Padrões de diversidade α (alfa) e (beta) a importância da ......Obrigada, Senhor, por ter guiado...
Transcript of Padrões de diversidade α (alfa) e (beta) a importância da ......Obrigada, Senhor, por ter guiado...
Padrões de diversidade α (alfa) e β (beta) zooplanctônica em lagos tropicais:
a importância da estrutura do habitat e da identidade das espécies
Camila Rodrigues Cabral
Tese apresentada à Universidade Federal do Rio Grande do Norte para obtenção do Grau em Doutor em Ecologia
Orientador: Prof. Dr. Adriano Caliman
Natal/RN 2015
ii
iii
“Padrões de diversidade α (alfa) e β (beta) zooplanctônica em lagos tropicais: a importância da estrutura do habitat e da identidade das
espécies”
Camila Rodrigues Cabral
Bióloga – Mestre em Ecologia
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Tese apresentada ao Programa de Pós Graduação em Ecologia
da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
para o exame de defesa e obtenção do título em nível
Doutorado em Ecologia
BANCA EXAMINADORA
_________________________________________
Prof. Dr. Adriano Caliman – Presidente da Banca e Orientador
_________________________________________
Profa. Dra. Eneida Eskinazi – Membro Externo – UFOP/Ouro Preto
_________________________________________
Prof. Dr. Rafael Guariento – Membro Externo – UFMS/Campo Grande
_________________________________________
Profa. Dra. Luciana Carneiro – Membro Interno – UFRN/ Natal
_________________________________________
Dr. Kemal Ger – Membro Interno – UFRN/ Natal
Natal/RN
2015
iv
Dedico à meus pais, por terem me ensinado que as dificuldades fazem parte
dos caminhos, e que sem objetivos bem definidos somente por acaso chegamos a
algum lugar.
“Ao superar contratempos não se detenha na lembrança dos momentos difíceis, mas na alegria de haver atravessado mais essa prova em sua vida. Leve na sua memória as coisas boas que surgiram nas dificuldades. Elas serão uma prova de sua capacidade e lhe darão confiança diante de qualquer obstáculo” Chico
“However fragmented the world, however intense the national rivalries, it is an inexorable fact that we become more interdependent every day” Jacques-Yves Cousteau
“O que darei eu ao Senhor por todos os benefícios que me tem feito?” Salmo 116:13
v
Do Litoral Ao Semi-Árido do Nordeste Potiguar (no texto abaixo estão representados 23 dos 100 lagos coletados nesta tese de doutorado)
“Foi na minha terra, do litoral ao sertão
Da beleza de Cutia, aos ensinamentos em Comissão Da simpatia de Brinhosa, à boiada de Boqueirão
Da seca em Curiá, aos mistérios de Cuité Do pôr do sol do Triunfo, ao alento em Catolé
Das crianças em Mineiro, aos curiosos em Serrote Dos gansos em Jenipapo e em Campo Alegre a fome do gado.
Em Angicos era pedra sobre pedra, Canaviais em Formosa
A caatinga marrom em Boa Vista e a mata no Jiqui Cadê as plantas na Pedra Branca? Cadê a água no Riacho da Cruz?
Mas o sapo da boca gigante estava bem ali.
Em cada canto um sertanejo medonho que nos ensina e encoraja! Foi assim em Japi, Tapuia, Punaú e Piató,
E também em Mendubim Digo pro senhor da capital, como diria meu vô: Que de belo não é só o mar azul do Bonfim”
Poetisa: Fabíola Catombé
vi
Agradecimentos A realização de um doutorado, desde minha época de graduação, sempre foi um objetivo a ser alcançado. A sensação é que agora eu posso dar continuidade a minha carreira profissional, após o “investimento” de tantos anos de estudo e aperfeiçoamento. Assim como na graduação e no mestrado, durante o doutorado eu contei com a felicidade de estar rodeada de pessoas que me incentivaram e compartilharam comigo momentos de alegria, e principalmente, estiveram ao meu lado nas horas difíceis desta jornada. As palavras de agradecimento abaixo traduzem de forma singela o grande sentimento de gratidão que guardarei comigo para sempre. Agradeço inicialmente ao meu bom Deus e aos amigos espirituais que estiveram ao meu lado, mesmo nas horas em que eu estive distante. Obrigada, Senhor, por ter guiado meus passos, ter aberto as portas para meu engrandecimento intelectual e moral, e por estender as suas mãos benevolentes através dos meus queridos pais. Agradeço aos amados pais, José Cabral e Edilza Rodrigues por serem tão especiais. Qualquer palavra seria pequena diante do eterno sentimento de gratidão. Obrigada por serem meus melhores amigos e por me incentivarem incondicionalmente. Vocês são a personificação do amor de Deus em minha vida. Amo vocês. Agradeço ao meu companheiro Danilo Aguilar por estar ao meu lado durante toda a jornada do doutorado. Como é confortante saber que durante esta etapa “corrida” a vida nos uniu para formamos uma família repleta de amor, amizade e carinho. Sou muito grata por ter alguém como você para compartilhar os meus sonhos. Agradeço a toda a minha família, em especial às minhas avós Roselita e Ivone, às minhas tias Stela e Maria, e à prima-irmã Giselle por serem mulheres inspiradoras. Ao meu tio Neto Cabral, sua esposa Olímpia e mais uma vez minha tia Stela por me apresentarem o valor da profissão de professor e por me incentivarem durante toda minha jornada acadêmica. Aos queridos Aurelita, Anderson, Sabrina, André e Valentina por estarem, mesmo à distância, torcendo para o êxito desta tese. Obrigada pelo carinho de todos. Agradeço às amigas Cynthia, Lorena, Mônica, Renata e Marina por estarem desde o tempo de escola compartilhando conquistas pessoais e profissionais. Aos amigos da Casa de Caridade Auta de Souza por me lembrarem sempre que “existir é mais que ser prisioneiro do saber, é fazer e é sentir, é amar e servir”. Muito obrigada pela amizade de vocês. Agradeço ao Prof. Adriano Caliman por ter me aceito como sua primeira aluna de doutorado, pela ideia grandiosa do projeto e pela força na estruturação desta tese. A sua forma de ver a Ecologia é inspiradora. Torço por seu sucesso profissional e espero poder contribuir para engrandecimento de sua base de pesquisa. Sou muito grata por suas contribuições. Obrigada. Agradeço aos professores Luciana, Mauro, Eneida e Odete e à amiga Naira pela ajuda com o zooplâncton de águas interiores. Aos professores André, Coca, Renata, Vanessa, Sérgio e Bruno por gentilmente terem cedido seus laboratórios para execução de alguma das partes desta tese. Aos pós-doc Rosemberg e Ali por terem contribuído com a banca de qualificação, mas principalmente, por eu sentir que vocês sempre foram umas das pessoas que mais acreditaram em meu trabalho e potencial. Aos professores Rafael, Luciana, Ali e Eneida pelas contribuições durante a defesa da tese. Aos professores Eneida Eskinazi, Mauro de Melo Júnior e Danielle Bezerra pela amizade, compreensão, carinho e força durante esta etapa, vocês são profissionais incríveis e amigos estimados. Obrigada. Agradeço aos amigos que embarcaram na “loucura” da execução do meu trabalho de campo. Amostrar em mais de 100 lagos em menos de 25 dias numa equipe de no máximo 5 pessoas/dia é para poucos. Nenhum
vii
dos louros que serão colhidos pelos pesquisadores a partir dos dados coletados em campo seria possível sem a contribuição inestimável de vocês. Agradeço em especial à José Cabral (meu pai), Vinícius, Beatriz e Danilo (esposo) que foram à campo apenas pelo prazer de ajudar, sem possuírem nenhum tipo de vínculo com a UFRN, à Fabíola que se mostrou uma verdadeira amiga e esteve presente comigo nas horas mais difíceis durante e após trabalho de campo, à Anna e Bruno pela companhia, amizade e ajuda em muitos dos lagos amostrados. Vocês são demais! Obrigada. Agradeço aos amigos dos Laboratório de Ecologia Aquática pela força e incentivo, em especial à Regina, Gabi, Fabíola, Ewaldo, Letícia, Rosemberg, Pablo, Bibinha, Maricota, Anízio, Bruno e Ângela. Agradeço às pessoas que acreditaram neste projeto e utilizaram ou utilizarão os dados para execução de suas pesquisas. Agradeço ao Programa de Pós Graduação em Ecologia da UFRN pela oportunidade de desenvolvimento da tese, à CAPES pela concessão da bolsa de estudos, ao CNPq pelo financiamento do projeto de pesquisa e ao Programa de Pós Graduação em Ecologia e Evolução da UFG pela oportunidade de execução de disciplinas. Agradeço a todos que direta ou indiretamente me ajudaram. Obrigada! Camila
Casa do Açude Riacho do Angicos. Obrigada a todos aqueles que permitiram que
entrássemos em suas propriedades para realização de nosso trabalho de campo.
viii
Sumário RESUMO ............................................................................................................................... 1
I. Introdução – Geral ......................................................................................................... 2
II. Material e Métodos – Geral ....................................................................................... 7
Referências ........................................................................................................................... 10
Capítulo 1
Heterogeneidade de habitat e riqueza zooplanctônica em lagos rasos tropicais: o papel das macrófitas aquáticas ............................................................................................................. 15
1.1 Introdução ..................................................................................................................... 16
1.2 Material e Métodos ........................................................................................................ 20
1.3 Resultados ...................................................................................................................... 23
1.4 Discussão ........................................................................................................................ 25
1.5 Conclusões ..................................................................................................................... 30
Referências ........................................................................................................................... 31
Figuras .................................................................................................................................. 39
Tabelas .................................................................................................................................. 45
Capítulo 2
Influência da heterogeneidade de habitat local e regional sobre a diversidade beta zooplanctônica em lagos rasos tropicais .............................................................................. 49
2.1 Introdução ..................................................................................................................... 50
2.2 Material e Métodos ........................................................................................................ 55
2.3 Resultados ...................................................................................................................... 58
2.4 Discussão ........................................................................................................................ 60
2.5 Conclusões ..................................................................................................................... 65
Referências ........................................................................................................................... 66
Figuras .................................................................................................................................. 73
Tabelas .................................................................................................................................. 77
Capítulo 3
Padrões de decaimento da similaridade com a distância em comunidades zooplanctônicas tropicais: a importância do potencial de dispersão e da idade dos ecossistemas ............... 81
3.1 Introdução ..................................................................................................................... 82
3.2 Material e Métodos ........................................................................................................ 86
3.3 Resultados ...................................................................................................................... 90
ix
3.4 Discussão ........................................................................................................................ 91
3.5 Conclusão ...................................................................................................................... 95
Referências ........................................................................................................................... 95
Figuras ................................................................................................................................ 101
Tabelas ................................................................................................................................ 104
Apêndice A......................................................................................................................... 109
Apêndice B ......................................................................................................................... 110
Apêndice C ........................................................................................................................ 111
Apêndice D ........................................................................................................................ 112
Apêndice E ......................................................................................................................... 113
Apêndice F ......................................................................................................................... 114
1
RESUMO Esse estudo avalia os padrões de diversidade alfa, diversidade beta e similaridade das comunidades zooplanctônicas em 100 lagos rasos tropicais. No primeiro capítulo, nós verificamos a riqueza zooplanctônica entre os habitats limnético e litorâneo, se o resultado encontrado foi decorrente da presença de macrófitas no habitat litorâneo ou de condições do habitat per se, e quais foram as variáveis ambientais locais que mais influenciaram nos padrões de riqueza. Nossas hipóteses eram de que a riqueza seria maior no habitat litorâneo, principalmente para microcrustáceos, e que esses padrões seriam determinados pela presença de macrófitas. Nós vimos que o habitat litorâneo com macrófitas é detentor de maior riqueza zooplanctônica, especialmente de espécies de rotíferos beneficiadas pelo espectro de recursos providos pelas macrófitas. A riqueza de microcrustáceos não foi afetada pelas macrófitas, possivelmente devido ao tamanho reduzido desses organismos e à baixa predação visual e hábito omnívoro de peixes tropicais. Encontramos relação positiva entre a riqueza com a presença de macrófitas e a baixa concentração de nitrogênio. É possível que, devido às consequências da eutrofização, o aumento dos nutrientes na água determinam o aumento da biomassa algas e a redução de macrófitas, e consequentemente, a redução da riqueza zooplanctônica. Já no segundo capítulo, nós observamos que o efeito combinado da heterogeneidade de habitats (habitat limnético ou litorâneo) e a ausência direta de conectividade entre os lagos foram fundamentais no aumento da diversidade beta zooplanctônica, e que, a complexidade estrutural (presença de macrófitas) exerceu importante papel sobre a diversidade beta em escalas local e regional. A variação espacial, como a promovida pela compartimentalização horizontal em lagos e pela presença de macrófitas no habitat litorâneo, foi capaz de produzir mosaicos e gradientes capazes de permitir a coexistência de diferentes espécies adaptadas às condições específicas criadas pela variabilidade dos habitats limnético e litorâneo. Dentre esses habitats, o litorâneo constituiu a região mais sujeita a efeitos do filtro ambiental em escala regional, apresentando maior diversidade beta e heterogeneidade ambiental, possivelmente devido à maior complexidade espacial e temporal de fatores físico-químico e biológicos. Enquanto que, no terceiro capítulo, nós vimos os padrões do zooplâncton de decaimento da similaridade com a distância (DDS), considerando o potencial de dispersão dos organismos e a idade do lagos. Devido ao potencial de dispersão, nós esperávamos que as taxas de DDS fossem maiores para copépodes, cladóceros e rotíferos, respectivamente, e que, devido ao maior tempo de existência dos lagos antigos e ao potencial de dispersão do zooplâncton, as medidas de similaridade inicial fossem maiores e as taxas de DDS menores nos lagos antigos. Nós vimos que dentro de cada conjunto de lagos as taxas de DDS não variaram entre os organismos, evidenciando que além da habilidade de dispersão per se, existem outros fatores que contribuíram para inexistência de decaimento mais rápidos entre os grupos. As taxas de DDS foram mais evidentes nos lagos mais novos, possivelmente, o tempo tornou os lagos antigos mais complexos e heterogêneos, capazes de agir como filtro ambiental na seleção de diferentes espécies. A DDS significativa do zooplâncton em escalas espaciais relativamente pequenas comprova que organismos pequenos podem apresentar padrões biogeográficos semelhante ao esperado para os macrorganismos. Por fim, os três capítulos em conjunto forneceram informações importantes sobre os fatores que controlam a riqueza e distribuição zooplanctônica no espaço e no tempo e pode auxiliar-nos na previsão de respostas ecossistêmicas, diante da eutrofização cultural ou das mudanças climáticas globais, e nas ações de conservação e estratégias de conservação de ecossistemas lacustres. Palavras-chave: habitats limnético e litorâneo, macrófitas, fatores locais e regionais, decaimento da similaridade com a distância, dispersão, microcrustáceos, rotíferos, eutrofização.
2
I. Introdução – Geral
Quais são os fatores que determinam o padrão de distribuição das espécies no espaço e no
tempo? Há anos essa pergunta constitui um dos principais objetivos das pesquisas em
ecologia de comunidades e biogeografia. Vários estudos têm sido propostos no intuito de
gerar subsídios para respondê-la em diferentes comunidades biológicas e condições
ambientais ao redor do mundo, pois contribui de maneira crucial para a previsão de
respostas ecossistêmicas diante, por exemplo, da ação antropogênica (Passy & Blanchet
2007, Vellend et al 2007) ou de mudanças climáticas globais (Singh et al. 2010, Leprieur
et al. 2011, Pereira e Silva et al. 2012).
Dentre os fatores ecológicos consolidados pela literatura científica que exercem
influência na estruturação das comunidades, nós podemos citar e.g. a área do habitat, a
heterogeneidade ambiental, a produtividade, a intensidade de distúrbios, a
compartimentalização de habitat, além da dispersão e da conectividade entre diferentes
habitats (Mouquet & Loreau 2003, Verleyen et al. 2009, Vellend, 2010). Tais fatores
podem ser classificados em locais e regionais, baseados na escala espacial que operam. Os
fatores locais estão ligados às interações bióticas (e.g. competição e produtividade) e às
tolerâncias abióticas das espécies ao meio (e.g. heterogeneidade ambiental e complexidade
de habitat), e são fortemente relacionados à Teoria de Nicho que prediz que a diversidade
surge a partir das variações interespecíficas para tolerar diferenças ambientais e espaciais
dos habitats. Ao passo que, os fatores regionais podem resultar da dispersão ou evolução
dos organismos através do tempo, e estão relacionados à Teoria Neutra, a qual assume que
todas as espécies são ecologicamente equivalentes, e que a estruturação das comunidades
depende de processos como a capacidade de dispersão.
Em conjunto, a ação desses fatores podem afetar tanto a diversidade alfa, ou seja, o
número de espécies em uma pequena área de habitat, como também a diversidade beta, a
qual é definida como a diferença na composição de espécies entre duas comunidades ao
longo de gradientes ambientais ou à taxa de substituição (i.e. “turnover”) de espécies entre
locais distintos. As diversidades alfa e beta, são utilizadas para descrever e mensurar a
biodiversidade e constituem ferramentas importantes nas estimativas de riqueza de espécies
em múltiplas escalas (e.g. espacial e temporal) e na compreensão das mudanças na
composição das comunidades (Soininen et al. 2007).
3
Investigações acerca da influência de fatores ligados a processos locais e regionais
sobre as diversidade alfa e beta das comunidades biológicas vêm sendo realizadas com
diferentes tipos de organismos (i.e. micro e macrorganismos, autotróficos e heterotróficos)
em diferentes ecossistemas naturais e artificiais (Cottenie et al. 2003, Jeffries 2005,
Donohue et al. 2009, Sommaruga & Casamayor 2009, Fahr & Kalko 2011, De Bie et al.
2012). Nesse sentido, ambientes aquáticos lênticos constituem importantes sistemas
modelo para o teste de padrões geográficos de diversidade, pois a natureza de “ilhas” desses
ecossistemas com limites de habitat bem definidos sobre a matriz da paisagem terrestre
permitem que efeitos locais e regionais sejam mais facilmente compreendidos. Além disso,
esses ambientes são bastante susceptíveis a distúrbios, apresentam alta dinâmica
biogeoquímica e taxas metabólicas, e portanto, permitem o rápido entendimento da ação
de mecanismos, como a variação nos fatores ambientais, as interações bióticas e a dispersão
na determinação dos padrões geográficos da biodiversidade (De Meester et al. 2005, Lopes
& Caliman 2008).
Os ecossistemas lacustres também apresentam um tipo de compartimentalização
horizontal de habitat que geram condições ambientais distintas dentro de um único
ecossistema, permitindo a exploração de diferentes comunidades aquáticas. Enquanto o
habitat limnético (i.e. a porção interior do lago sem contato direto com as margens) é a
região do lago que apresenta maior profundidade, com possibilidade de estratificação
vertical das variáveis físico-químicas e dominância das comunidades do nécton e do
plâncton, o habitat litorâneo (i.e. a área do lago que está em contato direto com o
ecossistema terrestre adjacente) é a região mais rasa do lago, com maior possibilidade da
radiação de solar atingir o substrato, permitindo a dominância de diferentes plantas
aquáticas e a colonização dos mais diversos organismos aquáticos e terrestres (e.g.
invertebrados zooplanctônicos, perifíticos e bentônicos, entre crustáceos, moluscos,
oligoquetas e fases larvais de insetos, além de peixes, répteis, anfíbios, aves e mamíferos),
sendo considerada uma região de alta complexidade trófica (Naiman & Décamps 1990,
Vadeboncoeur et al. 2002, Esteves & Caliman 2011).
Embora existam diferenças marcantes entre as regiões limnética e litorânea, as
pesquisas em limnologia direcionam seus esforços prioritariamente à porção limnética
desses ambientes (Schindler & Scheuerell 2002, Vadeboncoeur et al. 2002), não levando
em consideração o possível papel da região litorânea como filtro ambiental na seleção de
4
organismos, da função mantenedora de complexidade estrutural nestes ambientes, e
consequentemente, da possibilidade destas áreas serem responsáveis por um incremento
na riqueza de espécies e diversidade beta nestes ecossistemas. Inclusive, em termos
estruturais, o habitat litorâneo é reconhecido por ser mais complexo que o limnético, em
parte, devido a presença de comunidades de plantas aquáticas, constituídas em ambientes
lacustres principalmente por macrófitas (Taniguchi et al. 2003, Thomaz et al. 2008). O alto
número de espécies e a grande diversificação na morfologia e forma de vida das macrófitas
dá a este grupo um papel fundamental no surgimento e manutenção da biodiversidade,
afetando nas relações de coexistência, competição e predação dos animais que vivem em
associação com esses vegetais (Esteves & Caliman, 2011).
Devido aos seus múltiplos papéis funcionais (e.g. fornecimento de recurso alimentar
e biomassa de tecidos mortos – Cronin et al. 1999, Cronin et al. 2002, Cronin et al. 2006;
áreas de refúgio contra predação, reprodução e desenvolvimento de animais – Tolonen et
al. 2003, Latini & Petrere 2004; substrato para colonização do perifíton – Carpenter &
Lodge 1986, Dudley 1988; variabilidade espacial e temporal de variáveis físico-químicas da
água – Duggan et al. 2001), muitos estudos associam às macrófitas aquáticas litorâneas a
riqueza, abundância e biomassa de diferentes grupos taxonômicos em lagos, como pássaros
(Hoyer & Jr 1994, Guadagnin et al. 2009), peixes (Meschiatti et al. 2000, Gomes et al.
2012, Hermes-Silva & Zaniboni-Filho 2012), invertebrados terrestres (Tolonen et al. 2003,
Rennie & Jackson 2005) e aquáticos, dentre eles, os organismos zooplanctônicos
(Bergstrom et al. 2001, Lansac-Tôha et al. 2003), os quais constituem um excelente grupo
de organismos para estudar as interações locais e espaciais em ambientes aquáticos
(Cottenie et al. 2003, Soininen et al. 2007).
O zooplâncton forma um compartimento estratégico na dissipação energética,
manutenção e orientação das teias tróficas aquáticas (Soranno et al. 1993, Eskinazi-
Sant’Anna et al. 2007), e em função de seus ciclos vitais rápidos, as alterações ocorridas nos
meios biótico e abiótico são rapidamente espelhadas por estes organismos, que passam a
sinalizar a intensidade e as condições estabelecidas durante e após a consolidação destas
perturbações (Neumann-Leitão et al. 1991). Além disso, vários estudos já relataram os
mecanismos e a eficiência da dispersão do zooplâncton entre habitats, através de vetores de
dispersão (i.e. vento, água e animais), migração ativa de indivíduos adultos ou passiva através
de formas de resistência (Bilton et al. 2001, Michels et al. 2001, Bohonak & Jenkins 2003,
5
Cottenie et al. 2003, Havel & Shurin 2004, Green & Figuerola 2005). Especialmente em
ecossistemas lacustres, a dispersão pode ser um fator limitante para distribuição do
zooplâncton, já que os organismos precisam transpor uma matriz terrestre para terem acesso
às “ilhas de habitat” favoráveis ao desenvolvimento (Figuerola & Green 2002, Bohonak &
Jenkins 2003, Shurin et al. 2009).
Além da influência de fatores locais (e.g. condições abióticas e presença de
macrófitas) e regionais (e.g. capacidade de dispersão), a estruturação das comunidades
zooplanctônicas também pode ser afetada pelo tempo de existência (i.e. idade) dos
ecossistemas lacustres. Existem hipóteses que dizem que habitats mais antigos tiveram mais
tempo para serem colonizados (Pianka, 2011), e portanto possuem comunidades mais
homogêneas, já que até mesmo as espécies com menor capacidade de dispersão teriam
tempo suficiente para colonizar os habitats mais distantes, enquanto que outros autores
argumentam que habitats mais antigos são estruturalmente mais complexos e criam
heterogeneidade ambiental capaz de agir como filtro na seleção de diferentes espécies,
independentemente do tempo e potencial de dispersão dos organismos (McKindsey &
Bourget 2001).
De uma maneira geral, as pesquisas em ambientes aquáticos abstêm-se de alguns
pontos importantes para o conhecimento da estruturação das comunidades
zooplanctônicas em ecossistemas lacustres tropicais, por exemplo: 1) atribuem apenas aos
fatores locais à distribuição e composição das comunidades, por vezes ignorando a tão
discutida habilidade de dispersão desses organismos (Jenkins & Underwood 1998, Shurin
et al. 2009); 2) desconsideram o habitat litorâneo em seu procedimento amostral, e
consequentemente, o possível papel que essa região pode exercer como filtro ambiental na
seleção de espécies; 3) ignoram o efeito que as macrófitas aquáticas litorâneas podem ter
no incremento de diversidade alfa e beta dentro de um único ecossistema (i.e. escala espacial
local) e entre vários ecossistemas lacustres (i.e. escala espacial regional); 4) não avaliam o
efeito que a distância geográfica entre os ecossistemas lacustres e as diferenças existentes no
potencial de dispersão entre os organismos podem exercer sobre a distribuição e
composição das comunidades; 5) desconsideram a idade dos ecossistemas como um fator
capaz de interagir com o potencial de dispersão dos organismos de forma a afetar a
estruturação das comunidades aquáticas.
6
Diante do cenário apresentado, esta Tese foi elaborada no intuito de esclarecer e
elucidar os padrões de diversidade alfa e beta das comunidades zooplanctônicas em 100
ecossistemas lacustres tropicais levando em consideração o efeito da presença das
macrófitas na porção litorânea dos ecossistemas lacustres, das variáveis abióticas medidas
em cada um dos corpos aquáticos, do potencial de dispersão dos principais grupos
zooplanctônicos e da idade dos ecossistemas lacustres. De tal forma, que o corpo da Tese
foi dividido em três capítulos, descritos abaixo:
Capítulo 1 – Heterogeneidade de habitat e riqueza zooplanctônica em lagos rasos
tropicais: o papel das macrófitas aquáticas – com o objetivo de verificar se existe
diferença na riqueza zooplanctônica total e em relação a grupos específicos
zooplanctônicos entre os habitats limnético e litorâneo, e se tais diferenças são
decorrentes da presença de macrófitas no habitat litorâneo dos ecossistemas
lacustres ou simplesmente de condições do habitat per se. Além disso, observar quais
são as variáveis ambientais locais que mais influenciaram nos padrões de riqueza
zooplanctônica entre os dois habitats;
Capítulo 2 – Influência da heterogeneidade de habitat local e regional sobre a
diversidade beta zooplanctônica em lagos rasos tropicais, cujo objetivo foi analisar
os padrões de diversidade beta entre as comunidades limnética e litorânea de um
mesmo lago, e entre lagos diferentes, considerando conjuntos de lagos com e sem
macrófita no habitat litorâneo dos ecossistemas lacustres. Nós avaliamos o papel da
macrófita sobre a diversidade beta local e regional, o habitat (i.e. limnético ou
litorâneo) que deteve maior diversidade beta regional e se esta resposta foi
decorrente de uma maior heterogeneidade ambiental;
Capítulo 3 – Padrões de decaimento da similaridade com a distância em
comunidades zooplanctônicas tropicais: a importância do potencial de dispersão
e da idade dos ecossistemas, com o objetivo de avaliar os padrões de decaimento
da similaridade biológica dos principais grupos zooplanctônicos (i.e. Copepoda,
Cladocera e Rotifera) em relação ao aumento da distância geográfica entre os
ecossistemas lacustres, considerando o potencial de dispersão de cada um dos
grupos zooplanctônicos e a idade dos ecossistemas aquáticos.
7
II. Material e Métodos – Geral
Área de Estudo
Os dados desta pesquisa foram obtidos em 100 ambientes aquáticos lênticos (lagos)
de baixa latitude, localizados entre as 16 bacias hidrográficas do estado do Rio Grande do
Norte (Brasil), sendo 41 lagos de origem natural e 59 reservatórios artificiais (Figura 1). As
coletas foram realizadas durante o mês de setembro de 2012. O mês de setembro é
característico de estiagem na região (Figura 2; INPE 2015), e o ano de 2012 foi de seca
acentuada (Figura 3; EMPARN 2015). Tais informação geram mais suporte à inexistência
de conexão hidrológica entre os lagos, e consequentemente, o isolamento espacial entre
eles.
Figura 1 – Mapa do estado do Rio Grande do Norte apontando a localização dos 100 lagos amostrados. A faixa escura no mapa é considerada a região de transição entre a região de clima úmido (à direita) e a região de clima semiárido (à esquerda), mostrando a heterogeneidade climática da região. Os círculos representam as lagoas naturais (n=41), e os triângulos representam os reservatórios (n=59).
8
Figura 2 – Pluviometria do estado do Rio Grande do Norte (Ano 2012). À esquerda, precipitação diária acumulada (mm) durante os meses de 2012, e à direita, precipitação diária registrada durante o ano de 2012 em comparação a climatologia de chuva diária entre os anos 1997-2014 (Fonte: INPE/2015).
Figura 3 - Análise das chuvas acumuladas no estado do Rio Grande do Norte. Á esquerda, ano de 2011, e à direta, ano de 2012 (Fonte: EMPARN/2015).
A maioria dos ambientes amostrados eram rasos (91% com profundidade < 4m),
pequenos em área superficial (87% com área < 1km2) e perenes. Além disso, eram
diferentes em relação às características físico-químicas da água, estado trófico, cobertura
vegetal e uso do solo adjacente.
Os ambientes amostrados foram classificados em relação a presença de macrófitas
ou em relação a formação de origem/tempo de existência. Quanto a presença de macrófitas
foram formados 3 grupos: a) Todos os lagos (n = 100) – inclui todos os lagos da pesquisa;
b) lagos com a presença de macrófitas aquáticas na região litorânea (n = 80) e c) lagos sem
9
a presença de macrófitas aquáticas na região litorânea (n = 20). Quanto a formação de
origem/tempo de existência foram formados dois grupos: a) lagos naturais – ecossistemas
com datação de origem para coincidindo com formação do grupo Barreiras (i.e. formação
geológica típica da porção mais litorânea do estado do RN) e posteriormente com deposição
de sedimentos do Quaternário (Angelim et al. 2006, Vital 2006); b) reservatórios –
ecossistemas construídos artificialmente a partir de 1915 através pelo Departamento
Nacional de Obras Contra às Secas (DNOCS 2015).
