GISELE MIYAMURA MARTINS AVALIAÇÃO DO EFEITO DO … · E FISIOLOGIA ÓSSEA DE CAMUNDONGOS COM...

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0 GISELE MIYAMURA MARTINS AVALIAÇÃO DO EFEITO DO HORMÔNIO TIREOIDEANO NA ESTRUTURA E FISIOLOGIA ÓSSEA DE CAMUNDONGOS COM INATIVAÇÃO DO GENE DO ADRENOCEPTOR α 2A São Paulo 2012 Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Morfofuncionais do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo, para obtenção do Título de Mestre em Ciências.

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    GISELE MIYAMURA MARTINS

    AVALIAO DO EFEITO DO HORMNIO TIREOIDEANO NA ESTRUTURA

    E FISIOLOGIA SSEA DE CAMUNDONGOS COM INATIVAO DO

    GENE DO ADRENOCEPTOR 2A

    So Paulo 2012

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Cincias Morfofuncionais do Instituto de Cincias Biomdicas da Universidade de So Paulo, para obteno do Ttulo de Mestre em Cincias.

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    GISELE MIYAMURA MARTINS

    AVALIAO DO EFEITO DO HORMNIO TIREOIDEANO NA ESTRUTURA

    E FISIOLOGIA SSEA DE CAMUNDONGOS COM INATIVAO DO

    GENE DO ADRENOCEPTOR 2A

    So Paulo 2012

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Cincias Morfofuncionais do Instituto de Cincias Biomdicas da Universidade de So Paulo, para obteno do Ttulo de Mestre em Cincias. rea de concentrao: Cincias Morfofuncionais Orientadora: Prof. Dr. Ceclia Helena de Azevedo Gouveia Verso original

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    Dedico este trabalho com todo amor ao meu pai, Ado Jos Carlos Martins, e a minha me, Elza Miyamura Martins por me possibilitarem a realizao de mais um sonho.

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    AGRADECIMENTOS

    Obrigada ao meu pai, Ado Jos Carlos Martins, que tem sido um grande e maravilhoso pai, dedicando-se inteiramente sua famlia, acreditando e possibilitando a realizao de todos os meus sonhos e por ser a pessoa na qual me espelho para tentar ser cada dia melhor. A minha me, Elza Yoshie Miyamura Martins, obrigada por todo carinho, amor e cuidado sempre a mim dedicados, pela sua grande amizade e companheirismo. Obrigada minha orientadora, Ceclia Helena de Azevedo Gouveia Ferreira, por me receber em seu laboratrio, pela amizade, confiana e ensinamentos a mim dedicados, sem os quais este trabalho no poderia ser realizado. Ao meu namorado, Eduardo Henrique Beber, obrigada por todo amor e carinho, por tanta ajuda e por todos os ensinamentos de Anatomia. Obrigada tambm pela pacincia nos momentos em que precisei. Te amo. Ao meu irmo, Leandro Miyamura Martins, pela coragem e companheirismo dedicados aos nossos pais no perodo em que passei a morar em So Paulo. Aos meu queridos amigos de laboratrio, Bruno Jos Silva de Melo e Manuela Miranda Rodrigues, obrigada pela ajuda que me proporcionaram em algum momento, pela amizade e situaes engraados por ns vividas. Marlia Bianca Teixeira por ter sido extremamente importante para que este trabalho pudesse ser realizado. minha querida amiga Cristiane Cabral Costa, pelos bons conselhos, amizade e ajuda pessoal nos momentos em que precisei. Agradeo especialmente ao Marcos Vinicius da Silva por tanta colaborao e pelo grande amigo com quem sempre pude contar. todos os meus colegas do departamento em especial Aline Rosa Marosti Bobna, Kelly Palombit, Ricardo Bandeira e Tabata Leal Nascimento os quais se tornaram meus grandes amigos. Agradeo aos professores Miriam Ribeiro, Marcelo Muscar e Newton Sabino Canteras por fazerem parte da minha banca de qualificao e pela importante contribuio na execuo deste trabalho. Agradeo s professoras Patricia Brum e Maria Luiza Barreto Chaves pela colaborao e disponibilizao de seu laboratrio para a realizao dos experimentos. Obrigada ao professor Rodrigo Cardoso de Oliveira, pela primeira oportunidade em seu laboratrio e pelos ensinamentos transmitidos na minha iniciao cientfica. Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de So paulo (FAPESP), pelo apoio financeiro para a realizao deste projeto.

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    RESUMO

    MARTINS, G. M. Avaliao do efeito do hormnio tireoideano na estrutura e fisiologia ssea de camundongos com inativao do Gene do adrenoceptor 2a. 2012. 90 f. Dissertao (Mestrado em Cincias Morfofuncionais) Instituto de Cincias Biomdicas, Universidade de So Paulo, So Paulo, 2012.

    Um dos mais importantes achados dos ltimos anos foi o de que o remodelamento sseo est sujeito ao controle do sistema nervoso central (SNC), com o sistema nervoso simptico (SNS) agindo como efetor perifrico. Uma srie de estudos sugere que o SNS regula negativamente a massa ssea, agindo exclusivamente via receptor 2-adrenrgico (2-AR), que expresso no tecido sseo. Entretanto, um estudo recente do nosso grupo demonstrou que camundongos com dupla inativao dos genes dos receptores adrenrgicos 2A e o 2C (2A/2C-AR

    -/-) apresentam um fentipo de alta massa ssea (AMO), apesar de apresentarem hiperatividade simptica crnica e 2-AR intacto. Alm disso, foi demonstrado que esses camundongos knockouts (KO = com inativao gnica) so resistentes osteopenia induzida pelo excesso de hormnio tiroideano (HT). Esses achados sugerem fortemente que: o 2-AR no o nico adrenoceptor envolvido no controle do metabolismo sseo; que o SNS interage com o HT para regular a massa ssea; que o 2A-AR e/ou 2C-AR tambm possam apresentar um papel importante na mediao das aes do SNS no esqueleto e que esses receptores esto envolvidos na interao do HT com o SNS para regular a massa e metabolismo sseos. Neste projeto, tivemos os seguintes objetivos: (i) avaliar se a inativao isolada do 2AAR interfere na estrutura e fisiologia sseas, caracterizando o fentipo sseo de camundongos 2AAR

    -/-; e (ii) avaliar se a ao do HT no tecido sseo depende do 2AAR, avaliando o efeito do HT na estrutura e fisiologia sseas dos camundongos 2AAR

    -/- tratados com 20 vezes a dose fisiolgica de T3 (7 g/100 g PC/dia). Pudemos observar que o comprimento longitudinal do fmur e tbia dos animais 2A-AR-/- so significativamente menores do que aqueles dos animais selvagens, em todos os perodos estudados. A anlise por microtomografia computadorizada do fmur mostrou que no h diferena entre os animais selvagens e 2AAR

    -/- com relao estrutura de osso trabecular, j com relao ao osso cortical, foi observada uma diminuio da porosidade da cortical (67%, p

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    ABSTRACT

    MARTINS, G. M. Evaluation of the effect of thyroid hormone on bone structure and physiology of mice with inactivation of Gene 2A-adrenoceptor. 2012. 90 p. Masters thesis (Morphofunctional Sciences) Instituto de Cincias Biomdicas, Universidade de So Paulo, So Paulo, 2012.

    One of the most important finds of the recent years is that bone remodeling is subject to the control of the central nervous system (CNS), with the sympathetic nervous system (SNS) acting as the peripheral effector. A number of studies suggest that the SNS negatively regulates bone mass, acting exclusively via 2-adrenergic receptor (2-AR), which is expressed in osteoblasts. However, a recent study of our group showed that mice with double gene inactivation of the adrenergic receptor 2A and 2C (2A/2C-AR

    -/-) have a high bone mass phenotype (HBM), even though they present a chronic SNS hyperactivity and intact 2-AR. Furthermore, we have demonstrated that these knockout (KO) mice are resistant to the thyroid hormone-induced osteopenia. These findings strongly suggest that: (i) 2-AR is not the only adrenoceptor involved in the control of bone metabolism; (ii) the CNS interacts with thyroid hormone (TH) to regulate bone mass; iii) 2A and/or 2C adrenoceptors may also have an important role in mediating the actions of the CNS in the skeleton; and that (iv) these receptors are involved in the interaction of TH with the SNS to regulate bone mass and metabolism. In this project, we had the following objectives: (i) to evaluate whether the isolated inactivation of 2AAR interferes with the bone structure and physiology, characterizing the bone phenotype of 2AAR

    -/- mice and (ii) to evaluate whether the action of HT on bone tissue depends on 2AAR, assessing the effect of HT on bone structure and physiology of 2AAR

    -/- mice treated with 20 times the physiological dose of T3 (7g/100g BW/day). We have observed that the longitudinal length of the femur and tibia of 2AAR

    -/- animals are significantly lower than those of wild type animals in all periods. The analysis of the femur by computed microtomography showed no difference between wild animals and 2AAR

    -

    /- regarding to the trabecular bone structure, but it was observed a lower cortical porosity (67%, p

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    LISTA DE ILUSTRAES

    Figura 1 - Esquema de seleo das reas de interesse do fmur e vrtebra...............................................................................................................

    38

    Figura 2 - Foto do osso no equipamento para a realizao do teste de flexo de trs pontos.....................................................................................................

    39

    Figura 3 - Massa corporal dos animais Selvagens e 2A-AR

    -/-.......................... 41

    Figura 4 - Parmetros cardacos dos animais Selvagens e 2A-AR

    -/-................ 42

    Figura 5 - Composio corporal dos animais Selvagens e 2A-AR

    -/-. Contedo de gordura axilar e retroperitoneal.....................................................

    43

    Figura 6 - Comprimento corporal dos animais Selvagens e 2A-AR

    -/-............... 44

    Figura 7 - Comprimento do fmur dos animais Selvagens e 2A-AR

    -/-.............. 45

    Figura 8 - Comprimento da tbia dos animais Selvagens e 2A-AR

    -/-.............. 45

    Figura 9 - Anlise por CT da Metfise Distal do Fmur de Camundongos Selvagens e 2A-AR

    -/-.........................................................................................

    46

    Figura 10 - Anlise por CT do osso cortical femoral por microtomografia computadorizada em animais Selvagens e 2A-AR

    -/-.........................................

    47

    Figura 11 - Anlise do osso trabecular da vrtebra L5 por microtomografia computadorizada em animais Selvagens e 2A-AR

    -/-.........................................

    48

    Figura 12 - Anlise do osso cortical da vrtebra L5 por microtomografia computadorizada em animais Selvagens e 2A-AR

    -/-........................................

    49

    Figura 13 - Parmetros biomecnicos determinados no fmur de animais Selvagens e 2A-AR

    -/-.........................................................................................

    50

    Figura 14 - Parmetros biomecnicos determinados na tbia de animais Selvagens (Selv) e 2A-AR

    -/-...............................................................................

    51

    Figura 15 - Expresso gnica dos receptores adrenrgicos no fmur dos animais selvagens e 2A-AR

    -/- ............................................................................

    52

    Figura 16 - Expresso gnica dos genes relacionados ao metabolismo sseo no fmur de animais selvagens e 2A-AR

    -/- .......................................................

    53

    Figura 17 - Expresso gnica dos receptores de hormnio tireoideano no fmur de animais selvagens e 2A-AR

    -/- .............................................................

