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Desenvolvimento de uma Estratgia Teraputica para Libertao Vectorizada de Frmacos no clon: Optimizao do processo de sntese de conjugados entre a -Ciclodextrina e o Diclofenac de sdio
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Introduo
1 - Ciclodextrinas Estrutura e Propriedades
As ciclodextrinas (CDs), descobertas pela primeira vez em 1891 por Villiers, so
oligossacardeos cclicos resultantes da hidrlise enzimtica do amido por aco da enzima
ciclodextrina-glicosil-transferase (CGTase), produzida por diversos microorganismos,
nomeadamente do gnero Bacillus [1-3]. As CDs so compostas por unidades D-
glucopiranosdicas (glucose) ligadas entre si por ligaes -1,4 glicosdicas [1, 2, 4, 5] (figura
1).
As unidades de glucose apresentam-se na conformao em cadeira, e no havendo livre
rotao das ligaes glicosdicas, obtm-se a forma tronco-cnica das CDs (figura 2). O cone
formado pelo esqueleto de carbonos das unidades de glucose e pelos tomos de oxignio
glicosdicos [6]. Os grupos hidrxilo primrios, ligados aos tomos C-6 das unidades de
glucose, encontram-se posicionados na extremidade mais estreita do cone [4]. Por outro lado,
os grupos hidrxilo secundrios, ligados aos tomos C-2 e C-3 das unidades de glucose, esto
na extremidade mais larga do cone e tornam a superfcie externa da CD hidroflica [1]. O
interior da cavidade interna da CD delimitada pelo alinhamento dos hidrognios C(3)-H e
C(5)-H e pelo oxignio da ligao ter C(1)-O-C(4), que lhe conferem um carcter hidrofbico
[2] (figura 2). Esta caracterstica das CDs permite a formao de complexos de incluso, isto
, entidades compostas por duas ou mais molculas em que a molcula hospedeira, neste
caso a CD, inclui total ou parcialmente a molcula hspede, sem que ocorra o
estabelecimento de ligaes covalentes [1, 6].
Figura 1 Representao da ligao - 1,4 glicosdica das CDs [7].
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No seu estado natural as CDs so molculas rgidas, cristalinas e homogneas que oferecem
inmeras vantagens de utilizao em funo do seu tamanho, forma e grupos funcionais livres
[1].
Existem trs tipos de ciclodextrinas naturais mais comuns que so a CD, CD e CD,
contendo 6, 7 e 8 unidades de glucose, respectivamente [1, 2, 6] (figura 3). As CDs com
nmero inferior a 6 unidades de glucose no existem por razes estereoqumicas. Aquelas
compostas por mais de 8 unidades de glucose j foram produzidas, contudo com um
rendimento muito baixo. Alm disso possuem propriedades complexantes fracas, dado que
no possuem uma cavidade com estrutura rgida e, portanto, tm reduzido interesse
farmacutico e comercial [1, 11].
Das CDs naturais, a CD a mais utilizada no campo farmacutico pois, embora apresente
reduzida solubilidade aquosa, possui uma cavidade interna com dimenses adequadas para
incorporar um elevado nmero de frmacos aromticos hidrofbicos [6]. Para alm disso,
Figura 2 Representao tridimensional da forma tronco-cnica das CDs e identificao dos
hidrxilos primrios e secundrios [11, 12].
Hidrxilo primrio
Hidrxilos secundrios
Figura 3 - Representao esquemtica da CD (a), CD (b) e CD (c) [6].
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obtida industrialmente com maior qualidade, rendimento e a baixos custos comparativamente
s outras CDs. Esta CD encontra-se aprovada com o estatuto de excipiente farmacutico
podendo ser utilizada em preparaes farmacuticas [1]. A tabela 1 resume as propriedades
fsico-qumicas mais importantes das CDs naturais [1-3].
Tabela 1 Propriedades fsico-qumicas das CDs naturais
CD N de unidades
de glucose
Massa Molecular
(g/mol)
Dimetro interno
da cavidade ()
Solubilidade aquosa
a 25C (g/100mL)
CD 6 972 4,7-5,3 14,5
CD 7 1135 6,0-6,5 1,85
CD 8 1297 7,5-8,3 23,2
1.1 Complexos de Incluso
As CDs so largamente usadas como agentes complexantes devido s vrias vantagens que
apresentam: (i) possuem uma estrutura qumica bem definida com possibilidade de sofrerem
modificaes qumicas; (ii) existem CDs com diferentes tamanhos de cavidade permitindo a
incluso de molculas com diferentes dimenses; (iii) apresentam reduzida actividade
farmacolgica e toxicolgica [13].
