e produção de insulina - teses.usp.br · FERNANDA VIEIRA PALADINO . Vias de transdução de sinal...

72
FERNANDA VIEIRA PALADINO Vias de transdução de sinal do receptor tipo Toll 4 nas células β pancreáticas e seus efeitos na secreção e produção de insulina São Paulo 2012 Dissertação apresentada à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Mestre em Ciências Programa de Alergia e Imunopatologia Orientadora: Profa. Dra. Anna Carla Renata Krepel Goldberg

Transcript of e produção de insulina - teses.usp.br · FERNANDA VIEIRA PALADINO . Vias de transdução de sinal...

Page 1: e produção de insulina - teses.usp.br · FERNANDA VIEIRA PALADINO . Vias de transdução de sinal do receptor tipo Toll 4 nas células β pancreáticas e seus efeitos na secreção

FERNANDA VIEIRA PALADINO

Vias de transdução de sinal do receptor tipo Toll 4

nas células β pancreáticas e seus efeitos na secreção

e produção de insulina

São Paulo

2012

Dissertação apresentada à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Mestre em Ciências Programa de Alergia e Imunopatologia Orientadora: Profa. Dra. Anna Carla Renata Krepel Goldberg

Page 2: e produção de insulina - teses.usp.br · FERNANDA VIEIRA PALADINO . Vias de transdução de sinal do receptor tipo Toll 4 nas células β pancreáticas e seus efeitos na secreção

FERNANDA VIEIRA PALADINO

Vias de transdução de sinal do receptor tipo Toll 4

nas células β pancreáticas e seus efeitos na secreção

e produção de insulina

(Versão corrigida. Resolução CoPGr 5890, de 20 de dezembro de 2010. A versão original está disponível na Biblioteca FMUSP)

São Paulo

2012

Dissertação apresentada à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Mestre em Ciências Programa de Alergia e Imunopatologia Orientadora: Profa. Dra. Anna Carla Renata Krepel Goldberg

Page 3: e produção de insulina - teses.usp.br · FERNANDA VIEIRA PALADINO . Vias de transdução de sinal do receptor tipo Toll 4 nas células β pancreáticas e seus efeitos na secreção

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Preparada pela Biblioteca da

Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo

reprodução autorizada pelo autor

Paladino, Fernanda Vieira

Vias de transdução de sinal do receptor tipo Toll 4 nas células ß

pancreáticas e seus efeitos na secreção e produção de insulina / Fernanda

Vieira Paladino. -- São Paulo, 2012.

Dissertação(mestrado)--Faculdade de Medicina da Universidade de São

Paulo.

Programa de Alergia e Imunopatologia.

Orientador: Anna Carla Renata Krepel Goldberg.

Descritores: 1.Receptor 4 Toll-like 2.Lipopolissacarídeos 3.Células

secretoras de insulina 4.Insulina 5.Via MyD88-dependente 6.Linhagem

celular MIN6

USP/FM/DBD-186/12

Page 4: e produção de insulina - teses.usp.br · FERNANDA VIEIRA PALADINO . Vias de transdução de sinal do receptor tipo Toll 4 nas células β pancreáticas e seus efeitos na secreção

Dedico esse trabalho aos meus

pais, que com muito amor,

esforço e dedicação fizeram o

possível e o impossível para que

esse sonho se tornasse

realidade. Amo vocês!

À minha família! Avós, tios e

minha pequena Rafaella, que

sempre me apoiaram e

torceram pelo meu sucesso!

Ao meu namorado Ricardo, pelo

companheirismo e amor nessa

etapa importante da minha vida!

A Deus, porque sem Ele nada

seria possível! Muito obrigada!

Page 5: e produção de insulina - teses.usp.br · FERNANDA VIEIRA PALADINO . Vias de transdução de sinal do receptor tipo Toll 4 nas células β pancreáticas e seus efeitos na secreção

AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer a todos que de alguma forma fizeram parte dessa

etapa tão importante na minha vida.

À minha orientadora Dra. Anna Carla Goldberg, agradeço pela oportunidade

de ser sua aluna e por acreditar que eu fosse capaz de realizar esse projeto.

Agradeço pela confiança, paciência, incentivo e pelos ensinamentos que levarei por

toda minha vida e que com certeza foram muito importantes para o meu

crescimento profissional.

À Dra. Carla Piccinato, que além de amiga é uma excelente colega de

trabalho, agradeço a dedicação, ajuda e paciência em vários momentos

importantes durante esses 3 anos de mestrado!

À Dra. Anna Coló, agradeço a paciência e ajuda nos experimentos de PCR

em tempo Real.

À Dra. Eliane Antonioli, agradeço pela amizade, pelas conversas e pelo

apoio nos momentos profissionais e pessoais.

À Dra. Andréa Sertie e sua aluna Camila, agradeço por compartilharem seu

conhecimentos com paciência e dedicação!

À Lilian Buzzeto, agradeço pela ajuda nos experimentos de ELISA.

Ao Dr. Luiz Sardinha, agradeço pela atenção, paciência e dedicação na

realização dos experimentos de citometria de fluxo.

Ao Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein, agradeço pela

disponibilidade da estrutura física para a realização deste trabalho.

Às minhas amigas queridas Vanessa Pazzini e Janaina Munuera, que são

pessoas muito especiais e foram fundamentais durante esses anos na convivência

dentro e fora do laboratório! Agradeço pela amizade, companheirismo, carinho e

dedicação!

A todos os amigos do Centro de Pesquisa Experimental do IIEP, em

especial Luciana, Flávia, Renata, Ana Carolina, Andrea, Jaila, Alex, Lis, Marta,

Natália, Érica, Daniela, Eliana e Pedro. Obrigada pela amizade, pela ajuda, pelas

Page 6: e produção de insulina - teses.usp.br · FERNANDA VIEIRA PALADINO . Vias de transdução de sinal do receptor tipo Toll 4 nas células β pancreáticas e seus efeitos na secreção

conversas e pelos bons conselhos. Os meus dias no laboratório ficam muito mais

divertidos com a companhia de vocês!

Ao Prof. Dov Zipori e aos alunos do laboratório de Biologia Celular e

Molecular do Instituto Weizmann de Ciência. Agradeço por compartilharem seus

conhecimentos, pela hospitalidade e dedicação durante minha estadia em Israel.

Foi uma experiência única!

À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP),

agradeço o auxílio financeiro através do projeto de pesquisa 2009/06547-6 e ao

Instituto UNIEMP.

Page 7: e produção de insulina - teses.usp.br · FERNANDA VIEIRA PALADINO . Vias de transdução de sinal do receptor tipo Toll 4 nas células β pancreáticas e seus efeitos na secreção

SUMÁRIO

Lista de figuras

Lista de abreviaturas e sigla

Lista de símbolos

Resumo

Summary

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................ 1

1.1. Receptores tipo Toll (TLRs) e sistema imune ......................................... 1

1.2. Receptor tipo Toll 4 (TLR4) e vias de sinalização ................................... 3

1.3. TLR4 em células não imunes .................................................................... 6

1.4. Ilhotas de Langerhans e células β pancreáticas ..................................... 6

1.5. Diabetes Mellitus ....................................................................................... 8

1.6. Resultados anteriores ............................................................................. 10

2. OBJETIVOS ................................................................................................. 13

2.1. Objetivo geral ........................................................................................... 13

2.2. Objetivos específicos .............................................................................. 13

3. MATERIAL E MÉTODOS ............................................................................. 14

3.1. Cultura Celular ......................................................................................... 14

3.1.1. Células MIN6 (células β de insulinoma de camundongo) ...................... 14

3.1.2. Células J774-A1 (linhagem de macrófagos de camundongo) ................ 14

Page 8: e produção de insulina - teses.usp.br · FERNANDA VIEIRA PALADINO . Vias de transdução de sinal do receptor tipo Toll 4 nas células β pancreáticas e seus efeitos na secreção

3.2. Preparação do meio RPMI com concentrações de glicose .................. 15

3.3. Tratamento com LPS ............................................................................... 15

3.4. Caracterização funcional das células MIN6 ........................................... 16

3.4.1. Produção Intracelular de insulina ........................................................... 16

3.4.2. Responsividade à glicose ....................................................................... 17

3.5. Dosagem de insulina ............................................................................... 18

3.6. Extração de RNA total ............................................................................. 18

3.7. Síntese de cDNA ...................................................................................... 19

3.8. PCR quantitativa em tempo real (qRT-PCR) .......................................... 20

3.8.1. Desenho dos “primers”............................................................................ 20

3.8.2. Análise resultados da PCR em tempo real ............................................. 21

3.9. Padronização e Otimização das reações de PCR em Tempo Real ...... 22

3.10. Ensaio de fosforilação ........................................................................... 23

3.11. Extração de proteínas............................................................................ 23

3.12. Western Blot ........................................................................................... 24

3.13. Citometria de fluxo ................................................................................ 25

3.13.1. Marcação com anti-CD284(TLR4)/MD2 e anti-CD14 ............................ 25

3.13.2. Marcação com anexina V e iodeto de propídeo (PI) ............................. 26

3.14. Análise estatística .................................................................................. 26

4. RESULTADOS ............................................................................................. 27

4.1. Células MIN6 expressam TLR4/MD2 e a molécula adaptadora CD14 .. 27

Page 9: e produção de insulina - teses.usp.br · FERNANDA VIEIRA PALADINO . Vias de transdução de sinal do receptor tipo Toll 4 nas células β pancreáticas e seus efeitos na secreção

4.2. Expressão de TLR4 em células MIN6 é induzida por LPS e

hiperglicemia ................................................................................................... 28

4.3. Via MyD88-dependente é ativada por LPS em células MIN6 ................ 30

4.4. Tratamento com LPS causa aumento na secreção de insulina em

células MIN6 .................................................................................................... 32

4.5. LPS não altera a expressão de moléculas de superfície TLR4/MD2 e

CD14 nas células MIN6 ................................................................................... 34

4.6. Tratamento com LPS não induz morte celular nas células MIN6 ........ 35

5. DISCUSSÃO ................................................................................................. 37

6. CONCLUSÕES ............................................................................................. 43

7. ANEXOS ....................................................................................................... 44

8. REFERÊNCIAS ............................................................................................ 47

Page 10: e produção de insulina - teses.usp.br · FERNANDA VIEIRA PALADINO . Vias de transdução de sinal do receptor tipo Toll 4 nas células β pancreáticas e seus efeitos na secreção

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Esquema das vias de transdução de sinal de TLR4. Modificada do site www.invitrogen.com. Data de acesso: 20 de janeiro de 2011 ............................................................................................................ 5 Figura 2 - Expressão de TLR4, CD14 e secreção de insulina induzida por LPS em cultura primária de células β humanas. Resultado de PCR em Tempo-Real, mostrando o aumento dose-dependente da expressão de (A) TLR4 e (B) CD14 em cultura primária de células β humanas tratadas com 0, 5 e 50ng/mL LPS por 48h. (C) Diminuição da expressão do RNA mensageiro de insulina após tratamento com 50ng/mL LPS. ..... 11

Figura 3 - Viabilidade de células β humanas após tratamento com LPS. Resultado de citometria de fluxo, mostrando a diminuição da viabilidade celular em cultura primária de células β humanas tratadas com 50ng/mL LPS por 48h, através da marcação por TMRE .......................... 12 Figura 4 - Produção intracelular de insulina. (A) Foram semeadas 5x105 células sobre lamínulas e fixadas com paraformaldeido 4%. As células foram incubadas por 15 minutos a 37°C com Newport Green 1μM insulina (verde) e DAPI - núcleo (azul). Aumento de 20X. (B) 5x105 células foram coletadas e marcadas com Newport Green por 15 minutos a 37°C e posteriormente passadas no citômetro de fluxo. Células positivas para NG (linha pontilhada) e controle negativo (linha contínua). Experimento realizado em triplicata (n=3). Figura representativa de 3 experimentos ... 16 Figura 5 - Secreção de insulina. Foram semeadas 104 células e cultivadas durante 4 dias em condições de 2,8mM; 5,6mM e 11,2mM glicose. Após esse período o sobrenadante foi coletado para dosagem de insulina, através do método de ELISA. Experimento realizado em triplicata (n=3). Resultados representados por média ± EPM ................................. 17 Figura 6 - Curva Padrão e Curva de Dissociação dos "primers". (A) HPRT e (B) TLR4. Foi utilizado o Software 7500 v2.0.1 - Applied Biosystems. Todos os produtos da PCR tinham o tamanho esperado. ... 23 Figura 7 - Expressão de TLR4/MD2 e CD14 na superfície das células MIN6, cultivadas por 4 dias em meio de cultura hiperglicêmico, analisadas por citometria de fluxo. Foram incubadas 5x105 células por 30 minutos a 4°C no escuro com os anticorpos anti-TLR4/MD2 anti-CD14 e analisadas por citometria de fluxo. (A) Células TLR4/MD2 positivas (linha pontilhada) e controle negativo (linha contínua). (B) Células CD14 positivas (linha pontilhada) e controle negativo (linha contínua). Experimento realizado em triplicata (n=3). Figuras representativas de três

Page 11: e produção de insulina - teses.usp.br · FERNANDA VIEIRA PALADINO . Vias de transdução de sinal do receptor tipo Toll 4 nas células β pancreáticas e seus efeitos na secreção

experimentos independentes. Resultados representados por média ± EPM. ......................................................................................................... 27 Figura 8 - Expressão de TLR4, MyD88, IRAK4, IRAK1, TRAF6, INS1 e INS2, após incubação com LPS e diferentes concentrações de glicose nas células MIN6. Foram incubadas 104 células por 4 dias com 2,8mM; 5,6mM e 11,2 mM de glicose. Após esse período, foram incubadas em meio com as mesmas concentrações de glicose e foi adicionado LPS (50 ng/mL) e para controle as células foram mantidas em meio sem LPS. Após 48h as células foram lisadas, RNA total extraído e foi feito PCR em Tempo Real. Expressão gênica de (A) TLR4, (B) MyD88, (C) IRAK4, (D) IRAK1, (E) TRAF6, (F) INS1 e (G) INS2. Expressão normalizada pelo gene HPRT e expressos como número de vezes em relação ao controle - células não tratadas (fold-change). Resultados representados por média ± EPM. Diferenças estatísticas significantes estão indicadas por (*) p<0,05. ................................................................. 29

