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- 1 - 1. Introdução O poli(fluoreto de vinilideno) (PVDF) tem sido objeto de intensos estudos desde os anos 60, por apresentar importantes propriedades piroelétricas e piezoelétricas [1] . Além destas propriedades, o PVDF exibe ainda pelo menos quatro fases cristalinas, conhecidas como α, β, γ e δ. Devido a esse polimorfismo, pouco comum entre os materiais poliméricos, o PVDF apresenta ainda uma morfologia cristalina muito variada, que depende fortemente da temperatura e do tempo de cristalização. Os primeiros estudos relacionando a morfologia esferulítica ao tempo e temperatura de cristalização do PVDF foram realizados por Gianotti e colaboradores [2] e por Prest e Luca [3] . Ambos grupos verificaram através da microscopia ótica com luz polarizada (MOLP), que a cristalização acima de 150 o C produz duas formas diferenciadas de esferulitos: uns maiores, altamente

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1. Introdução

O poli(fluoreto de vinilideno) (PVDF) tem sido

objeto de intensos estudos desde os anos 60, por apresentar

importantes propriedades piroelétricas e piezoelétricas [1].

Além destas propriedades, o PVDF exibe ainda pelo

menos quatro fases cristalinas, conhecidas como α, β, γ e

δ. Devido a esse polimorfismo, pouco comum entre os

materiais poliméricos, o PVDF apresenta ainda uma

morfologia cristalina muito variada, que depende fortemente

da temperatura e do tempo de cristalização.

Os primeiros estudos relacionando a morfologia

esferulítica ao tempo e temperatura de cristalização do

PVDF foram realizados por Gianotti e colaboradores [2] e por

Prest e Luca [3]. Ambos grupos verificaram através da

microscopia ótica com luz polarizada (MOLP), que a

cristalização acima de 150oC produz duas formas

diferenciadas de esferulitos: uns maiores, altamente

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birrefringentes e apresentando anéis concêntricos finamente

espaçados, e outros menores, menos birrefringentes.

Acompanhando o processo de fusão de uma amostra

cristalizada a 162°C, Prest e Luca [3] observaram que a

birrefringência de vários, mas não de todos, esferulitos

maiores começava a desaparecer a 172°C. Algumas dessas

estruturas mantinham a birrefringência parcialmente

invariável acima dessa temperatura, normalmente

permanecendo o centro e uma auréola. A birrefringência dos

esferulitos menores começava a desaparecer a 178°C e a dos

maiores que restaram, a 186°C.

Análises térmicas (DSC) mostraram o aparecimento

de três endotermas para as amostras cristalizadas acima de

152°C, que, após análises por espectroscopia no

infravermelho, os autores atribuíram à fusão das fases α, β

e γ, em ordem crescente de temperatura. De acordo com os

autores as fases α e β deveriam nuclear e crescer durante a

cristalização, formando, respectivamente, os esferulitos

maiores finamente anelados e os menores, grosseiramente

bandeados. Se suficiente tempo fosse dado ao processo,

iniciaria uma transformação de fase α→γ, sem alterar a

aparência dos esferulitos maiores, quando vista por

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microscopia ótica. Essa transformação se inicia no centro

do esferulito e se propaga radialmente na estrutura.

Osaki e Ishida [4] também sugeriram tal

transformação estudando o recozimento (annealing) e a

cristalização isotérmica do PVDF a elevadas temperaturas.

Em um posterior estudo morfológico Lovinger [5] mostrou que

os esferulitos menores são de fato formados por uma

estrutura compatível com a da fase γ, como sugerido por

Gianotti e colaboradores [2], com pequenas inclusões

provavelmente da fase α, resultado posteriormente

confirmado por Morra e Stein [6].

Lovinger [5] observou, ainda, que na região de

encontro entre os diferentes esferulitos, a transformação

de fase α→γ sugerida por Prest e Luca, preferencialmente se

inicia na periferia dos esferulitos anelados, onde suas

lamelas estão intermisturadas com àquelas dos esferulitos

menores, da fase γ. Com o aumento da temperatura de

cristalização, essa transformação pode ter início também no

centro dos esferulitos maiores, propagando-se radialmente.

Lovinger [7] mostrou, ainda, que a taxa de crescimento dos

esferulitos maiores supera a dos menores até uma dada

temperatura de cristalização, acima da qual o processo se

inverte. Tanto essa temperatura como a temperatura em que

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os esferulitos menores começam a se formar dependem da

resina utilizada. Os anéis concêntricos exibidos pelos

esferulitos maiores tornam-se mais espaçados com o aumento

da temperatura de cristalização.

Takahashi e colaboradores [8] propuseram possíveis

mecanismos de transformação de fase α→γ. Trabalhos

posteriores [9,10] verificaram que a aplicação de um intenso

campo elétrico (E>70kV/cm) pode aumentar a taxa de

nucleação da fase γ do PVDF.

Recentemente, diversas blendas contendo PVDF

foram estudadas. Na maioria dos casos, o segundo componente

da blenda foi representado por um polímero amorfo, tal como

o poli(metacrilato de metila) (PMMA) [11-14], o poli(acrilato

de etila) (PEA) [15] ou a poli(o-metoxianilina) (POMA) [16].

Entretanto, menor atenção tem sido direcionada ás misturas

de PVDF com outros polímeros semicristalinos. Liu e

colaboradores [17] estudaram interações intermoleculares nas

blendas PVDF/ε-caprolactama (CPL) [17] bem como a

cristalização, adesão interfacial, morfologia e

propriedades mecânicas das blendas PVDF/poliamida 6 [18,19].

Estes resultados mostraram que, apesar da imiscibilidade

dos componentes, uma interação intermolecular específica

ocorre entre os dois polímeros, resultando em uma forte

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adesão interfacial. Manley e colaboradores [20-22] expuseram

estudos de miscibilidade, cristalização, morfologia e

propriedades mecânicas das blendas PVDF/poli(1,4 adipato de

butileno) (PBA). Eles verificaram que estes polímeros são

termodinamicamente miscíveis e as blendas resultantes

mostram uma morfologia na qual duas fases cristalinas

distintas coexistem com uma fase amorfa intimamente

misturada. Durante a cristalização, a partir do estado

fundido, os esferulitos de PVDF descartam algumas moléculas

de PBA dos contornos dos esferulitos, exibindo uma textura

irregular na região intersticial dos esferulitos. Outras

moléculas de PBA são aprisionadas nos domínios

interlamelares dos esferulitos.

Um interesse particular são as blendas com ambos

os componentes semicristalinos e onde a cocristalização

pode ocorrer, resultando na completa miscibilidade no

estado sólido. Este é o caso das blendas formadas por

copolímeros ferroelétricos poli(fluoreto de vinilideno) com

trifluoretileno (P(VDF-TrFE)). Utilizando análises térmicas

(DSC) e raios-x de alto ângulo (WAXS), Tanaka e

colaboradores [23] investigaram a miscibilidade e

cocristalização de blendas do copolímero P(VDF-TrFE)

contendo 52, 65 e 73% em mol de VDF e em diferentes

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composições. As blendas (52-48)/(65-35) e as (65-35)/(73-

27), quando na fase ferroelétrica, mostraram ser miscíveis

e apresentaram cocristalização isomórfica, enquanto que as

blendas (73-27)/(52-48) apresentaram miscibilidade parcial.

Os autores afirmaram que as blendas do homopolímero PVDF

com os copolímeros P(VDF-TrFE) são imiscíveis no fundido e

apresentam separação de fase.

O estudo envolvido nesta dissertação teve por

objetivo verificar a existência de uma relação entre o tipo

de esferulito (anelado e não anelado) presente no PVDF e a

fase cristalina predominante em suas lamelas. No caso das

blendas PVDF/P(VDF-TrFE), o objetivo foi verificar a

morfologia e a ocorrência ou não de miscibilidade entre os

componentes da blenda PVDF/P(VDF-TrFE), com o copolímero

(72/28), cristalizada a partir da fusão.

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2. Revisão de Literatura

2.1. Poli(fluoreto de vinilideno) (PVDF)

O monômero fluoreto de vinilideno, CH2=CF2, foi

sintetizado primeiramente no início do século passado. O

monômero é um gás a condições normais de temperatura e

pressão, tendo o ponto de ebulição de −85°C. O fluoreto de

vinilideno é relativamente estável e não há a necessidade

de um inibidor químico para prevenir a polimerização

instantânea. A solubilidade do fluoreto de vinilideno é

menor que 0,02g por 100g de água a 25°C e 1 atm de pressão.

É solúvel acima de 0,5g por 100g de solvente orgânico como

o etanol e o clorofórmio. Possui baixa toxicidade. A

síntese comercial do monômero envolve reações de pirólise

gasosa.

O polímero PVDF é preparado por reação de adição,

isto é, o polímero é formado por adição do monômero a

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unidades do monômero. Esta reação de polimerização é

iniciada por uma substância formadora de radical livre e o

monômero é adicionado a esse radical livre para formar uma

cadeia de radicais livres crescente até que se obtenha um

alto peso molecular médio (Mw~106g/mol). O PVDF apresenta

temperatura de transição vítrea (Tg) em torno de -34°C e

temperatura de fusão (Tm) na faixa de 165 a 189°C, pois

depende da fase cristalina presente.

O processamento do PVDF é realizado pelas

técnicas comuns de processamento de termoplásticos como

extrusão, injeção ou compressão. As temperaturas de

processamento em injeção (cilindro, bico e molde) são na

faixa de temperatura de 200-230°C, 230-260°C, e 70-90°C,

respectivamente. Para a extrusão, a temperatura varia entre

230-290°C dependendo do equipamento e da forma a ser

utilizada. Em compressão e operação de transferência, o

material é pré-aquecido na faixa de temperatura de 215-

235°C e transferido para o molde entre 190-195°C, com

pressão suficiente.

