Aminoácidos e proteínas

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VALTER T. MOTTA Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações Aminoácidos e Proteínas Volume 8

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VALTER T. MOTTA Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações

Aminoácidos e Proteínas

Volume

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AMINOÁCIDOS E PROTEÍNAS

s proteínas são compostos de elevada massa molecular (5000 a vários milhões) produzi-

das pelas células vivas de todas as formas de vida. São polímeros complexos de α-aminoácidos, uni-dos ent re si por um tipo específico de l igação covalente – a l igação peptídica. As proteínas são consti tuídas por 20 aminoácidos diferentes reuni-dos em combinações praticamente infinitas, possi-bili tando a formação de milhões de estruturas diversas. Estas combinações permitem às células a produção de proteínas com diferentes tamanhos, formas, estruturas, propriedades e funções. A seqüência de aminoácidos, que define as características das proteínas, é determinada pelas informações genéticas contidas no núcleo da c é-lula. Por hidrólise, as proteínas fornecem somente aminoácidos (proteínas simples) ou, além dos aminoácidos, outros compostos orgânicos ou inor-gânicos (proteínas conjugadas) . A porção não-protéica é denominada grupo prostét ico. As funções biológicas a t r ibuídas às proteínas são variadas e importantes. Atuam como:

Enzimas. São proteínas altamente especializadas com atividade catalí t ica; praticamente todas as reações químicas celulares onde participam bio -moléculas orgânicas são catalisadas por enzimas. Existem milhares de enzimas, cada uma capaz de catalisar um tipo de reação química diferente.

Proteínas transportadoras. São proteínas que se l igam a íons ou a moléculas específicas, as quais são t ransportadas de um órgão para outro. Transportam hormônios, v itaminas, metais, drogas e oxigênio (hemoglobina); solubilizam os lipídios (apoproteínas) . Muitas proteínas estão presentes nas membranas plasmáticas e nas membranas in -tracelulares de todos os organismos; elas t rans -

portam, por exemplo, a glicose, aminoácidos e outras substâncias a t ravés dessas membranas .

Proteínas de armazenamento. Atuam no a r-mazenamento de certas substâncias, ex.: ferritina, que armazena átomos de ferro.

Proteínas contráteis ou de motilidade. Pro-teínas que modificam sua forma ou contra em-se, ex.: actina e miosina.

Proteínas estruturais. São pro te ínas que ser-vem como filamentos de suporte, cabos ou lâmi-nas para fornecer proteção ou resis tência à estru -turas biológicas, ex.: queratinas, colágeno e elas -t ina.

Proteínas de defesa. Um grande número de proteínas defendem o organismo contra a invasão de outras espécies ou o protege nos ferimentos. As imunoglobulinas ou anticorpos – proteínas especi-alizadas sintetizadas pelos l infócitos – podem reconhecer e precipitar, ou neutralizar, invasore s como bactér ias , vírus ou proteínas estranhas oriundas de outras espécies. O fibrinogênio e a trombina são proteínas que participam da coagula-ção sangüínea que previnem a perda de sangue quando o sis tema vascular é lesado. Algumas destas prote ínas , incluindo o fibrinogênio e a trombina, também são enzimas.

Proteínas reguladoras. Várias proteínas atuam na regulação da atividade celular ou fisiológica, ex.: hormônios e proteína G.

Outras proteínas. Existem numerosas proteínas com funções ditas exóticas ou de difícil classifi-cação.

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São milhares as funções das proteínas. Além das resumidas acima citam-se algumas de grande importância clínica: manutenção da distribuição de água entre o compartimento i n tersticial e o sis -tema vascular do organismo; participação da ho-meostase e coagulação sangüínea; nutr ição de tecidos; formam tampões para a manutenção do pH.

Bibliografia consultada

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PROTEÍNAS TOTAIS

número de proteínas dist intas dentro de uma célula humana é estimado entre 3.000 a

5.000. Mais de 300 proteínas diferentes foram identif icadas somente no plasma sangüíneo. Mui-tas delas apresentam papéis bioquímicos específi-cos sendo que suas concentrações podem ser afe-tadas por processos patológicos e , por tanto , são determinadas na invest igação de vár ias doenças. Apesar do grande número de proteínas presentes no plasma sangüíneo, somente algumas são medi-das rotineiramente. As mais medidas são as pre-sentes no sangue, urina, líquido cefalorraquidiano (LCR), líquido amniótico, peritonial ou pleural, saliva e fezes. As funções das proteínas plasmáticas incluem transporte, manutenção da pressão oncótica, tam-ponamento de al terações do pH, imunidade humo-ral, atividade enzimática, coagulação e resposta de fase aguda.

METABOLISMO DAS PROTEÍNAS

PLASMÁTICAS A concentração das proteínas plasmáticas é d e-terminada por três fatores principais: velocidade de síntese, velocidade do catabolismo e o volume de l íquido no qual as proteínas estão dis t r ibuídas.

Síntese. A maioria das proteínas plasmáticas são sintet izadas no f ígado enquanto algumas são pro-duzidas em outros locais, por exemplo, imunoglo-bulinas pelos l infócitos, apoproteínas pelos ente-rócitos e β2 -microglobulina (proteína da superfície celular) amplamente distribuída no corpo. Apro-ximadamente 25 g das proteínas plasmáticas são sintet izadas e secretadas cada dia, pois não há armazenamento intracelular.

Distribuição. Normalmente, a concentração de proteínas totais no plasma está ao redor de 7,0 g/dL e, aproximadamente, 250 g de proteínas são encontradas no compartimento vascular de um homem adulto de 70 kg. A água atravessa mais livremente as paredes capilares que as proteínas e,

portanto, a concentração das proteínas no espaço vascular é afetada pela distribuição líquida.

Catabolismo. As proteínas plasmáticas são d e-gradadas através do corpo. Os aminoácidos libera-dos f icam disponíveis para a s íntese de proteínas celulares.

H IPERPROTEINEMIA

Desidratação. A des idratação causa o aumento (relativo) de todas as frações protéicas na mesma proporção. Pode ser promovida pela inadequada ingestão de l íquidos ou perda excessiva de água (vômito, diarréia intensa, enfermidade de Addison ou acidose diabética).

Enfermidades monoclonais. Mieloma múlt i-plo, macroglobulinemia de Waldenström e doença da cadeia pesada. Estas condições promovem a elevação de imunoglobulinas, causando o aumento nos níveis das proteínas tota is sér icas . (v . adiante).

Enfermidades policlonais crônicas. Cirrose hepática, hepatite ativa crônica, sarcoidose, lupus eritematoso sistêmico e infecção bacteriana crônica.

H IPOPROTEÍNEMIA

Aumento do volume plasmático. Hemodilu i-ção por intoxicação hídrica, também como na cirrose quando a asci te es tá presente .

Perda renal proteínas. Síndrome nefrótica e glomerulonefrite crônica.

Perda de proteínas pela pele. Queimaduras severas .

Gota. Aumento da uricemia.

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Distúrbios da síntese protéica. A s ín tese é sensível ao suprimento de aminoácidos e, as sim, a desnutrição, má absorção, dietas pobres em pro-teínas, enfermidade hepática não-virótica severa promovem hipoproteínemia. A insuficiência da função hepatocelular reduz a síntese na enfermi-dade hepática crônica.

Outras causas. Analbuminemia, colite ulcera -t iva, dermatite esfoliativa, doença de Crohn, do-ença de Hodgkin, edema, enteropatia perdedora de proteínas, hemorragia grave, hepatite infecciosa, hipertensão essencial, hipertireoidismo, hipoga-maglobulinemia, insuficiência cardíaca conges -t iva, kwashiorkor, leucemia, má absorção e úlcera péptica.

DETERMINAÇÃO DAS PROTEÍNAS TOTAIS SÉRICAS

Paciente. Não deve ingerir dieta rica em gordu-ras durante 8 horas antes do tes te . Suspender as medicações que interferem nos n íve is das prote í -nas sér icas .

Amostra. Soro sem hemólise e não lipêmico. A amostra pode ser refrigerada por até uma semana.

Interferentes. Resultados falsamente elevados: bromossulfaleína, clofibrato, contrastes radiológi-cos, cort icoesteróides, cort icotropina, dextrano, heparina, insulina, somatropina, t ireotropina e tolbutamida. Resultados falsamente reduzidos: anticoncepcionais orais, dextrano, íon-amônio, líquidos intravenosos excessivos contendo glicose, pirazinamida e salicilatos.

Métodos. Historic amente o método de referência para a determinação das proteínas totais no soro sangüíneo é o método de Kjeldahl. Este método não é empregado rotineiramente no laboratório clínico devido a sua complexidade.

Refractometria. Os métodos que empregam a medida do índice de refração avaliam as proteínas totais no soro, plasma, urina e LCR. Estão basea-dos na determinação refratométrica dos sólidos totais nos l íquidos antes e depois da remoção das

proteínas. Estes métodos são inf luenciados por variações da tempera tura, relação albu-mina/globulinas, azotemia, hiperglicemia, hiper-bilirrubinemia e, particularmente, hiperlipemia.

Biureto. É o mais usado atualmente, pois além de preciso e exato é de fácil execução, sendo, portanto, bastante empregado para a automação. Biureto é o nome dado ao produto de decomposi-ção da uréia pelo calor. Quando o biureto é tra -tado com íons cúpricos em solução alcalina, des -envolve cor violeta. As pro teínas são determina-das por reação idêntica ao do biureto. O complexo color ido é de composição desconhecida, sendo formado entre os íons cúpricos e duas ou mais l igações pept ídicas. A intensidade do produto colorido é proporcional ao número de l igações peptídicas presentes nas proteínas. O reativo seco DT Vitros baseia -se nes ta reação.