Estratégia Amostral
Em cada um dos lagos nós realizamos a coleta de variáveis abióticas e de dados
bióticos na porção de subsuperfície da coluna de água em seis pontos representativos dos
lagos, sendo três pontos de coletas realizados no habitat litorâneo (i.e. próximo às margens,
independente da presença de macrófitas), e três pontos de coletas no habitat limnético (i.e.
próximo da região central do lago). Nós integramos as amostras referentes a cada um dos
habitats, e ao final do trabalho de campo nós tínhamos 200 amostras totais, sendo 100
representativas do habitat litorâneo e 100 do limnético.
Em campo foram mensuradas a profundidade, a transparência, a temperatura, a
concentração de oxigênio dissolvido e o pH. Amostras de água foram coletadas para análise
em laboratório de clorofila-a, nitrogênio total e dissolvido, fósforo total e dissolvido,
carbono orgânico dissolvido, além de carbono, fósforo e nitrogênio presentes no séston. A
profundidade e a transparência foram medidas através do disco de Secchi. A temperatura
(°C) e oxigênio dissolvido (OD – mg.L-1) foram mensurados através de sonda digital portátil.
O pH foi medido ainda em campo através de pHmetro de bancada. O nitrogênio total e
dissolvido (NT e ND – mg.L-1) foi determinado através de um aparelho analisador de
carbono (TOC-V) acoplado com o analisador de nitrogênio (módulo VPN) e de um auto-
amostrador (Shimadzu). A concentração de fósforo total (PT - mg.L-1) foi determinada após
a oxidação de maior parte dos compostos fosfatados a partir de persulfato (Valderrama
1981) e estimada pela metodologia do fósforo solúvel reativo (Murphy & Riley 1962). A
concentração de clorofila-a (Chl-a - mg.L-1) foi extraída de filtros com etanol 95% (Jespersen
& Christoffersen 1987). A água filtrada para obtenção dos filtros da clorofila foi utilizada
para obtenção análise de nitrogênio dissolvido (descrita anteriormente) e fósforo dissolvido
(PD – mg.L-1; Murphy & Riley 1962). As concentrações de carbono do séston foram
10
determinados pelo analisador de amostras de sólidos (módulo-SSM; Shimadzu), enquanto
que para fósforo e nitrogênio do séston, os filtros foram digeridos com persulfato e
analisados e forma idêntica aos nutrientes dissolvidos.
As coletas de zooplâncton foram feitas com redes de 50μm de abertura de malha.
Os organismos foram obtidos na subsuperfície da coluna de água através de baldes
previamente graduados para obtenção do volume filtrado, cuja quantidade variou entre 30
e 100 litros, dependendo da transparência e turbidez de cada ambiente. As amostras foram
imediatamente fixadas com solução açucarada de formaldeído a 4%.
Em laboratório o zooplâncton foi identificado até o nível de espécie com auxílio de
guias de identificação especializados (e.g. Elmoor-Loureiro 1997, Koste 1978, Santos-Silva
2000), câmera de Sedgewick-Rafter e microscópio para o grupo Rotifera, além de câmera
de Bogorov e estereomiscroscópio para Copepoda e Cladocera. As
identificações/contagens foram realizadas com no mínimo três réplicas com ao menos 100
indivíduos dos organismos mais abundantes em cada uma delas. Entretanto, um grande
número de amostras foram avaliadas por completo em busca de espécies raras. A lista das
espécies de cada um dos grupos zooplanctônicos encontra-se descrita nos Apêndices A e B.
Referências
Angelim, L. A. A., Medeiros, V. C., & Nesi, J. R. (2006). Projeto Geologia e Recursos Minerais do
Estado do Rio Grande do Norte. Mapa geológico do Estado do Rio Grande do Norte. Escala
1:500.000. Programa Geologia Do Brasil (PGB). Recife: CPRM/FAPERN.
Bergstrom, S., Svensson, J., & Wwestberg, E. (2001). Habitat distribution of zooplankton in
relation to macrophytes in an eutrophic lake. Verh. Internat. Verein. Limnol, 27, 281–2864.
Bilton, D., Freeland, J., & Okamura, B. (2001). Dispersal in aquatic invertebrates. Annu. Rev. Ecol.
Syst. Retrieved from
Bohonak, A., & Jenkins, D. (2003). Ecological and evolutionary significance of dispersal by
freshwater invertebrates. Ecology Letters, 6, 783–796.
Carpenter, S., & Lodge, D. (1986). Effects of submersed macrophytes on ecosystem processes.
Aquatic Botany, 26, 341–370.
Cottenie, K., Michels, E., Nuytten, N., & De Meester, L. (2003). Zooplankton metacommunity
structure: Regional vs. local processes in highly interconnected ponds. Ecology, 84(4), 991–
1000.
11
Cronin, G., Lewis, W. M., & Schiehser, M. A. (2006). Influence of freshwater macrophytes on the
littoral ecosystem structure and function of a young Colorado reservoir. Aquatic Botany, 85(1),
37–43.
Cronin, G., Lodge, D. M., Hay, M. E., Miller, M., Hill, A. M., Horvath, T., … Wahl, M. (2002).
Crayfish feeding preferences for freshwater macrophytes: the influence of plant structure and
chemistry. Journal of Crustacean Biology, 22(4), 708–718.
Cronin, G., Schlacher, T., Lodge, D., & Siska, E. (1999). Intraspecific variation in feeding
preference and performance of Galerucella nymphaeae (Chrysomelidae: Coleoptera) on
aquatic macrophytes. Journal of the North American Benthological Society, 391–405.
De Bie, T., De Meester, L., Brendonck, L., Martens, K., Goddeeris, B., Ercken, D., … Declerck, S.
A. J. (2012). Body size and dispersal mode as key traits determining metacommunity structure
of aquatic organisms. Ecology Letters, 15(7), 740–7.
De Meester, L., Declerck, S., Stoks, R., Louette, G., Van De Meutter, F., De Bie, T., … Brendonck,
L. (2005). Ponds and pools as model systems in conservation biology, ecology and evolutionary
biology. Aquatic Conservation: Marine and Freshwater Ecosystems, 15(6), 715–725.
DNOCS. (2015). Departamento Nacional de Obras Contra às Secas. Retrieved November 1, 2015,
from http://www.dnocs.gov.br/
Dudley, T. (1988). The roles of plant complexity and epiphyton in colonization of macrophytes by
stream insects. Verh. Internat. Verein. Limnol.
Duggan, I. C., Green, J. D., Thompson, K., & Shiel, R. J. (2001). The influence of macrophytes on
the spatial distribution of littoral rotifers. Freshwater Biology, 46(6), 777–786.
Elmoor-Loureiro, L. (1997). Manual de identificação de cladóceros límnicos do Brasil. Brasília, Distrito
Federal: Ed. Universitária.
EMPARN. (2015). Empresa Nacional de Pesquisas Agropecuárias.
Eskinazi-Sant’Anna, E. (2007). Composição da comunidade zooplanctônica em reservatórios
eutróficos do semi-árido do Rio Grande do Norte. Oecol. Bras., 11(3), 410–421.
Esteves, F. a., & Caliman, A. (2011). Águas Continentais: Características do Meio,
Compartimentos e Suas Comunidades. In Fundamentos de Limnologia (3 ed., pp. 113–118).
Rio de Janeiro: Interciência.
Fahr, J., & Kalko, E. K. V. (2011). Biome transitions as centres of diversity: habitat heterogeneity
and diversity patterns of West African bat assemblages across spatial scales. Ecography, 34(2),
177–195.
Figuerola, J., & Green, A. (2002). Dispersal of aquatic organisms by waterbirds: a review of past
research and priorities for future studies. Freshwater Biology, 47(3), 483–494.
Gomes, L., Bulla, C., & Agostinho, A. (2012). Fish assemblage dynamics in a Neotropical
12
floodplain relative to aquatic macrophytes and the homogenizing effect of a flood pulse.
Hydrobiologia.
Green, A. J., & Figuerola, J. (2005). Recent advances in the study of long-distance dispersal of
aquatic invertebrates via birds. Diversity and Distributions, 11(2), 149–156.
Guadagnin, D., Maltchik, L., & Fonseca, C. (2009). Species–area relationship of Neotropical
waterbird assemblages in remnant wetlands: looking at the mechanisms. Diversity and ….
Havel, J., & Shurin, J. (2004). Mechanisms, effects, and scales of dispersal in freshwater
zooplankton. Limnology and Oceanography, 49(4, part 2), 1229–1238.
Hermes-Silva, S., & Zaniboni-Filho, E. (2012). Structure of the littoral fish assemblage in an
impounded tributary: the effects of macrophytes presence (subtropical region, Brazil).
Brazilian Journal of Biology.
Hoyer, M., & Jr, D. C. (1994). Bird abundance and species richness on Florida lakes: influence of
trophic status, lake morphology, and aquatic macrophytes. Aquatic Birds in the Trophic Web of
Lakes.
INPE. (2015). Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Retrieved from http://www.inpe.br/
Jeffries, M. (2005). Local-scale turnover of pond insects: intra-pond habitat quality and inter-pond
geometry are both important. Hydrobiologia, 543(1), 207–220.
Jenkins, D., & Underwood, M. (1998). Zooplankton may not disperse readily in wind, rain, or
waterfowl. Hydrobiologia, 387/388(Rotifera VIII: A Comparative Approach), 15–21.
Jespersen, A., & Christoffersen, K. (1987). Measurements of chlorophyll―a from phytoplankton
using ethanol as extraction solvent. Archiv Für Hydrobiologie, 109, 445–454.
Koste, W. (1978). Rotatoria. Die Rädertiere Mitteleuropas Ein Bestimmungswerk, begründet von Max Voigt
Überordnung Monogononta. (Gebrüder Borntraeger, Ed.)Verlag Gebrüder Bornträger. Stuttgart.
Lansac-Tôha, F., Velho, L., & Bonecker, C. C. (2003). Influência de macrófitas aquáticas sobre a
estrutura da comunidade zooplanctônica. Ecologia E Manejo de ….
Latini, A. O., & Petrere, M. (2004). Reduction of a native fish fauna by alien species: an example
from Brazilian freshwater tropical lakes. Fisheries Management and Ecology, 11(2), 71–79.
Leprieur, F., Tedesco, P. A., Hugueny, B., Beauchard, O., Dürr, H. H., Brosse, S., & Oberdorff, T.
(2011). Partitioning global patterns of freshwater fish beta diversity reveals contrasting
signatures of past climate changes. Ecology Letters, 14(4), 325–34.
Lopes, P., & Caliman, A. (2008). A contribuição de ecossistemas lênticos para o entendimento da
importância de processos regionais e locais sobre padrões geográficos de biodiversidade.
LIMNOtemas, nov.
McKindsey, C. W., & Bourget, E. (2001). Diversity of a northern rocky intertidal community: the
influence of body size and succession. Ecology, 82(12), 3462–3478.
13
Meschiatti, A., Arcifa, M., & Fenerich-Verani, N. (2000). Fish communities associated with
macrophytes in Brazilian floodplain lakes. Environmental Biology of ….
Michels, E., Cottenie, K., Neys, L., & Gelas, K. De. (2001). Modelling the effective geographic
distance between zooplankton populations in a set of interconnected ponds: a validation with
genetic data. Molecular Ecology.
Mouquet, N., & Loreau, M. (2003). Community patterns in source‐sink metacommunities. The
American Naturalist.
Murphy, J., & Riley, J. P. (1962). A modified single solution method for the determination of
phosphate in natural waters. Analytica Chimica Acta, 27, 31–36.
Naiman, R., & Décamps, H. (1990). The ecology and management of aquatic-terrestrial ecotones (Man
and th). Paris, France: UNESCO.
Neumann-Leitão, S., Matsumura-Tundisi, T., & Calijuri, M. (1991). Distribuição e aspectos
ecológicos do zooplâncton da represa do Lobo (Broa), São Paulo. ENCONTRO BRASILEIRO
DE ….
Passy, S. I., & Blanchet, F. G. (2007). Algal communities in human-impacted stream ecosystems
suffer beta-diversity decline. Diversity and Distributions, 13(6), 670–679.
Pereira e Silva, M. C., Dias, A. C. F., van Elsas, J. D., & Salles, J. F. (2012). Spatial and Temporal
Variation of Archaeal, Bacterial and Fungal Communities in Agricultural Soils. PLoS ONE,
7(12), e51554.
Pianka, E. (2011). Evolutionary ecology. New York, NY: Harper & Rows.
Rennie, M. D., & Jackson, L. J. (2005). The influence of habitat complexity on littoral invertebrate
distributions: patterns differ in shallow prairie lakes with and without fish. Canadian Journal
of Fisheries and Aquatic Sciences, 62(9), 2088–2099.
Santos-Silva, E. dos. (2000). Revisão das espécies do“ complexo nordestinus”(Wright, 1935) de
Notodiaptomus Kiefer, 1936 (Copepoda: Calanoida: Diaptomidae). Universidade de São Paulo,
São Paulo.
Schindler, D. E., & Scheuerell, M. D. (2002). Habitat coupling in lake ecosystems. Oikos, 98(2),
177–189.
Shurin, J. B., Cottenie, K., & Hillebrand, H. (2009). Spatial autocorrelation and dispersal
limitation in freshwater organisms. Oecologia, 159(1), 151–9.
Singh, B. K., Bardgett, R. D., Smith, P., & Reay, D. S. (2010). Microorganisms and climate change:
terrestrial feedbacks and mitigation options. Nature Reviews. Microbiology, 8(11), 779–90.
Soininen, J., Lennon, J. J., & Hillebrand, H. (2007). A Multivariate Analysis of Beta Diversity across
Organisms and Environment. Ecology, 88(11), 2830–2838.
Soranno, P., Carpenter, S., & He, X. (1993). Zooplankton biomass and body size. In S. Carpenter
14
& J. Kitchell (Eds.), The trophic cascade in lakes (pp. 116–152). Cambridge, England:
Cambridge University Press.
Taniguchi, H., Nakano, S., & Tokeshi, M. (2003). Influences of habitat complexity on the diversity
and abundance of epiphytic invertebrates on plants. Freshwater Biology, 48(4), 718–728.
Thomaz, S. M., Dibble, E. D., Evangelista, L. R., Higuti, J., & Bini, L. M. (2008). Influence of
aquatic macrophyte habitat complexity on invertebrate abundance and richness in tropical
lagoons. Freshwater Biology
Tolonen, K., Hämäläinen, H., & Holopainen, I. (2003). Body size and substrate association of
littoral insects in relation to vegetation structure. Hydrobiologia, 499(1), 179–190.
Vadeboncoeur, Y., Zanden, M. Vander, & Lodge, D. (2002). Putting the Lake Back Together:
Reintegrating Benthie Pathways into Lake Food Web Models. BioScience.
Valderrama, J. C. (1981). The simultaneous analysis of total nitrogen and total phosphorus in
natural waters. Marine Chemistry, 10(2), 109–122.
Vellend, M. (2010). Conceptual synthesis in community ecology. The Quarterly Review of Biology,
85(2), 183–206.
Vellend, M., Verrhne, K., Flinn, K., Jacquemyn, H., Kolb, A., Van Calster, H., … Hermy, M. (2007).
Homogenization of forest plant communities and weakening of species?environment
relationships via agricultural land use. Journal of Ecology, 95(3), 565–573.
Verleyen, E., Vyverman, W., & Sterken, M. (2009). The importance of dispersal related and local
factors in shaping the taxonomic structure of diatom metacommunities. Oikos, 118(8), 1239–
1249.
Vital, H. (2006). Erosão e progradação do litoral brasileiro - Rio Grande do Norte. In Erosão e
progradação do litoral brasileiro. Brasília, Distrito Federal: Ministério do Meio Ambiente.
15
Capítulo 1
Heterogeneidade de habitat e riqueza zooplanctônica em lagos rasos tropicais: o
papel das macrófitas aquáticas
16
1.1 Introdução
Em muitos habitats, a complexidade estrutural e física de um ambiente é regida
pela comunidade de plantas, cuja influência é exercida nas distribuições e interações das
espécies de animais (Lawton 1983, McCoy & Bell 1991, Tews et al. 2004). Especialmente
em ambientes lacustres (e.g. lagos, lagoas, reservatórios – denominados a partir daqui,
genericamente, de lagos), a heterogeneidade de habitats pode ser reflexo da presença de
macrófitas aquáticas na porção litorânea destes ecossistemas (Rennie & Jackson 2005), as
quais afetam a distribuição e abundância dos demais organismos devido à provisão de
recursos alimentares e formação de diferentes micro-habitats (Lodge et al. 1998, Maia-
Barbosa et al. 2008).
As espécies de macrófitas são importantes fontes de alimento para organismos
aquáticos e terrestres (Lodge et al. 1998, Schmieder et al. 2006). Alguns autores sugerem
que a herbivoria sobre elas é tão intensa quanto a sofrida por plantas em ambientes
terrestres (Lodge et al. 1998, Cronin et al. 2006), e que diferentes macrófitas atraem grupos
de herbívoros de acordo com suas especificidades alimentares (Cronin et al. 1999, Cronin
et al. 2002). As macrófitas também possuem importante papel na cadeia de detritos, já que
determinados organismos alimentam-se de parte da biomassa proveniente dos tecidos
mortos destes vegetais (Cronin et al. 2006).
Além da função relacionada ao provimento de recurso alimentar, as macrófitas são
reconhecidas por fornecerem complexidade estrutural aos ambientes aquáticos,
constituindo áreas de refúgio contra predação (Cazzanelli et al. 2008), e de reprodução e
desenvolvimento para diferentes espécies de animais (Tolonen et al. 2003, Latini & Petrere
2004). O arcabouço criado por esses vegetais também funciona de substrato para a
colonização de espécies que compõem o perifíton, ou seja, para diferentes animais,
bactérias, fungos e algas (Carpenter & Lodge 1986, Dudley 1988). Ademais, a presença das
macrófitas aquáticas pode causar variabilidade espacial e temporal de variáveis físico-
químicas da água (e.g. oxigênio, pH, nutrientes e temperatura), devido à realização de
processos como fotossíntese, decomposição e estabilização da coluna de água contra ação
dos ventos (Duggan et al. 2001).
Devido aos seus múltiplos papéis funcionais, muitos estudos associam às macrófitas
aquáticas típicas da região litorânea de lagos à riqueza, abundância e biomassa diferentes
17
grupos taxonômicos em lagos, como pássaros (Hoyer & Jr 1994, Guadagnin et al. 2009),
peixes (Meschiatti et al. 2000, Gomes et al. 2012, Hermes-Silva & Zaniboni-Filho 2012),
invertebrados terrestres (Tolonen et al. 2003, Rennie & Jackson 2005) e aquáticos, dentre
eles, os organismos zooplanctônicos (Bergstrom et al. 2001, Lansac-Tôha et al. 2003). A alta
riqueza de espécies do zooplâncton em áreas litorâneas de lagos com macrófitas tem sido
associada não só ao incremento no fornecimento de micro-habitats provido pela
identidade, e consequentemente, a arquitetura (i.e. estrutura física) da macrófita, como
também ao aumento de disponibilidade de recursos alimentares (Thomaz et al. 2008). De
tal forma que, o aumento da quantidade de alimento disponível pode ser um reflexo do
aumento da complexidade provido pela macrófita, favorecendo a coexistência de um maior
número de espécies (Duggan et al. 2001, Thomaz et al. 2008) com especializações
morfológicas e comportamentais específicas para exploração de determinados recursos
alimentares dentre a vegetação aquática dos lagos (Masclaux et al. 2014).
Uma outra vantagem encontrada pelo zooplâncton entre a vegetação é o refúgio
contra a predação visual de macroinvertebrados e principalmente de peixes zooplanctívoros
(Burks et al. 2001, Meerhoff et al. 2007). Muitos estudos em lagos de clima temperado
exploram o efeito mediador das macrófitas aquáticas na interação predador-presa entre
peixes e organismos zooplanctônicos (Jeppesen et al. 1997, Moss et al. 1998, Burks et al.
2002), principalmente devido ao maior tamanho médio dos organismos zooplanctônicos
em ambientes aquáticos de clima temperado, tornando-os vulneráveis à predação visual dos
peixes. Diante disso, vários estudos em ambientes temperados apontam e associam a maior
riqueza do zooplâncton encontrada na região litorânea ao afrouxamento da pressão de
predação pelos peixes, em razão do efeito de refúgio associado à presença de plantas
aquáticas. Em contraste, pouco se sabe sobre os padrões de diversidade zooplanctônica
entre os habitats litorâneo e limnético em ambientes tropicais, o que torna inseguro assumir
padrões pertinentes aos ambientes temperados em ecossistemas aquáticos tropicais.
Uma série de fatores relacionados às comunidades do zooplâncton e de peixes
diferem entre os ambientes tropicais e temperados, o que pode afetar significativamente o
padrão de riqueza e abundância do zooplâncton entre as regiões litorâneas e limnéticas de
lagos rasos de clima tropical. Primeiro, como já mencionado, o tamanho médio do
zooplâncton de ambientes tropicais é menor do que o observado para clima temperado,
tornando o zooplâncton menos susceptível a predação em ambientes tropicais. Segundo,
18
os trópicos possuem uma grande diversidade de espécies de peixes de pequeno porte que
vivem associados à região litorânea em busca de refúgio o ano inteiro, sem sujeitar-se às
variações sazonais sofridas pelos ambientes de altas latitudes, o que poderia intensificar a
pressão de predação sobre o zooplâncton na região litorânea, reduzindo o efeito de refúgio
ao zooplâncton conferido pelas macrófitas aquáticas (Tavşanoğlu et al. 2015).
As razões levantadas acima já seriam suficientes para justificar investigações a
respeito dos padrões de riqueza de espécies entre os habitats litorâneo e limnético em
ecossistemas aquáticos tropicais. Entretanto, outros aspectos de potencial interesse para o
conhecimento a respeito das diferenças inter-habitats na riqueza do zooplâncton são pouco
explorados ou não foram considerados até o momento. Primeiro, além de serem realizados
em sua maioria em lagos temperados, os estudos que avaliam os padrões e mecanismos
relacionados às causas da diferença na riqueza de espécies da comunidade zooplanctônica
entre os habitats litorâneo e limnético geralmente são conduzidos dentro de um único ou
através de poucos ambientes. Tais estudos, em geral, são experimentos em campo instalados
no habitat limnético e litorâneo, ou de amostragens destinadas a comparar a diversidade
de organismos entre diferentes tipos de macrófitas e estas com o habitat limnético (Duggan
et al. 2001, Meerhoff et al. 2007, Sagrario et al. 2009). Segundo, nenhum estudo até o
momento avaliou a importância relativa da presença de macrófitas aquáticas para os
padrões de diversidade zooplanctônica entre as regiões limnética e litorânea. Nesses casos
obtêm-se resultados muito específicos para um único lago, ou para um pequeno conjunto
de lagos, além de não permitir a quantificação dos efeitos individuais do habitat litorâneo
e da presença de macrófitas sobre a comunidade zooplanctônica.
Sabe-se que o maior crescimento e adensamento de macrófitas estão relacionados
ao habitat litorâneo dos lagos, entretanto a maioria das pesquisas não considera o possível
efeito de filtro ambiental que essa região – independente da presença das macrófitas
aquáticas – poderia exercer na seleção de espécies. Embora a compartimentalização
horizontal dos lagos em habitat limnético e litorâneo seja meramente didática, existem
características físicas, químicas e biológicas que tornam essas regiões bastante distintas, e
que são independentes da presença de macrófitas aquáticas, como por exemplo a
profundidade e a conectividade com o ambiente terrestre circundante (Figura 1; Esteves &
Caliman 2011).
Enquanto o habitat limnético (i.e. a porção interior do lago sem contato direto com
19
as margens) é a região do lago que apresenta maior profundidade, com possibilidade de
estratificação vertical das variáveis físico-químicas e dominância das comunidades do
nécton e do plâncton, o habitat litorâneo (i.e. área do lago que está em contato direto com
o ecossistema terrestre adjacente) é a região mais rasa do lago, com maior possibilidade da
radiação solar atingir o substrato, permitindo o crescimento macrófitas e a colonização dos
mais diversos organismos aquáticos e terrestres (e.g. invertebrados zooplanctônicos,
perifíticos e bentônicos, entre crustáceos, moluscos, oligoquetas e fases larvais de insetos,
além de peixes, répteis, anfíbios, aves e mamíferos), e portanto, considerada uma região de
alta complexidade trófica (Naiman & Décamps 1990, Vadeboncoeur et al. 2002, Esteves
& Caliman 2011).
Ademais, a influência terrestre pode contribuir para a heterogeneidade ambiental
na região litorânea, através do aporte alóctone de folhas e galhos de vegetação terrestre que
adentram a região litorânea dos ecossistemas em forma de detrito. Em lagos rasos, onde a
ação dos ventos movimenta e homogeneíza verticalmente a massa d’água, a região limnética
se torna homogênea tanto horizontalmente, quanto verticalmente, conferindo mais
importância aos fatores que determinam a variação horizontal da heterogeneidade
ambiental presente ao longo da região litorânea.
A resposta zooplanctônica à complexidade de habitat provida pelas macrófitas e à
heterogeneidade de habitat gerada pela diferenciação dos habitats litorâneo e limnético
também pode variar se nós observamos o efeito para cada um dos principais grupos
zooplanctônicos: Rotifera, Cladocera e Copepoda, os quais podem responder de forma
diferenciada à estruturação dos habitats. A maioria dos trabalhos que investigam os efeitos
das macrófitas e a diferenciação de habitat sobre o zooplâncton, utiliza como alvo de
pesquisa principalmente o zooplâncton pelágico de maior tamanho, e consequentemente,
de maior capacidade natatória, como algumas espécies de cladóceros e copépodes, pois são
reconhecidas por realizarem durante as horas claras do dia um tipo de migração horizontal
(DHM – do inglês, diel horizontal migration) dos habitats limnéticos para os habitats
litorâneos colonizados por macrófitas, em busca de proteção contra predação visual de
peixes e macroinvertebrados (Burks et al. 2002, Sagrario et al. 2009). Entretanto, ainda são
incipientes os trabalhos que verificam os efeitos das macrófitas e de áreas litorâneas sobre
os grupos zooplanctônicos tropicais, especialmente considerando tais efeitos numa escala
regional e levando em consideração a resposta dos rotíferos a tais variações (Almeida et al.
20
2006).
Elucidar acerca da riqueza zooplanctônica em lagos constitui uma ferramenta
fundamental, não só para o enriquecimento do conhecimento a respeito da diversidade
biológica, como também para auxiliar no entendimento do funcionamento dos
ecossistemas lacustres, da complexidade das teias alimentares aquáticas e da estabilidade
dos ambientes (Walseng et al. 2006). Estimar a riqueza de espécies e avaliar os fatores que
a influenciam constitui uma das etapas mais básicas e importantes dentro da ecologia de
comunidades, além de ser uma exigência prévia indispensável nas ações de conservação e
estratégias de gestão da biodiversidade (Colwell & Coddington 1994, Boulinier et al. 1998,
Jackson et al. 2001, Dorazio et al. 2006). Diante do exposto, e devido à carência de
pesquisas a respeito dos efeitos das macrófitas e da diferenciação dos habitats sobre a
riqueza zooplanctônica tropical em escala regional, nós delineamos o presente estudo
baseado em dados de riqueza dos principais grupos zooplanctônicos lacustres: Rotifera,
Cladocera e Copepoda obtidos em 100 lagos rasos tropicais e traçamos as hipóteses
apresentadas abaixo:
1) A riqueza zooplanctônica será maior no habitat litorâneo do que no limnético
ao longo da escala regional;
2) Tal efeito é mais pronunciado sobre a riqueza de microcrustáceos (cladóceros
e copépodes), pois são mais favorecidos pelo efeito de refúgio;
3) Os padrões de maior riqueza de espécies na região litorânea são determinados
pela presença de macrófitas aquáticas.
1.2 Material e Métodos
Área de Estudo
Os dados desta pesquisa foram obtidos em 100 ambientes aquáticos lênticos de
baixa latitude, localizados entre as 16 bacias hidrográficas do estado do Rio Grande do
Norte (Brasil), sendo 41 lagoas naturais e 59 reservatórios (Figura 2). Os ambientes
amostrados foram classificados em 3 grupos: a) todos os lagos (n = 100) – inclui todos os
21
lagos da pesquisa; b) lagos com a presença de macrófitas aquáticas na região litorânea1 (n =
80) e c) lagos sem a presença de macrófitas aquáticas na região litorânea (n = 20).
Procedimento amostral
Em cada um dos lagos nós realizamos a coleta de variáveis abióticas e de dados
bióticos na porção de subsuperfície da coluna de água em seis pontos representativos dos
lagos, sendo três pontos de coletas realizados no habitat litorâneo (i.e. próximo às margens2,
independente da presença de macrófitas), e três pontos de coletas no habitat limnético (i.e.
próximo da região central do lago). Nós integramos as amostras referentes a cada um dos
habitats, e ao final do trabalho de campo nós tínhamos 200 amostras totais, sendo 100
representativas do habitat litorâneo e 100 do limnético.
Em campo foi mensurada a temperatura (°C) e obtidas amostras de água para
análise em laboratório de clorofila-a (Chl-a – mg.L-1), nitrogênio total (NT – mg.L-1) e fósforo
total (PT – mg.L-1) (Tabela 1). As coletas de zooplâncton foram feitas com redes de 50μm
de abertura de malha. Os organismos foram obtidos na subsuperfície da coluna de água
através de baldes previamente graduados para obtenção do volume filtrado, cuja
quantidade variou entre 30 e 100 litros, dependendo da transparência e turbidez de cada
ambiente. As amostras foram imediatamente fixadas com solução açucarada de
formaldeído a 4%.