A cristalinidade do PVDF pode variar de 45 a 60%,

dependendo do método de preparação da amostra e da sua

história térmica.

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2.1.1 - Estrutura Molecular e Estrutura Cristalina

O PVDF é um polímero semicristalino que pode

cristalizar-se em, pelo menos, quatro estruturas

cristalinas diferentes, dependendo das condições de

preparação do filme. Essas estruturas são usualmente

denominadas α , β , γ e δ. Transições estruturais entre as

várias fases ocorrem dependendo dos métodos de manufatura,

de tratamentos térmico e mecânico, pressão e polarização

[24]. Há uma forte dependência das propriedades

piroelétricas e piezoelétricas em relação à orientação,

estrutura cristalina e estado de polarização.

Quanto à estrutura molecular, o PVDF é um

polímero linear que apresenta dipolos elétricos

permanentes, aproximadamente perpendiculares à direção de

suas cadeias. Esses dipolos são formados pela diferença de

eletronegatividades entre os átomos de flúor e carbono.

Acredita-se que os cristalitos sejam os grandes

responsáveis pela estabilização dos dipolos elétricos no

processo de cristalização, já que o PVDF apresenta

diferentes estruturas cristalinas e conformações.

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Fase αααα

A fase cristalina mais comum do PVDF é a apolar

α, normalmente obtida pelo resfriamento a partir do

fundido. Filmes orientados nessa fase podem ser produzidos

por estiramento a temperaturas superiores a 120°C. A

cristalização em solução com DMF (dimetilformamida) ou DMA

(dimetilacetamida) a temperaturas entre 80 e 120°C também

produzem essa fase [25]. Nesta fase, que é a mais comum

deste material, as cadeias dispõem-se em uma estrutura

conformacional do tipo trans-gauche (TGTG'), com as

moléculas na forma helicoidal, permitindo um maior

distanciamento entre os átomos de flúor dispostos ao longo

da cadeia. Assim, a fase α, apresenta a menor energia

potencial em relação às outras formas cristalinas deste

polímero. Esta fase é apolar devido ao empacotamento das

cadeias que resulta em momentos dipolares dispostos

paralelamente, porém opostos [24].

A célula unitária desta fase tem estrutura

ortorrômbica com dimensões a=4,96Å, b=9,66Å e c=4,62Å (eixo

ao longo da cadeia), apresentando densidade de 1,92g/cm3 e

calor de fusão 93,07J/g [26]. As representações esquemáticas

da célula unitária e da conformação das cadeias desta fase

estão na Figura 1.

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Figura 1 - Forma α não polar do PVDF: (a) Representação esquemática da célula unitária [27]; (b) Conformação molecular [28].

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Fase ββββ

A fase polar β, por fornecer ao material

melhores propriedades piroelétricas e piezoelétricas, é a

mais desejável sob o ponto de vista tecnológico para

aplicação em sensores e transdutores. É normalmente obtida

pelo estiramento mecânico da fase α a temperaturas

inferiores a 90°C. Recentemente a fase β foi obtida por

cristalização a partir do fundido a uma alta taxa de

resfriamento [29] e a partir da solução com DMF ou DMA a

temperaturas inferiores a 70°C [25].

Amostras originalmente na fase β, quando

estiradas, resultam sempre nesta fase orientada para

quaisquer temperaturas de estiramento [30]. Nesta fase as

cadeias seguem uma conformação zig-zag planar (TT), com um

pequeno desvio da planaridade causado por uma deflexão de

7° entre as ligações carbono-flúor adjacentes.

A célula unitária desta fase é polar constituída

por duas macromoléculas em uma estrutura ortorrômbica com

dimensões a=8,58Å, b=4,91Å e c=2,56Å e apresentando

densidade de 1,97g/cm3 [26]. As representações esquemáticas

da célula unitária e da conformação das cadeias desta fase

estão na Figura 2.

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Figura 2 - Forma β polar do PVDF: (a) Representação esquemática da célula unitária [31]; (b) Conformação molecular [28].

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Fase γγγγ

A fase γ, também polar, é obtida pela

cristalização em solução com DMF ou DMA ou a partir do

fundido, a elevada temperatura (Tc>155°C) e longo período de

tempo (tc>6h). A cristalização a partir do fundido pode

favorecer o crescimento da fase γ em relação à fase α,

sendo este efeito mais pronunciado com a elevação da

temperatura.

Nesta fase, as cadeias poliméricas dispõem-se em

um arranjo conformacional T3GT3G (a cada três trans há uma

gauche), sendo sua célula unitária polar, com estrutura

monoclínica com dimensões a=4,96Å, b=9,58Å, c=9,23Å e

ângulo θ=92,9° [24,26]. A representação esquemática da célula

unitária da fase γ está na Figura 3.

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Figura 3 - Representação esquemática da célula unitária da fase γ [24].

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Fase δδδδ

A fase δ é obtida a partir da fase α, através da

aplicação de um intenso campo elétrico que induz a inversão

dos dipolos elétricos das cadeias, obtendo assim uma versão

polar da fase α [32].

Assim, tanto a fase δ como a fase α apresentam a

mesma conformação das cadeias (trans-gauche), diferindo no

modo de empacotamento (fase com momento dipolar não nulo)

[24]. Sua célula unitária polar possui estrutura

ortorrômbica com dimensões a=4,96Å, b=9,64Å e c=4,62Å. A

representação esquemática da célula unitária da fase δ está

na Figura 4.

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Figura 4 - Representação esquemática da célula unitária da fase δ [24].

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2.1.2. Métodos de Cristalização do PVDF

Os filmes de PVDF podem ser obtidos pela

cristalização a partir da solução ou a partir do fundido.

2.1.2.1. Cristalização a Partir da Solução

Este é um processo importante para a obtenção de

filmes finos ou filmes depositados sobre superfícies.

Recentemente foi demonstrado que a cristalização

do PVDF em solução com DMF pode ocorrer em qualquer uma das

fases (α, β e γ), ou em uma mistura delas, sendo a fase

predominante determinada pela temperatura e pelo tempo de

cristalização [25].

Se a evaporação do solvente for realizada em

temperaturas inferiores a 70°C a estrutura predominante

será a fase β. Se a temperatura for superior a 100°C a

estrutura predominante será a fase α. Temperaturas entre 70

e 100°C produzem uma mistura das fases α e β. Na

cristalização acima de 155°C iniciará a formação da fase γ,

cuja quantidade aumenta com o aumento da temperatura.

Assim, o principal fator que determina a fase (ou

fases) produzida durante o processo de cristalização a

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partir da solução é a temperatura, não o solvente utilizado

como se pensava anteriormente.

Foi constatada por microscopia eletrônica de

varredura (MEV), a presença de poros nos filmes obtidos por

solução [30]. Quanto menor a temperatura de evaporação do

solvente maior a quantidade e o tamanho desses poros.

Porém, tratamentos térmicos a altas temperaturas podem

melhorar a perfeição dos cristais e diminuir o tamanho e a

densidade dos poros. Técnicas para alterar a velocidade de

evaporação do solvente também podem fornecer esses

resultados.

2.1.2.2. Cristalização a Partir do Fundido

Sabe-se que a cristalização do PVDF a partir do

fundido resulta predominantemente na fase α e apresenta uma

morfologia esferulítica.

Temperaturas superiores a 155°C, produzem duas

formas diferenciadas de esferulitos. Uns maiores,

apresentando anéis concêntricos e alta birrefringência, e

outros menores, de textura radial (não anelado) e menos

birrefringentes. Os esferulitos anelados são considerados

formados predominantemente pela fase α, enquanto que os

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esferulitos radiais são considerados com estrutura

predominantemente na fase γ, porém com inclusões da fase α

[24].

Em termos de visão molecular do esferulito pode-

se dizer que:

- é um arranjo esférico de cristalitos com uma aparência

fibrosa;

- os cristalitos são arranjados na direção radial do

esferulito na forma de lamelas com cadeias dobradas, sendo

os eixos das cadeias perpendiculares ao raio do esferulito;

- as lamelas são paralelas ao eixo do núcleo, mas, quando

começam a crescer, divergem, torcem e ramificam dando a

forma radialmente simétrica ao esferulito;

- o material não-cristalizável parece não difundir na

frente dos cristais em crescimento; os esferulitos

resultantes consistem, portanto, de braços radiais de

lamelas separadas por um material não-cristalizável; o

material amorfo fica situado entre as lamelas.

A Figura 5 mostra o desenho esquemático de um

esferulito.

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Figura 5 - Desenho esquemático de um esferulito[33].

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2.1.3. Caracterização do PVDF

2.1.3.1. Análise por Espectroscopia no Infravermelho

A espectroscopia no infravermelho investiga a

interação da radiação eletromagnética na região do

infravermelho com a matéria, sendo um dos seus principais

objetivos a determinação dos níveis energéticos

relacionados aos movimentos vibracionais dos átomos que

constituem a molécula.

Como as fases cristalinas do PVDF possuem modos

de vibração molecular característicos, devido as diferentes

conformações das cadeias moleculares em cada fase, então

existem bandas de absorção características que permitem a

sua identificação de cada fase. Essas bandas para o PVDF

estão na faixa de número de onda entre 400cm-1 e 1000cm-1.

As tabelas I, II e III mostram as bandas características de

cada fase do PVDF e as vibrações correspondentes.

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Tabela I - Bandas de absorção no infravermelho características da fase α do PVDF [34].

Banda Característica (cm-1) Assinalamento Vibracional

408 r(CF2) + r(CH2)

531 δ(CF2)

612 δ(CF2) - δ(CCC)

766 δ(CF2) + δ(CCC)

795 r(CH2)

855 r(CH2)

976 r(CH2)

Tabela II - Bandas de absorção no infravermelho características da fase β do PVDF [34].

