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Penicilinas - Estrutura química e preparação
- Conhecer o núcleo base dos antibióticos β-lactâmicos, e em particular das
penicilinas e características físico-químicas genéricas
Anel β-lactâmico Amida cíclica com 4 átomos no seu anel.
Nome contemporâneo azetidinona
Este anel foi provado ser o componente principal do farmacóforo
Penicilina Subclasse dos antibióticos -lactâmicos
Caracterizadas pela presença de um anel tiazolidina de 5
membros fundido com o anel -lactâmico. Este composto tem o
nome genérico de penamo (sistema bicíclico).
Esta fusão e a quiralidade do anel -lactâmico
resulta numa molécula que possui uma forma em V.
Esta estrutura interfere com a planaridade da ligação
lactâmica e inibe a ressonância do azoto lactâmico
com o grupo carbonilo.
Consequentemente, o anel -lactâmico é muito mais reativo (anel com muita tensão)
e assim mais sensível ao ataque nucleofílico quando comparado com amidas planares.
- Conhecer a estrutura e a obtenção microbiológica da penicilina G e da penicilina V
» As penicilinas de origem natural foram produzidas a partir do crescimento de fungos;
» O penamo sugere que este tenha derivado dos aminoácidos cisteína e valina;
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» Quanto á cadeia lateral ligada ao grupo amina do anel βlactâmico, varia consoante o
meio sólido em que o fungo responsável pela produção da penicilina está inserido:
- Penicilina G
Cadeia lateral: C6H5CH2
Produzida quando o meio de cultura continha ácido
fenilacético em quantidades elevadas, este era incorporado na
molécula para produzir Benzilpenicilina
Primeiro antibiótico β-lactâmico conhecido
- Penicilina V
Cadeia lateral: C6H5OCH2
Se no meio de cultura estiver presente o ácido fenoxiacético,
este será incorporado na molécula e é então produzida a fenoximetilpenicilina.
- Modo de obtenção do ácido 6-aminopenicilânico (6-APA) e a sua importância
O 6-APA pode ser obtido directamente, a partir do crescimento de fungos, se
excluirmos do meio onde este cresce o precursor acídico da cadeia lateral, no entanto, este é
um método com baixo rendimento;
Assim para a obtenção do 6-APA recorre-se às penicilinas naturais, benzilpenicilina
(penicilina G) ou fenoximetipenicilina (penicilina V), mediante a ruptura enzimática da ligação
amida da cadeia lateral. Para o método ser mais rentável, as enzimas são usadas imobilizadas
em vez de serem em solução.
A enzima que catalisa esta ruptura enzimática é a penicilamidase (não é usada pelos
microrganismos para a sua protecção contra fármacos).
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- Outro modo de obtenção do 6-APA é a hidrólise quimioseletiva:
Só por si, o 6-APA tem uma actividade antibiótica baixa, mas quando substituído no
seu grupo amina primário com uma amida adequada, a sua potência e espectro antibacteriano
aumentam consideravelmente;
Assim, as penicilinas actualmente em uso terapêutico preparam-se
fundamentalmente usando como matéria-prima o 6-APA. Este contém 3 centros
estereogénicos (2S, 5R e 6R), o que justifica a sua utilização como matéria-prima da qual
derivam as penicilinas por reacções de N-acilação.
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Nomenclatura
A numeração do núcleo base começa
sempre no azoto e dá-se no sentido contrário
aos ponteiros do relógio.
A nomenclatura das penicilinas e dos
outros antibióticos é complexa, tomando como
exemplo a penicilina G segundo a nomenclatura
IUPAC esta seria a 3,3–dimetil –7–oxo–6–(2-fenilacetamido)-4-tio-1-azabicicloheptano-2-
carboxilato.
No entanto, devido a complexidade do nome um sistema mais simples tem resistido,
baseando-se na adição ao nome penicilina, do nome químico trivial do radical que completa a
estrutura, assim a penicilina G designa-se por benzilpenicilina, contendo esta 3 centros
assimétricos (2S, 5R e 6R) que são essenciais para manter a sua actividade farmacológica.
- Conhecer a instabilidade/estabilidade da ligação amida do anel β-lactâmico
Devido à distorção dos ângulos de ligação que constituem o ciclo de 4 membros e à
fusão com o anel tiazolidina (anel de 5 membros), o par de e- não compartilhados do azoto
que se encontra fixo não pode sobrepor-se aos e- da ligação π do grupo carbonilo, pelo que
não é permitida a ressonância característica da ligação amida -> o grupo carbonilo no anel ß-
lactâmico é altamente susceptível a ataque nucleofílico.
Uma amida terciária é resistente a ataques nucleofílicos porque o grupo carbonilo é
estabilizado pelo átomo de azoto, que fornece o seu par de e- ao grupo carbonilo formando
uma estrutura dipolar com ressonância, com ângulos de ligação de 120º, mas num anel ß-
lactâmico (de 4 membros) os ângulos são de 90º. Como resultado, o par de e- não ligantes
encontra-se localizado no átomo de azoto e o grupo carbonilo é mais electrofílico do que o de
uma amida terciária.
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- Hidrólise do anel β-lactâmico em água e em soluções alcalinas
Esta ligação quebra-se moderadamente (lentamente) em água fria, mas mais
rapidamente em soluções alcalinas (mais OH-).
O mecanismo desta reacção inicia-se com um ataque nucleofílico do H2O ao grupo
carbonilo da amida do anel,
havendo a passagem de e- para o
átomo de oxigénio do grupo
carbonilo. Seguidamente, os e-
movimentam-se para restabelecer a
ligação dupla no grupo carbonilo,
fazendo com que a ligação C-N se
quebre ocorrendo então a abertura
do anel β-lactâmico. Forma-se
então o ácido penicilóico que sofre
descarboxilação para originar o
ácido penilóico.
- Reacção de antibióticos β-lactâmicos com grupos amino de aminoglicosídeos, bem
como a problemática das alergias aos antibióticos β-lactâmicos
Normalmente a alergia às penicilinas é de início tardio e é expressa pelo
aparecimento de um prurido. Ocasionalmente também pode ser imediata e profunda,
podendo incluir colapso cardiovascular e podendo mesmo levar à morte;
Normalmente quando se é alérgico a uma classe de β-lactâmicos também se é
alérgico às outras classe;
A reacção alérgica tem normalmente origem na reacção entre as proteínas e o anel
β-lactâmico, com o ataque nucleofílico dos grupos amina das proteínas á ligação β-lactâmica:
Formando antigénios designados por haptenos;
Como esta reacção envolve o anel β-lactâmico (farmacóforo) não pode ser evitada
pelo que não é possível contornar este problema em indivíduos com predisposição para a
mesma.
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-Hidrólise do anel β-lactâmico em meio ácido
A sensibilidade das penicilinas ao ácido deve-se essencialmente a três factores que
favorecem esta hidrólise ácida:
Tensões do anel
O sistema biciclico sofre elevadas tensões de torção. A abertura do anel, catalisada
por ácidos, alivia essas tensões pela quebra da ligação causadora da maior torção do anel β-
lactâmico.
Reactividade elevada do grupo carbonilo do anel β-lactâmico
Ao observarmos a figura, o par de e- não ligantes do azoto do anel β-lactâmico
atacam o carbono do grupo carbonilo (carga parcial positiva -> oxigénio é electronegativo).
Como consequência, este fica com excesso de e-.
O que na realidade acontece é a formação de uma estrutura de ressonância dipolar.
Influência da cadeia lateral de acilo (participação do grupo vizinho)
O grupo acilo da cadeia lateral pode participar activamente no mecanismo de
abertura do anel β-lactâmico.
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Pela figura abaixo, pode observar-se que em meio ácido e temperatura ambiente,
este tipo de antibióticos sofrem uma reordenação: protonação do N lactâmico, seguida do
ataque nucleofílico pelo grupo carbonilo da cadeia lateral. O anel de oxazolina intermediário
assim formado transpõe-se de novo a um anel de imidazol, dando origem ao ácido penílico.
Este processo pode acontecer no estômago.
Por outro lado, a altas temperaturas ou com cloreto de mercúrio e num meio ácido,
também ocorre ruptura do anel de tiazolidina, originando entre outros produtos a
penicilamina.
Voltando à degradação catalisada pelo ácido do estômago, esta é a principal
responsável pela baixa absorção por via oral das primeiras penicilinas naturais. Esta pode
minimizar-se, introduzindo-se na posição benzilica da benzilpenicilina, substituintes atractores
de e-.
