.23)
5
que é interpretado como o vector da densidade de fluxo de energia no campo
electromagnético, deverá ser perpendicular a E e H. Assim, os vectores E, H e S são
perpendiculares entre si. Na Fig. 9.1 mostra-se a posição relativa dos vectores D, E, H, k e S.
Fig 1.1 - Posição relativa dos vectores , , ,D E H k e S num meio anisotrópico.
Como se vê na Fig 1.1 a propagação da onda faz-se segundo uma direcção diferente da do
fluxo de energia.
Substituindo (1.20) em (1.22) ter-se-á:
( )0
1⎡ ⎤−ω = × ×⎢ ⎥ωμ⎣ ⎦
D k k E (1.24)
isto é
( )20
1− = × ×
ω μD k k E (1.25)
O vector k pode escrever-se na forma:
v kω
=k u (1.26)
em que v é a velocidade de propagação no meio e ku é o vector unitário segundo a direcção
de propagação. A relação (1.25) pode então ser escrita como:
D
E
H
k
S
6
( )20
1v
k k− = × ×μ
D u u E (1.27)
ou, atendendo a que v c n= em que n é o índice de refracção do meio na direcção de
propagação,
( )20
1k kn n
c⎡ ⎤− = × ×⎣ ⎦μ
D u u E (1.28)
Aplicando a relação
( ) ( ) ( )A B C A C B A B C× × = ⋅ − ⋅ (1.29)
tem-se:
( )2 20 k kc n n n−μ = ⋅ −D u E u E (1.30)
Se se introduzir a notação
ˆ kn=k u (1.31)
pode escrever-se, relativamente a um dado sistema de eixos xyz:
( ) ( )ˆ , ,k i ii
n k E i x y z⋅ = =∑u E (1.32)
Atendendo a (1.3):
[ ]0 r= ε εD E (1.33)
e assim ter-se-á:
0j ji ii
D E= ε ε∑ (1.34)
A relação (1.30) pode ser reescrita, em termos de cada componente, como:
2 20
ˆ ˆj i i j j
ic D k E k n E
⎛ ⎞μ + =⎜ ⎟⎜ ⎟
⎝ ⎠∑ (1.35)
7
ou ainda, substituindo (1.34) em (1.35):
( ) 2ˆ ˆji i j i j
ik k E n E⎡ ⎤ε + ⋅ =⎣ ⎦∑ (1.36)
A equação (1.36) designa-se por equação de Fresnel e descreve a propagação da luz
num meio anisotrópico. Esta equação é uma equação de valores próprios em que 2n são os
valores próprios e jE os vectores próprios.
2.1. Propagação em Meios Uniaxiais
Como exemplo de aplicação da equação de Fresnel considere-se um cristal uniaxial
em que
0 0 0
0 00 0
x
x
z
ε = ε ε⎡ ⎤⎢ ⎥ε⎢ ⎥⎢ ⎥ε⎣ ⎦
(1.37)
Vamos admitir que k, e por isso k̂ , está dirigido segundo y. Deste modo ter-se-á:
2
ˆ ˆ 0 0 0
0 00 0 0
i jk k
n
⎡ ⎤=⎢ ⎥⎢ ⎥⎢ ⎥⎢ ⎥⎣ ⎦
(1.38)
A equação de Fresnel pode então escrever-se como:
2
2 2
2
0 0 0 0
0 0 0 0
0 0 0 0
x xx
x y y
z z z
n EEn E n E
E En
⎡ ⎤ε =⎡ ⎤ ⎡ ⎤⎡ ⎤ ⎢ ⎥⎢ ⎥ ⎢ ⎥⎢ ⎥ ⎢ ⎥ε +⎢ ⎥ ⎢ ⎥⎢ ⎥ ⎢ ⎥⎢ ⎥ ⎢ ⎥⎢ ⎥ε ⎢ ⎥⎢ ⎥ ⎢ ⎥⎣ ⎦⎣ ⎦ ⎣ ⎦⎣ ⎦
(1.39)
ou
2
2
0 0 00 0
0 0
x x
x y
z
n EE
Ezn
⎡ ⎤ ⎡ ⎤ε − =⎢ ⎥ ⎢ ⎥
ε⎢ ⎥ ⎢ ⎥⎢ ⎥ ⎢ ⎥ε −⎢ ⎥ ⎣ ⎦⎣ ⎦
(1.40)
8
A solução desta equação, admitindo ondas transversais, dará os vectores próprios
0yE = , xE e zE e os valores próprios xε indeterminado, 2 21 2,x zn n= ε = ε .
Neste caso os vectores próprios xE e zE são ortogonais e as velocidades de fase
respectivas são dadas por 1vx c n= e 2vz c n= . O eixo a que corresponde uma velocidade
de propagação maior designa-se por eixo rápido, enquanto que o outro eixo é o eixo lento.
Uma situação mais complexa resulta, por exemplo, de se admitir que o vector k tem
componentes segundo y e segundo z, i.e., está no plano yoz, Fig. 1.2. O meio uniaxial definido
por (1.37) é invariante sob o efeito da rotação em torno do eixo dos zz pelo que é sempre
possível, sem perda de generalidade, escolher o eixo dos yy de modo a que k se encontre no
plano yz.
Fig 1.2 – Vector de propagação no plano yOz.
Deste modo, pode escrever-se
cos senz y z yk k= + = θ + θk k k u u
Seguindo o tratamento descrito nos parágrafos anteriores, obter-se-á então
ˆ cos senz yn n= θ + θk u u .
A matriz ˆ ˆj ik k terá então a forma:
2 2 2
2 2
ˆ ˆ 0 0 0
0 sen sen cos
0 sen cos cos
j ik k
n n
n n
=
θ θ θ
θ θ θ
(1.41)
θ
0y
z
zk
yk
k
9
e a equação de Fresnel pode escrever-se como
2
2 2 2 2
2 2 2 2
0 0 0 0
0 sen sen cos 0 0
0 sen cos cos 0 0
x x x
x y y
z zz
nE En n E n E
E En n n
⎡ ⎤ε⎡ ⎤ ⎡ ⎤ ⎡ ⎤= ⎢ ⎥⎢ ⎥ ⎢ ⎥ ⎢ ⎥⎢ ⎥ε + θ θ θ⎢ ⎥ ⎢ ⎥ ⎢ ⎥⎢ ⎥⎢ ⎥ ⎢ ⎥ ⎢ ⎥θ θ ε + θ ⎢ ⎥⎢ ⎥ ⎣ ⎦ ⎣ ⎦⎣ ⎦ ⎣ ⎦
(1.42)
ou
2
2 2 2
2 2 2
0 0 00 (sen 1) sen cos
0 sen cos (cos 1)
x x
x y
zz
n En n E
En n
⎡ ⎤ε − ⎡ ⎤ =⎢ ⎥ ⎢ ⎥⎢ ⎥ε + θ − θ θ ⎢ ⎥⎢ ⎥ ⎢ ⎥θ θ ε + θ −⎢ ⎥ ⎣ ⎦⎣ ⎦
(1.43)
Determinação dos valores próprios
Os valores próprios 2n são obtidos igualando o determinante da matriz a zero e
resolvendo a equação correspondente:
( ) ( ){ }2 2 2 2 2 4 2 2( ) sen 1 cos 1 sen cos 0x x zn n n n⎡ ⎤ ⎡ ⎤ε − ε + θ − ε + θ − − θ θ =⎢ ⎥ ⎢ ⎥⎣ ⎦ ⎣ ⎦ (1.44)
Uma solução é
21 xn = ε (1.45)
e a outra verifica a relação
2 2 2 22 2sen cos 1
z x
n nθ θ+ =
ε ε (1.46)
ou seja
2 2
22
1 sen cos
z xnθ θ
= +ε ε
(1.47)
Para os cristais uniaxiais, com o eixo óptico segundo z, é normal utilizar a seguinte
notação
o xn = ε (1.48)
10
e zn = ε (1.49)
em que “o” designa ordinário e “e” extraordinário, o que será justificado mais adiante.
Os valores próprios, expressos nestas grandezas são dados por:
2 21 on n= (1.50)
2 2
2 2 22
1 sen cos
e on n nθ θ
= + (1.51)
Ao índice 2( )n θ costuma chamar-se índice extraordinário e depende da direcção de
propagação.
É de realçar que 2n varia entre on e en quando k varia de zk para yk . A propagação
segundo x e y ou z são casos particulares deste resultado para 2θ = π ou 0θ =
respectivamente.
No plano ˆ ˆ,y zk k , a relação (1.50) é representada por uma circunferência de raio on
enquanto que (1.51) é representada por uma elipse, Fig. 1.3.
Fig 1.3 - (a) Meio uniaxial positivo ( )e on n> . (b) Meio uniaxial negativo ( )e on n< .
Os valores de 1n e 2n , característicos da propagação em meios uniaxiais, são obtidos
como se mostra na referida figura para a direcção de propagação k desejada. Em virtude do
meio uniaxial possuir simetria relativamente ao eixo óptico (z) e admitindo que, no caso geral,
⎧⎪⎪⎨⎪⎪⎩
ˆzk
k̂no
n2
n1θ
ˆyk
ne
EeDe
noEoDo
-ne -no 0
( )e on n>
eSoS
(a)
ˆyk
ˆzk
n1
n2
ne
( )e on n<
no
no
θ
(b)
k
11
k possui componentes segundo x, y e z, a circunferência e a elipse da Fig. 8.3 passam a ser
uma superfície esférica e um elipsóide de revolução obtidos pela rotação da circunferência e
da elipse em torno do eixo óptico.
Determinação das componentes do campo eléctrico
Para a solução (1.45), obtém-se de (1.43) que xE pode tomar um valor arbitrário
(excepto zero) e que
0y zE E= = . (1.52)
O campo eléctrico está polarizado segundo x, perpendicular ao plano definido pela
direcção de propagação e o eixo óptico z. O número de ondas k é dado por onkc
= ω em que
o xn = ε . Das equações (1.21) e (1.22) conclui-se também que neste caso E, k, e H são
perpendiculares entre si e ||D E . O vector de Poynting ||S k . Esta solução para os campos dá
as ondas ordinárias que possuem características idênticas às que se obtêm para as ondas que
se propagam em meios isotrópicos com permitividade eléctrica xε .
