Desenvolvimento de uma arquitectura distribuída para controlo de … · RLC e α = 30º.....43...

173
FACULDADE DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE DO PORTO Departamento de Engenharia Electrotécnica e de Computadores Desenvolvimento de uma Arquitectura Distribuída para Controlo de Potência Manuel António Ferreira Pereira Licenciado em Engenharia Electrotécnica pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto Dissertação submetida para satisfação parcial dos requisitos do grau de mestre em Engenharia Electrotécnica e de Computadores (Área de especialização de Informática e Automação) Porto, Junho de 2005

Transcript of Desenvolvimento de uma arquitectura distribuída para controlo de … · RLC e α = 30º.....43...

  • FACULDADE DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE DO PORTO

    Departamento de Engenharia Electrotcnica e de Computadores

    Desenvolvimento de uma Arquitectura Distribuda para Controlo de Potncia

    Manuel Antnio Ferreira Pereira

    Licenciado em Engenharia Electrotcnica pela Faculdade de Engenharia da

    Universidade do Porto

    Dissertao submetida para satisfao parcial dos requisitos do grau de

    mestre em Engenharia Electrotcnica e de Computadores

    (rea de especializao de Informtica e Automao)

    Porto, Junho de 2005

  • Dissertao realizada sob a superviso de

    Professor Doutor Adriano da Silva Carvalho,

    do Departamento de Engenharia Electrotcnica e de Computadores

    da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto

  • Aos meus pais

    Aos meus irmos

  • vii

    Agradecimentos

    Gostaria de expressar a minha gratido a todos aqueles que contriburam de alguma forma

    para a realizao deste trabalho.

    Em primeiro lugar, agradeo ao meu orientador, o Professor Doutor Adriano da Silva

    Carvalho, pelo apoio, colaborao e orientao que sempre me reservou. Os seus conselhos

    e rigor cientfico constituram uma preciosa ajuda na realizao deste trabalho. Agradeo

    tambm o esforo desenvolvido na leitura e sugestes de reviso deste documento.

    A todos os meus colegas do ISR, devo agradecer o companheirismo e o benefcio

    decorrente das oportunidades de discusso cientfica.

    Ao Instituto de Sistemas e Robtica, por me ter cedido meios laboratoriais para a realizao

    do trabalho experimental.

    A todos, os meus sinceros agradecimentos.

  • ix

    Resumo

    As recentes evolues tecnolgicas que conferem um grau de sofisticao cada vez maior

    aos sistemas de controlo tm causado uma reanlise de arquitecturas a adoptar neste

    domnio da Engenharia.

    Nesta dissertao apresenta-se o estudo e desenvolvimento de uma arquitectura distribuda

    para controlo de potncia, bem como uma possvel implementao dessa arquitectura

    aplicada ao processo industrial de secagem de transformadores, usado nesta dissertao

    como caso de estudo.

    A arquitectura desenvolvida suportada na evoluo tecnolgica dos microprocessadores e

    das redes de comunicao, com desempenhos cada vez mais elevados, quer ao nvel das

    estruturas de controlo, quer ao nvel das metodologias de controlo, permitindo o controlo de

    processos complexos.

    De facto, os requisitos subjacentes a este tipo de processos levam, inevitavelmente,

    utilizao de uma arquitectura distribuda onde as funes de instrumentao, interface,

    controlo e actuao so executadas em diferentes subsistemas, representados por ns. A

    interligao dos vrios ns realizada por uma ou mais redes de comunicao.

    Neste contexto, a utilizao do processo industrial adoptado, no s pela complexidade

    inerente ao prprio processo mas tambm pelas suas caractersticas particulares de

    instrumentao e controlo, revela-se uma boa base de validao. De facto, estes dois

    subsistemas (instrumentao e controlo) tm verificado melhorias substanciais de

    desempenho. Em particular, o projecto de subsistemas de controlo tem evoludo de forma

    significativa, suportado pelo melhor desempenho das plataformas digitais.

    Em consequncia, so estudados mtodos de controlo de temperatura, com a adopo do

    mtodo de controlo hbrido, que utiliza lgica difusa para melhorar o controlo da

    temperatura. As boas caractersticas de desempenho do sistema de controlo desenvolvido

    foram demonstradas atravs dos ensaios experimentais realizados.

  • xi

    Abstract

    The recent technological evolutions that confer an increasingly sophistication degree to the

    control systems have caused a re-analysis of the architectures to adopt in this domain of

    Engineering.

    In this dissertation it is presented the study and development of a distributed architecture

    for power control, as well as a possible implementation of this architecture applied to the

    industrial process of drying transformers, used in this dissertation as study case.

    The developed architecture is supported on the technological evolution of the

    microprocessors and communication networks, with higher levels of performance, whether

    at the control structures level, whether at the control methods level, allowing the control of

    rather complex processes.

    In fact, the underlying requirements to this kind of processes lead, inevitably, to the use of a

    distributed architecture where the instrumentation functions, interface, control and actuation

    are executed in different subsystems, represented by nodes. The interconnection of the

    several nodes is executed through one or more communication networks.

    In this context, the use of the adopted industrial process shows a good base of validation,

    not only for the inherent complexity to the proper process but also for its particular

    characteristics of instrumentation and control. In fact, these two subsystems have verified

    substantial improvements of performance. In particular, the project of control subsystems

    has evolved in significant form, supported by best performance of the digital platforms.

    In consequence, methods of temperature control are studied, with the adoption of hybrid

    control method, that uses fuzzy logic to improve the temperature control. The good

    performance characteristics of the developed control system were demonstrated through the

    realization of experimental tests.

  • xiii

    ndice de Contedos

    Agradecimentos .............................................................................................................................. vii

    Resumo............................................................................................................................................. ix

    Abstract............................................................................................................................................ xi

    ndice de Contedos...................................................................................................................... xiii

    ndice de Figuras .......................................................................................................................... xvii

    ndice de Tabelas........................................................................................................................... xxi

    Abreviaturas ................................................................................................................................ xxiii

    1 Introduo..................................................................................................................................1

    1.1 Objectivos...............................................................................................................................2

    1.2 Organizao da Dissertao ...................................................................................................3

    2 Apresentao do Caso de Estudo .............................................................................................5

    2.1 Introduo...............................................................................................................................5

    2.2 Anlise do Processo de Secagem ...........................................................................................6

    2.3 Requisitos do Subsistema de Aquisio ...............................................................................11

    2.4 Requisitos do Subsistema de Controlo .................................................................................11

    2.5 Requisitos da interface .........................................................................................................12

    2.6 Concluso .............................................................................................................................13

    3 Sistemas Distribudos de Controlo.........................................................................................15

    3.1 Introduo.............................................................................................................................15

    3.2 Sistemas Distribudos de Controlo .......................................................................................16

  • ndice de Contedos

    xiv

    3.2.1 Modelos de Comunicao para Sistemas Distribudos ........................................ 17 3.2.2 Sistemas de Controlo em Tempo Real ................................................................. 21

    3.3 Arquitectura Distribuda para Controlo de Potncia ........................................................... 30 3.3.1 Modelo de Comunicao...................................................................................... 32 3.3.2 Apresentao da Arquitectura para o Caso de Estudo ......................................... 34

    3.4 Concluso ............................................................................................................................ 35

    4 Subsistema de potncia........................................................................................................... 37

    4.1 Introduo............................................................................................................................ 37

    4.2 Sistema de Aquecimento ..................................................................................................... 37

    4.3 Rectificadores ...................................................................................................................... 38 4.3.1 Rectificador Trifsico no Controlado................................................................. 39 4.3.2 Rectificador Trifsico Semi-Controlado .............................................................. 42 4.3.3 Rectificador Trifsico Controlado........................................................................ 45

    4.4 Inversores de Tenso ........................................................................................................... 48 4.4.1 Inversores monofsicos........................................................................................ 50 4.4.2 Inversores de tenso Trifsicos ............................................................................ 51

    4.5 Concluso ............................................................................................................................ 58

    5 Instrumentao do Sistema - Subsistema de Aquisio ...................................................... 59

    5.1 Introduo............................................................................................................................ 59

    5.2 Potncia Activa.................................................................................................................... 63

    5.3 Topologias de Medio da Potncia Activa ........................................................................ 64 5.3.1 Trs Fases Quatro Condutores Estrela .............................................................. 64 5.3.2 Trs Fases Trs Condutores Tringulo.............................................................. 65 5.3.3 Trs Fases Quatro Condutores Tringulo.......................................................... 67 5.3.4 Aquisio da Corrente.......................................................................................... 68 5.3.5 Aquisio da tenso.............................................................................................. 70 5.3.6 Condicionamento dos Sinais de Corrente e Tenso ............................................. 72

    5.4 Componente activa dos ns de Aquisio ........................................................................... 77 5.4.1 Entradas Analgicas............................................................................................. 78 5.4.2 Medio da Potncia Activa................................................................................. 79 5.4.3 Medio da Energia Activa.................................................................................. 80 5.4.4 Leitura da Energia Activa Acumulada ................................................................. 82

  • ndice de Contedos

    xv

    5.4.5 Medio de Valores rms (Corrente + Tenso) ......................................................83 5.4.6 Leitura dos Valores rms ........................................................................................83 5.4.7 Interface Srie .......................................................................................................84

    5.5 Circuito de Aquisio...........................................................................................................85

    5.6 Aquisio da Temperatura Ambiente...................................................................................87

    5.7 Alterao da Frequncia de Relgio.....................................................................................87

    5.8 Erro na medio da Corrente rms e erro no clculo da Potncia Activa ..............................96

    5.9 Concluso .............................................................................................................................96

    6 Subsistema de Controlo ..........................................................................................................99

    6.1 Introduo.............................................................................................................................99