Em laboratório o zooplâncton foi identificado até o nível de espécie com auxílio de
guias de identificação especializados (Koste 1978, Elmoor-Loureiro 1997, Santos-Silva
2000), câmera de Sedgewick-Rafter e microscópio para o grupo Rotifera, além de câmera
de Bogorov e estereomiscroscópio para Copepoda e Cladocera. As
identificações/contagens foram realizadas com no mínimo três réplicas com ao menos 100
indivíduos dos organismos mais abundantes em cada uma delas. Entretanto, um grande
número de amostras foi avaliado por completo em busca de espécies raras.
1 As espécies de macrófitas e a área de cobertura de vegetação em cada um dos lagos não foram estimadas, nosso principal interesse foi estimar a riqueza zooplanctônica em áreas litorâneas sob a influência da presença ou ausência de vegetação aquática, independente da espécie de macrófita ou do percentual de cobertura de vegetação. 2 Áreas na porção litorânea dos ecossistemas, consideradas por alguns autores de ecótonos entre os ecossistemas terrestres e aquáticos, em porções de maior influência da região terrestre adjacente (Ver Figura 1).
22
Rarefação de Espécies
A comparação da riqueza de espécies zooplanctônicas entre os habitats dos
diferentes conjuntos de lagos foi feita através da análise de curvas de rarefação, as quais
permitem averiguar a riqueza através do acúmulo de espécies em função do número de
indivíduos amostrados (i.e. densidade). O número esperado de espécies é calculado por
sucessivas amostragens sobre uma distribuição que assume que os indivíduos de cada
espécie são aleatoriamente distribuídos entre as amostragens (Gotelli & Colwell 2001,
Caliman 2009).
Através das curvas de rarefação é possível comparar o número de espécies de
diferentes comunidades independente da diferença entre a densidade dos organismos ou
do esforço amostral empregado para capturá-las (Gotelli & Colwell 2001). Portanto, como
nosso objetivo é comparar a riqueza dos grupos zooplanctônicos, através das curvas de
rarefação retira-se o efeito das diferenças entre as densidades e entre os volumes filtrados
durante a coleta, cujos valores variaram de acordo com o estado trófico e turbidez de cada
ambiente.
As curvas de rarefação foram construídas nos diferentes conjuntos de lagos (i.e.
todos os lagos, lagos com macrófita e lagos sem macrófita na região litorânea) para cada um
dos grupos zooplanctônicos pré-estabelecidos: a) zooplâncton total (i.e. rotíferos, cladóceros
e copépodes); b) rotíferos; c) cladóceros; d) copépodes. A diferença estatística entre as curvas
foi realizada através da observação da sobreposição dos intervalos de confiança (95%) no
limite da curva de menor abundância.
O software EstimateS v.9.1.0 (Colwell 2005) foi utilizado para as estimativas de
rarefação de espécies, enquanto a construção das curvas deu-se através do software
GraphPad v.6.0 (Prism 1994).
Influência de Fatores Ambientais e Estruturais na Riqueza de Espécies
Um modelo linear generalizado (GLM) foi realizado com o intuito de relacionar os
fatores ambientais e estruturais que influenciaram a riqueza zooplanctônica nos 100 lagos.
O Modelo Global do GLM foi construído com a riqueza de espécies como variável
dependente, enquanto clorofila-a, fósforo total, nitrogênio total e temperatura como
variáveis independentes numéricas, e presença/ausência de macrófita na região litorânea
23
dos lagos e tipo de habitat lacustre limnético/litorâneo3 como variáveis independentes
categóricas. As variáveis numéricas foram padronizadas através de z-score, devido à natureza
diversa de suas dimensões escalares (Gotelli & Ellison 2011).
Seguindo as orientações descritas em Zuur et al. (2009) e Alencar (2015), a seleção
de modelos do GLM foi realizada através de um procedimento automático baseando-se no
critério de informação de Akaike (AIC; Akaike 1992), Akaike corrigido (AICc; Hurvich &
Tsai 1989) e Bayesiano (critério de Schwartz – BIC; Schwarz 1978). Os modelos com
menores valores de cada critério de informação (i.e. Modelos Reduzidos) foram testados
contra o Modelo Global através de um teste de likelihood ratio, e para serem aceitos, os
Modelos Reduzidos deveriam diferir significativamente do Modelo Global (Wilks 1938).
Os procedimentos de escolha de modelos baseados em mais de um critério de informação,
segundo Alencar (2015), propõem uma visualização mais abrangente do que pode ocorrer
nas complexas relações ecológicas, diferente de modelos que utilizam menos critérios ou
apenas um critério de informação. Ademais, o Modelo Global foi comparado a um Modelo
Nulo, no intuito de observar se o resultado encontrado iria diferir de um resultado
esperado ao acaso.
Todas as análises foram executadas no programa R versão 3.2.1 (R Core Team
2015). Os pacotes utilizados durante o GLM foram MASS na execução do Modelo Global
e criação dos Modelos Reduzidos (Venables & Ripley 2002), MuMIn na seleção dos
modelos (Barton 2015), lmtest na comparação entre os modelos Global e Reduzidos (Zeileis
& Hothorn 2002), stats na criação do Modelo Nulo e comparação entre os modelos Global
e Nulo (R Core Team 2015).
1.3 Resultados
3 As avaliações consideradas pré-requisitos para execução do GLM foram realizadas com as variáveis escolhidas para comporem os modelos. As variáveis independentes numéricas foram avaliadas em relação a presença de outliers (gráfico de Cleveland), multicolinearidade (correlação de Spearman < 0.7) e independência entre as amostras. A variável dependente foi submetida a testes de presença de outliers, relação com as covariáveis (abióticas) e independência entre as amostras (autocorrelação), seguindo os procedimentos descritos em Zuur et al. (2009).
24
Riqueza de Espécies4
Um total de 188 espécies do zooplâncton foram descritas para o conjunto total de
lagos, sendo 30 espécies de Copepoda, 47 de Cladocera e 111 de Rotifera (Apêndices A e
B). No conjunto de lagos com macrófitas, a riqueza de espécies registradas foi de 183, sendo
28 de Copepoda, 47 de Cladocera e 108 de Rotifera. A menor riqueza zooplanctônica foi
encontrada nos lagos sem macrófitas, com um total de 47 espécies, sendo 13 de Copepoda,
oito de Cladocera e 43 de Rotifera (Tabela 2).
Curvas de Rarefação
A comparação da riqueza de espécies entre os habitats limnético e litorâneo através
das curvas de rarefação nos conjuntos de todos os lagos e dos lagos com macrófita mostrou
que o habitat litorâneo deteve maior riqueza e menor abundância de zooplâncton total e
rotíferos. Nos dois conjuntos de lagos não foi observado efeito do habitat sobre a riqueza
nos grupos Cladocera e Copepoda, entretanto a região litorânea apresentou maior
abundância de organismos destes grupos (Figura 3 e 4).
O papel estrutural da macrófita no incremento de riqueza de espécies é reforçado
ao analisar a curva de rarefação de espécies zooplanctônicas no conjunto de lagos sem
macrófitas na região litorânea. Nesses ambientes, não foi observado efeito da diferença de
habitat sobre a riqueza de espécies em nenhum dos grupos zooplanctônicos, além disso, a
região limnética foi a detentora de maior abundância para o zooplâncton total, rotíferos e
cladóceros (Figura 5).
Riqueza Zooplanctônica vs. Variáveis Ambientais
O modelo escolhido para interpretar os dados das variáveis ambientais que
influenciaram na riqueza zooplanctônica foi o Modelo Global, dentre as variáveis (i.e.
fósforo e nitrogênio totais, clorofila-a, temperatura, presença ou ausência de macrófitas na
região litorânea dos lagos, e tipo de habitat limnético ou litorâneo) a riqueza do
4 Com o intuito de verificar a nossa eficiência de amostragem, a riqueza de espécies registrada em campo para os grupos zooplanctônicos (i.e. zooplâncton total, copépodes, cladóceros e rotíferos) nos três conjuntos de lagos (i.e. todos os lagos, lagos com macrófita e lagos sem macrófita) encontra-se estimada em percentual da riqueza média através de diferentes estimadores não-paramétricos de riqueza de espécies (ACE, ICE, Chao 1, Chao 2, Jacknife 1, Jacknife 2 e bootstrap) nos Apêndices C, D e E. Maiores detalhes sobre estimadores não-paramétricos de riqueza, incluindo equações, ver Colwell (2005).
25
zooplâncton obteve relação positiva com a presença de macrófitas na região litorânea dos
lagos, e negativa com o aumento da concentração de nitrogênio total (Tabela 3).
A escolha do conjunto de variáveis do Modelo Global deu-se devido à ausência de
diferenças entre o Modelo Global versus os Modelos Reduzidos gerados pelos diferentes
critérios de informação (Tabela 4). Além disso, houve diferença entre o Modelo Global
versus Modelo Nulo, comprovando que o resultado encontrado no Modelo Global difere
do que seria esperado ao acaso (Tabela 3).
1.4 Discussão
O padrão encontrado para os 100 lagos rasos tropicais mostra que o habitat
litorâneo é a região dos lagos com maior riqueza zooplanctônica, e que este resultado é
mediado pela maior quantidade de espécies do grupo Rotifera presente em áreas
colonizadas por macrófitas aquáticas. As diferentes espécies de rotíferos devem ser
favorecidas devido ao maior espectro de recursos associados à diferenciação de nichos
provido pela presença da vegetação aquática. Além disso, dentre as variáveis ambientais e
estruturais amostradas, não só a presença de macrófitas no habitat litorâneo lacustre, como
também baixas concentrações de nitrogênio total, foram consideradas essenciais no
aumento da riqueza zooplanctônica.
A variedade de recursos disponível para qualquer grupo de organismos (e.g.
alimento, áreas de reprodução e refúgio) é um reflexo da estrutura e complexidade de seu
habitat (Tolonen et al., 2003). Nos ecossistemas lacustres, o habitat litorâneo é reconhecido
por constituir a região mais heterogênea, considerada ecótono entre os ambientes terrestre
e aquático (Esteves & Caliman 2011). Nós testamos se o habitat litorâneo per se –
independente da complexidade estrutural fornecida pela presença de macrófitas – poderia
afetar a diversidade zooplanctônica, já que são áreas que podem desempenhar o papel
funcional de refúgio para algumas espécies de animais devido a menor profundidade e
demais condições específicas deste habitat (Sass, Gille, Hinke, & Kitchell, 2006). No
entanto, nós verificamos que a presença de macrófitas no habitat litorâneo foi fundamental
nos padrões de riqueza e abundância para o zooplâncton analisado, conferindo à vegetação
o papel da geração de heterogeneidade e complexidade para esse habitat.
26
As amostragens realizadas no habitat litorâneo com macrófitas foi fundamental no
aumento da quantidade de espécies zooplanctônicas em nosso estudo. Entretanto, a
maioria dos trabalhos sobre a diversidade do zooplâncton em lagos inclui apenas
amostragens no habitat limnético, e ainda são poucos aqueles que consideram o habitat
litorâneo (Fernando et al. 1990, Almeida et al. 2006). Pesquisas comparativas entre a
riqueza de espécies das regiões limnética e litorânea são praticamente inexistentes, Walseng
e colaboradores (2006) sugerem que tal escassez é devido à maior complexidade e demanda
de conhecimento taxonômico das espécies litorâneas, como também devido inexistência de
limites bem definidos que separem esses dois “compartimentos” horizontais lacustres.
O nosso estudo evidencia que a amostragem exclusiva em ambientes limnéticos de
lagos rasos tropicais providos de vegetação aquática em seu habitat litorâneo subestima a
riqueza zooplanctônica. Como o zooplâncton exerce papel funcional ecossistêmico
fundamental (e.g. elo entre a produção primária e os níveis tróficos superiores; Murkin &
Wrubleski 1988), é esperado que uma maior riqueza de organismos do zooplâncton esteja
associada ao aumento do número de outras espécies vegetais e animais. Portanto, os estudos
em limnologia acerca da biodiversidade em lagos rasos tropicais com macrófitas devem,
imprescindivelmente, incorporar o habitat litorâneo em suas estratégias amostrais.
É no habitat litorâneo onde há maior possibilidade de adensamento de macrófitas
aquáticas devido a menor profundidade deste compartimento lacustre (Esteves & Caliman
2011), e a presença desta vegetação é reconhecida por favorecer a colonização de diferentes
taxa, principalmente da microfauna (Havens 1991, Duggan 2001). Nossos resultados
sugerem que as macrófitas forneceram maior heterogeneidade e complexidade ao habitat
litorâneo dos lagos e que a riqueza de rotíferos foi beneficiada sob a presença da vegetação
aquática, de maneira semelhante aos estudos realizados por Duggan e colaboradores (1998,
2001).
Apesar da maioria dos estudos em ecossistemas lênticos enfatizarem o papel do
zooplâncton de maior tamanho, principalmente do grupo Cladocera devido à sua
diversidade e biomassa (Castro, Antunes, Pereira, Soares, & Gonçalves, 2005), os nossos
resultados indicam que a riqueza do grupo Rotifera foi a que mais contribuiu para o
aumento da riqueza zooplanctônica regional. Os rotíferos são reconhecidos por
constituírem um dos grupos mais diversos e abundantes dos ecossistemas lênticos (Ruttner-
Kolisko, 1974), além de serem pioneiros na colonização de novos habitats, sendo
27
encontrados desde pequenas poças de água, até rios (Ruttner-Kolisko, 1974). Considerados
importantes para a produção secundária zooplanctônica em lagos (Andrew & Fitzsimons
1992), os rotíferos desenvolvem-se em tempo curto, reproduzem-se muito rápido, e
portanto, possuem taxas de crescimento e substituição populacional elevadíssimas em
condições ambientais favoráveis (Thouvenot et al. 2000, Castro et al. 2005).
Pennak (1966) e Kuczynska-Kippen (2001) descreveram que a maioria das espécies
de rotíferos são típicas do habitat litorâneo, e que embora existam em menor número, há
também espécies exclusivas do habitat limnético e as que transitam entre os dois habitats.
Existem adaptações morfológicas específicas essenciais para sobrevivência dos rotíferos em
áreas litorâneas sob a influência de vegetação aquática (Castro et al., 2005). Por exemplo,
espécies de hábito perifítico, diferentemente de espécies estritamente planctônicas, não
possuem estruturas capazes de aumentar a flutuabilidade (e.g. espinhos e cerdas), são
relativamente mais pesadas, não carregam seus ovos, e são dotadas de estruturas adesivas
que não são desenvolvidas em espécies de hábito exclusivo planctônico (Dumont et al.
1975, Pejler 1962). Além disso, Duggan (2001) cita que existem também adaptações
comportamentais específicas para a permanência nos habitats de preferência de cada
organismo. Em nosso estudo, nós não listamos a classificação de habitat para cada uma das
espécies de rotíferos, entretanto a distinção nos padrões de riqueza entre as regiões
limnética e litorânea pode ser um reflexo dessa diferenciação/preferência dos organismos
por cada um destes habitats, sendo influenciada positivamente pela presença de macrófitas.
Além da possibilidade de especificidades relativas aos aspectos morfológicos e
comportamentais das espécies, a maior riqueza de rotíferos na região litorânea pode ser
resultante da heterogeneidade espacial proveniente de características particulares da
presença de macrófitas neste habitat (Duggan et al. 1998, Green 2003, Almeida et al. 2006),
as quais criam um arcabouço diverso de superfícies passíveis à colonização dos rotíferos
(Pontin & Shiel 1995, Kuczyńska-Kippen 2005). Diferenças na morfologia (e.g. tipo e
espessura da folha) ou no tipo de exploração do habitat pela macrófita (e.g. flutuante ou
submersa), assim como os tecidos mortos destes vegetais, são capazes de promover micro-
habitats específicos para diferentes espécies de rotíferos (Duggan 2001). As áreas litorâneas
com macrófitas também são reconhecidas por deterem maior abundância bactérias,
protozoários e microalgas do perifíton, os quais constituem os recursos alimentares
essenciais para os rotíferos (Moore et al. 1994, Theil-Nielsen & Søndergaard 1999), e
28
consequentemente, podem ter favorecido à maior riqueza de espécies desses organismos
em nosso estudo.
A abundância dos rotíferos, ao contrário dos microcrustáceos, foi menor no habitat
litorâneo de lagos com e sem macrófita. Sabe-se que os rotíferos realizam um tipo de
migração inversa em relação aos cladóceros e copépodes, no intuito de evitar a competição
e a predação pelos microcrustáceos e macroinvertebrados bentônicos (MacIsaac & Gilbert
1989, Rejas et al. 2007), e vários trabalhos descrevem a relação inversa entre a densidade
de rotíferos e diferentes microcrustáceos (Gilbert 1985, 1988, 1989; Fussmann 1996,
Dieguez & Gilbert 2002, Wang et al. 2010). Apesar de existirem mais estudos a respeito da
migração vertical de rotíferos, alguns autores descrevem que estes organismos também
realizam migração horizontal (Tavşanoğlu et al., 2015), o que, possivelmente, explica os
padrões de abundância encontrados em nossos resultados.
Diferente do esperado por uma de nossas hipótese, cladóceros e copépodes (i.e.
microcrustáceos) não apresentaram maior riqueza de espécies no habitat litorâneo com
macrófitas, apesar dos altos valores de densidade encontrados neste habitat. Um dos
motivos para tais padrões pode estar relacionado a existência de uma grande diversidade de
peixes de pequeno porte (i.e. zooplanctívoros visuais) que vive associada ao habitat litorâneo
em ambientes aquáticos tropicais durante todo o ano (Jeppesen et al. 1997). Esses peixes
buscam no habitat litorâneo não só alimento (e.g. invertebrados aquáticos e terrestre), mas
também refúgio contra a predação de peixes de maior porte, de tal forma que a maior
diversidade e abundância de peixes de pequeno porte nos habitats litorâneos de ambientes
tropicais possivelmente anularia o efeito que a maior complexidade estrutural existente
nestes ambientes tem sobre a redução das taxas de predação sobre os microcrustáceos.
Como nós não mensuramos a diversidade e abundância dos peixes nos lagos
estudados, não podemos, portanto, associar os padrões de riqueza dos microcrustáceos à
densidade de peixes. Entretanto, se utilizarmos como proxy da pressão de predação a
densidade de microcrustáceos existente nos diferentes habitats (i.e. quanto menor a
densidade, maior a pressão de predação), nós concluímos que a pressão de predação dos
peixes não foi mais intensa na região litorânea, já que a densidade de microcrustáceos foi
maior no habitat litorâneo, comparado ao habitat limnético.
Outros mecanismos devem ser responsáveis pelo não favorecimento da riqueza de
microcrustáceos no habitat litorâneo, e a seguir, nós listamos três hipóteses alternativas que
29
poderiam de forma não mutualmente exclusivas explicar tal padrão para ambientes
tropicais: (i) os microcrustáceos tropicais são possivelmente menos susceptíveis a predação
visual por peixes, já que são menores, se comparados com as de ambientes temperados.
Logo, a presença de macrófitas não interfere nas taxas de predação dos microcrustáceos,
pois os organismos são, geralmente, muito pequenos para serem detectados, independente
da complexidade estrutural do ambiente; (ii) a onipresença do hábito onívoro dos peixes
em ambientes tropicais (Teixeira-de Mello et al. 2009, Erik Jeppesen et al. 2010) poderia
reduzir a dependência e, consequentemente, a força de interação dos peixes com o
zooplâncton em ambientes tropicais. O hábito onívoro permite aos peixes explorarem
diferentes recursos, incluindo alimentos de origem terrestre, de tal forma que diminuiria a
taxa de predação sobre os microcrustáceos e reduziria a importância da disponibilidade de
refúgios sobre a estrutura de suas comunidades; (iii) o efeito de maior refúgio no habitat
litorâneo pode ser muito mais dependente da densidade e da complexidade estrutural das
macrófitas presentes no habitat, do que simplesmente da presença de macrófitas em si.
Infelizmente, neste estudo não foi possível acessar informações mais específicas quanto a
densidade e tipo funcional das espécies de macrófitas presentes no habitat litorâneo.
Entretanto, a nossa amostragem foi especializada em diferentes partes do habitat litorâneo,
aumentando a probabilidade das amostras litorâneas terem sido em locais bastante
diversos, e portanto, contribuindo com a possibilidade de termos representado em nossas
amostragens uma grande variação da densidade e diversidade de macrófitas aquáticas.
O efeito das macrófitas é também exercido sobre as condições abióticas dos lagos,
afetando toda a comunidade zooplanctônica. Sabe-se que as macrófitas afetam as variáveis
físico-químicas da água através da realização de processos como a fotossíntese (Vitt & Bayley
1984, Havens 1991), alterando a quantidade de nutrientes disponíveis na água e afetando
o zooplâncton através de efeito do tipo bottom-up (Vitt & Bayley 1984, Havens 1991). Além
disso, as macrófitas amortecem o impacto causado pelas correntes de vento sobre a coluna
de água do habitat litorâneo, favorecendo o assentamento de microalgas e de detritos em
suspensão na coluna de água (Hamilton, Sippel, Lewis, & Saunders, 1990).
Nossos resultados mostraram a existência de relação positiva da riqueza de espécies
zooplanctônicas em áreas litorâneas sob influência da macrófita, e negativa em relação ao
aumento das concentrações de nitrogênio total. Possivelmente ambientes com maiores
concentrações de nitrogênio total representam o conjunto de lagos mais eutrofizados, cujo
30
principal produtor primário é o fitoplâncton, em detrimento das macrófitas aquáticas. De
tal maneira que o aumento no estado trófico dos ecossistemas lacustres representa uma
redução das macrófitas aquáticas, e consequentemente, tem-se como resultado a
diminuição da riqueza zooplanctônica.
Ademais, a relação inversa entre a riqueza zooplanctônica com o aumento das
concentrações de nitrogênio total pode representar uma resposta indireta da presença de
cianobactérias sob condições de trofia bastante elevadas (Ger et al. 2014). A composição
química das cianobactérias é deficiente em nutrientes, e juntamente com a liberação de
toxinas, podem reduzir a eficiência de crescimento e reprodução do zooplâncton, além
disso, suas florações podem formar colônias impalatáveis para a maioria do zooplâncton
herbívoro, devido à interferência direta nos aparatos de filtração desses organismos
(Ghadouani et al. 2003, Eskinazi-Sant’Anna 2007).
1.5 Conclusões
O nosso estudo é um dos pioneiros a fazer comparações da riqueza e abundância
zooplanctônica entre os habitats litorâneo e limnético em lagos rasos tropicais, e o único
que abordou esta questão ao longo de uma grande variedade de ecossistemas aquáticos. O
padrão encontrando para os 100 lagos mostra-nos o quão importante é incorporar a região
litorânea dos lagos, área geralmente negligenciada nas pesquisas em limnologia e nos
estudos que objetivam a descrição e o entendimento do padrão geral da comunidade
zooplanctônica em ambientes lacustres. Como a maioria das pesquisas não consideram o
habitat litorâneo dos lagos, é provável que a biodiversidade zooplanctônica tenha sido
subestimada ao longo das pesquisas em ecossistemas lacustres, principalmente porque a
maioria dos lagos no mundo são rasos, com alta relação perímetro:área, contribuindo ainda
mais para o aumento da extensão da área dos habitats litorâneos e das áreas colonizadas
por macrófitas nos lagos (Schindler & Scheuerell 2002, Wetzel 2001)
A presença das macrófitas no habitat litorâneo foi crucial para criação de
heterogeneidade de habitat, mostrando que os ecossistemas providos de vegetação aquática
detêm um maior número de espécies zooplanctônicas, especialmente do grupo Rotifera.
Os nossos resultados, gerados a partir de uma grande quantidade de lagos, mostram que o
aumento da riqueza de microcrustáceos relacionada às macrófitas (refúgio contra a
31
predação de peixes) em ambientes temperados é inconsistente para lagos rasos tropicais, já
que nós observamos apenas relação das macrófitas com o aumento das espécies de rotíferos.
Além da presença da vegetação aquática, baixas concentrações de nitrogênio total
também foi considerado um indicativo de riqueza zooplanctônica, fatores fortemente
relacionados à eutrofização dos ecossistemas tropicais. A eutrofização é um dos principais
problemas ambientais sofridos pelos ecossistemas lacustres de todo o mundo, cujas causas
podem ser decorrentes da lixiviação de nutrientes do solo, descargas de esgoto doméstico e
efluente agrícola sem tratamento adequado, piscicultura, além da redução extrema do
volume de água em períodos de seca (Egertson et al. 2004, Donohue et al. 2009). Apesar
das ameaças sofridas por esses ecossistemas, é impressionante como tão pouco se sabe a
respeito da biodiversidade e dos fatores ambientais que a afetam em áreas de baixas latitude.
O zooplâncton funciona como excelente indicador do estado trófico dos lagos e ocupa
importante posição nas teias alimentares aquáticas, ou seja, constitui poderoso guia da
saúde dos ecossistemas (Hanazato 2001, Pereira et al. 2002). Portanto, com nossos
resultados foi tomado um dos primeiros passos rumo ao estabelecimento de estratégias de
manejo e conservação de lagos rasos tropicais.
Referências
Akaike, H. (1992). Information theory and an extension of the maximum likelihood principle. In
Breakthroughs in statistics (pp. 610–624). Springer New York.
Alencar, C. E. R. D. (2015). “ Respostas ecológicas e morfológicas de Portunoidea da Plataforma continental
rasa Sudeste brasileira ” Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Tese de Doutorado.
Almeida, V. L. D. S., Larrazábal, M. E. L. De, Moura, A. D. N., & Melo Júnior, M. De. (2006).
Rotifera das zonas limnética e litorânea do reservatório de Tapacurá, Pernambuco, Brasil.
Iheringia. Série Zoologia, 96(4), 445–451.
Andrew, T. E., & Fitzsimons, A. G. (1992). Seasonality, population dynamics and production of
planktonic rotifers in Lough Neagh, Northern Ireland. Hydrobiologia, 246(2), 147–164.
Barton, K., & Barton, M. (2015). Package “MuMIn.” R Package Version 1.9. 5.
Bergstrom, S., Svensson, J., & Wwestberg, E. (2001). Habitat distribution of zooplankton in
relation to macrophytes in an eutrophic lake. Verh. Internat. Verein. Limnol, 27, 281–2864.
Boulinier, T., Nichols, J., & Sauer, J. (1998). Estimating species richness: the importance of
heterogeneity in species detectability. Ecology, 79, 1018–1028.
32
Burks, R., Jeppesen, E., & Lodge, D. (2001). Pelagic prey and benthic predators: impact of odonate
predation on Daphnia. Journal of the North American …, 20(4), 615–628.
Burks, R. L., Lodge, D. M., Jeppensen, E., & Lauridsen, T. L. (2002). Diel horizontal migration of
zooplankton: costs and benefits of inhabiting the littoral. Freshwater Biology, 47(3), 343–365.
Carpenter, S., & Lodge, D. (1986). Effects of submersed macrophytes on ecosystem processes.
Aquatic Botany, 26, 341–370.
Castro, B. B., Antunes, S. C., Pereira, R., Soares, A. M. V. M., & Gonçalves, F. (2005). Rotifer
community structure in three shallow lakes: seasonal fluctuations and explanatory factors.
Hydrobiologia, 543(1), 221–232.
Cazzanelli, M., Warming, T. P., & Christoffersen, K. S. (2008). Emergent and floating-leaved
macrophytes as refuge for zooplankton in a eutrophic temperate lake without submerged
vegetation. Hydrobiologia, 605(1), 113–122.
Colwell, R. (2005). EstimateS: Statistical estimation of species richness and shared species from
samples.
Colwell, R., & Coddington, J. (1994). Estimating terrestrial biodiversity through extrapolation.
Philosophical Transactions of the Royal Society, 345(1311), 101–118.
Cronin, G., Lewis, W. M., & Schiehser, M. A. (2006). Influence of freshwater macrophytes on the
littoral ecosystem structure and function of a young Colorado reservoir. Aquatic Botany, 85(1),
37–43.
Cronin, G., Lodge, D. M., Hay, M. E., Miller, M., Hill, A. M., Horvath, T., … Wahl, M. (2002).
Crayfish feeding preferences for freshwater macrophytes: the influence of plant structure and
chemistry. Journal of Crustacean Biology, 22(4), 708–718.
Cronin, G., Schlacher, T., Lodge, D., & Siska, E. (1999). Intraspecific variation in feeding
preference and performance of Galerucella nymphaeae (Chrysomelidae: Coleoptera) on
aquatic macrophytes. Journal of the North American Benthological Society, 391–405.
Diéguez, M. C., & Gilbert, J. J. (2002). Suppression of the rotifer Polyarthra remata by the
omnivorous copepod Tropocyclops extensus: Predation or competition. Journal of Plankton
Research, 24(4), 359–369.
Donohue, I., Jackson, A., Pusch, M., & Irvine, K. (2009). Nutrient enrichment homogenizes lake
benthic assemblages at local and regional scales. Ecology.
Dorazio, R., Royle, J., Söderström, B., & Glimskär, A. (2006). Estimating species richness and
accumulation by modeling species occurrence and detectability. Ecology.
Dudley, T. (1988). The roles of plant complexity and epiphyton in colonization of macrophytes by
stream insects. Verh. Internat. Verein. Limnol.
Duggan, I. C. (2001). The ecology of periphytic rotifers. Hydrobiologia, 446-447(1), 139–148.
33
Duggan, I. C., Green, J. D., Thompson, K., & Shiel, R. J. (2001). The influence of macrophytes on
the spatial distribution of littoral rotifers. Freshwater Biology, 46(6), 777–786.
Duggan, I., Green, J., Thompson, K., & Shiel, R. (1998). Rotifers in relation to littoral ecotone
structure in Lake Rotomanuka, North Island, New Zealand. Hydrobiologia, 387/388, 179–197.
Dumont, H. J., Van de Velde, I., & Dumont, S. (1975). The dry weight estimate of biomass in a
selection of Cladocera, Copepoda and Rotifera from the plankton, periphyton and benthos
of continental waters. Oecologia, 19(1), 75–97.
Egertson, C. J., Kopaska, J. A., & Downing, J. A. (2004). A Century of Change in Macrophyte
Abundance and Composition in Response to Agricultural Eutrophication. Hydrobiologia,
524(1), 145–156.
Elmoor-Loureiro, L. (1997). Manual de identificação de cladóceros límnicos do Brasil. Brasília, Distrito
Federal: Ed. Universitária.