Figura 9 - Ativação das proteínas p38, JNK e NF-κB por LPS em células MIN6. As células foram cultivadas por 24h com RPMI (glicose 11,2 mM) suplementado com 0,5% SBF e após esse período foram incubadas com 50 ng/mL de LPS nos tempos 0, 5, 15, 30 e 60 minutos. (A) p38 e fosfo-p38 (B) NF-κB e β-actina, (C) JNK1 e 2 e fosfo-JNK1 e 2, (D) IRF3 e β-actina e (E) IRF7 e β-actina. Experimento realizado em duplicata (n=2).. ........................................................................................ 31

Figura 10 - Conteúdo intracelular e secreção de insulina em células MIN6 tratadas com LPS. MIN6 foram incubadas por 4 dias com 2,8mM; 5,6mM e 11,2 mM de glicose. Após esse período, foram incubadas em meio com as mesmas concentrações de glicose e foi adicionado LPS (50 ng/mL) e para controle as células foram mantidas em meio sem LPS. Após 48h, as células foram coletadas. (A) Marcação com NG, controle negativo (linha contínua), células controle sem LPS (linha pontilhada) e células tratadas com LPS (linha tracejada). Figuras representativas de três experimentos independentes. (B) Média de intensidade de fluorescência (MIF) do Newport Green. (C) No mesmo experimento, o sobrenadante foi coletado e a insulina secretada foi dosada por ELISA. Os dados foram normalizados pelo número de células por amostra. Experimentos realizados em triplicada (n=3). Resultados representados por média ± EPM. Diferenças estatísticas significantes estão indicadas por (*) p<0,05. ................................................................................................. 33

Figura 11 - Expressão de TLR4/MD2 e CD14 em células MIN6 tratadas com LPS. MIN6 foram incubadas por 4 dias com 2,8mM; 5,6mM e 11,2 mM de glicose. Após esse período, foram incubadas em meio com as

Page 12: e produção de insulina - teses.usp.br · FERNANDA VIEIRA PALADINO . Vias de transdução de sinal do receptor tipo Toll 4 nas células β pancreáticas e seus efeitos na secreção

mesmas concentrações de glicose e foi adicionado LPS (50 ng/mL) e para controle as células foram mantidas em meio sem LPS. Após 48h, as células foram coletadas. (A) Marcação com anticorpo anti-TLR4/MD2, controle negativo (linha contínua), células controle sem LPS (linha pontilhada) e células tratadas com LPS (linha tracejada). Figuras representativas de três experimentos independentes. (B) Média de intensidade de fluorescência (MIF) do anticorpo TLR4/MD2. (C) Marcação com anticorpo anti-CD14, controle negativo (linha contínua), células controle sem LPS (linha pontilhada) e células tratadas com LPS (linha tracejada). Figuras representativas de três experimentos independentes. (D) Média de intensidade de fluorescência (MIF) do anticorpo CD14. Experimentos realizados em triplicada (n=3). Resultados representados por média ± EPM. ..................................................................................... 34

Figura 12 - Avaliação de morte celular em celular MIN5 tratadas com LPS. MIN6 foram incubadas por 4 dias com 2,8 mM; 5,6 mM e 11,2 mM de glicose. Após esse período, foram incubadas em meio com as mesmas concentrações de glicose e foi adicionado LPS (50 ng/mL) e para controle as células foram mantidas em meio sem LPS. Após 48h, as células foram coletadas e marcadas com anexina V e PI. (A) Porcentagem de células positivas para anexina V (apoptose), (B) porcentagem de células positivas para anexina V e PI (apoptose tardia e necrose), (C) porcentagem de células positivas para PI (necrose). Experimentos realizados em triplicada (n=3). Resultados representados por média ± EPM ................................. 36

Page 13: e produção de insulina - teses.usp.br · FERNANDA VIEIRA PALADINO . Vias de transdução de sinal do receptor tipo Toll 4 nas células β pancreáticas e seus efeitos na secreção

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AP-1 Do inglês, activator protein 1

CD14 Do inglês, Cluster of differentiation 14

Ct Do inglês, cycle threshold / Limiar do ciclo

DM1 Diabetes Mellitus tipo 1

DM2 Diabetes Mellitus tipo 2

DMEM Do inglês, Dulbecco’s Modified Eagles’s Medium

dNTP Desoxinucleotídeos trifosfatados

EPM erro padrão da média

HRP Do inglês, horseradish peroxidase

IFN interferon

IKK Do inglês, IκB kinase

IL interleucina

IRAK1 Do inglês, Interleukin-1 receptor-associated kinase 1

IRAK4 Do inglês, Interleukin-1 receptor-associated kinase 4

IRF3 Do inglês, Interferon regulatory factor 3

IRF7 Do inglês, Interferon regulatory factor 7

IκB Do inglês, inhibitor of κ light chain gene enhancer in B cells

JNK Do inglês, JUN N-terminal kinase

LBP Do inglês, lipopolysaccharide binding protein

LPS Lipopolissacarídeo

MAPK Do inglês, mitogen-activated protein kinase

MD2 Proteína mielóide diferenciadora 2

MIP1 Do inglês, macrophage inflammatory proteins

MyD88 Do inglês, Myeloid differentiation primary response gene 88

NF-κB Do inglês, nuclear factor kappa B

NG Newport Green

Oligo-dT oligo-desoxitimidina

PBS Do inglês, Phosphate Buffered Saline / Tampão fosfato-salino

Page 14: e produção de insulina - teses.usp.br · FERNANDA VIEIRA PALADINO . Vias de transdução de sinal do receptor tipo Toll 4 nas células β pancreáticas e seus efeitos na secreção

PI Do inglês, propidium iodide/ Iodeto de propídeo

Primer Oligonucleotídeo iniciador

RNAm RNA mensageiro

SBF Soro bovino fetal

TAB1 Do inglês, TAK1 binding protein 1

TAK1 Do inglês, TGFβ activated kinase 1

TBK1 Do inglês, TANK binding kinase 1

TIR Do inglês, Toll/ Interleukin-1 receptor

TLR Do inglês, Toll-like receptor/ Receptor tipo Toll

TNF Do inglês, tumor necrosis factor/ Fator de necrose tumoral

TRAF3 Do inglês, TNF receptor-associated factor 3

TRAF6 Do inglês, TNF receptor-associated factor 6

TRAM Do inglês, TRIF-related adaptor molecule

TRIF Do inglês, TIR-domain-containing adapter-inducing interferon-β

Page 15: e produção de insulina - teses.usp.br · FERNANDA VIEIRA PALADINO . Vias de transdução de sinal do receptor tipo Toll 4 nas células β pancreáticas e seus efeitos na secreção

LISTA DE SÍMBOLOS

°C Grau Celsius

μg Micrograma

μL Microlitro

cm Centímetro

g Força centrífuga relativa (=RCF)

mL Mililitro

mM Milimolar

ng Nanograma

Page 16: e produção de insulina - teses.usp.br · FERNANDA VIEIRA PALADINO . Vias de transdução de sinal do receptor tipo Toll 4 nas células β pancreáticas e seus efeitos na secreção

Vieira Paladino F. Vias de transdução de sinal do receptor tipo Toll 4 nas

células beta pancreáticas e seus efeitos na secreção e produção de insulina

[Dissertação]. São Paulo: Faculdade de Medicina, Universidade de São

Paulo; 2012.

RESUMO

INTRODUÇÃO: O receptor tipo Toll 4 (TLR4) pertencente a uma família de

receptores do sistema imune inato, reconhece o padrão molecular de

lipopolissacarídeos (LPS), expressos por bactérias Gram negativas. Sua

cascata de sinalização, nas células apresentadoras de antígeno, ocorre por

duas vias principais: MyD88-dependente, que resulta na ativação de NF-κB

e na expressão de genes de resposta inflamatória e MyD88-independente,

responsável pela ativação dos fatores IRF3 e IRF7, culminando na síntese

de interferons α e β, envolvidos na resposta anti-viral e anti-bacteriana.

Células não-imunes, de diversos tecidos, também expressam TLR4,

incluindo células β pancreáticas murinas e humanas. Devido ao seu papel

nos processos inflamatórios, os TLR estão implicados em doenças crônicas

como obesidade e diabetes. Estudo anterior do grupo identificou TLR4 como

uma molécula que ativa sinais inflamatórios e provoca alterações na

homeostase das células β. Neste trabalho, investigamos qual via é ativada

por LPS e quais os efeitos da expressão do TLR4 na viabilidade celular e na

produção de insulina em células β murinas. MÉTODOS: Células MIN6

(linhagem celular de insulinoma de camundongo) foram cultivadas em

condições de hipo (2,8mM glicose), normo (5,6mM glicose) e hiperglicemia

(11,2mM glicose), por 4 dias. Após esse período, foi adicionado LPS (50

ng/mL) por 48h e foram feitas análises por PCR em tempo real, Western

Blot, ELISA e citometria de fluxo. RESULTADOS: Os resultados confirmam o

aumento de TLR4 em células β em condições de hiperglicemia e a via de

Page 17: e produção de insulina - teses.usp.br · FERNANDA VIEIRA PALADINO . Vias de transdução de sinal do receptor tipo Toll 4 nas células β pancreáticas e seus efeitos na secreção

sinalização ativada por LPS é a via MyD88-dependente, envolvida na

produção de citocinas pró-inflamatórias. A via de indução de intérferons tipo

1 está ausente nestas células. Além disso, TLR4 ativado por LPS aumentou

secreção de insulina em resposta a glicose, mas não induziu a morte celular.

CONCLUSÃO: A expressão de TLR4 em células β pancreáticas murinas é

induzida em resposta ao aumento da glicemia, constituindo um novo elo

entre a agressão à célula β causada por altos níveis de glicose e a alteração

da função celular induzida por LPS.

Descritores: receptor 4 Toll-like; lipopolissacarídeos; células secretoras de

insulina; insulina; via MyD88-dependente; linhagem celular MIN6.

Page 18: e produção de insulina - teses.usp.br · FERNANDA VIEIRA PALADINO . Vias de transdução de sinal do receptor tipo Toll 4 nas células β pancreáticas e seus efeitos na secreção

Vieira Paladino F. Toll-like receptor 4 signal transduction pathways in

pancreatic β cells and their effect on insulin secretion and production

[dissertation]. São Paulo: “Faculdade de Medicina, Universidade de São

Paulo”; 2012.

SUMMARY

INTRODUCTION: Toll-like receptor 4 (TLR4) belongs to a family of innate

immunity receptors and recognizes the molecular pattern present in

lipopolysaccharides (LPS), typical of Gram-negative bacteria. There are two

TLR4 signaling pathways, typically in antigen-presenting cells: one is MyD88-

dependent, activating NF-kB transcription factor and triggering inflammatory

cytokine production and the other is MyD88-independent, leading to

activation of IRF3 and IRF-7 and production of interferons α e β, involved in

antiviral and antibacterial immune responses. Non-immune cells in several

tissues also express TLR4, including human and murine pancreatic β cells.

Due to their role in inflammatory processes, TLRs have been implicated in

chronic diseases like obesity and diabetes. Our previous study identified

TLR4 as a molecule which activates inflammatory signals and induces

changes in β cell homeostasis. In this study, we investigated which of the

TLR4 pathways is activated by LPS and the effects of glucose levels on cell

viability and insulin production in a mouse insulinoma cell line. METHODS:

MIN6 cells were maintained in low (2,8mM), normal (5,6mM) and high

(11,2mM) glucose levels for 4 days, and then incubated with LPS (50 ng/mL)

for 48 hours. Analyses were done by real-time PCR, Western Blot, ELISA

and flow cytometry. RESULTS: Analysis confirmed increase in TLR4 gene

expression in hyperglycemic conditions and showed that the signaling

pathway activated by LPS is MyD88-dependent. The interferon induction

pathway is absent in these cells. Furthermore, upon activation by LPS, TLR4

Page 19: e produção de insulina - teses.usp.br · FERNANDA VIEIRA PALADINO . Vias de transdução de sinal do receptor tipo Toll 4 nas células β pancreáticas e seus efeitos na secreção

impacts on insulin secretion in response to glucose, but without triggering cell

death. CONCLUSION: We conclude that TLR4 expression in mouse

pancreatic β cells is induced in response to increased glucose levels,

constituting a new link in the chain of events leading to β cell stress caused

by high glucose levels with concomitant changes in cell function induced by

LPS.

Descriptors: Toll-like receptor 4; lipopolysaccharides; insulin-secreting cells;

insulin; MyD88-dependent pathway; cell line MIN6.

Page 20: e produção de insulina - teses.usp.br · FERNANDA VIEIRA PALADINO . Vias de transdução de sinal do receptor tipo Toll 4 nas células β pancreáticas e seus efeitos na secreção
Page 21: e produção de insulina - teses.usp.br · FERNANDA VIEIRA PALADINO . Vias de transdução de sinal do receptor tipo Toll 4 nas células β pancreáticas e seus efeitos na secreção

1

1. INTRODUÇÃO

1.1. Receptores tipo Toll (TLRs) e sistema imune

Receptores tipo Toll ou TLR (Toll-Like receptor) pertencem a uma

família conservada de receptores do sistema imune inato, que reconhecem

padrões moleculares expressos por diversos patógenos, iniciando uma

sinalização específica que culmina no desencadeamento da resposta imune

adaptativa. Esses receptores desempenham papeis essenciais nas

respostas imunes, resultando na expressão de genes pró-inflamatórios

(Takeda, Kaisho et al. 2003) e moléculas que auxiliam no combate à

infecção.

O primeiro receptor tipo Toll foi inicialmente descrito em Drosophila

melanogaster, associado à embriogênese e a uma forma primitiva do

sistema imune inato (Hashimoto, Hudson et al. 1988). Posteriormente, foram

identificados genes homólogos em mamíferos, que foram então

denominados de Toll-Like Receptors (TLR) ou receptores tipo Toll.

(Medzhitov, Preston-Hurlburt et al. 1997; Rock, Hardiman et al. 1998)

Hoje, são conhecidos 13 membros da família de TLR, em mamíferos,

Estes apresentam diferenças estruturais e funcionais, mas os genes TLR

humanos 1-9 têm homólogos em camundongos e em outros animais

(Iwasaki and Medzhitov 2004; Kawai and Akira 2010).

