ECUMENISMO E DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO CARLOS CUNHA JULHO | 2014.

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ECUMENISMO E

DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO

CARLOS CUNHAJULHO | 2014

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PARTE I

ECUMENISMO

Perguntas fundamentais:

1. O que é ecumenismo? (essência)

2. Por que falar sobre ecumenismo? (causa)

3. Para que “serve” o ecumenismo? (finalidade)

Outras perguntas...

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PARTE I

ECUMENISMOconceitos e propostas

Etimologia:οἰκουμένη – “oikoumene” – “todo o mundo habitado”

• Do grego clássico• Relacionado à morada

A raiz original é “oikos” – casa, lugar habitável etc.Relação com “oikodomeo” (v) – ação de construção da

“oikia” (espaço comunitário)

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PARTE I

ECUMENISMOconceitos e propostas

MUNDO GREGO Povo civilizado de cultura aberta

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PARTE I

ECUMENISMOconceitos e propostas

MUNDO ROMANO Conotação política, conquista.

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PARTE I

ECUMENISMOconceitos e propostas

MUNDO CRISTÃO Tarefa missionária, mundo habitado por Deus.

Século XVIII

William Carey propôs a cooperação entre os cristãos para fazer frente à evangelização de um mundo cada vez maior a ser cristianizado.

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PARTE I

ECUMENISMOconceitos e propostas

MUNDO CRISTÃO Contexto de intolerância e intransigência

entre os cristãos (escândalo).

Século XVIII

Joerg W. Leibniz - A forma cruel de defender o Evangelho acabava por negá-lo.

“Ecumênico” indica o caráter de universalidade do cristianismo.

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SIMBOLOGIA

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PARTE I

ECUMENISMOconceitos e propostas

Princípio ecumênico é maior do que o ecumenismo

Conceito RELACIONAL e DINÂMICO, que envolve uma RESPONSABILIDADE COMUM, para além da comunhão entre os

cristãos, e que abraça TODA a comunidade humana.

Princípio bíblico-teológico da UNIDADE da criação de Deus (Gn 2,18) que envolve ACEITAÇÃO, RESPEITO, DIÁLOGO,

RESPONSABILIDADE entre o humano e a criação (Dt 10,19). Superação das divisões em nome da fidelidade à UNIDADE amorosa

entre o PAI, o FILHO e o ESPÍRITO SANTO (Jo 17,21).

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PARTE I

ECUMENISMOconceitos e propostas

A definição nunca é uma linguagem vazia ou conceito puro.

É uma construção interpretativa.

Quem define “ecumenismo”?

Por que define?

A partir de qual lugar socioepistêmico?

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PARTE I

ECUMENISMOconceitos e propostas

Ecumenismo envolve:

Reconhecimento do “outro” Assumir uma postura dialógica

Conhecer outras tradições, sem preconceito e sem ingenuidade

Engajar-se em prol do Reino de Deus Orar pela unidade

Buscar a verdade, a justiça e a paz juntos

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PARTE I

ECUMENISMOconceitos e propostas

Ecumenismo não envolve:

Criar uma só Igreja Perder a pertença religiosa para viver em paz com todos

Pensar que todas as Igrejas são iguais Fazer prosélitos

Relacionar-se sem senso crítico

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PARTE I

ECUMENISMOconceitos e propostas

“Ecumenismo é muito mais que unidade dos cristãos ou diálogo com judeus e muçulmanos! O ecumenismo é a pergunta por um outro mundo possível. O ecumenismo é atitude, postura política diante do mundo todo habitado. Por isso, o ecumenismo é rechaçado e indesejado nas igrejas cristãs que não aceitam abrir mão de seu lugar de poder na formulação civilizatória hegemônica”.

Nancy Cardoso Pereira

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PARTE I

ECUMENISMOvias de encontro

Ética e moral – seguimento de Jesus

Oração – espiritualidade

Evangelização – missão

Teologia – Bíblia, tradição e sistematização

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PARTE I

ECUMENISMOhistória do movimento ecumênico

Ecumenismo está ligado historicamente à experiência protestante.