A outra solução, expressa por (1.47), permite obter
00 e 0
x
y z
EE E
=≠ ≠
(1.53)
isto é, o campo eléctrico deve estar no plano definido pelo vector de propagação k e o eixo
dos zz.
Atendendo a que = εD E , isto é:
0 0 0 0
0 00 0
x x
y x y
zz z
DD E
D E
⎡ ⎤ ⎡ ⎤= ε ε⎡ ⎤⎢ ⎥ ⎢ ⎥⎢ ⎥ε⎢ ⎥ ⎢ ⎥⎢ ⎥⎢ ⎥ ⎢ ⎥⎢ ⎥ε⎣ ⎦⎣ ⎦ ⎣ ⎦
(1.54)
ter-se-á 00;x y x yD D E= = ε ε e 0z z zD E= ε ε , isto é, o vector D também está no plano yz mas
como xx zzε ≠ ε ter-se-á que os vectores D e E não possuem a mesma direcção. Como de
(1.22) ⊥D k então E não é perpendicular a k. para esta situação ⊥ ⊥D k H e o vector de
12
Poynting S não está dirigido segundo k embora esteja no plano definido por k e o eixo dos zz.
É usual designar estas ondas electromagnéticas como ondas extraordinárias.
Para além da situação particular já anteriormente estudada, correspondente à
propagação na direcção perpendicular ao eixo óptico, analisar-se-á no caso especial em que a
direcção de propagação coincide com o eixo óptico. Neste caso é fácil de verificar que
existem duas soluções para o campo eléctrico: campo eléctrico polarizado segundo x (onda
ordinária) e campo eléctrico polarizado segundo y (onda extraordinária), propagando-se com
o mesmo número de ondas ok n c= ω e perpendiculares à direcção de propagação. Ambas as
ondas comportam-se como ordinárias.
3. Elipsóide de Índices
O elipsóide de índices contém informação acerca dos índices de refracção das
polarizações características e permite por si só definir o meio de propagação. Este conceito
será usado mais adiante no estudo dos efeitos electroópticos.
O elipsóide de índices do cristal é definido por:
3
0, 1
1ij i ji j
K x x=
ε =∑ (1.55)
em que ijK são os elementos da matriz K designada por impermeabilidade e definida como o
inverso da matriz ε, isto é:
1K −= ε (1.56)
e 1 2,x x x y= = e 3x z= por conveniência.
Admitindo ε na forma diagonal (1.8) ter-se-á:
1
0 1
1
1 0 0
0 0
0 0
x
y
z
K−
−
−
⎡ ⎤ε= ⎢ ⎥ε⎢ ⎥ε⎢ ⎥⎢ ⎥ε⎣ ⎦
(1.57)
ou, em termos dos índices de refracção,
13
2 10
2 1
2 1
( ) 0 0
0 ( ) 0
0 0 ( )
x
y
z
nKn
n
−
−
−
⎡ ⎤ε = ⎢ ⎥⎢ ⎥⎢ ⎥⎢ ⎥⎣ ⎦
(1.58)
O elipsóide de índices será então escrito como
2 2 2
2 2 2 1x y z
x y zn n n
+ + = (1.59)
que, para um meio uniaxial tomando o eixo z como eixo óptico, será escrito como:
2 2 2
2 2 2 1o o e
x y zn n n
+ + = (1.60)
e está representado na Fig. 1.4.
Fig 1.4 - Elipsóide de índices para um meio uniaxial positivo ( )e on n> .
z
y
x
no
no
no
no
ne
ne
14
4. Actividade Óptica
Um material sólido, líquido ou gasoso que, quando atravessado por uma onda
electromagnética, faz rodar o campo eléctrico correspondente designa-se por opticamente
activo. Estes materiais têm que possuir um arranjo helicoidal de átomos. Um dos materiais
mais conhecidos é o quartzo cristalino sendo possível observar actividade óptica quando a
onda incidente se propaga ao longo do eixo óptico do cristal. Olhando na direcção da fonte, a
rotação pode ser dextrógera ou levógera, isto é, no sentido do movimento dos ponteiros do
relógio ou no sentido contrário, respectivamente. No quartzo podem observar-se estes dois
tipos de rotação que correspondem a duas estruturas cristalográficas diferentes, Fig. 8.5.
Fig 8.5 - Cristais de quartzo que dão origem a rotação (a) dextrógira, (b) levógira.
Estas duas estruturas cristalográficas, por serem a imagem uma da outra, designam-se
enantiomorfas. Todas as substâncias transparentes enantiomorfas são opticamente activas.
A actividade óptica foi explicada por Fresnel em 1825 com base na ideia de que a luz
incidente polarizada linearmente, é o resultado da sobreposição de duas ondas com
polarização circular, uma dextrógira e a outra levógira. Sugeriu então que as duas ondas com
polarização circular se propagavam, no interior do material opticamente activo, com
velocidades diferentes, isto é, admitia que o material possuía birefringência circular. Ao
saírem do cristal estas duas ondas estariam desfasadas pelo que, ao combinarem-se, dariam
origem a uma onda com polarização linear mas rodada relativamente à onda incidente. Esta
teoria foi comprovada experimentalmente por Fresnel, utilizando um prisma de quartzo
constituído por vários elementos em que parte dos elementos eram responsáveis pela rotação
levógira e os restantes pela rotação dextrógira, Fig. 1.6.
Eixo
ópt
ico
Eixo
ópt
ico
(a) (b)
15
Fig 1.6 - Prisma de Fresnel.
Para o meio opticamente activo, se se obrigar a luz a regressar ao ponto de partida, isto
é, a passar num sentido e no sentido inverso, a onda electromagnética possuirá à chegada as
mesmas características da onda inicial, isto é, a rotação total é zero. É usual exprimir esta
propriedade do meio dizendo que o sentido de rotação da polarização está fixo ao sentido de
propagação de luz. O ângulo de rotação é proporcional à distância que a luz percorre no meio
opticamente activo e depende do comprimento de onda de luz incidente e do tipo de material
utilizado.
Mostrar-se-á agora que o modelo de Fresnel permite justificar a rotação do plano de
polarização da luz quando esta atravessa o meio opticamente activo.
Admita-se que a luz incidente na amostra se propaga segundo z. No material as
componentes da luz correspondentes à polarização circular levógira podem escrever-se como
( 2)
L
L
jk zx x
j k zy y
Ae
Ae
−
− +π
=
=
E u
E u (1.61)
e as componentes correspondentes à polarização circular dextrógira são dadas por
( 2)
R
R
jk zx x
j k zy y
Ae
Ae
−
− −π
=
=
E u
E u (1.62)
em que Lk e Rk são o número de ondas associado a cada uma das polarizações consideradas.
Sendo assim, o campo associado à polarização circular levógira é
( 2)L Ljk z j k zL x yA e e− − +π⎡ ⎤= +⎣ ⎦E u u (1.63)
Luz incidente linearmente polarizada
eixo óptico
Levógira
Polarizaçãocircular
Dextrógira
D D DL
L
16
e à polarização circular dextrógira
( 2)R Rjk z j k zR x yA e e− − −π⎡ ⎤= +⎣ ⎦E u u (1.64)
pelo que a amplitude complexa do campo é dada por
( ){ }( 2) ( 2L R L Rjk z jk z j k z j k zL R x yA e e e e− − − +π − −π⎡ ⎤= + = + + +⎣ ⎦E E E u u (1.65)
ou
( ) ( )L R L Rjk z jk z jk z jk zx yA e e j e e− − − −⎡ ⎤= + − −⎢ ⎥⎣ ⎦
E u u (1.66)
Atendendo a que:
2 2
2 2
R L R LR
L R L RL
k k k kz z k z
k k k kz z k z
− ++ =
− ++ =
(1.67)
a expressão anterior pode escrever-se como:
22 cos sen2 2
R Lk kj z R L R Lx y
k k k kAe z z+
⎡ − − ⎤⎛ ⎞ ⎛ ⎞= +⎜ ⎟ ⎜ ⎟⎢ ⎥⎝ ⎠ ⎝ ⎠⎣ ⎦E u u (1.68)
Desta expressão conclui-se que a onda electromagnética se propaga segundo z com um
vector de onda cujo valor é
2
R Lk k+ (1.69)
e que, se o campo em 0z = está dirigido segundo x, ao fim de uma distância z estará rodado
de um ângulo dado por:
2
R Lk kz
−α = . (1.70)
Uma rotação de 2π corresponderá pois a um comprimento
17
R L
zk k
π=
− (1.71)
Se R Lk k> a rotação é no sentido contrário ao dos ponteiros do relógio e para R Lk k< a
rotação é no sentido dos ponteiros do relógio.
Define-se potência de rotação:
2
R Lk kz
−α = (1.72)
ou, atendendo a que 2 2,R LR L
k kπ π= =
λ λ e
R LR L
c cT Tn n
λ = ⋅ λ = ⋅ (1.73)
pode escrever-se:
R Lz n nπα = −
λ (1.74)
Como os índices de refracção são dependentes do comprimento de onda, zα também
o será. Na Tabela 1.2 indica-se, para vários materiais e comprimentos de onda, o ângulo de
rotação por unidade de comprimento do plano de polarização da luz incidente.
A teoria da actividade óptica não pode ser descrita através da equação do meio (1.1)
pelo que é necessário generalizar aquela equação para este caso. O efeito da estrutura
helicoidal da molécula no valor do momento dipolar induzido aparece associado a um
parâmetro β que, para moléculas lineares, tem o valor zero. Deste modo (3.10) deve ser
escrita como:
t
∂= α −β
∂Hp E (1.75)
em que H é o campo magnético.