As moléculas TLR estão localizadas predominantemente nas células

do sistema imune, como macrófagos e/ou células dendríticas. Enquanto

TLR1, TLR2, TLR4, TLR5, TLR6 e TLR11 (apenas em camundongos) são

expressas na superfície das células, os receptores TLR3, TLR7, TLR8 e

TLR9 estão presentes em compartimentos intracelulares como os

endossomos e o retículo endoplasmático (Ahmad-Nejad, Hacker et al. 2002;

Heil, Ahmad-Nejad et al. 2003).Devido a diferenças de estrutura e de

Page 22: e produção de insulina - teses.usp.br · FERNANDA VIEIRA PALADINO . Vias de transdução de sinal do receptor tipo Toll 4 nas células β pancreáticas e seus efeitos na secreção

2

localização, cada TLR é capaz de reconhecer classes diferentes de

moléculas presentes nos diferentes microrganismos, como, por exemplo,

lipopeptídeos originários de parasitas e peptidoglicanos expressos por

bactérias (TLR2 associado a TLR1) (Takeda, Kaisho et al. 2003), RNA de

dupla fita (TLR3) típico de vírus (Dogusan, Garcia et al. 2008),

lipopolissacarídeos (LPS) característicos de bactérias Gram-negativas

(TLR4) (Poltorak, He et al. 1998; Hoshino, Takeuchi et al. 1999), flagelina

(TLR5) (Hayashi, Smith et al. 2001), DNA na forma de sequências CpG

típicas de bactérias (TLR9) (Hemmi, Takeuchi et al. 2000), RNA de fita

simples típico de vírus que infectam macrófagos (TLR7) e profilina (TLR11)

(Lauw, Caffrey et al. 2005). Alguns TLR também reconhecem ligantes

endógenos como ácidos graxos saturados e produtos de células necróticas

(Andrade, Waddell et al. 2005; Shi, Kokoeva et al. 2006; Davis, Gabler et al.

2008). Recentemente foram descobertos novos membros dessa família, os

receptores TLR10, TLR12 e TLR13, porém seus ligantes ainda não foram

identificados (Grieco, Vendrame et al. 2011).

Quando ativados, os TLR desencadeiam a sinalização intracelular

que culmina com a ativação do macrófago, a transcrição de inúmeros genes

envolvidos na resposta imune e inflamatória e a síntese de compostos que

auxiliam na eliminação do patógeno (Takeda, Kaisho et al. 2003).

Todos os TLRs, com exceção do TLR3, efetuam sua sinalização via a

molécula adaptadora MyD88, levando à ativação das vias NF-κB (nuclear

factor kappa B) e MAP quinase (MAPK - mitogen-activated protein). Essas

vias regulam genes da resposta imune, com a produção de citocinas e

quimiocinas, que modulam a imunidade inata e adaptativa (Shi, Kokoeva et

al. 2006).

Page 23: e produção de insulina - teses.usp.br · FERNANDA VIEIRA PALADINO . Vias de transdução de sinal do receptor tipo Toll 4 nas células β pancreáticas e seus efeitos na secreção

3

1.2. Receptor tipo Toll 4 e vias de sinalização

A molécula de TLR4 transduz a sinalização intracitoplasmática

induzida por LPS (Chow, Young et al. 1999), que é uma endotoxina,

componente estrutural encontrado na membrana de bactérias Gram-

negativas, conhecida justamente por induzir inflamação sistêmica. É

constituída por 3 partes: o lipídeo A (o principal padrão molecular

reconhecido pelo receptor), oligossacarideos centrais e cadeias laterais (Lu,

Yeh et al. 2008).

O estímulo por LPS em células de mamíferos ocorre através de uma

série de interações entre diversas proteínas, que incluem LPB, a proteína

ligante de LPS (lipopolysaccharide binding protein), a proteína CD14 (cluster

of differentiation 14) que pode estar sobre a forma solúvel na circulação ou

ancorada à membrana celular (sCD14 e mCD14, respectivamente) e ainda a

proteína mielóide diferenciadora 2 (MD2), que também pode ser encontrada

nas duas formas. As proteínas LBP, MD2 e sCD14 atuam como proteínas

auxiliares, sendo responsáveis por transferir LPS para o receptor TLR4 ou

para o complexo formado entre o receptor TLR4 e a proteína MD2 (Shimazu,

Akashi et al. 1999; Akira and Takeda 2004). Esse complexo é considerado

como a principal forma de reconhecimento do LPS.

A cascata de sinalização do receptor TLR4 é complexa, tendo duas

vias principais (Figura 1). O tipo de sinalização depende do uso seletivo de

diferentes combinações de moléculas adaptadoras e transdutoras de sinal.

Mais especificamente, na via conhecida como MyD88-dependente, o

domínio TIR (Toll/ Interleukin-1 receptor) intracelular, comum a quase todos

os TLR, se associa à molécula adaptadora MyD88 (Myeloid differentiation

primary response gene 88) e numa sinalização análoga a do próprio receptor

de IL1, leva à ativação mais precoce denominada de "early phase" (Kawai,

Adachi et al. 1999; Palsson-McDermott and O'Neill 2004). A proteína MyD88

leva a fosforilação de resíduos de serina/treonina da quinase IRAK4

(Interleukin-1 receptor-associated kinase-4). Após sua ativação, IRAK4 é

Page 24: e produção de insulina - teses.usp.br · FERNANDA VIEIRA PALADINO . Vias de transdução de sinal do receptor tipo Toll 4 nas células β pancreáticas e seus efeitos na secreção

4

responsável pelo recrutamento, ativação e degradação do IRAK1

(Interleukin-1 receptor-associated kinase 1). Essa interação entre MyD88 e

IRAK permite a ligação da molécula TRAF6 (TNF receptor-associated factor

6) ao complexo. As proteínas IRAK1, IRAK4 e TRAF6 são importantes

pontos de regulação desta via. A ligação de TRAF6, por sua vez, ativa TAK1

(TGFβ activated kinase 1) que forma um complexo com TAB1 (TAK1 binding

protein 1), ativando as IKK (IκB kinase) e a cascata das MAPK. IKKα, IKKβ e

IKKγ formam um complexo capaz de fosforilar as proteínas IκB (inhibitor of κ

light chain gene enhancer in B cells). Essa fosforilação leva à liberação das

proteínas IκB do complexo proteico e a sua degradação pelo sistema

proteassomal, com a subsequente translocação do fator de transcrição NF-

κB para o núcleo, onde controla a expressão de centenas de genes de

resposta inflamatória. A sinalização na via das MAPK ocorre através da

transcrição e ativação das proteínas heterodiméricas p38 e JNK (JUN N-

terminal kinase), formando o complexo AP-1 (activator protein 1), que

também tem um papel fundamental na indução da expressão de citocinas

pró-inflamatórias. Esses fatores de transcrição, NF-κB e AP-1, controlam e

expressão de uma série de proteínas importantes para a imunidade inata e

adaptativa, levando à ampliação da resposta imune. As principais são as

citocinas pró-inflamatórias IL-1β, TNF-α (Tumor necrosis factor α), IL-6 e IL-

12 e as quimiocinas MIP1 (macrophage inflammatory proteins) α e β, e IL-8

(Yamamoto, Sato et al. 2003).

A via MyD88-independente (ou TRIF-dependente) se vale das

moléculas adaptadoras TRIF (TIR-domain-containing adapter-inducing

interferon-β) e TRAM (TRIF-related adaptor molecule), que compartilham

com as demais moléculas adaptadoras, o domínio Toll/receptor de

Interleucina 1 (TIR). TRIF recruta TRAF3 (TNF receptor-associated factor 3)

que se associa com TBK1 (TANK binding kinase 1) e IKKε, responsáveis

pela dimerização, translocação e ativação dos fatores IRF3 (Interferon

regulatory factor 3) e IRF7 (Interferon regulatory factor 7). Nesta via ocorre

também uma sinalização tardia ("late phase") através da interação entre

TRIF e TRAF6, constituindo um elo de ligação entre as vias dependentes de

Page 25: e produção de insulina - teses.usp.br · FERNANDA VIEIRA PALADINO . Vias de transdução de sinal do receptor tipo Toll 4 nas células β pancreáticas e seus efeitos na secreção

5

MyD88 e de TRIF, que também ativa NF-κB. Além do mais, IRF7 e NF-κB,

juntos, levam à síntese dos interferons do tipo I, α e β, que são citocinas

envolvidas na resposta anti-viral e anti-bacteriana. IRF3, por sua vez induz a

expressão de moléculas co-estimuladores envolvidas na resposta imune

celular (Lu, Yeh et al. 2008).

Figura 1. Esquema das vias de transdução de sinal de TLR4. Modificada do site www.invitrogen.com. Data de acesso: 20 de janeiro de 2011.

Page 26: e produção de insulina - teses.usp.br · FERNANDA VIEIRA PALADINO . Vias de transdução de sinal do receptor tipo Toll 4 nas células β pancreáticas e seus efeitos na secreção

6

1.3. TLR4 em células não imunes

Já há na literatura estudos que mostram haver expressão de TLR em

células não-imunes de diversos tecidos. Em modelo experimental murino, a

mutação do gene de TLR4 previne a obesidade e a resistência à insulina

induzida por dieta com alto índice de gordura (Tsukumo, Carvalho-Filho et al.

2007). Também já foi demonstrada a expressão de TLR4 em células

endoteliais (Hijiya, Miyake et al. 2002; Erridge, Burdess et al. 2008),

tireócitos (Nicola, Velez et al. 2009), células mesangiais (Wolf, Bohlender et

al. 2006), adipócitos (Vitseva, Tanriverdi et al. 2008) e células endometriais

(Hirata, Osuga et al. 2005). Em todos os casos, a expressão extraordinária

de TLR4 em células não-imunes estava ligada à inflamação e doença.

1.4. Ilhotas de Langerhans e células β pancreáticas

Ilhotas de Langerhans são pequenas estruturas fortemente irrigadas,

responsáveis pela função endócrina do pâncreas. Produzem hormônios que

agem, primordialmente, como importantes reguladores no metabolismo de

glicose. A ilhota é composta de quatro tipos celulares principais: células α,

células β, células δ e células PP.

As células α sintetizam um hormônio que tem efeito antagônico ao da

insulina, o glucagon. Sua função é induzir a liberação de glicose pelo fígado

e de ácidos graxos pelo tecido adiposo. Por sua vez, glicose e ácidos graxos

livres favorecem a liberação de insulina e inibem a liberação de glucagon

(Goodner, Walike et al. 1977; Grupe, Hultgren et al. 1995). Outros tipos

celulares encontrados nas ilhotas, porém em menores quantidades são as

células δ que produzem somatostatina, um forte inibidor de insulina e

glucagon e as células PP que produzem polipeptídeos pancreáticos, cuja

Page 27: e produção de insulina - teses.usp.br · FERNANDA VIEIRA PALADINO . Vias de transdução de sinal do receptor tipo Toll 4 nas células β pancreáticas e seus efeitos na secreção

7

função é regular a secreção pancreática após as refeições (Lonovics, Devitt

et al. 1981).

O tipo celular predominante nas ilhotas é o das células β, que

constituem cerca de 60% das ilhotas humanas. As células β têm como papel

principal produzir e secretar insulina, um hormônio que controla os níveis de

glicose no sangue. A insulina é crucial em diversos processos metabólicos:

promove a absorção e o metabolismo de glicose, regula a liberação de

glicose pelo fígado, auxilia na síntese de proteínas e no armazenamento de

lipídios. A destruição ou a incapacidade das células β de produzir

quantidades suficientes de insulina para controlar os níveis de glicose no

sangue são as causas principais, respectivamente, do diabetes mellitus tipo

1 e tipo 2 em estágios mais avançados.

As células β são células especialmente suscetíveis a uma variedade

de estímulos, entre outros motivos, devido à sua função de pronta resposta a

variações da glicemia (Ramiya, Maraist et al. 2000). Há uma vasta literatura

avaliando o comportamento das células β sob estímulos inflamatórios e

imunológicos, que visam uma melhor compreensão dos mecanismos que

levam ao desencadeamento do diabetes (Ling, Van de Casteele et al. 2000;

Gysemans, Pavlovic et al. 2001). Em modelo humano e murino, foi mostrado

que na vigência de um estímulo inflamatório induzido por IL-1β e IFN-γ,

ocorre a inibição da secreção de insulina em resposta a glicose e morte

celular por apoptose (Arnush, Heitmeier et al. 1998; Maedler, Sergeev et al.

2002; Thomas, Darwiche et al. 2002).Também há na literatura evidências da

expressão de TLR4 em células β pancreáticas. Estudo mostrou a expressão

de CD14, MD2, TLR4 e TLR2 em ilhotas pancreáticas e em células β

transformadas, tanto de ratos como de humanos (Vives-Pi, Somoza et al.

2003). Em modelo alogeneico de transplante (Goldberg, Parolini et al. 2007),

onde ilhotas oriundas de camundongos deficientes em TLR4 foram

transplantadas em camundongos normais (modelo de deficiência de TLR4

apenas nas células das ilhotas), os camundongos apresentaram um longo

período de sobrevida do enxerto (>100 dias). Por outro lado, ilhotas normais

foram prontamente rejeitadas após o transplante, indicando haver um papel

Page 28: e produção de insulina - teses.usp.br · FERNANDA VIEIRA PALADINO . Vias de transdução de sinal do receptor tipo Toll 4 nas células β pancreáticas e seus efeitos na secreção

8

funcional importante para esse receptor na rejeição do órgão implantado.

No entanto, vários estudos feitos com ilhotas atribuiram suas observações

às células imunes infiltrantes que migram para este tecido em um cenário de

autoimunidade e inflamação locais sem identificar claramente as células que

expressavam TLR4. Assim, foi verificado que, além de TLR4, células β

humanas e de camundongos expressam TLR2, 3 e 9, porém pouco se sabe

como estas moléculas participam na fisiologia do pâncreas e em doenças

como o diabetes (Vives-Pi, Somoza et al. 2003; Wen, Peng et al. 2004).

1.5. Diabetes Mellitus

Diabetes mellitus do tipo 1 (DM1) é uma doença autoimune que

resulta na destruição das células β causada por células do sistema imune,

levando à hiperglicemia e à dependência de insulina exógena. As primeiras

células a invadirem as ilhotas de Langerhans são as APCs (células

apresentadoras de antígenos), como monócitos e macrófagos, seguidos por

células T, causando insulite. A insulite é caracterizada pelo aumento da

expressão de mediadores inflamatórios, como interleucina (IL)-1β, TNFα e

interferon- (IFN-). No DM1, as citocinas contribuem para a destruição, por

apoptose, das células β através da ativação da via NF-κB (Osterbye, Funda

et al. 2010).

Foi demonstrado que a combinação das três citocinas IL-1β, TNFα e

IFN- induzem a expressão de FAS (receptor de morte por apoptose) na

superfície das células β, independentemente da susceptibilidade ao

diabetes, aumentando sua vulnerabilidade à destruição autoimune (Wachlin,

Augstein et al. 2003). Porém, embora estas citocinas sejam tóxicas para as

células β, estas também são capazes de produzir e secretar IL-1β e IL-6, o

que contribui para a progressão da doença (Campbell, Cutri et al. 1989).

