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ΤRUПERЅA trupe de tradução de teatro antigo Direção de tradução Tereza Virgínia Ribeiro Barbosa ORESTES O R E STE S de ευrιπιδες

Transcript of ORE STES E - atelie.com.br · poéticos utilizados pelo autor. A obra antiga, pelo exercício da...

  • R U E R Atrupe de traduo de teatro antigo

    Direo de traduo Tereza Virgnia Ribeiro Barbosa

    ORESTESOOROORRESTEORRESTEORERESTEESTESRESTESTESSSTESSSTESde r

    um clssico do teatro transpoetizado

    Fruto de laboratrios coletivos e

    experimentais de traduo, de lei-

    tura dramtica e encenao do tex-

    to, realizados por pesquisadores e

    artistas vinculados Universidade

    Federal de Minas Gerais (ufmg), o

    livro que ora se apresenta destina-se

    no apenas leitura, mas tambm

    encenao. Isso se deve ao fato de

    que o texto foi elaborado e testado

    por uma equipe transdisciplinar em

    relao sua fl uidez, adequao

    cena, dramaturgia e dramaticidade,

    procedimento este que gerou um

    resultado que prima principalmente

    pelas caractersticas mais caras ao

    texto teatral, que justamente a sua

    inteligibilidade, teatralidade e ence-

    nabilidade.

    A proposta de traduzir criativa-

    mente o texto teatral parte de um

    profundo conhecimento da obra

    em sua lngua original e do contex-

    to cultural da Grcia Antiga, com

    ateno especial aos signifi cados

    mltiplos, ironias e subterfgios

    poticos utilizados pelo autor. A

    obra antiga, pelo exerccio da trans-

    criao, se torna uma obra autno-

    ma, palpitante e viva, capaz de se

    relacionar intertextualmente com a

    tradio na qual ela se insere e tam-

    bm com o cenrio atual. Sinal disso

    que ao lermos o texto nos depara-

    mos inadvertidamente com versos

    resgatados de grandes expoen tes da

    msica popular como Aldir Blanc,

    Nei Lopes, Vincius de Moraes,

    Chico Buarque, Maysa, Emilinha

    Borba, Cartola, alm de versos que

    ressoam a voz de Guimares Rosa,

    Cames, Castro Alves e Bernardo

    Guimares, o que revela a capaci-

    dade do texto de Eurpedes de esta-

    belecer relaes intertemporais.

    A traduo resultado de um

    mtodo inovador que vem sendo

    utilizado com sucesso pela Tru-

    pe de Traduo de Teatro Antigo

    (Truersa). Muito mais do que uma simples traduo do texto grego

    para o portugus brasileiro, o re-

    sultado alcana um status artstico

    prprio, o que nos autoriza a classi-

    fi c-lo como uma verdadeira trans-

    poetizao, capaz de reatualizar o

    texto e reinser-lo na complexa rede

    cultural da contemporaneidade.

    Celina F. Lage

    Curadora e professora do

    Programa de Ps-Graduao em

    Artes da Universidade do Estado

    de Minas Gerais (ppg Artes/uemg).

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    Em seu Orestes, Eurpides recria o conjunto de desventuras que se seguem ao assassinato de Clitemnestra como vingana pela morte de Agammnon. Se nas Eumnides de squilo o foco est na perseguio das Ernias, que buscam expiao pelo delito de Orestes cometido contra a prpria me, aqui, Eurpides se volta para as consequncias sociais do crime: Orestes e sua irm Electra se encontram, em Argos, espera do julgamento da assembleia, que provavelmente os condenar morte. H, contudo, uma es-perana: depois de muitas difi culdades no retorno, Menelau fi nal-mente consegue voltar Grcia, podendo, assim, interceder em favor dos sobrinhos.

    Em meio aos delrios de Orestes, os planos de fuga de Elec-tra e as variadas mudanas de rumo da trama, Eurpides constri uma pea intrigante, que mais poderia ser chamada, diante de nossas concepes aristotlicas, de antitragdia, dedicada a trazer ambiguidade s solues dramticas de seus antecessores, que-brar expectativas e desconstruir convenes teatrais, levantan-do-nos uma srie de questes: seriam as Ernias ou a loucura a perseguir Orestes? Diante do tamanho de seus infortnios, conse-guem os personagens manter sua grandeza? O que est a dizer o mensageiro frgio, em seu relato? Ser razovel a interveno de Apolo? A incerteza que permeia a pea, encenada pela primeira vez em 408 a.C., encontra paralelos na sociedade ateniense de seu tempo que, imersa na fase fi nal da guerra do Peloponeso, estava fatigada e descrente de si mesma, espera de um deus ex machina que lhe salvasse.

    BERNARDO BRANDO

    ISBN 978-85-7480-766-9

    www.atelie.com.br

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    trupe de traduo de teatro antigo

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  • sumrio

    Nota Preliminar 1o Sinal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9

    Prefcio 2o Sinal Traduzindo e Fazendo Teatro Antigo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

    Apresentao de um Depoimento 3o Sinal Por uma Traduo Cnica de Orestes: Do Texto Mise en scne . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31

    / Orestes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41

    Truersa Apresenta a Radiotragdia em um S, Terrvel e Pavoroso Captulo: De Heri e de Louco todo Mundo tem um Pouco . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 213

    Ficha Tcnica de Orestes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 235

    Referncias Bibliogrficas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 237

  • nota preliminar 1o sinal

    com alegria que oferecemos a traduo da tragdia Orestes, de eurpides, concluso de mais uma etapa do projeto de pesqui-sa intitulado Processo Colaborativo de Traduo de Teatro Antigo no Brasil. este projeto desenvolvido com o apoio do Programa de Ps-Graduao em estudos Literrios da universidade Federal de Minas Gerais (Ps-Lit/ufmg) e est vinculado Fundao de am-paro Pesquisa do estado de Minas Gerais (Fapemig) e ao Conselho Nacional de Pesquisa (cnpq) e envolve alunos de graduao e ps--graduao, artistas e voluntrios na composio de um grupo que nomeamos trupe de traduo de teatro antigo (truersa).

    a iniciativa atende recomendao do Ministrio da educao e da Cultura de integrar os vrios nveis de pesquisa desenvolvidos na universidade (graduao e ps-graduao) ao ensino e populao em geral, trazendo para a investigao a contribuio da coletividade, que atua como espectadora, crtica e coparticipante da criao.