Para ondas planas em meios homogéneos opticamente activos a equação do meio é
escrita como:
18
Tabela 1.2 - Ângulos de rotação por unidade de comprimento para meios opticamente activos
Material λ (μm) Ângulo por unidade de comprimento (graus/mm)
Quartzo
0,40 0,45 0,50 0,55 0,60 0,65
49 37 31 26 22 17
AlGaS2
0,485 0,490 0,495 0,500 0,505
950 700 600 500 430
Se 0,75 1,00
180 30
Te 6,0 10,0
40 15
TeO2
0,3698 0,4382 0,5300 0,6328 1,0
587 271 143 87 30
( )0j= ε + ε ×D E G E (1.76)
em que ε é o tensor dieléctrico do meio sem actividade óptica e G é um vector designado por
vector de giração e tem uma direcção paralela à do vector de propagação.
Como é sempre possível representar
[ ]G× =G E E (1.77)
com [ ]G um tensor antisimétrico, ter-se-á
[ ]( )0j G= ε + εD E (1.78)
19
podendo definir-se um novo tensor dieléctrico ε´ dado por:
[ ]0' j Gε = ε + ε (1.79)
de modo a poder escrever-se para o meio opticamente activo
'= εD E (1.80)
Esta formulação permite analisar, de forma semelhante à descrita anteriormente, a
propagação em meios opticamente activos partindo do princípio que se conhecem os
elementos dos tensores ε e G.
É de realçar ainda que embora os elementos de 'ε sejam números complexos, não lhes
está associado a dissipação de energia, como em situações já referidas no Capítulo 3, em
virtude do tensor ser hermitiano.
5. Efeitos Electro-Ópticos
Um campo eléctrico aplicado a um cristal é susceptível de alterar as características da
radiação que o atravessa devido aos efeitos que pode ter sobre os índices de refracção do
material. Estes efeitos podem ser contabilizados em termos da alteração do elipsóide de
índices na presença do campo eléctrico E e, porque estão associados ao campo eléctrico,
designam-se por efeitos electro-ópticos.
Os elementos ijK passam a tomar o valor ij ijK K+ Δ em que a relação entre ijKΔ e o
campo eléctrico pode ser expressa pela equação:
3 3
01 , 1
ij ijk k ijk kk k
K r E S E E= =
ε Δ = +∑ ∑ (1.81)
O segundo membro da equação possui dois termos: o primeiro evidencia o efeito
electroóptico linear, usualmente designado por efeito de Pockels, e o segundo termo dá conta
do efeito electroóptico quadrático, também referido como efeito de Kerr. Os coeficientes rijk e
ijklS são os coeficientes de Pockels e de Kerr respectivamente. Para os materiais em que os
20
dois efeitos coexistem, é o efeito de Pockels que domina (e.g. GaAs). Contudo há materiais
para os quais 0ijkr = e por isso o efeito electro-óptico dominante é o efeito de Kerr, e.g. Si.
5.1 . Efeito de Pockels
O efeito de Pockels pode ser descrito pela equação:
3
01
ij ijk kk
K r E=
ε Δ = ∑ (1.82)
em que aos índices i, j, e k estão associados as três direcções do espaço definidas pelo sistema
de eixos utilizado. Assim:
, ,, ,, ,
i x y zj x y zk x y z
≡≡≡
(1.83)
Deste modo ijkr é um elemento de um tensor com 27 elementos. Contudo, como o tensor é
invariante quando se troca i com j, isto é,
ijk jikr r= (1.84)
o tensor só possui 18 termos independentes. É costume utilizar uma notação contraída
mr com 1, 2,3, 4,5,61, 2,3m
=⎧⎨ =⎩
(1.85)
A contracção resulta de se estabelecer a correspondência
, 1,1; 2, 2; 3,3; 2,3; 3,1; 1,2
1; 2; 3; 4; 5; 6
i j =↓ ↓ ↓ ↓ ↓ ↓ ↓ (1.86)
A relação (1.82) pode então escrever-se de forma explícita como
21
11 11 12 130
22 21 22 23
33 31 32 33
4 41 42 43
5 51 52 53
6 61 62 63
( )( )( )( )( )( )
EK r r rEK r r rEK r r r
K r r rK r r rK r r r
Δε = ⎡ ⎤⎡ ⎤ ⎡ ⎤⎢ ⎥⎢ ⎥ ⎢ ⎥Δ ⎢ ⎥⎢ ⎥ ⎢ ⎥⎢ ⎥⎢ ⎥ ⎢ ⎥Δ ⎣ ⎦
⎢ ⎥ ⎢ ⎥Δ⎢ ⎥ ⎢ ⎥⎢ ⎥ ⎢ ⎥Δ⎢ ⎥ ⎢ ⎥
Δ⎢ ⎥ ⎢ ⎥⎣ ⎦ ⎣ ⎦
(1.87)
Os 18 elementos não são todos diferentes de zero, devido a simetrias do cristal. Na Tabela 1.3
referem-se os valores dos elementos da matriz diferentes de zero, para alguns materiais de
interesse.
Tabela 1.3 – Parâmetros característicos de alguns materiais electro-ópticos.
Material on en 0( )mλ μ Coeficientes electro-ópticos
(10-12m/V)
GaAs 3,60
3,42
on
on
0,9
1,0 41 52 63
41 52 63
1,11,5
r r rr r r
= = == = =
InP 3,29
3,20
on
on
1,06
1,35 41 52 63
41 52 63
1,451,3
r r rr r r
= = == = =
Quartzo (SiO2) 1,544 1,553 0,589 41 52
62 21 11
0, 20,93
r rr r r
= − == = − =
LiNbO3 2,297 2,208 0,633
13 23
33
42 51
22
12 61 22
8,630,8
283,4
r rrr rrr r r
= === === = −
KH2PO4 (KDP) 1,5115 1,4698 0,546 41 52
63
8,7710,3
r rr
= ==
Calcite (CaCO3) 1,658 1,486 0,589
Tome-se como exemplo o fosfato dihidrogenado de potássio (KDP) que é um cristal
uniaxial. Na ausência de campo aplicado ter-se-á:
22
2 2 2
0 2 2 2 1ij i jij o o e
x y zK x xn n n
ε = + + =∑ (1.88)
e os coeficientes electroópticos a considerar são 41 52r r= e 63r .
Sob a acção do campo aplicado a relação (1.87) pode escrever-se como
10
2
3
4 41
5 52
6 63
( ) 0 0 0( ) 0 0 0( ) 0 0 0( ) 0 0( ) 0 0( ) 0 0
x
y
z
EKEK
K EK rK rK r
⎡ ⎤Δε =⎡ ⎤ ⎡ ⎤⎢ ⎥⎢ ⎥ ⎢ ⎥Δ ⎢ ⎥⎢ ⎥ ⎢ ⎥⎢ ⎥⎢ ⎥ ⎢ ⎥Δ ⎣ ⎦⎢ ⎥ ⎢ ⎥Δ⎢ ⎥ ⎢ ⎥
⎢ ⎥ ⎢ ⎥Δ⎢ ⎥ ⎢ ⎥
Δ⎢ ⎥ ⎢ ⎥⎣ ⎦ ⎣ ⎦
(1.89)
isto é
0 4 41
0 5 52
0 6 63
( )( )
( )
x
y
z
K r EK r E
K r E
ε Δ =ε Δ =
ε Δ =
(1.90)
Ter-se-á então
0 0 4 0 5 0 62 ( ) 2 ( ) 2 ( )ij i jij
K x x K yz K xz K xyε Δ = ε Δ + ε Δ + ε Δ∑ (1.91)
em que o factor 2 tem em linha de conta a propriedade de simetria da matriz ijKΔ .
Substituindo (1.90) em (1.91) vem:
0 41 52 632 2 2ij i j x y zij
K x x r E yz r E xz r E xyε Δ = + +∑ (1.92)
Deste modo, devido ao campo eléctrico aplicado, o novo elipsóide é definido por:
( )0 1ij ij i jji
K K x xε + Δ =∑ (1.93)
isto é:
2 2 2
41 52 632 2 2 2 2 2 1x y zo o e
x y z r E yz r E xz r E xyn n n
+ + + + + = (1.94)
Esta equação (1.94) mostra que os eixos do elipsóide podem não estar segundo as direcções x,
23
y ou z.
Considere-se o caso particular em que o campo eléctrico está dirigido segundo z, isto
é,:
z zE=E u (1.95)
Ter-se-á então:
2 2 2
632 2 22 1zo o e
x y zr E xyn n n
+ + + = (1.96)
Devido ao termo cruzado as direcções x, y são rodadas, mantendo-se a direcção z. É
necessário encontrar os novos eixos principais ', 'x y que permitem escrever (1.96) como:
'2 '2 2
'2 '2 2 1x y e
x y zn n n
+ + = (1.97)
isto é,
2 2 '2 '2
632 2 '2 '22 zo o x y
x y x yr E xyn n n n
+ + + + (1.98)
A transformação de rotação que relaciona as coordenadas num sistema de eixos xy
com as dum sistema de eixos x’y’, rodados de um ângulo φ, Fig. 1.7, é dada por
cos ' sen '
sen ' cos 'x x yy x y
= φ + φ⎧⎨ = − φ + φ⎩
(1.99)
Fig. 1.7 – Sistema de eixos xy rodado dum ângulo φ relativamente ao sistema de eixos x’y’.
x
y
z'x
'y
φ
24
Substituindo no 1º membro de (1.98) os valores de x, y dados por (1.99) ter-se-á
( ) ( )'2 '2 2 '2 '2 2 22 2 2 6363
2 2
2 sen cos cos sen ' '2 o zo z
o o
x y r n E y x x yx y r n E xyn n
⎡ ⎤+ + φ φ − + φ − φ+ + ⎢ ⎥⎣ ⎦= (1.100)
atendendo a que
2 2 '2 2 '2
2 2 '2 2 '2
2 '2 2 '2
cos sen 2sen cos ' '
sen cos 2sen cos ' '
cos ' ' sen cos sen ' ' sen cos
x x y x y
y x y x y
xy x y x x y y
⎧ = φ + φ + φ φ⎪⎪ = φ + φ − φ φ⎨⎪
= φ − φ φ − φ + φ φ⎪⎩
(1.101)
Para que se possa escrever (1.100) na forma do 2º membro da equação (1.98) deve-se
garantir que:
( )2 2cos sen ' ' 0x yφ − φ = (1.102)
ou seja
cos senφ = φ (1.103)
isto é 45ºφ = .