    6.2 Controlo..............................................................................................................................100 6.2.1 Mtodos de Controlo Convencionais/Avanados ...............................................102 6.2.2 Plataforma de controlo........................................................................................110 6.2.3 Placa de Interface................................................................................................112

    6.3 Software .............................................................................................................................114 6.3.1 Estrutura do Software .........................................................................................115

    6.4 Controlo do Processo de Secagem .....................................................................................122

    6.5 Implementao do Controlo Hbrido e Resultados Experimentais ....................................124

    6.6 Anlise de Resultados ........................................................................................................129

    6.7 Concluso ...........................................................................................................................131

    7 Concluses e Desenvolvimentos Futuros .............................................................................133

    7.1 Concluses .........................................................................................................................134

    7.2 Desenvolvimentos futuros..................................................................................................135

    8 Referncias .............................................................................................................................137

    Anexo A Prottipo Industrial....................................................................................................141

    Anexo B Calibrao do ADE7754.............................................................................................145

    B.1 Calibrao do Offset da Potncia Activa............................................................................145

    B.2 Calibrao da Fase da Potncia Activa ..............................................................................146

  • ndice de Contedos

    xvi

    B.3 Compensao do Offset nas medidas rms.......................................................................... 148

  • xvii

    ndice de Figuras

    Figura 3.1: Arquitectura geral de um Sistema Distribudo de Controlo............................................16 Figura 3.2: Modelo de Comunicao Cliente-Servidor.....................................................................18 Figura 3.3: Comunicao Cliente-Servidor.......................................................................................18 Figura 3.4: Modelo de Comunicao Produtor-Consumidor. ...........................................................19 Figura 3.5: Comunicao Produtor-Consumidores. ..........................................................................19 Figura 3.6: Modelo de Comunicao Mestre-Escravo. .....................................................................20 Figura 3.7: Comunicao Mestre-Escravo. .......................................................................................20 Figura 3.8: Valor do resultado das tarefas aps o fim do prazo temporal.........................................24 Figura 3.9: Arquitectura distribuda para controlo de potncia.........................................................33 Figura 3.10: Arquitectura de controlo do caso de estudo..................................................................34 Figura 4.1: Circuito de potncia. .......................................................................................................38 Figura 4.2: Rectificador trifsico no controlado (Carga Resistiva). ................................................39 Figura 4.3: Tenses de entrada e sada do rectificador trifsico no controlado...............................40 Figura 4.4: Rectificador trifsico no controlado (Carga RLC). .......................................................41 Figura 4.5: Corrente e tenso aos terminais da carga do rectificador trifsico no controlado (Carga

    RLC)...........................................................................................................................................41 Figura 4.6: Rectificador trifsico semi-controlado (Carga RLC)......................................................42 Figura 4.7: Tenses de entrada e sada do rectificador trifsico semi-controlado, com = 30. ......42 Figura 4.8: Corrente e tenso aos terminais da carga do rectificador trifsico semi-controlado, carga

    RLC e = 30.............................................................................................................................43 Figura 4.9: Tenses de entrada e sada do rectificador trifsico semi-controlado, com = 60. ......43 Figura 4.10: Corrente e tenso aos terminais da carga do rectificador trifsico semi-controlado,

    carga RLC e = 60. ..................................................................................................................44 Figura 4.11: Tenses de entrada e sada do rectificador trifsico semi-controlado, com = 90. ....44 Figura 4.12: Rectificador trifsico controlado (Carga RLC). ............................................................45 Figura 4.13: Tenses de entrada e sada do rectificador trifsico controlado, com = 30. .............46 Figura 4.14: Corrente e tenso aos terminais da carga do rectificador trifsico controlado, carga

    RLC e = 30.............................................................................................................................46 Figura 4.15: Tenses de entrada e sada do rectificador trifsico controlado, com = 75. .............47 Figura 4.16: Circuito elementar de converso CA/CC, com barramento CC em fonte de tenso. ...48

  • ndice de Figuras

    xviii

    Figura 4.17: Inversor de tenso monofsico transistorizado, com filtro no barramento CC............ 50 Figura 4.18 Inversor de tenso trifsico com filtro LC na entrada................................................... 51 Figura 4.19 Inversor de tenso trifsico. .......................................................................................... 52 Figura 4.20: Diagrama de comando do inversor trifsico. ............................................................... 53 Figura 4.21: Funes de comutao sa, sb e sc para o comando de plena onda. ................................ 53 Figura 4.22: Tenses simples na sada do inversor. ......................................................................... 54 Figura 4.23: Tenses compostas na sada do inversor...................................................................... 54 Figura 4.24: Corrente de fase na sada do inversor. ......................................................................... 54 Figura 4.25: Tenso simples na sada do inversor (PWM Sinusoidal 2400Hz). .............................. 57 Figura 4.26: Corrente de fase na sada do inversor (PWM Sinusoidal 2400Hz).............................. 57 Figura 5.1: Arquitecturas de conversores A/D, aplicaes, resoluo e frequncias de amostragem.

    ................................................................................................................................................... 60 Figura 5.2: Diagrama temporal da tenso, corrente e potncia instantnea. .................................... 63 Figura 5.3: Ligao estrela com trs sensores de tenso e trs sensores de corrente. ...................... 64 Figura 5.4: Ligao estrela com dois sensores de tenso e trs sensores de corrente. ..................... 65 Figura 5.5: Ligao tringulo com dois sensores de corrente e dois sensores de tenso. ................ 65 Figura 5.6: Ligao tringulo com dois sensores de tenso e trs sensores de corrente. ................. 67 Figura 5.7: Circuito de converso da corrente em tenso................................................................. 69 Figura 5.8: Circuito de seleco do sensor de corrente. ................................................................... 70 Figura 5.9: Circuito de seleco das gamas de medio da tenso. ................................................. 71 Figura 5.10: Filtro Sallen-Key 2 ordem. ......................................................................................... 75 Figura 5.11: Filtro Sallen-Key 2 ordem com pot. de sintonia. ........................................................ 77 Figura 5.12: Circuito de condicionamento dos sinais de corrente e tenso...................................... 77 Figura 5.13: Diagrama de blocos funcional do ADE7754. .............................................................. 78 Figura 5.14: Ripple presente na energia. .......................................................................................... 81 Figura 5.15: Fluxograma de medio da energia activa acumulada................................................. 82 Figura 5.16: Fluxograma de medio dos valores rms da fase A..................................................... 84 Figura 5.17: Diagrama de blocos do subsistema de aquisio. ........................................................ 85 Figura 5.18: Esquemtico do subsistema de aquisio..................................................................... 86 Figura 5.19: Circuito de condicionamento do sinal de sada do sensor de temperatura................... 87 Figura 5.20: Valores medidos para a energia activa, com sinais de corrente e tenso de amplitude

    0.2852Vp. .................................................................................................................................. 89 Figura 5.21 Valores medidos para a energia activa, com sinais de corrente e tenso de amplitude

    0.2852Vp e sistema de aquisio estabilizado. .......................................................................... 90 Figura 5.22: Valores medidos para a energia activa, com sinais de corrente e tenso de amplitude

    0.2852Vp. .................................................................................................................................. 91 Figura 5.23 Valores medidos para a energia activa, com sinais de corrente e tenso de amplitude

  • ndice de Figuras

    xix

    0.1827Vp. ...................................................................................................................................91 Figura 5.24 Valores medidos para a Energia Activa, com sinais de corrente e tenso de amplitude

    0.1827Vp e 35.8 de desfasamento entre os sinais de corrente e tenso.....................................92 Figura 5.25: Valores medidos para a corrente rms, para um sinal de amplitude 0.48649Vp. ...........93 Figura 5.26: Valores medidos para a corrente rms, para um sinal de amplitude 0.292884Vp. .........94 Figura 5.27 Valores medidos para a energia activa e perodo do sinal de entrada............................95 Figura 6.1: Diagrama de blocos de um sistema de controlo contnuo com realimentao negativa.

    .................................................................................................................................................101 Figura 6.2: Diagrama de blocos de um sistema de controlo digital com realimentao negativa...101 Figura 6.3:Resposta de um controlador ON-OFF. ..........................................................................103 Figura 6.4:Resposta de um controlador ON/OFF com histerese.....................................................104 Figura 6.5: (a) Resposta de um controlador proporcional para diferentes valores de KP................105 Figura 6.6:Resposta de um controlador PI para diferentes valores de TI e KP=2............................106 Figura 6.7:Resposta de um controlador PD para diferentes valores de TD e KP=1 .........................107 Figura 6.8:Resposta de um controlador PID para diferentes valores de KP, TD e TI .......................109 Figura 6.9: Plataforma de controlo..................................................................................................111 Figura 6.10: Diagrama de blocos da placa de interface...................................................................113 Figura 6.11: Circuito de gerao dos sinais de comando complementares e de tempo morto. .......113 Figura 6.12: Circuitos de interface fibra ptica/TTL. .....................................................................114 Figura 6.13: Rede de Petri do Processo de Secagem ......................................................................116 Figura 6.14: Esquema de princpio de hierarquia de controladores envolvidos no processo de

    secagem....................................................................................................................................123 Figura 6.15: Temperatura, potncia, corrente e resistncia do enrolamento medidas e calculadas

    durante o aquecimento com controlo hbrido. .........................................................................125 Figura 6.16: Temperatura, potncia, corrente e resistncia do enrolamento medidas e calculadas

    durante o aquecimento com controlo hbrido e durao 120 minutos. ....................................126 Figura 6.17: Regime permanente da temperatura calculada para os enrolamentos do transformador

    com controlo hbrido (intervalos das regras difusas de 2C). ..................................................126 Figura 6.18: Regime permanente da temperatura calculada para os enrolamentos do transformador

    com controlo hbrido (intervalos das regras difusas de 1C). ..................................................128 Figura 6.19: Regime permanente da temperatura calculada para os enrolamentos do transformador

    com controlo hbrido (intervalos das regras difusas de 0.5C). ...............................................129

