Livro Métodos Qualitativos de Pesquisa 15 Julho 2007

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Ω@Ω METODOLOGIAS QUALITATIVAS EM PESQUISA Organizador Carlos Alberto Gonçalves Palavras-chave: (a) História Oral, Historia de vida; Etnografia; Pesquisa-ação; Pesquisa-participante; Estudo de caso; Grounded Theory; Laddering; Incidental Critical Method; Análise de Protocolo; Kelly Method; Roda Viva; Júri Verdadeiro ou Simulado; Simbolismo Análises quali quanti Comparativas (b) Grupo de foco; Painel de Especialistas; Técnica Delphi; Júri Verdadeiro ou "Simulado"; Coleta direta e indireta; Painel de especialistas; Registros diretos indiretos; Filmagens, Fotos; Atividades sócio – técnicas; Recortes - Bricolagens Combinação de métodos (c)Hermenêutica; Maiêutica; Análise de conteúdo; Análise de discurso; Análise de signos; Categorizações

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Introdução a Métodos Qualitativos de Pesquisa

Transcript of Livro Métodos Qualitativos de Pesquisa 15 Julho 2007

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    METODOLOGIAS QUALITATIVAS EM PESQUISA

    Organizador Carlos Alberto Gonalves Palavras-chave: (a) Histria Oral, Historia de vida; Etnografia; Pesquisa-ao; Pesquisa-participante; Estudo de caso; Grounded Theory; Laddering; Incidental Critical Method; Anlise de Protocolo; Kelly Method; Roda Viva; Jri Verdadeiro ou Simulado; Simbolismo Anlises quali quanti Comparativas (b) Grupo de foco; Painel de Especialistas; Tcnica Delphi; Jri Verdadeiro ou "Simulado"; Coleta direta e indireta; Painel de especialistas; Registros diretos indiretos; Filmagens, Fotos; Atividades scio tcnicas; Recortes - Bricolagens Combinao de mtodos (c)Hermenutica; Maiutica; Anlise de contedo; Anlise de discurso; Anlise de signos; Categorizaes

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    Apresentao

    Dez anos depois, o discpulo encontrou o mestre e indagou, por que no me ensinou solues para essas situaes to complexas em que vivo. Na poca, voc no ouvia e nem via e, menos ainda, queria.

    H algum tempo pensamos em desenvolver um trabalho escrito que apresentasse vrios mtodos e tcnicas qualitativas abordados na literatura e acrescentasse outros considerados inovativos. Eram de fato trs grandes desafios ensinar o contexto epistmico para a escolha do meta mtodo, os conceitos dos mtodos e os processos de como fazer e aplicar. O texto deveria, na medida do possvel, se mais que um manual, deveria ter a trade de contexto, conceito e processos para que o leitor possa ver o mtodo de forma sistmica, em sentido, sua aplicao e desenvolvimento. Vimos que em alguns textos alcanamos essa idia e no geral os textos mostram conceitos e roteiros que orientam na elaborao de trabalhos de pesquisa em Cincias Sociais Aplicadas - CSA. A rea de metodologia de pesquisa em CSA tem as fronteiras abertas para contribuio em mtodos vindos de vrias reas do conhecimento. Administrar deve ter surgido deste que o homem comeou a adotar e sistematizar recursos para obteno de melhores resultados nos seus afazeres. No caso de administrao, por exemplo, dentro de CSA vista como cincia comea h pouco mais de cem anos. Mais que as outras reas da cincia, os mtodos de pesquisa qualitativa em CSA tem origem e influncias de autores nos domnios de conhecimento de sociologia, psicologia, antropologia, educao, filosofia, lingstica, comunicao, histria, dentre outros. Como nessas reas o conhecimento de metodologias tambm evolui, mesmo que de forma, gradual e considerando as variaes sociais implica em um grande esforo do metodlogo de CSA em buscar conhecimentos novos nessas reas. Buscar leituras adicionais em vrias reas e autores para identificar diferentes olhares e formas de abordagem dos fenmenos sociais com implicaes nos de natureza organizacional. medida que os problemas se tornam mais complexos, novas exigncias de mtodos e combinaes se tornam necessrias. Observa-se uma evoluo de mtodos anteriores, propostas de novos e uso de TI - Tecnologia de Informao, com softwares amigveis e complexos para apoio ao pesquisador. Por exemplo, os mtodos como Grounded Theory, uso de Redes Neurais, ampliao de aplicaes de Sistemas de Equaes Estruturais, ampliao de aplicativos como o SPSS e SAS, etc. Isso est to evidente que os cientistas sociais devem no somente acompanhar sua rea afim de pesquisa como tambm os novos processos de tratamento dos dados. A indagao desafiadora que s vezes apontada nos muros da academia a seguinte: ser que o pesquisador deve conhecer bem apenas um mtodo e suas formas de anlise em detalhes e canalizar todos os problemas de pesquisa para essa sua meta-mtodo? Cumpre-se o ditado para quem tem somente um martelo, tudo lhe parece um prego. Outro desafio cincia que pode ser debatido se mtodos diferentes podem solucionar ou explicar a mesma questo de pesquisa. Nas rodas acadmicas volta e meia v-se os pesquisadores discutindo no o problema de pesquisa, mas se os mtodos qualitativos so melhores que os quantitativos e vice-versa.

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    Atendendo ao critrio do mais simples, como aconselhou o monge Guilhermo de Occan, na escolha do mtodo prevalece aquele mais ajustado e mais econmico. Entendemos que o que dirige a escolha do mtodo a questo de pesquisa. Algumas questes podem ser mais bem resolvidas ou explicadas por um mtodo ou outro. Fica evidente que, ao longo da carreira de pesquisa seja de um professor ou de um profissional de pesquisa que colecione vrios mtodos e tenha experincia nos mesmos a introduo de um novo mtodo significa aprendizagem e risco e, portanto, encontra tambm resistncia de aplicao, demandando tempo para sua absoro pela academia. A escolha do mtodo ou a combinao de mtodos e tcnicas requer habilidade laboratorial do pesquisador. A deciso inicial passa que abordagem da escolha epistemolgica numa posio dicotmica que compreende abordagem mais fenomelgica e interpretativista ou um direcionamento positivista. A partir dessa escolha ele ainda se encontra diante de outros desafios. Se sua questo pesquisa estruturada ou no, a parcimnia e validade dos mtodos, o Rigor e Relevncia - RR que alcanara nas sua anlises e resultados. Para problemas estruturados h mtodos mais estruturados e para os no estruturados os mtodos, provavelmente, sero mais exploratrios, por exemplo, tentativa e erro, pesquisa scio tcnica e pesquisa ao dentre outras. Algumas pesquisas evocam mtodos combinados quali x quali ou quali quanti em qualquer ordem e combinadas vrias vezes. Tambm, um pesquisador criativo e inovador pode combinar e organizar mtodos a semelhana de um tcnico em laboratrio. Ele pode alcanar bons resultados de anlise e concluir coisas interessantes ao se sentir mais livre para combinar mtodos. No caso por exemplo de Administrao, bastante multidisciplinar e transdisciplinar, h uma interligao metodolgica pois o conhecimento transita e tem domnios conexos, informaes, processos e relaes entre vrias reas do saber. As metodologias enquanto conceito e processo no devem ser vistas como elementos estticos e podem evoluir, melhorar adotar novos formatos, se combinar, usar de apoio tecnolgico, se especializar. Somos incentivadores de que pesquisadores de parte a parte busquem tambm desenvolver novas metodologias e aplic-las de forma combinada, estruturada ou no, linear ou paralela, com parcimnia e, proceder sua validao. Esse trabalho foi resultado de esforos de alguns anos na disciplina de Metodologia de Pesquisa e foi possvel pelo empenho dos nossos autores e colaboradores nos vrios captulos dessa obra. Esse time constituiu realmente a equipe solidria e motivada para o trabalho. Carlos Alberto Gonalves

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    SUMRIO FALANDO DE MTODOS DE PESQUISA ......................................................................... 6

    PESQUISA CAUSAL: EXPERIMENTOS .......................................................................... 14

    KELLY MTODO: PERSONAL CONSTRUCT THEORY .................................................. 43

    O MTODO LADDERING: TEORIA E APLICAES ....................................................... 54

    ANLISE DE PROTOCOLO ............................................................................................. 79

    MTODO DELPHI ............................................................................................................. 82

    ANLISE DE CONTEDO E ANLISE DE DISCURSO EM CINCIAS SOCIAIS ......... 102

    CONCEPO DA PESQUISA EXPLORATRIA ........................................................... 121

    CONCEPO DA PESQUISA EXPLORATRIA ........................................................... 122

    GROUNDED THEORY .................................................................................................... 131

    O PROCESSO DIALTICO NA PESQUISA ................................................................... 137

    O MTODO DIALTICO ................................................................................................. 147

    TCNICAS PROJETIVAS ............................................................................................... 151

    RECURSOS VISUAIS COMO TCNICA DE PESQUISA ............................................... 158

    SURS: SUPORTE REFERENCIAL DE SUPERAO - DESAFIO DA PESQUISA ........ 184

    SIMBOLISMO NA PERSPECTIVA METODOLGICA: ESTUDOS APLICADOS

    NO MARKETING ............................................................................................................. 195

    RECURSOS VISUAIS COMO TCNICA DE PESQUISA ............................................... 210

    FATORES CRTICOS DE SUCESSO ............................................................................. 221

    EXPERIMENTOS E QUASE-EXPERIMENTOS: ANLISE QUALITATIVA .................... 225

    A ALTERNATIVA HEURSTICA QUALITATIVA E OS EXPERIMENTOS

    QUALITATIVOS .............................................................................................................. 233

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    FALANDO DE MTODOS DE PESQUISA Carlos Alberto Gonalves

    Ut queant laxis / Resonare fibris / Mira gestorum / Famuli tuorum / Solve poluti Labii reatum / Sancte Iohanne. Escala de Guido DArezzo. Sc XVIII.