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Desta forma, aquando da protonação do azoto lactâmico, não se produz o ataque
nucleofílico do grupo carbonilo da cadeia lateral, já que se introduziram substituintes
atractores de e-. Por esta razão a fenoximetilpenicilina (penicilina V) e a ampicilina são mais
estáveis do que a penicilina G (benzilpenicilina).
Relações de estrutura-actividade
O anel rígido ß-lactâmico é essencial.
O ácido carboxílico livre é essencial. Este está
normalmente ionizado -> sais de K e de Na. O ião carboxilato
liga-se ao ião amónio carregado de um resíduo de lisina no sítio
de ligação.
O sistema bicíclico é importante. Confere maior rigidez
anel ß-lactâmico. Quanto maior a rigidez, maior a actividade,
mas maior a instabilidade da molécula a outros factores.
A cadeia lateral acilamina (esterioquímica cis) é essencial.
O enxofre é usual mas não essencial.
Em suma, qualquer variação está restringida à cadeia lateral acilamina.
Alterações estruturais para aumentar a estabilidade em meio ácido
A colocação de um grupo electroatractor na
cadeia lateral, diminui a densidade electrónica no grupo
carbonilo da cadeia lateral, protegendo estas penicilinas
da hidrólise ácida no estômago -> maior
biodisponibilidade após administração oral.
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- Papel dos iões metálicos nas reacções de hidrólise e implicações
Iões tais como cobre, zinco e mercúrio coordenam-se com o azoto do anel β-
lactâmico facilitando a sua ruptura.
- Características estruturais que favorecem a ligação a proteínas plasmáticas
Quanto maior a lipofilicidade da cadeia lateral, maior a ligação a proteínas
plasmáticas -> vantagens em termos de
protecção da degradação mas reduz a
concentração bactericida efectiva de fármaco na
corrente sanguínea.
O grau de ligação tem pouca influência
nos seus tempos de meia vida, uma vez que as
penicilinas são excretadas para a urina por
transporte activo e a taxa de libertação das
proteínas é suficientemente rápida para que o passo determinante da eliminação seja a taxa
de secreção renal.
- Características químicas fundamentais na resistência às penicilinases
Algumas bactérias, principalmente a maior parte das Gram-, não são sensíveis às
penicilinas e outras são capazes de desenvolver mecanismos de resistência (alteração da
permeabilidade da membranas ou da estrutura das transpeptidases ou ß-lactamases).
Em geral, o impedimento estérico na posição α do acilo, como acontece no grupo
2,6-dimetoxifenilo da meticilina, confere resistência às ß-lactamases, mas há que ter em conta
que estes derivados apresentam, ao mesmo tempo, menor afinidade pelas transpeptidases
(menos activos que as penicilinas naturais - G e V - contra as bactérias normalmente sensíveis
às penicilinas).
No entanto, a introdução de um grupo metileno entre o grupo 2,6-dimetoxifenilo, a
alteração de um dos grupos metoxi para a posição para ou a substituição de um deles por um
H leva à perda de resistência à penicilinase.
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Se os substituintes na posição α do acilo são
volumosos e atractores de e- -> derivados estáveis
contra as ß-lactamases e resistentes à hidrólise ácida.
Por outro lado, se os substituintes são
dadores de e-, como acontece com os grupos
metoxilo da meticilina -> derivados mais estáveis
contra as ß-lactamases, mas mais sensíveis à hidrólise
ácida.
Os átomos de halogénio influenciam outras
propriedades farmocinéticas (cloxacilina melhor
absorvida que a oxacilina e a flucloxacilina não se liga
tanto às proteínas plasmáticas);
A introdução de um grupo ionizado ou
polar na posição benzílica da Penicilina G, como
ocorre na ampicilina, cujo grupo amina, tanto em
meio ácido como em meio neutro, está protonado,
confere actividade contra bactérias Gram-, porque
permite a penetração no interior celular através de canais aquosos – porinas;
A amoxicilina também tem um grupo amina que actua contra Gram- mas que é
melhor absorvido por via oral que a ampicilina.
O carboxilo é outro grupo polar que aumenta a eficácia contra as Gram- (encontra-se
na carbenicilina).
Mecanismo químico de acção
Diferenças entre a parede celular de bactérias Gram + e Gram –
A parede celular contém uma estrutura de peptidoglicano feita de péptidos e
resíduos de açúcar. Existem 2 tipos de açúcar: NAM (ácido N-acetilmurâmico) e NAG (N-
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acetilglucosamina) ligados por ligações β-1→4. Os péptidos (tetratapéptidos) estão ligados ao
NAM com presença de aminoácidos L e D.
A ligação cruzada entre cadeias vizinhas de peptidoglicano é feita nas bactérias
Gram- pela ligação entre o grupo carboxilo do resíduo D-alanina (3ª aminoácido do
tetrapéptido) de uma cadeia e o grupo amino situado sobre o átomo de C de um resíduo de
ácido meso-diaminopimélico da outra cadeia.
Nas Gram+ a união faz-se a partir de uma ponte pentapeptídica de glicina que liga o
resíduo de lisina de uma cadeia ao 4º aminoácido da ponte tetrapeptídica da cadeia vizinha.
Gram + Gram -
Contém essencialmente peptidoglicano e
ácidos teicóicos e lipoteicóicos
Fina camada de peptidoglicano rodeada por
uma membrana externa
Ligação entre as 2 cadeias peptídicas é feita
por um pentapéptido Ligação entre as 2 cadeias peptídicas é directa
Estrutura simples Estrutura mais complexa
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- Entender a importância da formação de ligações peptídicas cruzadas e o seu
mecanismo de formação
A formação deste tipo de ligações produz uma matriz insolúvel capaz de manter a
integridade da célula. Sem este tipo de ligações as cadeias de peptidoglicano permaneciam
dissolvidas na água.
No processo de síntese, forma-se um
enlace peptídico entre o grupo carboxílico do
resíduo R4 de uma cadeia e o grupo amino do
resido R3 de outra. Esta ligação (cross-linking -
proporcionam estabilidade à parede bacteriana) é
efectuada por uma transpeptidase de serina que
inicialmente catalisa a hidrólise do enlace D-Ala-D-
Ala, dipéptido C-terminal da cadeia de peptidoglicano.
A enzima fica primeiro acilada, retirando o último resíduo de D-alanina do
pentapéptido inicial para catalisar posteriormente a reacção de transamidação entre a
acilenzima e o grupo carboxilo de um a.a. de outra cadeia de peptidoglicano.
Selectividade de acção dos antibióticos β-lactâmicos
Inibição selectiva e irreversível das enzimas que constroem a camada de
peptidoglicano. A enzima transpeptidase é uma das enzimas que permite a ligação do resíduo
D-alanina à glicina da unidade pentamérica. E apenas actua em resíduos proteicos com a
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conformação D, que apenas existe na parede bacteriana (em células humanas a conformação é
L).
Como os β-lactâmicos são capazes de mimetizar a estrutura da parte final do
peptidoglicano (D-alanil-D-alanina) e ligar-se ao local activo da transpeptidase.
A distância de Na para Nb no resíduo D-ala--D-ala e na penicilina são idênticas. O
grupo carbonilo β-lactâmico pode ainda ser activado pelos efeitos torsionais do anel
tiazolidina nas penicilinas. Este carbonilo corresponde ao grupo carbonilo do acil do resíduo D-
ala-D-ala e, por isso, as penicilinas também podem acilar o resíduo de serina do centro activo
da transpeptidase.
Penicilina ligada ao sítio activo -> evita a hidrólise ou a transamidação quer por
efeitos estéricos, quer por induzir uma alteração conformacional na enzima que previne que
este processo ocorra.
No entanto, há factos que contrariam esta teoria:
Ex.: a 6-metilpenicilina é um análogo próximo do resíduo
D-ala-D-ala, por isso devia encaixar melhor no sítio activo e ter maior
actividade. No entanto, apresenta baixa actividade.
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Uma teoria alternativa refere que a penicilina não se liga ao sítio activo, mas nas
proximidades. Ao fazê-lo, a estrutura da penicilina sobrepõe-se ao sítio activo e evita o acesso
dos reagentes normais (efeito guarda-chuva).
- Relacionar a estrutura com actividade dos β-lactâmicos e compreender o
mecanismo químico de formação da ligação irreversível destes com o local activo da
enzima
A grande tensão no anel β-lactâmico faz com que este seja muito mais reactivo.