    Figura A.1: Mdulo rectificador + inversor. ..................................................................................................141

    Figura A.2: Placa do subsistema de aquisio. ...............................................................................142 Figura A.3: Plataforma de controlo.................................................................................................142 Figura A.4: Consola de interface com o utilizador. ........................................................................143

  • xxi

    ndice de Tabelas

    Tabela 5-1: Resultados da avaliao dos sensores de corrente. ........................................................68 Tabela 5-2: Resultados da avaliao dos sensores de tenso. ...........................................................70 Tabela 5-3: Configurao do Ganho dos Canais Analgicos............................................................78 Tabela 5-4: Clculo da Potncia Activa Total...................................................................................79 Tabela 5-5: Configurao das Topologias de Medio.....................................................................80 Tabela 6-1: Efeitos da adio das aces proporcional, integral e derivativa.................................108

  • xxiii

    Abreviaturas

    ADC Analog to Digital Converter

    ANSI American National Standards Institute

    DAC Digital to Analog Converter

    DCS Distributed Control Systems

    DDC Direct Digital Control

    DMA Direct Memory Access

    FTU Fault Tolerant Units

    LSB Last Significant Bit

    MLI Modulao da Largura dos Impulsos

    MSPS Mega Samples Per Second

    PGA Programmable Gain Amplifier

    PWM Pulse Width Modulation

    RAM Random Access Memory

    RCS Real-Time Control Systems

    RMS Root Mean Square

    RTC Real Time Clock

    SPI Serial Peripheral Interface

    WDT Watch Dog Timer

  • 1

    1 Introduo

    A engenharia de sistemas de controlo est, cada vez mais, ligada a processos complexos. A

    caracterizao em termos de modelo matemtico destes processos torna-se mais difcil, seja

    pelas caractersticas no lineares que contm ou pelo nmero de variveis envolvidas, seja

    pela impossibilidade de os descrever analiticamente.

    O desenvolvimento de novos sistemas e mtodos de controlo pode permitir um tratamento

    apropriado destes processos.

    Neste contexto verificou-se, nas ltimas duas dcadas, um forte aumento da investigao na

    rea dos sistemas de controlo. A evoluo nesta rea tem sido nivelada para solues de

    sistemas distribudos de controlo, com caractersticas, por vezes, de anlise de sistemas de

    tempo real. Pouco se tem avanado em termos de sistema como um todo. Os avanos

    existentes tm sido em novas aplicaes, algoritmos de escalonamento dinmicos e

    principalmente em sistemas distribudos de tempo real.

    Torna-se assim necessrio o desenvolvimento de arquitecturas e solues distribudas de

    controlo, com boas caractersticas de desempenho permitindo um controlo eficiente mesmo

    de processos complexos. Em particular, neste trabalho foca-se o desenvolvimento de

    arquitecturas e solues distribudas para controlo de potncia. De facto, a orientao para

    os sistemas distribudos aparece motivada por funcionalidades de desenvolvimento to

    importantes como a distribuio do processamento, a flexibilidade de desenvolvimento, a

    expansibilidade, interferncia electromagntica, etc.

    O processo industrial adoptado na implementao da arquitectura distribuda para controlo

    de potncia foi o processo de secagem de transformadores.

    Caracterizado o processo, desde logo surge a questo da abordagem sobre o mtodo de

    controlo a ser do tipo convencional ou baseado em tecnologias emergentes.

    Os mtodos de controlo baseados em tecnologias emergentes, em particular os derivados da

    lgica difusa, tm dado uma boa resposta a uma classe de problemas de controlo,

  • Introduo

    2

    nomeadamente no que se refere ausncia de um modelo ou existncia de parmetros

    incertos ou no lineares.

    Assim, esta dissertao trata, fundamentalmente, do estudo e desenvolvimento de uma

    arquitectura distribuda para controlo de potncia e da implementao de uma possvel

    soluo para essa arquitectura, aplicada em particular ao processo de secagem de

    transformadores. Foca tambm a implementao, em prottipo industrial, de um mtodo de

    controlo de temperatura.

    A validade dos aspectos tericos concebidos e dos mtodos de controlo implementados

    assim tratada via demonstrao experimental. Os resultados experimentais obtidos

    demonstram as boas caractersticas de desempenho do sistema de controlo desenvolvido.

    1.1 Objectivos

    O trabalho aqui apresentado tem trs objectivos fundamentais. O primeiro o estudo e

    desenvolvimento de uma arquitectura distribuda para controlo de potncia. O segundo,

    mas no menos importante, o desenvolvimento e implementao de uma soluo

    distribuda para controlo do processo de secagem de transformadores. O terceiro e ltimo

    a validao experimental do controlador implementado.

    As principais tarefas que devem ser realizadas so as seguintes:

    Estudo e desenvolvimento de uma arquitectura distribuda para controlo de

    potncia;

    Desenvolvimento e implementao do subsistema de aquisio, responsvel pela:

    o aquisio da corrente e tenso;

    o medio da corrente rms (Root Mean Square), potncia activa e temperatura

    ambiente;

    o clculo da temperatura dos enrolamentos do transformador;

    Desenvolvimento e implementao do subsistema de controlo, quer a nvel de

    hardware quer de software que deve incluir:

    o controlo dos conversores electrnicos do subsistema de potncia;

    o interface com o operador;

    o gesto das comunicaes com o subsistema de aquisio e a interface com o

  • Introduo

    3

    operador;

    o implementao do algoritmo (ou mtodo) de controlo;

    Validao experimental do controlador implementado;

    1.2 Organizao da Dissertao

    O contedo desta dissertao encontra-se organizado em captulos. No captulo 1

    enquadrada a dissertao e so apresentados os problemas a tratar, bem como os objectivos

    a atingir.

    O captulo 2 apresenta o processo usado como caso de estudo (processo de secagem de

    transformadores), bem como alguns dos requisitos que este impe ao subsistema de

    aquisio, controlo e interface.

    O captulo 3, alm da descrio dos sistemas de controlo distribudos, em especial os de

    tempo real, apresenta a arquitectura distribuda para controlo de potncia, bem como uma

    possvel soluo para controlo do processo de secagem de transformadores.

    O captulo 4 trata do controlo de potncia e dos conversores que dele fazem parte. Descreve

    a constituio do subsistema de potncia do sistema de aquecimento e apresenta um estudo

    sobre alguns dos conversores que podem ser usados neste tipo de subsistemas, em

    particular sobre os conversores CA/CC e CC/CA.

    Faz-se, tambm, uma anlise simplificada de mtodos de uso geral de controlo de

    conversores CC/CA.

    No captulo 5 apresenta-se o desenvolvimento e implementao do subsistema de

    aquisio, responsvel pela aquisio, processamento, digitalizao e medio/clculo das

    grandezas necessrias ao controlo e superviso do processo. As vrias fases de

    implementao deste subsistema so devidamente explicadas.

    O captulo 6, alm do desenvolvimento e implementao do subsistema de controlo,

    apresenta a rede de Petri que serviu de base ao desenvolvimento do cdigo da aplicao.

    Apresenta ainda a implementao em prottipo industrial de um mtodo de controlo de

    temperatura hbrido, resultados experimentais e respectiva anlise dos mesmos.

    Finalmente, apresentam-se as principais concluses e algumas linhas de aco para

    trabalhos futuros, na sequncia deste.

  • 5

    2 Apresentao do Caso de Estudo

    2.1 Introduo

    Os transformadores a leo para distribuio de energia elctrica tm que ser secos por

    razes de fabricao, qualidade e fiabilidade de funcionamento.

    O processo tradicional de aquecimento e secagem de transformadores de distribuio,

    aquecimento em estufa, caracteriza-se por uma eficincia baixa e um tempo de

    aquecimento/secagem elevados, dependentes do tipo de transformador a secar.

    A inovao neste processo proposta por Quintas, (Quintas, Carvalho et al., 1994),

    proporcionou uma reduo acentuada destas limitaes. Baseia-se no aquecimento directo

    do transformador em secagem, atravs da injeco controlada de corrente e controlo da

    temperatura de secagem. A corrente injectada controlada de forma a manter a temperatura

    dos enrolamentos do transformador em torno dos 110C (nunca ultrapassando os 130C,

    pois temperaturas superiores poderiam danificar o verniz isolador). A temperatura

    calculada pelo valor da resistividade do cobre dos enrolamentos, a partir da medida da

    potncia activa, corrente e temperatura inicial (temperatura ambiente).

    O problema que esta dissertao se prope estudar o do desenvolvimento de uma soluo

    distribuda para controlo, que satisfaa os requisitos do processo de secagem de

    transformadores, melhorando desta forma a eficincia e o tempo de secagem. Na verdade

    este processo, pelas suas caractersticas, constitui um efectivo caso de estudo permitindo

    generalizar os resultados a atingir.

    A soluo a desenvolver tem um vasto conjunto de requisitos, impostos pelo processo, que

    devem ser cumpridos com rigor, dado que o no cumprimento de alguns pode causar danos

    no transformador em secagem. Alguns destes requisitos so: garantir que os limites de

    corrente dos enrolamentos so cumpridos, garantir que as correntes nos enrolamentos no

    esto em desequilbrio, comandar o inversor, medir correntes, medir a potncia activa, gerir

  • Apresentao do Caso de Estudo

    6

    comunicaes com o exterior, monitorar medidas e a sua evoluo para detectar defeitos e

    avarias, tratar as entradas, apresentar dados na sada, etc.

    Uma vez identificado o caso de estudo, este captulo pretende descrever o conjunto de

    requisitos existentes neste tipo de sistemas, sejam de instrumentao, controlo, ou interface,

    a partir de uma anlise do processo central.