Valores de referência para proteínas totais no soro sangüíneo

Adultos ambulatoriais 6 a 7,8 g/dL

PROTEÍNAS TOTAIS NA URINA

Como resultado da pressão hidrostática, as proteí-nas de baixa massa molecular rotineiramente são filt radas através da membrana basal glomerular. Esta membrana atua como uma barreira à filtração graças ao tamanho dos poros e a carga negat iva. As proteínas de pequeno tamanho molecular são conduzidas para dentro do túbulo renal onde são quase totalmente reabsorvidas; no entanto, uma pequena fração é conduzida através dos túbulos e aparece na urina. Entre 20-50% da proteína urin á-ria é albumina. O restante consiste de uromucóide, mucoproteína de Tamm-Horsfall provenientes das células tubulares renais, pequenas quantidades de microglobulinas séricas e tubulares e proteínas de secreções vaginais, prostática e seminal.

A proteinúria anormal é classificada como:

Benigna. A forma benigna é provocada por alt e-rações hemodinâmicas ou clínicas não associadas com morbid ez ou mortal idade e são de causa des -

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conhecida. Este tipo de proteinúria (em geral <1 g/d) é a razão mais freqüente de resultados posit i-vos na pesquisa de proteínas na ur ina. Três cate-gorias gerais de proteinúria benigna são descritas:

§ Proteinúria funciona l , secundária à doenças febris, após exercícios vigorosos, insuficiência cardíaca congest iva e hipertensão essencial .

§ Prote inúria id iopát ica , relativamente comum em crianças assintomáticas e adultos jovens sad ios .

§ Proteinúria ortostát ica ou postural , ocorre quando a pessoa fica em pé por muito tempo e desaparece quando ela se deita por algumas h o-ras. Ocasionada, provavelmente, pela grande pressão sobre a veia renal quando o indivíduo fica em posição vertical.

Sobrecarga. Proteínas de baixa massa molecula r aumentadas no plasma são fi l tradas pelo glomé-rulo em grandes quantidades, ul t rapassando a capacidade de reabsorção do túbulo.

Tubular. É devida a incapacidade dos túbulos renais realizarem a absorção, provocada por uma disfunção ou quando o excesso de p rote ínas no líquido tubular ultrapassa a capacidade reabsortiva dos mesmos. Na proteinúria tubular, pequenas moléculas que em condições normais ultrapas sam a membrana glomerular e são absorvidas, apare -cem na urina final em razão da reabsorção tubular incompleta. A presença de proteinúria é um dos principais sinais de enfermidade renal. A β2 -mi-croglobulina (v. adiante) serve como um marcador da disfunção tubular em condições como: envene-namento por metais pesados, síndrome de Fanconi e hipocalemia crônica. Em doenças tubulares a excreção urinária diária é inferior a 3,5 g de pro -te ína s .

Glomerular. A proteinúria glomerular é uma conseqüência da perda de integridade da mem-brana do glomérulo que, em condições normais, não permite a passagem de proteínas de elevada massa molecu lar para a urina. Nestes casos en-contram-se va lo res maiores que 1,0 g/d. Esta

forma de proteinúria está associada com a sín-drome nefrótica, hipertensão ou glomerulonefrite rapidamente progressiva . Nestas condições, o glomérulo torna-s e progressivamente permeável à proteínas, partic u larmente, à albumina. Quantida-des entre 3 a 6 g/d, podem ser perdidas nestas condições. Este tipo de proteinúria também ocorre como conseqüência secundária de outras enfermi -dades, tais como: amiloidose, lu pus e ritematoso e diabetes mellitus (ao redor de 30 a 40% dos paci-entes com diabetes t ipo 1 desenvolvem nefropatia d iabét ica que se manifesta clinicamente 8 a 10 anos após aquisição da doença) . No curso tardio do diabetes es ta e levação dos teores de prote ínas na urina se torna persistente, dando lugar a uma insuficiência renal.

Proteínas não-plasmáticas. Proteínas de Tamm-Harsfall (urumucóide), um constituinte dos cil indros urinários e provavelmente secretadas pelos túbulos dis ta is .

DETERMINAÇÃO DAS PROTEÍNAS TOTAIS NA URINA

Amostra. São utilizadas amostras de 24 h ou 12 h sem preservativos e mantidas em refrigerador. Não sendo poss ível a de terminação nas primeiras 48 h após a coleta, deve-se misturar bem e separar uma alíquota . Amostras congeladas são es táveis por um ano.

Métodos. A determinação quanti tat iva das pro-teínas na urina é realizada por um dos seguintes métodos :

Turbidimetria. Os métodos turbidimétricos são tecnicamente simples, rápidos e suficiente-mente exatos. Os reagentes comumente usados são: ácido tr ic loroacét ico , ácido sulfossalicílico ou cloreto de benzetônio (BZC) em meio alcalino. Nestes métodos, o reagente precipitante é adicio -nado à urina e a proteína desnaturada precipita em uma suspensão f ina que é quantificada turbidime-tricamente. Nesta categoria, o método mais em-pregado é o do cloreto de benzetônio por ser o mais sensível dos métodos turbidimétricos.

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Corantes. Estas técnicas es tão baseadas no desvio da absorvância máxima do corante quando l igado à proteínas. Os corantes freqüentemente empregados são: azul bri lhante de Comassie (G-250) que liga-se aos res íduos NH 3 das proteínas; e o molibdato vermelho de pirogal lol que reage com grupos amino básicos tanto da albumina como das γ-globulinas para formar um complexo azul.

Biureto. Os métodos que empregam o re a-gente do biureto são pouco uti l izados por serem mais complexos e sofrerem a interferência de certos metabólitos como a bilirrubina. As proteí -nas são concentradas pela precipitação com ácido tricloro acét ico ou ácido fosfotúngst ico-HCl-eta-nólico (reagente de Tsuchya) e redissolvido no reagente do biureto onde o Cu 2 + forma um com-plexo colorido com as l igações peptídicas. O pre-cipitante de Tsuchya melhora a sensibil idade e a l inearidade do método.

Ind icador de pH. É um método semi -quant i-tativo onde a proteína (principalmente a albumina) liga-se ao indicador provocando al terações na cor. Apresenta falso-positivos em urinas pH>8,0.

Valores de referência para as proteínas na urina Adul tos 40 a 100 mg/d Mulheres grávidas Até 150 mg/d Após exercícios (adultos) Até 300 mg/d

PROTEÍNAS MARCADORAS DA

DISFUNÇÃO RENAL Pode-se, também, classificar as proteínas como proteínas marcadoras da dis função renal . Deste modo, três grupos são identif icados, os quais cor-res pondem a t rês t ipos de defei tos renais :

Proteínas com massa molecular de ≥≥ 100.000 Dáltons. Aparecem na urina somente quando houver um avançado comprometimento da membrana, envolvendo a perda da função de per-meabilidade glomerular, a proteinúria é não-se le-t iva. Uma proteína t ípica deste grupo é a IgG.

Proteínas com massa molecular entre 50.000 e 80.000 Dáltons. O aumento da secre-

ção urinária destas proteínas em razão da baixa fi l tragem de íons, representa um possível defeito reversível no glomérulo, sendo uma proteinúria glomérulo selet iva. Proteínas t ípicas deste grupo são a albumina e a transferrina.

Proteínas com massa molecular <50.000 Dáltons. Estas proteínas de baixa massa mole-cular estão normalmente presentes na urina nos casos de um defeito renal intersticial. Assim, a função de reabsorção fica diminuída resultando numa proteinúria tubular. As proteínas marcadoras des te grupo são: α1 -microglobul ina, β2 -microglo-bu l ina e prote ína l igadora de re t inol .

PROTEINÚRIA PRÉ -RENAL, PÓS-RENAL E NÃO-RENAIS

Além das causas renais existem condições pré -renais , pós-renaise não-renais que também acar-retam aumentos da proteinúria. A proteinúria pré-renal é causada por uma permeabilidade excessiva de proteínas de baixa massa molecular. Este filtrado contém altos teores de proteínas na primeira urina. Isto se deve a uma interrupção da reabsorção tubular por sobrecarga no sistema. As proteínas t ípicas de uma proteinú-ria pré -renal são: a mioglobina, imunoglobulinas de cadeias leves kappa e lambda (gamopatias mo-noclonais) e proteínas de Bence Jones. A prote inúr ia pós-renal ocorre pela adição de proteínas à urina na bexiga ou nos ureteres e as -semelha-se a uma doença renal . As proteínas adi-cionadas na urina são l infát icas ou plasmáticas. Entram na urina pela bexiga por exsudação ou transudação do epitél io do ureter . Is to acontece pela a l ta densidade das proteínas envolvidas que não conseguem atravessar a membrana do glomé-rulo. Sua passagem para a urina se deve a uma sobrecarga plasmática pós-renal. A α2 -macroglo-bul ina é um excelente marcador protéico da pro -teinúria pós-renal.

Como prote inúr ia não-renais têm-se: anemia grave, ascite, cardiopatia, distúrbios convulsivos, endocardite bacteriana subaguda, febre, hepatopa-tia, hipertireoidismo, idade avançada, infecção aguda, ingestão ou superexposição a cer tas sub-stâncias (ácido sulfossalicílico, arsênico, chumbo,

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é ter, fenol, mercúrio, mostarda, opiáceos, propile-noglicol, turpentina), obstrução intestinal, reação de hipersensibilidade, toxemia, toxinas bacteria-nas (difteria, escarlatina, estreptocócica aguda, febre tifóide e pneumonia), traumatismo e tumor abdominal.

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ALBUMINA

albumina compreende ao redor de 60% das proteínas presentes no plasma humano. É

sintet izada no f ígado em velocidade dependente da ingestão protéica, mas sujeita a regulação por retroalimentação pelo teor de albumina circulante. Tem meia vida de 15-19 dias. A albumina exerce importantes fu nç õ e s :

§ Contribui com 75-80% do efeit o osmótico do plasma, um dos fatores que regulam a distri-buição apropriada de água entre os compart i-mentos intra - e extracelulares. Em certas en-fermidades, os teores de albumina anorma l-mente baixas, movem a água do leito vascular para os tecidos (edema ).