O complexo intermediário (acil-enzima) formado é de difícil hidrólise nas PBP’s (fácil
hidrólise nas β-lactamases). Este diferente comportamento deve-se ao
facto de as β-lactamases conterem resíduos de ácido glutâmico próximos
do centro activo que atuam como base para activar as moléculas de
águas produzindo assim a hidrólise. Por outro lado as PBP’s têm um
resíduo de fenilalanina nesse mesmo local tornando assim difícil a
hidrólise básica.
Neste caso forma-se uma ligação covalente não se conseguido
clivar esta ligação.
Resistência
Deve-se à:
- Diminuição da captação do fármaco pela célula;
- Baixar a afinidade para as PBP’s (acontece com o MRSA, a PBP-2 é mutada e deixa de se
ligar eficientemente à meticilina).
β–Lactamases (proteases de serina) - enzimas produzidas por m.o. que catalisam a
hidrólise das ligações dos β-lactâmicos e inactivam os β–lactâmicos a ácido penicilóico.
Assemelham-se à transamidase da parede celular, a partir da qual se pensa que elas possam
ter surgido.
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A regeneração hidrolítica do sítio activo é mais fácil com β-lactamases do que
acontece com as transaminases da parede celular, logo a enzima pode regenerar muitas vezes
(quantidade pequena pode destruir uma grande quantidade de fármaco).
Com bactérias gram+, as β-lactamases são normalmente excretadas de forma
contínua para o meio para encontrarem o antibiótico no exterior da parede celular, sendo
assim biossintetizadas em quantidades significativas.
Com bactérias gram-, as β-lactamases são secretadas para o espaço periplasmático,
entre a membrana interna e externa. Assim, embora ainda distante para os PBP´s, elas não vão
para o meio logo não precisam ser tão frequentemente sintetizadas.
No entanto, existem algumas substâncias que se conseguem ligar irreversivelmente
às β-lactamases, como o ácido clavulânico, o sulbactam e o tazobactam, sendo considerados
inibidores suicidas.
As penicilinas são geralmente agrupadas com base no seu espectro de actividade e
na sensibilidade ou resistência às β-lactamases.
Grupo das benzilpenicilinas
A benzilpenicilina (penicilina G) foi uma das primeiras penicilinas a ser utilizadas na
terapêutica, e é ainda bastante utilizada e útil no tratamento
de doenças causadas por microrganismos susceptíveis.
Grupo da cadeia lateral: benzil
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Características:
- Activa principalmente contra cocos Gram- (alguns);
- Activa contra bacilos gram+ não produtores de β-lactamases;
- Activa contra m.o. anaeróbios;
- Activa apenas contra a rápida multiplicação de bactérias;
- Agente de escolha para tratamento de infecções causadas por S.pyogenes e estirpes
susceptíveis de S.pneumoniae e enterococos
Vantagens:
- Bactericida em vez de bacteriostático;
- Obtida facilmente e com baixos custos de produção
Desvantagens:
- Não activa contra para uma grande gama de espécies (pouca actividade contra Gram-)
- Ineficaz quando tomada oralmente (é hidrolisado pelo ácido do estômago). Só pode ser
administrada via parentérica;
- Penicilina-procaínica e penicilina-benzatínica formam soluções insolúveis em água e
poderão ser administrados por via IM (baixos níveis, mas prolongados de penicilina).
- Sensível às β-lactamases;
- Causam reacções alérgicas em alguns indivíduos. Ex.: reacções de aminas biogénicas com
penicilina
Para contornar o problema da hidrólise em meio ácido desenvolveu-se a penicilina V.
Grupo da cadeia lateral: fenoximetil
Pode ser administrada por via oral.
É consideravelmente mais estável em ácido do que a
benzilpenicilina -> justificado pelo átomo electronegativo de
oxigénio no C-7 na cadeia lateral amida, que inibe a sua participação na hidrólise da ligação β -
lactâmica. Obtêm-se níveis maiores e mais prolongados do que os de penicilina G.
O seu espectro antimicrobiano é praticamente o mesmo que a penicilina G, embora
seja um pouco menos potente e não é tão utilizada para infecções graves agudas.
Tem aproximadamente a mesma sensibilidade às -lactamases e alergenicidade que
a Penicilina G.
Penicilinas utilizadas por via parentérica penicilinase-resistentes
Meticilina
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Em desuso (indutor de penicilinases) -> 1ª Penicilina semissintética com resistência às -
lactamases de S.aureus
Os 2 grupos metoxi nas posições orto funcionam como um escudo estérico, o que a torna
resistente às β-lactamases
Como o grupo da cadeia lateral não é electroatractor, é sensível ao ácido (T1/2 de 5 min a
pH=2), logo tem de ser administrada por via parentérica.
1/50 da actividade da penicilina G contra m.o. que são sensíveis à penicilina G.
Tem um espectro bacteriano mais estreito e menos potência - tem pouca actividade
contra algumas estirpes estreptocócicas e é inactiva contra bactérias Gram-. Como tal
inicialmente foi usada para infecções causadas por S. aureus produtores de β-lactamases
e em algumas outras infecções
Recentemente tem aumentado o nº de infecções causadas por S. aureus metacilina
resistentes (MRSA). O modo de resistência parece envolver a formação de uma PBP-2
alterada que tem uma afinidade muito baixa para as β-lactamâmicos, na qual se inclui a
meticilina. Para além disso, esta é um indutor eficiente das penicilinases o que leva a que
actualmente seja substituída por outros fármacos.
Nafcilina
Possui um anel naftaleno como escudo estérico
Possui mais actividade intrínseca que a meticilina
contra estafilococos e estreptococos
Embora seja um pouco mais estável ao ácido que a
meticilina, é clinicamente idêntica a esta
É administrada por via parentérica.
O impedimento estereoquímico proporcionado pelo grupo volumoso da cadeia
lateral quer na Meticilina quer na Nafcilina protege estas penicilinas do ataque por
penicilinases, no entanto, por ser volumoso também reduz a afinidade para a ligação à
transpeptidase, daí serem menos potentes por exemplo do que a penicilina G.
Penicilinas administradas por via oral penicilinase-resistentes
Isoxazolilpenicilinas (Oxacilina, Cloxacilina, Dicloxacilina, Flucloxacilina)
A incorporação do anel isoxazolil na cadeia lateral ->
compostos activos por via oral.
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O anel age como um escudo estérico contra as β-lactamases e é electroatractor
(estabilidade em meio ácido).
A substituição de R1 e R2 no anel por halogéneos dá origem a diferentes fármacos:
Tal como a meticilina, têm uma actividade inferior que a benzilpenicilina quando
usados contra bactérias Gram+ não produtoras de β-lactamases.
São inactivos contra Gram – não conseguem permear a membrana externa
A alteração dos halogéneos leva apenas a alterações farmacocinéticas, como na
absorção e ligação às proteínas plasmáticas:
- A cloxacilina é melhor absorvida na parede intestinal que a oxacilina
- A flucloxacilina está menos ligada às proteínas plasmáticas.
Penicilinas de largo espectro, administradas por via oral e sensíveis a penicilinases
O espectro de actividade mostrado por qualquer penicilina depende da sua
estrutura, da sua capacidade de atravessar a membrana celular de bactérias gram-, da sua
susceptibilidade às β-lactamases, da sua afinidade para a enzima alvo (PBPs), e da taxa a que a
penicilina é bombeada para fora da célula (efluxo) por bactérias gram-.
A busca de antibióticos de amplo espectro foi uma tentativa que consiste em fazer
uma variedade de análogos, sendo que as alterações foram novamente confinadas às
variações na cadeia lateral:
Os grupos hidrofóbicos na cadeia lateral (Ex.: penicilina G
– grupos metilo) favorecem a actividade contra bactérias gram+,
mas resultam numa fraca actividade contra bactérias gram-.
Os grupos hidrofílicos na cadeia lateral têm um pequeno
efeito na actividade de bactérias gram+ (Ex.: penicilina T) ou
causam uma redução da sua actividade (Ex.: penicilina N). No
entanto, estes levam a um aumento na actividade contra bactérias
gram-.
O aumento da actividade de bactérias gram- é maior se o
grupo hidrofílico (Ex.: NH2, OH, CO2H) estiver ligado ao carbono alfa do grupo carbonilo na
cadeia lateral.
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Existem 3 classes de antibióticos de amplo espectro. Todos eles possuem um grupo
alfa-hidrofílico que auxilia a passagem dessas penicilinas através dos canais de porinas da
membrana das células bacterianas Gram-.