Eskinazi-Sant’Anna, E. (2007). Composição da comunidade zooplanctônica em reservatórios
eutróficos do semi-árido do Rio Grande do Norte. Oecol. Bras., 11(3), 410–421.
Esteves, F. a., & Caliman, A. (2011). Águas Continentais: Características do Meio,
Compartimentos e Suas Comunidades. In Fundamentos de Limnologia (3 ed., pp. 113–118).
Rio de Janeiro: Interciência.
Fernando, C. H., Belay, S., & Mengestou, S. (1990). The Chydorid CrustaceanAlona diaphana
(King), Limnetic in Lakes Awasa and Zwai, Ethiopia, with a Discussion of Littoral and
Limnetic Zooplankton. Internationale Revue Der Gesamten Hydrobiologie Und Hydrographie, 75(1),
15–25.
Fussmann, G. (1996). The importance of crustacean zooplankton in structuring rotifer and
phytoplankton communities: An enclosure study. Journal of Plankton Research, 18(10), 1897–
1915.
Ger, K. A., Hansson, L.-A., & Lürling, M. (2014). Understanding cyanobacteria-zooplankton
interactions in a more eutrophic world. Freshwater Biology, 59(9), 1783–1798.
Ghadouani, A., Pinel-Alloul, B., & Prepas, E. E. (2003). Effects of experimentally induced
cyanobacterial blooms on crustacean zooplankton communities. Freshwater Biology, 48(2),
363–381.
Gilbert, J. J. (1985). Competition between rotifers and Daphnia. Ecology, 66(6), 1943–1950.
Gilbert, J. J. (1988). Susceptibilities of Ten Rotifer Species to Interference From Daphnia Pulex.
Ecology, 69(6), 1826–1838.
Gilbert, J. J. (1989). The effect of Daphnia interference on a natural rotifer and ciliate community:
short-term bottle experiments. Limnology and Oceanography, 34(3), 606–617.
Gomes, L., Bulla, C., & Agostinho, A. (2012). Fish assemblage dynamics in a Neotropical
34
floodplain relative to aquatic macrophytes and the homogenizing effect of a flood pulse.
Hydrobiologia.
Gotelli, N., & Ellison, A. (2011). Princípios de estatística em ecologia. Princípios de Estatística Em
Ecologia.
Gotelli, N. J., & Colwell, R. K. (2001). Quantifying biodiversity: procedures and pitfalls in the
measurement and comparison of species richness. Ecology Letters, 4(4), 379–391.
Green, J. (2003). Associations of planktonic and periphytic rotifers in a tropical swamp, the
Okavango Delta, Southern Africa. Hydrobiologia, 490(1-3), 197–209.
Guadagnin, D., Maltchik, L., & Fonseca, C. (2009). Species–area relationship of Neotropical
waterbird assemblages in remnant wetlands: looking at the mechanisms. Diversity and ….
Hamilton, S. K., Sippel, S. J., Lewis, W. M., & Saunders, J. F. (1990). Zooplankton abundance and
evidence for its reduction by macrophyte mats in two Orinoco floodplain lakes. Journal of
Plankton Research, 12(2), 345–363.
Hanazato, T. (2001). Pesticide effects on freshwater zooplankton: an ecological perspective.
Environmental Pollution, 112(1), 1–10.
Havens, K. E. (1991). Summer zooplankton dynamics in the limnetic and littoral zones of a humic
acid lake. Hydrobiologia, 215(1), 21–29.
Hermes-Silva, S., & Zaniboni-Filho, E. (2012). Structure of the littoral fish assemblage in an
impounded tributary: the effects of macrophytes presence (subtropical region, Brazil).
Brazilian Journal of Biology.
Hoyer, M., & Jr, D. C. (1994). Bird abundance and species richness on Florida lakes: influence of
trophic status, lake morphology, and aquatic macrophytes. Aquatic Birds in the Trophic Web of
Lakes.
Hurvich, C., & Tsai, C. (1989). Regression and time series model selection in small samples.
Biometrika.
Jackson, D. A., Peres-Neto, P. R., & Olden, J. D. (2001). What controls who is where in freshwater
fish communities the roles of biotic, abiotic, and spatial factors. Canadian Journal of Fisheries
and Aquatic Sciences, 58(1), 157–170.
Jeppesen, E., Jensen, J., Søndergaard, M., Lauridsen, T., Pedersen, L., & Jesen, L. (1997). Top-down
control in freshwater lakes: the role of nutrient state, submerged macrophytes and water
depth. Hydrobiologia, 342(343), 151–164.
Jeppesen, E., Meerhoff, M., Holmgren, K., González-Bergonzoni, I., Teixeira-de Mello, F., Declerck,
S. A. J., … Lazzaro, X. (2010). Impacts of climate warming on lake fish community structure
and potential effects on ecosystem function. Hydrobiologia, 646(1), 73–90.
Koste, W. (1978). Rotatoria. Die Rädertiere Mitteleuropas Ein Bestimmungswerk, begründet von Max Voigt
35
Überordnung Monogononta. (Gebrüder Borntraeger, Ed.)Verlag Gebrüder Bornträger. Stuttgart.
Kuczynska-Kippen, N. (2001). Seasonal changes of the rotifer community in the littoral of a
polymictic lake. Verh. Internat. Verein. Limnol., 27, 2964–2967.
Kuczyńska-Kippen, N. (2005). On body size and habitat selection in rotifers in a macrophye-
dominated lake Budzyńskie, Poland. Aquatic Ecology, 39(4), 447–454.
Lansac-Tôha, F., Velho, L., & Bonecker, C. C. (2003). Influência de macrófitas aquáticas sobre a
estrutura da comunidade zooplanctônica. Ecologia E Manejo de ….
Latini, A. O., & Petrere, M. (2004). Reduction of a native fish fauna by alien species: an example
from Brazilian freshwater tropical lakes. Fisheries Management and Ecology, 11(2), 71–79.
Lawton, J. (1983). Plant architecture and the diversity of phytophagous insects. Annual Review of
Entomology.
Lodge, D., Cronin, G., Donk, E. van, & Froelich, A. (1998). Impact of herbivory on plant standing
crop: comparisons among biomes, between vascular and nonvascular plants, and among
freshwater herbivore taxa.
MacIsaac, H. J., & Gilbert, J. J. (1989). Competition between rotifers and cladocerans of different
body sizes. Oecologia, 81(3), 295–301.
Maia-Barbosa, P., Peixoto, R., & Guimarães, A. (2008). Zooplankton in littoral waters of a tropical
lake: a revisited biodiversity. Brazilian Journal of Biology, 68(4), 1069–1078.
Masclaux, H., Bourdier, G., Jouve, L., Duffaud, E., & Bec, A. (2014). Temporal changes in essential
fatty acid availability in different food sources in the littoral macrophyte zone. Hydrobiologia,
736(1), 127–137.
McCoy, E., & Bell, S. (1991). Habitat structure: the evolution and diversification of a complex
topic. In Habitat structure (pp. 3–27). Springer Netherlands.
Meerhoff, M., Iglesias, C., Melo, F., Clemente, J., Jensen, E., Lauridsen, T., & Jeppesen, E. (2007).
Effects of habitat complexity on community structure and predator avoidance behaviour of
littoral zooplankton in temperate versus subtropical shallow lakes. Freshwater …, 52, 1009–
1021.
Meschiatti, A., Arcifa, M., & Fenerich-Verani, N. (2000). Fish communities associated with
macrophytes in Brazilian floodplain lakes. Environmental Biology of ….
Moore, B., Funk, W., & Anderson, E. (1994). Water quality, fishery, and biologic characteristics in
a shallow, eutrophic lake with dense macrophyte populations. Lake and Reservoir …, 8(2), 175–
188.
Moss, B., Kornijow, R., & Measey, J. (1998). The effects of nymphaeid (Nuphar lutea) density and
predation by perch (Perca fluviatilis) on the zooplankton communities in a shallow lake.
Freshwater Biology, 39(4), 689–697.
36
Murkin, H., & Wrubleski, D. (1988). Aquatic invertebrates of freshwater wetlands: function and
ecology. In The ecology and management of wetlands (p. pp 239–249). Springer US.
Pejler, B. (1962). On the taxonomy and ecology of benthic and periphytic Rotatoria. Investigations
in Northern Swedish Lapland. Zool. Bidr. …, 33(327-422).
Pennak, R. (1966). Structure of zooplankton populations in the littoral macrophyte zone of some
Colorado lakes. Transactions of the American Microscopical Society, 85, 329–349.
Pereira, R., Soares, A. M. V. M., Ribeiro, R., & Gonçalves, F. (2002). Assessing the trophic state of
Linhos lake: a first step towards ecological rehabilitation. Journal of Environmental Management,
64(3), 285–297.
Pontin, R., & Shiel, R. (1995). Periphytic rotifer communities of an Australian seasonal floodplain
pool. Hydrobiologia, 313/314, 63–67.
Prism, G. (1994). Graphpad software. San Diego, CA, USA.
R Core Team. (2015). R: A language and environment for statistical computing. R Foundation for
Statistical Computing, Vienna, Austria.
Rejas, D., de Meester, L., Ferrufino, L., Maldonado, M., & Ollevier, F. (2007). Diel vertical
migration of zooplankton in an Amazonian várzea lake (Laguna Bufeos, Bolivia). Studies on
Neotropical Fauna and Environment, 42(1), 71–81.
Rennie, M. D., & Jackson, L. J. (2005). The influence of habitat complexity on littoral invertebrate
distributions: patterns differ in shallow prairie lakes with and without fish. Canadian Journal
of Fisheries and Aquatic Sciences, 62(9), 2088–2099.
Ruttner-Kolisko, A. (1974). Plankton rotifers: biology and taxonomy. (D. Binnengewa¨, Ed.). Stuttgard,
Germany: Schweizerbart’sch Verlagsbuchlandlung.
Sagrario, G., de losÁngeles, m., Balseiro, e., Ituarte, r., & Spivak, e. (2009). Macrophytes as refuge
or risky area for zooplankton: a balance set by littoral predacious macroinvertebrates.
Freshwater Biology, 54(5), 1042–1053.
Santos-Silva, E. dos. (2000). Revisão das espécies do“ complexo nordestinus”(Wright, 1935) de
Notodiaptomus Kiefer, 1936 (Copepoda: Calanoida: Diaptomidae). Universidade de São Paulo,
São Paulo.
Sass, G. G., Gille, C. M., Hinke, J. T., & Kitchell, J. F. (2006). Whole-lake influences of littoral
structural complexity and prey body morphology on fish predator–prey interactions. Ecology
of Freshwater Fish, 15(3), 301–308. h
Schindler, D. E., & Scheuerell, M. D. (2002). Habitat coupling in lake ecosystems. Oikos, 98(2),
177–189.
Schmieder, K., Werner, S., & Bauer, H.-G. (2006). Submersed macrophytes as a food source for
wintering waterbirds at Lake Constance. Aquatic Botany, 84(3), 245–250.
37
Schwarz, G. (1978). Estimating the dimension of a model. The Annals of Statistics.
Tavşanoğlu, Ü. N., Brucet, S., Levi, E. E., Bucak, T., Bezirci, G., Özen, A., … Beklioğlu, M. (2015).
Size-based diel migration of zooplankton in Mediterranean shallow lakes assessed from in situ
experiments with artificial plants. Hydrobiologia, 753(1), 47–59.
Teixeira-de Mello, F., Meerhoff, M., Pekcan-Hekim, Z., & Jeppesen, E. (2009). Substantial
differences in littoral fish community structure and dynamics in subtropical and temperate
shallow lakes. Freshwater Biology, 54(6), 1202–1215.
Tews, J., Brose, U., Grimm, V., Tielbörger, K., Wichmann, M. C., Schwager, M., & Jeltsch, F.
(2004). Animal species diversity driven by habitat heterogeneity/diversity: the importance of
keystone structures. Journal of Biogeography, 31(1), 79–92.
Theil-Nielsen, J., & Søndergaard, M. (1999). Production of epiphytic bacteria and bacterioplankton
in three shallow lakes. Oikos, 86, 283–292.
Thomaz, S. M., Dibble, E. D., Evangelista, L. R., Higuti, J., & Bini, L. M. (2008). Influence of
aquatic macrophyte habitat complexity on invertebrate abundance and richness in tropical
lagoons. Freshwater Biology.
Thouvenot, A., Debroas, D., & Richardot, M. (2000). A study of changes between years in the
structure of plankton community in a newly-flooded reservoir. Archiv Für ….
Tolonen, K., Hämäläinen, H., & Holopainen, I. (2003). Body size and substrate association of
littoral insects in relation to vegetation structure. Hydrobiologia, 499(1), 179–190.
Vadeboncoeur, Y., Zanden, M. Vander, & Lodge, D. (2002). Putting the Lake Back Together:
Reintegrating Benthie Pathways into Lake Food Web Models. BioScience.
Venables, W., & Ripley, B. (2002). Modern applied statistics with S (Springer). New York, NY.
Vitt, D. H., & Bayley, S. (1984). The vegetation and water chemistry of four oligotrophic basin
mires in northwestern Ontario. Canadian Journal of Botany, 62(7), 1485–1500.
Walseng, B., Hessen, D. O., Halvorsen, G., & Schartau, A. K. (2006). Major contribution from
littoral crustaceans to zooplankton species richness in lakes. Limnology and Oceanography, 51(6),
2600–2606.
Wang, S., Xie, P., & Geng, H. (2010). The relative importance of physicochemical factors and
crustacean zooplankton as determinants of rotifer density and species distribution in lakes
adjacent to the Yangtze River, China. Limnologica - Ecology and Management of Inland Waters,
40(1), 1–7.
Wetzel, R. (2001). Limnology: lake and river ecosystems. Gulf Professional Publishing.
Wilks, S. (1938). The large-sample distribution of the likelihood ratio for testing composite
hypotheses. The Annals of Mathematical Statistics.
Zeileis, A., & Hothorn, T. (2002). Diagnostic checking in regression relationships.
38
Zuur, A., Ieno, E. N., Walker, N., Saveliev, A. A., & Smith, G. M. (2009). Mixed Effects Models and
Extensions in Ecology with R. Retrieved from
39
Figuras Figura 1 – Principais compartimentos dos ecossistemas lacustres. Em destaque, a compartimentalização horizontal representada pelos habitats limnético e litorâneo. ................. 40
Figura 2 – Mapa do estado do Rio Grande do Norte apontando a localização dos 100 lagos amostrados. A faixa escura no mapa é considerada a região de transição entre a região de clima úmido (à direita) e a região de clima semiárido (à esquerda), mostrando a heterogeneidade climática da região. Os círculos representam as lagoas naturais, e os triângulos representam os reservatórios. ........................................................................................................................................ 41
Figura 3 – Curva de rarefação de espécies do zooplâncton para o conjunto de todos os lagos nos habitats limnético e litorâneo (n=100). a) Todos os grupos zooplanctônicos (i.e. Rotifera, Cladocera e Copepoda); b) Rotifera; c) Cladocera; d) Copepoda. ........................................................... 42
Figura 4 - Curva de rarefação de espécies do zooplâncton para o conjunto de lagos com macrófita no habitat litorâneo (n=80). a) Todos os grupos zooplanctônicos (i.e. Rotifera, Cladocera e Copepoda); b) Rotifera; c) Cladocera; d) Copepoda. ............................................................. 43
Figura 5 - Curva de rarefação de espécies do zooplâncton para o conjunto de lagos sem macrófita no habitat litorâneo (n=20). a) Todos os grupos zooplanctônicos (i.e. Rotifera, Cladocera e Copepoda); b) Rotifera; c) Cladocera; d) Copepoda. ............................................................. 44
40
Figura 1 – Principais compartimentos dos ecossistemas lacustres. Em destaque, a compartimentalização horizontal representada pelos habitats limnético e litorâneo.
41
Figura 2 – Mapa do estado do Rio Grande do Norte apontando a localização dos 100 lagos amostrados. A faixa escura no mapa é considerada a região de transição entre a região de clima úmido (à direita) e a região de clima semiárido (à esquerda), mostrando a heterogeneidade climática da região. Os círculos representam as lagoas naturais, e os triângulos representam os reservatórios.
42
Figura 3 – Curva de rarefação de espécies do zooplâncton para o conjunto de todos os lagos nos habitats limnético e litorâneo (n=100). a) Todos os grupos zooplanctônicos (i.e. Rotifera, Cladocera e Copepoda); b) Rotifera; c) Cladocera; d) Copepoda.
43
Figura 4 - Curva de rarefação de espécies do zooplâncton para o conjunto de lagos com macrófita no habitat litorâneo (n=80). a) Todos os grupos zooplanctônicos (i.e. Rotifera, Cladocera e Copepoda); b) Rotifera; c) Cladocera; d) Copepoda.
44
Figura 5 - Curva de rarefação de espécies do zooplâncton para o conjunto de lagos sem macrófita no habitat litorâneo (n=20). a) Todos os grupos zooplanctônicos (i.e. Rotifera, Cladocera e Copepoda); b) Rotifera; c) Cladocera; d) Copepoda.
45
Tabelas Tabela 1 – Estatística descritiva sobre a variação geral das variáveis ambientais amostradas nos três conjuntos de lagos. As escalas das variáveis clorofila-a, fósforo e nitrogênio totais estão em mg.L-
1, e a temperatura em oC . LIM = habitat limnético e LIT = habitat litorâneo. ............................. 46
Tabela 2 – Riqueza de espécies zooplanctônica nas regiões limnética (LIM) e litorânea (LIT) para cada conjunto de lagos. ............................................................................................................... 47
Tabela 3 - Modelo Linear Generalizado (GLM) para riqueza de espécies zooplanctônicas. Variáveis ambientais e estruturais destacadas em negrito indicam significância estatística (p < 0,05). Termos estatísticos: Coef = coeficiente de correlação, EP = erro padrão, gl = graus de liberdade; Variáveis ambientes e estruturais: Chl-a = clorofila-a, PT = fósforo total, NT = nitrogênio total, TEMP = temperatura. ................................................................................................................................. 47
Tabela 4 - Resumo dos testes de seleção de modelos para as variáveis ambientais e estruturais que afetam a riqueza de espécies zooplanctônicas a partir de três critérios de informações: Akaike (AIC), Akaike corrigido (AICc) e Bayesinao (BIC). O modelo destacado em negrito foi escolhido para interpretação dos resultados. Termos estatísticos: LR = likelihood test; Variáveis ambientes e estruturais: Chl-a = clorofila-a, PT = fósforo total, NT = nitrogênio total, TEMP = temperatura.. 48
46
Tabela 1 – Estatística descritiva sobre a variação geral das variáveis ambientais amostradas nos três conjuntos de lagos. As escalas das variáveis clorofila-a, fósforo e nitrogênio totais estão em mg.L-1, e a temperatura em oC . LIM = habitat limnético e LIT = habitat litorâneo.
Conjunto de Lagos Clorofila-a Fósforo Total Nitrogênio Total Temperatura
LIM LIT LIM LIT LIM LIT LIM LIT
Todos os lagos (n=100)
Média 0,0551 0,0693 0,2257 0,2367 4,8942 4,8595 27,2 27,6
Desvio Padrão 0,1059 0,1398 0,2006 0,2093 2,3456 2,3152 1,5 1,6
Máximo 0,5049 0,9233 1,0189 1,0663 13,4559 12,9065 33,4 32,1
Mínimo 0,0002 0,0001 0,0145 0,0132 1,0710 0,6538 23,6 23,6
Lagos com macrófitas (n=80)
Média 0,0512 0,0571 0,2234 0,2377 4,6630 4,6536 27,2 27,8
Desvio Padrão 0,1078 0,1138 0,2090 0,2213 2,1711 2,1438 1,4 1,7
Máximo 0,5049 0,5995 1,0189 1,0663 11,9092 12,0120 30,2 32,1
Mínimo 0,0002 0,0005 0,0160 0,0132 1,0710 0,6538 23,6 23,6
Lagos sem macrófitas (n=20)
Média 0,0711 0,1206 0,2350 0,2324 5,8676 5,7262 27,1 26,9
Desvio Padrão 0,0960 0,2098 0,1600 0,1483 2,7654 2,7658 1,7 1,1
Máximo 0,3333 0,9233 0,6354 0,5234 13,4559 12,9065 33,4 29,1
Mínimo 0,0006 0,0001 0,0145 0,0241 1,7345 1,2201 25,5 24,7
47
Tabela 2 – Riqueza de espécies zooplanctônica nas regiões limnética (LIM) e litorânea (LIT) para cada conjunto de lagos.
Conjunto Total de Lagos
(n=100)
Lagos com macrófita na
região litorânea (n=80)
Lagos sem macrófita na
região litorânea (n=20)
LIM LIT LIM LIT LIM LIT
Copepoda 19 26 19 23 6 13
Cladocera 28 45 28 45 8 5
Rotifera 85 92 80 92 38 28
Total 132 163 127 160 52 46
Tabela 3 – Modelo Linear Generalizado (GLM) para riqueza de espécies zooplanctônicas. Variáveis ambientais e estruturais destacadas em negrito indicam significância estatística (p < 0,05). Termos estatísticos: Coef = coeficiente de correlação, EP = erro padrão, gl = graus de liberdade; Variáveis ambientes e estruturais: Chl-a = clorofila-a, PT = fósforo total, NT = nitrogênio total, TEMP = temperatura.
Modelo Global Coef EP z-valor p-valor
Intercepto 2,7262 0,1532 17,788 <0,005*
Chl-a -0,0952 0,1108 -0,859 0,391
PT -0,095 0,0689 -1,378 0,168
NT -0,2656 0,0968 -2,744 0,006*
TEMP -0,0712 0,0396 -1,796 0,072
Habitat litorâneo -0,1904 0,1389 -1,371 0,171
Ausência de macrófita -0,4371 0,1423 -3,072 0,002*
Modelo Global vs. Modelo Nulo gl p-valor
Teste Qui-quadrado 8 <0,001*
* valor de probabilidade significativo (p<0,05)
48
Tabela 4 – Resumo dos testes de seleção de modelos para as variáveis ambientais e estruturais que afetam a riqueza de espécies zooplanctônicas a partir de três critérios de informações: Akaike (AIC), Akaike corrigido (AICc) e Bayesinao (BIC). O modelo destacado em negrito foi escolhido para interpretação dos resultados. Termos estatísticos: LR = likelihood test; Variáveis ambientes e estruturais: Chl-a = clorofila-a, PT = fósforo total, NT = nitrogênio total, TEMP = temperatura.
Riqueza
Zooplanctônica
Modelo = Riqueza + variáveis ambientais e
estruturais Critério de Informação
Modelo AIC AICc BIC LR-teste (p)
Modelo Global
Riqueza ~ Chl-a + PT + NT + Temp +
habitat + macrófita 1246,8 1247,5 1273,1 -
Modelo (AIC)
Riqueza ~ PT + NT + Temp + habitat +
macrófita 1245,6 0,393
Modelo (AICc)
Riqueza ~ PT + NT + Temp + macrófita 1246,1 0,239
Modelo (BIC)
Riqueza ~ NT + macrófita 1261,4 0,051
49
Capítulo 2
Influência da heterogeneidade de habitat local e regional sobre a diversidade beta zooplanctônica em lagos rasos tropicais
50
2.1 Introdução
O entendimento dos fatores que controlam a abundância e a distribuição das
espécies no espaço e no tempo estão entre os principais temas de pesquisa entre os ecólogos
de comunidades na atualidade (Louette & De Meester 2005, Langenheder et al. 2012). Tal
conhecimento auxilia a prever as respostas ecossistêmicas diante, por exemplo, da ação
antropogênica (Passy & Blanchet 2007, Vellend et al 2007) ou de mudanças climáticas
globais (Singh et al. 2010, Leprieur et al. 2011, Pereira e Silva et al. 2012).
Pesquisas relacionadas às causas de variação nos padrões de diversidade beta (β) têm
sido úteis na compreensão dos mecanismos que regem mudanças na composição das
comunidades ou na riqueza de espécies em múltiplas escalas espaciais e temporais (Figura
1; Tuomisto & Ruokolainen 2006, Soininen 2010). Diferente das diversidades alfa (α) e
gama (γ) – mensuradas, respectivamente, pelo número de espécies em escalas local e
regional (Anderson et al. 2006) – a diversidade β se refere à diferença ou taxa de
substituição (i.e. “turnover”) na composição de espécies entre duas comunidades ao longo
do espaço ou do tempo (Soininen et al. 2007).
A diversidade β é reconhecida como fundamental no entendimento do conceito de
metacomunidades (Soininen et al. 2007), e consequentemente, nos padrões de diversidade
biológica nas escalas local e regional, e como a diversidade varia em resposta a diferentes
gradientes ambientais (Langenheder et al. 2012), tais como: heterogeneidade ambiental
(Chase 2003, Fahr & Kalko 2011, Mouquet et al. 2006, Verleyen et al. 2009),
produtividade (Chase & Leibold 2002, Chase & Ryberg 2004), regimes de distúrbio (Chase
2007, Jiang & Patel 2008, Vanschoenwinkel & Waterkeyn 2010), heterogeneidade de
habitats (Tews et al. 2004, Veech & Crist 2007), além de processos de dispersão e
conectividade entre diferentes habitats (Mouquet & Loreau 2003, Verleyen et al. 2009).
Estudos indicam que fatores como a heterogeneidade e a complexidade de habitat
são positivamente correlacionados com a diversidade β (Ellingsen & Gray 2002, Bin et al.
2010). Tais padrões são recorrentes na literatura e têm sido relatados em ecossistemas
terrestres, e.g. ao longo do gradiente de uso do solo (Fahr & Kalko 2011) ou através do
dossel florestal (MacArthur & MacArthur 2010), e em ambientes aquáticos, e.g. no
gradiente de profundidade da coluna de água ou de um costão rochoso (Balata et al. 2007).
51
Nos ambientes aquáticos continentais lênticos (e.g. lagos, lagoas, reservatórios –
denominados a partir daqui, genericamente de lagos), a heterogeneidade de habitat é vista,
por exemplo, na formação de compartimentos horizontais, sobretudo nos ecossistemas
rasos, sendo: a região limnética ou pelágica, a porção interior do lago em geral mais
profunda e sem contato direto com as margens (Esteves & Caliman 2011), e a região
litorânea, geralmente mais rasa, formando a região do lago que está em contato direto com
o ecossistema terrestre adjacente (Vadeboncoeur et al. 2002). Apesar dessa
compartimentalização ser meramente didática, existem propriedades (i.e. biológicas,
morfológicas e ambientais) que fornecem características específicas para cada um destes
habitats.
A região limnética possui a coluna de água mais profunda e, geralmente, mais
homogênea, com possibilidade de formação de gradientes das variáveis físico-químicas (e.g.
profundidade de incidência de radiação solar, temperatura, pH e salinidade) (Esteves &
Caliman 2011, Schindler & Scheuerell 2002). Já a região litorânea constitui-se na área do
corpo aquático mais sensível às influências da região terrestre adjacente (e.g. poluentes e
aporte de material alóctone), o meio físico varia de acordo com as características
morfométricas lacustres (e.g. tamanho e profundidade) e com o nível de incidência de
radiação solar (Décamps & Naiman 1990, Esteves & Caliman 2011). As diferenças físicas
e químicas entre as regiões limnética e litorânea exercem forte influência nas comunidades
de organismos que nelas habitam, sendo a limnética dominada pelos grupos plâncton e
nécton, enquanto a litorânea colonizada por diferentes organismos de origens terrestre e
aquática (e.g. invertebrados zooplanctônicos, perifíticos e bentônicos, entre crustáceos,
moluscos, oligoquetas e fases larvais de insetos, além de peixes, répteis, anfíbios, aves e
mamíferos), e portanto, é considerada de alta complexidade trófica (Naiman & Décamps
1990, Esteves & Caliman 2011).
Embora existam diferenças marcantes entre as regiões limnética e litorânea, as
pesquisas em limnologia direcionam seus esforços prioritariamente à porção limnética
destes ambientes (Schindler & Scheuerell 2002, Vadeboncoeur et al. 2002), não levando
em consideração o importante papel da região litorânea como filtro ambiental na seleção
de organismos, da função mantenedora de complexidade estrutural nestes ambientes, e
consequentemente, da possibilidade destas áreas serem responsáveis por um incremento
na riqueza de espécies e diversidade beta nestes ecossistemas.
52
Em termos estruturais, o habitat litorâneo é reconhecido por ser mais complexo
que o limnético, em parte, devido a presença de comunidades de plantas aquáticas,
constituída em ambientes lacustres principalmente por macrófitas (Taniguchi et al. 2003,
Thomaz et al. 2008). O alto número de espécies e a grande diversificação na morfologia e
forma de vida das macrófitas dá a este grupo um papel fundamental no surgimento e
manutenção da biodiversidade, afetando nas relações de coexistência, competição e
predação dos animais que vivem associados a vegetação aquática (Esteves & Caliman,
2011). A “hipótese de heterogeneidade de habitats” assume que um incremento na
complexidade estrutural de um habitat leva ao aumento das oportunidades de nicho e
consequentemente na riqueza de espécies (Connor & McCoy 1979, MacArthur &
MacArthur 2010, Simpson 1949), sendo a razão pela qual em geral espera-se aumento da
diversidade β ao longo de gradientes ambientais (Balata et al. 2007, Veech & Crist 2007)
tais como aqueles entre habitats as regiões limnética e litorânea, sendo esta última
colonizada por macrófitas.
Além do papel da heterogeneidade e da complexidade de habitat, existem outros
fatores que podem influenciar a diversidade beta, como o grau de conectividade entre os
habitats (Loreau 2000, Qian 2009). Comunidades altamente conectadas podem possuir
baixa diversidade beta devido aos processos de migração – ativa ou passiva – ou devido a
homogeneização ambiental (Cottenie et al. 2003, Lopes et al. 2014, Thomaz et al. 2008).