Missionários (liberalismo teológico) experimentaram o cotidiano de uma nova realidade sociopolítica, econômica e cultural.

Consciência diante do “escândalo da divisão dos cristãos”.

Esforço por proclamar a necessidade da paz e unidade entre as confissões cristãs.

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PARTE I

ECUMENISMOhistória do movimento ecumênico

Movimentos do século XIX

1. Surgimento das Sociedades Bíblicas (Londres) – ação missionária e distribuição de Bíblias.

2. Criação da Aliança Evangélica Mundial na Europa – cooperação missionária.

3. Articulações de juventude para ações comuns – Associação Cristã de Moços etc.

4. Movimentos em prol da unidade em torno da educação cristã – União das Escolas Dominicais etc.

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PARTE I

ECUMENISMOhistória do movimento ecumênico

Conferência Missionária Mundial de Edimburgo (1910)

Conferência paradigmática – marco da consolidação do movimento. Com 1400 delegados da Europa e América do Norte. Sem a presença da América Latina (cristianizado) – Congresso

Missionário do Panamá (1916). Temas: “Promoção da paz” e “Responsabilidade social” Estímulos: missão cristã, desafios contemporâneos e unidade visível

dos cristãos. Passo importante para o diálogo inter-religioso.

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PARTE I

ECUMENISMOhistória do movimento ecumênico

Evangelho Social Surge nos EUA. Resposta à crise urbana após a Guerra de Secessão. Filho do liberalismo teológico. Oposição ao modelo tradicional – separação entre igreja e mundo,

tendências dualistas, pregação “espiritualizada” e proselitismo. Despertar entre os cristãos uma releitura dos desafios dos

Evangelhos. Teólogo e pastor batista Walter Rauschenbusch – reflexão teológica

que respondesse à situação dos pobres e explorados no grandes centros urbanos estadunidenses

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PARTE I

ECUMENISMOhistória do movimento ecumênico

Evangelho Social

Desafios:

1. A implantação do Reino de Deus na Terra2. Sociedade redimida3. Transformação da sociedade por meio da ação cristã4. Releitura dos Evangelhos e do ministério de Jesus Cristo

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PARTE I

ECUMENISMOhistória do movimento ecumênico

CMICONSELHO MUNDIAL DE IGREJAS

Início – comitê, em 1937 com 7 membros Fundação interrompida pela 2ª Guerra (1939-45) Fundação em 1948, em Amsterdã, com 351

representantes de 147 igrejas de 44 países É o maior e mais representativo órgão do

movimento ecumênico moderno Sede em Genebra – 345 igrejas, representam 560

milhões de fiéis de mais de 110 países

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PARTE I

ECUMENISMOhistória do movimento ecumênico

Identidade do CMI

“O conselho Mundial de Igrejas é uma comunidade de igrejas que confessam a Jesus Cristo como Deus e Salvador, segundo o testemunho das Escrituras, e procuram responder juntas à sua vocação comum, para a glória do Deus único, Pai, Filho e Espírito Santo”.

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PARTE I

ECUMENISMOhistória do movimento ecumênico

Objetivos do CMI

1. Criar facilidades para a ação comum das Igrejas;2. Promover o estudo comum;3. Desenvolver a consciência ecumênica dos fiéis;4. Estabelecer relações com movimentos ecumênicos;5. Convocar, quando necessário, conferências mundiais para

expressar as suas próprias conclusões;6. Sustentar as igrejas em seus esforços de evangelização.

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PARTE I

ECUMENISMOhistória do movimento ecumênico

ASSEMBLEIAS DO CMI

Ano Local Tema Igrejas

1ª 1948 Holanda A desordem do Homem e o desígnio de Deus 147

2ª 1954 EUA Cristo, a esperança do mundo 161

3ª 1961 Índia Jesus Cristo, a luz do mundo 197

4ª 1968 Suécia Eis que faço novas todas as coisas 235

5ª 1975 Kenia Jesus Cristo liberta e une 285

6ª 1983 Canadá Jesus Cristo, a vida no mundo 301

7ª 1991 Austrália Venha, Espírito Santo, renove toda a criação 317

8ª 1998 Zimbabue Volte-se para Deus, alegrai-vos na esperança 339

9ª 2006 Brasil Deus em sua graça, transforma o mundo 348

10ª 2013 Coreia do Sul Deus da vida, guia-nos à justiça e à paz 349

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PARTE I

ECUMENISMOhistória do movimento ecumênico

E a Igreja Católica Romana?