Page 29: e produção de insulina - teses.usp.br · FERNANDA VIEIRA PALADINO . Vias de transdução de sinal do receptor tipo Toll 4 nas células β pancreáticas e seus efeitos na secreção

9

Esses dados sugerem que pode haver envolvimento dos TLRs no DM1, já

que essas são citocinas produzidas durante a ativação destes receptores.

Já o Diabetes mellitus do tipo 2 (DM2) é uma doença metabólica e

inflamatória, caracterizada pela tolerância reduzida à glicose, hiperglicemia,

dislipidemia e resistência à insulina, aumento dos níveis de citocinas

inflamatórias, disfunção e perda progressiva da massa das células β. No

DM2, a inflamação em tecido adiposo e a perda progressiva das células β

são componentes da fisiopatologia da doença e poderiam incluir TLR3 e

TLR4 como vias adicionais de estímulo (Hutton, Soukhatcheva et al. 2010).

Conhecidos por mediar doenças inflamatórias crônicas, os TLRs

presentes em células de resposta imune já foram implicados na

etiopatogenia da obesidade e do diabetes. Foi demonstrado o aumento da

expressão de TLR4 por monócitos expostos à hiperglicemia (Dasu, Devaraj

et al. 2008). TLR4 tem sua expressão aumentada no tecido adiposo, em

ambientes com alta concentração de glicose e ácidos graxos livres, e pode

induzir o aumento da sinalização intracelular pró-inflamatória relacionada

com o aumento da resistência periférica à insulina (Davis, Gabler et al.

2008). Vale salientar que camundongos nocauteados para TLR4 ficam

protegidos da obesidade induzida por dieta e do aumento de resistência à

insulina (Shi, Kokoeva et al. 2006). Baseado em dados da literatura, que

indicam que níveis elevados de ácidos graxos livres circulantes levam à

disfunção das células β, um estudo foi feito para testar se as lipoproteínas

são capazes de modular a função e sobrevida das células β. Resultados

deste estudo demonstraram que lipoproteínas de baixa densidade reduziram

os níveis de RNAm da insulina e a proliferação das células β e tiveram

efeitos pró-apoptóticos (Boden 1997).

Há na literatura estudos que demonstram que a hiperglicemia leva as

células β à morte por apoptose. Em modelo animal de DM2 em Psammomys

obesus (rato-de areia ou gerbil), a hiperglicemia induz a morte de células β,

com redução da capacidade de proliferação, o que contribui para deficiência

de insulina e deterioração da homeostase da glicose (Donath, Gross et al.

1999).

Page 30: e produção de insulina - teses.usp.br · FERNANDA VIEIRA PALADINO . Vias de transdução de sinal do receptor tipo Toll 4 nas células β pancreáticas e seus efeitos na secreção

10

Em resumo, o TLR4 tem um papel importante na inflamação e na

imunidade, e há expressão desse receptor na maioria dos tecidos do corpo,

incluindo tecidos sensíveis à insulina. Por ser ativado por LPS e ácidos

graxos saturados (Tsukumo, Carvalho-Filho et al. 2007), que são indutores

de resistência à insulina, TLR4 pode ser um candidato em comum na

interação entre sinais inflamatórios e metabólicos.

1.6. Resultados anteriores

Um tratamento promissor para pacientes com DM1 e DM2 em estágio

avançado, é o transplante de ilhotas. Para esse fim, pâncreas de doadores

de órgãos em morte encefálica são selecionados e as ilhotas, que compõem

de 1-2% do total do tecido pancreático, são isoladas e purificadas em salas

biolimpas para posterior infusão na veia porta dos pacientes (Linetsky,

Bottino et al. 1997). Mesmo com a melhora acentuada nas ultimas décadas,

o procedimento completo para obtenção destas ilhotas é longo e nem

sempre fornece ilhotas em número e qualidade suficientes para um implante

de sucesso. Além disso, há dificuldades inerentes ao processo de separação

das ilhotas do tecido acinar que as envolvem, o que contribui

significativamente para a baixa recuperação das ilhotas (Bertuzzi and Ricordi

2007). Neste processo, as ilhotas são submetidas a condições de estresse

que podem levá-las a expressar justamente as moléculas sinalizadoras de

perigo, características dos processos autoimunes, facilmente induzidas pelo

ambiente inflamatório e pela conhecida suscetibilidade das células a esse

tipo de estímulo. Assim, são eventos comuns, nas ilhotas resultantes do

processo de isolamento, certa porcentagem de morte celular e perda do

conteúdo de insulina das células .

Em trabalho recentemente realizado pelo nosso grupo (Garay-

Malpartida, Mourao et al. 2011), foram analisadas ilhotas pancreáticas

Page 31: e produção de insulina - teses.usp.br · FERNANDA VIEIRA PALADINO . Vias de transdução de sinal do receptor tipo Toll 4 nas células β pancreáticas e seus efeitos na secreção

11

humanas isoladas a partir de 12 pâncreas obtidos de doadores falecidos. Foi

avaliada a expressão de TLRs e de vários fatores ligados ao estresse por

PCR em tempo real. A expressão (RNA mensageiro) de TLR1, TLR2, TLR3

e TLR4, estava presente em praticamente todas as amostras,

independentemente do número de ilhotas obtidas. Ao incubar as células

humanas, isoladas após tratamento das ilhotas com Accutase®, com LPS,

observou-se aumento dose-dependente do RNA mensageiro de TLR4 e de

CD14, mas diminuição da produção de RNA mensageiro para insulina

(Figura 2), além de queda da viabilidade das células β (Figura 3).

Figura 2. Expressão de TLR4 e CD14 e secreção de insulina induzida por LPS em cultura primária de células β humanas. Resultado de PCR em Tempo-Real, mostrando o aumento dose-dependente da expressão de (A) TLR4 e (B) CD14 em cultura primária de células β humanas tratadas com 0, 5 e 50ng/mL LPS por 48h. (C) Diminuição da expressão do RNA mensageiro de insulina após tratamento com 50ng/mL LPS.

Page 32: e produção de insulina - teses.usp.br · FERNANDA VIEIRA PALADINO . Vias de transdução de sinal do receptor tipo Toll 4 nas células β pancreáticas e seus efeitos na secreção

12

Figura 3. Viabilidade de células β humanas após tratamento com LPS.

Resultado de citometria de fluxo, mostrando a diminuição da viabilidade celular em cultura

primária de células β humanas tratadas com 50ng/mL LPS por 48h, através da marcação

por TMRE.

Neste mesmo estudo, devido à dificuldade em se obter ilhotas

humanas, também foram testadas células MIN6 originárias de insulinoma de

camundongo. Verificou-se que a mesma expressão de TLR4 está presente e

que estas células são responsivas à ação do LPS, inibindo a transcrição do

gene de insulina e acarretando queda da viabilidade celular. De fato, já havia

sido demonstrada, anteriormente, a semelhança funcional entre células

humanas e a linhagem murina MIN6 (Ishihara, Asano et al. 1993). Assim,

tornou-se possível estudar, em maior detalhe, as vias de ativação de TLR4 e

suas consequências para a função e viabilidade celular nesta linhagem

murina, usando-a como modelo de estudo da célula β pancreática. Este é o

objeto de estudo desta dissertação de Mestrado.

Page 33: e produção de insulina - teses.usp.br · FERNANDA VIEIRA PALADINO . Vias de transdução de sinal do receptor tipo Toll 4 nas células β pancreáticas e seus efeitos na secreção

13

2. OBJETIVOS

2.1 Objetivo Geral

Caracterizar a função biológica do TLR4 em células β pancreáticas de

camundongo, verificando quais as vias de sinalização ativadas pelo seu

ligante LPS e a sua relação com a homeostase de insulina e morte celular.

2.2. Objetivos específicos

Analisar as vias de transdução de sinal do TLR4 ativado por LPS,

em células de insulinoma de camundongo MIN6;

Analisar produção intracelular e secreção de insulina;

Avaliar viabilidade celular.

Page 34: e produção de insulina - teses.usp.br · FERNANDA VIEIRA PALADINO . Vias de transdução de sinal do receptor tipo Toll 4 nas células β pancreáticas e seus efeitos na secreção

14

3. MATERIAIS E MÉTODOS

O projeto foi realizado com a aprovação do Comitê de Ética em

Pesquisa do Hospital Israelita Albert Einstein e da Faculdade de Medicina da

Universidade de São Paulo (anexos).

3.1. Cultura celular

3.1.1. Células MIN6 (linhagem de células β de insulinoma de camundongo)

As células foram semeadas em placas de cultura contendo meio

RPMI 1640 (Invitrogen, San Diego, CA) com 11,2mM de glicose,

suplementado com 10% de soro bovino fetal - SBF (Invitrogen, San Diego,

CA), 1% de Hepes 1M (Invitrogen, San Diego, CA) e 0,01% de antibiótico e

antimicótico (10.000 unidades de penicilina, 10.000µg de estreptomicina e

25µg de anfotericina B; Invitrogen, San Diego, CA). As culturas foram

mantidas em estufa a 37°C e com 5% CO2 em incubadora umidificada.

3.1.2. Células J774-A1 (linhagem de macrófagos de camundongo)

As células foram semeadas em placas de cultura contendo meio

DMEM (Invitrogen, San Diego, CA), suplementado com 10% de SBF

(Invitrogen, San Diego, CA) e 1% de antibiótico e antimicótico (10.000

unidades de penicilina, 10.000µg de estreptomicina e 25µg anfotericina B;

Invitrogen, San Diego, CA). As culturas foram mantidas em estufa a 37°C e

com 5% CO2 em incubadora umidificada.

Page 35: e produção de insulina - teses.usp.br · FERNANDA VIEIRA PALADINO . Vias de transdução de sinal do receptor tipo Toll 4 nas células β pancreáticas e seus efeitos na secreção

15

3.2. Preparação do meio RPMI com diferentes concentrações de

glicose

Para cada 50 mL de meio RPMI 1640 sem glicose (Invitrogen, San

Diego, CA) foram adicionadas as seguintes quantidades de glicose: 25,22

mg de glicose (2,8 mM glicose - correspondente à hipoglicemia,

concentração de 50 mg/ dL), 50,45 mg de glicose (5,6 mM glicose -

correspondente à normoglicemia, concentração de 100 mg/ dL) e 100,9 mg

de glicose (11,2 mM glicose - correspondente à hiperglicemia, concentração

de 200 mg/ dL). Após a adição da glicose, o meio foi filtrado, o pH ajustado

para 7,2 e suplementado com SBF (Invitrogen, San Diego, CA) de acordo

com a necessidade de cada experimento.

3.3. Tratamento com LPS

Foram semeadas 104 células por poço, em placas com 6 poços. Após

48h, as células MIN6 foram incubadas com meio RPMI 1640 com diferentes

concentrações de glicose suplementado com 10% de SBF por 4 dias. Após

esse período, as células foram lavadas com PBS e o meio foi substituído por

RPMI 1640 com as diferentes concentrações de glicose e com 0,5% de SBF,

na ausência ou na presença de LPS (50 ng/mL; InvivoGen, San Diego, CA)

por mais 48 horas. Como controle positivo para todos os experimentos que

envolvem sinalização via TLR4, macrófagos J774-A1 de camundongo foram

utilizados.

Page 36: e produção de insulina - teses.usp.br · FERNANDA VIEIRA PALADINO . Vias de transdução de sinal do receptor tipo Toll 4 nas células β pancreáticas e seus efeitos na secreção

16

3.4. Caracterização funcional da linhagem celular MIN6

3.4.1. Produção intracelular de insulina

Para avaliar a produção intracelular de insulina foi utilizada a técnica

de imunofluorescência através da marcação com Newport Green (NG;

Invitrogen, San Diego, CA), um marcador que tem afinidade por zinco e

marca grânulos de insulina. Foram semeadas 5x105 células por poço, em

meio RPMI 1640 (11,2mM glicose) suplementado com 10% SBF sobre

lamínulas. As células foram incubadas e fixadas com paraformaldeido 4%

por 15 minutos, foram lavadas novamente com PBS. Posteriormente, foram

incubadas por 15 minutos a 37°C com Newport Green 1 μM (Invitrogen, San

Diego, CA), após esse período foram lavadas com PBS seguida da solução

de montagem Vectashield (Labvision Corporation, Fremont, CA) contendo o

corante nuclear DAPI e as lamínulas foram transferidas para lâminas para

microscopia (Olympus, Lake Success, NY). Através de citometria de fluxo,

100% das células foram positivas para NG (Figura 4B), ou seja, todas as

células da linhagem MIN6 são células β produtoras de insulina.

Figura 4. Produção intracelular de insulina (A) 5x10

5 células foram semeadas sobre

lamínulas e fixadas com paraformaldeido 4%. As células foram incubadas por 15 minutos a 37°C com Newport Green 1μM insulina (verde) e DAPI - núcleo (azul). Aumento de 20X. (B) 5x10

5 células foram coletadas e marcadas com Newport Green por 15 minutos a 37°C e

Page 37: e produção de insulina - teses.usp.br · FERNANDA VIEIRA PALADINO . Vias de transdução de sinal do receptor tipo Toll 4 nas células β pancreáticas e seus efeitos na secreção

17

posteriormente passadas no citômetro de fluxo. Células positivas para NG (linha pontilhada) e controle negativo (linha contínua). Experimento realizado em triplicata (n=3). Figura representativa de 3 experimentos.

3.4.2. Responsividade à glicose

Foram semeadas 104 células e cultivadas durante 4 dias com RPMI

1640, com adição de glicose nas concentrações 2,8 mM, 5,6 mM e 11,2 mM

de glicose. Após esse período o sobrenadante foi coletado e a dosagem de

insulina foi feita pelo método de ELISA (do inglês, Enzyme-Llinked

Immunosorbent Assay). Este resultado indicou que após a incubação com

diferentes níveis de glicose, as células MIN6 são responsivas a esta

variação, secretando menos insulina em condições de hipoglicemia e mais

insulina em condições de hiperglicemia (Figura 5).

Figura 5. Secreção de insulina. 104 células foram semeadas e cultivadas durante 4 dias

em condições de 2,8mM; 5,6mM e 11,2mM glicose. Após esse período o sobrenadante foi coletado para dosagem de insulina, através do método de ELISA. Experimento realizado em triplicata (n=3). Resultados representados por média ± EPM.