Os 3 grupos de penicilinas com espectro de acção alargado são:
- Aminopenicilinas (Ampicilina, Pivampicilina, Talampicilina, Bacampicilina,
Ciclacilina,Amoxicilina);
- Ureidopenicilinas (Piperacilina);
- Carboxipenicilinas (Carbenicilina, Ticarcilina)
Ampicilina
Propriedades:
- Espectro de acção semelhante à penicilina G mas mais
activo contra cocos Gram- e enterococos
- Resistentes ao ácido devido ao grupo amina
(administrado por via oral), possuindo um t ½ de 15 a 20
h a pH=2 e a 35 ºC
- Não-tóxicos
- Sensíveis às β-lactamases (não há escudo estérico)
- Ineficazes contra Pseudomonas aeruginosa
- Podem causar diarreias ou colites pseudomembranosas devido à fraca absorção a nível
intestinal, no máximo 40% -> desregulação da flora saprófita (colonização de bacilos gram-
e fungos).
- O grupo amina está sempre protonado (meio ácido e em meio neutro), o que confere
acção contra as bactérias gram- porque há penetração para o interior das células através
dos canais de porinas, uma vez que a molécula se encontra electricamente neutra (espécie
anfotérica).
- Os grupos amina 1º, por outro lado, em preparações com elevada concentração de
ampicilina, podem formar ligações com o anel β-lactâmico de outras moléculas, formando
agregados de alto peso molecular. Estes são considerados antigénios responsáveis pela
alergenicidade à ampicilina, uma forma de hipersensibilidade.
Pró-fármacos de ampicilina (Pivampicilina,Talampicilina,Bacampicilina)
Tendo em conta que a ampicilina é fracamente absorvida na parede do intestino (por
via oral), pois possui um grupo amina livre e um ácido carboxilico livre -> uso de pró-fármacos
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A ampla distribuição de esterases no organismo faz com que os ésteres sejam os pró-
fármacos mais comuns para fármacos com estrutura de ácido carboxílico.
As principais limitações deste método devem-se à formação de compostos pouco
aconselháveis depois da hidrólise pelas esterases. E à elevada estabilidade dos ésteres in vivo -
> grupo carbonilo é inacessível ao centro activo da esterase -> impedimentos estéricos.
Resolução
Preparação de aciloximetil ésteres, nos quais o grupo éster externo é mais facilmente
acessível ao centro activo da esterase.
Ex. de pró-fármacos da ampicilina são a Pivampicilina, a Talampicilina e a
Bacampicilina
A bacampicilina é um pro-fármaco não-tóxico, com uma absorção no duodeno de 80
a 98% que se decompõe em ampicilina e outros metabolitos naturais do corpo: CO2, etanol e
acetaldeído que é metabolizado de seguida pela álcool desidrogenase, produzindo ácido
acético.
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Amoxicilina
- Análogo da ampicilina, diferindo apenas na adição de um
grupo hidroxilo na posição para do grupo fenil da cadeia
lateral. A sua vantagem em relação à ampicilina é devido à
alteração de cargas que produz o grupo adicional “fenólico
hidroxilo” -> alterar o ponto isoeléctrico para um valor mais acídico, o que conjugado com
os transportadores intestinais vai aumentar os seus níveis no sangue -> melhor absorção
oral (74 a 92%), com diminuição dos distúrbios na flora GI e menos diarreia. O seu uso
clínico e o seu espectro de acção são sensivelmente os mesmo que os da ampicilina.
- A sua síntese implica os seguintes passos:
1º A condensação do grupo amina com um reactivo β-dicarbonilico que forma uma imina
(ou base de Schiff) que se tautomeriza a uma enamina estabilizada por pontes de
hidrogénio intramoleculares.
2º Adição de um grupo activador (N-metilmorfolina) para activar o grupo carbonilo do
carboxilato.
3º Adição de um
derivado do 6-APA
que vai reagir com o
grupo carbonilo
activado.
4º Colocação em
meio ácido suave ->
remover o grupo
responsável pela
protecção inicial da
amina.
Inibidores das β-lactamases (ácido clavulânico, sulbactam e tazobactam)
Ácido Clavulânico
- Tem actividade antibiótica fraca, no entanto, é um
poderoso inibidor irreversível das β-lactamases.
- Utilizado com penicilinas tradicionais (amoxicilina) –
aumenta o espectro de actividade.
22
- Anel β-lactâmico está fundido com um anel oxazolidina.
- Não têm uma acil-amina na cadeia lateral.
- Acredita-se que o grupo 9-hidroxilo forma pontes de H com o sítio activo da lactamase.
Mecanismo de acção:
- Ocorre a ligação ao sítio activo da enzima, com abertura do anel β-lactâmico ao ligar-se a
um resíduo de serina do local activo;
- O intermediário acil-enzima reage com outro grupo nucleofílico enzimático que abre o
anel oxazolidina, formando uma ligação irreversível com a enzima;
- Em seguida há perda/ganho de protões, pelo que pode haver aceitadores/dadores no
local como histidina e há libertação de subprodutos do composto inicial.
São características fundamentais para a ocorrência do mecanismo:
- Anel β-lactâmico rígido
- Éter enólico formado a partir do anel oxazolidina
- A ligação dupla do éter enólico ter configuração Z
- Não haver substituição no C-6
- Estereoquimica-R nas posições 2 e 5
- Existência do grupo ácido carboxílico na posição C-2
23
Sulbactam e Tazobactam
Tal como o ácido clavulânico, estes dois agem como substratos suicidas para as β- lactamases e
têm propriedades semelhantes
Sulbactam:
- Tem um espectro de actividade contra as β-lactamases
maior que o ácido clavulânico mas é menos potente;
- É combinado com ampicilina e administrado via IV
Tazobactam:
- Tem um espectro de actividade similar ao sulfabactam mas a potência é
mais similar ao ácido clavulânico
- Administração via IV com piperacilina. Esta combinação tem o maior
espectro de acção.
- Importa no entanto referir, que nem todas as β-lactamases são sensíveis á
presença destes 3 inibidores
Penicilinas de largo espetro, administradas por via parentérica e sensíveis a penicilinases
Ureidopenicilinas (Piperacilina)
- Derivado da ampicilina, na qual o
grupo D-amino da cadeia lateral foi
convertido, por processos químicos,
num análogo substituído de ureia.
- Preserva a actividade da ampicilina
contra bactérias Gram+ e aumenta a
actividade contra Gram-. Ex.: Ampicilina não possui atividade contra P. aeruginos, o que já
ocorre com a Piperacilina.
- O grupo adicional análogo da ureia aumenta o nº de pontos possíveis de fixação nas PBPs
e talvez este recurso seja o responsável pela sua actividade antibacteriana aumentada.
- No entanto, tal como a ampicilina este antibiótico é sensível às β-lactamases, sendo
normalmente co-administrado com tazobactam, que é um inibidor suicida das β-
lactamases.
Alfa-carboxi-penicilinas (Carbenicilina e Ticarcilina)
24
- A Carbenicilina é um análogo da benzilpenicilina em que um dos H metilenos da cadeia
lateral é substituído por um ácido carboxílico.
- A introdução do grupo carboxilo aumenta a actividade contra as Gram–, não tanto como
os ureidopenicilinas, no entanto diminui a actividade contra as Gram+.
- É susceptível contra as β-Lactamases e instável em meio ácido porque como é um ácido β-
oxocarboxilico descarboxilando-se em benzilpenicilina, que apesar de ser um antibiótico,
não é activo contra as mesmas bactérias que a Carbenicilina, considera-se um produto de
degradação.
- A adição de grandes quantidades de Carbenicilina sódica pode levar a problemas
cardíacos (interferências na homeostase do Na) -> utilização de pró-fármacos como éster
indanilo de Carbenicilina que já poderá ser utilizado por via oral, uma vez que possui
melhor absorção nas paredes do intestino.
- A Ticarcilina apresenta uma estrutura semelhante à
carbenicilina, apresentando, no entanto, um anel
tiofeno no lugar do grupo fenil, sendo um bio-isóstero
da carbenicilina.
- Não sofre descarboxilação e é administrado por
injecção, tal como a carbenicilina
- O seu espectro antibacteriano é semelhante à carbenicilina, no entanto podem ser usadas
doses menores e é 2-4 vezes mais efectivo contra a P. aeruginosa possuindo menos efeitos
adversos;
- Pode ser administrado com ácido clavulânico para alargar o seu espectro de acção
(quando é adicionado um clavulanato de potássio à ticarcilina, a associação melhorou a
actividade contra as pseudomonas, uma vez que aumentou a estabilidade perante as β-
lactamases).