§ Transporte e armazenamento de vários com-postos muito dos quais pouco solúveis em água. Por exemplo, a albumina liga (e solubi-liza) vários compostos não-polares como a bi-lirrubina não-conjugada t ransportando-a até o fígado; ácidos graxos de cadeia longa que se ligam fortemente à albumina, sendo assim trans portados do fígado para os tecidos perifé -ricos. A concentração plasmática de diversas s u bstâncias, tais como cálcio, alguns hor-mônios (tiroxina, triiodotironina, cortisol, al-dosterona) e t r iptofano, são reguladas, de certo modo, pela sua ligação à albumina. Várias dro -gas, por exemplo, salicilatos, fenilbutazona, clofibrato, dicumarol, penicilina G e warfarin, também se ligam fortemente à albumina.

HIPERALBUMINEMIA

É encontrada raramente como nos casos de carc i-nomatose metastática, desidratação aguda, dia r-réia, esclerodermia, esteatorréia, estresse, febre reumática, gravidez, intoxicação hídrica, lúpus eritematoso sistêmico, meningite, miastenia, mi e-loma múltiplo, nefro se, neoplasias, osteomielite, pneumonia, poliartri te nodosa, sarcoidose, tra u-

matismo, tuberculose, úlcera péptica, uremia, vômito e hemoconcentração.

HIPOALBUMINEMIA

Esta condição pode ser fisiológica ou patológica.

Redução da síntese

§ Enfermidade hepática severa, como hepatite crônica e cirrose, resulta na incapacidade dos hepatócitos em sintetizar albumina.

§ Desnutrição ou diminuição da ingestão pro -té ica .

§ Síndromes de má absorção , redução da absor-ção de aminoácidos.

Aumento do catabolismo protéico. Como resultado de lesões (cirurgia de grande porte ou trauma), infecção ou malignidade.

Perda de proteínas. Urina: é a forma mais severa desta anormalidade com concentrações de albumina de até < 2 g/L, geralmente com presença de edema . As principais causas são: s índrome nefrótico, glomerulonefrite crônica, diabetes ou lupus eritematoso sistêmico. Fezes: enteropatia perdedora de proteínas aumentada por enfermi -dade neoplástica ou inflamatória. Pele: queimadu-ras .

Distribuição alterada. Seqüestro de grandes quantidades de albumina do compartimento extra-celular, por exemplo, na ascite, quando a elevada pressão na circulação portal dirige a albumina para o líquido peritonial.

Outras anormalidades. A analbuminemia , uma rara doença caracterizada pela ausência congênita de albumina, e bisalbuminemia , detectada na ele-troforese pelo aparecimento de duas bandas ou

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uma banda mais larga no lugar da banda normal de albumina. Nenhum sintoma clínico está associado a bisalbuminemia.

O termo “microalbuminemia” é empregado para descrever aumentos na excreção de albumina sem evidências ou enfermidade renal. Esta condi-ção é encontrada em certas populações de diabéti-cos que desenvolvem enfermidade renal. Entre-tanto, a presença de albumina na urina é um achado não-específico. A hipertensão, infecção do trato urinário, exercício e enfermidade cardíaca congestiva também podem aumentar a excreção da albumina na urina.

CONSEQÜÊNCIAS DA HIPOALBUMINEMIA

A hipoalbuminemia afeta a distribuição líquida do corpo e as concentrações plasmáticas de substân-cias transportadas l igadas à albumina.

§ Distr ibuição dos l íquidos corporais . A albu-mina é o mais importante contribuinte da pres -são oncótica do plasma e sua redução resul ta em edema.

§ Função transportadora. Os n íve is de cons ti-tuintes normalmente transportados pela alb u-mina estão diminuidos. Por exemplo, calcemia, drogas e bilirrubina transportada por proteínas. A ligação da bilirrubina à albumina impede que a bilirrubina “livre” atravesse a barreira san-gue/cérebro e, portanto, a sua d epos ição nos tecidos cerebrais (kernictericus na icterícia ne-onatal).

DETERMINAÇÃO DA ALBUMINA SÉRICA

Paciente. Não deve consumir dieta rica em gor-dura por 48 h antes da prova.

Amostra. Soro . Evitar estase prolongada na c o-leta de sangue, pois a hemoconcentração aumenta os níveis de proteínas plasmáticas; além disso, a postura do paciente deve ser observada já que o teor de albumina é, aproximadamente, 0,3 g/dL maior em pacientes ambulatoriais quando rela -cionados aos hospitalizados. Em frascos bem fe -

chados, o soro l ímpido é estável por uma semana em temperatura ambiente ou um mês no refri-gerador.

Interferências. Resultados falsamente elevados: agentes citotóxicos, anticoncepcionais orais e bromossulfaleína. Resultados falsamente reduzi -dos: paracetamol, aspirina, estrogênios, anticon-cepcionais orais, ampicilina, asparaginase e flu o-rouracil.

Métodos. Os primeiros métodos para a separação da albumina das globulin as empregavam o fracio -namento salino. Os mais populares usavam o sul-fato de sódio com a medida da albumina pelo método de Kjeldahl ou pelo desenvolvimento de cor pela reação do biureto.

Verde de bromocresol . Atualmente, os métodos mais amplamente empregados para a anál ise da albumina são os de fixação de corantes. A albu-mina tem a capacidade de fixar seletivamente vários aníons orgânicos, entre os quais, moléculas de corantes complexos como o verde de bromo -cresol (BCG), azul de bromofenol (BPB) ou púr-pura de bromocresol (BCP). Ao ligarem-se à a l-bumina estes corantes sofrem um desvio nas suas absorções máximas. A quantidade de albumina l igada ao corante é proporcional ao teor de albu-mina na amostra. O método do BCG é o recomen-dado por apresentar boa especif icidade e não so-frer interferências da bilirrubina, salicilatos, he-moglobina ou lipemia quando em níveis modera -dos. Este princípio é empregado para a química seca no DT Vitros.

Eletroforese. O emprego da eletroforese das proteínas para a separação da albumina fornece também informações adicionais sobre as globuli-na s .

Outros métodos. A albumina também pode ser avaliada pela determinação das globulinas baseada no conteúdo de tr iptofano das globulinas. Vários métodos tais como: eletroimunoensaio, imuno-químico, nefelométrico, imunodifusão radial, ele-troimunodifusão, turbidimetria, radioimunoensaio e enzimaimunoensaio são também empregados para a determinação da albumina sérica.

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Valores de referência para a albumina sérica Homens adultos 3,5 a 5,0 g/dL Mulheres adultas 3,7 a 5,3 g/dL Recém-nasc idos 2,8 a 5,0 g/dL Acima de 60 anos 3,4 a 4,8 g/dL

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Aminoácidos e proteínas 73

PROTEÍNAS PLASMÁTICAS ESPECÍFICAS

s proteínas nos l íquidos biológicos são molé-culas anfóteras que podem ser separadas em

frações quando aplicadas sobre um suporte poroso e submetidas a um campo elétrico em processo denominado eletroforese. A migração ocorre de acordo com o grau de ionização, tamanho e forma da molécula protéica, também como, das caracte-ríst icas da solução tampão (pH, composição qua-litativa, força iônica) do meio onde se realiza o processo; da força do campo elétr ico; da porosi-dade, viscosidade e temperatura do suporte.

A separação das proteínas é real izada em soro para evitar interferências da banda do fibrinogê-nio.

Em pH 8,6, empregando os métodos eletrofo-rét icos correntes, as proteínas no soro sangüíneo são divididas nas seguintes frações principais: pré -albumina, albumina, frações α1 , α2 , β1 , β2 e γ. A migração destas macromoléculas é realizada em suportes como o acetato de celulose, gel de aga-rose, gel de poliacrilamida e gel de amido, em res posta a um campo elétrico.

As frações obtidas no soro por eletroforese tem os seguintes valores de referência:

Proteínas Valores de referência (g/dL) Pré -albumina 0,020 a 0,040 Albumina 3,50 a 5,00 Região α1 0,10 a 0,40 Região α2 0,50 a 1,00 Região β1 0,32 a 0,66 Região β2 0,27 a 0,55 Região γ 0,59 a 2,35

Cada fração protéica obtida por eletroforese é constituída de proteínas individuais que podem ser determinadas por vários métodos, como nefelo -metria, imunodifusão radial, imunoeletroforese, etc.

PRÉ-ALBUMINA

Nesta fração, junto a pré-albumina também migra a prote ína l igadora de re t inol (RBP). Ambas são sintetizadas no fígado e tem uma meia -vida menor que 12 h, consequentemente, estas aval iações fornecem indicadores simples e sensíveis de des -nutrição ou disfunção hepática. Os níveis caem rapidamente nas reduções calóricas e protéicas na dieta. A pré -albumina transporta a tiroxina (T4 ) e a triiodotironina (T3 ) . Os níveis séricos da pré -al-bumina diminuem na inflamação, doenças mali-gnas, cirrose hepática e enfermidades renais per-dedoras de proteínas . Na doença de Hodgkin os níveis aumentam. A proteína ligadora de retinol (RBP) transport a a vitamina A (retinol). A RBP sérica eleva em enfermidades renais crônicas, especialmente em pacientes com proteinúria tubular. A redução está associada com enfermidade hepática e má nutrição protéica. Como o zinco é necessário para a síntese de RBP, os estados de deficiência deste metal são caracterizados por baixos níveis de RBP e vita-mina A. A RBP é quantificada por nefelometria.

ALBUMINA

Variações na concentração de albumina sérica em vários estados foram descri tas na seção 3.2.