    53

    Figura 18 - Efeito do T3 na Massa corporal dos animais Selvagens e 2A-AR

    -/ 55

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    Figura 19 - Efeito do T3 nos parmetros cardacos..........................................

    56

    Figura 20 - Efeito do T3 no contedo de gordura axilar (GA) e retroperitoneal (GR)....................................................................................................................

    57

    Figura 21 - Efeito do T3 no Comprimento corporal...........................................

    60

    Figura 22 - Efeito do T3 no comprimento do fmur e tbia................................

    61

    Figura 23 - Anlise por uCT do efeito de 30 e 90 dias de tratamento com T3 no osso trabecular femoral..................................................................................

    62

    Figura 24 - Anlise por CT do efeito de 30 e 90 dias de tratamento com T3 no osso cortical da difise do fmur de animais Selvagens e 2A-AR

    -/-.............

    63

    Figura 25 - Anlise por CT do efeito de 30 e 90 dias de tratamento com T3 no osso trabecular do corpo vertebral de animais Selvagens e 2A-AR

    -/-..........

    65

    Figura 26 - Anlise por CT do efeito de 30 e 90 dias de tratamento com T3 no osso cortical do corpo vertebral de animais Selvagens e 2A-AR

    -/-...............

    66

    Figura 27 - Efeito de 30 e 90 dias de tratamento com T3 em parmetros biomecnicos do fmur de animais Selvagens e 2A-AR

    -/-.................................

    67

    Figura 28 - Efeito de 30 e 90 dias de tratamento com T3 em parmetros biomecnicos da tbia de animais Selvagens e 2A-AR

    -/....................................

    68

    Figura 29 - Expresso gnica dos receptores beta adrenrgicos no fmur de animais selvagens e 2A-AR

    -/- tratados com T3..................................................

    69

    Figura 30 - Expresso gnica dos receptores alfa adrenrgicos no fmur de animais selvagens e 2A-AR

    -/- tratados com T3..................................................

    70

    Figura 31 - Expresso de genes relacionados ao metabolismo sseo no fmur de animais selvagens e 2A-AR

    -/- tratados com T3...................................

    71

    Figura 32 - Expresso gnica do TR e TR no fmur de animais selvagens e 2A-AR

    -/- tratados com T3.................................................................................

    72

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    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 - Grupos experimentais dos animais selvagens e geneticamente modificados.......................................................................................................

    35

    Tabela 2 - Massa Muscular do Extensor Longo dos Dedos, Gastrocnmio e Reto Femoral de Animais selvagens e 2A-AR

    -/-..............................................

    44

    Tabela 3 - Concentraes sricas de T3 e T4 nos animais selvagens (Selv) e 2A-AR

    -/- tratados ou no com dose suprafisiolgica de T3...........................

    54

    Tabela 4 - Efeito de 30 dias de tratamento com T3 em msculos esquelticos......................................................................................................

    59

    Tabela 5 - Efeito de 90 dias de tratamento com T3 em msculos esquelticos......................................................................................................

    59

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    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    2D - Duas dimenses

    3D - Trs dimenses

    2-AR - Receptor Adrenrgico 2

    1-AR - Receptor Adrenrgico 1

    2-AR - Receptor Adrenrgico 2

    3-AR - Receptor Adrenrgico 3

    CT - Microtomografia Computadorizada

    AMO - Alta Massa ssea

    B.Ar - rea da cortical

    BMD - Densidade Mineral ssea

    BV/TV - Volume sseo/Volume trabecular

    CART - Trancrito regulado pela cocana e anfetamina

    CO2 - Dixido de carbono

    Ct.Th - Espessura cortical

    DA - Grau de anisotropia

    DNAc - DNA complementar

    DXA - Dual energy X-ray Absorptiometry

    ELD - Msculo Extensor Longo dos Dedos

    EFTP - Ensaio de Flexo de Trs Pontos

    EPM - Erro Padro da Mdia

    Fig. - Figura

    FGF23 -Fibroblast growth factor 23

    GA - Gordura Axilar

    GASTRO - Msculo Gastrocnmio

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    GH - Hormnio do crescimento

    GR - Gordura Retroperitoneal

    HT - Hormnio tireoideano

    IGF-I - Insulin Growth Factor - I

    KO - Knockout

    L2 - Segunda vrtebra lombar

    L3 - Terceira vrtebra lombar

    L4 - Quarta vrtebra lombar

    L5 - Quinta vrtebra lombar

    MEC - Matriz Extracelular

    NE - Noradrenalina

    NF-k - Fator Nuclear kappa B

    OPG - Osteoprotegerina

    PCR - Reao em Cadeia da Polimerase

    Po - Porosidade da cortical

    RANK - Receptor Ativador do Fator Nuclear kappa B

    RANK-L - Ligante do Receptor Ativador do Fator Nuclear kappa B

    RF - Msculo Reto Femoral

    RNAm - RNA mensageiro

    ROI - Regio de interesse

    rT3 - T3 reverso

    Selv - Selvagem

    SMI - ndice do modelo estrutural

    SNA - Sistema Nervoso Autnomo

    SNC - Sistema Nervoso Central

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    SNS - Sistema Nervoso Simptico

    T2 - Diiodotironina

    T3 - Triiodotironina

    T4 - Tetraiodotironia ou tiroxina

    TA - Temperatura Ambiente

    T.Ar - rea peristica

    Tb.N - Nmero de trabculas

    Tb.Pf - Fator de padro de osso trabecular

    T.Pm - Permetro do peristeo

    Tb.Th - Espessura trabecular

    Tb.Sp - Separao entre as trabculas

    TR - Receptor de hormnio tiroideano

    TR - Receptor de hormnio tireoideano

    TR - Receptor de hormnio tireoideano

    TRAP - Fosfatase cida tartrato-resistente

    TRH - Hormnio liberador de tireotrofina

    TSH - Hormnio tireotrfico

    TSHR - Receptor de TSH

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    SUMRIO

    1 INTRODUO........................................................................................................... 17 1.1 O tecido sseo....................................................................................................... 17 1.2 O sistema nervoso autnomo e o sistema nervoso simptico......................... 19 1. 2.1 O sistema nervoso autnomo.............................................................................. 19 1. 2.2 O sistema nervoso simptico.............................................................................. 21 1.3 O sistema nervoso simptico e o tecido sseo .............................................. 22 1.4 Evidncias de que os receptores adrenrgicos 2 tambm participam da regulao da massa e metabolismo sseos...........................................................

    24

    1.5 O hormnio tireoideano (HT)................................................................................ 28 1.6 Evidncias de que o HT interage com o SNS via receptores adrenrgicos para regular a massa e metabolismo sseos............................................................

    31

    2 OBJETIVOS................................................................................................................. 33 2.1 Objetivos gerais.................................................................................................... 33 2.2 Objetivos especficos............................................................................................ 33 3 MATERIAL E MTODOS............................................................................................. 34 3.1 Animais e tratamento.......................................................................................... 34 3.1.1 Animais modificados geneticamente...................................................................... 34 3.1.2 Animais selvagens e 2A-AR

    -/- tratados com HT.................................................. 34 3.2 Sacrifcio dos animais e coleta de amostras..................................................... 35 3.3 Dosagens sricas de T3 e T4................................................................................. 36 3.4 Comprimento corporal e comprimento do fmur e tbia...................................... 36 3.5 Medida da composio corporal........................................................................... 36 3.6 Microtomografia computadorizada (CT) em duas e trs dimenses (2D e 3D)....................................................................................................

    37

    3.7 Teste biomecnico do fmur e tbia...................................................................... 38 3.8 Preparao para PCR em tempo real (real-time PCR)......................................... 39 3.9 Anlise estatstica.................................................................................................. 40 4 RESULTADOS............................................................................................................. 41 4.1 Avaliao da inativao isolada do 2A-AR na estrutura e fisiologia sseas, caracterizando o fentipo sseo de camundongos ..................................

    41

    4.1.1 Massa corporal....................................................................................................... 41 4.1.2 Parmetros cardacos............................................................................................ 41 4.1.3 Massa das gorduras axilar e retroperitoneal........................................................ 42 4.1.4 Massa seca, massa mida e contedo de gua dos msculos

    esquelticos................................................................................................................... 43

    4.1.5 Comprimento corporal............................................................................................ 44 4.1.6 Comprimento do fmur e da tbia.......................................................................... 45 4.1.7 Microtomografia computadorizada em 3D: anlise do osso

    trabecular da metfise distal do fmur............................................................................ 46

    4.1.8 Microtomografia computadorizada em 2D: anlise do osso cortical

    da difise do fmur.......................................................................................................

    47

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    4.1.9 Microtomografia computadorizada em 3D: anlise do osso

    trabecular da quinta vrtebra lombar............................................................................ 48

    4.1.10 Microtomografia computadorizada em 2D: anlise do osso cortical

    da quinta vrtebra lombar.............................................................................................. 49

    4.1.11 Teste biomecnico do fmur e tbia.................................................................... 50 4.1.12 Expresso gnica dos receptores adrenrgicos no fmur.................................. 51 4.1.13 Expresso de genes relacionados ao metabolismo sseo no fmur............... 52 4.1.14 Expresso gnica dos receptores de hormnio tireoideano no fmur.............. 53 4.2 Avaliao do efeito do HT na estrutura e fisiologia sseas dos

    camundongos 2A-AR-/-.................................................................................................

    54

    4.2.1 Dosagens sricas de T3 e T4.............................................................................. 54 4.2.2 Massa corporal..................................................................................................... 55 4.2.3 Parmetros cardacos.......................................................................................... 56 4.2.4 Massa das gorduras axilar e retroperitoneal......................................................... 57 4.2.5 Massa seca, massa mida e contedo de gua dos msculos esquelticos........ 58 4.2.6 Comprimento corporal.......................................................................................... 60 4.2.7 Comprimento do fmur e da tbia......................................................................... 60 4.2.8 Microtomografia computadorizada em 3D: anlise do osso trabecular da

    metfise distal do fmur............................................................................................... 62

    4.2.9 Microtomografia computadorizada em 2D: anlise do osso cortical

    da difise do fmur.......................................................................................................... 62

    4.2.10 Microtomografia computadorizada em 3D: anlise do osso

    trabecular da quinta vrtebra lombar.............................................................................. 64

    4.2.11 Microtomografia computadorizada em 2D: anlise do osso cortical

    da quinta vrtebra lombar............................................................................................ 65

    4.2.12 Teste biomecnico do fmur e tbia.................................................................. 67 4.2.13 Expresso gnica dos receptores adrenrgicos no fmur dos

    animais tratados com hormnio tireoideano.................................................................. 69

    4.2.14 Expresso de genes relacionados ao metabolismo sseo no

    fmur dos animais tratados com hormnio tireoideano.............................................. 70

    4.2.15 Expresso gnica dos receptores de hormnio tireoideano do

    fmur dos animais tratados........................................................................................ 72

    5 DISCUSSO............................................................................................................ 73 5.1 Caracterizao do fentipo sseo de camundongos com inativao do receptor adrenrgico 2A...................................................................

    73

    5.2 Efeito do HT no esqueleto de animais 2A-AR-/- .................................................. 76

    6 CONCLUSES........................................................................................................... 81 6.1 A comparao dos animais selvagens e 2A-AR

    -/- no tratados sugere que..................................................................................................................