Como 1sen cos2
φ = φ = obtém-se:
( )'2 '2 2 '2 '22 2 63
632 2 22o z
zo o o
x y r n E y xx y r E xyn n n
+ + −+ + = (1.104)
e então
( ) ( )'2 2 '2 2 263 63
2 2 2
1 11
o z o z
o o e
x r n E y r n E zn n n
− ++ + = (1.105)
ou seja
'2 '2 2
'2 '2 '2 1x y e
x y zn n n
+ + = (1.106)
com
25
' '2 2
63 631 1o o
x yo z o z
n nn nr n E r n E
= =− +
(1.107)
Atendendo a que 263 1o zr n E << , pode-se escrever:
3
' 632o z
x or n En n≅ + e
3' 63
2o z
y or n En n≅ − (1.108)
A variação do índice de refracção
' ' 363x y o zn n n r n EΔ = − = (1.109)
pode-se escrever como:
p zn C EΔ = (1.110)
em que pC é designado por coeficiente electroóptico de Pockels.
Para o KDP, em que
1263 11 10 / ( 0,633 )
1,5074o
o
r m V mn
−⎧ = × λ = μ⎪⎨
=⎪⎩
ter-se-á:
113,7677 10 /pC m V−= × .
A observação do efeito de Pockels é feita alinhando o campo eléctrico aplicado com a
direcção de propagação da luz, Fig. 1.8.
Quando a luz se propaga segundo o eixo óptico, eixo dos zz, se à entrada do cristal a
polarização é circular, ter-se-á na saída de polarização elíptica, havendo uma variação da
desfasagem dada por:
n Lc
ΔΔφ = ω (1.111)
em que 0
2 cπω =
λ, c a velocidade de propagação de luz no vácuo e L o comprimento do cristal.
26
Atendendo a (1.109) pode-se ainda escrever:
363
0
2o zr n E Lπ
Δφ =λ
(1.112)
Fig. 1.8 - Observação do efeito de Pockels.
Para um cristal de KPD com 1L mm= de comprimento, se se pretender uma variação
4Δφ = π , quando 0 0,633 mλ = μ , será necessário aplicar uma tensão:
03
638z
oU E L
r nλ
= = (1.113)
2,1U KV=
ou seja um campo eléctrico
62,1 10zE V m= ×
yzk y’
x
yz
k
L
aE
Polarização circular Polarização elíptica− +aU
x x’45º
Eixoóptico
27
5.2. Efeito de Kerr
Aplicar-se-ão os conceitos desenvolvidos para o efeito electro-óptico linear (efeito de
Pockels) ao efeito electro-óptico não linear da segunda ordem (efeito de Kerr). Os
coeficientes electroópticos de segunda ordem foram referidos com ijkS e constituem um
tensor com 81 elementos. Em virtude dos coeficientes ,k também poderem ser permutados
só haverá 36 coeficientes independentes. É possível e desejável adoptar uma notação
compacta para os coeficientes ijkS , pqS com 1,2, ,5,6p = … e 1, 2, ,5,6q = … .
Supondo que o campo aplicado é expresso genericamente por:
x x y y z zE E E= + +E u u u (1.114)
e que só está presente o efeito de Kerr, a equação geral para o elipsóide de índices será:
( )
( )
( )
2 2 22 2 2 2
11 12 13 14 15 162 2 2
2 2 2 221 22 23 24 25 26
2 2 2 231 32 33 34 35 36
2 2 241 42 43
2
2
2
2 2
x y z y z z x x yx y z
x y z y z z x x y
x y z y z z x x y
x y z
x y z S E S E S E S E E S E E S E E xn n n
S E S E S E S E E S E E S E E y
S E S E S E S E E S E E S E E z
S E S E S E
⎡ ⎤+ + + + + + + + +⎣ ⎦
⎡ ⎤+ + + + + + +⎣ ⎦
⎡ ⎤+ + + + + + +⎣ ⎦
+ + + + ( )
( )
( )
44 45 46
2 2 251 52 53 54 55 56
2 2 261 62 63 64 65 66
2 2
2 2 1
y z z x x y
x y z y z z x x y
x y z y z z x x y
S E E S E E S E E yz
S E S E S E S E E S E E S E E zx
S E S E S E S E E S E E S E E xy
⎡ ⎤+ + +⎣ ⎦
⎡ ⎤+ + + + + + +⎣ ⎦
⎡ ⎤+ + + + + + =⎣ ⎦
(1.115)
Considere-se a título de exemplo o GaAs cujos coeficientes diferentes de zero são:
11 22 33
12 13 21 31 32 23
44 55 66
S S SS S S S S SS S S
= == = = = == =
(1.116)
Por sua vez x y z on n n n= = = e admitindo que:
28
z zE=E u (1.117)
ter-se-á:
2 2 2
2 2 2 2 2 213 33 232 2 2 1z z z
o o o
x y z S E x S E z S E yn n n
+ + + + + = (1.118)
ou:
2 2 2 2 2 213 23 332 2 2
1 1 1 1z z zo o o
x S E y S E z S En n n
⎛ ⎞ ⎛ ⎞ ⎛ ⎞+ + + + + =⎜ ⎟ ⎜ ⎟ ⎜ ⎟⎜ ⎟ ⎜ ⎟ ⎜ ⎟
⎝ ⎠ ⎝ ⎠ ⎝ ⎠ (1.119)
Sendo 13 23S S= vem:
2 2 2
2 2 1e
x y zn n+
+ = (1.120)
com 2 3 2
2 132 2
13 21o o z
oo z
n S n En n nS n E
= → ≅ −+
(1.121)
e 2 3 2
2 332 2
33 21o o z
e e oo z
n S n En n nS n E
= → ≅ −+
(1.122)
Verifica-se pois que, sendo o material isotrópico, a aplicação do campo dá origem a
anisotropia uniaxial, com o eixo óptico definido pela direcção do campo aplicado.
Neste caso
3 213 332e o z
S Sn n n n E−⎛ ⎞Δ = − = ⎜ ⎟⎝ ⎠
(1.123)
podendo ser escrito genericamente como:
20 zn K EΔ = λ (1.124)
em que K é a constante de Kerr e 0λ o comprimento de onda no vazio.
Comparando as expressões (1.123) e (1.124) obtém-se:
3
213 33
0 2on S SK m V−⎛ ⎞ ⎡ ⎤= ⎜ ⎟ ⎣ ⎦λ ⎝ ⎠
(1.125)
29
Na Tabela 1.4 indicam-se os valores da constante de Kerr para vários materiais e
vários comprimentos de onda. É de realçar que este efeito electroóptico se manifesta de forma
mais pronunciada em líquidos ou cristais com uma certa simetria.
Tabela 1.4 – Constante de Kerr para várias substâncias.
Material ( )mλ μ no ( )2K m V
Benzeno 0,546 1,503 154,9 10−×
Nitrobenzeno 0,589 ____ 122, 44 10−×
CS2 1,000 0,546
1,596 1,633
141,84 10−× 143,88 10−×
CCl4 0,546 1,46 168, 6 10−×
Água 0,546 145,1 10−×
Para se observar o efeito de Kerr faz-se incidir a luz segundo uma direcção
perpendicular ao campo eléctrico aplicado, Fig. 1.9.
Fig. 1.9 - Efeito de Kerr.
6. Efeitos Magneto-ópticos
Os efeitos magneto-ópticos resultam da interacção entre a radiação luminosa e o meio
material na presença de um campo magnético aplicado. Sob a acção dum campo de indução
yzk
x
y
z
L
aE
Polarização circular Polarização elíptica
− +
aUx
k
30
magnética B estático, um cristal opticamente isotrópico pode deixar de o ser pelo que a
polarização de radiação incidente pode sofrer alterações significativas durante a sua passagem
através do meio material.
Utilizando um modelo clássico é possível deduzir o tensor da permitividade eléctrica e
caracterizar o efeito magneto-óptico linear, designado por efeito de Faraday. Parte-se da
equação do movimento para electrões submetidos a um campo eléctrico e magnético
simultâneos:
( )2
2 fdm k qdt
+ = − + ×⎡ ⎤⎣ ⎦x x E v B (1.126)
em que d dt=v x , o= μB H , com oμ a permeabilidade magnética do vazio e kf a constante
da força.
Para um meio material a massa m dos electrões deve ser substituída pela massa eficaz
dos electrões, *m . Atendendo a que o campo eléctrico, associado à luz incidente, se pode
escrever em termos da sua amplitude complexa, a equação (1.126) no domínio da frequência
terá a forma:
( ) ( )2fm k q j⎡ ⎤−ω + = − + ω − ×⎣ ⎦x E x B (1.127)
em que x é a amplitude complexa vectorial de x.
A polarização pode ser escrita como:
q N= −p x (1.128)
em que N é o número de dipolos por unidade de volume.