REGIÃO α 1

ALFA1-ANTITRIPSINA (AAT)

As proteínas como a tripsina, quimiotripsina, elastase e trombina são continuamente l iberadas para o sangue em pequenas quantidades a partir de

A

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várias fontes, incluindo o pâncreas, leucócitos e bactérias in test inais . A AAT é uma das várias proteínas que inibem a atividade destas proteases, particularmente, a elastase dos neutrófilos, e pode atuar na l imitação da atividade proteolít ica nos sít ios de inflamação. O interesse na AAT é a asso-ciação entre certas doenças do pulmão e f ígado com a sua deficiência devida ao polimorfismo genét ico . Foram identificados vários fenótipos da defic i-ência de AAT. O fenótipo MM (alelo PiM , inibidor da protease) está associado com a at ividade nor-mal da AAT. Indivíduos homozigóticos com o fenótipo ZZ produzem somente pequenas quanti-dades de AAT plasmát ico. Estas pessoas es tão propensas as segu in tes desordens :

§ Enfisema pulmonar. Ao redor de 1% dos paci-entes com enfisema apresentam dificiências de AAT, sendo esta percentagem mais elevada em jovens. Quando associado com deficiência de AAT, o enfisema tende a se manifestar em gru-pos com idade entre 20-40 anos. O fumo parece ser um importante fator que predispõe ao des -envolvimento da doença nestes pacientes, pro-vavelmente pelo estímulo da atividade fagoci-tária com a liberação local de proteases. Part í -culas e bactérias inaladas são continuamente removidas dos pulmões no processo de fago-citose. Quando a AAT é deficiente, a enzima não é inibida e ataca a elastina da parede alv e-olar. A perda de elasticidade do tecido pulmo-nar provoca enfisema com redução da ventila-ção e aumento na vulnerabilidade para infec-ções respiratórias .

§ Desordens hepáticas. A icterícia neonatal g e-ralmente se apresenta como um quadro cole s -tá t ico, sendo comum em indivíduos com o tipo ZZ. Apesar da resolução da icterícia, pode ocorrer o desenvolvimento de cirrose. Ao redor de 20% das crianças com cirrose, a desordem hepática pode ser atribuída a deficiência de AAT. Em adultos a cirrose e o hepatoma estão associados com o fenótipo Pi z .

Valores de referência Recém nascidos 145 a 270 g/dL Adul tos 78 a 200 g/dL Acima de 60 anos 115 a 200 g/dL

Valores aumentados. Doença pulmonar crô -n ica, doenças do f ígado, diabetes mell i tus, doen-ças reumáticas, doenças gástricas, doenças renais, pancreatite, carcinoma, edema angioneurótico, cirrose, hepatoma, gravidez, terapia com estrogê-nios e es teróides .

Valores reduzidos. Deficiência congênita e perdas severas de prote ínas .

ALFA1-GLICOPROTEÍNA ÁCIDA (AAG)

É composta por 45% de carboidratos, com hexose, hexosamina e ácido siálico em iguais proporções. Sua função primária é inativar a progesterona, mas também ligar e afetar a fármaco-cinética de algumas drogas. Apesar do papel exato da AAG ser desconhecido ela está aumentada na artr i te reumatóide, lupus eritematoso sistêmico, neo-plasma maligno, queimaduras e infarto do mi o-cárdio. A redução ocorre na má nutrição, enfermi-dade hepática severa, síndrome nefrótica, anticon-cepcionais orais e gastroenter i tes perdedoras de proteínas. Os valores de referência para a AAG são: 50-150 mg/dL. A determinação de AAG substi tui com vanta-gens o teste de mucoproteínas (seromucóides) , descri to adiante.

ALFA1-FETOPROTEÍNA (AFP)

É uma glicoproteína sintetizada no fígado fetal , sistema digestório e saco vitelino humano. O nível máximo é atingido na 30a semana de gestação e no câncer hepático primário. Em obstetrícia a determinação de AFP é realizada no líquido am-niótico ou soro materno para detectar defei to do tubo neural (anencefalia, espinha bífida) do feto.

A dosagem simultânea da AFP, β-HCG (hor-mônio coriônico gonadotrófico fração beta) e e s -triol livre é utilizada como avaliação do risco fetal em mulheres no segundo tr imestre de gravidez

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Aminoácidos e proteínas 75

(entre 14 e 20 semanas) na detectação de 70% da síndrome de Down (Trissomia do cromossomo 21) e de 95% dos casos de defei tos do tubo neural aberto. A avaliação do risco fetal não é um teste diagnóstico, mas sim uma oportunidade de ras t re-amento, que informa o risco da paciente para as aneuploidias mais freqüentes e para defeitos de fechamento do tubo neural .

A freqüência da síndrome de Down é de 1/800 nascimentos. A doença não é hereditária, mas há 5 a 10% de casos com “história familiar”. O risco de nascimento de uma criança com síndrome de Down cresce com o aumento da idade materna (com 45 anos o risco chega a 1/30).

A elevação da AFP não é específica de ma -lignidade. Está presente em 15 a 75% das hepato-pat ias benignas com atividade regenerativa do hepatócito como a cirrose, hepatite alcoólica, hepatite crônica ativa, em doenças inflamatórias intestinais e colite ulcerativa.

A AFP é marcador tumoral para carcinoma he-patocecular e de células germinativas (não semi -nomas). Embora seja útil no diagnóstico, sua prin -cipal aplicação é na monitorização da eficácia do tratamento cirúrgico ou quimioterápico e no ras -tre amento dessas neoplasias . Os níveis caem a valores normais ao redor de 4 a 6 semanas após tratamento. Aumento nos teores após remissão indicam a recorrência do tumor na maioria dos ca sos .

Valores de referência para a AFP Líquido amniótico (20ª semana) 5 a 25 mg/dL Soro materno (20ª semana) 20 a 100 µg/L Recém-nasc idos 5 mg/dL

ALFA1-LIPOPROTEÍNA

Transportadora de l ipídios (v. adiante).

REGIÃO α 2

HAPTOGLOBINA (HAP)

É uma glicoproteína sintetizada nos hepatócitos e, em pequenas quantidades, nas células do sis tema ret ículo endotel ial dest inada ao transporte da he-mo globina livre no plasma para o sistema retículo endotelial onde é degradada. A hemoglobina não-ligada à haptoglobina é filtrada pelos glomérulos e precipita nos túbulos causando enfermidade renal s evera. Isto normalmente não ocorre com o com-plexo haptoglo bina-hemoglobina que é muito grande para ser filtrado, prevenindo, assim, lesões renais e a perda de ferro. O complexo é degradado no fígado ou sistema ret ículo endotelial , o que explica o teor reduzido de haptoglobina após epi-sódios hemolí t icos. Determin ações isoladas desta fração é de pouca util idade; determinações seria -das , en t retanto, são empregadas para monitorar estados hemolí t icos.

Valores de referência: recém nascidos 5-48 mg/dL; adultos: 34-215 mg/dL.

Valores aumentados. Queimaduras, infecções agudas, terapia com corticóide, a ndrogênios, do-enças do colágeno, neoplasias e s índrome nefrótica – onde grande quant idade de prote ínas de baixa massa molecular são perdidas.

Valores reduzidos. Hemólise intravascular, doenças severas do f ígado, es t rogênio s, anemia megaloblástica, hematomas, gravidez, mononucle-ose infecciosa, reações de transfusão e malária. Nestes dois úl t imos casos, são frequentes as soli-citações de haptoglobina acompanhada de lactato desidrogenase e hemoglobina.

ALFA2-MACROGLOBULINA (AMG)

É inibidora das proteases de modo diferente que o descrito para a AAT. Inibe a atividade da tripsina, quimiotripsina, trombina, elastase, calicreína e plasmina. Está diminuída em pacientes com artrite reumatóide, mieloma múltiplo e submetidos a

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terapia com estreptoquinase. Pode estar elevada durante a gravidez, terapia com estrogênios, al-gumas doenças hepáticas, diabetes mell i tus e sindrome nefrótica. A avaliação da AMG rara-mente tem valor clínico.

Valores de referência: Homens: 150 a 350 mg/dL; mulheres: 175 a 420 mg/dL.

Valores aumentados. Síndrome nefrótica, gra-videz, hemólise, infância, diabetes mellitus, in -flamações agudas e crônicas, neoplasias, cirrose, deficiência de α1 -antitripsina e terapia com estro -gênio.

Valores reduzidos. Pancreati te aguda grave e úlcera péptica.

CERULOPLASMINA (CER)

É sintetizada no fígado e transporta 90% do cobre no plasma. Os 10% restantes são t ransportados pela albumina. Seis átomos de cobre estão ligados em cada molécula de ceruloplasmina. Está au-mentada em infecções, doenças malignas e trauma. Os aumentos são particularmente notáveis em enfermidades do sistema retículoendotelial como a doença de Hodgkin. O nível está também elevado nas infecções ou obstrução do trato biliar. A ap licação mais importante da avaliação da ce-ruloplasmina é no diagnóst ico da doença de Wilson (defeito autossômico recessivo raro com incidência 1:50.000 a 1:100.000). As anormalida-des neste distúrbio são: diminuição da CER com redução da incorporação do cobre na apoproteína e redução drástica da excreção biliar do cobre. O cobre deposi ta nos r ins , no f ígado onde causa cirrose e no cérebro onde lesa a ganglia basal . Esta enfermid ade também é chamada de degene-ração hepatolen t icular. Os teores de CER são afetados pela idade, exercício, gravidez e admi -nis t ração de est rogênios. Na ausência de enfermi -dade hepática severa, níveis abaixo de 10 mg/dL são suges t ivos de enfermidade de Wilson.

Valores de referência para a ceruloplasmina (mg/dL)

1 a 2 meses 05 a 18 6 a 12 meses 33 a 43 13 a 36 meses 26 a 55 4 a 5 anos 27 a 55 6 a 7 anos 24 a 54 Acima de 7 anos 20 a 54 Adul tos 18 a 45

Valores aumentados. Artri te, doença de Hodgkin, estados neoplásicos e inflamatórios, gravidez, emprego de estrogênios, antiepilépticos e contracept ivos orais .