    1- Introduo Inicialmente o pesquisador profissional deve formular uma questo semente para instig-lo ao processo de averiguaes. A questo passa pela sua crtica de relevncia, valor, fatores motivacionais, recursos tangveis e intangveis. Suponhamos que ao identificar essa tal questo que o motiva para investigao, nesse momento, pense na necessidade de viabilizar um mtodo que a possa verificar, explicar, descrever ou resolver. Nos mtodos ou processos combinados repousam a responsabilidade de soluo da questo. Se h brilhantismo na formulao da questo, no mtodo de soluo recai a segunda responsabilidade, a de comprovao e demonstrao e explicao. As questes de pesquisa, nas suas diferentes naturezas podem ser de natureza estruturada e no estruturada. A estruturada, pode-se dizer que, possuem um enunciado claro por meio de variveis e que se conhecem os processos de mensurao e anlise. As no estruturadas no se manifestam claramente e tambm no se conhece claramente e sequencialmente os mtodos de anlise. No tocante a sua apresentao as questes podem ser expressas por: (a) variveis de difcil mensurao ou ainda no conhecidas e definidas; (b) variveis manifestas ou construtos, bem conceituadas que podem ser apropriadas em base emprica na forma de mensurao direta ou indireta; (c) variveis para um processo dedutivo. s vezes a questo no est clara no seu enunciado, nas relaes entre as variveis e o pesquisador necessita tentar vrios enunciados, passar por fases de explorao e novas reflexes. Normalmente a natureza das questes dirige a escolha epistemolgica do pesquisador. Por exemplo, se o pesquisar est diante de um fenmeno que interessa analisar e esse ocorre com uma ou at cinco atores ou unidades de observao, a pesquisa transversal, o nmero de medies pequena, a mtrica qualitativa, fica sem sentido aplicaes estatsticas. Outro caso advm de questes primrias onde no existem teorias diretamente ligadas ao fenmeno. Nesse caso estamos diante de uma questo que no possui teoria de apoio e requer uma abordagem menos estruturada. Quer dizer que h fenmenos e questes deles derivados em que o pesquisador estar criando teorias novas. Vale ressaltar que so as questes que dirigem e antecedem as concepes dos mtodos possveis de abordagem para sua descrio, explicao ou prescrio e, se for o caso, identificao de relaes de causa e efeito. A escolha do mtodo de pesquisa pelo pesquisador se apia em suas habilidades, conhecimentos predominantes de processos, medies, capacidade de deduo, intuio, tica na pesquisa e risco de pensar e agir diferente. Felizmente h cientistas de vrios perfis e, essa diferenciao produz, em vrios momentos, solues diferenciadas que enriquecem o conhecimento cientfico.

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    H os que pensam que cada objeto, relao ou fenmeno deve ser visto e interpretado de maneira diferente por cada pessoa com elevada carga subjetiva. Nessa categoria dissemos que se figuram, predominantemente, os interpretativistas que vm a natureza subjetivista das relaes sociais que compem os fenmenos. As formas de ver, descrever, explicar e interpretar o fenmeno se pauta pela relaes e viso individualizada, particular, dos atores ou de suas relaes no coletivo. Assim a realidade objetiva inexiste absolutamente, cada qual v o mundo e suas manifestaes sua maneira subjetiva. Acreditam que essa a forma de fazer cincia no campo de cincias sociais aplicadas. H outra categoria de pensadores que advogam que as coisas e fenmenos para ser cincia devem ser percebidos e avaliados da mesma maneira e, todos esto "vendo" e interpretando os objetos e fenmenos da mesma forma. Pensam que h mensuraes objetivas que, naturalmente, so interpretadas da mesma maneira. Nessa categoria esto os positivistas. Essas duas formas de pensar e adotar mtodos cientficos ocupa regies opostas de um mundo dialtico da soluo dos problemas. De outro lado apesar desse campo dialtico criado entre esse plos de pensar e agir em nome da cincia, entendemos que pesquisador, a sua convenincia, pode se deixar contaminar por um paradigma epistemolgico, qual seja, pode se tentado a se auto chavear para o lado interpretativista ou para o lado positivista. Diz-se que isso uma escolha pois, nada impede, o pesquisador pode, diante certo fenmeno, v-lo segunda uma ou outra abordagem para fazer sua escolha. Assim no mundo dos positivistas o seu cientista ao medir e apresentar resultados est convencido que todos acreditam em sua forma nica de ver o fenmeno. Que consegue explic-lo de forma no ambgua e que todos que o medirem da mesma forma e em outras ocasies (Ceteris Paribus) constataro as mesmas coisas. Acreditam que os fenmenos sociais podem ser abordados da mesma forma como so tratados os das cincias naturais. Que o cientista consegue se independente do fenmeno e v-lo de forma completamente isento. Outro ponto que chama a ateno a abordagem qualitativa e a quantitativa na metodologia e suas combinaes para se alcanar um maior riqueza explicativa para o fenmeno. As duas abordagens tm sido ricamente combinadas por cientistas que as apreciam, sem preconceitos e adotam ambas em soluo de problemas. De um lado, as abordagens qualitativas so bastante teis em estudos de profundidade no sentido de aflorar indicadores ou variveis manifestas para estudos quantitativos posteriores. Os mtodos qualitativos so teis no aprofundamento das relaes das variveis e para apontar elementos de exceo nesses relacionamentos. Por outro os mtodos quantitativos, de forma mais objetiva, conseguem mensurar e mostrar o grau de intensidade de relaes entre variveis, algo difcil de explicitar com os recursos semnticos da abordagem qualitativa.

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    Filognese (filogenia): Ontognese (ontologias): Uma sequenciao de escolha de pesquisa (processo top-down design): (1) Determinao da questo objetiva; (2) Identificao do objeto da pesquisa e unidades de anlise componentes; (3) Estratgia de abordagem do fenmeno ou escolha epstemolgica: fenomenologia ou positivismo; (4) Abordagem mais qualitativa ou quantitativa (ou combinao de ambas); (5) Escolha de mtodos de pesquisa, das tcnicas de coleta de dados e das tcnicas de anlise e operaes (quadros 1, 2, 3).

    Caractersticas Subjetivismo Caractersticas Positivismo

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    O QUADRO 1 mostra uma relao de metodologias qualitativas para escolha do pesquisador em conformidade com a sua questo de pesquisa. Essa classificao j foi uma tentativa arriscada em razo de que os mtodos de forma recorrente, interativa, iterativa podem se intercalar quebrando essa viso de unicidade que s vezes desejamos ver para nosso conforto de entendimento. Ressalto que esse livro aborda vrias dos mtodos e tcnicas propostas mas algumas devero ser estudadas em referncias adicionais. QUADRO 1 Mtodos e tcnicas qualitativas para escolha do pesquisador

    Estratgia de Abordagem do Fenmeno: Interpretativista ou Positivista

    Mtodos de pesquisa (ou Macro Mtodos) A Tcnicas de coleta de dados - B

    Tcnicas de tratamento dos dados

    - C Histria Oral, Historia de vida Grupo de foco Hermenutica Etnologia e etnografia Painel de Especialistas Maiutica Pesquisa-ao Tcnica Delphi Anlise de contedo Pesquisa-participante Jri Verdadeiro ou "Simulado" Anlise de discurso Estudo de caso Entrevista direta, indiretas, narrativas Anlise de signos Grounded Theory Coleta e observao direta e indireta Categorizaes Incidental Critical Method Painel de especialistas Figuras de Linguagem Anlise de Protocolo Registros diretos e indiretos Kelly Method Filmagens, Fotos Laddering Atividades scio tcnica Roda Viva Recortes Bricolagens Jri Verdadeiro ou Simulado Mensuraes por equipamentos Simbolismo Tentativa e erro Modelos de Neurocincia Combinao de mtodos Anlises Comparativas (ex. anatomia comparada) Dialtica Neuromtrica Fatorao - categorizaes

    A cincia nos exemplifica, em vrios momentos, que a fuga do senso comum ou da aparente lgica dominante, a ruptura de paradigmas j estabelecidos leva a descobertas interessantes. Vrias descobertas foram atribudas a acidentalidade com conhecimento (em Ingls: Serendipity o fato de achar coisas teis ou agradveis por casualidade).

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    QUADRO 2 - Natureza, mtodos genricos adotados e as tcnicas de anlise. Macro Enfoque Mtodos de Pesquisa Tcnicas e

    Processos de Coleta

    de Dados

    Tcnicas de anlise de dados

    FENOMENOLOGIA ESTUDO EXPLORATRIO (= Diagnstico)

    Exploratrio: estudo preliminar

    Pesquisa Bibliogrfica; Prospeco atravs de questionamentos iniciais.

    QUALI / QUANTI

    Survey's: Pesquisa de amostra - significativa envolvendo atividades de campo. Minerao ao acaso: datamining Funcional: uso de dados secundrios; Experimentos

    Pesquisa direta em campo; Coleta via: Correios, Internet;

    Predominantemente Quantitativa (QUANTI) Mtodo que adota uma mtrica numrica. Modelagens Determinsticas; Anlises Estocsticas: Descritivas, Univariadas e multivariadas: Regresso Linear Mltipla, Anlise Conjunta, Correlao Cannica, Equaes Estruturais, Anlise Discriminante, Cluster Anlises e outras. Pode ocorrer aplicado em caso nico, Multicaso Admite fases Qualitativas

    Questo de pesquisa Caso(s): nico ou

    multicasos, Pesquisa-Ao Observao Participante Etnografia histria oral Histria de Vida Pesquisa de Opinio Painel de especialistas Tcnica Delphi Jri Simulado Entrevista direta Coleta indireta Painel de especialistas Observao Direta e indireta Roda Viva

    Entrevistas em profundidade Tipos de Grupo de foco: Grupo de foco propriamente dito; Painis de especialistas; Tcnica Delphi; Jri; Debates / Roda viva Descrio histrica

    Predominantemente Qualitativa (QUALI): mtodo que adota uma mtrica de significados semnticos e ou processuais. Unidades Hemenuticas e analises de: 1- Anlise de contedo 2- Anlise de discurso 3- Anlise de signos Dialtica

    QUADRO 6 Quadro explicativo dos vrios mtodos.

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    O QUADRO 6 mostra uma classificao segundo os momentos de escolha do pesquisador dos grandes mtodos que atende sua estratgia de pesquisa de seus desdobramentos em nfase qualitativas ou quantitativas de anlise. A nfase QUALITATIVA: compreende a abordagem Fenomelgica; subjetivismo e intersubjetivismo. Efetua-se observaes sem prvio estabelecimento, os direcionamentos ocorrem durante as interaes com os eventos. Se estrutura na anlise da linguagem, rituais, expresses e signos seus aliados nas anlises. Na nfase QUANTITATIVA: Compreende-se uma viso mais Positivista. Efetua-se por medies objetivas estabelecidas ex-ante e anlises ext-post. Tem a matemtica como aliada analtica. Histria Oral, Historia de vida Etnologia e etnografia Pesquisa-ao Pesquisa-participante Estudo de caso Grounded Theory Incidental Critical Method Anlise de Protocolo Kelly Method Laddering Roda Viva Jri Verdadeiro ou Simulado Simbolismo Modelos de Neurocincia Anlises Comparativas (ex. anatomia comparada) QUADRO 3 - Grandes escolhas de mtodos de abordagem da pesquisa Quanto Natureza de Dados e Anlise Grandes escolhas de mtodos de abordagem da pesquisa

    Viso e abordagem mais QUALITATIVA Viso e abordagem mais QUANTITATIVA

    Tipo de Estudo Mtodo

    Histria Oral, Historia de vida Etnologia e etnografia Pesquisa-ao Pesquisa-participante Estudo de caso Grounded Theory Incidental Critical Method Anlise de Protocolo Kelly Method Laddering Roda Viva Jri Verdadeiro ou Simulado Simbolismo Modelos de Neurocincia

    Survey Experimentos Minerao ao acaso

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    Anlises Comparativas (ex. anatomia comparada)

    Desenho / Temporalidade

    Transversal Longitudinal

    Transversal Longitudinal

    Coleta de dados Pesquisa bibliogrfica Pesquisa documental Entrevista no-estruturada Entrevista estruturada Entrevista Semi-estruturada Entrevista Declarada objetiva Entrevista No-declarada Tcnicas projetivas Focus group Painel de Especialistas Tcnicas Delphi Jri (simulado) Anlise de Protocolos

    Roteiro para entrevista pessoal Questionrio (correio) Questionrio (eletrnico) Simulao

    Tratamento / anlise de dados

    Anlise do contedo Anlise de discurso Anlise dos significados dos Smbolos, Signos, Expresses e Rituais Figuras de linguagens

    Estatstica descritiva univariada Estatstica multivariada Matemtica determinstica Inteligncia Computacional Expert Systems Redes Neurais Lgica Fuzzy Modelos Hbridos

    4. Processos operacionais 5. Um roteiro para pesquisa

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    Fonte: adaptado de: Churchill (1979) p.66.