    81

    6.2 A comparao do efeito do tratamento com dose suprafisiolgica de T3 entre animais selvagens e 2A-AR

    -/- sugere que....................................................... 81

    REFERNCIAS............................................................................................................ 82

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    1 INTRODUO

    1.1 O tecido sseo

    O tecido sseo um dos mais resistentes e rgidos tecidos do corpo humano

    que tem como funes a proteo e sustentao de rgos, locomoo,

    armazenamento de clcio, fsforo e outros ons (BARON, 2003; GRAAF, 2003).

    Recentemente, descobriu-se que o tecido sseo participa ativamento da regulao

    do metabolismo mineral e da glicose, atravs da liberao do fator de crescimento

    fibroblstico 23 (fibroblast growth factor 23 FGF-23) e da osteocalcina,

    respectivamente. O FGF23 produzido por ostecitos, circula como um hormnio e

    age no rim estimulando a excreo urinria de fsforo (FUKUMOTO; MARTIN,

    2009). A osteocalcina, sintetizada pelos osteoblastos, aumenta a sntese, secreo e

    sensibilidade insulina e aumenta utilizao da glicose e o gasto energtico (LEE

    et al., 2007). Assim sendo, uma srie de evidncias sugerem que o tecido sseo

    atua, tambm, como um rgo endcrino (FUKUMOTO; MARTIN, 2009).

    Macroscopicamente, o tecido sseo pode ser classificado como cortical (ou

    compacto) e trabecular (ou esponjoso). O osso cortical, que representa 80% da

    massa esqueltica, predomina nos ossos longos e tem, principalmente, funo

    mecnica e de proteo de rgos. Sua espessura e arquitetura variam dependendo

    do stio esqueltico, o que reflete o desempenho funcional do osso. O osso

    trabecular ou esponjoso, que corresponde a aproximadamente 20% da massa

    esqueltica, encontrado predominantemente no esqueleto axial e no interior dos

    ossos longos, dentro de suas extremidades expandidas (metfises e epfises). O

    osso esponjoso d resistncia adicional aos ossos, alm de acomodar a medula

    ssea por entre suas traves sseas. Tanto o osso trabecular quanto o cortical

    formam um reservatrio de clcio e fosfato que podem ser prontamente removidos

    ou acrescentados por ao celular, sob controle hormonal (BARON, 2003).

    Microscopicamente, como todo tecido conjuntivo, o tecido sseo consiste de

    uma poro celular e de uma matriz extracelular (MEC). A MEC possui um

    componente orgnico (35%) e inorgnico (65%). O seu componente orgnico

    formado por colgeno, protenas no colgenas (osteonectina, osteocalcina, entre

    outras), mucopolissacardeos e lipdeos. A fase inorgnica , predominantemente,

    constituda por clcio e fsforo, que so depositados como sais amorfos sobre a

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    MEC e, durante o processo de mineralizao ssea, formam estruturas cristalinas

    similares aos cristais de hidroxiapatita [Ca10(PO4)6(OH)2]. As molculas de colgeno

    formam uma estrutura tridimensional, criando espaos para acomodar esses cristais

    (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2004).

    As clulas sseas representam apenas 1 a 2% do tecido sseo. Entretanto,

    so responsveis pelas funes metablicas do osso (como, por exemplo, o

    remodelamento sseo e a manuteno dos nveis circulantes de clcio e fsforo).

    Basicamente, h duas linhagens de clulas no tecido sseo, as clulas da linhagem

    osteoblstica e osteoclstica. As clulas sseas da linhagem osteoblstica so: (a)

    as clulas osteoprogenitoras, que do origem aos osteoblastos; (b) os osteoblastos,

    responsveis pela formao ssea; (c) os ostecitos, encontrados embebidos na

    MEC; e (d) as clulas de revestimento ou de superfcie, responsveis pela proteo

    das superfcies sseas. A outra linhagem de clulas osteoclsticas, responsveis

    pela reabsoro ssea (BARON, 2003).

    O tecido sseo est em constante processo de remodelamento, atravs da

    atividade finamente regulada e acoplada dos osteoclastos e osteoblastos, esse

    acoplamento determinado por uma constante troca de sinais entre essas clulas.

    O remodelamento sseo ocorre em pequenas unidades de clulas chamadas de

    unidades de remodelamento sseo (BRUs, bone remodeling units), que so

    observadas em vrios stios das superfcies sseas. A sequncia de eventos em um

    stio de remodelamento, ou seja, em uma BRU, a ativao-reabsoro-formao.

    As superfcies sseas quiescentes so recobertas por clulas de superfcie ou de

    revestimento (flat bone-lining cells). Em resposta a um estmulo de reabsoro, as

    clulas de superfcie se retraem e expem a superfcie celular; ao mesmo tempo,

    ocorre a diferenciao, ativao e migrao dos osteoclastos aos stios de

    reabsoro (superfcie exposta). Os osteoclastos reabsorvem o osso velho e formam

    uma lacuna, chamada de lacuna de Howship. Finalmente, os osteoblastos ocupam

    o stio de reabsoro e sintetizam a matriz extracelular (osteide) que, aps um

    perodo de amadurecimento (aproximadamente 10 dias), ser mineralizada. Ao final

    de cada ciclo de remodelamento, a quiescncia restaurada. O produto final do

    remodelamento sseo a manuteno da integridade ssea (GOUVEIA, 2004;

    MUNDY; OYAJOBI, 2003). Em adultos, a reabsoro e formao ssea geralmente

    ocorrem de um modo balanceado, a fim de manter a massa ssea praticamente

    constante (BARON, 2003; MUNDY; OYAJOBI, 2003). O remodelamento sseo

  • 19

    importante para o reparo dos micro- e macro-danos e para permitir a renovao

    contnua da matriz ssea, o que, por sua vez, garante a sua integridade (MUNDY;

    OYAJOBI, 2003).

    Uma srie de fatores sistmicos e locais so responsveis pela regulao do

    processo de remodelamento. Sabe-se, atualmente, que a interao entre protenas

    localizadas nas superfcies dos osteoblastos e osteoclastos extremamente

    importante para a regulao local e sistmica do remodelamento sseo.

    O ligante do receptor ativador do NF-k (RANK-L) um membro da

    superfamlia dos ligantes aos fatores de necrose tumoral (TNF). O RANK-L est

    presente na superfcie das clulas osteoblsticas e se liga a seu receptor o RANK

    (Receptor activator of nuclear factor kappa B), que est presente na superfcie das

    clulas precursoras dos osteoclastos e nos osteoclastos maduros. O RANK uma

    protena de membrana do tipo I, que foi originalmente clonada a partir de clulas

    dendrticas (ANDERSON et al., 1997). A ligao do RANK-L ao seu receptor

    especfico, o RANK, promove a induo da osteoclastognese e atividade dos

    osteoclastos. O RANK-L tambm um fator essencial para a sobrevivncia e

    maturao dos osteoclastos (SCHNEEWEIS; WILLARD; MILLA, 2005; WADA et al.,

    2006).

    Segundo Liu et al. (1991), a osteoprotegerina (OPG) uma glicoprotena

    solvel, sintetizada pelos osteoblastos, que se liga ao RANK-L e, desta forma,

    bloqueia a ligao RANK/RANK-L. Assim sendo, a interao OPG/RANK-L limita a

    sobrevivncia, diferenciao e atividade dos osteoclastos (SCHNEEWEIS;

    WILLARD; MILLA, 2005; WADA et al., 2006).

    A descoberta desta interao celular entre osteoblastos e osteoclastos via

    sistema RANK/RANKL/OPG - permitiu um maior entendimento dos mecanismos de

    regulao do remodelamento sseo, tanto em condies fisiolgicas como tambm

    em condies patolgicas.

    1.2 O Sistema nervoso autnomo e o sistema nervoso simptico

    1.2.1 O sistema nervoso autnomo

    Com base em critrios funcionais, o Sistema Nervoso pode ser dividido em

    Sistema Nervoso Somtico e Sistema Nervoso Visceral. Como os prprios nomes

  • 20

    sugerem, o Somtico responsvel pela vida de relao, enquanto que o Visceral

    controla a vida vegetativa. Ambos possuem componentes aferentes e eferentes, no

    entanto, diferentemente do Somtico, a eferncia Visceral no atinge o nvel de

    conscincia, ocorrendo de forma autnoma. Desta maneira, convencionou-se

    chamar essa diviso do Sistema Nervoso Visceral de Sistema Nervoso Autnomo

    (SNA) (MACHADO, 2006).

    Caracterstica marcante do SNA a existncia de dois neurnios para

    conectar o Sistema Nervoso Central (SNC) ao rgo efetuador. Um deles apresenta

    seu corpo dentro do SNC (tronco enceflico ou medula espinal), enquanto o outro

    tem o corpo localizado no Sistema Nervoso Perifrico (SNP), em agrupamentos de

    corpos neuronais chamados de gnglios. Sendo assim, o neurnio cujo corpo est

    no SNC denominado pr-ganglionar, e o neurnio cujo corpo est em gnglios

    denominado ps-ganglionar. Os impulsos nervosos que seguem pelo SNA terminam

    em msculo estriado cardaco, msculo liso ou glndula. Assim, o SN autnomo

    involuntrio (DANGELO; FATTINI, 2007)

    Alm das diferenas com a diviso eferente do Sistema Nervoso Somtico, o

    prprio SNA apresenta diferenas internas, baseadas em fatores anatmicos,

    farmacolgicos e fisiolgicos de seus neurnios. Desta forma, o SNA subdividido

    em partes Simptica e Parassimptica (MACHADO, 2006).

    Entende-se por fatores anatmicos a localizao dos corpos dos neurnios

    pr e ps-ganglionares, bem como o tamanho de suas fibras. A posio dos

    neurnios pr-ganglionares no Sistema Nervoso Simptico (SNS) na medula

    torcica e lombar (entre T1 e L2), diz-se, pois, que o SNS toraco-lombar. No

    Sistema Nervoso Parassimptico (SNP), elas se localizam no tronco enceflico

    (portanto, dentro do crnio) e na medula sacral (S2, S3 e S4). Diz-se que o SNP

    parassimptico crnio-sacral. Com relao aos neurnios ps-ganglinares, no

    SNS, se localizam longe das vsceras e prximo da coluna vertebral, formando os

    gnglios paravertebrais e pr-vertebrais, j no SNP, os neurnios ps-ganglionares

    se localizam prximo ou dentro das vsceras (DANGELO; FATTINI, 2007;

    KOEPPEN; STANTON, 2009)

    Os aspectos fisiolgicos levam em conta as aes geradas por cada parte

    dessa diviso. J os aspectos farmacolgicos, dizem respeito aos tipos de

    neurotransmissores que so principalmente usados pelas fibras ps-ganglionares

    (acetilcolina ou noradrenalina). Sabemos, hoje, que a ao da fibra nervosa sobre o

  • 21

    efetuador (msculo ou glndula) se faz por liberao de um neurotransmissor, dos

    quais os mais importantes so a noradrenalina e acetilcolina. As fibras nervosas que

    liberam a acetilcolina so chamadas colinrgicas e as que liberam noradrenalina,

    adrenrgicas. Entretanto as fibras que secretam noradrenalina ativam receptores

    adrenrgicos e as que secretam acetilcolina ativam receptores colinrgicos

    (MACHADO, 2006).

