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INSTITUTO EDUCACIONAL ALFA
APOSTILA FILOSOFIA E POLTICAS
EDUCACIONAIS
MINAS GERAIS
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FILOSOFIA
A palavra "filosofia" (do grego) uma composio de duas palavras: philos
() e sophia (). A primeira uma derivao de philia () que significa
amizade, amor fraterno e respeito entre os iguais; a segunda significa sabedoria ou
simplesmente saber. Filosofia significa, portanto, amizade pela sabedoria, amor e
respeito pelo saber; e o filsofo, por sua vez, seria aquele que ama e busca a
sabedoria, tem amizade pelo saber, deseja saber.
A tradio atribui ao filsofo Pitgoras de Samos (que viveu no sculo V a.C.)
a criao da palavra. Conforme essa tradio, Pitgoras teria cunhado o termo para
modestamente ressaltar que a sabedoria plena e perfeita seria atributo apenas dos
deuses; os homens, no entanto, poderiam vener-la e am-la na qualidade de
filsofos.
A palavra philosopha no simplesmente uma inveno moderna a partir de
termos gregos; mas, sim, um emprstimo tomado da prpria lngua grega. Os termos
(philosophos) e (philosophein) j teriam sido empregados por
alguns pr-socrticos (Herclito, Pitgoras e Grgias) e pelos historiadores Herdoto
e Tucdides. Em Scrates e Plato, acentuada a oposio entre e ,
em que o ltimo termo exprime certa modstia e certo ceticismo em relao ao
conhecimento humano.
O conceito de "filosofia" sofreu, no transcorrer da histria, vrias alteraes e
restries em sua abrangncia. As concepes do que seja a filosofia e quais so os
seus objetos de estudo tambm se alteram conforme a escola ou movimento
filosfico. Essa variedade presente na histria da filosofia e nas escolas e correntes
filosficas tornam praticamente impossveis elaborar uma definio universalmente
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vlida de filosofia. Definir a filosofia realizar uma tarefa metafilosfica. Em outras
palavras, fazer uma filosofia da filosofia. O socilogo e filsofo alemo Georg
Simmel ressaltou esse ponto ao dizer que um dos primeiros problemas da filosofia
o de investigar e estabelecer a sua prpria natureza. Talvez a filosofia seja a nica
disciplina que se volte para si mesma dessa maneira. O objeto da fsica no ,
certamente, a prpria cincia da fsica, mas os fenmenos pticos e eltricos, entre
outros. A filologia ocupa-se de registros textuais antigos e da evoluo das lnguas,
mas no se ocupa de si mesma. A filosofia, no entanto, move-se neste curioso
crculo: ela determina os pressupostos de seu mtodo de pensar e os seus
propsitos atravs de seus prprios mtodos de pensar e propsitos. No h como
apreender o conceito de filosofia fora da
filosofia; pois somente a filosofia pode
determinar o que a filosofia.
Plato e Aristteles concordam em
caracterizar a filosofia como uma atividade
racional estimulada pelo assombro ou
admirao. Mas, para Plato, o assombro
provocado pela instabilidade e
contradies dos seres que percebemos
pelos sentidos. A filosofia, no quadro platnico, seria a tentativa de superar esse
mundo de coisas efmeras e mutveis e apreender racionalmente a realidade
ltima, composta por formas eternas e imutveis que, segundo Plato, s podem ser
captadas pela razo. Para Aristteles, ao contrrio, no h separao entre, de um
lado, um mundo apreendido pelos sentidos e, de outro lado, um mundo
exclusivamente captado pela razo. A filosofia seria uma investigao das causas e
princpios fundamentais de uma nica e mesma realidade. O filsofo, segundo
Aristteles, conhece, na medida do possvel, todas as coisas, embora no possua
a cincia de cada uma delas por si. A filosofia almejaria o conhecimento universal,
no no sentido de um acmulo enciclopdico de todos os fatos e processos que se
possam investigar, mas no sentido de uma compreenso dos princpios mais
fundamentais, dos quais dependeriam os objetos particulares a que se dedicam as
demais cincias, artes e ofcios. Aristteles considera que a filosofia, como cincia
das causas e princpios primordiais, acabaria por identificar-se com a teologia, pois
Deus seria o princpio dos princpios.
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As definies de filosofia elaboradas depois de Plato e Aristteles separaram
a filosofia em duas partes: uma filosofia terica e uma filosofia prtica. Como reflexo
da busca por salvao ou redeno pessoal, a filosofia prtica foi gradativamente se
tornando um sucedneo da f religiosa e acabou por ganhar precedncia em relao
parte terica da filosofia. A filosofia passa a ser concebida como uma arte de viver,
que forneceria aos homens regras e prescries sobre como agir e como se portar
diante das inconstncias do mundo. Essa concepo muito clara em diversas
correntes da filosofia helenstica, como, por exemplo, no estoicismo e no
neoplatonismo.