Antibióticos β-lactâmicos – Cefalosporinas
1. Estruturas, preparação e propriedades químicas
1.1 – Conhecer a origem, a estrutura e as características da Cefalosporina C
25
A cefalosporina C foi obtida de um fungo de águas de esgoto - Cephalosporim
acremonium.
Estrutura
Observa-se que a Cefalosporina C
contém um sistema bicíclico contendo um
anel β-lactâmicos de 6 membros – anel
dihidrotazina.
Este anel maior alivia a tensão do
sistema bicíclico, apresentando, por isso,
menor reactividade que as penicilinas.
Deriva dos mesmos aminoácidos que a penicilina (cisteína e valina), mas no caso da
cefalosporina estão envolvidos 4 reagentes na sua síntese (os ditos aminoácidos, ácido acético
e um ácido carboxílico).
Propriedades das Cefalosporinas
Não são particularmente potentes quando comparadas com as penicilinas, mas têm
uma actividade antibacteriana que abrange tanto Gram+ como Gram-.
São, também, mais resistentes à hidrólise ácida observada no estômago e à hidrólise
pelas β-lactamases. Têm menos probabilidade de provocar reacções alérgicas.
1.2 - Conhecer o modo de obtenção do ácido 7-aminocefalosporânico (7-ACA)
(hidrolise química) a partir da cefalosporina C.
Não é possível obter o 7-ACA nem por fermentação nem por hidrólise enzimática
(cadeia lateral δ-aminodipoílo com considerável resistência) da cefalosporina C -> alternativa:
hidrólise química (pelas amidases que transformam a cefolosporina C).
A hidrólise química não é fácil, uma vez que a amida 2ª tem de ser hidrolisada na
presença do anel β-lactâmico que é altamente reactivo (preferencialmente hidrolisado). Assim,
a estratégia que se utiliza tira partido do facto de o N do anel β-lactâmico não ser capaz de
partilhar o seu par de e- com o grupo carbonilo vizinho.
26
O 1º passo do procedimento requer a formação de uma ligação dupla entre o azoto
na cadeia lateral e o seu grupo carbonilo vizinho. Isto só é possível para o grupo amina 2º
(tensões do anel previnem o N β-lactâmico de formar uma dupla ligação dentro do anel β-
lactâmico). Um Cl é então introduzido para formar um cloreto de imino que pode ser tratado
com álcool para dar um imino éter -> mais susceptível à hidrólise que o anel β-lactâmico cujo
tratamento com ácido dá origem ao 7-ACA que pode ser acilado para dar origem a análogos.
Um outro método usa cloreto de nitrosilo usado para diazotar um grupo amino livre
da cadeia lateral α-aminodipoilo. A substituição do catião diazónio formado pela forma enólica
do grupo amida da cadeia lateral origina um iminoéter cíclico que se hidroliza facilmente com
ácidos diluídos para dar 7-ACA.
27
Outra estratégia para atingir a hidrólise quimiosselectiva tem aplicação mais ampla e
produz rendimentos mais elevados. Neste caso, as funções carboxílicas estão protegidas por
trimetilsilação (usando hexametildisilazida). Por acção posterior de pentacloreto de fósforo,
consegue-se a transformação da função amida a um imino cloro, que se transforma iminoéter
na presença de álcoois 1º. Esta reacção envolve a simultânea desprotecção do grupo ácido.
Finalmente, a hidrólise deste iminoéter ocorre em condições suaves, como no caso do 7-ACA.
1.3 - Explicar a importância do 7-ACA, conhecer o processo de semi-síntese de
cefalosporinas bem como os principais objectivos de síntese;
A acilação do 7-ACA (método análogo ao utilizado com as
penicilinas) originou derivados como a cefalotina (1ª cefalosporina semi-
sintética que se comercializou). Esta possui um amplo espectro de acção
mas tem um curto t1/2 (uma vez que não apresenta substituição em C-3 é
desacetilada por esterases do soro e desta forma o álcool formado dá
origem a uma lactona por ciclização com o grupo carboxilocomposto
inactivo). Por esta razão, em muitas cefalosporinas semi-sintéticas
modificou-se a cadeia acetoximetílica mediante o tratamento com nucleófilos de azoto e
enxofre.
28
1.4. Entender a isomerização da dupla ligação C3 em meio básico (que muitas vezes
é necessário na síntese de cefalosporinas) e recuperação dos derivados activos
A ligação dupla C3 pode isomerizar-se em meio básico para dar derivados
insaturados em C2 que carecem de actividade
antibacteriana: mobilização da dupla para
C3hidrogénios em C4 tornam-se acídicos (facilmente
removidos devido a molecula ser fortemente
electroatractora na zona de baixo)presença de H em
C2isomerização.
Existe a possibilidade de transformar estes
derivados inactivos nos seus isómeros activos através
da oxidação com perácidos a sulfóxidos e posterior redução com PBr3.
1.5 Entender a transformação de penicilinas em cefalosporinas e a importância
desta transformação
É muito mais rentável produzir uma cefalosporina a partir de uma penicilina. Essa
transformação inclui a passagem da penicilina (V ou G) a sulfóxido por acção de perácidos
como o m-cloroperbenzóico (AMPCB) em presença de ácidos (Ex.: ácido p-toluenosulfónico).
Consiste numa transposição de Pummerer modificada (ou de Morin) que começa com a
protonação do sulfóxido e continua com a abertura do anel de tiazolidina (ou formação de um
3º ciclo) e perda de água, seguida de uma reorganização que inclui a expansão do anel de
dihidrotiazina. O produto final é uma cefalosporina 3-metilada. Este grupo metil é mau para a
actividade(diminui a reactividade porque não é um bom grupo abandonante mas proporciona
uma boa absorção oral.
29
1.6 Descrever as características estruturais das cefalosporinas e a consequente
reactividade química associada, incluindo semelhanças/diferenças em relação às
penicilinas
Nas cefalosporinas, o anel β-lactâmico é
do tipo enamida. O par de e- não ligantes do
azoto lactâmico fazem ressonância com a dupla
ligação, fazendo com que o carbonilo fique
reactivo como electrófilo e portanto seja activo
biologicamente. Pretendem-se compostos que:
- Tenham no C3 grupos electroatractores que
facilitem a ressonância -> composto + reactivo.
- Tenham bons grupos de saída, o ataque por
nucleófilos pode produzir eliminação simultânea com a abertura do anel.
Nota: compostos electroatractores “destabilizam” o azoto que resgata um par de e- ao oxigénio do carbonilo
adjacente. Isto torna o anel mais reactivo acção pretendida visto as cefalosporinas terem um anel bicíclico +
estável que o das penicilinas.
1.7. - Conhecer o mecanismo de abertura do anel β-lactâmico por hidrólise e os
factores estruturais que modulam esta reacção
A abertura do anel β-lactâmico por nucleófilos é mais complexa que nas penicilinas já
que supõe a reestruturação do anel de dihidrotiazina com a saída do anião acetato.
Quando o anel β-lactâmico é aberto por hidrólise, o grupo acetoxi pode ser expulso,
levando à formação de uma carga positiva -> reduz muito a energia necessária para o
processo. Assim, a facilidade com que a ligação β-lactâmica é quebrada depende da natureza
do substituinte C-7 (análogo às penicilinas), bem como da natureza do substituinte C-3 e sua
capacidade de servir como um grupo abandonante.
O substituinte acetoximetilo na posição C-3 metaboliza-se facilmente no organismo
pela acção das esterases, para dar um hidroxiderivado com menor actividade antibacteriana
que por sua vez origina uma lactona praticamente inactiva.
1.8 - Conhecer a estabilidade das cefalosporinas em solução aquosa e consequência
30
A maioria é relativamente instável em soluções aquosas (ex: charopes vêm por
preparar e um dos cuidados a ter é de o colocar no frigorifico após preparação pois a água
acaba por abrir o anel)
Grande parte da perda de reactividade é compensada pela posse de uma ligação
olefínica (ligação dupla) em C-2, 3 e um grupo metilenoacetoxi em C-3. Um apoio considerável
para essa hipótese vem da constatação de que a isomerização da ligação olefínica de C-3, 4
leva a grandes perdas na actividade antibiótica.
1.9 - Conhecer a importância dos sais de sódio das cefalosporinas
Igual à penicilina.