    Concluda a traduo, a exemplo do que aconteceu com as obras anteriores, Medeia, de Eurpides e Electra, de Eurpides, dedicamos nosso trabalho aos artistas brasileiros para que levem cena este teatro ateniense (e brasileiro!).

  • 10 orestes

    Os trabalhos que antecederam este Orestes, de Eurpides cons-tituem com ele uma coleo de obras da antiguidade Clssica. O conjunto tem por mrito no s aliar artistas, docentes e discentes da Faculdade de Letras e da escola de Belas artes da ufmg para pro-duzir uma verso do texto grego filologicamente defensvel e vivel para a cena, mas sobretudo levar para a populao brasileira, em grande escala (visto tratar-se de um texto de teatro para ser apresen-tado em praas e parques), um fruto de pesquisa da mesma institui-o. uma empreitada que realiza a vocao da universidade para a pesquisa, a extenso e o ensino, oferecendo aos brasileiros algo que lhes habitualmente inacessvel em matria de teatro antigo: um bem cultural simultaneamente palpvel na forma de livros e impalpvel na forma de espetculos teatrais.

    evidentemente, o trabalho no poderia ter sido realizado no fosse a atuao, apoio e colaborao dos colegas do Programa de Ps-Graduao em estudos Literrios da ufmg e, claro, dos colegas queridos do grego: Jacyntho, teodoro, Olimar e antonio,

    !

  • prefcio 2o sinaltraduzindo e fazendo

    teatro antigo

    Inaugurada na antiguidade, a tragdia foi um fazer da plis ate-niense, um instrumento eficaz de insero de todos na realidade da convivncia poltico-religiosa e na projeo de enfrentamentos dos problemas humanos. O teatro tico, por conseguinte, se moldou como um ensaio geral para a ao em tempo real e na vida prtica; tais textos, ademais, eram de fato eventos para todos, eles se conver-tiam em ao real.

    a tradio interpretativa que se estabeleceu 26 sculos depois distanciou-o, verdade, de sua funo. a arte dramtica dos gregos atenienses passou a ser observada como arte pela arte: um fim em si mesmo, um requinte de poucos, uma privilegiada formao de eruditos.

    acaso no necessrio conhecer este lugar o lugar do teatro antigo de enunciao? Que fazer com uma espcie de arte em ex-tino que no traz garantia de retorno prtico e imediato? Quem abraa essa vertente um escolhido, um predestinado que busca re-partir um objeto no vendvel, alimento de alma, e, em razo disso, quer torn-lo acessvel ao maior nmero de pessoas sem desmerec--lo. a matria efmera desse texto no se prope para atores que

  • 12 orestes

    venham a ser representantes vivos de autores mortos, a matria aqui palpitante se quer arte-educao com anelos de deleitar, provocar, instigar e enriquecer a todos que queiram dela se aproximar1.

    entendemos que, entre outras finalidades, a traduo existe para reverter gradualmente a situao de baixo acesso a determi-nados textos. em matria de traduo do grego para o portugus, muitos caminhos h. Ns estamos empenhados em percorrer aquele que transforma o texto traduzido em objeto vivido e refletido den-tro da coletividade brasileira contempornea. De nossa parte, vamos comentar, neste prefcio, uns poucos trechos da via trilhada na tra-duo do Orestes, de Eurpides pela truersa, trupe de traduo de teatro antigo.

    Durante o desenvolvimento da traduo, inspirados pela pesqui-sa de ariane Mnouchkine e pelo processo colaborativo de criao, erigimos dessa fonte grega euripidiana uma verso brasileira que se pautava pela horizontalidade nas relaes entre texto e espetculo. ao ver o produto traduzido encenado, percebemos que estivemos todo o tempo comprometidos, ainda que inconscientemente, com a teoria e a prtica de augusto Boal2 no Teatro do Oprimido (que, por sua vez, nos remete a Paulo Freire na Pedagogia do Oprimido).

    Dispensamo-nos de descrever o pensamento de Boal e de Frei-re; indicamos apenas que, no trabalho de traduo, nosso esforo se voltava para minimizar a distncia entre texto e leitor (focando um possvel espectador), exigindo do pblico um papel ativo, constru-tor de seu prprio conhecimento, fazendo-o capaz de compreender

    1. este pargrafo traz termos e ideias utilizados por Jocy de Oliveira no ensaio Demo-cratizar ou Popularizar?, p. 9.

    2. augusto Boal foi um homem de coletivos, um semeador de multiplicadores. ensi-nava aprendendo e aprendia ensinando, num constante processo de criao. alm de sua fundamental contribuio para a criao de uma dramaturgia genuinamente brasileira no teatro de arena de so Paulo, criou o teatro do Oprimido, que um dos mtodos teatrais mais praticados no mundo, presente em todos os continentes, atravs do trabalho de milhares de praticantes. equipe do centro de teatro do opri-mido, O centro de teatro do oprimido de augusto Boal, s.p.