    FIGURA 1- Desenho Metodolgico da Pesquisa

    FASE DESCRITIVA

    1-CLARIFICAO DO FENMENO INVES-

    TIGADO

    2-DEFINIO DA POPULAO/ AMOS-

    TRA DA PESQUISA

    4-ELABORAO DO QUESTIONRIO

    3-IDENTIFICAO DE VARIVEIS DE

    MENSURAO

    5-PR-TESTE DO QUESTIONRIO

    6-COLETA DOS DA-DOS ATRAVS DO

    QUESTIONRIO

    8-APRESENTAO DOS RESULTADOS

    7-ANLISE ESTATS-TICA DOS DADOS

    FASE EXPLORATRIA

    TCNICAS QUALITATIVAS:

    Reviso da literatura Metodologia de estudos

    anteriores Entrevistas pessoais Anlise de contedo

    TCNICAS QUANTITATIVAS:

    Entrevistas pessoais Auto-aplicao do questi-

    onrio pela internet Coeficiente Alfa Estatsticas descritivas Anlise Fatorial

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    PESQUISA CAUSAL: EXPERIMENTOS Flavia Luciane Scherer Simone Regina Didonet PESQUISA CAUSAL A pesquisa causal, como o prprio nome diz, aplicada em estudos onde a relao de causa e efeito evidente ou pelo menos quando o que se procura descobri-la. A opo por pesquisa causal adequada nas situaes em que o objetivo identificar a causa do efeito estudado e tambm em situaes nas quais necessrio saber que tipo de relao existe entre o efeito e a causa que o gerou, isto , qual a natureza desta relao. Obviamente, tal opo ser real somente aps a definio do problema de pesquisa, pois ele que conduzir a escolha do mtodo. Por exemplo, se o assunto que se deseja pesquisar algo sobre o qual se tem pouco ou nenhum conhecimento, a pesquisa indicada a do tipo exploratrio. Ao contrrio da pesquisa exploratria, que permite a descoberta de idias e dados, a pesquisa causal assim como a descritiva conclusiva, situao na qual as concluses giram em torno de inferncias sobre o que provocou o qu e de que maneira isso ocorreu. A proposta deste trabalho discutir os aspectos da pesquisa causal e o mtodo do qual ela se utiliza.

    1. Conceito de Causalidade

    Inicialmente, pode-se perguntar: como possvel ter segurana e garantir confiabilidade ao inferir que o efeito y causado por x, sem que se tenha testado as variveis causadoras de tal efeito? Mas, que variveis so estas e o que significa test-las? Tomando as variveis x e y, pode-se induzir que h uma relao causal entre ambas. Por exemplo, pode-se supor que o aumento de produtividade (y) decorrente da mudana de lay-out no cho da fbrica (x). Assim, teramos uma varivel dependente o aumento da produtividade e uma independente a mudana de lay-out, e esta ltima seria a causa da primeira. Constata-se, ento, uma causalidade, que Malhotra (2001, p.208) conceitua como a situao onde ... a ocorrncia de x aumenta a probabilidade da ocorrncia de y. Para inferir causalidade, normalmente utilizam-se os experimentos que, no exemplo, poderiam consistir em um arranjo do seqenciamento do processo produtivo diferente do original, o que implicaria em montar um processo adicional ao existente, e compar-los em termos de ganho de produtividade. Logicamente, haveria um aumento substancial dos custos, mas seria uma forma de verificar se h relao de dependncia entre as variveis ou no. Embora parea aparentemente simples determinar as relaes entre duas ou mais variveis, preciso atentar para o fato de que os efeitos podem ser causados por mltiplas variveis e muitas delas podem no ser conhecidas ou no ser consideradas inicialmente, o que poder limitar os resultados ou mesmo levar a concluses errneas.

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    Nesse sentido, Malhotra (2001) coloca percepes diferentes do conceito de causalidade: o significado comum e o significado cientfico. O Quadro 1, a seguir, retrata esta distino. QUADRO 1: Comparativo entre significados comum e cientfico nas relaes de causalidade

    SIGNIFICADO COMUM SIGNIFICADO CIENTFICO X a causa de Y. Ex: O treinamento dado aos vendedores (x) a nica causa do aumento das vendas (y).

    X uma das causas provveis de Y. Ex: O treinamento dado aos vendedores (X) uma das possveis causas do aumento das vendas (Y).

    X determinstico de Y. Ex: O treinamento dados aos vendedores (X) deve sempre levar ao aumento das vendas (Y).

    X probabilstico de Y. Ex: o treinamento dos vendedores (X) provavelmente aumenta as vendas (Y).

    Pode-se provar que X causa Y. Ex: o treinamento dos vendedores (X) causa o aumento das vendas (Y).

    Pode-se supor que X causa Y. Ex: o treinamento dos vendedores (X) uma causa do aumento das vendas (Y).

    Adaptado de Malhotra (2001).

    A anlise do quadro acima permite perceber a tendncia natural, no senso comum, de fazer concluses precisas. J no meio cientfico, impossvel afirmar de maneira categrica uma relao nica existente entre X e Y. O que se pode fazer apresentar os resultados como provveis - a partir do controle das variveis que possam interferir na relao - dizendo que, se y ocorrer, provavelmente a causa ser x. Conforme Mattar (1994, p.103), o cientista assim procede por que tem conscincia da impossibilidade de provar. Para facilitar a tarefa de inferir uma relao causal, h alguns critrios que devem ser satisfeitos e que auxiliam o pesquisador na eliminao de variveis que no tm relao de causa e efeito entre si. So eles: (1) variao concomitante; (2) ordem cronolgica de ocorrncia das variveis; (3) ausncia de outros fatores causais possveis. (Malhotra, 2001; Mattar, 1994). Variao Concomitante: diz-se que h uma variao concomitante quando a causa (x) e o efeito (y) ocorrerem em conjunto - de maneira simultnea -, como pressupe a hiptese do estudo. Por exemplo, na hiptese de que a quantidade de rugas na face das pessoas aumenta conforme a idade, isto , quanto mais velha for a pessoa, maior ser a quantidade de rugas no rosto, est-se supondo que o aumento da causa x a idade gera o aumento do efeito y as rugas. A variao concomitante pode indicar embora no possa concluir uma causalidade, j que evidente a relao entre as variveis. No entanto, h situaes em que esta evidncia inicial no existe e mesmo assim ocorre uma causao. Retomando o exemplo anterior, possvel a existncia de outras variveis, como a hereditariedade, o stress, etc, que podem causar o aumento progressivo de rugas na face. Assim, o critrio da variao concomitante no pode, por si s, determinar que h uma causalidade. No entanto, pode indicar quais variveis no se inter-relacionam. (Mattar, 1994; Malhotra, 2001).

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    Ordem Cronolgica de Ocorrncia de Variveis: nesse caso, a ocorrncia de causalidade est condicionada ao fato de que um evento s poder ser causa de outro se ele ocorrer antes ou simultaneamente ao efeito gerado. Embora isto seja bvio, podem ocorrer situaes em que cada evento no seja somente a causa, mas tambm um efeito, como numa reao em cadeia, o que pode dificultar o entendimento do que causa o qu. Ausncia de Outros Fatores Causais Possveis: esse o terceiro critrio que deve ser satisfeito para que seja possvel induzir uma relao causal entre duas variveis. A ausncia pressupe a eliminao de outros fatores que possam ser causadores do efeito estudado, ou seja, h a necessidade de isolar as outras variveis com potencial de interferir no efeito (Mattar, 1994). De maneira simples, significa eliminar todas as causas possveis, menos uma, a qual ser inferida como a causa do efeito. Para isso, utiliza-se a experimentao. Como afirmado anteriormente, impossvel provar com total certeza que os resultados obtidos na pesquisa causal so totalmente confiveis. O que se pode fazer aproxim-los ao mximo disso. Assim, a adoo desses trs critrios servir como uma base aceitvel para garantir maior confiabilidade dos resultados. o que Malhotra (2001) chama de papel da evidncia, isto , busca-se uma evidncia forte e consistente da causalidade, que a funo dos experimentos, realizados pela tcnica da experimentao. Atravs da experimentao possvel testar a varivel dependente, ou seja, submet-la a tratamentos diferentes e medir o efeito destes tratamentos sobre ela. Os tratamentos consistem na manipulao das variveis independentes que foram identificadas inicialmente como sendo as possveis causadoras do (s) efeito (s). Para isso necessrio selecionar uma amostra homognea - aleatria ou no -, isolar um membro ou um grupo de membros, que sero o grupo de controle, e submeter os demais a tratamentos diferenciados alterando, por exemplo, os nveis das variveis independentes.

    Essa tcnica ser discutida detalhadamente mais adiante. 2. Termos-Chave da Experimentao

    Antes de discutir mais aprofundadamente a experimentao, necessrio esclarecer alguns termos essenciais para facilitar o entendimento. Os termos e suas respectivas definies so apresentados a seguir, conforme Malhotra (2001) e Mattar (1994). Experimento: consiste na manipulao de uma ou mais variveis independentes e na mensurao de seu(s) efeito(s) sobre uma ou mais variveis dependentes, controlando ao mesmo tempo as variveis estranhas. (Malhotra, 2001).

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    Variveis Independentes: como o prprio nome diz, so aquelas variveis que no dependem de outras para acontecer. So elas as possveis causas que sero manipuladas para determinar a relao de causalidade. Por exemplo, supondo a hiptese de que os funcionrios se motivam com um aumento de salrio, a varivel independente seria o aumento de salrio. Obviamente, outras variveis que tm relao com a motivao, como por exemplo melhorias no ambiente fsico de trabalho, treinamento, etc, tero que ser manipuladas para se chegar concluso dos efeitos que elas causam e para verificar se h relao ou no com a hiptese do estudo. Variveis Dependentes: so as variveis que sofrem os efeitos causados pelas variveis independentes. O resultado desses efeitos o que interessa ao pesquisador medir e que o levar a constatar com maior confiana se h ou no uma relao de causa e efeito no objeto de estudo. Variveis Estranhas: so todas aquelas variveis no consideradas que podem ter influncia sobre a varivel independente e mascarar os resultados, levando a concluses/associaes errneas. Sendo assim, crucial que elas recebam um tratamento que possa minimiz-las ao mximo. Posteriormente estes aspectos sero discutidos mais detalhadamente. Unidades de Teste: so as entidades, os indivduos, as organizaes nas quais os tratamentos so aplicados e as quais recebem os efeitos. So os ratos de laboratrio.