Valores reduzidos. Má nutrição, má absorção, doença de Wilson, perda de proteínas, s índrome nefrótica, e enfermidade hepática severa, partic u-larmente a cirrose biliar primária.

REGIÃO β 1

TRANSFERRINA (TRF, SIDEROFILINA)

É a principal proteína plasmática transportadora de ferro. Os íons férr icos provenientes da degra-dação do heme no f ígado e aqueles absorvidos a partir da dieta, são transportados pela transferrina para os locais de produção dos eri tróci tos na me-dula óssea. Sua concentração está relacionada com a capacidade total de ligação de ferro (TIBC). A avaliação da TRF é útil no diagnóstico diferencia l da anemia ferropênica e no acompanhamento do seu tratamento. Na deficiência de ferro ou anemia hipocrômica, o teor de TRF está elevado em vir-tude do aumento da síntese, entretanto, a proteína está menos saturada com o ferro pois os níveis de ferro plasmático estão baixos. Por outro lado, se a anemia é causada por impedimento da incorpora-ção do ferro nos eri trócitos, a concentração de TRF está normal ou baixa, mas saturada de ferro. Na sobrecarga de ferro, a TRF está normal en-quanto a saturação (normalmente 30-38%) excede 55% e pode chegar até a 90%.

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Valores de referência: recém nascidos 130-275 mg/dL; adultos: 220-400 mg/d/L e acima de 60 anos 180-380 mg/dL.

Valores aumentados. Anemias por deficiência de ferro, gravidez e durante a terapia com estro -gênio.

Valores reduzidos. Ocorrem, juntamente com baixos teores de albumina, pré-albumina e β-lipoproteína, em inflamações e doenças malignas. A causa da redução na síntese ainda é desconhecida. Outras causas de diminui-ção da TRF são: enfermidade hepática (redução da sín-tese), má nutrição, síndrome nefrótico, neoplasias, he-mólise, enteropatias perdedoras de proteínas, a transfer-rinemia hereditária onde os níveis bastante reduzidos de TRF são acompanhados de sobrecarga de ferro e anemia hipocrômica resistente à terapia pelo ferro.

HEMOPEXINA (HX, HPX)

Atua no transporte do heme livre após catabolismo da hemoglobina em seus componentes. O com-plexo heme -hemopexina atinge o fígado onde a porção heme é convertida em bilirrubin a. Esta fração dificilmente é quantificada no laboratório clínico.

BETA-LIPOPROTEÍNA

Transportadora de l ipídios (v. adiante).

COMPLEMENTO FRAÇÃO C4

A fração C4 participa da via clássica de ativação do complemento e atua na resposta imunológica humoral. Sua deficiência tem caráter autossômico recessivo e resulta em redução da resposta à in -feccões .

Valores de referência: 15 a 45 mg/dL.

REGIÃO β 2

FIBRINOGÊNIO

O fibrinogênio é uma glicoproteína sintetizada pelo f ígado. Atua como substrato para a ação da enzima trombina. É composta por três diferentes pares de cadeias polipeptídicas ligadas por pontes dissulfeto, que sob a ação da trombina formam fibrinopeptídios A e B. A defic iência de fibrin o-gênio pode resultar da fal ta de produção da molé-cula normal (afibrinogenia ou hipofibrogenia) ou da produção de uma proteína estruturalmente anormal (disfibrinogenia).

Valores de referência: 200 a 450 mg/dL.

Valores aumentados. Doenças inflamatórias agudas e crônicas, s índrome nefrót ica, doenças hepáticas/cirrose, gravidez, estrogênio terapia e coagulação intravascular compensada.

Valores reduzidos. Coagulação intravascular aguda ou descompensada, doença hepát ica avan-çada, terapia com L-asparaginase, terapia com agentes fibrinolíticos (estreptoquinase, uroquinase e ativadores de plasminogênio t issular), disfibri-nogenemia congênita – onde os indivíduos afe ta-dos podem ser assintomáticos ou apresentar epi-sódios esporádicos de sangramento.

COMPLEMENTO FRAÇÃO C3

A fração C3 é um dos nove componentes princi-pais do complemento total ; atua na resposta imunológica humoral.

Valores de referência: 80 a 170 mg/dL.

BETA2-MICROGLOBULINA (BMG)

É uma proteína de baixa massa molecular (11.800) facilmente filtrada pelo glomérulo e quase total-mente reabsorvida pelos túbulos renais. Níveis elevados no plasma ocorrem na insuficiência re-

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nal, inflamação e neoplasma, especialmente aqueles associados com os l infócitos B. O princi-pal valor da determinação da BMG é testar a fu n-ção tubular renal, particularmente nos receptores de transplantes renais onde a rejeição se manifesta pela redução da função tubular.

Valores de referência Soro 0,10 a 0,26 mg/dL Urina 0,03 a 0,37 mg/d LCR 0,30 mg/L

REGIÃO γ

PROTEÍNA C REATIVA (PCR)

É sintet izada no fígado – presente no plasma de pacientes com doenças agudas – e capaz de se ligar ao polissacarídio -C da parede celular do Streptococcus pneumoniae. A PCR é um marcador não-específico que eleva durante a resposta imune para a infecção, lesão tecidual ou necrose celular associada com infarto ou malignidade. Medidas repetidas são úteis no estudo do curso de doenças (como acompanhar terapia durante a inflamação ou processo necrótico). A PCR está envolvida com o sis tema auto-imune e atua na at ivação do com-plemento, fagocitose e l iberação das linfocinas.

Valores de referência: 80-800 µg/dL.

Valores aumentados. Infarto do miocárdio, estresse, trauma, infecções (ex.: recorrentes no lupus eritematoso sistêmico), inflamação (ex.: fase aguda da artrite reumatóide), cirurgia ou pro-liferação neoplástica, espodili te anquilosante e necrose tecidual. O aumento pode chegar até 2000 vezes o valor de referência. Entretanto, como o aumento é inespecífico, ele não pode ser interpre-tado sem uma história clínica completa e também com a comparação com outros exames.

IMUNOGLOBULINAS (ANTICORPOS

HUMORAIS)

As imunoglo bulinas são proteínas especializadas sintetizadas pelos l infócitos em resposta a um antígeno; podem reconhecer e precipitar , ou neu-tralizar invasores como bactérias, vírus ou pro teí-nas estranhas or iundas de outras espécies , ou ou-tras substâncias. Cada p roteína estranha estimula a formação de um conjunto de diferentes anticorpos, os quais podem combinar com o antígeno para formar um complexo antígeno-anticorpo. A pro -dução de anticorpos é parte de um mecanismo geral de defesa denominado resposta imunitária ou imunológica .

Os anticorpos são proteínas com moléculas em forma de Y, consist indo de quatro cadeias poli-pept ídicas: duas cadeias pesadas (H) e duas ca-deias leves (L). As seqüências de aminoácidos das regiões variáveis das quatro cadeias determinam a especificidade antigênica de um anticorpo em part icular , cujos sí t ios de l igação, que são com-plementares a característ icas estruturais específi-cas da molécula de antígeno, tornam possível a formação do complexo antígeno-ant icorpo.

IgG. Corresponde a 70-75% das imunoglobulinas totais. A IgG difunde para o espaço extra -vascular (65% da IgG) devido ao seu pequeno tamanho, sendo também capaz de atravessar a placenta. Sua principal função parece ser a neutralização de t ox inas nos espaços teciduais . Ant icorpos da cla s se IgG são produzidos em resposta à maioria das bactérias e vírus; agregam e envolvem peque-nas proteínas estranhas como as toxinas bacteria -nas. Informações mais precisas sobre as imunida-des são obt idas pela aval iação das quatro subclas -ses da IgG: IgG1 , IgG2 , IgG3 e IgG4 .

IgA. Aproximadamente 10-15% das imunoglobu-linas séricas são IgA. Existe outra forma de IgA, provavelmente mais importante, chamada IgA secretora. É encontrada nas lágrimas , suor, saliva, leite, colostro, secreções gastrointestinais e brô n-quicas. A IgA fornece proteção da área externa contra microorganismos.

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Aminoácidos e proteínas 79

Figura 8.1. Representação de uma molécula de imunoglobulina. A molécula consiste de duas cadeias pesadas e duas cadeias leves l igadas por l igações dissulfeto ( -S-S- ). Tanto a cadeia pesada, como a cadeia leve, apresenta uma região variável e uma região constante.

IgM. É um pentâmero produzido como primeira resposta imune ao est ímulo antigênico. É a pri-meira imunoglobulina produzida pelo feto durante o desenvolvimento. Ela está confinada ao sangue em razão de sua elevada massa molecular que impede a passagem para o espaço extravascular. A IgM não atravessa a barreira placentária, níveis elevados em recém-nascidos durante a primeira semana de vida sugerem infecção pré -natal (rubé-ola, citomegalovírus, toxoplasmose etc.). O au-mento policlonal é encontrado na cirrose, esclero-derma, endocardite bacteriana, tripanosomíase, malária, mononucleose i nfecciosa, actinomicose e leucemia monocítica. Também é empregada na avaliação da imunidade humoral, diagnóstico e monitoramento da terapia da macroglobulinemia de Waldenström (aumento monoclonal da classe IgM). No adulto compreende 5-10% das imuno-globulinas circulantes totais .

IgD. Consti tui menos que 1% das imunoglobuli-nas totais. Sua estrutura é similar a IgG. Muitas vezes estão presentes associadas ao monômero

IgM, na superfície dos l infócitos B. Sua função é desconhecida.

IgE. Encontrada no plasma somente em pequenas quantidades. Incluem as reaginas que se l igam às células. Em presença de antígeno (alérgeno), e como um dos resul tados da reação ant ígeno-ant i-corpo, ocorre a liberação de histamina e outras aminas e polipeptídios da células, produzindo uma reação de hipersensibilidade local.