Existe uma relação intrínseca entre dispersão e conectividade: quando as taxas de
dispersão são baixas, o aumento na conectividade entre os habitats favorece à diversidade
(Debinski & Holt 2000). Entretanto, taxas de dispersão muito altas favorecem a migração
dos organismos, e consequentemente, espera-se um aumento da similaridade na
composição das comunidades e uma redução da diversidade beta (Shurin et al. 2009). Desta
forma, a dispersão dos organismos afeta a dinâmica de populações e comunidades tanto
em escala local, quanto em escala regional. Os processos de dispersão em lagos é resultado
de fatores intrínsecos à história de vida das espécies e varia bastante entre os taxa,
dependendo do tamanho do corpo, estratégias reprodutivas e produção de “propágulos”
(Brown et al. 1996, Beisner et al. 2006). Além disso, fatores espaciais como a distância entre
os lagos pode influenciar nos processos de dispersão, e assim como descrito na “Teoria de
Biogeografia de Ilhas”, a proximidade entre os habitats favorece os processos de migração
e colonização dos organismos (MacArthur & Wilson 1967). Em um único lago, os
53
organismos não encontram barreiras geográficas para transitar entre os habitats limnético
e litorâneo, entretanto, entre lagos distintos, o processo de dispersão das espécies pode
ocorrer através da conexão destes ambientes, e.g. via cursos de rios (Basu & Pick 1997),
estádios de dormência ou ovos de resistência (Figuerola & Green 2002, Havel & Shurin
2004) e/ou via introdução antrópica (Beisner et al. 2006) (Beisner et al 2006).
Além das altas taxa de dispersão, a alta conectividade entre os habitats também
pode ser inversamente relacionada a diversidade beta. Estudos apontam que ecossistemas
que são alterados de forma a homogeneizar sua paisagem artificialmente (e.g. urbanização e
agricultura – Luck & Smallbone 2011, Karp et al. 2012) ou naturalmente (e.g. planícies de
inundação – Bozelli et al. 2015, Thomaz et al. 2008) possuem menor diversidade beta
devido ao aumento na similaridade do componente abiótico e/ou à perda de complexidade
estrutural dos habitats que o compõem. Em lagos, a ausência de macrófitas aquáticas e o
processo de eutrofização artificial podem contribuir para homogeneização ambiental destes
ecossistemas, reduzindo a variabilidade estrutural, e consequentemente, a diversidade beta
(Egertson et al. 2004, Donohue et al. 2009).
Entender a maneira pela qual fatores como a heterogeneidade, a complexidade e o
grau de conectividade entre os habitats influenciam na diversidade beta auxilia na
compreensão de como a biodiversidade é estruturada no espaço e no tempo, fornece
informações acerca do funcionamento dos ecossistemas, facilita em ações de conservação
da biodiversidade, além de fornecer dados fundamentais sobre a distribuição das espécies
(Legendre et al. 2005, Soininen 2010). Apesar da importância relacionada aos fatores que
influenciam na diversidade beta, ainda é incipiente o conhecimento da influência da
heterogeneidade, complexidade e conectividade de habitats sobre a diversidade beta nas
comunidades de lagos, principalmente quando considera-se a compartimentalização
horizontal destes ecossistemas (i.e. habitats limnético e litorâneo).
Nos lagos, devido à sua natureza de “ilhas” com limites de habitats bem definidos
sobre uma paisagem terrestre, a comunidade zooplanctônica constitui um excelente sistema
modelo para estudar as interações locais e espaciais dos organismos aquáticos (Cottenie et
al. 2003, Soininen et al. 2007). Ademais, o zooplâncton é considerado um compartimento
estratégico na dissipação energética e na manutenção e orientação das teias tróficas
aquáticas (Soranno et al. 1993, Eskinazi-Sant’Anna et al. 2007). Em função dos ciclos vitais
rápidos, as alterações ocorridas nos meios biótico e abiótico são rapidamente espelhadas
54
por estes organismos, que passa a sinalizar a intensidade e as condições estabelecidas
durante e após a consolidação destas perturbações (Neumann-Leitão et al. 1991). Além
disso, vários estudos já relataram os mecanismos e eficiência de dispersão do zooplâncton
entre habitats, através de vetores de dispersão (i.e. vento, água e animais), migração ativa de
indivíduos adultos ou passiva através de formas de resistência (Bilton et al. 2001, Michels
et al. 2001, Bohonak & Jenkins 2003, Cottenie et al. 2003, Havel & Shurin 2004, Green
& Figuerola 2005).
Diante do descrito acima, o objetivo geral deste trabalho é avaliar a influência da
heterogeneidade de habitat (i.e. habitat limnético ou litorâneo, com ou sem macrófita) local
e regional e conectividade sobre a diversidade beta zooplanctônica em 100 lagos rasos
tropicais. Foram criados três modelos de tipo de habitat/conectividade (características,
premissas e hipóteses descritas na Tabela 1), com o intuito de verificar as seguintes
hipóteses:
i. A diversidade beta inter-habitat local é maior entre lagos com macrófitas na
região litorânea do que entre lagos sem macrófitas na região litorânea;
ii. A diversidade beta inter-habitat regional é maior que a diversidade beta
inter-habitat local, pois a ausência de conectividade entre habitats na escala
regional além de impor barreira a dispersão, também afeta a
homogeneização das condições ambientais entre os habitats regionalmente.
A diferença inter-habitat regional e local deve existir e ser mais forte entre
lagos com a presença de macrófitas na região litorânea.
iii. A diversidade beta inter-habitat regional é maior que a diversidade beta
intra-habitat regional (nesta hipótese a distância entre todos os lagos é a
mesma e não afeta os resultados, sendo quaisquer diferenças oriundas do
efeito regional inter-habitat). Tais padrões devem ser mais fortes entre os
lagos com macrófitas na região litorânea.
iv. A diversidade beta intra-habitat regional é maior na região litorânea do que
na limnética, pois os fatores responsáveis pela estruturação do habitat
litorâneo são previstos variar mais espacialmente do que os fatores
responsáveis pela estruturação do habitat limnético. Este padrão deve ser
mais forte entre os lagos com presença de macrófitas na região litorânea.
55
2.2 Material e Métodos
Área de Estudo
Os dados desta pesquisa foram obtidos em 100 ambientes aquáticos lênticos de
baixa latitude, localizados entre as 16 bacias hidrográficas do estado do Rio Grande do
Norte (Brasil) (Figura 2). Os ambientes amostrados foram classificados em 3 grupos: a)
todos os lagos (n = 100) – inclui todos os lagos da pesquisa; b) lagos com a presença de
macrófitas aquáticas na região litorânea5 (n = 80) e c) lagos sem a presença de macrófitas
aquáticas na região litorânea (n = 20).
Procedimento amostral
Em cada um dos lagos nós realizamos a coleta de variáveis abióticas e de dados
bióticos na porção de subsuperfície da coluna de água em seis pontos representativos dos
lagos, sendo três pontos de coletas realizados no habitat litorâneo (i.e. próximo às margens6,
independente da presença de macrófitas), e três pontos de coletas no habitat limnético (i.e.
próximo da região central do lago). Nós integramos as amostras referentes a cada um dos
habitats, e ao final do trabalho de campo nós tínhamos 200 amostras totais, sendo 100
representativas do habitat litorâneo e 100 do limnético.
Em campo foi mensurada a temperatura (°C) e obtidas amostras de água para
análise em laboratório de clorofila-a (Chl-a – mg.L-1), nitrogênio total (NT – mg.L-1) e fósforo
total (PT – mg.L-1) (Tabela 2)7. As coletas de zooplâncton foram feitas com redes de 50μm
de abertura de malha. Os organismos foram obtidos na subsuperfície da coluna de água
através de baldes previamente graduados para obtenção do volume filtrado, cuja
quantidade variou entre 30 e 100 litros, dependendo da transparência e turbidez de cada
ambiente. As amostras foram imediatamente fixadas com solução açucarada de
formaldeído a 4%.
5 As espécies de macrófitas e a área de cobertura de vegetação em cada um dos lagos não foram estimadas, nosso principal interesse foi estimar a diversidade beta zooplanctônica em áreas litorâneas sob a influência da presença ou ausência de vegetação aquática, independente da espécie de macrófita ou do percentual de cobertura de vegetação. 6 Áreas na porção litorânea dos ecossistemas, consideradas por alguns autores de ecótonos entre os ecossistemas terrestres e aquáticos, em porções de maior influência da região terrestre adjacente. 7 Detalhes dos métodos empregados para obtenção das variáveis ambientais serão descritos no item “Material e Métodos – Geral”.
56
Em laboratório o zooplâncton foi identificado até o nível de espécie com auxílio de
guias de identificação especializados (Koste 1978, Elmoor-Loureiro 1997, Santos-Silva
2000), câmera de Sedgewick-Rafter e microscópio para o grupo Rotifera, além de câmera
de Bogorov e estereomiscroscópio para Copepoda e Cladocera. As
identificações/contagens foram realizadas com no mínimo três réplicas com ao menos 100
indivíduos dos organismos mais abundantes em cada uma delas. Entretanto, um grande
número de amostras foi avaliado por completo em busca de espécies raras.
Estimativas de Diversidade Beta, Heterogeneidade de Habitat e Heterogeneidade Ambiental
A diversidade beta foi calculada par a par entre os habitats (i.e. limnético e litorâneo)
de todos lagos, em cada um dos modelos analisados (i.e. “Inter-habitat local”, “Inter-habitat
regional” e “Intra-habitat regional”; Figura 2) através do índice de dissimilaridade de
Sorensen (βSOR), representado pela fórmula:
βSOR = 𝑏+𝑐
2𝑎+𝑏+𝑐 , (1)
sendo a é o número de espécies compartilhadas entre duas comunidades hipotéticas “x” e
“y”, b é o número de espécies que ocorrem apenas na comunidade “x”, e c é o número de
espécies que ocorre apenas na comunidade “y”. O índice de Sorensen é considerado uma
das medidas de dissimilaridade mais utilizadas devido à sua dependência com a proporção
de espécies compartilhadas entre duas comunidades (Baselga, 2010), além de incorporar a
substituição espacial (i.e. “turnover”) das espécies e à diferença de riqueza entre
comunidades distintas (Koleff et al. 2003).
Dentre o total de combinações par a par possíveis, foi gerado um total de 40000
valores de diversidade beta para os três modelos analisados (i.e. “Inter-habitat local”, “Inter-
habitat regional” e “Intra-habitat regional”), obtidos a partir de uma matriz 200x200, sendo
100 valores referentes a regiões limnéticas e 100 valores referentes a regiões litorâneas,
representada através do esquema didático presente na Tabela 3, além de uma matriz para
os lagos com macrófitas 160x160, sendo 80 valos limnéticos e 80 litorâneos, e uma matriz
para os lagos sem macrófitas 40x40, com 20 valores limnéticos e 20 litorâneos.
57
Os valores de diversidade beta que compuseram o modelo “Inter-habitat local”
(todos os lagos n=100, lagos com macrófitas n=80 e lagos sem macrófitas n=20) foram
obtidos a partir dos habitat limnético versus habitat litorâneo dentro de um mesmo lago,
mensurando, desta forma, o efeito da diferença entre os habitats e da conectividade sobre
a diversidade beta em nível local.
No modelo “Inter-habitat regional” os valores de diversidade beta (todos os lagos
n=9900, lagos com macrófitas n=6320 e lagos sem macrófitas n=380) foram obtidos através
dos habitats limnético de um lago “x” versus habitats litorâneos dos demais lagos (x+1, x+2
... x+99), e através dos habitats litorâneos de um lago “x” versus habitats limnéticos dos
demais lagos (x+1, x+2 ... x+99), ou seja, aqui a diversidade beta em nível regional foi
mensurada considerando a falta de conectividade e o efeito da diferença entre os habitats.
Enquanto que no modelo “Intra-habitat regional” os valores de diversidade beta
(todos os lagos n=9900, lagos com macrófitas n=6320 e lagos sem macrófitas n=380) foram
obtidos através dos habitats limnético de um lago “x” versus habitats limnéticos dos demais
lagos (x+1, x+2 ... x+99), com a diversidade beta dos habitats litorâneos de um lago “x”
versus habitats litorâneos dos demais lagos (x+1, x+2 ... x+99), desta forma, a diversidade
beta regional foi mensurada mediante a falta de conectividade entre os lagos, mas em
habitats semelhantes.
Além disso, no modelo “Intra-habitat regional” os valores de diversidade beta foram
separados em dois conjuntos individuais de dados, formando dois submodelos, sendo um
submodelo apenas com a diversidade beta do habitat limnético (todos os lagos n=4950,
lagos com macrófitas n=3160 e lagos sem macrófitas n=190), e outro apenas com os valores
de diversidade beta do habitat litorâneo (todos os lagos n=4950, lagos com macrófitas
n=3160 e lagos sem macrófitas n=190). Para esses submodelos também foi mensurada a
heterogeneidade ambiental através da distância Euclidiana, par a par entre os lagos, de
forma semelhante à obtenção dos dados de diversidade beta (Tabela 3).
Os dados limnológicos utilizados para mensurar a heterogeneidade ambiental
foram temperatura, clorofila-a, fósforo total e nitrogênio total, todos previamente
padronizados através de z-score. Tais parâmetros estão envolvidos com o estado trófico da
água, disponibilidade de recursos e estado fisiológico dos organismos zooplanctônicos, e é
esperando que variem entre as regiões limnética e litorânea devido às diferenças na
58
profundidade, turbidez, incidência de ventos, radiação luminosa e presença de macrófitas
(Esteves & Caliman 2011, Thomaz & Esteves 2011).
Análises Estatísticas
A comparação dos valores de diversidade beta ou distância Euclidiana entre os
diferentes modelos (Tabela 4) foi feita através de ANOVA com inferência Bayesiana, cujo
resultado é expresso em percentual de probabilidade (P). Diferente da tradicional inferência
estatística “frequentista”, baseada em construção de “intervalos de confiança” e na
realização de “testes de hipóteses”, a abordagem bayesiana1 considera a probabilidade de
um evento, fenômeno, proposição ou hipótese como a quantificação do seu grau de
plausibilidade (Kinas & Andrade 2010). A ANOVA Bayesiana, diferente da ANOVA
tradicional, não possui o pressuposto de independência entre os valores analisados e pode
ser executada na comparação de modelos desbalanceados, já que, respectivamente, os
valores de diversidade beta são dependentes entre si e diferem em quantidade para cada
modelo.
Nós consideramos o resultado da ANOVA Bayesiana igual ou acima de 0.7 como
de alta probabilidade, isto quer dizer que ao comparar valores (e.g. diversidade beta ou
distância Euclidiana) obtidos por dois modelos hipotéticos “x” e “y”, um modelo é
considerado maior do que o outro quando existe uma probabilidade maior ou igual a 70%.
Todas as análises foram executadas no programa R 3.2.1 (R Core Team, 2015). A
diversidade beta foi realizada no pacote betapart (Baselga et al. 2013) e a distância Euclidiana
através do pacote vegan (Oksanen et al. 2013). No caso da ANOVA Bayesiana foi redigida
uma rotina específica para a função de comparação entre os modelos (Berry & Stangl 1996,
Carlin & Louis 2000, Kinas & Andrade 2010).
2.3 Resultados
No conjunto total de lagos e nos lagos com macrófitas a diversidade beta (βSOR) foi
maior, respectivamente, nos seguintes modelos: “Inter-habitat regional”, “Intra-habitat
regional” e “Inter-habitat local” (Figura 3), com uma probabilidade de 100% dos valores de
59
um modelo ser maior que o outro na sequência a seguir: P [βSORInter-habitat regional >
βSORIntra-habitat regional > βSORInter-habitat local] ≈ 1.
Nos lagos sem macrófitas não houve diferença entre os modelos “Inter-habitat
regional” e “Intra-habitat regional” (P [βSORIntra-habitat regional > βSORInter-habitat
regional ≈ 0,53), entretanto, ambos os modelos foram maiores que o modelo “Inter-habitat
local” (P [βSORIntra-habitat regional ou βSORInter-habitat regional > βSORInter-habitat local]
≈ 1) (Figura 3).
A análise isolada do modelo “Inter-habitat local” mostra que há efeito da presença
de macrófitas aquáticas na região litorânea no aumento da diversidade beta entre os
habitats litorâneo e limnético em escala local (Figura 2). Os valores de diversidade beta
entre os habitats litorâneo e limnético em escala local foram mais altos nos lagos com
macrófitas na região litorânea quando comparados aos lagos sem macrófitas na região
litorânea (P [βSORlagos com macrófita > βSORlagos sem macrófita] ≈ 1) e ao conjunto total
de lagos (P [βSORlagos com macrófita > βSORtodos os lagos] ≈ 0.85). Além disso, os valores
de diversidade beta também foram mais altos no conjunto total de lagos quando
comparados aos lagos sem macrófita (P [βSORtodos os lagos > βSORlagos sem macrófita] ≈
0.99), indicando que os lagos com presença de macrófitas aquática determinaram o padrão
geral de diversidade beta do zooplâncton em escala local.
As regiões limnética e litorânea examinadas isoladamente através da subdivisão do
modelo “Intra-habitat regional” mostrou que no conjunto de todos os lagos a diversidade
beta (P [βSORlitorânea > βSORlimnética] ≈ 0.92) e a heterogeneidade ambiental (P [distEuclid
litorânea > distEuclid limnética] ≈ 0.94) foram maiores na região litorânea (Figura 2)
(hipótese 6). Entretanto, nos lagos com macrófitas na região litorânea a diversidade beta
foi maior entre as regiões limnéticas (P [βSORlimnética > βSORlitorânea] ≈ 0.87), enquanto
que a heterogeneidade ambiental foi maior na região litorânea (P [distEuclid litorânea >
distEuclid limnética] ≈ 0.99). O padrão inverso foi observado nos lagos sem macrófitas na
região litorânea, cuja diversidade beta foi maior entre as regiões litorâneas do que entre as
regiões limnéticas (P [βSORlitorânea > βSORlimnética] ≈ 0.91) e a heterogeneidade ambiental
maior entre as regiões limnéticas (P [distEuclid limnética > distEuclid litorânea] ≈ 0.73)
(Figura 4).
60
2.4 Discussão
Nosso estudo gerou informações pioneiras acerca dos padrões de diversidade beta
considerando a compartimentalização horizontal lacustre entre os habitats limnético e
litorâneo em níveis local e regional, além de ressaltar o papel das macrófitas aquáticas na
determinação de tais padrões, até então, nenhum outro trabalho realizado em ecossistemas
aquáticos lênticos em ambientes tropicais ou temperados havia incorporado tais
perspectivas. Os resultados encontrados sugerem que o efeito combinado da
heterogeneidade de habitats e a ausência direta de conectividade foram fundamentais no
aumento da diversidade beta zooplanctônica, e que, a complexidade estrutural –
representada aqui pela presença de macrófitas – exerceu importante papel sobre a
diversidade beta em escalas local e regional. Além disso, também foi observado que dentre
os habitats litorâneo e limnético, o litorâneo constitui o habitat mais sujeito a efeitos do
filtro ambiental em escala regional apresentando maior diversidade beta.
Diferentes trabalhos atribuíram à heterogeneidade de habitats a diversidade beta de
espécies em ecossistemas terrestres (Qian & Ricklefs, 2007; Rodríguez & Arita, 2004) e
aquáticos (Ellingsen & Gray 2002, Balata et al. 2007). Entretanto, nossos objetivos e
resultados são bastante singulares daqueles já descritos na literatura global. Os diferentes
habitats lacustres, associados às suas especificidades ambientais, têm sido negligenciados
pelas pesquisas sobre diversidade beta em ecossistemas aquáticos continentais, apesar das
diferenças já descritas entre os habitats limnético e litorâneo (Esteves & Caliman 2011).
Sabe-se que habitats distintos, dentro de um ecossistema ou de uma paisagem, diferem em
sua composição e abundância de espécies (Cramer & Willig 2005, Luo et al. 2012), o que
provavelmente contribuiu para o incremento da diversidade beta nos lagos aqui estudados.
A variação espacial, como a promovida pela compartimentalização horizontal em lagos,
produz mosaicos e gradientes capazes de permitir a coexistência de diferentes espécies,
adaptadas neste caso às condições específicas criadas pela variabilidade dos habitats
limnético e litorâneo. Da forma que a maioria dos estudos que avaliam os padrões de
diversidade beta zooplanctônica em lagos é conduzida, a importância dos fatores locais é
subestimada, frente aos regionais, já que estratégias amostrais restringem-se exclusivamente
às porções limnéticas dos ambientes.
61
Considerar a variação da diversidade beta ao nível de habitat, não só em escala local,
como também em escala regional, permite avaliarmos a contribuição de cada um dos
habitats para os padrões regionais de diversidade beta, assim como explorar a importância
da conectividade sem a interferência de fatores extrínsecos às comunidades, os quais
também podem variar com o tempo. Por exemplo, a maioria dos estudos que avaliam o
papel da conectividade sobre a diversidade beta são realizados em ambientes sujeitos aos
regimes de inundação, que se conectam e desconectam ao longo do tempo, de acordo com
o regime de chuvas da região. Embora seja bastante útil, tal abordagem considera o papel
da inundação praticamente como único agente dispersor, desprezando características
exclusivas das espécies em relação a capacidade de dispersão e seleção de habitats. Dessa
maneira, os padrões de diversidade beta em ambientes que se conectam e desconectam
devido ao regime hidrológico podem refletir muito mais as adaptações das espécies às
características locais no momento que os ambientes estão isolados, do que o real potencial
de dispersão de cada uma delas. Nesse sentido, quantificar a importância da conectividade
nos padrões inter-habitat de diversidade beta, tal como desenvolvemos, permite que
características relativas às estratégias de dispersão das espécies possam ser refletidas de
maneira mais evidente sobre a diversidade beta.
Os altos valores de diversidade beta encontrados no modelo “Inter-habitat regional”
em comparação aos do modelo “Intra-habitat regional”, isolam a forte influência do tipo
do habitat no aumento da diversidade beta regional, já que o padrão de conectividade
(distância geográfica) é idêntico entre esses dois modelos. Esse padrão não é observado nos
lagos sem macrófitas, demonstrando o papel fundamental das macrófitas da região
litorânea dos lagos como geradoras de diferenciação entre os habitats limnético e litorâneo.
Scheffer e colaboradores (2006) também ressaltaram a importância que os lagos pequenos
e isolados dominados por macrófitas têm no aumento de diversidade beta de diferentes
organismos aquáticos, como o zooplâncton. Esses autores explicam que lagos pequenos e
isolados tem uma maior probabilidade de serem colonizados por plantas aquáticas e menos
habitados por peixes (devido ao baixo potencial de dispersão e alta sensibilidade à variações
hidrológicas), contribuindo de forma significativa para o ganho de diversidades alfa de
diferentes organismos aquáticos, incluindo o zooplâncton. Além disso, devido ao grau de
isolamento e ao tamanho pequeno, esses lagos possuem condições ambientais específicas
que ao longo do tempo contribuíram para diferenciá-los, como o tipo de hidroperíodo (i.e.
62
temporários ou perenes), e são mais susceptíveis a eventos estocásticos, como aqueles
associados a mecanismos de dispersão das espécies (Oertli et al. 2002, Williams et al. 2004,
Scheffer et al. 2006). Tais fatores em conjunto contribuem para que cada lago possua
condições específicas, capazes de abrigar comunidades biológicas diferenciadas, gerando
um ganho de diversidade beta e contribuindo de forma significativa para diversidade
aquática em escala regional (Scheffer et al., 2006).
O aumento da diversidade beta decorrente da heterogeneidade de habitats,
funciona com um indicativo ou “surrogate” do aumento da diversidade gama (γ) dentro
dos ambientes pesquisados, e pode ser empregada de maneira eficaz em estratégias de
manejo e conservação dos ecossistemas aquáticos (Cramer & Willig 2005). Inclusive, a
manutenção da heterogeneidade de habitat tem sido proposta como uma importante
ferramenta na conservação da riqueza de espécies em ambientes ameaçados pelas atividades
humanas (Passy & Blanchet 2007). Lamentavelmente, o habitat litorâneo, onde nós
observamos a maior quantidade de macrófitas e diversidade beta, é a região dos
ecossistemas lacustres mais susceptível a influência do impacto antrópico, pois constituem
áreas de interface entre os ecossistemas terrestre e aquático e detém as menores
profundidades do corpo aquáticos. Essas regiões são consideradas as mais sujeitas ao padrão
do uso do solo do entorno (incluindo o uso da bacia de drenagem), à urbanização, ao
despejo de rejeitos domésticos e agrícolas, e à eutrofização (Schindler & Scheuerell 2002).
Os lagos ao redor do mundo, especialmente do nordeste brasileiro, sofrem com o
problema de eutrofização artificial (Lazzaro et al. 2003, Eskinazi-Sant’Anna et al. 2007), o
qual é responsável por uma série de modificações no meio aquático, e consequentemente,
nas comunidades biológicas que o constitui (Smith et al. 1999). Dentre as mudanças
sofridas pelos lagos durante o processo de eutrofização, nós podemos citar a substituição
de macrófitas por exclusivamente biomassa algal (e.g. cianobactérias), representando uma
perda significativa de diversidade de espécies na região litorânea destes ambientes (Thomaz
& Esteves 2011), e como visto nesta pesquisa, uma perda também de diversidade beta
zooplanctônica, já que tais alterações favorecem apenas as espécies adaptadas a esta
condição ambiental ou “estado estável alternativo”.
A análise do modelo “Inter-habitat local” evidencia que os lagos que possuem
macrófitas na região litorânea foram os detentores de maior diversidade beta local
provavelmente devido à alta complexidade estrutural provida pela presença de macrófitas
63
nestes ambientes, e provável redução da similaridade ambiental entre os habitats limnético
e litorâneo. Tal resultado comprova ainda mais a importância de conservar a região
litorânea e sua vegetação para maximizar a riqueza de espécies, desta vez, localmente. Alguns
autores descreveram que a complexidade estrutural gerada pela presença de macrófitas
resulta em locais de abrigo, refúgio contra predadores, alimentação e reprodução de
diferentes organismos aquáticos e terrestres, e funcionam de substrato para o perifíton
(Thomaz & Bini 1998, Randall et al. 2011), o que pode ter favorecido o incremento de
diversidade beta zooplanctônica local.
Apesar de nós termos descrito a importância das macrófitas presentes no habitat
litorâneo para o aumento da diversidade beta local e regional, em nosso estudo nós não
avaliamos a variação da diversidade beta de acordo com o tipo da vegetação aquática ou
grupo funcional da macrófita (e.g. submersa, emersa ou flutuante), nem verificamos se
existiam diferenças entre o habitat limnético e regiões litorâneas com e sem macrófita
dentro de uma mesmo lago. Essas duas lacunas são capazes de fornecer informações
importantes acerca dos padrões de diversidade beta zooplanctônica e ficam como sugestão
de pesquisa para estudos limnlógicos em ecossistemas lacustres tropicais.
Além da heterogeneidade e complexidade de habitats, vistas especialmente na
presença das macrófitas na região litorânea, a conectividade também exerceu influência na
diversidade beta zooplanctônica, já que os efeitos regionais sobre a diversidade beta
(modelos “Inter-habitat regional” e “Intra-habitat regional”) superaram diferenças locais
entre os habitats (“Inter-habitat local”). Dentre os três modelos, assumimos a conectividade
sendo máxima no modelo “Inter-habitat local”, no qual os organismos podem transitar
entre os habitats limnético e litorâneo dentro de um mesmo lago. A alta conexão entre os
habitats localmente, pode ser vista como um fator que contribuiu para os menores valores
de diversidade beta encontrados no modelo “Inter-habitat local” (comparados aos modelos
regionais), independentemente da complexidade estrutural promovida pela presença de
macrófitas na diferenciação dos habitats limnético e litorâneo. Sabe-se que tanto a
dispersão, quanto a homogeneização ambiental, estão intimamente relacionados com o
grau de conectividade entre as comunidades e com a capacidade de dispersão das espécies
(Cottenie et al. 2003, Thomaz et al. 2008, Lopes et al. 2014). Portanto, a conectividade
entre habitats pode ser inversamente relacionada à diversidade beta, já que ambientes com
64
altas taxas de conectividade favorecem a homogeneização biológica entre comunidades
distintas (Loreau 2000, Qian 2009, Martin & Wilsey 2015)
A conectividade entre os habitats litorâneo e limnético em nível local tem o poder
de homogeneizar as comunidades zooplanctônicas limnéticas e litorâneas através de dois
mecanismos: a fraca barreira contra a dispersão e a maior homogeneização das condições
ambientais entre os dois tipos de habitat, enfraquecendo o filtro ambiental local. O fato de
observarmos que os valores locais de diversidade beta entre as regiões limnéticas e litorâneas
foram menores entre os lagos sem macrófitas na região litorânea, destaca que o segundo
mecanismo, a intensificação do filtro ambiental associado à presença de plantas, possui
maior importância do que a dispersão inter-habitat local.
Em relação à diversidade beta zooplanctônica vista de forma isolada nos habitats
limnético e litorâneo, através da partição do modelo “Intra-habitat regional”, foi observado
que no conjunto total de lagos a região litorânea é a maior detentora de diversidade beta e
heterogeneidade ambiental. O habitat litorâneo é reconhecido por ser ambientalmente
mais heterogêneo em escala local do que o habitat limnético em termos de complexidade
espacial e temporal, fatores físico-químico e biológicos (Maia-Barbosa et al. 2008, Thorp
2010), e nossos resultados ressaltam que a maior heterogeneidade ambiental no habitat
litorâneo também manifesta-se em escala regional.
Espera-se que os fatores que contribuem para a estruturação da região litorânea
variem mais amplamente entre os lagos, do que os fatores que contribuem para a
variabilidade da região limnética. As baixas profundidades dos habitats litorâneos
interagem com o tipo de sedimento e a presença, abundância e composição da vegetação,
determinando padrões de material particulado orgânico e inorgânico em suspensão, e de
temperatura, tais fatores têm o potencial de influenciar áreas com menores profundidades
presentes no habitat litorâneo, do que áreas de coluna de água mais profunda, como as
presentes nos habitats limnéticos. Além disso, as variações em relação ao padrão do uso do
solo circundante difere entre os ecossistemas lacustres, sendo capaz de afetar
potencialmente de forma mais intensa o habitat litorâneo, do que o habitat limnético.