    Grupo Experimental: o grupo de ratos que ser exposto ao tratamento. Grupo de Controle: o grupo que no ser submetido ao tratamento e que servir como parmetro de comparao para as medies. Projeto Experimental: o estudo em si, que envolve a definio de uma hiptese que estabelea relao de causa e efeito entre duas ou mais variveis; a determinao da(s) varivel(eis) independente(s) e dependente(s); a determinao da unidade de teste; a determinao dos procedimentos para tratar as variveis estranhas. Validade Interna do Experimento: a validade est relacionada aceitao dos resultados do experimento como confiveis. Internamente, significa a existncia de condies mnimas que possibilitem a inferncia relao causal. Nesse sentido, a unidade de teste selecionada deve ser homognea, preciso isolar/minimizar as variveis estranhas, etc. Supondo que dois grupos de obesos sejam submetidos a experimentos para verificar os efeitos da ingesto de alimentos light na diminuio de peso durante trs anos. Os indivduos precisam estar dentro da mesma faixa de peso, estar em iguais condies fsicas, devem ser submetidos a tratamentos iguais com exceo do grupo de controle e qualquer varivel que possa mascarar os resultados. Por exemplo, a idade dos indivduos, j que as variaes de peso podem ser decorrentes da idade em que o indivduo se encontra. Nesse caso em especfico, a influncia da idade aplica-se caso o experimento seja de longa durao.

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    Validade Externa do Experimento: refere-se amplitude das generalizaes que podero ser feitas para a populao de onde foi selecionada a unidade de teste. At que ponto possvel admitir que os resultados obtidos no experimento possam ser aplicados populao, considerando o contexto em que ela est inserida, suas caractersticas, as variveis dependentes e independentes, etc. De acordo com Mattar (1994) e Malhotra (2001), o ideal seria que ambas as validades fossem satisfeitas pelo mesmo experimento, mas isto praticamente impossvel, pois o refinamento do experimento teria que ser total. A seguir so apresentados os tipos de variveis estranhas e como elas podem ser controladas para minimizar os seus efeitos nos experimentos, garantindo maiores validades interna e externa.

    3. Tipos de Variveis Estranhas

    Como mencionado anteriormente, as variveis estranhas podem afetar os resultados dos experimentos e, conseqentemente, sua validade. No exemplo da experimentao para verificar o resultado da ingesto de alimentos light na diminuio de peso de indivduos obesos, vimos que a idade deles pode interferir nos resultados, constituindo-se assim em uma varivel estranha que precisa ser controlada. Este o caso de uma varivel estranha do tipo maturao. Alm desta, h ainda as variveis histria, efeito-teste, instrumentao, regresso estatstica, tendenciosidade ou vis de seleo, e mortalidade das unidades de teste. Maturao: refere-se s mudanas que ocorrem nas unidades de teste durante o tempo do experimento. (Mattar, 1994). Aspectos como posio social, estado civil, idade, etc, podem influenciar os resultados, pois podem mudar ao longo do tempo, como no exemplo do teste de alimentos lights na diminuio de peso dos obesos. Histria: so eventos especficos que ocorrem simultaneamente ao experimento embora externamente a ele e que podem afetar a varivel dependente. Como por exemplo, na verificao de causa e efeito entre a participao de uma fbrica de mveis em uma feira e suas vendas durante os 12 meses seguintes, possveis mudanas na economia. Como incentivos exportao e reduo da taxa de juros podem incrementar as vendas e no somente a participao da empresa na feira. Significa que uma varivel que no foi considerada inicialmente est interferindo nos resultados. O que poderia ser feito seria reduzir o tempo de durao do experimento como uma forma de controlar esta varivel. Conforme Mattar (1994), quanto maior for o tempo de durao e os intervalos das medies, mais suscetvel s influncias da histria a varivel dependente ficar. Efeito-Teste: refere-se s interferncias sobre a varivel dependente, decorrentes de medies tomadas antes que ela tenha sido exposta ao experimento. Na verdade, todo experimento realizado com pessoas est suscetvel a esse efeito. Quando medies so feitas antes do tratamento ser aplicado, a tendncia as pessoas entrarem no jogo do pesquisador e no agirem naturalmente durante o teste. Elas podem ter um comportamento do tipo sorria, voc est sendo filmado e conduzir a constataes errneas ou distantes do verdadeiro. Esse o caso do Efeito-Teste Principal, quando a primeira medio realizada afeta a segunda. (Mattar, 1994).

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    A outra situao do Efeito-Teste que pode ocorrer quando uma medio anterior ao teste afeta a varivel independente. Nesse caso, as unidades de teste ficam mais interessadas e curiosas a respeito do objeto da pesquisa e podem apresentar reaes que comprometam os resultados. Por exemplo, elas passam a se interessar pela marca que est sendo testada, a buscar mais informaes, etc, e podero modificar sua opinio a respeito dela. Esses efeitos so chamados Efeitos Interativos de Teste (Malhotra, 2001) e influenciam a validade externa do experimento, pois as generalizaes podem se tornar errneas em funo das interferncias. Tanto quanto os Efeitos Interativos de Teste prejudicam a validade externa, os Efeitos Principais de Teste afetam a validade interna, j que o comportamento dos indivduos poder distorcer, ou melhor, reduzir sensivelmente a confiabilidade dos resultados do experimento. Instrumentao: est relacionada com as alteraes nos instrumentos utilizados na medio das variveis (Mattar, 1994). Podem ser consideradas aqui as variaes de preo dos produtos que esto sendo testados, variaes da moeda (mudana de marco alemo para euro, por exemplo) entre outros. Caso o experimento tenha uma durao maior e envolva estes instrumentos, um comparativo entre dois perodos, por exemplo, ficaria prejudicado. Regresso Estatstica: ocorre quando as unidades de teste que apresentam valores extremos se mantm prximas do escore mdio no decorrer do experimento. (Malhotra, 2001). Considerando que as atitudes das pessoas variam continuamente, os indivduos com atitudes destoantes da maioria podem aproximar-se da mdia com o tempo. O efeito desta varivel reside no fato de que essa aproximao da mdia pode ser atribuda ao tratamento estatstico dos dados e no ao tratamento dado s variveis durante o experimento. Tendenciosidade ou Vis de Seleo: relaciona-se atribuio inadequada das unidades de teste s condies de tratamento (Malhotra, 2001; Mattar, 1994). Isso pode ocorrer quando h seleo das unidades de teste com base no julgamento do pesquisador, por exemplo. Nessas situaes, caractersticas importantes podem ser destoantes entre os membros do grupo e isso pode prejudicar os resultados. Mortalidade: diz respeito perda de unidades de teste durante o perodo do experimento. (Malhotra, 2001). Apesar do nome se referir morte propriamente dita, a mortalidade tambm pode ocorrer quando h desistncia ou recusa das unidades de teste em continuarem o experimento. Isso pode confundir os resultados, pois no h como saber como seria a reao dos desistentes caso continuassem no experimento, considerando que eles j estavam includos e haviam se submetido parte dos testes. A mortalidade e as demais variveis estranhas aqui citadas no so excludentes entre si (Malhotra, 2001), podendo ocorrer interaes entre elas ao longo do experimento ou mesmo conjuntamente. A minimizao dos seus efeitos possvel atravs de um bom projeto de experimento. (Mattar, 1994). A seguir so citadas algumas maneiras de controlar seus efeitos.

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    3.1 Controle de Variveis Estranhas Malhotra (2001) separa as formas de controle das variveis estranhas em: aleatorizao; emparelhamento; controle estatstico; controle de planejamento. Aleatorizao: significa atribuir ou selecionar aletoriamente as unidades de teste e tambm atribuir as condies de tratamento de maneira aleatria a estes grupos. Por exemplo, os indivduos definidos para o experimento so reunidos aleatoriamente nos grupos experimentais. A cada grupo atribuda uma das formas de tratamento disponveis - que devem ser no mesmo nmero dos grupos (trs grupos, trs formas de tratamento, por exemplo) -, escolhida de maneira aleatria. Dessa forma, est-se aceitando que as variveis estranhas podem ser representadas igualmente em cada condio de tratamento, j que os grupos estaro suscetveis a elas de maneira uniforme, a considerar pela aleatoriedade atribuda aos mesmos. Malhotra (2001) destaca que essa prtica pode no ser eficaz quando o tamanho da amostra pequeno, pois nesse caso os grupos tendero a ser iguais, na mdia. Emparelhamento: consiste em comparar as unidades de teste em um conjunto de variveis fundamentais e gerais antes de atribuir-lhes o tratamento. Seria o caso de, por exemplo, comparar indivduos em termos de idade e grau de instruo, formando grupos homogneos em relao a estas caractersticas mais gerais e, aps, aplicar-lhes o tratamento, o que teoricamente eliminaria as variveis estranhas que fossem comuns ao grupo. Malhotra (2001) destaca como desvantagens desta prtica o fato de que os indivduos podem ser comparados em relao a poucas caractersticas que podem ser semelhantes s variveis selecionadas (idade e grau de instruo, no exemplo), mas diferentes das outras; e tambm o fato de que as caractersticas comparadas possam ser irrelevantes para a varivel dependente, o que torna as comparaes inteis. Controle Estatstico: envolve a utilizao de mtodos estatsticos para medir e ajustar os efeitos das variveis estranhas, como medidas de associao entre variveis e anlise de covarincia. Dessa forma, os efeitos da varivel estranha so removidos mediante um ajuste do valor mdio da varivel dependente dentro da condio de tratamento. (Malhotra, 2001). Controle de Planejamento: significa a utilizao de experimentos planejados para controlar variveis estranhas especficas (Malhotra, 2001). Em outras palavras, o controle de planejamento diz respeito ao projeto adequado do experimento que controla o efeito de certas variveis estranhas. Como o caso do teste eletrnico de distribuio controlada de novos produtos citado por Malhotra (2001), o qual permite o controle de vrios fatores estranhos que podem afetar o desempenho de um novo produto e manipula a varivel de interesse. Com o teste eletrnico possvel, por exemplo, garantir que o produto esteja localizado no mesmo local em cada estabelecimento. uma forma de monitoramento contnuo e instantneo do experimento, o que no permite a interferncia de algumas variveis estranhas.

    4. Simbologia Utilizada em Experimentos:

    Para facilitar a compreenso dos vrios tipos de experimentos existentes, costuma-se apresent-los sob forma esquemtica ou simblica, a qual tem o seguinte significado:

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    Smbolo Significado

    X Representa que um grupo experimental recebeu algum tratamento, cujo efeito pretende-se determinar atravs do estudo.

    On Representa a observao realizada na unidade de teste, atravs de n medidas da varivel dependente.

    R

    Significa que os indivduos foram distribudos nos grupos atravs de processos aleatrios (randmicos) ou probabilsticos e que a casualizao tambm foi utilizada para determinar os grupos experimental e de controle.

    Adaptado de Mattar (1994).