Valores de referência (por nefelometria) I d a d e IgG IgA I g M IgD IgE

Soro mg/dL mg/dL mg/dL mg/dL UI /mL

N e o n a t o s 700-1480 0 -2 , 2 5 -3 0 (DIR) (RIE)

1 6 -60 anos 650-1500 7 6-390 4 0-345 0 -8 0 -3 8 0

> 6 0 a n o s 600-1560 9 0-410 3 0-360 - -

LCR 0 -5 , 5 0 -0 , 6 0 -1 , 3 - -

Saliva - ~11 - - -

DEFICIÊNCIA DAS IMUNOGLOBULINAS

A defesa imunológica depende de quatro sistemas interat ivos:

§ Anticorpos humorais (imunoglobulinas) da série de linfócitos B.

§ Imunidade celular-mediada dos linfócitos T.

§ O sistema fagocitário.

§ Sistema do complemento.

Os dois últ imos sistemas são não específicos e não tem memória imunológica para o antígeno. O primeiro e o quarto são proteínas pla s máticas. As principais causas de deficiência das imuno-globulinas são:

Causas secundárias. (Comuns):

§ Defeito na síntese (a IgM cai primeiro, a seguir a IgA e, finalmente, a IgG)

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80 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações

− Neoplasia linfóide (leucemia linfocítica crônica, doença de Hodgkin e mieloma múltiplo).

− Reação tóxica, insuficiência renal (perde-dora de proteínas) e diabetes mell i tus.

− Drogas: fenitoína, penicilina e imunossu-pressores .

− Neonatal: prematuridade e atraso passageiro da s ín tese .

§ Perda anormal de prote ínas

− Síndrome nefrótica, queimaduras, lesões exudativas e enteropatias perdedoras de pro te ínas .

Causas primárias ou inerentes. (Raros).

§ Insuf ic iência na produção de ant icorpos.

− Generalizada (infecções piogênicas seve-ras).

− Deficiência seletiva das seguintes imuno-g lobul inas .

− IgA: a mais comum (1:700), sem sinto -mas, mas as pessoas afetadas tendem a sofrer doenças alérgicas ou autoimuno-nes .

− IgG e IgA (IgM aumentada): infecções piogênicas recorrentes.

− IgA e IgM: comum na giardíase.

− IgG: infecções piogênicas recorrentes .

− IgM: susceptibilidade à enfermidade auto-imune e a septicemia após esple-noctomia.

§ Insuficiência combinada de anticorpo e imuni-dade cé lu la-mediada.

HIPERGAMAGLOBULINEMIA

POLICLONAL

A hipergamaglobulinemia policlonal é caracteri-zada por aumentos difusos das gamaglobuline-mias. É provocada pelo estímulo imune de muitos clones celulares produzindo várias imunoglobuli-nas . Representa a resposta das células β a o e s tí -mulo antigênico e indica a presença de infecção crônica ou processo auto-imune. As principais causas são:

Infecções crônicas. Brucelose, tuberculose, parasitoses (malária), lepra, bronquie ctasia. Nes -tes casos, as est imativas das imunoglobulinas específicas raramente fornecem mais i n formações que a e letroforese protéica. No entanto, as suas determinações são de grande valor em alguns dia-gnósticos diferenciais .

Doença hepática. Cirrose biliar primária, cir-rose portal e hepati te crônica ativa.

Infecções intrauterinas. A produção de IgM no feto aumenta e , ao nascer , o teor de IgM no s angue do cordão es tá e levado.

Doença inflamatória intestinal. Doença de Crohn e colite ulcerativa.

Desordens auto-imunes. Artrite reumatóide e lúpus eri tematoso sistêmico.

Granulomas. Sarcoidose.

Em alguns casos, as classes imunoglobulínicas fornecem a indicação da etiologia:

§ Predomínio de IgG: hepatite crônica ativa e lúpus eri tematoso sistêmico.

§ Predomínio de IgA: cirrose criptogência, d o-ença de Crohn, tuberculose e sarcoidose.

§ Predomínio de IgM: cirrose biliar primária e doenças parasi tár ias .

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§ Aumentos equivalentes das IgA, IgG e IgM: infecções crônicas prolongadas.

HIPERGAMAGLOBULINEMIA

MONOCLONAL (PARAPROTEINEMIA)

As bandas de imunoglobulinas monoclonais vis í -veis na eletroforese do soro sangüíneo, como p i-cos estrei tos e pontiagudos, são denominadas pa-raproteínas ou componentes monoclonais. Podem ser polímeros, monômeros ou fragmentos de mo-léculas de imunoglobulinas, como cadeias leves (proteínas de Bence Jo nes) ou, raramente, cadeias pesadas ou meias moléculas; tanto os monômeros como os fragmentos podem ser polimerizados. A detecção de uma paraproteína no sangue ou urina necessita outras investigações para determinar se a mesma é benigna ou maligna. Parapro teínemias malignas ocorrem no mieloma múltiplo (e plasma-citoma), macroglobulinemia e outros tumores linfóides. A prevalência de paraproteínemia au-menta com a idade e está ao redor de 3% da p o-pulação geriátrica.

Mieloma múltiplo. Cerca de 60% das parapro-te ínas são devidas ao mieloma múlt iplo (doença maligna de plasmócitos basicamente na medula óssea) que es tá associado com vár ias c lasses de imunoglobulinas, principalmente, a IgG. A maio-ria dos mielomas produzem moléculas de Ig com-pletas – geralmente IgA ou IgG – sendo a quant i-dade produzida muitas vezes proporcional a massa do tumor. Quantidades excessivas de fragmentos de Ig (cadeias leves ou partes de cadeias pesadas) são também produzidas em 85% dos casos, apro-ximadamente. Dímeros de cadeias leves (44kDa) estão, muitas vezes, presentes na urina sendo d e-nominados proteínas de Bence Jones . No mieloma múlt iplo são encontrados:

§ Sinais clínicos: dor óssea, fatiga, anemia leve, infecção, insuficiência renal, hiperviscosidade e uma velocidade de hemossedimentação ele-vada.

§ Diagnóstico: banda de paraproteínas na eletro-forese no soro e urina; lesões l í t icas difusas

no raio X ósseo; biópsia da medula óssea com presença de células plasmáticas anormais.

§ Acompanhamento: hipercalcemia (envolv i-mento ósseo); creat in ina e uré ia e levadas (disfunção tubular e glomerular); β2 -micro -g lobul ina (níveis elevados indicam um mau prognóst ico – depende da renovação das cé-lulas tumorais e da função renal); hemoglo-bina reduzida (depressão da medula); redução das imunoglobulinas “normais” – não-para -proteína – o que predispõe à infecção.

Macroglobulinemia de Waldenström. É uma doença clonal de l infócitos plasmocitóides secre-tores de IgM. Geralmente apresenta um curso mais prolongado que o mieloma múltiplo. Há uma pro-liferação de células que lembram os linfócitos em lugar de células plasmáticas. Elas produzem molé-culas completas de IgM e, muitas vezes, excesso de cadeias leves. A elevação do teor de IgM pro -move o aumento da viscosidade plasmática com tendência à trombose. Epistaxe, hemorragias reti-nianas, confusão mental e insuficiência cardíaca conges tiva são manifestações típicas da síndrome de h iperviscosidade. O diagnóstico e o acompa-nhamento da macroglobulinemia são realizados pelos s egu in tes t e s tes :

§ Eletroferese das proteínas no soro e urina. Devem ser usadas amostras recém-colhidas para evitar erros resultantes da deterioração. Uma urina ao acaso é adequada para a d e-monstração da proteinúria de Bence-Jo nes .

§ Determinação quantitativa das paraproteínas e outras imunoglobul inas no soro. A análise destes resultados permite a diferenciação entre a hipergamaglobulinemia benigna e maligna.

§ Imunoeletroforese ou imunofixação de proteí-nas séricas e urinárias, para determinar o tipo de paraproteína.

§ β2 -Microglobul ina sérica. Para monitorar o progresso da doença; n íveis e levados des tas proteínas indicam um mau prognóstico.

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82 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações

§ Uréia e creatinina séricas, para avaliar a fu n-ção renal.

§ Cálcio, fosfatase alcal ina e ácido ú r ico no soro, medidos como índices da extensão do envolvimento ósseo e renovação celular, re s -pectivamente.

Doença da cadeia pesada (doença de Franklin). Compreende um grupo de condições raras nas quais os fragmentos de cadeia pesada correspondentem a porção Fc das imunoglobulinas que são sintet izadas e excretadas na urina. A pro-dução anormal de cadeias pesadas α e γ é a desor-dem mais comum.

Paraproteinemia benigna. Pode ser transitória ou persistente. As paraproteínas ocorrem transit ó-riamente durante infecções agudas em doença auto-imune devido a estimulação de antígeno. Paraproteinemia benigna estável ou persistente pode ocorrer em tumores benignos das células B. São encontradas no diabetes mellitus, infecções crônicas, cirrose e desordens do tecido conjuntivo. São caracter ís t icas desta condição:

§ Concentração de paraproteínas abaixo de 2,0 g/dL (<1,0 g/dL se a paraproteína for IgA).

§ Teores normais de albumina sérica e outras imunoglo bulinas.

§ Período maior que cinco anos sem elevação nas concentrações das paraprote ínas .

§ Mais comum em idades avançadas, isto é, a prevalência é 2% entre 60-80 anos, 10% entre 80-90 anos e 20% para >90 anos.

RESPOSTA DE FASE AGUDA

É uma al teração não específ ica da s íntese e nos níveis plasmáticos de várias proteínas derivadas do fígado após danos teciduais ( trauma, infarto, malignidade) e infecções. É uma resposta à infla-mação que promove o aumento nas concentrações de algumas prote ínas sangüíneas ou tec iduais .