Banda Característica (cm-1) Assinalamento Vibracional

442 r(CF2) + r(CH2)

468 ω(CF2)

511 δ(CF2)

840 r(CH2) - νa(CF2)

Tabela III - Bandas de absorção no infravermelho características da fase γ do PVDF [35].

Bandas Características (cm-1) Assinalamento Vibracional

430 r(CF2)

512 δ(CF2)

778 r(CH2)

812 r(CH2)

834 νs(CF2)

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Legenda:

Assinalamento Vibracional Significado

r(CF2) balanço do grupo CF2

r(CH2) balanço do grupo CH2

δ(CF2) deformação angular do grupo CF2

δ(CCC) deformação angular do grupo CCC

ω(CF2) vibração do grupo CF2

νa(CF2) estiramento assimétrico do grupo CF2

νs(CF2) estiramento simétrico do grupo CF2

Espectros no infravermelho para amostras de PVDF

apresentando as bandas características de cada fase são

mostrados nas Figuras 6, 7 e 8.

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Figura 6 - Espectro no infravermelho característico de uma amostra de PVDF na fase α [36].

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Figura 7 - Espectro no infravermelho característico de uma amostra de PVDF na fase β [36].

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Figura 8 - Espectro no infravermelho característico de uma amostra de PVDF com uma mistura de fases α+γ [36].

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2.1.3.2. Análise Térmica por Calorimetria Diferencial de

Varredura (DSC) [37]

Na calorimetria diferencial de varredura (DSC)

por fluxo de calor, a diferença entre a temperatura da

amostra e a temperatura da referência detectada nas

transições é considerada como diretamente proporcional ao

fluxo de calor diferencial (dH/dt). As propriedades

térmicas de uma amostra são comparadas com as de um

material-referência que não possui transições na faixa de

temperatura de interesse. O material-referência fica

contido em um pequeno recipiente em ambiente adiabático,

como mostrado na Figura 9. A temperatura de cada recipiente

é monitorada por um termopar e o calor fornecido

eletricamente para cada um deles serve para manter suas

temperaturas igualadas. Um gráfico da diferença de energia

fornecida à amostra pela média de temperatura produz

informações importantes sobre as transições, tal como calor

latente ou alguma mudança na capacidade de calor.

Um processo de transição vítrea é ilustrado na

Figura 10 para um polímero amorfo. Neste caso, o declive

marcado por Tg no ponto médio representa um aumento na

energia fornecida para a amostra para mantê-la na mesma

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temperatura que o material-referência, devido a um rápido

aumento na capacidade de calor da amostra.

Figura 9 - Desenho esquemático da acomodação da amostra e do material-referência no DSC por fluxo de calor.

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Figura 10 – Gráfico do fluxo de calor em função da temperatura para um polímero amorfo.

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- 31 -

Um processo de fusão é ilustrado na Figura 11,

para o caso de um polímero altamente cristalino, no qual é

vagarosamente aquecido até a sua temperatura de fusão.

Quando a fusão é alcançada, um pico endotérmico aparece,

pois o calor deve ser adicionado à amostra para continuar o

processo em uma temperatura quase constante. O pico largo

que surge é causado pelos diferentes tamanhos e graus de

perfeição dos cristais formados. Se o processo fosse

revertido, então a amostra seria resfriada a partir do

fundido. Neste caso, menos calor seria fornecido para a

amostra do que para o material-referência. Isto corresponde

ao processo exotérmico.

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- 32 -

Figura 11 - Gráfico do fluxo de calor em função da temperatura para um polímero cristalino.

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2.2. Copolímeros P(VDF-TrFE)

O estudo dos copolímeros aleatórios de fluoreto

de vinilideno com trifluoretileno (VDF-TrFE) tem atraído

muito interesse nas últimas décadas, resultando em um

grande número de publicações [38-55]. Esses copolímeros,

quando em conveniente relação molar de VDF e TrFE,

cristalizam a partir da fusão ou por solução, diretamente

em uma fase polar e ferroelétrica constituída por cadeias

transplanares (TT) semelhante a fase β do PVDF (PVDF-β).

Nessas condições apresentam propriedades piroelétricas e

piezoelétricas comparáveis às do PVDF-β. Sob o ponto de

vista científico, esses copolímeros são bastante

interessantes por apresentarem a transição ferro-

paraelétrica (temperatura de Curie) abaixo da sua

temperatura de fusão (o que não ocorre com o PVDF),

permitindo o estudo dos principais mecanismos responsáveis

pelo seu comportamento ferroelétrico. Além disso, quando na

fase polar, esses copolímeros possuem polarizabilidade de

2a ordem, apresentando propriedades óticas não lineares, o

que possibilita a sua utilização como modelador e comutador

para comunicação ótica. Sob o ponto de vista tecnológico,

destacam-se as aplicações do P(VDF-TrFE) como isolante

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ativo em estruturas metal-isolante-semicondutor (MIS) de

memórias não voláteis, transdutores de pressão integrados

em pastilhas semicondutoras, sensores de temperatura,

células solares.

Em determinadas condições de cristalização e de

relação molar, o P(VDF-TrFE) apresenta duas transições de

fase, que podem ser verificadas por análises térmicas (DSC

e TSC) ou por medidas dielétricas. Na literatura

encontramos controvérsias sobre as possíveis causas dessas

transições. Elas poderiam ocorrer devido a uma mudança

estrutural de uma fase transplanar para outra 3/1

helicoidal [56], ou apenas devido a existência de duas fases

ferroelétricas com diferentes graus de organização [54,55,57].

Recentemente foi verificado que na cristalização

de copolímeros P(VDF-TrFE), a partir da solução, a

temperatura influi decisivamente nessas transições [58].

Para o copolímero com razão molar 70/30, temperaturas

inferiores a 80°C resultam em uma única transição, e

somente acima dessa temperatura tem início o aparecimento

da segunda transição. As temperaturas em que ocorrem essas

transições também se mostraram fortemente dependentes da

temperatura de cristalização do copolímero. Um estudo

sistemático, através de caracterizações térmicas (DSC),

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dielétricas e por difratometria de raios-x, de amostras com

diferentes relações molares de TrFE e cristalizadas em

distintas condições, permitiu verificar a influência da

temperatura de cristalização e da razão molar de TrFE na

formação das fases ferroelétricas e nas temperaturas de

Curie do copolímeros com razões molares 60/40, 70/30 e

80/20 [59,60]. Uma provável causa para a existência das duas

transições de fase que ocorrem nesses copolímeros foi

sugerida e um diagrama de fase foi esquematizado [60].

Outra característica interessante desses

copolímeros é que as transições de fase apresentam um

efeito de histerese, ou seja, elas ocorrem em diferentes

temperaturas no aquecimento e no resfriamento [61].

Copolímeros 70/30 cristalizados a 110°C, por exemplo,

apresentam duas transições entre 85 e 110°C, no processo de

aquecimento (transições ferro-paraelétricas). No

resfriamento, até três transições (para-ferroelétricas)

podem ser observadas entre 40 e 65°C. O intervalo de

temperatura em que essas transições ocorrem e a intensidade

de cada transição dependem fortemente da relação molar do

VDF e das condições de cristalização e recozimento

(annealing) das amostras. A morfologia desses copolímeros é

aparentemente formada por axialitos [62,63], ou seja, uma

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- 36 -

estrutura onde as lamelas partem de um eixo. A influência

que as condições de cristalização, o recozimento e a

porcentagem em mol de TrFE exercem nessa morfologia é,

ainda, desconhecida.

2.3. Blendas PVDF/P(VDF-TrFE)

Nas últimas décadas muita atenção tem sido dada

ao desenvolvimento e estudo de blendas poliméricas

binárias. Tais blendas oferecem a possibilidade de combinar

desejáveis propriedades de diferentes polímeros, com

excepcionais vantagens sobre o desenvolvimento de um novo

material polimérico. Várias blendas com interessantes

propriedades tem sido produzidas. Técnicas como a análise

térmica (DSC) e medidas termo-dinâmico-mecânicas (DMTA),

além de verificar a miscibilidade das blendas, oferecem

interessantes possibilidades para se obter adicionais

informações sobre suas estruturas e possíveis transições de

fase ou relaxações mecânicas e dielétricas que nelas podem

ocorrer. No estudo morfológico, microscopias ótica e

eletrônica são as mais utilizadas. Recentemente, também em

relação ao estudo morfológico, a espectroscopia dielétrica

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tem se mostrado uma potente ferramenta para o estudo da

miscibilidade de blendas. Resultados mostram que a

miscibilidade no estado fundido ou não dos componentes da

blenda afeta sensivelmente a temperatura e a largura da

meia altura do pico de perdas relacionado à transição

vítrea do material [64-67]. Além disso, blendas imiscíveis

podem apresentar elevada polarização à baixas frequências,

atribuída ao efeito Maxwell-Wagner [68] causado pela

presença de diferentes fases (polarização interfacial).

A maioria das blendas estudadas correspondem a

sistemas constituídos por dois polímeros amorfos ou por

apenas um deles semicristalino. Sistemas com ambos

componentes semicristalinos são mais complexos, contudo

podem apresentar considerável interesse tecnológico, além

de oferecer a possibilidade de se estudar o comportamento

da cristalização e a morfologia cristalina em relação a

miscibilidade. O estudo da cinética de cristalização desses

sistemas permite verificar como a cristalinidade de um dos

componentes afeta o comportamento de cristalização do

outro.

