Bactérias de Gram negativo produtoras de β-lactamases e...

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Universidade de Lisboa Faculdade de Ciências Departamento de Biologia Animal Bactérias de Gram negativo produtoras de β-lactamases e mecanismos moleculares implicados na expressão da resistência à tigeciclina Stephanie Vieira Barbosa Dissertação Mestrado em Biologia Humana e Ambiente 2013

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Universidade de Lisboa

Faculdade de Ciências

Departamento de Biologia Animal

Bactérias de Gram negativo produtoras de β-lactamases e

mecanismos moleculares implicados na expressão da

resistência à tigeciclina

Stephanie Vieira Barbosa

Dissertação

Mestrado em Biologia Humana e Ambiente

2013

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2013

Bactérias de Gram negativo produtoras de β-lactamases e

mecanismos moleculares implicados na expressão da

resistência à tigeciclina

Stephanie Vieira Barbosa

Universidade de Lisboa

Faculdade de Ciências

Departamento de Biologia Animal

Dissertação

Mestrado em Biologia Humana e Ambiente

Orientadores

Professora Doutora Manuela Caniça, Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge

Professora Doutora Maria Teresa Rebelo, Departamento de Biologia Animal, Faculdade de

Ciências, Universidade de Lisboa

2013

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Agradecimentos

i

Agradecimentos

À Doutora Manuela Caniça, por me receber no laboratório, proporcionando a

realização desta tese de mestrado, assim como pela orientação, disponibilidade e

conhecimentos partilhados, que tanto acrescentou na minha formação.

À Doutora Eugénia Ferreira, pela orientação e contribuição no laboratório,

bem como pela boa disposição que tornou a rotina mais agradável.

À Doutora Teresa Rebelo, pelo acompanhamento e disponibilidade

demonstrada.

À Doutora Vera Manageiro pela paciência e pela enorme ajuda no

desenvolvimento das práticas laboratoriais, que tanto contribuiu na conclusão deste

trabalho.

À Daniela Dias por toda a ajuda prestada no laboratório e partilha de

conhecimentos, principalmente na parte final deste trabalho.

À Constança Simões e Joana Almeida pela amizade, pelos bons momentos e

por me ajudarem nos momentos que eu precisei.

Aos meus pais, por todo amor e apoio constante, apesar das centenas de

quilómetros que nos separam.

À minha família por todo apoio, principalmente à minha irmã Cássia pelo

momentos compartilhados e pela paciência ao longo deste ano.

Aos meus amigos, que sabem quem são, pela amizade, incentivo e por terem

acreditado sempre em mim.

À Doutora Manuela Caniça e ao Instituto Nacional da Saúde Dr. Ricardo

Jorge pelas condições de trabalho que me proporcionaram e colaboração prestada sem

as quais não seria possível a realização deste trabalho.

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Resumo

ii

Resumo

A emergência de bactérias de Gram negativo com resistência aos antibióticos,

particularmente, as produtoras de β-lactamases, tem vindo a comprometer as opções de

tratamento disponíveis. Este trabalho teve como objetivo avaliar a suscetibilidade e

caracterizar os mecanismos de resistência à tigeciclina, pela ação de bombas de efluxo,

em 211 isolados de Gram negativo, assim como esclarecer a atividade in vitro deste

antibiótico em bactérias com suscetibilidade diminuída a outras classes de antibióticos,

sobretudo β-lactâmicos, e com eventual produção de β-lactamases.

Os testes de suscetibilidade permitiram identificar 73% de isolados suscetíveis à

tigeciclina e 89% com multirresistência, dos quais 70% eram suscetíveis à tigeciclina.

Verificou-se ainda uma percentagem elevada de suscetibilidade à colistina e amicacina,

bem como de suscetibilidade diminuída aos antibióticos β-lactâmicos, com exceção dos

carbapenemes.

A caracterização molecular dos mecanismos de resistência aos antibióticos β-

lactâmicos, permitiu identificar a produção de β-lactamases: penicilinases, ESBLs da

família CTX-M [CTX-M-15-(tipo), CTX-M-1, CTX-M-32 e CTX-M-14], TEM (TEM-

4, TEM-10), SHV (SHV-2, SHV-12, SHV-55) e GES (GES-7), bem como

carbapenemases (KPC-3) e AmpC (CMY-2, DHA-1, MIR-tipo); 65% destes isolados

apresentaram suscetibilidade à tigeciclina.

A caracterização molecular dos mecanismos implicados na resistência à

tigeciclina, permitiu identificar no gene ramR de 9 dos 20 isolados de Klebsiella

pneumoniae com suscetibilidade diminuída àquele antibiótico, uma deleção, uma

inserção e de uma a quatro mutações pontuais num mesmo gene, contribuindo para a

sobre-expressão da bomba de efluxo AcrAB. No gene marR de 12 isolados de

Escherichia coli (5 com e 6 sem suscetibilidade diminuída à tigeciclina), foram

detetadas duas mutações pontuais, que sugerem estar associadas à resistência a diversos

antibióticos, podendo contribuir para fenótipos de multirresistência.

Este estudo evidencia diversidade de β-lactamases, sobretudo ESBL, e

emergência de carbapenemases em isolados de Gram negativo. No entanto, estes

isolados mantêm uma importante suscetibilidade aos cabapenemes, colistina, amicacina

e tigeciclina.

Palavras-chave: tigeciclina, Gram negativo, β-lactamase, bomba de efluxo

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Abstract

iii

Abstract

The emergence of antibiotic resistant Gram negative bacteria, particularly β-

lactamase-producing bacteria, seriously compromises the efficacy of the treatment

options available. This study aimed to evaluate the antimicrobial susceptibility, and to

characterize the tigecycline resistance due to efflux pump production, in a collection of

211 Gram negative clinical isolates. Moreover, it meant to clarify the in vitro activity of

tigecycline against isolates resistant to other antibiotic classes, such as β-lactams,

eventually related to β-lactamase production.

Susceptibility testing evaluation identified 73% of tigecycline susceptible

isolates, and 89% of multidrug resistance, among which 70% were susceptible to this

antibiotic. Although there was a high prevalence of β-lactam resistance, carbapenems

were still effective against the majority of the isolates studied, as well as colistin and

amikacin.

Globally, molecular characterization allowed the detection of penicillinases,

ESBLs from families CTX-M [CTX-M-15-(type), CTX-M-1, CTX-M-32 and CTX-M-

14], TEM (TEM-4, TEM-10), SHV (SHV-2, SHV-12, SHV-55) and GES (GES-7), as

well as carbapenemases (KPC-3) and AmpC β-lactamases ( CMY-2, DHA-1, MIR-

tipo); among those, 65% were susceptible to tigecycline.

The molecular analyses of tigecycline resistance mechanisms revealed one

deletion, one insertion and one to four point mutations in the ramR gene that might

contribute to the overexpression of AcrAB efflux pump, in 9 out of 20 Klebsiella

pneumoniae isolates showing reduced susceptibility. Considering the analyses of the

marR gene from 12 Escherichia coli isolates (5 with and 6 without tigecycline

resistance), two point mutations were detected, which might be accountable for the

resistance to several antimicrobial classes, contributing to multidrug resistance

scenarios.

This study showed a great diversity of β-lactamases, such as ESBL, and the

emergence of carbapenemases in Gram negative bacteria. Nevertheless, the studied

isolates still showed decisive susceptibility patterns to carbapenems, colistin, amikacin

and tigecycline.

Key-words: tigecycline, Gram negative, β-lactamases, efflux pump

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Índice

iv

Índice

Agradecimentos .............................................................................................................................. i

Resumo .......................................................................................................................................... ii

Abstract ........................................................................................................................................ iii

Índice de Figuras .......................................................................................................................... vi

Índice de Tabelas ......................................................................................................................... vii

I. Introdução .................................................................................................................................. 1

1. Antibióticos e Resistências ........................................................................................................ 1

1.1.Classes de Antibióticos ........................................................................................................... 1

1.2.Mecanismos de resistência aos antibióticos ............................................................................ 2

1.2.1 Resistência Intrínseca ........................................................................................................... 3

1.2.2. Resistência Adquirida ......................................................................................................... 3

2. Antibióticos β-lactâmicos .......................................................................................................... 4

2.1. Mecanismo de ação dos antibióticos β-lactâmicos ................................................................. 7

2.2. Mecanismos de resistência aos antibióticos β-lactâmicos ...................................................... 7

2.2.1. β-lactamases ........................................................................................................................ 8

2.2.1.1 Classificação de β-lactamases ........................................................................................... 9

2.2.1.2. Família TEM .................................................................................................................. 10

2.2.1.3. Família SHV ................................................................................................................... 11

2.2.1.4. Família CTX-M .............................................................................................................. 11

2.2.1.5. Família OXA .................................................................................................................. 12

2.2.1.6. β-lactamases AmpC........................................................................................................ 13

2.2.1.7. Carbapenemases ............................................................................................................. 14

3. Tigeciclina ............................................................................................................................... 15

3.1. Estrutura química e mecanismo de ação da tigeciclina ........................................................ 16

3.2. Espetro de ação da tigeciclina .............................................................................................. 17

3.3. Resistência à tigeciclina ....................................................................................................... 18

3.3.1. Bomba de efluxo AcrAB-TolC da família RND ............................................................... 19

4. Objetivos ................................................................................................................................. 23

II. Material e Métodos ................................................................................................................. 24

1.Isolados bacterianos ................................................................................................................. 24

2. Caracterização fenotípica: suscetibilidade aos antibióticos .................................................... 25

2.1. Método de microdiluição ..................................................................................................... 25

2.1.1. Preparação da solução-mãe dos antibióticos ..................................................................... 25

2.1.2. Preparação das concentrações dos antibióticos ................................................................. 26

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Índice

v

2.1.3. Preparação das diluições dos antibióticos na microplaca .................................................. 26

2.1.4. Preparação do inóculo bacteriano...................................................................................... 27

2.2. Método de difusão por disco ................................................................................................ 28

2.3. Método de E-teste................................................................................................................. 29

2.4. Teste de sinergia com meropeneme ..................................................................................... 29

3. Caracterização genotípica: mecanismos de resistência aos antibióticos ................................. 30

3.1. Extração de DNA ................................................................................................................. 30

3.2. Pesquisa de genes que codificam β-lactamases .................................................................... 31

3.3. Pesquisa de genes implicados na resistência à tigeciclina.................................................... 34

3.4. Eletroforese em gel de agarose e visualização de DNA ....................................................... 35

3.5. Purificação dos produtos de PCR ......................................................................................... 35

3.6. Sequenciação nucleotídica ................................................................................................... 36

4. Caracterização bioquímica: β-lactamases ............................................................................... 36

4.1. Extração de β-lactamases ..................................................................................................... 37

4.2. Teste do Nitrocefin ............................................................................................................... 37

4.3. Gel de focagem isoelétrica ................................................................................................... 37

4.3.1. Preparação do gel de migração .......................................................................................... 37

4.3.1.1. Migração ........................................................................................................................ 38

4.3.1.2. Preparação do gel de revelação ...................................................................................... 38

III. Resultados ............................................................................................................................. 39

1. Avaliação da suscetibilidade de bactérias de Gram negativo aos antibióticos ........................ 39

1.1. Suscetibilidade a 8 classes de antibióticos ........................................................................... 39

1.2. Suscetibilidade à tigeciclina ................................................................................................. 42

1.3. Análise da multirresistência ................................................................................................ 47

2. Caracterização genotípica dos isolados produtores de β-lactamases ...................................... 49

2. 1. ESBLs, PMAβ e penicilinases ............................................................................................ 49

2. 2. Carbapenemases .................................................................................................................. 56

3. β-lactamases de diferentes famílias produzidas por bactérias de Gram negativo com ou sem

suscetibilidade à tigeciclina ......................................................................................................... 57

4. Contribuição da bomba de efluxo AcrAB-TolC na atividade da tigeciclina ........................... 59

4.1. Análise da sequência nucleotídica do gene marR em E. coli ............................................... 59

4.2. Análise da sequência nucleotídica do gene ramR em K. pneumoniae ................................. 59

IV. Discussão .............................................................................................................................. 62

V. Bibliografia ............................................................................................................................. 74

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Índice de Figuras

vi

Índice de Figuras

Figura 1 - Estrutura química dos antibióticos β-lactâmicos (Adaptado de Martín et al., 2010;

Nordmann et al., 2012). ................................................................................................................. 5

Figura 2 - Estrutura química dos inibidores de β-lactamases (Adaptado de Nordmann et al.,

2012). ............................................................................................................................................ 5

Figura 3 - Classificação das ß-lactamases relacionando o perfil do substrato e dos inibidores de

ß-lactamases com a sua estrutura molecular. Cb, carbapenemes; Cf, cefalosporinas de primeira

geração; CA, ácido clavulânico; EDTA, ácido etilenodiaminotetracético; Esc, Cefalosporina de

espectro alargado; M, monobactamos; Pn, penicilinas (Adaptado de Bush, 2013). ................... 10

Figura 4 - Estrutura química da tigeciclina (A) e da minociclina (B) (Dean et al. 2003) ........... 17

Figura 5 - Estrutura do sistema de efluxo AcrAB-TolC em E.coli (Adaptado de Alvarez-Ortega

et al., 2013). ................................................................................................................................. 20

Figura 6 - Organização genética do locus marAB em E. coli ; PmarI e PmarII, promotores

(Alekshun e Levy, 1999). ............................................................................................................ 21

Figura 7 - Via de regulação da bomba de efluxo AcrAB: a proteina RamR reprime a expressão

do gene ramA que codifica o activador trancripcional acrAB. (Adaptado de Yamasaki et al.,

2013). .......................................................................................................................................... 22

Figura 8 - Distribuição, pelos hospitais de origem, de 211 isolados que constituem a amostra do

estudo. ......................................................................................................................................... 24

Figura 9 - Representação da diluição seriada dos antibióticos na microplaca ............................ 27

Figura 10 - Esquema utilizado para interpretação dos resultados obtidos no teste de sinergia com

meropeneme para deteteção de metalo-β-lactamases, carbapenemases de classe A ou D e β-

lactamases AmpC (cromossómicas ou plasmídicas). BOR, ácido borónico; CLOX, cloxacilina.

..................................................................................................................................................... 30

Figura 11 - Distribuição de 199 isolados suscetíveis e não suscetíveis à tigeciclina por grupo

etário dos doentes. TG, tigeciclina; S, sucetíveis; I/R, suscetibilidade diminuída; (Não

contempla 12 (6%) dos isolados do estudo, cuja idade dos doentes se desconhece). ................. 43

Figura 12 - Distribuição do (A) número de isolados e (B) percentagem, de acordo com a

suscetibilidade à tigeciclina, multirresistência e produção de β-lactamases; OXA: OXA-1-tipo

(n=9); ND, mecanismo de resistência não detetado ou sobrexpressão de β-lactamases (n=16). a

Isolados cuja produção de ESBL CTX-M (isoladamente ou com coexpressão de KPC ou

PMAβ) não implicou a eventual pesquisa da presença de outros genes blaESBL. TGC,

tigeciclina; S, suscetível; I/R, suscetibilidade diminuída; MDR, multirresistente. ..................... 58

Figura 13 - Alinhamento das sequências do gene ramR com a sequência de referência

(Klebsiella pneumoniae subsp. pneumoniae MGH 78578 (CP000647)) do nucleótido G401

ao

nucleótido G480

, representando a deleção nucleotídica do nucleótido G411

ao nucleótido A421

no

isolado TG93. .............................................................................................................................. 60

Figura 14 - Alinhamento das sequências do gene ramR com a sequência de referência

(Klebsiella pneumoniae subsp. pneumoniae MGH 78578 (CP000647)) do nucleótido G1 ao

nucleótido G80

, representando a inserção de 2 nucleótidos entre o nucleótido 50 e 51 no isolado

TG70. .......................................................................................................................................... 60

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Índice de Tabelas

vii

Índice de Tabelas

Tabela 1 - Representação de antibióticos, mecanismos de ação e alvos moleculares (Chopra et

al., 2002; Murray et al., 2007; Tenover, 2006) ............................................................................. 2

Tabela 2 - Classificação das cefalosporinas e exemplos de antibióticos (Murray et al., 2007). ... 6

Tabela 3 - Origem de genes que codificam β-lactamases AmpC (Adaptado de Livermore e

Woodford, 2006) ......................................................................................................................... 14

Tabela 4 - Antibióticos, concentrações das soluções-mãe, solventes e potência dos antibióticos.

..................................................................................................................................................... 25

Tabela 5 - Antibióticos, concentração da solução CIM, diluentes e concentrações testadas na

determinação da concentração inibitória mínima. ....................................................................... 26

Tabela 6 - Sequência de primers para pesquisa de diferentes genes bla utilizados no PCR e na

sequênciaçãoa, tamanho dos respetivos fragmentos e temperatura de hibridação. ...................... 32

Tabela 7 - Sequência e tamanho dos primers ramR e marAB e as condições utilizadas nas

reações de amplificação. ............................................................................................................. 35

Tabela 8 - Suscetibilidade de 211 isolados de Gram negativo a antibióticos de diferentes classes.

..................................................................................................................................................... 41

Tabela 9 - Intervalo de concentrações inibitórias mínimas (CIM) nas quais 50% (CIM50) e 90%

(CIM90) dos isolados foram inibidos por 7 antibióticos de 4 classes diferentes, em relação ao

total de isolados (n=211) e à suscetibilidade ou suscetibilidade diminuída à tigeciclina. ........... 44

Tabela 10 - Distribuição de 187 isolados com multirresistência aos antibióticos, em 211 isolados

de Gram negativo, realçando os perfis com e sem suscetibilidade diminuída à tigeciclina, por

espécie bacteriana. ....................................................................................................................... 48

Tabela 11 - Genótipo de 177 isolados, de diferentes espécies, com suscetibilidade diminuída à

cefotaxima, detetados como possíveis produtores de ESBL por métodos fenotípicos: β-

lactamases expressas, perfil de resistência aos antibióticos β-lactâmicos e distribuição por

hospital a b

. ................................................................................................................................... 51

Tabela 12 - Genótipo de 2 isolados com suscetibilidade diminuída à cefotaxima, produtores de

ESBL, mas sem evidência fenotípica de produção de ESBL: β-lactamases expressas, perfil de

resistência aos antibióticos β-lactâmicos e distribuição por hospital. ......................................... 53

Tabela 13 - Genótipo de 32 isolados com ou sem suscetibilidade diminuída à cefotaxima, sem

evidência fenotípica e genotípica de produção de ESBL: β-lactamases expressas, perfil de

resistência aos antibióticos β-lactâmicos e distribuição por hospital. ......................................... 55

Tabela 14 - Isolados produtores de carbapenemase de classe A (KPC-3) .................................. 56

Tabela 15.β-lactamases identifcadas nos 211 isolados estudados, com e sem blaCTX-M. ............ 57

Tabela 16 - Mutações nucleotídicas no gene marR da estirpe de referência e de 12 isolados

clínicos e respetivas substituições aminoacídicas. ...................................................................... 59

Tabela 17 - Mutações nucleotídicas no gene ramR da estirpe de referência MGH 78578

(CP000647) e de 20 isolados clínicos e respetivas substituições aminoacídicas encontradas. ... 61

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Introdução

1

I. Introdução

1. Antibióticos e Resistências

A descoberta e o desenvolvimento dos antibióticos no início do século XX –

com a introdução das sulfonamidas nos anos 30 e da penicilina nos anos 40 – foi um

marco importante na história da medicina. Desde então foram descobertas várias classes

de antibióticos, quer de origem natural, quer sintética: aminoglicosídeos, glicopeptídeos,

macrólidos, fluoroquinolonas, entre outras (Van Hoek et al., 2011). Contudo, as

bactérias desenvolveram mecanismos de resistência aos antibióticos, resultante,

essencialmente, da utilização inapropriada e indiscriminada dos antibióticos. Isto deve-

se à pressão seletiva, que resulta do uso, sem controlo, de antibióticos, tanto a nível

clínico, como ao nível comercial, proporcionando a seleção e predominância de

microrganismos resistentes (Rice, 2009). A emergência e a prevalência destes

microrganismos constitui uma das mais importantes ameaças à saúde pública, a nível

mundial, com extensivas implicações na morbilidade e mortalidade, assim como no

aumento dos custos em saúde e cuidados médicos (Fraise, 2006).

1.1. Classes de Antibióticos

As classes de antibióticos utilizados no tratamento de infeções por bactérias são

determinadas de acordo com os alvos em que atuam e com os mecanismos de ação que

determinam (Tabela 1). Os antibióticos podem exercer uma atividade bactericida ou

bacteriostática, podendo ser classificados da seguinte forma: anti-parietais, quando

inibem a síntese de peptidoglicano da parede celular; anti-membranares, quando alteram

a permeabilidade da membrana celular; inibidores da síntese proteica, associando-se a

alvos ribossomais; inibidores da síntese dos ácidos nucleicos; e anti-metabólitos,

quando alteram o metabolismo energético da célula bacteriana (Murray et al., 2007;

Tenover, 2006).

A classe dos β-lactâmicos e glicilciclinas, com maior relevância para o presente

trabalho, encontram-se descritas com mais detalhe nos tópicos 2 e 3, respetivamente.

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Introdução

2

Tabela 1 - Representação de antibióticos, mecanismos de ação e alvos moleculares (Chopra et al., 2002; Murray et

al., 2007; Tenover, 2006)

Antibióticos/Classe Mecanismo de ação Alvo molecular Exemplos de

antibióticos

β-lactâmicos Inibição da síntese de

peptidoglicano

Transpeptidases,

carboxipeptidases Penicilinas

Glicopeptídeos Inibição da síntese de

peptidoglicano Peptidoglicano

Vancomicina,

teicoplanina

Aminoglicosídeos Inibição da síntese proteica Subunidade 30S do

ribossoma

Gentamicina,

Amicacina,

Kanamicina

Fluoroquinolonas Inibição da síntese de DNA DNA Girase e

DNA topoisomerase IV

Ácido nalidíxico

Ciprofloxacina

Macrólidos Inibição da síntese proteica Subunidade 50S do

ribossoma Eritromicina

Polimixinas

Rompimento da estrutura

fosfolipídica da membrana

celular

Fosfolípidos da membrana

celular Colistina

Fosfomicinas Inibição da síntese de

peptidoglicano

UDP-N-acetilglucosamina

enolpiruvato transferase Fosfomicina

Nitrofuranos

Inibição da descarboxilação

oxidativa do piruvato a

acetil-coenzima A

Acetil-coenzima A Nitrofurantoína

Sulfonamidas Inibição da síntese do ácido

fólico Dihidropteroato sintetase Sulfametoxazol

Trimetoprim Inibição da síntese do ácido

fólico Dihidrofolato redutase Trimetoprim

Tetraciclinas Inibição da síntese proteica Subunidade 30S do

ribossoma

Minociclina;

Doxiciclina

Glicilciclinas Inibição da síntese proteica Subunidade 30S do

ribossoma Tigeciclina

1.2. Mecanismos de resistência aos antibióticos

Apesar da diversidade de classes e mecanismos de ação dos antibióticos, as

bactérias desenvolveram estratégias de resistência a estes compostos (Barbosa e Levy,

2000a). Os mecanismos de resistência aos antibióticos incluem: alteração do local de

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Introdução

3

ação do antibiótico; alteração da permeabilidade da membrana celular, impedindo a

entrada e ação do antibiótico nas células bacterianas; ativação de bombas de efluxo na

célula bacteriana, conduzindo à expansão do antibiótico para o exterior antes de

alcançar o local alvo; aumento da produção da enzima alvo e inativação do antibiótico

por ação enzimática (Van Hoek et al., 2011; Tenover, 2006). De realçar que a

resistência das bactérias pode ser intrínseca ou adquirida.