Instabilidades Químicas Clinicamente relevantes
A instabilidade química principal está associada à hidrólise da ligação ß-lactâmica.
O grupo (MTT) tetrazoletiometilo encontrado em algumas cefalosporinas, é capaz de
sofrer eliminação -> actua ao nível da ADH. Pode ser responsável por dificuldades de
coagulação e intolerância ao álcool aguda em alguns pacientes. Aumenta a potência do
composto.
1.10 - Explicar a importância da esterificação do grupo carboxilo e suas
consequências
A esterificação do grupo carboxilo das cefalosporinas origina, como nas penicilinas,
pró-fármacos com melhores propriedades devido à sua solubilidade. No entanto, devido à
conjugação do grupo carboxilato com a dupla ligação, estes ésteres experimentam com
facilidade a isomerização desta na posição 2. Os isómeros assim formados, depois do éster
hidrolisado pelas esterases hepáticas, tornam-se muito menos activas já que o anel de 6
membros possui uma maior liberdade conformacional que permite ao par de e- não
compartilhados do azoto, adoptar uma disposição que se conjuga com o grupo carbonilo β-
lactâmico, perdendo a sua actividade biológica.
31
2. Reacções clinicamente relevantes de degradação das cefalosporinas
2.1 Conhecer a abertura do anel β-lactâmico por hidrólise, a característica do
processo e o papel dos substituintes em C3 e em C7 neste processo
A saída do substituinte em C3 seguida da quebra da ligação β-lactâmica é feita por
conveniência. Quando o anel β-lactâmico é aberto por hidrólise, o grupo acetoxi pode ser
removido, levando consigo a carga negativa, o que reduz a energia do processo. Este facto
pode levar a equívocos, pois em algumas cefalosporinas específicas, após a saída da cadeia
lateral pode haver um intermediário com a ligação β-lactâmica quebrada e o substituinte C3
ainda não eliminado, enquanto que outras cefalosporinas têm substituintes C3 não-ejectáveis.
A cadeia lateral em C7 é muito importante, em que o grupo amida funciona de
maneira análoga às penicilinas. As mesmas considerações são feitas para modular a
estabilidade química no que toca à sensibilidade às β-lactamases, potência e alergias.
Deste modo, a facilidade com que a ligação β-lactâmica das cefalosporinas se abre é
modulada por ambas, a natureza do substituinte em C7 (tal como nas penicilinas), bem como a
natureza do substituinte em C3 e a sua facilidade de servir como grupo abandonante.
3 – Metabolismo
3.1 – Conhecer e explicar a problemática das cefalosporinas com grupo acetilo na
cadeia lateral.
A reactividade química desta cadeia lateral permite a sua manipulação para obter
análogos estáveis às esterases. Os mais comuns obtêm-se por redução catalítica, para dar
metilderivados, ou por substituição nucleofílica com mercaptidas ou aniões azida.
3.2 -Conhecer a estrutura e a síntese da cefalotina e a sua instabilidade metabólica e
a estrutura e características da cefaloridina.
Instabilidade metabólica
Substituindo o éster da cefalotina por um grupo estável
pirimidico obtemos a cefaloridina. A piridina pode actuar como um bom
grupo abandonante e não é clivada por estereases. Cefaloridina existe
na forma de zwiterião e é solúvel em água.
32
3.3- Explicar a importância da variação dos substituintes em C3 (tratamento
com nucleófilos diferentes) na resistência à hidrólise enzimática.
A redução das azidas origina aminas, que são susceptíveis de novas reacções de
derivação. As reacções de substituição mencionadas podem decorrer pelo mecanismo de
substituição SN1 (devido ao catião intermediário poder estabilizar-se por ressonância).
4. REA – conhecer os principais aspectos estruturais relevantes para a sua
actividade farmacológica – grupo amina ligado à cadeia acilamina 7β; amida 7β;
grupo alcoxi 7α; S no anel di-hidrotiazina; H 6α; substituinte em C3; características
estruturais importantes para a resistência às beta-lactamases.
A adição de um grupo amino e um hidrogénio nas posições α
e α’, respectivamente, resulta num composto básico que é
protonado nas condições ácidas do estômago -> o ião amónio
melhora a estabilidade do anel β-lactâmico das cefalosporinas,
dando origem a fármacos oralmente activos.
O grupo amino 7β é essencial para a actividade antimicrobiana (espectro de acção),
enquanto que a substituição do hidrogénio C7 por um grupo alcoxi (X=H passa a X=OR)
resulta numa melhoria da actividade antimicrobiana.
Em derivados específicos das cefalosporinas, a adição de um grupo metoxi 7α, também
aumenta a estabilidade contra as β-lactamases.
Os derivados com enxofre no anel di-hidrotiazina (Y=S) apresentam uma actividade
antibacteriana superior aos derivados com O (Y=O), sendo este mais estável às β-
lactamases.
O hidrogénio 6α é essencial para a actividade biológica.
A actividade antibacteriana é melhorada quando Z é um heterociclo de 5 membros.
Alterações que aumentam a resistência às β-lactamases
1. Isómero-L de um derivado α amino α’ hidrogénio 30 a 40 vezes
mais estável que o isómero-D.
2. Adição de uma metoxioxima (posições α e α’) aumenta a estabilidade
cerca de 100 vezes.
3. Z-oxima é cerca de 20.000 vezes mais estável que a E-oxima.
33
Há, como já foi referido, uma diminuição na tensão do anel,no entanto isto é
parcialmente compensado pelo grupo acetoximetil na posição 3 que pode actuar como bom
grupo abandonante no mecanismo de inibição da transpeptidase.
O nº de locais onde podem ser feitas modificações é
limitado, mas há mais possibilidades do que com as penicilinas:
Variações na cadeia lateral 7-acilamino
Variações na cadeia lateral 3-acetoximetil
Substituição extra no carbono 7
5. Mecanismo de acção e resistência às β-lactamases
1ª geraçãomelhor actividade contra cocos Gram+ e usados contra infecções
nosocomiais de Gram-.
A maioria é fracamente absorvida via oral e necessitam ser injectadas.
O seu maior problema, tal como o das penicilinas, é o aparecimento de organismos
resistentes, principalmente nos Gram- (contêm β-lactamases mais efectivas). Os escudos
estéricos são usados com sucesso na protecção das cefalosporinas, mas por outro lado,
anulam o seu efeito de inibir as transpeptidases.
A cefalosporina mais activa da 1ª geração é a CEFALOTINA. É mais activa do que a
penicilina G contra bactérias Gram-.
34
6. Nomenclatura e classificação
6.1. Saber atribuir a numeração ao núcleo base das cefalosporinas.
6.3. Identificar os centros assimétricos das cefalosporinas e a sua importância
Têm 2 centros assimétricos em C-6 e em C-7.
Estes compostos assimétricos são importantes pois conferem à
molécula a estrutura adequada para que ocorra a ligação às proteínas
presentes na parede bacteriana e possam, desse modo, exercer o seu
efeito.
7. Agentes específicos – Conhecer as estruturas e principais características de cefalosporinas
utilizadas na prática clínica.
7.1 Cefalosporinas de primeira geração
Fracamente absorvidas no intestino, tendo de ser administradas por via parentérica.
Escudos estéricos têm tido um sucesso na sua protecção contra ß-lactamases, mas
também previne a sua ligação à enzima transpeptidase
35
7.1.1 Cefalotina – entender a sua desvantagem e o desenvolvimento da cefaloridina
Menos probabilidades de causar reacções alérgicas
A desvantagem da cefalotina é que tem um grupo
aciloxi na posição 3.
O acetiloxi é importante para o mecanismo de inibição
porque age como um bom grupo de saída que leva a
carga negativa consigo enquanto que o álcool é um
mau grupo de saída.
Isto foi resolvido substituindo o éster por um
grupo piridina – cefaloridina.
A piridina age como um bom grupo de saída para
o mecanismo de inibição, mas não é clivada pelas
esterases.
A cefaloridina existe como zwiterião e é solúvel
em água
Fraca absorção intestinal – Tem que ser administrada via parenteral
7.1.3 Cefazolina (cadeia lateral em C7 com a unidade tetrazolilmetileno)
Cadeia lateral em C7 com a
unidade tetrazolilmetileno
Tem o grupo acetilado
natural em C3 substituído
36
por um tio ligado a um anel de tiadiazole. Apesar de este ser um grupo abandonante
activo, este não está sujeito à reacção de hidrólise provocada pelo metabolismo como
acontece na cefapirina.