    Os sistemas simptico e parassimptico diferem no que se refere

    disposio das fibras adrenrgicas e colinrgicas. Geralmente, as fibras pr-

    ganglionares, tanto simpticas como parassimpticas, e as fibras ps-ganglionares

    parassimpticas so colinrgicas. Contudo, a grande maioria das fibras ps-

    ganglionares do SNS adrenrgica. Fazem exceo as fibras que inervam as

    glndulas sudorparas e os vasos dos msculos estriados esquelticos, que apesar

    de serem simpticas, so colinrgicas (DANGELO; FATTINI, 2007).

    1.2.2 O sistema nervoso simptico (SNS)

    Como mencionado acima, o SNS uma subdiviso do SNA, o qual um

    componente eferente do SN Visceral. A grande maioria das fibras ps-ganglionares

    do SNS tem a noradrenalina como neurotransmissor, e por isso, dizemos que so

    fibras adrenrgicas (MACHADO, 2006).

    O sistema adrenrgico um regulador essencial de funes neuronais,

    endcrinas, cardiovasculares, vegetativas e metablicas. As catecolaminas

    endgenas, noradrenalina (produzida pelos neurnios adrenrgicos) e adrenalina

    (produzida pela medula das glndulas supra-renais), transmitem seus sinais

    biolgicos via receptores acoplados protena G para regular uma variedade de

    funes celulares (HOFFMANN; LEFKOWITZ, 1996). Esses receptores so

    denominados receptores adrenrgicos, e atravs deles que o SNS efetua suas

    aes sob os rgos alvo. A maioria desses receptores est localizada na

    membrana plasmtica de neurnios e em clulas alvo neuronais e no neuronais.

    Os receptores adrenrgicos foram inicialmente classificados como e .

    Atualmente, sabe-se que h pelo menos nove subtipos de receptores adrenrgicos:

    trs isoformas 1 (1A, 1B e 1D), trs isoformas 2 (2A, 2B e 2C) e trs isoformas

    (1, 2 e 3) (BYLUND et al., 1994; CIVANTOS; ALEIXANDRE, 2001).

  • 22

    Todos os nove subtipos de receptores adrenrgicos so ativados pela

    adrenalina e noradrenalina, entretanto, apenas os receptores 2 atuam como

    autoreceptores inibitrios pr-sinapticos. Assim sendo, esses receptores modulam

    (inibem) a liberao de noradrenalina pelas terminaes simpticas e por neurnios

    adrenrgicos no SNC (BUCHELER; HADAMEK; HEIN, 2002).

    Ainda no foi completamente elucidada a funo fisiolgica e o potencial

    teraputico de cada subtipo de receptor adrenrgico, portanto mais estudos sobre a

    especificidade das isoformas dos receptores adrenrgicos so necessrios para o

    desenvolvimento de novas estratgias teraputicas na criao de drogas subtipo

    seletivas.

    1.3 O sistema nervoso simptico e o tecido sseo

    Um dos mais importantes achados dos ltimos anos foi o de que o

    remodelamento sseo tambm est sujeito ao controle do SNC, com o SNS agindo

    como efetor perifrico (DUCY et al., 2000; TOGARI, 2002).

    O papel do SNS no controle do remodelamento sseo foi evidenciado pelo

    fentipo de alta massa ssea (AMO) em modelos de camundongos com baixa

    atividade simptica, como em animais Ob/Ob, que so deficientes de leptina, e em

    animais deficientes de dopamina -hidroxilase (DbH-/-), enzima responsvel pela

    sntese de catecolaminas (THOMAS; MATSUMOTO; PALMITER, 1995; THOMAS;

    PALMITER, 1998). Esses modelos animais, entretanto, apresentam disfunes

    endcrinas, incluindo hipercorticismo, hiperinsulinemia e hipogonadismo, que podem

    interferir nos efeitos do SNS no osso.

    Uma quantidade substancial de evidncias demonstrou que o SNS regula

    negativamente a formao ssea e positivamente a reabsoro ssea

    (ELEFTERIOU et al., 2005; TAKEDA et al., 2002; TAKEUCHI et al., 2001). Assim,

    espera-se que a diminuio e o aumento do tnus simptico resultem,

    respectivamente, em alto e baixo fentipo de massa ssea.

    Uma srie de estudos recentes mostra que o SNS regula o remodelamento

    sseo via receptor 2-adrenrgico (2-AR). A presena de fibras nervosas

    simpticas foi identificada no tecido sseo e na medula ssea; alm disso, 2-ARs

    foram encontrados em clulas osteoblsticas e osteoclsticas (BJURHOLM et al.,

    1988; TAKEDA et al., 2002). Foi mostrado que a administrao de propranolol, um

  • 23

    bloqueador especfico e no seletivo, aumentou a massa ssea em roedores

    (TAKEDA et al., 2002), alm de atenuar ou mesmo prevenir a perda de massa ssea

    induzida pela deficincia de estrgeno (BONNET et al., 2007; BONNET; PIERROZ;

    FERRARI, 2008). Inversamente, o isoproterenol, um agonista do 2-AR, prejudicou

    a aquisio do pico de massa ssea e diminuiu a massa e a resistncia sseas em

    animais adultos (BONNET et al., 2007; BONNET et al., 2005).

    Um papel mais preciso do 2-AR na massa ssea foi substanciado por anlises

    de animais com inativao gnica (knockout - KO) desses receptores, os

    camundongos 2-AR-/-, que no apresentam anormalidades endcrinas ou

    metablicas. Esses animais tm peso corporal normal, mas apresentam um fentipo

    de AMO a partir dos 6 meses de idade, que ocorre devido a um aumento da

    formao e diminuio da reabsoro sseas (ELEFTERIOU et al., 2005).

    Adicionalmente, esses animais so resistentes perda de massa ssea induzida por

    ovariectomia.

    Apesar de um crescente corpo de evidncias de que a sinalizao do 2-AR

    um elemento chave na regulao do remodelamento sseo, experimentos

    farmacolgicos e genticos tm produzido resultados contrastantes e inconclusivos.

    digno de nota que a administrao de alguns agonistas -adrenrgicos, como

    salbutamol (BONNET et al., 2007; BONNET et al., 2007; PATAKI et al., 1996),

    clenbuterol (BONNET et al., 2005; CAVALIE et al., 2002) e formoterol (PATAKI et al.,

    2006) promoveram efeitos positivos na massa ssea de ratos. Alm disso, os efeitos

    positivos dos bloqueadores no so sempre detectveis e parecem ser dose

    dependentes, com diminuio dos benefcios em altas dosagens (BONNET et al.,

    2007).

    Em humanos, uma srie de estudos mostrou que a administrao desses

    bloqueadores promove efeitos positivos (BONNET et al., 2007; SCHLIENGER et al.,

    2004), negativos (REJNMARK et al., 2004) ou no promovem efeitos (LEVASSEUR

    et al., 2005; REID et al., 2005) na densidade mineral ssea (bone mineral density-

    BMD) e/ou em fraturas sseas. Assim, os efeitos dos agonistas no metabolismo

    sseo permanecem controversos.

  • 24

    1.4 Evidncias de que os receptores adrenrgicos 2 tambm participam da

    regulao da massa e metabolismo sseos

    Visando investigar o papel do SNS na massa ssea e no remodelamento, um

    estudo recente do nosso grupo analisou o fentipo esqueltico de um modelo de

    camundongo com hiperatividade simptica crnica (FONSECA et al., 2011). Esse

    modelo animal baseado no duplo KO dos genes 2A e 2C dos receptores

    adrenrgicos (2A/2C-AR-/-) (HEIN; ALTMAN; KOBILKA, 1999).

    Trs subtipos de 2-ARs foram identificados: 2A-AR, 2B-AR e 2C-AR

    (KNAUS et al., 2007; PHILIPP; HEIN, 2004). Os receptores adrenrgicos 2 (2-ARs)

    foram inicialmente classificados como autorreceptores inibitrios pr-sinpticos

    (modulam a liberao de neurotransmissores liberados pelo prprio neurnio) que

    regulam negativamente a liberao de catecolaminas. Estudos farmacolgicos

    indicam que o receptor adrenrgico 2A pode ser considerado o principal receptor

    2 que atua na liberao de noradrenalina (PHILIPP; HEIN, 2004). A ativao dos

    receptores 2 no tronco enceflico leva a uma reduo do tnus simptico, o que

    resulta em diminuio da freqncia cardaca e da presso sangunea (RUFFOLO et

    al., 1991; RUFFOLO; NICHOL; HIEBLE, 1991). Esses efeitos so potencializados

    pela estimulao dos 2-ARs em terminaes nervosas simpticas. Hein, Altman e

    Kobilka (1999) mostraram que o bloqueio simultneo do 2A- e do 2C-ARs em

    camundongos leva a uma elevao crnica do tnus simptico. Esses camundongos

    KOs apresentam alta mortalidade e diminuio da funo cardaca a partir dos 4

    meses de idade (BRUM et al., 2002). De acordo com o esperado, observamos que

    os camundongos 2A/2C-AR-/- apresentam nveis plasmticos elevados de

    noradrenalina (NE) e hipertrofia cardaca, o que confirma a hiperatividade do SNS

    (FONSECA et al., 2011).

    Considerando-se as evidncias de que a ativao do SNS apresenta efeitos

    negativos na massa ssea (DUCY et al., 2000), a nossa expectativa era a de que os

    camundongos 2A/2CAR-/- apresentariam um esqueleto osteopnico.

    Surpreendentemente, vimos que esses animais apresentam um fentipo

    generalizado de AMO (FONSECA et al., 2011). A anlise da massa ssea por dual

    energy X-ray absorptiometry (DXA), por um perodo de 12 semanas, mostrou que o

    fentipo de AMO nos animais 2A/2C-AR-/- se torna mais evidente medida em que

    os animais envelhecem. Anlises histomorfomtricas mostraram um aumento de

  • 25

    osso trabecular no corpo vertebral da quinta vrtebra lombar (L5). Alm disso,

    anlises por microtomografia computadorizada (CT) mostraram aumento de osso

    trabecular, uma melhor conexo entre as trabculas e maior quantidade de

    trabculas em forma de placas no fmur e na vrtebra dos animais KOs.

    As melhorias na massa ssea e na microarquitetura trabecular apresentadas

    por esses KOs foram acompanhadas por melhorias nos parmetros biomecnicos

    do fmur e da tbia. Nesses dois stios esquelticos, a carga mxima (uma medida

    de fora ssea) foi significativamente elevada nos animais KOs (8-18%). Alm disso,

    a resilincia, que reflete a habilidade do osso de sofrer deformao elstica, tambm

    apresentou-se aumentada na tbia desses animais com relao aos animais

    selvagens (BRUM et al., 2002; FONSECA et al., 2011).

    possvel que as melhorias na massa e funo sseas (biomecnica ssea),

    apresentadas pelos camundongos 2A/2C-AR-/-, possam ser parcialmente explicadas

    pelo aumento da carga mecnica, uma vez que esses animais apresentam maior

    peso corporal do que os selvagens. Entretanto, alguns pontos indicam que uma

    maior carga mecnica no pode ser a nica, ou a principal explicao do fentipo de

    AMO dos KOs. Primeiro, o fentipo de AMO foi mais evidente na coluna lombar e

    menos evidente na tbia, ossos que so, respectivamente, menos e mais sujeitos ao

    stress mecnico dependente do peso corporal. Segundo, as diferenas de peso

    corporal entre os KOs e os selvagens no mudaram durante as 12 semanas de

    avaliao, enquanto que as diferenas da BMD aumentaram (FONSECA et al.,

    2011).