Substituindo (1.128) em (1.127) obtém-se
( ) ( )2 2fk m N q qj− ω = − ω ×P E P B (1.129)
Admitindo z zB=B u ter-se-á então:
31
2 2
2
2
0
0
0 0
f z x x
z f y y
z zf
k m j qB P Nq Ej qB k m P E
P Ek m
⎡ ⎤− ω ω ⎡ ⎤ ⎡ ⎤=⎢ ⎥ ⎢ ⎥ ⎢ ⎥⎢ ⎥− ω − ω ⎢ ⎥ ⎢ ⎥⎢ ⎥ ⎢ ⎥ ⎢ ⎥⎢ ⎥ ⎣ ⎦ ⎣ ⎦− ω⎢ ⎥⎣ ⎦
(1.130)
pelo que
2
2z zf
NqP Ek m
⎛ ⎞⎜ ⎟=⎜ ⎟− ω⎝ ⎠
(1.131)
e
( )
22
2 22 2 2 2
x xf z
z ff zy y
P Ek m j qBNq
j qB k mk m q BP E
⎡ ⎤ ⎡ ⎤⎡ ⎤− ω − ω⎢ ⎥ ⎢ ⎥⎢ ⎥=⎢ ⎥ ⎢ ⎥⎢ ⎥⎡ ⎤ ω − ω⎢ ⎥ ⎢ ⎥− ω − ω ⎣ ⎦⎢ ⎥⎣ ⎦ ⎣ ⎦⎣ ⎦
(1.132)
Atendendo a que:
0= ε χP E (1.133)
obtém-se para o tensor susceptibilidade:
0
0
0 0
xx xy
yx yy
zz
χ χ⎡ ⎤χ =⎢ ⎥χ χ⎢ ⎥
⎢ ⎥χ⎣ ⎦
(1.134)
que, separada em parte real e imaginária se pode escrever
'''
' ''
'
0 00 0
0 0 0 0
0 0 00 0
yxxx
xx yx
zz
j⎡ ⎤⎡ ⎤ χχχ = + ⎢ ⎥⎢ ⎥⎢ ⎥⎢ ⎥χ χ⎢ ⎥⎢ ⎥⎢ ⎥χ⎢ ⎥⎣ ⎦ ⎢ ⎥⎣ ⎦
(1.135)
A parte real de χ é um tensor simétrico e a parte imaginária é um tensor antisimétrico.
Pode-se escrever o tensor de permitividade eléctrica a partir do tensor χ , verificando
que:
( )0 1ε = ε + χ (1.136)
32
Tem-se então:
''
''0
1 0
1 0
0 0 1
xx yx
yx yy
zz
j
j
⎡ ⎤+ χ − χ⎢ ⎥⎢ ⎥ε = ε χ + χ⎢ ⎥⎢ ⎥+ χ⎢ ⎥⎣ ⎦
(1.137)
Com base no tratamento feito é fácil de verificar que xx yyχ = χ e é proporcional a 2B , dá
origem a dupla refracção linear (efeito de Cotton-Mouton) enquanto que os termos
imaginários são proporcionais a B e determinam o efeito de Faraday.
6.1. Efeito de Faraday Desprezando os termos de ordem superior a B, ter-se-á
( ) ( )
2 2
2 2 20 0
xx yy zzf o
Nq Nq
k m mχ = χ = χ = =
ε − ω ε ω − ω (1.138)
com
2 fo
km
ω = (1.139)
e
( ) ( )
3 3''
2 22 2 2 20 0
yx yx
f o
j Nq B j Nq Bjk m m
ω ωχ = χ = =
ε − ω ε ω − ω (1.140)
Pode então escrever-se:
( )
2
0 2 20
1xx yy zzo
Nq
m
⎛ ⎞⎜ ⎟ε = ε = ε = ε +⎜ ⎟ε ω − ω⎜ ⎟⎝ ⎠
(1.141)
( )
2
22 2xy yx xy
o
j Nq c
m
ω ωε = ε = −ε
ω − ω (1.142)
Diagonalizando a matriz ε, obter-se-ão os valores próprios λ e os vectores próprios E
⎧⎪⎪⎪⎪⎨⎪⎪⎪⎪⎩
33
do meio
ij j ij
E Eε = λ∑ (1.143)
Ter-se-á
''xx yx ±λ = ε ± ε = ε (1.144)
( )12 x yi± ±= ± =E u u u (1.145)
3xx zλ = ε =E u (1.146)
Os vectores unitários ±u representam luz polarizada circularmente, o sinal “+”
corresponde a polarização dextrógira e o “−“ a polarização levógira. As correspondentes
constantes de propagação são:
''
0 0 12
yxxx
xxk
c c±
±
⎛ ⎞εω ε ε ω ε ε ⎜ ⎟= ≈ ±⎜ ⎟ε⎝ ⎠
(1.147)
Uma onda arbitrária polarizada circularmente que se propaga segundo z terá então a
forma:
02
jk zE e ±−± ±=E u (1.148)
Para uma onda incidente polarizada segundo x,
( ) ( )000
2xEz E + −= = = +E u u u (1.149)
ou seja:
( 0) ( 0) ( 0)z z z+ −= = = + =E E E (1.150)
isto é, pode ser olhada como o resultado da sobreposição de duas polarizações circulares, uma
levógera e outra dextrógera, como já foi referido anteriormente. Então, para 0z >
34
( )0( ) ( ) ( )2
jk z jk zEz z z e e+ −− −+ − + −= + = +E E E u u (1.151)
Substituindo (1.145) na expressão anterior e utilizando as relações (1.67) obter-se-á:
_
20( ) cos sen
2 2
k kjz
x yk k k kz E e z z
+ +⎛ ⎞− ⎜ ⎟
+ − + −⎝ ⎠
⎧ ⎫⎡ ⎤ ⎡ ⎤⎪ ⎪⎢ ⎥ ⎢ ⎥− −⎪ ⎪⎛ ⎞ ⎛ ⎞⎢ ⎥ ⎢ ⎥= +⎨ ⎬⎜ ⎟ ⎜ ⎟
⎝ ⎠ ⎝ ⎠⎢ ⎥ ⎢ ⎥⎪ ⎪⎢ ⎥ ⎢ ⎥⎪ ⎪δ δ⎣ ⎦ ⎣ ⎦⎩ ⎭
E u u (1.152)
com
2
k kz + −−⎛ ⎞δ = ⎜ ⎟⎝ ⎠
(1.153)
e
21 0
k kj zE E e
+ −+⎛ ⎞− ⎜ ⎟⎝ ⎠= (1.154)
pode escrever-se
( )1( ) cos senx yz E= δ + δE u u (1.155)
isto é,
1
1
( ) cos
( ) sen
x
y
E z E
E z E
⎧ = δ⎪⎨⎪ = δ⎩
(1.156)
Conclui-se portanto que, se o meio tiver comprimento L na direcção de propagação, a
onda à saída está também polarizada linearmente mas com o plano de polarização rodado de
um ângulo δ, dado por:
2
k kL + −−⎛ ⎞δ = ⎜ ⎟⎝ ⎠
(1.157)
Substituindo as expressões para k+ e k− , (1.147), vem:
35
''
02yx
xx
Lc
εωδ =
ε ε (1.158)
Para valores de B pequenos xxε não depende de B e ''yxε é proporcional a B. Deste
modo δ é proporcional a LB e é usual escrever-se:
VLBδ = (1.159)
em que V é a constante de Verdet que, para cada material depende da frequência e da
temperatura.
Combinando (1.158) e (1.159) obtém-se
''
02yx
xxV
c B
εω=
ε ε (1.160)
em que
( )
'' 3
22 2 20
yx
o
NqB m
ε ω=
ε ω − ω (1.161)
e
( )
2
0 0 2 20
1xxo
Nq
mε ε = ε +
ε ω − ω (1.162)
Na Tabela 1.5 estão os valores da constante de Verdet para vários materiais.
Por convenção uma constante de Verdet positiva dá origem a uma rotação levógira
quando o vector de propagação e B têm o mesmo sentido e dextrógira quando têm sentidos
opostos. Deste modo, se a luz polarizada linearmente passa duas vezes pelo meio considerado,
o seu plano de polarização será rodado de um ângulo que é o dobro do que experimentou em
cada um dos trajectos. Este facto permite afirmar que no efeito de Faraday o sentido de
rotação do plano de polarização está fixo ao sentido de B e não ao sentido da propagação de
luz como foi referido para a actividade óptica.
Para a observação do efeito de Faraday o campo magnético é aplicado numa direcção
36
paralela à direcção de propagação, Fig. 1.10, pelo que o campo E e as suas componentes são
perpendiculares a B.
Tabela 1.5 – Constante de Verdet para vários materiais ( 0,5893 )mλ = μ .
Material Temperatura (ºC) V (10 3 min. de arco/(T.m)
H20 0 13,11
Acetona 15,1 11,09
CH3Cl 18 12,9
C2H5OH 25 11,12
C6H6 20 29,7
CS2 0 43,41
ZnS 16 225
NaCl 16 35,85
KCl 16 28,58
PbO SiO2 (vidro) 16 77,90
Fig. 1.10 - Efeito de Faraday.
Em virtude das semelhanças entre o efeito de Faraday e a actividade óptica é possível
efectuar a sua análise teórica utilizando modelos semelhantes, como aliás já foi feito nos
parágrafos anteriores.
O efeito de Faraday também pode ser descrito pela equação do meio (1.76) em que o
Ex
yzk E
x
yz
kδ
L
B
i
Polarização linear Polarização linear
37
vector de giração é dado por:
= γG B (1.163)
sendo γ designado por coeficiente de magnetogiração do meio. Deste modo, a relação material
pode escrever-se como:
( )0j= ε + ε γ ×D E B E (1.164)
com o coeficiente de magnetogiração γ é dado por:
( )
3
22 2 20 o
Nq
m
ωγ =
ε ω − ω , (1.165)
ver equação (1.140).
6.2. Efeito de Voigt e Cotton-Mouton
Os efeitos de Voigt e de Cotton-Mouton são análogos ao efeito electro-óptico de Kerr
em materiais isotrópicos. Para que estes efeitos se manifestem a direcção de propagação da
luz e o campo de indução magnética B, devem ser perpendiculares. Por aplicação de B o meio
comporta-se como uniaxial positivo com o eixo óptico alinhado segundo a direcção do campo
B, isto é, perpendicular à direcção de propagação da luz. O efeito de Voigt manifesta-se em
gases e o de Cotton-Mouton, bastante mais forte, em líquidos. Em ambos os casos pode
escrever-se:
2n C BΔ = λ (1.166)
em que C é uma constante e λ o comprimento de onda da radiação no vazio. A título de
exemplo, para o nitrobenzeno, quando λ = 600 nm a constante 10 1 24, 2 10C mm G− − −≅ × .
Se a direcção de propagação da luz fizer com a direcção de B um ângulo entre 0 e
2π , podem manifestar-se os efeitos de Faraday e de Cotton-Mouton. Contudo, em geral, o
efeito de Faraday é dominante.