Page 38: e produção de insulina - teses.usp.br · FERNANDA VIEIRA PALADINO . Vias de transdução de sinal do receptor tipo Toll 4 nas células β pancreáticas e seus efeitos na secreção

18

3.5. Dosagem de insulina

A insulina presente no sobrenadante das culturas de células MIN6 foi

quantificada pela técnica de ELISA (Shibayagi Co., Ltd., Gunma, JP) para

dosagem de insulina de camundongo, seguindo as instruções do fabricante.

A placa revestida com o anticorpo anti-insulina foi lavada 4 vezes com a

solução de lavagem 1X fornecida pelo kit. Em seguida, foram adicionados

100 μL do anticorpo anti-insulina conjugado com biotina e a placa agitada 3

vezes por 10 segundos. Foram adicionados 10 μL de amostra ou de alíquota

de curva padrão por poço, incubados por 2 horas em temperatura ambiente,

no escuro, sob agitação. Foram feitas 4 lavagens utilizando a solução de

lavagem 1X e, em seguida, foram adicionados 100 μL da solução de

estreptavidina conjugada com HRP (horseradish peroxidase) e a placa foi

agitada 3 vezes por 10 segundos e incubada por 30 minutos em temperatura

ambiente, no escuro. Foram adicionados 100 μL da reação de parada e a

leitura da absorbância foi feita utilizando o comprimento de onda de 450 nm.

Os resultados foram normalizados pela quantidade de células em cada poço.

3.6. Extração de RNA total

O RNA total das células MIN6 e J774-A1 foi extraído através do kit

RNAspin (GE Healthcare, Chalfont St. Giles, UK), seguindo as instruções do

fabricante. O meio de cultura foi aspirado e posteriormente as células foram

lavadas duas vezes com PBS 1X. Adicionou-se 350 μL de solução de lise e

3,5 μL de β-mercaptoetanol. Agitou-se vigorosamente por 10 segundos no

vórtex, a fim de obter um lisado homogêneo. O lisado foi então centrifugado

a 11000xg por 1 minuto à temperatura ambiente. A fase aquosa foi

cuidadosamente transferida para um novo tubo e então foi adicionado 1x

volume recuperado após a centrifugação de etanol 70%, à temperatura

Page 39: e produção de insulina - teses.usp.br · FERNANDA VIEIRA PALADINO . Vias de transdução de sinal do receptor tipo Toll 4 nas células β pancreáticas e seus efeitos na secreção

19

ambiente. Para cada amostra foi montada uma coluna em um tubo coletor.

Em seguida, 700 μL da mistura foram pipetados na coluna e centrifugados

30 segundos à 8000xg. O líquido foi descartado e o procedimento foi

repetido até que toda a mistura lisado/etanol fosse filtrada. Aplicou-se 350

μL de MDB à coluna e centrifugou-se por 1 minuto à 11000xg. Descartou-se

o líquido e as amostras foram incubadas por 15 minutos a temperatura

ambiente com 95 μL de solução preparada com 10 μL DNase 1 e 90 μL de

tampão DNase. Foram adicionados 200 μL de RA2 (solução de lavagem) e a

placa foi centrifugada 1 minuto à 11000xg. O sobrenadante foi descartado e

foram feitas duas lavagens com RA3 (solução de lavagem) de 600 μL e 250

μL e centrifugado 2 minutos à 11000xg. O último passo foi repetido e, após

descartar o líquido, centrifugou-se 1 minuto para remover resíduos líquidos

do filtro. A coluna foi transferida para um novo tubo coletor e a ela foram

adicionados 50 μL de água livre de RNases. Centrifugou-se 1 minuto à

11000xg para recuperar o RNA.

O RNA extraído foi avaliado quanto à sua qualidade e concentração

por leitura no espectrofotômetro NanoVue Spectrophotometer (GE

Healthcare, Chalfont St. Giles, UK). A pureza das amostras foi determinada

pela razão entre os valores de absorbâncias em 260 nm e 280 nm. Somente

as amostras que apresentaram razões entre 1,7 e 2,0 foram utilizadas. As

amostras de RNA foram, também, submetidas à eletroforese em gel de

agarose, corado com brometo de etídio, para análise da integridade através

da visualização das duas bandas de RNA ribossômico 28S e 18S.

3.7. Síntese de cDNA

O cDNA foi preparado a partir de 1 μg de RNA total com o uso de 200

U da enzima transcriptase reversa SuperScript III (Invitrogen, San Diego,

CA) combinada com 50 μg de Oligo-dT (oligo-desoxitimidina; Invitrogen,

San Diego, CA), 10 mM de dNTP (desoxinucleotideos trifosfato ;Invitrogen,

Page 40: e produção de insulina - teses.usp.br · FERNANDA VIEIRA PALADINO . Vias de transdução de sinal do receptor tipo Toll 4 nas células β pancreáticas e seus efeitos na secreção

20

San Diego, CA) em tampão concentrado específico e água, volume final de

20 μL. A síntese foi realizada no termociclador (Eppendorf Mastercycler

Gradient, Hamburg, DE) sob as condições de 5 min a 25°C, 50 minutos a

50°C e 15 min a 70°C.

3.8. PCR quantitativa (qRT-PCR)

Todas as reações de PCR em tempo real foram realizadas em

duplicata. Como matriz, foram utilizados 2 μL do cDNA sintetizado, 2 μL do

conjunto de “primers” específicos para cada gene (Tabela 1) na

concentração final de 400nM cada, 12,5 μL do reagente Syber Green e 8,5

μL de água DEPC (Ambion, Austin, TX), num volume final de 25 μL. As

reações foram realizadas pelo equipamento 7500 Real-Time PCR (Applied

Biosystems, Foster City, USA) nas seguintes condições: 95° C por 10

minutos, 40 ciclos com as seguintes etapas: desnaturação do DNA a 94°C

por 15 segundos, anelamento dos “primers” (temperatura determinada pelo

par de “primers” utilizado na reação) por 30 segundos e extensão a 72°C por

30 segundos, seguido de curva de dissociação. A especificidade do produto

gerado e detecção da presença de eventual contaminação foram

confirmadas por análise da curva de dissociação dos produtos, bem como

por eletroforese em gel de agarose convencional. O controle positivo para

esses experimentos foi o RNA obtido de macrófagos da linhagem J774-A1,

submetidos às mesmas condições experimentais.

3.8.1. Desenho dos “primers”

Sequências dos genes-alvo foram obtidas do Genbank e exportadas

para o programa Primer Express v 3.3 (Applied Biosystems, Foster City,

USA). Os conjuntos de “primers” foram desenhados seguindo os critérios

definidos pelo software.

Page 41: e produção de insulina - teses.usp.br · FERNANDA VIEIRA PALADINO . Vias de transdução de sinal do receptor tipo Toll 4 nas células β pancreáticas e seus efeitos na secreção

21

Tabela 1. Sequências 5´ (forward; Fw) e 3´ (reverse; Rv) dos pares de “primers”,

sintetizados pela Life Technologies.

3.8.2. Análise dos resultados da PCR em tempo real

A análise dos resultados da PCR em tempo real foi semiquantitativa,

segundo o modelo matemático do método de ∆∆Ct (Livak and Schmittgen,

2002). O cálculo baseia-se na comparação dos valores de Ct (do inglês,

cycle threshold), expresso em unidades arbitrárias, entre dois grupos de

amostras no momento em que a PCR atinge a fase exponencial de

amplificação. Reações utilizando “primers” para o gene constitutivo HPRT

Page 42: e produção de insulina - teses.usp.br · FERNANDA VIEIRA PALADINO . Vias de transdução de sinal do receptor tipo Toll 4 nas células β pancreáticas e seus efeitos na secreção

22

foram utilizadas para normalizar os resultados obtidos. De acordo com este

modelo, utiliza-se a seguinte fórmula:

fold-change = 2-ΔΔCt , sendo que:

ΔCt = Ct do gene-alvo - Ct do gene referência

ΔΔCt = ΔCt1–ΔCt2

ΔCt1 = amostra de interesse

ΔCt2 = amostra do grupo controle

3.9. Padronização e Otimização das reações de PCR em Tempo Real

Primeiramente realizamos testes com controles positivos e negativos

sem limitar a concentração de "primers". Em seguida, fizemos a titulação dos

"primers", buscando a concentração ideal que gerasse menor Ct, sem a

formação de dímeros.

Para avaliação da eficiência dos "primers", utilizamos como controle

positivo, cDNA de macrófagos J774-A1 para os genes da cascata de

sinalização do TLR4 (TLR4, MD2, MyD88, CD14, TRAM, TRIF, TAK1,

IRAK4, IRAK1, TRAF6 e IRF3), cDNA de MIN6 para os genes da insulina

(INS1 e INS2) e como controle endógeno da reação de PCR o gene HPRT

(gene constitutivo envolvido na via de salvamento de purinas, processo

bioquímico de reciclagem das bases nitrogenadas). Através da curva de

diluição (100%, 10%, 1% e 0,1%) das amostras, pudemos observar que os

valores de Slope (inclinação) e R2 (correlação) eram aproximadamente –3,33

e 0,99; respectivamente, demonstrando eficiência de praticamente 100% nas

reações de PCR em tempo real. Análise da curva de dissociação mostrou a

formação de um produto único e específico para todos os "primers",

conforme exemplificado na figura abaixo (Figura 6).

Page 43: e produção de insulina - teses.usp.br · FERNANDA VIEIRA PALADINO . Vias de transdução de sinal do receptor tipo Toll 4 nas células β pancreáticas e seus efeitos na secreção

23

Figura 6. Curva Padrão e Curva de Dissociação dos "primers". A) HPRT e B) TLR4. Foi utilizado o Software 7500 v2.0.1 - Applied Biosystems. Todos os produtos da PCR tinham o tamanho esperado.

3.10. Identificação de proteínas fosforiladas

Após atingirem a confluência, as células MIN6 foram lavadas com

PBS e mantidas em RPMI com 0,5% de SBF por 24h. Em seguida, foi

adicionado RPMI contendo 11,2 mM glicose e 50 ng/mL de LPS e as células

foram incubadas nos tempos 0, 5, 15, 30 e 60 minutos.

3.11. Extração de proteínas

Ao final do procedimento experimental, as placas foram lavadas com

PBS gelado, aspiradas completamente e congeladas por imersão em

nitrogênio líquido. Sobre a placa foi adicionado 250 μL de tampão de lise

celular - RIPA (do inglês, radioimmunoprecipitation assay buffer) com 1% de

coquetel de inibidores de proteases e fosfatases; Sigma-Aldrich, St. Louis,

Page 44: e produção de insulina - teses.usp.br · FERNANDA VIEIRA PALADINO . Vias de transdução de sinal do receptor tipo Toll 4 nas células β pancreáticas e seus efeitos na secreção

24

MO) e as células foram então coletadas com auxílio de uma espátula. A

seguir, foram homogenizadas com seringas e agulha 21G. Após

centrifugação a 12.000 rpm / 4ºC por 10 min, o sobrenadante, contendo as

proteínas totais das células, foi separado e quantificado pelo kit BCA Protein

(Bio-Rad, Hercules, CA). Albumina bovina foi utilizada para a diluição da

curva-padrão.

3.12. Western Blot

A mesma quantidade de proteína (30 μg) foi aplicada em cada poço

do gel contendo SDS-poliacrilamida em tampão Tris-glicina (10%). A

primeira etapa da corrida ocorreu a 100V constantes até que as amostras

atingissem o grau de separação desejado. As proteínas do gel foram

eletroforeticamente transferidas para uma membrana de PVDF (poros de

0,45 μm) em tampão gelado de Tris-Glicina contendo 20% de metanol sob

agitação contínua durante 80 minutos a 275 mA constantes. A membrana foi

incubada em solução de bloqueio (tampão TBS contendo 0,05% de Tween-

20 e 3% de leite em pó desnatado) por 40 minutos à temperatura ambiente.

A seguir, a membrana foi incubada com os anticorpos primários: JNK

(1:1000, #9252; Cell Signaling Technology, Danvers, MA) e fosfo-JNK

(1:2000, #9255; Cell Signaling Technology, Danvers, MA), p38 (1:5000,

MO800, Sigma-Aldrich, St. Louis, MO) e fosfo-p38 (1:1000, P1491, Sigma-

Aldrich, St. Louis, MO), NF-κB (1:1000, # 4882; Cell Signaling Technology,

Danvers, MA), IRF3 (1:1000, #4302; Cell Signaling Technology, Danvers,

MA) e IRF7 (1:1000, PRS3941; Sigma-Aldrich, St. Louis, MO), diluídos na

solução em leite ou BSA (seguindo as instruções do fabricante) por uma

noite a 4°C. Após 4 lavagens com TBST (tampão de solução salina com Tris

e Tween 20), as membranas foram incubadas com anticorpo secundário

conjugado com HRP anti-camundongo ou anti-coelho (1:2000; 7076s e

7074s; Cell Signaling Technology, Danvers, MA), diluídos em 1% de leite

Page 45: e produção de insulina - teses.usp.br · FERNANDA VIEIRA PALADINO . Vias de transdução de sinal do receptor tipo Toll 4 nas células β pancreáticas e seus efeitos na secreção

25

durante 1 hora. Após 4 lavagens com TBST, as membranas foram

incubadas com solução de revelação ECL Plus (GE Healthcare, Chalfont St.

Giles, UK) por 5 min e expostas em filmes de raio-X (GE Healthcare,

Chalfont St. Giles, UK) por variados períodos até que as bandas fossem

detectadas após a revelação.

Para controle da quantidade de proteína utilizada nas amostras, as

membranas foram submetidas ao procedimento de remoção dos anticorpos

ligados usando uma solução de SDS, β-mercaptoetanol e Tris-HCl 1M (pH

6,7) por 30 minutos a 50ºC com agitação ocasional. A seguir, após 2

lavagens com TBST, o protocolo de incubação foi repetido, agora com

anticorpo primário anti-β-actina (1:15.000; Sigma-Aldrich, St. Louis, MO).

3.13. Citometria de fluxo

3.13.1. Marcação com anti-CD284 (TLR4)/MD2 e anti-CD14

Como descrito no item 3.3, ao final do experimento, as células foram

dissociadas com tripsina e lavadas com PBS. As células (5x105) foram

lavadas duas vezes por 5 minutos com tampão de marcação (PBS 1X+

1%SBF+ 0,05% Azida) e posteriormente incubadas com os anticorpos anti-

CD284/MD2 conjugado com PE (1:100, 558294; BD Biosciences, San Jose,

CA) e anti-CD14 conjugado com PerCP-Cy5 (1:100, 560638; BD Bioscienes,

San Jose, CA) diluídos no tampão de marcação, por 30 minutos a 4°C no

escuro. Os resultados foram analisados pelo software FlowJo (TreeStar, San

Carlos, CA).