    A respeito do maior peso corporal, importante ser dito que os camundongos

    2A/2C-AR-/- no so obesos. A massa gorda, determinada por DXA e pela medida

    dos coxins adiposos mostrou ser menor nos animais KOs. importante considerar

    que a massa magra identificada por DXA determinada pelo contedo de protena,

    gua, glicognio e minerais que no so oriundos dos ossos (VILLICEV et al., 2007).

    De fato, foi detectado um aumento na massa seca de dois dos cinco msculos

    esquelticos avaliados (14% no plantar e 7% no gastrocnmio), mas foi observada

    diminuio da massa seca no msculo sleo (58%) dos KOs vs. selvagens.

    importante citar que o aumento da massa muscular era esperada, uma vez que

    estudos mostraram que agonistas dos receptores 2- adrenrgicos aumentam a

    massa muscular em humanos (MARTINEAU et al., 1992; MALTIN et al., 1993) e em

    roedores (BONNET et al., 2005).

  • 26

    digno de nota, entretanto, que esse efeito positivo dos agonistas no foi

    capaz de contrabalancear os seus efeitos negativos na massa ssea em humanos

    (DE VRIES et al., 2007) e em ratos (BONNET et al., 2007; BONNET et al., 2005).

    Assim, improvvel que o aumento na massa muscular seja o principal

    determinante do fentipo de AMO dos animais 2A/2C-AR-/-, baseado na teoria da

    interao msculo-osso que determina que uma maior massa muscular est

    associada a uma maior massa ssea (FROST., 2000).

    Para investigar a base do aumento na massa ssea nos animais 2A/2C-AR-/-,

    nosso grupo realizou histomorfometria ssea e foi avaliada a expresso de genes

    relacionados com a reabsoro ssea. Vimos que a taxa de formao ssea maior

    e que a reabsoro ssea menor nos 2A/2C-AR-/- em comparao com os

    selvagens. Alm disso, vimos que a reduo na reabsoro ssea foi

    acompanhada por uma diminuio no nmero de osteoclastos e por uma diminuio

    na expresso do RNA mensageiro (RNAm) da fosfatase cida tartrato-resistente

    (TRAP), que um marcador de atividade osteoclstica (ANGEL et al., 2000). Foi

    detectado, ainda, que os animais 2A/2C-AR-/- apresentam diminuio da expresso

    do RNAm do RANK. bem sabido que o RANK-L, o ligante do RANK, o principal

    indutor da osteoclastognese e um importante indutor da atividade osteoclstica

    (HOFBAUER; HEUFELDER, 2001; SCHNEEWEIS; WILLARD; MILLA, 2005), uma

    vez que ele se liga com o RANK, o qual expresso em precursores de osteoclastos

    e em osteoclastos maduros (HOFBAUER; HEUFELDER, 2001; WADA et al., 2006).

    Assim, esses dados sugerem que a elevao do tnus simptico em animais

    2A/2C-AR-/- reduz a reabsoro ssea via RANK/RANK-L. Esses achados so

    consistentes com o fentipo de AMO dos 2A/2C-AR-/-, mas contrasta estudos

    anteriores que mostram que a ativao do SNS diminui a formao ssea e aumenta

    a reabsoro (DUCY et al., 2000; ELEFTERIOU et al., 2005; TAKEDA et al., 2002;

    TAKEDA, 2005; TAKEDA; KARSENTY, 2001).

    Nosso grupo tambm investigou se possveis alteraes na leptina srica e/ou

    na expresso do RNAm do transcrito regulado pela cocana e anfetamina (CART) no

    crebro poderiam explicar o fentipo de AMO dos animais 2A/2C-AR-/-. Essa

    suposio foi levantada j que h fortes evidncias de que a leptina controla a

    reabsoro ssea indiretamente, atravs de, no mnimo, dois mecanismos distintos

    e antagnicos (ELEFTERIOU et al., 2005). Por um lado, a leptina aumenta a

    reabsoro ssea e inibe a formao atravs da ativao hipotalmica do SNS

  • 27

    (DUCY et al., 2000.; ELEFTERIOU et al., 2005; SHI et al., 2008). Por outro, a leptina

    inibe a reabsoro ssea, induzindo a expresso cerebral de CART, um

    neuropeptdeo que inibe a reabsoro ssea modulando negativamente a expresso

    de RANK-L (ELEFTERIOU et al., 2005). digno de nota, entretanto, que o nvel

    srico de leptina e a expresso cerebral de RNAm do CART foram normais nos

    animais 2A/2C-AR-/-. Alm disso, foi medido os nveis sricos de IGF-I (insulin

    growth factor-I), j que h evidncias de que eixo GH/IGF-I medeia a sinalizao

    adrenrgica no osso (BONNET; PIERROZ; FERRARI, 2008; PIERROZ et al., 2004).

    Mais uma vez, no foram encontradas diferenas entre os animais KOs e os

    selvagens.

    Considerando o inesperado fentipo de AMO dos animais 2A/2C-AR-/- e as

    evidncias de que os 2-ARs medeiam as aes osteopnicas do SNS

    (ELEFTERIOU et al., 2005; TAKEDA et al., 2002), foi suspeitado que a expresso do

    RNAm desse receptor pudesse estar regulada negativamente no osso dos animais

    KOs. Entretanto, vimos que o 2-AR igualmente expresso em tbias de KOs e

    selvagens. importante salientar que um estudo prvio no encontrou evidncia

    funcional de de downregulation dos 2-AR nos animais 2A/2C-AR-/-, como um

    resultado da elevao do tnus simptico (BRUM et al., 2002).

    Vale pena mencionar que o fentipo de AMO ainda mais notvel em

    animais 2A/2C-AR-/- do que em animais com inativao do receptor 2 adrenrgico.

    Enquanto o fentipo de AMO observado apenas quando os animais 2-AR-/-

    apresentam 6 meses de idade (ELEFTERIOU et al., 2005), esse fentipo j notado

    quando animais 2A/2C-AR-/- apresentam um ms e dez dias de idade. Alm disso, o

    volume trabecular por volume sseo na vrtebra lombar 80% maior em 2A/2C-AR-

    /- vs. selvagens com quatro meses de idade, enquanto que em animais 2-AR-/-,

    essa diferena de 50% vs. selvagens com seis meses de idade.

    O fato de que animais 2A/2C-AR-/- apresentam fentipo de AMO, mesmo

    apresentando elevao do tnus simptico e sinalizao normal do 2-AR, levanta a

    hiptese de que os receptores 2A- e/ou 2C-AR tambm apresentam um papel na

    mediao, direta ou indireta, das aes do SNS no esqueleto. De fato, nosso grupo

    mostrou que os dois receptores so expressos no osso dos animais selvagens e nas

    clulas osteoblasto-like MC3T3-E1 (derivadas da calvria de camundongos), sendo

    que o RNAm do 2A-AR se mostrou mais expresso do que do 2C-AR.

  • 28

    Os receptores 2-adrenrgicos foram inicialmente caracterizados como

    receptores pr-sinpticos que regulam a liberao de NE (STARKE; ENDO; TAUBE,

    1975). Depois, foi mostrado que esses receptores no inibem s a liberao de

    catecolaminas, mas que tambm podem regular a exocitose de um nmero de

    outros neurotransmissores no SNC e perifrico (PHILIPP; BREDE; HEIN, 2002).

    Alm disso, foi mostrado que 2-ARs no esto restritos a localidades pr-sinpticas,

    mas tambm possuem funes ps-sinpticas, que incluem regulao da

    temperatura corporal, presso intraocular, liplise e percepo da dor (HEIN, 2006;

    PHILIPP; BREDE; HEIN, 2002). Estudos adicionais sero necessrios para a

    caracterizao do papel dos subtipos de 2-ARs no metabolismo sseo.

    Coletivamente, os recentes achados do nosso grupo trazem novas evidncias

    de que a regulao do metabolismo sseo pelo SNS extremamente complexa. O

    fato de que os animais 2A/2C-AR-/- apresentam fentipo de AMO mesmo

    apresentando uma elevao no tnus simptico e 2-AR intacto, sugere que o 2-

    AR no o nico adrenoreceptor envolvido no controle do metaboismo sseo. Alm

    disso, achados do nosso grupo tambm levantam a hiptese de que os

    adrenoreceptores 2A- e/ou 2C tambm apresentam um papel importante na

    mediao das aes do SNS no esqueleto.

    As investigaes das funes especficas dos subtipos dos 2-ARs e suas

    interaes no metabolismo sseo, incluindo interaes com o 2-AR, so

    importantes para a elucidao do papel do papel do SNS no esqueleto, o que

    poder contribuir para o desenvolvimento de novas estratgicas teraputicas para o

    tratamento da osteoporose.

    1.5 O hormnio tireoideano (HT)

    A glndula tireoide, localizada imediatamente abaixo da laringe e ocupando

    as regies laterais e anterior da traqueia, uma das maiores glndulas endcrinas e

    secreta dois hormnios principais, a tiroxina e a triiodotironina, habitualmente

    chamados de T4 e T3, respectivamente. Menos de 1% da produo tireoideana

    representado por outras iodotironinas, o T3 reverso (rT3) e a diiodotironina (T2)

    (GUYTON; HALL, 2006; KRONENBERG, 2008).

  • 29

    As clulas da tireoide so tpicas clulas glandulares secretoras de protenas.

    O retculo endoplasmtico e o aparelho de Golgi sintetizam e secretam para os

    folculos uma grande glicoprotena chamada de tireoglobulina, sendo que cada

    molcula de tireoglobulina contm cerca de 70 aminocidos tirosina, que so os

    principais substratos que se combinam com o iodo para formar os hormnios

    tireoidenos (GUYTON; HALL, 2006).

    O primeiro estgio na formao dos hormnios tireoideanos o transporte de

    iodeto do sangue para as clulas e folculos glandulares da tireoide. Primeiramente,

    necessrio que ocorra a converso dos ons iodeto para uma forma oxidada de

    iodo que se liga diretamente ao aminocido tirosina. O principal produto hormonal da

    reao de acoplamento a molcula tiroxina, que permanece como parte da

    molcula de tireoglobulina e outra possibilidade o acoplamento de uma molcula

    de monoiodotirosina com uma de diiodotirosina, formando a triiodotironina.

    (GUYTON; HALL, 2006).

    Nos mamferos, 60-90% da produo tireoideana corresponde a

    tetraiodotironina (T4) e 10-40% corresponde a triiodotironina (T3). Embora a tireide

    produza preferencialmente T4, h um consenso de que a maioria dos efeitos dos

    hormnios tireoideanos seja fruto da ligao do T3 com os seus receptores

    nucleares (TRs) (KRONENBERG, 2008; YEN, 2001).

    A sntese e secreo dos hormnios tireoideanos regulada pelo eixo

    hipotlamo-hipfise-tireide. Resumidamente, o hipotlamo produz e secreta o

    hormnio liberador da tireotrofina (thyrotropin releasing hormone-TRH) que atinge a

    regio anterior da hipfise e estimula a produo do hormnio tireotrfico (thyroid

    stimulating hormone-TSH). O TSH age nas clulas foliculares tireoideanas para

    estimular a sntese e secreo de T4 e T3. O hormnio tireoideano age via receptor

    TR no hipotlamo e na hipfise para inibir a produo e secreo de TRH e TSH,

    esse feedback negativo mantm a circulao de hormnios tireoideanos e TSH

    regulados (ABEL et al., 2001; FORREST et al., 1996; WAUNG; BASSET;

    WILLIAMS, 2012; WILLIAMS, 2009). Quando um indivduo apresenta nveis

    aumentados de TSH e nveis diminudos de T3 e T4, tm-se uma situao

    patolgica denominada hipotireodismo. Contrariamente, o hipertireoidismo se

    caracteriza sorologicamente por nveis aumentados de T3 e T4 e reduzidos de TSH

    (KRONENBERG, 2008).