Com a possibilidade de se cristalizar o PVDF

diretamente na fase ferroelétrica β, a partir da solução

com DMF, Gregório e colaboradores [69] estudaram a

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miscibilidade e a morfologia de blendas PVDF/P(VDF-TrFE),

com o PVDF tanto na fase ferroelétrica (semelhante à

apresentada pelo copolímero) com a paraelétrica. Foi

observado que apesar de não ocorrer cocristalização,

blendas cristalizadas a 65°C, quando em ambos componentes

predomina a fase ferroelétrica, mostraram uma parcial

miscibilidade da fase cristalina. Blendas cristalizadas a

partir do fundido, com ambos componentes na fase

paraelétrica, mostraram-se imiscíveis na fase cristalina,

porém apresentando uma forte interação no estado líquido.

Como resultado, obteve-se filmes transparentes, com

propriedades mecânicas e flexibilidade comparadas às do

PVDF (filmes de copolímeros P(VDF-TrFE) são quebradiços e

aderem fortemente ao substrato onde são cristalizados),

porém apresentando a transição de fase ferro-paraelétrica

abaixo da temperatura de fusão. Sob o ponto de vista

tecnológico, o estudo das propriedades dielétricas e

piezoelétricas dessas blendas podem resultar em potenciais

aplicações em transdutores, por exemplo. Sob o ponto de

vista científico, poderá fornecer uma maior compreensão

sobre a mistura de polímeros semicristalinos e verificar se

os atuais conhecimentos sobre blendas poliméricas se

aplicam para esse sistema complexo. O estudo da morfologia

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- 39 -

dessas blendas pode fornecer resultados interessantes, uma

vez que o homopolímero PVDF cristaliza-se em forma de

esferulitos e os copolímeros com porcentagem em mol de VDF

entre 48 e 85, apresentam uma morfologia composta por

axialitos.

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3. Metodologia

3.1. Poli(fluoreto de vinilideno) (PVDF)

Filmes com espessuras entre 10 e 15µm foram

obtidos espalhando uma solução de PVDF em dimetilformamida

(DMF) em um substrato de vidro. A concentração inicial da

solução foi de 20% em peso de PVDF (FORAFLON F4000HD,

Atochem), e o solvente foi evaporado a 110°C por 30 minutos

no interior de uma capela fechada e com exaustão. Após esse

tempo, os filmes foram resfriados até a temperatura

ambiente (25°C) e facilmente destacados do substrato.

Espectros no infravermelho e microscopia ótica com luz

polarizada mostraram, respectivamente, que os filmes

apresentaram predominantemente a fase α e uma morfologia

composta por pequeníssimos esferulitos. Amostras circulares

de 12 mm de diâmetro foram recortadas desses filmes e

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mantidas sob uma lamínula de vidro em um estágio a quente

(Modelo THMS 600, Linkan) a 230°C por 10 minutos. Em

seguida foram rapidamente resfriadas (40°C/minuto) até uma

desejada temperatura de cristalização (Tc), onde

permaneceram isotermicamente por diferentes tempos e,

subsequentemente, foram resfriadas à temperatura ambiente.

As temperaturas de cristalização utilizadas variaram entre

160 e 170°C. Todo o processo foi acompanhado através de um

microscópio ótico com luz polarizada (Modelo DMRXP, Leica)

acoplado a um vídeo e a uma câmera fotográfica 35mm com

controlador automático de exposição. A identificação da

fase (ou fases) cristalina presente em cada esferulito foi

feita à temperatura ambiente por um espectrômetro no

infravermelho por transformada de Fourier (Modelo FT-IR

Magna 550, Nicolet) acoplado a um microscópio ótico (IR-

Plan), que permitiu obter espectros, na faixa entre 1000 e

700cm-1, de uma área circular mínima da amostra de 20µm de

diâmetro. Medidas calorimétricas foram realizadas em um

Perkin Elmer DSC-7 a uma taxa de aquecimento de

10°C/minuto.

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- 42 -

3.2. Blendas PVDF/P(VDF-TrFE)

Blendas foram preparadas pela dissolução do

homopolímero PVDF (FORAFLON F4000HD, Atochem) e do

copolímero aleatório P(VDF-TrFE) (Fabricante Solvay), com

72% em mol de VDF, em DMF nas porcentagens em peso

PVDF/P(VDF-TrFE) 100/0, 70/30, 50/50, 30/70 e 0/100. Filmes

com espessura entre 6 e 8µm foram obtidos espalhando a

solução, cuja concentração inicial foi de 0,2g/ml, em um

substrato de vidro, onde permaneceu a 100°C por 1 hora,

tempo necessário para a completa evaporação do solvente.

Todo o sistema foi mantido no interior de uma capela

fechada e com exaustão. As amostras dos filmes obtidos

foram fundidas a 210°C e cristalizadas em dois estágios:

rapidamente resfriadas (50°C/minuto) até 160°C, onde

permaneceram por 10 horas e, em seguida, rapidamente

resfriadas até 145°C, mantidas nesta temperatura por mais

10 horas e resfriadas até a temperatura ambiente. Todo este

processo foi realizado em um estágio a quente Modelo THMS

600 da Linkan, conectado a um controlador automático de

temperatura e taxa de aquecimento. Análises térmicas foram

realizadas em um DSC 2920 da TA Instruments, sob atmosfera

de nitrogênio e utilizando o Índio como padrão. A massa das

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atmosferas variou entre 7 e 9mg e a taxa de aquecimento e

resfriamento utilizada foi de 10°C/minuto. As micrografias

foram obtidas através de um microscópio ótico com luz

polarizada (Modelo DMRXP, Leica) e um microscópio

eletrônico de varredura (MEV), Modelo XL30 da Phillips.

Para as micrografias obtidas por MEV as amostras foram

previamente recobertas com prata (camada com 20nm de

espessura aproximadamente), em um evaporador a vácuo

convencional, pois sendo isolantes elas acumulam carga

elétrica do feixe primário de elétrons. Essa carga desvia o

feixe e a trajetória dos elétrons coletados, gerando uma

imagem muito distorcida. Para minimizar este efeito, a

amostra foi recoberta com uma fina camada de material

condutor.

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4. Resultados e Discussão

4.1. Morfologia Esferulítica e Cristalina do PVDF

a) Tipos de Esferulitos Presentes nas Amostras

As micrografias das amostras cristalizadas a

partir da fusão por 24 horas em três diferentes

temperaturas são mostradas nas Figuras 12(a-c). Na amostra

cristalizada a 160°C (Figura 12(a)), obteve-se uma

morfologia constituída por duas classes de esferulitos

diferenciadas pelo tamanho. Uma observação mais detalhada

(Figura 13) mostra que enquanto os esferulitos maiores

apresentam anéis concêntricos finamente espaçados, os

esferulitos menores não são anelados. Portanto, neste

trabalho denominaremos os dois diferentes tipos de

esferulitos por anelado e não anelado.

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Os esferulitos não anelados começam a se formar

na cristalização a partir do fundido somente para Tc≥155°C.

Com o aumento da temperatura a taxa de nucleação dos

esferulitos anelados diminui, resultando em esferulitos

maiores e em menor número, permitindo o aumento no número e

no tamanho dos não anelados.

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(a)

Figura 12cristaliza

esferulito anelado esferulito

não anelado

80µm

- 46 -

(a) – Morfologia apresentada pela amostra de PVDF da a partir da fusão durante 24 horas a 160°C.

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(b)

Figura 12(b) – Morfologia apresentada pela amostra de PVDF cristalizada a partir da fusão durante 24 horas a 165°C.

76µm

esferulito anelado

esferulito não anelado

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(c)

Figura 12cristaliza

esferulito anelado

esferulito não anelado

pequenos esferulitos formados durante o resfriamento da amostra

100µm

- 48 -

(c) – Morfologia apresentada pela amostra de PVDF das a partir da fusão durante 24 horas a 168°C.

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Figura 13 - Detalhe ampliado dos diferentes esferulitos presentes na amostras da Figura 12(a).

35µm

esferulito anelado

esferulito não anelado

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A taxa de crescimento dos esferulitos anelados

supera a dos não anelados somente abaixo de 168°C. A partir

dessa temperatura o processo se inverte. Como resultado,

temos que a 168°C os diâmetros médios dos dois tipos de

esferulitos são semelhantes (Figura 12(c)). A essa

temperatura as taxas de crescimento dos dois tipos de

esferulitos foram tão baixas que não permitiram a completa

cristalização da amostra nas 24 horas, resultando em

regiões com esferulitos muito pequenos, cristalizados

durante o resfriamento. Nas Figuras 12(a-c) se pode

observar também como a distância entre os anéis

concêntricos dos esferulitos anelados aumenta com a

temperatura de cristalização.

Algumas amostras cristalizadas a 168°C

apresentaram esferulitos não anelados com birrefringência

bastante irregular, como pode ser visto na Figura 14.

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Figura 14cristalizaanelados indicado n

esferulito anelado

esferulito não anelado com birrefringência bastante irregular

125µm

- 51 -

– Morfologia apresentada por algumas amostras das a 168°C, onde se pode notar alguns esferulitos não com birrefringência bastante irregular, conforme a Figura.

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- 52 -

b) Fase Cristalina Predominante em cada Tipo de Esferulito

Para verificar a fase cristalina predominante em

cada tipo de esferulito, espectros no infravermelho foram

obtidos de vários esferulitos anelados e não anelados em

todas as amostras. O que se observou foi que os esferulitos

anelados apresentaram diferentes espectros entre si, porém

que puderam ser agrupados em quatro tipos representativos,

mostrados na Figura 15.

Analisando as bandas características da fase α

(766, 795, 855 e 976cm-1) e da fase γ (778, 812 e 834cm-1),

pode-se notar que os espectros, indicados na Figura pelas

letras a, b, c e d, mostram diferentes frações das fases α

e γ e foram colocados, respectivamente, em ordem crescente

de fase γ presente.

Portanto, os esferulitos anelados podem conter

predominantemente a fase α ou uma mistura das fases α e γ

com diferentes proporções de cada uma. Todos os esferulitos

anelados das amostras cristalizadas a 160°C durante um

tempo inferior a 16 horas apresentaram espectros

semelhantes ao da Figura 15(a), isto é, com total

predominância da fase α.