    2.2 Anlise do Processo de Secagem

    O processo de secagem utiliza um inversor de tenso, a funcionar em baixa frequncia, para

    introduzir corrente nos enrolamentos do transformador, que tem o secundrio em curto-

    circuito. Deste modo, existe um auto-aquecimento do transformador, que permite a

    vaporizao dos lquidos presentes nas peas construtivas. Para permitir a rpida

    eliminao dos vapores existentes nas imediaes do transformador, este mantido em

    vcuo durante a secagem. A frequncia da forma de onda gerada plo inversor de 5Hz,

    para que a tenso induzida no secundrio seja baixa e assim existam correntes de

    aquecimento tanto no(s) enrolamento(s) primrio(s) como no(s) secundrio(s) do

    transformador. Doutra forma, as correntes do primrio seriam muito baixas e no causariam

    auto-aquecimento significativo. Grande parte dos transformadores de distribuio so

    trifsicos mas o sistema funciona tambm com transformadores monofsicos.

    O processo de secagem utiliza tambm duas cubas de vcuo com capacidade mxima para

    5 transformadores. Os 5 inversores de tenso que se pretende comandar, de forma

    independente, podem ser ligados a qualquer uma das cubas. O nmero de transformadores

    presente nas cubas depende das suas dimenses fsicas e do planeamento da produo.

    Os parmetros dos transformadores a construir variam pea a pea conforme os requisitos

    do cliente final. Alguns destes parmetros so elctricos, tal como a tenso no enrolamento

    primrio e secundrio, respectivas correntes que traduzem uma determinada potncia de

    funcionamento, tenso de isolamento, etc. Estes parmetros so introduzidos pelo operador,

    atravs de uma interface grfica. Existem, no entanto, uma srie de pormenores

    construtivos no elctricos muito importantes (do ponto de vista do controlador de

    temperatura), tal como a temperatura mxima a que o transformador dever funcionar,

    forma fsica dos ncleos magnticos, disposio fsica do fio condutor, espaos e formato

    dos canais do interior dos enrolamentos, etc. Muitos outros pormenores, tal como

    configurao dos pontos de fixao, isoladores pretendidos, ligaes elctricas, etc. no

  • Apresentao do Caso de Estudo

    7

    interessam ao controlador de temperatura mas exigem que o trabalho de montagem do

    conjunto do transformador seja, em grande parte, manual.

    Os transformadores em causa tm dimenses muito variveis que podem ir, em termos de

    volume comparativo, de 1 a 15 m3. Apresentam componentes em madeira e/ou papel, por

    razes de custo e funcionalidade. As quantidades destes componentes que aparecem

    imprevisivelmente hmidos, varia de transformador para transformador, tal como a sua

    configurao e colocao exacta. A humidade dos componentes varia com a sua

    provenincia e com estao seca ou hmida do ano o que pode mesmo reflectir-se no

    processo de secagem de alguns transformadores.

    Os enrolamentos, que podem ser de cobre ou de alumnio, variam em forma e dimenso de

    acordo com os referidos factores construtivos. Os enrolamentos so j construdos com a

    preocupao que ser necessrio sec-los e assim existem canais de formato variado que

    servem, entre outros propsitos, para escoar os vapores formados durante a secagem.

    Devido elevada flexibilidade necessria durante a produo, grande parte dos ajustes so

    feitos por trabalhadores, pelo que se admitem diferentes folgas e pequenas diferenas entre

    peas que poderiam aparentemente ser iguais.

    Do ponto de vista termodinmico e dos fenmenos de transferncia envolvidos, a

    modelao matemtica deste sistema apresenta-se algo complexa. Tal modelao obrigaria

    a estabelecer um certo nmero de simplificaes e pressupostos, alm de que muitas

    informaes relevantes nem sequer esto disponveis, tal como os valores dimensionais de

    todos os parmetros dos enrolamentos, tendo em conta que um nmero varivel de

    transformadores so secos em simultneo, tambm a temperatura dos outros

    transformadores que esto na mesma cuba ou ainda o valor da presso actual. Por outro

    lado, a quantidade de humidade no papel e na madeira indeterminada. Tendo em conta

    todas estas dificuldades conclui-se que tal formulao matemtica seria impraticvel, no

    mbito deste trabalho. A modelao matemtica do processo de secagem foi objecto de

    estudo preliminar e o grupo de trabalho envolvido nesse estudo concluiu que tal modelao

    requeria uma quantidade de trabalho que a inviabiliza.

    Durante a secagem, a temperatura do transformador em aquecimento determinada atravs

    do clculo da resistncia do enrolamento, sendo a resistncia calculada a partir dos valores

    medidos para a potncia activa e corrente. A equao utilizada para o clculo da

    temperatura actual nos enrolamentos de um transformador em cobre :

  • Apresentao do Caso de Estudo

    8

    22 11

    (235 ) - 235RT TR

    = + (2.1)

    onde T1 a temperatura inicial, T2 a temperatura actual, R1 a resistncia inicial e R2 a

    resistncia actual.

    No caso de os enrolamentos serem em alumnio a equao :

    22 11

    (225 ) - 225RT TR

    = + (2.2)

    A grande vantagem da medio indirecta da temperatura a de eliminar todos os sensores

    de temperatura. Tal importante no s por consideraes econmicas, mas tambm para

    permitir o enchimento automtico de leo na fase seguinte do processo.

    A medida da temperatura obtida o integral de elementos infinitesimais de temperatura, ao

    longo de cada um dos enrolamentos do transformador. A medida da temperatura tanto pode

    ser monofsica como trifsica.

    O objectivo do sistema de controlo o de elevar a temperatura dos enrolamentos at cerca

    de 110C, mas de forma a nunca ultrapassar os 130C pois tal resultaria, provavelmente, em

    queimaduras no verniz isolador dos enrolamentos do transformador o que obrigaria a sua

    substituio integral.

    Quando a temperatura do transformador est longe da temperatura final pretendida, 110C,

    aplicada a corrente mxima aos enrolamentos, definida como 120% da corrente nominal

    (IN). Esta limitao no valor mximo da corrente visa proteger os enrolamentos de esforos

    mecnicos excessivos, que poderiam surgir pela existncia de demasiados vapores em

    ebulio no interior do sistema.

    Supondo, por aproximao que os vapores extrados do transformador so de gua, o seu

    ponto de ebulio varia muito conforme a presso existente no interior da cuba. A consulta

    das tabelas apropriadas, tal como descrito por Smith, (Smith e Van Ness, 1987) (tabela

    C.1), assegura que a gua (pura) entra no estado gasoso a temperaturas inferiores a 19C

    desde que a presso seja inferior a 20 mbar. Se a presso na cuba de secagem no atingir os

    20 mbar ao fim de 20 minutos de processo, a secagem interrompida e o controlador do

    processo de vazio activa um alarme (de reparar que o controlador do processo de vazio

    um sistema independente do controlador do processo de secagem). O aquecimento do

  • Apresentao do Caso de Estudo

    9

    transformador traz a humidade do interior dos materiais at sua periferia, para ser

    eliminada pelas bombas de vcuo. Em concluso, o ritmo a que o vapor de gua

    eliminado das proximidades do transformador varia com a presso na cuba e a temperatura

    do transformador. O valor da presso na cuba desconhecido do controlador do processo

    de aquecimento de transformadores.

    Uma das maiores dificuldades do processo que se tem vindo a descrever reside no facto de

    que, uma vez retirada a humidade das proximidades do sistema, o transformador perde

    alguma massa (foram retirados lquidos). Se se continuar a enviar potncia para o sistema

    ao ritmo anterior, a sua temperatura subir rapidamente, com o perigo de ultrapassar a

    temperatura mxima admissvel.

    A evoluo da presso no interior da cuba dificilmente previsvel j que o arranque das

    bombas de vcuo feito manualmente, pelo que podem existir esquecimentos, atrasos, etc.

    e depende ainda do estado de uso do leo utilizado nas bombas de vcuo para fazer o

    isolamento entre baixa e alta presso.

    O sistema de vazio dispe de duas bombas de vazio primrio (uma para cada cuba) e duas

    bombas extra, que podem ser ligadas a uma das cubas para formar alto-vcuo. A secagem

    de um transformador demora cerca de 2 horas. Depois desse perodo, o inversor desligado

    e as bombas de alto-vcuo so ligadas at a presso baixar dos 5 mbar. Passado algum

    tempo, apenas com uma bomba de alto vcuo ligada, e de acordo com instrues do

    operador, o processo de enchimento com o tipo de leo certo e a quantidade apropriada

    para o transformador em causa inicia-se.

    Para o sistema de aquecimento arrancar, o operador tem que inserir os parmetros elctricos

    do transformador e dar a ordem de arranque. O sistema de controlo de aquecimento faz a

    verificao dos parmetros introduzidos e se existirem erros, pede a sua re-introduo.

    Depois dos parmetros serem introduzidos correctamente o sistema arranca com o clculo

    da resistncia inicial dos enrolamentos, que sempre feito a 100% da corrente nominal do

    transformador (IN) durante 30 segundos, considerando que no existe auto-aquecimento

    durante a medida inicial. Posteriormente, medida a percentagem de desequilbrio entre as

    3 fases do transformador (se ele for trifsico). Se este valor estiver dentro dos limites o

    processo continua para a fase de aquecimento, seno lanado um alarme. Na fase inicial,

    quando a temperatura est muito baixa, por ex. abaixo dos 50C, a corrente injectada a

    corrente mxima, 120% de IN, pelas razes atrs referidas. S quando a temperatura est

  • Apresentao do Caso de Estudo

    10

    prxima dos 80C que existe a necessidade de um controlador de temperatura. Por razes

    de segurana existem condies de saturao que limitam, por software, em qualquer altura

    do programa, a corrente a 220A ou a 120% IN, o que for menor. Para alm destes

    limitadores por software, existem proteces de hardware que so ajustadas pelo sistema de

    controlo, durante o incio do processo, para o mais baixo dos dois valores: 220A ou 1,3 IN.