1.2.1 Resistência Intrínseca

A resistência intrínseca, é transmitida apenas verticalmente, de geração em

geração, fazendo parte das propriedades inatas, fenotípicas de microrganismos de uma

mesma espécie (Alekshun e Levy, 2007). As bactérias de Gram negativo, por exemplo,

são intrinsecamente resistentes aos glicopeptídeos. Isto resulta da incapacidade de

difusão via canais de porina na membrana externa celular, uma vez que a molécula é

muito grande (Woodford e Ellington, 2007).

1.2.2. Resistência Adquirida

Por outro lado, a resistência adquirida ocorre quando populações de bactérias

inicialmente suscetíveis se tornam resistentes a um antibiótico. O aumento da

prevalência da resistência aos antibióticos está, assim, principalmente associado à

aquisição e disseminação de genes de resistência aos antibióticos pela ação seletiva e

pela pressão do antibiótico utilizado (Tenover, 2006). As bactérias podem adquirir

resistência aos antibióticos, quer modificando o seu genoma por mutação, quer por

diferentes sistemas de transferência genética (Levy e Marshall, 2004; Tenover, 2006).

A resistência adquirida por meio de mutação e seleção denomina-se evolução

vertical, pois as bactérias com novas mutações, responsáveis pela resistência, são

selecionadas pela utilização dos antibióticos e estes eliminam as bactérias suscetíveis,

enquanto as resistentes sobrevivem e disseminam (Tenover, 2006).

A resistência adquirida pode ainda resultar da aquisição de elementos genéticos,

tais como os plasmídeos, transposões e integrões, que permitem a transferência de DNA

no genoma ou ainda entre células bacterianas, facilitando a transmissão e disseminação

de genes de resistência aos antibióticos através de mecanismos genéticos (Levy e

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Introdução

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Marshall, 2004). A transferência genética denominada evolução horizontal constitui o

principal meio de difusão de genes de resistência, que pode ocorrer entre isolados da

mesma espécie ou entre isolados de diferentes espécies ou géneros (Woodford e

Ellington, 2007). A transferência genética entre as bactérias pode ocorrer de diferentes

formas: transformação, conjugação e transdução. A transformação é um mecanismo

pelo qual o DNA libertado por uma bactéria (dadora) é captado e incorporado por outras

bactérias (recetoras). Na conjugação há contacto físico bactéria-bactéria e o material

genético é transferido através de pilis de uma célula (dadora) para a outra (recetora). A

transdução é um processo que consiste na transferência de genes de resistência por

intermédio de um bacteriófago (Alekshun e Levy, 2007; Barbosa e Levy, 2000a;

Tenover, 2006). Através destes mecanismos de troca genética muitas bactérias podem

tornar-se resistentes a várias classes de antibióticos; se a resistência ocorrer em 3 ou

mais classes de antibióticos estruturalmente diferentes, trata-se de bactérias

multirresistentes, as quais constituem a causa de maior preocupação, tanto a nível

hospitalar como a nível da comunidade (Levy e Marshall, 2004).

2. Antibióticos β-lactâmicos

Os antibióticos β-lactâmicos são a classe mais variada de antibióticos, sendo

amplamente utilizada em todo o mundo devido à sua eficácia terapêutica, baixa

toxicidade e propriedades farmacocinéticas (Livermore e Woodford, 2006; Suárez e

Gudiol, 2009). É um grupo de antibióticos com a característica comum de exibir um

anel ß-lactâmico na sua estrutura molecular (Fig.1). Esta classe divide-se em diferentes

grupos: penicilinas, cefalosporinas, cefamicinas, inibidores de ß-lactamases (ácido

clavulânico, sulbactam e tazobactam), carbapenemes e monobactamo (Drawz e

Bonomo, 2010; Murray et al., 2007).

As penicilinas têm como estrutura básica um núcleo pename bicíclico com um

anel tiazolidina (com um átomo de enxofre), um anel β-lactâmico e uma cadeia lateral

ligada ao grupo amina (Fig. 1). As penicilinas são frequentemente produzidas por

espécies Penicillium e Aspergillus e são classificadas de acordo com o espetro de

atividade (Liras e Martín, 2006; Martín et al., 2010).

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Introdução

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Figura 1 - Estrutura química dos antibióticos β-lactâmicos (Adaptado de Martín et al., 2010; Nordmann et al., 2012).

A penicilina G e a penicilina V pertencem ao grupo das penicilinas naturais,

tendo sido a penicilina G (Benzilpenicilina) a primeira a ser desenvolvida. A partir desta

produziram-se novas estruturas e, consequentemente, descobriram-se novos antibióticos

β-lactâmicos, atualmente utilizados na clínica médica (Drawz e Bonomo 2010). As

penicilinas dividem-se em diferentes subgrupos: as penicilinas resistentes às

penicilinases (p.e. oxacilina e cloxacilina), aminopenicilinas (p.e. amoxicilina),

carboxipenicilinas (p.e. ticarcilina) e ureidopenicilinas (p.e. piperacilina).

Os inibidores de β-lactamases são compostos associados a alguns antibióticos β-

lactâmicos de forma a inativar as β-lactamases e potenciar a ação do antibiótico. O

ácido clavulânico, o sulbactam e o tazobactam (Fig. 2) são inibidores de β-lactamases

irreversíveis, frequentemente utilizados na prática clínica (Murray et al., 2007).

Figura 2 - Estrutura química dos inibidores de β-lactamases (Adaptado de Nordmann et al., 2012).

As cefalosporinas constituem outro grupo de antibióticos β-lactâmicos, tendo, no

entanto, maior atividade sobre as bactérias de Gram negativo em comparação com as

penicilinas. O anel β-lactâmico encontra-se associado a um anel di-hidrotiazina (Fig.1).

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Introdução

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São derivados do ácido 7-aminocefalosporânico, obtidos inicialmente do fungo

Cephalosporium. Os antibióticos deste grupo encontram-se classificados em quatro

gerações, de acordo com o espetro de atividade e período de introdução na prática

clínica (Tabela 2) (Murray et al., 2007).

As cefamicinas (cefoxitina, cefotetan) (Fig.1) são semelhantes às cefalosporinas,

contudo, apresentam mais estabilidade à hidrólise mediada pelas β-lactamases, devido à

substituição de um radical de oxigénio no local do enxofre no anel dihidrotiacina

(Murray et al., 2007).

Tabela 2 - Classificação das cefalosporinas e exemplos de antibióticos (Murray et al., 2007).

Classificação de cefalosporinas Exemplos de antibióticos

Cefalosporinas de 1ª geração Cefazolina; Cefalotina; Cefapirina; Cefradina

Cefalosporinas de 2ª geração Cefaclor; Cefuroxima

Cefalosporinas de 3ª geração Cefixima; Cefotaxima; Cefriaxona;

Ceftazidima; Cefoperazona; Cefpodoxima

Cefalosporinas de 4ª geração Cefepima; Cefpiroma

Os carbapenemes (imipeneme, meropeneme, ertapeneme e doripenem)

constituem um grupo de antibióticos β-lactâmicos com amplo espetro de ação,

frequentemente utilizados para o tratamento de infeções graves e infeções causadas por

isolados produtores de β-lactamases de espetro alargado (ESBL - Extended-Spectrum ß-

Lactamase) (Patel e Bonomo, 2013). Como característica comum deste grupo de

antibióticos, o anel tiazolidina contém um átomo de carbono no local do átomo de

enxofre (Liras e Martin, 2006). Por fim, os monobactamos (aztreonam) (Fig.1) são

compostos que apresentam uma estrutura monocíclica e possuem um espetro de ação

reduzido, sendo ativos apenas em bactérias aeróbias de Gram negativo e inativos em

bactérias de Gram positivo e anaeróbias (Liras e Martin 2006; Murray et al., 2007).

Deste modo, as modificações nos radicais R e R' da cadeia lateral determinam o

espetro de ação dos antibióticos β-lactâmicos, as propriedades farmacocinéticas e a

resistência às β- lactamases.

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Introdução

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2.1. Mecanismo de ação dos antibióticos β-lactâmicos

Os antibióticos ß-lactâmicos atuam na fase parietal da biossíntese do

peptidoglicano. O peptidoglicano é o principal constituinte da parede celular, sendo

constituído por cadeias de 10 a 65 resíduos de dissacarídeos formados por moléculas de

N-acetilglucosamina (NAG) intercaladas com moléculas de ácido N-acetilmurâmico

(NAM). As proteínas de ligação à penicilina (PBPs, Penicillin-binding proteins) são

enzimas (p.ex., transpeptidases, transglucosidases, carboxipeptidases), da família das

serina proteases, que catalisam a síntese dos polímeros de peptidoglicano na parede

celular, conferindo rigidez às bactérias. Assim, os antibióticos β-lactâmicos atuam

através da ligação às PBPs específicas da parede celular bacteriana, visto que possuem

grande afinidade para estas proteínas. Este mecanismo resulta na acilação das PBPs,

tornando-as incapazes de realizar a reação de transpeptidação, a principal etapa na

síntese do peptidoglicano. Este mecanismo ativa as autolisinas que degradam a parede

celular e causam a destruição das células (Murray et al., 2007). Como resultado, a

parede celular das bactérias entra em citólise, ou morte celular, devido à pressão

osmótica (Van Hoek et al., 2011).

2.2. Mecanismos de resistência aos antibióticos β-lactâmicos

Os mecanismos de resistência aos antibióticos ß-lactâmicos incluem (1)

produção de ß-lactamases, que constitui o principal mecanismo de resistência em

bactérias de Gram negativo, (2) a alteração no local alvo de ligação, (3) diminuição da

permeabilidade da membrana celular, e ainda (4) sistemas de bombas de efluxo (Drawz

e Bonomo, 2010).

A resistência mediada pela alteração no local alvo de ligação resulta de

alterações no sítio ativo das PBPs, o que pode determinar a diminuição da afinidade e

aumento de resistência aos antibióticos β-lactâmicos. Este mecanismo é raro em

bactérias de Gram negativo, sendo principalmente encontrado em bactérias de Gram

positivo (Livermore e Woodford, 2006).

As porinas, proteínas de membrana externa (OMP, Outer membrane protein),

são canais membranares das bactérias de Gram negativo que atuam como canal de

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Introdução

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entrada dos antibióticos β-lactâmicos. Assim, alterações na expressão ou perda de

porinas podem diminuir a permeabilidade dos antibióticos β-lactâmicos na célula. No

entanto, este mecanismo não é suficiente para conferir resistência, sendo geralmente

encontrado em associação com a produção de β-lactamases (Drawz e Bonomo, 2010).

A resistência mediada por bombas de efluxo é outro mecanismo, que consiste

num sistema de transporte ativo intrínseco ou adquirido. Ao serem expressas, as bombas

de efluxo são capazes de bombear diversos antibióticos do citoplasma para fora da

célula. Desta forma, em muitos casos, estão associados a fenótipo de multirresistência

em isolados de Gram negativo (Piddock, 2006). A resistência mediada pelas bombas de

efluxo pode derivar de alterações nos genes repressores e/ou hiperexpressão dos seus

reguladores transcricionais. Este mecanismo confere, geralmente, baixos níveis de

resistência aos antibióticos, pois mesmo possuindo múltiplos antibióticos como

substratos, podem não conferir elevado nível de resistência. Contudo, a diminuição da

concentração intracelular do antibiótico permite à bactéria sobreviver até que sejam

selecionadas bactérias com mutações que podem determinar níveis de resistência

clinicamente importantes (Webber e Piddock, 2003).

2.2.1. β-lactamases

A hidrólise dos antibióticos ß-lactâmicos pelas ß-lactamases é o mecanismo de

resistência mais comum a esta classe de antibióticos em bactérias de Gram negativo

(Bush e Jacoby, 2010). Estas enzimas podem ser classificadas em penicilinases,

específicas para as penicilinas, cefalosporinases, que hidrolisam preferencialmente as

cefalosporinas, carbapenemases que inativam os carbapenemes, ou ainda ß-lactamases

de espetro alargado (ESBLs) capazes de hidrolisar as penicilinas, as cefalosporinas de

primeira, segunda e terceira geração e o aztreonam (Van Hoek et al., 2011; Nordmann

et al., 2012).

As ß-lactamases desempenham assim um papel crucial na seleção da terapia

mais adequada, visto que as penicilinas, as cefalosporinas e os carbapenemes são

frequentemente incluídos no tratamento de várias doenças infeciosas (Bush e Jacoby

2010). Estima-se que existem, pelo menos, 1.300 ß-lactamases descritas em isolados

clínicos (Bush, 2013).

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Introdução

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As ESBLs são enzimas de grande relevância, uma vez que se tem verificado

uma ampla disseminação a nível mundial nas últimas décadas. Atualmente, existe uma

grande variedade de ESBLs, derivando, a maioria, das β-lactamases TEM-1, TEM-2 e

SHV-1, após introdução de substituições aminoacídicas no sítio ativo. Os genes bla

ESBL são geralmente adquiridos por mecanismos de transferência genética, associados

a elementos genéticos móveis, como os plasmídeos (Paterson e Bonomo, 2005). Já se

encontram descritas centenas de ESBLs diferentes, sendo a maioria das famílias CTX-

M, TEM e SHV.

2.2.1.1 Classificação de β-lactamases

As ß-lactamases são classificadas de acordo com a sua homologia na sequência

de aminoácidos (classificação de Ambler) e de acordo com a preferência por um

determinado substrato e perfil de inibição (classificação de Bush e Jacoby) (Bush e

Jacoby, 2010). Segundo a classificação de Ambler as β-lactamases dividem-se em

quatro classes: A, B, C e D (Figura 3). Aquelas que pertencem às classes A, C e D são

denominadas β-lactamases-serina, pois possuem um resíduo de serina no centro ativo

para facilitar a catálise e aquelas que pertencem à classe B contêm um ião de zinco,

sendo designadas de metalo-β-lactamases (Jacoby e Munoz-Price, 2005). A

classificação de Bush divide as ß-lactamases em três grupos (1-3). Os grupos 1 e 2 são

β-lactamases-serina e o grupo 3 são metalo-β-lactamases. As β-lactamases do grupo 1,

associadas à classe C, hidrolisam as cefalosporinas e são resistentes à ação dos

inibidores de β-lactamases. O grupo 2, que inclui as classes A e D, representa o grupo

com vários subgrupos e com uma ampla variedade de enzimas com diferentes perfis de

substratos (Figura 3). O grupo 3 engloba as metalo β-lactamases da classe B de Ambler.

Estas enzimas hidrolisam todos os antibióticos β-lactâmicos, à exceção dos

monobactamos (Bush e Jacoby, 2010).

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Introdução

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Figura 3 - Classificação das ß-lactamases relacionando o perfil do substrato e dos inibidores de ß- lactamases com a

sua estrutura molecular. Cb, carbapenemes; Cf, cefalosporinas de primeira geração; CA, ácido clavulânico; EDTA,

ácido etilenodiaminotetracético; Esc, Cefalosporina de espetro alargado; M, monobactamos; Pn, penicilinas

(Adaptado de Bush, 2013).

Atualmente, tem-se verificado uma emergência de ESBLs, sobretudo da família

CTX-M (classe A de Ambler), de ß-lactamases AmpC (classe C de Ambler) mediada

por plasmídeos e de carbapenemases (das classes A, B e D de Ambler), nomeadamente

da família KPC, IMP e VIM, produzidas por Enterobacteriaceae e por outras bactérias

de Gram negativo (Bush, 2013; Van Hoek et al., 2011; Jacoby, 2009).

2.2.1.2. Família TEM

As enzimas TEM pertencem à classe A de Ambler e aos grupos funcionais 2b,

2be e 2br segundo a classificação de Bush e Jacoby (Fig.3) (Bush e Jacoby, 2010). No

início da década de 60 foi descrita na Grécia a primeira β-lactamase TEM-1 mediada

por plasmídeos, num isolado de Escherichia coli. A sua designação advém de

Temoniera, nome do paciente a quem foi detetada a enzima pela primeira vez. Esta

enzima disseminou-se por todo o mundo, anos depois da sua descrição, sendo a mais

encontrada em bactérias de Gram negativo. A enzima TEM-1 é uma penicilinase, que

tem como substrato as penicilinas e cefalosporinas de primeira geração, como a

cefalotina e cefaloridina (Bradford, 2001).

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Introdução

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A enzima TEM-2 foi a primeira enzima derivada de TEM-1 a ser descrita.

Ambas apresentam o mesmo perfil hidrolítico, contudo TEM-2 tem um promotor mais

ativo e um ponto isoelétrico (pI) de 5,6 diferente do TEM-1, com pI de 5,4. A enzima

TEM-3, reportada em 1989, foi a primeira enzima derivada de TEM-1 a exibir o

fenótipo de ESBL. Desde então, foram descritas outras enzimas derivadas de TEM,

entre as quais β-lactamases resistentes aos inibidores (IRT, Inhibitor Resistant TEM) e

ESBLs, representando estas últimas a maioria (Bradford, 2001; Paterson e Bonomo,

2005). Atualmente existem mais de 200 β-lactamases TEM, principalmente ESBLs

(Jacoby, 2012).

2.2.1.3. Família SHV

As β-lactamases SHV estão incluídas na classe A de Ambler e nos subgrupos

funcionais 2b, 2be e 2br de Bush e Jacoby (Bush e Jacoby, 2010). As enzimas desta

família derivam da enzima SHV-1. Esta β-lactamase possui 68% de homologia com a

sequência aminoacídica de TEM-1 e apresenta uma estrutura semelhante (Jacoby e

Munoz-Price, 2005). A enzima SHV-1 é, frequentemente, codificada por genes

cromossómicos em Klebsiella pneumoniae (Bradford, 2001).

Ao contrário das β-lactamases TEM, as alterações no gene blaSHV, que dão

origem às variantes de SHV ocorrem em menor número de posições aminoacídicas

diferentes. A maioria das variantes de SHV, conferindo um fenótipo ESBL, são

caracterizadas pela substituição de uma serina por uma glicina na posição 238. Outras

variantes de SHV, relacionadas com SHV-5, possuem também a substituição de uma

lisina por glutamato na posição 240. A maioria das enzimas derivadas de SHV-1 possui

fenótipo de ESBLs, contudo sete variantes estão descritas como β-lactamases resistentes

aos inibidores. Globalmente, foram já descritas 182 variantes de β-lactamases SHV

(Jacoby, 2012).

2.2.1.4. Família CTX-M

As enzimas da família CTX-M têm origem em genes cromossómicos de espécies

de Kluyvera spp. e têm como substratos as cefalosporinas de terceira geração,

preferencialmente a cefotaxima. Ao contrário das enzimas da família TEM e SHV,

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Introdução

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hidrolisam mais a cefotaxima do que a ceftazidima (Bradford, 2001; Paterson e

Bonomo, 2005; Jacoby e Munoz-Price, 2005). As β-lactamases CTX-M pertencem à

classe A de Ambler e subgrupo funcional 2be de Bush e Jacoby (Bush e Jacoby, 2010).

A enzima CTX-M-1 foi inicialmente descrita na década de 80 na Alemanha,

tendo sido identificada num isolado clínico de E. coli (Bauernfeind et al., 1990).

Posteriormente, verificou-se uma expansão das enzimas desta família em várias partes

do mundo e em vários isolados clínicos, sobretudo em membros da família das

Enterobacteriaceae (Bonnet, 2004). Estas β-lactamases são classificadas em diferentes

grupos, tendo em conta a homologia nas sequências de aminoácidos: grupo CTX-M-1,

CTX-M-2, CTX-M-8, CTX-M-9, CTX-M-25 e o grupo KLUC (Bonnet, 2004;

D'Andrea et al., 2013).

As ESBLs da família CTX-M representam β-lactamases importantes, as quais

têm sido encontradas em muitos isolados, quer em ambiente hospitalar, quer na

comunidade, e, atualmente, têm sido fonte de preocupação dada a sua rápida expansão

pelo mundo, inclusive em Portugal (Bush, 2013; Cantón e Coque, 2006; Manageiro et

al., 2012a; Mendonça et al., 2007). Considera-se que a emergência destas enzimas em

vários locais está associada à aquisição e disseminação de plasmídeos com genes

blaCTX-M (Bonnet, 2004). Atualmente, tem-se verificado um predomínio de ESBLs

CTX-M-14 e, sobretudo, CTX-M-15, a nível mundial (Bush e Fisher, 2011).

2.2.1.5. Família OXA

As β-lactamases OXA pertencem à classe D de Ambler e aos grupos funcionais

2de e 2df de Bush e Jacoby. Esta família consiste num grupo heterogéneo, de várias

enzimas (Bush, 2013). No subgrupo 2de estão incluídas as oxacilinases, caracterizadas

pela elevada atividade hidrolítica à oxacilina e cloxacilina, com exceção dos

carbapenemes. Estão incluídas neste grupo enzimas derivadas de OXA-10 (com

fenótipo ESBL), entre as quais OXA-10, -11, -14, -15, -16, e -17 (Bradford, 2001; Bush

e Jacoby, 2010). A maioria das β-lactamases OXA, embora hidrolisando fracamente a

cefotaxima, ceftriaxona e aztreonam, conferem suscetibilidade diminuída a esses

antibióticos e fenótipo de ESBL (Paterson e Bonomo, 2005). As ESBL tipo OXA são

encontradas, particularmente, em Pseudomonas aeruginosa e ainda em

Enterobacteriaceae, embora em menor frequência (Bradford, 2001).

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Introdução

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As oxacilinases com atividade hidrolítica aos carbapenemes estão incluídas no

subgrupo funcional 2df, capazes de hidrolisar as amino- e as carboxipenicilinas. Estas

têm sido, frequentemente, encontradas em Acinetobacter spp., com um aumento em

isolados de Enterobacteriaceae, principalmente de OXA-48 (Patel e Bonomo, 2013;

Bush e Jacoby, 2010). Inativam eficientemente as penicilinas, cefalosporinas de

primeira geração, antibióticos β-lactâmicos combinados com inibidores de β-

lactamases, com exceção das cefalosporinas de espetro alargado. Contudo, a variante

OXA-163, que apresenta uma baixa atividade de carbapenemase, hidrolisa estas

cefalosporinas. A maioria das enzimas desta família apresenta baixa suscetibilidade aos

inibidores de β-lactamases (ácido clavulânico e EDTA), mas são inibidas in vitro pelo

cloreto de sódio (NaCl) (Patel e Bonomo, 2013; Nordmann et al., 2012). Já se

encontram descritas mais de 250 variantes de oxacilinases, com uma minoria exibindo

baixo nível de hidrólise aos carbapenemes (Patel e Bonomo, 2013).

2.2.1.6. β-lactamases AmpC

As β-lactamases AmpC hidrolisam as penicilinas, as oximino-cefalosporinas,

aztreonam (variável) e a cefoxitina e não são inibidas pelo ácido clavulânico (Jacoby e

Munoz-Price, 2005; Jacoby, 2009). Estas enzimas pertencem à classe C de Ambler e

aos subgrupos funcionais 1 e 1e de Bush e Jacoby. No entanto, as enzimas do subgrupo

1e, designadas por AmpC de espetro alargado (ESAC, Extended-spectrum AmpC),

apresentam maior atividade hidrolítica às cefalosporinas de terceira geração do que as

do subgrupo 1 (Bush, 2013). As β-lactamases AmpC são importantes cefalosporinases

codificadas por genes cromossómicos em algumas espécies de Enterobacteriaceae

(Enterobacter spp., Citrobacter freundii, M. morganii e E. coli) e P. aeruginosa. Têm

sido também muito descritas β-lactamases AmpC mediadas por plasmídeos (PMAβ,

Plasmid-Mediated AmpC β-Lactamases) em Enterobacteriaceae (E. coli, Klebsiella

spp., Salmonella spp. e Proteus mirabilis) (Livermore e Woodford, 2006; Jacoby,

2009). As PMAβ derivam de genes ampC cromossómicos de diferentes espécies

(Tabela. 3) (Jacoby e Munoz-Price, 2005).