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Figura 15 – Alguns espectros no infravermelho apresentados pelos esferulitos anelados. Os números indicam as bandas características das fases α e γ.

amostras cristalizadas a 160°C por um tc inferior a 16 horas

amostras cristalizadas a 160°C por um tc superior a 16 horas

amostras cristalizadas a 165°C por um tc superior a 8 horas

amostras cristalizadas a 168°C por um tc superior a 8 horas

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Com o aumento do tempo de cristalização, aumentou

o número de esferulitos anelados que apresentou espectros

indicando a presença de uma pequena quantidade da fase γ,

como aquele mostrado na Figura 15(b).

Os espectros da maioria dos esferulitos anelados

das amostras cristalizadas a 165°C por um tempo superior a

8 horas mostraram a presença da fase γ, e a quantidade

dessa fase aumentou com o tempo de cristalização. Porém,

mesmo amostras cristalizadas por 48 horas a essa

temperatura apresentaram espectros de alguns esferulitos

anelados com total predominância da fase α, como mostrado

na Figura 15(c).

As amostras cristalizadas a 168°C por um tempo

superior a 8 horas, apresentaram a fase γ em quase todos os

esferulitos anelados, e a quantidade dessa fase aumentou

com o tempo de cristalização, como visto na Figura 15(d).

Esses resultados indicam que a fração de fase γ que se

forma na maioria dos esferulitos anelados, provavelmente

através da transformação de fase α→γ, aumenta com o tempo

de cristalização e a taxa com que a transformação ocorre

aumenta com a temperatura. É interessante notar que através

da microscopia ótica é impossível distinguir em um

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esferulito anelado a região que já sofreu a transformação

de fase α→γ daquela que ainda permanece na fase α.

Comportamento diferente foi observado para os

esferulitos não anelados. Todos apresentaram espectros

muito semelhantes entre si, independente do tempo e da

temperatura de cristalização. Um espectro representativo é

apresentado na Figura 16, onde se pode notar uma mistura

das fases α e γ, com predominância desta última.

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Figura 16 - Espectro no infravermelho típico de um esferulito não anelado do PVDF.

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Com o aumento da temperatura de cristalização,

pode-se observar um ligeiro aumento da fração de fase γ em

alguns desses esferulitos. Esses resultados indicam que os

esferulitos não anelados nucleiam e crescem no processo de

cristalização, formados predominantemente pela fase γ, não

ocorrendo transformação de fase com o decorrer do tempo.

Pequenas inclusões da fase α existem nesses esferulitos,

cuja quantidade diminui ligeiramente com o aumento da

temperatura de cristalização.

c) Análise da Fusão dos Esferulitos Cristalizados

Para verificar o comportamento dos diferentes

esferulitos durante a fusão, amostras cristalizadas em

diferentes tempos e temperaturas foram aquecidas, a uma

taxa de 3°C/minuto, da temperatura ambiente até 230°C. Todo

processo foi acompanhado por MOLP e algumas etapas foram

fotografadas.

A Figura 17 mostra a micrografia da amostra

cristalizada a 160°C por 24 horas (a mesma da Figura 12(a))

após ter sido aquecida até 179°C.

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Figura 17amostra cr12(a)).

esferulito não anelado

região de um esferulito anelado que só perdeu a birrefringência entre 188 e 193°C

centro de um esferulito anelado que só perdeu a birrefringência entre 188 e

48µm

- 58 -

– Micrografia observada a 179°C, após aquecer uma istalizada a 160°C por 24 horas (a mesma da Figura

193°C

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Todos os esferulitos anelados perdem a

birrefringência entre 171 e 175°C, somente restando

pequenas regiões diretamente em contato com os esferulitos

não anelados, conforme mostra a Figura 17, e, raras vezes,

pequenas regiões centrais. A 180°C os esferulitos não

anelados começam a perder birrefringência, desaparecendo

completamente a 184°C. Acima dessa temperatura somente as

pequenas regiões dos esferulitos anelados permanecem,

perdendo birrefringência entre 188 e 193°C. O tempo de

cristalização influiu nesse comportamento. Na amostra

cristalizada a 160°C por 4 horas todos os esferulitos

anelados perderam completamente a birrefringência a 175°C.

Com o aumento do tempo de cristalização, aumentam as

regiões dos esferulitos anelados vizinhas aos não anelados

que permanecem após essa temperatura, assim como as regiões

centrais desses esferulitos. Com o aumento da temperatura,

para um mesmo tempo de cristalização, aumentam as regiões

dos esferulitos anelados que mantem a birrefringência até

193°C.

Todas as micrografias obtidas a elevadas

temperaturas durante o processo de fusão se apresentaram

com pouca nitidez, como a apresentada na Figura 17,

provavelmente devido à movimentação do ar entre a amostra e

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a objetiva do microscópio durante a exposição (o tempo

médio de exposição para essas fotos foi de 45 segundos).

Para visualizar com maior clareza as partes dos

esferulitos anelados que somente perderam birrefringência

acima de 192°C, ou seja, as regiões desses esferulitos onde

já ocorreu a transformação de fase α→γ, as amostras foram

aquecidas até uma dada temperatura e, em seguida,

resfriadas rapidamente (50°C/minuto) à temperatura

ambiente. Dessa forma pode-se fotografar as estruturas que

permaneceram birrefringentes até aquela temperatura.

A Figura 18 apresenta a micrografia da amostra

cristalizada a 160°C por 24 horas (mesma da Figura 12(a))

após ter sido aquecida até 179°C e rapidamente resfriada à

temperatura ambiente. Pode-se notar a semelhança entre essa

Figura e a Figura 17, uma vez que se trata da mesma amostra

(em outra região) após ter sido resfriada a temperatura

ambiente. A única diferença é que a amostra fotografada à

temperatura ambiente apresenta em lugar da região escura

fundida, esferulitos pequeníssimos formados durante o

resfriamento, porém sua maior nitidez permite visualizar

com maiores detalhes as regiões dos esferulitos anelados

que permaneceram birrefringentes a 179°C.

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Figura 18 amostra crrapidament12(a)).

esferulito não anelado

região de um esferulito anelado que só perdeu a birrefringência entre 188 e 193°C

região central de um esferulito anelado que somente perdeu a

100µm

- 61 -

– Micrografia obtida à temperatura ambiente de uma istalizada a 160°C por 24 horas, aquecida até 179°C e e resfriada à temperatura ambiente (mesma da Figura

birrefringência entre 188 e 193°C

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- 62 -

Todas as amostras foram aquecidas até 186°C e

rapidamente resfriadas à temperatura ambiente. A 186°C a

porção dos esferulitos anelados que perde birrefringência

entre 171 e 175°C e todos os não anelados desapareceram,

restando somente as regiões dos esferulitos anelados que

funde em maior temperatura (regiões que sofreram a

transformação de fase α→γ).

Essas regiões foram fotografadas à temperatura

ambiente para as amostras cristalizadas durante diferentes

tempos e temperaturas. A Figura 19 mostra os resultados

obtidos para as amostras cristalizadas a 160°C por 8 horas

(mesma da Figura 12(a) com tc menor), 16 horas (mesma da

Figura 12(a) com tc menor), 24 (mesma da Figura 12(a)) e 48

horas (mesma da Figura 12(a) com tc maior).

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(a)

Figura 19amostra crcom tc menresfriada.

região do esferulito anelado, ao redor de um não anelado, que somente perdeu a birrefringência entre 188 e 193°C

pequenos esferulitos cristalizados durante o resfriamento da amostra

125µm

- 63 -

(a) – Micrografia obtida à temperatura ambiente da istalizada a 160°C por 8 horas (mesma da Figura 12(a) or), após ter sido aquecida até 186°C e rapidamente

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- 64 -

(b)

Figura 19(b) – Micrografia obtida à temperatura ambiente da amostra cristalizada a 160°C por 16 horas (mesma da Figura 12(a) com tc menor), após ter sido aquecida até 186°C e rapidamente resfriada.

76µm

pequenos esferulitos cristalizados durante o resfriamento da amostra

região de um esferulito anelado, ao redor de um não anelado, que somente perdeu a birrefringência entre 188 e 193°C.

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(c)

Figura 19(amostra cr12(a)), ap

pequenos esferulitos cristalizados durante o resfriamento da amostra

região central de um esferulito anelado com birrefringência inalterada a 186°C

125µm

- 65 -

c) – Micrografia obtida à temperatura ambiente da istalizada a 160°C por 24 horas (a mesma da Figura ós ter sido aquecida até 186°C e rapidamente resfriada.

região de um esferulito anelado, ao redor de um não anelado, que permaneceu birrefringente a 186°C

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- 66 -

(d)

Figura 19(d) – Micrografia obtida à temperatura ambiente da amostra cristalizada a 160°C por 48 horas (mesma da Figura 12(a) com tc maior), após ter sido aquecida até 186°C e rapidamente resfriada.

76µm

pequenos esferulitos cristalizados durante o resfriamento da amostra

região central de um esferulito anelado com birrefringência inalterada a 186°C

região de um esferulito anelado, ao redor de um não anelado, que permaneceu birrefringente a 186°C

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- 67 -

Pode-se notar que na amostra cristalizada por 8

horas somente restaram pequenas regiões dos esferulitos

anelados nas fronteiras entre estes e os não anelados.

Essas regiões se propagam com o tempo de cristalização em

direção ao centro dos esferulitos (Figura 19(b)). Em alguns

casos, permanecem com birrefringência inalterada as regiões

centrais dos esferulitos, que se propagam radialmente com o

tempo de cristalização (Figura 19(b-c)). Como já observado,

pode-se notar que as regiões dos esferulitos anelados que

sofreram transformação de fase aumentam com o tempo de

cristalização.