Nossos resultados, entretanto, apontam para um padrão inesperado considerando
o fato de que, embora no conjunto de 100 lagos tenhamos observado uma relação positiva
entre diversidade beta e heterogeneidade ambiental, ambos maiores entre as regiões
litorâneas do que entre as limnéticas, a relação entre estas variáveis não permaneceu
65
quando analisamos os lagos com macrófitas e sem macrófitas separadamente. As regiões
litorâneas dos lagos com macrófitas apresentaram-se mais heterogêneas ambientalmente
entre si, mas com valores de diversidade beta menores do que os observados entre os
habitats limnéticos. Esse resultado mostra que os lagos com macrófitas seriam os
responsáveis por determinar o padrão geral de maior heterogeneidade ambiental regional
observado para a região litorânea considerando o conjunto de todos os lagos, sendo este
padrão congruente ao observado para os lagos sem macrófitas que embora tenham
apresentado menor heterogeneidade ambiental entre as regiões litorâneas comparada às
limnéticas, apresentaram maiores valores de diversidade beta regional entre os habitats
litorâneos. A incongruência destes padrões pode ser explicado por dois fatores, primeiro,
nossa inabilidade em mensurar variáveis ambientais importantes para a comunidade
zooplanctônica associados à presença de macrófitas, segundo, tais variáveis podem estar
relacionadas à presença, composição e abundância das comunidades de peixes e/ou
macrófitas, as quais também não foram medidas.
Lopes e colaboradores (2014) não encontraram relação significativa entre a
diversidade beta zooplanctônica e a heterogeneidade ambiental em 100 lagos brasileiros.
Os autores explicam que variáveis importantes que afetam a diversidade beta
zooplanctônica possivelmente não foram mensuradas, fator que também pode ter afetado
a nossa pesquisa. Inclusive, esses pesquisadores também citam que apesar de ser bastante
intuitivo pensar que o aumento da heterogeneidade ambiental leva a um aumento da
diversidade beta, existem outros trabalhos que também não encontraram relação positiva
entre estes dois fatores (Bini et al. 2014).
2.5 Conclusões
A falta de conectividade entre os habitats e as diferenças apresentadas entre os
habitats limnético e litorâneo foram os principais fatores no aumento de diversidade beta
zooplanctônica em escalas local e regional. Até então, as pesquisas existentes sobre os
padrões de diversidade beta zooplanctônica desconsideram a importância relacionada a
heterogeneidade entre os habitats limnético e litorâneo, sendo o litorâneo
tradicionalmente preterido pela maioria dos estudos. De tal forma que não só a diversidade
66
beta zooplanctônica, como também a importância que os fatores locais exercem sobre os
padrões de diversidade beta podem estar sendo rotineiramente subestimados.
Ademais, as macrófitas, registradas nos habitats litorâneos dos ecossistemas, foram
consideradas fundamentais no aumento da diversidade beta tanto em escala local, quanto
em escala regional, afirmando o papel de complexidade estrutural fornecido por estes
vegetais às espécies de zooplâncton, e provavelmente, aos níveis tróficos superiores. Sabe-se
que as macrófitas são influenciadas pelos processos de eutrofização artificial, portanto a
exclusão destes vegetais nas áreas litorâneas dos lagos funcionaria como um bioindicador
de perda de diversidade beta animal decorrente do aumento da homogeneização ambiental
destes ecossistemas. A região litorânea dos lagos constitui as áreas de maior influência
antrópica devido aos múltiplos usos empregados nestes ambientes (e.g. recreação,
agricultura, pecuária). Os resultados que nós encontramos de alta diversidade beta
zooplanctônica nos habitats litorâneos colonizados por macrófitas podem funcionar como
um indicativo da importância destas áreas no aumento da diversidade beta de outros grupos
de organismos (e.g. algas perifíticas, macroinvertebrados bentônicos e peixes), devido ao
alto potencial das macrófitas em agregar biodiversidade e ao papel do zooplâncton como
elo entre a produção primária e os níveis tróficos superiores nas teias alimentares.
Referências
Anderson, M. J., Ellingsen, K. E., & McArdle, B. H. (2006). Multivariate dispersion as a measure
of beta diversity. Ecology Letters, 9(6), 683–93.
Balata, D., Piazzi, L., & Benedetti-Cecchi, L. (2007). Sediment disturbance and loss of beta diversity
on subtidal rocky reefs. Ecology, 88(10), 2455–2461.
Baselga, A. (2010). Partitioning the turnover and nestedness components of beta diversity. Global
Ecology and Biogeography, 19, 134–143.
Baselga, A., Orme, D., Villeger, S., Bortoli, J. De, & Leprieur, F. (2013). betapart: Partitioning beta
diversity into turnover and nestedness components. R package version 1.3.
Basu, B., & Pick, F. (1997). Phytoplankton and zooplankton development in a lowland, temperate
river. Journal of Plankton Research.
Beisner, B. E., Peres-Neto, P. R., Lindström, E. S., Barnett, A., & Longhi, M. L. (2006). The role
of environmental and spatial processes in structuring lake communities from bacteria to fish.
Ecology, 87(12), 2985–2991.
67
Berry, D., & Stangl, D. (1996). Bayesian biostatistics.
Bilton, D., Freeland, J., & Okamura, B. (2001). Dispersal in aquatic invertebrates. Annu. Rev. Ecol.
Syst.
Bin, Y., Wang, Z., Wang, Z., Ye, W., Cao, H., & Lian, J. (2010). The effects of dispersal limitation
and topographic heterogeneity on beta diversity and phylobetadiversity in a subtropical forest.
Plant Ecology, 209(2), 237–256.
Bini, L., Landeiro, V., Padial, A., Siqueira, T., & Heino, J. (2014). Nutrient enrichment is related
to two facets of beta diversity for stream invertebrates across the United States. Ecology.
Bohonak, A., & Jenkins, D. (2003). Ecological and evolutionary significance of dispersal by
freshwater invertebrates. Ecology Letters, 6, 783–796.
Bozelli, R. L., Thomaz, S. M., Padial, A. A., Lopes, P. M., & Bini, L. M. (2015). Floods decrease
zooplankton beta diversity and environmental heterogeneity in an Amazonian floodplain
system. Hydrobiologia, 753(1), 233–241.
Brown, J., Stevens, G., & Kaufman, D. (1996). The geographic range: size, shape, boundaries, and
internal structure. Annual Review of Ecology and
Carlin, B., & Louis, T. (2000). Bayes and empirical Bayes methods for data analysis.
Chase, J. (2003). Experimental evidence for alternative stable equilibria in a benthic pond food
web. Ecology Letters.
Chase, J. (2007). Drought mediates the importance of stochastic community assembly. Proceedings
of the National Academy of ….
Chase, J., & Leibold, M. (2002). Spatial scale dictates the productivity–biodiversity relationship.
Nature.
Chase, J., & Ryberg, W. (2004). Connectivity, scale‐dependence, and the productivity–diversity
relationship. Ecology Letters.
Connor, E., & McCoy, E. (1979). The statistics and biology of the species-area relationship.
American Naturalist.
Cottenie, K., Michels, E., Nuytten, N., & De Meester, L. (2003). Zooplankton metacommunity
structure: Regional vs. local processes in highly interconnected ponds. Ecology, 84(4), 991–
1000.
Cramer, M. J., & Willig, M. R. (2005). Habitat heterogeneity, species diversity and null models.
Oikos, 108(2), 209–218.
Debinski, D., & Holt, R. (2000). A survey and overview of habitat fragmentation experiments.
Conservation Biology.
Donohue, I., Jackson, A., Pusch, M., & Irvine, K. (2009). Nutrient enrichment homogenizes lake
benthic assemblages at local and regional scales. Ecology.
68
Egertson, C. J., Kopaska, J. A., & Downing, J. A. (2004). A Century of Change in Macrophyte
Abundance and Composition in Response to Agricultural Eutrophication. Hydrobiologia,
524(1), 145–156.
Ellingsen, K., & Gray, J. s. (2002). Spatial patterns of benthic diversity: is there a latitudinal gradient
along the Norwegian continental shelf? Journal of Animal Ecology, 71(3), 373–389.
Elmoor-Loureiro, L. (1997). Manual de identificação de cladóceros límnicos do Brasil. Brasília, Distrito
Federal: Ed. Universitária.
Eskinazi-Sant’Anna, E. (2007). Composição da comunidade zooplanctônica em reservatórios
eutróficos do semi-árido do Rio Grande do Norte. Oecol. Bras., 11(3), 410–421.
Esteves, F. a., & Caliman, A. (2011). Águas Continentais: Características do Meio,
Compartimentos e Suas Comunidades. In Fundamentos de Limnologia (3 ed., pp. 113–118).
Rio de Janeiro: Interciência.
Fahr, J., & Kalko, E. K. V. (2011). Biome transitions as centres of diversity: habitat heterogeneity
and diversity patterns of West African bat assemblages across spatial scales. Ecography, 34(2),
177–195.
Figuerola, J., & Green, A. (2002). Dispersal of aquatic organisms by waterbirds: a review of past
research and priorities for future studies. Freshwater Biology, 47(3), 483–494.
Green, A. J., & Figuerola, J. (2005). Recent advances in the study of long-distance dispersal of
aquatic invertebrates via birds. Diversity and Distributions, 11(2), 149–156.
Havel, J., & Shurin, J. (2004). Mechanisms, effects, and scales of dispersal in freshwater
zooplankton. Limnology and Oceanography, 49(4, part 2), 1229–1238.
Jiang, L., & Patel, S. (2008). Community assembly in the presence of disturbance: a microcosm
experiment. Ecology.
Karp, D., Rominger, A., & Zook, J. (2012). Intensive agriculture erodes β‐diversity at large scales.
Ecology ….
Kinas, P., & Andrade, H. (2010). Introdução à análise bayesiana (com R). Porto Alegre, Rio Grande
do Sul: Edt. maisQnada.
Koleff, P., Gaston, K. J., & Lennon, J. J. (2003). Measuring beta diversity for presence-absence data.
Journal of Animal Ecology, 72(3), 367–382.
Koste, W. (1978). Rotatoria. Die Rädertiere Mitteleuropas Ein Bestimmungswerk, begründet von Max Voigt
Überordnung Monogononta. (Gebrüder Borntraeger, Ed.)Verlag Gebrüder Bornträger. Stuttgart.
Langenheder, S., Berga, M., Östman, Ö., & Székely, A. J. (2012). Temporal variation of β-diversity
and assembly mechanisms in a bacterial metacommunity. The ISME Journal, 6(6), 1107–1114.
Lazzaro, X., Bouvy, M., Ribeiro-Filho, R. A., Oliviera, V. S., Sales, L. T., Vasconcelos, A. R. M., &
Mata, M. R. (2003). Do fish regulate phytoplankton in shallow eutrophic Northeast Brazilian
69
reservoirs? Freshwater Biology, 48(4), 649–668.
Legendre, P., Borcard, D., & Peres-Neto, P. (2005). Analyzing beta diversity: partitioning the spatial
variation of community composition data. Ecological Monographs, 74(4), 435–450.
Leprieur, F., Tedesco, P. A., Hugueny, B., Beauchard, O., Dürr, H. H., Brosse, S., & Oberdorff, T.
(2011). Partitioning global patterns of freshwater fish beta diversity reveals contrasting
signatures of past climate changes. Ecology Letters, 14(4), 325–34.
Lopes, P. M., Bini, L. M., Declerck, S. a. J., Farjalla, V. F., Vieira, L. C. G., Bonecker, C. C., …
Bozelli, R. L. (2014). Correlates of Zooplankton Beta Diversity in Tropical Lake Systems. PLoS
ONE, 9(10), e109581.
Loreau, M. (2000). Are communities saturated? On the relationship between α, β and γ diversity.
Ecology Letters. Retrieved from
Louette, G., & De Meester, L. (2005). High dispersal capacity of cladoceran zooplankton in newly
founded communities. Ecology, 86(2), 353–359.
Luck, G. W., & Smallbone, L. T. (2011). The impact of urbanization on taxonomic and functional
similarity among bird communities. Journal of Biogeography, 38(5), 894–906.
Luo, Z., Tang, S., Li, C., Fang, H., Hu, H., & Yang, J. (2012). Environmental effects on vertebrate
species richness: testing the energy, environmental stability and habitat heterogeneity
hypotheses.
MacArthur, R. H., & MacArthur, J. W. (1961). On Bird Species Diversity. Ecology 42.3 594-598.
MacArthur, R. H., & Wilson, E. O. (1967). The Theory of Island Biogeography. Pricenton. Univ. Press.
Princeton, N.J.
Maia-Barbosa, P. M., Peixoto, R. S., & Guimarães, a S. (2008). Zooplankton in littoral waters of a
tropical lake: a revisited biodiversity. Brazilian Journal of Biology = Revista Brasleira de Biologia,
68, 1069–1078.
Martin, L. M., & Wilsey, B. J. (2015). Differences in beta diversity between exotic and native
grasslands vary with scale along a latitudinal gradient. Ecology, 96(4), 1042–1051.
Michels, E., Cottenie, K., Neys, L., & Gelas, K. De. (2001). Modelling the effective geographic
distance between zooplankton populations in a set of interconnected ponds: a validation with
genetic data. Molecular Ecology.
Mouquet, N., & Loreau, M. (2003). Community patterns in source‐sink metacommunities. The
American Naturalist.
Mouquet, N., Miller, T., Daufresne, T., & Kneitel, J. (2006). Consequences of varying regional
heterogeneity in source–sink metacommunities. Oikos.
Naiman, R., & Décamps, H. (1990). The ecology and management of aquatic-terrestrial ecotones (Man
and th). Paris, France: UNESCO.
70
Neumann-Leitão, S., Matsumura-Tundisi, T., & Calijuri, M. (1991). Distribuição e aspectos
ecológicos do zooplâncton da represa do Lobo (Broa), São Paulo. ENCONTRO BRASILEIRO
DE ….
Oertli, B., Joye, D. A., Castella, E., Juge, R., Cambin, D., & Lachavanne, J.-B. (2002). Does size
matter? The relationship between pond area and biodiversity. Biological Conservation, 104(1),
59–70.
Oksanen, J., Blanchet, F., & Kindt, R. (2013). Package “vegan.” R Packag ….
Passy, S. I., & Blanchet, F. G. (2007). Algal communities in human-impacted stream ecosystems
suffer beta-diversity decline. Diversity and Distributions, 13(6), 670–679.
Pereira e Silva, M. C., Dias, A. C. F., van Elsas, J. D., & Salles, J. F. (2012). Spatial and Temporal
Variation of Archaeal, Bacterial and Fungal Communities in Agricultural Soils. PLoS ONE,
7(12), e51554.
Qian, H. (2009). Beta diversity in relation to dispersal ability for vascular plants in North America.
Global Ecology and Biogeography. Retrieved from
Qian, H. (2009). Beta diversity in relation to dispersal ability for vascular plants in North America.
Global Ecology and Biogeography, 18(3), 327–332.
Qian, H., & Ricklefs, R. (2007). A latitudinal gradient in large‐scale beta diversity for vascular plants
in North America. Ecology Letters.
R Core Team. (2015). R: A language and environment for statistical computing. R Foundation for
Statistical Computing, Vienna, Austria.
Randall, R. G., Minns, C. K., Cairns, V. W., & Moore, J. E. (2011). The relationship between an
index of fish production and submerged macrophytes and other habitat features at three
littoral areas in the Great Lakes. Canadian Journal of Fisheries and Aquatic Sciences.
Rodríguez, P., & Arita, H. (2004). Beta diversity and latitude in North American mammals: testing
the hypothesis of covariation. Ecography.
Santos-Silva, E. dos. (2000). Revisão das espécies do“ complexo nordestinus”(Wright, 1935) de
Notodiaptomus Kiefer, 1936 (Copepoda: Calanoida: Diaptomidae). Universidade de São Paulo,
São Paulo.
Scheffer, M., Van Geest, G. J., Zimmer, K., Jeppesen, E., Søndergaard, M., Butler, M. G., … De
Meester, L. (2006). Small habitat size and isolation can promote species richness: Second-
order effects on biodiversity in shallow lakes and ponds. Oikos, 112(1), 227–231.
Schindler, D. E., & Scheuerell, M. D. (2002). Habitat coupling in lake ecosystems. Oikos, 98(2),
177–189.
Shurin, J. B., Cottenie, K., & Hillebrand, H. (2009). Spatial autocorrelation and dispersal
limitation in freshwater organisms. Oecologia, 159(1), 151–9.
71
Singh, B. K., Bardgett, R. D., Smith, P., & Reay, D. S. (2010). Microorganisms and climate change:
terrestrial feedbacks and mitigation options. Nature Reviews. Microbiology, 8(11), 779–90.
Smith, V., Tilman, G., & Nekola, J. (1999). Eutrophication: impacts of excess nutrient inputs on
freshwater, marine, and terrestrial ecosystems. Environmental Pollution.
Soininen, J. (2010). Species Turnover along Abiotic and Biotic Gradients: Patterns in Space Equal
Patterns in Time? BioScience, 60(6), 433–439.
Soininen, J., Lennon, J. J., & Hillebrand, H. (2007). A Multivariate Analysis of Beta Diversity across
Organisms and Environment. Ecology, 88(11), 2830–2838.
Soranno, P., Carpenter, S., & He, X. (1993). Zooplankton biomass and body size. In S. Carpenter
& J. Kitchell (Eds.), The trophic cascade in lakes (pp. 116–152). Cambridge, England:
Cambridge University Press.
Taniguchi, H., Nakano, S., & Tokeshi, M. (2003). Influences of habitat complexity on the diversity
and abundance of epiphytic invertebrates on plants. Freshwater Biology, 48(4), 718–728.
Tews, J., Brose, U., Grimm, V., Tielbörger, K., Wichmann, M. C., Schwager, M., & Jeltsch, F.
(2004). Animal species diversity driven by habitat heterogeneity/diversity: the importance of
keystone structures. Journal of Biogeography, 31(1), 79–92.
Thomaz, S., & Bini, L. (1998). Ecologia e manejo de macrófitas aquáticas em reservatórios. Acta
Limnologica Brasiliensia.
Thomaz, S., & ESTEVES, F. (2011). Comunidade de macrófitas aquáticas. ESTEVES, FA., Org.
Fundamentos de Limnologia. 3ed. ….
Thomaz, S. M., Dibble, E. D., Evangelista, L. R., Higuti, J., & Bini, L. M. (2008). Influence of
aquatic macrophyte habitat complexity on invertebrate abundance and richness in tropical
lagoons. Freshwater Biology
Thorp, J. H. (2010). Ecology and Classification of North American Freshwater Invertebrates. Academic
Press.
Tuomisto, H., & Ruokolainen, K. (2006). Analyzing or explaining beta diversity? Understanding
the targets of different methods of analysis. Ecology, 87(11), 2697–2708.
Vadeboncoeur, Y., Zanden, M. Vander, & Lodge, D. (2002). Putting the Lake Back Together:
Reintegrating Benthie Pathways into Lake Food Web Models. BioScience.
Vanschoenwinkel, B., & Waterkeyn, A. (2010). Species sorting in space and time-the impact of
disturbance regime on community assembly in a temporary pool metacommunity. Journal of
the North ….
Veech, J. a., & Crist, T. O. (2007). Habitat and climate heterogeneity maintain beta-diversity of
birds among landscapes within ecoregions. Global Ecology and Biogeography, 16(5), 650–656.
Vellend, M., Verrhne, K., Flinn, K., Jacquemyn, H., Kolb, A., Van Calster, H., … Hermy, M. (2007).
72
Homogenization of forest plant communities and weakening of species?environment
relationships via agricultural land use. Journal of Ecology, 95(3), 565–573.
Verleyen, E., Vyverman, W., & Sterken, M. (2009). The importance of dispersal related and local
factors in shaping the taxonomic structure of diatom metacommunities. Oikos, 118(8), 1239–
1249.
Williams, P., Whitfild, M., Biggs, J., Bray, S., Fox, G., Nicolete, P., & Sear, D. (2004). Comparative
biodiversity of rivers, streams, ditches and ponds in an agricultural landscape in Southern
England. Biological Conservation, 115(2), 329–341.
73
Figuras Figura 1 – Relatório de citações do termo “diversidade beta” no portal de periódicos Web of Science. A) Quantidade de publicações anuais (1996 – setembro de 2015); B) Quantidade de citações anuais (1996 – setembro de 2015). ................................................................................. 74
Figura 2 – Mapa do estado do Rio Grande do Norte apontando a localização dos 100 lagos amostrados. A faixa escura no mapa é considerada a região de transição entre a região de clima úmido (à direita) e a região de clima semiárido (à esquerda), mostrando a heterogeneidade climática da região. Os círculos representam as lagoas naturais (n=41), e os triângulos representam os reservatórios (n=59). ..................................................................................................................... 74
Figura 3 – Diversidade beta (βSorensen) do zooplâncton nos conjuntos de lagos para cada modelo de conectividade/habitat. A) Todos os lagos (n=100) – Modelos: Inter-habitat local (n=100), Inter-habitat regional (n=9900), Intra-habitat regional (n=9900); B) Lagos com macrófitas na região litorânea (n=80) – Modelos: Inter-habitat local (n=80), Inter-habitat regional (n=6320), Intra-habitat regional (n=6320); C) Lagos sem macrófitas na região litorânea (n=20) – Modelos: Inter-habitat local (n=20), Inter-habitat regional (n=380), Intra-habitat regional (n=380). ......................................... 75
Figura 4– Modelo “Intra-hábitat regional” subdividido em regiões limnética e litorânea nos conjuntos de lagos: todos os lagos (n=100), lagos com macrófita na região litorânea (n=80), lagos sem macrófita na região litorânea (n=20). A) Diversidade beta (βSorensen) do zooplâncton: todos os lagos (limnética n=4950; litorânea n=4950), lagos com macrófita na região litorânea (limnética n=3160; litorânea n=3160), lagos sem macrófita na região litorânea (limnética n=190; litorânea n=190). B) Heterogeneidade ambiental (distância Euclidiana): todos os lagos (limnética n=4950; litorânea n=4950), lagos com macrófita na região litorânea (limnética n=3160; litorânea n=3160), lagos sem macrófita na região litorânea (limnética n=190; litorânea n=190). ............................... 76
74
Figura 1 – Relatório de citações do termo “diversidade beta” no portal de periódicos Web of Science. A) Quantidade de publicações anuais (1996 – setembro de 2015); B) Quantidade de citações anuais (1996 – setembro de 2015).
Figura 2 – Mapa do estado do Rio Grande do Norte apontando a localização dos 100 lagos amostrados. A faixa escura no mapa é considerada a região de transição entre a região de clima úmido (à direita) e a região de clima semiárido (à esquerda), mostrando a heterogeneidade climática da região. Os círculos representam as lagoas naturais (n=41), e os triângulos representam os reservatórios (n=59).
75
Figura 3 – Diversidade beta (βSorensen) do zooplâncton nos conjuntos de lagos para cada modelo de conectividade/habitat. A) Todos os lagos (n=100) – Modelos: Inter-habitat local (n=100), Inter-habitat regional (n=9900), Intra-habitat regional (n=9900); B) Lagos com macrófitas na região litorânea (n=80) – Modelos: Inter-habitat local (n=80), Inter-habitat regional (n=6320), Intra-habitat regional (n=6320); C) Lagos sem macrófitas na região litorânea (n=20) – Modelos: Inter-habitat local (n=20), Inter-habitat regional (n=380), Intra-habitat regional (n=380).
76
Figura 4– Modelo “Intra-hábitat regional” subdividido em regiões limnética e litorânea nos conjuntos de lagos: todos os lagos (n=100), lagos com macrófita na região litorânea (n=80), lagos sem macrófita na região litorânea (n=20). A) Diversidade beta (βSorensen) do zooplâncton: todos os lagos (limnética n=4950; litorânea n=4950), lagos com macrófita na região litorânea (limnética n=3160; litorânea n=3160), lagos sem macrófita na região litorânea (limnética n=190; litorânea n=190). B) Heterogeneidade ambiental (distância Euclidiana): todos os lagos (limnética n=4950; litorânea n=4950), lagos com macrófita na região litorânea (limnética n=3160; litorânea n=3160), lagos sem macrófita na região litorânea (limnética n=190; litorânea n=190).
77
Tabelas Tabela 1 - Descrição dos modelos relacionados à conectividade e tipos de habitats (i.e. limnético ou litorâneo), suas respectivas premissas e hipóteses. ................................................................. 78
Tabela 2 – Estatística descritiva sobre a variação geral das variáveis ambientais amostradas nos três conjuntos de lagos. As escalas das variáveis clorofila-a, fósforo e nitrogênio totais estão em mg.L-1, e a temperatura em oC (LIM = habitat limnético e LIT = habitat litorâneo). ................... 79
Tabela 3 – Esquema didático1 da tabela gerada para obtenção dos dados de diversidade beta2 (βSOR) entre os habitats dos lagos 100 lagos amostrados (lim = limnético, lit = litorâneo). As cores representam como foram separados os valores de cada modelo: a) Verde = Inter-habitat local: habitat limnético lago “x” versus litorâneo lago “x”, ou seja, dentro de um mesmo lago; b) Azul = Inter-habitat regional: habitat limnético lago “x” versus litorâneo lago “x+1, x+2, ... , x+99” mais habitat litorâneo lago “x” versus limnético lago “x+1, x+2, ... , x+99” c) Amarelo = Intra-habitat regional: habitat limnético lago “x” versus limnético lago “x+1, x+2, ... , x+99” mais habitat litorâneo lago “x” versus litorâneo lago “x+1, x+2, ... , x+99”. ...................................................................... 79
Tabela 4 – Relações criadas entre os modelos para descrever os padrões de diversidade beta entre os diferentes conjuntos de lagos. ................................................................................................. 80
78
Tabela 1 - Descrição dos modelos relacionados à conectividade e tipos de habitats (i.e. limnético ou litorâneo), suas respectivas premissas e hipóteses.
Modelo Conectividade1 Habitats2 Premissas Hipóteses
Inter-habitat local
Sim
Diferentes
Dispersão inter-habitats
ilimitada e não varia
com a distância; filtro
ambiental atribuído a
efeitos inter-habitats
locais e não varia com a
distância
Diversidade beta
baixa: dispersão alta,
conectividade alta,
heterogeneidade de
habitats local alta
mediante a presença
de macrófitas
Inter-habitat regional
Não
Diferentes
Dispersão inter-habitats
limitada e prevista
variar com a distância;
filtro ambiental
atribuído a efeitos
inter-habitats regionais e
pode variar com a
distância
Diversidade beta alta:
dispersão baixa,
conectividade baixa,
heterogeneidade de
habitats regional alta
mediante a presença
de macrófitas
Intra-habitat regional
Não
Iguais
Dispersão intra-habitat
limitada e prevista
variar com a distância;
filtro ambiental
atribuído a efeitos
intra-habitats regionais e
pode variar com a
distância
Diversidade beta
intermediária:
dispersão baixa,
conectividade baixa,
heterogeneidade de
habitats regional baixa
(comparação entre
habitats iguais)
1 Os habitats limnético e litorâneo foram considerados conectados quando ambos fossem provenientes do mesmo lago, já que não há barreiras geográficas que separe estes dois ambientes e os organismos podem “transitar” entre eles através de migrações horizontais; e não conectados os habitats limnético e litorâneo de lagos distintos, nos quais os organismos necessitariam de mecanismos especiais de dispersão. 2 Os habitats foram considerados iguais quando os valores de diversidade beta eram providos entre regiões limnéticas ou entre regiões litorâneas; e habitats diferentes quando providos por regiões limnéticas versus litorâneas.
79
Tabela 2 – Estatística descritiva sobre a variação geral das variáveis ambientais amostradas nos três conjuntos de lagos. As escalas das variáveis clorofila-a, fósforo e nitrogênio totais estão em mg.L-1, e a temperatura em oC (LIM = habitat limnético e LIT = habitat litorâneo).
Conjunto de Lagos Clorofila-a Fósforo Total Nitrogênio Total Temperatura LIM LIT LIM LIT LIM LIT LIM LIT Todos os lagos (n=100) Média 0,0551 0,0693 0,2257 0,2367 4,8942 4,8595 27,2 27,6 Desvio Padrão 0,1059 0,1398 0,2006 0,2093 2,3456 2,3152 1,5 1,6 Máximo 0,5049 0,9233 1,0189 1,0663 13,4559 12,9065 33,4 32,1 Mínimo 0,0002 0,0001 0,0145 0,0132 1,0710 0,6538 23,6 23,6 Lagos com macrófitas (n=80) Média 0,0512 0,0571 0,2234 0,2377 4,6630 4,6536 27,2 27,8 Desvio Padrão 0,1078 0,1138 0,2090 0,2213 2,1711 2,1438 1,4 1,7 Máximo 0,5049 0,5995 1,0189 1,0663 11,9092 12,0120 30,2 32,1 Mínimo 0,0002 0,0005 0,0160 0,0132 1,0710 0,6538 23,6 23,6 Lagos sem macrófitas (n=20) Média 0,0711 0,1206 0,2350 0,2324 5,8676 5,7262 27,1 26,9 Desvio Padrão 0,0960 0,2098 0,1600 0,1483 2,7654 2,7658 1,7 1,1 Máximo 0,3333 0,9233 0,6354 0,5234 13,4559 12,9065 33,4 29,1 Mínimo 0,0006 0,0001 0,0145 0,0241 1,7345 1,2201 25,5 24,7
Tabela 3 – Esquema didático1 da tabela gerada para obtenção dos dados de diversidade beta2 (βSOR) entre os habitats dos lagos 100 lagos amostrados (lim = limnético, lit = litorâneo). As cores representam como foram separados os valores de cada modelo: a) Verde = Inter-habitat local: habitat limnético lago “x” versus litorâneo lago “x”, ou seja, dentro de um mesmo lago; b) Azul = Inter-habitat regional: habitat limnético lago “x” versus litorâneo lago “x+1, x+2, ... , x+99” mais habitat litorâneo lago “x” versus limnético lago “x+1, x+2, ... , x+99” c) Amarelo = Intra-habitat regional: habitat limnético lago “x” versus limnético lago “x+1, x+2, ... , x+99” mais habitat litorâneo lago “x” versus litorâneo lago “x+1, x+2, ... , x+99”.