A capacidade que as CDs tm em formarem complexos de incluso com molculas especficas,
depende da compatibilidade geomtrica entre a molcula hspede e a cavidade da CD. A
formao de tais complexos determinada pelas caractersticas das molculas hspedes
nomeadamente o tamanho, a geometria e a polaridade [6]. Apenas as molculas ou grupos
funcionais apolares, cujas dimenses sejam inferiores s da cavidade da CD podem ser
includos na mesma [1]. Desta forma, devido ao tamanho da cavidade, a CD complexa
preferencialmente pequenas molculas ou molculas com cadeias laterais alifticas,
enquanto que a CD pode complexar anis aromticos. A CD permite complexar molculas
de maior tamanho, como por exemplo esterides [14].
Os complexos de incluso apresentam natureza hidroflica alterando as propriedades fsico-
qumicas e biolgicas das molculas hspedes, neste caso a dos frmacos, dado que
apresentam maior hidrossolubilidade que o frmaco livre. Desta forma, mediante
complexao, determinadas propriedades do frmaco so melhoradas, tais como a sua
solubilidade, taxa de dissoluo, permeabilidade, biodisponibilidade e estabilidade [4].
Consequentemente, a formao de complexos de incluso tambm aumenta a eficcia e
actividade teraputica do frmaco. Assim, o efeito farmacolgico optimizado, permitindo a
reduo da dose de frmaco administrado e uma diminuio dos efeitos adversos associados
[15].
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Nos complexos frmaco-CD no ocorre formao nem quebra de ligaes covalentes. Em
soluo aquosa, o complexo dissocia-se e as molculas de frmaco livre permanecem em
equilbrio dinmico com as molculas de frmaco complexadas [6]. Somente o frmaco na
forma livre sofre absoro e atinge a circulao sistmica. No entanto, tal equilbrio no
vantajoso quando se pretende uma entrega direccionada do frmaco ao stio alvo visto que o
complexo se dissocia antes de atingir o respectivo alvo teraputico [16-19]. Este
inconveniente pode ser ultrapassado atravs da formao de conjugados entre frmacos e
CDs, que ser discutido mais adiante.
2 Ciclodextinas como transportadores naturais de frmacos
para o clon
As patologias do clon so cada vez mais preocupantes, desde a obstipao, diarreia, doena
intestinal inflamatria (doena de Crohn e colite ulcerativa), at ao carcinoma do clon, o
qual o terceiro tipo de cancro com maior prevalncia em homens e mulheres [5].
Sistemas de libertao oral de frmacos direccionados para o clon tm revelado grande
importncia para o transporte de vrios agentes teraputicos, sendo tambm benficos no
tratamento eficiente de doenas desenvolvidas localmente no clon [20]. Para alm da
terapia local, o clon pode ser til como uma via de absoro sistmica de frmacos [21]. No
entanto existem vrios obstculos na entrega de frmacos ao clon, entre os quais se
destacam as vrias barreiras que este deve ultrapassar ao longo do tracto gastrointestinal
(TGI) superior, nomeadamente as vias de absoro, bem como a hidrlise que pode sofrer ao
longo do mesmo [5].
Aps administrao oral, as CDs so praticamente resistentes hidrlise pelo cido gstrico,
amilases salivares e pancreticas, e muito pouco absorvidas na passagem pelo estmago e
intestino delgado, devido sua natureza hidroflica e volumosa [22, 23]. No entanto as CDs
sofrem degradao enzimtica pela vasta microflora existente no clon, nomeadamente
Bacterides, que as dissociam em pequenos sacridos, permitindo a sua absoro pelo
intestino grosso [19, 24-27]. Esta propriedade biodegradvel das CDs tem demonstrado
interesse no desenvolvimento de formas farmacuticas de entrega especfica de frmacos
para o clon [19].
Estudos anteriores revelam que os transportadores naturais mais comuns para a entrega
direccionada de frmacos ao clon so os polissacardeos, como as CDs, as quais
demonstraram ser seguras e estveis [28].
Entre as diversas classes de frmacos que existem, est a ser explorada a utilizao dos anti-
inflamatrios no esterides (AINEs) para melhorar o tratamento de patologias inflamatrias
associadas ao clon. De facto, sabe-se que os AINEs podem ser usados com sucesso na
preveno e tratamento de colites e carcinomas a nvel colorectal [5, 16].
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3 - Anti-inflamatrios no esterides (AINEs)
Os AINEs constituem uma classe de frmacos amplamente prescritos e usados como
analgsicos, antipirticos e anti-inflamatrios. O seu mecanismo de aco baseia-se na
inibio da ciclooxigenase (COX), tambm conhecida por prostaglandina sintetase, qu