A Igreja Católica se manteve distante por anos. Código de Direito Canônico, de 1917, continha um cânon (n.

1325) que proibia“os católicos de manter disputas ou encontros, especialmente públicos, com não-católicos, a não ser com permissão da sé apostólica ou, em casos urgentes, do ordinário do ‘lugar’”.

A Encíclica Mortalium Animos (1927), do Papa Pio XI, confirma a consistência teológica da lei canônica.

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PARTE I

ECUMENISMOhistória do movimento ecumênico

E a Igreja Católica Romana?

Em 1948, o Vaticano proíbe a participação de católicos no CMI. Mesmo com a resistência, teólogos católicos foram ecumênicos

– p.ex. o dominicano francês Yves Congar. A situação muda a partir com o Concílio Vaticano II (1962-65). Secretariado para a Promoção da Unidade dos Cristãos (1960). Publicação do Decreto sobre Ecumenismo Unitatis

Reintegratio (1965). A ICAR não é membro do CMI, mas observadora.

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PARTE I

ECUMENISMOmovimento ecumênico no Brasil

Tensões provocadas pelo divisionismo/denominacionalismo e anticatolicismo.

A teologia liberal foi obstruída no Brasil por grupos anti-intelectualistas e contrários a qualquer leitura crítica da Bíblia.

1950 a teologia liberal ganha espaço nos seminários teológicos – Seminário Presbiteriano de Campinas.

Movimento Igreja e Sociedade na América Latina (ISAL) – bases bíblico-teológicas da responsabilidade sociopolítica dos cristãos.

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PARTE I

ECUMENISMOmovimento ecumênico no Brasil

A gênese da Teologia da Libertação.

Teólogos de destaque: Richard Shaull, José Miguez Bonino, Julio de Santa Ana, Emilio Castro, Rubem Alves, Frederico Pagura etc.

Associação dos Seminários Teológicos Evangélicos (ASTE), fundada em 1961, com o objetivo de estabelecer o diálogo, a parceria e a cooperação entre as instituições protestantes de educação teológica.

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PARTE I

ECUMENISMOmovimento ecumênico no Brasil

Fundada em 1982, Porto Alegre (RS)

Sede em Brasília

“Associação de igrejas cristãs reunidas em busca do serviço a Deus, à confissão de fé comum e ao compromisso missionário, visando aumentar a comunhão cristã e o testemunho do Evangelho no Brasil”.

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PARTE I

ECUMENISMOmovimento ecumênico no Brasil

Objetivos do CONIC

Trabalhar pelo ecumenismo Aprofundamento teológico para a construção da unidade e

missão da igreja Posicionar-se em relação à realidade brasileira Promover a dignidade e os direitos da pessoa humana Promover ação comum entre igrejas Fortalecer o relacionamento com outras entidades semelhantes

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PARTE I

ECUMENISMOmovimento ecumênico no Brasil

Igrejas do CONIC

Igreja Católica Romana Igreja Católica Ortodoxa Siriana Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil Igreja Presbiteriana Unida Igreja Episcopal Anglicana

(Igreja Metodista): retirou-se por pressão pentecostal (Igreja Cristã Reformada): saiu também

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PARTE I

ECUMENISMOmovimento ecumênico no Brasil

Outros organismos ecumênicos:

• Conselho Latino-Americano de Igrejas (CLAI)• Associação Evangélica Brasileira (AEvB)• Visão Nacional de Evangelização (VINDE)• Aliança Bíblica Universitária (ABU)• Fraternidade Teológica Latino-Americana (FTL)• Comunidades Eclesiais de Base (CEBs)• Coordenadoria Ecumênica de Serviços (CESE)• Jornadas Ecumênicas: KOINONIA Presença Ecumênica e Serviço,

Rede Ecumênica da Juventude (REJU)• E outros.