    A fase de aquecimento interrompida, caso ocorra uma falha que origine um alarme. Neste

    caso a interface grfica deve apresentar ao operador o alarme que ocorreu, bem como a

    aco correctiva que o operador deve tomar, caso haja. Se o alarme for grave a fase de

    aquecimento termina, se no a fase de aquecimento continua logo aps a interveno do

    operador. A fase de aquecimento termina no final do tempo de aquecimento.

    A superviso e o controlo local do processo industrial descrito requerem o uso de uma

    interface grfica inteligente. Esta interface deve permitir a introduo de dados relevantes

    para o processo, tais como a potncia nominal do transformador a secar, a corrente nominal,

    o nmero de fases, etc., bem como a apresentao de dados, em tempo real, sobre a

    secagem em curso. Por exemplo, durante a secagem o operador deve poder visualizar a

    temperatura actual, corrente injectada na carga, grficos da evoluo da temperatura,

    formas de onda da corrente, etc.

    Como analisado, a instrumentao deste processo revela-se crtica, dado que uma medio

    errada ou uma falha a nvel da instrumentao pode causar danos no transformador em

    secagem, no limite a volatilizao do verniz que origina a indisponibilidade temporal do

    equipamento de secagem. O facto deste processo ser no linear reala ainda mais esta

    criticalidade, porque o seu controlo pode originar variaes bruscas da potncia entregue

    carga. Assim, alm da elevada preciso de medio exigida instrumentao ainda

    exigida uma elevada fiabilidade de funcionamento. Em contrapartida, a elevada preciso de

    medio da potncia activa e da corrente requerem a utilizao de taxas de amostragem

    elevadas e clculos intensivos.

    Quanto ao controlo deste processo, tambm se revela bastante complexo devido ao facto

    deste ser no linear e variante no tempo. Tal exige a utilizao de uma plataforma fivel e

    eficiente, que permita o desenvolvimento de novos algoritmos de controlo que consigam

    explorar o sistema na sua zona de desempenho mxima. Alm da execuo do algoritmo de

    controlo, esta plataforma ainda responsvel pela medio da temperatura ambiente,

    gerao dos sinais de pwm de comando do inversor, gerao do sinal de referncia para o

  • Apresentao do Caso de Estudo

    11

    ngulo de atraso dos tiristores do rectificador, etc.

    O isolamento galvnico entre circuitos de controlo e potncia tambm necessrio, para

    evitar que uma falha na potncia no leve destruio do sistema de controlo.

    Neste quadro, surge a necessidade da utilizao de uma plataforma distribuda, onde as

    funes de instrumentao, interface, controlo e actuao so executadas em diferentes

    subsistemas, representados por ns. Os vrios ns so interligados por uma ou mais redes

    de comunicao.

    2.3 Requisitos do Subsistema de Aquisio

    O subsistema de aquisio o responsvel pela aquisio da corrente e tenso nos

    enrolamentos do transformador, bem como pela medio da potncia activa, corrente rms e

    temperatura ambiente. Para alm disto, este subsistema ainda calcula a temperatura nos

    enrolamentos do transformador, com base nos valores medidos para a corrente, potncia

    activa e temperatura ambiente. Os requisitos impostos ao subsistema de aquisio so os

    seguintes:

    Aquisio de correntes com valores entre 0.2 e 240A, com um erro menor que

    2%.

    Aquisio de tenses com valores entre 2 e 381V, com um erro menor que 2%.

    Medio da corrente rms e potncia activa, com um erro menor que 2.5%.

    Medio da temperatura ambiente com valores entre 0 e 62.5C, com um erro

    menor que 2%.

    Clculo da temperatura nos enrolamentos do transformador.

    2.4 Requisitos do Subsistema de Controlo

    O subsistema de controlo responsvel pelo processamento da informao do processo,

    pela execuo do algoritmo de controlo de temperatura nos enrolamentos do transformador

    e pela gerao dos sinais de comando dos dispositivos semicondutores de potncia. Cabem

    a este sistema a realizao de funes to distintas como a leitura de parmetros

    introduzidos pelo operador na consola, a gerao dos sinais de pwm, a deteco de avarias,

    a gerao de alarmes, etc. As funes ou requisitos do subsistema de controlo so:

  • Apresentao do Caso de Estudo

    12

    Recepo de dados e comandos, sobre o processo de secagem, introduzidos

    atravs da interface grfica.

    Envio de dados sobre os valores absorvidos de corrente, potncia, tenso e

    temperatura, para a interface grfica.

    Gerao do sinal de referncia para o ngulo de atraso dos tiristores do

    rectificador.

    Gerao dos sinais de pwm para comando do inversor. A forma de onda de

    tenso sada do inversor deve ser uma sinuside com uma frequncia fixa (5Hz)

    e amplitude varivel, atravs do ndice de modulao e da tenso no barramento

    DC.

    Controlo da corrente no transformador em secagem num intervalo de tempo

    varivel de acordo com a temperatura actual, mantendo um regime final de

    temperatura (variao da temperatura em regime permanente menor que 2.5%

    do valor final pretendido).

    Teste de sobrecarga (pedido de corrente superior a 1,3 IN).

    Teste de desequilbrio da amplitude das correntes nas fases (desequilbrio de

    corrente nos enrolamentos do transformador superior a 5%).

    Teste de sobreaquecimento do transformador (a temperatura dos enrolamentos

    ultrapassou os 130C).

    Gerao de vrios sinais de alarme em caso de falha do processo de secagem.

    Comunicao de informao sobre a secagem a um controlador externo.

    2.5 Requisitos da interface

    A interface com o utilizador permite a superviso e o controlo local do processo de

    secagem de transformadores. Para tal esta interface deve permitir:

    Introduo e alterao de dados relevantes para o processo de secagem, tais como a

    potncia nominal do transformador a secar, a corrente, nmero de fases, etc.

    Envio de ordens para o controlador do processo, tais como arranque ou paragem da

  • Apresentao do Caso de Estudo

    13

    secagem.

    Apresentao de dados, em tempo real, sobre a secagem em curso.

    Apresentao de informao sobre alarmes, bem como as aces correctivas que o

    operador deve tomar, caso existam.

    Re-arranque ou finalizao de uma secagem interrompida por um alarme.

    Contudo, as operaes de introduo e alterao de dados so limitadas fase inicial de

    arranque da secagem, onde ainda no est a ser aplicada corrente carga. Esta limitao

    impede que o operador possa colocar o funcionamento do processo em risco atravs da

    introduo de parmetros errados durante a secagem (quando est a ser aplicada corrente

    carga).

    2.6 Concluso

    Neste captulo estudaram-se as caractersticas do processo de secagem de transformadores,

    bem como alguns dos requisitos a impor soluo a desenvolver, nomeadamente alguns

    que do causalidade emergncia de uma plataforma distribuda para a implementao do

    sistema.

  • 15

    3 Sistemas Distribudos de Controlo

    3.1 Introduo

    Actualmente, o funcionamento das estruturas computacionais assenta cada vez mais na

    utilizao de redes de comunicao e de sistemas distribudos, substituindo a tradicional

    organizao em torno de sistemas centralizados. De facto, esta nova orientao motivada

    por aspectos to importantes como a descentralizao das responsabilidades e a partilha de

    recursos, que podem ser obtidos atravs da distribuio. A concretizao destes aspectos

    reflecte-se no s numa melhor eficincia e desempenho da organizao, como tm

    consequncias muito positivas do ponto de vista econmico.

    Assim, conveniente, e a evoluo actual dos sistemas para l aponta, que na rea do

    controlo e da superviso de processos industriais se caminhe no sentido de uma cada vez

    maior distribuio.

    Tal distribuio permite a implementao de sistemas de controlo bem mais complexos,

    com requisitos estritos envolvendo a tolerncia a falhas e a flexibilidade. Os sistemas de

    controlo embebidos so um exemplo deste tipo de sistemas, tais como aqueles usados no

    controlo de automveis para aplicaes drive-by-wire, steer-by-wire, brake-by-wire, etc. As

    vantagens dos sistemas distribudos de controlo esto documentadas em vrias fontes. Por

    exemplo, o uso de controlo digital avanado em automveis permite melhorar a

    estabilidade, a segurana, reduzir o consumo de combustvel e a poluio, melhorar a

    performance, etc., (Pimentel e Salazar, 2002).

    As exigncias de tempo real so uma das principais caractersticas de desempenho dos

    sistemas distribudos de controlo. So estas exigncias que evidenciam a necessidade de

    garantir que as operaes executadas pelo sistema terminam antes do tempo mximo

    estabelecido. Como num sistema distribudo de controlo a execuo do cdigo e os dados

    esto distribudos em diversos ns locais, as caractersticas de tempo real tambm tm que

    ser estendidas s redes de comunicao. A necessidade de protocolos de comunicao

  • Sistemas Distribudos de Controlo

    16

    determinsticos, isto , que tenham tempos mximos de transmisso previsveis, aparece

    naturalmente para que o desempenho das comunicaes possa ser contabilizado na

    caracterizao das restries temporais a impor aos clculos, face s restries temporais de

    todo o conjunto.

    O objectivo deste captulo o de caracterizar os sistemas distribudos de controlo, para que

    desta forma se possa definir a arquitectura distribuda para controlo de potncia, bem como

    uma possvel implementao, aplicada em particular ao processo de secagem de

    transformadores.