A resposta de fase aguda é mediada pela l ib e-ração de ci toquinas pelos macrófagos at ivados. Em infecções bacterianas isto é induzido pelas endoxinas das bactérias. Vários efeitos sistêmicos acompanham a inflamação como febre, leucoci-tose, al terações endócrinas, modificações no equilíbrio líquido e eletrolítico e proteólise mus-cular.

Proteínas de fase aguda. Este termo é usado para denotar todas as proteínas que al teram a sua concentração em 25% ou mais no período de uma semana após dano tecidual . Entre elas estão: pro -teína C reativa, α1 -antiquimiotripsina, haptoglo -b ina, fatores do complemento e fibrinogênio. Al-gumas destas proteínas são descritas acima. Duas outras medidas são empregadas para avaliar o es tado de fase aguda:

§ Velocidade de sedimentação globular . Modi-ficações na VSG abrangem alterações em vá-rias proteínas (fibrinogênio, α2 -macroglobulinas, imunoglobulinas e albumina) também, como o número e as características das membranas dos eri trócitos.

§ Medidas d as c i toquinas. Com o estabeleci-mento do papel das citoquinas, interleucina 1, interleucina 6 e o fator de necrose tumoral, pelo est ímulo da resposta de fase aguda, foi sugerido as suas avaliações em condições i n -flamatórias. Ainda persistem vários problemas técnicos na determinação rotineira destes componentes .

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84 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações

DESORDENS NO METABOLISMO DOS AMINOÁCIDOS

s erros inatos do metabolismo envolvem defeitos enzimáticos que interrompem vias

fisiológicas. Estes impedimentos podem promo-ver:

§ Excesso de precursores tóxicos.

§ Excesso de metabólitos tóxicos.

§ Deficiência de metabólitos essenciais.

Em condições normais, o rim reabsorve mais de 95% dos aminoácidos filtrados, mas alguma modif icação do transportador ou saturação dos mecanismos de reabsorção por elevados níveis plasmáticos podem provocar aminoacidúrias. Muitos distúrbios do metabolismo dos aminoáci-dos são benignos, enquanto outros es tão associa-dos ao retardo mental, retardo do crescimento, convulsões, nefropatia, cirrose hepática e disfun-ção de outros órgãos. As aminoacidúrias são de dois t ipos principais – excesso de fluxo e renal.

Excesso de f luxo. São as que acompanham os teores plasmáticos elevados de aminoácidos quando os túbulos renais são incapazes de reab-sorver as concentrações elevadas dos aminoácidos no fil trado glomerular – ou seja, a capacidade de reabsorção máxima tubular renal é excedida.

Renais. São condições associadas à excreção urinária aumentada de um ou mais aminoácidos, enquanto a concentração dos aminoácidos pla s -mático dos mesmos são normais. Estas condiç ões tem em comum um defeito no mecanismo de transporte tubular renal de um ou mais aminoáci-d o s .

HIPERFENILALANINEMIAS

As hiperfenilalaninemias são um grupo de desor-dens resultantes do impedimento da conversão de fenilalanina à t irosina. Esta via é catalisada pela enzima feni lalanina hidroxi lase, encontrada em quantidades apreciáveis somente no fígado e rim.

A feni lcetonúria (PKU) é um erro inato do metabolismo causado pela ausência (PKU clás -s ica, t ipo I) ou deficiência parcial (tipo II) da enzima fenilalanina hidroxilase, que converte a fenilalanina em tirosina. Na falta desta enzima, a fenilalanina acumula no sangue, sendo metaboli-zada por outra via produzindo catabólitos alterna-tivos, tais como, ácido fenilpirúvico, ácido feni-lláctico, ácido fenilacético e o seu conjugado com a glutamina, a fenacetilglutamina. Estes metabó-li tos são rapidamente excretados na urina, resul-tando em fenilcetonúria. Este distúrbio ocorre com uma freqüência de 1 para 10.000 nascimentos, apresentando sinais clínicos nas primeiras sema -nas de vida; cr ianças não-t ra tadas podem desen-volver retardo mental e redução na expectativa de vida. Crianças afetadas apresentam-se normais ao nascimento e os primeiros sintomas são gera l-mente inespecíficos – desenvolvimento retardado, dificuldades na alimentação e vômitos, as vezes suficientemente severo para sugerir estenose piló-rica. Os pacientes também tendem a demonstrar uma hipopigmentação. Isto ocorre porque a feni-lalanina é um inibidor competitivo da tirosinase, a enzima que inicia a via de produção da melanina. Níveis aumentados de fenilalanina também redu-zem os teores de noradrenalina, mielina e seroto -nina. Esta condição pode contribuir para os sinto-mas neurológicos. A pesquisa desta enfermid ade é, geralmente, realizada na segunda semana de vida do paciente, quando os níveis de fenilalanina estão aumenta-dos, mas ainda não iniciou o processo de retardo mental. O aumento do ácido fenilacético encon-trado no suor e urina causa um odor murídio (s e-melhante ao do rato). Outra forma de hiperfenilalaninemia é conhe-cida como hiper feni la laninemia neonatal t ransi-ente. Esta desordem é causada pelo retardo na maturação hepática do sistema enzimático da fe-nilalanina hidroxilase. Esta condição não é um defeito inerente; os níveis de fenilalanina podem atingir 12 mg/dL inicialmente mas, progressiv a-

O

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Aminoácidos e proteínas 85

mente, vão declinando até alcançar os valores normais.

TIROSINEMIA E DESORDENS RELACIONADAS

A tirosinemia tem várias formas, todas acompa-nhadas por tirosinúria e acidúria fenólica. A tiro -sina é essencial para a s íntese protéica e serve como precursora da tiroxina, melanina e cateco-laminas. A tirosina é proveniente da dieta protéica como também da hidroxilação da fenilalanina.

TIROSINEMIA I (TIROSINOSE)

A tirosinemia I (tirosinose, tirosinemia hepatorre-nal) é uma desordem rara (1 para 100.000 nasci-mentos) caracterizada pela excreção do ácido p -hidroxifenilpirúvico, quando o paciente es t á sob dieta normal e excreção de metabólitos da tirosina e pequenas quant idades de ácido p-hidróxifenilacético, quando a dieta inclui ex-ces so de t irosina. Acredita-se ser causada pela ativ idade reduzida da enzima ácido fumari laceto-acetato hidroxi lase como também da ácido p -h i -droxi feni lpirúvico oxidase (PHPPA oxidase) . A perda da atividade enzimática provoca níveis ele-vados de tirosina no sangue e urina e da metionina no sangue. Aumentos nos n íveis sér icos de α-fetoproteína estão também associados com esta desordem. O dano hepático resulta em insuficiê n-cia aguda e, em alguns casos mais graves, em cirrose. A lesão renal leva à síndrome de Fanconi.

TIROSINEMIA II

É uma deficiência da enzima hepática t i rosina aminotransferase que catalisa o primeiro estágio do catabolismo da t irosina. As carecterist icas clí-nicas são: lesões oculares (erosão da córnea), lesões da pele , das palmas das mãos e solas dos pés. Estas lesões oculares e na pele são provavel-mente secundárias a formação intracelular de cristais de tirosina, que induz à inflamação. Ob -serva-se, ocasionalmente, retardo mental.

Elevados níveis de t i rosina são encontrados no sangue e urina, também como valores aumentados de ácidos fenólicos e tiramina na urina. Diferente da t i ros inemia I, a metionina plasmática não está elevada. No sedimento urin ár io são encontrados cristais em forma de agulha.

TIROSINEMIA NEONATAL TRANSIENTE

Neste distúrbio os teores de t i rosinemia estão elevados em crianças prematuras e nascituras de a termo mas com baixo peso; apresentam imaturi-dade hepática e limitada capacidade de sintetizar as enzimas apropriadas. Com o fígado maduro, a tirosina acumulada volta ao normal em 48 sema -nas .

CISTINÚRIA

Esta desordem não é do metabolismo dos aminoá-cidos, mas de defei to no transporte de cist ina pelas células dos túbulos renais e intestino, sendo transmitida como uma característica autossômica recessiva. Nesta desordem também são excretados outros aminoácidos como a lisina, arginina e o r-nitina, mas o único que cristaliza é a cistina. A incidência deste destúrbio está entre 1 para 10.000 (homozigóticos) e 1 para 20.000 (heterozigóticos) nascimentos. A única manifestação clínica da doença – a fo rmação de cálculo urinário – inicia quando as concentrações urinárias de cistina excedem 30 mg/dL, o que ocorre durante a infância com inci-dência máxima na terceira década de vida. Fre -qüentemente são formados cálculos múltiplos que tendem a recorrência depois de removidos. Os cálculos de cis t ina são branco-amarelados e muitas vezes são moles mas podem também ser densamente granulares. A detectação de cristais de cistina (hexagonais) no sedimento urinário pode ser indicativo de formação de cálculo de cist ina.

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86 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações

CISTINOSE

É uma doença de causa desconhecida caracteri-zada por defeito no processo de transporte através das membranas l isossomais com deposição de cristais de cistina. Manifestações sistêmicas sérias resul tam desta deposição. Os cristais se acumulam no fígado, r ins, baço, medula óssea, nódulos l in -fáticos e córnea do olho. A cist inose ocorre em cerca de 1 para 40.000 nascimentos. O tipo nefropático da cistinose surge durante a infância. Estas crianças demonstram deficiê ncia no crescimento, raquitismo, acidose e aumento da excreção renal de potássio, glicose, fosfato e ami-noácidos. Esta aminoacidúria renal é, muitas v e-zes, designada como aminoacidúria generalizada em razão da perda paralela de outros aminoácidos na urin a. Quando exist ir defeito nos túbulos pro-ximais renais com glicosúria, aminoacidúria, fo s -fatúria, proteinúria e, as vezes, acidose, a cisti-nose é conhecida como s índrome de Fanconi . Na forma grave há fotofobia e pode resultar em morte como resultado da insuficiência renal. Outra forma de cistinose – de início tardio, intermediária ou adolescente – não manifesta s in -tomas até a idade de 18 meses a 17 anos. A lesão é menos severa e os pacientes não apresentam sín -drome de Fanconi . O progresso do dano glomeru-lar é mais lento que os casos t ípicos nefropáticos. Existe também uma forma benigna ou adulta de cistinose, onde se encontram cristais de cistina na córnea, leucócitos e medula óssea. Estas pessoas não apresentam disfunção renal ou retinopatia.