A Figura 20 mostra as regiões dos esferulitos

anelados que permaneceram após aquecimento até 186°C para a

amostra cristalizada a 165°C por 16 horas (a mesma da

Figura 12(b) com tc menor e a mesma da Figura 19(b) com Tc

maior).

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(a)

Figura 20(amostra cr12(b) com aquecida a

esferulito anelado que permaneceu praticamente intacto a 186°C

pequenos esferulitos cristalizados durante o resfriamento da amostra

250µm

- 68 -

a) – Micrografia obtida à temperatura ambiente de uma istalizada a 165°C por 16 horas (a mesma da Figura tc menor e a mesma da Figura 19(b) com Tc maior),

té 186°C e rapidamente resfriada.

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- 69 -

(b)

Figura 20(b) – Detalhe ampliado da micrografia apresentada na Figura 20(a).

125µm

regiões de um esferulito anelado que permaneceram birrefringentes a 186°C

pequenos esferulitos cristalizados durante o resfriamento da amostra

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(c)

Figura 20(Figura 20(

pequenos esferulitos cristalizados durante o resfriamento da amostra

regiões de um esferulito anelado que permaneceram

76µm

- 70 -

c) – Detalhe ampliado da micrografia apresentada na a).

birrefringentes a 186°C

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- 71 -

É apresentada uma micrografia com menor aumento

para se poder observar uma maior área da amostra de PVDF

(Figura 20(a)), e duas outras mostrando detalhes da

primeira com diferentes ampliações (Figuras 20(b-c)). Pode-

se observar que neste caso alguns esferulitos anelados

permaneceram praticamente intactos a 186°C (Figura 20(a))

mostrando que neles a transformação de fase α→γ ocorreu em

quase toda sua extensão. Em outros, as regiões que

permaneceram na fase α fundiram entre 171 e 175°C,

resultando em estruturas parcialmente destruídas como

àquelas evidenciadas nas Figuras 20(b-c). Pode-se observar,

ainda, que nesta amostra permaneceram regiões maiores de

esferulitos anelados que naquela cristalizada por 16 horas

a 160°C (Figura 19(b)), confirmando que a taxa com que a

transformação de fase ocorre aumenta com a temperatura de

cristalização.

Nas amostras cristalizadas a 168°C por 16 horas

(a mesma da Figura 12(c) com tc menor e, a mesma da Figura

19(b) e da 20(a) com Tc maior) quase todos os esferulitos

anelados permaneceram aparentemente intactos (com exceção

das bordas) após aquecimento até 186°C e subsequente

resfriamento, conforme mostra a sequência de micrografias

da Figura 21. Porém, espectros no infravermelho obtidos

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- 72 -

desses esferulitos a temperatura ambiente mostraram-se

semelhantes ao apresentado na Figura 15(d), demonstrando

uma predominância da fase γ, porém ainda com a presença de

pequenas inclusões da fase α.

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(a)

Figura 21ambiente dFigura 12(com Tc mai

esferulitos anelados cristalizados a 168°C

pequenos esferulitos

35µm

- 73 -

(a) – Micrografia obtida por MOLP a temperatura a amostra cristalizada a 168°C por 16 horas (a mesma da c) com tc menor e, a mesma da Figura 19(b) e da 20(a) or).

cristalizados durante o resfriamento da amostra

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(b)

Figura 21(cristalizadmenor e, a

esferulitos anelados que permaneceram birrefringentes a 186°C

48µm

- 74 -

b) – Micrografia obtida por MOLP a 186°C da amostra a a 168°C por 16 horas (a mesma da Figura 12(c) com tc mesma da Figura 19(b) e da 20(a) com Tc maior).

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(d)

Figura 21ambiente dFigura 12(com Tc mresfriamen

pequenos esferulitos

esferulitos anelados que permaneceram praticamente intactos após aquecimento até 186°C

35µm

- 75 -

(c) – Micrografia obtida por MOLP à temperatura a amostra cristalizada a 168°C por 16 horas (a mesma da c) com tc menor e, a mesma da Figura 19(b) e da 20(a) aior), após aquecimento até 186°C e subsequente to.

cristalizados durante o resfriamento

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- 76 -

c) Análises Térmicas

Análises térmicas (DSC) foram realizadas em todas

as amostras, e a Figura 22 mostra as curvas DSC obtidas das

amostras cristalizadas por 24 horas a 160°C (mesmo que

Figura 12(a)), 165°C (mesmo que Figura 12(b)) e 168°C (mesmo

que Figura 12(c)). Na amostra cristalizada a 160°C, três

endotermas são evidentes, com máximos em torno de 169, 177

e 185°C.

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- 77 -

Figura 22 – Curvas DSC das amostras cristalizadas durante 24 horas a: (a) 160°C (mesma da Figura 12(a)), (b) 165°C (mesma da Figura 12(b)) e (c) 168°C (mesma da Figura 12(c)).

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- 78 -

A endoterma de menor temperatura (169°C) deve

estar associada à fusão dos cristais nos esferulitos

anelados que cristalizaram a 160°C na fase α e que não

sofreram transformação de fase para a γ, uma vez que, como

observado por microscopia ótica, eles perdem

birrefringência entre 171 e 175°C.

A endoterma com máximo em 177°C deve estar

associada à fusão dos esferulitos não anelados formados

predominantemente pela fase γ diretamente na cristalização,

cuja birrefringência desaparece entre 180 e 184°C.

Finalmente, a endoterma de maior temperatura

(185°C) deve estar associada à fusão das regiões dos

esferulitos anelados formados pela fase γ, originada da

transformação de fase α→γ, cuja birrefringência somente

desaparece entre 188 e 193°C.

Com o aumento do tempo de cristalização, para uma

mesma temperatura, pode-se notar um aumento da área da

endoterma em 185°C e uma correspondente diminuição daquela

em 169°C, mostrando que a fase γ nos esferulitos anelados é

formada pela transformação de fase α→γ que ocorre nos

esferulitos anelados.

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- 79 -

Na amostra cristalizada a 165°C também se pode

observar as mesmas três endotermas, ligeiramente deslocadas

para maiores temperaturas (máximos em torno de 171, 178 e

187°C). Esse deslocamento era esperado, uma vez que a Tm

aumenta com a temperatura de cristalização para ambas as

fases cristalinas.

Pode-se notar, ainda, uma forte redução da

endoterma com máximo em 169°C e um aumento daquela em 187°C,

quando comparadas àquelas obtidas para a amostra

cristalizada a 160°C. Este resultado confirma o aumento da

taxa com que ocorre a transformação de fase α→γ com o

aumento da temperatura de cristalização.

A curva DSC da amostra cristalizada a 168°C

também apresenta três endotermas, com máximos em torno de

167, 180 e 188°C. A endoterma de menor temperatura deve

corresponder à fusão dos pequenos esferulitos cristalizados

durante o resfriamento.

De fato, esta endoterma não aparece nas duas

outras amostras, totalmente cristalizadas isotermicamente.

Por outro lado, não se observa neste caso a endoterma

correspondente a fusão dos esferulitos anelados

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- 80 -

cristalizados a 170°C e que não sofreram a transformação de

fase α→γ.

Esse resultado indica que as 24 horas foram

suficientes para ocorrer essa transformação em praticamente

todos os esferulitos anelados, o que concorda com nossa

observação por microscopia ótica e infravermelho.

d) Aparência Anelada no Centro e Não Anelada nas Bordas dos

Esferulitos

Algumas amostras cristalizadas a 168°C

apresentaram alguns esferulitos anelados no centro e não

anelados nas bordas, conforme mostra a Figura 23 (mesma da

Figura 12(c)).

Uma possível explicação para a formação de tais

esferulitos é que a essa elevada temperatura a

transformação de fase α→γ se propaga no esferulito, do

centro para as bordas, com velocidade maior que a de seu

crescimento.

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(a)

Figura 23(a) – Micrografia depor 24 horas (a mesma da Figde esferulitos anelados no cen

esferulito não anelado

esferulito anelado no centro e não anelado nas bordas

esferulito anelado

pequenos esferulitos cristalizados durante o resfriamento da amostra

35µm

- 81 -

uma amostra cristalizada a 168°C ura 12(c)), mostrando a ocorrência tro e não anelados nas bordas.

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- 82 -

(b)

Figura 23(b) – Micrografia da mesma amostra apresentada na Figura 23(a).

100µm

esferulito não anelado

esferulitos anelados no centro e não anelados nas bordas

esferulitos cristalizados durante o resfriamento da amostra

esferulito anelado

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- 83 -

Quando a frente de transição α→γ atinge a frente

de crescimento do esferulito α, este passa a crescer na

forma γ, resultando na borda não anelada do esferulito. De

fato, no processo de aquecimento, a borda não anelada

desses esferulitos perde birrefringência entre 180 e 184°C

(como os não anelados) e a região anelada interna entre 189

e 194°C (como os esferulitos anelados que já sofreram a

transformação de fase α→γ).

É interessante observar que uma mesma fase

cristalina pode apresentar duas distintas temperaturas de

fusão. A fase γ cristalizada a partir da fusão apresenta a

Tm cerca de 8°C menor que aquela formada a partir da

transformação de fase α→γ. Isto provavelmente ocorre porque

a transformação ocorre em um processo de annealing, os

cristais assim formados devem ser mais organizados que

aqueles cristalizados diretamente na fase γ. A razão que

leva os esferulitos formados pela fase α serem anelados e

aqueles formados predominantemente pela fase γ não serem é

ainda desconhecida.