A sua injecção (IM) é menos irritante
Tempo de meia-vida é maior do que cefapirina.
É relativamente instável e deve ser protegida do calor e da luz.
7.1.4 Cefalexina
A cadeia lateral em C7 é do tipo ampicilina confere actividade oral.
Não tem substituinte em C3 menor potência. No entanto, não sofre desactivação
através do metabolismo, portanto, mantêm a potência.
Rápida e completamente absorvida no tracto GI
É usada particularmente em infecções Gram - no tracto urinário e em infecções Gram
+ de tecidos moles, faringite e pequenas feridas.
7.1.6 Cefradina – reconhecer a diferença estrutural em relação à cefalexina e suas
vantagens
Apresenta em C-7 uma cadeia lateral tipo
ampicilina cujo anel aromático foi
parcialmente hidrogenado (perde as ligações
conjugadas) por uma redução de Birch,
contudo a molécula permanece planar e com excesso de electrões π.
É estável em meio ácido
Rápida e completamente absorvida pelo TGI.
Administração oral e parentérica.
7.2 Cefalosporinas de segunda geração
7.2.1 Cefamandole (nafato)
Tem um grupo amida D-mandélico formilado em C-7. O ester formato é
clivado rapidamente para libertar cefamandole (produto mais activo). A
esterificação também, aparentemente, supera a instabilidade do
cefamandole quando ele é armazenado em forma seca.
A perda da porção 5-tio-1-metil-1H-tetrazole (referida, por vezes, com a sigla MTT) de
C-3 está associada à deficiência de protrombina e problemas de hemorragia, bem
como com uma intolerância ao álcool Antabuse-like aguda. Por outro lado, este
agrupamento aumenta a potência e impede o metabolismo por deacetilação.
37
7.2.3 Cefuroxima
O grupo metoxi-imino possui orientação estereoquímica Z. Isto confere á molécula
uma resistência contra ataques de muitas ß-lactamases. Acredita-se que isto resultou
das necessidades estéricas deste grupo. Esta hipótese é reforçada pela constatação de
que o análogo-E é atacado por ß-lactamases.
A fracção carbamoil em C-3 é intermediário na estabilidade metabólica entre as
porções clássicas acetil e tiotetrazoles
O pró-farmaco (1-[acetiloxi]etil ester], cefuroxima
axetil, é mais lipofílico, produzindo níveis sanguíneos
satisfatórios na administração oral - maior absorção.
A ligação éster é clivada metabolicamente,
resultando numa forma intermediária que perde o
acetaldeído espontaneamente produzindo cefuroxima.
7.2.4 Cefaclor – reconhecer a diferença estrutural em relação à cefalexina e
ampicilina
Difere da cefalexina
principalmente na substituição
de bioisostérica de um metil pelo
cloro em C-3.
7.2.8 Cefoxitina (é uma cefamicina – Y=OCH3)
A característica química inovadora é a
presença de um grupo metoxil α-orientado no lugar
do normal átomo-H em C-7. Este aumento de
volume estérico impede o ataque de ß-lactamases.
Mostra estabilidade metabólica contra
esterases, devido à presença de um grupo uretano
em vez de um éster na posição 3.
Grupo uretano
38
7.2.9 Cefotetano (é uma cefamicina – Y=OCH3) – conhecer a sua estabilidade
química e incompatibilidades químicas e consequências
Inspirado na cefamicina C, mas tem um incomum enxofre em C-7 na cadeia lateral
amida.
É relativamente estável, com duração de aproximadamente 24 horas à temperatura
ambiente, quando reconstituído.
É quimicamente incompatível com tetraciclina, aminoglicosídeos, e com a heparina,
muitas vezes formando precipitados com eles.
No que diz respeito ao seu modo de acção molecular, tem uma afinidade especial para
PBP-3 de bactérias Gram- -> a produção de formas filamentosas.
Também se liga bem com PBP-1A e 1B -> levado à lise celular e morte.
7.3. Cefalosporinas de terceira geração
7.3.1 Cefotaxima
Tanto a cefotaxima, como a cefuroxima, tem uma porção Z-metoxi-imino no C7, que
permite resistência significativa às β-lactamases, devido ao impedimento estérico. Na maior
parte dos casos perde-se a actividade antibacteriana, como era de prever, já que se impede
igualmente o acesso as PBPs, mas foram encontrados alguns derivados alcoximino que são
estáveis às ß-lactamases e activos, como é o caso da cefotaxima e da cefuroxima.
7.3.1.2 Compreender a importância do anel aminotiazole.
A substituição do anel de furano da oximinocefalosporina, por um anel de
aminotiazole aumenta a penetração de cefalosporinas através da membrana externa de
bactérias Gram-, sendo que em muitas também aumentam a afinidade para a enzima
transpeptidase. A variedade de tais estruturas foi preparada com diferentes substituintes na
posição 3, de modo a variar as propriedades farmacocinéticas dos análogos. A sua actividade
contra cocos Gram+ é variável.
39
7.3.1.3 Conhecer a problemática associada ao substituinte em C3.
Tem um grupo acetoxi metabolicamente vulnerável ligado ao C3 e perde cerca de
90% de sua actividade quando este é hidrolisado. Esta característica metabólica também
complica os dados farmacocinéticos, porque ambas as formas activas estão presentes e têm
propriedades diferentes.
7.3.1.4 Conhecer a sua estabilidade química e cuidados na sua conservação.
Cefotaxima deve ser protegida do calor, da luz.
7.3.3 Ceftriaxona – conhecer as vantagens associadas ao substituinte em C3.
Tem o mesmo substituinte na cadeia lateral em C7 que a cefotaxima e a ceftizoxima,
mas a cadeia lateral em C3 consiste numa tiotriazinediona activadora metabolicamente estável
no lugar do grupo acetil normal.
A cadeia lateral em C3 é suficientemente ácida para que, a pH normal, se forme um sal
de sódio enólico; assim, a forma comercial é um sal dissódico.
É útil em muitas infecções graves, particularmente no tratamento de algumas
meningites causadas por bactérias Gram-.
É bastante estável a muitas β-lactamases mas é sensível a algumas β-lactamases
cromossómicas indutíveis.
7.3.4 Ceftazidima – entender as vantagens associadas a estrutura do substituinte
oxima (existente na cadeia lateral em C7) e ao substituinte em C3 e a sua
estabilidade química e cuidados na sua conservação.
Na ceftazidima, o substituinte oxima é mais complexo (contém dois grupos metilo e um
ácido carboxílico), o que lhe confere:
Maior estabilidade às β-lactamases;
Maior actividade contra P. aeruginosa;
Maior actividade contra microrganismos Gram+.
A cadeia lateral em C3 foi reposta por um substituinte pyridinium carregado, que
aumenta consideravelmente a solubilidade em água e activa a ligação β-lactâmica em direcção
à clivagem.
O fármaco deve ser protegido do calor e da luz e pode ser armazenado sem perda
significativa de potência. Instável sob determinadas condições, como a presença de
aminoglicosídeos e vancomicina. É rapidamente atacado em soluções de bicarbonato de sódio.
A resistência é mediada por β-lactamases cromossómicas e pela não penetração na
bactéria-alvo. Caso contrário, tem um espectro antibacteriano muito amplo.
40
7.4. Cefalosporinas de quarta geração
7.4.1 Conhecer as características estruturais comuns e a sua importância.
Cefepima e cefepiroma são OXIMINOcefalosporinas.
Compostos zwitterónicos, com um substituinte carregado positivamente na posição 3
(pirrolidina e ciclopentopiridinium, na cefepima e cefepiroma, respectivamente), e um grupo
carboxilato carregado negativamente na posição 4, o que lhes confere neutralidade e,
consequentemente, melhora a capacidade para penetrar na membrana externa das bactérias
gram- (incluindo P.aeruginosa e muitas das espécies de Enterobactérias).
Apresentam uma boa afinidade para a enzima transpeptidase e uma baixa afinidade
para as β-lactamases.
7.4.2 Cefepima – compreender a influência da estrutura em C7 (sin-metoxi-imina e
anel aminotiazolilo) e do grupo em C3 (N-metilpirrolidina).
A estrutura em C7 (Z-metoxi-imina e anel aminotiazolito)
é responsável por aumento do seu espectro de acção, visto que
confere estabilidade face às β-lactamases e aumenta a actividade
contra estafilococos.
O grupo em C3 (N-metilpirrolidina) ajuda na penetração
em bactérias Gram-.
