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Métodos de Física Teórica II Prof. Henrique Boschi IF - UFRJ 1º. semestre de 2010 Aula 7 Ref. Butkov, cap. 9, seções 9.3 e 9.4

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Métodos de Física Teórica II Prof. Henrique Boschi

IF - UFRJ

1º. semestre de 2010

Aula 7

Ref. Butkov, cap. 9, seções 9.3 e 9.4

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O problema de Sturm-Liouville

• A separação de variáveis da equação de Helmholtz, em coordenadas cilíndricas ou esféricas, leva a equações do tipo

Essas equações são conhecidas como equa-ções de Sturm-Liouville, onde λ é uma cons-tante a ser determinada e as funções p(x),

s(x) e r(x) são conhecidas.

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A equação de Sturm-Liouville pode ser escrita em termos do operador

como ,

Propositalmente, deixamos o termo envolvendo λ fora do operador .

Esta equação pode ser pensada, então, como uma equação de autovalores para λ, e autofunções y(x). A função r(x) é chamada função peso, e nos casos mais simples r(x)=1.

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Esse operador é dito linear, graças à proprie-dade

análoga a outros operadores diferenciais.

Como nos casos estudados anteriormente, esperamos que as soluções (autofunções de ) formem um conjunto completo de funções ortonormais como as funções seno e cosseno, no caso das séries de Fourier.

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Para mostrar este resultado explicitamente, vamos considerar que a variável x está definida no intervalo (a,b), que pode ser conveniente-mente estendido ao infinito, se necessário.

• Vamos, então, considerar, duas autofunções quaisquer e , não triviais, cujos autovalores são e , então

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Vamos multiplicar a primeira equação por e a segunda por , subtrair as duas e então integrar entre a e b. O termo em s(x) se cancela. Já os termos com derivada podem ser reescritos fazendo uma integração por partes:

e uma equação análoga trocando por . A subtração dessas equações cancela as inte-grais contendo o produto .

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Assim, encontramos

• Note que o lado esquerdo desta equação con-tém fatores que vão a zero, caso sejam impostas condições de contorno. Sendo este o caso, en-contramos

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que é a condição de ortogonalidade das auto-funções correspondentes a diferentes autova-lores , levando em conta a função peso r(x).

Vamos, agora, supor que:

a) existe um número infinito de autofunções

b) as autofunções são todas ortogonais entre si

c) uma função f(x) pode ser representada pela série infinita

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Multiplicando ambos os lados desta expansão por , integrando entre a e b, e usando a ortogonalidade das autofunções, vemos que todos os termos se cancelam, exceto para aqueles nos quais n = m. Logo,

Com isso, determinamos o n-ésimo coeficiente da série

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Resta, agora, analisar as condições de contorno sobre as autofunções do operador de Sturm-Liouville.

• Para obter a ortogonalidade das autofunções, impusemos que

admitindo que essa expressão se anula devi-do às condições de contorno. Quais são essas condições?

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Existem várias possibilidades de satisfazer essa equação e portanto várias condições de contor-no possíveis. Vejamos:

a) As funções e se anulam em x=a

e x=b . Condição (homogênea) de Dirichlet.

b) As derivadas e se anulam em x=a e x=b. Condição (homogênea) de Neumann)

Esses são os casos mais comuns e que encon-traremos frequentemente no nosso curso.

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Outras condições de contorno possíveis

c) Uma combinação linear das funções e suas derivadas se anula em x=a e x=b, ou seja

onde α e β são constantes, ou seja fixas para todas as funções . Essas são as condições intermediárias (homogênas).

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Mais casos

d) Uma das condições anteriores para x = a e outra para x = b.

e) Condições mistas, isto é, misturam as condições sobre e/ou suas derivadasnos pontos x = a e x = b. O exemplo maissimples é:

desde quef) Outro caso é p(a)=0 e p(b)=0. Este caso ocorre na ED de Legendre.

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Operadores Autoadjuntos

• Vimos a pouco que o problema de Sturm-Liouville

onde o operador é definido como

pode ser escrito na forma

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• O procedimento usado na discussão da orto-gonalidade do operador de Sturm-Liouvillepode ser resumido como

Conforme nossa discussão anterior, o lado esquerdo desta equação pode ser reescrito como

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e portanto, se as funções satisfazem à alguma das condições de contorno, então elas são ortogonais e

• De fato, podemos repetir o argumento acima para quaisquer funções f(x) e g(x) que satisfaçam às condições de contorno, e portanto implicam na relação

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Como as funções f(x) e g(x) são quaisquer (exceto pela exigência das c.c.) podemos enten-der a equação

como uma condição sobre sobre o operador .

Assim, operadores que satisfazem essa relação são chamados de autoadjuntos.

Obs.: Essa discussão é válida para funções e operadores reais.

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No caso funções e operadores complexos, um operador é dito autoadjunto se

• Neste caso, a ortogonalidade das autofunções é escrita como

para r(x) real. Operadores autoaudjuntos com-plexos são também chamados de Hermitianos.

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Polinômios de Legendre

• Na discussão da separação de variáveis da e-quação de Helmholtz em coordenadas esféri-cas encontramos a ED de Legendre

As soluções para esta equação foram estudadas no curso de Métodos I, usando o método de séries de Frobenius.

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Vimos que as soluções são finitas entre x = +1 e x = -1 desde que

de modo a truncar a série num polinômio.

Os primeiros polinômios de Legendre são

onde escolhemos uma certa normalização, como mostraremos adiante.

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Vamos ver como aparecem esses polinômios associados à equação de Laplace na eletros-tática:

• Ao invés de começar pela solução de Frobe-nius, vamos partir da solução conhecida para o potencial de uma partícula carregada (na origem do sistema de coordenadas)

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Se, agora, deslocarmos a partícula por uma distância igual a 1, na direção do eixo z, temos

onde k é o unitário nessa direção.

Essa escolha é conveniente, por exemplo, para tratar de dipolos elétricos.

Vamos ver que essa solução nos levará diretamente aos polinômios de Legendre!

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Escrevendo essa solução em coordenadas esféricas temos que (mostrar diagrama vetorial)

que é independente da coordenada φ, devido à simetria azimutal do problema.

Vamos, agora, voltar à equação de Laplace, que em coordenadas esféricas é

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Note que o último termo desta equação se anula devido à simetria azimutal.

• Assim, separando a parte em θ desta equação, temos

que corresponde à equação de Legendre, cujas soluções são os polinômios de Legendre , já que

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Assim, a equação radial fica

que identificamos como a equação de Euler, cujas soluções são

e

Como queremos uma solução não singular em r = 0 (partícula fora da origem), vamos ficar somente com

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Logo, a solução para o potencial , pode ser escrita como

desde que r < 1, para que a série seja bem comportada.

Por outro lado, sabemos que o potencial para a partícula deslocada da origem no eixo z, é

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Naturalmente, essas duas expressões devem ser idênticas, para o problema em questão, ou seja

• onde fizemos