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Introdução

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Tabela 3 - Origem de genes que codificam β-lactamases AmpC (Adaptado de Livermore e Woodford, 2006)

Classe Origem Exemplos

CIT Citrobacter freundii CMY-2 a CMY-7; LAT-1,-3,-4

ENT Enterobacter spp. ACT-1; MIR-1

FOX Aeromonas spp. FOX-1 a FOX-5

MOX Aeromonas spp. MOX-1, MOX-2; CMY-1 e CMY-8

DHA Morganella morgani DHA-1, DHA-2

ACC Hafnia alvei ACC-1

A expressão de AmpC pode ser constitutiva, como por exemplo, em E. coli, ou

indutiva, como em E. cloacae, C. freundii, M. morganii e P. aeruginosa, sendo os

níveis de produção da enzima dependentes do grau de expressão do gene ampC (Jacoby,

2009). A expressão de AmpC cromossómica pode estar desreprimida em isolados com

gene ampC cromossómico indutível, devido a mutações nos genes reguladores (p.e.

ampD e ampR), resultando na hiperprodução, estável, de AmpC (Jacoby, 2009; Jacoby

e Munoz-Price, 2005). A expressão das PMAβ pode também ser indutiva, conferindo

resistência semelhante à das AmpC cromossómicas, no entanto, o nível de resistência

depende do nível de enzima expressa, bem como da presença de outros mecanismos de

resistência (Jacoby, 2009).

2.2.1.7. Carbapenemases

As carbapenemases constituem um grupo diverso de enzimas que têm emergido

e que se tem tornado num facto preocupante, uma vez que hidrolisam os carbapenemes,

último recurso, em muitos casos, no tratamento de infeções. Além de hidrolisarem os

carbapenemes, hidrolisam as cefamicinas e as oximino-cefalosporinas (Alekshun e

Levy, 2007; Jacoby e Munoz-Price, 2005).

As carbapenemases estão distribuídas em três classes de β-lactamases de

Ambler: classe A, B e D (Patel e Bonomo, 2013). Atualmente, as β-lactamases KPC

(classe A), as metalo-β-lactamases, como VIM, IMP, e NDM (classe B), e a

carbapenemase OXA-48 (classe D), mediada por plasmídeos, representam as

carbapenemases com maior importância clínica em Enterobacteriaceae (Tzouvelekis et

al., 2012; Nordmann et al., 2012).

As enzimas NmcA/IMI, SME, e KPC são as principais carbapenemases da

classe A de Ambler. Hidrolisam as penicilinas, cefalosporinas, carbapenemes e o

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Introdução

15

aztreonam e são inibidas in vitro pelo ácido clavulânico e tazobactam. A enzima GES

também pertence à classe A, contudo, foi inicialmente designada como uma β-lactamase

ESBL clássica, uma vez que a enzima GES-1 não hidrolisa os carbapenemes.

Posteriormente, foram identificadas outras variantes (p.e., GES-2, GES-4, GES-5, GES-

6, GES-11 e GES-14), com atividade hidrolítica fraca, mas significativa sobre os

carbapenemes (Nordmann et al., 2012). Todas as carbapenemases apresentam

capacidade de hidrolisar as cefalosporinas de terceira geração e os carbapenemes devido

a uma substituição aminoacídica no sítio ativo (nas posições 104 e 170). Atualmente, as

β-lactamases KPC representam as carbapenemases de classe A, com maior importância

clínica. Em 1996, foi identificada a primeira KPC (KPC-2) num isolado de K.

pneumoniae, na Carolina do Norte, nos Estados Unidos da América (Patel e Bonomo,

2013; Nordmann et al., 2012). Desde então, já foram identificadas doze variantes de

KPC (KPC-2 a KPC-15), verificando-se uma maior predominância das variantes KPC-2

e KPC-3 (Patel e Bonomo, 2013).

As enzimas do tipo IMP, VIM e NDM representam as principais

carbapenemases do grupo das metalo-β-lactamases; em Enterobacteriaceae, são as que

possuem maior distribuição geográfica. As metalo-β-lactamases conferem resistência a

todas as penicilinas, cefalosporinas e carbapenemes, à exceção do aztreonam, não sendo

hidrolisadas pelos inibidores de β-lactamases (Patel e Bonomo, 2013; Nordmann et al.,

2012).

Como referido anteriormente (capítulo 2.2.1.5), a enzima OXA-48, pertence à

classe D de Ambler e tem atividade hidrolítica sobre os carbapenemes. Desde a sua

primeira descrição na Turquia, a enzima OXA-48, tem sido identificada em países

Africanos e do sul da Europa, o que se torna preocupante devido à sua rápida

disseminação (Nordmann et al., 2012).

3. Tigeciclina

A tigeciclina é um antibiótico recente e o primeiro composto sintético da nova

classe de antibióticos glicilciclinas disponibilizado para uso clínico (Stein e Craig,

2006). Foi desenvolvida através da pesquisa de compostos mais ativos, a partir da

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Introdução

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estrutura química das tetraciclinas, de forma a contornar os principais mecanismos de

resistência a esta classe de antibióticos (Doan et al., 2006; Seputiene et al., 2010).

Em 2005, a tigeciclina (Tygacil®) foi aprovada, pela FDA (Food and Drug

Administration), para utilização no tratamento de infeções complicadas da pele, tecidos

moles e intra-abdominais. Em 2009, foi também aprovada pela FDA para o tratamento

de pneumonia bacteriana adquirida na comunidade (Stein e Babinchak, 2013; Sun et al.,

2012; Sader et al., 2013).

A utilização de tigeciclina é aconselhada apenas em adultos, estando a duração

do tratamento dependente da gravidade e local da infeção, bem como da forma como o

doente reage ao antibiótico, podendo variar entre 5 a 14 dias. O tratamento consiste na

administração da tigecilina por via intravenosa, devendo inicialmente ser administrada

uma dose de 100 mg e, nos dias seguintes, doses de 50 mg de 12 em 12 horas

(Babinchak et al., 2005).

3.1. Estrutura química e mecanismo de ação da tigeciclina

A tigeciclina (Fig.4A) deriva estruturalmente da minociclina (Fig.4B),

antibiótico pertencente à classe das tetraciclinas, por uma substituição na posição D-9,

conferindo-lhe um amplo espetro de atividade (Peterson, 2008).A cadeia lateral N-

alquilo glicilamido, na posição 9 do átomo de carbono da tigeciclina confere-lhe

propriedades ao nível da atividade biológica, tal como o aumento da solubilidade

lipídica, o bloqueio do efluxo da tigeciclina para o exterior da célula e ainda o aumento

da afinidade ao local de ligação no ribossoma (Seputiene et al 2010).

A tigeciclina é um antibiótico bacteriostático, pois inibe a síntese de proteínas

bacterianas através da sua união à subunidade 30S do ribossoma bacteriano. Este

mecanismo impede a entrada da RNA aminoacil-transferase no local de ligação A do

ribossoma (Petersen et al., 1999). Apesar da tigeciclina apresentar um mecanismo de

ação semelhante às tetraciclinas, possui uma afinidade cinco vezes superior para o

ribossoma (Bauer et al., 2004).

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Introdução

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Figura 4 - Estrutura química da tigeciclina (A) e da minociclina (B) (Dean et al. 2003)

3.2. Espetro de ação da tigeciclina

A tigeciclina exibe um mecanismo de ação semelhante às tetraciclinas,

apresentando, no entanto, atividade em isolados que possuem genes responsáveis por

mecanismos de resistência mediados por bombas de efluxo e proteção do ribossoma,

que os tornam resistentes às tetraciclinas. A título de exemplo, um estudo de Petersen et

al. (1999) demonstrou que a tigeciclina tem a capacidade de contornar a resistência

mediada pelos determinantes tet(M) e tet(O), que promovem proteção ribossomal, e

pelos determinantes tet(A-E) e tet(K), que promovem a ação de bombas de efluxo sobre

as tetraciclinas.

A tigeciclina apresenta um amplo espetro de ação in vitro, sendo ativa sobre uma

grande variedade de microrganismos de Gram positivo e de Gram negativo, quer

aeróbios, quer anaeróbios, quer da comunidade quer de origem nosocomial (Betriu et

al., 2006; Bouchillon et al., 2005; Castanheira et al., 2008; Goldstein et al., 2006).

Assim, a tigeciclina tem ação sobre isolados de Gram positivo, como

Staphylococcus aureus, nomeadamente S. aureus resistente à meticilina (MRSA,

Methicillin-resistant Staphylococcus aureus), Streptococcus pneumoniae (incluindo

resistentes à penicilina), Streptococcus agalactiae, Enterococcus faecium e

Enterococcus faecalis, nomeadamente resistentes à vancomicina (Betriu et al., 2006;

Cercenado et al., 2003; Dowzicky e Chmelarová, 2011; Norskov-Lauritsen et al.,

2009). Isolados de Gram negativo, tais como E. coli, K. pneumoniae, Enterobacter spp.

Citrobacter spp. e Serratia marcescens têm apresentado suscetibilidade à tigeciclina

(Betriu et al., 2006; Bouchillon et al., 2005; Castanheira et al., 2008; Roy et al., 2013;

Souli et al., 2006).

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Introdução

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Adicionalmente, este antibiótico possui ação antimicrobiana em bactérias com

resistência a outros antibióticos, sobretudo aos β-lactâmicos, nomeadamente em

Enterobacteriaceae produtoras de ESBL (Bouchillon et al., 2005; Roy et al., 2013),

bem como de β-lactamases AmpC (Bouchillon et al., 2005), carbapenemases e metalo-

β-lactamases (Castanheira et al., 2008; Souli et al., 2006), ou multirresistentes aos

antibióticos (Gupta et al., 2012).

3.3. Resistência à tigeciclina

Apesar do espetro de ação da tigeciclina e da sua capacidade de contornar os

mecanismos de resistência a outras classes de antibióticos, já foram descritos casos de

microrganismos com suscetibilidade diminuída a este antibiótico. As P. aeruginosa são

intrinsecamente resistentes à tigeciclina (Dean et al., 2003; Sun et al., 2012). De igual

modo, isolados de Burkholderia cepacia e isolados da família Proteeae, tais como,

Proteus spp., Providencia spp. e Morganella morganii apresentam geralmente

suscetibilidade diminuída a este antibiótico (Ruzin et al., 2005; Sun et al., 2012). Além

disso, tem-se verificado a aquisição de resistência à tigeciclina em Acinetobacter

baumannii (Peleg et al., 2007 Ruzin et al., 2007) e em outros isolados da família das

Enterobacteriaceae, como E. coli, K. pneumoniae e Enterobacter spp. (Keeney et al.,

2008; Ruzin et al. 2005; Veleba et al., 2013).

Os mecanismos de resistência à tigeciclina não estão bem esclarecidos, mas, de

forma geral, a resistência tem sido atribuída à ação de bombas de efluxo da família

RND (Resistance-Nodulation-Division), regulada por genes localizados ao nível do

cromossoma; estas bombas são, frequentemente, associadas à multirresistência aos

antibióticos (Pérez et al., 2012; Sun et al., 2012). O sistema de efluxo mais descrito em

P. aeruginosa é o MexXY-OprM (Dean et al., 2003). Em A. baumannii foi reportado

uma diminuição da suscetibilidade à tigeciclina associada ao sistema de efluxo

AdeABC (Peleg et al., 2007). O sistema de efluxo AcrAB está associado à

suscetibilidade diminuída à tigeciclina em P. mirabilis, E. coli, K. pneumoniae, M.

morganii e Enterobacter spp. (Keeney et al., 2007; Keeney et al., 2008; Ruzin et al.

2005; Veleba et al., 2013; Visalli et al., 2003). A hiperprodução da bomba de efluxo

SdeXY, da família RND, está associada à suscetibilidade diminuída à tigeciclina em S.

marcescens (Hornsey et al., 2010).

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Introdução

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Além do mecanismo de resistência à tigeciclina associado às bombas de efluxo,

foi, recentemente, identificada uma proteína Tet(X) monoxigenase, dependente da

flavina, que confere resistência às tetraciclinas e à tigeciclina em bactérias anaeróbias,

como Bacteroides, através da hidroxilação da região-seletiva de tetraciclinas para 11a-

hidroxi-tetraciclinas, reduzindo a atividade antimicrobiana. Adicionalmente, a

tigeciclina representa um substrato da hidroxilação dependente, quer de NADPH

(nicotinamida adenina difosfato), quer de oxigénio por parte da proetína Tet(X)

(Volkers et al., 2011). É de realçar que, até a atualidade, esta proteína não foi observada

noutras bactérias aeróbias e/ou anaeróbias isoladas em meio clínico; no entanto, se os

genes que a codificam forem integrados em elementos genéticos móveis, pode

disseminar-se para outras bactérias (Linkevicius et al., 2013).

3.3.1. Bomba de efluxo AcrAB-TolC da família RND

A bomba de efluxo AcrAB-TolC da família RND constitui um mecanismo de

resistência com relevância clínica, uma vez que confere resistência a múltiplos

antibióticos utilizados no tratamento de infeções humanas, incluindo os β-lactâmicos,

fluoroquinolonas, macrólidos, tetraciclinas, clorafenicol e trimetoprim, encontrando-se

bastante distribuída em bactérias de Gram negativo (Alekshun e Levy, 1999; Piddock,

2006). Em Enterobacteriaceae, conferem ainda resistência a uma variedade de

compostos tóxicos, como detergentes, corantes e desinfetantes (Pérez et al., 2012).

A bomba de efluxo AcrAB é formada por três subunidades: AcrB, uma proteína

na membrana interna, que atua expelindo substâncias para o exterior; TolC, uma porina

da membrana externa, e AcrA, uma proteína que liga a bomba à porina (Fig.5). As três

subunidades da bomba de efluxo permitem a expulsão de compostos diretamente a

partir do citoplasma para o ambiente externo, contribuindo para o aumento da

resistência aos antibióticos. Este sistema de efluxo utiliza um gradiente de protões na

membrana como fonte de energia (Pérez et al., 2012).

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Introdução

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Figura 5 - Estrutura do sistema de efluxo AcrAB-TolC em E.coli (Adaptado de Alvarez-Ortega et al., 2013).

A expressão da bomba de efluxo AcrAB é regulada por proteínas da família

AraC, os quais conferem resistência aos antibióticos e desinfetantes, aumentado a

expressão daquela bomba. Os reguladores transcricionais da família AraC são: MarA,

SoxS, RamA e Rob (Alekshun e Levy, 1999; Rosenblum et al., 2011). Atualmente, tem

sido descrito que este sistema AcrAB-TolC está envolvido na suscetibilidade diminuída

à tigeciclina, nalgumas espécies de Gram negativo.

A expressão da bomba de efluxo pode ser desreprimida pela sobre-expressão dos

reguladores transcricionais, como MarA em E. coli e RamA em K. pneumoniae.

Mutações no gene acrR, repressor da bomba de efluxo AcrAB, ou ainda mutações no

genes marR e ramR (repressores de marA e ramA, repetivamente) podem também

desencadear um aumento da expressão da bomba de efluxo. Por sua vez, o aumento da

atividade da bomba de efluxo AcrAB, pode conferir um fenótipo de multirresistência

(Keeney et al., 2008; Ruzin et al., 2005; Hentschke et al., 2010).

A suscetibilidade diminuída à tigeciclina, mediada pela bomba de efluxo

AcrAB, em E. coli, está associada a mutações no repressor marR, desencadeando a

sobre-expressão da proteína MarA e da bomba de efluxo (Keeney et al., 2008). O

operão marAB em isolados de E. coli é constituído pelos genes marA, marB e o gene

marR, repressor de MarA, que regulam a expressão da bomba de efluxo AcrAB

(Alekshun e Levy, 1999). A expressão do operão marAB e marC é controlada por

promotores independentes, PmarII e PmarI, respetivamente (Fig.6). Os genes marR e

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Introdução

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marA codificam o repressor e o regulador transcricional MarR (144 resíduos de

aminoácidos) e MarA (127 resíduos de aminoácidos), respetivamente. O gene marB

(codifica 72 resíduos de aminoácidos) tem uma função desconhecida, bem como o

marC (codifica 201 resíduos de aminoácidos). Assim, MarR reprime a expressão de

MarAB através da ligação em dois sítios no operador MarO, podendo a sua inativação

resultar na expressão constitutiva de MarAB, dependendo dos níveis de expressão dos

reguladores transcricionais, como MarA (Alekshun e Levy, 1999).

Figura 6 - Organização genética do locus marAB em E. coli ; PmarI e PmarII, promotores (Alekshun e Levy, 1999).

Em K. pneumoniae, Enterobacter cloacae e Enterobacter aerogenes a

diminuição da suscetibilidade à tigeciclina tem sido associada à sobre-expressão da

proteína RamA, homóloga da proteína MarA (Hentschke et al., 2010; Keeney et al.,

2007; Ruzin et al., 2005; Veleba et al., 2013). A sobre-expressão de MarA e RamA,

designadas de reguladores positivos, desencadeiam o aumento da atividade da bomba

de efluxo AcrAB, conferindo um fenótipo de multirresitência à outras classes de

antibióticos (Keeney et al., 2008 Ruzin et al., 2005; Rosenblum et al., 2011; Hentschke

et al., 2010).

Para além disso, mutações no gene ramR (repressor de ramA) têm sido descritas

como uma via de aquisição de resistência à tigeciclina em K. pneumoniae, E. cloacae e

E. aerogenes, que leva a sobre-expressão de RamA e da bomba de efluxo AcrAB

(Hentschke et al., 2010; Veleba et al., 2013). O gene ramR está localizado a montante

do gene ramA e codifica a proteína da família de repressores transcricionais TetR

(Fig.7). O local de ligação do RamR localiza-se a montante do gene ramA e esta região

abrange uma parte do promotor de ramA. A proteína RamR liga-se então à região

intergénica, entre o ramR e o ramA, e RamA liga-se na região a montante do acrAB.

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Introdução

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Deste modo RamR reprime o gene ramA, o qual codifica a proteína RamA que ativa os

genes da bomba de efluxo AcrAB (Yamasaki et al., 2013).

Figura 7 - Via de regulação da bomba de efluxo AcrAB: a proteina RamR reprime a expressão do gene ramA que

codifica o activador trancripcional, RamA, do acrAB. (Adaptado de Yamasaki et al., 2013).

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Objetivos

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4. Objetivos

Tendo em conta que a tigeciclina é um antibiótico, recentemente, desenvolvido

com o intuito de tentar ultrapassar o problema da resistência aos antibióticos, este

trabalho teve como objetivo avaliar a suscetibilidade e caracterizar os mecanismos de

resistência à tigeciclina em 211 isolados de Gram negativo provenientes de doentes, em

Portugal. Pretendeu-se igualmente esclarecer a ação da tigeciclina em bactérias com

resistência, sobretudo aos antibióticos β-lactâmicos, ou multirresistentes de forma a

compreender a possibilidade da tigeciclina constituir uma alternativa nestes casos.

Assim, o presente trabalho teve como objetivos específicos:

i. Avaliar a suscetibilidade da tigeciclina em isolados de Gram negativo

ii. Determinar a suscetibilidade de isolados de Gram negativo a outras classes

de antibióticos, nomeadamente β-lactâmicos (aminopenicilinas,

carboxipenicilinas, ureidopenicilinas, cefalosporinas da 1ª, 2ª, 3ª e 4ª

geração, monobactâmicos, carbapenemes), fluoroquinolonas,

aminoglicosídeos, trimetoprim-sulfametoxazol, colistina, fosfomicina e

nitrofuranos.

iii. Pesquisar e identificar os genes bla associados à resistência aos antibióticos

β-lactâmicos, orientada pela leitura interpretativa dos testes de

suscetibilidade.

iv. Caracterizar molecularmente a resistência à tigeciclina, através da pesquisa e

identificação de mutações nos genes ramR e marR em isolados estudados de

E. coli e K. pneumoniae, predominantemente, com suscetibilidade diminuída

à tigeciclina.

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Material e Métodos

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II. Material e Métodos

1. Isolados bacterianos

Para a realização do presente trabalho foram estudados 211 isolados de Gram

negativo, reunidos em 2011 e 2013 no Laboratório Nacional de Referência da

Resistência aos Antimicrobianos (LNR-RA) do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo

Jorge, tendo como proveniência diversos hospitais nacionais (Fig. 8). Os isolados

estudados foram os seguintes: Escherichia coli (n=101), Klebsiella pneumoniae (n=70),

Citrobacter freundii (n=4), Enterobacter cloacae (n=12), Enterobacter aerogenes

(n=4), Morganella morganii (n=10), Proteus mirabilis (n=7) e Serratia marcescens

(n=3). A identificação preliminar dos isolados foi realizada nas instituições hospitalares

de proveniência. Sempre que necessário, foi utilizado o método API20E®

, com leitura

em 24 horas, no LNR-RA para confirmar a identificação dos isolados estudados.

Figura 8 - Distribuição, pelos hospitais de origem, de 211 isolados que constituem a amostra do estudo.

0

10

20

30

40

50

60

A B C D E F G H I J L M N

Núm

ero

de

iso

lad

os

Hospitais

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Material e Métodos

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2. Caracterização fenotípica: suscetibilidade aos antibióticos

2.1. Método de microdiluição

O método de microdiluição em caldo foi realizado para determinar a

suscetibilidade de 211 isolados em estudo aos seguintes antibióticos: tigeciclina

(Pfizer), colistina (Sigma), ciprofloxacina (Bayer), imipinem (Merck), cefoxitina

(Fluka), ceftazidima (GSK), cefotaxima (Sanofi) e cefotaxima (Sanofi) em combinação

com ácido clavulânico (Cipan). Assim, a determinação da concentração inibitória

mínima (CIM) foi realizada através dos passos descritos a seguir.

2.1.1. Preparação da solução-mãe dos antibióticos

A solução-mãe de cada um dos antibióticos, para a determinação da CIM, foi

preparada de acordo com a concentração final descrita na Tabela 4. Para cada

antibiótico, a quantidade necessária para a solução-mãe foi calculada de acordo com a

potência e pureza do mesmo e dissolvidos em solventes adequados (Tabela 4),

utilizando a fórmula descrita a seguir:

Peso (mg) = Volume (ml) x Concentração (μg/ml)

Potência (μg/mg)

Os antibióticos em pó foram pesados numa balança analítica (AE200, Mettler).

Após a preparação da solução-mãe na concentração estabelecida (Tabela 4), esta foi

esterilizada por filtração (Acrodisc® syringe filters, Pall corporation) e acondicionada

em eppendorf a -80ºC até o uso.

Tabela 4 - Antibióticos, concentrações das soluções-mãe, solventes e potência dos antibióticos.

Antibiótico Solução-mãe (mg/L) Solvente Potência (%)

Cefotaxima 2048 Água 90,1

Ceftazidima 2048 Carbonato de Sódio 84,6

Cefoxitina 2048 Água 99,4

Imipeneme 2048 Tampão Fosfato [0,01M] pH 7,2 50,0

Ciprofloxacina 1024 Água + hidróxido de sódio [0,1M] 93,6

Tigeciclina 1024 Água 99,7

Colistina 2048 Água 78,6

Ácido Clavulânico 4mg/ml Tampão Fosfato [0,1M] pH 6 95,5

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Material e Métodos

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2.1.2. Preparação das concentrações dos antibióticos

Após a obtenção da solução-mãe foi preparada a solução CIM (utilizadas

diretamente no teste), que corresponde a uma concentração acima da maior

concentração a ser testada. Assim, esta solução CIM (Tabela 5) foi preparada a partir da

solução-mãe com um diluente específico para cada antibiótico.

Tabela 5 - Antibióticos, concentração da solução CIM, diluentes e concentrações testadas na determinação da

concentração inibitória mínima.