Page 46: e produção de insulina - teses.usp.br · FERNANDA VIEIRA PALADINO . Vias de transdução de sinal do receptor tipo Toll 4 nas células β pancreáticas e seus efeitos na secreção

26

3.13.2. Marcação com Anexina V e Iodeto de Propídeo (PI)

Como descrito no item 3.3, ao final do experimento, as células foram

dissociadas com tripsina e lavadas com PBS. As células (5x105) foram

lavadas duas vezes por 5 minutos com tampão de marcação do kit (Anexina

V: FITC Kit I Detecção de apoptose, 556547; BD Biosciences, San Jose,

CA). Posteriormente, as células foram incubadas com anexina V e iodeto de

propídeo diluídos no tampão de marcação, por 15 minutos à temperatura

ambiente, no escuro, seguindo as instruções do fabricante. Os resultados

foram analisados pelo software FlowJo (TreeStar, San Carlos, CA).

3.14. Análise estatística

Os dados de PCR em tempo real, citometria e ELISA foram expressos

como média ± EPM (erro padrão da média) e o teste ANOVA e o teste post-

hoc de Tukey foram aplicados. Cada experimento foi repetido três vezes, em

triplicata. Foi considerada uma diferença estatisticamente significante entre

os grupos avaliados, quando p<0,05. Para as análises foi utilizado o

programa de análise estatística SAS (SAS Institute, 2001).

Page 47: e produção de insulina - teses.usp.br · FERNANDA VIEIRA PALADINO . Vias de transdução de sinal do receptor tipo Toll 4 nas células β pancreáticas e seus efeitos na secreção

27

4. RESULTADO

4.1. Células MIN6 expressam TLR4/MD2 e a molécula adaptadora CD14

Avaliamos a expressão de componentes do complexo de

reconhecimento do LPS por citometria de fluxo, utilizando anticorpos que

reconhecem TLR4 acoplado a MD2 e CD14. Confirmamos que as células

MIN6 expressam 50,69±0,98% TLR4/MD2 (Figura 7A) e 14,96±0,89% CD14

(Figura 7B) em condições de cultivo com alta concentração de glicose (RPMI

com 11,2mM glicose + 10%SBF).

Figura 7. Expressão de TLR4/MD2 e CD14 na superfície das células MIN6, cultivadas

por 4 dias em meio de cultura hiperglicêmico, analisadas por citometria de fluxo.

5x105 células foram incubadas por 30 minutos a 4°C no escuro com os anticorpos anti-

TLR4/MD2 anti-CD14 e analisadas por citometria de fluxo. (A) Células TLR4/MD2 positivas

(linha pontilhada) e controle negativo (linha contínua). (B) Células CD14 positivas (linha

pontilhada) e controle negativo (linha contínua). Experimento realizado em triplicata (n=3).

Figuras representativas de três experimentos independentes. Resultados representados por

média ± EPM.

Page 48: e produção de insulina - teses.usp.br · FERNANDA VIEIRA PALADINO . Vias de transdução de sinal do receptor tipo Toll 4 nas células β pancreáticas e seus efeitos na secreção

28

4.2. Expressão de TLR4 em células MIN6 é induzida por LPS em

condições de hiperglicemia

Para investigar qual ou quais as vias de transdução de sinal do

receptor TLR4 que são ativadas por LPS e se diferentes condições de

glicemia interferem na expressão de TLR4, avaliamos a expressão de genes

envolvidos nas vias MyD88-dependente e TRIF-dependente em células

MIN6. Foram semeadas 104 células em placas de 6 poços, que foram

cultivadas em 3 concentrações diferentes de glicose (glicose 2,8 mM; 5,6

mM ou 11,2 mM) por 4 dias. Após esse período, as células foram incubadas

por 48h com 50ng/mL de LPS, ainda utilizando meio de cultura com as três

condições de glicose. Como controles foram utilizadas células MIN6 em

meio livre de LPS.

Os resultados mostraram haver apenas expressão de genes

envolvidos na via MyD88-dependente (TLR4, MyD88, IRAK4, IRAK1,

TRAF6) e ausência de expressão de genes da via TRIF-dependente (TRAM,

TRIF, TAK1, IRF3). Não houve também expressão do gene MD2.

Pudemos observar um aumento discreto, porém significativo da

expressão de TLR4 no grupo tratado com LPS, em condições de

hiperglicemia em relação ao controle (sem LPS) do mesmo grupo (Figura

8A). Em condições de hipoglicemia, os genes MyD88 e IRAK4 estavam

aumentados no grupo tratado com LPS (Figuras 8B e 8C). Já os genes

IRAK1 e TRAF6 apresentaram aumento significativo em dois grupos tratados

com LPS, em condições tanto de hipoglicemia como de hiperglicemia

(Figuras 8D e 8E).

Roedores possuem dois genes de insulina estruturalmente

semelhantes, onde INS1 é uma duplicação do gene ancestral INS2

(Roderigo-Milne, Hauge-Evans et al. 2002). Nas mesmas condições, ambos

os genes da insulina, INS1 e INS2, modularam pouco sua expressão, uma

resposta condizente com a origem da linhagem, isto é, a de um insulinoma.

No entanto, a presença de LPS induziu um aumento significativo de INS1 e

Page 49: e produção de insulina - teses.usp.br · FERNANDA VIEIRA PALADINO . Vias de transdução de sinal do receptor tipo Toll 4 nas células β pancreáticas e seus efeitos na secreção

29

INS2, em condições de hipoglicemia, indicando um efeito positivo, porém

modesto, do LPS sobre a produção de insulina (Figuras 8F e 8G).

Figura 8. Expressão de TLR4, MyD88, IRAK4, IRAK1, TRAF6, INS1 e INS2, após incubação com LPS e diferentes concentrações de glicose nas células MIN6. Foram incubadas 10

4 células por 4 dias com 2,8mM; 5,6mM e 11,2 mM de glicose. Após esse

período, foram incubadas em meio com as mesmas concentrações de glicose e foi

Page 50: e produção de insulina - teses.usp.br · FERNANDA VIEIRA PALADINO . Vias de transdução de sinal do receptor tipo Toll 4 nas células β pancreáticas e seus efeitos na secreção

30

adicionado LPS (50 ng/mL) e para controle as células foram mantidas em meio sem LPS. Após 48h as células foram lisadas, RNA total extraído e foi feito PCR em Tempo Real. Expressão gênica de (A) TLR4, (B) MyD88, (C) IRAK4, (D) IRAK1, (E) TRAF6, (F) INS1 e (G) INS2. Expressão normalizada pelo gene HPRT e expressos como número de vezes em relação ao controle - células não tratadas (fold-change). Experimentos realizados em triplicada (n=3). Resultados representados por média ± EPM. Diferenças estatísticas significantes estão indicadas por (*) p<0,05.

4.3. Via MyD88-dependente é ativada por LPS em células MIN6

Experimentos para confirmar a ativação da via MyD88-dependente

foram feitos, avaliando a fosforilação de proteínas em pontos-chave das vias

de sinalização MyD88-dependente e TRIF-dependente. As células foram

cultivadas em RPMI (11,2mM de glicose) com 0,5% SBF por 24h. Após esse

período, as células foram incubadas com RPMI sem SBF e LPS (50 ng/mL)

por 0, 5, 15, 30 e 60 minutos e a fosforilação de proteínas das vias foi

analisada por Western Blot.

O tratamento com LPS resultou no aumento da fosforilação da

proteína p38 e JNK nos tempos 5 e 15 minutos (Figuras 9A e 9B), tendo um

pico de fosforilação em 5 minutos. Nas células MIN6 tratadas com LPS

também pudemos observar o aumento da proteína NF-κB em sua forma

ativa (ou seja, desacoplada do seu complexo inibidor), com pico nos tempos

30 e 60 minutos (Figura 9B).

Por outro lado, as proteínas IRF3 e IRF7 não foram detectadas em

Western blot, confirmando os dados obtidos por PCR em Tempo Real. As

proteínas IRF3 e IRF7 estavam presentes apenas no controle positivo, ou

seja, macrófagos tratados com LPS (50 ng/mL) por 5 minutos (Figura 9D e

E).

Em resumo, os dados mostram que apenas a via MyD88-dependente

está ativa em células MIN6 e não há expressão de genes, nem de proteínas

da envolvidas na via TRIF-dependente.

Page 51: e produção de insulina - teses.usp.br · FERNANDA VIEIRA PALADINO . Vias de transdução de sinal do receptor tipo Toll 4 nas células β pancreáticas e seus efeitos na secreção

31

Figura 9. Ativação das proteínas p38, JNK e NF-κB por LPS em células MIN6. As

células foram cultivadas por 24h com RPMI (glicose 11,2 mM) suplementado com 0,5% SBF

e após esse período foram incubadas com 50 ng/mL de LPS nos tempos 0, 5, 15, 30 e 60

minutos. (A) p38 e fosfo-p38 (B) NF-κB e β-actina, (C) JNK1 e 2 e fosfo-JNK1 e 2, (D) IRF3

e β-actina e (E) IRF7 e β-actina. Expressão normalizada pelo controle endógeno β-actina.

Experimento realizado em duplicata (n=2).

Page 52: e produção de insulina - teses.usp.br · FERNANDA VIEIRA PALADINO . Vias de transdução de sinal do receptor tipo Toll 4 nas células β pancreáticas e seus efeitos na secreção

32

4.4. Tratamento com LPS causa aumento na secreção de insulina em

células MIN6

Para investigar se a ativação de TLR4 interfere na homeostase de

insulina das células β, avaliamos o conteúdo intracelular e a secreção de

insulina. Foram semeadas 104 células em placas de 6 poços, que foram

cultivadas em 3 concentrações diferentes de glicose (glicose 2,8 mM, 5,6

mM ou 11,2 mM) por 4 dias. Após esse período, as células foram incubadas

por 48h com 50 ng/mL de LPS, ainda utilizando meio de cultura com as três

condições de glicose. Como controles foram utilizados células MIN6 em

meio livre de LPS. Após o tratamento em condições de hipo, normo e

hiperglicemia, na presença de LPS, o sobrenadante foi coletado. As células

foram incubadas com NG por 15 minutos a 37°C, no escuro, e preparadas

para citometria de fluxo. Através da marcação com NG, que marca grânulos

de insulina, verificamos não haver diferença no conteúdo intracelular no

grupo tratado com LPS (Figuras 10A e 10B). Porém, através de dosagem de

insulina no sobrenadante, observamos aumento significativo (p<0,05) da

secreção de insulina nos grupos tratados com LPS em relação aos grupos

controle, independentemente do nível de glicose no meio (Figura 10C).

Page 53: e produção de insulina - teses.usp.br · FERNANDA VIEIRA PALADINO . Vias de transdução de sinal do receptor tipo Toll 4 nas células β pancreáticas e seus efeitos na secreção

33

Figura 10. Conteúdo intracelular e secreção de insulina em células MIN6 tratadas com LPS. MIN6 foram incubadas por 4 dias com 2,8mM; 5,6mM e 11,2 mM de glicose. Após esse período, foram incubadas em meio com as mesmas concentrações de glicose e foi adicionado LPS (50 ng/mL) e para controle as células foram mantidas em meio sem LPS. Após 48h, as células foram coletadas. (A) Marcação com NG, controle negativo (linha contínua), células controle sem LPS (linha pontilhada) e células tratadas com LPS (linha tracejada). Figuras representativas de três experimentos independentes. (B) Média de intensidade de fluorescência (MIF) do Newport Green. (C) No mesmo experimento, o sobrenadante foi coletado e a insulina secretada foi dosada por ELISA. Os dados foram normalizados pelo número de células por amostra. Experimentos realizados em triplicada (n=3). Resultados representados por média ± EPM. Diferenças estatísticas significantes estão indicadas por (*) p<0,05.

Page 54: e produção de insulina - teses.usp.br · FERNANDA VIEIRA PALADINO . Vias de transdução de sinal do receptor tipo Toll 4 nas células β pancreáticas e seus efeitos na secreção

34

4.5. LPS não altera a expressão das moléculas de superfície

TLR4/MD2 e CD14 nas células MIN6.

Foram semeadas 104 células em placas de 6 poços, que foram

cultivadas em 3 concentrações diferentes de glicose (glicose 2,8 mM, 5,6

mM ou 11,2 mM) por 4 dias. Após esse período, as células foram incubadas

por 48h com 50 ng/mL de LPS, ainda utilizando meio de cultura com as três

condições de glicose. Como controles foram utilizados células MIN6 em

meio livre de LPS. As células foram incubadas com os anticorpos por 30

minutos a 4°C, no escuro. Observamos que o tratamento com LPS não

modifica a expressão de TLR4/MD2 (Figuras 11A e 11B) e CD14 (Figuras

11C e11D) na superfície da membrana das células MIN6.

Page 55: e produção de insulina - teses.usp.br · FERNANDA VIEIRA PALADINO . Vias de transdução de sinal do receptor tipo Toll 4 nas células β pancreáticas e seus efeitos na secreção

35

Figura 11. Expressão de TLR4/MD2 e CD14 em células MIN6 tratadas com LPS. MIN6 foram incubadas por 4 dias com 2,8 mM; 5,6 mM e 11,2 mM de glicose. Após esse período, foram incubadas em meio com as mesmas concentrações de glicose e foi adicionado LPS (50 ng/mL) e para controle as células foram mantidas em meio sem LPS. Após 48h, as células foram coletadas. (A) Marcação com anticorpo anti-TLR4/MD2, controle negativo (linha contínua), células controle sem LPS (linha pontilhada) e células tratadas com LPS (linha tracejada). Figuras representativas de três experimentos independentes. (B) Média de intensidade de fluorescência (MIF) do anticorpo TLR4/MD2. (C) Marcação com anticorpo anti-CD14, controle negativo (linha contínua), células controle sem LPS (linha pontilhada) e células tratadas com LPS (linha tracejada). Figuras representativas de três experimentos independentes. (D) Média de intensidade de fluorescência (MIF) do anticorpo CD14. Experimentos realizados em triplicada (n=3). Resultados representados por média ± EPM.