    Os smbolos so apresentados em linhas, cada qual representando um mesmo grupo ou unidade de teste. Experimentos que utilizam mais de um grupo devem alinhar os smbolos verticalmente, considerando os perodos de tempo, de forma que smbolos em uma mesma vertical representam um mesmo espao de tempo. Classificao de Estudos Experimentais Para Malhotra (2001), os estudos experimentais podem ser de quatro tipos, conforme evidencia a figura abaixo: Mattar (1996) e Selltiz et al. (1987) preferem classificar os experimentos em dois grupos: projetos ou delineamentos experimentais e quase-experimentais. Selltiz et al. (1987) faz meno aos pr-experimentos, mas os trata como formas equvocas de fazer cincia. Considerando a proposta de classificao de Malhotra (2001), vejamos em que consistem tais experimentos:

    5.1 Estudos Pr-Experimentais:

    Caracterizam-se pela ausncia de processos de aleatorizao, os quais so fundamentais para o controle de variveis estranhas. Segundo Selltiz et al. (1987, p.36), delineamentos pr-experimentais so exemplos de como no fazer pesquisa. Para Malhotra (2001), estes estudos podem ser de trs tipos: a) Estudo de caso one-shot (Apenas depois sem grupo de controle): Neste estudo, apenas um grupo de unidades de teste exposto a um tratamento (X) e, em seguida, feita uma medio (O). Pode ser representado simbolicamente por:

    Estudos experimentais

    Pr-experimentais Experimentais Verdadeiros

    Quase- experimen-tais

    Estatsticos

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    X O1

    Este tipo de estudo possui muitos pontos fracos, pois no permite que sejam feitas comparaes entre os comportamentos observados ps-tratamento e pr-tratamento. Alm disso, a ausncia de processo aleatrio na constituio da unidade de teste potencializa a ocorrncia de variveis estranhas como histria, maturao, vis de seleo e mortalidade.

    b) Estudo pr-teste/ps-teste de um grupo (Antes-depois sem grupo

    de controle): Este estudo pode ser representado por: O1 X O2

    Neste estudo, feita uma medida inicial (O1) e uma segunda medida (O2), aps a aplicao do tratamento (X). Em princpio, O2 - O1 evidencia o efeito observado com a exposio do grupo ao tratamento. No entanto, o efeito observado pode ser resultante da presena de variveis estranhas que no foram controladas o que compromete seriamente a validade interna do experimento.

    Consideremos este exemplo: realizado um experimento para avaliar o efeito de reunies com o pessoal de RH sobre a opinio dos funcionrios a respeito da rea. Inicialmente, feita uma medio das opinies do grupo escolhido (O1) para, a seguir, aplicar o tratamento (X) ao grupo. O tratamento corresponde reunio entre o grupo e o pessoal de RH. Aps, o grupo submetido nova medio (O2), a qual comparada primeira. A diferena (O2 - O1) poderia demonstrar o efeito da reunio sobre a opinio do grupo perante a rea de RH. No entanto, esta concluso frgil, j que o grupo pode ter sido influenciado por variveis estranhas como histria, maturao e efeitos de teste, as quais no so adequadamente controladas neste tipo de experimento.

    c) Estudo de Grupo Esttico (Apenas depois com um grupo de

    controle): A representao esquemtica deste estudo : Grupo experimental: X O1 Grupo de controle: O2

    Neste estudo, h a presena de um grupo de controle, cuja medio (O2) serve como parmetro de comparao entre ambos grupos. A ausncia de aleatorizao leva presena de variveis estranhas (seleo e mortalidade), tornando frgeis as concluses obtidas.

    5.2 Estudos Experimentais Verdadeiros:

    Para Malhotra (2001) estes estudos distinguem-se dos demais pelo fato de o pesquisador utilizar-se de processos aleatrios na seleo de unidades de teste e tratamentos aplicados. Podem ser de trs tipos:

    a) Estudo de grupo de controle somente ps-teste (Apenas

    depois com um grupo de controle): A representao simblica deste projeto :

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    Grupo experimental: R X O1 Grupo de controle: R O2 Neste estudo, apenas uma das unidades de teste exposta ao tratamento. A constituio dos grupos e a escolha de qual ser o grupo experimental e o grupo de controle so feitas atravs de processos aleatrios (R), eliminando o vis de seleo. Aps o tratamento (X), so feitas medies em ambos os grupos.

    A ausncia de pr-testes garante a no ocorrncia de problemas com o efeito-teste. Por outro lado, a ausncia de medidas antes do tratamento faz com que exista a dvida sobre se os grupos eram efetivamente idnticos em relao varivel dependente, antes da exposio ao tratamento.

    Para o exemplo do treinamento aplicado equipe de telemarketing, tambm poderia ser utilizada esta forma de experimento. Seriam escolhidos aleatoriamente -, dois grupos de profissionais e seriam ensinadas novas abordagens ao cliente (X) para apenas um deles. A medio posterior ao tratamento (X) evidenciaria o efeito no desempenho da equipe treinada, em comparao ao grupo de controle. A fraqueza do experimento reside na ausncia de informaes sobre quo idnticas eram as duas equipes de telemarketing, antes do treinamento aplicado.

    b)Estudos de grupos de controle pr-teste/ps-teste (Antes-depois

    com grupo de controle): Neste estudo os sujeitos so distribudos aleatoriamente para o grupo de controle ou para o grupo de tratamento experimental e so feitas medidas pr e ps-testes em ambos os grupos. A representao simblica :

    Grupo experimental: R O1 X O2 Grupo de controle: R O3 O4

    Pressupem-se neste estudo que todas as variveis estranhas agem igualmente sobre os dois grupos, e a nica diferena entre eles que o grupo experimental exposto ao tratamento. Por haver uma medio pr-teste, pode ocorrer a sensibilizao dos sujeitos para os objetivos do experimento e enviesar sua medio no ps-teste.

    Se o pr-teste afetar os grupos de forma diferenciada, isto causar diferenas nos escores ps-teste, no permitindo identificar, separadamente, o efeito do tratamento aplicado. Se o pr-teste afet-los de modo semelhante, pode-se considerar mais exatos os resultados observados.

    Consideremos o seguinte exemplo: realizado um experimento para avaliar a eficcia do treinamento no desempenho de uma equipe de telemarketing. Separam-se, aleatoriamente, os dois grupos (experimental e de controle). Realizam-se medies iniciais sobre os nveis de desempenho, em ambos os grupos (O1 e O3). O grupo experimental submetido a um treinamento (X) e nenhum tratamento aplicado ao grupo de controle. So realizadas novas medies (O2 e O4), que permitem comparaes com as medies iniciais (O2 O1 e O4 - O3). Os resultados demonstram o efeito do tratamento aplicado, caso o pr-teste no tenha sensibilizado os sujeitos para os objetivos do experimento.

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    c) Estudo de Quatro Grupos de Solomon (Antes-depois com dois

    grupos de controle e dois grupos experimentais): Neste projeto, pode-se controlar o impacto das variveis estranhas e do efeito-teste interativo. A representao esquemtica deste estudo :

    Grupo experimental 1: R O1 X O2 Grupo de controle 1: R O3 O4 Grupo experimental 2: R X O5 Grupo de controle 2: R O6

    Apesar de demorado e caro, este tipo de experimento oferece importantes vantagens: no-interferncia de efeitos de pr-teste, maior preciso advinda das mensuraes de pr-teste, permite ao pesquisador observar se a combinao do pr-teste e do tratamento produz um efeito diferente do que seria esperado se fossem mensurados, isoladamente, os efeitos do pr-teste e do tratamento.

    5.3 Estudos quase-experimentais:

    So os estudos que usam procedimentos dos experimentos verdadeiros, mas no h controle sobre a exposio ao tratamento e sobre a aleatorizao das unidades de teste. Nestes estudos, no h a distribuio aleatria dos sujeitos que recebero o tratamento ou daqueles considerados como grupo de controle. Por suas caractersticas, quase-experimentos so utilizados nas situaes em que o pesquisador no pode realizar experimentos verdadeiros. Para Malhotra (2001), so dois os tipos principais de quase-experimentos:

    a) Estudo de Sries Temporais: Este estudo implica na realizao de uma srie de mensuraes peridicas da varivel dependente para o grupo estudado. A idia central est em fazer vrias medidas antes do tratamento e vrias medidas depois. A representao simblica deste estudo :

    O1 O2 O3 O4 O5 X O6 O7 O8 O9 O10

    Este projeto considerado um quase-experimento, pois no foi utilizado processo de aleatorizao e o pesquisador no tem controle sobre quem foi efetivamente exposto ao tratamento, nem o quanto foi exposto.

    O elevado nmero de medies antes e depois do tratamento possibilita um controle ao menos parcial de diversas variveis estranhas como maturao, efeito-teste principal, instrumentao, regresso estatstica. A principal fraqueza deste estudo est na impossibilidade de controlar a histria. Outro ponto fraco est na impossibilidade de controlar o efeito-teste interativo.

    b) Estudo de Sries Temporais Mltiplas: Este estudo difere do

    anterior pela existncia de um grupo de controle e representado simbolicamente por:

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    Grupo experimental:

    O1 O2 O3 O4 O5 X O6 O7 O8 O9 O10

    Grupo de controle: O11 O12 O13 O14 O15 O16 O17 O18 O19 O20

    Neste tipo, o pesquisador pode ter maior certeza nos resultados do efeito ps-tratamento, caso seja conseguido um grupo de controle equivalente ao grupo experimental. Como fraqueza principal, tem-se a possibilidade de ocorrer o efeito-teste interativo.

    5.4 Estudos Estatsticos:

    Nestes estudos, so realizados simultaneamente diversos experimentos bsicos, possibilitando controle estatstico e anlise de variveis externas. Conforme Malhotra (2001), so mais usuais os seguintes tipos:

    Estudo em Blocos Aleatorizados: Estes estudos so teis quando h apenas uma varivel externa principal que pode influenciar a varivel dependente. Como exemplo, pode-se supor que o grau de instruo dos sujeitos influencia a avaliao a respeito de determinado programa de televiso. Na montagem dos grupos experimental e de controle, o pesquisador pode formar blocos aleatorizados, cada um composto por sujeitos com equivalente grau de instruo (como alto, mdio e baixo, por exemplo). Estes blocos podem ser mais teis ao experimento do que a utilizao de grupos totalmente aleatorizados, constitudos por sorteio e que desconsiderem as diferenas de instruo existentes no grupo estudado.

    Nos blocos aleatorizados, o pesquisador tem a limitao de controlar apenas uma varivel externa, como renda ou classe scio-econmica, por exemplo. Estudo em Quadrados Latinos: um tipo de estudo no qual h o controle de duas variveis externas no interagentes e manipulao da varivel independente. Como exemplo, tem-se a situao em que o pesquisador deseje conhecer o efeito de determinada propaganda sobre a inteno de compra de um produto. Poderia-se considerar que sexo e classe scio-econmica fossem duas variveis externas que no interagem, mas que podem interferir na percepo da propaganda em estudo. Assim, os grupos seriam separados por sexo e classe e seriam submetidos, separadamente, propaganda e medio de seus efeitos posteriores.

    Dessa forma, o pesquisador tenta garantir que a varivel dependente (inteno de compra) seja estudada sem sofrer as interferncias de duas variveis externas, cujos efeitos so considerados crticos na avaliao e, portanto, devem ser controlados.

    c) Estudo Fatorial: Serve para mensurar os efeitos de duas ou mais variveis independentes em vrios nveis, permitindo interaes entre variveis. Identifica-se interao quando o efeito simultneo de duas ou mais variveis diferente da soma dos seus efeitos isolados.

    representado simbolicamente por: R X Y O1 R X O2

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    R Y O3 R O4

    Exemplo: a avaliao de um caf frio ocorreria pela interao entre o gosto pelo caf e o gosto pela temperatura fria. No entanto, o fato de gostar de caf e gostar de temperatura fria, no significa gostar de caf frio. Nesse caso, o estudo fatorial ir analisar se h relao entre gostar de caf, gostar de temperatura fria e gostar de caf frio.