38
6.3. Efeito magnético de Kerr O efeito magnético de Kerr está associado à alteração da polarização da onda
reflectida, para incidência normal, quando da aplicação de um campo magnético B
transversal, contido num plano paralelo à superfície, ou longitudinal, contido num plano
perpendicular à superfície.
O efeito de Kerr traduz-se na rotação da direcção da polarização, envolvendo contudo,
ângulos muito pequenos. Mesmo assim este efeito está na origem do princípio de
funcionamento associado à leitura dos discos magneto-ópticos. Estes discos possuem uma
película fina de material magnético caracterizado por campos coercivos elevados e
temperaturas de Curie baixas. A informação está associada a um dado estado de magnetização
e pode ser gravada ou apagada através da operação conjunta de um campo magnético aplicado
e do aquecimento obtido a partir dum laser. A leitura da informação contida no disco obtém-
se fazendo incidir a luz de um laser, polarizada linearmente, na superfície do material
magnético.
Diferentes estados de magnetização conduzem a diferentes alterações da polarização
da onda reflectida devido ao efeito de Kerr magnético.
A detecção do estado de polarização da onda reflectida fornece a informação
necessária para a determinação da natureza dos dados registados.
7. Aplicações
7.1. Polarizadores Lineares
Há vários métodos para obtenção de luz polarizada. De entre eles, e no contexto deste
capítulo, analisar-se-á a utilização de cristais uniaxiais como polarizadores lineares. Os
cristais uniaxiais mais importantes são o quartzo (SiO2) e a calcite (CaCO3) sendo a calcite o
material mais utilizado no fabrico de polarizadores lineares para serem usados com lasers de
potência elevada. Ambos os materiais são transparentes na gama do visível e ultravioleta.
Os cristais uniaxiais são caracterizados por possuírem dois índices de refracção
diferentes, en e on , pelo que muitas vezes são designados por birefringentes. A diferença
e on n nΔ = − é uma medida da birefringência do material. No caso da calcite que é um meio
39
uniaxial negativo 0,172nΔ = − para 0,5892 mλ = μ .
A estrutura cristalina do material determina se um cristal é ou não birefringente. Para
os meios uniaxiais só existe uma direcção em torno da qual os átomos se encontram
distribuídos de forma simétrica e que se designa por eixo óptico. Esta é a única direcção de
propagação de luz para a qual não se verifica a dupla refracção. Neste caso o índice de
refracção para ambas as polarizações é on . Se no entanto a direcção de propagação não for
paralela ao eixo óptico, ter-se-á em geral que uma das polarizações (com a direcção
perpendicular ao eixo óptico) está associado o índice de refracção on e a outra (com a
direcção do eixo óptico) o índice de refracção en , pelo que se manifestará a dupla refracção.
A análise da dupla refracção pode ser feita, para casos relativamente simples mas
importantes, utilizando a construção de Huygens e partindo da ideia de superfície de onda.
Uma superfície de onda é o lugar geométrico dos pontos que estão em fase relativos às ondas
emitidas por um dado ponto de luz monocromática e envolve completamente esse ponto de
luz. Para um meio isotrópico essa superfície é uma esfera em virtude de velocidade de fase da
onda ser constante em todas as direcções. Para meios uniaxiais a velocidade segundo o eixo
óptico é diferente de velocidade na direcção perpendicular pelo que devem considerar-se duas
superfícies, a superfície da onda ordinária e a superfície de onda extraordinária. Para a calcite
e o quartzo a superfície de onda ordinária é uma esfera e a de onda extraordinária é um
elipsóide de revolução. Na Fig. 1.11 mostram-se os diagramas correspondentes às superfícies
de onda ordinária e extraordinária num plano que contém o eixo óptico para meios uniaxiais
positivos e negativos.
Fig. 1.11 - Superfícies de onda para meios uniaxiais: (a) negativos e (b) positivos.
( )e on n< ( )e on n>
eixo óptico eixo óptico
P Pv⊥ v
v v⊥
(a) (b)
40
Nesta figura a distância do ponto P à superfície é proporcional à velocidade de fase. A
direcção da vibração na superfície esférica é perpendicular ao plano do papel e na superfície
do elipsóide de revolução é paralela ao plano do papel.
Analisar-se-á agora a dupla refracção de luz supondo que luz não polarizada incide
normalmente no cristal, no ponto A, e que o eixo óptico está no plano do papel, Fig. 8.12. De
acordo com o princípio de Huygens podem-se escolher quaisquer pontos na frente de onda
como novas fontes de luz pontuais, B. As superfícies de onda correspondentes aparecem como
se mostra na figura, onde se representam as tangentes comuns às várias fontes de luz
consideradas relativas à superfície de onda ordinária e extraordinária. Uma das tangentes
traduz por isso a frente de onda da onda ordinária e a outra é a frente de onda da onda
extraordinária. O raio ordinário e extraordinário são obtidos unindo o ponto em que a radiação
passa do ar para o cristal, A ou B, ao ponto de tangência com as superfícies de onda
respectivas.
Na Fig. 1.12 representam-se também a posição relativa do vector de propagação e do
vector de Poynting para as ondas ordinária e extraordinária. A propagação relativa a
incidência normal nos casos em que o eixo óptico está paralelo ou perpendicular à superfície
mostra-se na Fig. 1.13.
Fig. 1.12 - Construção de Huygens para uma onda plana com incidência normal num cristal uniaxial negativo. O raio incidente e o eixo óptico estão no mesmo plano (plano do papel).
eS
Frente de onda da onda ordinária
Frente de onda da onda extraordinária
ok
Direcção do eixo óptico
Onda plana incidente não polarizada
E raio ordinário
raio extraordinário
B
AoS
ek
41
Fig. 1.13 - Propagação em meio uniaxial negativo para várias direcções do eixo óptico.
Para um cristal de calcite a sua forma de clivagem, isto é, o sólido obtido por clivagem
de modo a que duas faces opostas são paralelas, está representado na Fig. 1.14. A direcção do
eixo óptico está definida pela linha que passa entre os dois vértices opostos em que cada um
dos três ângulos vale 102º.
Eixo óptico paralelo à superfície (perpendicular ao plano do papel)
e k B
A e S
ok
oS
Eixo óptico perpendicular à superfície (no plano do papel)
eo = kk B
A eo = SS
oS
Eixo óptico paralelo à superfície (no plano do papel)
ek B
A eS
ok
42
Fig. 1.14 - Forma de clivagem de um cristal de calcite. A direcção do eixo óptico está representada
pela linha a traço-ponto.
Define-se plano principal, qualquer plano que contém o eixo óptico e secção principal
o plano principal perpendicular a duas faces opostas da forma de clivagem. Para a calcite há
portanto três secções principais, uma por cada par de faces opostas. Uma secção principal tem
a forma de um paralelograma com ângulos de 71º e 109 como se mostra na Fig. 1.15. É
importante relembrar que a secção principal contém o eixo óptico. Para que se possam
descrever as direcções de vibração não é, em geral, suficiente conhecer a secção principal.
Será necessário utilizar dois planos principais: o plano principal do raio ordinário que contém
o raio ordinário e o eixo óptico e o plano principal do raio extraordinário que contém o raio
extraordinário e o eixo óptico. O raio ordinário está sempre no plano de incidência que não é
em geral verdade para o raio extraordinário. Deste modo os planos principais relativos ao raio
ordinário e raio extraordinário nem sempre coincidem, excepto na situação em que o plano de
incidência coincide com uma secção principal. Neste caso o plano de incidência, secção
principal e os planos principais do raio ordinário e extraordinário coincidem, Fig. 1.15.
Quando se faz incidir um feixe de luz não polarizada num material birefringente
aparecem dois feixes de luz à saída do cristal, em vez de um só, como no caso do vidro. Para
além disso, cada um dos feixes de luz está polarizado linearmente. O comportamento dos dois
feixes não é contudo idêntico porque, ao fazerem-se as medições adequadas, um deles verifica
a lei de Snell e o outro não. Pelo que já foi referido anteriormente é natural associar a um dos
feixes uma onda electromagnética ordinária e ao outro uma onda electromagnética
extraordinária. Embora os dois raios luminosos no interior do cristal possuam direcções
102 º
102 º
102 º
78 º78 º
43
diferentes, à saída são paralelos entre si e paralelos ao raio incidente, Fig. 1.15.
Fig. 1.15 - Dupla refracção dum cristal de calcite para incidência oblíqua.
A luz incidente não polarizada é olhada como sendo constituída por luz polarizada
linearmente na direcção perpendicular ao plano da figura, que constitui o raio ordinário, e por
luz polarizada linearmente com a direcção contida no plano do papel, que constitui o raio
extraordinário. O cristal analisará a luz incidente em termos destas duas componentes fazendo
com que cada tipo de vibração efectue um dado trajecto. Na Fig. 8.16 mostra-se o trajecto do
raio de luz para incidência normal em duas situações: luz incidente da esquerda e luz
incidente de topo.
Fig. 1.16 - Dupla refracção dum cristal de calcite para incidência normal: (a) luz incidente da esquerda; (b) luz incidente de topo.
Há várias configurações para prismas de calcite que permitem obter, a partir de luz
não polarizada, luz polarizada linearmente. Estão nesse caso os prismas Nicol, Foucault Glan-
Thompson, Rochon e Wollaston.
(b)
E
raio ordinário
109º
71º
(a)
raio extraordinário
raio ordinário
raio extraordinário
eixo óptico
eα oα
Onda reflectida
E Onda incidente não polarizada Onda extraordinária
polarizada linearmente
Onda ordináriapolarizada linearmente
direcção do eixo óptico109º
71º
44
O prisma de Nicol foi inventado no início do século XIX pelo físico escocês William
Nicol. Este polarizador linear é obtido a partir de um cristal de calcite clivado de modo a que
o comprimento seja três vezes a largura. O prisma é então cortado em diagonal e as
superfícies são cimentadas uma à outra com um material transparente de índice de refracção
e on n n< < designado por bálsamo do Canadá. Deste modo é possível separar eficazmente o
raio extraordinário do raio ordinário, obrigando este último a sofrer reflexão total na interface.
Na Fig. 1.17 mostra-se um diagrama do prisma de Nicol.