4.6. Tratamento com LPS não induz morte celular nas células MIN6

As células são responsivas a citocinas pró-inflamatórias e quando a

via do NF-kB é ativada, há a transcrição de genes que, ao final, acarretam

disfunção das próprias células e sua morte celular (Cardozo, Heimberg et

al. 2001). Por este motivo, fomos investigar se o tratamento com LPS causa

morte em células MIN6. Para avaliar morte celular, foram semeadas 104

células em placas de 6 poços, que foram cultivadas em 3 concentrações

diferentes de glicose (glicose 2,8 mM, 5,6 mM ou 11,2 mM) por 4 dias. Após

esse período, as células foram incubadas por 48h com 50 ng/mL de LPS,

ainda utilizando meio de cultura com as três condições de glicose. Como

controles foram utilizados células MIN6 em meio livre de LPS. As células

foram incubadas com anexina V e iodeto de propídeo (PI) durante 15

minutos a temperatura ambiente. Pudemos observar, através das

Page 56: e produção de insulina - teses.usp.br · FERNANDA VIEIRA PALADINO . Vias de transdução de sinal do receptor tipo Toll 4 nas células β pancreáticas e seus efeitos na secreção

36

marcações, que o LPS, na concentração testada, não induziu morte nas

células MIN6 (Figura 12).

Figura 12. Avaliação de morte celular em células MIN6 tratadas com LPS. MIN6 foram

incubadas por 4 dias com 2,8 mM; 5,6 mM e 11,2 mM de glicose. Após esse período, foram

incubadas em meio com as mesmas concentrações de glicose e foi adicionado LPS (50

ng/mL) e para controle as células foram mantidas em meio sem LPS. Após 48h, as células

foram coletadas e marcadas com anexina V e PI. (A) Porcentagem de células positivas para

anexina V (apoptose), (B) porcentagem de células positivas para anexina V e PI (apoptose

tardia e necrose), (C) porcentagem de células positivas para PI (necrose). Experimentos

realizados em triplicada (n=3). Resultados representados por média ± EPM.

Page 57: e produção de insulina - teses.usp.br · FERNANDA VIEIRA PALADINO . Vias de transdução de sinal do receptor tipo Toll 4 nas células β pancreáticas e seus efeitos na secreção

37

5. DISCUSSÃO

O presente estudo investiga a relação entre a sinalização via TLR4 e

variações na glicemia e na homeostase de insulina, na linhagem celular

murina MIN6. Avaliamos a expressão de genes e proteínas das vias de

sinalização de TLR4 e suas consequências para a função e viabilidade

celular. Mostramos que o LPS é capaz de induzir o aumento da expressão

do RNAm de TLR4 em células β murinas, ativando apenas a via MyD88-

dependente e causando alterações na secreção de insulina. Além disso,

observamos a ausência da via TRIF-dependente. A identificação da via de

sinalização envolvida na ativação de TLR4 em células β pancreáticas é um

passo importante para a compreensão da ação desse receptor em

condições fisiológicas e patológicas.

Nossos resultados mostram que o LPS foi capaz de induzir a ativação

de TLR4 em células β murinas, inclusive causando o aumento da expressão

de TLR4 e dos genes MyD88, IRAK1, IRAK4 e TRAF6, associados à via

MyD88-dependente. Por outro lado, não houve a expressão de genes

envolvidos na transdução de sinal da via TRIF-dependente, via responsável

pela produção de fatores envolvidos na resposta anti-viral e anti-bacteriana e

na indução de moléculas co-estimulatórias, presentes em células

apresentadoras de antígeno. Esta ausência foi confirmada por Western blot.

Já a ativação da via MyD88-dependente foi confirmada pela detecção de

fosforilação das proteínas p38, JNK e do aumento da forma ativada do fator

de transcrição NF-κB, nos grupos tratados com LPS. Portanto, apenas a via

MyD88-dependente está ativa em células MIN6. No entanto, estes

experimentos deverão ser repetidos utilizando-se células β derivadas de

ilhotas frescas, para verificar se a ausência da via TRIF-dependente

corresponde a células β, em geral. Além disso, cabe ainda verificar se, na

presença de uma infecção viral ou bacteriana, há a expressão de novo da

via de produção de interferons do tipo 1.

Page 58: e produção de insulina - teses.usp.br · FERNANDA VIEIRA PALADINO . Vias de transdução de sinal do receptor tipo Toll 4 nas células β pancreáticas e seus efeitos na secreção

38

No mesmo experimento, não houve expressão do RNAm da molécula

acessória MD2, necessária para formação do complexo

TLR4/MD2/CD14/LPS considerado como a principal forma de transdução de

sinal desencadeada pelo LPS. Há na literatura um estudo mostrando que

TLR4 pode ser expresso na membrana celular independentemente de sua

ligação com MD2 (Visintin, Halmen et al. 2006). Porém, a maioria dos

trabalhos, já descritos na literatura, mostra que TLR4 só responde ao LPS

quando o complexo com a proteína MD2 está formado (Shimazu, Akashi et

al. 1999; Akira and Takeda 2004). De fato, utilizamos, na citometria de fluxo,

um anticorpo que detecta TLR4 apenas quando associado a MD2 e, como

obtivemos uma resposta funcional ao LPS, acreditamos que o MD2 esteja

presente em quantidade suficiente para gerar a resposta. Também tivemos

problema com a detecção de CD14. Realizamos vários testes com “primers”

para CD14. Foram desenhados três pares de “primers” em regiões

diferentes do gene que, quando testados no controle positivo (macrófagos

J774) e nas células MIN6, geraram picos duplos e inespecíficos. Buscando

dados da literatura, observamos que não há estudos que fazem análise da

expressão de CD14 por PCR em tempo real, em células murinas. Então,

optamos por avaliar a presença de MD2 e CD14 em nossas amostras através

de citometria de fluxo. Porém, o tempo de 48h utilizado no experimento não

foi suficiente para observarmos o aumento dessas moléculas na superfície

das células β.

Buscando situações comparáveis ao que acontece no ser humano,

realizamos experimentos utilizando diferentes concentrações de glicose.

Pudemos observar que independentemente do nível de glicose no meio, o

tratamento com LPS aumenta a expressão de TLR4, mas esta foi mais

evidente quando as células foram cultivadas em meio hiperglicêmico,

indicando uma ligação entre a ativação de vias induzida por glicose e a

ativação do TLR4. O aumento da expressão de TLR4 frente à hiperglicemia

já foi descrito em monócitos, que constitutivamente expressam altas

quantidades desse receptor (Dasu, Devaraj et al. 2008). Através da análise

da expressão gênica das moléculas envolvidas na via MyD88-dependente

Page 59: e produção de insulina - teses.usp.br · FERNANDA VIEIRA PALADINO . Vias de transdução de sinal do receptor tipo Toll 4 nas células β pancreáticas e seus efeitos na secreção

39

observamos, o aumento significativo dos genes MyD88 e IRAK4 apenas no

grupo em condições de hipoglicemia e tratados com LPS. Já os genes

IRAK1 e TRAF6 apresentaram aumento significativo em dois grupos tratados

com LPS, em condições de hipoglicemia e hiperglicemia. Estes resultados

indicam que, em condições anormais de glicemia (hipo ou hiperglicemia),

associadas ao estímulo inflamatório por LPS, ocorre aumento da transcrição

de genes envolvidos na via MyD88-dependente e que, em concentrações

altas de glicose (11,2 mM), há ativação das proteínas p38, JNK e NF-κB

envolvidas na transdução de sinal à jusante do receptor TLR4 .

Estudos recentes têm mostrado o envolvimento de TLR4 na secreção

de insulina. Nossos resultados mostram que não houve diferença no

conteúdo intracelular de insulina no grupo tratado com LPS, indicando que

apesar da ativação de TLR4, nas nossas condições, a síntese de insulina foi

mantida. Em estudo usando a linhagem de células β de rato (BRIN-BD11)

tratada com LPS, também não houve diferença no conteúdo intracelular de

insulina (Kiely, Robinson et al. 2009). Ilhotas de camundongos normais ou

deficientes em TLR4, quando tratadas com LPS, também não mostraram

diferenças no conteúdo intracelular de insulina (Amyot, Semache et al.

2012).

Apesar da manutenção dos níveis intracelulares de insulina,

observamos aumento significativo na secreção de insulina nos grupos

tratados com LPS (50 ng/mL) por 48h, independentemente da glicemia.

Nossos resultados estão de acordo com dados da literatura onde foi

observado aumento na secreção de insulina em células β de ratos (linhagem

BRIN-BD11) incubadas por 24h com diferentes concentrações de LPS e

expostas a variações de glicemia (Kiely, Robinson et al. 2009). Entretanto,

estudo anterior do nosso grupo, mostrou que LPS inibia a secreção de

insulina em ilhotas humanas (Garay-Malpartida, Mourao et al. 2011). Esta

diferença poderia ser explicada pela possível presença de contaminação por

endotoxinas residuais do processo de isolamento, ou ainda no meio de

cultura utilizado para cultivar as ilhotas frescas. Cabe ressaltar que no

Page 60: e produção de insulina - teses.usp.br · FERNANDA VIEIRA PALADINO . Vias de transdução de sinal do receptor tipo Toll 4 nas células β pancreáticas e seus efeitos na secreção

40

trabalho anterior, todos os experimentos foram conduzidos em meio

hiperglicêmico, dificultando a comparação.

Para aumentar a controvérsia, em trabalho publicado recentemente,

observou-se, em ilhotas isoladas de camundongos, a diminuição da

secreção de insulina no grupo wild-type tratado com LPS. Entretanto, no

grupo deficiente em TLR4 com o mesmo tratamento, a secreção de insulina

em resposta a glicose foi mantida (Amyot, Semache et al. 2012). Porém,

neste estudo, os autores utilizaram condições experimentais muito diferentes

das utilizadas em nosso trabalho. Nossos experimentos avaliaram a

secreção crônica de insulina, onde a concentração de glicose mais alta

utilizada em nossos experientos foi de 11,2 mM, a incubação foi feita durante

4 dias e o LPS adicionado por mais 48 horas. (Amyot, Semache et al. 2012)

avaliaram secreção aguda de insulina, utilizaram meio com glicose 16,7 mM

(300 mg/dL) por 1 hora e o LPS foi adicionado por apenas 24 horas. Além

disso, a concentração de LPS utilizada nestes experimentos foi de 5 μg/mL,

enquanto em nosso estudo utilizamos apenas 50 ng/mL, ou seja, 100 vezes

menos. De fato, já foi descrito que baixas concentrações de LPS (1-100

ng/mL) aumentam a secreção de insulina (Vives-Pi, Somoza et al. 2003) e

que altas concentrações (5-10 μg/mL) causam efeito citotóxico em ilhotas

(Saitoh, Awaya et al. 2004). Não observamos diferenças nas taxas de

apoptose e necrose entre o grupo tratado com LPS em relação grupo

controle. De fato, nossos dados estão de acordo com dados já publicados na

literatura onde células β de rato BRIN-BD11 foram incubadas com LPS

(10ng/mL a 1000ng/mL) e a viabilidade celular foi mantida (Kiely, Robinson

et al. 2009). Além do mais, em macrófagos, a ativação de NF-kB mediada

por MyD88, via TLR4, promove a sobrevivência celular através da produção

de moléculas anti-apoptóticas da família Bcl-2 (Lombardo, Alvarez-

Barrientos et al. 2007).

Outra possível explicação para a discrepância observada poderia ser

o fato de termos utilizado uma linhagem de células β imortalizadas, já que os

trabalhos mencionados utilizaram células β primárias isoladas de ilhotas

frescas. As células MIN6 são originárias de um insulinoma, situação em que

Page 61: e produção de insulina - teses.usp.br · FERNANDA VIEIRA PALADINO . Vias de transdução de sinal do receptor tipo Toll 4 nas células β pancreáticas e seus efeitos na secreção

41

as células perdem total ou parcialmente a capacidade de resposta à glicose,

mantendo uma produção autônoma de insulina. Porém a descrição original

da linhagem MIN6 (Ishihara, Asano et al. 1993) mostrou que esta linhagem

mantinha a resposta à glicose, e por este motivo, foi a linhagem que

escolhemos para desenvolver o trabalho.

Assim, acreditamos que as diferenças observadas nos diversos

trabalhos possam ser explicadas pelo nível de LPS, tempo de incubação e

outros detalhes técnicos. Nossos resultados indicam que o LPS interfere na

homeostase de insulina, independentemente da glicemia, e que ativação de

TLR4 via MyD88 protege as células β da morte celular.

Apesar dos TLRs serem conhecidos como importantes sinalizadores

do sistema imune inato que tem como função principal detectar patógenos

invasores no organismo, nossos dados indicam haver um papel adicional

para TLR4 na regulação da função de células β. Sugerimos que baixas

doses de LPS poderiam ter efeitos benéficos para as células β, aumentando

a secreção de insulina e mantendo a viabilidade celular, ao passo que

estímulos fortes, com altas doses de LPS, poderiam levar as células β a

condições de estresse, causando diminuição da produção e secreção de

insulina, levando à disfunção e à morte celular.

Em modelos animais, foi demonstrado que a inibição da ativação de

TLR4 previne a obesidade e que o aumento de sua expressão estimula a

resistência à insulina (Davis, Gabler et al. 2008). Acreditamos que, como na

obesidade, o TLR4 poderia ter impacto também no DM2, conhecida como

uma síndrome metabólica e inflamatória. O estágio inicial do

desenvolvimento do DM2 é caracterizado pelo aumento da resistência

periférica à insulina, que leva à hiperinsulinemia e hiperglicemia e produção

de citocinas inflamatórias pelo tecido adiposo. Nesse estágio, a baixa

expressão de TLR4, poderia auxiliar na manutenção e equilíbrio da função

das células β, fazendo com que essas aumentem a secreção de insulina

para compensar a hiperglicemia e protegendo-as da morte celular. Em um

estágio mais avançado da doença, poderia ocorrer aumento da expressão

de TLR4, através do aumento de ligantes endógenos circulantes, como por

Page 62: e produção de insulina - teses.usp.br · FERNANDA VIEIRA PALADINO . Vias de transdução de sinal do receptor tipo Toll 4 nas células β pancreáticas e seus efeitos na secreção

42

exemplo ácidos graxos saturados, comum em doenças como o DM2

(Tsukumo, Carvalho-Filho et al. 2007). Nesta fase, o TLR4 poderia ter um

papel citotóxico, causando a diminuição da produção de insulina, levando as

células β à morte celular.