  • 30

    A afinidade dos TRs aproximadamente 10 vezes maior pelo T3 em relao

    ao T4. Por conta disso, considerando-se os efeitos genmicos dos hormnios

    tireoideanos, o T4 atua como um pr-hormnio, e o T3 como hormnio ativo,

    ligando-se aos receptores nucleares (BIANCO et al., 2002; BRENT; MOORE;

    LARSEN, 1991). O T4, produto secretado em maior abundncia pela glndula

    tireide, convertido a T3 por ao de enzimas conhecidas como selenodesiodases

    das iodotironinas. A converso do T4 a T3 ocorre na prpria tireoide ou nas clulas

    de outros tecidos.

    Ao contrrio do que se pensava anteriormente, h evidncia de que o TSH

    tambm atua diretamente em tecidos no tireoideanos, dentre esses, o tecido sseo.

    O receptor de TSH (TSHR) primariamente expresso nas clulas foliculares da

    glndula tireoide, mas tambm foi identificado no crebro, rins, testculos, corao,

    osso, tecido adiposo, fibroblastos e em clulas do sistema imune, hematopoiticas e

    sseas (BELL et al., 2002; PRUMMEL et al., 2000)

    O HT tem efeito no osso adulto, sendo importante para a manuteno do

    metabolismo sseo, uma vez que estimula tanto a formao quanto a reabsoro

    ssea, regulando a atividade dos osteoblastos e osteoclastos. Uma srie de estudos

    mostram que, em condies de excesso do HT, a atividade dessas duas populaes

    celulares est aumentada com predomnio da atividade osteoclstica. Como

    resultado, o metabolismo sseo acelerado favorecendo a reabsoro ssea,

    balano negativo do clcio e perda de massa ssea (MELSEN; MOSEKILDE, 1977).

    importante dizer que os efeitos osteopnicos do excesso de HT foram

    primeiramente descritas h mais de um sculo atrs (VON RECKLINGHAUNSEN,

    1891) e que, a tireotoxicose evidente considerada uma das causas da osteoporose

    secundria (FALLON et al., 1983; FRASER et al., 1971). Assim sendo, o

    entendimento dos mecanismos atravs dos quais os HTs levam perda de massa

    ssea devem contribuir para o entendimento da fisiopatologia da osteoporose.

    Embora a importncia dos HTs no desenvolvimento e metabolismo sseos

    seja clara, pouco se sabe a respeito dos mecanismos que medeiam os seus efeitos

    no tecido sseo, sendo necessrios estudos para um melhor entendimento destes

    processos.

  • 31

    1.6 Evidncias de que o HT interage com o SNS via receptores adrenrgicos 2

    para regular a massa e metabolismo sseos

    O hormnio tireoideano essencial para o desenvolvimento, crescimento e

    metabolismo sseos. O T3 estimula tanto a formao quanto a reabsoro ssea

    atravs da regulao da atividade de osteoblastos e osteoclastos (KRAGSTRUP;

    MELSEN; MOSEKILDEM, 1981; MOSEKILDE; MELSEN, 1978). O excesso de HT

    estimula mais a atividade osteoclstica do que a osteoblstica, o que resulta em

    aumento da calcemia e reduo da massa ssea.

    Uma caracterstica importante do HT, mas ainda pouco entendida, a sua

    interao com o SNS. bem sabido que o sinergismo entre as catecolaminas e o

    HT necessrio para que ocorra a mxima termognese, liplise, gligogenlise e

    gluconeognese (OPPENHEIMER et al., 1991). Estudos anteriores mostraram que

    pacientes com hipertireoidismo apresentam tnus simptico elevado (PIJL et al.,

    2001). Considerando que o excesso de HT causa perda de massa ssea e que a

    ativao do SNS tambm apresenta efeito negativo na massa ssea, nosso grupo

    levantou a hiptese de que o HT tambm interage com o SNS para regular o

    metabolismo sseo e, conseqentemente, a massa ssea.

    Uma evidncia dessa possvel interao o fato de que o tratamento de

    pacientes hipertireoideos com propranolol (um antagonista -adrenrgico) corrige

    secundariamente a hipercalcemia (RUDE et al., 1976). Alm disso, pacientes com

    hipotireoidismo tratados com propranolol apresentam reduo da excreo de

    hidroxiprolina pela urina, um marcador bioqumico de reabsoro ssea (BEYLOT et

    al., 1982).

    Para investigar essa hiptese, camundongos fmeas selvagens e 2A/2C-AR-

    /- de 40 dias de idade foram tratados com aproximadamente 10 vezes a dose

    fisiolgica de T3 (10xT3=3,5 g/100 g PC/dia) durante 80 dias ou permaneceram

    sem tratamento (WT e KO controles) (FONSECA, 2009). Como esperado, os

    animais selvagens tratados com T3 apresentaram diminuio na BMD do fmur

    (13%, p

  • 32

    Foi observado, ainda, que os adrenoceptores 2A e 2C (2A-AR e 2C-AR) so

    expressos na tbia de camundongos selvagens e em clulas MC3T3-E1. Mais

    importante ainda foi o fato observar que o T3 inibe a expresso do 2C-AR no osso

    de camundongos. Tambm observamos que o T3 reduziu significativamente a

    expresso da OPG, uma protena que limita a atividade osteoclstica, nos animais

    selvagens, mas no nos animais KOs.

    Assim sendo, os nossos estudos sugerem que os receptores adrenrgicos 2A

    e ou 2C apresentam um papel importante na fisiologia ssea e que o SNS interage

    com o HT atravs desses receptores para regular a massa ssea. Entretanto, para

    confirmar essas hipteses, se faz necessrio caracterizar o fentipo sseo e estudar

    o efeito do HT em camundongos com inativao individual do 2A-AR e 2CAR.

  • 33

    2 OBJETIVOS

    2.1 Objetivos gerais

    1- Avaliar se a inativao isolada do 2A-AR interfere na estrutura e fisiologia

    sseas;

    2- Avaliar se o 2A-AR medeia aes do hormnio tireoideano na estrutura e

    fisiologia sseas.

    2.2 Objetivos especficos

    1- Caracterizar o fentipo sseo de camundongos 2AAR-/-, avaliando:

    a estrutura do osso trabecular e cortical, por microtomografia

    computadorizada;

    parmetros biomecnicos, pelo teste de flexo de trs pontos;

    o metabolismo sseo, atravs da anlise da expresso de genes

    relacionados fisiologia ssea.

    2- Analisar o efeito do tratamento com dose suprafisiolgica de hormnio

    tireoideano no esqueleto de camundongos selvagens (C57BL/6J) e com

    inativao isolada do 2A-AR (2AAR-/-), nos seguintes parmetros:

    na estrutura do osso trabecular e cortical, por microtomografia

    computadorizada;

    em parmetros biomecnicos, pelo teste de flexo de trs pontos;

    no metabolismo sseo, atravs da anlise da expresso de genes

    relacionados fisiologia ssea.

  • 34

    3 MATERIAL E MTODOS

    3.1 Animais e tratamento

    Todos os protocolos aplicados ao uso e manuseio de animais esto de acordo

    com os termos estabelecidos pelo Comit de tica do Instituto de Cincias

    Biomdicas (autorizao n 35, fls. 85, livro 02).

    3.1.1 Animais modificados geneticamente

    Foram estudados camundongos fmeas selvagens (C57BL/6J) e animais 2A-

    AR-/-, com 30 dias de idade. Os animais foram mantidos no Biotrio do

    Departamento de Anatomia do Instituto de Cincias Biomdicas sob o ciclo/escuro

    de 12h/12h, com acesso gua e a rao ad libitum.

    Os animais 2A-AR-/-, com background C57BL/6J, foram produzidos por Hein,

    Altman e Kobilka. (1999) e trazidos ao Brasil pela Prof Dr Patrcia C. Brum, da

    Escola de Educao Fsica e Esporte da USP, com quem estabelecemos

    colaborao para a realizao deste estudo.

    3.1.2 Animais selvagens e 2A-AR-/- tratados com HT

    Os animais receberam dose suprafisiolgica de T3 (Sigma-Aldrich, Germany),

    equivalente a 20 vezes a dose fisiolgica (20xT3=7 g/100 g peso corporal/dia). O

    T3 foi administrada uma vez ao dia, intraperitonealmente, a partir dos 30 dias de

    idade, por 30 ou 90 dias. Todos os animais foram pesados uma vez por semana

    para acompanhamento da variao da massa corporal ao longo do perodo

    experimental e para o ajuste das doses de T3 a serem administradas. Os animais

    foram divididos em 4 grupos, os quais esto apresentados na tabela 1.

  • 35

    Tabela 1 Grupos experimentais dos animais selvagens e geneticamente modificados.

    Idade ao sacrifcio

    (dias) Grupos

    30

    60

    120

    Selv n=6

    n=6 n=6

    Selv+T3 n=6

    tt=30 dias

    n=6

    tt=90 dias

    2A-AR-/- n=6 n=6 n=6

    2A-AR-/-+T3 n=6

    tt=30 dias

    n=6

    tt=90 dias

    Os animais foram tratados com dose suprafisiolgica de T3 (~20 x a dose fisiolgica de T3 = 20 x 0,7 ug/100 g PC/dia). Selv=selvagem. n refere-se ao nmero de animais a ser sacrificado e tt, ao tempo de tratamento com T3 no momento do sacrifcio.

    3.2 Sacrifcio dos animais e coleta de amostras

    Os camundongos foram sacrificados por exposio a dixido de carbono

    (CO2) e, em seguida, o sangue foi coletado por puno cardaca com seringa e

    agulha heparinizadas com 10 l de heparina (liquemine 25.000 l/5ml). Parte do

    volume do sangue coletado foi imediatamente centrifugada a 3000 rpm 4 C, por

    10 minutos, para obteno do plasma, que, em seguida, foi congelado em nitrognio

    lquido e armazenado em freezer -80 C, para posterior dosagem de noradrenalina

    (NE). Para obteno de soro, a outra parte do volume do sangue coletado foi

    incubada a 37 C, por 10 minutos, e centrifugada a 3000 rpm por 10 minutos em

    temperatura ambiente (TA). O soro foi isolado e imediatamente congelado para

    posterior anlise de T3 e T4.

    Os fmures foram coletados e dissecados rapidamente sobre uma superfcie

    resfriada (0-4 C). Em seguida foram congelados em nitrognio lquido, e

    armazenados em freezer -80 C. O corao, as gorduras axilar (GA), retroperitoneal

    (GR), os msculos extensor longo dos dedos (ELD), gastrocnmio (GASTRO) e o

    reto femoral (RF) foram coletados e congelados para posterior anlise. A quarta

    vrtebra lombar (L4) e a tbia esquerda foram coletadas, dissecadas, armazenadas

    em lcool 70%, e posteriormente armazenadas em temperatura entre 0-4 C. O

  • 36

    fmur direito, tbia direita e a quinta vrtebra lombar (L5) foram coletados,

    dissecados e armazenados em soluo salina 0,9% , e em seguida, congelados.