Fig. 1.17 - Prisma de Nicol.
O bálsamo de Canadá utilizado no prisma de Nicol absorve radiação ultravioleta pelo
que limita a utilização deste polarizador. O feixe à saída, embora paralelo ao feixe incidente,
aparece deslocado. Com vista a obviar este problema o bálsamo do Canadá pode ser
substituído por ar, sendo o polarizador designado por prisma de Foucault. No entanto há
desvantagens ligadas com menor ângulo de abertura e com o aparecimento de interferências
na película de ar.
Alguns prismas polarizadores são fabricados com as faces cortadas
perpendicularmente aos lados de modo a que a luz entre e saia normalmente à superfície. O
mais popular é o prisma de Glan-Thompson com um ângulo de abertura inferior ao de Nicol,
Fig. 1.18. Estes prismas são contudo mais caros e desperdiçam calcite que, é difícil de obter,
em cristais de tamanho elevado.
raio extraordinário polarizado
90º 48º
68º 90º
Eixo óptico
raio ordinário polarizado
Luz não polarizada
E
45
Fig. 8.18 - Prisma de Glan-Thompson, em que o eixo óptico é perpendicular ao plano do papel.
Em certas aplicações é desejável manter os dois feixes de luz polarizada linearmente.
Nesse sentido implementaram-se os prismas de Rochon e Wollaston, que podem ser
fabricados com quartzo ou calcite, cortados segundo determinados ângulos e colados com
glicerina ou óleo de castor.
No prisma de Rochon a luz incide perpendicularmente na face do elemento do prisma
que possui o eixo óptico na direcção de propagação. Não há portanto dupla refracção neste
elemento. O segundo elemento possui o eixo óptico numa direcção perpendicular à da
propagação e dá-se a dupla refracção com separação dos raios ordinário e extraordinário, Fig.
1.19.
Fig. 1.19 - Prisma de Rochon: (a) quartzo ( )e on n> ; (b) calcite ( )e on n< .
No prisma de Wollaston a luz também entra normalmente à superfície mas o primeiro
elemento possui o eixo óptico perpendicular à direcção de propagação, Fig. 1.20. As duas
componentes do raio propagam-se no primeiro elemento com velocidades diferentes, sem
sofrerem desvio. É na interface entre os dois elementos que o raio extraordinário e ordinário
se separam. Aqui o raio extraordinário passa a raio ordinário e vice-versa com a alteração do
raioextraordinário
raio ordinário
(a)
E
raioordinário
raioextraordinário (b)
E
raioordinário
raioextraordinário
46
índice de refracção respectivo. No quartzo em que e on n> , o raio ordinário afasta-se do
normal. O ângulo de desvio dos raios emergentes é determinado pelo ângulo θ.
Fig. 1.20 - Prisma de Wollaston (a) quartzo; (b) calcite.
Lei de Malus
Um polarizador linear possui uma direcção, designada por eixo de transmissão, que
deixa passar sem modificação a componente do campo segundo essa direcção. Se se fizer
incidir luz não polarizada num polarizador linear só serão transmitidas as componentes do
campo dirigidas segundo o seu eixo de transmissão. Um detector não permite determinar a
polarização de luz transmitida porque faz medidas de intensidade e, ao rodar o polarizador,
esse valor mantém-se constante em virtude da fonte de luz não estar polarizada.
Contudo, se utilizar um outro polarizador linear em série com o primeiro, a que se
chamará analisador, a variação de posição relativa dos respectivos eixos de transmissão
permite variar a intensidade de luz que chega ao detector. Em particular verifica-se que
quando os eixos de transmissão são perpendiculares a intensidade da radiação no detector é
zero. Se se admitir que a amplitude do campo E transmitido pelo polarizador é A, e o ângulo
entre os eixos de transmissão do polarizador e analisador é θ, só a componente cosA θ
passará para o detector. Deste modo, a intensidade da radiação no detector é dada por:
2 2 2cos cosoI A I= θ = θ (1.167)
em que oI é a intensidade de luz polarizada que incide no analisador e que vale metade da
intensidade da luz não polarizada que chega ao polarizador. A relação entre a intensidade de
luz transmitida e o quadrado do coseno designa-se por lei de Malus e, desde que os
polarizadores sejam lineares, verifica-se sempre mesmo quando há reflexões ou absorção de
luz. Nestes casos só o factor oI será afectado.
(a)
E raioordinário
raioextraordinário (b)
E
raioordinário
raioextraordinário
θ θ
47
7.2. Placas retardadoras As placas retardadoras permitem alterar a polarização da radiação incidente e podem
classificar-se em placas de meio comprimento de onda ou quarto comprimento de onda.
Considere-se um meio uniaxial com o eixo óptico segundo z. Em ambos os casos
admite-se que a luz se propaga segundo x e que à entrada do meio está polarizada linearmente
com o campo eléctrico fazendo um ângulo de 45º com o eixo dos yy, Fig. 1.21.
Fig. 1.21 - Sistema de eixos e orientação do vector campo eléctrico à entrada dum cristal uniaxial
que possui o eixo óptico segundo z.
O campo eléctrico pode escrever-se, à entrada do cristal uniaxial, como:
( )002
jk xy z
E e= +E u u (1.168)
em que 0k é o número de ondas, isto é 0 02k = π λ sendo 0λ o comprimento de onda no
vazio.
No interior do cristal as componentes do campo segundo y e z propagam-se com
velocidades diferentes e o campo eléctrico será expresso por:
( )0( )2
y zjk x jk xx z
Ex e e= +E u u . (1.169)
Sendo 0y ok k n= e 0z ek k n= , e x d= ter-se-á:
( )0 00( )2
o ejk n d jk n dx z
Ex d e e= = +E u u (1.170)
E x
y
z
45º
eixoóptico
placaretardadora
d
48
Placa retardadora de quarto comprimento de onda
Se se pretender que à saída do cristal as componentes do campo estejam desfasadas de
2π ou um múltiplo ímpar de 2π , isto é, o campo esteja polarizado circularmente, dever-se-
-á ter, para o en n> ,
0( ) (2 1) 2 0,1,2,o en n k d p p− = + π = … (1.171)
Este resultado consegue-se com placas retardadoras com espessuras d, dadas por
0 (2 1) 0,1, 2,4( )o e
d p pn n
λ= + =
−… (1.172)
Definindo 0( )d
o en nλ
λ =−
, a espessura d pode ser escrita como:
(2 1) 0,1,2,4dd p pλ
= + = … (1.173)
Estas placas retardadoras designam-se por placas de quarto comprimento de onda e
como se viu permitem modificar a luz polarizada linearmente para luz polarizada
circularmente. Para os meios em que o en n> as conclusões são idênticas devendo-se só
substituir nas equações anteriores o termo o e e on n por n n− − . É costume designar por eixo
rápido o eixo a que está associado o menor índice de refracção. No caso de se ter o en n> , o
eixo dos yy é o eixo lento e o eixo dos zz é o eixo rápido.
Placa retardadora de meio comprimento de onda
Se se pretender à saída do cristal, nas condições da Fig. 8.21, que as componentes do
campo estejam desfasadas de π ou um múltiplo impar de π, isto é, campo polarizado
linearmente mas rodado de 2π relativamente à entrada, ter-se-á, para o en n> ,
0( ) (2 1) 0,1, 2,o en n k d p p− = π + = … (1.174)
Deste modo a espessura d é dada por:
(2 1) 0,1,2,2dd p pλ
= + = … (1.175)
49
Estas placas retardadoras designam-se por placas retardadoras de meio comprimento
de onda e fazem com que o plano de polarização rode de 2π , mantendo-se a polarização
linear associada à radiação incidente.
7.3. Modulador longitudinal de amplitude Na Fig. 1.22 mostra-se um cristal uniaxial ao qual foi aplicado um campo eléctrico,
segundo a direcção de propagação de luz. Referem-se os eixos do elipsóide x, y, z sem campo
aplicado e os eixos ', 'x y correspondentes à situação de campo aplicado.
Fig. 1.22 - Modulador longitudinal de amplitude.
No sistema de coordenadas ', ', 'x y z é de notar que o tensor de permitividade eléctrica
é expresso por:
'
'
'
0 0
0 0
0 0
x
o y
z
⎡ ⎤ε⎢ ⎥⎢ ⎥ε = ε ε⎢ ⎥⎢ ⎥ε⎣ ⎦
. (1.176)
Uma onda plana que se propaga segundo z está polarizada na direcção 'xu (vector
unitário segundo 'x+ ), pode ser descrita, no cristal, por:
0 'j z
xE e β=E u (1.177)
em que β é a constante de propagação dada por:
y
x’
y
x’
y’
E y
z k
d
z zE u
Polarização linearsegundo x
Polarização elíptica ( )U t
x
y’ 45
~
z
x
y
eixo de transmissão
Polarizador com o eixo detransmissão segundo y
E
x
Polarização linearsegundo y
zx
eixo óptico
50
' ''
00
0
com 2x x
x
nk n
k
= εβ = π
=λ
(1.178)
sendo 0λ o comprimento de onda no vazio.