    3.2 Sistemas Distribudos de Controlo

    Os sistemas distribudos de controlo (Figura 3.1) so compostos por um ou mais

    subsistemas, designados de ns, implementados de uma forma distribuda e comunicando

    entre si atravs de uma ou mais redes de comunicao. As tarefas de um sistema distribudo

    de controlo (sensorizao/medio, execuo do algoritmo de controlo e actuao) esto

    espalhadas por diversos mdulos e so executadas de uma forma distribuda em ns

    distintos, interligados por uma rede de comunicao de tempo real. Tipicamente, um dos

    ns responsvel pela execuo do algoritmo de controlo, sendo os restantes responsveis

    pelas tarefas de sensorizao/medio e actuao.

    Os ns da rede de comunicao tm que executar as suas tarefas num intervalo de tempo

    mximo especificado, a fim de cumprir os requisitos temporais impostos pelo sistema de

    controlo. Para tal, as caractersticas de processamento dos vrios ns e da rede de

    comunicao so projectadas de forma a garantir que os requisitos e restries dos sistemas

    de controlo so cumpridos.

    N Controlador

    Rede de Comunicao

    N de Sensorizao/Medio 1

    N de Sensorizao/Medio n

    N Actuador

    Figura 3.1: Arquitectura geral de um Sistema Distribudo de Controlo.

    Num sistema de controlo tradicional as tarefas de sensorizao/medio, execuo do

    algoritmo de controlo e actuao so estritamente sequenciais. Num sistema distribudo de

  • Sistemas Distribudos de Controlo

    17

    controlo tais tarefas podem ser executadas em paralelo ou de um modo sobreposto,

    introduzindo assim o problema de sincronizao que precisa de ser correctamente tratado

    na fase de projecto, (Pimentel e Salazar, 2002). Talvez o impacto principal do uso de um

    sistema de comunicao dentro de um sistema de controlo seja a necessidade da existncia

    de mecanismos de sincronizao, para que as tarefas de sensorizao/medio, execuo do

    algoritmo de controlo e actuao sejam executadas e comunicadas s suas localizaes

    fsicas de uma forma que esteja de acordo com os princpios de controlo.

    Uma das principais vantagens dos sistemas distribudos de controlo a sua capacidade de

    operar mesmo na presena de falhas, atravs do uso de unidades redundantes configuradas

    como unidades tolerantes a falhas (FTU). Esta caracterstica uma vantagem tremenda para

    aplicaes que requerem um elevado grau de segurana e confiabilidade (avies, carros,

    etc.), (Pimentel e Salazar, 2002).

    3.2.1 Modelos de Comunicao para Sistemas Distribudos

    Nos sistemas distribudos de controlo, a distribuio dos dados constitui o objecto central

    em torno do qual se posicionam os vrios ns e em funo do qual todo o sistema

    concebido. Assim, na definio de uma arquitectura deve ter-se em especial ateno a

    forma como os dados circulam no sistema e so utilizados pelos ns, pois tal tem reflexos

    inevitveis no seu funcionamento e desempenho.

    Desta forma, surge a necessidade da utilizao de um modelo de comunicao que garanta

    o fluxo de dados, e o respectivo controlo, entre os diversos ns. Para alm disto,

    necessrio garantir a correcta sincronizao das vrias tarefas (sensorizao/medio,

    execuo do algoritmo de controlo e actuao), de modo a que estas sejam executadas e

    comunicadas s suas localizaes fsicas de uma forma correcta.

    Existem vrios modelos de comunicao que procuram tratar os problemas atrs referidos.

    De entre estes, destacam-se o modelo Cliente-Servidor, Produtor-Consumidor e Mestre-

    Escravo, que de seguida se descrevem.

    3.2.1.1 Modelo de comunicao Cliente-Servidor

    Tipicamente, o modelo de comunicao usado na generalidade das aplicaes distribudas

    o modelo Cliente-Servidor, ilustrado na Figura 3.2. Este constitudo basicamente por dois

    tipos de componentes, designados de cliente e servidor, que podem ser caracterizados da

  • Sistemas Distribudos de Controlo

    18

    seguinte forma:

    Servidores so componentes que fornecem servios; implementam um conjunto de

    tarefas de interesse geral para outros componentes que remotamente lhes podem aceder.

    Clientes so componentes que usam servios; podem executar parte das aplicaes

    localmente e aceder remotamente a servios dos servidores para executarem as tarefas mais

    complexas de manipulao de dados, clculos, entrada/sada, etc.

    ESC

    ON BATTLOAD ONBYPASSFAULT

    Figura 3.2: Modelo de Comunicao Cliente-Servidor.

    Neste modelo, a comunicao sempre iniciada pelo cliente atravs da invocao de um

    servio de um servidor. A invocao do servio transfere o controle de fluxo (mais

    quaisquer dados de entrada) para o servidor e ai permanece at o servio estar completo.

    Quando o servidor terminar, o controlo de fluxo devolvido ao cliente, que por sua vez

    recomea a execuo. A comunicao entre cliente e servidor ilustrada na Figura 3.3.

    Figura 3.3: Comunicao Cliente-Servidor.

    Neste modelo, como os pedidos so invocados de uma maneira assncrona, torna-se muito

    difcil conhecer priori a carga do servidor. Assim, torna-se bastante difcil estimar o atraso

    na invocao de um servio (a dificuldade aumenta com o aumento do nmero de clientes)

    e, consequentemente, garantir um determinado tempo de resposta a um cliente. Por este

    motivo, o modelo de comunicao cliente-servidor considerado temporalmente

    imprevisvel.

    3.2.1.2 Modelo de comunicao Produtor-Consumidor

    O modelo de comunicao Produtor-Consumidor constitudo basicamente por dois tipos

    de componentes, designados de produtor e consumidor, que podem ser caracterizados da

    seguinte forma:

  • Sistemas Distribudos de Controlo

    19

    Produtores so componentes que produzem servios.

    Consumidores so componentes que consomem servios.

    Figura 3.4: Modelo de Comunicao Produtor-Consumidor.

    No modelo de comunicao produtor-consumidor, a comunicao sempre iniciada pelo

    produtor atravs da publicao do servio produzido. Os consumidores mediante o servio

    publicado, consomem, ou no, esse servio conforme sejam, ou no, subscritores.

    Tipicamente, os consumidores ou esperam (espera activa) pela publicao de um novo

    servio; ou ignoram o tempo de publicao e utilizam o ltimo servio publicado. A

    comunicao entre produtor e consumidores ilustrada na Figura 3.5.

    Produtor

    Consumidor A

    1

    3Tempo

    5

    4Consumidor B

    2 6 7

    8

    Figura 3.5: Comunicao Produtor-Consumidores.

    Legenda:

    1, 5: Publicao de servio;

    2, 6: Consumo de servio e execuo;

    3, 7: espera (activa) da publicao de um novo servio;

    4, 8: Consumo do ltimo servio publicado e execuo;

    Neste modelo, como o produtor no necessita de conhecer a identidade, ou mesmo a

    existncia dos consumidores, o grau de desacoplamento entre componentes elevado.

    Porm, um dos pr-requisitos para a obteno da previsibilidade temporal a de que os

    consumidores tornem explicito os servios que subscrevem. Normalmente, em sistemas

    embebidos este tipo de informao est disponvel. Assim, como os dados e controlo de

    fluxo flem unidireccionalmente atravs de uma srie de componentes, a ordem de

  • Sistemas Distribudos de Controlo

    20

    execuo e o atraso ponta a ponta tornam-se altamente previsveis, o que torna este modelo

    temporalmente previsvel.

    3.2.1.3 Modelo de comunicao Mestre-Escravo O modelo de comunicao Mestre-Escravo (Figura 3.6) caracterizado pela existncia de

    dois componentes fundamentais: o mestre e o escravo. A abordagem deste modelo a de

    atribuir ao mestre a caracterstica de coordenar a execuo das actividades e aos escravos as

    funes de fornecer os dados pedidos e executar as ordens do mestre.

    Mestre Escravo 2

    Escravo 1 Escravo n

    Pedido de dado A

    Envio de dado A

    Pedido de execuo

    Figura 3.6: Modelo de Comunicao Mestre-Escravo. No modelo de comunicao mestre-escravo, a comunicao sempre iniciada pelo mestre

    atravs do envio de um pedido (dados ou execuo de uma ordem) a um dos escravos. O

    escravo, ao receber o pedido do mestre, responde, fornecendo os dados pedidos ou

    executando a ordem. A comunicao entre mestre e escravos ilustrada na Figura 3.7.

    Mestre

    Escravo 11

    2Tempo

    34

    5

    6

    7

    Escravo 2

    Figura 3.7: Comunicao Mestre-Escravo.

    Legenda:

    1- Pedido de execuo (Produo de dado B);

    2- Pedido de dado A;

    3- Envio de dado A;

    4- Pedido de dado B;

    5- Envio de dado B;

    6- Pedido de dado C;

    7- Envio de dado C;

    Neste modelo, como as funes so distribudas por vrios escravos, torna-se bastante

  • Sistemas Distribudos de Controlo

    21

    simples estimar o atraso na realizao de uma determinada tarefa. Por este motivo, o

    modelo de comunicao mestre-escravo considerado temporalmente previsvel.

    3.2.2 Sistemas de Controlo em Tempo Real

    Os sistemas de tempo real e as suas aplicaes so uma das reas mais debatidas e

    investigadas. Vrios livros e artigos tm sido elaborados sobre este assunto, uma vez que

    este um tipo de sistema com inmeras aplicaes. Como exemplos, pode apresentar-se o

    sistema de controlo de um automvel, uma base de dados de tempo real, um sistema de

    superviso e gesto de produo, uma mquina de raios-X e sistemas muito mais

    complexos, como os sistemas de aviao e de navegao subaqutica e espacial.

    Os tpicos de interesse desta rea so muitos, incluindo-se a identificao das

    caractersticas dos sistemas de tempo real, o escalonamento das tarefas, sistemas

    operativos, linguagens de programao, os sistemas distribudos, a tolerncia a falhas, etc.