    As carcaas foram congeladas para posterior anlise.

    3.3 Dosagens sricas de T3 e T4

    As dosagens sricas de T3 e T4 foram realizadas por radioimunoensaio no

    laboratrio RDO Diagnsticos Mdicos. Os resultados foram expressos em

    microgramas de T3 e T4 por decilitro de soro (mcg/Dl).

    3.4 Comprimento corporal e comprimento do fmur e tbia

    Aps o sacrifcio, o comprimento corporal foi aferido em centmetros (cm),

    pela medida da distncia entre a ponta do focinho at a base da cauda. Mediu-se,

    tambm, o comprimento do fmur e tbia direitos com um paqumetro eletrnico

    digital (Vonder).

    3.5 Medida da composio corporal

    A medida da composio corporal foi realizada atravs da aferio da massa

    mida dos contedos de GR e GA e da aferio da massa mida e seca dos

    seguintes msculos esquelticos: RF, GASTRO e ELD. Foi, tambm, realizada a

    medida da massa mida e seca do corao, para avaliao de hipertrofia cardaca.

    Para tanto, aps o sacrifcio dos animais, a GR, GA, os msculos esquelticos e o

    corao foram retirados dos animais e, logo em seguida, pesados em balana

    analtica de preciso (Denver Instrument M-220D), para aferio de massa mida.

    As amostras foram, em seguida, colocadas em estufa a 60 C, por 48 horas. Aps

    esse perodo, os msculos foram pesados novamente para a aferio de massa

    seca. O contedo de gua foi calculado a partir da diferena entre a massa mida e

    a massa seca. As massas do RF foram divididas pelo comprimento, em centmetros,

    do fmur (CF) e as massas do GASTRO e ELD foram divididas pelo comprimento da

    tbia (CT) e, portanto, expressas como g/mmCFx100 e g/mmCTx100,

    respectivamente. As massas das gorduras axilar e retroperitoneal e do corao

  • 37

    foram divididas pela massa em gramas do animal, sendo expressas como

    g/gPCx100.

    3.6 Microtomografia computadorizada (CT) em duas e trs dimenses (2D e

    3D)

    O fmur direito e a L5 foram dissecados e mantidos em salina -20 C at o

    momento das anlises. Parmetros em 2D e 3D dos ossos foram obtidos atravs de

    um Microtomgrafo Skyscan 1172 (Desktop X-ray microtomograph), e analisados

    com o auxlio do programa CT-Analyser (verso 1.10, Skyscan, Artselaar, Blgica). A

    regio de interesse (region of interest-ROI) dos fmures foi padronizada com base

    no comprimento do osso. Para a anlise de osso trabecular, inicialmente, o

    comprimento total de cada fmur foi dividido em quatro partes iguais. Em seguida, o

    comprimento do quarto distal foi dividido por 1.5, onde a parte proximal desta diviso

    foi selecionada para anlise (ROI). Este procedimento foi adotado a fim de excluir a

    lmina epifisial das anlises (Fig. 1A)

    Os parmetros trabeculares analisados foram: volume trabecular (BV/TV),

    espessura trabecular (TbTh), separao trabecular (Tb.Sp), nmero de trabculas

    (Tb.N), fator do padro trabecular sseo (Tb.Pf), um ndice de conectividade

    trabecular; ndice do modelo estrutural (SMI), que indica a prevalncia de trabculas

    sseas em forma de rods (cilndricas) e plates (achatadas), o grau de anisotropia

    (DA) e a densidade mineral ssea (BMD).

    O Tb.Pf reflete a conectividade trabecular, sendo que baixos ndices, indicam

    melhor conectividade da estrutura trabecular (HAHN et al., 1992).

    O SMI indica a prevalncia de trabculas sseas em forma de rods

    (cilndricas) e plates (achatadas, em forma de placas). Este parmetro de suma

    importncia na anlise da estrutura trabecular, uma vez que a deteriorao do osso

    trabecular, em funo do envelhecimento ou doena, caracterizada pela converso

    de trabculas achatadas para cilndricas. Assim sendo, o predomnio de trabculas

    cilndricas resulta em um maior valor de SMI e em trabculas menos resistentes ao

    stress mecnico (HILDEBRAND; RUEGSEGGER, 1997).

    O DA a medida da simetria em 3 dimenses e reflete a orientao das

    trabculas sseas. No caso do osso, que um material no contnuo, repleto de

    estruturas (trabculas) orientadas em diferentes direes, a mensurao do DA

  • 38

    reflete a capacidade de reagir diferentemente a cargas vindas de sentidos

    diferentes. Quanto menos simtrico o objeto, maior o DA. Com relao ao osso,

    quanto maior o DA, maior ser o nmero de trabculas orientadas em diferentes

    direes e, portanto, melhor ser a sua resposta a diferentes vetores de foras

    mecnicas.

    Para a anlise do osso cortical, parmetros em 2D do fmur foram obtidos e

    analisados conforme descrito anteriormente. Primeiramente o osso foi dividido em

    metades proximal e distal, em seguida, a metade distal foi subdividida em quatro

    partes iguais. Por fim, o segundo quarto proximal foi selecionado para anlise (ROI)

    (Fig 1B).

    Os parmetros corticais analisados foram: rea peristica - rea total

    delimitada pelo peristeo, inclui a rea medular e cortical (T.Ar), permetro do

    peristeo (T.Pm), rea da cortical (B.Ar), rea medular (T.Ar-B.Ar), permetro do

    endsteo (B.Pm-T.Pm), espessura cortical (Ct.Th) e porosidade da cortical (Po).

    Figura 1 - Esquema de seleo das reas de interesse do fmur (quadriculado) e vrtebra.

    A. Osso trabecular. B. Osso cortical. C. Osso trabecular e cortical. 3.7 Teste biomecnico do fmur e tbia

    Os fmures e as tbias direitos foram dissecados e mantidos em salina a 20C

    at o momento das anlises. Parmetros biomecnicos do fmur e da tbia dos

    animais controles e tratados com T3 foram obtidos pelo Ensaio de Flexo de Trs

    Pontos (EFTP), realizado em um sistema para teste de materiais Instron, modelo

    3344 (Instron Corporation, MA, USA). Durante o ensaio, as extremidades dos

    C

  • 39

    fmures e tbias eram apoiadas em dois roletes, posicionados sobre um suporte,

    sendo a distncia entre os apoios variadas, conforme o tamanho dos ossos

    (conseqncia das diferentes idades). Uma fora foi aplicada perpendicularmente ao

    eixo longitudinal do osso no ponto mdio entre os dois apoios, no sentido ntero-

    posterior no fmur e no sentido ltero-medial na tbia, por uma haste cilndrica a uma

    velocidade constante de 05 cm/min at o momento de ruptura do osso (Fig. 2).

    Figura 2 Foto do osso no equipamento para a realizao do teste de flexo de trs pontos.

    A fora aplicada e o deslocamento da haste cilndrica foram monitorados e

    registrados atravs de um software prprio do equipamento (Bluehill lite, verso

    2.25). Foram avaliados os seguintes parmetros biomecnicos: Carga mxima (em

    N), que corresponde maior fora aplicada durante o ensaio (fora mxima qual o

    osso capaz de resistir); mdulo elstico (N/mm), que corresponde rigidez ssea

    e a tenacidade (J), que a capacidade do osso de resistir a uma fratura.

    3.8 Preparao para PCR em tempo real (Real-Time PCR)

    O fmur esquerdo dos animais selvagens e 2A-AR-/- controles e tratados com

    T3 foram dissecados rapidamente sobre uma superfcie resfriada (0-4 C),

    congelados em nitrognio lquido e armazenados em freezer -80 C. Os ossos foram

    pulverizados, na presena de nitrognio lquido, em um mortar e pistilo de ao

    (Fisher Scientific International, Inc, Hampton, NH, USA) previamente resfriado em

    gelo seco. Ao p de osso, foi adicionado Trizol. A mistura de p de osso mais

  • 40

    Trizol foi homogeneizada com um polytron PT10-35 (Brinkmann Intruments, Inc, NY,

    USA).

    O RNA total do fmur foi extrado de acordo com o protocolo fornecido pelo

    fabricante do Trizol e tratado com DNAse I (Fermentas, Hanover, MD, USA),

    segundo indicao do fabricante. A concentrao e pureza do RNA foram

    determinadas por espectrofotometria, medindo-se a absorbncia em tampo TE (10

    mM Tris-HCL, ph 8.0 e 1 mM EDTA) a 260 e 280 nm. O DNA complementar (DNAc)

    foi sintetizado a partir do RNA total extrado (1,0 g), utilizando-se oligo(dt) e

    transcriptase reversa (Fermentas, Hanover, MD, USA), conforme o seguinte

    protocolo: incubao com o oligo(dt) a 25 C por 10 min, transcrio reversa a 37 C

    por 1 hora e inativao por calor da transcriptase reversa a 95 C por 5 min no

    termociclador Mastercycler (Eppendorf, Hamburg, Germany). Os valores relativos

    amplificao do RNAm referente a cada gene estudado foram avaliados atravs da

    mensurao da fluorescncia, quantificada por um termociclador e detector ABI

    Prism 7500 (Applied Biosystems, Foster City, CA, USA), comparando todas as

    amostras e o controle em duplicatas. Aps padronizao da quantidade de DNAc e

    da concentrao dos primers, as reaes foram realizadas em um volume total de

    20 l, com 450 nM de primers e SYBR Green PCR Master Mix (Applied Biosystems).

    A beta actina foi selecionada como controle interno para corrigir a variabilidade nas

    amplificaes. O DNAc foi amplificado em duplicatas nas seguintes condies: 1

    ciclo a 50 C por 2 minutos e 95 C por 10 minutos, seguido por 40 ciclos a 95 C por

    15 segundos (desnaturao) e 60 C por 1 minuto (anelamento). Os valores de Ct

    (threshold cycle) obtidos foram normalizados com o controle interno e a

    quantificao relativa da expresso gnica foi expressa como induo em vezes e

    determinada pelo mtodo do Ct como previamente descrito por Livak (1997).

    3.9 Anlise estatstica

    A significncia estatstica da diferena entre os valores mdios dos grupos para

    qualquer parmetro foi testada pela anlise de varincia (ANOVA), seguida pelo ps

    teste de Tukey ou Bonferroni. Os resultados foram expressos como mdia erro

    padro da mdia (EPM). Para a realizao dos testes estatsticos, foi utilizado o

    software Instat Instant Biostatistics e para a construo de grficos foi utilizado o

    software Prism (ambos provenientes da GraphPad Software, San Diego, CA, USA).

  • 41

    4 RESULTADOS

    4.1 Avaliao da inativao isolada do 2A-ar na estrutura e fisiologia sseas,

    caracterizando o fentipo sseo de camundongos 2AAR-/-

    4.1.1 Massa corporal

    A Fig. 3 mostra que os animais 2A-AR-/- apresentam massa corporal

    significativamente menor (entre 9% a 14%) do que os animais selvagens, a partir

    dos 65 at os 121 dias de idade.

    Figura 3 - Massa corporal dos animais Selvagens (Selv) e 2A-AR-/-

    30 37 44 51 58 65 72 79 86 93 100 107 114 12109

    2A-AR-/-

    Selv.