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- 84 -

4.2. Blendas PVDF/P(VDF-TrFE)

Como descrito no ítem 3.2, as amostras das

blendas com diferentes composições foram fundidas a 210°C e

cristalizadas em dois estágios: rapidamente resfriadas até

160°C, onde permaneceram por 10 horas, cristalizando

isotermicamente e, em seguida, rapidamente resfriadas até

145°C, onde também permaneceram por 10 horas. As

temperaturas de fusão do homopolímero PVDF na fase α e do

copolímero são, respectivamente, 169°C e 154°C, portanto, a

cristalização em dois estágios é a mais favorável para a

imiscibilidade entre os componentes da blenda. O

homopolímero PVDF cristaliza durante as 10 horas em que

permanece a 160°C, em um meio contendo o copolímero fundido

atuando como diluente. O copolímero cristaliza a 145°C,

após o segundo resfriamento, sob a influência do meio

semicristalino formado pelo homopolímero PVDF. Portanto, se

os componentes forem imiscíveis no estado líquido, com

separação de fases, haverá, durante a cristalização, a

formação de um sistema contendo duas fases bem distintas.

A Figura 24 mostra as curvas DSC do homopolímero

PVDF, do copolímero puro e da blenda PVDF/P(VDF-TrFE)

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50/50. A única endoterma apresentada pelo homopolímero

PVDF, com máximo em torno de 170°C, corresponde à fusão da

fase cristalina α formada a 160°C, como visto no ítem

4.1(c) (neste caso, como observado na Figura 22(a), as

endotermas em 177 e 185°C, correspondentes as fases gamas

com diferentes origens, apresentam-se extremamente

pequenas, devido ao curto tempo de cristalização). As

endotermas apresentadas pelo copolímero puro em 123 e 154°C

correspondem, respectivamente, a transição de fase ferro-

paraelétrica e a fusão da fase cristalina formada a 145°C

[15]. As endotermas apresentadas pela blenda PVDF/P(VDF-

TrFE) 50/50 em 123, 154 e 172°C correspondem,

respectivamente, a transição de fase ferro-paraelétrica, a

fusão da fase cristalina formada em 145°C e a fusão da fase

cristalina α formada a 145°C [59].

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- 86 -

Figura 24 – Curvas DSC no aquecimento do PVDF, do copolímero puro e da blenda PVDF/P(VDF-TrFE) 50/50.

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- 87 -

A pequena endoterma parcialmente superposta ao

lado esquerdo da endoterma de fusão do copolímero

corresponde, muito provavelmente, à fusão de cristais menos

perfeitos, formados durante o resfriamento da amostra de

145°C à temperatura ambiente. A blenda PVDF/P(VDF-TrFE)

50/50 apresenta as duas endotermas correspondentes à fusão

dos componentes. As temperaturas de fusão de ambos

componentes não são significativamente modificadas na

blenda, indicando a imiscibilidade da fase cristalina. A

cocristalização entre dois polímeros semicristalinos

depende basicamente de dois fatores: a atração química

entre seus dois monômeros, de modo a promover a

miscibilidade entre eles no fundido, e a semelhança entre

suas estruturas cristalinas. No caso do homopolímero PVDF e

do copolímero P(VDF-TrFE) a semelhança química entre os

monômeros e a existência de interação dipolar devem

promover a miscibilidade entre eles no fundido. Porém, a

diferença entre os parâmetros de rede dos diferentes

cristais impede a cocristalização. Uma forte evidência de

miscibilidade, em nível lamelar, entre o homopolímero PVDF

e o P(VDF-TrFE), no fundido e na região amorfa da blenda no

estado sólido, foi dada pela morfologia apresentada pelas

amostras estudadas.

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- 88 -

A Figura 25 apresenta a micrografia, obtida por

MOLP, da morfologia apresentada pelo homopolímero PVDF,

cristalizado a partir da fusão a 160°C por 10 horas. Nessas

condições, como já observado no ítem 4.1(a), formam-se dois

tipos de esferulitos: anelados, contendo predominantemente

a fase α, e não anelados, onde predomina a fase γ. Esses

esferulitos preenchem toda a amostra após 7 horas de

cristalização.

A Figura 26 apresenta a micrografia obtida por

MOLP da amostra de copolímero P(VDF-TrFE) cristalizada a

partir da fusão a 145°C por 10 horas. A morfologia dessa

amostra é aparentemente constituída por axialitos.

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Figura 25cristaliza

esferulito anelado

esferulito não anelado

100µm

- 89 -

– Micrografia da amostra do homopolímero PVDF da a 160°C por 10 horas, a partir da fusão.

Page 90: Dissertação de Mestrado - teses.usp.br · várias fases ocorrem dependendo dos métodos de manufatura, de tratamentos térmico e mecânico, pressão e polarização [24]. Há uma

Figura 26 (72/28) pufusão. A m

50µm

- 90 -

– Micrografia da amostra de copolímero P(VDF-TrFE) ro, cristalizado a 145°C por 10 horas, a partir da orfologia é aparentemente constituída por axialitos.

Page 91: Dissertação de Mestrado - teses.usp.br · várias fases ocorrem dependendo dos métodos de manufatura, de tratamentos térmico e mecânico, pressão e polarização [24]. Há uma

- 91 -

As Figuras 27, 28 e 29 apresentam,

respectivamente, as micrografias obtidas por MOLP das

blendas PVDF/P(VDF-TrFE) 70/30, 50/50 e 30/70,

cristalizadas a partir da fusão em dois estágios: 160°C por

10 horas e 145°C por 10 horas.

Page 92: Dissertação de Mestrado - teses.usp.br · várias fases ocorrem dependendo dos métodos de manufatura, de tratamentos térmico e mecânico, pressão e polarização [24]. Há uma

Figura 27cristalizaseguida, a

esferulito não anelado com a textura levemente alterada

esferulito anelado com a textura levemente alterada

100µm

- 92 -

– Micrografia da blenda PVDF/P(VDF-TrFE) 70/30, da a partir da fusão a 160°C por 10 horas e, em 145°C por 10 horas.

Page 93: Dissertação de Mestrado - teses.usp.br · várias fases ocorrem dependendo dos métodos de manufatura, de tratamentos térmico e mecânico, pressão e polarização [24]. Há uma

- 93 -

Figura 28 – Micrografia da blenda PVDF/P(VDF-TrFE) 50/50, cristalizada a partir da fusão a 160°C por 10 horas e, em seguida, a 145°C por 10 horas. Comparando com a morfologia apresentada pelo homopolímero PVDF (Figura 25), pode-se notar a forte alteração da textura dos esferulitos.

100µm

esferulito anelado apresentando a textura bem alterada

esferulito não anelado apresentando a textura bem alterada

Page 94: Dissertação de Mestrado - teses.usp.br · várias fases ocorrem dependendo dos métodos de manufatura, de tratamentos térmico e mecânico, pressão e polarização [24]. Há uma

Figura 29cristalizaseguida, a

região entre os esferulitos aparentemente constituída por axialitos

esferulito anelado com a textura bastante alterada

esferulito não anelado com a textura bastante alterada

100µm

- 94 -

– Micrografia da blenda PVDF/P(VDF-TrFE) 30/70, da a partir da fusão a 160°C por 10 horas e, em 145°C por 10 horas.

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- 95 -

A blenda PVDF/P(VDF-TrFE) 70/30 apresentou uma

morfologia muito semelhante àquela do homopolímero PVDF,

isto é, constituída pelos dois tipos de esferulitos que

preenchem totalmente a amostra. Porém, pode-se notar uma

leve alteração na textura destas estruturas. A blenda

PVDF/P(VDF-TrFE) 50/50, também apresentou os dois tipos de

esferulitos preenchendo toda a amostra, porém neste caso, a

textura de ambos foi mais fortemente alterada. Esta textura

irregular, homogeneamente distribuída por toda a amostra, é

uma forte evidência da presença das moléculas do copolímero

no interior dos esferulitos, provavelmente nas regiões

interlamelares. Isto significa que durante a cristalização

do homopolímero PVDF, a 160°C, as moléculas do copolímero

não foram rejeitadas e segregadas nas regiões

interesferulíticas. Se isto tivesse ocorrido, as blendas

apresentariam essas regiões com morfologia semelhante

àquela apresentada pelo copolímero puro (Figura 26),

composta de axialitos, e os esferulitos somente

apresentariam textura irregular próximo a essas regiões,

isto é, em suas bordas. Contudo, isto não ocorreu em nosso

caso, mesmo para a blenda possuindo 50% de copolímero. Os

esferulitos preencheram totalmente a amostra e apresentaram

uma textura irregular, porém homogênea, em toda a amostra,

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- 96 -

evidenciando a não ocorrência de fases distintas que

pudessem ser verificadas por microscopia ótica. A presença

das moléculas do copolímero nas regiões interlamelares dos

esferulitos indica a miscibilidade entre o homopolímero

PVDF e o copolímero na fase líquida. Isto é, existe uma

mistura íntima entre os componentes da blenda no fundido, e

esta mistura permanece durante a cristalização, resultando

em distintos cristais homogeneamente distribuídos na

amostra, intermeados pela fase amorfa, onde a miscibilidade

permanece. A blenda PVDF/P(VDF-TrFE) 30/70 (Figura 26)

também apresentou uma morfologia constituída pelos dois

tipos de esferulitos, porém estes não preencheram toda a

amostra. A pequena quantidade de moléculas do homopolímero

PVDF somente permitiu o crescimento parcial dessas

estruturas, permanecendo entre elas, regiões com morfologia

semelhante àquela observada no copolímero puro, e que

somente cristalizaram a 145°C. Porém, ainda nesse caso, os

esferulitos apresentaram uma textura irregular em toda a

sua extensão, novamente demonstrando a existência de

moléculas do copolímero no interior dessas estruturas.

Uma evidência mais forte da presença das

moléculas do copolímero das regiões interlamelares dos

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- 97 -

esferulitos foi dada pelas micrografias obtidas por

microscopia eletrônica de varredura (MEV).