    3.2.2.1 Definio de Sistemas de Tempo Real

    A definio mais usada na literatura, e universalmente aceite como correcta a de que um

    Sistema de Tempo Real um sistema em que a correco do resultado dado no depende

    apenas do resultado lgico da computao, mas tambm do instante em que este resultado

    produzido. Tambm no dicionrio de Oxford de Computao se encontra uma definio

    semelhante, (Wellings, 1991):

    Qualquer sistema em que o instante em que os resultados so produzidos

    significativo. Isto normalmente porque as entradas correspondem a movimentos

    no mundo fsico, e as sadas tm que se relacionar com os movimentos. O

    intervalo entre o instante de entrada e o instante de sada deve ser suficientemente

    pequeno para uma pontualidade aceitvel.

    3.2.2.2 Caractersticas dos Sistemas de Tempo Real

    A existncia de requisitos temporais uma caracterstica fundamental de um sistema de

    tempo real. Estes necessitam de executar dentro de uma janela temporal, com prazos de

    resposta e de execuo. So estes requisitos temporais que, na maior parte das vezes,

    definem a classificao do sistema envolvido.

    Os sistemas de tempo real so normalmente sistemas embebidos, porque controlam um

    sistema genrico, do qual fazem parte, (Levi e Agrawala, 1990). Esta situao pode ser

  • Sistemas Distribudos de Controlo

    22

    encontrada no controlo computorizado de um automvel, num sistema de controlo de um

    rob, no controlo de produo de uma fbrica, etc.

    Os sistemas de tempo real interactuam, geralmente, com o ambiente envolvente. Isto requer

    uma interface com os dispositivos que captam o estado actual do sistema e com os

    dispositivos que enviam ordens ao sistema, de modo a o controlar. Este controlo

    normalmente realizado em tempo real e sem interveno humana. Se a resposta do

    sistema de controlo depender no s do estado actual do sistema, mas tambm de algum

    evento externo, ento estes sistemas so reactivos.

    A concorrncia e interaco de processos uma caracterstica inerente maior parte dos

    sistemas fsicos, que servem de ambiente aos sistemas de tempo real. Por isso estes so

    constitudos, geralmente, por um conjunto de tarefas concorrentes.

    Uma caracterstica geralmente apontada aos sistemas de tempo real a rapidez de

    execuo. No entanto, um sistema de tempo real no deve ser rpido (que um termo

    relativo), mas sim ser mais rpido que o ambiente que o envolve. O controlo de um mssil

    tem que ser feito em poucos milissegundos, mas numa linha de produo pode ser

    suficiente actuar em segundos, (Stankovic, 1988). A rapidez muitas vezes necessria, mas

    no suficiente. Ser rpido em mdia no garante que o sistema cumprir os requisitos

    temporais de cada tarefa1.

    Em (Stankovic, 1988), Stankovic descreve um novo tipo de sistemas de tempo real,

    sistemas da prxima gerao, que alm das caractersticas apresentadas sero muito mais

    complexos, distribudos, inteligentes, adaptativos e dinmicos. Estes sistemas sero

    necessrios para as aplicaes do futuro, nomeadamente explorao remota no espao e no

    mundo submerso e certamente necessitaro de um processo de desenvolvimento muito mais

    cuidadoso.

    Muita investigao tem sido feita volta dos sistemas de tempo real. No entanto, pouco se

    tem avanado em termos destes sistemas como um todo. Os avanos existentes tm sido em

    novas aplicaes, algoritmos de escalonamento dinmicos e principalmente em sistemas

    distribudos de tempo real. Muitas das questes identificadas por Stankovic em (Stankovic,

    1988), receberam muita ateno, mas ainda existem muitas questes (antigas e novas) que

    1 Sobre este assunto Stankovic, em (Stankovic, 1992), cita: e ento h o homem que se afogou ao atravessar um ribeiro

    com uma profundidade mdia de seis polegadas;

  • Sistemas Distribudos de Controlo

    23

    tm que ser resolvidas, (Shin e Ramanathan, 1994). A investigao sobre sistemas de tempo

    real ainda bastante necessria, existindo, assim, muitos tpicos que necessitam de maior

    ateno, (Wellings, 1991; Shin e Ramanathan, 1994):

    Metodologias de desenvolvimento, incluindo as metodologias orientadas por

    objectos, em que o factor tempo seja considerado desde o incio do processo;

    Algoritmos de escalonamento que lidem com a complexidade dos novos sistemas,

    as suas necessidade de recursos e requisitos temporais;

    Especificao formal dos sistemas de tempo real;

    Tcnicas de verificao e validao que tenham em conta as necessidades dos

    sistemas de tempo real;

    Arquitecturas de comunicao em tempo real;

    O estudo das aplicaes de tempo real, seja a inteligncia artificial, as bases de

    dados, os sistemas de controlo, etc.;

    Tolerncia a falhas e o suporte a ela fornecido pelas linguagens e sistemas

    operativos;

    3.2.2.3 Classificao dos Sistemas de Tempo Real

    Embora muitas vezes referidos como uma classe de sistemas, os sistemas de tempo real

    diferenciam-se bastante uns dos outros e os pressupostos assumidos para uma determinada

    classe, dificilmente se aplicam a outras. necessrio distinguir as diferenas entre cada

    classe de sistemas e classificar cada um deles segundo vrias vertentes.

    3.2.2.3.1 Criticalidade dos Requisitos Temporais

    A classificao mais conhecida e referenciada em quase todos os documentos escritos sobre

    estes sistemas , a da exigncia dos requisitos temporais que o sistema tem que cumprir.

    Assim sendo, estes so basicamente divididos em sistemas crticos e sistemas no crticos.

    Sistemas de tempo real crticos (Hard Real-Time Systems) so todos aqueles em que o no

    cumprimento dos requisitos temporais pode resultar numa falha do sistema. Em

    contrapartida, quando a falha de uma restrio temporal, embora no crtica, no seja

    sinnimo de uma falha do sistema, os sistemas so denominados no crticos (Soft Real-

    Time Systems).

  • Sistemas Distribudos de Controlo

    24

    A classificao dos sistemas de tempo real como um todo segundo a criticalidade a eles

    associada, embora muito generalizada, no tem em conta a concorrncia inerente a qualquer

    sistema fsico, onde evoluem vrios processos paralelos, necessrios ao seu funcionamento.

    Portanto, para obter um modelo mais realstico do problema, necessrio que o sistema

    evolua em concorrncia, para um mais fcil e mais claro desenvolvimento, (Gomaa, 1993).

    Neste caso um sistema de tempo real tem que processar um conjunto de tarefas diferentes,

    algumas crticas ao funcionamento do sistema, outras no crticas mas necessrias e outras

    que nem tempo real so, (Bennet, 1994), como por exemplo a anlise posterior dos dados

    recolhidos.

    3.2.2.3.2 Classificao das Tarefas de um Sistema de Tempo Real

    A diviso em sistemas crticos ou no crticos, deve ser aplicada, no ao sistema como um

    todo, mas s tarefas que dele fazem parte. Uma tarefa crtica ser aquela em que o no

    cumprimento da restrio temporal a ela associada implicar uma falha no sistema, enquanto

    que uma tarefa no crtica caracterizada por uma restrio temporal que, se no cumprida,

    no implica uma falha, (Panzieri e Davoli, 1993). Stankovic, (Stankovic, 1992), define

    melhor uma tarefa no crtica como aquela em que o resultado da computao detm algum

    valor, embora pequeno, aps o fim do prazo temporal.

    Figura 3.8: Valor do resultado das tarefas aps o fim do prazo temporal.

    A necessidade de melhor especificar as diferenas entre os requisitos temporais das tarefas

    levou ao aparecimento de outras definies, que tentam colmatar as falhas da noo

    anterior, muito geral. Shin, (Shin e Ramanathan, 1994), e Laplante, (Laplante, 1993),

    dividem as tarefas de tempo real em tarefas crticas, no crticas ou firmes (Firm Real-Time

    Tasks). Numa tarefa crtica o no cumprimento do respectivo prazo temporal implica uma

    falha no sistema, no entanto numa tarefa firme o resultado obtido deixa de ser til, mas as

    consequncias de no cumprir o prazo temporal no so severas. Se o valor do resultado

  • Sistemas Distribudos de Controlo

    25

    diminuir ao longo do tempo aps o fim do prazo, no implicando uma falha no sistema, as

    tarefas so no crticas.

    Na Figura 3.8 est representado o valor do resultado obtido da tarefa aps o fim do prazo

    temporal. Numa tarefa crtica esse valor pode ser representado como negativo, pois origina

    falha. Numa tarefa firme, por outro lado o valor, aps o prazo temporal, passa a ser zero.

    Numa tarefa no crtica o valor vai decrescendo ao longo do tempo.

    Em (Stankovic, 1992), Stankovic refere ainda que um valor ligado ao resultado de uma

    tarefa, alm de se poder modificar com o tempo, pode ainda ser colocado na qualidade do

    resultado, sendo que s vezes um resultado no exacto mas atempado pode ser considerado

    melhor que um resultado exacto mas fora do tempo. Por exemplo, num sistema de controlo

    mais vale dar uma ordem baseada nos dados do instante anterior, do que dar a ordem fora

    de tempo. Para alm disso existem solues em que perder um determinado nmero de

    prazos temporais pode no provocar uma falha, desde que no ultrapasse um certo limite.

    As tarefas de um sistema de tempo real podem tambm ser classificadas quanto sua

    natureza temporal. O mais comum dividir as tarefas em peridicas e no peridicas. As

    tarefas peridicas so executadas com um perodo fixo, por exemplo a leitura de um sensor

    de x em x segundos, enquanto que as tarefas no aperidicas so aquelas em que no se

    conhece previamente o instante da sua execuo, por exemplo a resposta a uma interrupo.