Se a onda plana estiver polarizada segundo 'yu então
0 'j z
yE e β=E u (1.179)
com
'0 yk nβ = . (1.180)
Uma onda incidente polarizada segundo x, pode ser decomposta nas suas componentes
segundo 'x e 'y e, dentro do cristal, pode ser representada por:
''0 0
' '2 2yx j zj z
x yE Ee e ββ= +E u u (1.181)
com
' ' ' '0 0x x y yk n k nβ = β = (1.182)
Admitindo que o cristal tem a dimensão d segundo z, e desprezando as reflexões nas
interfaces 0z = e z d= , pode escrever-se o campo óptico em z d= como
''
000 0' '( )
2 2yx jk n djk n d
x yE Ez d e e= = +E u u (1.183)
Nas situações de interesse coloca-se à saída um polarizador que retém somente a componente
do campo segundo y e interessa analisar a relação entre a potência transmitida e a potência
incidente, designada por factor de transmissão:
2
20
yt
i
EPTP E
= = (1.184)
51
A componente yE pode ser obtida da expressão acima, utilizando a equação (1.99)
que permite escrever:
' 'e2 2
x y x yx y
− += =
u u u uu u (1.185)
Deste modo:
''
000 0( )2 2
yx jk n djk n dy
E EE z d e e= = − + (1.186)
''
000( )2
yx jk n djk n dy
EE z d e e⎛ ⎞= = − +⎜ ⎟⎝ ⎠
(1.187)
' ' ' ' ' '
0 0 02 2 20( )2
x y x y x yn n n n n njk d jk d jk d
yEE z d e e e
⎛ ⎞ ⎛ ⎞ ⎛ ⎞+ − −⎜ ⎟ ⎜ ⎟ ⎜ ⎟−⎜ ⎟ ⎜ ⎟ ⎜ ⎟⎝ ⎠ ⎝ ⎠ ⎝ ⎠
⎡ ⎤⎢ ⎥⎢ ⎥= = − +⎢ ⎥⎢ ⎥⎣ ⎦
(1.188)
Assim é fácil de verificar que
' '
0sen2
x yy o
n nE E k d
⎡ ⎤⎛ ⎞−⎢ ⎥⎜ ⎟=
⎜ ⎟⎢ ⎥⎝ ⎠⎣ ⎦ (1.189)
pelo que:
02 ( )sen
2pt
i
k C U tPTP
⎛ ⎞= = ⎜ ⎟
⎝ ⎠ (1.190)
em que Cp é o coeficiente de Pockels e ( ) zU t E d= .
Pode exprimir-se a relação anterior, de forma mais compacta, em termos da tensão
Uπ , que representa o valor que faz com que, à saída, as duas polarizações estejam desfasadas
de π, isto é,
' '0 0x yk n d k n d− = π (1.191)
52
ou seja:
0 2
o
p pU
k C Cπλπ
= = (1.192)
e portanto:
2 ( )sen2U tTUπ
⎛ ⎞π= ⎜ ⎟
⎝ ⎠ (1.193)
A Fig.1.23 mostra a evolução do factor de transmissão em função de ( )U t .
Fig. 1.23 - Evolução do factor de transmissão em função de ( )U t .
Por variação de ( )U t haverá modulação de intensidade de luz na saída. Para que a
resposta seja o mais linear possível deve-se polarizar o cristal em 2Uπ , quando 0,5T = .
Neste caso
( )sen2 o m
UU U tπ= + ω (1.194)
e
( )2msen sen
4 2oUT t
Uπ
⎡ ⎤ππ= + ω⎢ ⎥
⎣ ⎦ (1.195)
Atendendo a que
T
1
0,5
Uπ2Uπ( )U t
53
2 1 1sen sen4 2 2π⎛ ⎞+ β = + β⎜ ⎟
⎝ ⎠ (1.196)
vem:
( )1 1 sen sen2
om
UT tUπ
⎧ ⎫⎡ ⎤π⎪ ⎪= + ω⎨ ⎬⎢ ⎥⎪ ⎪⎣ ⎦⎩ ⎭
(1.197)
Se oU Uππ << virá
( )1 1 sen2
om
UT tUπ
⎡ ⎤π+ ω⎢ ⎥
⎣ ⎦ (1.198)
e portanto haverá uma relação aproximadamente linear entre o sinal e T em torno de 0,5T = ,
Fig.1.24.
Fig. 1.24 - Modulação do factor de transmissão.
O valor de Uπ é em geral muito elevado. Como exemplo, consideremos o cristal já
mencionado de KDP. De (1.109) e (1.110) tira-se
363p oC r n= (1.199)
Atendendo a que 1263 11 10r m V−= × quando 0,633o mλ = μ e 1,5074on = ,
UπUπ/2 U(t)
1,0
0,5
T
t
T
54
8,4U kVπ =
A forma mais simples de obviar à utilização destas tensões de polarização é de
introduzir uma desfasagem adicional de 2π entre as componentes 'x e 'y de (1.183) por
intermédio de uma placa retardadora de um quarto de comprimento de onda. Esta placa é
colocada à saída do cristal, antes do polarizador, e está orientada de modo a ter os seus eixos
principais alinhados com as direcções 'x e 'y . Neste caso a relação para T é dada por (1.195),
com ( ) seno mU t U t= ω , eliminando assim a componente contínua.
7.4. Modulador transversal de amplitude O campo eléctrico aplicado está dirigido segundo a direcção perpendicular à de
propagação da luz, Fig. 1.25.
Fig. 1.25 - Modulador transversal de amplitude
O modulador transversal consiste num cristal uniaxial orientado de modo a que a
direcção de propagação de luz coincide com 'y e à onda incidente está associado um campo
eléctrico no plano 'x Oz que faz um ângulo de 45º com o eixo dos zz e 'x . O campo eléctrico
aplicado está dirigido segundo z. A onda incidente é descrita por:
( ) 0 '0'( ' 0)
2jk y
x zEy e= = +E u u (1.200)
À saída do cristal:
E
x’
y’kx’
z
z zE u
Polarização linear Polarização elíptica
z
45º y
z
x’
z
x’
Et
z
x45º
Polarização linearsegundo o eixo detransmissão
Polarizador
Eixo de transmissão
55
'
0 00 0'( ' )
2 2x ejk n d jk n d
x zE Ey d e e= = +E u u (1.201)
Ao passar no polarizador de saída segundo a direcção indicada, dá origem a um campo
transmitido cuja componente vale
'u( ' )2
x ztE y d − +⎛ ⎞= = ⎜ ⎟
⎝ ⎠
uE i (1.202)
ou
'
0 002
x ejk n d jk n dt
EE e e⎛ ⎞= − +⎜ ⎟⎝ ⎠
(1.203)
que pode ser escrita como
' ' '
0 0 0( ) ( ) ( )
0 2 2 22
x e x e x en n n n n nik d jk d jk dt
EE e e e+ − −
+ −⎛ ⎞⎜ ⎟= − +⎜ ⎟⎜ ⎟⎝ ⎠
(1.204)
e assim:
'
0( )sen
2x e
t on nE E k d
⎡ ⎤−= ⎢ ⎥
⎢ ⎥⎣ ⎦ (1.205)
e o factor de transmissão T
2senT = φ com '
0( )
2x en nk d −
φ = (1.206)
Tomando ainda como exemplo o KDP, ter-se-à
' 3632x o o z
rn n n E+ (1.207)
pelo que
30 632 2o e o z
k d rn n n E⎡ ⎤φ = − +⎢ ⎥⎣ ⎦ (1.208)
56
ou
( ) 30 0632 4o e o z
k d k dn n r n Eφ = − + (1.209)
Definindo Uπ como a tensão necessária para introduzir um desvio de fase adicional de
π,
03 3
0 63 63
2
o o
t tUd dk n r n r
πλπ ⎛ ⎞ ⎛ ⎞= =⎜ ⎟ ⎜ ⎟
⎝ ⎠ ⎝ ⎠ (1.210)
e ter-se-á:
0 ( )( )2 2o e
k d U tn nUπ
πφ = − + (1.211)
pelo que
2 0 ( )sen ( )2 2o e
k d U tT n nUπ
⎡ ⎤π= − +⎢ ⎥
⎣ ⎦ (1.212)
Obtém-se uma resposta linear se se escolher
0 ( )2 4o e
k d n n π− = (1.213)
e se se verificar também a relação oU Uπ<< . De acordo com (1.210) é possível escolher uma
relação td
⎛ ⎞⎜ ⎟⎝ ⎠
que permita obter valores mais baixos para Uπ que aqueles que são exigidos
para a configuração anterior, relativa ao campo longitudinal.
7.5. Modulação de fase Considere-se um cristal orientado de acordo com a montagem da Fig. 8.22. Supõe-se
que a luz incidente vinda da esquerda está polarizada segundo 'x e se propaga segundo z, isto
é,
57
00 'jk z
xE e=E u (1.214)
O campo à saída do cristal é dado por:
'
00 'xjk n dt xE e=E u (1.215)
ou, no caso particular do KDP
30 63
0
( )2
o zo
jk dn r E tjk n d
t oE e e=E (1.216)
em que:
( )( ) senz o mE t E t= ω (1.217)
No domínio do tempo ter-se-á então
( ) '( ) cost o xt E t= ω + αE u (1.218)
com
( )0 o mk n d e sen tα = + β β = δ ω (1.219)
em que.
3
0 632
o ok d n r Eδ = (1.220)
A fase de ( )t tE , α, é modulada através do termo β.
7.6. Isolador óptico Nalgumas aplicações a luz emitida pelo laser, ao ser reflectida pode reentrar na sua
cavidade podendo alterar de forma significativa o seu funcionamento e portanto o
funcionamento do sistema a que se encontra ligado. Isolar opticamente é modificar a
polarização da luz por forma a que a luz reflectida esteja, à entrada do laser, em quadratura
com a luz emitida. Podem-se utilizar placas retardadoras de um quarto de comprimento de
onda ou um dispositivo de Faraday.
58
No caso do dispositivo de Faraday, o cristal é dimensionado para que o plano de
polarização rode de 4π quando se dá uma passagem da luz polarizada linearmente. A luz
reflectida, ao passar pelo isolador, sofre uma rotação adicional de 4π pelo que, à entrada do
laser está em quadratura com a luz emitida, Fig. 1.26.
Fig. 1.26 - Isolador óptico. Separaram-se os trajectos do raio incidente e reflectido por razões de clareza.
Bibliografia
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Prentice Hall, 1976.
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− S.L. Chuang, “Physics of Optoelectronic Devices”, Wiley, 1995.
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− E. Hecht, A. Zajac, “Optics”, Addison-Wesley, 1974.
− F.A. Jenkins, H.E. White, “Fundamentals of Optics”, McGraw-Hill, 1981.
− E. G. Sauter, “Nonlinear Optics”, Wiley, 1996.
x
yz
45º
Polarizadorvertical
EE
E ELuz incidente
B
45º
Célula deFaraday
Polarizador com eixo detransmissão a 45º
Supe
rfíc
ie re
flect
ora