Antibiótico Solução CIM

(mg/L)

Diluente Concentrações

testadas (μg/mL)

Cefotaxima 128 Água 1 – 64

Ceftazidima 128 Água 1 – 64

Cefoxitina 256 Água 2 – 128

Imipeneme 1024 Tampão Fosfato [0,01M] pH 7,2 0,25 – 512

Ciprofloxacina 16 Água 0 125 – 8

Tigeciclina 32 Água 0,25 – 16

Colistina 64 Água 0,5 – 32

Ácido Clavulânico 40 mg/mL Tampão Fosfato [0,1M] pH 6

2.1.3. Preparação das diluições dos antibióticos na microplaca

O meio de Mueller-Hinton (INSA) foi distribuído (100 µL) em cada um dos 96

poços da microplaca com o auxílio de um aparelho de microdiluição (Precision TM

BioTek, Winooski, USA). Para a tigeciclina utilizou-se meio de Mueller-Hinton fresco

(<12 h) (Bradford et al. 2005). De seguida, com aquele aparelho de microdiluição foi

realizada a diluição seriada dos antibióticos nas microplacas, que já possuiam meio de

Mueller-Hinton (Fig. 9). Assim, foram adicionados 100 µL da solução CIM, do

antibiótico a testar, nos poços da primeira fila e diluído de forma seriada, pipetando 100

µL da primeira fila para a segunda e, assim sucessivamente, até à penúltima fila,

rejeitando, por fim, os 100 µL. A última fila foi utilizada como controlo negativo.

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Material e Métodos

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Figura 9 - Representação da diluição seriada dos antibióticos na microplaca.

2.1.4. Preparação do inóculo bacteriano

A partir de uma cultura bacteriana pura, em gelose simples (INSA), fez-se uma

suspensão em meio de Mueller-Hinton (108

UFC/mL) com uma turvação de 0,5 na

escala de McFarland (Dade Behring, MicroScan®

Turbidity Meter). Para a determinação

da CIM, a suspensão de 0,5 McFarland foi diluída na proporção de 1:20 (5x106

UFC/mL), à exceção da suspensão a ser testada pela combinação cefotaxima/ácido

clavulânico, a qual foi diluída a 1:10 (1x107

UFC/mL) e adicionada, numa microplaca,

com a solução de ácido clavulânico (40µg/mL) preparada a partir da solução-mãe do

ácido clavulânico (Tabela 4), ficando assim uma concentração final de 5x106

UFC/mL.

Após o preparo das suspensões bacterianas, cada poço, de uma microplaca, já contendo

as diluições de antibiótico (referido em 2.1.3), foi inoculado com 10 µL da cultura

diluída (5x104UFC/mL) com o aparelho de microdiluição, com exceção dos poços da

última fila (controlo negativo). O controlo de qualidade foi realizado com Escherichia

coli ATCC 25922.

Após incubação a 37ºC, durante 18 horas, as placas foram lidas num local

iluminado e a CIM foi determinada de acordo com a observação de crescimento

bacteriano nos poços da microplaca. A interpretação dos resultados foi efetuada

utilizando as normas do Comité de l’Antibiogramme de la Société Française de

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Material e Métodos

28

Microbiologie (2013) (CASFM 2013), pela análise comparativa das concentrações

críticas (mg/L) obtidas e as aí referidas.

2.2. Método de difusão por disco

O método de difusão por disco foi realizado para complementar a avaliação da

suscetibilidade aos antibióticos efetuados por CIM, para os mesmos 211 isolados.

Foram ensaiados 23 antibióticos (carga do disco): amoxicilina (25µg),

amoxicilina/ácido clavulânico (20+10µg), ticarcilina (25µg), piperacilina (25µg),

piperacilina/tazobactam (25µg), cefalotina (25µg), cefuroxima (30µg), ceftriaxona

(30µg), cefpodoxima (10µg), cefixima (10µg), cefepima (30µg), aztreonam (30µg),

ertapeneme (10µg), meropeneme (10µg), ácido nalidíxico (30µg), norfloxacina (5µg),

pefloxacina (5µg), kanamicina (30µg), gentamicina (15µg), amicacina (30µg),

fosfomicina (50µg), nitrofuranos (300µg) e trimetoprim/sulfametoxazol

(1,25+23,75µg).

Para realização deste método o inóculo foi preparado a partir de duas a cinco

colónias isoladas após cultura em meio de gelose simples (INSA), ressuspendidas em

2,5 mL de soro fisiológico, de modo a obter uma turvação de 0,5 na escala de

McFarland (Dade Behring, MicroScan®

Turbidity Meter), e diluídas a 1:100 em soro

fisiológico, num volume total de 10mL. O inóculo foi espalhado uniformemente, por

inundação, em duas placas quadradas (120 x 120 mm) com meio de Muller-Hinton agar

(INSA), para cada estirpe. Os discos de antibióticos escolhidos foram aplicados no meio

inoculado, com um dispensador automático.

De forma a identificar mecanismos específicos de resistência utilizaram-se

discos impregnados com inibidores de β-lactamases: ácido clavulânico, cloxacilina,

ácido borónico e EDTA. Para tal, adicionou-se um disco de imipeneme com 5μL de

uma solução de EDTA 0,5M (750 μg) e um disco branco com 3,5μL de ácido borónico

(300 μg) para pesquisa de metalo-β-lactamases e carbapenemases do grupo A,

respetivamente. A pesquisa de cefalosporinases AmpC foi realizada com a utilização de

um disco branco impregnado com 4,2μL de cloxacilina (750 μg) e a produção de β-

lactamases de espetro alargado através da combinação amoxicilina/ácido clavulânico

(20 + 10 μg). Os discos foram aplicados nas placas com o auxílio de uma pinça estéril.

Em seguida as placas foram invertidas e incubadas em estufa a 37ºC, por um

período de 18 horas. Após incubação, os halos de inibição dos antibióticos ensaiados

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Material e Métodos

29

foram lidos com auxílio de uma régua e os valores obtidos (em milímetros) foram,

igualmente, interpretados de acordo com as normas do Comité de l’Antibiogramme de

la Société Française de Microbiologie (CASFM, 2013).

2.3. Método de E-teste

O método de E-teste® (BioMérieux) PM-PML (cefepima/ combinação de

cefepima com ácido clavulânico) foi utilizado para confirmar a produção de ESBL por

alguns isolados em estudo. Para tal, o inóculo foi preparado a partir de colónias isoladas

em gelose simples (INSA) e ressupendidas em 2,5 mL de soro fisiológico estéril, de

modo a obter um padrão de 0,5 McFarland (Dade Behring, MicroScan®

Turbidity

Meter). A suspensão foi inoculada por espalhamento à superfície da placa de Muller-

Hinton (INSA), com uma zaragatoa esterilizada. De seguida, adicionou-se uma tira de

E-teste® (BioMérieux) com um gradiente de concentração de cefepima (0,25-16 µg/ml)

(PM) numa extremidade e no outro lado com um gradiente de cefepima (0,064-4 µg/ml)

em combinação com ácido clavulânico com uma concentração de 4µg/ml. Após um

período de incubação de 18 horas, a interpretação foi feita com base na observação da

elipse de inibição de crescimento produzida e a determinação do valor da CIM que

correspondeu à concentração de antibiótico presente no local onde a elipse interceptou a

tira. Um resultado positivo para produção de ESBL consiste na deformação da elipse no

PM, ou uma CIM PM ≥0,25 com o valor da razão da CIM da PM e da CIM de PML ≥8.

2.4. Teste de sinergia com meropeneme

Foi realizado o teste de sinergia com meropeneme para os isolados (das espécies

K. pneumoniae, E. coli e E. aerogenes) com suscetibilidade diminuída aos

carbapenemes, sugerindo a possibilidade de produção de carbapenemases das classes A,

B e/ou D e/ou produção de cefalosporinases (classe C) associadas a impermeabilidade.

A suspensão bacteriana foi preparada utilizando colónias isoladas em gelose

simples (INSA) dos isolados clínicos selecionados, e diluídas em soro fisiológico

estéril, de modo a obter uma turvação de 0,5 na escala de McFarland (Dade Behring,

MicroScan®

Turbidity Meter). A solução obtida foi diluída a 1:10 e inoculada, por

espalhamento à superfície de uma placa de Muller-Hinton (INSA), com uma zaragatoa

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Material e Métodos

30

esterilizada. De seguida, foram aplicados quatro discos de meropeneme (10µg, Biorad)

a uma distância de 30mm entre si, tendo sido adicionadas as seguintes soluções (a três

dos discos): 750µg de EDTA (5µl de uma solução 0,5M), 600µg de ácido borónico (7µl

de uma solução 0,5M) e 750µg de cloxacilina (6µl de uma solução 0,25M). Adicionou-

se ainda um disco branco com EDTA (5µl de uma solução 0,5M) no centro da placa

(Fig. 9), a fim de averiguar o efeito do inibidor sozinho na espécie bacteriana. As placas

foram incubadas a 37ºC, durante 18h. Posteriormente, foram medidos e registados os

diâmetros dos halos de inibição para cada um dos discos e para cada uma das estirpes

analisadas e os resultados foram interpretados de acordo com o esquema apresentado na

Figura 10.

Figura 10 - Esquema utilizado para interpretação dos resultados obtidos no teste de sinergia com meropeneme para

deteteção de metalo-β-lactamases, carbapenemases de classe A ou D e β-lactamases AmpC (cromossómicas ou

plasmídicas). BOR, ácido borónico; CLOX, cloxacilina.

3. Caracterização genotípica: mecanismos de resistência aos

antibióticos

3.1. Extração de DNA

A extração de DNA de 211 isolados em estudo foi efetuada pelo método de

fervura. Para tal, uma porção de cultura pura de 18 horas em gelose simples (INSA) foi

inoculada em 750µl de água bidestilada estéril e centrifugada durante 5 minutos, a

10000 rpm (2K15, Sigma). Após centrifugação, o sobrenadante foi desprezado e o pellet

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Material e Métodos

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ressuspendido em 500 µl de água bidestilada estéril, e seguido de nova centrifugação

nas mesmas condições. Após desprezar-se o sobrenadante, o pellet foi ressuspendido em

100µl de água bidestilada estéril e fervido (100ºC) em banho-maria, durante 15min.

Por fim, a amostra foi centrifugada (10000rpm/5min) e o sobrenadante (extrato de

DNA) recolhido para um eppendorf.

3.2. Pesquisa de genes que codificam β-lactamases

Os resultados dos testes de suscetibilidade aos antibióticos orientaram a pesquisa

e identificação molecular dos genes associados ao fenótipo obtido. Assim, utilizando a

técnica de reação da polimerase em cadeia (PCR, Polymerase Chain Reaction), foram

detetados os genes de interesse, que codificam para a resistência aos β-lactâmicos.

Nos isolados com fenótipo de ESBL, sugerida pela suscetibilidade diminuída ou

resistência à cefotaxima e com sinergia com o ácido clavulânico foi pesquisada a

presença do gene blaCTX-M por PCR simples. Em 15 isolados em que não se detetou o

gene blaCTX-M foi pesquisada a presença dos genes de resistência blaTEM, blaSHV, blaOXA

e ampC (este último detetado apenas por constituir um controlo interno da espécie E.

coli) por PCR multiplex. Em 34 isolados suscetíveis ou resistentes à cefotaxima e sem

sinergia com o ácido clavulânico foi igualmente pesquisada a presença dos genes

blaTEM, blaSHV, blaOXA e ampC por PCR multiplex e ainda o gene blaGES por PCR

simples. Em 30 isolados, selecionados aleatoriamente na amostra, das espécies K.

pneumoniae, E. coli e Enterobacter spp., com suscetibilidade diminuída à cefoxitina,

foram ainda pesquisados sete outros genes, que codificam β-lactamases plasmídicas da

família AmpC (PMAβ): blaMOX, blaCIT, blaDHA, blaACC, blaMIR, blaFOX e blaACT. O gene

blaACT foi detetado por PCR simples e os restantes genes por PCR multiplex. Nos

isolados que apresentaram suscetibilidade diminuída aos carbapenemes e resultado

positivo para carbapenemase de classe A e D no teste de sinergia com meropeneme,

pesquisou-se a presença dos genes blaKPC, blaSME, blaOXA-48, blaGES e blaNMC, por PCR

multiplex.

Os primers, o tamanho dos fragmentos de amplificação e a temperatura de

hibridação de todos os genes bla pesquisados estão descritos na Tabela 6, tendo os

mesmos sido desenhados no LNR-RA, a apartir de sequências publicadas no EMBL ou

a partir de primers previamente publicados por outros autores.

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Material e Métodos

32

Tabela 6 - Sequência de primers para pesquisa de diferentes genes bla utilizados no PCR e na sequênciaçãoa,

tamanho dos respetivos fragmentos e temperatura de hibridação.

Gene Primer Sequência (5’→3’) Tamanho do fragmento (pb) Temperatura de

hibridação

blaCTX-M CTXiF TTTGCGATGTGCAGTACCAGTAA 543

55°C CTXiR CGATATCGTTGGTGGTGCCATA

blaCTX-M-15 CTX-M-1Fa ATGGTTAAAAAATCACTGCG 869

55°C CTX-M-15Ra ACCGTCGGTGACGATTTTAG

CTX-M-15Fa AGAATAAGGAATCCCATGGTT 903

55°C CTX-M-1Ra CCGTTTCCGCTATTACAA

blaCTX-M-14 CTXG3Fa CTGATGTAACACGGATTGACC 871

55°C CTX14Ra CGATTTATTCAACAAAACCAG

blaTEM P1b TACGATACGGGAGGGCTTAC 716

56°C P2 a b TTCCTGTTTTTGCTCACCCA

FINa ATTCTTGAAGACGAAAGGGC 1091

56°C DEBa ATGAGTAAACTTGGTCTGAC

blaSHV SHVF b TCAGCGAAAAACACCTTG 471

56°C SHVR b TCCCGCAGATAAATCACCA

SHV1059 a TTAGCGTTGCCAGTGCTC 911

56°C SHV149P a CGCTTCTTTACTCGCCTTTA

ampC AmpCF b CCCCGCTTATAGAGCAACAA 634

56°C AmpCR b TCAATGGTCGACTTCACACC

blaOXA OXAF b TATCTACAGCAGCGCCAGTG 199

56°C OXA R b CGCATCAAATGCCATAAGTG

blaGES GES -Fa AAAGCAGCTCAGATCGGTGT 891

61°C GES - Ra AATTCGTCACGTTCTACGGC

GES-Fi c AAAGCAGCTCAGATCGGTGT 707

56°C

GES-Ri c AACCAATCAGCAGGAACAC

blaKPC KPC –Fa c ATGTCACTGTATCGCCGTCTAG 888

56°C KPC -Ra c AGAGCCTTACTGCCCGTTG

KPC_istB_fw a GCTACCGCTTGAAGGACAAG Variável

( 1800)

60°C

KPC_tnpA_rev a GTCAATGCCAAGACCCATCC

blaNMC/IMI NMC/IMI F c TTACAATATAGCGACAATGG 457

56°C

NMC/IMI R c TTACTTTATCCTCATGCTTG

blaSME SME F c CAGATGAGCGGTTCCCTTTA 509

56°C

SME R c AACCCAATCAGCAGGAACAC a primers utilizados em sequenciação; b primers utilizados em PCR multiplex para pesquisa de genes blaESBL; c primers utilizados em

PCR multiplex para pesquisa de genes que codificam carbapenemases de classe A e D; d primers utilizados em PCR multiplex para

pesquisa de genes que codificam PMAβ.

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Material e Métodos

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Tabela 6 - (Continuação)

Gene Primer Sequência (5’→3’) Tamanho do fragmento (pb) Temperatura

de

hibridação

blaOXA-48 OXA-48 -F c ATGCGTGTATTAGCCTTATC 140

56°C OXA-48 -R c CCTAAACCATCCGATGTG

blaMOX MOXM – Fd GCTGCTCAAGGAGCACAGGAT 520

64°C MOXM - Rd CACATTGACATAGGTGTGGTGC

blaCIT CITM - F d TGGCCAGAACTGACAGGCAAA 462

64°C CITM- R d TTTCTCCTGAACGTGGCTGGC

CMYG2F a TTACGGAACTGATTTCATG 1143 56°C

CMYG2R a TCGTCAGTTATTGCAGC

blaDHA DHAM-Fd AACTTTTCACAGGTGTGCTGGGT 405

64°C DHAM-Rd CCGTACGCATACTGGCTTTGC

DHA1Aa CTGATGAAAAAATCGTTATC 1141

56°C DHA1B a ATTCCAGTGCACTCAAAATA

blaACC ACCM-Fd ACCAGCCTCAGCAGCCGGTTA 346

64°C ACCM-Rd TTCGCCGCAATCATCCCTAGC

blaMIR EBCM-Fd CAGTTCTGCATTCGCCGCAC 802

64°C EBCM-Rd CACCTTGTTATCACTGCCTCCGAC

EBCFa AAATCCCTAAGCTGTGCCCTGCTG 1137

EBCRa TTACTGCAGCGCGTCGAGGAT

blaFOX FOXM-Fd GGACTCATCGCCAGTATTCCAACC 286

64°C FOXM-Rd AACTTCAGCAGATCCGCCGAAC

blaACT ACT-Fa GATGATGACTAAATCCCTTTGCTG 1127

63.1°C ACT-Ra AAATACGGTATGCCGCCTC

a primers utilizados em sequenciação; b primers utilizados em PCR multiplex para pesquisa de genes blaESBL; c primers utilizados em PCR

multiplex para pesquisa de genes que codificam carbapenemases de classe A e D; d primers utilizados em PCR multiplex para pesquisa

de genes que codificam PMAβ.

Para as reações de PCR simples foi preparada uma mistura de reação na câmara

de fluxo laminar (Holton) com os seguintes reagentes: tampão (1x, Quiagen), dNTPs

(0,2 mM de dATP, dCTP, dGTP e dTTP, Roche Diagnostics), cloreto de magnésio (3

mM, Quiagen), Q solution (1x, Quiagen), primers específicos (Tabelas 6), Taq

polimerase (0,6 unidades, Bioline) e água bidestilada, estéril e apirogénica (Labesfal) de

forma a perfazer um total de 24 μl. Para os PCR multiplex foi utilizado um protocolo

semelhante, mas com alteração na concentração de cada dNTP: 0,5mM. De seguida,

adicionou-se 1 μl de DNA (numa concentração final de 4 ng/μl) à mistura de reação. As

amplificações foram realizadas num termociclador (C1000 Thermocycler, Bio-Rad). De

acordo com as temperaturas de hibridação de cada primer e com o tamanho do

fragmento amplificado, os programas das reações diferiram entre si.

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Material e Métodos

34

3.3. Pesquisa de genes implicados na resistência à tigeciclina

Nos isolados das espécies K. pneumoniae e E. coli, com suscetibilidade

diminuída à tigeciclina, amplificaram-se os genes ramR e marR, respetivamente. Os

primers para os genes ramR e marR foram desenhados, para este estudo, no LNR-RA a

partir de sequências publicadas (Hentschke et al., 2010; Keeney et al., 2008).

As condições de amplificação dos genes ramR e marR foram otimizados pela

primeira vez, no presente estudo. Assim, inicialmente foram testados intervalos de

temperatura para realizar o PCR (gradiente de temperatura), utilizando um

termociclador (C1000 Thermocycler, Bio-Rad), com a possibilidade de efetuar esse

gradiente, de forma a determinar a temperatura ótima de hibridação para cada um dos

genes. Além disso, foi realizado um PCR com um gradiente de cloreto de magnésio

(MgCl2) (1,5-5mM) de forma a detetar a concentração ótima de MgCl2 que

corresponderia à melhor amplificação, com a temperatura de hibridação previamente

escolhida no PCR com gradiente de temperatura, para cada um dos genes. Para o gene

ramR utilizou-se a temperatura de hibridização de 48 ºC e para o gene marR 54 ºC. Foi

escolhida a concentração de 3mM e 2,5mM de MgCl2 para amplificação dos genes

marR e ramR, respetivamente.

Para as reações de amplificação, por PCR simples, do gene marR foram

padronizadas para 25μL de volume total com os seguintes reagentes: 13,7 μL de água

bidestilada, estéril e apirogénica (Labesfal), 0,2 μL de dNTPs (0,2 mM de dATP, dCTP,

dGTP e dTTP, Roche Diagnostics) 2,5μL de tampão (1x, Quiagen), 1,5μL de MgCl2 (3

mM, Quiagen), 0,5 μL de cada primer (20 μM) (Tabela 7), 5 μL de Q solution (1x,

Quiagen), 0,1μL de Taq polimerase (0,6 unidades, Bioline) e, por fim, 1μL de DNA.

Para as reações de amplificação por PCR simples do gene ramR, foram utilizadas as

mesmas condições usadas para o gene marR, com uma diferença no volume de água

bidestilada (14,2 μL) e MgCl2 (1 μL; 2,5 mM, Quiagen).

Com a padronização dos parâmetros da reação de amplificação do gene marR e

ramR, foram efetuadas as reações de PCR com as condições descritas na Tabela 7, para

posterior análise da sequência nucleotídica. As amplificações e sequenciação foram

realizadas num termociclador (C1000 Thermocycler).

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35

Tabela 7 - Sequência e tamanho dos primers ramR e marAB e as condições utilizadas nas reações de amplificação.

Gene Primers 5' - 3' Desnaturação

inicial

Nº de

ciclos Ciclos

Extensão

final

Tamanho do

fragmento

marAB marR-F GCAACTAATTACTTGCCAGG 94º C 5min 30 94º C 30s

54º C 30s

72º C

1min15s

72º C

10min

1162bp

marB-R AAGGTGGGAAGTTAATAAGC

ramR RamR-F ACTCATTATTAGGAAAGCGATG 94º C 5min 30 94º C 30s

48º C 45s

72º 1min

72º C

10min

725bp

RamR-R AGTGTTTCCGGCGTCATTAG

3.4. Eletroforese em gel de agarose e visualização de DNA

Os produtos amplificados de cada reação foram submetidos à eletroforese em gel

de agarose a 1% (Agarose Multi-Purpose, BIOLINE) em TAE 1x (0,04M tris-acetato,

0,001M EDTA), ao qual se adicionou SYBR®Safe (Invitrogen life Science

Technologies). O volume de amostra aplicado no gel foi de 7 μl, adicionados de 2 μl de

tampão (0,25% de azul de bromofenol, 0,25% xileno-cianol e 30% glicerol). A

eletroforese decorreu durante 35min, a 120V para os produtos de PCR simples e durante

45min a 120V para os produtos dos PCRs multiplex. Após migração dos produtos de

PCR, o gel foi visualizado sob luz ultravioleta num transiluminador (Bio-Rad Gel Doc

2000). Os isolados com genes de resistência evidenciaram um fragmento de DNA com

o tamanho (pb) previsto (ao serem desenhados os primers), tendo sido confirmado pelos

controlos positivos.

3.5. Purificação dos produtos de PCR

De forma a eliminar o excesso de reagentes (primers, dNTPs, Taq polimerase)

não utilizados na reação de amplificação, foi efetuada a purificação dos produtos de

PCR antes da realização da reação de sequenciação. Para tal, foi utilizado o método

ExoSAP-IT (Usb®), que tem a atividade enzimática, inicialmente, de uma exonuclease

e, posteriormente, de uma fosfatase alcalina. Assim, a reação de purificação foi

realizada com 2l do reagente ExoSAP-IT adicionados a 5l de produto de PCR. A

reação decorreu num termociclador (C1000 Thermocycler, Bio-Rad) com a ação das

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Material e Métodos

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enzimas a 37ºC, durante 15 minutos, numa fase inicial, seguida da sua inativação, a

80ºC, durante 15 minutos, numa fase final.