A Figura 30(a) mostra micrografias obtidas por

MEV da região próxima ao centro de um esferulito anelado do

homopolímero PVDF, cristalizado a 165°C por 10 horas, a

partir da fusão. Pode-se observar que as lamelas se

apresentam de forma radial e torcida, o que explica a

aparência anelada desse esferulito quando observado por

MOLP. A Figura 30(b) mostra um esferulito não anelado do

homopolímero PVDF.

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(a)

Figura 30(a) – Micrografia obtida por MEV do homopolímero PVDF cristalizado a 165°C por 10 horas: região próxima ao centro de um esferulito anelado (4000x).

centro do esferulito anelado

lamelas torcidas e radiais

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(b)

Figura 30(b) – Micrografia de um esferulito não anelado do homopolímero PVDF cristalizado a 165°C por 10 horas (4000x).

lamelas radiais e não torcidas

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- 100 -

As Figuras 31(a) e 31(b) mostram, em diferentes

ampliações, micrografias da morfologia apresentada pelo

copolímero puro. Não é de nosso conhecimento, até o

presente, qualquer estudo que tivesse constatado a

morfologia dos copolímeros P(VDF-TrFE). Essa morfologia é

constituída por uma rede de feixes espessos de lamelas, e

entre esses feixes uma nova rede de feixes mais estreitos

de lamelas são formados. Um estudo mais detalhado sobre

essa morfologia e sua relação com as condições de

cristalização do copolímero está sendo realizado por nosso

grupo de pesquisa.

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(a)

Figura 31(a) – Micrografia da morfologia apresentada pelo copolímero P(VDF-TrFE), cristalizado a 145°C por 10 horas, a partir da fusão (4000x).

rede formada por feixes mais espesso de lamelas

formação de uma rede de feixes menos espessos de lamelas nas regiões entre a rede de feixes mais espessos

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(b)

Figura 31(b) – Micrografia obtida por MEV da morfologia apresentada pelo copolímero P(VDF-TrFE) cristalizado a 145°C por 10 horas, a partir da fusão (8000x).

feixe espesso de lamelas

rede de feixes menos espesso de lamelas

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- 103 -

As Figuras 32, 33 e 34 mostram, respectivamente,

micrografias observadas por MEV dos esferulitos anelado e

não anelado presentes nas blendas PVDF/P(VDF-TrFE) 70/30,

50/50 e 30/70. Todas essas amostras foram cristalizadas em

dois estágios: 160°C por 10 horas e, em seguida, 145°C por

10 horas.

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(a)

Figura 32(a) – Micrografia da região central de um esferulito anelado presente na blenda PVDF/P(VDF-TrFE) 70/30 (4000x).

lamelas parcialmente entrelaçadas, evidenciando a presença das moléculas do copolímero nas regiões interlamelares

centro do esferulito anelado

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- 105 -

(b)

Figura 32(b) – Micrografia de um esferulito não anelado presente na blenda PVDF/P(VDF-TrFE) 70/30 (4000x).

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- 106 -

(a)

Figura 33(a) – Micrografia da região central de um esferulito anelado presente na blenda PVDF/P(VDF-TrFE) 50/50 (4000x).

lamelas fortemente entrelaçadas, evidenciando a presença das moléculas do copolímero nas regiões interlamelares

centro do esferulito anelado

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Fn

lamelas fortemente entrelaçadas, evidenciando a presença das moléculas do copolímero nas regiões interlamelares

- 107 -

(b)

igura 33(b) – Micrografia de um esferulito não anelado presente a blenda PVDF/P(VDF-TrFE) 50/50 (4000x).

centro do esferulito não anelado

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(a)

Figura 34(a) – Micrografia da região central de um esferulito anelado presente na blenda PVDF/P(VDF-TrFE) 30/70 (4000x).

lamelas fortemente entrelaçadas, evidenciando a presença das moléculas do copolímero nas regiões interlamelares

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(b)

Figura 34(b) – Micrografia da região central de um esferulito não anelado presente na blenda PVDF/P(VDF-TrFE) 30/70 (4000x).

centro do esferulito não anelado

lamelas entrelaçadas, evidenciando a presença do copolímero nas regiões interlamelares

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Pode-se notar que na blenda PVDF/P(VDF-TrFE)

70/30, a estrutura lamelar de ambos esferulitos se

assemelha muito àquela observada no homopolímero PVDF,

indicando que a presença do copolímero nessa proporção

pouco afeta essa estrutura nesses esferulitos. Isto

concorda com a observação feita por MOLP. Nas blendas

PVDF/P(VDF-TrFE) 50/50 e 30/70, por outro lado, o

copolímero causa uma forte alteração na estrutura de ambos

esferulitos, tornando as lamelas entrelaçadas, o que

evidencia a presença de suas moléculas nas regiões

interlamelares. Esse resultado confirma a hipótese de que

durante a cristalização do homopolímero PVDF a 160°C, as

moléculas do copolímero não são rejeitadas e segregadas nas

regiões interesferulíticas, mas permanecem em uma íntima

mistura com as moléculas do homopolímero PVDF. Confirma,

ainda, a miscibilidade entre os componentes da blenda no

estado líquido, e mostra que esta mistura, em nível

lamelar, permanece durante a cristalização, mesmo quando

esta ocorre na condição mais favorável à segregação de

fases. Normalmente, quando ocorre a miscibilidade entre os

componentes de uma blenda na fase líquida, as temperaturas

de fusão desses componentes são alteradas. Porém, em nosso

caso, isto não ocorreu (Figura 24), provavelmente devido a

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proximidade entre as temperaturas de transição vítrea dos

componentes. Isto faz com que a presença de um componente

pouco afete a cristalização do outro. Portanto, podemos

concluir que apesar de não ocorrer a cocristalização,

provavelmente devido a grande diferença entre os parâmetros

de rede dos diferentes cristais, estes se distribuem

homogeneamente na blenda, sem formar fases distintas que

possam ser verificadas por MOLP ou MEV. É também muito

provável que os componentes dessa blenda sejam miscíveis na

fase amorfa. A comprovação disso por análise termo-

dinâmico-mecânica (DMTA) ou por DSC é dificultada pela

proximidade entre as temperaturas de transição vítrea do

PVDF (-34°C) e do copolímero P(VDF-TrFE) (-26°C).

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5. Conclusões

O PVDF quando cristalizado a partir da fusão em

temperaturas superiores a 155°C apresenta uma morfologia

formada por dois tipos de esferulitos: anelados e não

anelados, comprovando os resultados obtidos por Gianotti e

colaboradores [2] e por Prest e Luca [3]. Os anelados são

formados predominantemente pela fase α cristalizada

diretamente do fundido, resultado também obtido por Prest e

Luca [3]. Com o tempo de cristalização ocorre nesses

esferulitos uma transformação de fase α→γ, cuja taxa

aumenta com a temperatura, confirmando trabalhos

posteriores [3-5,8]. Os esferulitos não anelados são formados

predominantemente pela fase γ, que cristaliza do fundido,

com pequenas inclusões da fase α, como também observado em

trabalhos posteriores[2,5-6]. A fase γ formada pela

transformação de fase apresenta Tm cerca de 8°C acima da

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mesma fase formada diretamente do fundido. Temperaturas de

cristalização acima de 168°C resultam em esferulitos

anelados no centro e não anelados nas bordas, possivelmente

devido a maior velocidade com que a transformação de fase

se propaga no esferulito em relação à de seu crescimento.

Blendas PVDF/P(VDF-TrFE), com o copolímero P(VDF-

TrFE) (72/28), quando cristalizadas a partir da fusão,

mostram-se imiscíveis na fase cristalina. Porém, apesar da

não ocorrência de cocristalização, a morfologia

esferulítica das blendas, verificada por MOLP e MEV, indica

a presença das moléculas deste copolímero nas regiões

interlamelares dos esferulitos. Esse resultado sugere a

miscibilidade entre os componentes da blenda no fundido, e

que esta mistura íntima permanece durante a cristalização,

resultando nos diferentes cristais homogeneamente

distribuídos na amostra, sem a presença de fases que possam

ser verificadas por microscopias ótica ou eletrônica. Todos

os resultados obtidos com as blendas são inéditos, uma vez

que, pelo que sabemos, até o presente nenhum estudo foi

realizado sobre a morfologia e miscibilidade dessas

blendas.

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Sugestões para Trabalhos Futuros

Realizar um estudo sistemático da morfologia do copolímero

P(VDF-TrFE) e da relação desta com as transições de Curie

e temperaturas de cristalizações;

Através da microscopia de força atômica (AFM), verificar a

nível lamelar as alterações estruturais que ocorrem nos

esferulitos do PVDF devido a presença das moléculas do

copolímero;

Determinar as propriedades dielétricas e piezoelétricas das

blendas PVDF/P(VDF-TrFE) com diferentes composições e

morfologias, e verificar suas possíveis aplicações.

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Publicações

Como produto da pesquisa realizada nesta dissertação, foi

publicado um trabalho no “Journal of Materials Science”,

35 (2000) 209-306. Título: “Morphology and Phase

Transition of High Temperature Crystallized

Poly(vinylidene fluoride)” Autores: Rinaldo Gregório

Filho e Rosa Cristina Capitão.

No ano de 2000 houve uma participação no 5o. Congresso

Brasileiro de Polímeros, em Águas de Lindóia SP, com o

trabalho: “Transição de Fase α→γ no Estado Sólido

Induzida por Elevada Temperatura no Poli(fluoreto de

vinilideno)” Autores: Rinaldo Gregório Filho e Rosa

Cristina Capitão.

Ainda, no ano de 2000, houve uma participação no III SICEM

em São Carlos, com o trabalho: “Morfologia e Transição de

Fase do Poli(fluoreto de vinilideno) Cristalizado a

Partir da Fusão a Elevada Temperatura” Autores: Rinaldo

Gregório Filho e Rosa Cristina Capitão.