    5. Experimentos de Laboratrio e de Campo:

    Os experimentos podem ser conduzidos em um ambiente artificial (laboratrio), construdo pelo pesquisador, ou no ambiente real de ocorrncia do fenmeno (campo). Ambos experimentos apresentam pontos fortes e fracos - os quais devem ser avaliados pelo pesquisador -, a fim de que possa optar pelo tipo que seja mais adequado aos seus objetivos.

    Conforme Malhotra (2001), os experimentos de campo e de laboratrio diferem em relao a diversos fatores, sumarizados no quadro a seguir:

    Artefatos de demanda podem ser entendidos como a possibilidade de os sujeitos tentarem adivinhar qual o propsito do experimento e passarem a agir de acordo com o comportamento que julgam ser o mais adequado ao objetivo do estudo.

    7. Limitaes da Experimentao

    A utilizao de experimentos incorre em algumas limitaes as quais, para Malhotra (2001), so trs:

    Tempo: Os experimentos podem ser muito demorados, principalmente nas

    situaes em que o pesquisador busca a compreenso, a longo prazo, dos efeitos do tratamento aplicado.

    Custo: Em geral, os experimentos so dispendiosos, principalmente se forem feitas diversas medies, com dois ou mais grupos.

    Tipo de Experimento Fatores

    Laboratrio Campo

    Ambiente Artificial Real Controle Alto Baixo Erro de Reao Alto Baixo Artefatos de Demanda * Alto Baixo Validade Interna Alta Baixa Validade Externa Baixa Alta Tempo de durao Curto Longo Facilidade de implementao Alta Baixa Custo Baixo Alto

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    Administrao: Os experimentos so de difcil administrao, com destaque para aqueles que so realizados num ambiente de campo situao em que se torna mais difcil o controle das variveis estranhas.

    Para Selltiz et al. (1987), a principal crtica aos experimentos que eles so representaes pobres de processos naturais, o que menos provvel que ocorra em experimentos de campo. Bibliografia CHURCHILL, Gilbert A. Jr. Marketing research: methodological foundations. Illinois : Driden Press, 1979.

    MALHOTRA, Naresh. Pesquisa de marketing: uma orientao aplicada. 3 ed. Porto Alegre : Bookman, 2001.

    MATTAR, Fauze Najib. Pesquisa de marketing: metodologia, planejamento, execuo, anlise. v. 1. So Paulo : Atlas, 1994.

    SELLTIZ, Claire et al. Mtodos de pesquisa nas relaes sociais. 2. ed. v.1. So Paulo: EPU, 1987.

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    A ABORDAGEM QUALITATIVA Maria Nivalda de Carvalho Freitas Simone Costa Nunes Vrios mtodos so abordados dentro da gide da pesquisa qualitativa como o Mtodo Dialtico e as seguintes tcnicas de pesquisa: Pesquisa ao, Pesquisa-Participante, Histria Oral, Estudo de Caso e Histria de Vida que sero abordados a seguir. Antes de mais nada, porm, faz-se necessrio distinguir mtodo de tcnica de pesquisa. O mtodo pode ser entendido como o caminho a ser percorrido quando possumos determinado objetivo. Segundo Gil (1999) os mtodos que proporcionam as bases lgicas de investigao so: o dedutivo, o indutivo, o hipottico-dedutivo, o dialtico e o fenomenolgico. Cada um deles vinculado a correntes filosficas especficas que se propem a explicar como o conhecimento da realidade se processa. As tcnicas so os meios ou instrumentos utilizados para obter, processar e garantir a validade dos dados referentes investigao. Cientistas que partilham da abordagem qualitativa geralmente se recusam a admitir que as cincias humanas e sociais devam ser conduzidas pelo paradigma das cincias da natureza e que sejam legitimados os seus conhecimentos por processos quantificveis que se transformem, via tcnicas de mensurao, em leis e explicaes gerais (Chizzotti, 1991) O mtodo ou abordagem qualitativa difere do quantitativo por no empregar dados estatsticos como centro do processo de anlise de um problema, ou seja, o mtodo qualitativo no tem como pretenso numerar ou medir unidades ou categorias homogneas. De acordo com Oliveira (2002), muitos autores no fazem a distino entre esses dois mtodos uma vez que a pesquisa quantitativa tambm qualitativa. Nesse sentido, para Goode & Hatt (1968) no existe importncia com relao preciso das medidas, uma vez que o que medido continua a ser uma qualidade. No obstante o ponto de vista de Goode & Hatt, Oliveira (2002) afirma que se torna necessrio verificar de que maneira se pretende analisar um determinado fenmeno, ou seja, o enfoque que dever ser adotado que na realidade exigir do pesquisador uma metodologia quantitativa ou qualitativa. Para Yin (2001, p.33) o contraste entre evidncias quantitativas e qualitativas no diferencia as vrias estratgias de pesquisa e cada uma delas experimento, levantamento, pesquisa histrica etc representa uma maneira diferente de se coletar e analisar provas empricas, seguindo uma lgica prpria. Yin (2001) afirma ainda que cada estratgia tem suas vantagens e desvantagens e cada uma delas pode ser utilizada por trs propsitos exploratrio, descritivo ou explanatrio. De acordo com Oliveira (2002), alguns pesquisadores transformam dados qualitativos em quantitativos empregando como parmetro critrios, categorias, escalas de atitudes ou ainda, identificando com que intensidade, ou grau, um determinado conceito, uma opinio, um comportamento se manifesta.

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    Na opinio de diversos cientistas sociais, conforme citado por Oliveira (2002), existem situaes que envolvem conotaes qualitativas em pelo menos trs aspectos: aquelas em que fica evidente a necessidade de substituio de uma simples informao estatstica por dados qualitativos como, por exemplo, na investigao sobre fatos do passado ou em estudos sobre grupos cuja informao disponvel escassa; casos em que observaes qualitativas so usadas como indicativos do funcionamento de estruturas sociais; aquelas situaes em que importante o uso de uma abordagem qualitativa para a compreenso de aspectos psicolgicos, cujos dados no podem ser coletados de modo completo por meio de outros mtodos tendo em vista a complexidade que a pesquisa envolve estudos dirigidos anlise de atitudes, motivaes, expectativas, valores, opinio etc. A pesquisa qualitativa privilegia determinadas tcnicas que coadjuvam a descoberta de fenmenos latentes, a exemplo da observao participante, pesquisa-ao, estudo de caso, histria de vida, anlise de contedo, entrevista no-diretiva, dentre outras. O MTODO DIALTICO O termo dialtica de origem grega e significa por de lado, escolher, joeirar e conversar. Exprime tambm a idia de discorrer, a arte de discutir. Segundo Pires (1997), a dialtica inicia-se com Scrates ao introduzir o dilogo (maiutica) como tcnica de aquisio da verdade. Para Plato, a dialtica a arte de pensar retamente (disciplina suprema na conquista da verdade) e fundamenta a retrica, a arte de falar para que esta no se reduza tcnica sofstica para ludibriar o antagonista (p. 1.392). Nesta perspectiva a dialtica compreendida como uma estratgia do raciocnio, da argumentao dialogada. Hegel subverte esse conceito de dialtica e o desloca do domnio do raciocnio em si para o do ser (ontologia). Na interpretao hegeliana, o processo histrico e a formao da conscincia so processos que se caracterizam pelo movimento e pela transformao, caractersticos da dialtica, e tem por base o plano das idias e representaes, do saber e da cultura. Para ele o conhecimento s possvel atravs das idias (conscincia), que buscam fugir da aparncia da empiria. Toda conscincia conscincia de seu tempo (Marcondes, 2002). Hegel inclui a contradio como constitutiva do processo de conhecimento. Em seu livro A Fenomenologia1 do Esprito, Hegel (1974, p.56) define a cincia como cincia da experincia da conscincia. Para ele, o saber absoluto mediatizado pelas formas do seu aparecer que se encadeiam dialeticamente na experincia da conscincia (em-si; ser-para-ela desse em si).

    1 Segundo Morujo (1997), Fenomenologia, etimologicamente, significa cincia ou teo-ria dos fenmenos e, com essa significao, podemos dizer que a Fenomenologia uma disciplina praticamente ilimitada. Toda filosofia poder considerar-se fenomenologia des-de que o seu desenvolvimento se processe conforme a etimologia, isto , seja doutrina das aparncias ou fenmenos (p. 488). Contudo, as primeiras manifestaes da Fenomenolo-gia como um novo mtodo de investigao da conscincia ocorreram entre psiclogos e psiquiatras, tendo como seus expoentes Husserl, Heidegger e Jaspers, entre outros. Esse mtodo parte do pressuposto da intencionalidade da conscincia. Tudo o que est intenci-onalmente presente na conscincia denominado como fenmeno e uma significao para a conscincia. O conjunto das significaes o que a fenomenologia denomina mundo. As principais caractersticas do mtodo fenomenolgico so: ser absolutamen-te sem pressupostos; fundar-se na essncia dos fenmenos e na subjetividade transcenden-

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    Marx critica o idealismo de Hegel, pois afirma que este no levou em conta as bases materiais da sociedade em que o saber e a cultura so produzidos e nas quais a conscincia individual formada. Marx rejeita o sistema de Hegel, mas conserva o mtodo (dialtico). Tendo o mtodo dialtico como base lgica de seu pensamento, Marx concebe o homem como produto e produtor da histria. Alm disso, define histria como ruptura e no como evoluo; como o processo em que as contradies esto sempre presentes e impondo novas snteses.

    A histria de todas as sociedades que existiram at hoje a histria de lutas de classes. Homem livre e escravo, patrcio e plebeu, baro e servo, mestres e companheiros, numa palavra, opressores e oprimidos, sempre estiveram em constante oposio uns aos outros, envolvidos numa luta ininterrupta, ora disfarada, ora aberta, que terminou sempre ou com uma transformao revolucionria de toda a sociedade, ou com o declnio comum das classes em luta.(Marx & Engels, 2002, p.45).

    Alm disso, inclui a anlise dos aspectos ideolgicos como pressupostos necessrios para compreender a produo do conhecimento, negando a neutralidade do conhecimento cientfico. Essa matriz de compreenso da realidade tem desdobramentos no delineamento da pesquisa que utiliza o mtodo dialtico. As pesquisas tm o compromisso de ser um instrumento de autoconhecimento para os sujeitos (objetos da pesquisa) e tambm tm um compromisso poltico com os problemas concretos enfrentados pelos amplos setores da sociedade: enfrentamento radical e crtico das prticas de dominao e alienao do sujeito; debate poltico, histrico e epistemolgico relativo s diferentes condies de insero social; busca de subverso do sujeito e da transformao social, dentre outros. A perspectiva de produo do conhecimento visa prxis em que a prtica (as condies materiais de existncia) e a reflexo so partes constitutivas do processo de conhecimento e da constituio do sujeito. Segundo Sartre (1967, p.74):

    os homens fazem a sua histria sobre a base de condies reais anteriores (entre as quais devem-se contar os caracteres adquiridos, as deformaes impostas pelo modo de trabalho e de vida, a alienao etc.), mas so eles que a fazem e no as condies anteriores: caso contrrio, eles seriam os simples veculos de foras inumanas que regeriam, atravs deles, o mundo social. Certamente, estas condies existem e so elas, apenas elas, que podem fornecer uma direo e uma realidade material s mudanas que se preparam; mas o movimento da prxis humana supera-as conservando-as.