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Qual é o grande desafio para o

movimento ecumênico?

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FUNDAMENTALISMO RELIGIOSO

• Antiecumenismo evangélico

• Exclusivismo católico

• Antipentecostalismo evangélico e católico

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PARTE II

DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO

Perguntas fundamentais:

1. O que é diálogo inter-religioso? (essência)

2. Por que falar sobre diálogo inter-religioso? (causa)

3. Para que “serve” o diálogo inter-religioso? (finalidade)

Outras perguntas...

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PARTE II

DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO

Etimologia

Diálogo = “dia” + “logos” “dia” expressa uma dupla ideia – alude ao que separa e

divide, mas igualmente à ultrapassagem de um limite

“logos” indica um dinamismo racional do ser humano, a capacidade humana de pensamento e raciocínio

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“O conceito do diálogo apresentou-se como apropriado para definir o encontro e a convivência de diversas comunhões religiosas na sociedade moderna... Todo teólogo cristão formado deveria poder dizer com que outra religião ele se ocupou de modo intensivo. No entanto, é preciso estar ciente de que a ciência da religião não capacita para o diálogo, porque ela apresenta as religiões de maneira cientificamente objetiva, ela própria não é religiosa e não levanta a pergunta por Deus, não capacitando, portanto, para as controvérsias na disputa das religiões. Da capacidade para o diálogo faz parte também a dignidade para o diálogo. Digno de participar do diálogo é somente quem conquistou uma posição firme na sua própria religião e vai para o diálogo com a autoconsciência correspondente. Somente a domiciliação na sua própria religião capacita para o encontro com uma outra. Quem cai no relativismo da sociedade multicultural pode até estar capacitado para o diálogo, mas não possui a dignidade para o diálogo. Os representantes das outras religiões não querem conversar com modernos relativizadores da religião, mas com cristãos, judeus, islamitas etc. convictos. O “pluralismo” como tal não é uma religião e nem se constitui numa teoria particularmente útil para o diálogo inter-religioso. Quem parte dessa divisa logo nada mais terá a dizer e ademais ninguém mais lhe dará ouvidos... O diálogo só se torna sério quando se torna necessário. Ele torna-se necessário quando surge um conflito que ameaça a vida, e cuja solução pacífica deve ser buscada conjuntamente mediante o diálogo... O diálogo deve girar em torno da pergunta pela verdade, mesmo que não seja possível chegar a um consenso em relação a ela. Pois o consenso não é o objetivo do diálogo. Se um dos parceiros for convencido pelo outro, acaba o diálogo. Quando dois dizem a mesma coisa, um deles está sobrando... O objetivo do diálogo inter-religioso não é uma religião unitária nem a metamorfose e o acolhimento das religiões na oferta pluralista de prestação de serviços de uma sociedade de consumo religioso, mas a ‘diversidade reconciliada’, a diferença suportada e produtivamente conformada”. (MOLTMANN, Jürgen. Experiências de reflexão teológica: caminhos e formas da teologia cristã. São Leopoldo: Unisinos, p.28-29).

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PARTE II

DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO

Etimologia

“Inter – religioso” Exprime posição intermediária.

Exprime relação recíproca (há um lugar comum).

Diferenças entre o “pluri”, “inter” e “trans”.

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PARTE II

DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO

Também conhecido como...

“Ecumenismo planetário” (M-D. Chenu)

“Macroecumenismo” (Pedro Casaldáliga)

“Ecumenismo mais ecumênico” (R. Panikkar)

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PARTE II

DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO

CONCEITO

“Conjunto das relações inter-religiosas, positivas e construtivas, com pessoas e comunidades de outras

confissões religiosas, para um mútuo conhecimento e um recíproco enriquecimento”

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PARTE II

DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO

Envolve...