Diversidade Beta (βSOR) Lago/ habitat Lago1_lim Lago2_lim Lago3_lim Lago1_lit Lago2_lit Lago3_lit
Lago1_lim 0.000 Lago2_lim 0.286 0.000 Lago3_lim 1.000 0.500 0.000 Lago1_lit 0.500 0.500 1.000 0.000 Lago2_lit 0.714 0.462 0.500 0.750 0.000 Lago3_lit 0.857 0.571 0.250 1.000 0.571 0.000
Inter-habitat local Inter-habitat regional Intra-habitat regional
1Como trata-se de um esquema didático, nesta tabela foi representado apenas do lago número um até o lago três, na tabela real constavam os dados até o lago de número 100. 2Os dados de distância Euclidiana foram gerados a partir de uma matriz seguindo os mesmo princípios da matriz de diversidade beta.
80
Tabela 4 – Relações criadas entre os modelos para descrever os padrões de diversidade beta entre os diferentes conjuntos de lagos.
Comparação Pergunta Objetivo
βSOR “Inter-habitat local”
versus
βSOR “Inter-habitat regional”
versus
βSOR “Intra-habitat regional”
Qual modelo tem a maior diversidade
beta?
Observar o efeito do tipo do habitat e
da conectividade sobre a diversidade
beta
βSOR “Inter-habitat local” no conjunto de todos os lagos
versus
βSOR “Inter-habitat local” nos lagos com macrófita
versus
βSOR “Inter-habitat local” nos lagos sem macrófita na região litorânea
Qual conjunto de lagos tem a maior
diversidade beta local?
Observar o efeito da macrófita
presente na região litorânea no
aumento da diversidade beta
1. βSOR “Intra-habitat regional” habitat limnético
versus
βSOR “Intra-habitat regional” habitat litorâneo
2. DistEuclid “Intra-habitat regional” habitat limnético
versus
DistEuclid “Intra-habitat regional” habitat litorâneo
1. Qual habitat tem maior diversidade
beta regional?
2. A alta diversidade beta é reflexo de
alta heterogeneidade ambiental?
1. Observar o efeito do habitat no
aumento da diversidade beta regional
2. Observar se a diversidade beta é
influenciada pela heterogeneidade
ambiental
81
Capítulo 3
Padrões de decaimento da similaridade com a distância em comunidades
zooplanctônicas tropicais: a importância do potencial de dispersão e da idade dos
ecossistemas
82
3.1 Introdução
Um dos principais objetivos dos estudos em ecologia e biogeografia é compreender
a estruturação da biodiversidade no espaço e no tempo (Rosenzweig 1995, Bahram et al.
2013). Entender os processos que ditam a distribuição espacial dos organismos fornecem
informações importantes acerca dos mecanismos responsáveis pela complexidade e
manutenção da diversidade nos ecossistemas (e.g. especiação, extinção, dispersão e
interação entre as espécies), e em conjunto constituem informações essenciais para
definição de estratégias de conservação da biodiversidade (Dray et al. 2012, Legendre et al.
2005).
Os padrões espaciais que regem fenômenos ecológicos e evolutivos sobre as espécies
podem ser moldados por uma observação simples: a proporção de espécies compartilhadas
por duas comunidades biológicas frequentemente diminui com o aumento da distância
geográfica entre elas (Tobler 1970, Wittaker 1975), fenômeno conhecido também como
decaimento da similaridade com a distância (DDS, do inglês – distance decay of similarity)
(Nekola & White 1999). A redução da similaridade biológica com o aumento da distância
geográfica é um dos padrões acerca da biodiversidade mais aceitos na literatura, e pode ser
explicada através de fatores extrínsecos aos organismos, como variabilidade ambiental,
isolamento do habitat ou barreiras para dispersão, ou por fatores intrínsecos aos
organismos, como a habilidade de dispersão, tamanho do corpo e posição trófica nas teias
alimentares (Nekola & White 1999, Qian 2009). Dentre esses fatores, a habilidade de
dispersão é considerada crucial no entendimento da variação nas taxas de DDS entre as
espécies (Maloney & Munguia 2011, Astorga et al. 2012, Wetzel et al. 2012).
Espera-se que organismos com maior habilidade de dispersão possuam menores
taxas de DDS em relação aqueles com menor capacidade de dispersão, e que portanto,
sejam mais afetados por fatores regionais (i.e. Teoria Neutra - Bell 2001, Hubbell 2001,
Astorga et al. 2012). Diferente dos organismos com menor capacidade de dispersão, que
possivelmente apresentam maiores taxas de DDS, e consequentemente devem ser mais
influenciados por fatores locais (i.e. Teoria de Nicho – e.g. condições abióticas,
disponibilidade de nutriente, competição e predação) ( Tuomisto et al. 2003, Green et al.
2004, Fierer & Jackson 2006, Martiny et al. 2006).
83
A habilidade de dispersão dos organismos também pode afetar as medidas de
similaridade inicial, ou seja, a similaridade da composição das comunidades no primeiro
quilometro de distância geográfica. A similaridade inicial reflete a diversidade beta (i.e. a
taxa de substituição ou turnover de espécies entre comunidades distintas) em pequenas
escalas espaciais. Espera-se que organismos com baixo potencial de dispersão apresentem
alta similaridade inicial e baixa diversidade beta em pequenas escalas espaciais, de forma
diferente, organismos com alto potencial de dispersão apresentam baixa similaridade
inicial, com altas taxas de substituição de espécies em pequenas escalas espaciais (Astorga
et al. 2012, Soininen et al. 2007).
Ao longo dos anos, os estudos sobre DDS destinaram seus esforços principalmente
aos vertebrados terrestres e plantas superiores, ignorando o grupo de espécies mais diverso
e abundante do planeta: os microrganismos (Green et al. 2004, Martiny et al. 2006, Mazaris
et al. 2010). Os pesquisadores acreditaram por muito tempo que as características
morfofisiológicas dos microrganismos (e.g. tamanho pequeno, alta abundância, rápido
crescimento populacional e alta capacidade de dispersão) permitiriam que as espécies de
microrganismos tivessem distribuição cosmopolita (Green & Bohannan 2006), e que a
presença de uma espécie em determinada comunidade seria ditada exclusivamente pelo
filtro ambiental dos fatores locais (i.e. “Everything is everywhere, the enviromental selects” – Baas-
Becking 1934) (Finlay 2002, Ramette & Tiedje 2007). Estudos recentes, entretanto,
mostram que o potencial de dispersão, também é importante na estruturação das
comunidades de microrganismos, e podem influenciar nas taxas de DDS de forma
semelhante a exercida sobre os macrorganismos (Whitaker et al. 2003, Bell et al. 2005,
Sommaruga & Casamayor 2009, Astorga et al. 2012).
A definição do termo “microrganismo” não é padronizada, geralmente inclui
membros dos grupos Bacteria e Archea, além de organismos microscópicos do domínio
Eukarya. Devido a definição não padronizada do termo, no trabalho de Martiny e
colaboradores (2006) eles classificam como microrganismos aqueles com tamanho inferior
à 500μm. Dentre os eucariotos com esta classificação de comprimento, muitas espécies
zooplanctônicas, principalmente as de águas continentais tropicais, possuem tamanho
inferior ou aproximado a 500μm, dificilmente excedendo 1000μm (Elmoor-Loureiro
1997).
84
O zooplâncton de águas continentais é uma excelente ferramenta para estudo de
DDS em ambientes aquáticos, pois constitui um grupo bastante diverso e abundante, com
espécies de diferentes tamanhos, estágios de vida, tempo de crescimento, estratégias de
reprodução e alimentação, níveis tróficos, interações competitivas e habilidades de
dispersão, além de exercer papel fundamental nas teias alimentares e responder de forma
eficiente às mudanças sofridas pelos ecossistemas aquáticos (Cohen & Shurin 2003,
Beisner et al. 2006, Allen 2007). Especialmente em ecossistemas aquáticos lênticos (e.g.
lagoas e reservatórios), a dispersão pode ser um fator limitante para distribuição do
zooplâncton, já que os organismos precisam transpor uma matriz terrestre para terem acesso
às “ilhas de habitat” favoráveis ao desenvolvimento (Figuerola & Green 2002, Bohonak &
Jenkins 2003, Shurin et al. 2009).
Os grupos mais abundantes e diversos do zooplâncton lacustre são: Rotifera,
Cladocera e Copepoda, os quais apresentam diferenças morfofisiológicas importantes que
influenciam em suas estratégias de dispersão (Jenkins 1995, Cohen & Shurin 2003). Alguns
trabalhos atribuem ao menor tamanho dos rotíferos, uma maior facilidade para serem
dispersados em relação aos cladóceros e copépodes (Koste 1978, Elmoor-Loureiro 1997,
Santos-Silva 2000, Fernández-Rosado & Lucena 2001). A relação tamanho do corpo versus
habilidade de dispersão também foi descrita para outros grupos taxonômicos na literatura,
sendo organismos menores geralmente relacionados a maior habilidade de dispersão e
transporte por agentes dispersores (Farjalla et al. 2012, Soininen et al. 2013).
Além das diferenças relacionadas ao tamanho do corpo, os rotíferos e cladóceros
possuem reprodução por partenogênese (i.e. formação de novos indivíduos sem a
necessidade de fertilização), permitindo a colonização de um novo habitat a partir de um
único indivíduo com a propagação de clones sem a necessidade de machos na população
(Winsor & Innes 2002, Sarnelle & Knapp 2004). Esses organismos também são capazes de
produzir ovos de resistência em situações de adversidade ambiental, que podem resistir à
seca ou congelamento dos ambientes aquáticos, ou até mesmo à digestão de predadores
(Proctor 1964, Proctor et al. 1967, Cáceres 1998). Os copépodes, entretanto, possuem
reprodução sexuada obrigatória e passam por diferentes estádios de vida até atingirem a
fase adulta (i.e. naupliiu, copepoditos I-V e adulto) (Sarnelle & Knapp 2004). Devido ao
menor tamanho e às estratégias reprodutivas, os rotíferos são reconhecidos por dispersarem
melhor que os microcrustáceos, e entre os microcrustáceos, as estratégias reprodutivas dos
85
cladóceros permitem que este grupo disperse de forma mais eficiente que os copépodes
(Winsor & Innes 2002, Cohen & Shurin 2003). Tais diferenças nas estratégias de dispersão
entre os grupos podem influenciar na distribuição e composição das comunidades
zooplanctônicas, e consequentemente, gerar taxas diferenciadas de DDS (Cohen & Shurin
2003, Beisner et al. 2006, Allen 2007).
As taxas de DDS também podem ser influenciadas pelo tempo de existência (i.e.
idade) dos ecossistemas lacustres. Existem hipóteses que dizem que habitats mais antigos
tiveram mais tempo para serem colonizados (Pianka 2011), e portanto possuem
comunidades mais homogêneas, enquanto que outros autores argumentam que habitats
mais antigos são estruturalmente mais complexos e criam heterogeneidade ambiental capaz
de agir como filtro na seleção de diferentes espécies (McKindsey & Bourget 2001). Embora
a idade de um ecossistema lacustre não seja uma informação muito trivial de se distinguir,
os lagos naturais geralmente são bem mais antigos quando comparados aos reservatórios
artificiais (Doi et al. 2012).
Lagos naturais, sobretudo aqueles distribuídos próximo ao litoral dos continentes,
são ecossistemas geralmente antigos, formados por processos geomorfológicos que
ocorreram a centenas ou milhares de anos. Por outro lado, reservatórios são ambientes
construídos artificialmente pelo homem para suprir a demanda antrópica por
abastecimento hídrico, e portanto, são relativamente recentes no tempo (Moss 2009,
Esteves 2011). Considerando a idade dos ambientes, sendo as lagoas naturais ecossistemas
mais antigos e os reservatórios mais recentes, e considerando uma distância geográfica
média similar entre os ambientes de uma mesma categoria de idade, caso haja
predominância de fatores relacionados ao potencial de dispersão dos organismos na
estruturação das comunidades zooplanctônicas, espera-se que exista uma redução mais
rápida nas taxas de DDS nos reservatórios. Isso porque a idade mais recente representaria
um menor tempo através do qual processos regionais de dispersão pudessem agir. Além
disso, este padrão deveria ser ainda mais forte para as espécies com potenciais de dispersão
mais limitados. Por outro lado, as lagoas naturais teriam mais tempo para serem colonizadas
sendo portanto o padrão de DDS menos acentuado e também menos discrepante entre as
espécies com diferentes estratégias de dispersão.
Devido à escassez de estudos relacionados ao decaimento da similaridade nas
comunidades de microrganismos, neste estudo nós verificamos as taxas de DDS dos
86
principais grupos zooplanctônicos lacustres: Rotifera, Cladocera e Copepoda em 100 lagos,
e testamos se as taxas de DDS variaram entre os grupos de acordo com seu potencial de
dispersão. Como as taxas de DDS geralmente são inversamente relacionadas ao potencial
de dispersão dos organismos, nós esperamos que as taxas de DDS sejam maiores para
copépodes, cladóceros e rotíferos, devido ao tamanho corporal e às estratégias reprodutivas
dos organismos. Além disso, nós dividimos os ambientes aquáticos de acordo com sua idade
média, em lagos naturais (i.e. mais antigos) e reservatórios (i.e. mais recentes) no intuito de
verificar se as taxas de DDS dos grupos zooplanctônicos são sensíveis ao tempo de existência
dos ecossistemas. Caso o potencial de dispersão dos organismos esteja estruturando as
comunidades zooplanctônicas, nós esperamos que as taxas de DDS e as medidas de
similaridade inicial nos ecossistemas mais recentes (i.e. reservatórios) sejam mais altas do
que nos mais antigos (i.e. lagos naturais), especialmente nos grupos com menor potencial
de dispersão (Figura 1).
3.2 Material e Métodos
Área de Estudo
Os dados desta pesquisa foram obtidos em 100 ambientes aquáticos lênticos de
baixa latitude, localizados entre as 16 bacias hidrográficas do estado do Rio Grande do
Norte (RN/ Brasil), sendo 41 lagoas naturais e 59 reservatórios (Figura 2), com as
amostragens realizadas durante o mês de setembro de 2012. O conjunto de todos os
ecossistemas lacustres, incluindo lagos naturais e reservatórios, estão distribuídos numa
escala de aproximadamente 265km (Tabela 1). A distância média entre os ambientes
aquáticos dentro de cada categoria (i.e. lagos naturais ou reservatórios) não diferiu
estatisticamente (Teste-t pareado p<0,05), desta forma qualquer diferença de padrão de
DDS entre as duas categorias de ambientes não podem ser atribuídas a diferenças na
distância geográfica média entre eles.
Conjuntamente, as lagoas naturais constituem um grupo de ecossistemas bem mais
antigo, sendo sua formação provavelmente associada ao período Terciário, coincidindo
com formação do grupo Barreiras (i.e. formação geológica típica da porção mais litorânea
do estado do RN) e posteriormente com deposição de sedimentos do Quaternário (Angelim
87
et al. 2006, Vital 2006). Enquanto os primeiros reservatórios no estado do RN foram
construídos a partir de 1915 através da criação do Departamento Nacional de Obras
Contra às Secas (DNOCS 2015).
Procedimento amostral
Em cada lago a coleta das variáveis abióticas e bióticas foi realizada nos habitats
litorâneo (i.e. próximo às margens dos ecossistemas lacustres) e limnético (i.e. próximo a
região central dos ecossistemas lacustres). Em cada habitat as amostragens foram feitas em
três pontos distintos, as quais foram posteriormente integradas, totalizando 100 amostras
de cada variável.
Em campo foi mensurada a temperatura (°C), pH, transparência do Secchi (Sec) e
oxigênio dissolvido (OD – mg.L-1), e obtidas amostras de água para análise em laboratório
de clorofila-a (Chl-a – mg.L-1) e nutrientes constituintes do séston (nitrogênio – N, fósforo
– P e carbono C, todos expressos em mg.L-1) (Tabela 2)8. Além dessas variáveis, foram
mensuradas a área dos lagos (Área) e as relações C:P, C:N, N:P do séston e a razão Chl-
a:Sec como indicativo de turbidez inorgânica (Tabela 2).
As coletas de zooplâncton foram feitas com redes de 50μm de abertura de malha.
Os organismos foram obtidos na subsuperfície da coluna de água através de baldes
previamente graduados para obtenção do volume filtrado, cuja quantidade variou entre 30
e 100 litros, dependendo da transparência e turbidez de cada ambiente. As amostras foram
imediatamente fixadas com solução açucarada de formaldeído a 4%.
Em laboratório o zooplâncton foi identificado até o nível de espécie com auxílio de
guias de identificação especializados (Koste 1978, Elmoor-Loureiro 1997, Santos-Silva
2000), câmera de Sedgewick-Rafter e microscópio para o grupo Rotifera, além de câmera
de Bogorov e estereomiscroscópio para Copepoda e Cladocera. As
identificações/contagens foram realizadas com no mínimo três réplicas com ao menos 100
indivíduos dos organismos mais abundantes em cada uma delas. Entretanto, um grande
número de amostras foi avaliado por completo em busca de espécies raras (lista de espécies
presente nos Apêndices A e B). Já para a representação da biomassa foi utilizado o peso
seco das espécies, obtido através da medição dos organismos e aplicação de tais medidas em
8 Detalhes dos métodos empregados para obtenção das variáveis ambientais encontram-se descritos no item “Material e Métodos – Geral”.
88
equações de peso-comprimento descritas em literatura especializada (Bottrell et al. 1976,
Ruttner-Kolisko 1977).
Decaimento da Similaridade com a Distância
As matrizes biológicas dos organismos zooplanctônicos (i.e. a) zooplâncton total, b)
Rotifera, c) Cladocera, d) Copepoda), nos três conjuntos de lagos (i.e. a) todos os lagos n =
100, b) lagoas naturais n = 41, c) reservatórios n = 59) foram construídas par a par a partir
do índice de similaridade de Bray-Curtis (i.e. baseado nos dados de abundância dos
organismos, previamente transformados no logx+1). As matrizes de distância geográfica
também foram construídas par a par a partir das distâncias Euclidianas, utilizando as
coordenadas geográficas (i.e. latitude e longitude) de cada um dos ecossistemas.
Posteriormente, foram realizadas as regressões entre as matrizes biológicas para cada
um dos grupos zooplanctônicos versus as matrizes geográficas de cada conjunto de lagos. A
partir das regressões9 foram utilizados os interceptos (a) e os coeficientes de regressão
padronizados ou slopes da regressão (b). O intercepto das regressões foram utilizados como
uma medida de similaridade inicial (i.e. altos interceptos indicam alta similaridade em
curtas distâncias ou baixa diversidade beta, resultado esperado para os organismos com
maiores habilidades de dispersão). Já o coeficiente de regressão padronizado foi utilizado
como a medida das taxas de decaimento da similaridade dos organismos zooplanctônicos
em função da distância geográfica entre os ecossistemas lacustres (i.e, taxas de DDS). Os
coeficientes de regressão foram obtidos de maneira idêntica à matriz de correlação
estatística de Mantel, e suas significâncias (valor de p) estimadas a partir de 10000
aleatorizações. O método de aleatorização de Monte Carlo baseado em Nekola e White
(1999) foi utilizado para testar as diferenças entre as taxas de DDS dos grupos
zooplanctônicos em cada um dos conjuntos de lagos estudados.
As análises envolvendo a DDS foram executadas no programa R versão 3.2.1 (R
Core Team 2015), através dos pacotes vegan e ecodist, e das funções presentes em Baselga
(2010). A rotina do procedimento de randomização de Monte Carlo foi redigido por
Wetzel e colaboradores (2012) no programa R.
9 Todo o procedimento de análises das regressões foi baseado no trabalho de Wetzel e colaboradores publicado em 2012 (Distance Decay Similarity in Neotropical Communities – PLOS One), para mais detalhes favor consultar o procedimento estatístico descrito nesta publicação.
89
Mantel Parcial
Com o intuito de verificar a influência dos fatores locais e regionais na composição
e distribuição da comunidade zooplanctônica nós realizamos o teste de Mantel Parcial
(Mantel 1967, Manly 2007), através do qual é possível isolar o efeito que a distância
geográfica poderia exercer sobre as variáveis ambientais, e vice-versa. Essa análise é capaz de
realizar a correlação entre duas matrizes, controlando o efeito de uma terceira matriz
(Legendre & Legendre 1998). Nesse caso, nós relacionamos as matrizes biológicas versus a
matriz de distância geográfica (i.e. fatores regionais), excluindo o possível efeito da matriz
ambiental (i.e. fatores locais), e as matrizes biológicas versus a matriz ambiental, excluindo o
possível efeito da matriz geográfica. O método de Monte Carlo com 10000 aleatorizações
foi aplicado para avaliar a significância do teste de Mantel Parcial (Zar 2010).
Para realização do teste de Mantel Parcial, as matrizes biológicas de cada um dos
grupos zooplanctônicos foram construídas com índice de similaridade de Bray-Curtis
(dados de abundância previamente transformados no logx+1), as matrizes de distância a
partir das distâncias Euclidianas, utilizando as coordenadas geográficas (i.e. latitude e
longitude) de cada um dos ecossistemas, e a matriz ambiental a partir das distâncias
Euclidianas utilizando as variáveis abióticas coletadas em campo ou analisadas em
laboratório.
As variáveis ambientais que compuseram as matrizes ambientais foram selecionadas
a partir do conjunto de 13 variáveis abióticas (OD, N, P, C, pH, Chl-a, Área, Sec, Temp,
C:P, C:N, N:P, Chl-a:Sec). As variáveis que apresentaram colinearidade (coeficiente de
correlação de Spearman > 0,7) foram identificadas e aquelas que apresentaram menor
importância na explicação da variação de densidade dos diferentes grupos zooplanctônicos
foram excluídas para a formação das matrizes ambientais em cada conjunto de lagos. Este
procedimento resultou na seleção das seguintes variáveis para as análises considerando o
conjunto de todos os lagos: OD, P, pH, Área, Temp, C:N, Chl-a:Sec, o conjunto das lagoas
naturais: OD, N, P, pH, Área, Sec, Temp, C:N, N:P e o conjunto de lagos artificiais: OD,
P, pH, Chl-a, Área, Sec, Temp e C:N).
O teste de Mantel Parcial e as aleatorizações foram executadas pacote estatístico
vegan (Oksanen et al. 2013), e as correlações no pacote stats (R Core Team 2015), ambos
programa R 3.2.1 (R Core Team 2015).
90
3.3 Resultados
Foram descritas 188 espécies de zooplâncton para o conjunto total de lagos, 170 no
conjunto de lagos naturais, e apenas 127 nos reservatórios (Tabela 3). No conjunto total de
lagos e nos reservatórios as espécies mais abundantes foram os copépodes Thermocyclops
decipiens, Notodiaptomus iheringi e N. cearenses, os cladóceros Moina minuta, Ceriodaphnia
cornuta e Ephemeroporus hybridus, e os rotíferos Brachionus plicatilis, B. angularis e B.
havanaensis. Já nos lagos naturais as espécies mais abundantes foram os copépodes
Notodiaptomus iheringi, Microcyclops anceps e N. nordestinus, os cladóceros Latonopsis australis,
Ephemeroporus barroisi e Moina minuta, e os rotíferos Keratella americana, Brachionus plicatilis
e Keratella tropica. A biomassa média dos grupos zooplanctônicos diferiram de acordo com
o esperado por nossas premissas, sendo os copépodes o grupo de maior biomassa
(4,18±4,54µg), seguido pelos cladóceros (1,63±2,18µg), e por último os rotíferos
(0,06±0,05µg) constituindo o grupo com os menores organismos.
Os grupos zooplanctônicos apresentaram padrões biogeográficos, com decaimento
da similaridade com aumento da distância, de forma distinta entre os conjuntos de lagos.
No conjunto de todos os ecossistemas lacustres, incluindo as lagoas naturais e os
reservatórios, houve DDS significativo para os grupos Cladocera (p<0,005) e Rotifera
(p<0,005) (Figura 2). No conjunto das lagoas naturais houve DDS significativo para
Rotifera (p=0,007) e marginalmente significativo para Cladocera (p=0,065) (Figura 3;
Apêndice A). Já no conjunto dos reservatórios houve DDS significativo para todos os
grupos zooplanctônicos (Copepoda p=0,043; Cladocera p<0,005; Rotifera p<0,005) (Figura
3; Apêndice A).
Diferente do esperado por nossas hipóteses, os testes de aleatorização entre as
regressões de DDS em cada conjunto de lagos mostrou que não houve diferença na
intensidade de decaimento da similaridade com o aumento da distância geográfica entre os
grupos zooplanctônicos que apresentaram DDS significativa para nenhuma categoria de
ambiente (Tabela 4). Portanto as taxas de DDS não foram afetadas pelos efeitos individuais
e interativos das estratégias de dispersão dos organismos e da idade dos ecossistemas.
Apesar de não termos encontrado diferenças entre os grupos nas taxas de DDS
dentro de cada conjunto de lagos, nós observamos que os valores de similaridade inicial
(SI) nos lagos naturais e reservatórios diferiram (Figura 3). Em todos os grupos
91
zooplanctônicos valores de SI mais altos foram observados nos reservatórios, diferente do
esperado por nossas hipóteses que previam maior SI nos lagos naturais.
As similaridades dos copépodes, cladóceros e rotíferos no conjunto de todos os
lagos foram relacionadas com a distância ambiental. Nos lagos naturais não foram
observadas relações de nenhum dos grupos zooplanctônicos com as matrizes ambiental e
geográfica. Entretanto, nos reservatórios os grupos Copepoda e Cladocera tiveram maior
relação com a matriz de distância ambiental, enquanto os rotíferos foram mais
influenciados pela matriz de distância geográfica (Tabela 5).
3.4 Discussão
Os nossos resultados mostraram que os grupos zooplanctônicos apresentaram
decaimento da similaridade com o aumento da distância geográfica variando de acordo
com o conjunto de lagos (i.e. todos os lagos, lagos naturais e reservatórios). Entretanto, ao
contrário do esperado por nossas hipóteses, as estratégias de dispersão por si só, bem como
a sua interação com a idade dos ambientes estudados, não geraram diferenças nas taxas de
decaimento entre os grupos zooplanctônicos. Além disso, também de forma contrária a
nossas expectativas, os valores de similaridade inicial foram maiores entre os ambientes de
idades mais recentes, ou seja, os reservatórios. Nós verificamos também que dependendo
do conjunto de lagos e do grupo zooplanctônico, o fator local ou a interação dos fatores
locais e regionais determinaram os padrões de similaridade das comunidades.
A antiga generalização de que os microrganismos não apresentam padrões
biogeográficos de distribuição tem sido questionada por diversos estudos recentes que
mostram que assim como os macrorganismos, os microrganismos possuem a composição
de suas comunidades restritas por padrões espaciais (Green et al. 2004, Foissner 2006,
Astorga et al. 2012). O aumento da distância geográfica foi importante no decaimento da
similaridade dos grupos zooplanctônicos analisados em nosso estudo a partir de
ecossistemas tropicais, mesmo numa escala espacial relativamente pequena (i.e. variação foi
de 2,5 à 265km), com resposta de decaimento de similaridade semelhante à esperada pelos
estudos realizados com macrorganismos.
É importante salientar que a maioria dos estudos que relacionam o decaimento da
similaridade biológica com o aumento da distância geográfica são realizados em escalas mais
92
amplas que a investigada neste estudo (e.g. continentais ou intercontinentais), o que pode
ressaltar ainda mais o efeito do espaço sobre a dissimilaridade biológica (Fierer & Jackson
2006, Martiny et al. 2006). Entretanto, os nossos resultados sugerem que, mesmo em
escalas espaciais relativamente menores, o zooplâncton teve sua distribuição restrita pelas
distância geográfica dos ecossistemas lacustres, diferente dos resultados encontrados em
ecossistemas temperados por Mazaris e colaboradores (2010) em lagos gregos, nos quais o
zooplâncton total não apresentou DDS significativa numa escala de 32 à 342km.
Nós esperávamos que todos os grupos zooplanctônicos apresentassem DDS
significativa e que as taxas variassem entre cada um dos grupos. Os resultados mostraram,
entretanto, que nem todos os grupos apresentaram decaimento da similaridade com
aumento da distância, e que o resultado encontrado para todos os lagos reflete o que foi
encontrado entre os lagos naturais e os reservatórios. No conjunto de lagos naturais, apenas
os rotíferos apresentaram DDS significativa, enquanto nos reservatórios todos os grupos
zooplanctônicos reduziram a similaridade de suas comunidades com o aumento da
distância. É provável que a história de vida dos organismos mais o tempo de existência e as
condições locais dos ecossistemas tenham refletido nas taxas de DDS entre os diferentes
grupos zooplanctônicos.
Os lagos naturais são ecossistemas mais antigos, e portanto, tiveram mais tempo
para serem colonizados pelos organismos, independente da estratégia de dispersão adotada
por cada um deles. Fatores como o tempo de existência e as condições locais dos lagos
naturais podem ter contribuído não só para a dispersão dos organismos, como também
para a formação de ecossistemas de maior complexidade e heterogeneidade ambiental,
capazes de agirem como filtro na seleção de espécies (McKindsey & Bourget 2001),
especialmente dos microcrustáceos, cuja capacidade de dispersão é reconhecida por ser
inferior à dos rotíferos (Koste 1978, Elmoor-Loureiro 1997, Santos-Silva 2000, Fernández-
Rosado & Lucena 2001). Inclusive, apesar de nós não termos encontrado decaimento da
similaridade para Copepoda e Cladocera, os valores de diversidade beta foram altos entre
a maioria dos ecossistemas independente da distância geográfica entre eles, mostrando a
alta diversidade beta desses organismos.