    Dentro dessa matriz de compreenso do homem, do mundo e do conhecimento, o mtodo dialtico entendido como uma forma de interpretao da realidade que se funda em alguns grandes princpios:

    tal, pois as essncias s existem na conscincia; descritivo; um saber absolutamente necessrio; conduz certeza; e uma atividade cientfica (Moreira, 2002, p. 94).

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    a) Unidade dos opostos: parte-se do pressuposto de que todos os objetos e fenmenos apresentam aspectos contraditrios, organicamente unidos e que se mantm em luta entre si, constituindo-se, dessa forma, em fonte do desenvolvimento (Gil, 1999). Segundo Minayo (1994, p.12), os

    critrios de complexidade e de diferenciao permitem trabalhar o carter de antagonismo (a unidade dos opostos), de conflito e de colaborao entre os grupos sociais, pensando suas relaes como mltiplas em seus prprios ngulos, intercondicionadas em seu movimento e interagindo com outros fenmenos.

    b) Quantidade e qualidade: so concebidas como caractersticas imanentes a todos os objetos e fenmenos, sendo inseparveis e interdependentes (Gil, 1999). Nessa perspectiva, h uma dissoluo das dicotomias quantitativo / qualitativo, macro / micro, interioridade / exterioridade, objetivo / subjetivo que se debatem em diversas correntes do pensamento (Minayo, 1994). Isso significa ultrapassar uma concepo dicotmica da realidade e admitir a complexidade como parte do processo de conhecimento. c) Negao da negao: a mudana nega o que mudado e o resultado, por sua vez, negado, mas esta segunda negao conduz a um desenvolvimento e no a um retorno ao que era antes (Gil, 1999, p. 32). d) Especificidade histrica e totalidade: isso significa, do ponto de vista metodolgico, apreender e analisar os acontecimentos, as relaes e cada momento como etapa de um processo, como parte de um todo (Minayo, 1994, p. 12). Alm disso, a anlise dialtica considera os significados como parte integrante da totalidade, que deve ser estudada tanto em nvel das representaes ou dos sentidos conferidos pelo sujeito como em nvel das determinaes sociais. Segundo Minayo (1994, p.12), sob esse enfoque, no se compreende a ao humana independente do significado que lhe atribudo pelo autor, mas tambm no se identifica essa ao como a interpretao que o ator social lhe atribui. Dentro dessa perspectiva, temos as pesquisas desenvolvidas pelos psicossocilogos franceses, que tm buscado articular o materialismo dialtico com a psicanlise para analisar as organizaes (Pags, 1987; Enriquez, 2001; Levy, 2001) e para compreender a relao do homem com o seu trabalho (Dejours, 1987). Conforme Levy (2001, p.42):

    longe de considerar o imaginrio, a intuio, o trabalho inconsciente, a atividade de pensamento e de elaborao de sentido como obstculos a uma apreenso objetiva da realidade, ela se apoia, ao contrrio, nessas dimenses, para melhor compreend-la ao mesmo tempo em sua globalidade e em sua singularidade.

    Geralmente, nas pesquisas em que se utiliza a psicanlise como uma referncia para se compreender uma determinada realidade, os pesquisadores partem de alguns pressupostos (Dor, 1992): a existncia do inconsciente cuja estrutura similar da linguagem, isto , ele se manifesta sob a forma de metforas e metonmias, no existindo uma relao unvoca e direta entre o significante e o significado, e caracterizando-se pelo deslocamento contnuo dos significados para outros significantes; da a importncia de compreendermos a cadeia de significados atribudos pelo prprio sujeito.

    O sujeito se constitui enquanto um ser de desejo (desejo do desejo do outro), isto

    , necessitando do reconhecimento do outro. Nessa perspectiva, o desejo estruturado como falta (falta a ser) que jamais completamente satisfeita.

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    A utilizao dessa perspectiva para a compreenso do discurso dos sujeitos impe

    algumas orientaes, tais como: a necessidade de atentar para as manifestaes do discurso que deixam escapar os contedos inconscientes e que nos informam sobre os contedos conflituosos vividos pelo sujeito: lapsos de linguagem, metforas, atos falhos, mecanismos de defesa (negao, idealizao, racionalizao etc.), contradies entre o contedo da fala e o comportamento do sujeito etc.

    Contudo, importante reafirmar que os psicossocilogos que trabalham com essa perspectiva no negam que o campo social comporta suas prprias regras e sempre levam em considerao as dimenses especficas das situaes concretas em que a anlise (pesquisa) est sendo realizada. Um exemplo clssico de pesquisa desenvolvida dentro da perspectiva materialista-dialtica e muito conhecida na Administrao a pesquisa realizada na Frana por Max Pags e outros, que deu origem ao livro O poder das organizaes, publicado no Brasil em 1987. Nesse livro, os princpios da dialtica so utilizados de uma forma concreta para se compreender o que os pesquisadores denominaram de subsistemas poltico, ideolgico e psicolgico2 da organizao. Alm disso, os pesquisadores aliam a pesquisa a um seminrio de formao denominado Eu e a organizao, cujo objetivo evitar o isolamento idealista da pesquisa separada de perspectivas prticas, e os desvios ideolgicos de uma formao insuficientemente escorada por uma pesquisa (Pags, 1987, p. 16). PESQUISA PARTICIPANTE A pesquisa participante surgiu no incio da dcada de oitenta, conceitual e metodologicamente. Vrios autores concebem a pesquisa participante como uma tcnica de observao participante que foi elaborada principalmente no contexto da pesquisa antropolgica ou etnogrfica. Busca estabelecer uma adequada participao dos pesquisadores dentro dos grupos observados visando reduzir a estranheza recproca. Os pesquisadores so levados a compartilhar, mesmo que superficialmente, os papis e hbitos dos grupos em observao a fim de estarem em condio de observar fatos, situaes e comportamentos que no ocorreriam ou que seriam alterados na presena de estranhos (Brando, 1987). No se trata de ao uma vez que os grupos sob investigao ... no so mobilizados em torno de objetivos especficos e sim so deixados s suas atividades comuns. (Brando, 1987, p.83). Muitas vezes esse tipo de pesquisa conduzido de forma intuitiva e no sistemtica, porm, ele pode seguir regras do clssico procedimento que envolve a formulao de hipteses, coleta de dados e comprovao. Algumas caractersticas da pesquisa participante so (Brando, 1987):

    O problema se origina na comunidade ou no prprio local de trabalho; A pesquisa envolve o povo no local de trabalho ou a comunidade no controle

    do processo inteiro de pesquisa;

    2 Nesse trabalho, os pesquisadores utilizam-se dos pressupostos da psicanlise para trabalhar a dimenso psicolgica e do um exemplo do tipo de anlise que fazem do discurso do sujeito atravs da entrevista de Odete.

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    A nfase da pesquisa est no trabalho com uma larga camada de grupos explorados ou oprimidos: migrantes, trabalhadores, populaes indgenas, mulheres;

    central para a pesquisa participante o papel de reforo conscientizao no povo de suas prprias habilidades e recursos, e o apoio mobilizao e organizao.

    No h um modelo nico de pesquisa participante, pois, para cada caso o processo deve ser adaptado s condies particulares de cada situao concreta. Contudo, Brando (1987), apresenta um modelo ou uma seqncia metodolgica da pesquisa participante que pode ser resumida no seguinte: primeira fase montagem institucional e metodolgica da pesquisa participante; segunda fase estudo preliminar e provisrio da zona e da populao em estudo; terceira fase anlise crtica dos problemas considerados prioritrios e que os pesquisados desejam estudar; quarta fase programao e execuo de um plano de ao para contribuir para enfrentar os problemas colocados. Alguns exemplos de pesquisa participante so dados por Serva & Jaime Jnior (1995). Um primeiro exemplo refere-se pesquisa realizada pelo antroplogo Serge Bouchard, que estudou a profisso de caminhoneiro em rotas de grande distncia, no Canad. Para tanto, o pesquisador viajou, durante dois anos, junto com os caminhoneiros visando captar sua representao sobre si prprios, seu trabalho e seu mundo. Outro exemplo relacionado ao estudo efetuado pelo professor da faculdade de administrao da Manchester University, Tom Lupton, que se engajou em grupos de trabalho numa fbrica a fim de estudar a influncia do grupo sobre a elaborao das normas de produo. A PESQUISA-AO A pesquisa-ao, de acordo com Vergara (1997), pode ser definida como um tipo particular de pesquisa participante que supe a interveno participativa na realidade social, tendo carter de intervencionista3. Segundo Thiollent (1986, p.7), apesar de os termos pesquisa-ao e pesquisa participante serem muitas vezes utilizados como sinnimos, eles no o so. No entendimento desse autor toda pesquisa-ao de tipo participativo, ou seja, a participao das pessoas implicadas nos problemas investigados absolutamente necessria. Porm, a pesquisa-ao, alm da participao, pressupe uma forma de ao planejada de carter social, educacional, tcnico ou outro, que nem sempre se encontra em propostas de pesquisa participante. Assim, nem tudo que chamado pesquisa participante pesquisa-ao. Uma pesquisa pode ser ento qualificada de pesquisa-ao quando realmente houver uma ao por parte das pessoas ou dos grupos implicados no problema sob observao. tambm necessrio, alm disso, que a ao seja no-trivial, o que significa uma ao problemtica que merea investigao para ser elaborada e conduzida. A pesquisa-ao pode ser definida conforme o seguinte:

    3 A investigao intervencionista aquela que tem como objetivo principal a interferncia na realidade estudada, visando modific-la. Esse tipo de investigao no se satisfaz em apenas explicar. No somente prope a resoluo de problemas, mas tambm tem o compromisso de resolv-los efetiva e participativa-mente (Vergara, 1997).

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    um tipo de pesquisa social com base emprica que concebida e realizada em estreita associao com uma ao ou com a resoluo de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e os participantes representativos da situao ou do problema esto envolvidos de modo cooperativo ou participativo. (Thiollent, 1986, p.14).