    Idade em dias

    12

    14

    16

    18

    20

    22

    24

    26

    Pes

    o c

    orp

    ora

    l (g

    )12

    0 d

    ias

    A medida da massa corporal foi iniciada quando os animais tinham 30 dias de idade, sendo pesados semanalmente. Todos os valores so expressos como mdia EPM (n=5-7 por grupo). p>0,05, xxp

  • 42

    Figura 4 - Parmetros cardacos dos animais Selvagens (Selv) e 2A-AR-/-.

    0.00

    0.25

    0.50

    0.75

    Selv.

    120 dias30 dias

    (A)

    2A AR-/-

    60 dias

    Idade

    Mas

    sa

    mid

    a d

    oco

    ra

    o(g

    /g.P

    Cx1

    00)

    0.0

    0.1

    0.2

    120 dias30 dias

    (B)

    60 dias

    Mas

    sa s

    eca

    do

    cora

    o

    (g/g

    .PC

    x100

    )

    Idade

    0.00

    0.25

    0.50

    120 dias30 dias

    (C)

    60 dias

    Co

    nte

    d

    o d

    e g

    ua

    do

    co

    ra

    o(u

    l/g

    .PC

    x100

    )

    Idade (A) Massa mida, (B) massa seca e (C) contedo de gua do corao em animais Selvagens (Selv) e 2A-AR

    -/- de 30, 60 e 120 dias de idade. Os parmetros so expressos em g de corao/g de peso corporal x 100. O contedo de gua expresso em ul/g de peso corporal. Todos os valores so expressos como mdia EPM (n=4- 7 por grupo). p>0,05 e xp

  • 43

    Figura 5 - Composio corporal dos animais Selvagens (Selv) e 2A-AR-/-. Contedo

    de gordura axilar e retroperitoneal.

    30 DIAS 60 DIAS 120 DIAS0.00

    0.05

    0.10

    0.15 2A-AR-/-

    Selv.

    Idade

    Pes

    o d

    a G

    ord

    ura

    Axi

    lar

    (g/g

    .PC

    x100

    0)

    30 DIAS 60 DIAS 120 DIAS0.0

    0.1

    0.2

    (B)

    Idade

    Pes

    o d

    a G

    ord

    ura

    Ret

    rop

    erit

    oni

    al(g

    /g.P

    Cx1

    000)

    Todos os valores so expressos como mdia EPM (n=4-7 por grupo). Os pesos da gordura retroperitoneal e axilar referem-se ao peso mido e so expressos em g de gordura/g de peso corporal x 100. p>0,05 e xp

  • 44

    Tabela 2 - Massa Muscular do Extensor Longo dos Dedos, Gastrocnmio e Reto. Femoral de Animais selvagens e 2A-AR

    -/-. Idade 30 dias 60 Dias 120 Dias

    Selv 2A-AR-/- Selv 2A-AR

    -/- Selv 2A-AR-/-

    ELD MS 0,010,0008 0,010,001 0,010,0008 0,010,0003 0,010,001 0,010,0008

    MU 0,020,04 0,010,001 0,0290,002 0,0280,002 0,030,003 0,020,001

    cH2O 0,0090,001 0,0090,001 0,020,001 0,010,003 0,010,001 0,0090,001

    Gastro MS 0,110,01 0,080,009 0,160,003 0,160,01 0,160,003 0,150,004

    MU 0,340,008 0,290,03 0,560,02 0,540,03 0,560,02 0,530,02

    cH2O 0,240,01 0,240,02 0,340,01 0,340,01 0,30,007 0,30,012

    Reto MS 0,070,008 0,070,01 0,090,002 0,080,002* 0,100,003 0,100,002

    UM 0,240,02 0,250,03 0,330,008 0,290,01** 0,380,02 0,360,005

    cH2O 0,110,007 0,140,01 0,170,003 0,150,004** 0,180,013 0,170,003

    ELD = extensor longo dos dedos, Gastro = gastrocnmio, Reto = reto femoral, MS = massa seca, MU= massa mida. A MS e MU do Gastro e ELD foi expressa em g/comprimento da tbia em mm x 100. A MS e MU do Reto foi expressa em g/comprimento do fmur em mm x 100, cH2O = contedo de gua (ul/g.PC). p>0,05, *p

  • 45

    4.1.6 Comprimento do fmur e da tbia

    A Fig. 7 mostra que o comprimento do fmur dos animais 2A-AR-/- menor do

    que o dos animais selvagens durante todo o perodo estudado. Aos 30, 60 e 120

    dias de idade, o comprimento do fmur dos animais 2A-AR-/- se mostrou 14%

    (p

  • 46

    4.1.7 Microtomografia computadorizada em 3D: anlise do osso trabecular da

    metfise distal do fmur

    Atravs da microtomografia computadorizada em 3 dimenses da metfise

    distal do fmur, observamos que no houve diferena significativa entre os animais

    selvagens e 2A-AR-/-, em todas as idades avaliadas (30, 60 e 120 dias), em nenhum

    dos parmetros sseos analisados.

    Figura 9 Anlise por CT da Metfise Distal do Fmur de Camundongos Selvagens e 2A-AR

    -/-.

    0

    5

    10

    15Selv.2A AR

    -/-

    (A)

    BV

    /TV

    (Fm

    ur)

    0

    25

    50

    75

    Tb

    .Th

    (Fm

    ur)

    (B)

    0

    25

    50

    75

    Tb

    .Sp

    (Fm

    ur)

    (C)

    0.000

    0.001

    0.002

    0.003

    (D)

    Tb

    .N(F

    mu

    r)

    0.000

    0.025

    0.050

    (E)

    TB

    /PF

    (Fm

    ur)

    0

    1

    2

    3S

    MI

    (Fm

    ur)

    (F)

    0

    1

    2

    3

    120 dias30 dias 60 diasIdade

    DA

    (Fm

    ur)

    (G)

    0

    50

    100

    120 dias30 dias 60 dias

    Idade

    (H)

    Po

    rosi

    dad

    e(F

    mu

    r)

    0.00

    0.05

    0.10

    120 dias30 dias 60 diasIdade

    (I)

    BM

    D(F

    mu

    r)

    A anlise foi feita da metfise distal do fmur de camundongos fmeas de 30, 60 e 120 dias de idade..(A) BV/TV = volume sseo/volume trabecular. (B) Tb.Th= espessura trabecular. (C) Tb.Sp= separao entre as trabculas. (D) Tb.N= nmero de trabculas (E) TB/PF= Fator de padro do osso trabecular. (F) SMI= ndice de modelo estrutural. (G) DA= Grau de Anisotropia. (H) Porosidade. (I) BMD= Densidade Mineral ssea). Todos os valores so expressos como mdia EPM (n=4-7 por grupo). As comparaes estatsticas foram feitas entre animais Selvagens (Selv) vs. 2A-AR

    controles. p>0,05.

  • 47

    4.1.8 Microtomografia computadorizada em 2D: anlise do osso cortical da difise do

    fmur

    Atravs da microtomografia em 2 dimenses da difise do fmur, observamos

    diferenas significativas apenas aos 30 dias de idade, sendo a rea medular, o

    permetro do endsteo e a porosidade da cortical nos animais 2A-AR-/- foram 43%

    (p

  • 48

    4.1.9 Microtomografia computadorizada em 3D: anlise do osso trabecular da quinta

    vrtebra lombar

    Atravs da microtomografia em 3 dimenses, observamos maior nmero de

    trabculas (41%, p

  • 49

    4.1.10 Microtomografia computadorizada em 2D: anlise do osso cortical da quinta

    vrtebra lombar

    Atravs da microtomografia computadorizada em 2D do osso cortical da

    quinta vrtebra lombar, observamos que no houve diferena significativa entre os

    animais KOs e selvagens em nenhuma das idades estudadas (Fig. 12)

    Figura 12 Anlise do osso cortical da vrtebra L5 por microtomografia

    computadorizada em animais Selvagens (Selv) e 2A-AR-/-.

    0

    250

    500

    750

    Selv.2A AR

    -/-

    re

    a p

    eri

    stic

    a(T

    .Ar)

    Vt

    ebra

    (A)

    0

    5

    10

    15

    Per

    met

    ro d

    op

    eri

    steo

    (T

    .Pm

    )V

    rte

    bra

    (B)

    0

    250

    500

    re

    a d

    a co

    rtic

    al(B

    .Ar)

    Vr

    teb

    ra

    (C)

    0

    10

    20

    30

    40

    re

    a m

    edu

    lar

    (T.A

    r-B

    .Ar)

    Vr

    teb

    ra

    (D)

    0

    1000

    2000

    3000

    (E)

    Per

    met

    ro d

    oen

    d

    steo

    (B.P

    m-T

    .Pm

    )V

    rte

    bra

    0

    25

    50

    75

    Esp

    essu

    ra d

    aco

    rtic

    al (

    Ct.

    Th)

    Vr

    teb

    ra

    (F)

    0.0

    0.1

    0.2

    0.3

    60 dias 120 dias30 dias

    Po

    rosi

    dad

    e d

    aco

    rtic

    al (

    Po)

    Vr

    teb

    ra

    Idade

    (G)

    0

    1

    2

    60 dias 120 dias30 dias

    BM

    DV

    rte

    bra

    Idade

    (H)

    A anlise foi feita no corpo vertebral de L5 de camundongos fmeas de 30, 60 e 120 dias de idade. (A) rea Peristica. (B) Permetro do Peristeo. (C) rea da Cortical. (D) rea Medular. (E) Permetro do Peristeo. (F) Espessura da Cortical. (G) Porosidade da Cortical. (H) Densidade Mineral ssea. Todos os valores so expressos como mdia EPM (n=4-7 por grupo). p>0,05

  • 50

    4.1.11 Teste biomecnico do fmur e tbia

    No observamos diferenas significativas nos parmetros biomecnicos do

    fmur dos animais KOs quando comparados aos animais selvagens em nenhuma das

    idades avaliadas (Fig. 13).

    Figura 13 Parmetros biomecnicos determinados no fmur de animais Selvagens (Selv) e 2A-AR

    -/-.

    0

    10

    20

    Selv.2A AR

    -/-

    (A)

    30 dias 60 dias 120 diasIdade

    Car

    ga

    mx

    ima

    (N)

    Fm

    ur

    0

    5

    10

    (B)

    Mo

    do

    el

    stic

    o(N

    /mm

    )F

    mu

    r

    30 dias 60 dias 120 dias

    Idade

    0.0000

    0.0025

    0.0050

    120 dias30 dias

    (C)

    60 diasIdade

    Ten

    acid

    ade

    (J)

    Fm

    ur

    Parmetros obtidos atravs do teste de flexo de trs pontos. A anlise foi feita em camundongos fmeas de 30, 60 e 120 dias de idade (A) Carga mxima. (B) Modo elstico. (C) Tenacidade ssea. Os valores so expressos como mdia EPM (n=4-7 por grupo). p>0,05.

    A avaliao dos mesmos parmetros biomecnicos na tbia evidenciou

    diferenas significativas entre os animais KOs e selvagens controles, sendo

    observada uma menor carga mxima (19%, p

  • 51

    Figura 14 Parmetros biomecnicos determinados na tbia de animais Selvagens (Selv) e 2A-AR

    -/-.

    0

    10

    20

    Selv.2A AR

    -/-

    (A)

    30 dias 60 dias 120 diasIdade

    Car

    ga

    mx

    ima

    (N)

    Tb

    ia

    0.0

    2.5

    5.0

    7.5

    10.0

    (B)