É semi-sintética e é administrada IV ou IM em infecções
do tracto urinário, pele, pneumonia e infecções intra-abdominais.
7.4.3 Cefepiroma.
8. Antibióticos β-lactâmicos - Carbapenemos
8.1 Tienamicina
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Foi isolada do Streptomyces cattleya.
O grupo hidroxietil da cadeia lateral e a estereoquímica da cadeia lateral
na posição 6 é oposta à estereoquimica usual nas penicilinas (factores que
contribuem para a resistência às beta-lactamases).
Não é absorvida no TGI.
A sua estrutura não possui o átomo de enxofre nem a cadeia lateral acilamina, as quais se
pensava serem essenciais para a actividade antibacteriana.
Uma vez que o C tem aproximadamente metade do tamanho molecular de S, o sistema de
anéis fica com elevada tensão -> muito susceptível a reacções de clivagem do anel β-lactâmico.
O átomo de enxofre encontra-se ligado ao C-3, como parte de uma cadeia lateral
funcional. A ligação dupla olefínica endocíclica também aumenta a reactividade do anel β-
lactâmico.
Assim, numa só molécula combinam-se as características funcionais dos β-lactâmicos, bem
como as dos inibidores de β-lactamases.
No entanto o facto da cadeia lateral do C-3 ser muito nucleofilica, leva a que esta tenha a
capacidade de atacar a ligação β-lactâmica de uma molécula vizinha através de uma reacção
intermolecular destruindo a actividade.
Este problema foi então solucionado, alterando o grupo amino para um menos
nucleofílico por um processo semi-sintético produzindo imipenemo.
8.1.2 Conhecer as vantagens/desvantagens da tienamicina
Vantagens:
Muito potente
Amplo espectro de acção contra bactérias Gram + e Gram – (incluindo P.aeruginosa)
Fraca toxicidade
Elevada resistência às β-lactamases ⇒ Devido ao grupo hidroxietil da cadeia lateral
Desvantagens:
Tem pouca instabilidade química e metabólica
Fraca absorção oral (devido ao grupo hidroxietil na cadeia lateral que é muito polar)
8.1.3 Conhecer a estereoquímica absoluta
No C6 existe um grupo 2-hidroxietil com α-estereoquímica. Assim, a estereoquímica
absoluta da molécula é 5R, 6S, 8S. Logo, os análogos da tienamicina ligam-se diferentemente
às PBP’s em relação com as penicilinas (o que confere resistência às β-lactamases).
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42
8.2 Imipenemo
8.2.1 Conhecer a estrutura e características
É um análogo da tienamicina, penetra igualmente
bem através das porinas e é muito estável. É inibitório de
muitas β-lactamases. Não é, contudo, activo quando
administrado por via oral.
É útil no tratamento de algumas infecções que
não respondem às cefalosporinas ou que se tornaram
resistentes aos β-lactâmicos convencionais.
O fármaco é metabolizado pela desidropeptidase-
1 renal, que hidrolisa o anel β-lactâmico, desactivando-o e produzindo metabolitos tóxicos
para os rins.
A cilastatina, um inibidor desta enzima, é co-administrada com o imipenemo para o
proteger do metabolismo. Esta preparação é conhecida por Primaxin (ligação às proteínas –
25%) e é útil para o tratamento de infecções severas de bacilos Gram-, anaeróbios e S. aureus.
E tem um maior risco de desenvolvimento de reacções alérgicas. Para além disso, a inibição da
desidropeptidase não parece ter efeitos nefastos para o doente, o que torna esta combinação
altamente eficaz no tratamento de infecções do tracto urinário.
Quando injectado, penetra bem na maioria dos tecidos, mas não no LCR e é
excretado pela urina. Tem um espectro de acção mais alargado que qualquer outro
antibiótico.
É um indutor de β-lactamases -> Combinação imipenemo-cilastatina raramente é um
fármaco de 1ª escolha, sendo reservado para circunstâncias especiais.
8.3 Meropenemo
- Reconhecer as diferenças estruturais em relação à tienamicina e ao imipenemo
43
É um análogo da tienamicina, é ligeiramente menos activo que o
imipenemo contra bactérias Gram+, mas é mais activo contra bactérias
Gram-. Ao contrário do imipenemo, é activo contra a P. aeruginosa.
Pode ser administrado isoladamente, uma vez que o substituinte
diferente na posição 2 o torna mais resistente às desidropeptidases ->
impede encaixe na enzima.
Tanto o meropenemo como o imipenemo conseguem penetrar na membrana externa
das bactérias Gram- através das porinas, mas o primeiro entra mais eficientemente e, por isso,
tem uma maior actividade contra estas bactérias.
Uso clínico: pneumonias, meningites, infecções abdominais e do tracto urinário.
- Compreender a importância do grupo α-CH3 em C4.
O meropenemo é um carbapenemo sintético que possui uma cadeia lateral complexa
em C3. Tem também um grupo metil quiral em C4. Este grupo metil confere resistência
intrínseca à hidrólise pela desidropeptidase-1. Como consequência, pode ser administrado
como agente único para o tratamento de infecções bacterianas severas.
- Ertapenemo – conhecer a estrutura e características, comparando-o com os
análogos anteriores
Apresenta uma cadeia lateral bastante complexa em C-3;
Tem estrutura similar ao meropenemo, e tal como este, o grupo 4-β-metil confere
estabilidade face à desidropeptidase-1;
É usado uma vez por dia parentericamente, com utilização especial contra anaeróbios;
Não é activo contra pseudomonas nem acinobactérias;
Não deve ser substituído pelo imipenemo nem pelo meropenemo;
O ácido benzóico ionizado contribui para a sua boa ligação a proteínas plasmáticas,
prolongando o seu tempo de semi-vida isto torna-o mais conveniente a de utilizar que
outros carbapenemos quando o seu espectro de acção o permitir;
É indicado para complicações abdominais (por E. coli, Clostridium clostridoforme,
Bacteroids fragilis e Peptosstreptococcus sp), infecções da pele/estruturas da pele (por
estirpes de S. aureus meticilina resistentes, S. pyogenes, E. coli ou Peptostreptococcus);
9. Antibióticos β-lactâmicos - Monobactamos
9.1 Aztreonamo
- Conhecer a estrutura, principais características e vantagens/desvantagens
É um antibiótico totalmente sintético.
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É administrado por via parentérica.
O seu espectro de acção é quase exclusivamente contra microrganismos gram-.
É capaz de desactivar algumas β-lactamases.
Tem um modo de acção semelhante ao das penicilinas, cefalosporinas e carbapenemos.
Tem uma forte afinidade para a PBP3, como consequência, produz filamentos celulares.
A cadeia lateral principal é parecida à da ceftazidina, já o ácido sulfâmico (muito
electroatractor -> ligação β-lactâmica torna-se mais vulnerável à hidrólise) ligado ao anel β-
lactâmico foi primeiramente observado no aztreonamo.
Lembrando o grande tamanho do S, o grupo (SO3) pode assemelhar-se espacialmente
ao grupo carboxilo C2 dos antibióticos β-lactâmicos.
Nos monobactamos, um anel fundido não é essencial para a actividade antibiótica.
O grupo α-metilo na posição C-2 está associado à estabilidade frente às β-lactamases.
Liga-se moderadamente (~50%) às proteínas plasmáticas.
O fármaco é praticamente inalterado pelo metabolismo.
É administrado por injecção e é primeiramente excretado na urina.
clínico: contra infecções severas causadas por microrganismos gram negativos,
especialmente os que são adquiridos no hospital. Infecções ao nível do tracto urinário,
tracto respiratório superior, infecções ginecológicas e septicemias.
O fármaco é bem tolerado e os efeitos secundários são pouco frequentes.
- Reconhecer a semelhança com a ceftazidima
A cadeia lateral principal é muito semelhante à da ceftazidima, enquanto que a
fracção ácido sulfâmico ligada ao anel β-lactâmico não tem precedentes.
- Compreender a importância do grupo sulfamato na actividade antibacteriana do
aztreonamo
O tamanho relativamente grande de átomos de enxofre, faz com que o grupo C-2 se
assemelhe ao grupo carboxilo do precedente dos β-lactâmicos, para confundir os protões
ligantes da penicilina. O carácter fortemente electroatractor do grupo ácido sulfamico
provavelmente faz a ligação de β-lactâmicos mais vulneráveis à hidrólise. Em qualquer caso, as
monobactamas demonstram que um anel fundido não é essencial para a actividade
antibiótica.