SÍNDROME DE HARTNUP

Nesta condição há aumento na excreção urinária de alanina, treonina, glutamina, serina, aspara -g ina, valina, leucina, isoleucina, fenilalanina, t irosina, triptofano, histidina e citrulina, resul-tando em aminoacidúria renal. A incidência é de 1 para 18.000 nascimentos. Muitos pacientes com síndrome de Hartnup apresentam deficiência de nicotinamida, pois o triptofano é convertido em ácido nicotínico e n i-cotinamida em humanos. O triptofano é pobre-mente absorvido nestes pacientes e , devido a má

absorção, a deficiência de nicotinamida torna-se manifesta pelo exantema da pelagra que aparece no primeira década de vida. Existem manifesta-ções neurológicas, dor de cabeça, dificuldades em concentrar-se, fraqueza dos membros e ataxia. A cistinúria e síndrome de Hartnup produzem aminoacidúria por defeitos no transporte tubular renal e , portanto, são as vezes designadas como aminoacidúrias secundárias. Estas aminoacidúrias também podem ser devidas a doenças dos r ins (cist inose) onde há disfunção tubular renal gene-ralizada, doença hepática ou desnutrição. Se, por outro lado, as aminoacidúrias são resultantes de defeitos enzimáticos das vias onde os aminoácidos são metabolizados, elas são designadas como ami-noacidúrias pr imárias.

ALCAPTONÚRIA (ACIDÚRIA

HOMOGENTÍSICA)

É caracterizada pela excreção urinária do ácido homogentísico (ácido diidroxifenilacético) por deficiência da enzima homogent isato dioxidase, que catal isa a t ransformação do ácido homogentí-sico em ácido maleil acetoacético. É uma desor-dem rara com incidência de 1 para 250.000 nasci-mentos . Em crianças encontram-se o escurecimento da urina após exposição ao ar ou à luz do sol ou pela adição de álcali. Ela persiste durante a vida ge-ralmente sem consequências graves e pode não ser diagnosticada até a idade madura. O acúmulo de polímeros de ácido homogentísico nas células causam pigmentação escura nas cart i lagens e no tecido conjuntivo além de alterações artrí t icas.

DOENÇA URINÁRIA EM XAROPE DE

BORDO

É assim chamada devido ao odor característ ico comunicado à ur ina dessas pessoas pelos α-cetoá-cidos. Está associada com anormalidades no me -tabolismo de aminoácidos de cadeias rami ficadas como a leucina, isoleucina e valina nos líquid o s biológicos. É uma desordem hereditária autos s ô -

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mica recessiva que envolve defeito da enzima l ipoato-oxidorredutase dos α-ce toác idos de c a-deia ramif icada que catalisa a descaboxilação oxidativa de cada um dos t rês α-cetoácidos, lib e-rando o grupo carboxila como CO2 produzindo o derivado acil-CoA. A incidência desta desordem é de 1 para 200.000 nascimentos. A doença é tratada por dieta. Quando não d e-tectada ou não tratada rapidamente, a desordem resulta em lesão cerebral severa e morte, que ocorre em geral no primeiro ano de vida. Os sin -tomas incluem vômitos, convulsões, letargia, aci-dose, falta de apetite e hipoglicemia.

HOMOCISTINÚRIA

As homocist inúrias são desordens cara cterizadas pela aumento na concentração da homocisteína nos tecidos do corpo. A incidência é de 1 para 200.000 nascimentos. A homocis t inúria clássica é a deficiência ou ausência da enzima hepática de cis ta t ionina β-s intase , que catalisa a formação de cistationina a partir da homocistina e serina no metabolismo da metionina. O bloqueio causa o acúmulo sangüíneo e urinário de metionina, homocisteína e homocis -tina. Além da metionina, a urina pode conter n í -veis aumentados de outros aminoácidos contendo enxofre. Os sintomas não se manifestam logo após o nascimento, mas se desenvolvem com a idade. Uma das manifestações mais comuns é o ectopia do cristalino. Ocorrem também anormalidades esquelét icas como a osteoporose intensa. O re -tardo mental não é um achado cons is tente . As complic ações que podem levar a morte são cardi-ovascu lares. Estes pacientes tem al terações nas plaquetas e tendência para eventos a t romboem-bólicos.

ALBINISMO

O albinismo é o resultado da ausência ou defic i-ência da enzima t irosinase que converte a tirosina em melanina. Foram identificados dois tipos de albinismo (defeitos genéticos autossômicos reces-sivos) dependendo da quantidade de melanina produzida. O albinismo do tipo I ocorre com a freqüência de 1 para 10.000 nascimentos. Ne -nhuma melanina é produzida nestes pacientes e os olhos, cabelos e pele são afetados. A visão f ica bastante comprometida. No tipo II uma pequena quantidade de mela -n ina é produzida e a visão não é tão afetada quanto no t ipo I . O t ipo I e o t ipo II são defei tos genét icos recessivos diferentes. A freqüência de ocorrência do tipo II é de 1 para 60.000 nasci-mentos .

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88 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações

MUCOPROTEÍNAS (SEROMUCOIDES)

s proteínas plas máticas, à exceção das imunoglobulinas e hormônios protéicos, são

sintet izadas no fígado, e chegam à corrente san-gü ínea, c i rculando entre o sangue e os espaços extracelulares. Este movimento ocorre não apenas pela difusão passiva por meio das interfaces e ntre células endoteliais, mas também por causa dos mecanismos ativos de transporte. Em face desse movimento, a maioria dos fluidos extravas culares normalmente contêm pequenas quantid ades de proteínas plasmáticas que se l igam a carboidratos.

Compostos forma dos por prote ínas e carboi-dratos são classificados em dois grupos: glic o-prote ínas e mucoproteínas . Estão presentes nos seguintes compostos: hexoses (galactose ou ma -nose); hexosaminas (glicosamina ou galactosa-mina); metilpentose (fucose) e ácido siálico (Ácido N-acetilneuramínico). A fração protéica é composta de transferrina, ceruloplasmina e hapto-globina. As glicoproteínas são aquelas proteínas unidas a carboidratos com menos de 4% de hexosamina (e até 15% de carboidratos). As mucoproteínas , por sua vez, contêm mais que 4% de hexosamina (e 10 a 75% de carboidra-tos) . Em quantidades variáveis; as mucoproteínas estão presentes em todas as frações globulínicas, sendo de interesse cl ínico a α1 -glicoproteína ácida. As mucoproteínas do soro normal migram, principalmente, junto à α1 -globulina, enquanto as de um soro patológico correm com a fração α2 -globulina.

SIGNIFICAÇÃO CLÍNICA DAS MUCOPROTEÍNAS

Apesar do papel exato das mucoproteínas ser des-conhecido, elas estão associadas com a inflama -ção; níveis e levados são encontrados após episó-dios de inflamação aguda. Valores aumentados (em geral 8 a 12 mg/dL em tirosina) são encontrados na febre reumática,

onde além de orientarem o diagnóstico, permitem a avaliação da atividade inflamatória pois perma-necem al teradas enquanto persis t i r o sur to. Na fase aguda da artri te reumatóide infanto-juvenil , as mucoproteínas apresentam os teores mais elevados, enquanto no adulto aumentam s o-mente em 40% dos casos sem apresentar correla-ção com a duração, grau de atividade e tratamento da doença. As mucoproteínas estão também elevadas no lupus eritematoso disseminado, dermatomiosite, neoplasmas malignos (especialmente aqueles com metástases e grande massa tumoral) , infarto do miocárdio, esclerodermia, reumatismos metabóli-cos ou infecciosos .

Redução das mucoproteínas ocorre na desnutri-ção, enfermidade hepática severa e gastroentero -pat ias perdedoras de prote ínas .

Atualmente, o teste de mucoproteínas está sendo substi tuído com vantagens pela determin a-ção da α1 -g l icoprote ína ác ida (AAG). Esta avali-ação apresenta melhor especificidade, sensibili-dade e adequação ao laboratório por ser menos t rabalhosa.

DETERMINAÇÃO DAS MUCOPROTEÍNAS

Paciente. Não é necessário jejum para a coleta de sangue.

Amostra. Soro ou plasma heparinizado . Separar a amostra logo que possível. Armazenado em re-frigerador, o soro mantém-se inalterado por uma semana.

Métodos. Em anos recentes, a utilidade clínica da avaliação das mucoproteínas foi suplantada pela determinação da α1 -glicoproteína ácida. Co n-sequentemente, existe pouco incentivo em desen-volver e aperfeiçoar este ensaio. Como em nosso meio este teste ainda é utilizado, faz-se a seguir algumas considerações quanto a sua determinação. Vários métodos foram descritos para a deter-minação das pro te ínas presentes nas mucoproteí-

A

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nas, tais como, químicos, eletroforéticos ou por imunodifusão. O mais popular utiliza métodos químicos.

Método químico. É o método mais usado. B a-seia -se na propriedade das mucoproteínas serem so lúveis em ácido perclórico diluído, mas preci-pitar com ácido fosfotúngstico. Este último é la -vado e a quantidade de mucoproteínas é determi -nada colo rimetricamente através do reagente de Folin -Ciocalteau. Estes métodos pecam pela falta de exatidão.

Valores de referência para as mucoproteínas Adul tos 2 a 4,5 mg/dL (em tirosina)

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