1. Não é estar de acordo com o que ou quem se compreende;

2. Exercício de deixar valer o outro;3. Intercâmbio de dons;4. Prontidão em se deixar transformar pelo encontro.

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PARTE II

DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO

OBJETIVOS

Primeiro

“Instaurar uma comunicação e um relacionamento entre fiéis de tradições religiosas diferentes, envolvendo partilha

de vida, experiência e conhecimento”

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PARTE II

DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO

OBJETIVOS

Segundo

“Propiciar um clima de abertura, empatia, simpatia e acolhimento, removendo preconceitos e suscitando

compreensão, enriquecimento e comprometimento mútuos e partilha da experiência religiosa”

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PARTE II

DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO

Diálogo inter-religioso é um lugar de tensão

“O pluralismo religioso provoca dissonâncias cognitivas, causa ‘problemas’ na medida em que desestabiliza ‘as autoevidências das ordens de sentido e de valor que

orientam as ações e sustentam a identidade”

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PARTE II

DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO

PONTOS DE ENCONTRO DO DIÁLOGO

1. Convicção da unidade, igualdade e da dignidade de todos e todas;

2. Inviolabilidade do indivíduo e de sua consciência;3. O amor, a compaixão, o desprendimento e a veracidade são

maiores e mais nobres do que o ódio, a inimizade, o rancor e o interesse próprio;

4. Responsabilidade para com os pobres e oprimidos;5. Esperança do vencimento do bem.

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PARTE II

DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO

Vias do diálogo

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PARTE II

DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO

HISTÓRIA

Fenômeno relativamente novo; Não há sinais explícitos sobre a questão antes de 1925; Traços de uma sensibilidade ao pluralismo religioso desde

o 3º século d.C. Tema que faz repensar tratados teológicos (Barth, Tillich,

Moltmann, Rahner, Geffré, Küng etc.); Pauta de conferências.

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PARTE II

DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO

HISTÓRIAMarco referencial: PARLAMENTO MUNDIAL DAS RELIGIÕES Chicago (EUA), 1893 18 dias de reunião entre várias tradições para mútuo

conhecimento e sinalização do lugar da religião no desenvolvimento humano

Presença de mais de 4 mil pessoas CMI, 1979, “Diretrizes para o diálogo com outras religiões e

ideologias de nosso tempo” ICAR – declaração conciliar Nostra Aetate – divisor de águas

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PARTE II

DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO

A questão do PARADIGMA

1. Exclusivista (eclesiocêntrico) – Jesus Cristo e a Igreja como caminhos necessários para a salvação: “Fora da Igreja não há salvação”.

2. Inclusivista (cristocêntrico) – Apesar de admitir o valor das outras religiões, elas se mostram como mediações de salvação para os seus membros (“cristãos anônimos”). Jesus Cristo é o único caminho. Há uma superioridade includente.

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PARTE II

DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO

A questão do PARADIGMA

3. Pluralista (teocêntrico) – As outras religiões são legítimas e autônomas no processo de salvação. Jesus é o caminho para os cristãos, enquanto para os outros o caminho é a sua própria tradição – “Realidade Última”.

4. Pluralismo inclunsivo (cristocentrismo teocêntrico) – Articula o pluralismo e o inclusivismo no “pluralismo de princípio”, isto é, a diversidade de religiões é sinal da automanifestação do divino.

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PARTE II

DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO

A questão do PARADIGMA

Paul Knitter propõe outra classificação:

1. Substituição – “somente uma religião verdadeira”;2. Complementação – “o Uno dá completude ao vário”;3. Mutualidade – “várias religiões verdadeiras convocadas ao

diálogo”;4. Aceitação – “várias religiões verdadeiras”.

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PARTE II

DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO

A questão do PARADIGMA

A crítica de Aloysius Pieris

Qual é o lugar da construção do paradigma do diálogo inter-religioso?

Nos espações do conceito (hegemonia acadêmica) ou nos espaços da vida (transformação social)?

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PARTE II

DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO

A questão do PARADIGMA

Quadro problematizado

1. Diante do “outro”, Cristo e o cristianismo permanecem na encruzilhada;

2. Diante dos processos de secularização;3. Diante da crise doutrinal e arrumação sistemática;4. Diante da ausência das vivências cotidianas e populares nas

construções teológicas.