3.6. Sequenciação nucleotídica

Os produtos de PCR purificados foram sequenciados, de modo a determinar a

composição da sequência nucleotídica e identificar os genes detetados por PCR. Para

cada produto de PCR fez-se uma mistura de sequenciação com 1l de BigDye

Terminator v3.1 Cycle Sequencing (Applied Biosystem), 0,4 μl do primer específico

para o gene em estudo (Tabelas 6 e 7), 1 μl de DNA purificado e 7,6 μl de água

bidestilada, estéril e apirogénica (Labesfal), de modo a perfazer um volume final de

10l. A reação de sequenciação decorreu num termociclador (Mastercycler Pro,

Eppendorf) durante 23 ciclos, com as seguintes condições: desnaturação das cadeias de

DNA a 96ºC, durante 10 s, hibridação dos primers a 56ºC, durante 5 s, e extensão a

60ºC, durante 5 min. De seguida, os produtos sequenciados foram enviados à Unidade

de Tecnologia e Inovação do INSA, para remoção dos terminadores por precipitação

alcoólica, migração no sequenciador automático (ABI PRISM

3100, Applied

Biosystem) e registo das sequências (eletroferogramas).

A análise e interpretação das sequências nucleotídicas dos genes bla e dos genes

ramR e marR obtidas foram, posteriormente, realizadas no LNR-RA, recorrendo ao

software Bionumerics Applied Maths versão 3.5. O alinhamento das sequências

nucleotídicas obtidas para o gene marR, foi realizada, incluindo a sequência de

referência de E. coli K-12 MG1655 wild-type, recorrendo ao programa bioinformático

CLC DNA Workbench 5.6. As sequências nucleotídicas do gene ramR foram também

alinhadas com a sequência de referência de Klebsiella pneumoniae subsp. pneumoniae

MGH 78578 (CP000647), recorrendo ao mesmo programa bioinformático.

4. Caracterização bioquímica: β-lactamases

Realizou-se a focagem isoelétrica para confirmar a expressão de β-lactamases

codificadas pelos genes amplificados, em isolados selecionados aleatoriamente na

amostra em estudo.

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Material e Métodos

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4.1. Extração de β-lactamases

A extração de β-lactamases, para posterior realização da focagem isoelétrica, foi

realizada pela inoculação, em 15mL de Brain Heart Infusion (BHI) (INSA), de uma

colónia isolada em meio de gelose simples (INSA). A suspensão bacteriana obtida, foi

incubada a 37ºC, com agitação, durante 18h e, de seguida, centrifugada a 10000rpm, a

4ºC, durante 15min (2K15 Sigma). Após centrifugação, o sobrenadante foi rejeitado e o

pellet foi ressuspendido em 1mL de água destilada estéril e agitado num vortex®. De

seguida, a suspensão foi sonicada (num tubo envolto em gelo), durante 1min30seg com

um sonicador (UP 200S, Dr. Hielscher, GmbH). A suspensão obtida foi, então,

centrifugada a 16000rpm, a 4ºC, durante 30min. Por fim, o sobrenadante (β-lactamase)

foi transferido para um eppendorf, e conservado a -20ºC, para posterior aplicação e

migração no gel de focagem.

4.2. Teste do Nitrocefin

Para analisar a atividade enzimática da β-lactamase, adicionou-se 5µL de cada

amostra a 5µL de Nitrocefin (Oxoid). O resultado positivo resulta da degradação do

Nitrocefin pela enzima, com alteração da cor inicial (amarelo) para vermelho.

4.3. Gel de focagem isoelétrica

4.3.1. Preparação do gel de migração

Inicialmente, duas placas de vidro (para realização do gel de migração) foram

tratadas com Repel-Silane (Pharmacia). Adicionou-se, numa das placas, o

GelBond®PAG Film (Amersham Pharmacia Biotech AB), com a parte hidrófila para

cima. De seguida, a outra placa foi assente por cima daquele filme (segura à primeira

placa, por meio de molas). O gel de migração foi preparado num volume de 31,1mL

com os seguintes reagentes: 3,75mL ReadySol IEF 40% (Pharmacia Biotech), 2mL

Ampholine® (pH 7,0-9,0) (Amersham Pharmacia Biotech AB), 24 mL água destilada,

85µL persulfato de amónia 10% (Merck) e 50 µL de TEMED (N,N,N’,N’-

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Material e Métodos

38

tetrametiletilenodiamina) (Merck). Após preparação da solução, esta foi injetada entre

duas placas vidros. A polimerização foi efectuada por exposição à luz, durante 25min.

4.3.1.1. Migração

Após o período de polimerização, o gel foi colocado numa plataforma de

migração (Multiphor II, Amersham Pharmacia Biotech), e refrigerado por um banho à

temperatura de 12ºC (Multitemp III, Amersham Pharmacia Biotech). Posteriormente, os

pedaços de papel de filtro (Amersham Biosciences AB), que exerceram a função de

suporte para a aplicação de 5l de extratos enzimáticos, foram colocados no gel

(ânodo). Finalmente, aplicaram-se duas tiras de papel de filtro (Amersham Pharmacia

Biotech AB) no gel: uma embebida em H3PO4 1M (ânodo) e outra embebida em NaOH

1M (cátodo). Estas tiras permitiram o contato entre o gel e os eléctrodos. A duração da

migração foi de 1 hora, com uma voltagem de 1500V, intensidade de 30mA e potência

de 30W. Em paralelo com as amostras em estudo, foram aplicados no gel os seguintes

extratos de β-lactamases de referência, isto é, controlos de migração, com pIs

conhecidos: E. coli R111 (TEM-1, pI 5,4), E. coli 5753 (CTX-M-15, pI 8,9), E. coli

Guer (IRT-2, pI 5,2), E. coli Soler (AmpC, pI 9,2) e K. pneumoniae 6884 (SHV-1, pI

7,6).

4.3.1.2. Preparação do gel de revelação

A preparação do gel de revelação foi efetuada da seguinte forma: aquecimento

de 14,7mg/mL de agar (Difco) e 4,9mg/mL de amido (Difco) dissolvidos em 70mL de

tampão fosfato 0,1M, pH 6. Após arrefecimento da solução, adicionou-se 0,13mg/mL

de penicilina G (Wyeth) e 3mL de uma solução de iodo composta por 20mg/mL de iodo

(Sigma) e por 530mg/mL de iodeto de potássio (Merck). Seguidamente, injetou-se o gel

entre duas placas de vidro, previamente aquecidas para evitar a polimerização do gel e

colocou-se no frio para solidificar. Após migração das amostras no gel de migração,

colocou-se o gel de revelação sobre o primeiro. A revelação da presença do extrato

enzimático no gel de migração foi possível devido à hidrólise enzimática da penicilina

G pela -lactamase, a qual origina ácido penicilinóico; este promove a redução do iodo

na presença do amido, descorando o gel de revelação. Através da comparação com as

enzimas de referência determinou-se o(s) pI(s) em cada amostra.

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Resultados

39

III. Resultados

1. Avaliação da suscetibilidade de bactérias de Gram negativo aos

antibióticos

1.1. Suscetibilidade a 8 classes de antibióticos

O teste de suscetibilidade foi efetuado em 211 isolados de Gram negativo. Os

resultados da suscetibilidade de todos os antibóticos ensaiados estão descritos na Tabela

8. Dentro do grupo dos antibióticos β-lactâmicos verificou-se uma elevada percentagem

de suscetibilidade diminuída a vários antibióticos ensaiados. Assim, todos os isolados

em estudo apresentaram suscetibilidade diminuída à amoxicilina; 95 e 97%

apresentaram suscetibilidade diminuída a outras penicilinas: ticarcilina e piperacilina,

respetivamente. Verificou-se que 91% e 53% dos 211 isolados eram ser não suscetíveis

às combinações amoxicilina/ácido clavulânico e piperacilina/tazobactam,

respetivamente. De forma geral, os isolados apresentaram suscetibilidade diminuída às

cefalosporinas de primeira (98%), segunda (98%) e terceira geração (90-95%). Os

isolados apresentaram menor percentagem de suscetibilidade diminuída (69%) à

cefalosporina de quarta geração, em relação às outras cefalosporinas. Verificou-se ainda

menor atividade antimicrobiana da cefoxitina (71%) e do aztreonam (85%) para os

isolados estudados. Os carbapenemes foram os antibióticos que apresentaram maior

atividade in vitro na classe dos β-lactâmicos ensaiados, tendo, portanto, os isolados

evidenciado uma maior suscetibilidade a estes antibióticos; no entanto de entre todos os

carbapenemes ensaiados, os isolados apresentaram uma maior percentagem de

suscetibilidade diminuída (13%) ao ertapeneme. Nas espécies bacterianas estudadas, a

suscetibilidade diminuída ao imipeneme encontra-se distribuída da seguinte forma: 6%

das K. pneumoniae (4/70), 50% das M. morganii (5/10), 5% Enterobacter spp./C.

freundii (1/20), e 29% dos P. mirabilis (2/7).

Em relação às fluoroquinolonas, os isolados apresentaram baixa percentagem de

suscetibilidade (78-88% de suscetibilidade diminuída). Na classe dos aminoglicosídeos,

os antibióticos menos eficazes in vitro foram a kanamicina (73%) seguida da

gentamicina (57%). Os isolados apresentaram maior percentagem de suscetibilidade à

amicacina (91%), neste grupo. Os nitrofuranos e a fosfomicina apresentaram boa

atividade in vitro. Já em relação à combinação trimetoprim/sulfamidas verificou-se que

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Resultados

40

69% dos isolados apresentavam suscetibilidade diminuída. A colistina foi um dos

antibióticos para os quias os 211 isolados apresentaram menor percentagem de

suscetibilidade diminuída (14%), bem como a tigeciclina (27%).

A análise das CIM50 e CIM90 de, pelo menos, um antibiótico de cada classe

ensaiada para as várias espécies bacterianas estudadas, encontra-se na Tabela 9. Como

se pode verificar a menor CIM90 da tigeciclina é de 1mg/L para E. coli, Enterobacter

spp./C. freundii, sendo superior em K. pneumoniae (4mg/L). Em relação à

ciprofloxacina, a CIM90 foi >8mg/L para todas as espécies e CIM50 e CIM90 de 32 a

>64mg/L nas cefalosporinas de terceira geração, com exceção da CIM50 da ceftazidima

para P. mirabilis e M. morganii (CIM50 4mg/L e CIM50 8mg/L, respetivamente). Já a

CIM50 e CIM90 do imipeneme foi igual para E. coli e K. pneumoniae (≤0,25mg/L e

0,5mg/L, respetivamente), tendo aquele antibiótico menor atividade in vitro nos

isolados de M. morganii (CIM50 2 mg/L e CIM90 4mg/L) e P. mirabilis (CIM50 2 mg/L

e CIM90 16mg/L), mas atividade superior in vitro em S. marcescens (CIM50 ≤0,25mg/L

e CIM90 ≤0,25mg/L).

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Resultados

41

Tabela 8 - Suscetibilidade de 211 isolados de Gram negativo a antibióticos de diferentes classes.

Antibióticos

Suscetibilidade

diminuída

Suscetibilidade

Nº % Nº %

β-lactâmicos

Amoxicilina 211 100 0 0

Ticarcilina 205 97 6 3

Piperacilina 201 95 10 5

Amoxicilina + CLAV 191 91 20 9

Piperacilina + TAZ 111 53 100 47

Cefalotina 207 98 4 2

Cefuroxima 206 98 5 2

Cefotaxima a 201 95 10 5

Ceftazidima a 201 95 10 5

Cefpodoxima 201 95 10 5

Ceftriaxona 190 90 21 10

Cefixima 193 91 18 9

Cefepima 145 69 66 31

Cefoxitina a 150 71 61 29

Aztreonam 180 85 31 15

Imipeneme a 12 6 199 94

Ertapeneme 28 13 183 87

Meropeneme 6 3 205 97

Fluroquinolonas

Ácido nalidíxico 165 78 46 22

Norfloxacina 185 88 26 12

Pefloxacina 151 72 60 28

Ciprofloxacina a 176 83 35 17

Aminoglicosídeos

Kanamicina 154 73 57 27

Gentamicina 120 57 91 43

Amicacina 20 9 191 91

Polimixinas

Colistina a 29 14 182 86

Glicilciclinas

Tigeciclina a 56 27 155 73

Outras classes

Nitrofuranos 63 30 148 70

Fosfomicina 21 10 190 90

Trimetoprim/Sulfamidas 145 69 66 31 a Suscetibilidade determinada pelo método de microdiluição (a suscetibilidade aos restantes antibióticos

foi determinada pelo método de difusão por disco); CLAV, Ácido clavulânico; TAZ, tazobactam.

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Resultados

42

1.2. Suscetibilidade à tigeciclina

A atividade in vitro da tigeciclina (expressa em CIM50 e CIM90) para as

diferentes espécies obtida pelo método de microdiluição, está igualmente analisada na

Tabela 9. Aí comparou-se a suscetibilidade do total dos isolados em relação aos

isolados suscetíveis à tigeciclina e com suscetiblidade diminuída a este antibiótico.

Assim, no total de isolados, 73% eram suscetíveis à tigeciclina (Tabela 8), representado

por 93% dos isolados de E. coli, 90% de Enterobacter spp./C. freundii, 57% de K.

pneumoniae, 33% de S. marcescens e, por fim, 20% de M. morganii (Tabela 9).

Nos isolados suscetíveis à tigeciclina verificou-se que a CIM50 para este

antibiótico variou de 0,5 a 1mg/L e a CIM90 foi de 1mg/L nos isolados de E. coli, K.

pneumoniae, Enterobacter spp./C. freundii, M. morganii e S. marcescens. Entre os

antibióticos β-lactâmicos testados nesses isolados suscetíveis à tigeciclina, o imipeneme

foi o antibiótico que apresentou melhor atividade in vitro com CIM50 e CIM90 baixas

(CIM50 ≤0,25 e CIM90 ≤0,25 a 1mg/L), à exceção da espécie M. morganii (CIM50 0,5

mg/L e CIM90 4mg/L). No que diz respeito às cefalosporinas de terceira geração,

verificaram-se valores de CIM90 entre 32 mg/L e >64mg/L, relativamente próximos dos

valores de CIM50 entre 32 mg/L e 64mg/L, excetuando-se um valor de CIM50 8 mg/L

para P. mirabilis. A cefoxitina apresentou também baixa atividade in vitro nesses

isolados, com CIM90 32 mg/L - >128mg/L, assim como a ciprofloxacina com valores de

CIM90 de 4 mg/L a >8mg/L. Relativamente à colistina, foi observada uma atividade in

vitro superior a outros antibióticos testados nos isolados de E. coli e K. pneumoniae

com CIM90 ≤0,25 mg/L e 1mg/L, respetivamente.

A suscetibilidade diminuída à tigeciclina foi observada em 27% dos 211 isolados

em estudo (Tabela 8). De entre estes, 100% dos P. mirabilis apresentaram CIM50 e

CIM90 de 8mg/L. Para as outras espécies com suscetibilidade diminuída à tigeciclina

este antibiótico apresentou CIM50 de 2 mg/L, exceto M. morganii com 4mg/L, e

evidenciou uma CIM90 de 2mg/L para isolados de E. coli e S. marcescens, 8mg/L para

K. pneumoniae e Enterobacter spp./C. freundii e 16mg/L para M. morganii. Ainda nos

isolados com suscetibilidade diminuída à tigeciclina, a atividade in vitro das

cefalosporinas de terceira geração (CIM90 32->64mg/L) e da cefoxitina (CIM90 64-

>128mg/L) foi menor do que para os restantes antibióticos, sendo, no entanto,

semelhantes as CIM90 dos isolados suscetíveis à tigeciclina. O imipeneme apresentou,

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Resultados

43

geralmente, uma maior atividade in vitro do que os restantes antibióticos,

nomeadamente para isolados de E. coli, K. pneumoniae e S. marcescens com CIM90

≤0,25 mg/L e em Enterobacter spp./C. freundii com CIM90 0,5mg/L, valores, qualquer

deles, de suscetibilidade. Em isolados de M. morganii e P. mirabilis observaram-se

valores mais elevados de CIM90 4 e 16mg/L, respetivamente. A ciprofloxacina

apresentou CIM90 >8mg/L, para todas as espécies, com exceção de Enterobacter spp./

C. freundii (CIM90 0,25mg/L). Relativamente à colistina, foi observada uma elevada

atividade in vitro apenas nos isolados de K. pneumoniae e Enterobacter spp./C. freundii

com CIM90 de 1mg/L, correspondendo a valores de suscetibilidade.

Ainda em relação aos isolados suscetíveis e não suscetíveis à tigeciclina,

analisou-se a sua distribuição de acordo com a idade do doente em que foram obtidos

(Fig. 11), tendo-se verificado que os isolados não suscetíveis foram, sobretudo,

provenientes de doentes com idade ≥65 anos (22%). Foram ainda isolados de doentes do

grupo etário15-64 anos (3 %), do grupo etário 1-9 anos (1 %) e 0% em indivíduos com

idade < 1 ano e no grupo etário 10-14 anos. Desconhece-se a idade dos doentes de 6%

dos isolados estudados.

Figura 11 - Distribuição de 199 isolados suscetíveis e não suscetíveis à tigeciclina por grupo etário dos doentes. TG,

tigeciclina; S, sucetíveis; I/R, suscetibilidade diminuída; (Não contempla 12 (6%) dos isolados do estudo, cuja idade

dos doentes se desconhece).

Os isolados suscetíveis à tigeciclina estavam distribuídos em todas as faixas

etárias, com uma maior frequência também em doentes com idade ≥ 65 anos (52%)

(Fig. 11).

0

10

20

30

40

50

60

TGC S (n=149) TGC I/R (n=50)

Per

cen

tag

em

<1 ano (n=5)

1-9 anos (n=8)

10-14 anos (n=2)

15-64 anos (n=37)

≥65 anos (n=147)

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Resultados

44

Tabela 9 - Intervalo de concentrações inibitórias mínimas (CIM) nas quais 50% (CIM50) e 90% (CIM90) dos isolados foram inibidos por 7 antibióticos de 4 classes diferentes, em relação ao total

de isolados (n=211) e à suscetibilidade ou suscetibilidade diminuída à tigeciclina.

E. coli CIM (mg/L)

Total de isolados (n=101) Tigeciclina Suscetível (n=94) Tigeciclina I/R (n=7) Breakpoints

SFM

Interpretação

Interpretação

Interpretação

Antibióticos CIM50 CIM90 Range %S %IR CIM50 CIM90 Range %S %IR CIM50 CIM90 Range %S %IR S R

CAZ 32 64 ≤1 - >64 6% 94% 32 64 ≤1 - >64 6% 94% 32 32 8 - 32 0% 100% ≤1 >4

CTX >64 >64 ≤1 - >64 5% 95% >64 >64 ≤1 - >64 5% 95% 64 64 32 - 64 0% 100% ≤1 >2

FOX 16 32 ≤2 - >128 23% 77% 16 32 ≤2 - >128 24% 76% 32 128 16 - 128 0% 100% ≤8 >32

IMP ≤0,25 0,5 ≤0,25- 1 100% 0% ≤0,25 0,5 ≤0,25- 1 100% 0% ≤0,25 ≤0,25 ≤0,25 - ≤0,25 100% 0% ≤2 >8

CIP >8 >8 ≤0,125- >8 10% 90% >8 >8 0,125- >8 11% 89% >8 >8 >8 - >8 0% 100% ≤0,5 >1

TGC 0,5 1 ≤0,25 - 2 93% 7% 0,5 1 ≤0,25 - 1 100% 0% 2 2 2 - 2 0% 100% ≤1 >2

COL ≤0,5 ≤0,5 ≤0,5- >32 97% 3% ≤0,5 ≤0,5 ≤0,5-32 98% 2% ≤0,5 8 ≤0,5 - 8 86% 14% ≤2 >2

K. pneumoniae CIM (mg/L)

Total de isolados (n=70) Tigeciclina Suscetível (n=40) Tigeciclina I/R (n=30) Breakpoints

SFM

Interpretação

Interpretação

Interpretação

Antibióticos CIM50 CIM90 Range %S %IR CIM50 CIM90 Range %S %IR CIM50 CIM90 Range %S %IR S R

CAZ 32 64 2 - >64 0% 100% 32 64 2 - >64 0% 100% 32 64 32 - 64 0% 100% ≤1 >4

CTX >64 >64 ≤1 - >64 3% 97% >64 >64 ≤1 - >64 3% 98% >64 >64 ≤1 - >64 3% 97% ≤1 >2

FOX 8 128 4 - >128 51% 49% 8 128 4 - >128 58% 43% 16 64 4 - 128 43% 57% ≤8 >32

IMP ≤0,25 0,5 ≤0,25- 256 94% 6% ≤0,25 0,5 ≤0,25 - 256 90% 10% ≤0,25 ≤0,25 ≤0,25- 1 100% 0% ≤2 >8

CIP >8 >8 ≤0,125- >8 14% 86% >8 >8 ≤0,125- >8 23% 78% >8 >8 0,5 - >8 3% 97% ≤0,5 >1

TGC 1 4 ≤0,25 - 16 57% 43% 1 1 ≤0,25 - 1 100% 0% 2 8 2 - 16 0% 100% ≤1 >2

COL ≤0,5 1 ≤0,5- 8 96% 4% ≤0,5 1 ≤0,5 - 4 95% 5% ≤0,5 1 ≤0,5 - 8 97% 3% ≤2 >2

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Resultados

45

Tabela 9 - (Continuação)

Enterobacter spp./C. freundii CIM (mg/L)

Total de isolados (n= 20) Tigeciclina Suscetível (n=18) Tigeciclina I/R (n=2) Breakpoints

SFM

Interpretação Interpretação

Interpretação

Antibióticos CIM50 CIM90 Range %S %IR CIM50 CIM90 Range %S %IR CIM50 CIM90 Range %S %IR S R

CAZ 64 >64 16- >64 0% 100% 64 >64 16 - >64 0% 100% >64 >64 >64 - >64 0% 100% ≤1 >4

CTX >64 >64 8 - >64 0% 100% >64 >64 8 - >64 0% 100% >64 >64 >64 - >64 0% 100% ≤1 >2

FOXb 128 >128 32 - >128 0% 100% 128 >128 32 - >128 0% 100% 128 > 128 128 - >128 0% 100% ≤8 >32

IMP ≤ 0,25 0,5 ≤0,25- 16 95% 5% ≤0,25 1 ≤0,25 - 16 94% 6% ≤0,25 0,5 ≤0,25- 0,5 100% 0% ≤2 >8

CIP 0,25 >8 ≤0,125- >8 60% 40% 0, 25 >8 ≤0,125- >8 56% 44% ≤0,125 0,25 ≤0,125 - 0,25 100% 0% ≤0,5 >1

TGC 0,5 1 ≤0,25 - 8 90% 10% 0,5 1 ≤0,25 - 1 100% 0% 2 8 2 – 8 0% 100% ≤1 >2

COL ≤ 0,5 4 ≤0,5- 32 85% 15% ≤0,5 32 ≤0,5 - 32 83% 17% ≤0,5 1 ≤0,5 – 1 100% 0% ≤2 >2

M.morganii CIM (mg/L)

Total de isolados( n=10) Tigeciclina Suscetível (n=2) Tigeciclina I/R (n=8) Breakpoints

SFM

Interpretação

Interpretação

Interpretação

Antibióticos CIM50 CIM90 Range %S %IR CIM50 CIM90 Range %S %IR CIM50 CIM90 Range %S %IR S R

CAZ 8 32 ≤1 - >64 20% 80% 8 >64 8 - >64 0% 100% 8 32 ≤1 – 32 25% 75% ≤1 >4

CTX 32 >64 ≤1 - >64 20% 80% 4 >64 4 - >64 0% 100% 32 >64 ≤1 - >64 25% 75% ≤1 >2

FOX 32 >128 32 - >128 0% 100% 32 >128 32 - >128 0% 100% 32 >128 32 - >128 0% 100% ≤8 >32

IMP 2 4 0,5 - 4 50% 50% 0,5 4 0,5 - 4 50% 50% 2 4 1-4 50% 50% ≤2 >8

CIP 8 >8 ≤0,125- >8 30% 70% 4 8 4-8 0% 100% 8 >8 ≤0,125- >8 38% 63% ≤0,5 >1

TGC 4 8 1-16 20% 80% 1 1 1 - 1 100% 0% 4 16 2 – 16 0% 100% ≤1 >2

COL b

>32 >32 32 - >32 0% 100% 32 >32 32 - >32 0% 100% >32 >32 >32 - >32 0% 100% ≤2 >2

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Resultados

46

Tabela 9 - (Continuação)

P. mirabilis CIM (mg/L)

Total de isolados (n=7)a Breakpoints

SFM

Interpretação

Antibióticos CIM50 CIM90 Range %S %IR S R

CAZ 4 32 ≤1 - >32 29% 71% ≤1 >4

CTX 64 >64 ≤1 - >64 14% 86% ≤1 >2

FOX 32 64 4 - 64 43% 57% ≤8 >32

IMP 2 16 1 -16 71% 29% ≤2 >8

CIP >8 >8 2 - >8 0% 100% ≤0,5 >1

TGC 8 8 4-8 0% 100% ≤1 >2

COL b

>32 >32 32 - >32 0% 100% ≤2 >2

S. marcescens CIM (mg/L)

Total de isolados (n= 3) Tigeciclina Suscetível (n=1) Tigeciclina I/R (n=1) Breakpoints

SFM

Interpretação

Interpretação

Interpretação

Antibióticos CIM50 CIM90 Range %S %IR CIM50 CIM90 Range %S %IR CIM50 CIM90 Range %S %IR S R

CAZ 32 64 32 - 64 0% 100% 32 32

0% 100% 32 64 32 - 64 0% 100% ≤1 >4

CTX 64 >64 64 - >64 0% 100% 64 64

0% 100% 64 >64 64 - >64 0% 100% ≤1 >2

FOX 64 128 32 - 128 0% 100% 128 128

0% 100% 32 64 32-64 0% 100% ≤8 >32

IMP ≤0,25 ≤0,25 ≤0,25- ≤0,25 100% 0% ≤0,25 ≤0,25

100% 0% ≤0,25 ≤0,25 ≤0,25- ≤0,25 100% 0% ≤2 >8

CIP 4 >8 1 - >8 0% 100% 4 4

0% 100% 1 >8 1 - >8 0% 100% ≤0,5 >1

TGC 2 2 1 - 2 33% 67% 1 1

100% 0% 2 2 2 - 2 0% 100% ≤1 >2

COL b

>32 >32 >32 - >32 0% 100% >32 >32

0% 100% >32 >32 >32 - >32 0% 100% ≤2 >2 a Coincide com o número de isolados com suscetibilidade diminuída à tigeciclina (n=7);

b Resistência natural; CAZ, ceftazidima; CTX, cefotaxima; FOX, cefoxitina; IMP,

imipeneme; CIP, ciprofloxacina; TGC, tigeciclina; COL, colistina; S, suscetível, I, intermédio; R, resistente; SFM, Sociedade Francesa de Microbiologia.