    Em (Panzieri e Davoli, 1993) e (Burns, 1991) esta ltima classificao dividida segundo a

    criticalidade associada tarefa. Assim, uma tarefa no peridica e no crtica classificada

    como aperidica, enquanto que se for crtica classificada como espordica.

    Finalmente, uma tarefa pode ser classificada segundo o relaxamento (folga que existe entre

    o prazo temporal e o tempo de computao) permitido, (Stankovic e Ramamritham, 1993).

    Assim, podemos ter requisitos temporais apertados quando a janela temporal pequena, ou

    quando o tempo necessrio computao grande. Em muitos sistemas predominam os

    requisitos temporais apertados e consequentemente necessrio desenvolver tcnicas

    simples e rpidas para responder a estas situaes, como por exemplo tempos de reaco

    rpidos dos sistemas operativos de tempo real e algoritmos de escalonamento simples,

    (Stankovic, 1992).

    3.2.2.3.3 Grau de confiana do Sistema

    Existe uma grande diferena entre um sistema que controla uma central nuclear, um sistema

  • Sistemas Distribudos de Controlo

    26

    que controla uma bolsa de valores e um sistema de base de dados de tempo real. Enquanto

    que nos dois primeiros uma falha implica uma catstrofe, em termos de vidas humanas, ou

    de graves problemas financeiros, no ltimo uma falha no acarreta consequncias desta

    dimenso. Assim, existem sistemas em que necessrio uma grande confiana na sua

    operao, o que leva necessidade de garantir tolerncia a falhas. As tarefas crticas destes

    sistemas so geralmente analisadas previamente, sendo-lhes garantidos os recursos

    necessrios ao seu correcto funcionamento, mesmo que isto implique um baixo factor de

    utilizao dos mesmos, (Hull e Liu, 1993).

    Os sistemas mais crticos exigem redundncia, seja espacial, com a introduo de

    componentes adicionais tanto de hardware como de software, seja temporal, com a

    repetio de certos processamentos, para garantir o correcto funcionamento em caso de

    falha.

    A questo dos mecanismos de tolerncia a falhas tem vindo a ganhar grande importncia

    devido cada vez maior complexidade encontrada nos sistemas de tempo real e cada vez

    maior aplicao destes nos sistemas crticos de segurana (safety-critical), onde as falhas

    podem ser catastrficas.

    3.2.2.3.4 Dimenso e Complexidade dos Sistemas

    Os sistemas de tempo real variam consideravelmente em dimenso e complexidade,

    (Stankovic e Ramamritham, 1993). Sistemas simples, muitas vezes produzidos em grande

    quantidade, no necessitam dos cuidados de desenvolvimento necessrios aos sistemas

    grandes e complexos. Por exemplo, num sistema pequeno fcil ter o software todo

    carregado em memria, enquanto que num sistema grande isso pode no ser possvel (ou

    ter custos demasiados elevados), mas os mecanismos de memria virtual no so aceitveis

    devido sua grande imprevisibilidade, (Stankovic, 1992).

    possvel, s vezes, um prvio conhecimento e anlise de sistemas pequenos, sendo,

    portanto, razoavelmente fcil atingir o objectivo de previsibilidade. Para isso necessrio

    conhecer e prever as caractersticas de cada tarefa, os seus requisitos de recursos e

    computao, assim como as possveis mudanas de ambiente em que o sistema se insere. A

    no ser para sistemas bastante simples e estticos pouco provvel que esta informao

    esteja toda disponvel na fase de desenvolvimento, (Shin e Ramanathan, 1994).

    Em sistemas mais complexos necessrio que o sistema seja flexvel para se adaptar s

  • Sistemas Distribudos de Controlo

    27

    mudanas no ambiente envolvente. As tarefas crticas podem requerer na mesma uma

    anlise esttica prvia do sistema, de modo a garantir a sua execuo. Outras tarefas podem

    apenas ter garantias probabilsticas, ou mesmo s durante a execuo. Para as tarefas

    crticas, garante-se a probabilidade de uma tarefa cumprir o seu requisito temporal (ou

    ento que uma percentagem das tarefas o cumpre), enquanto que nas ltimas apenas

    aquando da activao da tarefa que o sistema determina ou no se possvel escalona-la

    sem colocar em perigo as restantes, (Shin e Ramanathan, 1994). Se o for, a tarefa

    escalonada junto com as outras e com 100% de garantia de execuo, se no, a tarefa

    abortada.

    3.2.2.3.5 Ambiente Envolvente

    A maior parte dos sistemas de tempo real existem para controlar um sistema envolvente,

    sendo necessrio conhecer este para se construir um bom sistema de controlo. A estrutura

    da aplicao de controlo, a criticalidade das tarefas, o tamanho do sistema e a sua

    complexidade dependem em grande parte do sistema envolvente. O ambiente em que o

    sistema opera desempenha, assim, um papel importante no seu desenvolvimento.

    Um ambiente bem definido regra geral tem acontecimentos determinsticos, controlados e

    em que geralmente no acontece nenhum imprevisto (o que nem sempre verdade), dando

    lugar a sistemas em que podem ser conhecidas previamente todas as caractersticas das

    tarefas. Deste modo, possvel considerar esses sistemas como previsveis, (Stankovic e

    Ramamritham, 1993).

    No entanto, sistemas bem definidos so raros. Mesmo que o sejam durante o

    desenvolvimento o ambiente modifica-se ao longo do tempo, implicando novas situaes,

    para as quais o sistema no se encontra preparado. muito mais difcil atingir a

    previsibilidade neste tipo de sistemas, (Stankovic e Ramamritham, 1993), e como tal so

    muito mais complexos a desenvolver.

    3.2.2.4 Tolerncia a Falhas

    Cada vez mais os sistemas de computadores em geral e os de tempo real em particular, so

    utilizados em situaes em que a sua falha implica perdas, tanto humanas como materiais.

    Sendo assim, natural que a tolerncia a falhas nos sistemas de tempo real seja um factor

    importante a ter em conta no seu desenvolvimento.

    Tolerncia a falhas definida, informalmente, como a capacidade de um sistema apresentar

  • Sistemas Distribudos de Controlo

    28

    o servio esperado, mesmo na presena de falhas, (Shin e Ramanathan, 1994). Num sistema

    de tempo real o servio tem que ser correcto, no s logicamente, como tambm

    temporalmente. Existem basicamente dois tipos de falhas, recuperveis e no recuperveis.

    As falhas recuperveis so aquelas em que possvel recuperar de uma situao de erro de

    forma automtica, ou com a interveno de um operador. As no recuperveis so aquelas

    em que no possvel recuperar de uma situao de erro, devendo neste caso serem

    accionados, caso existam, os mecanismos auxiliares. Os sistemas de tempo real tm que ser

    previsveis, mesmo na presena de falhas.

    No entanto, a introduo de mecanismos de correco de falhas pode ter como

    consequncia o incumprimento dos requisitos temporais. Os algoritmos de deteco e

    correco de falhas introduzem overhead no funcionamento do sistema e portanto tm que

    ser considerados durante o desenvolvimento.

    Deste modo, necessrio introduzir o factor tolerncia a falhas durante o desenvolvimento

    de sistemas de tempo real. O processo de desenvolvimento tem que garantir a

    previsibilidade, mesmo durante possveis situaes de deteco de falhas, em que se realiza

    o seu isolamento, a reconfigurao do sistema e a recuperao, (Shin e Ramanathan, 1994).

    A escolha criteriosa de componentes atravs de um rigoroso controlo de qualidade destes,

    obtendo uma taxa reduzida de falhas, aproximao usada no incio dos sistemas tolerantes a

    falhas, tinha, no entanto, um custo penalizante, (Lala e Harper, 1994). necessrio,

    portanto, considerar o factor econmico, tambm na tolerncia a falhas.

    Existem dois tipos diferentes de sistemas tolerantes a falhas, dependendo da aco de

    recuperao a tomar. Em sistemas em que seja possvel, a recuperao pode ser realizada

    atravs da paragem deste num estado conhecido e seguro (fail-safe systems). Por exemplo a

    paragem de todos os comboios numa determinada linha, devido a falha no sistema de

    controlo. Existem, no entanto, sistemas (fail-operational systems) que obrigam a que o

    controlo continue operacional pois a paragem implicaria perda de vidas humanas, ou de

    bens materiais, por exemplo avies, (Kopetz, Zainlinger et al., 1991). Para estes ltimos

    necessrio detectar as falhas, bem como proceder sua correco, de modo a manter o

    sistema em funcionamento.

    A maioria dos mtodos para sistemas tolerantes a falhas realiza uma troca de espao por

    tempo. A aproximao mais usual para a correco de falhas a de introduzir redundncia

    no sistema. Esta pode ser espacial, em que certos componentes so replicados, ou temporal,

  • Sistemas Distribudos de Controlo

    29

    em que computaes podem ser repetidas, (Shin e Ramanathan, 1994).

    Para obter uma grande fiabilidade a redundncia utilizada obriga a algoritmos elaborados

    de gesto de recuperao de falhas, introduzindo um overhead adicional no sistema, o que

    pode ser prejudicial sua previsibilidade. Portanto, a redundncia e a previsibilidade

    apresentam, muitas vezes, requisitos opostos. Assim, a redundncia tem que ser

    considerada de modo a garantir previsibilidade e fiabilidade ao mesmo tempo.

    claro que a probabilidade mxima admissvel de falha num sistema bastante dependente

    do tipo de sistema. Sistemas crticos de segurana, em que falhas podem provocar a perda

    de vidas humanas so os mais exigentes (por exemplo, 10-10 de probabilidade de falha para

    o sistema de fly-by-wyre do Airbus A-320), estando os sistemas interactivos