As definies de filosofia formuladas na Antiguidade persistiram na poca de
disseminao e consolidao do cristianismo, mas isso no impediu que as
concepes crists exercessem influncia e moldassem novas maneiras de se
entender a filosofia. As definies de filosofia elaboradas durante a Idade Mdia
foram coordenadas aos servios que o pensamento filosfico poderia prestar
compreenso e sistematizao da f religiosa. Desse modo, a filosofia passa a ser
concebida como serva da teologia (ancilla theologiae); e vrios telogos
importantes buscam harmonizar a doutrina sagrada com o pensamento filosfico
pago.
Os medievais mantiveram a acepo de filosofia como saber prtico, como
uma busca de normas ou recomendaes para se alcanar a plenitude da vida.
Santo Isidoro de Sevilha, ainda no sculo VII, definia a filosofia como o
conhecimento das coisas humanas e
divinas combinado com uma busca pela
vida moralmente boa.
Tanto na Idade Mdia como em
qualquer outra poca da histria
ocidental, a compreenso do que a
filosofia reflete uma preocupao com
questes essenciais para a vida humana
em seus mltiplos aspectos. As
concepes de filosofia do
Renascimento e da Idade Moderna no
so excees. Tambm a as noes do que seja a filosofia sintetizam as tentativas
de oferecer respostas substantivas aos problemas mais inquietantes da poca. O
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advento da era moderna fez ruir as prprias bases da sabedoria tradicional; e imps
aos intelectuais a tarefa de encontrar novas formas de conhecimento que pudessem
restabelecer a confiana no intelecto e na razo. Para Francis Bacon - um dos
primeiros filsofos modernos - a filosofia no deveria se contentar com uma atitude
meramente contemplativa, como queriam os antigos e medievais; ao contrrio,
deveria buscar o conhecimento das essncias das coisas a fim de obter o controle
sobre os fenmenos naturais e, portanto, submeter natureza aos desgnios
humanos.
Para Descartes, a filosofia, na qualidade de metafsica, a investigao das
causas primeiras, dos princpios fundamentais. Esses princpios devem ser claros e
evidentes, e devem formar uma base segura a partir da qual se possam derivar as
outras formas de conhecimento. nesse sentido, entendendo-se a filosofia como o
conjunto de todos os saberes e a metafsica como a investigao das primeiras
causas, que se deve ler a famosa
metfora de Descartes: Assim, a
Filosofia uma rvore, cujas razes
so a Metafsica, o tronco a Fsica, e
os ramos que saem do tronco so
todas as outras cincias.
Aps Descartes, a filosofia
assume uma postura crtica em relao
a suas prprias aspiraes e
contedos. Os empiristas britnicos, influenciados pelas novas aquisies da cincia
moderna, dedicaram-se a situar a investigao filosfica nos limites do que pode ser
avaliado pela experincia. Segundo a orientao empirista, argumentos tradicionais
da filosofia, como as demonstraes da existncia de Deus, da imortalidade da alma
e de essncias imutveis seriam invlidos, uma vez que as ideias com que operam
no so adequadamente derivadas da experincia. De maneira anloga, Kant, ao
elaborar sua doutrina da filosofia transcendental, rejeita a possibilidade de
tratamento cientfico de muitos dos problemas da filosofia tradicional, uma vez que a
adequada soluo deles demandaria recursos que ultrapassam as capacidades do
intelecto humano.
O empirismo britnico e o idealismo de Kant acentuam uma caracterstica
freqentemente destacada na filosofia: a de ser um "pensar sobre o pensamento" ou
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um "conhecer o conhecimento". Essa concepo reflexiva da filosofia, do
pensamento que se volta para si mesmo, influenciar vrios autores e escolas
filosficas, tanto do sculo XIX como do sculo XX. A fenomenologia, por exemplo,
considerar a filosofia como um empreendimento eminentemente reflexivo. Segundo
Edmund Husserl - o fundador da fenomenologia - a filosofia uma cincia rigorosa
dos fenmenos tal como nos aparecem, ou seja, tal como a nossa conscincia
deles. Para descrev-los, o filsofo deve pr entre parnteses todas as suas
pressuposies e preconceitos (at mesmo a certeza de que os objetos existem) e
restringir-se apenas aos contedos da conscincia.
Com a virada lingstica do incio do sculo XX, muitos filsofos passam a
considerar a filosofia como uma anlise de conceitos. Para Wittgenstein, os
problemas filosficos tradicionais so todos resultantes de confuses lingsticas; e
a tarefa do filsofo seria a de