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Resultados

47

1.3. Análise da multirresistência

Do total de 211 isolados, 89% eram multirresistentes. Foi observado que em

todas as espécies existiam isolados multirresistentes: 88% de E. coli, 97% de K.

pneumoniae, 50% de Enterobacter spp./C. freundii e 100% de M. morganii, P.

mirabilis, e S. marcescens. Na Tabela 10 estão representados os diferentes perfis de

multirresistência detetados nas várias espécies bacterianas estudadas, realçando os que

apresentavam ou não suscetibilidade à tigeciclina. Aí se verifica que todos os perfis de

multirresistência apresentavam suscetibilidade diminuída aos antibióticos β-lactâmicos

e à maioria às fluoroquinolonas, seguida dos aminoglicosídeos. Embora tenham sido

observados mais perfis de multirresistência com suscetibilidade diminuída à tigeciclina

(n=20) do que perfis de multirresistência de isolados suscetíveis à tigeciclina (n=17), há

uma maior percentagem (70%) de isolados multirresistentes com suscetibilidade à

tigeciclina.

Nos isolados suscetíveis à tigeciclina, o perfil de multirresistência predominante

incluiu suscetibilidade diminuída aos β-lactâmicos, às fluoroquinolonas,

aminoglicosídeos e à associação trimetoprim/sulfamidas, encontrado em E. coli (37%;

33/89 isolados), K. pneumoniae (19%; 13/68 isolados) e Enterobacter spp./C. freundii

(50%; 5/10 isolados). Este perfil foi também observado em conjunto com a

suscetibilidade diminuída à tigeciclina em E. coli (4%; 4/89 isolados) e K. pneumoniae

(19%; 13/68 isolados). A multirresistência aos β-lactâmicos, fluoroquinolonas,

aminoglicosídeos foi encontrada apenas em E. coli (34%, 30/89 isolados) e foi também

observada em conjunto com suscetibilidade diminuída à tigeciclina apenas num isolado

de E. coli.

Foi ainda detetado outro perfil de multirresistência que incluiu suscetibilidade

diminuída aos β-lactâmicos, às fluoroquinolonas, aos aminoglicosídeos, à associação

trimetoprim/sulfamidas e nitrofuranos, predominante em K. pneumoniae (28%; 19/68

isolados) e encontrada num isolado de E. coli (1%; 1/89 isolados), tendo sido também

observado em associação com suscetibilidade diminuída à tigeciclina apenas em K.

pneumoniae (15%; 10/68 isolados). Em P. mirabilis, M. morganii e S. marcescens a

multirresistência estava, sobretudo, associada à suscetibilidade diminuída à tigeciclina.

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Resultados

48

Tabela 10 - Distribuição de 187 isolados com multirresistência aos antibióticos, em 211 isolados de Gram negativo,

realçando os perfis com e sem suscetibilidade diminuída à tigeciclina, por espécie bacteriana.

Fenótipo de

multirresistência (187/211)a

E.coli

(89/101)a

K. pneumoniae

(68/70)a

Enterobacter

spp./C. freundii

(10/20)a b

M. morganii

(10/10)a

P. mirabilis

(7/7)a

S. marcescens

(3/3)a

Suscetibilidade à tigeciclina (131/187)

L A N

1

L A S 3 2

L Q A 30

L Q A C FS

1

L Q A FS 1

L Q A S 33 13 5

L Q A S C 2 1

L Q A S C FS

1

L Q A S C N

1

1

L Q A S FS 2

L Q A S FS N

2

L Q A S N 1 19 1

L Q FS 1

L Q N 1

L Q S 6

L Q S C

1

L Q S N 2

Suscetibilidade diminuída à tigeciclina (56/187)

L C FS N T

1

L C N T

1

L N T

1

L Q A C FS N T

1 1

L Q A S C FS N T

2 2

L Q A S C FS T

1

L Q A S C N T

2 2

L Q A S C T 1

L Q A S FS N T

2

L Q A S FS T

1

L Q A S N T

10

L Q A S T 4 13

L Q A T 1

L Q C FS N T

1

L Q C N T

1

L Q N T

1 1

L Q S C FS N T

1

L Q S C N T

1

1

L Q S N T

2

L Q S T 1

a Isolados multirresistentes/ total de isolados em estudo. b Integra 8/16 isolados de Enterobacter spp. e 2/4 isolados de C. freundii

Os perfis em negrito representam os perfis de multirresistência que são comuns em isolados com e sem

suscetibilidade diminuída à tigeciclina; A, aminoglicosídeos (kanamicina, gentamicina, amicacina); C, colistina; FS,

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Resultados

49

fosfomicina; N, nitrofuranos; L, β-lactâmicos; Q, fluoroquinolonas (Ácido nalidíxico, norfloxacina, pefloxacina,

ciprofloxacina); S, trimetoprim/sulfamidas; T, tigeciclina.

Para além destes perfis em comum, com e sem suscetibilidade à tigeciclina,

foram ainda observados outros perfis de multirresistência, em isolados das diferentes

espécies, embora em menor frequência, sendo os perfis representados maioritariamente

pela suscetibilidade diminuída aos aminoglicosídeos e às fluoroquinolonas.

2. Caracterização genotípica dos isolados produtores de β-lactamases

Os resultados dos testes fenotípicos orientaram a pesquisa de genes bla

implicados na suscetibilidade diminuída aos antibióticos β-lactâmicos. Os perfis de

suscetibilidade aos antibióticos β-lactâmicos ensaiados foram relacionadas com os

genótipos obtidos e respetivas β-lactamases identificadas, assim como a distribuição

pelos hospitais de proveniência (Tabelas 11, 12 e 13).

2. 1. ESBLs, PMAβ e penicilinases

Foram identificados 84% de isolados com suscetibilidade diminuída à

cefotaxima e sinergia com ácido clavulânico e/ou resultado positivo no E-teste

PM/PML, indicativo da produção de ESBL (Tabela 11). Assim, a presença deste

fenótipo conduziu, principalmente, à pesquisa de genes blaCTX-M, tendo sido detetados

161 genes blaCTX-M (Tabela 11) que codificavam a β-lactamase CTX-M. Globalmente,

foram identificadas 137 enzimas CTX-M-15 e CTX-M-15-tipo, distribuídas em todas as

espécies estudadas, com predominância em E. coli (55%) e em K. pneumoniae (38%).

Foram ainda identificadas outras β-lactamases CTX-M do grupo 1: CTX-M-1 (2%) em

E. coli e CTX-M-32 (2%) em E. coli e P. mirabilis. Do grupo 9 foi identificada a ESBL

CTX-M-14 (5%) apenas em E. coli. As enzimas AmpC plamídicas identificadas, DHA-

1 e CMY-2, foram detetadas em isolados de K. pneumoniae e E. coli, respetivamente.

Em ambas verificou-se ainda a produção de CTX-M e fenótipo de suscetibilidade

diminuída às penicilinas, cefalosporinas de primeira, segunda, terceira e quarta geração,

ao aztreonam, cefoxitina e inibidores de β-lactamases.

Foi efetuada a pesquisa de genes que codificam enzimas PMAβ em 26 dos 28

isolados de E. coli e K. pneumoniae com suscetibilidade diminuída à cefoxitina, no

entanto, não foram obtidos resultados positivos.

Na ausência de genes blaCTX-M foram, então, pesquisadas outras famílias de

genes bla, nomeadamente, da família TEM e SHV. Assim, foram detetados genes

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Resultados

50

blaTEM, entre os quais a maioria codificavam penicilinases TEM-1, TEM-1-tipo e num

isolado, TEM-2. De facto, num isolado de P. mirabilis, com fenótipo ESBL foram

apenas identificadas as penicilinases TEM-1 e TEM-2. Foi também identificada a

produção de duas ESBLs da família TEM, TEM-10 em P. mirabilis e TEM-4 em E.

coli. A ESBL TEM-4 era co-produzida com a penicilinase TEM-1, o que foi confirmado

pela identificação de duas enzimas, uma com pI 5,9 e outra com pI 5,4 (respetivamente),

por focagem isoelétrica.

Da família SHV, foram identificadas penicilinases parentais, entre as quais

SHV-1, SHV-1-tipo e SHV-11. A presença de algumas destas β-lactamases foi

demonstrada na focagem isoelétrica com pI de 7,6. Foram também identificados genes

blaSHV que codificavam ESBL, nomeadamente SHV-2, SHV-12 e SHV-55. Em alguns

casos, a expressão das enzimas SHV-12 e SHV-55 foi observada pela focagem

isoelétrica dos extratos dos isolados respetivos, tendo-se identificado um pI de 8,2. As

enzimas ESBL da família SHV foram encontradas em K. pneumoniae, E. coli, E.

cloacae, C. freundii e S. marcescens.

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Resultados

51

Tabela 11 - Genótipo de 177 isolados, de diferentes espécies, com suscetibilidade diminuída à cefotaxima, detetados como possíveis produtores de ESBL por métodos fenotípicos: β-lactamases

expressas, perfil de resistência aos antibióticos β-lactâmicos e distribuição por hospital a b.

Genótipoc (Nº de isolados) β-lactamasesd (Nº isolados) e

Perfil de resistência aos

β- lactâmicos

Código de

Hospitais

Número de

isolados

E. coli

blaCTX-M (10) CTX-M-1 (3)/ CTX-M-14 (1)/ CTX-M-15-tipo (3)/ CTX-M-15 (3) P C1 C2 C3 C4 M (I) B, D, E, G,

H, N 10

blaCTX-M (62)/ blaCTX-M+blaCMY (1) CTX-M-1 (1)/ CTX-M-14 (5)/ CTX-M-15-tipo (36)/ CTX-M-15 (18)

CTX-M-32 (1)/ CTX-M-15+ CMY-2 (1) P C1 C2 C3 C4 M F (I)

A, B, C, D,

E, F, G, H, L,

M, N

63

blaCTX-M (1) CTX-M-15 (1) f P C1 C2 C3 C4 M F I C G 1

blaCTX-M (8) CTX-M-14 (1)/ CTX-M-15 (1)/ CTX-M-15-tipo (5) P C1 C2 C3 (F) (I)

B, F, L 8

blaCTX-M (7)/ blaSHV + ampC (1)/

blaTEM + blaSHV + ampC (2)

CTX-M-15 (1)/ CTX-M-15-tipo (6)/ SHV-12 (1)/

SHV-12 + TEM-1-tipo (2) P C1 C2 C3 M (F) I B, G, H 10

blaSHV + ampC (3) SHV-12 (3) g P C1 C2 C3 M F, L 3

blaTEM + ampC (1) TEM-1 + TEM-4 h P C1 C2 C3 M F L 1

K. pneumoniae

blaTEM+blaSHV (1) TEM-1-tipo + SHV-2 (1) P C1 C2 C3 H 1

blaCTX-M (9) CTX-M-15 (2) f / CTX-M-15-tipo (7) f P C1 C2 C3 C4 M F (I) C B, G, L 9

blaCTX-M (47)/ blaCTX-M+blaDHA (1)

blaSHV(1)

CTX-M-15 (13)/ CTX-M-15-tipo (27)/

CTX-M-15-tipo + DHA-1 (1)/SHV-1 + SHV-12 (1) i P C1 C2 C3 C4 M (F) I

B, D, F, G,

H, J, L 49

blaCTX-M (2) CTX-M-15 (1) P C1 C2 C3 (F) I F 2

blaCTX-M(1)/ blaTEM+blaSHV(2) CTX-M-15 (1)/ TEM-1-tipo+SHV-11+SHV-12 (1) j/

TEM-1-tipo + SHV-1+ SHV-55 (1) l P C1 C2 C3 M (F) I B, G, N 3

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Resultados

52

Tabela 11 - (Continuação)

Genótipo c (Nº de isolados) β-lactamases d (Nº isolados) Perfil de resistência aos

β-lactâmicos

Código de

Hospitais

Número de

isolados

Enterobacter spp. /C. freundii

blaCTX-M +blaTEM +blaKPC+ blaOXA (1 E. aerogenes) CTX-M-15-tipo+KPC-3-tipo m +TEM-1-tipo+OXA-1-tipo n (1) P C1 C2 C3 C4 M F I C B, H 1

blaCTX-M (1 E. aerogenes/ 1 C. freundii ) CTX-M-15-tipo (2) P C1 C2 C3 C4 M F I H 2

blaSHV+blaOXA (1 E. cloacae)/

blaTEM+blaSHV +blaOXA+ blaMIR (1 E. cloacae)

SHV-12+ OXA-1-tipo (1) /

TEM-1-tipo+OXA-1-tipo+SHV-12 + MIR-tipo o (1) P C1 C2 C3 M F I C H 2

P. mirabilis

blaCTX-M (2) CTX-M-32 (2) P C1 C2 C3 H 2

blaTEM (1) TEM-1 + TEM-2 P C1 C2 C3 F D 1

blaTEM (1) TEM-10 P C1 C2 C3 C4 M B 1

blaCTX-M (2) CTX-M-15-tipo (1)/ CTX-M-15 (1) P C1 C2 C3 C4 M F I (C) B, M 2

M. morganii

blaCTX-M (1) CTX-M-15-tipo (1) P C1 C2 C3 F I H 1

blaCTX-M (1) CTX-M-15-tipo (1) P C1 C2 C3 F I C F 1

blaCTX-M (2) CTX-M-15 (1)/ CTX-M-15-tipo (1) P C1 C2 C3 M F I C H, M 2

S. marcescens

blaCTX-M (1)/ blaTEM + blaSHV (1) CTX-M-15-tipo (1)/ TEM-1 + SHV-12 (1) P C1 C2 C3 C4 M F I B, H 2 a Isolados com sinergia entre cefotaxima e cefotaxima em combinação com ácido clavulânico ou b Isolados apenas com sinergia entre cefepima e cefepima em associação com ácido clavulânico. c Pesquisa efetuada por PCR; d Identificação obtida após sequenciação nucleotídica; e Isolados com sinergia entre cefotaxima e cefotaxima em combinação com ácido clavulânico, cujo fenótipo ESBL, uma vez justificado pela produção de CTX-M, não implicou a eventual

pesquisa de outros genes blaESBL. f Isolados com suscetibilidade diminuída aos carbapenemes, mas sem produção de carbapenemase, justificada pelo teste de sinergia negativo entre meropeneme e ácido borónico, cloxacilina e

EDTA e pela ausência de β-lactamase por focagem isoelétrica; g pI 8,2 (expressão de SHV-12) determinado em um isolado; h pI 5,4 + 5,9 (expressão de TEM-1 e TEM-4, respetivamente); i pI 7,6 e 8,2 (expressão de SHV-1 e SHV-12, respetivamente); j pI 5,4 + 7,6 + 8,2 (expressão de TEM-1, SHV-11 e SHV-12, respetivamente); l pI 5,4 + 7,6 + 8,2 (expressão de TEM-1, SHV-1 e SHV-55);

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53

m Testes fenotípicos positivos que justifiquem produção de KPC: teste de sinergia positiva entre meropeneme e ácido borónico; caracterização bioquímica por focagem isoelétrica: pI 6,7. n pI 5,4+6,7+7,4+8,9 (co-expressão de β-lactamases TEM-1, KPC-3, OXA-1-tipo e CTX-M-15, respetivamente); o pI 8,2 (Co-expressão de SHV-12 e MIR-tipo); P, penicilinas (amoxicilina, ticarcilina e piperacilina); C1, cefalosporina de primeira geração (cefalotina); C2, cefalosporina de segunda geração (cefuroxima); C3, cefalosporinas de terceira

geração (cefotaxima, ceftazidima, cefpodoxima, ceftriaxona, cefixima); C4, cefalosporina de quarta geração (cefepima); M, monobactamo (aztreonam); F, cefoxitina; I, inibidores de β-

lactamases (amoxicilina com ácido clavulânico e piperacilina com tazobactam); Presença variável de fenótipo não suscetível está indicado entre parênteses.

Tabela 12 - Genótipo de 2 isolados com suscetibilidade diminuída à cefotaxima, produtores de ESBL, mas sem evidência fenotípica de produção de ESBL: β-lactamases expressas, perfil de

resistência aos antibióticos β-lactâmicos e distribuição por hospital.

Genótipoa (Nº de isolados) β-lactamasesb Perfil de resistência aos

β-lactâmicos

Código de

Hospitais

Número de

isolados

E. cloacae

blaSHV+blaGES+blaOXA SHV-12 + GES-7 + OXA-1-tipo (1) P C1 C2 C3 C4 M F I C H 1

C. freundii

blaTEM+blaSHV+blaOXA SHV-12 + TEM-1-tipo + OXA-1-tipo (1) P C1 C2 C3 M F I H 1

aPesquisa efetuada por PCR; bIdentificação obtida após sequenciação nucleotídica.

P, penicilinas (amoxicilina, ticarcilina e piperacilina); C1, cefalosporina de primeira geração (Cefalotina); C2, cefalosporina de segunda geração (cefuroxima); C3, cefalosporinas de terceira

geração (cefotaxima, ceftazidima, cefpodoxima, ceftriaxona, cefixima); C4, cefalosporina de quarta geração (cefepima); M, monobactamo (aztreonam); F, cefoxitina; I, inibidores de β-

lactamases (amoxicilina com ácido clavulânico e piperacilina com tazobactam);

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Resultados

54

O fenótipo predominante nestes isolados, sobretudo produtores de β-lactamases

CTX-M ou co-expressando predominantemente β-lactamases TEM e SHV (Tabela 11)

mostrou suscetibilidade diminuída as penicilinas, cefalosporinas de primeira, segunda,

terceira e quarta geração, aztreonam, cefoxitina (variável) e combinação

amoxicilina/ácido clavulânico e combinação piperacilina/tazobactam (variável), tendo

sido detetado, principalmente, em isolados de E. coli e K. pneumoniae. Estes isolados

tiveram como proveniência diversos hospitais em Portugal.

Foram ainda identificados dois isolados (E. cloacae e C. freundii) expressando a

ESBL da família SHV: a β-lactamase SHV-12. No entanto, E.cloacae co-expressava a

β-lactamase GES-7 (Tabela 12). Estes isolados não apresentaram fenótipo de ESBL,

nem no método de microdiluição (sinergia entre cefotaxima e ácido clavulânico), nem

no E-teste® (BioMérieux) PM/PML, mas apresentaram suscetibilidade diminuída à

maioria dos β-lactâmicos e foram isoladas no mesmo hospital (H).

Foram também identificados isolados (n=32) para os quais não se observou

qualquer evidência fenotípica ou genotípica de produção de ESBL (Tabela 13): 16

expressavam as enzimas TEM-1-tipo, SHV-36, SHV-1-tipo e/ou OXA-1-tipo, tendo

revelado resistência ao grupo das penicilinas. Nos restantes dezasseis isolados não foi

detectado nenhum gene bla pesquisado. Estes isolados (E. aerogenes, C. freundii, M.

morganii e S. marcescens) estão, essencialmente, distribuídos no hospital H. Com

exceção de cinco, a suscetibilidade diminuída às cefalosporinas de primeira e segunda

geração foi verificada em todos os isolados deste grupo, também representado na tabela

13. A determinação do pI nos isolados anteriormente referidos, permitiu identificar a

produção de MIR-tipo em dois isolados de E. cloacae, o que corresponde a uma β-

lactamase cromossómica desta espécie.

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Resultados

55

Tabela 13 - Genótipo de 32 isolados com ou sem suscetibilidade diminuída à cefotaxima, sem evidência fenotípica e genotípica de produção de ESBL: β-lactamases expressas, perfil de

resistência aos antibióticos β-lactâmicos e distribuição por hospital.