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PARTE II

DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO

A questão do PARADIGMA

Há dois caminhos

1. Discurso acadêmico hegemônico sobre o diálogo inter-religioso, ao ter como ponto de partida as questões doutrinárias/conceituais;

2. Nas vivências cotidianas, nas religiosidades populares, do dia a dia concreto das pessoas.

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PARTE II

DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO

Teologia de fronteira

Paul Tillich (1886-1965) – teólogo da fronteira; A fronteira é cheia de possibilidades; “A fronteira é o melhor lugar para a aquisição de

conhecimento” – On the Boundary, p.13; Método da correlação – “teologia-que-dá-respostas” –

answering theology.

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PARTE II

DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO

FINALIDADE

O Diálogo Inter-Religioso pressupõe: A consciência da humildade Abertura ao valor da alteridade Fidelidade à própria tradição Busca comum da verdade Ecumene da compaixão

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PARTE II

DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO

Encontros e

Desencontros

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PARTE II

DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO

A QUESTÃO CRISTOLÓGICA

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Pergunta fundamental:“Podemos manter tudo o que confessa de Jesus Cristo a fé cristã sem com isso incorrer numa atitude de superioridade e impossibilitar o diálogo inter-religioso?”

Numa sociedade pluralista nenhuma instituição religiosa consegue ter o controle social de seus símbolos – ex. pluralidade de leituras sobre Jesus Cristo.

Jesus Cristo como constitutivo e não normativo da salvação.

Como pode um evento particular, porque histórico, ter uma pretensão universal, portanto trans-histórica?

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Jesus Cristo como a “autocomunicação de Deus”. Sua pessoa faz surgir visivelmente no interior da história o ser mesmo de Deus, que é amor – existência concreta.

Separação da encarnação do mistério pascal - Jesus sem Cristo é vazio e Cristo sem Jesus é mito.

Jesus Cristo, embora seja Deus, não revela a totalidade divina, exatamente devido à sua condição humana limitada e contextualizada.

Afirmar ser Jesus Cristo a verdade última de Deus não significa que tenhamos já a compreensão e a expressão definitiva dessa mesma verdade.

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PARTE II

DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO

A QUESTÃO SOTERIOLÓGICA

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Pergunta fundamental:“Como relacionar a confissão cristã da salvação única e universal de Jesus Cristo à pretensão salvífica das outras tradições religiosas sem violentar os testemunhos neotestamentários ou reduzir soteriologias milenares a meras fantasias?”

Deus mesmo constitui a salvação do ser humano.

O Concílio Vaticano II reconhece a possibilidade de salvação para aqueles que não são membros, seja da Igreja, seja do cristianismo (LG 16).

Qual é o papel das religiões no desígnio salvífico de Deus?

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O desígnio salvífico de Deus é levado adiante pela ação do mesmo Espírito Santo, universalmente ativo, que oferece a todos poderem dele participar, embora de um modo só conhecido por Deus (GS 22).

A ação do mesmo Espírito, enquanto acolhida pelo ser humano, é experimentada e expressa diversamente, conforme o contexto cultural e religioso onde acontece.

Cada religião capta apenas uma “perspectiva” da realidade, que a impede de captar outras perspectivas, de tal modo que cada salvação é verdadeira dentro de sua perspectiva sem que as outras a contradigam.

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PARTE II

DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO

A QUESTÃO PNEUMATOLÓGICA

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Pergunta fundamental:“Se a atividade básica do Espírito consiste numa mistagogia crística, como encontrá-la nas outras tradições religiosas?”

A universalidade do Espírito, como a do vento que sopra onde quer (Jo 3,8), foi recebida e cada vez mais valorizada na consciência de fé da Igreja.

Podemos reconhecer que toda oração autêntica é suscitada pelo Espírito Santo, o qual está misteriosamente presente no coração de cada ser humano.

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A importância de estar atentos aos “sinais dos tempos” para poder ouvir o que nos diz o Espírito, daí o imperativo para a Igreja de dialogar com a sociedade.

Não poderiam as experiências novas do Espírito enriquecer ainda mais a percepção de sua atuação salvífica e consequentemente a compreensão de sua Pessoa?

As religiões são grandezas porosas apontando na sua múltipla diversidade para a fonte única de toda vida que é o Espírito da Verdade.

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