    Esse tipo de pesquisa supe um papel ativo dos pesquisadores no equacionamento dos problemas encontrados, no acompanhamento e na avaliao das aes desencadeadas em funo dos problemas. Vrios casos de pesquisa-ao podem ser distinguidos. Pode ser organizada para realizar os objetivos prticos de um ator social homogneo dispondo de suficiente autonomia para encomendar e controlar a pesquisa. O ator freqentemente uma associao ou um agrupamento ativo. Outro caso seria aquele em que a pesquisa-ao realizada dentro de uma organizao, como por exemplo, uma empresa ou escola, onde existe hierarquia ou grupos cujos relacionamentos so problemticos. Assim, num contexto organizacional, a ao considerada visa, em geral, a soluo de problemas de ordem mais tcnica. Por trs de problemas dessa natureza h sempre uma srie de condicionantes sociais a serem evidenciados pela investigao. Um terceiro caso refere-se pesquisa-ao organizada em meio aberto, como por exemplo, um bairro, uma comunidade rural etc. Quanto diferena entre a pesquisa-ao e a pesquisa convencional tem-se que, nesta, no h participao dos pesquisadores junto s pessoas da situao observada e, tambm, sempre existe grande distncia entre os resultados de uma pesquisa convencional e as possveis decises ou aes decorrentes. Verifica-se ainda, que na pesquisa-ao possvel estudar dinamicamente os problemas, as decises, aes, negociaes, os conflitos e as tomadas de conscincia que ocorrem entre os agentes no decorrer do processo de transformao da situao. No caso da pesquisa convencional so privilegiados os aspectos individuais como, por exemplo, opinies, motivaes comportamentos etc, que so captados freqentemente atravs de entrevistas ou questionrios que no permitem uma viso dinmica da situao (Thiollent, 1986).

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    Drago (1989) apresenta as diferenas existentes tambm entre a pesquisa-ao e a prtica de mudana organizacional conhecida como Desenvolvimento Organizacional (DO). Segundo esse autor, o DO pode envolver o diagnstico dos problemas organizacionais, por meio de dados bsicos, enquanto a pesquisa-ao enfatiza o diagnstico dos problemas atravs desse meio; o DO visa a produo de um sistema de mudana, efetivo e duradouro e a pesquisa-ao visa soluo de problemas do sistema, como forma de incrementar as habilidades do cliente para a soluo de problemas; o DO envolve, s vezes, a aplicao de pacotes de ao planejados previamente, enquanto a pesquisa-ao envolve, raramente, a aplicao de um pacote de ao previamente planejado (aes especficas para problemas especficos); o DO pode envolver treinamento do cliente na aplicao de processos efetivos de mudana e a pesquisa-ao enfatiza o treinamento do cliente, habilitando-o a efetivamente perceber e solucionar problemas e processos; o DO pode ou no incluir a avaliao de resultados em termos concretos e a pesquisa-ao envolve, geralmente, a avaliao de resultados como base para diagnsticos posteriores dos problemas, para o planejamento da ao e para a sua implementao; o DO no acrescenta, por vezes, novos conhecimentos cincia comportamental enquanto a pesquisa-ao produz, usualmente, novos resultados para o conhecimento da cincia comportamental. Outra comparao feita por Roesch (2001) no que diz respeito s consultorias versus pesquisa-ao. Ao consultor, interessa transferir ferramentas, modelos, tcnicas e mtodos de uma situao especfica para outra. Por sua vez, o pesquisador busca levantar questes mais amplas, que so de interesse de uma comunidade maior e que se aplicam a contextos variados. (p.121) Isso no significa, no entanto, que o desenvolvimento de tcnicas, ferramentas, modelos ou mtodos, baseados numa experincia especfica, no constituam resultado de pesquisa. Porm, necessrio que seja incorporada uma explicao terica que expresse as bases de tais propostas. Aqueles que depreciam a pesquisa-ao e, por vezes, at alguns de seus partidrios, afirmam que essa orientao de pesquisa no teria lgica, nem estrutura de raciocnio, no haveria hipteses, inferncias, enfim, seria sobretudo uma questo de sentimento ou de vivncia. (Thiollent, 1986:28). Para Thiollent (1986), contudo, essa uma viso equivocada. Para ele, a dificuldade encontra-se no fato de que a estrutura de raciocnio subjacente pesquisa-ao no se trata de uma estrutura lgica simples. Ela contm momentos de raciocnio inferencial no limitados s inferncias lgicas e estatsticas sendo moldada por processos de argumentao ou dilogo entre diversos interlocutores. O principal objetivo da anlise oferecer ao pesquisador melhores condies de compreenso, decifrao, interpretao, anlise e sntese do material qualitativo gerado na situao investigativa. (p.29). O material da investigao feito essencialmente de linguagem, sob formas de verbalizaes, imprecaes, discursos ou argumentaes. Sobre a no existncia do esquema tradicional de formulao de hipteses/coleta de dados/comprovao ou refutao de hipteses na pesquisa-ao, Thiollent (1986) afirma que, a pesquisa-ao um procedimento capaz de explorar situaes e problemas para os quais difcil formular hipteses prvias e relativas a um pequeno nmero de variveis precisas, isolveis e quantificveis. Assim, a pesquisa-ao opera a partir de determinadas instrues ou diretrizes que tm carter menos rgido do que as hipteses, desempenhando, entretanto, funo semelhante. Isso no implica que a forma de raciocnio hipottica seja dispensvel.

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    De acordo com Thiollent (1986, p.33) trata-se de definir problemas de conhecimento ou de ao cujas possveis solues, num primeiro momento, so consideradas como suposies (quase-hipteses) e, num segundo momento, objeto de verificao, discriminao e comprovao em funo das situaes constatadas.

    Por fim, Thiollent (1986) discute sobre a questo da generalizao dos dados obtidos na pesquisa social, que se mostra sempre metodologicamente problemtica quanto passagem entre o nvel local e o global. Em pesquisas locais, como o caso da pesquisa-ao, possvel renunciar a generalizaes superiores situao efetivamente investigada, porm, uma generalizao pode ser feita de forma progressiva a partir da discusso de resultados de diversas pesquisas organizadas em locais ou situaes diferentes. No que se refere ao planejamento de uma pesquisa-ao, esse muito flexvel. Thiollent (1986) apresenta como primeira etapa a exploratria e como final a divulgao dos resultados, podendo surgir nesse intervalo uma multiplicidade de caminhos a serem definidos de acordo com as circunstncias. Com relao ao uso da pesquisa-ao em pesquisa organizacional, Roesch (2001) afirma que difcil saber at que ponto ela vem sendo utilizada. Em levantamento feito por essa autora em peridicos nacionais4 foi constatado que apenas um artigo relatava o uso da pesquisa-ao, tratando-se de uma experincia em desenvolvimento de comunidades. HISTRIA ORAL Nascida no campo da histria, a histria oral tambm tem sido bastante utilizada nas Cincias Sociais. Segundo Moraes (1994), a histria oral tem se definido como um contradiscurso. Teve seu surgimento datado em perodos diversos nos diferentes pases em que foi adotada, por exemplo, nos Estados Unidos, Frana, Alemanha e Brasil. Nos EUA, seu surgimento datado a partir da dcada de 40. Tem seu desenvolvimento favorecido na dcada de 60, principalmente na Frana e na Alemanha. No Brasil as primeiras experincias sistemticas no campo da histria oral datada de 1975 na Fundao Getlio Vargas. Segundo Moraes (1994, p.23),

    a histria oral vem se opor como contra-histria, operando uma inverso historiogrfica radical, tanto do ponto de vista dos objetos como dos mtodos. Histria vista de baixo, histria do local e do comunitrio, histria dos humildes e dos sem-histria, tira do esquecimento aquilo que a histria oficial sepultou.

    Ope-se trilogia Estado, histria, escrita colocando em seu lugar revoluo, memria, oralidade assumindo explicitamente um projeto de democratizao e propondo-se a devolver a palavra ao povo. Nesse sentido, uma histria militante, histria dos excludos, em que o oral se ope ao escrito. Essa posio lhe traz implicaes para a investigao, sendo a pesquisa de campo e a observao participante seus instrumentos por excelncia.

    4 Foram levantados dados nos seguintes peridicos: RAUSP (1992 a 1999), RAE (1995 a 1999), RAC (1998 a 1999), Perspectiva Econmica (Unisinos/RS 1990 a 1999), Anlise (PUC/RS 1995 a 1999).

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    Nos anos 80, recebe sua consagrao sendo legitimada entre as cincias histricas. Na dcada de 90, as preocupaes militantes vo aos poucos recuando para dar lugar s preocupaes metodolgicas, enquanto se afirma a reflexo central sobre fenmenos de memria e recalques coletivos (Moraes, 1994, p. 38). O que tem motivado os estudos em histria oral o desejo de recuperar a experincia e os pontos de vista daqueles que normalmente ficam invisveis na documentao tradicional e de considerar seriamente essas fontes como evidncia (Ferreira et al., 1996). As principais regras para o exame de evidncias consideradas pelo historiador so: buscar a consistncia interna, procurar confirmao em outras fontes e estar alerta ao vis potencial (Thompson, 1992, p. 139). Algumas questes tm sido objeto de estudo por parte de pesquisadores que adotam a histria oral como perspectiva de investigao, por exemplo, a discusso sobre a memria seu carter seletivo, a alterao dos significados conferidos aos fatos passados em funo de mudana de valores, da prpria experincia ou devido alterao da percepo dos fatos, o efeito da idade sobre a memria etc. e a questo da entrevista, seus limites e possibilidades, seus desdobramentos ticos e sua concepo como relao social. Um exemplo clssico de pesquisa utilizando-se da histria oral na produo de pesquisa brasileira o livro de Ecla Bosi, Memria e Sociedade: lembranas de velhos, que recupera, atravs da narrativa de velhos, a histria da cidade de So Paulo no incio do sculo XX, sua memria poltica, do trabalho e do cotidiano (Bosi, 1994). HISTRIA DE VIDA Segundo Moreira (2002), a histria de vida uma tcnica que busca contemplar a viso da pessoa sobre a sua prpria histria, sobre situaes, contextos determinados, eventos etc. uma tcnica que parte da suposio de que o comportamento do sujeito deve ser compreendido a partir de sua prpria perspectiva. Geralmente, os pesquisadores que trabalham com histria de vida utilizam-se de alguns instrumentos de coleta de dados preferenciais: entrevista aberta, dirios, cartas, relatos autobiogrficos gravados em meios diversos, documentos oficiais, jornais, revistas etc. Para Moreira (2002), a tcnica da histria de vida pode ser dividida em trs tipos:

    Histria de vida abrangente (toma a vida do sujeito como um todo); Histria de vida tpica (toma um fragmento da vida do sujeito); Histria de vida editada (pode ser abrangente ou tpica, o que a caracteriza so

    as explicaes sociolgicas, os comentrios e as questes sobre o material colhido que o pesquisador faz).

    O problema normalmente colocado para essa forma de pesquisa quanto sua validade externa, isto , sua limitao para efeito de generalizao. Bourdieu (1996) critica essa perspectiva dizendo que ela mais se aproxima do modelo oficial da apresentao oficial de si (p. 80). Afirma, ainda, que a histria de vida s poderia ser considerada uma descrio da superfcie social se considerssemos o conjunto de posies simultaneamente ocupadas (pelo sujeito), em um momento dado do tempo, por uma individualidade biolgica socialmente instituda... (p. 82), dentro de determinado campo.

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    Um exemplo de pesquisa utilizando a histria de vida foi a tese de doutorado defendida por Oliveira (2000), na rea de gerenciamento estratgico, em que o pesquisador identifica estratagemas utilizados nas situaes de conflito com os stakeholders da construo civil, utilizando como instrumento de pesquisa a histria de vida do fundador e lder da organizao pesquisada. ESTUDO DE CASO