Genótipoa (Nº de isolados) β-lactamasesb Perfil de resistência aos

β-lactâmicos

Código de

Hospitais

Número de

isolados

E. coli

blaTEM+ blaampC (4) TEM-1-tipo (4) P B, D, E 4

blaTEM+blaampC+blaOXA (1) TEM-1-tipo + OXA-1-tipo (1) P C1 C2 C3 F I E 1

K. pneumoniae

blaTEM+blaSHV+blaKPC (4) TEM-1+ SHV-36 + KPC-3 -tipo c d (4) P C1 C2 C3 C4 M F I C B, D 4

blaSHV (2) SHV-1-tipo (2) P C1 C2 C3 F I H 2

Enterobacter spp. C. freundii

ND (1 E. cloacae/ 2 C. freundii) – P C1 C2 C3 (M) F I H 3

ND (2 E. aerogenes + 7 E. cloacae)/ blaMIR (1 E. cloacae) MIR-tipo (1) e P C1 C2 C3 M F I C B, H 10

M. morganii

blaOXA (1)/ ND (2) OXA-1-tipo (1) P C1 C2 C3 F I D, I, M 3

ND (1) – P C1 C2 C3 F I C H 1

blaOXA (1) OXA-1-tipo (1) P C1 C2 C3 M F I C B 1

blaOXA (1) OXA-1-tipo (1) P C1 F I D 1

P. mirabilis

blaTEM TEM-1-tipo P C1 C2 F I C M 1

S. marcescens

ND – P C1 C2 C3 M F I H 1

aPesquisa efetuada por PCR; b Identificação obtida após sequenciação nucleotídica; c Testes fenotípicos que justifiquem produção de KPC: teste de sinergia positiva entre meropeneme e ácido borónico; pI 6,7. d pI 5,4+6,7+7,6 (co-expressão de β-lactamases TEM-1, KPC-3 e SHV-36, respetivamente); e pI 8,0 (expressão de MIR-tipo);

ND, mecanismo de resistência não detetado ou sobrexpressão de β-lactamases;

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Resultados

56

P, penicilinas (amoxicilina, ticarcilina e piperacilina); C1, cefalosporina de primeira geração (Cefalotina); C2,

cefalosporina de segunda geração (cefuroxima); C3, cefalosporinas de terceira geração (cefotaxima, ceftazidima,

cefpodoxima, ceftriaxona, cefixima); C4, cefalosporina de quarta geração (cefepima); M, monobactamo (aztreonam);

F, cefoxitina; I, inibidores de β-lactamases (amoxicilina com ácido clavulânico e piperacilina com tazobactam);

Presença variável de fenótipo não suscetível está indicado entre parênteses.

2. 2. Carbapenemases

Do grupo de isolados selecionados (n=15) com suscetibilidade diminuída aos

carbapenemes (ertapeneme), uma vez realizado o teste de sinergia com meropeneme,

apenas cinco (4 K. pneumoniae e 1 E. aerogenes) revelaram sinergia com um dos

inibidores, nomeadamente entre o meropeneme e o ácido borónico. Estes isolados

apresentaram suscetibilidade diminuída aos carbapenemes e aos restantes antibióticos β-

lactâmicos testados e eram provenientes dos hospitais B e D. Foi identificado o gene

blaKPC, em todos os isolados, e detetado um pI de 6,7, o qual corresponde à

carbapenemase KPC-3. A identificação específica por sequênciação permitiu confirmar

a presença de blaKPC-3 e, portanto, a produção de KPC-3; a sequênciação nucleotídica

permitiu ainda estudar o ambiente genético do gene blaKPC-3 e identificar o gene istB a

montante e o tnpA a jusante. Foram ainda identificadas outros genes bla que

codificavam as β-lactamases TEM-1 e SHV-36 em K. pneumoniae e CTX-M-15, TEM-

1 e OXA-1-tipo em E. aerogenes (Tabela 14).

Tabela 14 - Isolados produtores de carbapenemase de classe A (KPC-3)

Isolados CTX CAZ FOX IMP CIP COL TGC Outras β-lactamases

TG139 K. pneumoniae >64 >64 128 128 ≤ 0,125 ≤ 0,5 1 TEM-1; SHV-36

TG142 E. aerogenes >64 64 >128 16 2 ≤ 0,5 1 TEM-1; CTX-M-15; OXA-1-tipo

TG144 K. pneumoniae >64 >64 128 128 ≤ 0,125 ≤ 0,5 1 TEM-1; SHV-36

TG146 K. pneumoniae >64 >64 >128 256 ≤ 0,125 1 0,5 TEM-1; SHV-36

TG148 K. pneumoniae >64 >64 128 128 ≤ 0,125 ≤ 0,5 1 TEM-1; SHV-36

CTX, cefotaxima; CAZ, ceftazidima; FOX, cefoxitina; IMP, imipeneme; CIP, ciprofloxacina; TGC, tigeciclina.

Globalmente, nos 211 isolados estudados, possuindo ou não genes blaCTX-M,

foram identificadas 151 β-lactamases CTX-M, entre as quais CTX-M-15(-tipo), CTX-

M-1 e CTX-M-32 do grupo 1 e ainda CTX-M-14 do grupo 9 (Tabela 15).

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Resultados

57

Adicionalmente, foram identificadas, nestes isolados, outras β-lactamases,

nomeadamente, KPC-3, CMY-2, DHA-1, TEM-1 e uma OXA-1-tipo.

Nos isolados blaCTX-M negativos foram identificados outros genes bla,

codificando 23 β-lactamases da família TEM, sendo duas ESBL (TEM-4 e TEM-10) e

24 β-lactamases da família SHV, em que 9 eram penicilinases e 15 ESBL (SHV-2,

SHV-12 e SHV-55). Ainda nestes isolados foram identificados genes que codificavam

as β-lactamases KPC-3, MIR-tipo e OXA-1-tipo (Tabela 15).

Tabela 15.β-lactamases identificadas nos 211 isolados estudados, com e sem blaCTX-M.

β-lactamases em:

Genótipo: blaCTX a positivo Nº

(n=156)

Genótipo: blaCTX negativo

(n=61)

CTX-M-15 (-tipo) 137 TEM-1 (-tipo) 20

CTX-M-1 4 TEM-2 1

CTX-M-32 3 TEM-4 1

CTX-M-14 7 TEM-10 1

KPC-3 1 SHV-1 (-tipo) 4

TEM-1 1 SHV-11 1

CMY-2 1 SHV-36 4

DHA-1 1 SHV-2 1

OXA-1-tipo 1 SHV-12 13

SHV-55 1

KPC-3 4

MIR-tipo 2

OXA-1-tipo 8 a Isolados em que o fenótipo foi justificado pela presença de blaCTX-M, não tendo sido pesquisados mais

genes blaESBL .

3. β-lactamases de diferentes famílias produzidas por bactérias de Gram

negativo com ou sem suscetibilidade à tigeciclina

Ao relacionar os mecanismos de resistência aos antibióticos β-lactâmicos por

produção de β-lactamases constatou-se que, de forma geral, os isolados produtores

daquelas enzimas, principalmente ESBL, têm multirresistência aos antibióticos, quer

nos isolados com suscetibilidade diminuída à tigeciclina, quer nos suscetíveis à

tigeciclina (Fig. 12 A e B). Os isolados produtores de CTX-M apresentavam, na grande

maioria, suscetibilidade à tigeciclina e multirresistência. Cerca de 25% dos isolados

produtores de CTX-M-15(-tipo) e CTX-M-14, apresentaram suscetibilidade diminuída a

tigeciclina e fenótipo de multirresistência. Os isolados produtores de CTX-M-32 eram

maioritariamente (65%) não suscetíveis à tigeciclina.

A tigeciclina apresentou atividade in vitro importante na maioria dos isolados

com SHV, quer nos produtores de penicilinases (SHV-1-tipo, SHV-11 e SHV-36) quer

nos produtores de ESBL (SHV-2, SHV-12 e SHV-55). Relativamente aos isolados

produtores de TEM, verificou-se que, na sua maioria, eram suscetíveis à tigeciclina,

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Resultados

58

contudo o isolado produtor de ESBL TEM-10 apresentou suscetibilidade diminuída a

este antibiótico. De realçar ainda que a tigeciclina apresentou atividade in vitro elevada

nos isolados produtores de KPC-3, GES-7 e de OXA. Em relação aos isolados em que

se detetou MIR-tipo, um era suscetível e outro não suscetível à tigeciclina, sendo ambos

multirresistentes.

A

B

Figura 12 - Distribuição do (A) número de isolados e (B) percentagem, de acordo com a suscetibilidade à tigeciclina,

multirresistência e produção de β-lactamases; OXA: OXA-1-tipo (n=9); ND, mecanismo de resistência não detetado

ou sobrexpressão de β-lactamases (n=16). a Isolados cuja produção de ESBL CTX-M (isoladamente ou com

coexpressão de KPC ou PMAβ) não implicou a eventual pesquisa da presença de outros genes blaESBL. TGC,

tigeciclina; S, suscetível; I/R, suscetibilidade diminuída; MDR, multirresistente.

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

% d

e is

ola

do

s

TGC I/R MDR

TGC S MDR

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Resultados

59

4. Contribuição da bomba de efluxo AcrAB-TolC na atividade da tigeciclina

A suscetibilidade diminuída à tigeciclina está associada às mutações nos genes

repressores ramR e marR em K. penumoniae e E. coli, respetivamente. Neste sentido,

amplificaram-se estes genes e procedeu-se à análise da sequência nucleotídica.

4.1. Análise da sequência nucleotídica do gene marR em E. coli

De forma a elucidar o mecanismo associado à suscetibilidade diminuída à

tigeciclina em E. coli, selecionaram-se os sete isolados com suscetibilidade diminuída

para amplificação do gene marR. Foi possível obter a amplificação do gene em cinco

isolados. Adicionalmente, amplificou-se o gene marR em sete isolados de E. coli

suscetíveis à tigeciclina. Todos os isolados selecionados apresentaram suscetibilidade

diminuída à ciprofloxacina (CIM >8mg/L), com exceção dos isolados TG60 e TG177.

Todas as sequências nucleotídicas do gene marR obtidas foram alinhadas e comparadas

com a sequência de referência E.coli K-12 MG1655. Das 8 mutações nucleotídicas

encontradas no gene marR dos isolados estudados, apenas 2 resultaram em substituições

aminoacídicas (Tabela 16): Gly103Ser e Tyr137His. Com exceção do isolado 60, foram

detetadas as mesmas 6 mutações silenciosas e as mesmas 2 mutações pontuais no gene

marR de todos os isolados, em comparação com a sequência de referência.

Tabela 16 - Mutações nucleotídicas no gene marR da estirpe de referência e de 12 isolados clínicos e respetivas

substituições aminoacídicas.

Enzima Nucleótido (aminoácido) Nº

48 186 189 207 276

307

(103) 360

409

(137)

marR(U00096) C G A A C G(Glu) C T(Tyr) 1

TG60 a C G A A C G C T 1

marRb T A G G T A(Ser) T C(His) 11

a Isolado suscetível à tigeciclina e à ciprofloxacina. bSequência do gene marR de onze idolados, incluindo cinco isolados com suscetibilidade diminuída à tigeciclina

(TG48, TG81, TG127, TG164, TG172) e seis suscetíveis à tigeciclina (TG2, TG5, TG9, TG31, TG56, TG60,

TG177), todas resistentes à ciprofloxacina, com exceção de uma (TG177).

4.2. Análise da sequência nucleotídica do gene ramR em K. pneumoniae

Dos 30 isolados de K. pneumoniae com suscetibilidade diminuída à tigeciclina

obteve-se amplificação do gene ramR em 20. Foi realizado o alinhamento de todas as

sequências nucleotídicas do gene ramR em comparação com a sequência de referência

Klebsiella pneumoniae subsp. pneumoniae MGH 78578 (CP000647). Não foi detetada

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Resultados

60

nunhuma mutação nucleotídica no gene ramR de 11 isolados (TG68, TG76, TG82,

TG149, TG169, TG193, TG194, TG201, TG202, TG205, TG208), em comparação com

a sequência de referência (Tabela 17). No gene ramR do isolado TG3 foram detetadas

duas mutações pontuais que resultaram em duas substituições aminoacídicas Ala20Thr

e Arg148His. Foram também encontradas duas mutações pontuais no gene de dois

isolados, TG42 (Lys63Thr) e TG136 (Glu78Thr) que resultaram num codão STOP

prematuro. No gene do isolado TG136, foi detetada outra substituição aminoacídica,

Ala19Val, a qual foi identificada também nos isolados TG166 e TG93. Neste último

isolado, foi ainda identificada a deleção (Fig. 13) do nucleótido G411

ao nucleótido A421

,

o que alterou o quadro de leitura a partir do aminoácido Val138

(sendo este a substituição

aminoacídica Val138Ile) até ao codão STOP. No gene ramR do isolado TG70 foi

identificada a inserção entre o nucleótido 50 e 51, o que causou alteração no quadro de

leitura da proteína (Fig. 14); este gene apresentou ainda, uma substituição aminoacídica,

Ile141Thr, também encontrada nos genes ramR dos isolados TG112 e TG155. No gene

ramR do isolado TG209 foram identificadas várias mutações silenciosas (n=18), assim

como quatro substituições aminoacídicas Thr18Ala, Glu53Lys, Thr69Met e His186Asn,

em comparação com a sequência de referência.

Figura 13 - Alinhamento das sequências do gene ramR com a sequência de referência (Klebsiella pneumoniae subsp.

pneumoniae MGH 78578 (CP000647)) do nucleótido G401 ao nucleótido G480, representando a deleção nucleotídica

do nucleótido G411 ao nucleótido A421 no isolado TG93.

Figura 14 - Alinhamento das sequências do gene ramR com a sequência de referência (Klebsiella pneumoniae subsp.

pneumoniae MGH 78578 (CP000647)) do nucleótido G1 ao nucleótido G80, representando a inserção de 2

nucleótidos entre o nucleótido 50 e 51 no isolado TG70.

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Resultados

61

Tabela 17 - Mutações nucleotídicas no gene ramR da estirpe de referência MGH 78578 (CP000647) e de 20 isolados clínicos e respetivas substituições aminoacídicas encontradas.

a Codão STOP (TAG).

d, Deleção entre o nucleótido G411

e nucleótido G421

, alterando o quadro de leitura desde aí.

i, Inserção de dois nucleótidos entre o nucleótido 50 e 51, alterando o quadro de leitura da proteína

A, Adenina; C, Citosina; G, Guanina; T, Timina; Ala, Alanina; Arg, Arginina; Asn, Asparagina; Glu, Ácido Glutâmico; His, Histidina; Ile, Isoleucina; Lys, Lisina; Met,

Meteonina; Thr, Treonina; Val, Valina.

Isolado Nucleótido (aminoácido)

50 52

(18)

56

(19)

58

(20) 78 87 114 117 126

157

(53) 171 183

187

(63) 204

206

(69) 207

232

(78) 234 312 348 369 411

422

(141) 435 441

443

(148) 456 486 537

556

(186)

ramRCP00067 A(Thr) C(Ala) G(Ala) A G T G A G(Glu) G G A(Lys) C C(Thr) A G(Glu) G A C A G T(lle) G C G(Arg) C C C C(His)

TG3

A(Thr)

A(His)

TG42

Ta

TG68

TG70 i

C(Thr)

TG76

TG82

TG93

T(Val)

d

TG112

C(Thr)

TG136

T(Val)

T

a

TG149

TG155

C(Thr)

TG166

T(Val)

TG169

TG193

TG194

TG201

TG202

TG205

TG208

TG209 G(Ala)

C A G T G A(Lys) A C

G T(Met) G

A G G G

A T

T T T A(Asn)

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Discussão

62

IV. Discussão

A emergência de bactérias de Gram negativo com resistência aos antibióticos

tem comprometido o tratamento de infeções causadas por estes agentes patogénicos, o

que tem constituído um importante desafio, tanto a nível clínico como da comunidade

(Rice, 2009). A resistência aos antibióticos β-lactâmicos mediada pela produção de β-

lactamases representa uma preocupação acrescida, visto que este grupo de antibióticos é

muito utilizado na prática clínica (Bush, 2013), contribuindo decisivamente para o

aparecimento de fenótipos de multirresistência. Neste contexto, a introdução de novas

classes de antibióticos tem permitido controlar a disseminação de bactérias resistentes.

A tigeciclina, uma glicilciclina, é um antibiótico recentemente desenvolvido que

constitui uma alternativa importante no tratamento de infeções causadas por bactérias

resistentes ou multirresistentes (Fraise, 2006). Esta constatação suscitou a realização

deste trabalho, uma vez que se pretendeu avaliar a atividade in vitro da tigeciclina em

bactérias de Gram negativo com resistência aos antibióticos, sobretudo em bactérias

produtoras de β-lactamases.

Assim, avaliou-se a suscetibilidade de 211 isolados de Gram negativo de forma a

compreender o fenótipo destas bactérias face a diferentes antibióticos, analisando

também a presença de multirresistência. Os resultados demonstraram que a maioria (90-

95%) dos isolados não eram suscetíveis às cefalosporinas de terceira geração (com

CIM90 entre 32 e >64mg/L para cefotaxima e ceftazidima). Os carbapenemes,

particularmente o meropeneme, constituíram a categoria de antibióticos menos afetado

nesta classe, com 3-13% de suscetibilidade diminuída. Este facto foi também verificado

em estudos realizados em Portugal (Mendonça et al., 2007; Mendonça et al., 2009),

tendo sido, nestes casos, observado que bactérias de Gram negativo resistentes às

cefalosporinas de terceira geração permaneciam, naquela data (em 1999 e de 2004 a

2006), suscetíveis aos carbapenemes, sugerindo que estes antibióticos podiam ser

utilizados como terapêutica em infeções causadas por isolados produtores de ESBL.

Desde a introdução das fluoroquinolonas, estas tornaram-se num dos grupos

mais utilizados na prescrição, a nível mundial, tendo-se verificado, no entanto, um

aumento progressivo da resistência a esta classe em bactérias de Gram negativo,

particularmente no que se refere à resistência mediada por plasmídeos, especificamente

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Discussão

63

pela ação de determinantes Qnr, de bombas de efluxo proteicas, QepA e OqxAB, ou da

inativação enzimática conferida por Aac(6´)-Ib-cr (Rodríguez-Martínez et al., 2011). No

presente trabalho, identificou-se uma elevada percentagem (72-88%) de isolados com

suscetibilidade diminuída às fluoroquinolonas e uma CIM90 >8mg/L para a

ciprofloxacina, em todas as espécies bacterianas estudadas. Esta diminuição da

suscetibilidade em relação a estudos prévios em Portugal (CIM90 >2mg/L, 90% com

suscetibilidade diminuída em E. coli, e 0% a 3,8% de isolados com suscetibilidade

diminuída em K. pneumoniae) poderá dever-se à presença dos referidos mecanismos

plasmídicos (Mendonça et al., 2007; Mendonça et al., 2009).

No que diz respeito aos aminoglicosídeos, classe de antibióticos utilizada com

frequência no tratamento de bactérias de Gram negativo (Mingeot-Leclercq et al.,

1999), detetou-se suscetibilidade diminuída na maioria dos isolados (57-73%), com

exceção da amicacina para a qual foram detetados apenas 9% de isolados com

suscetibilidade diminuída. Grande parte dos isolados estudados (69%) apresentou ainda

suscetibilidade diminuída à associação trimetoprim/sulfamidas. Os isolados revelaram-

se predominatemente suscetíveis à fosfomicina e aos nitrofuranos, sendo estes

antibióticos frequentemente utilizados no tratamento de infeções urinárias (Ruxer et al.,

2006). No que se refere à colistina, os isolados apresentaram também elevados níveis de

suscetibilidade (96%), com exceção de M. morganii, P. mirabilis e S. marcescens

(CIM90 >32mg/L), bactérias naturalmente resistentes a este antibiótico (CASFM, 2013).

De facto, a colistina é um antibiótico que, atualmente, tem vindo a ser utilizado como

alternativa no tratamento de infeções causadas por bactérias de Gram negativo com

multirresistência aos antibióticos, especialmente em P. aeruginosa, A. baumannii e K.

pneumoniae (Giamarellou e Poulakou, 2009).

Globalmente, verificou-se que 89% dos isolados apresentaram multirresistência

aos antibióticos, tendo-se detetado vários perfis de multirresistência, incluindo,

principalmente, suscetibilidade diminuída aos antibióticos β-lactâmicos, às

fluoroquinolonas, aos aminoglicosídeos e à combinação trimetoprim/sulfamidas. Estes

resultados estão de acordo com aqueles apresentados no relatório anual da Rede

Europeia de Vigilância da Resistência Antimicrobiana (EARS-Net, 2011; EARS-Net,

2012) relativa a 2010 e 2011, a qual refere este perfil de resistência (antibióticos β-

lactâmicos, fluoroquinolonas e aminoglicosídeos) como um dos mais preocupantes na

Europa, para isolados de E. coli e K. pneumoniae com origem invasiva (líquido

cefalorraquidiano e sangue).

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Discussão

64

Como referido anteriormente, com o aumento da resistência bacteriana aos

antibióticos e ausência de investigação na conceção de novos agentes antimicrobianos, a

tigeciclina representa uma nova alternativa terapêutica (Gupta et al., 2012; Livermore,

2011). Globalmente, este estudo demonstrou que 73% dos isolados estudados eram

susceptíveis à tigeciclina. Estes estão representados por 93% de E. coli, 90% de

Enterobacter spp./C. freundii, 57% de K. pneumoniae, 33% S.marcescens e 20% M.

morganii.

Um estudo multicêntrico Europeu referente à vigilância da ação da tigeciclina

(T.E.S.T, Tigecycline Evaluation and Surveillance Trial) em bactérias de Gram

negativo, de diferentes hospitais da Europa (2004-2009), revelou que os isolados

apresentavam suscetibilidade diminuída à maior parte dos antibióticos ensaiados, com

exceção da tigeciclina, carbapenemes e amicacina (Andrasevic e Dowzicky, 2012), cuja

tendência é semelhante à encontrada neste estudo. No entanto, analisada a

suscetibilidade da tigeciclina em função da espécie bacteriana, nos 211 isolados

estudados, evidenciaram-se níveis mais elevados de suscetibilidade nos isolados de E.

coli e Enterobacter spp./C. freundii com CIM90 de 1mg/L (valor na gama da

suscetibilidade). Globalmente, E. coli tem sido descrita como mais suscetível à

tigeciclina (CIM90 0,25 a 0,5mg/L) (Andrasevic e Dowzicky 2012; Huang et al., 2012;

Nørskov-Lauritsen et al., 2009; Sader et al., 2013; Zhang et al., 2004), em relação ao

valor de CIM90 1mg/L obtido neste estudo. De facto, tem sido descrita uma baixa

frequência de suscetibilidade diminuída à tigeciclina em isolados de E. coli na Europa

(Grandesso et al., 2010; Sader et al., 2013), representando apenas 7% do total de

isolados neste estudo (CIM90 2mg/L). Estes isolados suscetíveis à tigeciclina

mostraram-se ainda suscetíveis ao imipeneme e não suscetíveis às fluoroquinolonas e

cefalosporinas de terceira geração, como observado por outros autores (Nørskov-

Lauritsen et al 2009; Zhang et al., 2004).

Ainda no grupo dos isolados suscetíveis à tigeciclina, mas das espécies de

Enterobacter spp./C. freundii verificou-se que 90% eram suscetíveis áquele antibiótico

e as suas CIMs variavam entre ≥0,25 e 8mg/L, tendo-se constatado valores semelhantes

no estudo T.E.S.T com isolados obtidos no período de 2004-2007 (Nørskov-Lauritsen et

al 2009). Verificou-se ainda baixa frequência de suscetibilidade diminuída ao

imipeneme com CIM90 0,5mg/L, o que corrobora os resultados obtidos naquele estudo

Europeu (Andrasevic e Dowzicky, 2012). Considerando a totalidade dos isolados de

Enterobacter spp. foram detetados apenas dois isolados com suscetibilidade diminuída à

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Discussão

65

tigeciclina, também exibindo uma baixa frequência na Europa, nomeadamente no Reino

Unido (Andrasevic e Dowzicky, 2012; Woodford et al., 2007).

Na presente investigação foi observada CIM90 4mg/L para a tigeciclina no total

de K. pneumoniae, sendo esta uma diluição superior às CIM90 descritas em estudos

recentemente realizados (Andrasevic e Dowzicky, 2012; Huang et al., 2012; Nørskov-

Lauritsen et al 2009). É de realçar que as CIMs para a tigeciclina em K. pneumoniae

foram superiores aos valores observados para as espécies acima referidas, tal como

descrito por Souli et al. (2006). De facto, nos últimos anos verificou-se um aumento da

ocorrência de isolados de K. pneumoniae com suscetibilidade diminuída à tigeciclina

(Woodford et al., 2007; Vázquez et al., 2008). De forma similar, neste estudo, 43% dos

isolados apresentaram suscetibilidade diminuída com CIM90 8mg/L. Adicionalmente, a

frequência dos isolados de K. pneumoniae com suscetibilidade diminuída às

cefalosporinas de terceira geração e às fluoroquinolonas foi baixa (97% a 100%) em

isolados suscetíveis, tal como descrito por Andrasevic e Dowzicky (2012) e Nørskov-

Lauritsen et al. (2009). No que se refere ao imipeneme constatou-se uma elevada

suscetibilidade, com resultados similares aos estudos acima referidos (CIM90 0,5mg/L).