Page 63: e produção de insulina - teses.usp.br · FERNANDA VIEIRA PALADINO . Vias de transdução de sinal do receptor tipo Toll 4 nas células β pancreáticas e seus efeitos na secreção

43

6. CONCLUSÕES

Células β murinas expressam TLR4;

A via de sinalização ativada por LPS é a via MyD88-dependente e a

via TRIF-dependente está ausente nestas células;

A ativação de TLR4 interfere na homeostase de insulina das células

β, independentemente da glicemia, aumentando a secreção de

insulina;

Apesar da ativação de TLR4 via MyD88 não houve morte celular

detectável.

Page 64: e produção de insulina - teses.usp.br · FERNANDA VIEIRA PALADINO . Vias de transdução de sinal do receptor tipo Toll 4 nas células β pancreáticas e seus efeitos na secreção

44

7. ANEXOS

Page 65: e produção de insulina - teses.usp.br · FERNANDA VIEIRA PALADINO . Vias de transdução de sinal do receptor tipo Toll 4 nas células β pancreáticas e seus efeitos na secreção

45

Page 66: e produção de insulina - teses.usp.br · FERNANDA VIEIRA PALADINO . Vias de transdução de sinal do receptor tipo Toll 4 nas células β pancreáticas e seus efeitos na secreção

46

Page 67: e produção de insulina - teses.usp.br · FERNANDA VIEIRA PALADINO . Vias de transdução de sinal do receptor tipo Toll 4 nas células β pancreáticas e seus efeitos na secreção

47

8. REFERÊNCIAS

Ahmad-Nejad, P., H. Hacker, et al. 2002. Bacterial CpG-DNA and lipopolysaccharides activate Toll-like receptors at distinct cellular compartments. Eur J Immunol 32(7): 1958-1968.

Akira, S. and K. Takeda 2004. Toll-like receptor signalling. Nat Rev Immunol

4(7): 499-511. Amyot, J., M. Semache, et al. 2012. Lipopolysaccharides Impair Insulin Gene

Expression in Isolated Islets of Langerhans via Toll-Like Receptor-4 and NF-kappaB Signalling. PLoS One 7(4): e36200.

Andrade, C. F., T. K. Waddell, et al. 2005. Innate immunity and organ

transplantation: the potential role of toll-like receptors. Am J Transplant 5(5): 969-975.

Arnush, M., M. R. Heitmeier, et al. 1998. IL-1 produced and released

endogenously within human islets inhibits beta cell function. J Clin Invest 102(3): 516-526.

Bertuzzi, F. and C. Ricordi 2007. Prediction of clinical outcome in islet

allotransplantation. Diabetes Care 30(2): 410-417. Boden, G. 1997. Role of fatty acids in the pathogenesis of insulin resistance

and NIDDM. Diabetes 46(1): 3-10. Campbell, I. L., A. Cutri, et al. 1989. Evidence for IL-6 production by and

effects on the pancreatic beta-cell. J Immunol 143(4): 1188-1191. Cardozo, A. K., H. Heimberg, et al. 2001. A comprehensive analysis of

cytokine-induced and nuclear factor-kappa B-dependent genes in primary rat pancreatic beta-cells. J Biol Chem 276(52): 48879-48886.

Chow, J. C., D. W. Young, et al. 1999. Toll-like receptor-4 mediates

lipopolysaccharide-induced signal transduction. J Biol Chem 274(16): 10689-10692.

Dasu, M. R., S. Devaraj, et al. 2008. High glucose induces toll-like receptor

expression in human monocytes: mechanism of activation. Diabetes 57(11): 3090-3098.

Davis, J. E., N. K. Gabler, et al. 2008. Tlr-4 deficiency selectively protects

against obesity induced by diets high in saturated fat. Obesity (Silver Spring) 16(6): 1248-1255.

Page 68: e produção de insulina - teses.usp.br · FERNANDA VIEIRA PALADINO . Vias de transdução de sinal do receptor tipo Toll 4 nas células β pancreáticas e seus efeitos na secreção

48

Dogusan, Z., M. Garcia, et al. 2008. Double-stranded RNA induces pancreatic beta-cell apoptosis by activation of the toll-like receptor 3 and interferon regulatory factor 3 pathways. Diabetes 57(5): 1236-1245.

Donath, M. Y., D. J. Gross, et al. 1999. Hyperglycemia-induced beta-cell

apoptosis in pancreatic islets of Psammomys obesus during development of diabetes. Diabetes 48(4): 738-744.

Erridge, C., A. Burdess, et al. 2008. Vascular cell responsiveness to Toll-like

receptor ligands in carotid atheroma. Eur J Clin Invest 38(10): 713-720.

Garay-Malpartida, H. M., R. F. Mourao, et al. 2011. Toll-like receptor 4

(TLR4) expression in human and murine pancreatic beta-cells affects cell viability and insulin homeostasis. BMC Immunol 12: 18.

Goldberg, A., M. Parolini, et al. 2007. Toll-like receptor 4 suppression leads

to islet allograft survival. FASEB J 21(11): 2840-2848. Goodner, C. J., B. C. Walike, et al. 1977. Insulin, glucagon, and glucose

exhibit synchronous, sustained oscillations in fasting monkeys. Science 195(4274): 177-179.

Grieco, F. A., F. Vendrame, et al. 2011. Innate immunity and the

pathogenesis of type 1 diabetes. Semin Immunopathol 33(1): 57-66. Grupe, A., B. Hultgren, et al. 1995. Transgenic knockouts reveal a critical

requirement for pancreatic beta cell glucokinase in maintaining glucose homeostasis. Cell 83(1): 69-78.

Gysemans, C. A., D. Pavlovic, et al. 2001. Dual role of interferon-gamma

signalling pathway in sensitivity of pancreatic beta cells to immune destruction. Diabetologia 44(5): 567-574.

Hashimoto, C., K. L. Hudson, et al. 1988. The Toll gene of Drosophila,

required for dorsal-ventral embryonic polarity, appears to encode a transmembrane protein. Cell 52(2): 269-279.

Hayashi, F., K. D. Smith, et al. 2001. The innate immune response to

bacterial flagellin is mediated by Toll-like receptor 5. Nature 410(6832): 1099-1103.

Heil, F., P. Ahmad-Nejad, et al. 2003. The Toll-like receptor 7 (TLR7)-specific stimulus loxoribine uncovers a strong relationship within the TLR7, 8 and 9 subfamily. Eur J Immunol 33(11): 2987-2997.

Page 69: e produção de insulina - teses.usp.br · FERNANDA VIEIRA PALADINO . Vias de transdução de sinal do receptor tipo Toll 4 nas células β pancreáticas e seus efeitos na secreção

49

Hemmi, H., O. Takeuchi, et al. 2000. A Toll-like receptor recognizes bacterial DNA. Nature 408(6813): 740-745.

Hijiya, N., K. Miyake, et al. 2002. Possible involvement of toll-like receptor 4

in endothelial cell activation of larger vessels in response to lipopolysaccharide. Pathobiology 70(1): 18-25.

Hirata, T., Y. Osuga, et al. 2005. Evidence for the presence of toll-like

receptor 4 system in the human endometrium. J Clin Endocrinol Metab 90(1): 548-556.

Hoshino, K., O. Takeuchi, et al. 1999. Cutting edge: Toll-like receptor 4

(TLR4)-deficient mice are hyporesponsive to lipopolysaccharide: evidence for TLR4 as the Lps gene product. J Immunol 162(7): 3749-3752.

Hutton, M. J., G. Soukhatcheva, et al. 2010. Role of the TLR signaling

molecule TRIF in beta-cell function and glucose homeostasis. Islets 2(2): 104-111.

Ishihara, H., T. Asano, et al. 1993. Pancreatic beta cell line MIN6 exhibits

characteristics of glucose metabolism and glucose-stimulated insulin secretion similar to those of normal islets. Diabetologia 36(11): 1139-1145.

Iwasaki, A. and R. Medzhitov 2004. Toll-like receptor control of the adaptive

immune responses. Nat Immunol 5(10): 987-995. Kawai, T., O. Adachi, et al. 1999. Unresponsiveness of MyD88-deficient mice

to endotoxin. Immunity 11(1): 115-122. Kawai, T. and S. Akira 2010. The role of pattern-recognition receptors in

innate immunity: update on Toll-like receptors. Nat Immunol 11(5): 373-384.

Kiely, A., A. Robinson, et al. 2009. Toll-like receptor agonist induced changes

in clonal rat BRIN-BD11 beta-cell insulin secretion and signal transduction. J Endocrinol 202(3): 365-373.

Lauw, F. N., D. R. Caffrey, et al. 2005. Of mice and man: TLR11 (finally)

finds profilin. Trends Immunol 26(10): 509-511. Linetsky, E., R. Bottino, et al. 1997. Improved human islet isolation using a

new enzyme blend, liberase. Diabetes 46(7): 1120-1123. Ling, Z., M. Van de Casteele, et al. 2000. Interleukin-1beta-induced alteration

in a beta-cell phenotype can reduce cellular sensitivity to conditions

Page 70: e produção de insulina - teses.usp.br · FERNANDA VIEIRA PALADINO . Vias de transdução de sinal do receptor tipo Toll 4 nas células β pancreáticas e seus efeitos na secreção

50

that cause necrosis but not to cytokine-induced apoptosis. Diabetes 49(3): 340-345.

Lombardo, E., A. Alvarez-Barrientos, et al. 2007. TLR4-mediated survival of

macrophages is MyD88 dependent and requires TNF-alpha autocrine signalling. J Immunol 178(6): 3731-3739.

Lonovics, J., P. Devitt, et al. 1981. Pancreatic polypeptide. A review. Arch

Surg 116(10): 1256-1264. Lu, Y. C., W. C. Yeh, et al. 2008. LPS/TLR4 signal transduction pathway.

Cytokine 42(2): 145-151. Maedler, K., P. Sergeev, et al. 2002. Glucose-induced beta cell production of

IL-1beta contributes to glucotoxicity in human pancreatic islets. J Clin Invest 110(6): 851-860.

Medzhitov, R., P. Preston-Hurlburt, et al. 1997. A human homologue of the

Drosophila Toll protein signals activation of adaptive immunity. Nature 388(6640): 394-397.

Nicola, J. P., M. L. Velez, et al. 2009. Functional toll-like receptor 4 conferring

lipopolysaccharide responsiveness is expressed in thyroid cells. Endocrinology 150(1): 500-508.

Osterbye, T., D. P. Funda, et al. 2010. A subset of human pancreatic beta

cells express functional CD14 receptors: a signaling pathway for beta cell-related glycolipids, sulfatide and beta-galactosylceramide. Diabetes Metab Res Rev 26(8): 656-667.

Palsson-McDermott, E. M. and L. A. O'Neill 2004. Signal transduction by the

lipopolysaccharide receptor, Toll-like receptor-4. Immunology 113(2): 153-162.

Poltorak, A., X. He, et al. 1998. Defective LPS signaling in C3H/HeJ and

C57BL/10ScCr mice: mutations in Tlr4 gene. Science 282(5396): 2085-2088.

Ramiya, V. K., M. Maraist, et al. 2000. Reversal of insulin-dependent

diabetes using islets generated in vitro from pancreatic stem cells. Nat Med 6(3): 278-282.

Rock, F. L., G. Hardiman, et al. 1998. A family of human receptors

structurally related to Drosophila Toll. Proc Natl Acad Sci U S A 95(2): 588-593.

Page 71: e produção de insulina - teses.usp.br · FERNANDA VIEIRA PALADINO . Vias de transdução de sinal do receptor tipo Toll 4 nas células β pancreáticas e seus efeitos na secreção

51

Roderigo-Milne, H., A. C. Hauge-Evans, et al. 2002. Differential expression of insulin genes 1 and 2 in MIN6 cells and pseudoislets. Biochem Biophys Res Commun 296(3): 589-595.

Saitoh, N., A. Awaya, et al. 2004. Serum thymic factor prevents LPS-induced

pancreatic cell damage in mice via up-regulation of Bcl-2 expression in pancreas. Microbiol Immunol 48(9): 629-638.

Shi, H., M. V. Kokoeva, et al. 2006. TLR4 links innate immunity and fatty

acid-induced insulin resistance. J Clin Invest 116(11): 3015-3025. Shimazu, R., S. Akashi, et al. 1999. MD-2, a molecule that confers

lipopolysaccharide responsiveness on Toll-like receptor 4. J Exp Med 189(11): 1777-1782.

Takeda, K., T. Kaisho, et al. 2003. Toll-like receptors. Annu Rev Immunol 21:

335-376. Thomas, H. E., R. Darwiche, et al. 2002. Interleukin-1 plus gamma-

interferon-induced pancreatic beta-cell dysfunction is mediated by beta-cell nitric oxide production. Diabetes 51(2): 311-316.

Tsukumo, D. M., M. A. Carvalho-Filho, et al. 2007. Loss-of-function mutation

in Toll-like receptor 4 prevents diet-induced obesity and insulin resistance. Diabetes 56(8): 1986-1998.

Visintin, A., K. A. Halmen, et al. 2006. MD-2 expression is not required for

cell surface targeting of Toll-like receptor 4 (TLR4). J Leukoc Biol 80(6): 1584-1592.

Vitseva, O. I., K. Tanriverdi, et al. 2008. Inducible Toll-like receptor and NF-

kappaB regulatory pathway expression in human adipose tissue. Obesity (Silver Spring) 16(5): 932-937.

Vives-Pi, M., N. Somoza, et al. 2003. Evidence of expression of endotoxin

receptors CD14, toll-like receptors TLR4 and TLR2 and associated molecule MD-2 and of sensitivity to endotoxin (LPS) in islet beta cells. Clin Exp Immunol 133(2): 208-218.

Wachlin, G., P. Augstein, et al. 2003. IL-1beta, IFN-gamma and TNF-alpha

increase vulnerability of pancreatic beta cells to autoimmune destruction. J Autoimmun 20(4): 303-312.

Wen, L., J. Peng, et al. 2004. The effect of innate immunity on autoimmune

diabetes and the expression of Toll-like receptors on pancreatic islets. J Immunol 172(5): 3173-3180.

Page 72: e produção de insulina - teses.usp.br · FERNANDA VIEIRA PALADINO . Vias de transdução de sinal do receptor tipo Toll 4 nas células β pancreáticas e seus efeitos na secreção

52

Wolf, G., J. Bohlender, et al. 2006. Angiotensin II upregulates toll-like receptor 4 on mesangial cells. J Am Soc Nephrol 17(6): 1585-1593.

Yamamoto, M., S. Sato, et al. 2003. Role of adaptor TRIF in the MyD88-

independent toll-like receptor signaling pathway. Science 301(5633): 640-643.