Num cenário onde os ecossistemas mais antigos geram heterogeneidade ambiental
capaz de atuar na seleção de espécies, a relação filogenética existente entre cladóceros e
copépodes pode agir na seleção de condições ambientais mais similares do que entre
93
microcrustáceos e rotíferos (Bini et al. 2008), de forma a contribuir para resposta similar
de DDS para copépodes e cladóceros. Apesar do teste de Mantel não ter apontado para
influência dos processos locais na estruturação das comunidades de copépodes e
cladóceros, é possível que variáveis essenciais não tenham sido consideradas na formação
da matriz de distância ambiental, por exemplo, a presença de macrófitas no habitat
litorâneo dos ecossistemas, a qual mostrou-se crucial nos padrões de riqueza e diversidade
beta zooplanctônica nos Capítulos 1 e 2. Nós não incluímos os dados sobre a presença e
ausência de macrófitas, pois este parâmetro foi registrado apenas para o habitat litorâneo
dos ecossistemas, enquanto que as matrizes biológicas foram formadas com dados
unificados dos habitats limnético e litorâneo em conjunto.
Diferente dos lagos naturais, todos os grupos zooplanctônicos apresentaram DDS
significativa nos reservatórios, e através do teste de Mantel Parcial nós observamos que o
decaimento da similaridade foi decorrente especialmente de processos locais, ou seja, o
aumento da distância entre os ecossistemas provocam um aumento na dissimilaridade
ambiental, e consequentemente na dissimilaridade biológica. Como os reservatórios são
ambientes mais jovens, nós poderíamos supor que a DDS significativa apresentada pelos
organismos nestes ecossistemas fossem decorrentes da limitação de processos de dispersão,
entretanto os padrões de DDS encontrados para os organismos podem ter sido mascarados
pelo efeito de alta heterogeneidade ambiental entre os reservatórios.
Principalmente na época de estiagem (período que realizamos nosso amostragem),
os reservatórios no nordeste brasileiro são ecossistemas que sofrem bastante com o processo
de eutrofização (Eskinazi-Sant’Anna et al. 2007), o que pode ter intensificado o efeito dos
processos locais na estruturação da comunidades zooplanctônicas (Goldenberg Vilar et al.
2014). Existem hipóteses que preveem que o aumento na alta produtividade dos
ecossistemas, contribuem para o aumento da dissimilaridade biológica entre os
ecossistemas numa escala regional. Segundo Chase e Leibold (2002), áreas com maior
produtividade apresentem uma maior oscilação dos do fatores ambientais (incluindo a
própria produtividade), além de apresentarem uma maior propensão para a variação
temporal da riqueza de espécies em escala local, que em conjunto, contribuem para o
aumento da dissimilaridade de espécies entre os ecossistemas inseridos em regiões de alta
produtividade. Como os nossos reservatórios são bastante eutrofizados, é possível que exista
uma alteração do conjunto de espécies correspondente à heterogeneidade ambiental
94
existente entre eles, e gere os padrões de DDS associados à fatores locais encontrados em
nosso estudo.
A associação entre os fatores locais e as comunidades zooplanctônicas é algo
comumente observado, já que esses organismos possuem taxas de substituição populacional
rápidas, e portanto, respondem de forma eficiente à eventuais variações no conjunto de
parâmetros físico-químicos da água (Bini et al. 2008, Santangelo et al. 2015). Segundo
Jenkins e Buikema (1998), devido ao grande potencial de dispersão dos organismos
zooplanctônicos, as comunidades são formadas rapidamente, e logo em seguida à
colonização, essas comunidades são regidas principalmente por fatores locais.
Nós esperávamos que as taxas de decaimento de similaridade pudessem variar entre
os grupos zooplanctônicos devido as diferenças morfofisiológicas dos organismos (Cohen
& Shurin 2003), de forma que que os copépodes teriam as taxas de decaimento mais
acentuadas, seguidos dos cladóceros, e por fim os rotíferos. Entretanto, talvez a semelhança
do habitat planctônico e forma de exploração do habitat entre copépodes, cladóceros e
rotíferos tenham superado às diferenças nas estratégias de dispersão dos organismos, e
consequentemente, pode ter contribuído para ausência de diferença das taxas de DDS entre
os grupos. O trabalho realizado por Wetzel e colaboradores (2012) encontrou diferenças
bastante significativas entre as taxas de DDS dentro em grupos de diatomáceas, no entanto,
os agrupamentos foram obtidos a partir da junção de espécies com hábitos de vida bastante
distintos (i.e. espécies planctônicas ou perifíticas) e as amostragens realizadas ao longo de
um gradiente de aproximadamente 800Km, o que pode ter contribuído para taxas de
decaimento distintas entre os grupos, já que as espécies planctônicas podem ser dispersadas
bem mais facilmente do que espécies vivem aderidas ao substrato.
Além dos resultados relativos às taxas de DDS gerados pelos coeficientes de
regressão, nós observamos que em todos os modelos de DDS os valores de similaridade
inicial (SI) foram baixos, ou seja, os grupos zooplanctônicos apresentaram alta diversidade
beta numa pequena escala espacial. Na meta-análise publicada por Soininen e
colaboradores (2007), os valores de similaridade de Sorensen inicial (SISOR) para
comunidades em ecossistemas aquáticos continentais era próximo de 0,6, e especificamente
para o zooplâncton em lagos da Finlândia, Soininen e colaboradores (2011) registraram
SISOR=0,577. Como nós utilizamos o índice de similaridade de Bray-Curtis em nosso
estudo, com fins comparativos nós calculamos a similaridade inicial através do índice de
95
Sorensen para o zooplâncton total e encontramos os seguintes resultados: todos os lagos
SISOR = 0,234; lagos naturais SISOR = 0,282; reservatórios SISOR = 0,301. Esses resultados
sugerem que as comunidades zooplanctônicas tropicais apresentam uma alta diversidade
beta, ou seja, alta substituição de espécies em escalas relativamente pequenas de distância
entre os ecossistemas lacustres. Segundo Wetzel e colaboradores (2012), a baixa
similaridade inicial registrada nos trópicos é decorrente da predominância de organismos
de tamanhos menores e altas taxas de substituição populacional, e portanto, com espectro
de distribuição mais específico frente às variações ambientais locais. Além disso, os valores
de similaridade inicial foram mais altos nos reservatórios, o que reforça que tempo
associado às condições locais contribuíram para as lagoas se tornarem habitats
estruturalmente mais complexos, capazes de agir como filtro na seleção de diferentes
espécies (McKindsey & Bourget 2001).
3.5 Conclusão
O decaimento da similaridade das comunidades zooplanctônicas lacustres em
escalas espaciais relativamente pequenas evidenciam o grande potencial de substituição de
espécies nas comunidades aquáticas tropicais, com as taxas de DDS variando entre os
principais grupos zooplanctônicos e com a idade/origem dos ecossistemas, sendo as taxas
de decaimento mais evidentes nos reservatórios. Além disso, diferente de nossa hipótese
inicial, dentro de cada conjunto de ecossistemas lacustres a variação na idade do ambiente
e da escala espacial do estudo não foram suficientes para interagir com as estratégias de vida
do diferentes grupos zooplanctônicos de forma a gerar diferenças nos padrões de DDS entre
estes grupos. As taxas de DDS não variaram de acordo com o potencial de dispersão dos
organismos, evidenciando que além da habilidade de dispersão per se, existem outros fatores
possivelmente relacionados ao hábito planctônico que fazem com não exista decaimento
mais rápidos nas taxas de DDS de um grupo, em detrimento de outro.
Referências
Allen, M. R. (2007). Measuring and modeling dispersal of adult zooplankton. Oecologia, 153(1),
96
135–43.
Angelim, L. A. A., Medeiros, V. C., & Nesi, J. R. (2006). Projeto Geologia e Recursos Minerais do
Estado do Rio Grande do Norte. Mapa geológico do Estado do Rio Grande do Norte. Escala
1:500.000. Programa Geologia Do Brasil (PGB). Recife: CPRM/FAPERN.
Astorga, A., Oksanen, J., Luoto, M., Soininen, J., Virtanen, R., & Muotka, T. (2012). Distance
decay of similarity in freshwater communities: do macro- and microorganisms follow the same
rules? Global Ecology and Biogeography, 21(3), 365–375.
Baas-Becking, L. (1934). Geobiologie; of inleiding tot de milieukunde. The Hague: Van Stockum and
Zoon.
Bahram, M., Koljalg, U., Courty, P., Diédhiou, A., Kjøller, R., Põlme, S., … Tedersoo, L. (2013).
The distance decay of similarity in communities of ectomycorrhizal fungi in different
ecosystems and scales. Journal of Ecology, 101(5), 1335–1344.
Baselga, A. (2010). Partitioning the turnover and nestedness components of beta diversity. Global
Ecology and Biogeography, 19, 134–143.
Beisner, B. E., Peres-Neto, P. R., Lindström, E. S., Barnett, A., & Longhi, M. L. (2006). The role
of environmental and spatial processes in structuring lake communities from bacteria to fish.
Ecology, 87(12), 2985–2991.
Bell, G. (2001). Neutral macroecology. Science (New York, N.Y.), 293(5539), 2413–8.
Bell, T., Ager, D., Song, J.-I., Newman, J. A., Thompson, I. P., Lilley, A. K., & van der Gast, C. J.
(2005). Larger islands house more bacterial taxa. Science (New York, N.Y.), 308(5730), 1884.
Bini, L. M., da Silva, L. C. F., Velho, L. F. M., Bonecker, C. C., & Lansac-Tôha, F. A. (2008).
Zooplankton assemblage concordance patterns in Brazilian reservoirs. Hydrobiologia, 598(1),
247–255.
Bohonak, A., & Jenkins, D. (2003). Ecological and evolutionary significance of dispersal by
freshwater invertebrates. Ecology Letters, 6, 783–796.
Bottrel, HH et al. 1976. A review of some problems in zooplankton production studies. Norw. J.
Zool. 24:419-456.
Cáceres, C. E. (1998). Interspecific variation in the abundance, production and emergence of
Daphnia diapausing eggs. Ecology, 79(5), 1699–1710.
Chase, J., & Leibold, M. (2002). Spatial scale dictates the productivity–biodiversity relationship.
Nature.
Cohen, G. M., & Shurin, J. B. (2003). Scale-dependence and mechanisms of dispersal in freshwater
zooplankton. Oikos, 103(3), 603–617.
DNOCS. (2015). Departamento Nacional de Obras Contra às Secas. Retrieved November 1, 2015,
from http://www.dnocs.gov.br/
97
Doi, H., Vander Zanden, M. J., & Hillebrand, H. (2012). Shorter food chain length in ancient
lakes: evidence from a global synthesis. PloS One, 7(6), e37856.
Dray, S., Pélissier, R., Couteron, P., Fortin, M.-J., Legendre, P., Peres-Neto, P. R., … Wagner, H. H.
(2012). Community ecology in the age of multivariate multiscale spatial analysis. Ecological
Monographs, 82(3), 257–275.
Elmoor-Loureiro, L. (1997). Manual de identificação de cladóceros límnicos do Brasil. Brasília, Distrito
Federal: Ed. Universitária.
Eskinazi-Sant’Anna, E. (2007). Composição da comunidade zooplanctônica em reservatórios
eutróficos do semi-árido do Rio Grande do Norte. Oecol. Bras., 11(3), 410–421.
Esteves, F. (2011). Gênese dos ecossistemas lacustres. In Fundamentos de Limnologia. (pp. 82–112).
Rio de Janeiro: Interciência.
Farjalla, V. F., Srivastava, D. S., Marino, N. A. C., Azevedo, F. D., Dib, V., Lopes, P. M., … Esteves,
F. A. (2012). Ecological determinism increases with organism size.
Fernández-Rosado, M. J., & Lucena, J. (2001). Space-time heterogeneities of the zooplankton
distribution in La Concepción reservoir (Istán, Málaga; Spain). Hydrobiologia, 455(1-3), 157–
170.
Fierer, N., & Jackson, R. B. (2006). The diversity and biogeography of soil bacterial communities.
Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America, 103(3), 626–31.
Figuerola, J., & Green, A. (2002). Dispersal of aquatic organisms by waterbirds: a review of past
research and priorities for future studies. Freshwater Biology, 47(3), 483–494.
Finlay, B. J. (2002). Global dispersal of free-living microbial eukaryote species. Science (New York,
N.Y.), 296(5570), 1061–3.
Foissner, W. (2006). Biogeography and dispersal of micro-organisms: a review emphasizing protists.
Acta Protozoologica, 45, 111–136.
Goldenberg Vilar, A., van Dam, H., van Loon, E. E., Vonk, J. A., van Der Geest, H. G., & Admiraal,
W. (2014). Eutrophication decreases distance decay of similarity in diatom communities.
Freshwater Biology, 59(7), 1522–1531.
Green, J., & Bohannan, B. J. M. (2006). Spatial scaling of microbial biodiversity. Trends in Ecology
& Evolution, 21(9), 501–7.
Green, J. L., Holmes, A. J., Westoby, M., Oliver, I., Briscoe, D., Dangerfield, M., … Beattie, A. J.
(2004). Spatial scaling of microbial eukaryote diversity. Nature, 432(7018), 747–50.
Hubbell, S. P. (2001). The Unified Neutral Theory of Biodiversity and Biogeography. Princeton, NJ:
Princeton University Press.
Jenkins, D. (1995). Dispersal-limited zooplankton distribution and community composition in new
ponds. Hydrobiologia, 313(1), 15–20.
98
Jenkins, D. G., & Buikema, A. L. (1998). Do similar communities develop in similar sites? A test
with zooplankton structure and function. Ecological Monographs, 68(3), 421–443.
Koste, W. (1978). Rotatoria. Die Rädertiere Mitteleuropas Ein Bestimmungswerk, begründet von Max Voigt
Überordnung Monogononta. (Gebrüder Borntraeger, Ed.)Verlag Gebrüder Bornträger. Stuttgart.
Legendre, P., Borcard, D., & Peres-Neto, P. (2005). Analyzing beta diversity: partitioning the spatial
variation of community composition data. Ecological Monographs, 74(4), 435–450.
Legendre, P., & Legendre, L. (2012). Numerical ecology: Third English edition (Vol. 24).
Maloney, K. O., & Munguia, P. (2011). Distance decay of similarity in temperate aquatic
communities: effects of environmental transition zones, distance measure, and life histories.
Ecography, 34(2), 287–295.
Manly, B. F. J. (1998). Randomization, bootstrapping and monte carlo methods in biology. (T. e F. Group,
Ed.) (3thd ed.). Boca Raton, FL: Champman and Hall.
Mantel, N. (1967). The Detection of Disease Clustering and a Generalized Regression Approach.
Cancer Research, 27(2 Part 1), 209–220. http://doi.org/10.1038/214637b0
Martiny, J. B. H., Bohannan, B. J. M., Brown, J. H., Colwell, R. K., Fuhrman, J. A., Green, J. L., …
Staley, J. T. (2006). Microbial biogeography: putting microorganisms on the map. Nature
Reviews. Microbiology, 4(2), 102–12.
Mazaris, A. D., Moustaka-Gouni, M., Michaloudi, E., & Bobori, D. C. (2010). Biogeographical
patterns of freshwater micro- and macroorganisms: a comparison between phytoplankton,
zooplankton and fish in the eastern Mediterranean. Journal of Biogeography, 37(7), 1341–1351.
McKindsey, C. W., & Bourget, E. (2001). Diversity of a northern rocky intertidal community: the
influence of body size and succession. Ecology, 82(12), 3462–3478.
Moss, B. R. (2009). Ecology of Fresh Waters: Man and Medium, Past to Future. John Wiley & Sons.
Nekola, J. C., & White, P. S. (1999). The distance decay of similarity in biogeography and ecology.
Journal of Biogeography, 26(4), 867–878.
Nekola, J., & White, P. (1999). The distance decay of similarity in biogeography and ecology. Journal
of Biogeography, 26, 867–878.
Oksanen, J., Blanchet, F., & Kindt, R. (2013). Package “vegan.” R Packag Retrieved from
http://watson.nci.nih.gov/cran_mirror/web/packages/vegan/vegan.pdf
Pianka, E. (2011). Evolutionary ecology. New York, NY: Harper & Rows.
Proctor, V. (1964). Viability of crustacean eggs recovered from ducks. Ecology, 45(3), 656–658.
Proctor, V., Malone, C., & DeVlaming, V. (1967). Dispersal of aquatic organisms: viability of
disseminules recovered from the intestinal tract of captive killdeer. Ecology, 48(4), 672–676.
Qian, H. (2009). Beta diversity in relation to dispersal ability for vascular plants in North America.
Global Ecology and Biogeography, 18(3), 327–332.
99
R Core Team. (2015). R: A language and environment for statistical computing. R Foundation for
Statistical Computing, Vienna, Austria. Retrieved from http://www.r-project.org/
Ramette, A., & Tiedje, J. M. (2007). Multiscale responses of microbial life to spatial distance and
environmental heterogeneity in a patchy ecosystem. Proceedings of the National Academy of
Sciences of the United States of America, 104(8), 2761–6.
Rosenzweig, M. (1995). Species diversity in space and time. Cambridge: Cambridge University Press.
Ruttner-Kolisko, A. 1974. Plankton Rotifers. Biology and Taxonomy. Die Binnengewasser. Suppl.
21:1-74.
Santangelo, J. M., Lopes, P. M., Nascimento, M. O., Fernandes, A. P. C., Bartole, S., Figueiredo-
Barros, M. P., … Bozelli, R. L. (2015). Community structure of resting egg banks and
concordance patterns between dormant and active zooplankters in tropical lakes.
Hydrobiologia, 758(1), 183–195.
Santos-Silva, E. dos. (2000). Revisão das espécies do“ complexo nordestinus”(Wright, 1935) de
Notodiaptomus Kiefer, 1936 (Copepoda: Calanoida: Diaptomidae). Universidade de São Paulo,
São Paulo.
Sarnelle, O., & Knapp, R. A. (2004). Zooplankton recovery after fish removal: Limitations of the
egg bank. Limnology and Oceanography, 49(4part2), 1382–1392.
Shurin, J. B., Cottenie, K., & Hillebrand, H. (2009). Spatial autocorrelation and dispersal
limitation in freshwater organisms. Oecologia, 159(1), 151–9.
Soininen, J., Korhonen, J. J., Karhu, J., & Vetterli, A. (2011). Disentangling the spatial patterns in
community composition of prokaryotic and eukaryotic lake plankton. Limnology and
Oceanography, 56(2), 508–520.
Soininen, J., Korhonen, J. J., & Luoto, M. (2013). Stochastic species distributions are driven by
organism size. Ecology, 94(3), 660–670.
Soininen, J., McDonald, R., & Hillebrand, H. (2007). The distance decay of similarity in ecological
communities. Ecography, 30(1), 3–12.
Sommaruga, R., & Casamayor, E. O. (2009). Bacterial “cosmopolitanism” and importance of local
environmental factors for community composition in remote high-altitude lakes. Freshwater
Biology, 55(5), 994–1005.
Tobler, W. (1970). A computer movie simulating urban growth in the Detroit region. Economic
Geography, 46(Supplement: Proceedings. International Geographical Union. Commission on
Quantitative Methods), 234–240.
Tuomisto, H., Ruokolainen, K., & Yli-Halla, M. (2003). Dispersal, environment, and floristic
variation of western Amazonian forests. Science (New York, N.Y.), 299(5604), 241–4.
Vital, H. (2006). Erosão e progradação do litoral brasileiro - Rio Grande do Norte. In Erosão e
100
progradação do litoral brasileiro. Brasília, Distrito Federal: Ministério do Meio Ambiente.
Wetzel, C. E., Bicudo, D. de C., Ector, L., Lobo, E. A., Soininen, J., Landeiro, V. L., & Bini, L. M.
(2012). Distance Decay of Similarity in Neotropical Diatom Communities. PLoS ONE, 7(9),
e45071.
Whitaker, R. J., Grogan, D. W., & Taylor, J. W. (2003). Geographic barriers isolate endemic
populations of hyperthermophilic archaea. Science (New York, N.Y.), 301(5635), 976–8.
Winsor, G. L., & Innes, D. J. (2002). Sexual reproduction in Daphnia pulex (Crustacea: Cladocera):
observations on male mating behaviour and avoidance of inbreeding. Freshwater Biology, 47(3),
441–450.
Wittaker, R. (1975). Communities and ecosystems. New York. New York, NY: MacMillan Publishing.
Zar, J. (2010). Biostatistical analysis. Pearson Education. Inc, New Jersey.
101
Figuras Figura 1 – Hipóteses relacionadas a taxa de decaimento de similaridade com o aumento da distância geográfica considerando os efeitos individuais e interativos da identidade (i.e. potencial de dispersão) dos grupos zooplanctônicos e da idade dos ecossistemas. Devido ao potencial de dispersão dos organismos zooplanctônicos, nós esperamos que as taxas de DDS sejam maiores para copépodes, cladóceros e rotíferos, respectivamente. Além disso, nós acreditamos que devido ao maior tempo de existência dos lagos naturais e ao grande potencial de dispersão dos organismos zooplanctônicos, as medidas de similaridade inicial para todos os grupos são maiores e as taxas de DDS menores nos lagos naturais comparados aos reservatórios. ................................................ 102
Figura 2 – Mapa do estado do Rio Grande do Norte apontando a localização dos 100 lagos amostrados. A faixa escura no mapa é considerada a região de transição entre a região de clima úmido (à direita) e a região de clima semiárido (à esquerda), mostrando a heterogeneidade climática da região. Os círculos representam as lagoas naturais (n=41), e os triângulos representam os reservatórios (n=59). ................................................................................................................... 102
Figura 3 – Decaimento da similaridade dos principais grupos zooplanctônicos (i.e. Copepoda, Cladocera e Rotifera) com o aumento da distância geográfica nos lagos naturais (n=41) e reservatórios (n=59). Nas tabelas inseridas nos gráficos constam os coeficientes da equeção de regressão do decaimento da similaridade com a distância. ......................................................... 103
102
Figura 1 – Hipóteses relacionadas a taxa de decaimento de similaridade com o aumento da distância geográfica considerando os efeitos individuais e interativos da identidade (i.e. potencial de dispersão) dos grupos zooplanctônicos e da idade dos ecossistemas. Devido ao potencial de dispersão dos organismos zooplanctônicos, nós esperamos que as taxas de DDS sejam maiores para copépodes, cladóceros e rotíferos, respectivamente. Além disso, nós acreditamos que devido ao maior tempo de existência dos lagos naturais e ao grande potencial de dispersão dos organismos zooplanctônicos, as medidas de similaridade inicial para todos os grupos são maiores e as taxas de DDS menores nos lagos naturais comparados aos reservatórios.
Figura 2 – Mapa do estado do Rio Grande do Norte apontando a localização dos 100 lagos amostrados. A faixa escura no mapa é considerada a região de transição entre a região de clima úmido (à direita) e a região de clima semiárido (à esquerda), mostrando a heterogeneidade climática da região. Os círculos representam as lagoas naturais (n=41), e os triângulos representam os reservatórios (n=59).
103
Figura 3 – Decaimento da similaridade dos principais grupos zooplanctônicos (i.e. Copepoda, Cladocera e Rotifera) com o aumento da distância geográfica nos lagos naturais (n=41) e reservatórios (n=59). Nas tabelas inseridas nos gráficos constam os coeficientes das equações de regressão do decaimento da similaridade com a distância.
104
Tabelas Tabela 1 – Estatística descritiva (média, desvio padrão, máximo e mínimo) da distância geográfica dos lagos naturais e reservatórios. ............................................................................................. 105
Tabela 2 – Estatística descritiva da variação geral das variáveis ambientais amostradas nos diferentes conjuntos de lagos (OD = oxigênio dissolvido; N = nitrogênio do séston; P = fósforo do séston, N = nitrogênio do séston; C = carbono do séston; Chla = clorofila a; Sec = transparência; Temp = temperatura). ................................................................................................................ 106
Tabela 3 - Riqueza de espécies em cada conjunto de lagos para os principais grupos zooplanctônicos lacustres. ......................................................................................................... 107
Tabela 4 – Análises de aleatorização de Monte Carlo entre os modelos de decaimentos de similaridade dos grupos zooplanctônicos nos diferentes conjuntos de lagos. .......................... 107
Tabela 5 – Mantel Parcial entre as matrizes ambiental e geográfica versus as matrizes de Bray-Curtis do zooplâncton total e os grupos zooplanctônicos nos diferentes conjuntos de lagos. . 108
105
Tabela 1 – Estatística descritiva (média, desvio padrão, máximo e mínimo) da distância geográfica dos lagos naturais e reservatórios.
Conjunto Distância Geográfica (km)
de Lagos Média Desvio Padrão Máximo Mínimo
Lagos naturais (n=41) 52 39 212 9,6
Reservatórios (n=59) 79 52 237 2,5
106
Tabela 2 – Estatística descritiva da variação geral das variáveis ambientais amostradas nos diferentes conjuntos de lagos (OD = oxigênio dissolvido; N = nitrogênio do séston; P = fósforo do séston, N = nitrogênio do séston; C = carbono do séston; Chla = clorofila a; Sec = transparência; Temp = temperatura).
OD N P C pH Chla Área Sec Temp C:P C:N N:P Chla:Sec
Todos os lagos (n=100)
Média 8,04 1,47 0,02 7,26 6,87 0,09 0,83 0,76 27,4 1640,70 5,00 410,94 1,03
Desvio 6,27 1,64 0,03 9,69 1,12 0,12 2,12 0,69 1,4 6680,34 3,01 1586,82 5,03
Máximo 66,19 8,88 0,16 58,83 9,78 0,63 14,48 2,75 30,6 62823,92 19,93 13089,64 42,37
Mínimo 0,58 0,12 0,03.10-2 0,44 4,79 0,33.10-2 0,01.10-2 0,01 23,6 28,54 0,83 20,13 0,02.10-2
Lagos naturais (n=41)
Média 8,36 0,81 0,01 3,28 6,20 0,02 1,01 1,14 27,6 1301,61 4,04 335,21 0,07
Desvio 9,49 0,87 0,02 4,77 1,00 0,06 2,68 0,74 1,3 3023,29 2,00 743,87 0,17
Máximo 66.19 4,26 0,07 28,33 9,19 0,39 14,48 2,75 30,3 13806,56 9,00 3695,86 0,97
Mínimo 0,58 0,12 0,03.10-2 0,44 4,79 0,03.10-2 0,01.10-2 0,10 25,0 28,55 0,83 20,12 0,02.10-2
Reservatórios (n=59)
Média 7,81 1,94 0,03 10,08 7,34 0,09 0,70 0,49 27,26 1880,40 5,69 464,46 1,71
Desvio 2,06 1,88 0,04 11,23 0,95 0,14 1,62 0,50 1,47 8376,85 3,41 1983,38 6,51
Máximo 14,25 8,88 0,16 58,83 9,78 0,63 8,07 2,5 30,63 62823,92 19,93 13089,64 42,37
Mínimo 2,98 0,12 0,03.10-2 1,09 4,81 0,35.10-2 0,01.10-2 0,01 23,62 71,47 1,23 22,65 0,24.10-2
107
Tabela 3 – Riqueza de espécies em cada conjunto de lagos para os principais grupos zooplanctônicos lacustres.
Conjunto de Lagos Rotifera Cladocera Copepoda
Todos os lagos (n=100) 111 47 30
Lagos naturais (n=41) 102 44 24
Reservatórios (n=59) 78 28 21
Tabela 4 – Análises de aleatorização de Monte Carlo entre os modelos de decaimentos de similaridade dos grupos zooplanctônicos nos diferentes conjuntos de lagos.
Conjunto de Lagos Diferença observada Pr
Todos os lagos
Copepoda vs. Cladocera 0.081 0.210
Copepoda vs. Rotifera 0.086 0.702
Rotifera vs. Cladocera 0.005 0.931
Lagos Naturais
Copepoda vs. Cladocera 0.013 0.935
Copepoda vs. Rotifera 0.027 0.847
Rotifera vs. Cladocera 0.014 0.924
Reservatórios
Copepoda vs. Cladocera 0.062 0.496
Copepoda vs. Rotifera 0.109 0.209
Rotifera vs. Cladocera 0.047 0.732
108
Tabela 5 – Mantel Parcial entre as matrizes ambiental e geográfica versus as matrizes de Bray-Curtis do zooplâncton total e os grupos zooplanctônicos nos diferentes conjuntos de lagos.
Copepoda Cladocera Rotifera
Todos os lagos
Ambiente isolado 0.179* 0.174* 0.178*
Distância geográfica isolada -0.032 0.056 0.057
Lagos Naturais
Ambiente isolado 0.058 0.059 0.055
Distância geográfica isolada 0.047 0.061 0.075
Reservatórios
Ambiente isolado 0.206* 0.317* 0.108**
Distância geográfica isolada 0.055 0.136** 0.163**
* p < 0.005; ** p < 0.05
109
Apêndice A
Espécies de copépodes e cladóceros identificadas nos 100 lagos amostrados (lagos naturais n=41,
reservatórios n=59) no estado do Rio Grande do Norte (Brasil) durante o mês de setembro de 2012.
110
Apêndice B
Espécies de rotíferos identificadas nos 100 lagos amostrados (lagos naturais n=41, reservatórios n=59) no
estado do Rio Grande do Norte (Brasil) durante o mês de setembro de 2012.
111
Apêndice C
Riquezas estimadas de espécies obtidas através de sete estimadores não-paramétricos de riqueza, a partir da
riqueza registrada em campo para o conjunto de todos os lagos (n=100) (SEST = riqueza estimada, DP =
desvio padrão, % SEST = percentual da riqueza amostrada em campo).
112
Apêndice D Riquezas estimadas de espécies obtidas através de sete estimadores não-paramétricos de riqueza, a partir da
riqueza registrada em campo para o conjunto dos lagos com macrófitas na região litorânea (n=80) (SEST =
riqueza estimada, DP = desvio padrão, % SEST = percentual da riqueza amostrada em campo).
113
Apêndice E Riquezas estimadas de espécies obtidas através de sete estimadores não-paramétricos de riqueza, a partir da
riqueza registrada em campo para o conjunto dos lagos sem macrófitas na região litorânea (n=20) (SEST =
riqueza estimada, DP = desvio padrão, % SEST = percentual da riqueza amostrada em campo).
114
Apêndice F
Decaimento da similaridade dos principais grupos zooplanctônicos (i.e. Copepoda, Cladocera e Rotifera)
com o aumento da distância geográfica nos lagos naturais (n=41) e reservatórios (n=59).
115