Relativamente aos isolados de S. marcescens com suscetibilidade diminuída às

cefalosporinas de terceira geração (CIM90 >64mg/L) apenas 33% do total apresentou

suscetibilidade à tigeciclina, com CIM90 de 2mg/L, como reportado por Kresken et al.,

(2011) na Alemanha. No que diz respeito a M. morganii, tem sido demonstrado que

estes isolados não são geralmente suscetíveis à tigeciclina, com valores de CIM 1-

8mg/L (Stein e Craig, 2006; Zhang et al., 2004). Neste estudo, os valores de CIM

variaram entre 1 e 16mg/L, com CIM90 8mg/L. Por último, a tigeciclina não se mostrou

ativa em isolados de P. mirabilis, com CIM90 8mg/L, uma vez que terá, de acordo com

alguns autores (Visalli et al., 2003), suscetibilidade diminuída intrínseca a este

antibiótico, havendo ainda estudo prévios nos Estados Unidos da América e na China

que corroboram estes resultados (Gales e Jones, 2000; Zhang et al., 2004).

Pelo exposto, pode afirmar-se que os isolados de Gram negativo em estudo com

resistência aos antibióticos são, maioritariamente, suscetíveis à tigeciclina. Contudo, a

vigilância da suscetibilidade deste antibiótico em Portugal é da maior relevância,

especificamente em K. pneumoniae, uma vez que esta espécie apresenta os níveis de

resistência mais elevados a este antibiótico, sendo ainda uma importante causa de

infeções nosocomiais (Hentschke et al., 2010). Esta monitorização é também importante

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Discussão

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no caso dos isolados de E. coli, uma vez que ainda é o principal agente de infeções

urinárias, intra-abdominais e da pele a nível mundial (Linkevicius et al., 2013).

A incidência da suscetibilidade diminuída à tigeciclina, por grupo etário,

permitiu verificar que a sua maior frequência ocorria em doentes com idade ≥65 anos.

Tal pode resultar de a idade potenciar o risco e a suscetibilidade às infeções, uma vez

que os doentes deste grupo etário estão mais vulneráveis e estão mais sujeitos a

hospitalizações, pois, na realidade, 54% das infecções hospitalares surgem em doentes

com mais de 65 anos (Swartz, 1994).

O presente trabalho teve ainda como objectivo analisar a suscetibilidade

diminuída à tigeciclina em relação à suscetibilidade a outros antibióticos. Assim, uma

percentagem elevada (70%) dos isolados de Gram negativo com multirresistência eram

suscetíveis à tigeciclina, principalmente isolados de E. coli, K. pneumoniae e

Enterobacter spp./C. freundii, como anteriormente descrito na Índia e na Grécia (Gupta

et al., 2012; Souli et al., 2006). Os 30% de isolados com multirresistência e

suscetibilidade diminuída à tigeciclina eram, sobretudo, das espécies K. pneumoniae, P.

mirabilis, M. morganii e S. marcescens. Ainda neste âmbito, um estudo realizado na

Grécia reportou 7,9% de suscetibilidade diminuída num total de 152 isolados de

Enterobacteriaceae com multirresistência (Falagas et al., 2010). O amplo espetro de

atividade da tigeciclina tem levado a várias investigações clínicas, de forma a que possa

ser utilizada no tratamento de infeções nosocomiais ou adquiridas na comunidade (Stein

e Babinchak 2013).

Considerando as implicações clínicas da resistência aos antibióticos β-

lactâmicos e a sua contribuição em fenótipos de multirresistência, foram também

investigados os mecanismos associados a essa resistência, nomeadamente a produção de

β-lactamases.

A prevalência de isolados produtores de β-lactamases tem vindo a aumentar e

está presente em vários países Europeus. A suscetibilidade diminuída às cefalosporinas

de terceira geração resulta, muitas vezes, da produção de ESBL da família CTX-M,

entre os isolados de E. coli e K. pneumoniae, nomeadamente na Europa (Cantón et al.,

2008). Também nesta investigação, foram detetados 161 genes blaCTX-M em isolados

com suscetiblidade diminuída às cefalosporinas de terceira geração e com sinergia ao

ácido clavulânico, essencialmente em E. coli e K. pneumoniae, a maioria identificados

como blaCTX-M-15 e bla CTX-M-15-tipo. Esta evidência mostra a persistência de isolados com

este mecanismo de resistência em Portugal, pois previamente tinha sido observada uma

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Discussão

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maior frequência daqueles genes nestas espécies, expressando, portanto, um fenótipo

ESBL associado à produção de CTX-M-15 (Machado et al., 2007; Mendonça et al.,

2007; Mendonça et al., 2009). Foram ainda detetadas outras enzimas CTX-M do grupo

1, tais como CTX-M-1 e CTX-M-32, sendo esta última detetada em P. mirabilis, para

além de E. coli. Quanto às enzimas CTX-M do grupo 9, nomeadamente CTX-M-14,

foram identificadas em isolados de E. coli. Esta enzima CTX-M-14 já foi igualmente

descrita em E.coli nos estudos de Mendonça et al. (2007) e Manageiro et al. (2012a),

também aqui demonstrando a sua permanência em Portugal, nomeadamente em meio

hospitalar.

Os isolados produtores de ESBL CTX-M apresentaram, maioritariamente,

fenótipo de suscetibilidade diminuída às cefalosporinas de terceira geração e ao

aztreonam. A prevalência da β-lactamase CTX-M adquiriu proporções endémicas em

muitos países, tendo sido encontrada em muitos dos isolados estudados neste estudo

(76%). Deste modo, e tal como já sublinhado por Bonnet (2004), deve ser dada atenção

ao aumento da prevalência de β-lactamases CTX-M, pois pode estar associado à

disseminação de genes blaCTX-M mediada por plasmídeos ou outros elementos genéticos

móveis, bem como à disseminação de clones específicos (nomeadamente, epidémicos

e/ou locais) (Livermore et al., 2007).

Na família SHV as enzimas ESBL são, frequentemente, encontradas em isolados

de K. pneumoniae. Contudo, têm sido também evidenciadas em E. coli, Enterobacter

spp., C. freundii, S. marcescens e M. morganii (Choi et al., 2007; Voets et al., 2012),

sendo a enzima SHV-12 a mais prevalente nesta família e identificada, neste estudo, em

E. coli, E. aerogenes, E. cloacae, C. freundii e S. marcescens, para além de K.

pneumoniae. A enzima SHV-55 foi observada pela primeira vez em Portugal em K.

pneumoniae por Mendonça et al., (2006), tendo também sido identificada neste estudo

num isolado de K. pneumoniae. Foi ainda encontrada a ESBL SHV-2 em K.

pneumoniae, a qual foi também reportada previamente em estudos portugueses

(Machado et al., 2007; Mendonça et al., 2009).

Da família TEM, foram detetadas duas ESBL, TEM-10 num isolado de P.

mirabilis e TEM-4 num isolado de E. coli. A enzima TEM-10 já foi encontrada em P.

mirabilis noutros países, como França, Estados Unidos, África do Sul (Bonnet et al.,

1999), não tendo sido reportada nesta espécie, em Portugal, a nosso conhecimento.

Outras enzimas não ESBL foram detetadas neste estudo, como as penicilinases

TEM-1 e TEM-1-tipo, SHV-1 e SHV-1-tipo, SHV-11 e SHV-36 em isolados com

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Discussão

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suscetibilidade diminuída às penicilinas, isoladamente ou em coprodução com outras β-

lactamases. Foram identificadas as enzimas TEM-1 e TEM-2 num isolado com fenótipo

de ESBL, o que sugere a sobre-expressão destas enzimas parentais (TEM-1 e/ou TEM-

2) e/ou a produção de uma β-lactamase de uma família não pesquisada que justifique o

fenótipo de ESBL; este fenótipo ESBL poderá ainda sugerir a expressão de enzimas

parentais em associação com perda de porinas (Wu et al., 2001).

Entre os isolados produtores de SHV-12 foi ainda identificado um isolado de E.

cloacae que co-expressava a ESBL GES-7, a qual, originalmente, foi identificada num

isolado clínico de E. cloacae, na Grécia (Kartali et al., 2002). Desde então, já foi

também descrita noutras espécies e países, como por exemplo, em K. pneumoniae no

Brasil e em Portugal (Dropa et al., 2010; Manageiro et al., 2012b), sendo esta, no

entanto, a primeira descrição de GES-7 em E. cloacae, em Portugal.

As carbapenemases KPC encontram-se disseminadas em vários hospitais e áreas

no mundo, sendo predominantemente encontradas em K. pneumoniae (Endimiani et al.,

2009; Patel e Bonomo, 2013). Foram identificados, neste estudo, cinco enzimas KPC-3,

em quatro isolados de K. pneumoniae e num isolado de E. aerogenes. Dos cinco

isolados, verificou-se menor CIM (16mg/L) ao imipeneme em E. aerogenes. Bratu et al.

(2005) reportaram valores similares em E. aerogenes produtor de KPC-3, no entanto,

têm sido descritos valores superiores em K. pneumoniae (Endimiani et al.,2009), tal

como observado neste estudo (CIM imipeneme 128 e 256mg/L). Valores de CIM

elevados para o imipeneme, em K. pneumoniae, podem dever-se ao aumento da

expressão da β-lactamase KPC em associação com a perda de OMPs (p.e. OmpK-35) na

membrana externa dos isolados de K. pneumoniae, como reportado por Endimiani et al.

(2009). A distribuição de carbapenemases KPC em várias espécies e regiões tem sido

associada à disseminação dos genes que codificam estas enzimas por plasmídeos (Patel

e Bonomo, 2013). Posteriormente, seria interessante efetuar a conjugação destas estirpes

de forma a determinar se o seu suporte genético é plasmídico e, no caso de serem

obtidos transconjugantes, qual o tipo de plasmídeo.

Num grupo de dez isolados produtores de ESBL CTX-M, com suscetibilidade

diminuída ao ertapeneme não foi observada qualquer evidência da produção de

carbapenemases pelos testes efetuados. A diminuição da suscetibilidade aos

carbapenemes em Enterobacteriaceae pode estar associada à produção de ESBL

combinada com a diminuição de permeabilidade. Tal acontece devido à alteração ou

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Discussão

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regulação de porinas, alteração das PBPs, ou ainda por ação de bombas de efluxo (Patel

e Bonomo, 2013).

Os genes AmpC mediados por plasmídeos têm sido identificados a nível

mundial, em isolados nosocomiais e adquiridos na comunidade, sendo facilmente

detetados em Enterobacteriaceae. As β-lactamases CMY-2 são as mais prevalentes e

amplamente disseminadas (Jacoby, 2009). O gene blaDHA-1 e o gene blaCMY-2 foram

recentemente encontrados, em Portugal, nos isolados clínicos de K. pneumoniae e E.

coli respetivamente (Manageiro et al., 2012a). Neste estudo, foram também

identificadas as enzimas, DHA-1 e CMY-2, nas mesmas espécies. Em ambas havia co-

produção da enzima CTX-M. Adicionalmente, num grupo de isolados de E. coli e K.

pneumoniae com suscetibilidade diminuída à cefoxitina não foram detetados genes que

codificassem β-lactamases AmpC mediadas por plasmídeos, atribuindo-se este fenótipo

à possível perda de porinas. A enzima AmpC MIR-1 é cromossómica em isolados de E.

cloacae (Jacoby, 2009). A focagem isoelétrica revelou pI 8 e 8,2, respetivamente, em

dois isolados de E. cloacae estudados, que correspondiam à enzima MIR-1 identificada.

Estes isolados exibiram suscetibilidade diminuída a todas as cefaloprinas de espetro

alargado, com exceção do cefepima. Já Conceição et al., (2004), que reportou os

primeiros isolados de E. cloacae produtores de MIR-1, em Portugal, identificou um

fenótipo semelhante. Num dos isolados produtor de MIR-tipo, detetou-se coexpressão

com a enzima SHV-12, tal como foi também observado num estudo realizado na Coreia

do Sul (Lee et al., 2003).

No que diz respeito à suscetibilidade à tigeciclina em isolados produtores de β-

lactamases os dados reportados pelo estudo T.E.S.T (Nørskov-Lauritsen et al., 2009)

revelaram que a tigeciclina foi um dos antibióticos com maior atividade in vitro em

isolados de E. coli e K. pneumoniae produtores de ESBL. Sader et al. (2013)

verificaram resultados semelhantes. No presente estudo, a maioria dos isolados

produtores de CTX-M apresentavam multirresistência aos antibióticos, tal como em

isolados do período 2004-2006, recolhidos em Portugal (Mendonça et al., 2007).

Verificou-se a suscetibilidade da tigeciclina em grande parte dos isolados produtores de

CTX-M-15(-tipo), CTX-M-1 e CTX-M-14. Em relação, aos isolados produtores de

CTX-M-32 a maioria não eram suscetíveis à tigeciclina, tal como o isolado produtor de

TEM-10. Isto resulta do facto de 67% das enzimas CTX-M-32 detetadas serem

produzidas por P. mirabilis, bem como TEM-10, pois esta espécie bacteriana tem

suscetibilidade diminuída intrínseca à tigeciclina (Visalli et al., 2003). De um modo

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Discussão

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geral, os isolados produtores de penicilinases e ESBL SHV, bem como de penicilinases

TEM, mostraram-se suscetíveis à tigeciclina.

Os isolados produtores de carbapenemases constituem uma preocupação, pois

possuem resistência a praticamente todos os antibióticos β-lactâmicos, tendo,

frequentemente, multirresistência aos antibióticos (Patel e Bonomo, 2013). Contudo, a

utilização da tigeciclina recebeu destaque, recentemente, por ter sido uma das únicas

alternativas (além da colistina) no tratamento de infeções causadas por um isolado de E.

coli produtor de NDM-1 (Kumarasamy et al., 2010). É de salientar a suscetibilidade da

tigeciclina nos isolados produtores de KPC-3, neste estudo, com CIM50 e CIM90 de

1mg/L (gama de suscetibilidade), o que está de acordo com os estudos realizados

anteriormente por Castanheira et al. (2008) e Sader et al. (2013).

Nos 16 isolados sem evidência fenotípica e genotípica da produção de ESBL, a

resistência às cefalosporinas de terceira geração poderá dever-se a uma sobre-expressão

de penicilinases e/ou β-lactamases cromossómicas, bem como, eventual produção de β-

lactamases não pesquisadas.

Os resultados do presente estudo sugerem que a tigeciclina poderá representar

uma alternativa em casos de infeções causadas por isolados produtores de ESBL,

principalmente CTX-M, e ainda nos casos de isolados com resistência aos

carbapenemes e produtores de KPC.

Alterações nucleotídicas nos repressores marR e ramR têm sido identificadas

como uma via de aquisição de suscetiblidade diminuída à tigeciclina, em E. coli e K.

pneumoniae, respetivamente, levando à sobre-expressão da bomba de efluxo AcrAB

(Hentschke et al., 2010; Keeney et al., 2008). Neste sentido, e considerando a

importância da tigeciclina no tratamento de infeções por bactérias multirresistentes,

estudaram-se as sequências nucleotídicas daqueles genes, de forma a compreender os

mecanismos associados à resistência observada.

No que se refere ao gene marR, embora os isolados de E. coli estudados tenham

apresentado variações ao nível da sua suscetibilidade à tigeciclina, todos os isolados à

exceção de um (TG60), apresentaram alterações nucleotídicas responsáveis pelas

substituições aminoacídicas G103S e Y137H na proteína MarR. O isolado TG60,

suscetível quer à tigeciclina quer à ciprofloxina, apresentou uma sequência wild-type.

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Discussão

71

De acordo com um trabalho realizado por Kim et al. (2004), que incidiu no

estudo de mutações no gene marR, foram também deduzidas as substituições

aminoacídicas G103S e Y137H e realçada a sua associação com o aumento da

resistência à ciprofloxacina. De facto, no presente estudo, os isolados com estas

substituições aminoacídicas revelaram CIM >8mg/L à ciprofloxacina, com exceção de

uma (TG177), a qual era apenas resistente à norfloxacina. A bomba de efluxo AcrAB

funciona como um mecanismo de defesa em E. coli, cuja expressão pode resultar da

indução por antibióticos ou ainda por mutações no gene marR, conferindo resistência às

fluoroquinolonas (Goldman et al., 1996). Embora as mutações encontradas, no presente

estudo, possam estar associadas à resistência às fluoroquinolonas, a resistência à

tigeciclina pode resultar de uma via dependente do operão marAB, tal como a

hiperexpressão do ativador transcricional MarA (Keeney et al., 2008). Desta forma, são

necessários mais estudos para analisar a expressão do operão marAB, ou mesmo da

bomba de efluxo AcrAB. No entanto, sugere-se que, conferindo, esta bomba de efluxo,

resistência a múltiplos antibióticos (Piddock, 2006), a expressão deste operão poderá ser

mais elevada nos isolados com suscetibilidade diminuída à tigeciclina, do que nos

isolados suscetíveis, independentemente de alterações no gene marR. Por outro lado, a

proteína MarA, ativador do operão marAB, induz a expressão de mais de sessenta genes

responsáveis pelo fenótipo de mar, tal como respostas ao stress e também resistência a

múltiplos antibióticos, incluindo o sistema de efluxo AcrAB-TolC (Alekshun e Levy,

1997; Barbosa e Levy, 2000b), o que sugere outras vias de aquisição de resistência.

As proteínas SoxS e Rob representam também reguladores transcricionais da

bomba de efluxo AcrAB, e o aumento da expressão dessas proteínas em E.coli, via

operão marAB, está também associado à expressão daquela bomba (Alekshun e Levy,

1997). A bomba de efluxo AcrAB é ainda regulada pelo repressor local AcrR, pelo que

mutações neste repressor estão implicadas na resitência à tigeciclina (Linkevicius et al.,

2013). Deste modo, poderão existir diferentes vias de aquisição de suscetibilidade

diminuída à tigeciclina em E. coli, por outro mecanismo de resistência, ou outra bomba

de efluxo.

Relativamente aos isolados de K. pneumoniae, foram analisadas as sequências

nucleotídicas do gene ramR em 20 dos trinta isolados com suscetibilidade diminuída à

tigeciclina, tendo-se identificado uma deleção, uma inserção e diversas mutações

silenciosas e pontuais. Em dois isolados foram identificados codões STOP prematuros

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Discussão

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nas posições Lys63 e Glu78, resultando na proteína RamR truncada e não funcional. De

facto, Hentschke et al. (2010) demonstraram a inserção de um codão STOP prematuro

(Lys14) que resultou na alteração da funcionalidade da proteína RamR, alterando a via

de regulação de AcrAB em K. pneumoniae, o que estava na origem da resistência à

tigeciclina, ciprofloxacina e cloranfenicol. No presente estudo foi também identificada

uma deleção do nucleótido G411 ao nucleótido A421 e uma inserção de dois

nucleótidos GC entre os nucleótidos 50 e 51 do gene ramR nos isolados TG93 e TG70,

respetivamente, causando uma alteração na grelha de leitura destas proteínas, o que

sugere a sua total perda de função. Já Veleba et al. (2013), relacionou alterações na

grelha de leitura do gene ramR com a interferência na estrutura funcional da proteína,

estando, dessa forma, relacionado com o aumento da expressão do ramA e da bomba de

efluxo AcrAB.

Foram ainda identificadas 8 substituições aminoacídicas em RamR, em

diferentes isolados, nomeadamente Thr18Ala, Ala19Val, Ala20Thr, Glu53Lys,

Thr69Met, Ile141Thr Arg148His e His186Asn, estando três, Thr18Ala, Ala19Val e

Ala20Thr (detetadas nos isolados TG3, TG93, TG136, TG166 e TG209) localizadas no

sítio de ligação ao DNA. Assim, susbtituições aminoacídicas nestas posições podem

induzir modificações estruturais no sítio de ligação ao DNA deste repressor

transcripcional, resultando na diminuição da afinidade (Yamasaki et al., 2013). As

substituições Ala19Val, Ile141Thr e His186Asn já foram descritas em isolados de K.

pneumoniae resistentes à tigeciclina (Rosenblum et al., 2011), enquanto que, a nosso

conhecimento, as restantes substituições aminoacídicas foram descritas neste estudo

pela primeira vez.

Estes dados sugerem que as alterações no gene ramR, identificadas no presente

estudo, podem estar associadas à suscetibilidade diminuída à tigeciclina. Seria ainda

interessante estudar, posteriormente, a expressão da proteína RamA, o regulador

transcricional da bomba de efluxo AcrAB, ou mesmo a expressão da bomba de efluxo

nos isolados em que se detetaram tais mutações.

No entanto, em onze isolados não se detetou qualquer mutação na sequência

nucleotídica do gene ramR. Num estudo de Roy et al., (2013), apesar dos isolados

apresentarem suscetiblidade diminuída à tigeciclina, como no presente estudo, não

foram, igualmente, identificadas quaisquer alterações neste gene. Num outro estudo

realizado com K. pneumoniae, foi verificada a sobre-expressão da proteína RamA na

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Discussão

73

ausência de alterações no gene ramR (Rosenblum et al., 2011), pelo que seria

interessante, complementar este estudo, posteriormente, estudando a expressão de

RamA nos isolados que não se detetou qualquer alteração. A resistência à tigeciclina

poderá ainda dever-se à presença de mutações no ativador trancricional do gene ramA

ou no repressor da bomba de efluxo AcrAB, AcrR (Rosenblum et al., 2011; Schneiders

et al., 2003).

De realçar que, recentemente, foi identificada uma nova proteína da família

AraC, designada de RarA, que controla as bombas de efluxo AcrAB e OqxAB e confere

fenótipo de multirresistência em K. pneumoniae (Veleba et al., 2012). Este regulador,

RarA, está também implicado na resistência à tigeciclina em isolados de K. pneumoniae

(Veleba e Schneiders, 2012). Portanto, a proteína RarA, ou mesmo a bomba de efluxo

OqxAB, podem constituir uma via alternativa de resistência à tigeciclina nos isolados

em que não se detetaram quaisquer alterações no gene ramR. Adicionalmente, é

provável que existam outros sistemas de efluxo a condiconar a suscetiblidade à

tigeciclina, em E. coli e K. pneumoniae, para além do AcrAB-TolC, uma vez que a

expressão dos genes reguladores (marA, soxS e ramA) pode influenciar outros sistemas,

tais como alteração da expressão de porinas ou outros sistemas de efluxo (Bratu et al.,

2009).

Globalmente, este estudo demonstra que a tigeciclina representa ainda uma

alternativa terapêutica viável no tratamento de infeções causadas por bactérias de Gram

negativo multirresistentes, particularmente as produtoras de ESBL. Porém, a

suscetíbilidade diminuída apresentada por 43% dos isolados de K. pneumoniae realça a

importância da monitorização da atividade da tigeciclina in vitro, uma vez que as

opções de tratamento são limitadas nas infeções causadas por esta espécie bacteriana,

quando resistentes, multirresistentes e/ou produtoras de β-lactamases. A investigação de

outros mecanismos de resistência à tigeciclina, como a produção da proteína TetX, seria

também uma mais valia, bem como o estudo de outros intervenientes na via de

regulação da bomba de efluxo AcrAB, tais como Rob, SoxS, RamA, e RarA. É de

salientar que, apesar de neste trabalho terem sido estudados alguns mecanismos de

resistência à tigeciclina e a outros antibióticos de elevada importância clínica, muitos

outros ficaram por estudar dada a vastidão do tema.

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Anexos

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